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LITERÁRIO, SEM FRESCUR@S @ @RTE UNINDO @ LÍNGU@ E @ LÍNGU@ UNINDO @ @RTE!! @NO 2 -- NO. 4

VARAL NO. 4

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Literário, mas sem frescura!

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LITERÁRIO, SEM FRESCUR@S

@ @RTE UNINDO @ LÍNGU@ E @ LÍNGU@ UNINDO @ @RTE!!

@NO 2 -- NO. 4

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VARAL DO BRASIL

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Literário, sem frescuras

Genebra, verão de 2010 Ano 2—No. 4

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EXPEDIENTE Revista Literária VARAL DO BRASIL

No. 4 — Genebra — CH

Copyright © Vários autores

O Varal do Brasil é promovido, organizado e divulgado pelo site: www.coracional.com Site do Varal: www.varadobrasil.ch Textos : Vários Autores Ilustrações : Vários Autores Revisão parcial de cada autor. Colaboradores: Paula Barrozo Julio Vicente Revisão Geral: Varal do Brasil Composição e diagramação: Jacqueline Aisenman A distribuição ecológica, por email, é gratuita. Se você deseja participar do Varal do Brasil no. 05, envie seus textos até 05 de agosto de 2010 para [email protected] A participação é gratuita. Participe!

• ANA MARIA MACHADO • ÉRICO VERISSIMO • HILDA HILST • JOSÉ SARAMAGO • ZÉLIA GATTAI • JOSÉ MINDLIN

« O vírus do amor ao livro é

incurável, e eu procuro inocular

esse vírus no maior número

possível de pessoas. »

José Mindlin

No meio do meu caminho tem coisa de que não gosto.

Cerca, muro, grade tem. No meio do seu, aposto, tem muita pedra também .

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Quando fazemos alguma coisa para alguém com toda vontade e carinho, temos a certeza de fazer o melhor que podemos. Mas mesmo assim nos esforçamos para ser cada vez melhor. O VARAL, desde o seu número 0, vem sendo feito para aqueles que gostam de uma boa leitura, para os que apreciam conhecer os talentos que pelo mundo se espalham, de uma maneira nova, simples, descontraída. Assim, trazemos a cada número uma compilação de artigos, receitas, dicas. Mas, principalmente, trazemos a alma do VARAL: os escritores, os artistas que nos privilegiam ao mostrar aqui os seus trabalhos. Poemas, contos, crônicas. Para todas as idades. Você vai ler neste número sobre o Folclore e as comidas típicas brasileiras e assim fazer um pas-seio colorido pelo Brasil. Vai encontrar também um interessante artigo so-bre a Imigração Suíça no Brasil e sobre o filme que estão fazendo sobre o assunto. Lerá sobre os golfinhos e os pescadores na cida-de de Laguna, Santa Catarina. Lerá poemas encantadores, crônicas que tocam o flagrante cotidiano e contos que vão com certeza lhe transportar. O VARAL está alegre e quente como o verão. Aos nossos novos colaboradores, aos leitores, aos escritores, nosso agradecimento por estar tri-lhando conosco este caminho. Desejamos a todos uma boa leitura! Jacqueline Aisenman

Chers Amis, A partir de agora estarei cola-borando com a Revista Virtual Literária “VARAL do BRASIL”, apresentando novos poetas, con-tos, roteiros de charme, foto-grafia, assuntos diversos e curi-osidades. Estou muito feliz em entrar para a equipe do “VARAL do BRASIL” !!!!! Gros Bisous♥♥♥ Paula Barrozo

Suiça-Brasileira, nascida em Curitiba, re-sidindo em Londrina, casada e mãe de três filhas. Apaixonada pela escrita desde pequena por se espelhar em seu pai jornalis-ta, colunista por paixão e opção, colabo-rou com matérias diversas para alguns jornais no Brasil. Atualmente colabora com matérias para as revista eletrônicas `Roteiro da Moda` e `Varal do Brasil´.

http://www.roteirodamoda.com/

Seja você também um colaborador do

VARAL! Envie suas idéias, venha partici-

par conosco desta aventura digital.

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• Alessa B. - Com amor e com ternura

• Alessandra Neves - Vou poetar

• Ana Anaissi - Camila, a cobra aventureira

• Ana Mariah - Régua T

• André Luis Aquino - Você é a inspiração

• Angela Costa - Como deitar como você

• Antônio Vendramini Neto - As Gárgulas

• Cristiane Stancovik - Ilha da magia

• Daniel Cravo Silveira - Por que?

• Deyse Zarichta Ferreira - Para aconselhar-me

• Diego Mendes Sousa - Sêmen de incêndio

• Fábio Ramos dos Santos - Fragmentos da alma

• Francisco Gregory - Encruzilhada e Missão

• Gilberto Nogueira de Oliveira - De madrugada

• Gilmar Carlos Milezzi - O garanhão de Florianópolis

• Gustavo H. Bella - O que escrevo em papel…

• Icléia Inês R. Schwarzer - Projeto olhar vital

• Jaci Santana - Encontro Marcado

• Jacqueline Aisenman - Pretexto

• Jania Souza - Ecos da agoniza humana

• José Carlos Bruno - Quanto custa o amor…

• Julio César Vicente - Homem e animal

• Jussara Petek - Ahhh… poesia...

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• Lariel Frota - Mundo estranho

• Lelo Néspoli - O homem que gostava de relógios

• Luiz Eduardo Gunther - O valor das palavras

• Ly Sabas - Requiem aeternam

• Marcelo Moraes Caetano - Viola bastarda

• Marcelo C. Madeira - Um dia de sol em Zurique

• Renata Gomes de Farias - Sofia e o arco-íris /

Sofia na janela

• Renata Iacovino - Não lembrava

• Roselis Batistar - Confissão

• Samantha Verdum - Fotografias

• Silmara de Souza Oliveira - Um dia de Alice

• Tino Portes - Liberdade

• Valnice Costa - Amando

• Valquíria Gesqui Malagoli - Uma arca no bosque

• Varenka de Fátima e Francisco Chagas Araújo -

Dueto/Desespero

• Víctor Manoel G. Vilena - Pele com Pele

• Victoria Adum - Mulher...

• Vó Fia - A filosfia de seu Leco

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COM LOUVOR E COM TERNURA

Por Alessa B.

Se te amei! Se minha vida só queria Pela tua viver,

No silêncio do amor e da ventura Nos teus lábios morrer! (Álvares de Azevedo)

Amei-te com louvor e com ternura Em todo vão de tempo e cada hora, Vertida nesse amor me fiz tão pura

Aos teus pés como quem um Anjo adora.

Oh! Quanto frenesi, quanta ventura Sagrados braços pela noite afora! Do instante a magia só perdura... Do anoitecer até a branda aurora.

Tão louca! Mil quimeras no meu peito

Lancei à luz candente desse olhar! Amei-te com amor mais insuspeito,

A gêmea alma que reflete o par.

Oh! Deste-me amor tão putrefeito,

Apaixonada pela Literatura desde sempre, descobriu a Poesia aos 14 anos, quan-do então passou a exercitar a arte dos versos por conta própria. Tem como seus ícones e espelhos na poesia mundial, poetas como: Camões, Vinicius de Moraes, Álvares de Azevedo, Bocage, Gonçalves Dias, entre outros. Vem acumulando menções honrosas e posições de destaque em concursos literários pelo país. Po-de ser encontrada nos seguintes endereços: Comunidade de Poesias Cadafalso Poético http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=34564433 Alquimia, Arte & Poesia http://transversu.blogspot.com/ Recanto das Letras http://recantodasletras.uol.com.br/autor.php?id=63043 E-mail: [email protected]

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VOU POETAR

Por Alessandra Neves

E me incomoda interpretar Interpretação textual

Isso ainda me incomoda… Dizem que digo o que Acham que quero dizer

E que me incomoda esse dizer Hora falo

Hora poeto Hora só escrevo…

E pensa que é fácil?! É fácil resgatar o simples

Evidenciar o óbvio Eternizar o cotidiano?

Como disse Clarice Lispector: « Voam faíscas e lascas Como aços espalhados »

E alguém junta seus lascas E dá a forma que deseja

Dizendo que é o que deseja Dizendo que é o que quero dizer

Ora pois! Digo o que tenho que dizer

Entenda o que quiser entender Só não afirme o que acha que eu quero dizer

E tenho dito!

Alessandra Pacheco das Neves,

nascida em 29 de abril de 1982 na cidade de Tubarão, Santa Catarina, é estudante do cur-so de letras na Universidade do Sul de Santa Catarina. Escreve desde os 9 anos de idade e somente agora foi incentivada por sua a-miga Nelci Cristiane Stancovik, a dividir, inclusive com ela, seus escritos. Alessandra também participa de uma instituição de Bio-energia de onde tira inspiração.

O AMOR AO PRÓXIMO NÃO É ALGO QUE APENAS SE SINTA MAS UM SENTI-MENTO QUE SE DEMONSTRA E COMPARTILHA!

HOSPITAL DE LAGUNA

Faça do Hospital de Laguna a sua causa, colabore! www.hospitallaguna.com PROJETO LUZ Ilumine esta idéia! Como você deseja que o Hospital de La-guna seja? Bom? Muito bom? Ótimo? Qual o seu desejo? Com quanto você pode contribuir, na sua conta de luz, para o Hospital ser assim, do jeito que você quer? Você pode! O prêmio maior é a vida. Com certeza o seu maior desejo! CARTÃO DE BENEFÍCIOS O Cartão de Benefícios proporciona a usuários e dependentes descontos nos serviços de internação e de urgência/emergência oferecidos pelo Hospital de Laguna e pela rede de estabelecimentos e profissionais credenciados (visite no site o link do Cartão de Benefícios). Os descontos variam de 10 a 50%, podendo chegar a 90% nas farmácias. procure o representante do hospital no horário comercial.

TORNE-SE UM ASSOCIADO Para tornar-se um associado do hospital, basta preencher o formulário que se encon-tra no site e encaminhá-lo à direção do hos-pital. O valor da mensalidade e de apenas R$ 10,00. Todo associado poderá usufruir das vanta-gens do cartão de benefícios sem pagamen-to adicional.

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"Sobre nossa casa, de Jorge e minha, na rua Alagoinhas, 33, no bairro do Rio Vermelho, em Salvador da Bahia, muito já se disse, muito se cantou. Citada em prosa e verso, sobra-me, no entanto, ainda o que dela falar. Fico pensando se alcançarei escrever todas as histórias, tantas, de gente e de bichos que nela passaram nesses quarenta anos lá vividos. Neste mo-mento, quando me despeço do lugar onde passei o melhor tempo de minha vida, ao deixar Jorge repousando sob a mangueira por nós plantada no jardim, mil lembranças afloram-me à cabeça. Lembro-me de coisas que para muitos podem parecer tolas, mas que para mim não são. Lembro-me, por exemplo, de duas mimosas lagartixas que viviam atrás de um quadro de Di Cavalcanti, acima da televisão da sala, e que tanto nos divertiram. Um belo dia elas apareceram, sem mais nem menos: uma toda rosada, quase transparente; a outra com listras escuras em volta do corpo. Jorge foi logo escolhendo: 'A zebrinha é minha.' A mais bonita, pois, ficou sendo a dele. A outra, que jeito? De dona Zélia. Recostados em nossas poltronas, após o jantar, para assistir aos noticiários de TV, vimos, pela primeira vez, as duas saírem de seu esconderijo, uma atrás da outra, direto para uma lâmpada acesa, do alto, reduto de mosquitos e de bichinhos atraídos pela luz. - Elas agora vão jantar - disse Jorge. Dito e feito: as duas se aproximaram docemente da claridade, estancaram a uma pe-quena distância da lâmpada e, imóveis, na moita, só observando. De repente, o bote fatal foi desfechado e lá se foi um dos insetos para o bucho da lagartixa de Jorge. Diante do perigo, quem era de voar voou, quem era de correr, correu, lá se foram os bichinhos, não sobrou um pra remédio, o campo ficou limpo. Estáticas, as duas sabidas aguardaram pacientes a volta das vítimas, que, inocentes, aos poucos foram criando coragem e se chegando para, ainda uma vez, cair na boca do lobo. Ainda uma vez o lobo foi a zebrinha, que, como num passe de mágica, abocanhou um mosquito. Encantado, Jorge ria de se acabar, provocando-me: 'A tua não é de nada!'. Eu protestei e ele riu mais ainda. Brincadeira boba, inocente, passou a ser nosso divertimento durante muitas e muitas noites, muitas e muitas noites vol-tamos à nossa infância".

(Trecho do livro Memorial do Amor de Zélia Gattai, Editora Record)

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Tiu ru ru tocava a flauta, Ela saía do cesto.

Alguém jogava moeda, Ela voltava pro cesto.

Tiu ru ru tocava a flauta, Ela ficava no cesto.

Seu dono lhe dava um tranco, Ela saía do cesto.

alguém jogava moeda, Ela voltava pro cesto.

Assim vivia Camila, Dez anos de sobe e desce. Dormia pensando nisso.

- Ai meu Deus, ninguém me-rece!

Mas no outro dia olha ela: - Que flauta mais enjoada!

Camila subia fula, Descia desesperada.

E o faquir? Que homem cha-to!

Seus dias todos iguais: Explorando cobra velha

Que já não aguentava mais. Tiu ru ru tocava a flauta. -Ai socorro, eu quero paz!

Queria me aposentar, Não posso mais com isso aqui.

Tiu ru ru e sobe e desce, Vou picar esse faquir!

Realmente estava exausta. Camila estava cansada.

Mais um dia assim no cesto, Ela estaria acabada.

Mas cobras também têm anjo, E que sentem compaixão;

O dela pensou, pensou, E encontrou uma solução.

O faquir foi convidado

A se exibir num navio. Era um navio estrangeiro, Com marinheiros do Rio.

Rio de Janeiro, Brasil. (Ela morava na Europa). Camila agarrou a chance.

- Vou ficar, gostei da tropa!

E foi isso o que ela fez; Na hora de ir embora, O faquir levou só pano,

Camila ficou de fora.

Quando o faquir descobriu Que o cesto estava vazio,

Ela subia e descia Mas por causa do navio.

E como estava contente! - Liberdade, liberdade! Lá vou eu para o Brasil. Quero viver de verdade!

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Está certo que a viagem Não estava uma maravilha,

Parecia lotação Pois parava de ilha em ilha.

Ao menos era agitada, Bem cheia de movimento.

Mas o caos só começou Depois do descobrimento.

Foi tudo tão repentino, No meio da madrugada, O capitão foi pro banho E viu Camila enroscada.

Se enrolou numa toalha E saiu feito um tufão; Gritava feito corneta,

Chamando a tripulação.

-Por que grita o Capitão? -O nosso navio afunda?

-Estamos sendo atacados? -Ou a privada está imunda?

O Capitão só berrava, Não conseguia falar.

-Será que ficou maluco? -Será que enjoou do mar?

-Melhor chamarmos o médico. -E eu acordo o comandante.

-Eu vou providenciar Uma junta de Almirantes.

O médico, que dormia, Já levantou de mau-humor,

Viu de longe o Capitão. -Deve estar com alguma dor.

Vá pegar um analgésico!

Falou para o comandante. -Mas quem dá as ordens sou

eu E acho melhor dar calmante!

Não deram nenhum dos dois. Não deu tempo para nada.

Um marujo adiantou-se E deu-lhe uma bofetada.

O Capitão realmente Acalmou, quase adormece. -Eu manjo disso, colegas, É nada não, é só estresse.

Ficaram todos olhando E o capitão se sentou.

Parecia bem mais calmo Mas de repente berrou:

-Ai, socorro! Eu vi uma cobra Enroscada no banheiro!

-Cobra nada, capitão, É só o cano do chuveiro!

-Então eu vou confundir Alguma cobra com um cano?

Por acaso cano enrosca? Não é possível haver engano.

Vão lá ver agora mesmo, Se pensam que eu estou malu-

co. Já fui picado de cobra

Bem menino em Pernambuco.

Um pouco contrariado, O comandante aceitou.

-Eu vou lá ver essa cobra, Já que você me acordou.

E lá foi ele na frente, Com a tripulação atrás.

O capitão não quis ir, Tava assustado demais.

Quando entraram no ban-heiro,

Davam um passo e davam ré,

Mas Camila, muito esperta, Já tinha dado no pé.

Depois, tomaram coragem, Deram um puxão na corti-

na, Encontraram sabonete,

Óculos e uma botina.

-Que bagunça que ele fez! -Foi na hora do pavor.

-Capitão, o senhor está aí? Arrume isso, por favor!

-Mas, a cobra, comandante, Tenho certeza que vi.

-Conversamos amanhã, Agora é melhor dormir.

Ninguém mais pôde falar, Foi embora o comandante. -“Era só o que me faltava,

Um capitão delirante.”

Camila, muito assustada, Nem mexia, estava dura. -Depois que me descobri-

ram, Não me sinto mais segura.

Foi se esconder, a coitada, Num cesto de roupa suja.

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--Que decadência meu Deus, E eu querendo ser maruja.

Estava pensando nisso Quando o cesto se mexeu; Botou a carinha de fora Mas um olho apareceu.

É claro, o do capitão! Tava arrumando o banheiro Mas muito pouco à vontade,

Estava meio cabreiro.

O coitado teve um choque. Camila empalideceu.

-Você vai fugir primeiro? Se não vai você, vou eu!

Fugiu um pra cada lado. Camila pulou do saco E o capitão azarado

Dessa vez gritava fraco.

-Socorro, meu Deus, socor-ro!

Tem cobra por toda parte! Não controlou a emoção,

Desmaiou e teve um enfarte.

Mas foi um enfarte fraquin-ho,

No outro dia estava bem. -Vai ter que ficar quietinho. Não vai poder ver ninguém.

-E a tal cobra comandante? Agora foi capturada?

-Nem foi vista, capitão, Esquece isso camarada.

E saiu da enfermaria

Com pena do capitão. -“Há tanto tempo no mar

Que está perdendo a razão.”

Mas quem perdia a razão Era a pobre da Camila.

-Homenzinho exagerado, Parece que eu sou godzilla!

Camila entrou num caixote. -Vou chegar aqui pra trás; Se outro marujo me pega,

Aí acabou a minha paz.

Só o capitão que me viu E os outros tão duvidando,

Tenho uma pequena chance Dessa história ir se acalmando.

Pelos cálculos de cobra, Falta pouco pro Brasil.

Vou me livrar do faquir... Se é que ele não me seguiu.

E Camila estava certa. Mal sabia, a coitadinha,

Que o faquir ficou tão bravo Que até alugou uma lanchinha.

Mas ele ainda estava longe; -Perigoso é o capitão!

E assim que ficou curado, Quis fazer uma inspeção.

E ninguém achou boa idéia. -Mas nós já estamos chegando!

-Quero provar pra vocês Que tem cobra circulando.

-Não termino essa viagem Sem comprovar a verdade.

E se essa história se espalha?

