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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA UNIR NÚCLEO DE CIÊNCIAS HUMANAS CURSO DE ARQUEOLOGIA VARIABILIDADE CERÂMICA NO SÍTIO ARQUEOLÓGICO GARBIN, PORTO VELHO, RONDÔNIA MONOGRAFIA DE GRADUAÇÃO Viviane de Brito Romano PORTO VELHO, 2016

VARIABILIDADE CERÂMICA NO SÍTIO ARQUEOLÓGICO … · localizado em um terraço fluvial na margem esquerda do rio Madeira, ... Vestígio de pintura vermelha sobre engobo branco -

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA – UNIR

NÚCLEO DE CIÊNCIAS HUMANAS

CURSO DE ARQUEOLOGIA

VARIABILIDADE CERÂMICA NO SÍTIO

ARQUEOLÓGICO GARBIN, PORTO VELHO,

RONDÔNIA

MONOGRAFIA DE GRADUAÇÃO

Viviane de Brito Romano

PORTO VELHO, 2016

VARIABILIDADE CERÂMICA NO SÍTIO ARQUEOLÓGICO

GARBIN, PORTO VELHO, RONDÔNIA

Viviane de Brito Romano

Monografia apresentada ao Departamento de Arqueologia da Fundação

Universidade Federal de Rondônia como requisito parcial para obtenção do

título de Bacharel em Arqueologia

Orientadora: Profa. Dra.Silvana Zuse

Porto Velho, Rondônia

2016

Fundação Universidade Federal de Rondônia

Departamento de Arqueologia

A Comissão Examinadora, abaixo assinada, aprova a Monografia

VARIABILIDADE CERÂMICA NO SÍTIO ARQUEOLÓGICO GARBIN, PORTO

VELHO, RONDÔNIA

Elaborada por

Viviane de Brito Romano

Como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Arqueologia

Comissão Examinadora

________________________________________________

Silvana Zuse

(Presidente/Orientadora)

_________________________________________________

(Professor da Universidade Federal de Rondônia)

__________________________________________________

(Mestre em Arqueologia pelo Museu Nacional - UFRJ)

Porto Velho, 12 de Agosto 2016

5

Dedico este trabalho a todos os membros da

minha família, em especial aos meus pais,

Vera Lúcia Anhes de Brito e Valmem

Francisco Gomes Romano (In memoriam),

pois sem eles este trabalho e muitos dos meus

sonhos não se realizariam.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, por cada momento desta jornada renovar minha força

e disposição.

Ao Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Cientifica – PIBIC pelo apoio na

pesquisa, bem como ao Departamento de Arqueologia – DARQ da Fundação Universidade

Federal de Rondônia - UNIR.

Agradeço a todos os professores do curso de Arqueologia que desempenharam com

dedicação as aulas ministradas, pela convivência, pelas trocas de conhecimento e experiência.

Sou muito grata a minha orientadora Dra. Silvana Zuse, por compartilhar seus

conhecimentos, pela dedicação, paciência, dedicando seu tempo a me orientar. Muito

Obrigada!!

Aos meus colegas de classes que com certeza serão futuros excelentes profissionais,

em especial agradeço pelas amizades: Isaías Andrade, Carina Campos, Sandro de Jesus,

Simone Cândido, Desimar Prestes e ao Tony Los Franzin.

Agradeço a Gegliane Silva (Gygy) pela ajudar na triagem do material do sítio Garbin,

bem como também ao Odair Vassoler no Corel Draw.

Ao Francisco Freitas, quem sempre esteve ao meu lado, pelo incentivo e

companheirismo imprescindível ao longo deste trabalho. Que divide comigo os planos e

sonhos para o futuro.

Sou grata a todos vocês por tudo. Muito Obrigada!!

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RESUMO

Variabilidade cerâmica no Sítio Arqueológico Garbin, Porto Velho, Rondônia

O presente trabalho aborda o estudo da variabilidade cerâmica no sítio arqueológico Garbin,

localizado em um terraço fluvial na margem esquerda do rio Madeira, próximo à cachoeira de

Santo Antônio, no município de Porto Velho, Rondônia. Este sítio foi escavado no âmbito do

Projeto de Arqueologia Preventiva nas áreas de intervenção da UHE Santo Antônio pela

Scientia Consultoria Científica. Nesse sítio foram evidenciadas duas camadas de terra preta

arqueológica, uma delas com material lítico nos níveis mais profundos e outra lito-cerâmica

nos níveis superiores. Analisamos a cerâmica de quatro unidades do sítio Garbin, com datas

radiocarbônicas entre 1710±40 AP e 480±40AP, a fim de entendermos as escolhas

tecnológicas na cadeia operatória de confecção dos artefatos cerâmicos. Analisamos atributos

que caracterizam as escolhas das ceramistas em relação à pasta, técnicas de confecção,

acabamentos de superfície, queima, forma e uso, comparando a distribuição dos atributos nos

diferentes níveis da camada arqueológica e áreas do sítio, a fim de entender as permanências e

mudanças tecnológicas. Identificamos uma diversidade de escolhas que refletem a dinâmica

na ocupação da região, e contribuindo dessa forma para a construção da história indígena no

Alto rio Madeira.

Palavras-chave: Análise cerâmica. Sítio Garbin. Rio Madeira.

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ABSTRACT

Ceramic variability in archaeological site Garbin, Porto Velho, Rondônia

This paper describes the study of ceramic variability in the archaeological site Garbin, located

on a river terrace on the left bank of the Madeira River, near Santo Antonio waterfall in the

city of Porto Velho, Rondônia. This site was excavated under the Project of Preventive

Archaeology in the areas of intervention of the Santo Antônio hydroelectric plant by Scientia

Scientific Consulting. On this site we were shown two layers of archaeological black earth,

one with lithic material at the deepest levels and other litho-ceramic at higher levels. We have

analyzed the ceramic four units of Garbin site with radiocarbon dates between 1710 ± 40 and

480 ± AP 40AP in order to understand the technological choices in the operational chain of

production of ceramic artifacts. We analyzed attributes that characterize the choices the

pottery in relation to the slurry preparation techniques, surface finishes, burns, shape and

usage, comparing the distribution of attributes at different levels of archaeological layer and

areas of the site, in order to understand the permanence and technological changes. We

identified a range of choices that reflect the dynamics in the occupation of the region, and thus

contributing to the construction of indigenous history in the Upper Madeira River.

Keywords: Analysis ceramics. Garbin site. Rio Madeira.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Bacias hidrográficas de Rondônia. Fonte: CPRM 2010 ........................................... 31

Figura 2: Modelo de evolução da planície do rio Madeira- Tizuka, 2013, p.85. ..................... 33

Figura 3: Localização dos sítios arqueológicos próximos à cachoeira de Santo Antônio.

(Fonte: Google Earth). .............................................................................................................. 34

Figura 4: Croqui indicando os furos-testes em uma malha regular de 20x20 m. Círculos azuis

representam furos negativos. Círculos vermelhos representam furos com material

arqueológico cerâmico, e círculos verdes representam furos com material arqueológico lítico.

Círculos concêntricos vermelhos e verdes indicam ocorrências de material arqueológico lítico

e cerâmico no mesmo furo (SCIENTIA, 2012). ....................................................................... 35

Figura 5: Mapa de densidade dos materiais cerâmicos e líticos do sítio Garbin,

respectivamente. (Scientia, 2012). ............................................................................................ 36

Figura 6: Representação das unidades escavadas (resgate arqueológico em 2008). ................ 37

Figura 7: Perfil sul da unidade N981 E941 (SCIENTIA, 2012). ............................................. 39

Figura 8: Croqui - desenho do perfil norte da unidade N981 E941 (SCIENTIA, 2012).......... 40

Figura 9: Croqui - desenho do perfil norte da unidade N981 E987-988 (SCIENTIA, 2012). . 41

Figura 10: Croqui - desenho do perfil sul da unidade N960 E981 (Scientia, 2010). ............... 42

Figura 11: Croqui da estrutura de combustão da unidade N900 E1017 (Scientia, 2010). ....... 43

Figura 12: Fotografias das pastas: Mineral e carvão; somente mineral; e mineral, caraipé A e

carvão, respectivamente............................................................................................................ 53

Figura 13: Barbotina N981 E941.............................................................................................. 57

Figura 14: Inflexão com inciso e ponteado .............................................................................. 57

Figura 15: Borda com inciso ponteado na face externa............................................................ 57

Figura 16: Fotografia das partes das vasilhas: A: bordas; B: base; C: bojo; e D: NI (Não

identificado). ............................................................................................................................. 59

Figura 17: Fotografia das pastas: A: mineral; B: cauixí; C: carvão; D: argila; e E: cariapé B. 60

Figura 18: Barbotina - unidade N981 E988 ............................................................................. 62

Figura 19: Borda com inciso na face externa - unidade N981 E988 ........................................ 63

Figura 20: Fotografia da parte das vasilhas: A: borda; e B: inflexões ..................................... 66

Figura 21: Barbotina - unidade N960 E982 ............................................................................. 69

Figura 22: Borda - unidade N960 E982 ................................................................................... 69

Figura 23: Fotografia das partes das vasilhas: A: bordas; e B: inflexões ................................. 72

Figura 24: Fotografia das pastas: A: cariapé B; B: cauixí; e C: mineral+cauixí+cariapé

A+carvão - unidade N900 E1017 ............................................................................................. 73

Figura 25: Borda - unidade N900 E1017 ................................................................................. 75

Figura 26: Vestígio de pintura vermelha sobre engobo branco - unidade N900 E1017 .......... 75

Figura 27: Vestígio de utilização - unidade N900 E1017 ........................................................ 77

Figura 28: Bordas selecionadas – Sítio Garbin (foto: Gegliane Silva)..................................... 86

Figura 29: Desenho das bordas – Sítio Garbin (Desenho: Silvana Zuse) ................................ 87

Figura 30: Borda direta inclinada externamente - (Desenhos: Silvana Zuse) .......................... 87

Figura 31: Borda direta vertical – (Desenho: Silvana Zuse) .................................................... 88

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Figura 32: Bases selecionadas - Sitío Garbin (Foto: Gegliane Silva) ...................................... 88

Figura 33: Desenho base em pedestal (Desenho: Silvana Zuse) .............................................. 89

Figura 34: Peças selecionadas - Sitío Garbin (Foto: Gegliane Silva)....................................... 89

Figura 35: Peças selecionadas - Sitío Garbin (Foto: Gegliane Silva)....................................... 90

Figura 36: Peças selecionadas - Sitío Garbin (Foto: Gegliane Silva)....................................... 91

Figura 37: Peças selecionadas – Sítio Garbin (Foto: Gegliane Silva) ...................................... 92

Figura 38: Peças selecionadas – Sítio Garbin (Foto: Gegliane Silva) ...................................... 92

Figura 39: Desenhos dos tratamentos plásticos (Francisco Freitas, Gegliane Silva, Silvana

Zuse e Viviane Romano) .......................................................................................................... 93

Figura 40: Bordas – Trincheira – Sítio Garbin (Foto: Gegliane Silva) .................................... 93

Figura 41: Desenho das bordas (Silvana Zuse) ........................................................................ 94

Figura 42: Desenho das bordas – Trincheira (Silvana Zuse).................................................... 94

Figura 43: Bases selecionadas – Sítio Garbin – Trincheira (Foto: Gegliane Silva) ................. 95

Figura 44: Desenho de base – Sítio Garbin – Trincheira (Silvana Zuse) ................................. 95

Figura 45: Peças selecionadas – Trincheira - Sítio Garbin (Foto: Gegliane Silva) .................. 95

Figura 46: Peças selecionadas – Trincheira – Sítio Garbin (Foto: Gegliane Silva) ................. 96

Figura 47: Desenho tratamento plástico – Trincheira – Sítio Garbin (Gegliane Silva, Silvana

Zuse e Viviane Romano) .......................................................................................................... 96

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1: quantidade de fragmentos por nível – unidade N981 E941 .................................... 52

Gráfico 2: tipo de antiplástico – unidade N981 E941 .............................................................. 53

Gráfico 3: tipo de minerais – unidade N981 E941 ................................................................... 53

Gráfico 4: formas dos grãos de quartzo – unidade N981 E941 ................................................ 54

Gráfico 5: Inclusão/tamanho dos grãos de quartzo – unidade N981 E941 .............................. 54

Gráfico 6: técnica de confecção – unidade N981 E941............................................................ 55

Gráfico 7: cor da superfície FE e FI – unidade N981 E941 ..................................................... 55

Gráfico 8: queima – unidade N981 E941 ................................................................................. 56

Gráfico 9: acabamento de superfície (FE e FI) – unidade N981 E941..................................... 56

Gráfico 10: espessura dos fragmentos – unidade N981 E941 .................................................. 58

Gráfico 11: conservação – unidade N981 E941 ....................................................................... 58

Gráfico 12: técnica de confecção/parte da vasilha por nível – unidade N981 E988 ................ 59

Gráfico 13: tipo de antiplástico – unidade N981 E988 ............................................................ 60

Gráfico 14: tipo de minerais – unidade N981 E988 ................................................................. 61

Gráfico 15: formas dos grãos de quartzo – unidade N981 E988 .............................................. 61

Gráfico 16: Inclusão/tamanho dos grãos de quartzo – unidade N981 E988 ............................ 61

Gráfico 17: acabamento de superfície – unidade N981 E988 .................................................. 62

Gráfico 18: cor da superfície - unidade N981 E988 ................................................................ 64

Gráfico 19: queima – unidade N981 E988 ............................................................................... 65

Gráfico 20: conservação – unidade N981 E988 ....................................................................... 65

Gráfico 21: parte da vasilha-técnica de confecção por nível – unidade N960 E982 ................ 66

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Gráfico 22: tipo de antiplástico – unidade N960 E982 ............................................................ 67

Gráfico 23: tipo de minerais – unidade N960 E982 ................................................................. 67

Gráfico 24: inclusão/tamanho dos grãos de quartzo – unidade N960 E982 ............................. 67

Gráfico 25: forma dos grãos de quartzo – unidade N960 E982 ............................................... 68

Gráfico 26: acabamento de superfície (FE e FI) – unidade N960 E982................................... 68

Gráfico 27: cor da superfície – unidade N960 E982 ................................................................ 70

Gráfico 28: queima – unidade N960 E982 ............................................................................... 70

Gráfico 29: espessura – unidade N960 E982............................................................................ 71

Gráfico 30: conservação – unidade N960 E982 ....................................................................... 71

Gráfico 31: parte da vasilha-técnica de confecção por nível – unidade N900 E1017 .............. 72

Gráfico 32: tipo de antiplástico – unidade N900 E1017 .......................................................... 73

Gráfico 33: tipos de minerais – unidade N900 E1017.............................................................. 74

Gráfico 34: formas dos grãos de quartzo – unidade N900 E1017 ............................................ 74

Gráfico 35: inclusão/tamanho dos grãos de quartzo – unidade N900 E1017 ........................... 74

Gráfico 36: acabamento de superfície – unidade N900 E1017 ................................................ 75

Gráfico 37: cor da superfície – unidade N900 E1017 .............................................................. 76

Gráfico 38: queima – unidade N900 E1017 ............................................................................. 77

Gráfico 39: espessura – unidade N900 E1017.......................................................................... 78

Gráfico 40: conservação – unidade N900 E1017 ..................................................................... 78

LISTA DE TABELA

Tabela 1: Datações do sítio Garbin fornecidas pela Scientia Consultoria Científica (Fonte:

Zuse, 2014, p. 179). .................................................................................................................. 38

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Sumário

RESUMO ................................................................................................................................... 7

1.1. Panorama dos Principais Modelos de ocupações pré - coloniais da Região

Amazônica . ...........................................................................................................................14

1.2. Arqueologia do alto rio Madeira ................................................................................ 21

CAPÍTULO 2. CARACTERIZAÇÃO E LOCALIZAÇÃO DO SÍTIO ARQUEOLÓGICO

GARBIN. .................................................................................................................................. 31

CAPÍTULO 3 – ANÁLISE CERÂMICA DO SÍTIO ARQUEOLÓGICO GARBIN:

ABORDAGEM TEÓRICA, MÉTODOS E TÉCNICAS ......................................................... 45

3.1. Conceitos sobre o estudo da tecnologia ......................................................................... 45

3.2. Descrição dos atributos analisados ................................................................................ 48

CAPÍTULO 4 – ANÁLISE DA CERÂMICA DO SÍTIO ARQUEOLÓGICO GARBIN ...... 52

4.1. Análise da cerâmica da Unidade N981 E941 ................................................................ 52

4.2. Análise da cerâmica da unidade N981 E988 ................................................................. 58

4.3. Análise da cerâmica da Unidade N960 E982 ................................................................ 65

4.4. Análise da cerâmica da Unidade N900 E1017 .............................................................. 71

4.5. Comparação das análises do sítio Garbin......................................................................78

4.6. Triagem da cerâmica do Sítio Garbin ............................................................................ 85

Triagem das cerâmicas das trincheiras .............................................................................. 93

CONCLUSÃO..........................................................................................................................97

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA................................................................................................100

ANEXOS ................................................................................................................................ 105

13

INTRODUÇÃO

No Estado de Rondônia as pesquisas arqueológicas vêm corroborando para um dos

maiores potenciais arqueológicos do país, apresentando uma grande diversidade cultural

existente nesta região. O sítio arqueológico Garbin foi identificado durante as pesquisas

desenvolvidas pela Scientia Consultoria Cientifica no Projeto de Arqueologia Preventiva da

UHE de Santo Antônio, no rio Madeira, no ano de 2008. Está localizado em um terraço

fluvial, próximo á antiga cachoeira de Santo Antônio, na margem esquerda do rio Madeira.

Foram encontrados materiais cerâmicos e líticos.

Temos como objetivo analisar a cerâmica do sítio Garbin para entender a cadeia

operatória de confecção dos artefatos cerâmicos de modo a perceber as continuidades e as

mudanças na tecnologia cerâmica em diferentes áreas e períodos de ocupação.

A análise dos materiais cerâmicos teve início no âmbito da minha pesquisa de

iniciação científica no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica – PIBIC, na

Universidade Federal de Rondônia – UNIR, e teve continuidade nesta Monografia.

No capítulo 1 apresentamos um breve panorama dos principais modelos de ocupações

pré-coloniais da região Amazônica, bem como das pesquisas realizadas no alto rio Madeira.

No capítulo 2, caracterizamos e localizamos a área de estudo, com sua vegetação,

clima, delimitação do sítio, distribuição espacial dos vestígios arqueológicos, densidade de

materiais no sítio, escavações e datações.

No capítulo 3 serão apresentados os conceitos sobre o estudo da tecnologia e a

descrição dos atributos analisados.

No 4 capítulo apresentamos os resultados da análise do material cerâmico bem com da

triagem do material estudado nesta pesquisa.

E no capítulo 5 são as considerações finais do trabalho.

