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918 VARIABILIDADE E SUSCEPTIBILIDADE CLIMÁTICA: Implicações Ecossistêmicas e Sociais de 25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG ABORDAGEM INTRODUTÓRIA SOBRE O CONFORTO TÉRMICO EM MORADIAS DA CIDADE DE TEFÉ-AM. ANTÔNIO RISOMAR FIGUEIREDO PEREIRA 1 NATACHA CÍNTIA REGINA ALEIXO 2 JOÃO CÂNDIDO ANDRÉ DA SILA NETO 3 RESUMO O objetivo desta pesquisa foi analisar o conforto térmico em moradias de diferentes padrões construtivos em Tefé-AM. Foi utilizado o Índice de Conforto Térmico (ICT), que considera a temperatura e umidade relativa do ar e vem sendo muito utilizados nos estudos sobre o tema. Foram coletados dados com aparelho termo-higrômetro em três residências com diferentes padrões construtivos em dias representativos dos meses de janeiro (período chuvoso) e agosto (período menos chuvoso) do ano de 2015 e comparados com os dados em ambiente externo disponibilizados pelo INMET. Os resultados indicam maior desconforto térmico para o calor nas residências, mas também no ambiente externo em ambos os períodos. Assim pode-se concluir que na cidade de Tefé, o desconforto térmico para o calor pode impactar negativamente no bem-estar e a qualidade de vida da população. Palavras-chave: Conforto Térmico, ambiente interno, Tefé-AM. ABSTRACT The objective of this research was to analyze the thermal comfort in houses of different construction standards in Tefé/AM. It used the Thermal Comfort Index (ICT), which considers the temperature and relative humidity and has been widely used in studies on the subject. Data were collected with thermo-hygrometer device in three homes with different construction standards representative days of January (rainy season) and August (except rainy season) of the year 2015 and compared with the data in the external environment provided by INMET. The results indicate higher thermal discomfort for heat in homes, but also in the external environment in both periods. Thus it can be concluded that the city of Tefé, thermal discomfort for heat can negatively impact the well- being and quality of life of the population. Keywords: thermal comfort, internal environment, Tefé-AM 1- Introdução Pesquisas sobre o conforto térmico a cada dia ganham mais importância na ciência geográfica, devido ao processo de expansão urbana que transforma a paisagem causando impactos diretos no clima local. De acordo com Silva Junior et al (2012, p.219) “Os primeiros estudos relacionados ao conforto térmico datam do início do século XIX na Europa, quando teve início o movimento para melhoria das condições de trabalho nas indústrias de metalúrgicas e 1 Graduando em Geografia, Universidade do Estado do Amazonas,[email protected] 2 Professora Doutora do curso de Geografia, Universidade do Estado do Amazonas, [email protected] 3 Professor Doutor do do curso de Geografia, Universidade do Estado do Amazonas, [email protected]

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VARIABILIDADE E SUSCEPTIBILIDADE CLIMÁTICA: Implicações Ecossistêmicas e Sociais

de 25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG

ABORDAGEM INTRODUTÓRIA SOBRE O CONFORTO TÉRMICO EM MORADIAS DA CIDADE DE TEFÉ-AM.

ANTÔNIO RISOMAR FIGUEIREDO PEREIRA1

NATACHA CÍNTIA REGINA ALEIXO2 JOÃO CÂNDIDO ANDRÉ DA SILA NETO3

RESUMO O objetivo desta pesquisa foi analisar o conforto térmico em moradias de diferentes padrões construtivos em Tefé-AM. Foi utilizado o Índice de Conforto Térmico (ICT), que considera a temperatura e umidade relativa do ar e vem sendo muito utilizados nos estudos sobre o tema. Foram coletados dados com aparelho termo-higrômetro em três residências com diferentes padrões construtivos em dias representativos dos meses de janeiro (período chuvoso) e agosto (período menos chuvoso) do ano de 2015 e comparados com os dados em ambiente externo disponibilizados pelo INMET. Os resultados indicam maior desconforto térmico para o calor nas residências, mas também no ambiente externo em ambos os períodos. Assim pode-se concluir que na cidade de Tefé, o desconforto térmico para o calor pode impactar negativamente no bem-estar e a qualidade de vida da população. Palavras-chave: Conforto Térmico, ambiente interno, Tefé-AM.