Chega na minha cidade?

-Tá bom capitão, uma chan-ce.

Não vou fazer injustiça. Mas quero ver essa cobra, Não vale se for linguiça.

Capitão chamou os marujos, Estava determinado.

-Não pode haver um cantin-ho

Que não seja examinado.

Camila sentiu a mudança. Era muito movimento.

-Ai, meu Pai, isso é comigo, Não acaba esse tormento!

E saiu do esconderijo, Se arrastou até o convés.

-Aqui não dá pra ficar, Eu nunca vi tantos pés.

Por sorte encontrou uma es-cada

Que fazia um caracol. -O jeito agora é descer,

Venho amanhã tomar sol.

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Mal começou a se enroscar... -E agora? Estou ouvindo pas-

sos! Pensa rápido Camila!

Estou frita, o que que eu faço?

Ah, já sei, vou me esticar Embaixo do corrimão.

Aqui ninguém vai olhar, Nem aquele capitão.

Camila então se esticou E ficou bem grudadinha.

-Já contei setenta homens. Pra que isso? Eu estou sozin-

ha!

Completamente indefesa, Nem veneno eu tenho mais, É claro que eles não sabem

Mas os homens são tão iguais...

Basta acharem uma cobrinha, Fazem um tremendo escarcéu.

Se eu fosse alguma jibóia, Jararaca ou cascavel...

E começam a dar pauladas, E gritam histericamente,

Se não matam, deixam surda, A coitada da serpente.

Oitenta e nove, noventa, Acho que agora acabou.

Vou começar a sair... Quem é esse que voltou?

E adivinhem só quem era Que vinha subindo só? Não preciso nem dizer,

Camila teve até dó.

Ela estava pendurada, Já pronta pra escorregar,

Sem querer ele a tocou Quando foi se segurar.

Mas esse homem deu um ber-ro,

Cambaleou no degrau Ainda ameaçou Camila;

Pegou um pedaço de pau!

Por mais pressa que tivesse, Não dava pra ela correr!

Então ficou paradinha Sem saber o que fazer.

-Meu Deus, mas que situação! Vou ter que me decidir;

Já estou muito arrependida De ter largado o faquir!

Mas assim, tão pressionada, Tomou rápido a decisão:

- Questão de sobrevivência, Vou picar o capitão!

- Sei que não tenho veneno Mas tenho o dom de assustar.

Pediu ajuda ao seu Anjo E atacou no calcanhar!

O capitão vacilou Pois não esperava a virada.

Aí o pedaço de pau Não serviu pra fazer nada.

Camila “correu” enquanto O capitão desabava. E como ele ia saber

Que ela já não envenenava?

E bastou aquela picada Pra ele já ir vomitando; Se apoiou no corrimão E caiu meio babando.

O almirante viu aquilo, Foi chegando devagar.

-Que enjôo forte, meu filho! É só por causa do mar?

O capitão se jogou Bem em cima do almirante. -Estou morrendo, caramba! E de um veneno possante!

Eu disse que tinha cobra! Destruiu o meu calcanhar!

E, antes de cair duro, Eu quero me confessar!

Tava juntando marujo... Chamaram o padre correndo Mas quem veio foi o médico. -Mas quem é que está mor-

rendo?

Abriu caminho apressado, Viu, caído, o capitão.

-De novo? Mas não é possível! Tá me dando um trabalhão!

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-Não tá vendo essa mordida? Não estou brincando doutor! Só me resta alguns minutos,

Me socorre, por favor!

-Está bem é uma mordida, Eu ouvi o que você disse. Mas tá longe de morrer, Só se for de esquisitice.

-Doutor, mas eu vi a cobra! Pulou no meu calcanhar!

E meu último pedido: Joga meu corpo no mar!

- Vou fazer melhor que isso, Vou lhe jogar no porão.

Marujos, venham, me ajudem A levar o capitão!

Quando chegarmos ao Rio, Vai ter que ser reformado; Tá pondo em risco o navio. Como é que foi convocado?

E levaram o capitão Para uma área isolada.

-Ou nossa tripulação Vai ficar apavorada.

O capitão nem chiou, Estava aguardando a morte;

Se deitou no seu cantinho; Mas tava mesmo sem sorte.

Camila estava na cama, Não achou outro lugar. O capitão quando a viu Desistiu até de gritar.

-Eu sei que você só existe Na minha imaginação. O que será que eu comi

Pra ter alucinação?

Vamos combinar assim: Você não mexe, eu não mexo. Esperamos bem quietinhos Porque há de ter um desfe-

cho!

E Camila compreendeu, O capitão tava louco.

Resolveu obedecer. “-Pro Brasil só falta um pou-

co!”

Nenhum dos dois se mexia. Ela parecia morta,

Ele, uma estátua de gelo, Mas aí abriram a porta...

Quando viu que eram maru-jos,

Ela entrou pela coberta. E quando desceu o doutor

Ela já ficou alerta.

-Podem levá-lo pra cima! Me desculpe capitão, Acabo de descobrir

Que o senhor tinha razão!

Camila espiou de leve E viu seu plano ruir;

Pois viu descer o almirante Seguido pelo faquir.

-Capitão, mas que injustiça Nós fizemos com o senhor! Deixa eu ver essa mordida, Está sentindo muita dor?

O faquir nos informou Que a cobra não é venenosa; Mas mesmo assim, uma mor-

dida Sempre é meio perigosa.

O capitão enquanto ouvia, Sentia a cobra, pertinho. Camila só se enroscava, Mas muito devagarinho.

Após tanto sofrimento, O capitão perdeu o medo, Preferiu mentir pra todos E ficar com seu segredo.

Também foi pra se vingar Que puxou mais a coberta;

Teve pena de Camila E apontou a porta aberta.

-Agora é tarde demais, Ela fugiu por ali!

Eu pude vê-la saindo Quando me deixaram aqui.

Eu não avisei pra ninguém Pois não queriam me ouvir;

Só resolveram me ver Por causa desse faquir.

Aproveito esse momento E digo a todos vocês:

Se ela fugiu do faquir, Boa coisa ele não fez!

Deve tê-la maltratado Ou a explorado demais, Por isso que ela escapou

Deixando o homem pra trás.

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O faquir ficou zangado E pediu indenização.

-Volta lá pra sua lanchinha, Não vamos dar nada não!

-Se ela ainda estiver aqui Sem coragem pra pular? -Eu vi senhor almirante,

Ela se jogou no mar.

Quem disse isso foi um maru-jo,

O mesmo da bofetada. Deve ter visto outra coisa

Já que não enxergava nada.

Tinha óculos tão grossos Pra um alto grau de miopia, Mas esbarrava nos outros,

Derrubava uns três por dia.

Mas foi bom pro capitão Esse marujo ajudar;

O faquir deu meia-volta E saiu sem reclamar.

O médico deu uma olhada Na perna do capitão.

-Ainda bem que foi só um susto,

Na verdade um arranhão.

-Muito obrigado doutor Mas quero ficar sozinho; O senhor me fez de bobo, Agora banca o bonzinho.

Vou lá ajeitar minha mala, Sei que já estamos chegando;

Prepare a sua defesa Que eu vou chegar reclaman-

do!

O capitão ficou só. Então levantou o lençol,

Viu Camila enroscadinha Parecendo um caracol.

Segurou devagarinho. - Não gostei do seu faquir

Vou lhe soltar lá no Rio Pra você se divertir.

Quando o navio aportou, O capitão foi bacana...

-Chegamos ao seu destino: Praia de Copacabana!

Fim

Sobre a autora

Ana Anaissi, carioca, vivendo em Brasília

desde 1970, é artista plástica, compositora,

ilustradora e escritora. Tem um site cha-

mado Alma Totem histórias a granel, que

foi inaugurado recentemente, onde divulga

seus trabalhos.

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Reprodução da reportagem de Arlete F. Kaufmann para o site http://www.sncweb.ch/

Um livro para crianças e jovens para

melhor compreender a história dos imi-

grantes suiços no Brasil. Durante o perí-

odo de 1819/1920 é bom que não es-

queçamos que os suiços também foram

imigrantes. Devido as crises de 1816/-

1817 agravada pelo insucesso das suas

safras agrícolas, a fome havia chegado

aos lares suiços, e a solução que na é-

poca pareceu mais adequada foi os mo-

vimentos migratórios para o exterior.

A IMIGRAÇÃO SUÍÇA DE 1819/1820 PARA O BRASIL O período das guerras napoleônicas deixou, por muitas décadas após, muitas seqüelas inimagi-náveis pelo Imperador Napoleão Bonaparte, não só no continente europeu mas também na América. A Confederação Helvética, que sofrera mudanças territoriais significativas, passara também por problemas que ocasionou distúrbios afetando sua integridade político-social. Com a chega-da do liberalismo econômico e as crises de 1816/1817, agravada pelo insucesso das suas safras agrícolas, a fome havia chegado aos lares suíços. A Confederação não tinha como mais ali-mentar a totalidade de seus cidadãos, e a solução que à época pareceu mais adequada seria per-mitir movimentos migratórios para o exterior. Um cidadão da Gruyère, de nome Nicolas Sébastian-Gachet, foi então nomeado pelo Cantão de Fribourg para negociar com o Príncipe Regente D. João, do Reino do Brasil Portugal e Algarves, a instalação de uma colônia suíça em território brasileiro. Tal iniciativa encontrou campo extremamente favorável no seio das autoridades imperiais por-tuguesas, pois, a exemplo dos demais países europeus, o Reino de Portugal, estrategicamente indefensável a exércitos invasores, também sofrera a investida de Napoleão Bonaparte. D. João e toda a corte portuguesa, numa retirada estratégica, busca refúgio na sua colônia ame-ricana e, em 1808, se instala no Rio de Janeiro.

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Em 16.05.1818, o Príncipe Regente e futuro Rei D.João VI, por Decreto Real, ratifica e aprova as “CONDIÇÕES SOB AS QUAIS SUA MAJESTADE MUITO-FIEL QUIS CONCEDER AO SENHOR SEBASTIÃO NICOLAO GACHET, AGENTE DO GOVERNO DE FRI-BOURG, UM ESTABELECIMENTO PARA UMA COLÔNIA SUÍÇA NOS ESTADOS DO BRASIL.” Nesse documento se estabelecia, efetivamente, todas as condições e situações de ordem prática com vistas à vinda dos suíços, desde as exigências do lado brasileiro (profissão, religião, etc.) assim como as vantagens e ajudas concedidas. Também já se definiu ali o nome da futura Co-lônia, que passaria a se chamar Nova Friburgo. Na Suíça a notícia repercutiu de forma muito positiva, pois os intermediários do Projeto des-creviam o Brasil, em particular, a região da colônia, como um Eldorado. Alistaram-se 830 pes-soas de Fribourg, 500 de Berna (incluindo o Jura de Berna), 160 do Valais, 90 do Vaud, 5 de Neuchatel, 3 de Geneve, 143 de Aargau, 118 de Solothurn, 140 de Lucerne e 17 de Schwytz, totalizando 2006 colonos.

À espera do embarque para a viagem pelo Oceano Atlântico, ficaram acampa-dos nos pântanos de Milj...

Em 14 de julho de 1819 os emigrantes da Suisse Romande partiram de Estavayer-le-Lac, para uma viagem sem volta, com muitas lágrimas e tristezas em relação aos que ficaram, mas tam-bém com muitas esperanças com o novo lar. Os colonos da chamada Suíça Alemã vieram pe-los Reuss, Aar, em direção ao Reno, para se juntar em Bale a todo o contingente migratório. Problemas relacionados com a organização do Projeto, melhor dizendo, a falta de organização trouxe conseqüências trágicas. À espera do embarque para a viagem pelo Oceano Atlântico, ficaram acampados nos pântanos de Milj, perto de Dordrecht, na Holanda, onde sofreram toda espécie de desconforto, comida ruim ou deteriorada, que provocou doenças como varíola, tifo, disenteria e malária. Somente em 11 de setembro de 1819 as primeiras 1200 pessoas conseguiram embarcar, e em 10 de outubro as 800 restantes. Os colonos são acomodados nos veleiros Daphné, Urânia, Deux Catherine, Debby Elisa, Heurex Voyage, Elisabeth-Marie e Camillus. O Trajan transpor-tou apenas as bagagens pesadas dos passageiros. A ambição do intermediário Gachet, que procurava ganhar dinheiro de todas formas possíveis, alugou navios em quantidade insuficiente, dando ensejo a que em todos os navios havia super-lotação. Thorman, o inspetor nomeado pelo cantão de Berna, com ironia e pessimismo fúnebres, infor-mava ao seu governo que “... como é de se supor tampouco que todos os colonos embarcados

ainda estejam vivos na chegada ao Rio de Janeiro, não há dúvida que estarão melhor acomo-

dados e com mais espaço quando a viagem estiver chegando ao fim...”. Por isso, a travessia do oceano foi muito triste, demorada, e com muitas mortes. Na chegada ao Rio de Janeiro, foram recebidos de forma agradável pelo Rei D.João VI, rece-bendo muitos presentes e coisas típicas como pão, vinho, bananas e laranjas. Mas a viagem ainda não acabara. Tinham que percorrer mais de 120 quilômetros até à

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Colônia. A metade do caminho era por via fluvial, até perto da atual cidade de Cachoeira de Macacú. A partir daí em carroças e lombo de burro. Tomaram contato com a floresta tropical, quente e úmida, com muitos animais diferentes, chuvas abundantes e caminhos estreitos, quase intransitáveis. Mas eram bem recebidos pelas populações das fazendas por onde passavam, recebendo presentes, doces, guloseimas em geral, e conheceram a nossa cachaça. Mais adiante, a viagem tornou-se mais difícil, pois os carros não tinham como avançar. As mulheres, crian-ças e idosos iam em mulas, e os homens a pé. A triste estatística da viagem pode ser expressa pelos seguintes números: • mortes ainda na Europa 43 • mortes no oceano 311 • mortes no Vale do Macacú 35 Das 2006 pessoas que partiram da Suíça, apenas 1617 chegaram a Nova Friburgo e, durante a viagem, nasceram 14 bebes. Mas as atribulações ainda não haviam terminado. O governo imperial havia preparado apenas 100 casas. Insuficiente, tratou-se alojar em cada uma, mais de uma família, os órfãos, solteiros, parentes, de modo que cada casa abrigou de 18 a 20 pessoas, dando origem ao que ficou co-nhecida como a “família artificial”. Depois são transferidos para as terras que lhe haviam sido destinadas, também em número in-suficiente, adotando-se o mesmo critério de ocupação. Mas o pior é que as terras eram total-mente impróprias para a agricultura. Íngremes, pedregosas, às vezes verdadeiras montanhas de enormes rochas. Algumas eram tão ruins que não era possível sequer plantar uma simples hor-ta.

Os mais corajosos e de alguma posse vão em direção ao Vale do Rio Paraíba

Contra-capa do livro.

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Para agravar mais ainda a situação, a maior parte da ajuda prometida e estabelecida no docu-mento inicial (Condições...), não foi cumprida. Não lhes foram dadas as sementes, o gado etc. Aqueles que não tinham profissões definidas e as viúvas e órfãos começaram a passar fome e foram pedir esmolas. Sensibilizados com a situação de seus patrícios, alguns suíços do Rio de Janeiro criaram a So-ciedade Filantrópica Suíça do Rio de Janeiro que tentava evitar a miséria dos colonos, dando-lhes assistência médica e educação para as crianças. Como também não houve racionalidade para a prestação dessa ajuda, ocorre a falência da Co-lônia e os colonos se dispersam. Somente ficam em Nova Friburgo aqueles que não tinham condições financeiras ou materiais para ir adiante. Os mais corajosos e de alguma posse vão em direção ao Vale do Rio Paraíba, em busca de me-lhores terras e clima mais quente. As cidades de Duas Barras, Cordeiro, Cantagalo, Jardim, São Sebastião do Alto, São Fidelis, Carmo e outras, Algumas famílias de suíços se tornam, ao longo dos anos, proprietários de terras e alguns até prósperos aristocratas rurais, como os Monnerat, Wermelinger, Lutterbach, Heggendorn, Tar-din, Thurler, Stutz, Tardin. Embora a região centro-norte do Estado do Rio de Janeiro ainda o reduto principal da Colônia Suíça, hoje seus descendentes estão espalhados por toda a parte, tendo participado ativamente do desenvolvimento e crescimento do país. Por esta razão, temos um grande orgulho de ser descendentes daqueles bravos imigrantes.

Mais sobre a imigração suíça no Brasil:

SUÍÇOS DO BRASIL Na bagagem, um pouco da Suíça. Cada imigrante suíço que desembarcou no Brasil trouxe na bagagem um pouco de seu país. A motivação da viagem varia conforme a época e a história individual: fuga da pobreza, motivos religiosos e ideológicos, busca de li-berdade, gosto pela aventura, projetos pessoais ou profissionais, curiosidade científica, globa-lização da economia.

O painel delineado por esta exposição revela a diversidade de experiências que se mesclaram à sociedade brasileira. A história que os suíços escrevem no Brasil tem momentos de saga he-róica, de superação de obstáculos e também muitos finais felizes, pois o encontro entre as culturas revelou-se generoso em criatividade e oportunidades

http://www.suicosdobrasil.com.br/

Contato: Consulado Geral da Suíça São Paulo

Av. Paulista 1754, 4° andar

Edifício Grande Avenida

01310-920 São Paulo, SP

Brasil

Tel.: +55 11 3372 8200

Fax: +55 11 3253 5716

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PARTICIPAÇÃO NO VARAL NO. 5

Envie seus textos para o e-mail [email protected] em formato Word (não serão aceitos textos colados aos emails) . Envie uma biografia breve acompanhada de uma ou duas fotos e dados para contato (email, blog, site, etc.). Se usar pseudônimo e não de-sejar que seu nome verdadeiro seja colocado no Varal ou no site, envie uma biografia do seu pseudônimo. Não serão aceitas biografias e fotos Incorporadas aos emails, apenas em ane-xo. Será escolhido apenas um texto de cada autor sendo: - poemas de no máximo duas páginas contendo 20 linhas; - contos e crônicas com um máximo de três páginas de 25 linhas; - os envios deverão ser feitos até o dia 05 de AGOSTO (todo texto que chegar após esta data será observado automaticamente para o Varal no. 6). - será dada a prioridade aos que enviarem com maior antecedência.

FAÇA SUA ESTA CAUSA!

ADOTAR É ANIMAL AJUDANIMAL, GRUPO DE AJUDA E AMPARO

AOS ANIMAIS DO ABC www.ajudanimal.org.br

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O braço que te enlaça que te sufoca os sentidos

passeia por sobre vértices desenhadas

em perfeita arquitetura de traços anatômicos. O braço que te enlaça em perfeito encaixe não usou régua T.

Brincou com o arrepio da pele e peitos ávidos.

Sugou o que nada tem de sutil

mas que carrega a essência da energia inalada.