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CAPÍTULO 1. ARQUEOLOGIA NA AMAZÔNIA E NO ALTO RIO MADEIRA

1.1. Panorama dos Principais Modelos de ocupações pré-coloniais da Região Amazônica

Desde a década dos anos 40, arqueologia foi sendo rotulada ou contextualizada por

conceitos evolucionistas e deterministas que persistiram por um bom tempo na arqueologia

amazônica. Com publicação do Handbook of South American Indians, por Julian Steward

(1948), que propôs organizar a diversidade culturais da América do Sul, classificando em

quatros tipos culturais: Tribos Marginais, Povos Floresta Tropical, Povos do Circun-Caribe e

Povos Andinos. Esta classificação foi guiada sob uma forte influência da Ecologia Cultural

norte-americana e do determinismo ecológico, na qual as culturas eram classificadas de

acordo com níveis de complexidade, modos de produção, organização sociopolítica e ecologia

(FAUSTO, 2005).

Para a região da floresta Amazônica foi estabelecida Cultura da Floresta Tropical. Este

conceito foi definido a partir de alguns elementos que inclui o cultivo de tubérculos

(Mandioca), navegações fluviais, usos de redes, cerâmicas e pelas ausências de alguns traços

arquitetônicos e metalúrgicos (NEVES, 1999-2000). De acordo com Neves (1999-2000),

Steward tinha uma visão do desenvolvimento dos grupos indígenas que habitavam a floresta

tropical a partir de combinações de fatores adaptativos locais com influência externa do

Circum-Caribe. Influenciado pelas ideias de Irving Rouse, Betty Meggers e Clifford Evans,

passou a considerou os Andes como matriz cultural, que ao entrar na floresta a cultura teria

regredido para Cultura de Floresta Tropical, devido ao baixo potencial agrícola da floresta

tropical, situando assim a Amazônia em um contexto periférico na história pré-colonial da

América do Sul.

Meggers e Evans (1987), a fim de testar a hipótese de Steward, iniciaram suas

pesquisas na região da Amazônia, onde formularam o primeiro modelo de desenvolvimento

cultural na região, considerando a relação entre a cultura e o meio ambiente em termos de

subsistência (GOMES, 2002). Meggers tinha uma visão da Amazônia como “Inferno Verde”,

cuja pobreza em recursos naturais, limitaria o desenvolvimento dos grupos existentes, devido

à baixa fertilidade do solo teria inibido o crescimento e o adensamento populacional

(FAUSTO, 2005).

De acordo com Meggers (1987, p. 30), a cultura sem um fornecimento concentrado e

produtivo de alimento, não poderia atingir um nível mínimo de complexidade. Sendo assim a

15

floresta tropical teria sido ocupada por sociedades simples, igualitárias e de pequenos portes

(FAUSTO, 2005).

Na década de 1950, Betty Meggers e Clifford Evans escavaram em Marajó e

evidenciaram no registro arqueológico indicativo de complexidade social, interpretando este

correlato como oriundo de grupos vindos de fora, que apresentavam um padrão do tipo

cacicado, mas devido à incapacidade do meio ambiente lhe imposto limites, este grupo teriam

então decaído culturalmente, se transformado em padrão do tipo de Floresta Tropical

(FAUSTO, 2005; GOMES, 2002).

Meggers (1987) salienta as diferenças entre a terra firme e a várzea. Segundo a autora,

na terra firme se encontraria em menor quantidade de suprimento alimentar. Essa deficiência

e devido aos fatores: como infertilidade do solo (idade do solo), altas temperaturas, a umidade

e a baixa concentração de alimentos vegetais e animais que dificultaria a adaptação dos

grupos humanos; e a várzea seria um ambiente complexo e heterogêneo, devido ao fato que

suas águas carregam grandes quantidades de nutrientes importantes oriundos dos Andes, que

espalhar-se de forma irregular pela várzea ocasionada pela cheia do rio, além de oferecer uma

grande quantidade de recursos alimentícios, bem como também o uso da terra para agricultura

sem danificar o solo, já que a fertilidade do solo é renovada anualmente. Entretanto a

susceptibilidade da cheia do rio poderia ocasionar uma diminuição dos recursos alimentares,

criando uma condição desfavorável aos grupos que dependem destes recursos para sua

subsistência. Segundo Meggers a adaptação a este ambiente está ligada a estabilidade de

armazenar os recursos em quantidade muito baixa de modo que esta situação limitou o

tamanho da população.

Em contrapartida a esta visão determinista ambiental estudos realizados pela corrente

da Ecologia Histórica vêm demonstrando que a região amazônica possui condições

necessárias para sustentar grandes grupos por longos períodos em uma mesma área,

manejando, domesticando e transformando o ambiente em que vivem, originando nas terras

pretas evidenciadas nos sítios arqueológicos (SMITH, 1980; BALÉE, 2008). De acordo com

Neves (1999-2000) esta corrente mostra que Amazônia não oferece limites contra o

crescimento demográfico ou a emergência da complexidade social, mas que ela é um produto

da ação humana e não uma variável externa totalmente independente.

Donald Lathrap, não partilhava o mesmo ponto de vista dos pesquisadores

evolucionista e determinista ambiental, para este autor o conceito de Floresta Tropical deveria

ser definido a partir de elementos culturais comuns e não como um estágio de evolução

cultural. Para o autor este conceito caracterizar-se pelo cultivo intensivo de tubérculos,

16

principalmente a mandioca, com o aproveitamento máximo dos recursos alimentícios

aquáticos e da caça terrestre como secundário (LATHRAP, 1970).

Para Lathrap, a Floresta Amazônica não teria elementos que limitaria o

desenvolvimento cultural, pelo contrário, nela teria surgido grandes eventos importantes como

a emergência da agricultura e o aparecimento da cerâmica nas Américas (GOMES, 2002). O

autor acreditava que a Amazônia Central era um grande polo de desenvolvimento cultural, e

elaborou um modelo denominado de “Modelo Cardíaco”, que se baseava na combinação de

um ambiente rico e ao mesmo tempo restrito, bombeando populações e cultura para outras

áreas. Para o autor a várzea era um lugar fértil e criativo que devido ao grande aumento

populacional ocorrido pela abundância de recurso teria provocado competição e guerra,

obrigando parte das populações a migrar para outras áreas (FAUSTO, 2005). Além da

Amazônia Central ter sido uma região de grande dinâmica populacional, seria também o

centro de origem de duas famílias linguísticas importantes: Aruak e Tupi. De acordo com

Lathrap (1970, p. 75) a bacia do Alto Amazonas apresenta maior diversidade linguística da

América do Sul, caracterizada pela variedade de línguas distintas.

O centro de origem e dispersão do Tronco Tupi vem sendo debatido desde 1838 até o

presente. Diversos pesquisadores das áreas de arqueologia, etnologia e linguística propuseram

os possíveis locais de origens e difusões destes grupos. Hipóteses anteriores à publicação de

Handbook of South American Indians (1950), eram baseadas em dados etnográficos e

históricos que não davam subsídios consistentes para determinar a origem e a expansão da

língua Tupi, como os dados arqueológicos e linguísticos. As suposições eram fundamentadas

teoricamente a partir do degeneracionismo, determinismos raciais e geográficos e até

evolucionista (NOELLI, 1996).

A partir da publicação de Handbook of South American Indians os dados

arqueológicos passaram a ser interpretados a partir do determinismo ecológico e do

difusionismo introduzindo métodos da linguista histórica (NOELLI, 1996), que eram o

pensamento da antropologia na época.

Segundo Lathrap (1970), o centro de dispersão da língua Tupi seria na Amazônia

Central, que devido à pressão demográfica de tais grupos, eles foram forçados a migrar,

subindo os rios: Madeira, Guaporé e Xingu. Instalaram-se contra as escarpas dos chapadões

do planalto central brasileiro. Entretanto, estudos de glotocronologia sugeriram que a

separação da família Tupi Guarani teria começado há 2.500 anos, isto é 500 a.C e não

recentemente como sugeriu Lathrap (BROCHADO,1989). José Brochado, quando participava

do PRONAPA (Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas), concordava com Meggers

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de uma origem extra-continental e andina como o centro de dispersão deste grupo, mas após

iniciar seu doutorado ele mudou seu aporte teórico compartilhando as ideias de Lathrap

(1970). Neste período Brochado propõe um novo modelo de dispersão da língua Tupi tendo

como o centro de origem o sudoeste da Amazônia. Este modelo foi baseado em dados

arqueológicos e linguísticos consistentes, diferentemente do modelo de Meggers que não

possuía nenhum dado empírico demonstrável apenas se baseava em opiniões de pesquisadores

que lhe seguia (NOELLI, 2008). Para Brochado (1989) a dispersão foi resultado de extensas

migrações dos grupos falantes da língua Tupi, visto que alguns destes grupos ainda se

mantiveram em movimentos, como os Tupinambás e o Guarani Mybiá.

De acordo com Brochado (1989), os Tupinambás e os Guaranis não vieram das

mesmas ondas migratórias, mas sim por caminhos distintos:

“Os tupinambás teriam descido ao longo à costa atlântica, a partir da desembocadura

do Amazonas enquanto os Guarani teria ocupado sistema fluvial Paraná-Paraguai-

Uruguai descendo ao médio Amazonas ao longo do Madeira e do Guaporé”.

Segundo Rodrigues (1964) o centro de difusão do Proto-Tupi estaria na área entre os

rios Guaporé e Ji-Paraná no estado de Rondônia, devido ao fato de que das dez famílias

linguísticas, seis se concentram nesta região. Esta hipótese é a mais aceita pelos linguístas.

Pensando em cultura material, Brochado (1989) aponta que a subtradição Guarita teria

se formado a partir das cerâmicas Barrancóides, e a subtradição Miracanguera seria

pertencente aos Tupinambás cujo apogeu se deu na Ilha do Marajó com a cerâmica

denominada Marajoara. Na qual a cerâmica Guarita seria muito mais simples do que a

cerâmica Miracanguera.

Tanto Lathrap como Brochado acreditavam que a cerâmica da Tradição Polícroma da

Amazônia (TPA) era mais antiga na Amazônia Central e que este correlato estaria associado

ao grupo falante da língua Tupi.

Entretanto, estudo realizado no baixo e médio rio Negro aponta que a cerâmica da

Tradição Polícroma da Amazônia (Guarita) encontrada nesta região não e muito mais antiga

que na Amazônia Central e não menos sofisticada ou diversificada que a Subtradição

Miracanguera, apresentando urnas antropomorfas e formas sofisticadas, não havendo

evidências histórica e etnográfica da associação desta subtradição aos grupos da língua Tupi

(HECKENBERGER et al, 1998).

Segundo Moraes e Neves (2012), a fase Guarita e complexos semelhantes tem uma

ampla distribuição pela Amazônia ocidental, são encontradas desde o médio rio Madeira e

baixo rio Amazonas, entre os estados do Amazonas e Pará até o rio Napo no Equador, sendo

18

que as datas mais antigas para esta fase é de 900 D.C no sítio Açutuba, na margem direita do

rio Negro em Iranduba/AM. De acordo com estes autores, a expansão deste grupo se deu

muito rápido devido fato que os estratos destas ocupações estarem sempre na superfície e que

após a ocupação este grupo ainda mantiveram contatos, pois os padrões formais e decorativos

da cerâmica tinham códigos impressos na forma de decoração que era compartilhado por

grupos que habitavam o médio do rio Madeira até a região do rio Napo e no Equador.

Entretanto, como vem demonstrando os dados arqueológicos obtidos nesta área do alto

rio Madeira os Tupi não estavam sozinhos, estariam presentes também os grupos Aruak

associados á cerâmica Barrancóide. Os trabalhos feitos na região do rio Madeira vêm

identificando características e contextos associados aos grupos Aruak (ALMEIDA, 2013,

ZUSE, 2014).

Assim como os grupos falantes da língua Tupi, Lathrap apontou seus estudos para a

região da Amazônia Central como a “terra natal” dos povos Aruak, especificamente no baixo

rio Negro, correlacionado á Tradição Borda Incisa ou Barrancóide. Seu aluno de doutorado

José Oliver se dedicou a estudar os grupos Aruak na década 80, onde propôs que os proto-

aruak teriam ocupado a Amazônia Central por volta de 6.000 anos a.P (NEVES, 2000).

No entanto não há um consenso sobre a origem de dispersão do grupo linguístico

Aruak/Maipure (URBAN, 1992). De acordo com autor a diáspora Aruak teria ocorrido por

volta de 3 mil anos a.P ou mais, na qual o principal curso do rio Amazonas não teria sido a

rota principal, mas provavelmente as periferias das bacias Amazônica, partindo da área

peruana e mais tarde a região das terras baixas Amazônica.

Para Heckenberger (2001) umas das áreas para as quais se expandiram estaria

localizado no noroeste amazônico, a partir de uma antiga migração ou de umas séries de

migrações para região do alto Madeira espalhando-se para oeste (Acre e Peru), para sul (terras

baixas bolivianas) e para leste (Alto Xingu).

A Tradição Barrancóide teria uma ampla distribuição na América do sul e Caribe.

Sendo definida por Cruxente e Rouse (1958); Osgood e Howard (1943); Sanoja e Vargas

(1969, 1978) a partir dos estudos realizados no Baixo Orenoco na Venezuela, nos sítios

Barrancas e Saladero. Esta tradição abrange outras partes da América do Sul, como nas bacias

do Amazonas, na Guiana francesa e na Amazônia boliviana (OLIVER, 2013).

Esta Tradição cerâmica apresenta características como bordas largas, com topo

achatado, sendo que a superfície das bordas apresentam decorações com incisões e em alguns

casos pinturas ou engobo vermelho na face interna e externa de alguns vasos. Na Amazônia

Central a tradição Barrancóide é representada pelas fases Manacapuru, Paredão e Açutuba

19

(LIMA; NEVES, 2011). Foi identificada pela primeira por volta de 700 a 800 A.C na planície

alagada do Baixo Orenoco (PORTOCARRERO, 2006).

Alguns dos fatores culturais que caracterizam esse tronco linguístico seriam os

assentamentos com grandes aldeias circulares com caminhos interligados; Sedentarismo e a

presença de uma agricultura intensiva baseada no cultivo de mandioca e possivelmente de

milho e também dos recursos aquáticos; Regionalidade, interação sociopolítica apoiada em

ideologias e culturas comum, através de uma rede de trocas rituais, da interdependência

cerimonial e de padrões difusos de sociabilidade e a interação entre as comunidades. Eram

grupos que tinham uma ideologia não ofensiva, pelo contrário, eram acolhedores, absorvendo

tanto traços como pessoas de outros grupos. Outra característica presente neste grupo seria a

hierarquia baseada no poder centralizado, que se-dá com base em diferenças de idade e de

gênero (HECKENBERG, 2001).

A expansão dos povos Aruak não ocorreu de forma amigável pelo contrário houve

períodos de conflitos quem podem ser observados no registro arqueológico através da

construção de valetas e paliçadas. Segundo Heckenberg (2001), estas estruturas tinham como

função defensiva. Estas estruturas são encontradas no baixo rio Madeira, nos sítios

arqueológicos Borba e Vila Gomes (MORAES, 2013) e no Amazonas no sítio arqueológico

Açutuba (NEVES, 2008). Entretanto outras estruturas foram associadas a este grupo, como a

construção de montículos que poderiam ser tanto para habitação no caso do sítio arqueológico

Antônio Galo, na Amazônia Central, no qual os montículos se encontram disposto em

formato anelar (MORAES, 2013) ou em contexto funerário, como no sítio arqueológico

Hatahara, na Amazônia Central associada à fase Paredão (PY-DANIEL, 2010).

Ao longo das margens do Amazonas e dos baixos cursos de seus tributários foi

denominada a Tradição Pocó-Açutuba, tem uma ampla distribuição pela Amazônia, se

espalhando de oeste para leste, desde a foz do Japurá até Santarém, e, de norte a sul, o baixo

rio Branco até a região de Manaus. Esta tradição e caracterizado por uma cerâmica por uma

pasta diversificada com antiplástico caraipé e cauixí ou combinado no mesmo vaso. As

formas são complexas: vasilhames carenados, vasos com gargalos, as flanges labiais e mesiais

sendo esta ultima com pinturas, expansões e apliques modelados zoomorfo que geralmente

eram aplicados nas flanges labiais ou diretamente nas paredes do vasos. Destaca-se as

representações mais naturalistas como onças, morcegos, jabutis, sapos e figuras duais. Em

relação às características decorativas destaca-se a policromia com uso dos tons do preto,

amarelo, laranja, vermelho, cor-de-vinho e o branco que geralmente usado como engobo, bem

como a presença frequente do engobo vermelho. Os motivos eram geométricos como

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retângulos, quadrados, círculos, faixas e linhas com a formação de padrões gráficos

complexos. A decoração plástica destaca as incisões (em linhas retas e curvas como as

volutas), modelados, excisões, ponteado e escovados, assim como o uso de outras técnicas

menos usadas como a raspagem, tracejado e o corrugado (NEVES et al, 2014).

De acordo com Neves et al (2014) as cerâmicas Pocó-Açutuba não tem semelhança

formal ou estilística com complexos mais antigos da Amazônia, ou anterior a data de 1200

BC o que pode indicar que as ocupações Pocó-Açutuba tiveram uma origem externa que

começou a se estabelecer em diferentes partes da bacia Amazônia na transição do segundo

para o primeiro milênio AC, possuindo um repertório amplo decorativo; Estas ocupações

representaria os primeiros sinais de ocupações humana após longos hiatos no Holoceno

médio, ocupando áreas ao longo dos grandes rios ou lagos; presença de feições com

concentrações de cerâmicas; associação com a formação inicial de terras pretas, como

indicador de modos de vida sedentários. Por possuir amplitude geográfica e de tais

características citada permitiu que as ocupações Pocó-Açutuba, sejam tratadas como uma

Tradição distinta, diferente da Tradição Borda Incisa;

Segundo o autor os produtores da cerâmica Pocó-Açutuba eram grupos que

exploravam e manejavam a Amazônia com uma tecnologia (modelado) ao que parece nova

para a época. Essa tecnologia espalhou-se por uma grande área, ocupando locais

anteriormente vazios ou habitados por grupos distintos, que até o momento não se tem

evidencias de conflitos com as ocupações Pocó-Açutuba, o que sugeri um tipo de relação

horizontal nos casos de grupos que já habitavam anteriormente essas áreas, permitindo a

incorporação desses povos por relações de comércio ou casamentos como e possível vê

atualmente em áreas com presença de grupos Arawak. Esta inovação conceitual e tecnológica

trazida por esses antigos grupos colonizadores, certamente deu um novo significado em

alguns dos complexos cerâmicos.

21

1.2. Arqueologia do alto rio Madeira

As primeiras pesquisas arqueológicas realizada no estado de Rondônia iniciaram na

década de 70 e 80, no contexto do PRONAPABA (Programa Nacional de Pesquisas

Arqueológicas na Bacia Amazônica), pelo arqueólogo Eurico Miller. Suas interpretações para

o registro arqueológico eram feitas a partir de uma perspectiva histórico-culturalista

(MONGELÓ, 2015), criando diversas fases e tradições e formulando as primeiras hipóteses

de ocupação na região (ZUSE, 2014).