ABSTRACT The objective of this research was to analyze the thermal comfort in houses of different construction standards in Tefé/AM. It used the Thermal Comfort Index (ICT), which considers the temperature and relative humidity and has been widely used in studies on the subject. Data were collected with thermo-hygrometer device in three homes with different construction standards representative days of January (rainy season) and August (except rainy season) of the year 2015 and compared with the data in the external environment provided by INMET. The results indicate higher thermal discomfort for heat in homes, but also in the external environment in both periods. Thus it can be concluded that the city of Tefé, thermal discomfort for heat can negatively impact the well- being and quality of life of the population. Keywords: thermal comfort, internal environment, Tefé-AM

1- Introdução

Pesquisas sobre o conforto térmico a cada dia ganham mais importância na ciência

geográfica, devido ao processo de expansão urbana que transforma a paisagem causando

impactos diretos no clima local.

De acordo com Silva Junior et al (2012, p.219) “Os primeiros estudos relacionados

ao conforto térmico datam do início do século XIX na Europa, quando teve início o

movimento para melhoria das condições de trabalho nas indústrias de metalúrgicas e

1 Graduando em Geografia, Universidade do Estado do Amazonas,[email protected] 2 Professora Doutora do curso de Geografia, Universidade do Estado do Amazonas, [email protected] 3 Professor Doutor do do curso de Geografia, Universidade do Estado do Amazonas, [email protected]

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têxteis, em vista dos frequentes acidentes e enfermidades devido à influência do calor”

desde então, estudos sobre o conforto térmico têm sido realizados em diversos lugares do

mundo, estudos estes que buscam compreender a relação entre o clima e a sociedade.

Segundo a Norma ISO 7330 (1994) apud Costa, et. al. (2013), conforto térmico é a

condição em que o corpo humano expressa satisfação com o ambiente térmico.

O conforto térmico é algo que influencia a qualidade de vida da população,

principalmente as famílias de baixa renda que na maioria das vezes não tem como comprar

refrigeradores de ar ou aquecedores de ar para amenizar o desconforto térmico, seja ele

causado por excesso de calor ou de frio.

De acordo com Frota e Schiffer (2003), compõem as variáveis ambientais do conforto térmico a temperatura, a umidade, a velocidade do ar e a radiação solar incidente. Agregam se a estas variáveis: precipitação, vegetação, permeabilidade do solo, águas superficiais e subterrâneas, morfologia do relevo, entre outras características locais que podem ser alteradas pela presença humana. (VIANA, 2013, p. 50).

Sant’Anna Neto (2011), afirma que “espaços desiguais potencializam os efeitos do

clima, que se manifestam, também, de forma desigual. Nesta perspectiva, tem-se que

admitir que o clima possa ser interpretado como uma construção social”.

Uma das perspectivas possíveis para entendê-lo como fenômeno que interessa a Geografia, poderia ser a influência que determinados elementos meteorológicos exercem na qualidade de vida (coletiva) e no conforto (individual) dos diversos segmentos sociais. (SANT’ANNA NETO, 2008, p. 64).

As pesquisas sobre clima urbano e conforto térmico são de suma importância para

identificar as causas e indicar melhores alternativas na produção do espaço, além de

subsidiar políticas públicas. Dessa forma, o objetivo desta pesquisa foi analisar o conforto

térmico em moradias de diferentes padrões construtivos em Tefé-AM.

2- Materiais e métodos

Foram utilizados aparelhos termo-higrômetros da marca Incoterm para medir as

variações de Temperatura e Umidade Relativa interna. Para analisar o ambiente externo,

utilizaram-se os dados da estação do Instituto Nacional de Meteorologia - INMET.

