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RICARDO HENRIQUE DE JESUS VEDAÇÃO À AMPLA DEFESA E AO CONTRADITÓRIO ANTE AO DEPÓSITO RECURSAL SUMÁRIO INTRODUÇÂO ............................................................................................................. 4 1 – Considerações gerais sobre Procedimento Administrativo Tributário .................... 5 2 - Processo e Princípios Basilares ............................................................................ 8 3 - Violação à Ampla Defesa e ao Contraditório .........................................................13 CONCLUSÃO ..............................................................................................................21 BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................... 23

Vedação a ampla defesa e ao contra.p.administrativo fiscal

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RICARDO HENRIQUE DE JESUS

VEDAÇÃO À AMPLA DEFESA E AO CONTRADITÓRIO ANTE AO

DEPÓSITO RECURSAL

SUMÁRIO

INTRODUÇÂO ............................................................................................................. 4

1 – Considerações gerais sobre Procedimento Administrativo Tributário .................... 5

2 - Processo e Princípios Basilares ............................................................................ 8

3 - Violação à Ampla Defesa e ao Contraditório .........................................................13

CONCLUSÃO ..............................................................................................................21

BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................... 23

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem por escopo uma visão crítica da violação dos

princípios constitucionais da ampla defesa e do contraditório com a determinação da

realização do depósito prévio para a admissibilidade de reexame da matéria pelo

Conselho ou Segunda Instância Administrativa.

Com efeito, procurou-se, demonstrar em linhas gerais o procedimento

administrativo tributário e a função do Fisco com sua atividade vinculada e, bem assim,

o princípio da legalidade objetiva e a busca incessante da verdade material pela

imparcialidade no procedimento.

Conotou-se ligeiramente sobre a ênfase do processo administrativo

previsto no artigo 5º, inciso LV, da Carta Magna, quando da análise gramatical do

dispositivo, vislumbra-se claramente que se trata de instância julgadora administrativa.

Ao mesmo tempo, fez-se observação expressa aos princípios constitucionais suso

citados.

Ao arremate, entende-se que há absoluta inconstitucionalidade do

depósito prévio, eis que agride frontalmente a ampla defesa e o contraditório e todos

aqueles outros princípios constitucionais implícitos a eles.

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1 - CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE PROCEDIMENTO

ADMINISTRATIVO TRIBUTÁRIO

A função do fisco é eminentemente estatal, pois se há renda, nasce a

possibilidade de se cobrar tributos e, conseqüentemente da administração pública

exercer a atividade vinculada em Lei, através do seu departamento governamental

(Fisco). Logo, a atividade do Fisco é essencialmente um poder- dever seu atribuído por

uma norma imperativa, que neste caso é aplicada por ofício.

Aurélio Pitanga Seixas Filho, em artigo publicado sobre processo administrativo

fiscal à Revista Dialética, volume 4º, assevera: “No direito administrativo, e, em

particular, no direito tributário vigora o princípio da legalidade objetiva, em que a

autoridade para cumprir a sua função, o seu ofício, tem o dever legal de agir (princípio

da oficialidade) tem o poder legal (potestade) de compelir o contribuinte ou os terceiros,

a cumprir os mandamentos previstos na legislação tributária, nada mais fazendo desta

forma do que aplicar a lei de ofício.” (1999:9).

Logo, a autoridade fiscal ao praticar os atos jurídicos na qualidade da função

administrativa que exerce, o faz de forma estritamente legal, cumprindo tão somente os

parâmetros da Lei, sem importar o seu ato em exercício de juízo de valor para o

administrado ou para o Estado. Daí por que acoimá-los de atos desinteressados, não

havendo qualquer direito subjetivo a defender ou interesse próprio a agasalhar, senão o

de cumprir estritamente a Lei.

Neste entendimento, o procedimento administrativo tributário visa a

imparcialidade dos atos praticados, buscando em sua essência a verdade material.

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Em comentários a Revista Regime Jurídico dos Recursos Administrativos

Fiscais e os seus Efeitos, Revista de Processo, Ed. RT, São Paulo, nº 25, p.55, Aurélio

Pitanga S. Filho, observa: “ o único interesse da Fazenda Pública é o de aplicar a lei, é

o de exercer a sua função administrativa tributária sem se desviar da correta e inflexível

interpretação da norma jurídica, o que configura uma atuação não conflitante com os

interesses entre Fazenda e Contribuinte.

