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Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 5 – O Português popular do Brasil, Portugal e África: aproximações e distanciamentos. 135 VARIAÇÃO DE NÚMERO NO PORTUGUÊS BRASILEIRO E MOBILIDADE SOCIAL Caroline Rodrigues CARDOSO 1 RESUMO Este trabalho 2 mostra as relações entre variação linguística, escolaridade e mobilidade social partindo de resultados de pesquisas variacionistas sobre a concordância de número no português brasileiro realizadas nos últimos 30 anos em confronto com indicadores econômicos e sociais divulgados pelo IBGE e pelo Instituto Paulo Montenegro ligado à organização não-governamental Ação Educativa. Os objetivos são (i) traçar um panorama da concordância verbal no português brasileiro em função do grau de escolaridade dos falantes e (ii) analisar a ligação entre esse panorama e o desenvolvimento social do país. É um trabalho pautado no pressuposto de que a língua é “um domínio público de construção simbólica e interativa do mundo” (MARCUSCHI, 2003). Assim, entende-se que o sujeito falante torna-se (inter)agente no mundo heterogêneo desde que lhe seja dado o direito de exercer seus direitos porque não há como conceber desenvolvimento sem inclusão social (PINSKY, 2006). Para isso, é necessário que se legitimem as diferenças linguísticas e se respeitem os direitos básicos de todo cidadão, especialmente o direito a uma educação de qualidade, que garanta efetiva competência comunicativa (BORTONI-RICARDO, 2005) e mobilidade social (PINSKY, 2006; MOLLICA, 2007). Desde a década de 70, a variação da concordância verbal – CV - vem sendo investigada pelos sociolinguistas com vistas ao entendimento dos processos de mudança linguística do PB. Entretanto, essa variação ainda é uma área de conflito já que é parte de um âmbito linguístico altamente estigmatizado e, por isso mesmo, sujeito a avaliação social negativa (OLIVEIRA E SILVA; SCHERRE, 1996; SCHERRE, 2005; CARDOSO, 2005; ILARI; BASSO, 2006; BAGNO, 2007), levando, muitas vezes, ao sentimento de baixa estima linguística por parte daqueles que não dominam o modelo socialmente valorizado. Para efeitos desta discussão, serão explorados apenas os resultados da variável escolaridade já que se acredita que o acesso à escola promove o acesso ao mundo da cultura letrada 3 e, consequentemente, à cidadania. Os resultados das pesquisas sociolinguísticas indicam um aumento substancial no uso da concordância da década de 70 até os primeiros anos do século XXI (NARO & SCHERRE, 2003). Esses resultados acompanham os indicadores econômicos e sociais do país, que têm demonstrado um aumento do acesso à escola e ao trabalho. Entretanto, ainda possuímos índices alarmantes de desigualdade social, o que 1 Universidade de Brasília, Instituto de Letras, Departamento de Linguística, Português e Línguas Clássicas. ICC Ala Norte, Subsolo, Módulo 20 – Campus Universitário Darcy Ribeiro UnB – Cep: 70910-900 - Asa Norte – Brasília – DF - Brasil. E-mail: [email protected]. 2 Agradeço imensamente a Daisy Cardoso, Patrícia Vieira e Ana Dilma Pereira pela leitura eficaz e a Janaína Thaines pela discussão coerente e colaborativa deste trabalho. Qualquer deslize é de minha total responsabilidade. 3 Conjunto de atividades diárias que envolvem práticas de leitura e escrita, como, tomar o ônibus, ler a conta de luz, dar e/ou receber troco, preencher formulários, ler e/ou escrever textos técnicos, etc.

VARIAÇÃO DE NÚMERO NO PORTUGUÊS BRASILEIRO E … · grau de escolaridade dos falantes e (ii) analisar a ligação entre ... índices significativos de mobilidade ... da concordância

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Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas

(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3

SLG 5 – O Português popular do Brasil, Portugal e África: aproximações e distanciamentos.

