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VALORES E CULTURA – A DIVERSIDADE E O DIÁLOGO D E CULTURAS Prof. Leonídia Marinho

Valores e cultura – a diversidade e o diálogo de culturas

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Etocentrismo, Relativismo Cultural e Interculturalismo

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VALORES E CULTURA – A DIVERSIDADE E O DIÁLOGO D E CULTURAS

Prof. Leonídia Marinho

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VALORES E CULTURA

O homem é um ser bio-cultural

Esta afirmação significa que o homem pertence a duas ordens:

NATUREZA CULTURA

DEFINIÇÃO DE CULTURA

A cultura é um conjunto de manifestações materiais (arcos, flechas,

máquinas, computadores…) e imateriais (valores, normas, arte, música…) que

reflectem a especificidade de um grupo de indivíduos na sua maneira de

pensar, sentir e agir.

VALORES E CULTURA – A DIVERSIDADE E O DIÁLOGO DE CULTURAS

É tudo o que existe sem a

intervenção do homem. O

homem faz parte da

natureza como ser biológico.

Tudo o que existe por ação

do homem. A cultura é o que

o homem acrescenta à

natureza.

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Eis algumas das características da cultura:

1) A cultura é um fenómeno universal na medida em que está presente em

todos os tempos e em todos os espaços habitados pelo homem. A

cultura surge como resposta do homem às suas necessidades mais

imediatas: a necessidade de sobrevivência e a necessidade de viver com

os outros. Biologicamente inacabado, é no interior da cultura que o

homem efectua a passagem da animalidade para a humanidade. É na

cultura que o homem adquire um rosto humano e supera a sua

fragilidade biológica.

2) A cultura é produção e produto. É produto, na medida em que resulta

do que outrora foi produzido, isto é, de uma cultura passada, e é

produção, na medida em que constantemente cria novas manifestações

materiais e imateriais. Qualquer cultura tem o seu passado, isto é, tem as

suas raízes históricas, das quais depende, e que lhe permitem projectar-

se no futuro.

3) O homem é simultaneamente produtor e produto da cultura, sujeito e

objecto de cultura. Isto significa que o ser humano produz e cria cultura e

é também produto da cultura já existente. É através do processo de

socialização (integração do indivíduo na sociedade) que cada um se nós

entra em contacto com a cultura vigente, interiorizando um conjunto de

valores, normas e hábitos.

4) A cultura é uma estrutura, o que significa que é constituída por

diferentes elementos interdependentes. Economia, tecnologia, política,

religião, entre outros, são elementos de uma cultura que não podemos

separar, que não podemos considerar isoladamente.

5) A cultura é constituída por um conjunto de princípios que orientam os

indivíduos no seu agir. As atitudes de cada ser são fortemente

condicionadas por uma aprendizagem sócio-cultural. São estes princípios

que identificam os grupos e os diferenciam de outros grupos

conferindo-lhes uma determinada identidade. Por isso, cultura é

simultaneamente um elemento identificador e diferenciador de um

grupo.

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6) A nossa cultura não é única. Há uma pluralidade de culturas que

correspondem a diferentes formas de o homem ver, sentir e agir sobre o

mundo.

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EXEMPLOS DE DIVERSIDADE CULTURAL

“O homem recebe do meio cultural, em primeiro lugar, a definição do bom e do mau, do confortável e do desconfortável. Deste modo, os chineses preferem os ovos podres e os Oceanenses o peixe em decomposição. Para dormir, os Pigmeus procuram a incómoda forquilha de madeira e os Japoneses deitam a cabeça em duro cepo.

O homem recebe do seu meio cultural um modo de ver e de pensar. No Japão considera-se delicado julgar os homens mais velhos do que são e, mesmo durante os testes e de boa-fé, os indivíduos continuam a cometer erros por excesso.