Um certo ar rarefeito como pequenos experimentos

de um gás mortal. Veneno que paralisa os sentidos

e torna os gestos imortais. Um intenso arco

que molda plasticamente os desejos de seres tão diferentes e iguais.

Ana Mariah, jornalista, poeta, compositora e

cantora. Carioca, mora em Brasília desde os

anos 70. Atualmente, é assessora de imprensa

de um Ministério que aborda questões sociais.

Publica seus escritos no blog http://

abobrinhasaovento.blogspot.com/

Por Ana Mariah

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Você é a inspiração Por André L. Aquino “É bom ser um buscador... mas, cedo ou tarde, você precisa ser um descobridor” - (Richard Bach, Fernão Capelo Gaivota) Quanto mais amarga for a vida, mais doces vão ficando minhas palavras, porque é preciso transmitir a mensagem, equilibrar o dia com a noite, o es-quecimento com a saudade, a biologia com a espiritualidade.O tempo parece linear e constante com apenas duas dimensões, para frente e para trás. Mas como nunca há uma pausa, você nunca parece estar no "agora", há sempre a lembrança do passado e a preocupação com o futuro. Como um rio que não tem onde desaguar, como se ele chegasse a algum lugar e corresse então de novo para trás e no escuro. Quanto mais impossível for o encontro, mais esperançosos vão ser meus di-as, depois de tanto caminhar eu sentei numa ponte pra ver o velho rio pas-sar, para ouvir a cachoeira chorar, não quero mais fugir, não quero ser um barco perdendo sempre o rumo. Deus está dentro de nós, o céu começa den-tro da gente, soma a sua fé com a sua razão, encontre o equilíbrio Quanto mais os sentimentos não tiverem tradução, mais você será minha inspiração , e toda vez que não houver o físico, nos uniremos no mental e nos encontraremos no espiritual, quanto mais sozinha você se sentir, mais sua será a minha solidão e mais minha será sua companhia.Daqui algum tempo, haverá muito tempo para sermos muito mais do que dois grandes a-migos. Quanto mais você achar que ninguém te ama, mais eu te amarei, porque a-inda que a escuridão se abater sobre mim eu não temerei, porque finalmente já é possível ouvir entre as pessoas uma língua que todos entendem, não im-porta onde tenham nascido, já há pairando sobre o planeta um força, que uns chamam de anjo, outros de espírito, mas que não importa seu nome, veio para abraçar o mundo e decretar um novo tempo. Nada mais será como antes. Quanto mais se aproximar o fim, mas eu vou recomeçar! Infinitamente, infi-nitamente, infinitamente!

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Como deitar com você

Por Angela Costa Se fico desesperada, tento ima-ginar como são feitos os col-chões... Se das areias quentes, meladas de prazer, da última praia em que se dormiu - e já faz tanto tempo, tanto, que as malas me embaraçaram em suas teias, no canto de nosso quarto. Se da largura do sofá da sala, em noites de insônia ou insânia. Se leves como a rede ao luar , no jardim, para lá e cá, no ba-lanço de B.B.King. Se frios como chão de casa da montanha, nosso maior conforto na paixão do último inverno. Se duros como no que vivemos há três anos, com aquele ines-perado buraco do meu lado.

Vivo entre a ciência e a arte - não con-segui aceitar os limites entre ambas. Prefiro pensar que inte-gram a "Magia".

http://www.angelacosta.recantodasletras.com.br/

ANGELA COSTA

Desenho L. Mason

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Encravadas nas muralhas seculares Olhavam para o povo sofrido

Sentinelas do poder e do tempo Mistura de humanóide e dragão Guardavam a entrada do castelo

Dos senhores feudais

À noite ganhavam vida e voavam Mostrando poder assustando os camponeses nos vilarejos

Que cumpriam com o pagamento de impostos Levando mantimentos

Para o povo da corte viver na libertinagem

João

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Comecei a escrever recentemente, de forma despretensiosa, mas com muito respeito aos leitores. Não tenho formação literária, jul-go-me um autodidata, colocando nos textos a emoção e o coração. E assim vou caminhando nesse mundo mágico e esplendoroso de tantos intelectuais. Espero que o tempo permita aprender mais os segredos e a magia das palavras. Meus temas favoritos são as crônicas e os contos, onde solto a mi-nha imaginação descrevendo situações acontecidas e virtuais.

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Consulados da Suíça no Brasil

Se você precisa ir a um Consulado da Suíça no Brasil entre neste site e verifi-que os endereços:

http://www.consulados.com.br/suica/

Consulat Général du Brésil 54, rue de Lausanne 1202 Genève

Horário de atendimento ao público: de segunda a sex ta-feira das 09:00 às 14:00 (de 02.07.2010 a 12.07.2010, o ingresso no Consulad o será até 13:00)

Telefones Tel. : 022 906 94 20 Fax : 022 906 94 35

Horário de atendimento telefônico: de segunda a sex ta-feira das 13:00 às 16:00

CONSULADO-GERAL DO BRASIL EM ZURIQUE

Stampfenbachstrasse 138 8006 Zürich-ZH

Fax: 044 206 90 21 www.consuladobrasil.ch

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CAPUNS

Uma receita tradicional do cantão de Grisons

Ingredientes: para 4 porções 400g de farinha 1 1/2 dl de leite 1/2 dl de água 4 ovos 1 / 2 colher de de chá de sal 1 / 2 xícara de ervas picadas (salsa, cebolinha, alecrim, manjericão) 2 salsichas duplas de Maienfeld ou 200g de car-ne seca do Grison ou de presunto cru 40 folhas de acelga ou 40 folhas de alface para aproximadamente 40 Capuns 50g de queijo parmesão ralado 1 cebola 50g de manteiga

Peneire a farinha em uma tigela e misture com o leite e a água, os ovos e o sal, mexa até obter uma massa suave e cremosa. Deixe a massa descansar por 30 minutos, em se-guida, adicione as ervas picadas. Descasque a salsicha crua, corte em cubos ou - se você u-sar a carne seca do Grisons - corte em tiras finas e misture à massa. Cubra bem as folhas de acelga (ou alface), deixe escorrer e, em seguida, estenda-as sobre a mesa de preparação. Colo-que uma bola de massa em cada folha, dobre as folhas e enrole-as em pequenos pacotes. Aqueça uma panela grande com muita água e quando a á-gua estiver um pouco abaixo do ponto de fervura, mergulhe os Capuns durante 16-20 minutos. Retire-os com uma escu-madeira e então deixe-os escorrer. Depois de ter polvilhado com queijo ralado, vá colocando as novas porções e então coloque no forno para aquecer. Finalmente, cortar uma ce-bola em rodelas e deixar dourar em manteiga aquecida. Es-palhe-as sobre os Capuns. Esta especialidade equivale a uma refeição completa e po-de ser servida com uma salada da estação.

Fonte: http://www.grischuna.ch/

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Florianópolis hoje é conhecida como a ilha da magia, mas o verdadeiro significado do tal apelido, alguns ainda desconhecem, outros, desacreditam! Associam ao paraíso tropical, aos lugares fascinantes, mas eu descobri o verdadeiro encanto desta cidade! Colonizada por açorianos, Floripa, como é conhecida pelos catarinenses, conserva uma das mais belas culturas e arquitetura do país! ... Mas não é só isso que a torna mágica! O que ninguém sabe, é que em Florianópolis, moram duendes! Estes duendes não são como os que vemos na TV, ou que ouvimos nas histórias infantis! Estes de Floripa são reais! Por volta de um metro de altura, não têm orelhas grandes, pontudas e não usam chapéus. Não comem, somente bebem caldo de cana e alimentam-se da energia solar. São seres de luz e invisíveis aos olhos de seres humanos acima de cinco anos de idade. Brincalhões, escondem-se geralmente em meio às pedras nas praias da cidade, onde passam o dia todo, dividindo o tempo entre gargalhadas, cantigas e brincadeiras. Até hoje pergunto-me por qual motivo eu pude vê-los? Por que eu fui presenteada com tão graciosa visita?

...m[s _u ^_s]o\ri o v_r^[^_iro _n][nto ^_st[ ]i^[^_! ... Lembro-me direitinho daquele final de ano que eu passei na capital de Santa Catarina, Florianó-polis. Foi o natal mais encantado da minha vida! Estávamos eu, papai, mamãe e alguns jovens casais, na casa de amigos de trabalho do meu pai. A casa era a beira mar e eu esperava ansiosa a chegada do Papai Noel, mas para a minha surpresa apareceram duendes! Eu tinha acabado de fazer cinco anos e Tulipa, a deusa dos duendes, a mais bela delas, me ungiu com um beijo. Só eu os via, só eu sentia o aroma adocicado que eles exalavam... Nem quis mais saber do senhor barbudo que morava no pólo norte, pois estava encantada com a magia daquele lugar! Brincamos, divertimo-nos, eu e os duendes. Eu era a única criança naquela casa, naquela noite! Somente eu presenciei a paz que as criaturas da ilha da magia me trouxeram! Foi a única vez que eu os vi, mas bastou para que eu me encantasse com o brilho diferente daquele lugar espetacular! Depois daquela noite, jamais consegui querer outra coisa senão viver aquele sonho novamente, para sempre! Mesmo ainda não sabendo que o para sempre, sempre acaba!

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Muitos anos se passaram, o para sempre, ain-da não acabou para mim! Apesar de não vê-los mais, sei que eles me vêem, me sentem, me ouvem! ... Por isso, mudei-me para Santa e bela Cata-rina, vou à praia sempre que posso e em meio às pedras, ouço o barulho das ondas lavando as rochas e levando o meu corpo a um repou-so inexplicável! Descobri que a magia desta ilha, não está só nas praias maravilhosas, belas como nunca vi iguais, bares diversos, restaurantes multi-étnicos, festas e pessoas encantadoras, mas também na beleza das criaturas mágicas que sobrevivem ao tempo e na ilha fazem as mais divertidas comemorações do paraíso tropical. Sinto até hoje a boa energia e o cheiro adoci-cado das criaturas sobrenaturais e guardo no coração a emoção de ter conhecido e hoje viver na terra encantada, chamada de "ILHA DA MAGIA"!

Nelci Cristiane Stancovik nasceu em Novo Hamburgo, Rio Grande do Sul no ano de 1980, mas vive em Capivari de Baixo, Santa Catarina desde os dois anos de idade. É filha de Nelson Stancovik (artista circense) e Cla-ir Salete Pandolfi (descendente de imigran-tes italianos). Estudante de letras na Universidade do Sul de Santa Catarina, lugar o qual foi incentiva-da por sua professora de literatura "Jussara Bittencout de Sá" (escritora) a escrever e inscrever-se para um concurso nacional lite-rário no ano de 2008, conquistando o pri-meiro lugar na categoria crônica.

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Amei teu coração sem saber teu rosto.

Amei teu corpo sem jamais sentir-lhe o gosto.

Abri minh’alma

a toda a esperança de estar contigo.

Sem saber que ela seria, para sempre,

justamente o meu castigo!

Ousei o amor que jamais seria meu.

Ousei sonhar a vida novamente!

De sermos um só.

Ser teu amante, teu amigo; cobrindo-te de beijos,

adivinhando teus desejos, bastando a mim

a paga do teu sorriso.

Senti toda a dor da perda.

Sem me lembrar de que, nem por um instante

sequer,fosses minha.

Se por zelo ou desleixo perdi a flor,

que jardineiro sou? Nem o rastro do perfume me restou...

Anjo ou demônio? Fada ou sereia?

Por que te ausentas, faltas, não ligas?

Por que tantas reticências?

Minando, erodindo, o que foi construído com tanto cuidado!

Sendo assim, desse jeito estranho,

destruído.

Por que o bálsamo da promessa é passado

pela mesma mão que nega a carícia?

Por que a desconfiança envolve esta paixão? E o amor que nasce carrega o estigma

da ilusão?

Porque a dúvida nunca é desfeita?

Os “por quês” nunca respondidos? E a ausência é sempre

tua resposta...? Por que?

POR QUE?

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Por Deyse Zarichta

Para aconselhar-me, é necessário um pequeno relato, Que diabos colocarei aqui? Coloco toda minha amargura, antes que como fel Passe por minhas veias levando embora todo o sangue Assusta a possibilidade do eterno retorno Acontece sempre Um mesmo início, um mesmo fim, tudo exatamen-te igual Com suas, irrelevantes, diferenças Lerei essas pequenas notas assim que sentir o perigo Que é fácil identificar Começa com a poesia dos estúpidos Olhares inflamados de desejo e mensagens sutis anunciam, te quero Interessante é passar o tempo jogando com essas peças E apesar de já conhecer o fim, esperar, que dessa vez, ao menos dessa vez Haja controle absoluto da situação É inevitável, e parece até castigo, esse mesmo fim miserável Lágrimas, e uma fraqueza que percorre lentamen-te cada milímetro do corpo Deixando bem claro que é tudo o que se tem, ma-téria rejeitada A mesma cena , tão desesperadamente forçada a ser enterrada Agora parece tão mais estúpida, uma vez que já não é acidente, é quase uma escolha Tudo é beleza, romance e história Tudo é a irresponsável vontade de, mais uma vez Levar adiante a estupidez de encenar uma paixão Que acaba inevitavelmente nessa inversão das forças E o que era poder, agora é peso, culpa e dor

Deyse Zarichta Ferreira, nascida a 09 de maio de 1989, em Urussanga, tendo passado parte da vida em Ga-ropaba, parte em Petrópolis, RJ, re-tornando à Santa Catarina, Imbitu-ba, e hoje vive em Tubarão-SC, on-de cursa Letras na Universidade do Sul de Santa Catarina - Unisul, já tendo atuado como professora de línguas portuguesa e inglesa.

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Felicidade é a certeza de que a nossa vida não está se passando inutilmente.

Gota de orvalho na coroa dum lírio: Jóia do tempo.

O tempo faz a gente esquecer. Há pessoas que esquecem depressa. Outras apenas fingem que não se lembram mais"

Érico Lopes Veríssimo nasceu em Cruz Alta, em 1905 e faleceu em Porto Alegre, em 1975. Concluiu o 1º grau (antigo ginásio) em Porto Alegre. De volta a sua ci-dade natal, empregou-se no comércio, foi bancário e sócio de uma farmácia. Em 1930, transferiu-se para Porto Alegre, onde, depois de trabalhar algum tempo co-mo desenhista e de publicar alguns contos na imprensa local, empregou-se na Edi-tora Globo como secretário do Departamento Editorial. Viajou duas vezes aos Es-tados Unidos, onde ministrou ccursos de literatura brasileira. OBRAS Romance: Clarissa(1933); Caminhos cruzados(1935); Música ao longe(1935); Um lugar ao sol(1936); Olhai os lírios do campo(1938); Saga(1940); O resto é silêncio(1942); O tempo e o vento: I - O continente(1948), II - O retrato(1951), III - O arquipélago(1961); O senhor embaixador(1965); O prisioneiro(1967); Inci-dente em Antares(1971). Conto e novela: Fantoches(1932); Noite(1942). Memórias: Solo de clarineta I(1973); Solo de clarineta II(1975). Publicou ainda várias obras de ficção didática e literatura infantil, além de narrati-vas de viagens.

Fonte: http://www.brasilescola.com/

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na solidão mora o amor e o amor faz-se outono quando apenas amamos. consola-me amar. amar é procurar é perder é morrer. todos amam e amar, é chorar: amar é minha primavera de boêmio é minha cabala é minha máscara. amar em todas as noites só por amar. amar eternamente amar, eu amaria a primeira mulher, sem medida, se amar fosse somente carne, mas amar, amar mesmo, é desespero. é verdade, também, que amar é clarividente no beijo, no sexo, no gozo e, além disso, amar é salivar assim como se consome a laranja, a manga, a ameixa, o figo: a mulher. é lamber o mel na boca. os limões são azedos e a mulher: doçura. amar não é viver azul é sofrer azul e, às vezes, amargar em branco. amar é provar a poesia dos dias, o engano do tempo. amar é voar sob o céu sob a tempestade sob o manto de luz das estrelas e cair, cair, cair, cair... e ressuscitar na derradeira brisa. não há pecado em amar, amar é amar e é tudo e é nada. e se nada é tudo, o tudo é sempre. sempre é amar e amar é fugir. estou perdido entre indagações, confesso. um sopro disse-me que amar é vento. o vento é plumbaginoso. o amor: música: vida. aqui, volto ao outono. será o amor regresso ou escarlatim ou devaneio? muitos se suicidam outros esquecem. outros se calam e pesam. Amar é fogo e o Amor: incêndio.

Por Diego Mendes Sousa

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Diego Mendes Sousa nasceu na Parnaíba [15 de julho de 1989], Piauí, Nor-deste brasileiro. Em 2009, sua obra Metafísica do Encanto (2008), recebeu honrosa distinção da União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro (UBE-RJ), com o Prêmio Olegário Mariano, relatado por Stella Leonardos, em prestigiada festividade na Academia Brasileira de Letras (ABL). Seu traba-lho poético mereceu atenção da tradutora carioca Helena Ferreira, que ver-teu Metafísica do Encanto para a língua espanhola. Foi convidado por Wal-dir Ribeiro do Val (diretor das Edições Galo Branco) para compor a cole-ção 50 Poemas Escolhidos Pelo Autor, que reúne grandes poetas brasilei-ros, dando um vasto panorama da poesia brasileira atual. Participou do Po-emário Internacional (Biblioteca Nacional de Brasília, 2008), também co-mo convidado especial de Antonio Miranda, da Primeira Bienal Internacio-nal de Poesia de Brasília (I BIP). É autor de Divagações (2006). Fundador e articulista do Jornal O Bembém, que tem como co-fundadores, Benjamim Santos e Tarciso Prado. Desde o V Belô Poético, Diego é integrante da an-tologia Poetas En/Cena, sob a coordenação de Rogério Salgado, em Belo Horizonte - MG. Contato: Avenida Álvaro Mendes, 1737/ Bairro Nova Parnaíba/ Parnaíba-PI/ CEP: 64218-350/ e-mail: [email protected]/ (086) 3321-1794

“Em relação aos livros, não tenho o fetiche da pro-priedade. Sinto-me mais como um depositário do que um proprietário, usufruindo, é verdade, do pra-zer que eles proporcionam, mas visando sempre preservar uma herança do passado, e conservar o que se faz de bom agora, com o propósito de trans-mitir tudo isso para o futuro. Tenho procurado de-senvolver uma atividade cultural em várias frentes, facilitar a estudiosos a pesquisa na biblioteca, pro-mover edições de obras úteis e reedição de outras esgotadas que considero importantes. Desenvolver,

em suma, um trabalho que é uma das minhas razões de ser na vi-da. “(trecho de Uma vida entre livros: Reencontros como tempo, livro de memórias escrito por Min-dlin, publicado em 1996.)