A coleta de dados no ambiente externo e interno ocorreu nos dias 13, 14 e 15 de

janeiro de 2015, esse mesmo processo se repetiu nos dias 13, 14 e 15 agosto de 2015. Os

meses foram escolhidos, pois representam o período chuvoso e seco na cidade. Os dados

foram coletados às 8h00min, 14h00min e 20h00min. De acordo com Alves e Specian (2010,

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p.91) “estes representam, respectivamente, os três períodos, manhã (início do

aquecimento), tarde (maior aquecimento), e noite (início do resfriamento)”.

Os dados analisados foram coletados em 3 (três) residências: uma casa flutuante no

lago Tefé, uma casa na margem direita do lago na orla do bairro Juruá e uma no bairro de

Fonte Boa. Com relação aos materiais construtivos das moradias, a casa flutuante é de

madeira e com cobertura de alumínio (Figuras 1 e 2); a do bairro de Fonte Boa é uma casa

de alvenaria toda rebocada, com cobertura de alumínio (Figuras 3 e 4); a casa da orla do

Juruá é uma casa de madeira e tem a cobertura de fibrocimento (Figuras 5 e 6).

Figura 1 e 2. Localização da casa Flutuante. Fonte: Google Maps. Org.: Pereira, 2015.

Figura 3 e 4. Localização da casa no bairro Fonte Boa. Fonte: Google Maps. Org.: Pereira, 2015.

Figura 5 e 6. Localização da casa na Orla Juruá. Fonte: Google Maps. Org.: Pereira, 2015.

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Para a análise de conforto térmico das residências e do ambiente externo foi utilizado

o Índice de Conforto Térmico (ICT), representado pelo Quadro 1.

Quadro 1. Índice de Conforto Térmico (ICT)

Fonte: Funari, 2006. Organizado por: Armani, 2006.

A fórmula utilizada para calcular o Índice de Conforto Térmico, ICT foi a seguinte:

THI: Ts-(0,55-0,0055.UR).(Ts-14,5), onde (Ts) é a Temperatura Média e (UR) a Umidade

Relativa, conforme proposta de Funari (2006). Os dados foram calculados na planilha do

aplicativo Microsoft Office Excel e depois foram analisados conjuntamente com o referencial

teórico da climatologia geográfica.

3- Resultados e discussões

O clima que predomina no território Amazônico é o Equatorial quente e úmido,

devido a sua posição próxima a linha do Equador onde predominam altas temperaturas e

muita umidade devido à floresta Amazônica ser bastante densa.

Na região Amazônica existem dois períodos sazonais, “à dinâmica climática e fluvial

que regem o cotidiano dos amazônidas, são denominados popularmente de cheias (período

chuvoso) e seca (período com diminuição dos totais de chuva) e apresentam-se em

intervalos de meses diferentes ao longo da região Amazônica”. (ALEIXO e SILVA NETO,

2014, p.1639).

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Tefé é um município do estado do Amazonas que localiza-se no Médio Solimões,

conforme Mapa 1 e tem uma área de 23.704,475km², a população total é 61.453 habitantes

(IBGE, 2010).

O clima equatorial pelas próprias características de alta temperatura e umidade do ar

pode provocar desconforto em indivíduos não adaptados, uma vez que a aclimatação é

importante para evitar o desconforto. São utilizados na maior parte das residências no

município materiais construtivos inadequados ao clima equatorial, que pelas próprias

características de alta temperatura e umidade do ar, provocam efeitos de desconforto, dessa

forma, as residências podem agravar ainda mais o desconforto térmico e o aumento do

consumo de energia pelo uso de climatizadores artificiais.

Os telhados de cerâmica são os mais indicados nas construções, principalmente na

cor branca que possui maior albedo e consegue refletir mais radiação e absorve menos

calor fazendo com que a temperatura fique mais agradável dentro da residência,

proporcionando um melhor conforto térmico, porém é um tipo de material com alto custo, por

isso as pessoas acabam optando por outros tipos de telhas devido à condição

socioeconômica. (ARAUJO, 2014)

Mapa 1. Localização do município de Tefé-AM. Fonte: Silva Neto, 2014.

