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1060 VARIABILIDADE E SUSCEPTIBILIDADE CLIMÁTICA: Implicações Ecossistêmicas e Sociais de 25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG ANÁLISE DOS EPISÓDIOS PLUVIOMÉTRICOS INTENSOS NO MUNICÍPIO DE BARBALHA-CEARÁ DENISE DA SILVA BRITO 1 JULIANA MARIA OLIVEIRA SILVA 2 CLAUDIA MARIA MAGALHÃES GRANGEIRO ³ RESUMO Este trabalho tem como suporte teórico-metodológico, Monteiro (2003); Gonçalves (2003); e Zanella (2006). Consiste em identificar a ocorrência de totais pluviométricos diários iguais ou superiores a 100 mm, no município de Barbalha - Ceará. De acordo com os resultados, constatou-se um significativo número de eventos pluviométricos concentrados dentro da série estudada e muitos impactos gerados como a ocorrência de inundações, desabamento de casas, infiltrações generalizadas, quebra de ponte, entre outros. Verificou-se no exame do clima, que os eventos pluviais concentrados em poucas horas ocorrem na pré-estação e na quadra chuvosa, são decorrentes de Complexos Convectivos de Mesoescala ou Vórtices Ciclônicos de Altos Níveis associados à Zona de Convergência Intertropical. Palavras-chave: fenômenos atmosféricos, eventos extremos, impactos ambientais ABSTRACT This work is theoretical and methodological support, Monteiro (2003), Gonçalves (2003), and Zanella (2006). It is to identify the occurrence of the same daily rainfall totals or greater than 100 mm, in the municipality of Barbalha - Ceará . According to the results, there was a significant number of concentrated rainfall events within the series studied and many impacts as the occurrence of floods, house collapses, generalized infiltrations, bridge breaks, among others. It was found in the climate survey, which concentrated rainfall events occur in a few hours in the pre-season and the rainy season, they are due to Convective Mesoscale Vortices complexes or High Levels of Tropospheric Cyclonic associated with the Intertropical Convergence Zone . Key words: atmospheric phenomena, extreme events, environmental impacts 1 Introdução Os eventos pluviométricos extremos são fenômenos naturais relacionados ao clima, muitas vezes um evento só é caracterizado como extremo, devido a sua intensidade ou quando geram nas sociedades problemas, que repercutem negativamente na vida das populações. Nas últimas décadas, observa-se um aumento da frequência desses eventos em médias e grandes cidades, de acordo com Zanella e Olímpio (2014) a cidade é uma grande expressão geográfica da atualidade e sua importância vem aumentando, o que mostra um mundo cada vez mais urbano. No Brasil, a população urbana representa mais de 84% da 1 Doutoranda em Geografia, Universidade Estadual do Ceará UECE. Email: [email protected] 2 Doutora, professora da Universidade Regional do Cariri URCA. Email: ³ Doutora, professora da Universidade Estadual do Ceará UECE (IN MEMORIAN)

VARIABILIDADE E SUSCEPTIBILIDADE CLIMÁTICA: Implicações ... (21).pdf · No mês de janeiro choveu 236,7mm, sendo que a média de 30 anos para referido mês (1974-2003) é de 184,9mm

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de 25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG

ANÁLISE DOS EPISÓDIOS PLUVIOMÉTRICOS INTENSOS NO MUNICÍPIO DE BARBALHA-CEARÁ

DENISE DA SILVA BRITO 1

JULIANA MARIA OLIVEIRA SILVA2 CLAUDIA MARIA MAGALHÃES GRANGEIRO ³

RESUMO Este trabalho tem como suporte teórico-metodológico, Monteiro (2003); Gonçalves (2003); e Zanella (2006). Consiste em identificar a ocorrência de totais pluviométricos diários iguais ou superiores a 100 mm, no município de Barbalha - Ceará. De acordo com os resultados, constatou-se um significativo número de eventos pluviométricos concentrados dentro da série estudada e muitos impactos gerados como a ocorrência de inundações, desabamento de casas, infiltrações generalizadas, quebra de ponte, entre outros. Verificou-se no exame do clima, que os eventos pluviais concentrados em poucas horas ocorrem na pré-estação e na quadra chuvosa, são decorrentes de Complexos Convectivos de Mesoescala ou Vórtices Ciclônicos de Altos Níveis associados à Zona de Convergência Intertropical. Palavras-chave: fenômenos atmosféricos, eventos extremos, impactos ambientais