Miller (1992) identificou ocupações pré-ceramistas ao longo do alto rio Madeira, bem

como no seu afluente da margem direita, o rio Jamari. No rio Jamari foram identificadas os

complexos: Itapipoca, Pacatuba e Massangana. No alto rio Madeira caracterizado pelos

complexos Periquitos e Girau. (Miller et al, 1992; Miller 1983)

No rio Jamari o Complexo Itapipoca é atribuído pelas datas entre 8.320 ± 100 a 6.970

±60 A.P. Este complexo apresenta artefatos líticos dos tipos raspadores laterais e terminais,

percutores com evidências de uso, lascas com ou sem retoque e núcleos esgotados. Sendo que

os percutores e as lascas são trabalhados em quartzito e sílex (MILLER, 1992).

O complexo Pacatuba está acima do complexo Itapipoca, datado entre 6.090 ± 130 a

5.210 ± 70 A.P. Portadores de uma indústria lítica de lascas e micro lascas em quartzo,

percutores e calhaus de quartzito e sílex, bigornas, núcleos sendo que no final da sequência

ocorrem polidores e lâminas de machados lascados bifacialmente. Sobre estes complexos

ocorrem o Complexo Massangana datado entre 4.780 ± 90 e 2.640 ± 60 a.P, caracterizado

como a primeira etapa do período Formativo, com material lítico associado ao solo de terra

preta antropogênica, dando início a prática de agricultura incipiente e a domesticação de

plantas (Palmeira Urucurí) em pleno Óptimum Climático. São encontrados neste complexo

artefato líticos como micro lascas e lascas em quartzo, nódulos de hematita, bolotas de argila

sem tempero, pequenas mós, mãos de pilão e blocos de afiadores de machado, raros

raspadores pequenos (MILLER, 1999, 1999a).

Já no alto rio Madeira ao longo da sua calha localiza-se o Complexo Cultural

Periquito, datado em 11.940 anos a.P., e caracterizado por uma indústria lítica de percutores

com evidências de uso, lascas e um biface lanceolado ou pré-forma em quartzo, sílex e outras

rochas bastante alteradas. De acordo com Miller (1992) foram evidenciados neste complexo

resto de esqueletos paleoindígenas (crâneos) e de mandíbulas, materiais estes que foram

resgatados por mergulhadores de garimpos e pelas peneiras das balsas.

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O Complexo Girau e evidenciado em cinco sítios arqueológico no rio Madeira

(Teotônio, Pederneira 2, Paredão, Girau, Periquitos) e um sítio no rio Mamoré (Ribeirão).

Apresenta material lítico lascado em solo não antropogênico (MONGELÓ, 2015). Este

complexo é caracterizado por lascas, percutores, núcleos e possíveis raspadores em quartzo,

sílex e rochas graníticas alteradas. Cronologicamente se situam no Holoceno Médio

(MILLER, 1999a).

Mongeló (2015) buscou levantar novos dados do sítio Teotônio, de forma entender os

processos de transformação socioeconômica a partir das mudanças tecnológicas dos artefatos

dos grupos que ocuparam este sítio. O autor acredita que o sítio Teotônio teria dois conjuntos

artefatuais que corresponderia ao período Formativo, a Fase Massangana e a Tradição

Pocó/Açutuba. Estes dois conjuntos seriam representativos de um mesmo processo, com

características mais complexas e com intensidades distintas: num primeiro momento teria

formado a Terra Preta, no Holoceno Médio, posteriormente teria surgido à cerâmica como

elemento agregador a este processo.

Segundo Mongeló (2015), é possível afirmar que o sítio Teotônio teria uma ocupação

que vai desde 6.500 AP até os dias de hoje, englobando diferentes formas de relações sociais

que deixaram registradas através da cultura material, e que o inicio destas ocupações seria

durante no Holoceno Inicial pelos Complexos Girau e que a partir do Holoceno Médio estes

grupos teriam iniciado o processo de formação da terra preta (Fase Massangana), utilizavam

uma indústria expedita de lascas de quartzo, que priorizava os simples gumes retocados. Para

Mongeló (2015) o surgimento da Fase Jamari e a Fase Jatuarana teriam aumentado as

manchas de Terra Preta sobre o platô e que o sítio Teotônio apresenta um contexto

diferenciado, caracterizado por populações pré-ceramistas e com umas das datações mais

antigas (na base 6.500 AP e no topo 3.000 AP) para um sítio a céu aberto nas Terras Baixas

da América do Sul.

Já em relação ao contexto ceramista nesta região do alto rio Madeira. Miller

estabeleceu a subtradição Jatuarana por volta entre 2.730±75 a.P e 2.340±90 a.P. Esta cultura

ceramista ocupou desde a confluência do rio Marmelos a jusante, até as primeiras cachoeiras e

corredeiras a montante. Foram identificados mais de 32 sítios habitação, vários sítios oficinas

e um sítio cemitério. Os sítios habitação apresentam terra preta em uma profundidade de até

210 cm, com formas elipsoides a retangulares e a presença dos pés de Attalea excelsa

Mart.(urucurí) e Pyrenoglyphis marajá (marajá). Segundo o autor as terras pretas

antropogênicas eram resultantes de constantes reocupações continuas (MILLER, 1992). De

23

acordo com ele, os sítios habitações maiores e mais complexos seriam RO-JP-01: Teotônio e

RO-JP-03: Porto Seguro atualmente conhecido como Santa Paula, ambos os sítios situados na

Cachoeira de Teotônio, e RO-PV-19: Igapó-1 localizado na margem direita e a jusante da

Cachoeira de Santo Antônio, devido ao fato de estarem localizados em lugares estratégicos

(cachoeiras), que criaria uma barreira intransponível para captura de recursos aquáticos

(cardumes de peixes no período da piracema e de tartarugas nas estiagens).

De acordo com Miller (1992, p. 223) as vasilhas da subtradição Jatuarana apresentam:

Pasta pouco arenosa, com temperos de cariapé e carvão, cariapé, cariapé e cauixí,

caiuxí e areia fina, com espessura de fina a mediana e regular, a pasta e compacta

porosa e leve. O tratamento de superfície e bem elaborado e esmerado, variando

desde o alisado, polido, brunido e envernizado (resina de jatobá).

Sobre a morfologia dos vasilhames Miller (1992, p. 223) afirmar que:

Variam de tigelas simples circular como até complexamente curvilíneas, rasas a

profundas, com contornos simples a composto entre 10 e 36 cm de diâmetro, com

bordas introvertidas, diretas, extrovertidas e dobradas tipo pratos, raros assadores de

30 a 45 cm de diâmetros e urnas funerárias antropomórficas de até 69 cm de altura,

com pescoço leve e fortemente constrito, bordas expandidas e introvertidas vertical,

diretas e extrovertidas; lábios arredondados, planos, apontados e mistos; base plana,

arredondadas, anelar e em pedestal.

Segundo Miller (1992, p. 223) a decoração apresenta:

Técnicas de exciso raspado, inciso dupla linha e outros, ponteados, ponteados

arrastados, ungulados, pinçados, serrungulados, acanalados finos, estampado,

carimbado que pode estar isolados ou combinados entre si, com ou sem engobo,

monocromia, policromia associados ou não a apliques zoomórficos,

antropomórficos, flanges, alças, asas e outros artifícios, compreende monocrômias

simples em positivo ou negativo sobre engobo vermelho, policromias sobre engobo

branco ou não com cores que variam do preto, sépia escuro, marrom, magenta,

vermelho, laranja, amarelo e creme podendo estar combinadas, misturadas ou

associadas ou não com decoração plástica. Os motivos em linhas, faixas e campos

curvilíneos, geométricos, zoo e antropomórficos. Sendo que os tipos retocados

compreendem o inciso, exciso raspado e acanalado fino, retocados ou preenchidos

com branco, amarelo, laranja e vermelho.

Miller (1992) detectou mudanças significativas que ocorreram ao longo do tempo

como: maior popularidade das técnicas plásticas no início das sequências e maior

popularidade das técnicas crômicas no final, bem como o aumento da popularidade das urnas

funerárias antropomórficas, e a maior presença das flanges e do acanalado da subtradição

Guarita na sequência inferior sendo substituído pelo acanalado fino na sequência mediana-

superior (MILLER, 1992).

Atualmente existe outra definição da subtradição Jatuarana, realizada por Almeida

(2013), Zuse (2014) e Pessoa (2015) que caracterizar a cerâmica da Tradição Polícroma no rio

Madeira. A cerâmica da Associação Calderita apresentou predomínio do caraipé (90%).

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Destaca a grande presença de engobo vermelho, bem como também de fuligem e poucos

fragmentos com pinturas (15%), pintadas em vermelho, branco ou combinações de ambos.

Em relação o tratamento plástico apenas 4 fragmentos identificaram incisões. A cerâmica do

sítio Itapirema prevaleceu o cauixí (85%). Dentre os tratamentos de superfície destaca a

presença de barbotina (10%) e o esfumarado (9%) na face externa. A cerâmica deste sítio

seria a mais elaborada em relação à forma e a decoração, sendo que cerca de (30%) das

bordas com reforço, presença de bordas extrovertida com ponto angular, raras bordas

recortadas, o predomínio dos lábios arredondados (53%) e planos (32%). As bases destacam-

se as planas e as côncavas; Os tratamentos plásticos predominaram incisões finas ou largas

(acanalados), um digitado e um filete aplicado; A decoração pintada consistir do vermelho e

branco com predomínio do vermelho; Evidenciou-se uma peça modelada de uma provável

representação de uma cabeça zoomórfica com incisões e pintura branca e vermelha

(ALMEIDA, 2013).

Zuse (2014) identificou uma grande variabilidade nas formas e decorações das

vasilhas da Tradição Polícroma, sendo que nos sítios Morros dos Macacos I e Boa Vista

ocorrem pinturas pretas e brancas, nos sítios Ilha de Santo Antônio, Vista Alegre e Coração

pinturas vermelhas e brancas; Já nos sítios a jusante e frequente os traços largos, sendo que no

sítio Coração os traços são finos; Os tratamentos plásticos nos sítios (Morro dos Macacos I,

Boa Vista, Vista Alegre) destaca o uso recorrente das incisões em motivos complexos sobre

as pinturas brancas enquanto em outros sítios (Novo Engenho Velho) a presença dos

acanalados e aplique. Em relação às formas predomina as infletidas nos sítios a jusante, e as

compostas prevalecer no sítio Coração.

Pessoa (2014) mostrou que alguns atributos pertencentes ao sítio Ilha de Santo

Antônio como o antiplástico de cariapé, queima oxidante e redutora, alisamento fino se

mantiveram ao longo do tempo. Entretanto em relação aos acabamentos de superfícies por

níveis foi possível perceber uma mudança ao longo do tempo, presença maior de engobo nos

níveis superficiais e de tratamentos plásticos nos níveis profundos, sendo que os poucos que

ocorre de tratamentos plásticos nos níveis superficiais são de roletados. De acordo com autor

essa mudança se deu através da transição da cerâmica Barrancóide para a Polícroma, de forma

gradativa mantendo alguns aspectos tecnológicos por volta do século X DC na Ilha de Santo

Antônio.

Almeida (2013) em sua tese de doutorado pesquisou a região do alto rio Madeira,

estudou cinco sítios arqueológicos (Associação Calderita datado em 980±40 e Itapirema

540±40 AP; Jacarezinho entre 980±40 e 660±40 AP; Nova Vida 1.790±60 AP; e o Teotônio

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com duas datas entre 1.550±30 e 1.250±30 AP) localizados na região do baixo curso do rio

Jamari e do alto rio Madeira. O autor chama atenção para a falta de sítios arqueológicos na

área entre os rios Candeias e Jamari devido o baixo contingente populacional nesse trecho, na

qual foi denominado de zona tampão entre os grupos do médio Jamari (Tradição Jamari) e os

grupos do alto Madeira (Subtradição Jatuarana). Ele também evidenciou diferenças nos

materiais entre o médio-baixo Jamari e o médio-alto Jamari que podem representar dois

grupos da família Tupi-arikém (Arikém e os Karatiana).

A partir das análises da cerâmica foi possível inferir que o sítio Associação Calderita e

Itapirema pertence á Tradição Policroma Amazônica e consequentemente a Subtradição

Jatuarana, o sítio Jacarezinho a tradição Jamari, e o sítio Nova Vida que não foi possível

associar a nenhuma tradição arqueológica. O sitio Teotônio foi caracterizado pelo autor a

partir dos conceitos de lugar significativo e lugar persistente. Lugar significativo por se

localizar uma área de “fronteira” ou divisor cultural, separando os grupos da Tradição Jamari

e Jatuarana, na região do médio e baixo Jamari e um lugar persistente pela abundância de

recursos aquáticos (pescas).

O sitio Teotônio foi identificada uma ocupação pré-cerâmica com sedimento escuro

com presença de material lítico (unidade N10001 E 10003), com uma data de 700 d.C.. O

autor sugere que data de 700 a.C realizada por Miller seria de uma camada pré-cerâmica em

terra preta, e não a uma ocupação polícroma, como Miller havia definido. Também foi

identificada uma outra cerâmica mais antiga sem decorações pintadas, com decorações

plásticas “rústicas” com antiplástico mineral, datada em 400 d.C., o que aponta que no sítio

Teotônio teve duas ocupações de grupos cerâmicos e não apenas uma subtradição.

Almeida (2013) vê semelhança desta cerâmica antiga do sítio Teotônio ao contexto do

sítio Nova Vida em relação à decoração, espessura das paredes dos fragmentos e a ausência

de formas, bem como nas datas que ambos os sítios são razoavelmente próximas (contexto

antigo 400 d.C. e sítio Nova vida 200 d.C), se tratando de uma antiga ocupação do alto

Madeira que foi substituída pela chegada dos grupos portadores da cerâmica polícroma,

entretanto seria apenas uma hipótese a ser testada. Autor dialogar com os dados de Zuse

(2011) onde a pesquisadora evidenciou contextos mais antigos no sitio Morros dos Macacos I,

como também diversos elementos decorativos que estariam presentes em outros sítios da

região (Veneza, Ilha de Santo Antônio e o Garbin).

De acordo com Almeida (2013) a região do alto rio Madeira e uma área–chave para a

compreensão da história dos grupos indígenas do sudoeste da Amazônia, autor apresenta duas

propostas interpretativas para a história pré-colonial dos grupos ceramistas do alto Madeira. A

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primeira é que o sítio Teotônio, por estar em um lugar estratégico (cachoeira) seria um núcleo,

ou um entroncamento, na rede de caminhos aquáticos e terrestres amazônicos, que era

realizado trocas comerciais, rituais festivos de iniciação, trocas de mulheres, alianças políticas

ou simples festanças com bebidas para facilitar futuras negociações. Neste, a presença de

determinados elementos estilísticos “exógenos” seria explicado pelo contato e troca verbal

entre as oleiras de grupos distintos durante alguns eventos no sítio (ALMEIDA, 2013, p. 298).

De acordo com a segunda hipótese, a grande diversidade estilística do sítio seria

devido à imensa variabilidade vinda de fora por parte de um dos grupos que ocuparam o sitio,

do que pelas trocas em redes de comércio, onde estes elementos encontrados na cerâmica

eram difundidos principalmente para fora do núcleo. De acordo com essa hipótese explicaria

o aparecimento da Tradição Polícroma no alto Madeira: Grupos autóctones (Aruak) de estilo

alóctone (Tradição Póco) teria subido o rio e estaria no principal entroncamento da rede de

contatos do alto rio Madeira, os grupos falantes do tronco Tupi na qual teria encontrado este

grupo disposto a explorar relações de trocas (simbólica e econômica) que teria originado a

primeira cerâmica polícroma da Amazônia, este grupo teria descido o rio com uma relação

mais predatória (ALMEIDA, 2013, p. 310).

Zuse (2014) pesquisou o alto curso do rio Madeira, entre a cachoeira de Santo Antônio

e a foz do rio Jaciparaná, na qual a autora estudou a variabilidade cerâmica de quatorze sítios

arqueológicos, com o intuito de caracterizar as ocupações indígenas da região a partir da

análise comparativa, identificando cinco conjuntos tecnológicos, que de acordo com a autora,

representam diferentes identidades sociais e culturais.

O primeiro conjunto tecnológico é caracterizado pelas ocupações ceramistas mais

antigas, datada entre 3.000 e 1.500 anos atrás, podendo ser ainda mais antigas. Estas

cerâmicas foram identificada nos sítios Vista Alegre, Foz do Jatuarana, Boa Vista, Santa

Paula, Teotônio, Veneza e Garbin. Esta cerâmica é caracterizada pela uma pasta com baixa

inclusão de quartzo, com antiplástico caraipé e carvão; queima reduzida; a superfície alisada

com aplicação de barbotina e do engobo vermelho, laranja, vinho e branco, bem como

pinturas feitas no lábio ou na face externa das vasilhas associada algumas vezes a incisões.

Tratamentos plásticos apresentam uma grande diversidade, com predomínio das incisões,

como também o escovado, acanalado, ungulado, exciso (associado ou não com inciso), raros

modelados e apliques zoomorfos; ocorrem incisões duplas paralelas feitas no lábio, flange ou

nas bordas expandidas. As morfologias das vasilhas variam de boca circular a não circular,

presença de flange labial e mesial, com bordas de diferentes inclinações, espessamentos e

formas dos lábios; ocorrem vasilhas com pescoço, rasas com a borda bastante inclinada

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(pratos) e a presença de vasilhas com pontos angulares próximos a bordas. As bases

predominam convexas côncavas, sendo que algumas vasilhas ocorrem plano-côncavas com

reforço na junção com o corpo da vasilha. . Por apresentar características tecnológicas e

contextuais semelhantes este conjunto está associado aos complexos cerâmico Pocó e

Açutuba (ZUSE, 2014).

O segundo conjunto foi localizado um pouco mais afastados das cachoeiras de Santo

Antônio e Teotônio, sendo identificado nos sítios Morros dos Macacos I, Vista Alegre e Foz

do Jatuarana. Esta cerâmica foi definida por uma pasta com alta inclusão de elementos

minerais, com uma queima oxidante. As superfícies das vasilhas são polidas a bem alisadas,

com ausência de engobo e pinturas. Entre os tratamentos plásticos, ocorrem incisos,

modelados e ponteados, localizados na parte superior das vasilhas, sendo que as incisões são

mais largas e com as sessões côncavas, diferente da cerâmica mais antiga. Os motivos

apresentam menor variedade, com predomínio das linhas circulares e horizontais e com os

modelados abstratos. Algumas vasilhas apresentam flanges labiais ou bordas expandidas;

bordas diretas inclinadas externamente e ausência de ângulos nas paredes (ZUSE, 2014, p.

385-386).