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VARIAÇÃO DE NÚMERO NO PORTUGUÊS BRASILEIRO E MOBILIDADE SOCIAL

Caroline Rodrigues CARDOSO1 RESUMO Este trabalho2 mostra as relações entre variação linguística, escolaridade e mobilidade social partindo de resultados de pesquisas variacionistas sobre a concordância de número no português brasileiro realizadas nos últimos 30 anos em confronto com indicadores econômicos e sociais divulgados pelo IBGE e pelo Instituto Paulo Montenegro ligado à organização não-governamental Ação Educativa. Os objetivos são (i) traçar um panorama da concordância verbal no português brasileiro em função do grau de escolaridade dos falantes e (ii) analisar a ligação entre esse panorama e o desenvolvimento social do país. É um trabalho pautado no pressuposto de que a língua é “um domínio público de construção simbólica e interativa do mundo” (MARCUSCHI, 2003). Assim, entende-se que o sujeito falante torna-se (inter)agente no mundo heterogêneo desde que lhe seja dado o direito de exercer seus direitos porque não há como conceber desenvolvimento sem inclusão social (PINSKY, 2006). Para isso, é necessário que se legitimem as diferenças linguísticas e se respeitem os direitos básicos de todo cidadão, especialmente o direito a uma educação de qualidade, que garanta efetiva competência comunicativa (BORTONI-RICARDO, 2005) e mobilidade social (PINSKY, 2006; MOLLICA, 2007). Desde a década de 70, a variação da concordância verbal – CV - vem sendo investigada pelos sociolinguistas com vistas ao entendimento dos processos de mudança linguística do PB. Entretanto, essa variação ainda é uma área de conflito já que é parte de um âmbito linguístico altamente estigmatizado e, por isso mesmo, sujeito a avaliação social negativa (OLIVEIRA E SILVA; SCHERRE, 1996; SCHERRE, 2005; CARDOSO, 2005; ILARI; BASSO, 2006; BAGNO, 2007), levando, muitas vezes, ao sentimento de baixa estima linguística por parte daqueles que não dominam o modelo socialmente valorizado. Para efeitos desta discussão, serão explorados apenas os resultados da variável escolaridade já que se acredita que o acesso à escola promove o acesso ao mundo da cultura letrada3 e, consequentemente, à cidadania. Os resultados das pesquisas sociolinguísticas indicam um aumento substancial no uso da concordância da década de 70 até os primeiros anos do século XXI (NARO & SCHERRE, 2003). Esses resultados acompanham os indicadores econômicos e sociais do país, que têm demonstrado um aumento do acesso à escola e ao trabalho. Entretanto, ainda possuímos índices alarmantes de desigualdade social, o que

1 Universidade de Brasília, Instituto de Letras, Departamento de Linguística, Português e Línguas Clássicas. ICC Ala Norte, Subsolo, Módulo 20 – Campus Universitário Darcy Ribeiro UnB – Cep: 70910-900 - Asa Norte – Brasília – DF - Brasil. E-mail: [email protected]. 2 Agradeço imensamente a Daisy Cardoso, Patrícia Vieira e Ana Dilma Pereira pela leitura eficaz e a Janaína Thaines pela discussão coerente e colaborativa deste trabalho. Qualquer deslize é de minha total responsabilidade. 3 Conjunto de atividades diárias que envolvem práticas de leitura e escrita, como, tomar o ônibus, ler a conta de luz, dar e/ou receber troco, preencher formulários, ler e/ou escrever textos técnicos, etc.

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aponta para a necessidade de melhoria da qualidade da educação e da distribuição de renda no país.

PALAVRAS-CHAVE: Português brasileiro, variação de número, ensino, mobilidade social.

Introdução

Este trabalho é uma reflexão sobre as relações entre variação linguística,

escolaridade e mobilidade social4, partindo de resultados de pesquisas variacionistas

sobre a concordância de número no português brasileiro, doravante PB, realizadas nos

últimos 30 anos em confronto com indicadores econômicos e sociais divulgados pelo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE5 - e pelo Instituto Paulo

Montenegro - IPM6- ligado à organização não-governamental Ação Educativa.

Os objetivos são (i) traçar um panorama da CV no PB em função do grau de

escolaridade dos falantes e (ii) analisar a ligação entre esse panorama e o

desenvolvimento social do Brasil.

Adota-se como princípio norteador o pressuposto de que a língua é “um domínio

público de construção simbólica e interativa do mundo” (MARCUSCHI, 2003, p. 132).

Entende-se que o sujeito falante torna-se (inter)agente e atuante no mundo heterogêneo

desde que lhe seja dado o direito de exercer seus direitos porque não há como conceber

desenvolvimento sem inclusão social (PINSKY, 2006). Assim, concebe-se a escola

4 Entendida aqui como transição de um indivíduo ou grupo de um estrato social para outro. 5 Site do IBGE: http://www.ibge.gov.br/home/ 6Site do Instituto Paulo Montenegro, responsável pela obtenção desse índice desde 2001: <http://www.ipm.org.br/ipmb_pagina.php?mpg=4.02.01.00.00&ver=por&ver=por>

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como um espaço responsável por dirimir as diferenças por meio do oferecimento de um

ensino realmente qualificado e de igual oportunidade a todos.

Ensinar com qualidade é não se preocupar apenas com soluções imediatistas

para problemas seculares ou ensinar a ler, escrever e contar, mas se preocupar com a

aplicação do que foi aprendido, com o quê e para quê aprender, com o desenvolvimento

da competência comunicativa e da cidadania7, e com a permanente construção do

conhecimento abrigando todas as diversidades possíveis num mesmo espaço

(BORTONI-RICARDO, 2005; PINSKY, 2006; MOLLICA, 2007).

Oferecer igual oportunidade a todos é transformar a escola em instituição

realmente democrática que permite o ingresso de todos os cidadãos a espaços

qualificados em todos os níveis de conhecimento – do básico ao superior – não apenas

aos que dispõem de recursos financeiros, pois “Mobilidade social lida com as

oportunidades de movimento no contexto do mercado de trabalho e, portanto, com a

mudança nas posições de classe” (SCALON apud FIGUEIREDO, 2006, p. 89). Caso

contrário, temos uma escola engendrando um sistema de desigualdades sociais.