Os primeiros dados do ambiente interno das residências em Tefé foram coletados no

mês de janeiro de 2015, que representa o período chuvoso do ano. Nos três dias de coletas

ocorreram chuvas com pequeno volume nos dois primeiros dias, no dia 13 choveu 1,3mm,

no dia 14 choveu 3mm e no dia 15 choveu 12,4mm no município de Tefé de acordo com o

INMET.

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A chuva com o aumento da nebulosidade na atmosfera ameniza e homogeneíza a

temperatura, porém, se analisarmos a tabela 4, é possível observar que a temperatura no

dia 15 não é tão diferente dos outros dias, isso ocorre devido a grande extensão do

município, podendo chover mais na zona rural que na cidade e também esses 12,4mm

podem ter chovido na cidade numa única hora, não influenciando de sobremaneira na

diminuição da temperatura.

A segunda coleta ocorreu no mês de agosto, que representa o início do período

menos chuvoso e choveu apenas nos 2 (dois) últimos dias. A estação do INMET registrou

no dia 14 um total de 29,6mm de chuva no município e no dia 15 foi registrado apenas

5,8mm. Apesar do mês de Agosto representar o início da diminuição das chuvas, não

significa que não vai chover. O que choveu no dia 14 de Agosto de 2015 foi bem mais que

nos dias 13, 14 e 15 de janeiro juntos e isso fez com que houvesse uma diminuição na

temperatura nesses 2 (dois).

No quadro 2, pode-se observar o conforto térmico nas residências analisadas, em

três horários do dia 13/01/2015. No horário das 08h00min, dos pontos analisados, apenas

as casas do Fonte Boa e Orla de Juruá, estiveram no Limite Superior da Zona de Conforto,

enquanto o Flutuante apresentou mesmo ICT que no ambiente externo (INMET), ou seja,

um leve desconforto pelo calor.

As 14h00min, o ICT das casas Flutuante, Fonte Boa e Orla de Juruá apresentaram

leve desconforto pelo calor, enquanto que no ambiente externo (INMET) o ICT estava no

Limite Superior Da Zona De Conforto, o que significa que fora das residências era mais

confortável termicamente naquele momento.

No horário das 20h00min, todos os pontos registraram Leve Desconforto Pelo Calor,

isso significa que tanto no ambiente interno das 3 (três) residências quanto no externo

(INMET) apresentaram as mesmas classes de ICT.

Quadro 2. Dados do índice de conforto térmico no dia 13 de Janeiro de 2015

13/01/2015 Flutuante Fonte Boa Orla Juruá INMET

08:00 27,3 25,6 25,5 27,0

14:00 29,6 29,7 28,6 25,7

20:00 27,8 27,0 27,8 28,8

Fonte: Levantamento próprio e INMET. Org.: Pereira, 2015.

No quadro 3, pode-se observar o conforto térmico nas residências analisadas em

três horários do dia 14/01/2015. No horário das 08h00min, nas casas do Bairro de Fonte

Boa e da Orla de Juruá as temperaturas apresentaram o mesmo ICT que no ambiente

externo (INMET), estando no Limite Superior da Zona Conforto, apenas na casa Flutuante a

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temperatura estava no Centro da Zona de Conforto, tornando-se mais confortável

termicamente.

Às 14h00min, o ICT no Flutuante e Orla de Juruá estava no limite superior da zona

de Conforto, no Fonte Boa o mesmo estava mais elevado causado um Leve Desconforto

pelo calor, naquele momento no ambiente externo (INMET) o ICT estava no Centro da Zona

de Conforto, tornando-o mais confortável termicamente que dentro das residências.

Às 20h00min, os 4 (quatro) pontos, tanto os internos (residências) quanto o externo

(INMET) apresentaram-se no Limite Superior da Zona Conforto.

Quadro 3. Dados do índice de conforto térmico no dia 14 de Janeiro de 2015

14/01/2015 Flutuante Fonte Boa Orla Juruá INMET

08:00 23,7 24,1 24,9 26,8

14:00 25,7 27,7 26,2 22,9

20:00 25,9 25,9 26,4 26,4

Fonte: Levantamento próprio e INMET. Org.: Pereira, 2015.