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Fragmentos da Alma

Por Fabio Ramos dos Santos

Sonhos... Ilusões do querer Vida inconsciente

Vive no presente, fazendo sofrer

Sonhos que vem e vão

Pessoas que chegam, outras que partem Amores que morrem outros que nascem

E no correr deste vai e vem Entre chegadas e partidas

O que resta são feridas Migalhas do que se foi

Fragmentos que restam

Restos que movem Restos que ferem

Restos de momentos e lembranças Ou, apenas restos de sonhos Que jamais saíram da ilusão

Restos de um nada

Pairando no ar Vagando um coração Molhando um olhar

Fazendo viver Uma alma que sangrou e partiu

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Fabio Ramos é escritor poeta, músico, empresário do ramo financeiro. Nasceu em Lages, na Serra de Santa Catarina, em 04 de novembro de 1980, residente hoje na cidade de Chapecó, no oeste do estado desde 2007. Filho de Carlino dos Santos e Solineti Ramos dos Santos, papai da YASMINN, e esposo de Uiara Tártaro, iniciou sua carreira artística aos oito anos na música na cidade de Rio dos Cedros, no Vale Europeu de Santa Catarina.

Fabio esteve sempre em contato com a arte e a cultura européia, sempre presente em movimentos sociais, esporte, cultura e lazer na cidade em que cresceu, Fabio passando por diversas situações, usou papel e caneta para fazer um verdadeiro amigo, um refúgio para suas lamentações, me-dos, sonhos, desejos. A princípio seus textos eram apenas rascunhos de papel escondidos, até que amigos e amigas começaram a ler e gostar dos textos, e então começaram a transmitir os mesmos, tornando Fabio co-nhecido por belos poemas. Em 2007 participou da Antologia, Coletânea de Poemas, Crônicas e Contos, “ELDORADO” , Volume IV, pelo Celei-ro dos Escritores, e logo em seguida participou da Antologia de Poesia e Prosa de Escritores Contemporâneos “Amor & Paixão”, Volume I, tam-bém pelo Celeiro dos Escritores e neste ano sente-se honrado e realizado por participar da Antologia “Poesia do Brasil”, e principalmente deste Congresso de Poesia, que se faz como um marco na carreira e na Histó-ria de sua vida.

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P[ul[ B[rrozo ]onvi^[: Dr. Francisco Gregori Junior, renomado cirurgião cardíaco, nasceu em 10/-/12/1947 em Bocaina – SP. Conhecido internacionalmente por seus inúmeros artigos publicados em diversas revistas médicas nacionais e internacionais, autor de 7 técnicas inéditas em cirur-gia de válvulas cardíacas, arritmias, criador da prótese “Braile-Gregori” para substituição de cordas tendíneas da valva mitral e criador do “Anel de Gregori” para plásticas da valva mitral. Ficou conhecido mundialmente, inclusive com uma entrevista no “Programa do

Jô”- Rede Globo, por ter estancado uma hemorragia após uma ruptura do coração empregando cola SUPERBOND, como última opção. Autor de vários trabalhos e inúmeras conferências científicas realizadas em todo o mundo. Reali-zou mais de 28.000 cirurgias cardíacas com sua equipe, sendo a maior experiência Latino-americana na área da reconstrução das valvas cardíacas. Enfim, uma sumidade da cirurgia cardíaca !!!! Como se não fosse o bastante, Dr. Chico Gregori, como é chamado cari-nhosamente pelos amigos, com sua família compôs 60 músicas gravadas em cinco CDS por sua banda “Gregori´s Heart Band” e escreveu um livro de poemas : “Reflexões e Realidades de um Cirurgião”. E com certeza já plantou várias árvores !!!! Poemas esses que estarei publicando neste numero do “Varal do Brasil” e no decorrer das próximas edições.

Não há grito mais

aterrorizante do que

o silêncio de uma

adoecida criança

com fome.

Dr. Francisco Gregori Junior,

ENCRUZILHADA São seis horas da manhã, Agoniza o velho à minha frente. A esperança já se faz ausente, Sentimentos confundem minha mente. Persiste o martírio doloroso De um homem não mais vivo. Coração a bater forte em seu peito, Tendo sua alma já o deixado há algum tempo. Martírio de uma velha companheira, Negando-se a aceitar a perda definida, Passando a clamar por ato difícil de ser feito, Fosse eu capaz ou tivesse esse direito. Como abreviar este fim, Desligar aparelhos, interromper infusões? De um modo, certo achava, De outro modo, me negava. Um misto de alívio e dor, finalmente. A morte veio, final de uma história até freqüente, Não fora o velho doente o pai, Não fora eu, seu filho, o médico assistente.

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MISSÃO (Desabafo de um médico)

Fim do dia, já cansado, Estático à beira do leito

Começo a repensar o que a vida Ou a morte tem nos revelado.

Concluo que jogo injusto

É este confronto árduo e feroz Em que o prêmio da vitória é a vida temporária

E a decepção da derrota, um fim atroz.

E a dor, passeando soberana, Deixando rastros de sofrimento,

Atinge sagaz e, cruelmente, o indefeso. Atinge a mim ao mesmo tempo.

Felizes momentos visitam-me por instantes,

Vão-se embora, sutilmente. Assim, tornam a esperança Frágil demais, infelizmente.

Quem sou eu ao controle desta nau, Perdendo seu rumo, eventualmente ?

Convenço-me dos meus limites, De minhas fraquezas, reconheço, humildemente.

Já é manhã e nasce o sol,

Agoniza o paciente à minha frente. Inconformado, certifico-me, mais uma vez,

Que cedo ou tarde a morte vence.

Agora descanso no aconchego do meu lar, Olho para o passado e me conformo,

A morte faz parte da vida. Então, cabe à mim a dor tirar, quiçá a vida prolongar.

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Por Gilberto Nogueira de Oliveira

No sol da madrugada, eu me encontrei Estava tudo calmo, apenas eu chorava A doce miséria do mundo A alegre amargura do homem A triste alegria do povo Na doce madrugada eu apenas sorria Um riso de desprezo por todas as coisas Por todos os seres humanos Que fazem o irmão sofrer Na amargurada madrugada eu vi o homem chorar Eu senti o homem sofrer Tentei diminuir o sofrimento humano Mas eu sozinho não podia Todos se recusaram a me ajudar Pobre homem. Que fazer? Que pensar? Se todos ficam parados? E nesse estático momento eu olhei as estrelas Elas me ajudariam? Talvez sim. Talvez não. Mas, elas me olhavam com curiosidade. E o homem ficou parado E o mundo ficou parado E passou um homem que ficou a observar A minha triste angustia O homem estava triste Triste como eu. Deveria ser um pensador.

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Por Gilmar Carlos Milezzi

Esta é a história de Lírio, um sujeito muito popular entre as mulheres da Ilha de Florianó-

polis no início da década de 70. Nas praias de Coqueiros, Itaguaçu e Bom-Abrigo ele rei-

nava absoluto, para admiração e inveja de seus companheiros de farra. Não tinha prá

ninguém: onde houvesse empregadas domésticas, mocinhas com os hormônios em ebu-

lição e solitárias já não tão mocinhas assim dando sopa, lá estava o Lírio fazendo a fes-

ta. Mas aquilo não lhe subia à cabeça. Havia algo que o atormentava em a sua decanta-

da virilidade. Ninguém sabia, mas a fama de garanhão que o acompanhava, embora jus-

ta e merecida, tinha uma mácula. Algo que ele escondia tanto quanto possível, temendo

o implacável julgamento da malta invejosa. Ele temia, sobretudo, o desprezo que adviria

e que o acompanharia no ostracismo a que certamente seria condenado. Parecia inacre-

ditável, mas ele tinha realmente motivos para preocupar-se.

… Ninguém sabia, mas a fama de garanhão que o acomp anha-va, embora justa e merecida, tinha uma mácula...

Por alguma razão, que só os deuses poderiam explicar, o seu ímpeto de garanhão só se

manifestava com mulheres feias. Quanto mais feia fosse a mulher, mais ele se empe-

nhava em conquistar seus favores. E tinha ainda um outro detalhe: Lírio adorava mulher

de pés grandes. Quando descobria que a dita cuja calçava mais de 40, era um delírio. Já

com as mulheres bonitas, ele sentia uma indiferença atroz do seu velho companheiro de

batalhas. Não havia nada que acordasse o, antes, impávido colosso.

Sujeito simpático, e de grande traquejo social, Lírio era bastante popular nas rodas de

samba do bar do Nino, em Coqueiros, e das noitadas regadas a caipirinha do Bar das

Pedras, na praia de Itaguaçu. Nessas ocasiões, podia ser visto rodeado de belas mulhe-

res, mas sempre terminava a noite nos braços de uma mocréia qualquer. Essa era a vida

do Lírio. E seria uma vida boa, se ele se conformasse com o que tinha. Mas no fundo da

alma, ele se ressentia e sonhava com o dia em que teria nos braços uma daquelas lin-

das meninas que freqüentavam as boates do Lira Tênis Clube e do Paineiras nas noites

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de verão. Disposto a mudar sua vida, Lírio foi à

luta. Num baile do clube Limoense, ele conhe-

ceu Aline, uma loura espetacular recém chega-

da de Blumenau. A atração foi mútua e eles

dançaram a noite inteira, com direito a alguns

amassos dissimulados. Todavia, a moça era de

respeito e não deu mole para o incorrigível con-

quistador. Experiente no trato com as mulheres,

Lírio logo percebeu que devia refrear seu tempe-

ramento ardoroso e esmerar-se no galante pa-

pel de um cavalheiro cheio de boas intenções.

Apesar dessas restrições iniciais, ou por causa

delas, começaram a namorar várias semanas

depois daquele primeiro encontro. Depois de al-

gum tempo, ele já freqüentava a casa dos pais

de Aline, e ela já não se mostrava tão puritana

quando eles trocavam carícias na parte escura

da varanda da casa dela, onde tinha até uma

lâmpada providencialmente queimada Tudo pa-

recia perfeito. Contudo, Lírio vivia apavorado

com o momento em que teria que fazer jus à fa-

ma que granjeara durante tanto tempo. E, se de-

pendesse do entusiasmo da moça, esse mo-

mento não tardaria a chegar. As carícias foram

se tornando mais ousadas e a moça mais exi-

gente. Lírio, por outro lado, desconversava

quando as coisas se tornavam mais quentes, na

tentativa de ocultar suas dificuldades sob o man-

to do respeito que lhe dedicava. Aquele era um

bom pretexto, mas não ia durar muito. Ele preci-

sava encontrar uma forma de superar a ausên-

cia de reação que lhe afligia nos momentos mais

calorosos. Pesquisando discretamente, ouviu

Praia de Itaguaçu, Florianóplos nos anos 70. Acervo de Gilberto Silveira.

Praia de Itaguaçu, Florianóplos nos dias de hoje. Foto de Ricardo.

falar numa benzedeira que vivia na

costa da Lagoa da Conceição, e que

sabia preparar uma garrafada que

era tiro e queda para o problema que

o afligia. A queda ele dispensava,

naturalmente, mas foi procurar a mu-

lher.

Após ouvir uma atrapalhada explica-

ção sobre o problema de um suposto

amigo, a tal benzedeira preparou u-

ma beberagem para ele, composta

de vinho, ovo de pata, amendoim e

algumas ervas estranhas de que ele

nunca tinha ouvido falar. O resultado

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daquela mistura foi um litro de um líquido marrom escuro, de aspecto não muito atraente.

A benzedeira entregou-lhe a garrafada com instruções para que ele a enterrasse numa

noite de lua cheia e a deixasse de repouso por três dias. Após isso, Lírio deveria tomar

um cálice daquela beberagem todos os dias antes de dormir. Quando o conteúdo da gar-

rafa acabasse, seu problema estaria resolvido.

Alguns dias depois que ele começou aquele “tratamento”, Aline o encontrou. Estava en-

tusiasmada com a possibilidade de ficar sozinha em casa no fim de semana, em razão

de seus pais irem para Blumenau. Era a oportunidade que eles tanto desejavam, segun-

do a moça, e com a qual ele apressou-se a concordar, sem muito entusiasmo.

Lírio, que já estava ficando confiante na eficácia da garrafada, começou a ficar apavora-

do com a aproximação do fim de semana. Estava tão inseguro, que quando a sexta-feira

chegou, ele tomou o restante do conteúdo da garrafa de uma vez antes de ir ao encontro

de Aline. Todo aquele líquido no estômago o fez sentir-se um tanto estranho, mas não

fez caso disso. Resoluto, foi para a casa dela, martelando na mente aquele velho man-

tra: “Seja o que Deus quiser”. No caminho ele se acalmou, e quanto mais pensava em

Aline, mais sentia suas calças apertarem. Estava funcionando, pensou entusiasmado.

Apressou o passo, pois sentia que não devia perder tempo.

Foto: Obvios Mag

Mal ela abriu a porta, Lírio a agarrou.

Tal era o seu ímpeto que Aline sorriu

toda feliz com a reação que tinha provo-

cado no amado. Aquilo dissipava as dú-

vidas que a estavam incomodando ulti-

mamente quanto ao que ele sentia por

ela. Pelo jeito não ia dar tempo nem pa-

ra degustar o jantarzinho caprichado

que ela havia feito. Isso não a incomo-

dava, é claro. A ordem dos fatores não

alterava o produto e aquela noite pro-

metia. Foram atravessando a sala dei-

xando peças de roupa pelo caminho,

dando a Lírio a certeza que havia

conseguido dissipar o bloqueio que tanto lhe

atormentava. Graças à benzedeira e a gar-

rafada que ela lhe dera. Mentalmente ano-

tou o compromisso de levar um presente

para a mulher. Foi com esse pensamento

que sentiu o primeiro espasmo do intestino.

Suas entranhas pareciam estar entrando em

colapso, como se tivesse tomado litros de

algum tipo de laxante. No segundo espasmo

sentiu que deveria correr para o banheiro.

Era a oportunidade que eles tanto desejavam...

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Antes que desse um passo, veio o terceiro espasmo, e ele percebeu que não havia tem-po para mais nada. Aline olhou para ele perplexa, ainda sem compreender o que estava acontecendo. Depois, tapou o nariz e correu para o banheiro. Lírio ficou só, com sua dignidade esvaindo perna abaixo. Aquilo era o fim, pensou. Mas o fim ainda não havia chegado. A porta da sala se abriu naquele momento atroz, e o pai de Aline entrou para pegar a carteira de motorista que havia esquecido. Felizmente para Lírio, sua desgraça foi também a sua salvação, pois o que seria difícil explicar foi creditado a um mal estar súbito acarretado pela sua emergência intestinal. Todavia, o namoro com Aline não prosperou. Depois daquele vexame, ele decidiu nunca mais se arriscar com beberagens estranhas e voltou para os braços das feias e mal a-madas da ilha.

Dez chamamentos ao amigo (Parte I)

Se te pareço noturna e imperfeita

Olha-me de novo. Porque esta noite Olhei-me a mim, como se tu me olhasses.

E era como se a água Desejasse

Escapar de sua casa que é o rio

E deslizando apenas, nem tocar a margem.

Te olhei. E há tanto tempo Entendo que sou terra. Há tanto tempo

Espero Que o teu corpo de água mais fraterno

Se estenda sobre o meu. Pastor e nauta

Olha-me de novo. Com menos altivez. E mais atento.

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Filme contará história da imigração suíça Reprodução de material de Geraldo Hoffmann Numa manhã, há 150 anos, um grupo de imigrantes suíços pobres olhou pela última vez para suas famílias e amigos e partiu do cantão de Schaffhausen, seu cantão de origem, para um destino des-conhecido - a colônia de Dona Francisca no sul do Brasil. Sua chegada à nova terra mudaria aque-la região do Brasil para sempre. O trabalho duro e a perseverança desses imigrantes transformaram Dona Francisca em uma das regiões mais ricas do Brasil, hoje chamada de Joinville, um importante pólo industrial do país. As-sim começa o livro “Suíços em Joinville. O duplo desterro”, que já possui uma versão em alemão de título “Das Paradies in den Sümpfen”, escrito pelo autor brasileiro Dilney Cunha. O resultado do livro e a história não-contada desses imigrantes esquecidos serviram de base para o surgimento de uma nova amizade entre Schaffhausen e Joinville, que se aproximaram pela primei-ra vez e decidiram se tornar cidades-irmãs. Essa história surpreendente também chamou a atenção do premiado diretor de cinema brasileiro Calixto Hakim, que, com sua empresa Júpiter Filmes, comprou os direitos do livro. O diretor apresentou com sua equipe - a produtora executiva suíça, Katharina Beck (de Winterthur), e o produtor executivo brasileiro, Juliano de Paulo (de Curitiba) - ao governo brasileiro sua idéia de criar um documentário com base no livro, idéia essa que foi a-provada sob a lei Rouanet. Com a ajuda do deputado Hans Jürg Fehr, o governo de Schaffhausen aprovou a liberação dos fun-dos para financiar a produção na Suíça e o início das filmagens em fevereiro de 2009. A parte bra-sileira (70% do filme) tem aprovação da lei Rouanet que permite desconto no imposto de renda - 100% do investido. Para isto, basta demonstrar interesse, pois os mecanismos de isenção fiscal pa-ra a cultura estão hoje muito facilitados e sem risco, aumentando ano a ano o número de empresas que aderem a esta modalidade de investimento, que além dos benefícios da isenção garantem re-torno institucional e promoção de marca a quem investe. Calixto Hakim nasceu em Curitiba, Brasil e é formado em Artes pela College of Design and Arts de Pasadena, Califórnia. O autor ganhou vários prêmios no Brasil e no mundo por seus curtas-metragens, os quais escreveu e dirigiu. Calixto dirige comerciais, programas de TV e vídeos cor-porativos, além de ter escrito episódios para seriados brasileiros. É fundador da Júpiter Filmes (www.jupiterfilmes.com.br). Para detalhes acesse o site www.suicosbrasileiros.com.br ou pelo e-mail [email protected]

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SINOPSE

Meados do século XIX. Devido à Revolução Industrial, superpopulação, problemas na agricultura e nos ofícios urbanos, a Suíça passa por uma crise sem precedentes. Moradores de determinados cantões (estados) passam por dificuldades extremas: de-semprego, fome, miséria, em muitos casos os levando até mesmo à morte. Em outra parte do velho continente, o príncipe de Joinville e filho do rei da França nego-cia as terras que recebeu como dote de sua esposa, Dona Francisca, irmã do imperador Dom Pedro II. A Sociedade Colonizadora de Hamburgo então assume e loteia a área, onde hoje se encontra a maior cidade de Santa Catarina. Para tanto, conta com significativa estrutura, apoios governamentais e um suporte muito especial: um italiano bom de papo, funcionário da Colonizadora e responsável pela pro-paganda da nova terra para boa parte do sofrido povo helvético. Terras férteis, facilida-des, moralidade e segurança eram as promessas. Ao chegarem à sua nova nação, no entanto, o que os suíços encontraram de fato, foi adversidade. O filme mostra tudo isso a partir do ponto de vista de uma típica família do cantão de Schaffhausen. Desde sua saída da Europa, via Porto de Hamburgo, até sua chegada ao Brasil, no Porto de São Francisco do Sul. Seus sonhos e seus pesadelos, suas perdas e suas conquistas,contados através de uma detalhada reconstituição de época. A história é baseada em documentos oficiais, cartas, periódicos, entrevistas com des-cendentes, pesquisadores brasileiros e europeus e cenas em animação. Uma verdadei-ra saga de imigrantes que chegaram há cerca de 150 anos na desconhecida Colônia Dona Francisca com nada muito além de esperança na bagagem. Ajudaram a construir, tanto quanto os alemães e outros povos, mas ainda sem os devidos créditos, o que se conhece hoje como uma das melhores, mais fartas e prósperas regiões de todo o Brasil. CONTATO: (41) 9106 0402 /(41) 3532 0406 E-MAIL: [email protected] Site: www.jupiterfilmes.com.br www.suicosbrasileiros.com.br

O filme, que conta uma história esquecida de muitos, ainda es-pera pelo apoio financeiro e cultural brasileiro para enfim chegar ao público.