Segundo Figueiredo (2006), a escolarização sempre foi condição para a

formação do conhecimento como capital e sociedades não avançam sem que existam

bases sólidas de educação. O autor demonstra que os índices de desemprego diminuem

à medida que avança o nível de formação do trabalhador e que cada ano de estudo

resulta em aumento de salário médio, o que gera desenvolvimento e melhoria nas

condições de vida da população. Apesar disso, o estudo aprofundado de Figueiredo

7 Direito a uma vida digna.

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(2006) mostra que, embora o Brasil, na década de 90, tenha conseguido erradicar o

analfabetismo infantil, universalizar a educação fundamental, elevar significativamente

as taxas de escolarização média e superior, ainda não se constatam índices significativos

de mobilidade social ascendente.

Problemas de toda ordem surgem em decorrência dessa manutenção das

desigualdades sociais ou da falta de mobilidade social. Um deles é que os membros da

elite econômica e social empenham-se por manter tal estratificação também num nível

linguístico, conservando as imposições culturais e a hegemonia (BORDIEU, 1996). Em

muitos momentos da história, construir um mito da unidade linguística serviu/serve para

negar as diferenças sociais e mascarar os verdadeiros interesses materiais por trás de um

discurso pretensamente patriótico (PORTER, 1993).

Muitos sociolinguistas brasileiros têm chamado atenção para esses conflitos

linguísticos profundamente associados a questões sociais. Essa interação entre o

linguístico e o social é tão natural que nem se percebe o quanto o discurso da classe

hegemônica é aliado na coação, na massificação e na vitimização da classe socialmente

desprestigiada, que, justamente por tal posição social, tem sua língua também

desprestigiada. Ao mesmo tempo, a língua possui um papel ativo na formação de um

grupo social e das identidades individuais. Assim, entende-se que a língua pode “tanto

cruzar as fronteiras de classe quanto acentuá-las” (JOYCE, 1993, p. 212).

Percebe-se que a língua, por ser um domínio público de construção simbólica e

interativa do mundo (MARCUSCHI, 2003), ao mesmo tempo molda e é moldada pelo

espaço social em que está inserida. Dessa forma, as variantes linguísticas têm como

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princípio de ocorrência a interferência tanto de fatores sociais, como de fatores

linguísticos, na medida em que estão dispostas em hierarquias sociais retroalimentadas

pela sociedade e pelo próprio sistema linguístico. Além de que é um elemento de ação

sobre o mundo.

Os estudos sociolinguísticos no Brasil, implementados desde a década de 708,

buscaram e buscam, além de entender os processos de mudança linguística no PB,

destituir da sociedade a noção de falar bem português, ou falar português correto, ou

saber português, porque esses discursos impregnaram-se em meios de comunicação de

massa e refletem-se na sala de aula desde sempre.

É uma calamidade social, nesses quase 40 anos de estudos sobre variação

linguística no Brasil, que muitas pessoas ainda convivam com a ilusão corrosiva de que

não sabem sua própria língua ou de que falam errado e, portanto, são incultas, objetos

de chacota ou incapazes de obter um bem-sucedido espaço na sociedade, como esta

declaração de uma nordestina, empregada doméstica, 3 anos de escolaridade,

colaboradora de pesquisa de Cardoso (2005):

Pra mim é muito difícil. Pra mim é.. muito difícil porque nasci

na roça, me criei na roça. Agora que eu tô aqui no.. no Paranoá

há cinco anos.. mas.. sei lá.. eu gosto muito de brincar, como

você sabe. Mas eu sou muito envergonhosa. Sei lá.. as pessoas

me perguntarem, assim, as coisa, aí eu.. sei não, minha irmã.

(...) Nordestino é pessoas que fala errado demais, eu reconheço,

8 Estudos pioneiros foram os de Naro & Lemle. Em 1976, analisando a fala carioca de três falantes. Um ano depois, em 1977, uma pesquisa mais extensa, com base em dados de 20 falantes, integrantes do MOBRAL (Movimento Brasileiro de Alfabetização), no Rio de Janeiro, parte integrante do Projeto de Competências Básicas do Português.

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sim, tá bom? Desculpa, mil desculpa. (...) Eu acho que vocês

vão mangar muito de algumas coisa errada que tem aí porque,

quando eu percebo que eu tenho falado errado, ou já tem

passado, ou.. então eu acho que vocês vão rir demais, mangar,

mas tudo bem. Eu tô vendo mesmo vocês passarem a fita pra

ouvir. (CARDOSO, 2005, p. 32)

Alguns estudos da Sociolinguística propõem-se a explicar os processos de

mudança linguística no PB no tocante à morfossintaxe da concordância entre verbo e

sujeito. Até agora, Scherre & Naro (2006), por exemplo, apontam para uma mudança

sem mudança. Os autores estabelecem como melhor modelo para dar conta desse

fenômeno o de fluxos e contrafluxos, segundo o qual a comunidade “apenas transita por

mais ou menos concordância em termos de frequências globais – mudanças superficiais

– que não afetam a essência dos sistemas envolvidos” (SCHERRE & NARO, 2006, p.

