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VARIABILIDADE E SUSCEPTIBILIDADE CLIMÁTICA: Implicações Ecossistêmicas e Sociais
de 25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG
COMPORTAMENTO SAZONAL DA ILHA DE CALOR E DE FRIO EM
SOROCABA, SÃO PAULO, BRASIL
EDELCI NUNES DA SILVA1 ALINDOMAR LACERDA SILVA2
Resumo
O presente estudo avalia a ocorrência do fenômeno da ilha de calor em uma cidade média
do interior paulista. O principal objetivo desse trabalho foi identificar e caracterizar o
comportamento sazonal da ilha de calor na cidade de Sorocaba. Foram coletados dados de
temperatura do ar e umidade relativa do ar com datalogger Modelo HOBO U10 na área
urbana e rural. A análise sazonal, em Sorocaba, apontou existência da ilha de calor, nas
quatro estações do ano. No entanto, sua intensificação ocorre no período de inverno e
outono. Nos meses que correspondem ao verão e primavera, as diferenças entre as
temperaturas do ar na área urbana e na área rural são mais suaves não ultrapassando os 6o
C.
Palavras-chave: Clima Urbano, ilha de calor, temperatura do ar
Abstract
This study evaluates the occurrence of the heat island phenomenon in a small city of São
Paulo. The main objective of this study was to identify and characterize the seasonal
behavior of the heat island in the city of Sorocaba. Air temperature data and relative humidity
were collected with Model HOBO U10 in urban and rural areas. The seasonal analysis, in
Sorocaba, pointed out the existence of the heat island in the four seasons. However,
intensification occurs during winter and fall. In the months that correspond to summer and
spring, the differences between air temperatures in urban areas and in rural areas are softer
not exceeding 6 C.
Keywords: Urban climate, heat island, air temperature
1 - Introdução
Atualmente, nas cidades concentram-se grande parte da população mundial e estas
consistem em ambientes muito diferentes do campo (que já é alterado). O concreto, os
prédios, as casas, os carros, os sinaleiros de trânsito, a circulação de pessoas fazem com
que a cidade tenha ritmos e características próprias. Ritmos estes que geram alterações na
atmosfera, pois os padrões de circulação do ar dentro da cidade, assim como a absorção e
emissão de radiação são diferentes daqueles materiais que compõem a zona rural e as
áreas naturais preservadas. Na zona rural, apesar de existir uma alteração significativa por
1 Professora Adjunta na Universidade da Federal de São Carlos_Campus Sorocaba [email protected]
2Mestrando em Sensoriamento Remoto no Instituto de Pesquisas Espaciais. [email protected]
mailto:[email protected] mailto:[email protected]
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conta da presença humana, tem-se ainda a presença de vegetação, de pastagens, de
elementos naturais modificados, mas que ainda caracterizam em padrão de ocupação e
ritmos diferentes daquele do urbano.
Em relação ao clima urbano, devem-se considerar dois fatores: um físico que está
vinculado à dinâmica atmosférica e climatológica; e o social que advém da dinâmica da
sociedade, dinâmicas essas que possuem diferentes ritmos. A diferença entre os ritmos
climático e social nas diferentes escalas: global, regional, local são objeto de estudo da
ciência geográfica por meio da climatologia geográfica (MONTEIRO 2003).
Tarifa e Sette (2009), por exemplo, discutem essa interação dos fatores e elementos
que influenciam e que desempenham papel importante na dinâmica climática local:
Na perspectiva em que os climas são tratados como flutuações físicas e/ou biológicas, as interações com os ritmos das organizações sociais e econômicas contidas no ambiente encontram-se dialeticamente contidas o espaço. Portanto, os conceitos de ritmos, produção e apropriação da natureza, é uma possibilidade de melhor compreensão da totalidade das interações entre os fenômenos físicos, biológicos, sociais e econômicos. (TARIFA e SETTE 2009 p. 02).
Desta forma nota-se que os elementos sociais e naturais estão interligados
compondo uma totalidade que não pode ser compartimentada. A concepção de que os
elementos do espaço geográfico interagem entre si, de forma dinâmica compõem o do
conceito de holorritmo (TARIFA e SETTE 2009).
