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UNIVERSIDADE DE SOROCABA PRÓ-REITORIA ACADÊMICA CURSO DE LETRAS PORTUGUÊS E INGLÊS Carolina Almeida do Patrocinio VEJA O SENTIDO DESSA ÉPOCA: UMA ANÁLISE SEMIÓTICA VERBO-VISUAL DE CAPAS DE REVISTAS. SOROCABA/SP 2012

Veja o sentido dessa Época: uma análise semiótica verbo-visual de capas de revistas (Carolina Almeida do Patrocinio)

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As revistas desempenham um papel importante na propagação da informação e são um dos mais importantes meios de comunicação em massa. Este trabalho procura fazer uma análise semiótica verbo-visual de capas de revistas Veja e Época: revistas veiculadas em território nacional e que suas reportagens, geralmente, tratam de assuntos relacionados a política, economia e cultura. Nessa pesquisa são discutidos conceitos sobre texto, imagem e as relações texto-imagem; são também utilizados a Semiótica Peirceana e os conceitos de construção de sentido. Pelas análises das capas de revistas foi possível perceber que o tipo de relação texto-imagem mais comum apresentado nessas capas é de ilustração (imagem apoiando texto) e que essa relação contribui para complementar o sentido proposto, expandir a informação verbal da mensagem que é transmitida.Palavras-chave: Semiótica. Texto. Imagem. Texto-imagem. Construção de sentido.

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UNIVERSIDADE DE SOROCABA

PRÓ-REITORIA ACADÊMICA

CURSO DE LETRAS PORTUGUÊS E INGLÊS

Carolina Almeida do Patrocinio

VEJA O SENTIDO DESSA ÉPOCA: UMA ANÁLISE SEMIÓTICA

VERBO-VISUAL DE CAPAS DE REVISTAS.

SOROCABA/SP

2012

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Carolina Almeida do Patrocinio

VEJA O SENTIDO DESSA ÉPOCA: UMA ANÁLISE SEMIÓTICA

VERBO-VISUAL DE CAPAS DE REVISTAS.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado

como exigência parcial para obtenção do

Diploma de Graduação em Letras Português e

Inglês, da Universidade de Sorocaba.

Orientador: Prof. Dr. Luiz Fernando Gomes

SOROCABA/SP

2012

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Carolina Almeida do Patrocinio

VEJA O SENTIDO DESSA ÉPOCA: UMA ANÁLISE SEMIÓTICA

VERBO-VISUAL DE CAPAS DE REVISTAS.

Trabalho de Conclusão de Curso aprovado

como requisito parcial para a obtenção do

Diploma de Graduação em Letras Português e

Inglês, da Universidade de Sorocaba.

Aprovado em:

BANCA EXAMINADORA:

Ass. ______________________________

1º. examinador _____________________

Ass. ______________________________

2º. examinador _____________________

Ass. ______________________________

3º. examinador ______________________

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Dedico este trabalho à minha

mãe, Eliana, por acreditar em mim quando eu

mesma não acreditava.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço, primeiramente, a Deus por me conceder a vida e por sempre abençoar meu

caminho.

À minha mãe Eliana, que sempre me incentivou a seguir adiante e lutou para que eu

tivesse oportunidades que ela não teve.

Ao querido professor orientador, por mostrar um mundo além do senso comum e me

ajudar a desenvolver o senso crítico.

Agradeço aos professores que contribuíram para a minha formação, especialmente:

Daniela Ap. Vendramini Zanella, Maria Angélica Lauretti Carneiro, Paulo Edson Alves Filho

e Roberto Samuel Sanches — professores que convivi por um longo período e sempre foram

prestativos, dispostos a ajudar quando precisei.

E, finalmente, gostaria de agradecer aos colegas de sala pelo companheirismo nos

momentos difíceis e, é claro, nos momentos divertidos que passamos durante esses três anos

de curso.

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A verdadeira viagem de descobrimento não consiste em procurar novas

paisagens, mas ter novos olhos.

(Marcel Proust)

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RESUMO

As revistas desempenham um papel importante na propagação da informação e são

um dos mais importantes meios de comunicação em massa. Este trabalho procura fazer uma

análise semiótica verbo-visual de capas de revistas Veja e Época: revistas veiculadas em

território nacional e que suas reportagens, geralmente, tratam de assuntos relacionados a

política, economia e cultura. Nessa pesquisa são discutidos conceitos sobre texto, imagem e as

relações texto-imagem; são também utilizados a Semiótica Peirceana e os conceitos de

construção de sentido. Pelas análises das capas de revistas foi possível perceber que o tipo de

relação texto-imagem mais comum apresentado nessas capas é de ilustração (imagem

apoiando texto) e que essa relação contribui para complementar o sentido proposto, expandir

a informação verbal da mensagem que é transmitida.

Palavras-chave: Semiótica. Texto. Imagem. Texto-imagem. Construção de sentido.