O homem também retira do meio cultural as atitudes afectivas típicas. Entre os Maoris [Nova Zelândia], onde se chora à vontade, as lágrimas correm só no regresso do viajante e não à sua partida. Nos Esquimós, que praticam a hospitalidade conjugal, o ciúme desapareceu (...). Nas ilhas Alor [Indonésia], a mentira lúdica considera-se normal; as falsas promessas às crianças constituem um dos divertimentos dos adultos. O mesmo espírito encontra-se na ilha de Normanby onde a mãe, por brincadeira, tira o seio ao filho que está a mamar.

O respeito pelos pais sofre igualmente flutuações geográficas. O pai conserva o direito de vida e de morte entre os Negritos das Filipinas e em certos lugares do Togo, dos Camarões e do Daomé. Em compensação, a autoridade paterna era nula ou quase nula nos Kamtchatka [da Sibéria] ou nos aborígenes do Brasil. As crianças Taraumaras [do México] batem e injuriam facilmente os pais.

Entre os Esquimós o casamento faz-se por compra. Nos Urabima da Austrália um homem pode ter esposas secundárias que são as esposas principais de outros homens. No Ceilão [actual Sri Lanka] reina a poliandria fraternal: o irmão mais velho casa-se e os mais novos mantêm relações com a cunhada. (…)

O amor e os cuidados da mãe pelos filhos desaparecem nas ilhas do estreito de Torres [Austrália] e nas ilhas Andaman [Índia], em que o filho ou a filha são oferecidos de boa vontade aos hóspedes da família como presentes, ou aos vizinhos, como sinal de amizade.

A sensibilidade a que chamamos masculina pode ser, de resto, uma característica feminina, como nos Tchambuli [Nova Guiné], por exemplo, em que na família é a mulher quem domina e assume a direcção.

Os diferentes povos criaram e desenvolveram um estilo de vida que cada indivíduo aceita – não sem reagir, decerto – como um protótipo.”

Lucien Malson, As crianças selvagens, Livraria Civilização, 1988,

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CONCLUINDO:

Reconhecer a pluralidade e a diversidade de culturas é também reconhecer que

a vida dos indivíduos que fazem parte de diferentes grupos ou sociedades se

pauta por uma diversidade de valores.

UMA QUESTÃO SE IMPÕE:

QUAIS AS DIFERENTES ATITUDES FACE À DIVERSIDADE DE CULTURAS OU

MULTICULTURALISMO

DIVERSAS ATITUDES FACE À DIVERSIDADE CULTURAL

O ETNOCENTRISMO é uma atitude que consiste em observar as outras

culturas em função da nossa própria cultura, dos nossos valores e padrões de

comportamento. É uma visão centrada ou egocêntrica de uma cultura em

relação às outras culturas que são vistas como sendo inferiores. É também

uma atitude dogmática uma vez que não aceita a diversidade por defender

que há só uma cultura, ideologia ou credo.

ETNOCENTRISMO

RELATIVISMO CULTURAL

INTERCULTURALISMO

ETNOCENTRISMO

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O Etnocentrismo promove a assimilação, isto é, de acordo com o

etnocentrismo é legítimo que a cultura dominante imponha os seus valores e

modelos de comportamento às culturas minoritárias.

Desta atitude etnocêntrica resultam consequências:

a intolerância relativamente às outras culturas

o sentimento de superioridade da nossa cultura em relação às outras.

Os indivíduos que adoptam uma atitude etnocêntrica

podem assumir posturas negativas como:

- Xenofobia: ódio aos estrangeiros (ex.: rejeitar os emigrantes dos países

leste ou do continente africano)

- Racismo: repúdio por determinados grupos étnicos (raças).

Ex.: rejeição dos indivíduos de cor diferente da nossa, rejeição dos indivíduos

com credos religiosos diferentes;

- Chauvinismo: patriotismo ou nacionalismo exagerado

Nota: Todas as atitudes referidas estão presentes no filme visualizado na sala de

aula “América Proíbida”

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A história mostra-nos as consequências de uma posição etnocêntrica, assente

na ideia de que existem valores absolutos e únicos que podem e devem ser

impostos ao resto do mundo. O nazismo é o exemplo dos perigos a que esta

atitude conduziu a humanidade.

http://www.youtube.com/watch?v=PkbwSGN7fOA&feature=related

O RELATIVISMO aceita e respeita a diversidade cultural e defende que cada

cultura só pode ser avaliada a partir de dentro (a partir de si própria), isto é, a

partir dos seus valores, ideias e padrões de comportamento.