115), ou seja, as mudanças têm se dado quantitativa e não qualitativamente.

Bortoni-Ricardo (2005) muito afortunadamente propõe uma análise da ecologia

sociolinguística do PB a partir da desconstrução de visões dicotômicas pertinentes ao

quadro de estudos linguísticos brasileiros até então, como língua culta versus língua

popular, escrita versus fala, formalidade versus informalidade. A autora introduz a

concepção de que a variação se dá em três contínuos: o rural-urbano, o de oralidade-

letramento e o de monitoração estilística. Segundo ela, no contínuo rural-urbano

encontram-se os traços graduais que caracterizam as variantes presentes no repertório de

quase todos os brasileiros, submetidas a monitoramento a depender do contexto de

interação, e prestigiadas socialmente; e os traços descontínuos que caracterizam as

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variantes regionais e sociais presentes no repertório de grupos localizados na base da

hierarquia social e submetidas a maior estigma social.

A variação da CV, por exemplo, é um âmbito linguístico altamente

estigmatizado no Brasil e, por isso mesmo, sujeito a avaliação social negativa, levando,

muitas vezes, ao sentimento de baixa estima linguística por parte daqueles que não

dominam o modelo socialmente valorizado (OLIVEIRA E SILVA; SCHERRE, 1996;

SCHERRE, 2005; CARDOSO, 2005; ILARI; BASSO, 2006; BAGNO, 2007).

Tomando-se como base alguns estudos variacionistas sobre CV no Brasil com

amostras de várias cidades9 e de grupos de pesquisa consolidados10, será traçado um

panorama dessa variação em função da variável social escolaridade. Poderá ser

observada, também, a carência de estudos desse tipo em algumas regiões do país. Esse

panorama será utilizado, juntamente com dados do Indicador de Alfabetismo Funcional

– INAF - e do IBGE acerca de educação, trabalho e renda, como elementos de reflexão

a respeito da mobilidade social.

É importante apresentar breve panorama de resultados de pesquisas

empreendidas até o momento no tocante às variáveis linguísticas envolvidas na variação

da CV, pois elas demonstram efeito estatístico importante e consideravelmente

homogêneo em quase todas as amostras visitadas para este estudo: (i) a saliência fônica

do verbo – verbo mais saliente favorece a ocorrência da variante prestigiada; (ii) o traço

9 Rio de Janeiro, São Paulo, São José do Rio Preto/SP, São Carlos, Porto Alegre, Florianópolis, Maranhão/Brasília, João Pessoa, Belo Horizonte. 10 Programa de Estudos sobre o Uso da Língua (PEUL), Norma Urbana Oral Culta do Rio de Janeiro (NURC), Projeto Variação Linguística Urbana do Sul do País (VARSUL), Projeto Variação Linguística no Estado da Paraíba (VALPB) e Amostra Linguística do Interior Paulista (ALIP).

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semântico do sujeito – sujeito mais humano favorece a ocorrência da variante

prestigiada; (iii) a ordem do verbo – verbo à direita do sujeito favorece a ocorrência da

variante prestigiada; e (iv) o paralelismo – marcas nos elementos anteriores levam a

marcas nos elementos posteriores, ou seja, marca anterior favorece a ocorrência da

variante prestigiada.

Traçado o panorama das variáveis linguísticas, partamos para a reflexão com a

variável escolaridade. Para tanto, é necessário compreender que o Brasil está inserido

num contexto de avaliação sociolinguística bastante acentuada. A variação da CV, frise-

se, é sujeita às mais diversas avaliações a depender da variante tomada como modelo –

no caso a marca formal de plural no verbo - e do papel social que ocupa quem fala.

Desse modo, acredita-se na escola como um dos meios de acesso à variante prestigiada

da CV e a papéis socialmente valorizados.

Obviamente que não é desconsiderado o importante papel do acesso aos meios

de comunicação de massa e aos bens de consumo da classe média - computador,

internet, livros, revistas, viagens - como promotor de um modelo linguístico a ser

seguido. Especialmente porque, na televisão, por exemplo, a grade de programação está

permeada de falas decoradas a partir de textos escritos ou lidas em teleprompter.

Levando-se em conta o contínuo de monitoração estilística de Bortoni-Ricardo (2005),

nessas condições a fala é muito menos espontânea e muito mais sujeita a pressão

comunicativa para utilização de variantes prestigiadas.

Entende-se que o comportamento social e o trânsito no conjunto diário de

práticas sociais que usam a escrita não são condições sine qua non para o sujeito ter

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ascensão social, como bem aponta Mollica (2007, p. 17) “os sujeitos distribuem-se em

“espaços sociais”, com graus diferenciados de inserção social, de tal modo que não se

aplica necessariamente a correlação sistemática entre apropriação da escrita e

participação na sociedade”. Entretanto, histórica e socialmente, a apropriação de

variantes padronizadas e eleitas socialmente como melhores é uma condição, se não de

mobilidade, de inclusão social11.

Nas duas seções seguintes, serão analisados o panorama de pesquisas

sociolinguísticas sobre a variação da CV em algumas cidades brasileiras em função da

escolaridade, os índices de alfabetização e escolarização, e os índices de emprego e

mobilidade dos brasileiros para ampliar a visualização das questões até aqui dissertadas

sobre o desenvolvimento social do país.