O terceiro conjunto tecnológico está próximo às cachoeiras de Santo Antônio e

Teotônio, nos níveis superiores dos sítios Ilha de Santo Antônio, Santa Paula e Brejo; bem

como nos níveis inferior dos sítios a montante Ilhas São Francisco, do Japó e das Cobras,

entre as cachoeiras do Teotônio e Morrinhos. Este conjunto é caracterizado por ocupações

portadoras da cerâmica Barrancóide, datada entre 1.500 e 700 AP. Esta cerâmica apresenta

uma pasta com baixa inclusão de elementos minerais e queima reduzida. As superfícies das

vasilhas são bem alisadas, polidas e brunidas, presença de barbotina e engobo vermelho, raros

fragmentos com pinturas. Os tratamentos plásticos são as incisões, algumas vezes junto ao

modelados e apliques, inciso e ponteado, roletado (na borda) e modelado (lábio com bicos ou

ondulações). A espessura das paredes á fina, variando entre 6 e 10 mm, ausência de carenas,

mas são frequentes as inflexões (pescoço e bojo). Predomina as bordas contraídas e com

bastantes lábios com acabamento irregular (partes planas e partes arredondadas). As bases

prevalecem convexas-côncavas e as anelares; ocorre presença de asas e alças com também a

reciclagem de fragmentos cerâmicos (possíveis adornos e fusos). Ocorrem bolotas de argilas,

lâminas e adornos polidos. Todos esses materiais de ocorrem junto ao denso pacote de terra

preta (ZUSE, 2014, p. 387-388).

O quarto conjunto tecnológico foi identificado nos níveis superiores dos sítios Ilha São

Francisco, Ilha das Cobras, Ilha do Japó e Ilha Dionísio, não possuindo datação. Ocorre uma

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cerâmica com a pasta com predomínio de cauixí, além do cariapé e do mineral ocorrem

isolados, queima oxidante, baixa presença de decorações plásticas e pintadas; ocorrem

fragmentos mais espessos, bordas com espessamento linear e expandida e a presença de

trempes, gravuras rupestres, feições de polimentos e possível contexto funerário no sítio Ilha

Dionísio (ZUSE, 2014). Segundo a autora, a cerâmica encontrada esporadicamente nos sítios

a jusante seriam resultante de trocas com os grupos da montante. De acordo com a autora foi

possível identificar semelhanças destes contextos a fase Paredão da Amazônia Central,

Axinim do baixo Madeira e a tradição Descalvados no Pantanal de Cáceres, entretanto a falta

de datação e o tamanho das amostras analisadas nos sítios do alto rio Madeira não é possível

associar a nenhuma destas tradição.

O quinto conjunto tecnológico está associado aos portadores da Tradição Polícroma da

Amazônia, identificado nos setor 3 do sítio Boa Vista, nos sítios Morros dos Macacos I e

Coração e nos níveis superficiais dos sítios Vista Alegre, Ilha de Santo Antônio e Santa Paula.

A cerâmica deste conjunto é caracterizada com adição de cariapé na pasta, superfície bem

alisada e polida, ocorre pintura vermelha e branca ou preta e branca na face externa, presença

incisões finas sobre a pintura branca em motivos complexos. Apresenta formas infletidas,

compostas ou complexas; bases predominam convexas côncavas e lábios arredondados,

planos ou biselados. Autora chama atenção para a difícil identificação das ocupações da

Tradição Polícroma da Amazônia próxima às cachoeiras em razão da mistura dos fragmentos

cerâmico com pinturas com os fragmentos da cerâmica Barrancóide (ZUSE, 2014).

Segundo Zuse (2014) as cerâmicas antigas dos sítios entre as cachoeiras (Santo

Antônio e Teotônio) pode esta relacionada à presença dos povos de matriz cultural Arawak na

região, em um período mais antigo (3.000-2.000 AP), sendo que as ocupações destes povos

estariam bastante consolidadas em 1.000 AP., estabelecendo redes de trocas de objetos,

conhecimentos e pessoas com os grupos das cachoeiras a montante (Ilhas Dionísio, do Japó,

das Cobras e São Francisco), quando estas passaram a ser ocupadas por grupos distintos. A

autora entende que essa grande variabilidade existente entre os sítios das cachoeiras a jusante

e a montante estar relacionada à presença dos povos de matriz cultural Arawak, que seriam

grupos com característica expansionistas, que adquiriam relações históricas com outros povos

de línguas distintas, ocasionado em contextos multilinguísticos e culturais, absorvendo

identidades étnicas e sociais que causariam mudanças na cultura material.

Vassoler (2014) estudou os motivos iconográficos presentes nas vasilhas cerâmicas da

subtradição Jatuarana de cinco sítios arqueológicos na região do alto rio Madeira, sendo eles

os sítios Morro dos Macacos I, Ilha de Santo Antônio, Coração, Brejo e Boa Vista. O autor

29

concluiu que existe uma variabilidade iconográfica nos artefatos e nas vasilhas desta

subtradição, como também a repetição de motivos que formam padrões gráficos distintos. Por

outro lado foi possível observar que motivos gráficos existentes da subtradição Jatuarana

podem ser encontrados em cerâmicas de outras fases da Tradição Polícroma da Amazônia.

Pessoa (2014) pesquisou dois sítios arqueológicos (Ilha de Santo Antônio e Novo

Engenho Velho) localizados próximos à cachoeira de Santo Antônio, propondo investigar as

sociedades ceramistas que ocuparam essa região do alto rio Madeira no período pré-colonial

tardio, através da cultura material. O autor corrobora com a ideia de Zuse (2014), de que

grupos portadores de cerâmica Barrancóide ocuparam a Ilha de Santo Antônio por volta do

século X, possuindo vasos cerâmicos com uma alta variedade de técnicas decorativa,

resultado de contatos e intercâmbios no passado e que aos poucos esses grupos foram cedendo

o trecho encachoeirado para os produtores da cerâmica da subtradição Jatuarana, identificada

neste sitio pelo autor. Esta transição teria acontecido de forma lenta revestidas de interações

ocorridas antes do segundo milênio. O autor aponta que o sítio Ilha de Santo Antônio além de

ser um sítio habitacional e um lugar de cerimônias, encontros e intercâmbios, que alguns

atributos da cerâmica analisada como o antiplásticos de caraipé, queima oxidante e redutora,

alisamento fino e polimento se mantém ao longo do tempo, ao contrário quando se comparado

os acabamentos de superfície com maior tendência de engobo nos níveis mais superficiais e

dos tratamentos plásticos nos níveis profundos, apresentando uma mudança ao longo do

tempo. Segundo o autor essa mudança está ligada a transição da cerâmica Barrancóide para a

Polícroma que teria ocorrido de forma gradativa mantendo alguns aspectos tecnológicos.

Já no sítio Novo Engenho Velho as vasilhas são diferentes de outras ocupações da

Tradição Polícroma do médio e baixo rio Solimões, havendo apenas semelhanças no reforço

externo dos lábios das vasilhas e em algumas formas de gargalo. E visto que neste sitio há

uma padronização da cerâmica Polícroma entende-se que este grupo não adotou a mesma rede

de relações de trocas feitas nas cachoeiras.

As primeiras pesquisas arqueológicas na Amazônia tiveram forte influência da

ecologia cultural norte-americana, do determinismo ecológico e do neo-evolucionismo onde

análise do material cerâmicos priorizava a identificação de fases e tradição, levando em conta

apenas elementos como o tipo de antiplástico e a decoração sem perceber as variações das

escolhas na diferentes etapas da cadeia operatória como: pasta, queima, forma, acabamentos

de superfície e marcas de uso. Na região do alto rio Madeira esta premissa se resumiu na

identificação da Subtradição Jatuarana englobando tudo á esta subtradição, entretanto

pesquisas recentes de Almeida (2013) e de Zuse (2014) mostram que a Subtradição Jatuarana

30

(TPA) ocorreu em um período mais recente, evidenciando uma grande variabilidade

tecnológica e cultural nessa área, bem como contribuindo para a história indígena no Alto rio

Madeira.

31

CAPÍTULO 2. CARACTERIZAÇÃO E LOCALIZAÇÃO DO SÍTIO

ARQUEOLÓGICO GARBIN.

O sítio arqueológico Garbin localizava-se no município de Porto Velho, estado de

Rondônia, em um terraço fluvial, na margem direita do rio Madeira, próximo à antiga

cachoeira de Santo Antônio. Foi encontrado e escavado no Projeto de Arqueologia Preventiva

nas áreas de intervenção da UHE Santo Antônio/RO, realizado pela Scientia Consultoria

Cientifica, e por se situar no canteiro de obras da usina, foi diretamente impactado na sua

construção.

O rio Madeira é o ultimo tributário na margem direita do sistema Solimões-Amazonas,

resultante da confluência dos rios Beni, Mamoré e Guaporé. É considerado um rio de águas

brancas, mas invariavelmente turvas, pois carregam uma grande quantidade de sedimentos

como silte, argila e areia que são transportados desde os Andes, pelo rio Beni e depositados

em suas várzeas (RIMA, 2005; CPRM, 2010).

Figura 1: Bacias hidrográficas de Rondônia. Fonte: CPRM 2010

De acordo com Tizuka (2013), o rio Madeira apresenta um sistema de múltiplos

canais, com desnível topográfico não muito acentuado, sistemas de ramificação que levam a

formações das ilhas temporárias ou estáveis e canais abandonados. Seu traçado está

condicionado principalmente aos falhamentos, mas seu regime e transporte ocorreram no final

do Pleistoceno, junto com o fim do Último Máximo Glacial, entre 15.000 e 8.000 AP.

32

No trecho superior, entre Abunã e Porto velho, é chamado de alto rio Madeira, onde

apresentava grande número de corredeiras, travessões, saltos e planícies de inundação. Os

seus principais afluentes dentro do estado de Rondônia, pela margem direita são os rios

Jaciparaná, Mutum-Paraná e Jamari e pela esquerda os rios Abunã e Caripunas. Já o baixo rio

Madeira possui 341 km de extensão, desde a sua nascente até a cachoeira de Santo Antônio

(CPRM, 2010; TIZUKA, 2013; ZUSE, 2014).

A vegetação da região onde se insere o sítio Garbin é caracterizada como de Floresta

pluvial amazônica, composta por floresta muito densa (TIZUKA, 2013). O clima da região é o

equatorial, com temperaturas altas aliadas a uma grande umidade, sendo que os meses mais

secos são maio, junho e julho e os mais chuvosos outubro, novembro e dezembro, enquanto

que a média anual da temperatura do ar e entre 24 a 26 °C (TIZUKA, 2013; ZUSE, 2014).

A região pertence ao Cráton Amazônico, entidade geotectônica que abrange a área de

estudo na porção noroeste de Rondônia, e apresenta registros de uma evolução geológica

policíclica, que resultou na formação de um substrato rochoso que teve a sua geração a partir

de 1,78 Ga, formada devido aos sucessivos episódios de magmatismo, metamorfismo,

sedimentação e deformação que culminaram na formação de diversos materiais rochosos e de

depósitos minerais (CPRM, 2010). A Unidade Geomorfológica da região e caracterizada por

três grandes categorias: de agradação, que são às planícies aluviais, terraços fluviais,

depressões, lagos e congêneres; de degradação, com formas de relevo submetido a processos

erosivos intensos como alinhamentos de morretes, superfícies de aplanamento, agrupamento

de morros e colinas com e sem controle estruturais, superfícies tabulares e cuestas; e de

intemperismo, abrangendo os areais brancos com escoamento impedido (CPRM, 2005). O

relevo da região configura-se pelo predomínio de extensas superfícies aplainadas, com formas

suaves e de baixa amplitude, e com maior ou menor grau por processos de dissecação

(CPRM, 2005; TIZUKA, 2013).

Tizuka (2013) pesquisou a região do Alto rio Madeira, entre as cachoeiras do Teotônio

e Santo Antônio, com objetivo de fazer um refinamento do mapa geomorfológico pré-

existente na região associados aos dados dos sítios arqueológicos pré-coloniais localizados

nas planícies aluviais. A autora identificou 139 sítios pré-coloniais, localizados em ambas as

margens do rio Madeira, nas ilhas e em compartimentos topográficos variados, como

planícies aluvionares de rios principais, terraços fluviais altos e baixos, superfícies de

aplainamento e em platôs lateríticos. Estes sítios evidenciaram materiais cerâmicos e/ou

líticos e/ou gravuras rupestres. De acordo com a autora os sítios encontrados representaram

apenas uma amostra devido ao fato das atividades de prospecção arqueológica priorizar a área

33

de influência direta do reservatório dos empreendimentos hidrelétricos. Na figura 2 modelo de

evolução da planície do rio Madeira.

Figura 2: Modelo de evolução da planície do rio Madeira- Tizuka, 2013, p.85.

O sítio arqueológico Garbin localiza-se em um terraço fluvial na margem direita do rio

Madeira, próximo à antiga cachoeira de Santo Antônio. É um sítio multicomponencial, com

ocupações pré-ceramistas e ceramistas. Quando foi identificado em 2008, a vegetação era

composta por capoeira recente e vegetação rasteira, com uma variedade muito grande de

plantas no entorno, como Myrtus (murtinhas), Psidium longipetiolatum (Goiaba-araçá),

Pteridium aquilinum (samambaia brava), entre outras espécies (SCIENTIA, 2008).

Possui localização privilegiada na paisagem, por está próximo ao curso do rio Madeira

e da cachoeira de Santo Antônio. As cachoeiras seria lugar significativo e persistente, que se

destacam na paisagem local, em função da pesca abundante e do valor simbólico atribuído, e

no passado estes locais foram intensamente transformados (ALMEIDA, 2013; ZUSE, 2014).

De acordo com Almeida (2013, p. 98) a região da cachoeira de Santo Antônio e a chave para

o entendimento das ocupações humanas na bacia do Madeira, tanto no período pré-colonial,

colonial e recente.

No entorno do sítio arqueológico Garbin estão presentes outros sítios que foram

localizados e escavados, como o Brejo, Campelo, Catitu, Novo Engenho Velho, Ilha de Santo

Antônio, Igarapé do Engenho e o Veneza. Estes sítios foram estudados nas pesquisas de Costa

(2013), Zuse (2014), Pessoa (2015) e Santos (2015).

34

Figura 3: Localização dos sítios arqueológicos próximos à cachoeira de Santo Antônio. (Fonte: Google

Earth).

O Sítio arqueológico Garbin foi encontrado em um processo não sistemático de

avaliação de um ramal transversal do acesso Monte Cristo, a partir da realização de um furo-

teste na coordenada 20L 394704, 902808, executado com uma cavadeira tipo “boca de lobo”

que atingiu mais de 100 cm de profundidade, encontrando-se uma camada de terra preta. Para

confirmação da ocorrência arqueológica foram executados outros furos-testes, confirmando a

presença de materiais arqueológicos em profundidade de cerca de 80 cm com presença de

terra preta, constatando a existência de um sítio arqueológico (SCIENTIA, 2011).

Na sequência foi feita a delimitação do sítio, realizada através de furos-testes em uma

malha regular de 20 em 20 m, em níveis artificiais de 20 cm (Figura 4), com peneiramento do

sedimento separado de acordo com os níveis artificiais, com as descrições de suas

características, assim como também dos materiais encontrados que receberam um número de

proveniência (NP) em todos os níveis. Esta metodologia fornece informações para selecionar

áreas a serem escavadas, além de verificar as dimensões do sítio horizontalmente e

verticalmente (ZUSE, 2014, p. 94).

35

Figura 4: Croqui indicando os furos-testes em uma malha regular de 20x20 m. Círculos azuis representam

furos negativos. Círculos vermelhos representam furos com material arqueológico cerâmico, e círculos

verdes representam furos com material arqueológico lítico. Círculos concêntricos vermelhos e verdes

indicam ocorrências de material arqueológico lítico e cerâmico no mesmo furo (SCIENTIA, 2012).

Na parte sul do sítio havia um desnível abrupto, e nessa área a camada arqueológica

era menos espessa, sendo que a camada de Terra Preta diminui em espessura nessa direção,

ocorrendo simultaneamente um aumento nas concentrações de cascalhos lateríticos em

profundidade nessas áreas. Já ao norte do sítio, os níveis mais profundos eram caracterizados

por latossolos argilo-arenosos amarelados ou avermelhados e arqueologicamente estéreis

(SCIENTIA, 2012).

Em relação à distribuição espacial dos vestígios arqueológicos no sítio percebe-se que

há certa sobreposição entre a distribuição do material lítico e do material cerâmico,

apresentando áreas de concentrações diferentes entre uma categoria e outra (Figura 5). O

material cerâmico concentra-se em áreas bem mais restritas, enquanto o material lítico

concentra-se em mais de duas regiões com picos de densidades. Na maior parte do sítio ocorre

material lítico em associação com a cerâmica, sendo que este último ocorre com baixa

densidade (SCIENTIA, 2012).

36

Figura 5: Mapa de densidade dos materiais cerâmicos e líticos do sítio Garbin, respectivamente. (Scientia,

2012).

As escavações no sítio foram feitas em duas etapas, uma em 2008 e outra em 2010.

Em 2008 foram escavadas 50 unidades de 1m², em níveis artificiais de 10 cm e com controle

das camadas arqueológicas, registrando a quantidade de materiais, as características do

sedimento e o desenho do perfil. As camadas foram identificadas no perfil e descritas de

acordo com a cor, textura e compactação do sedimento, com a quantificação dos materiais

arqueológicos presentes no perfil (ZUSE, 2014, p. 94). Nestas escavações realizadas em 2008,

as camadas foram denominadas por números romanos, da base para o topo. Já em 2010, a fim

de complementar as informações obtidas em 2008, foram realizadas outras escavações, sendo

reabertas algumas escavações realizadas em 2008 e escavadas outras unidades na área mais

preservada do sítio.

Foram evidenciadas duas ocupações no sítio, uma mais recente caracterizada como

uma ocupação ceramista, contendo materiais cerâmicos e líticos junto à terra preta, e outra

pré-ceramista com material lítico em terra preta mais antiga. A principal questão levantada

pelos trabalhos de campo foi em relação às características estratigráficas e aos materiais

líticos associados à terra preta, semelhante aos contextos evidenciados no rio Jamari por

Eurico Miller, da fase Massangana, que seria uma das terras pretas mais antigas da Amazônia.

De acordo com Miller (1992; 1992a; 1999;) fase a Massangana datada entre 4.780 ± 90 e

2.640 ± 60 a.P, seria a primeira etapa do período formativo com material lítico associado ao

solo de terra preta antropogênica, dando início a prática de agricultura incipiente e a

domesticação de plantas (Palmeira Urucurí) em pleno Óptimum Climático.

37

De acordo com o relatório de triagem e com o inventário de materiais arqueológicos

fornecidos pela Scientia, foram escavadas cinquenta unidades de 1 m² no sítio Garbin no ano

de 2008, e foi aberta uma trincheira (N944 E992, N948 E1000, N950 E1000, N952 E 1000,

N954 E 1000, N956 E 1000, N994 E990). Muitas unidades contíguas foram escavadas, como

N 1011 E 979 e N 1012 E 979; N 879 E 1000 e N 880 E 1000; N 899 E 1018, N 899 E 1019,

N 899 E 1020, N 900 E 1017 e N 900 E 1018; N 960 E 980, N 960 E 981 e N 960 E 982; N

981 E 1000 e N 981 E 1001; N 981 E 976 e N 981 E 977; N 981 E 987, N 981 E 988, N 981

E 994, N 981 E 995, N 981 E 996, N 981 E 997 e N 981 E 999. De acordo com o inventário, a

coleção de fragmentos cerâmicos existentes no sítio possui 3.060 fragmentos cerâmicos.