As ideias centrais do relativismo cultural são as seguintes:

Existem diferentes culturas

Cada cultura tem os seus padrões específicos de comportamento

Esses padrões específicos de comportamento determinam o que é

moralmente correto ou incorrecto numa determinada sociedade

A nossa cultura de pertença não tem qualquer estatuto especial em

relação às outras culturas e vice-versa, o que significa que não há

culturas melhores ou piores, apenas diferentes

Não há códigos morais únicos nem valores absolutos

Deve promover-se a tolerância em relação às diferentes culturas sendo

que ser tolerante significa conviver pacificamente com os outros

respeitando as suas diferenças

O relativista defende que o que a maioria pensa está correcto.

RELATIVISMO CULTURAL

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Críticas ao relativismo cultural:

Aparentemente o relativismo cultural assume um postura ética face à

diversidade cultural. No entanto, esta atitude:

Promove a separação entre as diversas culturas. Isto significa que as

culturas toleram-se mas permanecem de costas voltadas, sem contacto

entre si.

A separação entre as diversas culturas conduz ao isolamento e à

estagnação cultural. Há, portanto, uma visão estática da cultura.

A nível moral, o relativismo tem consequências bastantes negativas uma

vez que considera que tudo é permitido devendo ser explicado única e

exclusivamente a partir do contexto cultural em que estamos inseridos.

A tolerância defendida pelo relativismo em relação às diferentes

culturas é, muitas vezes, entendida como passividade e indiferença face

ao outro. Se considerarmos que tudo é válido e igualmente bom, como

defende o relativismo, não estaremos a tolerar mas a aceitar tudo,

incluindo práticas ou padrões culturais que põe em causa os direitos

humanos. Vejamos um exemplo: Devemos tolerar a pena de morte ou a

a mutilação genital feminina como práticas moralmente válidas? De

acordo com o relativismo a resposta é afirmativa uma vez que essa

prática deve ser entendida a partir de um contexto cultural determinado.

A questão que se coloca é a seguinte:

“Deverá o tolerante tolerar o intolerável?” É evidente que NÃO.

A tolerância não deve ser entendida como indiferença. O tolerante é

aquele que, ao contrário do indiferente, entende que devem existir

limites para aquilo que pode ser considerado tolerável. E esses limites

encontram-se no respeito que todos os seres humanos merecem.

O relativismo cultural pode conduzir ao conformismo:

“O relativismo cultural, uma vez que defende que devemos agir de acordo com as normas da nossa sociedade, leva-nos ao conformismo. Muito embora a coesão social seja importante, é necessária uma certa dose de inconformismo, pois este torna possível o aperfeiçoamento social. Dado que o relativismo não deixa espaço para o inconformismo, aceitá-lo seria impedir qualquer sociedade de se aperfeiçoar socialmente e moralmente”

O relativista defende que o que a maioria pensa está correcto. Ora,

muitas vezes a maioria é ignorante, não está bem informada, e por isso

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as suas opiniões podem não ser as melhores. A maioria pode estar

enganada. A perspectiva defendia pela maioria nem sempre é aceitável.

Se aceitarmos o relativismo, o debate intercultural deixa de fazer

sentido, assim como os valores transculturais (valores acima das

diferenças entre as culturas. Ex: o valor atribuído à vida humana.)

Postura que defende o diálogo intercultural tendo em vista o estabelecimento de valores transculturais isto é, valores partilhados pelas diversas culturas. A posição interculturalista apresenta as seguintes vantagens:

Permite estabelecer um diálogo intercultural; Permite, através do diálogo intercultural, estabelecer valores

transculturais, i.é., valores partilhados pelas diferentes culturas – a Declaração Universal dos Direitos Humanos é um exemplo de que há interesses e valores comuns a vários países e culturas. (Ver Declaração)

Permite a construção de respostas para problemas mundiais.

INTERCULTURALISMO