ABSTRACT This work is theoretical and methodological support, Monteiro (2003), Gonçalves (2003), and Zanella (2006). It is to identify the occurrence of the same daily rainfall totals or greater than 100 mm, in the municipality of Barbalha - Ceará . According to the results, there was a significant number of concentrated rainfall events within the series studied and many impacts as the occurrence of floods, house collapses, generalized infiltrations, bridge breaks, among others. It was found in the climate survey, which concentrated rainfall events occur in a few hours in the pre-season and the rainy season, they are due to Convective Mesoscale Vortices complexes or High Levels of Tropospheric Cyclonic associated with the Intertropical Convergence Zone . Key words: atmospheric phenomena, extreme events, environmental impacts

1 – Introdução

Os eventos pluviométricos extremos são fenômenos naturais relacionados ao clima,

muitas vezes um evento só é caracterizado como extremo, devido a sua intensidade ou

quando geram nas sociedades problemas, que repercutem negativamente na vida das

populações.

Nas últimas décadas, observa-se um aumento da frequência desses eventos em

médias e grandes cidades, de acordo com Zanella e Olímpio (2014) a cidade é uma grande

expressão geográfica da atualidade e sua importância vem aumentando, o que mostra um

mundo cada vez mais urbano. No Brasil, a população urbana representa mais de 84% da

1 Doutoranda em Geografia, Universidade Estadual do Ceará – UECE. Email: [email protected] 2 Doutora, professora da Universidade Regional do Cariri – URCA. Email: ³ Doutora, professora da Universidade Estadual do Ceará – UECE (IN MEMORIAN)

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população do país, diante dessa expansão do processo de urbanização, também aumenta a

preocupação com os episódios pluviométricos extremos, que podem causar diferentes

danos à sociedade, tanto materiais como imateriais (MONTEIRO, 2011).

Esses eventos acontecem em boa parte do território brasileiro, gerando inundações,

deslizamentos, desmoronamento e erosão, e esses fenômenos ganham maior visibilidade

quando ocorrem em áreas urbanas, um exemplo disso são as inundações urbanas

(MONTEIRO, 2011). Nesse sentido, ressalta-se a importância de estudar as causas das

precipitações intensas e as consequências geradas por esses eventos extremos, que

segundo Brandão (2001), nos estudos sobre impactos pluviais, estes são, na maioria das

vezes, enquadrados na categoria dos eventos naturais extremos, dependendo de sua

magnitude e extensão espacial.

O presente trabalho, envolve a temática dos eventos extremos, segundo Zanella et

al. (2009) esse tema enquadra-se nos impactos meteóricos (especificamente dos episódios

pluviais concentrados), estudo desenvolvido por Monteiro em 1979 apresentado na sua

teoria sobre o clima urbano.

Zanella et al. (2009) salienta que os trabalhos relacionados ao impacto das chuvas

nas cidades começaram a ganhar maior importância a partir da década de 1980, mas se

ampliaram em número e áreas estudadas nas décadas de 1990 e 2000 destacam-se alguns

trabalhos que abordam os eventos pluviométricos intensos ocorridos nas últimas décadas e

a intensa ocupação das áreas de risco, são BRANDÃO (2001),GONÇALVES (2003),

ZANELLA(2006 e 2009).

Segundo Gonçalves (2003), mesmo com o grande avanço tecnológico e os esforços

para o conhecimento das forças naturais, as sociedades ainda permanecem vulneráveis e

parecem estar cada vez mais expostas aos “eventos naturais extremos”, e independente da

origem desses eventos e das áreas onde ocorrem, resultam em desastres naturais, com

grandes perdas e prejuízos às economias nacionais e às populações expostas.

É importante ressaltar que, de acordo com Gonçalves (2003), entre esses eventos

naturais, os fenômenos pluviais extremos, sejam eles negativos ou positivos (secas e

inundações), são os que provocam verdadeiro impacto no ambiente e na vida social e

econômica de um país.

Segundo Zanella et al. (2009) em pesquisas que envolvem os eventos pluviais

intensos, faz-se necessário atentar para o sítio urbano da área em estudo, na medida em

que os impactos pluviais estão relacionados não somente às condições climáticas, mas

também ao funcionamento da rede de drenagem, aos processos de infiltração e

escoamento, que por sua vez, estão ligados às variáveis solo, vegetação e relevo. Nesse

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caso, é importante mencionar que se considerou o município de Barbalha, e foram

analisados apenas os eventos ocorridos dentro desse município.