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ABSTRACT

Magazines play an important role in the dissemination of information and are held as

one of the most important means of mass media. This paper seeks to perform a verbal-visual

semiotic analysis of the covers of the magazines Veja and Época, which are widely distributed

throughout the national territory, and which articles generally deal with political, financial and

cultural topics. In this research, some concepts are discussed in regards to texts, images and

the text-image relationships. Peircean Semiotics and concepts about construction of meaning

are also used. Through the analysis of the covers of these magazines, it was noticeable that

the kind of text-image relationship most commonly utilized in these covers was the one of

illustration (in which the image supports the text), and that such relationship contributes to the

complementation of the proposed meaning in order to expand the verbal information of the

message transmitted.

Keywords: Semiotics. Text. Image. Text-Image. Construction of Meaning.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Triângulo semiótico de Odgen & Richards.......................................................15

Figura 2 Hall da sauna com ducha...................................................................................23

Figura 3 Todos os recursos foram utilizados para apagar o fogo....................................24

Figura 4 Cartum...............................................................................................................24

Figura 5 Mapa Mundi......................................................................................................25

Figura 6 Propaganda de xampu........................................................................................26

Figura 7 Capa da Revista Época de17/09/2012...............................................................33

Figura 8 Capa da Revista Veja de 21/12/2011.................................................................35

Figura 9 Capa da Revista Época de 07/11/2011..............................................................37

Figura 10 Opção de capa da Revista Época de 07/11/2011...............................................37

Figura 11 Capa da Revista Veja de 26/09/2012.................................................................39

Figura 12 Capa da Revista Época de 23/07/2012..............................................................39

Figura 13 Capa da Revista Época de 19/03/2012..............................................................41

Figura 14 Opção de capa da Revista Época de 19/03/2012...............................................41

Figura 15 Capa da Revista Veja de 16/09/2012.................................................................41

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.......................................................................................................................12

1. TEXTO-IMAGEM E A CONSTRUÇÃO DE SENTIDO.............................................14

1.1. O que é Semiótica?...........................................................................................................14

1.1.1. O signo e suas classificações..........................................................................................14

1.2. O texto...............................................................................................................................16

1.3. Imagem..............................................................................................................................19

1.3.1. A imagem como meio de persuasão...............................................................................21

1.3.2. Análise de imagem..........................................................................................................22

1.4. Relações texto-Imagem....................................................................................................23

1.5. Construção de sentido......................................................................................................27

1. 5. 1. Construção de Sentido em Textos.................................................................................27

1. 5. 2. Construção de Sentido em Imagens..............................................................................29

1. 5. 3. Construção de Sentido em Texto-imagens....................................................................29

2. METODOLOGIA DE PESQUISA....................................................................................31

3. ANÁLISE.............................................................................................................................33

3.1. Capa da Época de 17/09/2012............................................................................................33

3.2. Capa da Veja de 21/12/2011..............................................................................................35

3.3. Capas da Época de 07/11/2011.........................................................................................37

3.4. Capa da Veja de 26/09/2012 e capa da Época de 23/07/2012...........................................39

3.5. Capas da Época de 23/07/2012 e capa da Veja de 16/09/2012..........................................41

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CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................................44

REFERÊNCIAS..................................................................................................................47

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INTRODUÇÃO

A presente pesquisa é situada na sociedade midiática em que vivemos atualmente. As

mídias desempenham papéis importantes na formação de opinião e valores das massas que as

acompanham regularmente, e têm ocupado o lugar de mídias antigas.

Dentre as mídias existentes, impressas e eletrônicas, essa pesquisa foca na análise da

relação entre textos e imagens nas capas de revistas impressas de grande circulação no Brasil,

tais como a revista Época e a revista Veja, e a construção de sentido nessas capas.

A revista é uma publicação periódica de formato variado, em que se divulgam artigos

originais, reportagens, etc., sobre vários temas, ou, ainda, que se divulgam trabalhos sobre

assuntos variados que já apareceram em livros ou em outras publicações.

As capas de revistas revelam composições texto-visuais complexas, capazes de

demonstrar intenções comunicativas da publicação relacionadas ao contexto cultural em que

estão inseridas e é possível que nem todos os leitores estejam familiarizados com essas

construções, que não sejam letrados visualmente.

O conhecimento da análise da imagem e seus componentes é fundamental para o

melhor entendimento de uma mensagem, para uma construção de sentido correta, pois a

imagem pode apresentar diversas mensagens e sentidos, especialmente quando está ligada a

um texto. Não é possível descartar esse conhecimento, ou pelo menos uma familiarização com

o mesmo, o mundo é repleto de imagens e várias mensagens são transmitidas através destas, é

necessário ter um conhecimento, mesmo que básico, para o entendimento das articulações que

as relações texto e imagem apresentam.

Texto e imagem são dois signos diferentes que podem ser analisados distintamente,

porém é possível analisar as relações entre ambos e como um contribui com o outro para obter

o resultado desejado: a construção do significado. As capas de revistas utilizam esses dois

recursos (imagem e texto) em sua construção, distribuídos de uma maneira proposital na capa

para contribuir na formação de significados e no entendimento da notícia apresentada.

Para analisar imagens, textos, as relações texto-imagem e como essas relações

contribuem para a construção de sentido em capa de revistas, a ciência que estuda os signos, a

Semiótica de Charles Sanders Peirce, ajudará nesse processo.