No quadro 4, pode-se observar o conforto térmico nas residências analisadas nos

três horários do dia 15/01/2015. No horário das 8h00min, a casa Flutuante, do bairro Fonte

Boa e na Orla do Juruá o ICT apresentava-se no Limite Superior da Zona de Conforto, já o

ambiente externo (INMET) era mais confortável termicamente, já que o ICT estava no

Centro da Zona de Conforto.

Às 14h00min, o ICT tanto no ambiente interno das 3 (três) residências, quanto no

externo (INMET) apresentaram um Leve Desconforto pelo Calor.

Na coleta das 20h00min, o ICT nas casas Flutuante e Orla do Juruá apresentaram

um leve desconforto pelo calor, à casa do bairro Fonte Boa apresentou um melhor conforto

térmico, pois estava no Limite Superior da Zona de Conforto, nesse horário não foram

disponibilizados dados do INMET para que pudesse ser verificado o ICT externo.

Analisando as tabelas 2, 3 e 4 pode-se observar que nos dias em que foram

realizadas as coletas nos 4 (quatro) pontos da cidade, foram registrados apenas 3 (três)

temperaturas que estavam no Centro da Zona de Conforto e 2 (duas) delas eram na

Estação do INMET, o que mostrava naqueles respectivos horários que era mais confortável

termicamente fora das residências pesquisadas.

Quadro 4. Dados do índice de conforto térmico no dia 15 de Janeiro de 2015

15/01/2015 Flutuante Fonte Boa Orla Juruá INMET

08:00 24,9 24,0 24,8 23,6

14:00 28,9 28,7 28,1 29,7

20:00 28,3 26,1 28,2 _ Fonte: Levantamento próprio e INMET. Org.: Pereira, 2015.

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No quadro 5, pode-se observar o conforto térmico nas residências analisadas, no

primeiro dos três dias analisados do mês de agosto (período menos chuvoso) em três

horários do dia 13/08/2015. No horário das 8h00min, os 4 (quatro) pontos, tanto os

ambientes internos (residências) quanto o externo (INMET) estavam no Limite Superior da

Zona de conforto.

Quadro 5. Dados do índice de conforto térmico no dia 13 de Agosto de 2015

13/08/2015 Flutuante Fonte Boa Orla Juruá INMET

08:00 26,8 26,1 26,9 26,6

14:00 27,7 28,3 30,4 28,6

20:00 27,5 28,0 27,6 27,3 Fonte: Levantamento próprio e INMET. Org.: Pereira, 2015.

No horário das 14h00min, a casa Flutuante, do bairro Fonte Boa e na estação do

INMET apresentavam um Leve Desconforto pelo Calor, enquanto que a casa da Orla de

Juruá apresentou um Desconforto Pelo Calor, onde era mais desconfortável naquele

período.

Às 20h00min, foi registrado um Leve Desconforto pelo Calor tanto nos ambientes

internos (residências), quanto no externo (INMET).

No quadro 6, pode-se observar o conforto térmico nas residências analisadas em 3

(três) horários do dia 14/08/2015. No horário das 8h00min, as casas Flutuante e do bairro

Fonte Boa apresentavam-se no Limite Superior da Zona Conforto, a casa da Orla de Juruá e

na estação do INMET estavam no Centro da Zona de Conforto tornando os 2 (dois)

ambientes mais confortável termicamente naquele horário.

No horário das 14h00min, as casas do bairro Fonte Boa e Orla de Juruá, juntamente

com a estação do INMET apresentaram-se no Limite Superior da Zona de Conforto e a casa

Flutuante estava com um Leve Desconforto pelo Calor, tornando-se menos confortável

termicamente de se estar.

Às 20h00min, as casas Flutuantes, bairro Fonte Boa e estação do INMET estavam

no Limite Superior da Zona de Conforto, enquanto que a casa da Orla de bairro Juruá

estava no Centro da Zona de Conforto, tornando aquele ambiente confortável termicamente.

Quadro 6. Dados do índice de conforto térmico no dia 14 de Agosto de 2015. 14/08/2015 Flutuante Fonte Boa Orla Juruá INMET

08:00 24,1 25,5 22,5 23,0

14:00 27,2 26,7 26,5 25,1

20:00 26,4 26,6 22,8 25,9

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Fonte: Levantamento próprio e INMET. Org.: Pereira, 2015.