A partir dos totais pluviais diários registrados no posto pluviométrico Barbalha, foram

selecionadas as alturas pluviométricas acima de 100 mm para um único dia ou superiores,

ou próximas a isso em caso de haver dias consecutivos de chuva, devido aos registros de

impactos.

O objetivo desse estudo é identificar a ocorrência de eventos pluviométricos iguais

ou superiores a 100 mm em 24 horas no município de Barbalha. Procurou-se, também,

estabelecer a relação entre total anual de chuvas e número de eventos ocorridos no ano. Na

análise dos impactos considerou-se o evento pluviométrico de maior intensidade identificado

no período correspondente a uma série de 41 anos (1974-2015).

2 – Material e métodos

O município de Barbalha localiza-se no sul do estado do Ceará, especificadamente

em uma área de exceção no Semiárido nordestino, entre as coordenadas geográficas na

porção mais ao norte 39° 11’ 31,23” W e 7° 12’ 30,15” S e mais ao sul com as coordenadas

39° 16’ 18,57” W e 7° 26’ 9,79” S. Na sua porção mais a leste com coordenadas 39° 25’ 19,3

W e 7° 20’ 21,8 S e mais a oeste com coordenadas 39° 10’ 27,3 W e 7° 14’ 32,01” S.

Esse trabalho utilizou como base teórico-conceitual, o estudo de Monteiro (2003),

considerando a teoria do Sistema Clima Urbano (S.C.U.), subsistema hidrometeórico, que

corresponde ao canal de percepção de impactos meteóricos. Como salienta Zanella (2006,

p.32), esse subsistema envolve todas as manifestações meteóricas de impacto, havendo

variada gama de fenômenos tais como tempestades, fortes nevadas, aguaceiros, etc. Neste

estudo serão considerados os eventos pluviais intensos, principalmente os episódios de

precipitação relacionados às inundações no município de Barbalha-Ceará. Para

identificação dos episódios pluviométricos iguais e superiores a 100 mm/24h este valor foi

tomado como referência, tendo como base os trabalhos de Gonçalves (2003) e Zanella

(2006).

Gonçalves (2003) realizou duas etapas na operacionalização da sua pesquisa em

Salvador, a primeira foi à análise têmporo-espacial dos eventos e análise especifica dos

episódios críticos, onde os episódios foram selecionados em função da magnitude dos seus

impactos, a autora tomou com base para a classificação, os episódios com intensidades

iguais ou superiores a 60 mm, em 24 horas, a partir dos quais se verificaram registros de

ocorrência dos eventos mais significativos.

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Zanella (2006) também analisou os episódios a partir de intensidades iguais ou

superiores a 60 mm ocorridos em 24 horas, tomando como base Gonçalves (1992), mais a

autora destaca que as condições ambientais de Salvador e Curitiba são diferentes, e optou-

se na utilização de intensidades diárias a partir de 60mm, porque em análises prévias

realizadas junto aos jornais, relatos de impactos foram constatados a partir deste índice

pluviométrico. Com índices pluviométricos diários inferiores não se constataram relatos de

danos. Entretanto, quando ocorria uma sequência diária destes índices pluviométricos

menores, os jornais registravam impactos e, assim, analisou-se também, a somatória de três

dias consecutivos que atingissem 60 mm ou mais. .

Com relação às etapas da pesquisa, procedeu-se inicialmente, o levantamento e

revisão bibliográfica, documental e cartográfica sobre o assunto e a área de estudo. Junto à

FUNCEME, se obteve dados pluviométricos correspondentes à área e ao período estudado

que corresponde a uma série histórica de 41 anos (1974-2015). Posteriormente, fez-se a

identificação e registro dos episódios que interessavam à pesquisa.

O procedimento seguinte consistiu na interpretação e análise dos resultados. Para

isso, recorreu-se ao aporte teórico obtido inicialmente. Finalmente, passou-se a analisar

especificamente os episódios de maior pluviosidade registrados. Para essa análise, se

considerou dados registrados nos jornais locais sobre o referido evento, informações da

Defesa Civil de Barbalha. Realizou-se uma varredura em todos os meios de comunicações

para verificar se havia alguma notícia sobre impactos pluviais.

3 – Resultados e Discussão

Os dados referentes às precipitações superiores a 100 mm em um dia registrados na

estação meteorológica de Barbalha, assim como seus respectivos dias de ocorrência. Foi

calculado o número de vezes em que eventos como estes ocorreram em cada ano e mês.

Destaca-se a variabilidade para o período de 40 anos considerado, tanto na sua distribuição

mensal quanto na anual: há anos em que estes eventos não ocorrem, e há outros em que

se observam mais de duas ocorrências.