É muito comum ouvirmos pessoas comentando sobre as capas das revistas que leem,

mas será que elas realmente entendem a mensagem que é transmitida e os possíveis sentidos

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que podemos obter delas? O senso comum predomina na vida dessas pessoas e elas não

questionam as relações que podem ser encontradas nessas capas.

Estudar essas mídias, os recursos utilizados para chamar nossa atenção é muito

interessante, pois além de podermos analisa-las, estudamos o grande fenômeno da

comunicação em um mundo com grande variedade de sentidos criados pelo homem.

Capas de revistas apresentam diversas relações entre texto e imagem, mas quais são

essas relações? Como essas relações contribuem para a construção de sentido? Pretendo

conseguir revelar essas questões nessa pesquisa.

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1. TEXTO-IMAGEM E A CONSTRUÇÃO DE SENTIDO

Neste capítulo, estudo a Semiótica, os signos e suas classificações, os conceitos da

palavra “texto”, os conceitos da palavra “imagem” e as relações encontradas em “texto-

imagem”. Ainda, neste mesmo capítulo, estudo a construção de sentido na leitura de texto e

texto-imagem.

1.1. O que é Semiótica?

O termo provém do grego semeion e significa signo, Semiótica é a ciência que estuda

os signos, as linguagens e os processos de significação; seu principal representante foi Charles

Sanders Pierce (1839-1914).

Santaella (1983, p. 13) apresenta sua definição

“[...]A semiótica é a ciência que tem por objeto de investigação todas as

linguagens possíveis, ou seja, que tem por objetivo o exame dos modos de

constituição de todo e qualquer fenômeno como fenômeno de produção de

significação e de sentido.”

Portanto, a Semiótica é a ciência de toda e qualquer linguagem; é um campo vasto,

mas não indefinido: “O que se busca descrever e analisa nos fenômenos é sua constituição

como linguagem” (Santaella, 1983, p. 14), ou seja, a Semiótica não visa roubar o campo do

saber de outras ciências, mas desvendar e divisar sua ação como signo, seu ser como

linguagem.

1.1.1. Os signos e suas classificações

Como vimos anteriormente, a Semiótica é a ciência que estuda os signos. O signo é

uma coisa que representa outra; é o representante que está no lugar do real, que se refere à

outra coisa — signo é “aquilo que, sob certo aspecto ou modo, representa algo para alguém.

Dirige-se a alguém, isto é, cria, na mente dessa pessoa, um signo equivalente, ou talvez mais

desenvolvido” (Peirce: 2005, p.46).

Para entendermos melhor, vejamos uma explicação dada por Santaella (1983, p. 58):

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(...) o signo é uma coisa que representa outra coisa: seu objeto. Ele só pode

funcionar como signo se carregar esse poder de representar, substituir uma outra

coisa diferente dele. Ora, o signo não é objeto. Ele apenas está no lugar do objeto.

Portanto, ele só pode representar esse objeto de um certo modo e numa certa

capacidade.

Assim, podemos afirmar que o signo representa seu objeto ao proporcionar a um

indivíduo uma referência a algum tipo de ideia. Veja o exemplo abaixo:

(...) a palavra casa, a pintura de uma casa, o desenho de uma casa, a

fotografia de uma casa, o esboço de uma casa, um filme de uma casa, a planta baixa

de uma casa, a maquete de uma casa, ou mesmo o seu olhar para uma casa, são

todos signos do objeto casa. Não são a própria casa, nem a ideia geral que temos de

casa. Substituem-na, apenas, cada um deles de um certo modo que depende da

natureza do próprio signo. A natureza de uma fotografia não é a mesma de uma

planta baixa (Santaella, 1983, p.58).

A partir desse exemplo, podemos perceber que o signo só pode representar seu objeto

para alguém, pois produz na mente desse intérprete alguma outra coisa – um signo – que

também está relacionado ao objeto, mas não diretamente.

Para analisarmos o signo, é interessante vermos o triângulo semiótico de Ogden &

Richards, a fim de compreendermos melhor esse assunto.

Interpretante

(ou referência)

Signo Objeto

(ou referente)

Fig.1: Triângulo semiótico de Odgen & Richards

Segundo Coelho Neto (1980, p. 56)

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Um signo (ou representamen), para Peirce, é aquilo que, sob certo aspecto,

representa alguma coisa para alguém. Dirigindo-se a essa pessoa, esse primeiro

signo criará na mente (ou semiose) dessa pessoa um signo equivalente a si mesmo

ou, eventualmente, um signo mais desenvolvido. Este segundo signo criado na

mente do receptor recebe a designação de interpretante (que não é o intérprete), e a

coisa representada é conhecida pela designação de objeto. Essa três entidades

formam a relação triádica de signo.

Assim, é possível afirmar que o signo não pode representar seu objeto se não houver

um intérprete, pois é na mente dele que um segundo signo, ligado ao primeiro, pode ser

criado.

Peirce propôs a existência de dez tricotomias e sessenta e seis classes de signos, mas

na presente pesquisa estudarei e explicarei apenas a segunda tricotomia, que é estabelecida

conforme a relação entre o signo e o seu objeto, pois é a que utilizarei na análise de dados

posteriormente.