No quadro 7, pode-se observar o conforto térmico nas residências analisadas em

três horários do dia 15/08/2015. No horário das 8h00min, os (três) ambientes internos e o

externo estavam no Limite Superior da Zona de Conforto.

Às 14h00min, as casas Flutuante, da Orla de Juruá e estação do INMET

apresentaram um Leve Desconforto pelo Calor e a casa do bairro Fonte Boa estava no

Centro da Zona de Conforto, ou seja, estava confortável termicamente.

Às 20h00min, as casas Flutuante e do bairro Fonte Boa estavam com um Leve

Desconforto pelo Calor e a casa da Orla de Juruá e o ambiente externo no INMET estavam

no Limite Superior da Zona de Conforto, ou seja, menos desconfortáveis termicamente que

os outros 2 (dois) primeiros pontos.

Quadro 7. Dados do índice de conforto térmico no dia 15 de Agosto de 2015

15/08/2015 Flutuante Fonte Boa Orla Juruá INMET

08:00 25,5 24,6 25,2 24,3

14:00 29,7 22,5 28,6 28,9

20:00 28,0 27,8 24,9 26,7 Fonte: Levantamento próprio e INMET. Org.: Pereira, 2015.

O mês de janeiro que marca o início do período mais chuvoso apresentou um maior

desconforto quando comparado com o mês de agosto, período que representa uma

diminuição dos totais de chuva, isso ocorreu devido aos dois últimos dias das coletas ter

chovido um total de 45,4mm, sendo que, só no dia 14, houve uma precipitação de 29,6mm e

bem distribuída ao longo do dia, fazendo com que a temperatura fosse menor no decorrer

do dia.

Lembrando que na área de estudo choveu um volume bem maior nos dois últimos

dias de coleta do mês de agosto. Também as chuvas no ano de 2015 foram bem intensas e

se estendeu por um período maior de meses, provocando a maior cheia da história do Rio

Amazonas.

A moradia que apresentou maior desconforto tanto no mês de janeiro quanto em

agosto foi à casa Flutuante e teve como índice de conforto predominante, um Leve

Desconforto Pelo Calor e temperatura média de 27,0°C e a que apresentou menor

desconforto foi a casa do bairro Fonte Boa, que teve como seu índice de conforto

predominante o Limite Superior da Zona de Conforto e com a média de 26,4°C. Porém, a

maior temperatura foi registrada na residência da Orla do bairro de Juruá, que foi de 30,4°C.

Os dados do INMET (demonstrativos do ambiente externo) demonstraram que as

residências não auxiliaram os moradores com relação ao conforto, uma vez que a maioria

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apresentou maior desconforto que o ambiente externo. Porém, os dados analisados não

demonstraram muitas diferenças no âmbito entre ambiente externo e interno, as

temperaturas (ambiente interno e externo) são bastante elevadas, causando desconforto

térmico que pode ser negativo para o bem-estar e saúde dos moradores.

As estruturas das casas que foram estudadas são os tipos que predominam na

cidade de Tefé, casas de alvenarias e madeiras com coberturas de alumínio e fibrocimentos

e esses materiais como alumínio contribuem bastante no desconforto térmico, tendo em

vista o clima da cidade de Tefé é quente e úmido o ano todo.

A casa Flutuante apresentou um maior desconforto devido a capacidade térmica da

água ao seu redor e pelos materiais utilizados na construção, como a cobertura de telha de

alumínio.

Já a casa do bairro Fonte Boa teve um menor desconforto, pois, o ambiente do

entorno dispõe de maior arborização e a residência mesmo tendo como cobertura telha de

alumínio, possui forro de madeira o que ajuda a amenizar a temperatura no ambiente

interno.

As famílias que moram nas residências onde a pesquisa foi realizada são

consideradas segundo o IBGE (2010), famílias economicamente de baixa renda, dessa

forma, não dispõem de recursos financeiros para comprar materiais que ajudam a amenizar

o desconforto causado pelo calor. Nesse sentido, deve ser mencionado que das três

residências analisadas, apenas a casa do bairro Fonte Boa possui climatizadores nos

quartos, mas estavam desligados nos dias de coletas.