Tanto no procedimento administrativo do lançamento tributário como no do

recurso para controlar a sua legalidade , a atividade da administração será conduzida

não como de uma parte em defesa de algum interesse em conflito com o interesse de

outra parte, porém, a função administrativa será exercida imparcialmente no

cumprimento de um dever jurídico.” (Dialética. v 4. 1999:10)

Alberto Xavier, assevera:”Que no procedimento administrativo, a Administração

Financeira é, pois uma parte imparcial.

Sendo parte imparcial ou órgão de justiça, o Fisco não exprime um interesse em

conflito ou contraposto ao do particular, contribuinte.” (Do Lançamento. Teoria Geral do

Ato do Procedimento e do Processo Tributário, Rio: Forense, 1997, p. 160).

A real conduta praticada pelo contribuinte é o que informa o princípio da verdade

material no procedimento administrativo tributário, posto que se possibilita ao máximo o

alcance do pleno direito e da obediência ao princípio da imparcialidade e da legalidade

objetiva.

Arrematando o tema, Eliana Maria Barbieri Bertachini, comentando sobre

processo administrativo fiscal, mencionando que os procedimentos são a sucessão

encadeada de atos dirigidos a certo pronunciamento e podem ser considerados sobre

dois aspectos: procedimento administrativo típico (referente as atividades de

fiscalização para constituição e apuração do crédito tributário) e procedimento

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administrativo voluntário (referente a consulta do contribuinte). Revista Dialética.

v3.1998:33).

2 - PROCESSO E PRINCÍPIOS BASILARES

A Carta Magna insere o Processo Administrativo no seu artigo 5º, incisos XXXIV,

alínea “a” e LV, declarando o direito de questionar o Poder Público, e procurando

equiparar o processo administrativo ao processo judicial, posto que claramente o texto

constitucional estabelece o contraditório.

Primacialmente a Carta Suprema faz menção aos litigantes no processo

judicial ou administrativo.(Grifei).

Ora da análise gramatical do texto, se depreende a idéia de que tanto no

processo judicial quanto no processo administrativo há litigantes, sendo portanto

litigiosa a coisa.

Com efeito, entendemos que não basta tão somente um mero procedimento

administrativo da administração fazendária para que haja litigantes, posto que vários

podem ser os atos administrativos praticados, máxime porquanto presente o requisito

da discricionariedade dos atos segundo a conveniência e a oportunidade que é peculiar

à administração pública e também ato de mero expediente para o perfeito

funcionamento da própria administração .

.

A idéia de processo sempre nos leva a crer que exista algum tipo de contenda

ou algum direito que deva ser restaurado mediante um pronunciamento do Estado-

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Juiz, quer por meio de um pedido meramente declaratório, quer por meio de uma

pretensão que visa dirimir conflitos de interesses.

É verdade que os bens e os interesses de alguém estão sempre em condição de

colidir com os bens e interesses de outrem, surgindo daí, a possibilidade de intervenção

do Estado para solucionar o chamado conflito de interesses.

Pois bem, dentro deste contexto, temos que a jurisdição contenciosa é a

propriamente dita, enquanto a vulgarmente chamada voluntária, é a graciosa,

administrativa, gratuita ou intervolente, consistindo na prática de atos administrativos

que são atribuídos aos órgãos estatais cujas funções básicas importam em exercício

de jurisdição.

Dentro da ótica supracitada, verificamos claramente que a Constituição, não faz

acepção entre ser o julgado administrativo ou judicial, mas sim ser litigiosa a coisa. Daí

então, entendermos de plano que não havendo concordância do contribuinte com os

atos praticados pela administração fazendária, pode este exercer o seu direito público

subjetivo de requerer o pronunciamento administrativo até ultima instância.

Eliana Maria Barbieri Bertachini, em artigo publicado a Revista Dialética, volume

3, sobre o tema (Analise Crítica do Processo Administrativo), assevera que: “A expressa

previsão constitucional contida no referido inciso LV do artigo 5º, usando as expressões

“litigantes” e “processo administrativo” e nele garantindo o exercício dos direitos do

contraditório” e a “ampla defesa”, de uma só vez resolve duas questões polêmicas do

Direito Administrativo: admite a existência de “lide administrativa” e consagra status de

“processo” “a solução destas ocorrências.

Sem se entrar na discussão científica da distinção, no âmbito da Teoria Geral do

Processo, pode-se afirmar que a letra do constituinte permite separar “o processo” do

“procedimento”, exigindo, para caracterização daquele, o elemento da demanda

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contestada, ocasião para qual são próprios os termos empregados: “litigante”,

“contraditório” e “ampla defesa”.