Essa segunda tricotomia propõe uma divisão de signos entre ícone, índice e símbolo,

Coelho Neto (1980, p. 58) os define dessa maneira:

Ícone: “signo que tem alguma semelhança com o objeto representado. Exemplos de

signo icônicos: a escultura de uma mulher, uma fotografia de um carro, e mais genericamente,

um diagrama, um esquema.”.

Índice: “signo que se refere ao objeto denotado em virtude de ser diretamente afetado

por esse objeto. O signo inicial tem alguma qualidade em comum com o objeto” e o que o

torna um signo “é o fato de ser modificado pelo objeto”. Exemplos: “fumaça é um signo

indicial de fogo, um campo molhado é índice de que choveu (...); são índices, ainda, um

pronome demonstrativo, uma impressão digital, um número ordinal.”.

Símbolo: “signo que se refere ao objeto denotado em virtude de uma associação de

ideias produzidas por uma convenção. O signo é marcado pela arbitrariedade.” Exemplos:

“qualquer das palavras de uma língua, a cor verde como símbolo de esperança etc.”.

É importante observar que a entidade funcionando como signo pode exercer as três

funções – ícone, índice e símbolo – simultaneamente.

1.2. O Texto

A palavra texto tem sua origem do latim textos que, originalmente, significava

“material tecido”, do verbo texere, “tecer” e, só mais tarde, passou a ter o significado de

“narrativa escrita”.

Segundo Guimarães (2003, p. 14)

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(...) a palavra texto designa um enunciado qualquer, oral ou escrito, longo

ou breve, antigo ou moderno. (...) São textos, portanto, uma frase, um fragmento de

um diálogo, um diálogo, um provérbio, um verso, uma estrofe, um poema, um

romance, e até mesmo uma palavra-frase.

Diante disso, podemos entender que até mesmo uma palavra, como “Silêncio!”, por

exemplo, pode ser considerada texto conforme sua situação.

Os termos “texto e “discurso” podem ser considerados sinônimos quando não são

limitados a linguagem verbal, e, num sentido multidimensional, ambos podem ser

considerados como processos que englobam “as relações sintagmáticas de qualquer sistema

de signos” (Guimarães, 2003, p. 15) e assim, podemos falar de texto ou discursos

cinematográfico, teatral etc.

Para Fàvero; Koch apud Stammerjohann (2000, p. 18), o termo texto

se trata do conceito central da Linguística Textual e da Teoria do Texto,

abrangendo tanto textos orais quanto escritos que tenham como extensão mínima

dois signos linguísticos, um dos quais, porém pode ser suprido pela situação, no caso

de textos de uma só palavra, como “Socorro!”, sendo sua extensão máxima

indeterminada.

De maneira geral, os textos trabalhados pela linguística textual são delimitados, com

início e final determinados razoavelmente explícitos; essas demarcações evidentes são

decorrentes de alterações na intenção pragmática de indivíduos que produzem ou recebem um

texto. Partindo do pressuposto de que os limites pragmáticos podem ser estabelecidos de

acordo com a situação de comunicação, os textos podem ser considerados como dados

primários da linguística. (Fàvero; Koch apud Stammerjohann, 2000, p. 18).

Na mesma linha, os autores afirmam que

No plano do conteúdo, os significados ordenados de todos os signos do

conjunto do texto podem ser designados de sentido (Sinn). A semântica textual,

como parte da linguística textual, cabe indagar-se sobre as regras válidas para a

determinação recíproca dos signos verbais no texto e a sua compatibilidade dentro

do texto (2000, p. 20).

Ao olhar da gramática textual, é possível afirmar também que as manifestações de

textualidade podem ser consideradas como texto, que, por sua vez, é concebido como uma

entidade abstrata com uma multiplicidade de sentidos.

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Cabe à gramática textual explicar o que faz com que um texto seja um

texto, propriedade esta que denomina textualidade. Os textos empíricos individuais

podem ser considerados como realizações verbais (“textualizações”) de sua

textualidade. Estas noções permitem adotar a posição de que as mídias da

textualização podem adquirir formas variadas, de tal modo que não só os textos

verbais, mas também pictóricos, arquitetônicos, fílmicos ou quaisquer outros podem

ser concebidos como “textos”, isto é, como manifestações de uma textualidade

(Fàvero; Koch, 2000, p. 20-21).

Em outra concepção, “Oomen (1972) conceitua os textos como sistemas complexos

que podem preencher diversas funções comunicativas. Frequentemente os textos são definidos

(conscientemente) a partir de aspectos diversos”. Podemos ressaltar alguns aspectos das

definições de Weinrich para exemplificar esse conceito: a) a sequência coerente e consistente

de signos linguísticos; b) a delimitação por interrupções significativas na comunicação; c) o

status do texto como maior unidade linguística. (Fàvero; Koch apud Oomen, 2000, p. 22).

A semiótica pode ter como objeto de estudo o texto, e procura “descrever e explicar o

que o texto diz e como ele faz para dizer o que diz”. Com base nesse campo de estudo, o texto

pode ser definido de duas formas que se complementam: “pela organização ou estruturação

que faz dele um “todo sentido”, como objeto da comunicação que se estabelece ente um

destinador e um destinatário”. (Barros, 1997, p. 7).