Em 2010, a fim de testar as hipóteses anteriormente levantadas foram realizadas outras

escavações no sítio Garbin. Algumas escavações realizadas em 2008 foram reabertas, e outras

unidades foram escavadas na área mais preservada do sítio, entre elas a 20 L E0394702

N9028049, E0394690 N9028013, e uma área com dez unidades contíguas com coordenada de

referência E0394699 N9028013. Foi também escavada uma trincheira com a coordenada de

referência E0394691 N9028013 e retirado um bloco testemunho na coordenada E394692

N908014.

Figura 6: Representação das unidades escavadas (resgate arqueológico em 2008).

Foram obtidas sete datações para o sítio Garbin, sendo quatro delas relacionadas ao

período pré-cerâmico, entre 7.700 e 4.900 antes do presente, e três datas do período cerâmico,

as quais são colocadas na tabela abaixo.

Unidade Nível (cm) Datação Convencional (AP) Código do laboratório

9027940

9027960

9027980

9028000

9028020

9028040

9028060

9028080

9028100

Colu

mn 2

394620 394640 394660 394680 394700 394720 394740 394760

Column 1

Unidades abertas em 2008

(N 981 E 988) Datada: 480+-40

(N 981 E 941) Datada: 1710+-40

(N 960 E 982) Datada: 7740+-50

(N 960 E 1015) Unidade reaberta em 2010

(N 900 E 1017) Datada: 4910+-50

Bivariate Scattergram

Split By: Column 3

38

N981 E941 75 1.710±40 Beta - 260335

Quadra 3x3m

(2010)

90 1.280 ± 30 Beta - 294087

Quadra 3x3m (2010) 50 990± 30 Beta – 294086

N981 E 988 17 480± 50 Beta - 260336

Tabela 1: Datações do sítio Garbin fornecidas pela Scientia Consultoria Científica (Fonte: Zuse, 2014, p.

179).

A seguir descrevemos as escavações realizadas nas unidades N981 E941, N981 E988,

N960 E982 e N900 E1017, escavadas em 2008, cujas cerâmicas foram analisadas neste

trabalho.

A unidade N981 E941 compõe junto com a N980 E941 e N982 E941, uma trincheira

de 3x1m, escavada até 190 cm, em um local do sítio onde foram coletados mais materiais

cerâmicos durante a prospecção. Nestas unidades, a cerâmica apareceu entre os níveis 0-10

cm e 110-120 cm. No nível 120-130 cm ocorreram bolotas de argilas em grandes quantidades,

e o lítico lascado e polido ocorreu entre 0-10 cm ate 150 cm de profundidade. Nesta unidade

foram identificadas seis camadas estratigráficas (I, II, III, IV, V, VI) (figura 7), sendo elas:

camada I, entre 180-185 cm de profundidade, possui sedimento muito compacto, de coloração

avermelhada, estéril arqueologicamente. A camada II, entre 130 e 185 cm, apresenta

sedimento e coloração 7.5 YR 5/8 (strong brown), textura argilo-arenosa, úmido, com muitas

inclusões de cascalho, apresentou material lítico, e uma possível bioturbação (mancha de

sedimentação mais escura com presença de raízes). A camada III foi dividida em III A e III B.

A camada III B, entre 110 e 140 cm, também possui sedimento argilo-arenoso, muito

compacto e úmido, porém com coloração 10 YR 4/6 (dark yellowish brown), com material

arqueológico. A camada III A, entre 80 e 120 cm, apresentou sedimento de coloração 10 YR

3/3 (dark brown), argilo-arenoso, úmido e de baixa compactação, com material arqueológico,

e com presença de bioturbações (formigueiros e pequenas raízes). A camada IV,

predominante entre 30 e 80 cm, com sedimento de coloração 10 YR 4/3 (brown), argilo-

arenoso e com baixa compactação, com material arqueológico. A camada V, predominante

entre 10 e 30 cm, apresentou sedimento de coloração 10 YR 4/6 (dark yellowish brown),

argilo-arenoso e com baixa compactação, apresentou material arqueológico, com presença de

raízes e tubérculos. A camada VI é a camada superficial, com 10 cm de espessura, é a

camada húmica, com coloração 10 YR 3/2 (very dark grayish brown), argilo-arenoso, com

material arqueológico e presença de gramíneas, raízes e tubérculos. De acordo com os dados

do relatório de campo, a camada III seria a mais escura, com presença de material lítico,

39

correlacionada à fase Massangana identificada por Miller et al (1992) no rio Jamari. A

cerâmica está associada principalmente às camadas IV, V e VI, e foi obtida uma datação de

1.710±40 com um carvão coletado a 75 cm de profundidade, início da camada IV e

possivelmente das ocupações ceramistas nesse local do sítio.

Figura 7: Perfil sul da unidade N981 E941 (SCIENTIA, 2012).

40

Figura 8: Croqui - desenho do perfil norte da unidade N981 E941 (SCIENTIA, 2012).

As unidades contíguas N981 E987 e N981 E988 foram escavadas até 180 cm, onde foi

evidenciada quatro camadas estratigráficas (figura 9). A camada I, identificada na base da

escavação, possui sedimento de coloração 7.5 YR 5/6 (strong brown), argilo-arenoso, pouco

úmido e muito compacto, com presença de cascalho, estéril arqueologicamente. A camada II,

entre 120 e 180 cm, foi dividida em IIA e IIB pela presença de cascalho em algumas partes da

mesma. Esta camada possui sedimento de coloração 10 YR 5/8 (yellowish brown), argiloso,

pouco úmido e compacto, sem material arqueológico. A camada III, entre 50 e 110 cm, foi

dividida em IIIA e III V. A camada III B possui sedimento mosqueado entre 10 YR 3/2 (very

dark grayish brown) e 10YR 5/8 (yellowish brown), argiloso, úmido e pouco compacto, com

presença de pouco cascalho, e pouco material arqueológico; a camada IIIA possui coloração

10 YR 3/2 (very dark grayish brown), argiloso, úmido e pouco compacto, com material lítico

lascado em quartzo em maior quantidade. No nível 80-90 cm apareceram blocos de granito

estruturados. A camada IV, entre 0-10 cm e 50-60 cm, possui sedimento 10 YR 3/3 (dark

brown), argilo-siltoso, pouco úmido e pouco compacto, com cerâmica e lítico, e presença de

bioturbações. Portanto, a cerâmica ocorre na camada IV, e o lítico, associado pelos

pesquisadores de campo à fase Massangana, ocorre na camada III, mais escura. Foi obtida

41

uma datação radiocarbônica de 480± 50 AP com um carvão coletado a 17 cm de

profundidade.

Figura 9: Croqui - desenho do perfil norte da unidade N981 E987-988 (SCIENTIA, 2012).

Analisamos a cerâmica da unidade N960 E982, a qual compõe uma trincheira de 3 x

1m, com as unidades N960 E980, N960 E981, escavada até 190 metros de profundidade. A

cerâmica foi predominante até cerca de 60 cm, com maior ocorrência em 30 cm, e o material

lítico ocorreu desde a superfície até 90 cm de profundidade. Foram identificadas cinco

camadas estratigráficas (croqui 10). A camada I, identificada no nível mais profundo, possui

coloração mosqueada, 10 YR 4/6 (dark yellowish brown) e 10 YR 6/8 (brownish yellow),

muito compacta e intemperizada, com blocos de tamanhos variados, estéril

arqueologicamente. A camada II foi dividida em IIA e IIB, entre 100-190 cm de

profundidade. A camada IIA, possui coloração 10 YR 5/8 (yellowish brown), úmido e com

compactação média, presença de cascalho e ausência de material arqueológico. A camada IIB

possui coloração mosqueada 10 YR 3/2 (very dark grayish Brown) e 10 YR 5/8 (yellowish

brown), com presença de pequena concreções lateriticas. A camada III, predominante entre 80

e 120 cm, possui coloração 10 YR 3/4 (dark yellowish brown), com alta densidade de

materiais líticos lascados, lateritas polidas e blocos que variam de 2 a 9 cm. A camada IV,

entre nível 0-10 e 90-100 cm, possui coloração 10 YR 3/3 (dark brown), com presença de

42

material lítico e cerâmico. A camada V é superficial e húmica, coloração 10 YR 2/2 (very

dark brown), com atividade biológica visível e presença de radículas. Portanto, nessas

unidades a camada III, mais escura e com material lítico, foi associada à Fase Massangana, e a

cerâmica ocorre somente na camada IV.

Figura 10: Croqui - desenho do perfil sul da unidade N960 E981 (Scientia, 2010).

As unidades N899 E1018, N899 E1018 e N900 E1017 foram escavadas ate 140 cm de

profundidade, com cerâmica entre 0-10 e 30-40 cm e lítico até o nível 70-80 cm. No relatório

e fichas de campo há poucas informações sobre a estratigrafia desta escavação. Nos níveis 50-

60 cm à 80-90 cm foi evidenciada a estrutura de combustão denominada E1, composta por

pedaços grandes de carvões e lateritas, sobre uma terra preta (10 YR 2/1 black), de textura

argilo-arenosa e consistência muito solta (figura 11). A partir dos dados existentes,

imaginamos que esta estrutura esteja associada à ocupação pré-ceramista existente no sítio.

Estruturas semelhantes foram evidenciadas em 2010, na escavação de 3 x 3 m (L E0394702

N9028049), associadas à ocupação pré-ceramista antiga.

43

Figura 11: Croqui da estrutura de combustão da unidade N900 E1017 (Scientia, 2010).

A partir da leitura dos documentos de campo e do relatório, concluímos que a

cerâmica está associada à camada V e o lítico lascado, atribuído à fase Massangana, aparece

na camada III, mais profunda e mais escura. No relatório de campo encontramos uma síntese

interessante da estratigrafia do sítio, elaborada por Eduardo Neves:

“as camadas estratigráficas do Sítio Garbin foram definidas a partir do

exame e interpretação dos perfis estratigráficos das seguintes

unidades: N 980-981-982 E 941 (face W); N 980 E 941 (face S); N

980-981 E 1001 (face W); N 981 E 977-976 (faces N e W); N 981 E

999-1000 (face N). Percebe-se nas descrições que nem todas as

camadas estão presentes em todos os perfis. Em linhas gerais as

estratigrafias mostram uma sequência que inclui, da base para o topo,

um componente pré-cerâmico associado a uma terra preta que

convencionamos denominar de Camada III: esta camada está

sobreposta a uma camada de latossolo argiloso amarelo, que recebeu

a denominação IIB, IIA, e I, que seriam a laterita em diferentes

estágios de intemperização (esta camada pode estar associada a fase

massangana). Nosso grande problema de interpretação é a Camada

IV: trata-se de uma camada, também de terra preta, com materiais

líticos e cerâmicos, bastante espessa, predominantemente argilosa,

com uma variação cromática razoável, de 10YR 3/4 e 10YR 4/4 (dark

yellonish brown), o que nos levou inicialmente a dividi-la em duas

camadas distintas (Camadas IV e V). Posteriormente decidimos que

não havia diferenças significativas o suficiente para manter a divisão e

unificamos as duas camadas em uma só, a Camada IV. No laboratório,

a análise dos materiais deve aferir a acuidade dessa unificação. Pode

ser que tenhamos que dividi-la mais uma vez. Camada V: ocorre

apenas em N980-981-982 E 941. Trata-se de uma camada mais clara,

com materiais arqueológicos, que recobre a Camada IV. A Camada

VI é o horizonte A, que pode ser uma terra preta superficial”

(SCIENTIA, 2010, p. 8).

44

O material lítico do sítio arqueológico Garbin é composto pela matéria-prima

predominante de quartzo, seguida do granito, ocorrendo também quartzo leitoso, quartzo

hialino e granitóides. Os materiais lascados apresentam lascas, fragmentos de lascas, lascas

fragmentadas e microlascas em grandes quantidades, com técnicas unipolar e bipolar.

Também aparecem placas e seixos de granito com pigmentação vermelha devido à possível

raspagem de laterita para a obtenção de algum pigmento, percutores de granito, fragmentos de

lateritas com algumas estrias e sulcos, e fragmentos de lâmina de machado (SCIENTIA,

2009). Todos os materiais líticos foram higienizados e numerados pelo laboratório de

Arqueologia da Scientia Consultoria Cientifica, em Porto Velho - Rondônia. O material

cerâmico deste sítio é alvo desta pesquisa e será caracterizado no próximo capítulo, buscando

evidenciar as variações na tecnologia cerâmica, a partir do diálogo com a bibliografia

existente.

45

CAPÍTULO 3 – ANÁLISE CERÂMICA DO SÍTIO ARQUEOLÓGICO

GARBIN: ABORDAGEM TEÓRICA, MÉTODOS E TÉCNICAS

Neste capítulo iremos apresentar alguns conceitos utilizados na análise do material

cerâmico.

3.1. Conceitos sobre o estudo da tecnologia

O estudo das técnicas e da tecnologia foi mais intensamente explorado pelos

pesquisadores franceses, que inicialmente relacionaram suas pesquisas a evolução das

técnicas, e no decorrer dos anos os etnólogos aplicaram o conceito de cadeia operatória em

suas análises de natureza etnográfica, antes dos arqueólogos, para a descrição das técnicas

tradicionais. Para os arqueólogos, o conceito de cadeia operatória tornou-se uma ferramenta

indispensável no estudo das técnicas das culturas materiais de populações pré-históricas

(ZUSE, 2009).

De acordo com Machado (2007) os conceitos de tecnologia utilizados por diversos

pesquisadores estão associados às diferentes noções de cultura que estariam predominantes

nas correntes teóricas em vigor na antropologia. Correntes como o evolucionismo e o neo-

evolucionismo viam a cultura como uma ferramenta de adaptação ao meio. Dessa forma a

cultura era entendida como uma forma de superar as variáveis ambientais e resolver as

necessidades básicas dos grupos humanos. No entanto sob a corrente teórica da Nova

Arqueologia, diversos autores compreendem a cultura como sistema simbólico, como um

conjunto interligado de conhecimentos e práticas cheio de significados.

Autores como Marcel Mauss, André Leroi-Gourhan e Claude Lévi-Strauss entendem

que a tecnologia é como um signo, carregado de significados que são transmitidos de geração

a geração, vinculado a aspecto da organização social, mística e religiosa (DIAS E SILVA,

2001).

Segundo Schiffer e Skibo (1992 APUD MACHADO 2007), tecnologia é um corpus de

artefatos, comportamentos e conhecimentos para a criação e utilização de produtos, que é

transmitido entre as gerações.

Para Lemonnier (1986 APUD DIAS 2007), a tecnologia á um produto social, sendo as

escolhas tecnológicas estratégias dinâmicas, relacionadas frequentemente com diferenciação e

identidade social. Para o autor a tecnologia é uma preocupação antropológica, pois manifesta

46

as escolhas feitas pelas sociedades dentro de um universo de possibilidades, das quais as

técnicas, em seus aspectos mais materiais, fazem parte.

Os sistemas tecnológicos são constituídos por uma série de conjuntos técnicos. As

técnicas seguem uma cadeia operatória específica, e dentro das etapas dessa cadeia operatória,

os agentes devem fazer uma série de escolhas e combinação de escolhas, o que caracteriza os

conjuntos técnicos e ao final os sistemas tecnológicos (DIAS, 2007).

Para Dias e Silva (2001) a utilização do conceito de sistemas tecnológicos implicar no

entendimento de que as técnicas utilizadas por uma sociedade e não apenas elementos

isolados, mas que estão constituídas sistemicamente. De acordo com as autoras os sistemas

tecnológicos são sistemas de representação social que se caracterizam como um local de

manifestação estilística.

A representação cultural das técnicas e sua classificação por um dado grupo contribuir

para firmar seu caráter sistêmico e ao mesmo tempo reafirmar as identidades culturais nele

representadas (DIAS, 2007).

Para Dias e Silva (2001) o conceito de estilo tecnológico seria o modo como às

pessoas realizam o seu trabalho, incluindo as escolhas feitas por eles no que se refere aos

materiais e as técnicas de produção. Segundo as autoras:

A compreensão deste conceito é fundamental importância para o entendimento dos

conjuntos tecnológicos de diferentes grupos culturais, permitindo compreender o

estilo não apenas como padrão material que se manifesta na morfologia e na

decoração dos artefatos, mas, também como algo que é inerente e subjacente aos

processos de produção a partir dos quais estes aspectos visuais são uma resultante

(DIAS E SILVA, 2001, p. 96).

Segundo Dias (2007) tecnologia, função e estilo são aspectos inter-relacionados do

comportamento, indicando fronteiras sociais e afiliação cultural que podem ser reconhecidas

na cultura material.

De acordo com Dias (2007, p. 64):

O estilo tecnológico ligado a corrente teórica processual e pós-processual entende o

fenômeno estilístico como algo próprio e subjacente aos processos de produção na

qual resultam os aspectos visuais relacionados à forma final dos artefatos. Ou seja,

refere-se a um determinado modo de fazer algo ou alguma coisa, sendo que este

modo de fazer implica em escolhas dentre possibilidades alternativas, sendo próprio

de um determinado tempo e lugar.

47

Sackett (1986 APUD MAGESTE, 2015) considera estilo e função como sendo

indiscrimináveis, negando a existência de qualquer diferença entre elas. Para esse autor, estilo

está presente em todos os aspectos da confecção do artefato, podendo ser considerado como

reflexo de etnicidade e identidades sociais. Já Binford define estilo como independente e

como um resíduo das variações funcional e tecnológica, ou seja, não estaria ligado a itens

utilitários da cultura (PACHECO, 2008).

De acordo com Dias e Silva (2001, p. 96) a variabilidade artefatual resulta de escolhas

tecnológicas que são culturalmente estabelecidas pelos grupos. Para entender a variabilidade e

a variação dos conjuntos artefatuais e preciso aprender os processos a partir dos quais estas

foram resultantes. Segundo as autoras:

Os estilos tecnológicos estão representados nestas escolhas, que se refletem na

seleção das matérias primas, nas técnicas e sequencias de produção escolhidas e nos

resultados materiais destas escolhas, representados pelas diferentes categorias de

artefatos produzidos. O estilo tecnológico pode ser entendido como produto de uma

tradição cultural e seu estudo, relacionado a outros aspectos de ordem contextual,

pode servir como indicador de identidades sociais representadas no registro

arqueológico. Contudo, esta percepção demanda um suporte contextual de análise na

medida em que um estilo tecnológico só adquire sentido quando compreendido

como parte de um sistema tecnológico e este, por sua vez, de um sistema cultural

mais amplo.

Para Schiffer e Skibo (1997 APUD DIAS E SILVA, 2001) a variabilidade dos

conjuntos artefatuais relaciona -se a natureza das escolhas tecnológicas. Para os autores a

variabilidade artefatual está ligada ao conhecimento e experiência do artesão e por aspectos

situacionais. Sendo que o primeiro se refere às diferenças individuais, as estruturas de

aprendizagem, a percepção e decisão de fazer, a transmissão de conhecimento e a tradição

tecnológica. O segundo pertence aos aspectos como a procura do material, a manufatura, o

transporte, a distribuição, o uso, a estocagem, a manutenção e reparo, a reutilização e a

disposição.