Neste contexto destaca-se o “processo administrativo fiscal”, como modelo

exemplar , de vez que a permissão à impugnação do lançamento tributário instiga à

litigância administrativa...” (1998 :29;30).

Em um segundo momento a Carta Constitucional traz a baila a noção de lide

quando se reporta aos princípios do contraditório e da ampla defesa (Inciso LV), dando

corolário ao contencioso administrativo.

Assegurar o contraditório é oferecer ao contribuinte ou ao sujeito passivo no

processo administrativo tributário todas as possibilidades cabíveis dentro dos

parâmetros legais para que ele possa fazer sua defesa e chegar a verdade material da

matéria impugnada em todo sua essência.

É em outras linhas, o princípio do contraditório aquele no qual fica estabelecido

que todo e qualquer procedimento processual que implique o pronunciamento das

partes envolvidas na relação processual deva ser comunicado a estes, sob pena de

evidente cerceio de defesa.

Podemos dizer que se trata, por exemplo, da ciência do lançamento por parte do

sujeito passivo tributário, da citação ou intimação de algum ato processual que traga

para aquele que o recebe a possibilidade de se insurgir contra determinado ato de um

procedimento administrativo tributário ou judicial. É por assim dizer o meio pelo qual é

dado ao sujeito passivo da obrigação tributária de oferecer a contra prova.

Para o jurista José Janguiê Bezerra Diniz, “ o princípio do contraditório consiste

em dar as mesmas oportunidades para as partes e os mesmos instrumentos

processuais para que possam fazer valer os seus direitos e pretensões, ajuizando ação

deduzindo resposta”... ( Revista ESMAPE. 1997: 425.).

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O inciso LV da Carta Magna, consagra ainda o chamado princípio da ampla

defesa com os meios e recursos a eles inerentes.

A ampla defesa e os meios inerentes, consistem em todas as formas lícitas de

defesa para o procedimento ao qual o sujeito passivo da obrigação tributária esteja

sujeito.

São em outras palavras, todos os meios e formas descritos em Lei que possam

ser utilizados pelo contribuinte ou pelo Fisco para oferecer sua resposta no processo

administrativo tributário.

Com efeito, tratam-se de todos os meios em direito admitidos às partes para se

defenderem e ou buscar o melhor direito para agasalhar uma pretensão resistida ou

deduzida.

Neste diapasão, pode-se dizer que defesa ampla é a prerrogativa que tem

aquele que a produz de se utilizar dos mais variados meios que sejam admitidos em

direito para buscar o real alcance da verdade em que se baseia seu direito.

Wladimir Novaes Martinez, em artigo publicado à Revista Dialética, V. nº 03,

assevera: “ Defesa Ampla significa a possibilidade dos litigantes inclusive o Fisco –

servirem – se de todos os instrumentos lícitos para demonstrar sua compreensão da

realidade fiscal.”(1999:185.).

Sobre os meios lícitos podemos dizer que são todos aqueles que sejam legais

para no processo administrativo tributário se chegar à verdade material dos fatos, como

por exemplo livros fiscais, perícias, arbitramento, declaração, documentos, troca de

informações tributárias... Bom que se diga que tais meios são os lícitos ou seja, aqueles

que não são contrários à lei ou que, por exemplo, não violem as garantias fundamentais

alçadas a nível constitucional. Com efeito, por exemplo, havendo violação do sigilo

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bancário ou de informações à nível da administração fazendária, pode-se processar o

Fisco por perdas e danos morais, fundada em quebra de sigilo fiscal.

Do disposto no inciso LV do Texto Constitucional, onde se depreende os dois

princípios basilares que esteiam o processo administrativo tributário quais sejam, o

contraditório e a ampla defesa, nascem implicitamente outros princípios que apesar de

explícitos na própria Carta Constitucional, também informam e fundamentam a lide ou o

contencioso na esfera administrativa tributária. Podemos, por exemplo, fazer menção

ao princípio do direito de petição no qual a autoridade a quem é dirigido não pode

escusar-se de se pronunciar sobre a petição. Ainda podemos nominar o princípio do

devido processo legal, onde ninguém pode deixar de fazer, ou fazer, alguma coisa

senão em virtude de Lei.

Outros princípios fundamentais que são alicerces para prática de todos e

quaisquer atos administrativos são os da moralidade, legalidade, impessoalidade,

publicidade e eficiência (art.37, caput, Carta Magna). Não devemos ainda nos olvidar

dos princípios alçados a nível da Legislação Especial (CTN) e, ainda, do sigilo de

informações e sigilo bancário.