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A parte do filme que se passa na Suíça já foi realizada em 2009.

Veja mais fotos em: http://www.suicosbrasileiros.blogspot.com/

Realização e Produção: Jupiter Filmes Co-produção: Betacine - Eclipse Filme Direção: Calixto Hakim Co-Direção: Rodrigo Henrique Autor: Dilney Fermino Cunha Produção Executiva: Katharina Beck Co-Produção Executiva (Brasil) - Juliano de Paula Roteiro: Paulo Esteche

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O que escrevo em papel o tempo não apaga As letras no tom de minha alma clara Sopram o passado, presente e futuro

Coisas inertes que só os olhos podem dizer

Aquele suspiro lento nas noites frias Encontrou na brisa da manhã outro tom E assim como o mar sumiu ao horizonte

Refazendo aquele velho caminho esquecido

E do outro lado há quem o encontre Assim dele faça uma carta à mão O lance como presente ao vento

Para esta alma que o tempo não apaga.

Papel da Alma

Por Gustavo H. Bella

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Este projeto visa a Revitalização da Cascata Véu de Noiva e Cascata dos Narcisos em Gramado –

Rio Grande do Sul, as mesmas estão localizadas na área urbana da cidade.

Estas Cascatas já foram pontos turísticos muito visitados na década de 70 e 80, mas por volta do

final dos anos 80 a visitação destes dois locais se tornou inviável devido ao esgoto lançado em su-

as águas por residências e estabelecimentos em seu entorno.

Leopoldo Rosenfeld Leopoldo Rosenfeld, o gênio a quem Gramado deve a escolha do turismo como forma de sustento, veio para Gramado em 1937, convidado pela Sociedade Herdeiros Joaquina Rita Bier para admi-nistrar o Loteamento da Vila Planalto que estava abandonado. Ele preocupava-se com as atrações turísticas de Gramado. Dentro do projeto de loteamento da Vila Planalto, já haviam sido destacados os pontos turísticos, sendo os principais: Lago do Parque Ho-tel, Praça da Montanha, Vista Belo Horizonte, Lago Negro, Cascata dos Narcisos e Cascata Véu de Noiva. Sempre teve mania por lagos. Leopoldo era um idealista. Não veio para Gramado para usufruir da cidade, e sim para deixar aqui a sua marca. E sua marca ficou registrada pela sua visão de futuro, por enxergar o potencial que Gramado tinha para a vocação turística. Gramado não seria o que é hoje se não fosse sua visão. Fez o primeiro roteiro turístico da cidade, denominado “GRAMADO, MARAVILHA DO VERA-NEIO”. Também, fez o primeiro trabalho organizado de divulgação de turismo de Gramado em Porto Alegre. Mesmo que Leopoldo tenha deixado todos estes bens para Gramado, em nossa opinião eles não são nada comparados ao espírito turístico que ele semeou para a comunidade gramadense.

O Projeto Envolvidos neste espírito turístico idealizamos este projeto no Cur-so Técnico em Turismo, módulo I do Colégio Estadual Santos Du-mont em maio de 2009. Em agosto de 2009, as alunas Cristiane R. Schwarzer, Icléia Inês R. Schwarzer e Vanessa G. Faiz e a orientadora prof. Veridiana Salvaterra Ren, representaram o colégio e o Curso Técnico de Tu-rismo na MEP - Mostra de Educação Profissional em Caxias do Sul. Concorremos com 41 projetos e fomos as grandes vencedoras, tirando assim o primeiro lugar. Início de outubro de 2009, participamos da FECITEP- 3ª Feira Estadual de Ciência e Tecnologia da Educação Profissional em Novo Hamburgo.

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Na Feira, estiveram expostos 101 projetos, envolvendo 71 escolas, 101 professores, 297 alunos. Foram mais de 2.000 visitantes e uma equipe de 70 pessoas envolvidas na organização do evento. O evento de encerramento contou com a presença do Secretário de Estado da Educação, Professor Ervino Deon que acompanhou a premiação dos trabalhos que estiveram expostos durante os três dias da feira. Para mais detalhes, visite o site http://www.ienh.com.br/fecitep/ Neste evento, de 101 projetos ficamos com o 3º lugar. Um reconhecimento e uma prova de que TODOS os que visitaram a feira e os avaliadores também tem interesse em ver estas duas Cascatas revitalizadas. Ainda em Outubro de 2009, participamos da 24ª MOSTRATEC- Mostra Internacional de Ciência e Tecnologia nos pavilhões da FENAC e Novo Hamburgo. Nesta feira estavam expostos 293 projetos e mais uma vez, nosso projeto teve destaque. Ficamos em 23º lugar, pois somente poderiam ser premiados menores de idade. As feiras encerraram, mas nosso desejo de que este projeto saia do papel nos fez apresentar o mes-mo às autoridades locais, onde os quais demonstraram muito interesse em ver estes atrativos revi-talizados.

Levamos também ao conhecimento dos alunos de outras escolas em forma de palestras, conscientizando os mesmo da importância do devido destino do lixo e do esgoto. Queremos agradecer em especial a Professora Veridiana, o Sr Pre-feito Nestor, Secretário de Turismo de Gramado, Sr. Gilberto e o Sr Nelson, Secretario do Meio Ambiente, pela dedicação e apoio a este projeto. No dia 18 de maio de 2010 em reunião com representantes da pre-feitura recebemos a informação de que já esta sendo feito o levan-tamento da área, laudo da cobertura vegetal, topografia, onde serão feitas adaptações no projeto caso este receba a “Indicação Orça-mentária” sugerida por um Deputado Estadual. Precisamos de muito mais, mas temos certeza de que com o apoio da comunidade e autoridades conseguiremos resgatar esta parte da história de Gramado que atualmente encontram-se apenas na me-mória e nos registros fotográficos da população gramadense e tu-ristas que tiveram a oportunidade de conhecer a Cascata Véu de Noiva e Cascata dos Narcisos.

Icléia Inês Ruchkaber Schwarzer

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ENCONTRO MARCADO

Por Jaci Santana

Imagino tal ironia do desassossego vibrando em meu corpo. Não havia se quer mais vida. Só nostalgia.

Era a morte em vida... Falsas esperanças imbuídas. Sofrimentos retraídos. .Uma dor sempre contida.

E o paraíso adormecido... Meu corpo... Um eterno vazio, Abstinha-se de sonhar... Amuando-se... Ocultando-se mais uma vez.

Mas, um olhar dos céus, cobriu-me com o seu manto, E a ti levou-me como a um presente dos Deuses.

Difícil dizer das vibrações que me tomaram naquele encontro. Surpreendida com o seu olhar... Submissa... Sentei-me sem retrucar. Seus olhos... Penetrantes! Envolventes! Olhavam-me profundamente.

Estranhamente, envolta em sua fronte, emergia o que parecia ser uma serpente. Paralisando-me magicamente, enquanto olhava-me, arqueando cílios, sobrancelhas e

mente. Saí Dalí, completamente transmutada, envolvida e apaixonada.

E minha vida sorrindo em cores, ressurgiu à luz do dia nebuloso, Ao ver o sol alvorecendo nas ruas, esquinas e estradas vazias.

Este calor... Este ardor... Esta emoção,.. Trouxe-me paz no coração. O sol, com seus raios, iluminando meus poros,

Lançou-me a semente do seu amor, Apagando as marcas de minhas dores já existentes.

E qual uma menina corri em torno das avenidas, Colhendo flores para este amor,

Derramando em meus cabelos, partículas de sonhos já esquecidos, Ao ver-te sempre com este olhar luzente! De um brilho intenso!... Perturbador!

Descortinando a minha alma; meu coração; meu pensamento. Gotas de felicidade espargiam do meu rosto, vibrando em cores no meu jardim.

Vendo o meu corpo renascendo de um sonho louco, Agarrei-me a este amor e nossas partes, finalmente, se reencontraram.

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Jaci Santana- Nasceu em Aracaju. Mora no Rio de Janeiro. Cursou Direito e, atualmente, dedica-se a poesia. Participa de Concursos Literários. Recebeu vários convites para participar de Antologias. Leia mais sobre Jaci no site www.varaldobrasilch em AUTORES DO VA-RAL. E-mail: [email protected] [email protected]

Você pode nos ajudar realizando uma doação em dinheiro. Todo valor arrecado é destinado a campanhas educacionais e nos atendimentos para animais.. 60% de sua doação será desti-nada ao atendimento emergencial aos animais de rua em situação de emergência, no paga-mento de despesas médico-veterinárias e de medicamentos, os 40% restantes serão utiliza-dos para outras despesas, como para a confecção de material educativo, despesas administra-tivas, bancárias (inclusive as tarifas de emissão dos boletos) etc. Caso você queira contribuir com valores menores, sua ajuda será bem vinda, mas devido ao valor da tarifa de emissão de boletos cobrada pelo banco, pedimos que faça isso através de depósito direto em nossa conta.

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PRETEXTOPRETEXTOPRETEXTOPRETEXTO

Por Jacqueline Aisenman

Foi pra te ver passar (ver teu jeito e a ti completamente) que eu inventei (que inventei sem querer) aquele olhar através das estrelas. (aquele olhar de sonho) Te ver passando, sorrindo (Pra te ver passando, sorrindo) indo ao encontro do que não fui. (indo ao encontro de que quem nunca fui) Foi pra não te mostrar (Foi pra não te deixar ver) que eu chorei (meus olhos gritando) cristais sobre as montanhas. (cristais de montanha sobre a pele) que eu inventei o riso de tudo e de nada. Te ver passando, sorrindo (Pra te ver passando, sorrindo) vindo do encontro que não fui. (o encontro, aquele encontro) Tudo pretexto (Mas foi tudo pretexto) desculpas esfarrapadas (Falsos dizeres, mentiras sinceras) mas que nunca esconderam de ti (nunca deixaram de te mostrar)

quem eu realmente fui. (o que eu realmente quis).

Jaccqueline é quem edita o VARAL. E quem tem o coração povoado de letras que vivem saindo pela caneta ou pelas teclas do compu-tador. Palavras escritas, muitas vezes nem ditas.

Tem em seu site Coracional e em seu Blog Certas Linhas um meio de expressão constan-te. E-mail: [email protected]

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Viva a República fratricida desdentada de idéias, de ideais sem laços com o futuro mergulhada no abismo do passado esse inerte moribundo desafiador do presente negador do futuro. Que será da poesia desfraldada na liberdade? sem flores sem camisa sem foice sem beijo molhado de pobre ou ricaço sem sorriso de esperança espuma hidratante das massas. Ah! Pomba alvissareira esconde-te muito além do horizonte. Meus dedos não tocam teu voo pétalas de quimera espargidas sobre a fé de teu povo. Teu voo, partido choro de criança nascido nas ogivas diabólicas com que os homens cobriram Hiroshima e Nagasaki são eco eterno de Sodoma e Gomorra escarro do anti-Cristo sobre a humanidade. Silentes estão os sinos do Tibete. Da Macedônia à Babilônia ressurgiram os mortos dos túmulos crucificados com coroa de espinho. Sobre o alicerce de antigo e sagrado templo oculto a cúpula de ouro levanta a lança traspassada pela mortal profecia.

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Jania Souza, potiguar de Natal/RN, Brasil, artista plás-tica, poeta, escritora, sócia fundadora da SPVA/RN - Sociedade dos Poetas Vivos e Afins do RN. Pertence a AJEB/RN e a UBE/ RN. APPERJ. Clube dos Escrito-res de Piracicaba. Participação em coletâneas nacionais e internacionais. Publicou em 2007, Rua Descalça (poemas) pelas Edições Bagaço/PE; em 2009, Fórum Íntimo (poemas) e Magnólia, a besourinha perfumada (infantil) pela Editora Alcance/ RS. Contato: www.janiasouzaspvarncultural.blogspot.com; [email protected]

Jania fotografada por Caninde Soares

COMO VOCÊ VÊ @ VID@? COMO VOCÊ VÊ @ VID@? COMO VOCÊ VÊ @ VID@? COMO VOCÊ VÊ @ VID@?

Todos as pessoas possuem uma maneira diferente de ver a vida e de expressar es-

ta visão.

Algumas escrevem, outras pintam, fotografam, desenham, cantam, tocam um instru-

mento, esculpem, fazem artesanato… Dentro de cada um de nós existe um artista.

Algumas vezes escondemos tanto que nem mesmo os familiares sabem que temos

aquele jeitinho especial!

Que tal mostrar pra gente? Que tal enviar para o site do VARAL DO BRASIL o que

você faz e dar uma chance para que possamos conhecer melhor você?

Leia as instruções nas seções « ELES » no www.varaldobrasil.ch

E-mail: [email protected]

E mãos à obra: a vida é agora!

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Quanto custa o amor…

Por José Carlos Paiva Bruno Coisa dos humanos é procurar o difícil no difícil; fácil no fácil; difícil no fácil, fácil no difí-cil... Coisa rara, coisa cara, banana caramelada... Certamente mais óbvio para os tais irracionais, que procuram simplesmente reproduzir... Mas para nós – obras primas de Deus – o importante é curtir... Sim, curtir o sorrir, atropelar a dor, amor sem temor, sem-pre acreditando que as páginas vão virando! Encontrar por amor, amar por encontrar; seduzir, vacilar, recriar; entendendo que o que conta é ofertar, aquele mágico iluminar, recíproco do tesão, baluarte da paixão... Salvaguarda da alma que só com outra fica calma, aquela calma do antes, durante e de-pois, magia de dois... Quem inventou esse tal cheiro, química da atração, velocidade da reação; condicional do alcance, mirante? Apogeu? Romeu? Quem comeu? Julieta respondeu... Amado meu! Mas a saudade, maior forma de crueldade... Quem será esta beldade? Que confirma pe-la ausência, do amor a coerência, dos corpos a carência... Existência da indecência, ambiente da travessura, face da ternura... Talvez da Lua crua invadindo a noite nua... Situação de precaução, adrenalina da imaginação; fertilidade da insinuação, carne da emoção! Suor da terapia, dos tais anjos alquimia; perfume da sedução qual prêmio do gozo ses-troso, ritmo piedoso... Viver para o novamente, de toda forma ser crente, inda que Dulcinéia seja fantasma da mente, daquele Cervantes indecente... Brilhar, mas que ninguém pode tocar, pois que sonhos não são alcançados, apenas alienados dos sublimes seqüestrados, felizes lado a lado, dentro e fora... Agora sem demora, estão indo embora... Folha da parreira surge sorrateira; pós-felicidade, explosão da explicação... Só não tira o louvor daquela libido em tremor, desmaio da sensação, da verdadeira dimensão... Homeostase, síntese do funcionamento científica; latinidade explícita, talvez celta místi-ca. Sem custo, só lucro...

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De Laguna, Santa Catarina, vem um belo exemplo de cumplicidade entre homem e animal. Quando os golfi-

nhos ajudam pescadores a encher a rede de tainhas, a parceria vira um espetáculo para encantar turistas.

Quando os golfinhos dão o sinal, as tarrafas começam a cair em sequência. O espetácu-lo da pesca com o auxílio de golfinhos só existe em três lugares do mundo: na costa da Austrália, na Mauritânia, no continente africano, e em Laguna, Santa Catarina. É na temporada da tainha, que a parceria se torna mais freqüente e os pescadores pas-sam o dia inteiro na água à espera dos cardumes trazidos pelos golfinhos. Com o auxílio dos golfinhos, os pescadores chegam a capturar mais de 80 tainhas de uma só vez. A convivência cria intimidade e cada golfinho é chamado pelo nome. “Os pescadores conseguem não só identificar os indivíduos, mas quais os comportamentos que eles estão tendo que indicam a presença ou não de peixes na área. Esse nível de interação é único e ocorre somente na Lagoa de Santo Antônio”. Em 1997, os golfinhos foram declarados patrimônio natural de Laguna

CONHEÇA LAGUNA ATRAVÉS DO MAR

Por Julio C. Vicente

Se você tem mais de 25 anos, com certeza lembra-se do famoso golfinho Flipper. Flipper era um golfinho nariz de garrafa (Tursiops truncatus). Espertos ágeis e dóceis, estes mamíferos, chegam em média a 4m de comprimento, e pesam em média 550Kg. Alimentam-se de peixes, lulas, polvos e crus-táceos. Em Laguna encontra-se uma quantidade de aproximadamente 50 golfinhos. Estes são co-nhecidos pelos pescadores locais, que os cha-mam pelos seus apelidos.

Os golfinhos aprenderam a interagir com os pescadores, ajudando a "empurrar" os pei-xes em direção aos pescadores na margem da barra, que atiram suas tarrafas. Por sua vez os peixes que escapam das tarrafas são facilmente capturados pelos golfinhos. A AGTA leva você a ver de perto esta interação do homem e golfinho. Primeiro você terá uma palestra com instrutores especializados que darão informações preciosas sobre os hábitos dos golfinhos nariz de garrafa,e a interatividade entre homem

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e golfinho. Depois você experimentará de perto esta união, acompanhando a pesca da tainha ao lado dos pescadores, apreciando esta fabulosa ajuda dos golfinhos na pesca de tarrafa. Após acompanhar a pesca você será levado para um passeio de barco em alto mar para acompanhar a vida destes mamíferos em seu habitat natural, e ver de perto os golfinhos "surfarem nas ondas na arrebentação.

TudoTudoTudoTudo isso cercado de toda a beleza natural de Lagunaisso cercado de toda a beleza natural de Lagunaisso cercado de toda a beleza natural de Lagunaisso cercado de toda a beleza natural de Laguna.

Não se tem precisão sobre o início da pesca com o auxílio dos golfinhos em Laguna. Sabe-se que é secular. Os pescadores mais antigos dizem que por volta de 1930 já existiam golfinhos velhos como Fandango, Chinelo, Judeu, Rampeiro, Alumínio, Cego, Boto Branco, Cisne Branco, Cisne Pequeno. Daí por diante foram se multiplicando. A cada ano de três a cinco novos golfinhos habi-tam a lagoa. A partir da década de 50 os botos mais velhos foram misteriosamente desaparecendo, e surgindo outros novos. Como Galha Torta, Galha Cortada, Marusca, Prego, Riscadei-ra,... Os golfinhos da lagoa são identificados como ruins e bons. Os ruins são aqueles que não se aproximam da costa, e os bons são aqueles que auxiliam os pescadores nos di-versos pontos de pesca.