Panorama da variação da concordância verbal e da escolarização no Brasil

Desconsiderando-se as diferenças entre as amostras, os resultados consultados

para este trabalho, gentilmente tabulados e cedidos pela profa. Marta Scherre, são do

Rio de Janeiro, com falantes sem escolarização, do MOBRAL, da década de 70 (cf.

Naro, 1981), com falantes escolarizados de 1 até 11 anos, da amostra do PEUL da

década de 80, e com falantes escolarizados de 1 até 11 anos, dessa mesma amostra,

recontactados aleatoriamente entre 1999 e 2000 (cf. Naro & Scherre, 2003); de São

Paulo, com falantes sem escolarização e com 1 a 4 anos de escolarização; de São 11 Renda, emprego, representatividade política, serviços sociais de lazer, cultura, habitação, saúde e educação, iguais oportunidades independentemente de etnia, gênero ou condição econômica, física e/ou psicológica.

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Carlos, interior paulista, com falantes sem escolarização e escolarizados pela Educação

de Jovens e Adultos (cf. Monte, 2007); de São José do Rio Preto, interior paulista, com

falantes escolarizados de 1 a 11 anos, da ALIP (cf. Rubio, 2008); de JP, com falantes

sem escolarização e escolarizados de 1 até 11 anos, do corpus do VALPB (cf. Anjos,

1999); de Maranhão/Brasília, uma falante com 3 anos de escolarização maranhense

radicada em Brasília (cf. Cardoso, 2005); de Belo Horizonte, com falantes sem

escolarização e escolarizados com 1 a 11 anos (cf. Nicolau, 1984); de Porto Alegre, com

falantes de 1 a 11 anos de escolarização, da amostra do VARSUL (cf. Vogt Barden,

2004); de Florianópolis, com falantes de 4 anos e de 11 anos de escolarização, da

amostra do VARSUL, (cf. Monguilhott, 2001) e com falantes com ensino fundamental

– EF12 - e com ensino superior – ES - de diversas regiões de Florianópolis (cf.

Monguilhott, 2008).

Para as duas variantes de uso da CV no PB, uma desprestigiada e uma

prestigiada, em função da variável social escolaridade, apresentam-se frequências

globais e resultados interessantes de uso da variante prestigiada nas últimas três

décadas. Ressalte-se que ainda há carência de pesquisa sobre o fenômeno da variação da

CV nas regiões Centro-Oeste, Nordeste e Norte.

Pelo Gráfico 1, abaixo, pode-se observar que, na década de 80, no RJ13, o uso da

variante prestigiada da CV apresenta-se bastante alto - 62% (EF1), 78% (EF2) e 82%

12 Grade de escolaridade SE = sem escolaridade EF1 = com ensino fundamental séries iniciais EF2 = com ensino fundamental séries finais EM = com ensino médio ES = com ensino superior 13 Amostra do PEUL (cf. Naro & Scherre, 2003).

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(EM). Em São Carlos14, interior paulista, na década de 2000, o uso da variante

prestigiada da CV apresenta-se bastante baixo 19% (SE) e 31% (EJA).

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

Gráfico 1: Uso da variante prestigiada da CV em função da escolarização nos últimos 30 anos.

Da década de 80 para a de 2000, como mostra a Tabela 1, abaixo, houve

decréscimo do número de pessoas sem escolarização entre a população acima de 15

anos de idade no Brasil – 11pp. Essa diferença de 11pp entre o índice de pessoas sem

escolarização na década de 80 e o índice da década de 2000 é exatamente a diferença

entre o índice mais alto de uso da variante prestigiada da CV na década de 80 no RJ, na

amostra do PEUL, e o índice mais baixo de uso da variante prestigiada da CV na década

de 2000 em São Carlos.

Pela Tabela 1, houve decréscimo do número de pessoas sem escolarização com

mais de 15 anos no Brasil da década de 80 para a de 2000. Dados da PNAD15 2008,

14 Cf. Monte, 2007.

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divulgados na primeira semana de setembro de 2009, mostram que a taxa de

escolarização da população brasileira entre seis e 14 anos é de 97%. A região Sudeste

ainda é a que possui o maior percentual de pessoas escolarizadas entre seis e 14 anos –

97,7%, seguida das regiões Sul, com 97%; Centro-Oeste, com 96,9%; Nordeste, com

96,8% e Norte, com 95,1%. Isso significa que quase 100% das crianças brasileiras

estão na escola.

Tabela 1: Número de analfabetos e taxa de analfabetismo entre a população com mais de 15 anos.

POPULAÇÃO

NÃO ALFABETIZADA

ANO

TOTAL

No %

1980 73542003 18716847 25,5

1991 95810615 18587446 19,4

2000 119533048 16294889 13,6

Fonte: IBGE. Adaptada de Rojo (2009, p. 16).