Para Silva (2000) a variabilidade formal está relacionada às propriedades físicas de um

artefato que durante a análise deve levar em conta os aspectos como tamanho, espessura,

peso, profundidade, textura, cor, consistência e contorno formal do objeto. A autora, ao

estudar os grupos Assurini e Xikrin, demonstrou a variabilidade formal da cerâmica e da

cestaria que seria resultado de escolhas tecnológicas, feitas pelo artesão. De acordo com a

autora, estas escolhas podem ser de caráter individual ou em grupo, resultante de diferentes

fatores de ordem prática e simbólica. De acordo com autora:

48

Estas escolhas são feitas a partir dos conhecimentos que os artesãos possuem a

respeito das matérias – primas, bem como, dos processos produtivos e das

atribuições utilitárias, estéticas e significativas que estes objetos apresentam. Por sua

vez, e resultado de um longo processo de aprendizagem e da experiência empírica na

confecção destes materiais (SILVA, 2000, p.185).

As escolhas tecnológicas podem ocorrer em qualquer esfera da relação entre agentes,

elementos e energia, ou seja, ao longo de todo o processo produtivo do objeto. Através dos

conhecimentos prévios das possibilidades existentes naquele tempo e lugar, que iram dar

forma a um conjunto artefatual (MACHADO, 2007).

Para a análise dos fragmentos cerâmicos do sítio Arqueológico Garbin utilizou-se uma

ficha (ver ficha de análise cerâmica em anexo A) desenvolvida na tese de doutorado de Zuse

(2014), a qual contém atributos que caracterizam as escolhas das ceramistas em relação à

pasta, técnicas de confecção, de acabamento de superfície, queima e uso. A construção da

ficha foi baseada na seguinte bibliografia: Shepard (1995), Rye (1981), Rice (1997), Orton et

al (1997), Chymz (1976), La Salvia e Brochado (1989), Brochado, Monticelli e Neumann

(1990) e Brochado e Monticelli e Neumann (1990), Brochado e Monticelli (1994), Silva

(2000), Cerezer (2009), Lima (2008), Machado (2005), Garcia (2010, 2012), Panachuk e Cruz

(2010), Dantas e Lima (2006), Neumann (2008, 2010), Zuse (2009), entre outros. Na análise

arqueométricas (ALVES, 1998, 2009; GOULART, 2004; APPOLONI et al, 1997, 2004;

MUNITA, 2005; CUNHA LIMA , 2010; RIZUTTO, 2009) que não puderam ser

contempladas nesta pesquisa. (ZUSE, 2014). Depois de finalizada a etapa de analise dos

fragmentos, os dados foram digitalizados em planilha Excel para criação de tabelas e gráficos,

sendo realizadas correlações entre os atributos.

3.2. Descrição dos atributos analisados

ESCOLHA DA PASTA: a escolha da pasta ocorre a partir da coleta da argila. A argila é

coletada em jazidas ou barreiro. Durante a preparação inicial da argila é realizada a remoção

ou adição de alguns elementos, como alguns grãos minerais (quartzo, mica, óxido de ferro e

feldspato) e restos de materiais orgânicos, de forma a adquirir características propícias para o

fabrico do vasilhame. Em relação aos materiais orgânicos, pode ser adicionado o caraipé

(entrecasca de árvore rica em sílica) que tem como finalidade melhorar a plasticidade da

argila, diminuindo sua capacidade de redução (MACHADO, 2005-2006); o cauixí (espícula

de esponja de água doce) que se apresenta na forma de uma agulha transparente e opaca, com

49

as pontas levemente curvas, o qual deixa a argila mais porosa e com maior capacidade de

suportar e absorver o calor do fogo (GOMES, 2002; MACHADO, 2005-2006).

TÉCNICAS DE CONFECÇÃO: as técnicas identificadas nas vasilhas cerâmicas do sítio

Garbin foram à acordelada no corpo das vasilhas e a modelada em algumas bases. Acordelada

ou roletada consiste na superposição de roletes de argila, montados em espiral, de modo

simultâneo e pressionados para se unirem. Modelada é uma técnica de confecção cerâmica

que implica na utilização dos dedos pressionando uma porção de argila (GOMES, 2002).

QUEIMA: é durante o processo de queima da cerâmica que as propriedades físicas da argila

se alteram, deixando-a mais dura, porosa e estável. No entanto o processo de queima interfere

também na coloração final da cerâmica. Segundo Machado (2005, 2006, p. 107), num

ambiente de queima oxidante a cerâmica adquirir uma coloração mais clara, e em ambiente de

queima redutora a cerâmica obtém os tons mais escuros de cinza. Entretanto, há diversos

fatores que podem alterar a coloração final da cerâmica, como a escolha do local, tipo de

fogueira, combustível utilizado na queima, bem como composição da argila, a posição dos

potes na fogueira e quantidade e qualidade dos antiplástico usados (LA SALVIA E

BROCHADO, 1989; MACHADO, 2005-2006). Para esta pesquisa foi utilizado os cromas da

tabela de Munsell, na qual foram comparadas as cores na face externa, interna e do núcleo dos

fragmentos.

ACABAMENTOS DE SUPERFÍCIE: os acabamentos de superfície têm como finalidade

remover as irregularidades decorrentes da manufatura do vaso, além de impermeabilizar a

vasilha, decorar a superfície, entre outros. Pode ser realizada sobre a pasta ainda úmida ou

seca. Os tratamentos de superfície mais utilizados são o alisamento (fino, médio e grosseiro),

que tem a intenção de deixar a superfície uniforme, mas sem brilho. O alisamento fino

apresenta uma superfície lisa e regular, já o alisamento médio a superfície é porosa e regular e

o alisamento grosseiro apresenta irregularidade, porosidade e rugosidade na superfície. O

polimento geralmente ocorre após o alisamento, sobre uma superfície seca e deixando a

superfície da cerâmica brilhante ou lustrosa (ZUSE, 2014).

Já a brunidura seria um revestimento de cera e fuligem seguida do polimento, dando

uma tonalidade escura e brilhosa na superfície da cerâmica (PROUS, 1992, p. 92). Na análise

não apenas consideramos o aspecto brilhoso (polimento) da brunidura, mas também não

brilhoso, classificamos como brunidura. Outro atributo que foi analisado é a barbotina, que

50

segundo La Salvia e Brochado (1989) é um revestimento superficial de argila refinada

aplicada na cerâmica antes do processo da queima. Já o engobo cobre toda superfície da

cerâmica, tem função de impermeabilizar, e também dar cor á peça, às vezes servindo de base

para a pintura.

A pintura envolve na aplicação de pigmentos sobre a superfície, ou sob a camada de

engobo (ZIMPEL, 2009; ZUSE, 2014), podendo ser monocromática, bicromática ou

policromática, com motivos figurativos e geométricos. Ocorre antes ou depois da queima. Os

tratamentos plásticos seriam a modificação tridimensional da superfície da cerâmica antes ou

depois da queima (LA SALVIA E BROCHADO, 1989), ou seja, uma sequência de técnica e

de expressões, com a utilização de instrumentos distintos, obtendo-se diferentes formas de

impressão. Na análise da cerâmica do Garbin foi possível identificar incisões, ponteados,

inciso e ponteado e apliques. As incisões são uma ação realizada por um instrumento

pontiagudo, permitido a criação de motivos através de sulcos. O ponteado tem como

expressão decorativa o “ponto”, realizado com um instrumento pontiagudo. Às vezes eles

ocorrem associados e intercalados. O aplique são formas geométricas ou figurativas

modeladas que posteriormente e aplicada á superfície da vasilha (ZUSE, 2014).

FORMAS DAS VASILHAS: as diferentes partes das vasilhas (bordas, bases, paredes, bojos,

ombros, carenas, flanges labiais e inflexões) fornecem distintas informações em relação à

forma das vasilhas. As bordas são caracterizadas a partir da forma e inclinação, espessamento,

tipo de lábio, e nas bases são analisadas a forma e o diâmetro. Tanto o diâmetro de abertura

das bordas e bases foi medido em Ábaco. Quando se observa grande parte do perfil da

vasilha, é possível reconstituir sua forma (LA SALVIA E BROCHADO, 1989).

VESTÍGIOS DE UTILIZAÇÃO: os vestígios de utilização estão ligados a possível

utilização da vasilha. Na cerâmica do Garbin foi possível visualizar depósito de carbono

(resultado do uso intensivo da vasilha sobre o fogo) e fuligem (uma camada escura que ocorre

geralmente no bojo e na borda, na face externa, decorrente do uso sobre o fogo), também

fermentação na face interna.

ESTADO DE CONSERVAÇÃO: de acordo com Almeida (2013) o estado de

conservação, em geral, não faz parte das possibilidades de escolhas das oleiras, e sim dos

processos tafonômicos que ocorrem após a peça cerâmica deixar de ser utilizada e entrar no

contexto arqueológico, mas também pode ser consequência do uso da peça, devido ao contato

51

e atrito de instrumento (uma colher) durante a preparação dos alimentos. No Garbin foram

identificados fragmentos bem conservados, erodidos, com uma superfície ausente, com

decoração vestigial, com crosta sedimentar e marcas de raízes.

O sítio Garbin possui uma baixa frequência de fragmentos cerâmicos, se comparado a

outros sítios próximos, no rio Madeira. Além disso, a cerâmica é bastante fragmentada. Em

função disso, decidiu-se analisar todos os fragmentos cerâmicos de quatro unidades (N981

E941, N981 E988, N960 E982 e N900 E1017), escavadas em 2008, sem distinguir entre

fragmentos diagnósticos e não diagnósticos, como comumente os arqueólogos fazem ao

analisar coleções de grandes sítios amazônicos, a exemplo de Almeida (2013) e Zuse (2014)

que abordaram coleções do alto rio Madeira. O restante da cerâmica do sítio Garbin foi triada,

separando-se apenas fragmentos que fornecem informações sobre a forma e as decorações das

vasilhas, a fim de conhecer a coleção e comparar com os materiais analisados das quatro

unidades. Esta caracterização em relação à forma e decoração trouxe informações relevantes

para a compreensão do sítio, e a realização de uma análise tecnológica destes fragmentos no

futuro poderá complementar a caracterização das escolhas tecnológicas no sítio Garbin.

52

CAPÍTULO 4 – ANÁLISE DA CERÂMICA DO SÍTIO ARQUEOLÓGICO GARBIN

A seguir apresentaremos os resultados da análise dos materiais das unidades N981

E941, N981 E988, N960 E982 e N900 E1017 escavadas em 2008, totalizando 106 fragmentos

cerâmicos analisados. Em seguida faremos a caracterização da cerâmica diagnóstica das

demais áreas escavadas no sítio. Com a análise e a triagem dos fragmentos cerâmicos do sítio

Garbin pretendemos caracterizar a ocupação do sítio de modo perceber as continuidades e

mudanças na tecnologia cerâmica.

4.1. Análise da cerâmica da Unidade N981 E941

Esta unidade foi datada em 1.710 AP. (75 cm), apresenta ao todo 24 fragmentos de

vasilhas, escavados entre a superfície e 70 cm de profundidade, e em função da remontagem

de dois deles, trabalhamos com um número de 22 peças. Os níveis 50-60 e 60-70 cm

apresentam maior quantidade de fragmentos (Gráfico 1).

Gráfico 1: Quantidade de fragmentos por nível – unidade N981 E941

Sobre a escolha da pasta, a análise indicou o uso predominante do mineral, bem como

do mineral junto ao caraipé A e o carvão, ambos com 8 fragmentos (36,36%) (Gráfico 2). Já

em relação aos tipos de minerais, ocorre com maior frequência o quartzo associado ao óxido

de ferro (18 fragmentos; 81,82%) (Gráfico 3).

1

4

3

1

8

7

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10_20 20-30 30-40 40-50 50-60 60-70

Quantidade por nível

53

Gráfico 2: Tipo de antiplástico – unidade N981 E941

Figura 12: Fotografias das pastas: Mineral e carvão; somente mineral; e mineral, caraipé A e carvão,

respectivamente.

Gráfico 3: Tipo de minerais – unidade N981 E941

Observa-se que as ceramistas estavam escolhendo uma pasta preferencialmente com

baixa e média inclusão de grãos finos e médios (gráfico 4) com predomínio de grãos

8, 36.36%

2, 9.09%8, 36.36%

4, 18.18%

Tipo de AntiplásticoMineral

Mineral + Cariapé A

Mineral + Cariapé A + Carvão

Mineral + Carvão

1, 4.55%

3, 13.64%

18, 81.82%

Tipo de Minerais

Óxido de Fe

Quartzo

Quartzo + Óxido de Fe

54

arredondados e subangulosos (gráfico 5). O que indica que as ceramistas estavam retirando os

grãos maiores, ou que ocorriam poucos grãos minerais no depósito de argila, e adicionavam o

cariapé A na maioria das vasilhas.

Gráfico 4: Formas dos grãos de quartzo – unidade N981 E941

Gráfico 5: Inclusão/tamanho dos grãos de quartzo – unidade N981 E941

A maioria das vasilhas foram confeccionadas com a técnica de sobreposição de roletes

(15 fragmentos), e em apenas um fragmento a técnica não foi identificada (Gráfico 6). A

queima ocorre em atmosfera redutora (12; 55%), com núcleos escuros, bem como oxidante (9;

41%), que produz núcleos claros (Gráfico 8).

1, 4.55%1, 4.55%

12, 54.55%1, 4.55%

4, 18.18%

3, 13.64%

Formas dos grãosAnguloso

Anguloso + Sub-anguloso

Arredondado

NI

Sub-anguloso

Sub-anguloso + Arredondado

8, 36.36%

2, 9.09%

2, 9.09%

5, 22.73%

2, 9.09%

2, 9.09%1, 4.55%

Inclusão/Tamanho dos grãos de quartzoBaixa inclusão/ Grãos finos

Baixa inclusão/ Grãos grossos

Baixa inclusão/ Grãos médios

Média Inclusão / Grãos médios

Média inclusão/ Grãos finos

Média inclusão/ Grãos médios

NI

55

Gráfico 6: Técnica de confecção – unidade N981 E941

Gráfico 7: Cor da superfície FE e FI – unidade N981 E941

12 2

1

15

1

02468

10121416

Borda Carena Inflexão Ombro Parede NI

Acordelado NI

Técnica de confecção

1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1

2

1 1 1 1 1 1

0

0.5

1

1.5

2

2.5

Cor superficie FE e FI

56

Gráfico 8: Queima – unidade N981 E941

A maioria das vasilhas é bem alisada ou polida e apenas poucas delas possuem

alisamento médio ou grosseiro (Gráfico 9).

Gráfico 9: Acabamento de superfície (FE e FI) – unidade N981 E941

Apenas quatro fragmentos possuem barbotina, nas cores: A: bruno avermelhado-claro

na face interna; B: bruno forte na face externa; C: bruno muito escuro na face interna e D:

vermelho na face externa (Figura 13).

9, 41%

1, 4%

12, 55%

Queima

Oxidante

Oxidante interna, reduzida externa

Reduzida

8

1 1

3

1 1 1 1

4

1

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

Acabamento Superfície (FE e FI)

57

Figura 13: Barbotina N981 E941

Os tratamentos plásticos foram verificados em apenas dois fragmentos, sendo uma

inflexão com inciso e ponteado na face externa e uma borda com inciso e ponteado na face

externa e inciso na face interna (Figura 14 e 15).

Figura 14: Inflexão com inciso e ponteado

Figura 15: Borda com inciso ponteado na face externa

A

C D

B

58

A espessura dos fragmentos analisados varia entre 5 e 26 mm (Gráfico 10), sendo que

maioria deles apresenta bom estado de conservação (11; 50,00%), porém muitos possuem

uma das faces erodidas, ausentes ou com desgaste da decoração (Gráficos 11).

Gráfico 10: Espessura dos fragmentos – unidade N981 E941

Gráfico 11: Conservação – unidade N981 E941

4.2. Análise da cerâmica da unidade N981 E988

Esta unidade possui 38 fragmentos cerâmicos, escavados entre os níveis 0-10 e 40-50

cm, sendo que dois deles remontaram, portanto trabalhamos com 36 fragmentos. Esta unidade

foi datada em 480±50 AP, data obtida de uma amostra de carvão coleta a 17 cm de

profundidade, portanto no topo da ocupação ceramista. As peças analisadas se resumiram a

1, 4%

3, 14%

5, 23%

3, 14%

3, 14%

4, 18%

2, 9%

1, 4%

Espessura dos fragmentos

5mm

6mm

7mm

8mm

9mm

10mm

11mm

12mm

11, 50.00%

8, 36.36%

1, 4.55%

1, 4.55% 1, 4.55%

ConservaçãoBem conservado AF

Bem conservado FE/ Erodido FI

Bem conservado FE/ Superfícieausente

Decoração vestigial FE/ Erodido FI

Erodido FE/ Bem conservado FI

59

fragmentos de parede, borda, base e bojo, com técnica de confecção predominantemente

acordelada. A espessura dos fragmentos variou entre 6 e 26 mm (Gráfico 12).

Gráfico 12: Técnica de confecção/parte da vasilha por nível – unidade N981 E988

Figura 16: Fotografia das partes das vasilhas: A: bordas; B: base; C: bojo; e D: NI (Não identificado).

Nesta unidade identificamos escolhas de pastas bastante diversificadas, com

frequência maior da presença de cariapé A e cauixí, que aparecem associados na maioria dos

fragmentos (25,00%); ocorreram também carvão e argila em algumas peças (Gráfico 13). O

cariapé foi identificado em duas formas: cariapé A e cariapé B. O cariapé A é um elemento

que tem como finalidade absorver a umidade da argila, deixando seu processo de secagem

mais lento e estável, diminuindo o risco de o pote rachar, comum durante esse processo, e sem

falar que eles diminuem a plasticidade da argila, tornando seu manejo mais maleável

(Machado, 2005-2006, p. 91).

1 1 1 1 12

1

4

15

45

0

2

4

6

8

10

12

14

16

30-40 24 10_20 10_20 40-50 0-10 5 10_20 20-30 30-40 40-50

ModeladoAcordeladoAcordelado Acordelado Acordelado

Base Bojo Borda NI Parede

Técnica de confecção/Parte da vasilha por nível

D C B

A

60

Gráfico 13: Tipo de antiplástico – unidade N981 E988

Figura 17: Fotografia das pastas: A: mineral; B: cauixí; C: carvão; D: argila; e E: cariapé B.

Entre os tipos de minerais presentes na pasta ocorre com mais frequência o quartzo

associado ao óxido de ferro (55,56%) (Gráfico 14). Também foi observada entre as ceramistas

uma preferência por uma pasta com poucos grãos minerais de tamanho fino e médio (Gráfico

15), com predomínio dos grãos arredondados e angulosos, mas também foram identificados

fragmentos que não continham grãos de quartzo na pasta (19,44%) (Gráfico 16). Esta

informação pode corresponder a fontes de argilas distintas, e até mesmo à escolha de

determinada argila para tipos de vasilhas cerâmicas diferentes.