A primeira concepção entende o texto como objeto de significação e

faz (com) que seu estudo se confunda com o exame dos procedimentos e

mecanismos que o estruturam, que o tecem como “todo de sentido”. A esse tipo de

descrição tem-se atribuído o nome de análise interna ou estrutural do texto.

Diferentes teorias voltam-se para essa análise do texto, a partir de princípios e com

métodos e técnicas diferentes. A semiótica é uma delas (Barros, 1997, p. 7).

Já a segunda caracterização do texto o toma como objeto de comunicação entre dois

sujeitos.

O texto encontra seu lugar entre os objetos culturais, inserido numa

sociedade (de classes) e determinado por formações ideológicas específicas. Nesse

caso, o texto precisa ser examinado em relação ao contexto sócio-histórico que o

envolve e que, em última instância, lhe atribui sentido. Teorias diversas têm também

procurado examina o texto desse ponto de vistas, cumprindo o que se costuma

denominar análise externa de sentido (Barros, 1997, p. 7).

Podemos nos basear nas duas citações acimas e dizer que o texto só pode ser estudado

como construção completa quando analisamos os fatores internos e externos em conjunto,

pois esses fatores se complementam na construção de um significado amplo e abrangente (a

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estrutura como o texto é apresentado, as formações ideológicas que transmite e como essas

ideologias são transmitidas por meio da disposição do texto num todo).

A semiótica é a ciência que procura conciliar as análises internas e externas para

explicar “o que o texto diz” e “como diz” com o mesmo aparto teórico-metodológico. Ao

explicar essas duas teorias em conjunto, é preciso “examinar os procedimentos da organização

textual e, ao mesmo tempo, os mecanismos enunciativos de produção e de recepção do texto”

(Barros, 1997, p. 8).

Entre as possibilidades de texto, estão as visuais (aquarelas, gravuras), verbais (uma

conversa, um sermão), escritas (romance, editorial de jornal), gestuais (Uma dança) ou

sincréticas (um filme, uma história em quadrinhos); dentre estas, focaremos no texto escrito,

precisamente naqueles apresentados nas capas de revistas.

Para a presente pesquisa, utilizarei a concepção de texto como manifestação linguística

com função comunicativa, e será utilizada tanto para o estudo da geração de textos

comunicativos quanto para sua análise; estudarei o texto como objeto de significação e objeto

de comunicação, como ambos e se completam e se articulam quando estão no mesmo

contexto de uma imagem. Para isso, veremos agora algumas concepções de imagem.

1.3. Imagem

O termo imagem é polissêmico, utilizado com vários tipos de significados que,

aparentemente, não possuem vínculos, o que torna difícil obter uma definição simples,

abrangente a todos os seus empregos. A palavra “imagem” vem do latim imago, que significa

semelhança, representação, retrato.

Joly (1996, p. 13) questiona

(...) o que há de comum, em primeiro lugar, entre um desenho infantil, um

filme, uma pintura mural ou impressionista, grafites, cartazes, uma imagem mental,

um logotipo, “falar por imagens” etc.? O mais impressionante é que, apesar da

diversidade de significações das palavras, consigamos compreendê-la.

Compreendemos que indica algo que, embora nem sempre remeta ao visível, toma

alguns traços emprestados do visual e, de qualquer modo, depende da produção de

um sujeito: imaginária ou concreta, a imagem passa por alguém que a produz ou

reconhece.

E ainda podemos acrescentar que

O conceito de imagem se divide num campo semântico, determinado por

dois polos opostos. Um descreve a imagem perceptível ou até mesmo existente. O

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Outro contém a imagem mental simples, que, na ausência de estímulos visuais, pode

ser evocada (Santaella; Nӧth (2010, p.36).

Com a etimologia da palavra imagem e a definição de Joly citada acima, podemos

entender que o termo pode se referir ao que se vê, ouve-se ou imagina. Veremos abaixo

alguns exemplos de Pietroforte (2008, p. 34)

Tanto a música como as artes plásticas podem construir belas imagens de

conteúdo (...) quando se trata do plano de expressão plástica, a imagem do conteúdo

é facilmente confundida com a imagem que se vê por meio da expressão, e uma é

tomada pela outra sem distinções. O desenho de uma árvore, por exemplo, é

formado por meio de categorias plásticas, pois nele há cromatismos e formas,

dispostos numa topologia – trata-se da imagem vista -, mas reconhecer nesse

significante uma relação com categorias semânticas que definem o conceito de

árvore – trata-se da imagem imaginada.

Se pensarmos na imagem como signo, podemos classifica-la como signo icônico,

porém, é possível dizer que, de maneira geral, o mundo das imagens pode ser dividido em

dois domínios, “O primeiro é domínio das imagens como representações visuais (...). O

segundo é o domínio imaterial das imagens em nossa mente” (Santaella; Nӧth, 2005, p. 15),

ambos os domínios não existem separados, pois estão ligados na sua gênese e o que os unifica

são os conceitos de signo e representação.

Não há imagens como representações visuais que não tenham surgido de

imagens na mente daqueles que as produziram, do mesmo modo que não há imagens

mentais que não tenham alguma origem no mundo concreto dos objetos visuais

(Santaella; Nӧth, 2005, p. 15).