Merece ser lembrado ainda o princípio insculpido no inciso XXXV da Constituição

em que “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário a lesão ou ameaça do

direito” e, ainda, o princípio do duplo grau de jurisdição.

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3 - VIOLAÇÃO À AMPLA DEFESA E AO CONTRADITÓRIO

No Brasil e´comum a violação ao chamado Estado Democrático de Direito e suas

instituições.

Toda sorte de modismo quer se infiltrar ao inusitado e, por vezes, o anacrônico

quer se sobressair ao modismo e ao inusitado. É o caso, por exemplo, do que vem

sendo feito com a nossa Carta Magna.

Dependíamos de 265 Leis Complementares que nem por sonho foram editadas

para plena eficácia do nosso atual Texto Constitucional, posto que se abriu espaço à

uma reforma constitucional ao invés da revisão.

É de se pasmar porquanto leis que nem mesmo entraram em uso, tornam-se

anacrônicas e cedem lugar ao modismo, desprezando o inusitado (Carta Magna).

Neste contexto, surgem as chamadas Medidas Provisórias que já contam mais

de 6000 (seis mil) delas, segundo palestra realizada no I Congresso Brasileiro de

Direito Tributário em Pernambuco pelo renomado professor e jurista Dr. Ivo Dantas,

sobre o título “O Controle de Constitucionalidade sobre as Medidas Provisórias”.

É o caso, por exemplo da Medida Provisória nº 1621, que traz in verbis:

“Art.32. O arts. 33 e 43 do Decto nº 70235, de 6 de março de 1972, que por

delegação do Decto-Lei nº 822, de 05 de setembro de 1969, regula o processo

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legislativo administrativo de determinação e exigência de créditos tributários da União,

passam a vigorar com as seguintes alterações:

Art. 33....

& 2 º Em qualquer caso, o recurso voluntário somente terá seguimento se o

recorrente o instruir com prova do depósito do valor correspondente a, no

mínimo, trinta porcento da exigência fiscal definitiva na decisão,”

A presente Medida viola frontalmente o direito do contribuinte ou sujeito passivo

da obrigação tributária de requerer o reexame da matéria objeto da condenação fiscal.

Trata-se de afronta direta ao princípio constitucional da ampla defesa e do

contraditório.

Com efeito, a determinação da M P viola os meios e recursos inerentes ao pleno

exercício do Direito Subjetivo de Defesa e, bem assim, do acesso ao Duplo Grau de

Jurisdição.

Determinar a feitura de depósito prévio para recurso à instância administrativa

superior é inibir e descaracterizar o princípio da legalidade objetiva que rege a

administração fazendária, tornando parcial e único o julgado da primeira instância pela

impossibilidade de reexame da matéria.

Veda-se em outras linhas, a imparcialidade, posto que a partir do momento em

que não há condições do contribuinte fazer o depósito prévio, condição sine quo non,

para admissibilidade de reexame da matéria, torna-se extremamente parcial toda e

qualquer decisão que as Delegacias de Julgamento profiram, deixando-se, portanto, de

se atender ao critério legal de admissibilidade de um recurso para se atender a um

critério meramente financeiro.

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Neste diapasão, fere-se aos princípios esculpidos no artigo 37 da Carta

Constitucional, uma vez que deixa de haver moralidade, impessoalidade e legalidade

objetiva.

E por quê não há impessoalidade? Porquanto quando se determina o depósito

prévio para admissibilidade da instância superior, passa-se a alcançar os destinatários

certos, uma vez que nem todos poderão arcar com a possibilidade de 30%(trinta

porcento ) do valor do crédito exigível à Fazenda para o reexame ou admissibilidade a

da matéria.

De outra parte, não há moralidade, porquanto deixa de haver legalidade objetiva

da administração fazendária que não permitindo a admissibilidade por falta de depósito

prévio à instância superior, rompe definitivamente com a legalidade objetiva e a busca

da verdade material.

Viola-se ainda, em outras linhas, o princípio da isonomia, causando-se uma

desigualdade ainda maior e uma distinção pela possibilidade de condição do depósito

em favor daqueles que são mais ricos .

Será que o depósito prévio viabiliza o exercício do princípio do contraditório?

Claro que não pois torna-se mais do que evidente que à parte que fica obrigada a faze-

lo se não tiver condições financeiras, deixa de exercer o seu direito de questionar se há

ou não veracidade dos valores lançados.