Quanto aos eventos de chuva concentrada, durante o período observado, identificou-

se que estes ocorrem no período chuvoso (dezembro e janeiro pré-estação e fevereiro,

março, abril e maio período chuvoso), mas há uma maior frequência desses eventos no mês

de fevereiro e março, seguindo dos meses de abril, maio e dezembro. Os anos em que mais

se registraram precipitações superiores a 100 mm foram 1974, 1978, 1984, 1985, 1987,

1999, 2000, 2004, 2007, 2008, 2010, 2011, 2014 e 2015 com duas ocorrências cada ano. Já

os anos de 1976, 1982, 1986, 1989, 1994, 1995, 1998, 2002, 2012 e 2013 não foram

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registradas chuvas acima de 100 mm em 24 horas ou em três dias consecutivos. Os demais

anos apresentaram pelo menos uma ocorrência de chuva acima de 100 mm em 24 horas ou

em três dias consecutivos.

O ano de 1974 pode ser considerado um ano de índices pluviométricos acima da

média. Considerando a estação meteorológica da FUNCEME, choveu um total anual de

1.461mm, soma do período chuvoso foi de 1321,8mm como mostra o gráfico com a

distribuição da precipitação (figura 01).

No mês de janeiro choveu 236,7mm, sendo que a média de 30 anos para referido

mês (1974-2003) é de 184,9mm. A figura 01 mostra a distribuição da chuva durante o mês

de janeiro de 1974, no qual se evidenciou o episódio com chuva de 115,2mm em 24 horas.

Figura 01 - Gráfico com a distribuição da precipitação no ano de 1974. Fonte dos dados: FUNCEME

(2015); acessado em dezembro de 2015. Organização: BRITO (2016)

Segundo Zanella et al. (2009) em 1974 houve a ocorrência de La Niña, ao contrário

do El Niño, contribua para que ocorra precipitação pluvial acima do normal no Norte do

Nordeste do Brasil. Diante disso, podendo ser entendido como uma evidência de que esse

fenômeno pode influenciar na atuação dos sistemas atmosféricos a nível regional e,

portanto, em maiores índices pluviométricos como também na geração desse tipo de

evento.

Zanella et al. (2009) e Almeida (2010) consideram em suas pesquisas que os meses

de março e abril apresentarem maior número de eventos extremos, justificados pela maior

atuação da Zona de Convergência Intertropical – ZCIT, já que este sistema atinge, nesse

período do ano, sua posição mais meridional no hemisfério sul, gerando precipitação em

todo o Estado do Ceará e na região do Cariri cearense, aliado à suposição de que nessa

época o nível d’água dos rios já esteja elevado e, portanto, com maior probabilidade de

ocorrência de impactos pluviais nas áreas susceptíveis as inundações, é necessário

destacar o mês de janeiro, por apresentar relevante número de eventos e por exibir nesse

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período a atuação de um mecanismo atmosférico importante na geração de eventos

pluviométricos intensos, que são os Vórtices Ciclônicos de Altos Níveis –VCAN. Segundo os

autores acima citados, o sistema que atuou no ano de 1974 foi VCAN.

Então, entre o intervalo de 1974 a 2004 não encontramos nenhum registro de

eventos extremos e danos em Barbalha, mesmo assim escolhemos os anos de 1985 e 1997

para demonstrar a ocorrências de chuvas superiores a 100 mm.

O ano de 1985 foi considerado o ano com maior índice pluviométrico da série

histórica estudada com um total anual de 2147,5 mm, a figura 02 (gráfico 02) representa os

cinco primeiros meses do ano de 1985. Observa-se a ocorrência de chuva em quase todos

os dias dos meses citados. No dia 14 de janeiro de 1985 ocorreu uma chuva de 109 mm,

antecedida por uma chuva de 70 mm, a precipitação nesse mês foi 364,3mm, e no mês de

abril choveu 435,6mm, mais não apresentou índices superiores a 100mm por dia e sim a

somatória em três dias consecutivos que foram os dias 28, 29, 30 somando 102,3mm.

Segundo Monteiro (2011) o quadrimestre (fevereiro-maio) do ano de 1985 foi de La Niña

fraca, dipolo favorável (negativo) considerado muito chuvoso, possivelmente com a

ocorrência da ZCIT.