E Santaella; Nӧth (2005, p.39) apud. Gibson ainda afirmam que

A ideia de que as imagens se assemelham, de maneira geral, a seus objetos

de referência (e atuam, por seguinte, como signos icônicos) é não somente senso

comum, mas também foi compartilhada por filósofos desde Platão sem ser

questionada por muito tempo.

Imagens também podem determinar a interpretação de uma imagem individual quando

estão em um contexto; podem ocorrer relações de contiguidade – que vemos frequentemente

em fotografias ou propagandas – ou de disposição sequencial – em um filme, por exemplo.

Uma demonstração clássica da influência contextual de imagens dispostas

em sequência é o chamado efeito Kuleschow (...), mostra que o significado que um

público relaciona a uma imagem A (o rosto de um homem) se modifica

significativamente, dependendo se ele for mostrado em contiguidade com uma

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imagem B (um prato de sopa), C (uma mulher morta) ou D (uma menina brincando);

(Santaella; Nӧth 2005, p.57).

Podemos entender então que as imagens não precisam estar necessariamente em um

contexto verbal, as próprias imagens podem funcionar como contextos para imagens.

A transmissão de valores, códigos e ideologias é possível não só pelo discurso verbal,

mas também por meio de imagens; se considerarmos que a imagem é um signo e é composta

por elementos sígnicos, poderemos afirmar que o signo é ideológico, possui um significado de

algo fora de si.

No caso das revistas, os signos imagéticos são aliados a signos textuais em suas capas

para tentar transmitir a mensagem desejada da forma prevista. Nem sempre isso acontece

devido à possíveis falhas da comunicação; mas podemos afirmar que a disposição dos textos e

das imagens nessas capas visam persuadir o leitor a “comprar” a notícia.

1.3.1. A imagem como meio de persuasão

Há um longo tempo as imagens têm sido utilizadas pelos meios de comunicação em

massa com o intuito de persuadir, influenciar e manipular as mentes da população, privar as

pessoas de um julgamento sobre a importância do real ou do irreal apresentado pelas mídias.

Não podemos afirmar que as imagens mentem, elas podem referir-se a algo que não

existe ou que nunca existiu, então, tampouco podemos afirmar que as imagens transmitem

verdade, apenas podemos dizer que se referem à realidades fatuais ou irreais.

Vejamos o que diz Santaella; Nӧth (2005, p. 196) apud Eco

A semiótica se refere a tudo que pode ser considerado como um signo. Um

signo é tudo que pode ser tomado como substituto significante de algo mais. Este

algo mais não tem que necessariamente existir ou verdadeiramente estar em algum

lugar no momento em que o signo o substitui. Assim, a semiótica é em princípio a

disciplina que estuda tudo o que pode ser utilizado com o objetivo de mentir.

A partir disso, é possível entender que a imagem, assim como qualquer signo, não

precisa mentir ou transmitir a verdade, porém, devemos lembrar que se um signo não pode ser

usado para mentir, também não pode ser usado para dizer a verdade, ou seja, não pode ser

utilizado para dizer nada.

Esse questionamento sobre o valor da verdade das imagens existe há muito tempo,

mas atualmente esse assunto tem ficado em evidência devido ás estratégias de marketing.

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A maioria das estratégias manipuladoras da informação pictórica nos meios

de comunicação não são falsificações diretas da realidade expressas de maneira

assertiva, mas manipulações através de uma pluralidade de modos indiretos de

transmitir significados (Santaella, Nӧth, 2005, p. 208).

A imagem está sujeita a diversas interpretações e entendimentos, depende da pessoa e

do ponto de vista dela.

A questão da verdade ou mentira nas imagens tem um aspecto semântico,

um sintático e um pragmático. De um ponto de vista semântico, uma imagem

verdadeira deve ser aquela que corresponde aos fatos que representa. De um ponto

de vista sintático, deve ser aquela que representa um objeto e transmite um

predicado sobre este. Do ponto de vista pragmático, deve haver uma intenção de

iludir por parte do emissor da mensagem pictórica (Santaella, Nӧth, 2005, p. 197).

Assim, sabemos que a construção do sentido emitido pela imagem depende quase

inteiramente do intérprete, de seu olhar para a imagem, mas aprofundaremos nesse assunto

nos próximos capítulos; por enquanto, veremos um pouco mais sobre as relações entre texto e

imagem a seguir.

1.3.2. Análise de imagem

Como o próprio termo afirma, a análise da imagem tem como função analisar as

imagens, desconstruí-las e interpretá-las em um sentido mais amplo e detalhado.

De acordo com Joly (1996, p.23) “Uma imagem permite uma leitura em menos tempo

do que o requerido pelo texto escrito, tornando-a atraente aos potenciais leitores, charges na

internet abusam dessa técnica, utilizando imagens no lugar de texto, agradando mais o leitor”;

ou seja, na linguagem verbal, temos palavras e textos, já na linguagem não verbal temos

apenas as imagens, elas criam a linguagem.