2, 5.56%

6, 16.67%

2, 5.56%

1, 2.78%

9, 25.00%1, 2.78%

2, 5.56%

6, 16.67%

5, 13.89%

2, 5.56%

Tipos de Antiplástico Mineral

Mineral + Cariapé A + Carvão

Mineral + Carvão

Mineral + Cauixí + Cariapé A

Mineral + Cauixí + Cariapé A + Carvão

Mineral + Cauixí + Carvão

Mineral + Cariapé A+ B + Carvão

Mineral + Cariapé A+ B + Cauixí + Carvão

Mineral + Cariapé A+B + Argila

Mineral + Cariapé B + Cauixí + Carvão

E D

A B C

61

Gráfico 14: Tipo de minerais – unidade N981 E988

Gráfico 15: Formas dos grãos de quartzo – unidade N981 E988

Gráfico 16: Inclusão/tamanho dos grãos de quartzo – unidade N981 E988

Nas superfícies da maioria das vasilhas observou-se o predomínio do alisamento fino e

do polimento em ambas as faces, ocorrendo também à brunidura, e poucos fragmentos com

alisamentos grosseiro e médio. Em somente dois fragmentos não foi possível identificar o tipo

7, 19.44%

9, 25.00%20, 55.56%

Tipos de minerais

Óxido de Fe

Quartzo

Quartzo + Óxido de Fe

22, 61.11%

5, 13.89%

2, 5.56%

7, 19.44%

Inclusão/tamanho dos grãos de quartzo

Baixa inclusão/ Grãos finos

Baixa inclusão/ Grãos médios

Média inclusão/ Grãos médios

NI

6, 16.67%

1, 2.78%

1, 2.78%

17, 47.22%

7, 19.44%

1, 2.78%

3, 8.33%

Forma dos grãos de quartzo

Anguloso

Anguloso + Arredondado

Anguloso + Sub-anguloso

Arredondado

NI

Sub-anguloso

Sub-anguloso + Arredondado

62

de acabamento de superfície, devido ao estado de conservação das peças, que se apresentavam

erodidas (Gráfico 17).

Gráfico 17: Acabamento de superfície – unidade N981 E988

Foi identificada barbotina em apenas um fragmento, com coloração marrom

avermelhado claro (5YR 6/3) (Figura 18). Apenas um fragmento de borda possui tratamento

plástico, sendo incisões na face externa com motivos em linhas horizontais (Figura 19).

Figura 18: Barbotina - unidade N981 E988

12, 34.29%

1, 2.86%

2, 5.71%

3, 8.57%1, 2.86%

3, 8.57%

1, 2.86%

2, 5.71%

5, 14.29%

3, 8.57%

1, 2.86%1, 2.86%

Acabamento de superfície FE e FIAlisamento fino AF

Alisamento fino FE/ Alisamento

Médio FI

Alisamento fino FE/ NI FI

Alisamento fino FE/ Polimento FI

Alisamento Grosseiro AF

NI AF

NI FE/ Alisamento fino FI

NI FE/ Polimento FI

Polimento AF

Polimento FE/ Alisamento fino FI

Polimento FE/ Alisamento Médio FI

Polimento FE/ Brunidura FI

63

Figura 19: Borda com inciso na face externa - unidade N981 E988

A borda é direta inclinada externamente, reforçada externamente, com lábio

arredondado. A forma e o diâmetro da única borda desta unidade não foi possível identificar,

devido a fragmentação.

Em relação à cor da superfície, houve uma variação nos tons de cores com predomínio

dos tons bruno amarelado claro na face externa e bruno na face interna; bruno em ambas as

faces; bruno claro na face externa e bruno avermelhado claro na face interna; bruno

avermelhado claro na face externa e bruno claro acinzentado na face interna todos com 2

fragmentos (Gráfico 18). Esta variação pode ocorrer devido à temperatura e a posição em que

o vaso estava durante a queima. Quanto à queima foi possível observar que mais da metade

possuía queima reduzida (63,89%), mas também ocorreu oxidante externa, e reduzida interno

e oxidante com núcleo reduzido (Gráfico 19).

64

1 1 1 1 1 1 1 1 1

2

1 1 1

2

1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1

2 2

1 1 1 1

0

0.5

1

1.5

2

2.5B

RU

NO

AC

INZ

ET

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O F

E/

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A F

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CIN

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SC

UR

O F

I

Cor superfície fe e fi

Gráfico 18: Cor da superfície - unidade N981 E988

65

Gráfico 19: Queima – unidade N981 E988

Em relação à conservação, pode-se indicar que 75,00% dos fragmentos estão bem

conservados, enquanto outros se apresentam erodidos em ambas as faces ou em uma das

faces, ou com uma face ausente (Gráfico 20).

Gráfico 20: Conservação – unidade N981 E988

4.3. Análise da cerâmica da Unidade N960 E982

Esta unidade foi a que apresentou a menor representatividade de fragmentos

cerâmicos, com apenas 16 fragmentos, do nível 0-10 a 70-80 cm, entre eles paredes, bordas e

inflexões, com técnica de confecção acordelada (Gráfico 21).

9, 25.00%

3, 8.33%

1, 2.78%23, 63.89%

Queima

Oxidante

Oxidante externa, reduzida

interna

Oxidante, núcleo reduzido

Reduzida

27, 75.00%

1, 2.78%

1, 2.78%3,

8.33%

1, 2.78%

3, 8.33%

ConservaçãoBem conservado AF

Bem conservado FE/Ausente FI

Bem conservado FE/Erodido FI

Erodido AF

Erodido FE/ Ausente FI

Erodido FE/ Bemconservado FI

66

Gráfico 21: Parte da vasilha-técnica de confecção por nível – unidade N960 E982

Figura 20: Fotografia da parte das vasilhas: A: borda; e B: inflexões

Já em relação à argila, as ceramistas escolheram preferencialmente uma pasta com

cariapé A e carvão (56, 25%), e também foi encontrado o cariapé B e o mineral (Gráfico 22).

Predomina pasta com minerais de quartzo associados ao óxido de ferro (Gráfico 23), com

poucos grãos minerais de tamanho fino e médio (Gráfico 24), com grãos de quartzo anguloso

e subanguloso (Gráfico 25).

1

2 2 2

1

5

1 1 1

0

1

2

3

4

5

6

40-50 30-40 0 _10 10 _20 20-30 30-40 40-50 50-60 70-80

AcordeladoAcordelado Acordelado

Borda Inflexão Parede

Parte da vasilha/técnica de confecção por nível

A B

67

Gráfico 22: Tipo de antiplástico – unidade N960 E982

Gráfico 23: Tipo de minerais – unidade N960 E982

Gráfico 24: Inclusão/tamanho dos grãos de quartzo – unidade N960 E982

1, 6.25%

3, 18.75%

2, 12.50%

9, 56.25%

1, 6.25%

Tipo de antiplástico

Cariapé B

Mineral

Mineral+Cariapé A

Mineral+Cariapé A+Carvão

Mineral+Carvão

2, 12.50%

4, 25.00%9,

56.25%

1, 6.25%

Tipo de minerais

Óxido de ferro

Quartzo

Quartzo+Óxido de ferro

NI

5, 31.25%

2, 12.50%

3, 18.75%

1, 6.25%

5, 31.25%

Tamanho dos grãos de quartzo

Grãos finos/ Baixa Inclusão

Grãos grossos/ Média Inclusão

Grãos médios/ Baixa Inclusão

Grãos médios/ Média Inclusão

NI

68

Gráfico 25: Forma dos grãos de quartzo – unidade N960 E982

Quanto ao acabamento de superfície, a análise demonstrou que as ceramistas estavam

dando um acabamento bem elaborado na superfície das vasilhas, sendo identificado na

maioria dos fragmentos o polimento e o alisamento fino em ambas as faces (Gráfico 26).

Gráfico 26: Acabamento de superfície (FE e FI) – unidade N960 E982

A barbotina está presente em três fragmentos, sendo que nos demais fragmentos não

foram identificados ou estão ausentes. Os fragmentos em que foram identificados a barbotina

apresentam coloração: A: amarelo-avermelhado na face externa, B: bruno-avermelhado na

face interna e C: rosado na face externa (Figura 21).

4, 25.00%

3, 18.75%

3, 18.75%

1, 6.25%

5, 31.25%

Forma dos grãos de quartzo

Anguloso

Anguloso + sub-anguloso

Arredondado

Sub-anguloso

NI

2, 12.50%

4, 25.00%

1, 6.25%

1, 6.25%1, 6.25%

6, 37.50%

1, 6.25%

Acabamento de superfície (FE e FI) Polimento FE/ Alisamento Fino FI

Alisamento Fino AF

Alisamento Grosseiro AF

Alisamento Médio AF

Alisamento Médio FE/ Polimento FI

Polimento AF

NI

69

Figura 21: Barbotina - unidade N960 E982

A borda é direta vertical, com espessamento linear e com lábio plano, e o diâmetro

não foi possível identificar (Figura 22).

Figura 22: Borda - unidade N960 E982

Em relação à cor da pasta, é possível observar que ocorreu uma heterogeneidade, pois

ocorrem diferentes tipos de cores nos fragmentos, apenas sobressaindo das demais cores

bruno claro em ambas as faces (2 fragmentos). Essa diferença pode está relacionada ao

ambiente da queima, ou em como as vasilhas estavam posicionadas durante a queima, ou a

diferentes tipos de argila, que ao irem ao fogo produziriam diferentes colorações (Gráfico 27).

De acordo com Zuse (2014), vários fatores influenciam na coloração dos potes, como

a temperatura, combustível utilizado, tipo de forno, quantidade de ar disponível e atmosfera

que circunda o vasilhame. Quanto mais oxidante é a queima, mais se obtém uma tonalidade

mais clara para cerâmica devido ao fato da quantidade suficiente de oxigênio, enquanto uma

queima redutora, onde quantidade de oxigênio é insuficiente, produz uma coloração mais

escura na cerâmica.

A B C

70

Gráfico 27: Cor da superfície – unidade N960 E982

A queima oxidante é mais frequente (56,25%), seguida pela reduzida. Ocorreu

também oxidante interna e reduzida externa e oxidante com núcleo reduzido (Gráfico 28).

Gráfico 28: Queima – unidade N960 E982

9, 56.25%1, 6.25%

2, 12.50%

4, 25.00%

Queima

Oxidante

Oxidante interna, reduzida externa

Oxidante, núcleo reduzido

Reduzida

71

Nesta unidade a espessura dos fragmentos variou de 4 a 10 mm (Gráfico 29). De

acordo com Zimpel (2008), a espessura dos fragmentos pode está relacionada à função que os

utensílios cerâmicos podem ter. Vasilhas com paredes finas podem está relacionadas ao

preparo dos alimentos, pois conduzem melhor o calor, já às vasilhas com paredes grossas

podem ser destinadas ao armazenamento e ao processamento de alimentos. Os fragmentos

apresentam-se na maioria em bom estado de conservação (Gráfico 30).

Gráfico 29: Espessura – unidade N960 E982

Gráfico 30: Conservação – unidade N960 E982

4.4. Análise da cerâmica da Unidade N900 E1017

2

1

4

3

4

2

4 mm 5 mm 6 mm 7 mm 8 mm 10 mm

0

0.5

1

1.5

2

2.5

3

3.5

4

4.5

Espessura dos fragmentos

13, 81.25%

2, 12.50%

1, 6.25%

Conservação

Bem Conservado AF

Erodido AF

Erodido FE/ Bem Conservado FI

72

Foram analisados 29 fragmentos nesta unidade, entre eles: parede, borda e inflexões,

dos níveis 0-10 a 30-40 cm de profundidade. Foi possível observar a técnica de manufatura o

acordelado (Gráfico 31).

Gráfico 31: Parte da vasilha x Técnica de confecção por nível – unidade N900 E1017

Figura 23: Fotografia das partes das vasilhas: A: bordas; e B: inflexões

Nesta unidade foi identificada uma grande variedade de escolhas de pasta, sendo que o

elemento não plástico mais recorrente é o cariapé A associado ao cauixí e ao carvão (37,93%),

e ocorreu também o cariapé B associado a estes elementos citados (24,14 %) (Gráfico 32). O

antiplástico é adicionado na pasta com função de neutralizar a plasticidade da argila, essa

variedade em uma mesma pasta pode estar relacionada em dar mais resistência e

permeabilidade na argila.

2 1

18

4 4

0_ 10 10_ 20 0_ 10 10_ 20 30-40

Acordelado Acordelado Acordelado

Borda Inflexão Parede

0

5

10

15

20

Parte da vasilha x Técnica de confecção por nível

A B

73

Gráfico 32: Tipo de antiplástico – unidade N900 E1017

Figura 24: Fotografia das pastas: A: cariapé B; B: cauixí; e C: mineral+cauixí+cariapé A+carvão -

unidade N900 E1017

Quanto aos minerais presentes na pasta, ocorre mais frequentemente o quartzo

associado ao óxido de ferro (65,52%) (Gráfico 33). Predominam pastas com grãos de quartzo

arredondado e anguloso (Gráfico 34), com baixa inclusão de grãos finos (Gráfico 35).

1, 3.45%1, 3.45%

2, 6.90%

7, 24.14%

2, 6.90%

1, 3.45%1, 3.45%

1, 3.45%

11, 37.93%

2, 6.90%

Tipo de Antiplástico Mineral + Caraipé B + Cauixí + Carvão

Mineral + Cariapé A + Carvão

Mineral + Cariapé A+B + Carvão

Mineral + Cariapé A+B + Cauixí + Carvão

Mineral + Cariapé B + Cauixí

Mineral + Carvão

Mineral + Cauixí

Mineral + Cauixí + Cariapé A

Mineral + Cauixí + Cariapé A + Carvão

Mineral + Cauixí + Carvão

C B A

74

Gráfico 33: tipos de minerais – unidade N900 E1017

Gráfico 34: Formas dos grãos de quartzo – unidade N900 E1017

Gráfico 35: Inclusão/tamanho dos grãos de quartzo – unidade N900 E1017

As superfícies das vasilhas eram bem alisadas: o alisamento fino em ambas as faces

(37, 93%), seguido do polimento na face externa e alisamento fino na interna (20,69%)

(Gráfico 36).

4, 13.79%

19, 65.52%

6, 20.69%

Tipos de minerais

Quartzo

Quartzo + Óxido de Ferro

Óxido de Ferro

6, 20.69%

2, 6.90%

1, 3.45%

10, 34.48%

3, 10.34%

1, 3.45%

6, 20.69%

Formas dos grãos de quartzo Anguloso

Anguloso + Arredondado

Anguloso + Sub-anguloso

Arredondado

Sub-anguloso

Sub-anguloso + Arredondado

NI

14, 48.28%

5, 17.24%

4, 13.79%

6, 20.69%

Inclusão/Tamanho dos grãos de quartzo

Baixa Inclusão/ Grãos Finos

Baixa Inclusão/ Grãos Grossos

Baixa Inclusão/ Grãos Médios

NI

75

Gráfico 36: Acabamento de superfície FE e FI – unidade N900 E1017

Durante a análise foi evidenciada apenas dois fragmentos de bordas na qual foram

classificadas como: à esquerda: borda direta inclinada externamente, contraída, lábio

arredondado. Direita: borda externamente inclinada, com espessamento linear, lábio

arredondado (Figura 25). Não foi possível medir o diâmetro destas duas bordas desta unidade.

Figura 25: Borda - unidade N900 E1017

Ocorreu apenas um fragmento com pintura vermelha sobre engobo branco, porém

bastante desgastado (Figura 26).

Figura 26: Vestígio de pintura vermelha sobre engobo branco - unidade N900 E1017

11, 37.93%

2, 6.90%

4, 13.79%

6, 20.69%

2, 6.90%

3, 10.34%

1, 3.45%

Acabamento de superfície FE e FI

Alisamento Fino AF

Alisamento Médio AF

Polimento AF

Polimento FE/ Alisamento Fino FI

Polimento FE/ Alisamento Médio FI

Polimento FE/ NI FI

NI AF

76

Em relação à cor da superfície é possível observar uma variedade de tons, sendo a cor

predominante o bruno-acinzentado em ambas as faces (3 fragmentos), bem como bruno na

face externa e bruno-claro na face interna (2 fragmentos) (Gráfico 37). A queima reduzida é

mais frequente (41,38%), seguida da oxidante (31,03%) (Gráfico 38).

Gráfico 37: Cor da superfície FE e FI – unidade N900 E1017

2

1 1 1 1 1 1 1 1

3

1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1

0

0.5

1

1.5

2

2.5

3

3.5

Cor superfície (FE e FI)

77

Gráfico 38: Queima – unidade N900 E1017

Alguns fragmentos apresentaram vestígios de utilização, ocorrendo dois fragmentos

com depósito de carbono na face interna e um fragmento com fuligem na face externa, ambos

os vestígios indicando o uso das vasilhas no fogo (Figura 27). De acordo com Pessoa (2014),

o depósito de carbono estaria ligado a atividades culinárias, e se originaria da carbonização

dos alimentos no interior da panela, enquanto a fuligem traz informação à posição das panelas

em relação ao fogo.

Depósito de carbono Fuligem

Figura 27: Vestígio de utilização - unidade N900 E1017

A espessura dos fragmentos variou entre 5 e 14 mm, sendo predominante a espessura

entre oito e nove milímetros (Gráfico 39). Mais da metade dos fragmentos está bem

conservada (Gráfico 40).

9, 31.03%

7, 24.14%1, 3.45%

12, 41.38%

Queima

Oxidante

Oxidante externa, Reduzida interna

Oxidante interna, Reduzida externa

Reduzida

78

Gráfico 39: Espessura – unidade N900 E1017

Gráfico 40: Conservação – unidade N900 E1017

4.5. Comparação dos resultados da análise do sítio Garbin

Ao comparar os materiais dos diferentes níveis escavados na unidade N980 E941,

datada em 1.710±40 AP (amostra a 75 cm de profundidade), verificou-se que a cerâmica dos

níveis mais profundos (40-50 a 60-70 cm) apresenta uma pasta com mineral e mineral e

carvão, com grãos de quartzo angulosos e sub-angulosos núcleo de coloração variando entre

marrom e avermelhada e queima oxidante. Os acabamentos de superfície das vasilhas são de

alisamentos finos e polidos, e em alguns fragmentos ocorre à aplicação de barbotina na

coloração marrom, marrom avermelhado e vermelho. Com relação aos tratamentos plásticos

se destacam o inciso e inciso ponteado. Não foi identificada a presença de engobo e nem

1 2

8

12

32 1

0

2

4

6

8

10

12

14

5 mm 7 mm 8 mm 9 mm 10 mm 11 mm 14 mm

Espessura dos Fragmentos

17, 58.62%

6, 20.69%

5, 17.24%

1, 3.45%

Conservação

Bem Conservado AF

Bem Conversado FE/ Erodido FI

Erodido AF

Erodido FE/ Bem Conservado FI

79

pintura. Essas características são similares às da cerâmica dos sítios Vista Alegre, Morro dos

Macacos I e Foz do Jatuarana, com datações em torno de 1.800 AP, caracterizadas por Zuse

(2014). Já nos níveis superiores (10-20 a 40-50 cm) predomina o cariapé A e mineral, na pasta

e a queima reduzida, com cores escuras (ver gráficos).