Figura 02 - Gráfico com a distribuição da precipitação no ano de 1985. Fonte dos dados: FUNCEME (2015); acessado em dezembro de 2015. Organização: BRITO (2016)

O ano de 1997 apresentou o total anual de 855,6mm, segundo Monteiro (2011) em

1997, foi um ano seco, nos primeiros meses do ano, observou certa situação de

neutralidade, mas a partir do trimestre abril-maio-junho inicia-se a atuação de um forte El

Niño. O mês de Março apresentou uma precipitação total de 335,4 mm sendo que nos dias

02, 03, 04 somado os respectivos dias choveu 122,3, sendo a chuva maior no dia 03 com 87

mm, no dia 26 choveu 131 mm como mostra a figura 03.

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Figura 03 - Gráfico com a distribuição da precipitação no ano de 1997. Fonte dos dados: FUNCEME (2015); acessado em dezembro de 2015. Organização: BRITO (2016)

O ano de 2004 registrou um total anual 1423,1 mm, a figura 04 apresenta os dados

pluviométricos dos primeiros meses do ano de 2004, nota-se que as chuvas foram bem

distribuídas durante todos os meses, segundo Monteiro (2011) foi um ano considerado muito

chuvoso. E no mês de janeiro choveu 551,5mm, um valor superior à média mensal de 30

anos (1974-2003) é de 184,9mm. Foi um mês de ocorrência de dois eventos superiores a

100 mm: dia 14 com 112 mm e dia 17 com 117mm. No ano de 2004, segundo Xavier

(2004/2005, p.18) apud Zanella (2005, p.181) “a atividade das frentes frias foi muito intensa,

chegando a provocar chuvas em todo o Ceará, inclusive, associando-se a vórtices ciclônicos

de altos níveis em janeiro [...], em alguns casos atraindo a ZCIT para latitudes ao sul do

Equador”.

Figura 04 - Gráfico com a distribuição da precipitação no ano de 2004. Fonte dos dados: FUNCEME (2015); acessado em dezembro de 2015. Organização: BRITO (2016)

Segundo a Defensa Civil do estado do Ceará foi decretado situação de emergência,

mais de quinze mil pessoas foram atingidas pelas fontes chuvas ocorridas nesse ano, os

bairros mais atingidos foram os que ficam próximos aos riachos do Ouro e ao riacho Seco.

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Em alguns sítios localizados na zona rural também foram atingidos pela inundação dos

riachos que formam o rio Salamanca.

O ano de 2007 choveu um total anual de 1.003,8mm, a soma do período chuvoso foi

de 755,6mm, a figura 05 mostra a distribuição da pluviometria nos cinco primeiro meses do

ano.

Figura 05 - Gráfico com a distribuição da precipitação no ano de 2007. Fonte dos dados: FUNCEME (2015); acessado em dezembro de 2015. Organização: BRITO (2016)

No mês de fevereiro choveu 387,2mm, sendo que a média de 30 anos para referido

mês (1974-2004) é de 196,4mm. No mês de fevereiro de 2007, evidenciou-se o episódio

com chuva de 141,5mm em 24 horas. Segundo Monteiro (2011) esse ano foi considerado

um ano normal, no período correspondente à quadra chuvosa do Estado, apresentou uma

situação de neutralidade quanto ao fenômeno ENOS e dipolo do atlântico desfavorável à

ocorrência de chuvas.

O ano de 2008 registrou um total anual de 1384,5 mm de chuvas, nos cinco

primeiros meses do ano choveu 1224,5mm (figura 06), o mês de Março choveu 560,8 mm,

sendo que a média observada para referido mês é de 238,8mm para um período de 30 anos

(1974-2004). Até o dia 23 de março, choveu 338,3mm, o valor registrado no dia 24 foi de

66,5mm. Observa-se que durante o mês as chuvas foram bem distribuídas, os dias que

antecederam o evento foram marcados por chuvas representativas e os dias que sucederam

também registraram valores importantes, somando 156 mm de precipitação.

Segundo Monteiro (2011) no segundo semestre de 2007, inicia-se a atuação de uma

La Niña que se prolonga até o primeiro semestre de 2008, oscilando entre as intensidades

fracas e moderadas. O dipolo do atlântico (negativo) apresentou valores favoráveis à

ocorrência de chuvas no ano de 2008 o resultado foi um ano chuvoso. De acordo com Atlas

Brasileiro de Desastres Naturais 1991 a 2012 (2013), o ano de 2008 teve a atuação conjunta

de vários sistemas meteorológicos contribuindo para a ocorrência de chuvas acima da

média no sul do estado do Ceará.