O conforto térmico exerce influência de forma diferente para cada classe social na

cidade, pois, a maioria das famílias de baixa renda não dispõe de aparelho climatizador em

suas residências, além disso, muitos não podem usar o aparelho durante todo o dia devido

ao aumento do valor da conta de energia. Ressalta-se que a energia elétrica no município

de Tefé é proveniente de termelétrica movida a óleo diesel e frequentemente apresenta

interrupções de abastecimento devido à falta do comburente ou aumento da demanda pela

população, em especial no período da seca, em que os climatizadores são mais utilizados.

Assim, períodos sem fornecimento de energia são constantes nos bairros da cidade

seguindo rodízios.

Porém, as famílias de renda mais elevada não sofrem tanto com o desconforto

térmico ao longo do ano, já que dispõem de climatizadores e tem condições econômicas

favoráveis para arcar com os custos de energia.

A casa Flutuante não dispõe de arborização nas proximidades, a casa da Orla do

bairro de Juruá possui pouca arborização no entorno, uma vez que fica a margem direita do

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lago de Tefé e por ter suas bases alagadas parte do ano, isso dificulta o crescimento de

árvores. A casa do bairro Fonte Boa dispõe um pouco mais de árvores que a casa da Orla

de Juruá, isso porque a fundação do bairro é recente se comparado com os demais e

algumas famílias ainda possuem grandes terrenos e plantam árvores frutíferas que ajudam

a manter uma temperatura mais agradável.

O desconforto térmico no ambiente interno dessas residências pode causar mal

estar, fadiga, stress, problemas de saúde (cardio-respiratórios), principalmente em crianças

e idosos, que fisiologicamente são mais susceptíveis. Essa população de baixa renda,

sujeitos a essa situação precária no que diz respeito ao conforto de suas residências, não

recebe apoio do poder público em forma de planejamento na área urbana, com

estabelecimento de espaços públicos de lazer e maior arborização visando mitigar o

desconforto térmico.

Partindo dessa leitura e com intuito de criar melhores condições de vida para essa

parcela da população tefeense, o poder público deveria criar projetos que amenizem o

conforto térmico nestes locais, pelo menos nos ambientes externos dessas residências onde

a pesquisa foi realizada, além de se pensar formas de subsídios para compra de materiais

construtivos mais adequados ao clima equatorial.

4. Conclusão

Por meio da pesquisa foi possível identificar que tanto no ambiente interno quanto no

externo predominou o desconforto térmico pelo calor, em dias representativos dos meses de

janeiro (período chuvoso) e agosto (período menos chuvoso).

A pesquisa limitou-se apenas em 3 (três) residências com coberturas de alumínio e

fibrocimento, já que não foi possível ser realizada em residência cobertas com telhas de

cerâmica devido a existência de poucas na cidade de Tefé, se comparadas com as citadas

anteriormente (telhas de alumínio e fibrocimento) e por motivos de receio por parte dos

moradores dessas casas em disponibilizar seu espaço para a coleta de dados.

A pesquisa realizada pode auxiliar o poder público e a sociedade a pensar em

medidas e subsídios para construção de moradias com materiais mais adequados ao tipo

climático, visando reduzir o desconforto térmico e o uso de climatizadores artificiais.

Além disso, deve ser mencionado que atualmente os espaços urbanos são

construídos destituídos de planejamento, e um dos fatores para esse fenômeno, é

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justamente a utopia do capitalismo, que cria e recria os espaços sob a égide capitalista,

criando espaços segregados e excluindo a população mais vulnerável, que sofre os efeitos

do desconforto térmico.

Não podemos mencionar que apenas esse estudo foi suficiente para um

entendimento do conforto e desconforto em clima equatorial, para melhor entendimento

mais estudos dessa natureza devem ser realizados, a fim de contribuir como suporte as

políticas públicas, considerando o clima urbano como um produto que a sociedade constrói

ao longo do tempo e espaço.

5. Referências

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