CURIOSIDADESCURIOSIDADESCURIOSIDADESCURIOSIDADES Acredita-se que os golfinhos podem viver até uns 80 anos. Normalmente morrem víti-mas de redes ou por doenças causadas por parasitas. O golfinho quando nasce, acompanha a mãe até aproximadamente 3 anos. Então já está pronto para viver sozinho. Geralmente bem familiarizado com os pes-cadores, e sabendo todas as manhas e tru-ques da pesca em parceria, começa a ser identificado com vários nomes, e aos pou-cos acaba sendo batizado com seu nome definitivo.

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Alguns nomes de golfinhos em LagunaAlguns nomes de golfinhos em LagunaAlguns nomes de golfinhos em LagunaAlguns nomes de golfinhos em Laguna

· ALUMÍNIO - Era um Golfinho muito Claro. · MARUSCA - Uma marca de cigarro da época. · JUSCELINO - Presidente do Brasil na época. · INRRÍLHA - Uma gíria - Quando alguém não gostava de algo dizia: "É assim e não inrrílha". · TAFARELL - Homenagem ao goleiro do tetra. · CAROBA - Era um Golfinho muito escuro lembrava uma madeira escura de nome caro-ba. · LIGEIRINHO - Era um Golfinho muito arrojado quando cercava o peixe. · CHEGA MAIS - Nasceu na época que a rede Globo passa uma novela com este nome. · MANDALA - Nasceu na época que a rede Globo passa uma novela com este nome. · SACOLÃO - Só cercava o peixe quando queria. · TÁXI - Percorre todos os pontos de pesca da região. · PRINCESA - Um golfinho muito bonito. · PIRULITO - Por ser o mais feinho da lagoa.

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AHHH ... POESIA ....

Por Jussara Petek

A poesia cabe na palma da mão deixa rastros no chão

A poesia voa num balão embala uma canção

A poesia pode o mar navegar

a ventania enfrentar e mesmo que naufragar

elevar-se ao amar

A poesia atravessa um oceano eleva-se ao céu

atinge a estratosfera e se perde na imensidão da pureza do teu olhar

A poesia é a pureza que recito

é sentir teu coração de tocar-te com palavras

de querer-te em letras de estar contigo nesse instante ... de pura poesia

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MUNDO ESTRANHO

Por Lariel Frota

Estranho mundo, de inexplorados caminhos Com tantas possibilidades e mil segredos.

De antigas páginas, escpam algumas crianças, Heróis ou monstros, provocando medos

E lá vem história com fatos ocorridos Atropelando o sonho do poeta louco

E números, fórmulas, álgebras e cálculos Complicando a cabeça de quem pensa pouco.

A poeira insiste em permear por tudo Por mais que tentem acabar com ela

Tinge de escuro o nobre material de estudo Enfeia a capa que um dia foi bela.

Como um corpo nobre, feito em pedacinhos Forma um mundo estranho, mágico afinal

Enquanto preserva seu tesouro, teme O perigo oculto do mundo virtual.

Que será amanhã, sem os registros marcados

Pelos autores que através do papel Libertam nossas almas da pequenez humana

E nos aproximam do saber do céu!

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Por Lelo Néspoli

Mas não era de quaisquer relógios. Eles tinham que ter ponteiros, todos os ponteiros. O das horas o dos minutos e o dos segundos, porque ele dizia sentir em seus movimentos o pulsar das engrenagens do mundo.

O homem não era um colecionador, ele possuía apenas um antigo relógio suíço de pulso que não tirava nem para tomar banho ou dormir.

“Eh vida besta esta....” resmungava quando, curvado, tentava acertar o relógio, sozinho em seu quarto-sala.

O quarto reproduzia a sala do seu antigo apartamento. Continha a mesma estante onde fica-vam a TV, seus livros, retratos e o radinho de pilha usado principalmente para ouvir jogos do San-tos: “Vou assistir pelo rádio!”. Uma pequena mesa, um vaso com flores e a poltrona em que briga-va cotidianamente com o relógio completavam o ambiente, um elo tênue entre presente e passado.

Ninguém sabia ao certo quando o homem começou a se interessar por relógios. Alguns a-firmam que talvez fosse reflexo dos tempos de infância, quando sentia admiração pelo velho reló-gio de bolso do pai. As horas gravadas em algarismos romanos, a tampa protetora reluzente e a fina corrente davam o charme ao relógio. Magia e sedução eram sentimentos que o menino nutria ao observar o pai ao retirar o relógio do bolso, calmamente abrir sua tampa e consultar as horas. Quanto tudo isso tudo se fora ele se deu conta de que não haveria nada no mundo capaz de aprisio-nar o fluxo do tempo.

Os dias passavam e o homem não se conformava ...

“Ô cientista! – como chamava seu neto –, não sei o que está acontecendo com esse relógio; a TV acabou de falar que são onze e trinta do dia 10 e ele está marcando onze e vinte do dia 8!”.

“Ei Velho, qual o problema de um atraso de dez minutos, que diferença faz para você se hoje é dia 9, 10 ou 11?”.

“Vocês não me entendem. Quando acordo preciso saber em que dia estou e qual é a hora certa do dia. Eu preciso me posicionar. Tenho negócios a tratar, ir ao banco pegar meu extrato...”.

“Mas é só me perguntar ou olhar o rádio-relógio que está no criado-mudo” – retruca o neto. “Pô cientista, olha o rádio-relógio: está parado. E sabe o que mais? Ele não faz o tic-tac” de

um verdadeiro relógio. “Ora, Velho. O rádio-relógio não está parado, é que o marcador das horas muda somente de

minuto em minuto”. “Não tente me enrolar, relógio que é relógio tem que andar sempre, olhe bem para esse

meu relógio aqui. Os ponteiros estão andando, eles têm vida, o relógio faz tic-tac... O problema é que está todo errado!”

Os dias passavam e o homem não se conformava. No final do ano, o neto presenteou o avô com um novo relógio de ponteiros, vistoso e muito preciso. Isso deixou o homem muito contente. Para estimulá-lo, a família frequentemente lhe perguntava as horas. Ele imediatamente sacudia o braço naquele movimento característico de quem olha para o relógio e respondia com satisfação. Movimento que se repetia toda a vez que ele ouvia alguma voz dizer as horas, no rádio ou na tele-visão.

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Certo dia o neto viu o homem na poltrona debruçado sobre o relógio dizendo - “cadê a ro-dinha, não encontro a rodinha, não consigo dar corda no relógio...”.

“Ei Velho, o que está acontecendo, que história é essa de rodinha?”. “Ela sumiu, eu ia dar corda no relógio e a rodinha escapou, desapareceu, não consigo mais

encontrar”. “Mas eu não lhe disse que nesse relógio não é preciso dar corda porque ele é movido à ba-

teria?” afirmou o neto. “Pô cientista, não venha me enganar, que bateria que nada, todo relógio precisa de corda.

Preciso dar corda no relógio senão ele vai parar. Então porque veio com rodinha?” “A rodinha serve para....” “Pode parar.....Vocês não sabem de nada mesmo!” Enquanto o neto dizia que iria providenciar outra coroa para o relógio, o homem, com sua

vasta cabeleira branca, com o olhar perdido no relógio, continuava maldizendo os dias - “Eh vida besta... mas que vida besta essa....”.

Aurélio W. Néspoli, residente em São Paulo, Brasil, profes-sor de Física, aposentado, e um aficionado pelas as artes e pela ciência. Escrevo contos sobre o cotidiano e sobre temas científicos, que são assinados com o nome Lelo Néspoli. O interesse por escrever contos nasceu do gosto pela leitura e também como uma tentativa de veicular temas científicos de um jei-to agradável aos leitores. Influenciado pelas lembranças das fotos feitas na infância, tornei-me também um entusiasta da fotografia pinhole, que é o de fotografar cenas do cotidiano utilizando simplesmen-te latinhas. Essa retomada foi feita ao ministrar um curso sobre os princípios da fotografia a um grupo de professores das escolas do ensino fundamental. Assim como eu, milha-res de pessoas no mundo praticam esse "modo de fotogra-far". Mantenho uma página que procura elucidar o que é arte fo-tográfica, um fotoblog com fotos das diversas regiões de São Paulo e transformei um blog em uma página onde pro-curo postar alguns dos principais contos: Site: http://www.aurelionespoli.com.br/page1001.aspx Fotoblog http://pinhole.nafoto.net/ Blog http://contos-causos.zip.net/

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Luiz Eduardo Gunther Luiz Eduardo Gunther Nasceu em Concórdia – SC em 03.03.54. Reside em Curiti-ba – Paraná. Graduou-se em História e Direito pela Univer-sidade Federal do Paraná, onde também obteve os títulos de Mestre e Doutor. É professor do Centro Universitário Curi-tiba – UNICURITIBA, desde 1987, onde leciona gradua-ção, especialização e mestrado. Também é Desembargador Federal do Trabalho perante o TRT da 9ª Região. Integra a Academia Nacional de Direito do Trabalho e o Instituto Histórico e Geográfico do Paraná. É autor de diversas obras na área jurídica.

O VALOR DAS PALAVRAS

Por Luiz Eduardo Gunther

As palavras não têm cor,

não têm cheiro, não se pegam com as mãos.

São as palavras,

no entanto, que consagram

as cores das pinturas, informam os cheiros

dos perfumes.

E são capazes de, em qualquer língua,

transmitir pensamentos, contar histórias.

Permitir o conhecimento do homem pelo homem

em qualquer parte do mundo.

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Por Paula Barrozo

Podemos definir o folclore como um conjunto de mitos e lendas que as pessoas passam de geração para geração. Muitos nascem da pura imaginação das pessoas, principalmente dos moradores das regiões do interior do Brasil. Mui-tas destas histórias foram criadas para passar mensagens importantes ou apenas para assus-tar as pessoas. Algumas deram origem à festas populares, que ocorrem pelos quatro cantos do país.

As lendas são estórias contadas por pessoas e transmitidas oralmente através dos tem-pos. Misturam fatos reais e históricos com acontecimentos que são frutos da fantasia. As lendas procuraram dar explicação a acontecimentos misteriosos ou sobrenaturais. Os mitos são narrativas que possuem um forte componente simbólico. Como os povos da antiguidade não conseguiam explicar os fenômenos da natureza, através de explica-ções científicas, criavam mitos com este objetivo: dar sentido as coisas do mundo. Os mitos também serviam como uma forma de passar conhecimentos e alertar as pessoas sobre perigos ou defeitos e qualidades do ser humano. Deuses, heróis e personagens sobrenaturais se misturam com fatos da realidade para dar sentido a vida e ao mundo.

Algumas lendas, mitos e contos folclóricos do Brasi l:

Boitatá Representada por uma cobra de fogo que protege as matas e os animais e tem a capacidade de perse-guir e matar aqueles que desrespeitam a natureza. Acredita-se que este mito é de origem indígena e que seja um dos primeiros do folclore brasileiro. Fo-ram encontrados relatos do boitatá em cartas do pa-dre jesuíta José de Anchieta, em 1560. Na região nordeste, o boitatá é conhecido como "fogo que cor-re".

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Boto Acredita-se que a lenda do boto tenha surgido na região a-mazônica. Ele é representado por um homem jovem, bonito e charmoso que encanta mulheres em bailes e festas. Após a conquista, leva as jovens para a beira de um rio e as engravi-da. Antes de a madrugada chegar, ele mergulha nas águas do rio para transformar-se em um boto.

Curupira Assim como o boitatá, o curupira também é um protetor das matas e dos animais silvestres. Representado por um anão de cabelos compridos e com os pés virados para trás. Persegue e mata todos que desrespeitam a natureza. Quando alguém desaparece nas matas, muitos habitantes do interior acredi-tam que é obra do curupira.

Lobisomem Este mito aparece em várias regiões do mundo. Diz o mito que um homem foi atacado por um lobo numa noi-te de lua cheia e não morreu, porém desenvolveu a ca-pacidade de transforma-se em lobo nas noites de lua cheia. Nestas noites, o lobisomem ataca todos aqueles que encontra pela frente. Somente um tiro de bala de prata em seu coração seria capaz de matá-lo.

Mãe-D'água Encontramos na mitologia universal um persona-gem muito parecido com a mãe-d'água : a sereia. Este personagem tem o corpo metade de mulher e metade de peixe. Com seu canto atraente, conse-gue encantar os homens e levá-los para o fundo das águas.

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Corpo-seco É uma espécie de assombração que fica as-sustando as pessoas nas estradas. Em vida, era um homem que foi muito malvado e só pensava em fazer coisas ruins, chegando a prejudicar e maltratar a própria mãe. Após sua morte, foi rejeitado pela terra e teve que viver como uma alma penada.

Pisadeira É uma velha de chinelos que apare-ce nas madrugadas para pisar na barriga das pessoas, provocando a falta de ar. Dizem que costuma apa-recer quando as pessoas vão dormir de estômago muito cheio.

Mula-sem-cabeça Surgido na região interior, conta que uma mu-lher teve um romance com um padre. Como castigo, em todas as noites de quinta para sexta-feira é transformada num animal quadrúpede que galopa e salta sem parar, enquanto solta fogo pelas narinas.

Mãe-de-ouro Representada por uma bola de fogo que indica os locais onde se encontra jazidas de ouro. Também aparece em alguns mitos como sendo uma mulher luminosa que voa pelos ares. Em alguns locais do Brasil, toma a forma de uma mulher bonita que ha-bita cavernas e após atrair homens casados, os faz largar suas famílias.

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Saci-Pererê O saci-pererê é representado por um menino negro que tem apenas uma per-na. Sempre com seu cachimbo e com um gorro vermelho que lhe dá poderes mágicos. Vive aprontando travessuras e se diverte muito com isso. Adora espan-tar cavalos, queimar comida e acordar pessoas com gargalhadas.

Curiosidades:

- É comemorado com eventos e festas, no dia 22 de Agosto, o Dia do Folclore.

- Em 2005, foi criado do Dia do Saci, que deve ser co-memorado em 31 de outubro. Festas folclóricas ocor-rem nesta data em homenagem a este personagem. A data, recém criada, concorre com a forte influência nor-te-americana em nossa cultura, representada pela festa do Halloween - Dia das Bruxas.

- Muitas festas populares, que ocorrem no mês de Agosto, possuem temas folclóricos como destaque e também fazem parte da cultura popular.

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Requiem aeternam

Por Ly Sabas

De quê morreste tu, meu coração, assim tão de repente? De que sonhos inconfidentes,

De que desejos inconfessáveis?

O que levaste, coração, para o infinito? Se não um verso sem rima, haicaístico, Se não uma frase capenga de emoção?

O que deixaste, meu coração, como legado?

Se nem ao menos cometeste um pecado, Se não sofreste nenhuma ingratidão?

Caminhas agora, coração, acabrunhado,

Por prosas áridas de sentimentos emaranhados, Por contos tristes desprovidos de paixão.

De quê morreste coração, tão de repente?

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À boêmia

Quando abrem-se os olhos da madrugada, Senhor, como é bonita a sua visão! O céu se transporta, já não há chão,

Estrelas e nuvens são minha estrada.

Então, encontro o meu ser ideal, Num copo de vinho, cerveja, ou mel...

Sou mais que alguém feliz: sou menestrel Cantando no infinito madrigal.

Eu posso agora, amanhã, como pude

Ontem ser um poeta sem limites, Andar pelos caminhos do sem-fim...

Eu sempre hei de poder, ó alaúde,

Levar-te às costas, não peço que imites Paris, New York... eu, Carioca Arlequim!

Por Marcelo Moraes Caetano

Marcelo Moraes Caetano é carioca, tradutor de in-glês, francês, alemão e italiano, estudioso de latim e grego e escritor com 14 obras publicadas palas edi-toras EdUerj, Academia Brasileira de Letras, Acade-mia Brasileira de Filologia, SENAI-FIRJAN, 7 letras, Vivali, Ferreira, Litteris, ONU-UNESCO, Ferreira, Elite-Rio. Tem prêmios literários no Brasil e no exterior (Prémio Sófocles, Montevideo, 2010, Prêmio ONU-UNESCO, Paris, 2005 e 2006, Prêmio Litteris 2009, Prêmio Guttemberg, Bienal Interna-cional de Literatura do Rio de Janeiro 2007). É pia-nista clássico, vencedor de primeiros lugares no Brasil e exterior (RJ, MG, SP, Córdoba etc.) É um dos editores da Revista de Cultura ALIÁS.

Foto com o ícone da psicanálise e literatura mundi-al, Elisabeth Roudinesco, que entrevistei para a Revista e TV Cultura.

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Nos dias de inverno, em Zurique, ter um dia de sol é uma raridade. Como a cidade é situada entre vales, a margem de um imenso lago, é comum pairar sobre nossas cabeças uma grossa névoa dias a fio, semanas, ou até meses, sem exagero. Às vezes, podemos observar a grande bola ardente por detrás das nuvens, sem óculos escuros, ou mesmo, sem apertar os olhos. Quando o sol aparece, as pessoas na rua param e sentam-se para aproveitar um pouquinho de vitamina D.

Aqui em casa fico de olho na janela, atento a sua chegada. Geralmente é coisa rápida, ele surge meio tímido, sem aviso prévio. Nesses casos, ponho minhas roupas de inverno e me preparo para sair.

Confiro pela janela e lá está ele ....

Primeiro o minhocão, uma meia grossa, a calça, depois uma malha fina e pegajosa no corpo, uma camisa de manga comprida e...Pronto, ao olhar de novo pela janela o sol já se foi. Desisto. Com um frio desses, é melhor ficar em casa. Tiro primeiro a calça, o minhocão, a meia grossa, depois a camisa e quando eu menos espero, eis que surge novamente o sol, um solzinho de nada. Visto primeiro o minhocão, a meia grossa, a calça de um tecido grosso, depois a camisa de manga comprida, uma suéter de lã e por fim, um casacão, calço a bota, jogo sobre o pescoço o cachecol, afundo um gorro na cabeça, puxa... Enfim, estou pronto. Confiro pela janela e lá está ele. Vejo se está tudo bem antes de sair, tudo fechado, fogão desligado e ao olhar de novo pela janela o sol já não está mais lá. Maldição. Sinto um calor desgraçado com toda a indumentária dentro de casa e decido ficar. Tiro a bota, o cachecol, o gorro, o minhocão, a calça, já estou suando de calor...Abro as janelas e entra um frio lancinante. Fecho as janelas. E não deixo de reparar que o sol voltou. Ele acanhado parece zombar de mim.