É preciso estarmos atentos às diferenças entre interpretação e percepção; a percepção

gera o sentido superficial, apenas um entendimento rápido e básico daquilo que vemos,

enquanto a interpretação está relacionada ao sentido mais complexo e profundo das imagens;

é necessário um objetivo para a análise, observar as intenções do autor da imagem, extrair

todos os sentidos possíveis da imagem e ter uma metodologia de análise.

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1.4. Relações texto-imagem

Vemos imagens substituindo textos em diversas áreas atualmente, e não é difícil

encontra-las por nosso caminho. Apesar de serem impactantes, essas imagens não são

autoexplicativas, texto e imagem juntos se auxiliam na transmissão, no entendimento, na

interpretação, na referenciação e na intensificação da mensagem.

Os primeiros trabalhos mais significativos sobre as relações texto-imagem foram

elaborados por Roland Barthes, que elaborou numa lógica de três possibilidades de como as

imagens e os textos podem se inter-relacionar.

Gomes (2010, p. 53-55) destaca essas três possibilidades estudadas por Barthes

anteriormente, vejamos quais são elas e alguns exemplos abaixo:

a) ancoragem (texto apoiando imagem). Neste caso, o texto escrito tem a função de

conotar e direcionar a leitura, propondo um viés de leitura da imagem;

Figura 2 - Hall da sauna com ducha.

b) ilustração (imagem apoiando texto). Neste caso, a imagem é que esclarece o texto,

expandindo a informação verbal.

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Figura 3 - Todos os recursos foram utilizados para apagar o fogo.

c) relay (texto e imagem são complementares). Neste caso, há uma integração das

linguagens. São exemplos os cartuns e as tiras cômicas.

Figura 4 - Cartum

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Texto e imagem possuem uma relação de dependência quando um modifica o outro, o

elemento modificador é considerado dependente do elemento modificado, da mesma maneira

que ocorre nas orações da língua escrita, por exemplo:

“Eu corri porque estava atrasado”. A primeira oração (Eu corri) é chamada

independente, enquanto a segunda (porque estava atrasado) é chamada dependente,

ou oração coordenada sindética explicativa (Gomes, 2010, p. 55).

Gomes (2010, p. 55) apud Martinec e Salway ainda afirma

Fazendo uma transposição para a relação imagem-texto, Martinec e Salway

estabelecem uma taxionomia que esclarece os status da imagem e do texto. Assim,

inicialmente, quando o status da imagem é igual ao do texto, eles propõem duas

subclassificações: independente ou complementar.

Uma imagem e um texto só podem ser considerados independentes quando não há

sinais de que um modifique o outro em um mesmo documento, já quando modificam-se de

forma mútua, são complementares. Observaremos exemplos de Gomes (2010, p.56) nas

figuras a seguir.

Figura 5 – Mapa Mundi

Este exemplo é de classificação independente, pois as palavras da legenda “mapa

mundi” não interferem na leitura da imagem em si.

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Figura 6 – Propaganda de xampu

Nessa figura, podemos observar a classificação complementar, pois nela as qualidades

do produto anunciado transferem-se para a modelo e, consequentemente, para as

consumidoras.

Em ambos os status, a imagem inteira se relaciona com o texto inteiro, a diferença é

que, quando um texto e uma imagem estão em status independentes, eles não se combinam

para formar um sintagma maior.

É interessante sabermos também sobre a relação de subordinação entre texto e

imagem; quando uma imagem é subordinada à um texto, ela se relaciona apenas com parte

desse texto e, quando o inverso ocorre, o texto é subordinado à uma imagem e se relaciona

apenas com parte da imagem, mas precisa dela para ser entendido (o que não ocorre no

primeiro caso).

Em outras palavras, as relações texto-imagem podem ser: a) imagem inteira com o

texto inteiro; b) imagem inteira com parte do texto; c) texto inteiro com parte da imagem. As

relações texto-imagem se dão através de elementos de coesão textual. (Gomes, 2010, p. 58).

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1.5. Construção de Sentido

1.5.1. Construção de Sentido em Textos

Vários estudos tratam da construção de sentido em textos ou imagens, dificilmente

encontramos estudos que trabalhem o sentido dos dois juntos. Neste item, vamos entender

como a construção de sentido acontece e como o sentido de uma imagem ou texto pode mudar

quando relacionados ao termo texto-imagem.

Para Koch (2010, p. 30)

Um texto se constitui enquanto tal no momento em que os parceiros de

uma atividade comunicativa global, diante de uma manifestação linguística, pela

atuação conjunta de uma complexa rede de fatores de ordem situacional, cognitiva,

sociocultural e interacional, são capazes de construir, para ela, determinado sentido.

Portanto, à concepção de texto aqui apresentada subjaz o postulado básico

de que o sentido não está no texto, mas se constrói a partir dele, no curso de uma

interação.

Incialmente, percebemos apenas o sentido superficial do texto, pois, para extrairmos

todo o sentido seu sentido completo, implícito, “faz-se necessário o recurso aos vários

sistemas de conhecimento e a ativação de processos e estratégias cognitivas e interacionais”

(Koch, 2010) que cada indivíduo possui.