Esse decréscimo de pessoas sem escolarização acompanha o aumento do uso da

variante prestigiada da CV em amostras de falantes cariocas nesse mesmo período. Na

década de 80, por exemplo, falantes do RJ com EM apresentavam 82% de CV em sua

fala. Na década de 200016, esse número sobe para 95%, o mesmo resultado para os

falantes com ES da década de 80 no RJ (cf. Gráfico 1). Isso pode ser um índice de que

15 Disponível em <http://www.ibge.gov.br/graficos_dinamicos/pnad2008/educacao.html> 16 Amostra de recontacto do PEUL (cf. Naro & Scherre, 2003).

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um maior acesso da população à escola leva a uma maior exposição à variante

prestigiada da CV e, portanto, a um uso mais efetivo dessa variante.

Observe-se que a região de São Carlos fica no interior de São Paulo, por isso,

com base no contínuo rural-urbano (BORTONI-RICARDO, 2005), arrisca-se pela

hipótese de haver uma influência dos traços descontínuos característicos da fala de

grupos localizados mais próximos ao pólo rural do contínuo, além do que a amostra de

São Carlos é composta por pessoas sem escolarização e por pessoas escolarizadas pela

Educação de Jovens e Adultos (EJA), portanto pessoas sem ou com menos tempo de

exposição à variante prestigiada via escola. A amostra do RJ é composta por pessoas

com ensino fundamental e ensino médio, portanto com mais tempo de exposição à

variante prestigiada via escola. Ressalte-se a diferença temporal de quase 20 anos entre

uma amostra e outra.

Outra importante diferença está entre os falantes do RJ com ES, na década de

80, cujo percentual de uso da variante prestigiada da CV era de 95%, e os de SJRP17, na

década de 2000, cujo percentual de uso da variante prestigiada da CV era de 87% –

diferença de 8pp para menos. Esse resultado de SJRP não era esperado, já que, como

mostra a Tabela 2, houve aumento do índice de alfabetismo para pessoas com ES o que,

hipoteticamente, poderia elevar o número de pessoas que mantiveram contato com a

variante de prestígio e que a usaram da década de 80 para a de 2000.

17 Cf. Rubio, 2008.

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Comparando a amostra do RJ da década de 80 com a de 200018, ressalto o

aumento de uso da variante prestigiada da CV para falantes com EF completo de 78%

para 85%; e de falantes com EM, de 82% para 95%. Este índice do EM da amostra do

RJ da década de 2000 é igual a do RJ da década de 80 para falantes com ES. O aumento

do acesso ao EM e ao ES no Brasil pode ser uma explicação para esse índice entre

falantes com EM no RJ na década de 2000, mas não explica o decréscimo do índice em

São José do Rio Preto com relação ao RJ, por exemplo.

Os dados de uma falante com três anos de escolarização da amostra

Maranhão/Brasília19 apresentam-se em consonância com os resultados de falantes com

cinco a oito anos de escolarização da amostra da Paraíba20 – 52% e 55%

respectivamente. Aqui neste ponto é importante frisar a grande importância de se

estudar a variação com olhar para outros meios de propagação do prestígio de uma ou

outra variante já que os resultados acima levam a inferir que a exposição às variantes de

prestígio se dá também via meios de comunicação de massa e redes sociais (convívio

com pessoas mais escolarizadas), como é o caso da falante maranhense, que trabalha

como doméstica em casa de família de classe média em Brasília e tem filhos na escola.

Uma característica atual de comunidades com pouco ou nenhum grau de escolarização

que ajuda a entender esses resultados é o contato com o mundo letrado21 de diversas

formas (cf. Tabela 2).

18 Amostra de recontacto do PEUL (cf. Naro & Scherre, 2003). 19 Cf. Cardoso, 2005. 20 Cf. Anjos, 1999. 21 Experiências cotidianas com práticas de leitura e escrita e valores a elas associados.

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Os falantes com EM de Belo Horizonte22 da década de 80 apresentam

exatamente a mesma frequência global de uso da variante prestigiada da CV que os

falantes com EM de São José do Rio Preto da década de 2000 – 74%. Os falantes com

escolarização entre zero e cinco anos de Belo Horizonte apresentam quase o mesmo

índice de uso da variante prestigiada da CV – 38% - que os falantes com até quatro anos

de escolarização de João Pessoa – 35%; mais alto do que os falantes da periferia de SP

no final da década de 80 – 30%; e bem mais baixo em relação aos falantes com

escolarização entre um e quatro anos de São José do Rio Preto – 56% - e em relação aos

falantes com uma a quatro anos de escolarização de Florianópolis – 78%, onde estão os

índices mais altos de uso da variante prestigiada da CV em todos os níveis de

escolarização.

Os falantes com ES da amostra de São José do Rio Preto apresentam 87% de uso

da variante de prestígio da CV, quase igual à frequência registrada na fala dos

florianopolitanos com ES na década de 2000 - 88%. Essas frequências globais estão

acima da frequência de 74% de uso da variante prestigiada da CV registrada na fala dos

pessoanos com ES na década de 90. Para complementar esses resultados, recorre-se aos

dados do PNAD 2008 segundo os quais, dos estudantes que frequentaram o ES no

Brasil em 2007, 23,6% estavam em universidades públicas e 76,4% em universidades

privadas. Dos 23,6% de estudantes das universidades públicas, 54,3% pertenciam aos

20% economicamente mais favorecidos da população – mais da metade. Esses

resultados denotam um maior acesso ao ensino superior privado, ainda que se questione

esse acesso e a qualidade desse ensino. 22 Cf. Nicolau, 1984.