Agora me apresso, visto tudo o mais rápido que posso, o minhocão, a meia, a calça, a camisa, a suéter, o casacão, a bota, o cachecol, o gorro...Corro para a porta. Chego à rua e sinto um solzinho mixuruca acalentar o meu rosto. Fecho os olhos e logo bate um frio de lascar, abro um olho e depois o outro e me desespero. É tudo sombra. E um vento impiedoso começa a perfurar os meus ossos. Corro para casa. Entro esbaforido, tranco a porta e já sinto um calor. Tiro tudo. Vou até a janela na esperança de vê-lo novamente, mas é tudo breu. Escureceu. Agora, só me resta esperar pelo dia seguinte. Amanhã, ele não me escapa!

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Corria a menina sobre poças de água alegre, sonha que esta dentro da nuvem, gotículas corriam pelo seu rostinho, e ela sorria pessoas passavam ao seu lado, mas sequer pode-riam entender o que é estar feliz por causa da chuva, atrasadas em seus compromissos. O único compromisso da menina era a alegria, o riso, ao passar por um galho de árvore que alcançasse batia para cair à água acumulada nas folhas e muitas caíam juntas gru-dando no seu cabelo. Neste instante ela se achava menina flor dançando na chuva, os sapatos encharcados faziam ploft, ploft, e ela ria e gargalhava. Aos poucos a chuva foi passando um raio pequeno de sol, tocou na gota que estava no seu nariz, e ela viu um arco-íris foi tanta a alegria que ela ficou parada com medo que ele caísse do seu nariz e quebrasse como vidro espalhando caquinhos por todo lado. Então ali ficou e o inevitável aconteceu à gota escorreu para sua boca e ela no mesmo instante pensou, “engoli um arco-íris” e dando risadas foi para casa.

Imagem: Site Baboo

Uma brisa rodopiou a cortina que escondia a sala da rua, na janela flores plantadas em jardineiras se sentiram acariciadas pela ousadia da brisa que brin-cava de namorar com um vento forte que em rajadas passava derrubando as folhas secas das árvores na rua. Timidamente a garota foi até a janela ver se o sol haveria de ter aparecido, encontrou pássaros a se refestelar na areia do canto na calçada, assustados bateram em revoada gritando a todos que foram vis-tos pela menina de olhos redondos e castanhos. O mundo vibrava além da janela e Sofia observava com cara de que entendia tudo, abelhas passavam dando rasantes nas margaridas da janela e ela se escondia para vê-las trabalhando freneticamente e partindo de volta para a colméia que Sofia achava estar instalada em uma frondosa Mangueira na casa de sua vizinha. A tarde foi indo embora para que o manto negro sal-picado de estrelas viesse embalar os olhos e mais tarde os sonhos da menina que tudo podia ver da janela e saber que tudo ali era só uma parte do mila-gre da vida.

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Renata Gomes de Farias Nascida em três de agosto de 1965, mineira, artista plásti-ca. Descobriu aos 15 anos paixão por contar histórias. Atu-almente exerce esta atividade no Blog Por Toda Minha Vida – Alegria Joei Joy.

Bisa Bia, Bisa Bel “Impossível saber sempre qual o palpite melhor. Mesmo quando eu acho que minha bisneta é que está certa, às vezes meu coração ainda quer-porque-quer fazer as coi-sas que minha bisavó palpita, cutum-cutum-cutum, com ele… Mas também tem horas em que, apesar de saber que é tão mais fácil seguir os conselhos de Bisa Bia, e que nesse caso todos vão ficar tão contentes com o meu bom comportamento de mocinha, tenho uma gana lá de dentro me empurrando para seguir Neta Beta, lutar com o mundo, mesmo sabendo que ainda vão se passar mui-tas décadas até alguém me entender. Mas eu já estou me entendendo um pouco – e às vezes isto me basta.” (pág.

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Não lembrava

Por Renata Iaconvino

Não lembrava o que é passar

dia assim à deriva sem ninguém pra amar.

Não lembrava o que é deixar

o gosto da saliva à beira mar.

Não lembrava que o não estar me incentiva

a me escancarar.

Não lembrava que Dele me ausentar

é uma iniciativa pra reencarnar.

Natural de Jundiaí/SP, escritora, poetisa e cantora. Cinco livros de poe-sias editados: Ilusões Amanhecidas (Literarte Editora), 1996; Poemas de Entressafra, 2003; e Missivas (Editora In House), 2006, com Valquíria Gesqui Malagoli, com quem também lançou em 2007 o livro/CD infantil uniVerso enCantado; e Ouvindo o silêncio, 2009; ainda em 2009, com Valquíria, lançou o CD infantil De grão em grão e o livrObjeto OLHAR DIverso (haicais e fotos). Participa de Antologias e é jurada de concursos literários. Integra: Academia Jundiaiense de Letras, Academia Feminina de Letras e Artes de Jundiaí (é atual Primeira Secretária), Academia In-fantil de Letras e Artes de Jundiaí, Sociedade Jundiaiense de Cultura Ar-tística, Grêmio Cultural Prof. Pedro Fávaro e Grupo Arte em Ação. Au-tora do Hino da Academia Jundiaiense de Letras. Organizou o livro 1ª Olimpíada de Redação – Ano 2005/Os 35 anos da Biblioteca Pública Municipal Prof. Nelson Foot Jundiaí-SP (Editora In House). Em 2009 organizou a Antologia – Encontros de Defesa do Consumidor do Estado de São Paulo – 25 anos, lançado pela Fundação Procon/SP. Articulista do Jornal de Jundiaí Regional. Ministra oficinas lítero-musicais e realiza Saraus para públicos diversos. Premiada em concursos literários.

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Por Paula Barrozo

O preparo dos mais diversos pratos da culinária brasileira está ligado aos aspectos so-cioculturais de nossa história e recebeu a influência de outros povos que aqui estiveram em épocas passadas e nos Legaram em patrimônio cultural valioso, influenciando e do-minando até mesmo na alimentação. A variedade de sabores e preferências regionais, com suas especiarias e temperos próprios, tornam-se irresistíveis ao paladar mais exi-gente de qualquer arte da cozinha nacional.

Os índios brasileiros tinham uma mesa farta e variada, graças à abundância da caça, pesca e dos frutos silvestres, de que se serviam. A farinha de mandioca tão popular en-tre o povo, do mais simples ao mais requintado, é uma herança indígena. Depois de reti-rar a raiz, secavam-na ao sol ou ralavam-na ainda fresca numa prancha de madeira cra-vejada de pedrinhas pontiagudas, transformando-a em farinha alva, empapada que colo-cavam para escorrer e secar num recipiente comprido de palha trançada. O resultado é o tucupi, ingrediente essencial no preparo de um famoso prato da cozinha brasileira: o pa-to no tucupi. Além de ser usado como farofa ou para fazer beijús, pirões, sopas e min-gaus, o tucupi pode ser servido como sobremesa, regado com mel. As bebidas eram ex-traídas dos abacaxis, do caju, guaraná, jenipapo e outros produtos nativos.

O milho muito usado pelos índios foi amplamente aceito pelos portugueses, de paladar mais refinado, que preferiam a comida preparada pelas escravas negras do que as da mão indígena. As negras eram mais experientes eram mais caprichosas na arte de co-mer bem e assim, introduziram o coco-da-baía, o azeite de dendê, a pimenta malagueta, o feijão preto, o quiabo e outros ingredientes para a elaboração de pratos mais requinta-dos. A união das três raças criou uma cozinha tipicamente brasileira, desenvolvendo o uso constante da panela de barro, da colher de pau e do fogão de lenha, indispensáveis para aprimorar qualquer quietude.

Feijoada

Arroz com pequi

Muqueca baiana

Leitão a pururuca

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P@TO NO TUCUPI

Tradicional receita paraense, presença quase obrigatória, nas mesas, no dia em que se come-mora o Círio de Nazaré. Essa receita, pode ser considerada uma das mais brasileiras de todas as nossas comidinhas. As bases da receita, o pato, a mandioca e o jambú, são todos nativos do Brasil. Jambú é uma erva parecida com o agrião nativa da Amazônia. Tucupi, é um molho feito de mandioca brava e comprado pronto, visto ser uma receita muito ela-borada.

Ingredientes - 1 pato novo (1,5 kg), limpo - 4 dentes de alho amassados - sal e pimenta-do-reino a gosto - 4 colheres (sopa) de azeite de oliva (60ml) - 4 xícaras de tucupi (cerca de 1l) - folhas de jambú, chicória e alfavaca

Modo de Preparo De véspera, corte o pato em pedaços, coloque numa tigela e tempere com o alho amas-sado, sal e pimenta a gosto e o azeite. No dia seguinte, pré-aqueça o forno em tempera-tura média (180°C). Coloque os pedaços de pato, com os temperos numa assadeira, leve ao forno pré-aquecido e asse pôr cerca de 40 minutos ou até ficarem dourados. Tire do forno. Numa panela, coloque os pedaços de pato, regue com o tucupi, junte as folhas de Jam-bú, chicória e alfavaca, leve ao fogo brando e cozinhe pôr 30 minutos, ou até a carne fi-car macia. Tire do fogo. Coloque os pedaços de pato num prato de barro de servir, regue com o molho junto com as folhas de Jambú. Leve à mesa acompanhado de arroz branco, farinha de mandioca e molho de pimenta de cheiro.

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Alguns Pratos Típicos por Região:

Nordeste:

Caruru Sarapatéu Moqueca de surubim Vatapá Acarajé Manguzá ou mungunzá Farinha com caldo de rapadura Bobó de camarão Paçoca Baião de dois Carne de sol

Norte: Pato ao tucupi Sopa de turú Farofa de turú Moqueca de pirarucu Bicho de côco assado Peixe assado Beijú Tartaruga com mandioca Sopa de tartaruga

Centro oeste:

Galinhada Arroz com piqui (ou pequi) Canjiquinha com queijo Pintado na braza Farofa de jacaré Porco de lata com mandioca Peixe assado Passarinhada Tereré. É o chimarrão gelado. Faz parte dos costumes alimen-tares do povo dessa região

Sudeste:

Leitão à pururuca Virado à paulista Tutu de feijão Canjica Feijoada Paçoca de amendoim Feijão tropeiro Arroz de carreteiro Curau Pamonha (salgada e doce) Frango cheio Feijão gordo Pipoca

Sul: Culhão de touro cozido Pinhão assado Carneiro no buraco Porco no rolete Boi no rolete Costela de ripa Barreado Churrasco Marreco com laranja Marreco com maçã Joelho de porco cozido Torta de maçã (não se espante, em Sta Catarina a colonização é alemã) Charque com inhame Bolo de pinhão Chimarrão. É uma bebida, mas no sul não é possível deixá-lo de fora.

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Se você deseja ajudar os animais que todos os dias são abandonados, atropelados, maltratados e não sabe como, vai aqui uma dica: Procure uma associação de proteção aos animais, um refúgio, uma organização ou mesmo uma pes-soa responsável em sua cidade ou estado. As cola-borações podem ser feitas através de tempo, dedi-cação, ajudas financeiras, divulgação. Há pessoas por todos os cantos ajudando aqueles que não sabem como ajudar a si mesmos. Seja mais um, faça destes bichinhos a sua causa!! AJUDE A AJUDAR, SEJA HUMANO!

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Não, senhor padre Não senti esses ardores pelo meu senhor! Sim, por aquele a quem dei o “sim”. Só senti horrores e temores Ao olhar que me olhava Qual boto fora d’água Qual coruja em noite quente! Mas o ruivo delicado Que agora é um recado Ao frigir de mais um canto Solta pólen nos meus poros E sumo rubro em meu sentir! Não há pele só ha gozo De um frescor desconhecido Pela virtualidade que é bosquejo Pelo pejo de um porvir Onde o desejo faz casinha de morada

Senhor padre, Não é por nada. E pelo cabelo solto ao vento Que imagino um acalanto Nesta novela de correio Por entregas Por semanas Por sedução “quae sera tamen”! Também por merecimento Pois fui fiel a sedento de carestias tão sádicas! Quero agora um veio brando Uma caricia tão madida Uma fornalha sem fogo Um aconchego sem navalha.

Será senhor padre que é muito Pedir ao andor uma vela Pra rezar àquele anjo Que quando se vai deixa um banzo Que me consome demais?

Por Roselis Batistar

Mas mesmo que peque pensando Voltarei a esta quimera: Não há Ave-Maria chegando Nem Pai-Nosso no céu Que me impeça venerá-lo Que envenene esta promessa!

Eia pois terço dos pobres De espírito mais insípido Não me proíbas o santo Que puseste em meu caminho!

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ANALISANDO O (MAU)EMPREGO DO GERÚNDIO

Fonte: www.nlnp.net

Persistindo os sintomas..." (Pasquale Cipro Neto) A cerveja "que desce redondo" ainda gera muitas mensagens de leitores que querem saber se ela desce redondo mesmo, ou se deveria descer redonda. Já vimos que, assim como mulheres olham de modo torto, isto é, olham torto (e não "tortas", a menos que se queira indicar a posição do corpo ou da cabeça delas no momento em que olham), a cerveja desce redondo (redondamente, de modo redondo). Outro caso que ainda freqüenta muitas das inúmeras mensagens dos leitores é a frase com que se encerram as peças publicitárias de medicamentos. No início, eram duas as formas empregadas: "A persistirem os sintomas...." e "Ao persistirem os sintomas...". Há pouco tempo, surgiu uma tercei-ra: "Persistindo os sintomas...". Já escrevi sobre o par "A persistirem/Ao persistirem", mas não custa repetir: com "A persistirem os sintomas...", indica-se essencialmente idéia de condição ("A persistirem os sintomas" equivale a "Se persistirem os sintomas" ou "Caso persistam os sintomas"); com "Ao persistirem os sintomas", indica-se essencialmente idéia de tempo ("Ao persistirem os sintomas" equivale a "Quando persis-tirem os sintomas"), embora essa construção tenha também algum matiz condicional. E com o gerúndio ("Persistindo os sintomas...")? Acalme-se, caro leitor. Não se trata de mais um caso da febre gerundista que assola o país. Você não precisa estar se preocupando: não vou estar analisando (nem você vai precisar estar lendo) o ultra-indevido uso de "estar + gerúndio", que, co-mo vimos na semana passada, não é indevido (o uso) pela estrutura do par (que é da língua há sé-culos), mas pelo valor com que tem sido empregada essa dupla. Em "Persistindo os sintomas", temos o que se chama de oração reduzida de gerúndio. Por favor, não se assuste com o nome da oração, que -eu sei- não é dos mais formosos. São reduzidas as orações que não são introduzidas por conectivos (conjunções, pronomes relati-vos) e têm o verbo no particípio ("Terminado o debate, começaram as entrevistas"), no infinitivo ("Suponho serem eles os responsáveis") ou no gerúndio ("Agindo dessa maneira, você criará mui-tas inimizades"). Muitas vezes, é possível desdobrar (ou desenvolver) as orações reduzidas, o que implica empregar uma conjunção ou pronome relativo e conjugar o verbo no indicativo ou no subjuntivo. Se desdo-brássemos a reduzida do primeiro exemplo, teríamos "Assim que terminou o debate, começaram as entrevistas" (ou "Logo que terminou o debate...", "Mal terminou o debate...." etc.). No segundo exemplo, teríamos "Suponho que sejam eles os responsáveis" (ou "Suponho que são eles os responsáveis", caso se queira afirmar que a suposição é fundamentada em dados muito for-tes). No terceiro exemplo, teríamos "Se agir assim, você criará muitas inimizades" (ou "Caso aja assim, você criará..."). Pois é justamente aí que se encaixa a forma "Persistindo os sintomas, o médico deverá ser consul-tado". A primeira oração (reduzida de gerúndio) tem valor condicional e equivale a "Caso persis-tam os sintomas..." (ou "Se persistirem os sintomas..."). Quando bem empregadas (e é esse o caso de "Persistindo os sintomas..."), as orações reduzidas são, no mínimo, elegantes. Como se vê, o gerúndio não é -nem de longe- o pior dos mundos. É isso. [Folha de S. Paulo, 21 de outubro de 2004)

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Até na novela... (Pasquale Cipro Neto) [Revista O Globo, n. 79, 29 de janeiro de 2006] Na semana passada, trocamos dois dedos de prosa sobre a forma e o valor do gerúndio do verbo "vir" em "...melodias vindo lá do quintal" (de uma letra de Fernando Brant). Há quem não goste do gerúndio em construções como a de Brant. O argumento é velho: trata-se de galicismo (uso de construção típica do francês). Esses críticos suge-rem que no lugar de "vindo" se use uma oração que comece com o pro-nome relativo ("...melodias que vinham lá..."). Parece que essa tese não conta com o apoio de gente importante. Para tratar do assunto, o filólogo português Manuel Rodrigues Lapa (1897-1989) lança mão deste trecho (que ele deliciosamente chama de "passo") de Eça de Queirós: "Os seus braços redondinhos descobriam por baixo, quando se erguiam, prendendo as tranças, fiozinhos louros frisando e fazendo ninho". Lapa faz esta observação: "Nenhum outro processo daria o colorido movimentado do gerúndio na caracteri-zação do objeto". O lingüista se refere ao papel caracterizador de "frisando" e "fazendo" em rela-ção a "fiozinhos", termo que, convém notar, funciona como complemento de "descobriam" (os braços redondinhos descobriam fiozinhos louros).

Rodrigues Lapa faz esta indagação: "Para que havemos pois de banir da língua este instrumento expressivo, sob a acusação de que não era usado pelos nossos tresavós e nos veio diretamente do francês?". Não satisfeito, o professor Lapa desmente categoricamente a tese do galicismo ("...se apontam exemplos dessa construção em autores como M. Bernardes e A. Herculano"). E cita tam-bém este trecho de "Se te queres", de Álvaro de Campos (heterônimo de Fernando Pessoa): "Pelo grande cobertor não-cobrindo-nada das aparências". Lapa diz que Pessoa "tem artes de fazer do gerúndio um puro adjetivo". Pois bem. Como vimos na semana passada, o gerúndio de "...melodias vindo lá do quintal" indica a idéia de um processo em seu desenvolvimento. Essa construção nos dá a impressão de que o som das melodias se parece com o cheiro de um delicioso prato que está sendo preparado em algum lugar próximo. E qual seria o valor do gerúndio em frases como "Vou ter que estar transferindo a ligação", "Infelizmente eu não pude estar comparecendo", "A senhora vai ter que estar retornando aqui amanhã" ou "Você vai ter que estar pegando uma senha"? Sabe Deus! Será que nesses casos o gerúndio indica um processo em desenvolvimento? Quanto tempo dura a transferência de uma li-gação? E quanto tempo se gasta para apanhar uma senha? Dia desses, uma funcionária de uma loja me disse que eu tinha de estar pegando uma senha ("O senhor vai ter que estar pegando uma se-nha"). Fiquei com vontade de perguntar se o rolo estava no começo. É bom deixar claro que o problema não está na estrutura, ou seja, nas construções "flexões do ver-bo 'poder' + estar + gerúndio" ou "flexões do verbo 'ir' + estar + gerúndio", que são da língua (há séculos). O problema está no uso que se tem feito dessas estruturas ou construções. Quando se diz, por exemplo, "Não me procure nessa hora, porque eu vou estar dormindo", indica-se um processo (o de dormir) que estará em curso e terá certa duração, mas, quando se diz "O senhor vai ter que estar pegando uma senha", emprega-se a construção "vai ter que estar pegando" para que se indi-que um processo que se realiza imediatamente. Quanto tempo se leva para pegar uma senha? Me-ses ou menos de um segundo? Ouvi dizer que na novela "Belíssima" a personagem de Fernanda Montenegro passou um pito nu-ma funcionária que disse algo como "Se a senhora quiser, eu posso estar ligando". Como diz o querido Moacir Japiassu, é batalha perdida. A coisa pegou dum jeito que nem com reza braba a peste passa. Haja paciência para agüentar o pessoal do telemarketing, do RH, dos bancos, dos car-tões de crédito, das empresas aéreas! São dezenas de "vou/vai (ter que) estar anotando" (ou "verificando", "enviando", "solicitando" etc., etc., etc.) por segundo. Não há ouvido que agüente!