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Figura 06 - Gráfico com a distribuição da precipitação no ano de 2008. Fonte dos dados: FUNCEME (2015); acessado em dezembro de 2015. Organização: BRITO (2016)

O ano de 2009 foi considerado um ano chuvoso (MONTEIRO, 2011). Apresentando

o total anual de 1.191mm. O período de janeiro a maio choveu 934,2mm (figura 07). Os

meses de abril (328,7mm) e maio (265,5 mm) obtiveram os maiores índices de chuvas, o

evento pluvial aconteceu no dia 05 de maio, com um total de 74 mm em três horas, neste

caso, destacamos que o mês de abril choveu acima da média, caracterizando grande

quantidade de água no solo, a chuva do dia 05 foi inferior a 100 mm, porém, considerando

os dias anteriores verifica-se a saturação do sistema, principalmente devido à chuva ter sido

em poucas horas, no caso 3 horas.

Figura 07 - Gráfico com a distribuição da precipitação no ano de 2009. Fonte dos dados: FUNCEME (2015); acessado em dezembro de 2015. Organização: BRITO (2016)

Segundo Atlas Brasileiro de Desastres Naturais 1991 a 2012 (2013), o ano de 2009

se destaca com 110 registros de inundações no Ceará, onde o mês de abril foi marcado

pelo excesso de chuva resultando na elevação do nível dos rios e Consequentemente

inundações, os sistemas atmosféricos que favoreceram a ocorrência dessas chuvas

intensas foram: a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), a formação de linhas de

Instabilidades (LI’s) ao longo da costa e a propagação de cavados na média e na alta

troposfera.

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De acordo com Monteiro (2011) o ano de 2009 apresentou temperaturas baixas no

oceano pacífico, que poderia dar início à formação de uma La Niña fraca, onde ela exerceu

influência para a ocorrência de chuvas no quadrimestre fevereiro-maio para o Estado do

Ceará.

O ano de 2015 registrou nos quatros primeiros meses do ano o total de 716,5mm

(figura 08), o mês de abril choveu 201 mm, o episódio do dia 23 de abril de 2015 foi causado

pela "convecção profunda (sistema convectivo de nuvens de chuva) associada à Zona de

Convergência Intertropical (ZCIT) que se encontrava atuando, desde o Norte do Ceará até

ao Sul do Estado. A chuva teve início na noite do dia 22 de abril e durou até as primeiras

horas do dia 23 de abril de 2015, durando aproximadamente três horas.

Figura 08 - Gráfico com a distribuição da precipitação no ano de 2015. Fonte dos dados: FUNCEME (2015); acessado em dezembro de 2015. Organização: BRITO (2016)

4 – Considerações Finais

No exame do clima, observou-se que eventos pluviais concentrados em poucas

horas ocorrem na pré-estação e na quadra chuvosa, são decorrentes de Complexos

Convectivos de Mesoescala ou Vórtices Ciclônicos de Altos Níveis associados à Zona de

Convergência Intertropical.

As consequências dos episódios pluviais intensos se intensificam, devido, o processo

de expansão urbana, onde a o aumento da exposição direta ao perigo na planície fluvial da

bacia do Salamanca área onde localiza-se a cidade de Barbalha, indiretamente, um

crescimento em apresentar problemas em consequência desses eventos, na medida em

que a impermeabilização das superfícies favoreceu uma concentração rápida das águas de

escoamento nos canais, sujeitando-as ao extravasamento em áreas onde, anteriormente, os

alagamentos não ocorriam.

O episódio pluviométrico ocorrido no dia 23 de abril de 2015 deixou Barbalha em

situação de calamidade, tanto pelo fato de ter atingido um total de 159 mm diário, como

Page 11: VARIABILIDADE E SUSCEPTIBILIDADE CLIMÁTICA: Implicações ... (21).pdf · No mês de janeiro choveu 236,7mm, sendo que a média de 30 anos para referido mês (1974-2003) é de 184,9mm

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também em virtude da cidade apresentar maior parte do solo impermeabilizado, ruas com

infra-estrutura precária, sistema de coleta de água da chuva precário, pessoas morando em

áreas de risco. Vários bairros sofreram impactos decorrentes das chuvas intensas,

principalmente aqueles localizados em áreas próximas ao leito do riacho Seco e do riacho

do ouro.

Diante disso, destaca-se a importância desse estudo pela possibilidade de gerar

subsídios aos planejadores e tomadores de decisão e assim contribuir para uma melhor

organização do ambiente urbano de Barbalha.

5 – Referências

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