O contraditório representa o meio de resposta com que pretende o contribuinte

ver o seu direito salvaguardado. É em outras palavras, os meios e´a possibilidade dada

à parte, de oferecer a contra prova, mediante a ciência da existência de um processo

tributário ou de ato procedimental deste mesmo processo.

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José Janguiê Bezerra Diniz, assevera em estudos realizados sobre o princípio do

contraditório “ que este princípio consiste em dar as mesmas oportunidades às partes e

também os mesmos instrumentos processuais para que possam fazer valer os seus

direitos e pretensões, ajuizando ação, deduzindo respostas, requerendo e realizando

provas e recorrendo das decisões judiciais.

O Princípio do Contraditório reclama, outrossim, que se dê oportunidade à parte

não só para falar sobre as alegações do outro litigante, como também, para fazer a

contraprova.

Diferentemente do sistema constitucional anterior que alcançava apenas o

processo penal, hoje o contraditório alcança também os processos civil e

administrativo.” ( Revista Esmape. 1999:425.)

A supressão da instância superior com a obrigatoriedade do depósito prévio,

fere outros princípios que estão implícitos ao contraditório e a ampla defesa no

contencioso administrativo tributário, quais sejam, o duplo grau de jurisdição ou

possibilidade de reexame da matéria e a prestação de assistência judiciária integral e

gratuita aos que comprovem insuficiência de recursos. Note-se que neste último

princípio implícito (assistência judiciária gratuita) àqueles primeiros, mas explicito no

texto Constitucional, a M.P. não deixa margem de dúvidas quando determina a prova de

comprovante de depósito de 30% (trinta porcento) da exigência fiscal. Ora, vemos que

há um verdadeiro retrocesso do direito, pois nem mesmo se o contribuinte vier a

comprovar que não tem condições financeiras para efetuar o dito depósito prévio à

instância superior, terá o seu recurso recebido.

O fato é que a M P fala que em qualquer caso o recurso voluntário...(Grifei).

Ou seja, se nulo for o lançamento, se houver exação, se não houver recursos mesmo

comprovando-se que é pobre na forma da Lei e etc., nada justificará a falta do depósito

e pouco importando qual a justificativa legal que o recorrente tenha a oferecer para não

fazê-lo. É de se pasmar esta condição legal, quando se tem tido inúmeras decisões no

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âmbito, por exemplo, da Justiça Especializada do Trabalho permitindo a admissibilidade

de razões recursais do empregador por insuficiência de recursos para carrear custas e

depósitos recursais. Pasme-se, na Justiça Especializada do Trabalho em que o

hiposuficiente é o obreiro.

Recentemente, foi publicada a lei nº 10.288 de 20/09/01 no DOU 21/09/01, em

que se alterou o benefício da Assistência Judiciária Gratuita estipulada no parágrafo 1º

do art. 14, da Lei 558.470, elevando-o para 5 salários mínimos.

Ao arremate, trazemos a baila os arestos abaixo que corroboram a tese de tudo

já expendido.

“Recurso Extraordinário na MAS nº 54.502 – AL (96.05.12156-5)

Recorrente : União Federal

Procur./Adv.: Pedro Paulo Pinto Moreira e outros

Recorrida: Induatrial Porto Rico S/A

Advogado: Leopoldo Albuquerque L. de Oliveira

Origem: 4ª Vara – AL.

Decisão

Vistos, etc.

Trata-se de recurso extraordinário ajuizado pela União Federal, com

fundamento no art. 102, III, “a” e “b”, da Constituição Federal de 1988, atacando

acórdão desta Corte Regional que considerou incompatível com a ampla defesa

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consagrada na “Lex Mater” a exigência de depósito prévio do valor das multas

para a interposição de recurso administrativo.

Alegou contrariedade ao art. 5º, XXXVI e LV, da Carta Magna. Afirmou,

ainda, que o aresto atacado declarou a inconstitucionalidade do art. 636, § 1º, da

CLT.

Intimada, a parte recorrida não apresentou contra-razões no prazo legal.

Passo a examinar a admissibilidade do presente apelo excepcional.

Quanto ao primeiro fundamento deste recurso, percebe que os comandos

constitucionais referidos garantem o direito de petição junto aos poderes

públicos, contra ilegalidade ou abuso de poder e, aos litigantes, em processo

judicial ou administrativo, e aos acusados em geral, o contraditório e a ampla

defesa, com os meios e recursos a ele inerentes.