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Paula Barrazo apresenta:

Fotógrafa Suíço-Brasileira, nascida em Lausanne – Vaud e atualmente residindo em Londrina – Paraná.

SAMANTHA VERDAN

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UM DIA DE ALICE

Por Silmara Oliveira

Dá vontade de ser criança!

E por que não? O mundo das crianças é bem diferente do nosso. O mundo das crianças é mais livre, mais despreocupado, mais inocente, mais divertido e mais leve. Imaginário. Alice era assim. imaginava tudo o que podia. Exercitava sua imaginação e sua curiosidade pela vida. Sua coragem fortalece quem a segue. e poruqe também não somos Alice? Alice é criança e conhece o que nenhum adulto conhece (ou se esquece?). Alice conhece a simplicidade da vida. A alegria dos seres e das coisas. Nós adultos somos meros Coelhos Brancos ou Ratos cheios de medos, somos Lagartos julgadores ou Lagartas egoístas, Duquesas orgulhosas e imponentes, um Gato de Cheshire que aparece e desaparece sem se importar com ninguém, somos loucos como o Chapeleiro Maluco e matamos o tempo sem o aproveitar, somos Arganaz que dorme e permanece dormindo a grande parte do tempo, somos autoritários e impulsivos como a Rainhas de Copas, somos acusados como o Valete de Copas e somos acomodados como o Rei de Copas e vivemos a nos considerar víti-mas do destino como a Tartaruga Fingida. O que podemos fazer? Vamos viver como Alices pelo menos um pouquinho por dia, vamos correr, brincar, rir, cantar, cair em tocas de coelhos por pura curiosidade, vamos crescer, vamos diminuir, vamos chorar até quase se afogar nas lágrimas e aprender a nadar para novas descobertas. Vamos tomar um chá no país das maravilhas? Ser criança é ser Alice.

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Liberdade

Por Tino Portes

Desde que meu cão se foi não sou a mesma pessoa.

Depois que nos apartamos, minha culpa me atordoa.

Dantes, que tranquila a vida! E, ai, que bela era a ilusão...

Até enxergar minhas vísceras, e encarar meu coração.

Sei, agora, porque sempre o meu peito pulsa arfante. É que nele está uma pedra bruta e não um diamante.

E o peso dessa bruteza

faz meu corpo se dobrar à preguiça desumana, na natureza sem par.

E é por isso que, hoje, trago

só em lembrança um bom amigo, que, eu, outrora, abandonei exposto ao frio e ao perigo.

Mil versos não me redimem

da vergonha que me assombra; o meu gesto imperdoável

amarrou-se à minha sombra.

Se meu cão, tão mais que eu, puro, cá me visse penitente...

lamber-me-ia as duas faces sem hesitar, certamente.

Mas, pudera!... me livrei do animal. E a liberdade

mui me custa – eu bem mereço insônia, angústia e saudade!

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TINO PORTES Albertino Lineu Portes nasceu em 25 de abril de 1978, em San-ta Rosa do Viterbo/SP. Incentivado pelo pai, bibliotecário, e pela mãe, psicopedagoga, dedica-se à poesia – livre – desde que tomou contato com as primeiras letras.

Funcionário público, em 2007, por ocasião do convite de uma amiga para participar de um varal literário, começou a divulgar seus escritos.

Jovem, leitor assíduo de João Cabral de Melo Neto e Baude-laire, ditam-lhe as musas que vez por outra metrifique, embora não esconda sua predileção pelos versos e inspiração desmedidos. Confesso “poeta de horas de ócio” e avesso aos critérios de ava-liação, esquiva-se de concursos, não tendo portanto premiações a di-vulgar.

[email protected] [email protected]

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Amando…

Por Vanice Costa

Não quero palavras copiadas para expressar meus sentimentos. Não quero palavras clonadas, pois cairão no esquecimento!

Quero palavras criadas. Quero palavras inspiradas.

Quero palavras produzidas pelo mais puro e profundo argumento: o Amor! Um sentimento. Uma postura. Um desejo. Um querer.

Uma canção. Uma conquista.

Uma lembrança eterna. Uma inspiração!

Uma Força Divina maior que o universo, enchendo o peito da metida a fazer verso!

Criando nas pessoas o desejo de amar.

Ame... Sinta.

Posicione-se. Deseje. Queira. Cante.

Conquiste. E lembre-se eternamente desse grande argumento maior que o universo:

O Amor, que na Força de Deus enche o peito das pessoas que desejam amar.

Fale de amor. Esqueça a dor. Cante o amor.

Inspire outros a amar. Doe o seu sorriso.

Presenteie com flores. Chova ou faça sol, ame.

Amar não é favor. Amar é doar-se com amor!

Ame as pessoas, os animais, a vida, o presente, pois seu passado não volta

mais. Ame as crianças, os velhos, a natureza. Sabendo que amar não é fraqueza!

Ame a Deus sobre todas as coisas e a “mim” como a ti mesmo, pois estes man-damentos são cheios de sentimentos e das melhores intenções também!

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Química

Sublimemos, amor. Assim as flores No jardim não morreram se o perfume

No cristal da essência se defende. Passemos nós as provas, os ardores: Não caldeiam instintos sem o lume Nem o secreto aroma que rescende.

O que as vitórias têm de mau é que não são

definitivas. O que as derrotas têm de bom é que

também não são definitivas.

Não tenha pressa, mas não perca

tempo...

"Há esperanças que é loucura ter. Pois eu digo-te que se não fossem essas já eu teria desistido da

vida."

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Por Valquíria Gesqui Malagoli

O dia amanhecera fechado, como predissera o céu sem estrelas da noite anterior. Apenas o vento ululante sacolejava os arbustos que circundavam a piscina. A morte lhe arrancara, na véspera, um dos seus, chacoalhando-lhe a vida em cujo dia a dia procurava, cegamente, algo entre as perspectivas, restando à razão apalpar o nada e ver passarem as oportunidades. Por isso, suas narinas lançavam-se à distância, buscando adivinhar o perfume da fileira longínqua de patas-de-vaca. Como não lhe estimulasse o ritual diário dos demais membros de seu clã – que consistia em sentar-se defronte à televisão e observar o tempo correndo em paralelo à realidade –, tendo agasa-lhado o corpo para suportar o rigoroso frio de julho, a fim de aquecer também a alma, abraçou-se à solidão antes de sair. Sobre a placa de cem metros da pista para pedestres, o angico resvalava nos galhos do jaca-randá mimoso. Estendendo a sombra de sua copa, ele ronronava, sonolento e enfastiado, aguardan-do a estação seguinte, quando, enfim, suas brancas flores despertariam. Orando pelas folhas que, em breve, sacrificar-se-iam em prol da floração que nasceria faminta de sol, água e nutrientes, ela continuou para, mais à frente, quase escondendo a marca dos duzentos metros, ver que a goiabeira repousava, pois seus galhos só se curvariam, carregados, em outubro ou novembro. Enquanto isso, servia de pousada para sanhaços e seus familiares, os saíras amarelos e de sete cores.

De repente, um ruflar de asas...

De repente, um ruflar de asas... Era um tucaninho, cujo bico correspondia à metade da extensão do corpo. Admiraram-se, cada qual investigando as peculiaridades (visíveis) do outro ser. E, algumas voltas depois, ela nem se surpreendia mais com o movimento cuidadoso do pássaro que a seguia, esgueirando-se entre as árvores. Já acordara enfastiada da rotina, então, não tomara seu habitual café da manhã. Ali, porém, a cada passo, devorava – no sentido figurado – bromélias e outras plantas parasitas que decoravam troncos semimortos, samambaias pendentes... Sobretudo, eram seus ouvidos que se banqueteavam com os vários cantos, vindos de todos os cantos...

Mas, fora o ipê-rosa que lhe presenteara com a presença de um macaco (talvez um prego) de pelagem ruiva. Ele, preguiçosamente, estendia o braço e devorava – no sentido literal – os ca-chos rosados, levando-os até a boca, um a um, sem cerimônia.

Um esquilo, impotente sob a força do instinto a lhe ditar ordens, ora subia, ora descia pelas costas dos pinheiros que ladeavam o bosque, pegando as sementes que volta e meia lhe escapavam dos dedinhos. Meio escandalizada, ela percebeu que, nas ocasiões em que encarava o desconheci-do, agia da mesma forma que o bichinho amedrontado.

Um bando de sabiás, rindo alto, veio juntar-se ao joão-de-barro troçador. Ela tentou desves-tir-se do imenso, do gigantesco, do torturante complexo de inferioridade, e crer que não... não fala-vam dela. Cabisbaixa prosseguiu.

Após ter ultrapassado sucessivas vezes a placa dos quinhentos metros, seus pés sinalizavam inchaço; seu espírito errante, entretanto, murcho, vazio, ainda não encontrara respostas.

...viu nela um Noé moderno ...

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Seu parente, segundo Darwin, atirou-lhe do alto um fruto graúdo. Quem sabe se, num lapso de memória ancestral, viu nela um Noé moderno, dando voltas a vistoriar a arca, conferir os casais, abordar os intrusos, recolher víveres... Ou, se, ao contrá-rio, num vestígio de selvageria, quis somente expulsar quem in-terferia na harmoniosa convivência entre as espécies.

Enfim, com os pulmões repletos do ar revigorante que, logo, a fumaça da estrada engoliria, tomou o rumo de casa, de onde fugira. Irracionalmente, imitou a lebre que volta à toca, sempre desconfiada do gavião ou de seu fantasma.

Nem notou a espetacular eritrina, despida de sua roupa-gem verde, exibindo-se e às suas centenas de bebês ainda ver-melhos do parto recente. Os reflexos das vagens cilíndricas tre-mulavam no chão recoberto de terra e pedriscos, entrecortando a passagem da sombra oblíqua de uma pessoa insegura... Limparia a poeira dos pés antes de adentrar a varanda.

Valquíria Gesqui Malagoli

Jundiaiense, Presidente da Academia Feminina de Letras e Artes de Jundiaí (2010-2012) e membro de diversas entidades culturais.

Articulista do Jornal de Jundiaí Regional, colabora também com outros veículos.

Autora de: Versos versus Versos (2005) e Testamen-to (2008) – poesias; O presente de grego (2009) – romance infanto-juvenil.

Em coautoria com Renata Iacovino, lançou Missivas (2006 – parceria poética), e OLHAR DIverso – haicaimagéti-co (2009), além dos infantis uniVerso enCantado (2007 – livro/CD) e De grão em grão (2008 – CD).

Juntas, realizam oficinas, saraus e atividades afins; desenvolveram e mantêm desde 2009 a CircuitoTeca, biblio-teca itinerante sem fins lucrativos. Com Josyanne Rita de Arruda Franco, criaram o jornal literário de distribuição gra-tuita CAJU.

www.valquiriamalagoli.com.br vmalagoli.blog.uol.com.br

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É uma insônia...o que sinto É o desespero mudo que o peito des-pedaça, E oblitera a razão! Desamparou-me a crença... O mais precioso escudo! Abandonou-me a fé... Meu único bordão! Pegaram-me no encalço, Os tormentos de Orestes Como que em redor de mim. Tudo se descombra! Sorrio como Lear, Louco despedaçando as vestes Ouvindo como Hamlet, Interrogando as sombras... Eu, em que tempo esquecerei minhas mágoas? Que inferno...é tragédia a minha dor? E assim,obedecendo ao faldário Hei de entre os homens errar...Triste e esbugalhado Jó Sem pão e sem carinho... Orfeu dorido e insano A carpir e a cantar...

É uma insônia ...que me invade É um desespero ensurdecedor,que estraçalha o coração Afeta a minha razão Não consigo entender o por quê de estar tão só O meu precioso escudo ainda tenho A minha fé e a religião Não virão ao meu encalço Os tormentos de Orestes A loucura de Lear Ao despedaçar suas vestes Nem tão pouco um Hamlet Vivendo as sombras. Orfeu dorme em sonhos eternos Sinto apenas a angústia de Antígona A ira contra os atos de Medéia O suicídio de Ofélia pela rejeição de Hamlet. Diante de tantos fatos Ainda me resta a esperança, Enquanto viver... mudar o percurso desse estado da mente

Francisco Chagas Araújo e Varenka de Fátima

Varenka de Fátima Araújo reside em Salvador-Bahia. Formada em Direção teatral pela Universidade Federal da Bahia, cursou licenciatura em Desenho na Escola de Belas Artes da UFBA É figurinista da Escola de Teatro da UFBA. Professora de teatro aqui e em 1984 no Panamá. Atriz, maquiadora e figurinista de varias peças de teatro. Participou do livro Ecos Machadianos, coletânea verso e prosa, teve participação com a poesia Salvador no Prêmio Literário Valdeck Almeida de Jesus. Teve duas poesias na Antologia Delicatta IV prosa e verso, Poeta, Mostra Tua Cara e Coletânea Eldorado é colaboradora da revista Artpoesia e Minirevista Contando e Poetizando de Marcos Toledo é membro do grupo Poetas Del Mundo e Luso Poemas. Na antologia Mãos que fa-lam, ficou na nona colocação com a poesia Tempo de Espera. Teve três poemas no livro GACBA. Contato: [email protected]

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PELE COM PELE

Por Víctor Manuel Guzmán Vilena

Tua pele é minha pele

quando te amo eu sinto intensas sensações que recorrem nossos sentidos para inundar-nos de prazer

Este gozo que embriaga e diluí em êxtases levando-nos a um paraíso para juntos elevar-nos

por cima das nuvens mais além do horizonte até converter-nos em éter de amor que inunda as paixões da natureza

Víctor Manuel Guzmán Villena. Nacido en Ibarra- Ecuador, un 26 de febrero de 1956. Escritor y comunicador social. Ha publicado varios libros relacionados al mundo espiritual, metafísico y esotérico: Círculos de Vida, Laberintos Internos. Uno de carácter costumbrista: Con amor a mi provincia. Dos poemarios: Idioma del Alma y Laberintos de Amar: Encierro de los sentidos. En

Internet la obra ha sido publicada en muchos sitios web y en revistas literarias y especializadas. Su vida se desarrolla incorporando todos estos conocimientos absorbidos por medio del estudio catedrático, la búsqueda del conocimiento y lo aprendido en la escuela de la vida. Toda es-ta comunión de ideas y sus experiencias lo hacen estar siempre en pos del entendimiento y el libre albedrío. Libre Pensador e Iconoclasta de la vida, ya que siente que los caminos a recorrer en la búsqueda filosófica son infinitos para derribar mitos y figuras desde los pedestales. Sua poesia refletindo sensualidade que acaricia, com seus ver-sos uma homenagem a mulher recorrendo com luz ardente suas delicias e sua alma. Reveste cada poema com néctar dou-

rado de palavras onde o amor e a paixão se abraçam com a vida.

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Paula Barrozo apresenta:

Victória B. Adum Poesia de uma pré-adolescente que na época tinha 12 anos...

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A FILOSOFIA DE SEU LECO

Por Vó Fia

Dono de poucas e boas terras, Seu Leco era um homem feliz, suas vacas leiteiras eram produtivas, seu touro Competente era cumpridor de seus deveres de macho, pois todos os anos os bezerros nasciam lindos e saudáveis e o rebanho crescia a olhos vistos, ani-mando os pastos e seu dono. Na lavoura sua boa sorte continuava: era plantar, cuidar e colher com fartura. Ele plan-tava café, arroz, feijão e milho e no tempo certo a terra retribuía com juros, ele e sua família comiam o que queriam e as sobras eram vendidas para suprir a casa daquilo que não produziam. No pomar e na horta o resultado era o mesmo, frutas e legumes o ano todo, no galinhei-ro as penosas cumpriam sua missão e os ovos e frangos gordos estavam sempre à dispo-sição da feliz família de Seu Leco, e todos podiam comer a vontade e se sentirem bem. Dona Antonia a alegre esposa de Seu Leco, era também pontual no cumprimento de seus deveres pois de dois em dois anos ela presenteava ao marido com mais um filho, digo filho porque naquela casa só chegavam meninos, já eram oito a partir dos dezes-seis anos e descendo a escadinha já havia promessa de mais. Todas essas bênçãos enchiam o agricultor de alegria; só tinha uma coisa que o preocu-pava e era o excesso de dinheiro, isso ele não tolerava. Seu Leco até criou para seu uso a seguinte filosofia: o ser humano carece só do que carece o que passa é sobejo, e para sobejos ele sempre encontrava um jeito. Como naquela manhã que seu sobrinho Dico apareceu para comprar um bezerro, o bi-cho foi escolhido e na hora do acerto, Seu Leco perguntou: Sobrinho quanto ocê quer pagar no garrote? O rapaz respondeu: acho que vale quatro-centos reais; Seu Leco pensou, coçou a cabeça e se saiu com essa: Oia aqui sobrinho, valer até que vale, mas eu fiz planos pra trezentos reais, o resto é so-bejo e sobejo eu não recebo, pague os trezentos e fica tudo certo, Dico pagou, laçou o bezerro e se mandou feliz com a mania do tio, em todas as situações a filosofia de Seu Leco prevalecia. Como no dia que ele estava no curral ordenhando as vacas e de repente gritou: Antonia corre cá, a mulher veio depressa atender ao chamado do marido, e ouviu essa: oia eu já enchi seis galões de leite e sobrou um balde cheio, leva e dá pros porcos. A mulher per-guntou: pra que dar pros porcos? vende junto com os galões. Do alto de sua sabedoria Seu Leco se explicou: ocê sabe que nos meus planos só preci-so da renda dos seis galões, o resto é sobejo e vai me incomodar; dê logo o leite pros porcos, de todo jeito vira lucro e não confunde minhas idéias; os vizinhos se divertiam com a filosofia de Seu Leco, mas ele se considerava certo e viveu felizes noventa e dois anos, sempre acorrentando suas rendas a seus planos.

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