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Analisando os índices por região e por década, tem-se que a região Sul

apresentou aumento do uso da variante prestigiada da CV comparativamente entre as

amostras daquela região. Dados da região Nordeste demonstram que a falante com EF1

do MA apresenta índice igual ao de falantes com EF2 da PB. A região Sudeste

apresenta índices ainda não homogêneos no tocante à variável escolaridade entre as

amostras do RJ e de SP. Os dados de São Carlos, interior de SP, na década de 2000,

apresentam-se como os da periferia de SP na década de 80. Comparando-se apenas os

dados de falantes cariocas entre si, houve aumento significativo do uso da variante

prestigiada da CV em todos os níveis de escolaridade. Frise-se, novamente, a

necessidade de mais pesquisas sobre esse fenômeno.

O uso da variante prestigiada da CV não está diretamente ligado ao nível de

leitura do indivíduo, porém seu nível de alfabetismo - grau de leitura - cruzado com seu

grau de escolarização pode dar indícios de sua competência comunicativa e,

consequentemente, pode se tornar uma variável importante para o entendimento de

variáveis sociais como a escolaridade.

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Tabela 2: Nível de alfabetismo por escolaridade (2001 a 2007).

Fonte: Adaptada de http://www.ipm.org.br/ipmb_pagina.php?mpg=4.02.01.00.00&ver=por&ver=por. Acesso em 19 de ago de 2009.

Na Tabela 2, estão os índices do INAF 2007 do IPM. Os plenamente

alfabetizados encontram-se, em maior percentual, na população com ES (74%) e, em

23 NÍVEIS DE ALFABETISMO (Instituto Paulo Montenegro) Analfabeto – não consegue realizar tarefas simples que envolvem decodificação de palavras e frases. Alfabetizado nível 1 – alfabetismo rudimentar. Corresponde à capacidade de localizar informações explícitas em textos muito curtos, cuja configuração auxilia o reconhecimento do conteúdo solicitado. Alfabetizado nível 2 – alfabetismo nível básico. Corresponde à capacidade de localizar informações em textos curtos. Alfabetizado nível 3 – alfabetismo pleno. Corresponde à capacidade de ler textos longos, orientando-se por subtítulos, localizando mais de uma informação, de acordo com condições estabelecidas, relacionando partes de um texto, comparando dois textos, realizando inferências e sínteses. Fonte: http://www.ipm.org.br/ipmb_pagina.php?mpg=4.02.01.00.00&ver=por&ver=por. Acesso em 19 de ago de 2009.

Grau de escolaridade

Nível de alfabetismo23

SE EF1 EF2 EM ES TOTAL

TOTAL 1182 3356 3238 3112 1118 12.0006

Analfabeto 73% 12% 1% 0% 0% 11%

Rudimentar 24% 52% 26% 8% 2% 26%

Básico 2% 31% 53% 45% 24% 37%

Pleno 1% 5% 20% 47% 74% 26%

Analfabetos funcionais 97% 64% 27% 8% 2% 37%

Alfabetizados

funcionalmente

3% 36% 73% 92% 98% 63%

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menor percentual, entre os SE (1%). Esse grupo não chega nem à metade quando se

considera a população com EM; e apresenta um índice de alfabetismo pleno ainda muito

aquém do ideal no grupo com EF2 – 20%. Os analfabetos funcionais correspondem a

37% da população assim divididos: 97% dos SE, 64% da população com EF1, 27% dos

que têm EF2, 8% dos que têm EM e 2% da população com ES. Esses resultados

demonstram que ainda permanece a necessidade de preocupação com a qualidade do

ensino oferecido, já que é esperado que, além da diminuição do número de analfabetos e

de analfabetos funcionais, haja alcance dos objetivos traçados para aquisição de

habilidades e competências para cada ciclo, como a leitura. Não é o que a Tabela 2

mostra.

Panorama da mobilidade social no Brasil

A partir dos resultados apresentados na seção anterior, não há dúvida alguma de

que a educação no Brasil vem melhorando quantitativamente. No entanto, há

necessidade de melhoria substancial da qualidade do ensino oferecido ao brasileiro. Se

se considera que o acesso a e o uso de variantes linguísticas prestigiadas socialmente,

via escola, podem se configurar como indicadores de qualidade da educação, ainda é

necessário muito trabalho. Pode-se dizer que já se tem, em andamento, um quadro

bastante propício, pelo menos com os estudos implementados até o momento, ao

desenvolvimento social por meio do acesso democrático ao conhecimento.