Oke (1981) considera que a ilha de calor3 é o exemplo mais claro de modificação do
clima não intencional em áreas urbanas e que pode trazer conseqüências nocivas, tanto
biológicas como econômicas e meteorológicas. O autor aponta para a necessidade do
aumento das investigações sobre a dinâmica climática urbana em ambientes tropicais, em
razão do crescimento do número de indivíduos que passariam a viver nestas áreas.
Segundo Fialho (2012) a ilha de calor é causada pela
... expansão da mancha urbana que intensifica os fluxos intra-urbanos, além de incrementar a densidade de área construída. Essa diferenciação em relação ao campo acarreta uma diferença no tempo de absorção da energia solar disponível durante o dia, e da reemissão de energia terrestre durante à noite. A consequência deste novo balanço de energia é o resfriamento mais lento da cidade após o pôr do sol. [...] Isto nos induz a dizer que a ilha de calor está relacionada às atividades humanas sobre a superfície e sua repercussão na troposfera interior(..) (FIALHO, 2012, pg. 61)
Tavares (1997) pesquisou o clima de Sorocaba baseando-se em comparações de
dados de duas estações meteorológicas. Uma das considerações feitas pelo autor aponta
3 A ilha de calor urbana corresponde a uma área na qual a temperatura da superfície é mais elevada que as áreas
circunvizinhas.
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que as diferenças de temperatura ente cidade e o campo são possivelmente provocadas
pela mudança de tempo, e não produzidas pelo mecanismo urbano. (TAVARES 1997 p.
177).
As transformações ocorridas em – uma cidade média do interior paulista, tem se
intensificado4 e com o aumento da população e a ampliação de sua malha urbana, nas
ultimas décadas considera-se relevante investigar o comportamento da temperatura do ar a
fim de identificar a ocorrência do fenômeno da ilha de calor.
Assim, tendo em vista o tamanho da cidade de Sorocaba, suspeitou-se que o
tamanho da mancha urbana do município seria capaz de produzir transformações na
circulação local suficiente a ponto de fazer o centro urbano mais quente que as adjacências
rurais. Percebe-se então que, levando em consideração a intensidade dos padrões de
ocupação do solo, as condições geoecológicas do sitio urbano podem ampliar (e intensificar)
o fenômeno da ilha de calor. Portanto, o principal objetivo desse trabalho foi identificar e
caracterizar o comportamento sazonal da ilha de calor na cidade de Sorocaba.
2 - Material e Métodos
Sorocaba está localizada na região sudoeste do estado de São Paulo; possui como
coordenadas geográficas 23º21’ e 23º35’ de Latitude Sul e 47º17’ e 47º36’ de Longitude
Oeste.
Com relação ao clima, na classificação climática de Koppen Sorocaba fica numa
zona de contato entre os climas Cwa e Cfa, com predominância do Cwa. Caracteriza-se por
possuir temperaturas médias anuais inferiores a 21°C. Chove 1300 mm anualmente,
concentrados especialmente no verão, o que nos permite dizer se tratar de um verão quente
e chuvoso (temperaturas médias mínimas na casa dos 16°C e máximas médias de 27°C) e
um inverno frio e seco (máximas de inverno médias de 22°C e mínimas médias de 12°C). O
relevo e suavemente ondulado e destacam-se na região a Serra de São Francisco e a Serra
de Aracoiaba.
Para o levantamento dos dados de temperatura do ar foram utilizados datalogger
Modelo HOBO U10 Temp./RH Datalogger e abrigos passivo indicado para impedir a
incidência de radiação solar direta (Figura 1).
Foram selecionados dois pontos distintos de amostragem e distantes entre si cerca
de 20 km. O primeiro deles está situado no centro da cidade de Sorocaba, na Escola
4 População estimada, de acordo com dados do (IBGE 2014) é de 637.187 habitantes, sendo que 98% dessa população
vivem na zona urbana.
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Municipal Leonor Pinto Thomaz, no centro da cidade. O segundo fica em uma fazenda, com
campos para pastagem de cavalos, com muitas árvores e uma paisagem típica de áreas
rurais (Figura 2). Ambos os apare