Ora, o aresto vergastado não violou tais regras. Muito pelo contrário.

Pugnou, em tese, pela sua observância, ao repelir a exigência, com base na

legislação infraconstitucional, de depósito prévio do valor das multas cobradas

para o recurso administrativo pudesse ser encaminhado à instância competente.

Emprestou a tais comandos normativos uma razoável interpretação.

Aliás, o próprio Superior Tribunal de Justiça tem adotado idêntico ponto de

vista. Transcrevo precedente daquela Corte, aplicável “mutatis mutandis” ao

caso dos autos:

Constitucional. Mandado de segurança. Recurso Administrativo.

Exigência de prévio depósito para recorrer. Inadmissibilidade. Obediência

ao princípio constitucional da ampla defesa. Recurso especial não

conhecido. I – P administrado, face ao princípio da ampla defesa, não está

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condicionado ao pagamento de percentual de multa aplicada pela administração,

para que só então lance mão de recurso administrativo. II – A Lei Delegada nº

4/62, art. 15, não foi recepcionada pela CF/88. III – Recurso Especial não

conhecido. (RESP nº 89.597 – SP - 1º Turma – DJ 17/6/96 – Rel. Min. José

Delgado)

No que tange ao permissivo constitucional inserto no art. 102, III, “b”, da

Lei Maior, reputo pertinente a irresignação. Com efeito, explicitamente, o aresto

atacado considerou incompatível com a Constituição Federal o art. 636, § 1º, da

CLT.

Isto posto, ADMITO o recurso extraordinário, tão-somente com

fundamento no art. 102, III, “b”, da carta Magna.

Encaminhe-se ao Supremo Tribunal Federal.

Publique-se. Intime-se.

Recife, 20 de maio de 1997.

Juiz Francisco Falcão

Presidente do TRF 5ª Região”

“Crédito Tributário. Suspensão da exigibilidade. Recurso

Administrativo. Depósito Prévio. Inconstitucionalidade. – Recurso fiscal.

Exigência de depósito prévio. Ilegalidade. A exigência de depósito para a

admissão de qualquer das causas de suspensão da exigibilidade do crédito

tributário constitui-se em verdadeiro “bis in idem” porque, mesmo sem o

respectivo deferimento, sua finalidade, como seja, a suspensão da exigibilidade

do crédito vigente assegurou o contraditório e a ampla defesa também em

processo administrativo, aboliu de nosso sistema qualquer norma autorizada que

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condicione o comparecimento do depósito prévio de valores impugnados.

(TARS – AC 192.241.867 – 1ª Cciv. – Rel. Juiz Heitor Assis Reminti - J.

02.03.1993)”

CONCLUSÃO

Conclui-se que o depósito prévio para admissibilidade ou reexame da matéria no

processo administrativo fiscal, viola os princípios da ampla defesa e do contraditório,

tornando-se evidente a agressão ao Direito Subjetivo de Defesa, quando se impede o

uso da prerrogativa dos meios e recursos cabíveis a esta defesa.

Impede-se o contraditório quando se inviabiliza o direito de questionar sobre a

verdade dos dados lançados.

Ferem-se, princípios implícitos a Ampla Defesa e ao Contraditório mesmo

quando explícitos na Carta Magna quais, sejam: a legalidade objetiva e busca da

verdade material; a moralidade; e impessoalidade.

A legalidade objetiva é ferida porquanto com a determinação do depósito prévio,

quebra-se o requisito da imparcialidade do processo administrativo tributário,

rompendo-se com a verdade material pela eleição de uma única instância julgadora

ante a impossibilidade daquele que não possui recursos para recorrer.

Quebra-se a moralidade do procedimento administrativo em face da parcialidade

e da conseqüente ruptura da legalidade objetiva.

Destroe-se o princípio da impessoalidade, ferindo-se frontalmente o princípio

implícito da isonomia. E por quê fere-se? Porque se cria uma desigualdade onde

somente aqueles que tem recursos financeiros podem ser detentores dos meios

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possíveis para reexame da matéria. Logo, o procedimento administrativo passa a ser

pessoal.

Descaracteriza-se o duplo grau de jurisdição na instância administrativa.

Ao arremate quando a M.P fala em qualquer caso, viola toda e qualquer

possibilidade de se requerer o estado de miserabilidade econômica.

Finalmente, há também uma verdadeira afronta ao devido processo legal, posto

que o inciso LV da Carta, faz referência aos litigantes no processo judicial ou

administrativo.

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