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Esse quadro de desenvolvimento social pode ser concebido, para fins desta

apresentação, com ao menos duas variáveis: educação e trabalho, para que se configure

a mudança de classe que caracteriza a mobilidade social (cf. SCALON apud

FIGUEIREDO, 2006, p. 89). Educação foi apresentada no tópico anterior. Neste tópico,

abordaremos as questões de trabalho e renda. Figueiredo (2006) demonstra que os

índices de desemprego diminuem à medida que avança o nível de formação do

trabalhador e que cada ano de estudo resulta em aumento de salário médio, o que gera

desenvolvimento e melhoria nas condições de vida da população.

A PNAD 2008 corrobora em parte essa afirmação. Resultados apresentados na

semana passada mostram que, de 2007 a 200824, o país registrou aumento de 33,1%

para 34,5% no número de trabalhadores com carteira assinada, estando a cargo da

região Norte o maior índice – de 20,9% para 23%; seguida das regiões Sul – de 37,2%

para 38,8%; Sudeste - de 42,2% para 43,6%; Centro-Oeste – de 31,8% para 33%; e

Nordeste – de 19,9% para 20,9%. O aumento do número de trabalhadores com carteira

assinada elevou a renda da população em 1,3% em relação a 2007. Entretanto, a PNAD

2008 traz um número expressivo de desempregados na faixa dos 18 aos 24 anos25. Para

analistas do IBGE que coordenam a PNAD, isso se deve ao fato de que esses jovens não

apresentam características exigidas pelo mercado, mesmo possuindo escolarização

avançada.

A renda média do brasileiro também sofreu aumento, apesar de não haver

correspondência direta com as regiões em que o número de carteiras assinadas cresceu. 24 Cf. Savarese, 2009. Disponível em <http://economia.uol.com.br/ultnot/2009/09/18/ult4294u2961.jhtm> 25 Cf. Savarese, 2009. Disponível em <http://economia.uol.com.br/ultnot/2009/09/18/ult4294u2961.jhtm>

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A média nacional de rendimentos, em 200626, era de R$ 926,00, hoje é de R$ 955,00

(alta de 3,13%). A região Centro-Oeste é a que apresenta a maior renda média, com

R$ 1.139,00 por mês; seguida das regiões Sudeste, com R$ 1.098,00 mensais; Sul, com

R$ 1.064,00 por mês; Norte, com R$ 784,00 mensais; e Nordeste, com R$ 606,00 por

mês. Ainda segundo o IBGE, os rendimentos médios aumentaram nos últimos dez anos

no Nordeste (de R$ 446,00 para R$ 493,00), no Sul (de R$ 883,00 para R$ 936,00) e no

o Centro-Oeste (R$ 955,00 para R$ 1.058,00).

Para Figueiredo (2006), apesar de o Brasil, na década de 90, ter praticamente

erradicado o analfabetismo infantil, universalizado a educação fundamental, elevado

significativamente as taxas de escolarização média e superior, ainda não se constatam

índices significativos de mobilidade social ascendente. Já a PNAD 2008 mostra que

aproximadamente 14 milhões de brasileiros ascenderam socialmente entre 2001 e 2008.

Com esses resultados da PNAD 2008, será que se pode arriscar a afirmação de que

houve tímida mobilidade social da população de baixa renda? Parece que, para muitos,

o importante não são os índices em si, mas a perspectiva de melhora constante.

Considerações Finais

Não há dúvida de que houve acelerado progresso na escolarização do brasileiro

nos últimos anos e, consequentemente, a apropriação de variantes de prestígio, como a

da CV, reflete esse progresso substancial e aumenta o acesso ao mundo letrado o que,

26 Cf. Crespo, 2009. Disponível em <http://economia.uol.com.br/ultnot/2008/09/18/ult4294u1661.jhtm>

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consequentemente, contribui para os processos de inclusão social. É um círculo que

começa a tomar maiores proporções, especialmente nos últimos 10 anos, à medida que o

Brasil vai avançando em indicadores econômicos e sociais, como educação, trabalho e

renda, e o Estado vai investindo mais em políticas públicas de bem-estar social.

No entanto, ainda é preciso resolver outros índices como saneamento básico,

moradia, transporte, saúde e, principalmente, distribuição de renda. Em comparação

com países desenvolvidos economicamente, o progresso educacional precisa ser

também mais qualitativo. Futuramente, pretende-se explorar os índices do Governo que

medem a qualidade da escolarização do brasileiro e os resultados dos Planos

Plurianuais.

Resta o otimismo de que haja efetiva mobilidade social em muito pouco tempo,

porque se acredita que o sujeito falante torna-se (inter)agente e atuante no mundo

heterogêneo desde que lhe seja dado o direito de exercer seus direitos a partir da

apropriação de variantes linguísticas prestigiadas e maior inserção no mundo letrado. A

escolarização é uma das formas pelas quais se podem dirimir diferenças, oferecendo-se

um ensino realmente qualificado e de igual oportunidade para todos, ou pelas quais se

podem aumentar as diferenças.

Os sociolinguistas brasileiros vêm buscando contribuir de forma efetiva para,

além de entender os processos de mudança linguística no PB, destituir da sociedade a

ilusão corrosiva de que algumas pessoas, geralmente as de classes menos favorecidas,

não sabem sua própria língua ou de que falam errado e, portanto, são incultas e

incapazes de obter um espaço bem-sucedido na sociedade.

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