Gráfico 41: tipo de pasta por nível - unidade N980 E941, sítio Garbin.

Gráfico 42: formas dos grãos de quartzo por nível – unidade N980 E941, sítio Garbin.

1

5

21 1 1

32

1 1 1

3

0123456

40-50 50-60 60-70 20-30 50-60 10_20 20-30 30-40 50-60 60-70 50-60 60-70

Mineral Mineral +Cariapé A

Mineral + Cariapé A + Carvão Mineral +Carvão

Tipo de pasta por nível

1 1 1

3

1

5

2

1 1

3

1 1 1

0

1

2

3

4

5

6

60-70 50-60 10_20 20-30 30-40 50-60 60-70 30-40 50-60 60-70 20-30 40-50 50-60

Anguloso Anguloso+ Sub-

anguloso

Arredondado NI Sub-anguloso Sub-anguloso + Arredondado

Formas dos grãos de quartzo por nível

80

Gráfico 43: cor do núcleo por nível – unidade N980 E941, sítio Garbin.

Na unidade N981 E988 identificamos duas mudanças tecnológicas: uma mais recente

(0-10 a 10-20 cm), tendo como base a análise do material e datação 14C 480 ± 40 (17 cm),

caracterizado por uma pasta com uma predominância do cauixí e do caraipé A, com queima

oxidante e reduzida, tratamento de superfície é recorrente o alisamento fino, sendo apenas um

fragmento com brunidura e raros tratamentos plásticos (apenas uma borda com inciso). Em

relação à espessura dos fragmentos variam de fina a média (6 a 26 mm). Algumas

características deste material se assemelham aos sítios Ilha das Cobras, Ilha São Francisco e

Ilha Dionísio nos níveis superiores destes sítios correspondendo ao conjunto tecnológico a

montante. A cerâmica do nível mais profundo corresponde à ocupação ceramista mais antiga

(30-40 a 40-50 cm) caracterizado por uma pasta com adição de cariapé A e carvão, com

queima reduzida, a superfície das vasilhas com alisamento fino e polida, os fragmentos

possuem uma espessura mais fina (5 a 14 mm), foi apenas identificado um fragmento inciso.

Estas características assemelham com os materiais cerâmico dos sítios Veneza, Ilha de Santo

Antônio (níveis profundos), Boa Vista (setor 1), Vista Alegre (setor 3) e no Foz Jatuarana

(níveis profundos) e Santa Paula, sendo estas as cerâmicas mais antiga no Alto rio Madeira.

Portanto, as diferenças foram identificadas na escolha da pasta, nas formas dos grãos, na

queima, na espessura e no tratamento de superfície, conforme pode ser observado nos gráficos

abaixo.

Em relação à escolha da pasta, no gráfico 44, observa-se nos níveis superiores a

predominância do cauixí e do caraipé A, e nos níveis inferiores cariapé A e carvão.

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1 1 1 1

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1 1 1 1

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10_20 20-30 30-40 40-50 50-60 60-70

Cor do núcleo por nível

81

Gráfico 44: tipo de pasta por nível – unidade N981 E988, sítio Garbin.

Quanto à forma dos grãos de quartzo, nos níveis superiores ocorrem os arredondados e

nos inferiores os grãos de quartzo angulosos e sub-angulosos e os arredondados (Gráfico 45).

Gráfico 45: forma dos grãos de quartzo por nível – unidade N981 E988, sítio Garbin.

1 1

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5 24 0-10 10_20 20-30 30-40 40-50

Tipo de pasta por nível

012345678

Forma dos grãos de quartzo por nível

82

A queima nos níveis superiores é oxidante e reduzida, e nos mais profundos é

predominantemente a reduzida (Gráfico 46).

Gráfico 46: tipo de queima por nível – unidade N981 E988, sítio Garbin.

Nos níveis superiores o acabamento de superfície é o alisamento fino, e nos níveis

inferiores o polimento e alisamento fino (Gráfico 47).

1 1 1 12 2 2

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5 24 0-10 10_20 20-30 30-40 40-50

Tipo de queima por nível

83

Gráfico 47: acabamento de superfície por nível – unidade N981 E988, sítio Garbin.

Em relação à espessura é possível observar que nos níveis superiores estão os

fragmentos com espessura fina e média, enquanto nos níveis inferiores os com espessura fina

(Gráfico 48).

Gráfico 48: espessura dos fragmentos por nível – unidade N981 E988, sítio Garbin.

Na unidade N960 E982 a pasta é caracterizada por mineral e mineral e carvão nos

níveis superiores, sendo que o cariapé A está presente em toda camada estratigráfica, em

pastas com baixa inclusão de grãos médios de quartzo. Predomina os grãos de quartzo

1 1 1 1

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5 24 0-10 10_20 20-30 30-40 40-50

Acabamento de superfície por nível

1 1

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5 24 0-10

10_20 20-30 30-40 40-50

Espessura dos fragmentos por nível

84

angulosos e sub-angulosos, a queima oxidante e o alisamento fino e polimento nas

superfícies. Estas características são semelhantes as dos níveis superiores da unidade N980

E941, datada em 1.710±40 AP, bem como à cerâmicas das ocupações datadas em torno de

1.800 AP, identificadas por Zuse (2014) nos sítios Foz do Jatuarana, Vista Alegre, setor 3 e

Morros do Macacos I.A unidade N900 E1017 apresenta uma cerâmica com grande

diversidade de escolhas de pasta nos três níveis analisados, com predominância do cauixí,

com baixa inclusão de grãos finos e grossos de quartzo, queima reduzida, e vasilhas com

superfície polida e com alisamento fino. A característica material (escolha da pasta) cerâmico

é semelhante das ocupações ceramistas mais recentes no rio Madeira, porém o tamanho da

amostra e a falta de datação não permitem associar este material a este conjunto tecnológico.

Ao comparar as pastas de todas as unidades analisadas do sítio Garbin, verificamos

que e cerâmica da unidade N960 E982 tem mais mineral, na N900 E 1017 sobressai cauixí, na

unidade N981 E941 o mineral associado com carvão e na unidade N981 E988 é recorrente o

cariapé A e o B junto ao cauixí e o carvão (Gráfico 49).

Gráfico 49: tipos de pasta por unidade – sitio Garbin.

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N 960 E 982 N900 E 1017 N981 E 941 N981 E 988

85

4.6. Triagem da cerâmica do Sítio Garbin

Foi realizada a triagem da cerâmica das demais unidades do sítio Garbin, a fim de

obter mais informações em relação à forma das vasilhas e decoração. Foram selecionados 120

fragmentos, dentre eles bordas, bases, flanges, decorados e outros com características variadas

(bojos, carenas, apêndices, apliques e outros). Todos estes materiais foram fotografados e

alguns desenhados.

Fragmentos

selecionados

Quantidade

Bordas 52

Bojos 3

Fuligem 1

Bases 12

Carena 3

Polimento 2

Pintura 1

Apêndice 2

Brunidura 2

Deposito de carbono 9

Engobo vermelho 13

Decoração 10

Flange 9

Apliques 1

Total 120

Foram selecionadas 52 bordas (Figura 28). Entre as bordas predominam extrovertidas,

diretas verticais, direta inclinada externamente e presença de bordas com flange labial

decorada. Os lábios são planos e arrendados (Figura 29). Algumas delas apresentam

decorações com incisões e ponteado. Não foi possível medir o diâmetro de todas as bordas,

devido à fragmentação, entretanto foi possível medir o diâmetro de apenas 11 bordas, que

variam entre 12 e 28 cm.

86

Figura 28: Bordas selecionadas – Sítio Garbin (foto: Gegliane Silva)

87

Figura 29: Desenho das bordas – Sítio Garbin (Desenho: Silvana Zuse)

Observou-se predomínio de formas abertas. Do total de (6) bordas eram diretas

inclinadas externas (Figura 30), também possui uma menor frequência de fragmentos de

bordas direta vertical (Figura 31), a porcentagem das bordas variou em média (7,5% á 17.5%)

do perfil inferido da vasilha.

Figura 30: Borda direta inclinada externamente - (Desenhos: Silvana Zuse)

88

Figura 31: Borda direta vertical – (Desenho: Silvana Zuse)

Em relação às bases identificadas possuem formas convexas côncavas, anelares e em

pedestal (Figura 32). Entre as bases anelares uma apresenta engobo vermelho na face externa.

Em pedestal apresenta desgastes na face interna o que podemos sugerir que era vasilha pra

consumo e armazenar bebidas fermentadas. Ocorre 6 flanges, sendo que 4 com incisões e uma

com ponteado. Já as carenas apenas um fragmento apresenta brunidura na face externa (N899

E1000), também nesta mesma unidade foi evidenciado dois fragmentos de apêndice (Figura

33). Ocorrem apenas dois bojos encontrados nas unidades N921 E950 (30-40 cm) e N880

E1000 (20-30 cm), sendo que apenas um apresenta incisões e decoração vestigial com

vestígios de pinturas branca e vermelha. Entre as marcas de usos ocorre depósito de carbono

(8 fragmentos) que indicar que as vasilhas eram utilizadas sobre o fogo (Figura 34).

Figura 32: Bases selecionadas - Sitío Garbin (Foto: Gegliane Silva)

89

Figura 33: Desenho base em pedestal (Desenho: Silvana Zuse)

Figura 34: Peças selecionadas - Sitío Garbin (Foto: Gegliane Silva)

90

Figura 35: Peças selecionadas - Sitío Garbin (Foto: Gegliane Silva)

Os acabamentos de superfície idenficamos engobo vermelho que estar presente entre

os níveis 40-50, 50-60 e 60-70 cm, na unidade N921 E1019 um fragmento de parede

remontada com polimento na face externa (Figura 36).

91

Figura 36: Peças selecionadas - Sitío Garbin (Foto: Gegliane Silva)

Também foi identificado um fragmento com pintura vermelha e branca e um aplique

localizado na unidade N899 E1000 (40-50 cm), que possivelmente pode ser trata de uma

figura zoomorfa (Figura 37).

92

Figura 37: Peças selecionadas – Sítio Garbin (Foto: Gegliane Silva)

Em relação aos tratamentos plásticos, estão presentes fragmentos com incisões e

entalhe no lábio (Figura 38).

Figura 38: Peças selecionadas – Sítio Garbin (Foto: Gegliane Silva)

93

Figura 39: Desenhos dos tratamentos plásticos (Francisco Freitas, Gegliane Silva, Silvana Zuse e Viviane

Romano)

Triagem das cerâmicas das trincheiras

Foi realizada uma triagem dos materiais da trincheira, onde foram selecionados 22

fragmentos, entre eles bordas (13) (Figura 40), destacando uma borda com flange labial e

outra borda com incisões na face interna. Identificamos bases, sendo que uma possível base

de assador (Figura 41), flanges, carenas, inflexão (Figura 42).

Figura 40: Bordas – Trincheira – Sítio Garbin (Foto: Gegliane Silva)

94

Figura 41: Desenho das bordas (Silvana Zuse)

Das poucas bordas que foram possíveis tirar o diâmetro, duas são extrovertidas com

ponto angular e uma direta inclinada externamente (Figura 42). A porcentagem das bordas

variou de 10% a 15%.

Figura 42: Desenho das bordas – Trincheira (Silvana Zuse)

95

Figura 43: Bases selecionadas – Sítio Garbin – Trincheira (Foto: Gegliane Silva)

Figura 44: Desenho de base – Sítio Garbin – Trincheira (Silvana Zuse)

Figura 45: Peças selecionadas – Trincheira - Sítio Garbin (Foto: Gegliane Silva)

Ocorre brunidura, um fragmento com marcas de fermentação indicando o uso da

vasilha para o armazenamento e consumo de bebidas fermentadas. Não ocorre engobo

somente um fragmento com pintura vermelha sobre engobo branco, já em relação ao

tratamento plástico apenas dois fragmentos possui incisões (Figura 46).

96

Figura 46: Peças selecionadas – Trincheira – Sítio Garbin (Foto: Gegliane Silva)

Figura 47: Desenho tratamento plástico – Trincheira – Sítio Garbin (Gegliane Silva, Silvana Zuse e

Viviane Romano)

97

CONCLUSÃO

No sítio Garbin foram identificadas duas camadas arqueológicas com terra preta

arqueológica, sendo que uma camada lito-cerâmica e uma camada pré-cerâmica. A cerâmica

aparece na camada arqueológica IV, de coloração do sedimento 10 YR 3/3 (dark brown),com

espessura de 100 cm, com maior densidade de cerâmica entre 30 e 40 cm com. Não foram

identificadas feições, mas foi evidenciada uma estrutura de combustão na unidade N900

E1017. O sítio apresenta quatro datações para a ocupação ceramista: 14C 1.710 ± 40 AP

(N981 E941), 1.300 ± 30 AP (expansão 2010), 990 ± 30 AP (expansão 2010) e 480 ± 40 AP

(N981 E988) (ZUSE, 2014).

A análise e a triagem do material cerâmico do sítio arqueológico Garbin, possibilitou a

caracterização da cerâmica do sítio. As vasilhas cerâmicas foram confeccionadas com a

técnica modelada nas bases e acordelado no corpo. Identificamos uma diversidade nas

escolhas das pastas, sendo a mais recorrente com baixa inclusão de grãos finos e arrendados

de quartzo e adição de cariapé A e carvão. Também ocorreram pastas com cauixí, cariapé B e

grânulos de argila, algumas vezes com a presença de grãos de quartzo angulosos e

subangulosos. A queima predominante a reduzida, seguida pela oxidante. As superfícies são

bem alisadas e polidas, e raramente está presente a brunidura. Ocorre a aplicação de barbotina

e em maior quantidade do engobo vermelho. Ocorrem apenas três fragmentos com pintura

vermelha sobre engobo branco. Ocorrem incisos e incisos e ponteados próximos da borda e

um aplique (zoomorfo). As espessuras dos fragmentos variam de 4 a 26 mm, com predomínio

de 12, 15, 16 e 20 mm.

Algumas vasilhas possuem flanges labiais e mesiais, carenas e inflexões. Em relação à

forma, entre as poucas em que foi possível identificar, ocorre vasilha de bordas direta vertical,

direta inclinada externamente e extrovertida, algumas delas com presença de pontos

angulares, com diâmetro entre 12 e 28 cm. Quanto às formas que foram identificadas usamos

como referência o trabalho de Lima (2008). Entre as bases são mais frequentes as convexas

côncavas, mas ocorre também uma base em pedestal e uma de assador, que devido à

fragmentação não foi possível saber o diâmetro. Ocorre fuligem, depósito de carbono e

fermentação em algumas vasilhas.

Comparando os materiais das diferentes áreas do sítio, ao longo do período em que foi

ocupado, percebemos variações: predomina uma cerâmica semelhante às cerâmicas mais

antigas identificadas no rio Madeira (Zuse, 2014, 2016), semelhantes à Pocó, Açutuba e

Saladóide, principalmente na trincheira (formas e decorações), mas também em algumas

98

outras unidades triadas e analisadas, como nos níveis inferiores da unidade N981 E988. Estes

contextos não foram datados. Em algumas áreas do sítio ocorre uma cerâmica semelhante à

identificada nos sítios Morro dos Macacos I, Vista Alegre e Foz do Jatuarana, em torno de

1.800 AP, como na unidade N980 E941, datada em 1.710±40 AP.

Nos níveis superiores da unidade N981 E988 (datação de 480 ± 40 AP - 17 cm),

ocorre uma cerâmica cuja pasta apresenta cauixí e caraipé A, grãos minerais arredondados,

paredes com espessura fina e média, alisamento fino, queima oxidante e reduzida,

características semelhantes a cerâmica mais recente de alguns sítios da montante, como Ilha

das Cobras, Ilha São Francisco e Ilha Dionísio; na unidade N900 E1017 foi identificada uma

grande diversidade de escolhas de pasta nos três níveis analisados, com predominância do

cauixí na pasta, superfícies polidas e bem alisadas, que poderia se aproximar deste contexto,

porém o tamanho da amostra e a falta de datação dificultam esta interpretação.

Ao comparar o sítio Garbin com os sítios Veneza e Ilha de Santo Antônio, ambos

localizados em frente, na ilha e na margem oposta, percebemos semelhanças e diferenças na

tecnologia cerâmica. No sítio Ilha de Santo Antônio a semelhança com o Garbin está em

aspectos como tratamento de superfície (superfície polida e bem alisada, ocorre brunidura e

engobo vermelho), tratamento plástico (como as incisões e inciso ponteado na parte superior

da borda e aplique), a forma (borda extrovertida, direta vertical e direta inclinada

externamente) e marca de uso (fuligem e deposito de carbono). Entretanto, no sítio Ilha de

Santo Antônio há uma diversidade de tratamentos plásticos, enquanto no Garbin ocorre

apenas incisos e incisos e ponteados, assim como a pintura, que é mais recorrente na Ilha (no

Garbin apenas três fragmentos).

Ao comparar a cerâmica do Garbin com o Veneza, verifica-se uma diversidade maior

de escolhas de pasta no Garbin, ao passo que no Veneza ocorre uma maior variação na forma

das vasilhas, e nos acabamentos de superfície (pinturas e tratamentos plásticos).

A partir dos dados obtidos com a triagem e análise da cerâmica do sítio Garbin, foi

possível observar que a maior parte da cerâmica possui características comuns às ceramistas

antigas no alto rio Madeira, semelhantes às cerâmicas Pocó, Açutuba e Saladóide, associadas

à presença de povos de matriz cultural Arawak (Zuse, 2014). O contexto e a cerâmica do sítio

Garbin apresenta semelhanças com que Neves et. al. (2014) evidenciaram no rio Amazonas,

entre a bacia do rio Trombetas até o Baixo Japurá, denominada de tradição Pocó-Açutuba.

Entre as características comuns estão as formas complexas (carenadas), as flanges labiais e

mesiais, aplique zoomorfo, presença de engobo vermelho, decoração plástica com incisões em

linhas retas e o inciso ponteado. Essa tradição á caracterizada no rio Amazonas pela formação

99

inicial das terras pretas e presença de feições com material cerâmico, no entanto no sítio

Garbin não foram identificadas feições apenas um estrutura de combustão (N900 E1017), e

nesse sítio a terra preta mais antiga não está associada às ocupações ceramistas, mas sim às

ocupações ceramistas mais antigas (Camada III), correspondente à fase pré-cerâmica

Massangana, definida por Miller (1992).

Entendemos que a continuidade da pesquisa desse sítio, com a análise tecnológica da

cerâmica das demais unidades, as quais foram caracterizadas nesta pesquisa apenas com a

triagem e descrição das formas e decorações, será possível entender se as diferenças

identificadas nas escolhas tecnológicas da cerâmica do sítio Garbin corespondem a tradições

tecnológicas distintas, ou a uma ocupação contínua no sítio, com mudanças e continuidades

na tecnologia.

100

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ANEXOS

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Anexo A: Ficha de análise

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