E, de acordo com essa autora, destacam-se as seguintes relações que se estabelecem

entre o texto e o evento que constitui a sua enunciação:

as pressuposições;

as marcas da intenções explícitas ou veladas, que o texto veicula;

os modalizadores que revelam sua atitude perante o enunciado que produz

(através de certo advérbios, adjetivos, dos tempo e modos verbais...);

os operadores argumentativos, responsáveis pelo encadeamento dos

enunciados, estruturando-os em texto e determinando a sua orientação

discursiva;

as imagens recíprocas que se estabelecem entre os interlocutores e as

máscaras por ele assumidas no jogo de representações

A construção de sentido está diretamente relacionada ao processamento

sociocognitivo de cada um; alguns temas de conhecimento são acessados durante o

processamento textual: três grandes são o linguístico, o enciclopédico e o interacional.

Sobre o conhecimento linguístico podemos dizer que

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compreende o conhecimento gramatical e o lexical, sendo o responsável pela

articulação som-sentido. É ele o responsável, por exemplo, pela organização do

material linguístico na superfície textual, pelo uso dos meios coesivos que a língua

nos põe a disposição para efetuar a remissão ou a sequenciação textual, pela seleção

lexical adequada ao tema e/ou aos modelos cognitivos ativados. (Koch, 2010, p. 32)

O conhecimento enciclopédico ou conhecimento de mundo pode ser definido como

aquele que se encontra armazenada na memória de cada indivíduo, quer se trate de

conhecimento do tipo declarativo (proposições a respeito de fatos do mundo), quer

do tipo episódico (os “modelos cognitivos” socioculturalmente determinados e

adquiridos através da experiência). É com base em tais modelos, por exemplo, que

se levantam hipóteses, a partir de uma manchete; que se criam expectativas sobre

o(s) campo (s) lexical (ais) a ser (em) explorado(s) no texto; que se produzem as

inferências que permitem suprir as lacunas ou incompletudes encontradas na

superfície textual. (Koch, 2010, p. 32)

E, finalmente, o conhecimento “sócio-interacional é o conhecimento sobre as ações

verbais, isto é, sobre as formas de inter-ação através da linguagem” (Koch, 2010, p. 32).

Tais conhecimentos são desenvolvidos por meio de estratégias de processamento

textual, divididas por Koch (2010, p. 34) em cognitivas, textuais e sociointeracionais; essas

estratégias, as quais não nos aprofundaremos muito, se apresentam de maneiras diferentes em

cada indivíduo, pois dependem de relações socioculturais, da interação com o meio em que

vivemos e da percepção que temos do mundo, o “conhecimento de mundo”, como foi citado

anteriormente.

Segundo Gomes (2010, p. 72), para entendermos como acontece a construção de

sentido “torna-se necessário diferenciar os termos inteligibilidade, interpretação e

compreensão”.

Ainda citando Gomes apud Orlandi (2010, p. 72), podemos dizer que a

inteligibilidade “refere-se ao sentido; assim, dizer ‘ele espera você lá’ é inteligível, porém não

é interpretável, pois não se sabe quem é ele, você e lá”; já a interpretação “é o sentido

pensando-se o co-texto (as outras frases do texto) e o contexto imediato”; e compreender

é saber como um objeto simbólico (enunciado, texto, pintura, música

etc.) produz sentidos. É saber como as interpretações funcionam. Quando se

interpreta já se está preso em um sentido. A compreensão procura a explicitação dos

processos de significação presentes no texto e permite que se possam “escutar‟

outros sentidos que ali estão, compreendendo como eles se constituem. (Gomez

apud Orlandi, 2010, p. 72)

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Assim, para entendermos o texto em seu sentido integral, é preciso identificarmos ao

que se refere, interpretarmos e compreendermos como o todo se constitui. O sentido não está

somente no texto, mas se constrói a partir dele na interação com o leitor.

1. 5. 2. Construção de Sentido em Imagens

A imagem é um signo icônico, e analisá-la é

demonstrar que a imagem é de fato uma linguagem, uma linguagem específica e

heterogênea; que, nessa qualidade, distingue-se do mundo real e que, por meio de

signos particulares dele, propõe uma representação escolhida e necessariamente

orientada; distinguir as principais ferramentas dessa linguagem e o que sua ausência

ou sua presença significam; relativizar sua própria interpretação, ao mesmo tempo

que sem compreendem seus fundamentos (Joly, 1996, p. 48).

A análise da imagem pode ter como funções a busca ou a verificação das causas do

bom ou do mau funcionamento de uma mensagem visual (Joly, 1996, p. 48); essa análise é

diferente e mais complexa, e isso se deve ao fato de não se tratar de uma linguagem discreta

ou descontínua, como a língua, mas de uma linguagem contínua (Joly, 1996, p. 52).

Para analisarmos uma imagem é preciso considerar o estudo de sua função e o

contexto de seu surgimento; no caso das capas de revistas, a função da imagem, geralmente, é

ilustrar o título da matéria apresentada para auxiliar na compreensão, engrandecer a

reportagem ou torna-la mais apelativa — seja pela riqueza da imagem ou pela ausência dela.

Considerar a imagem com uma mensagem visual composta de diversos

tipos de signo equivale (...) a considera-la como linguagem e, portanto, como uma

ferramenta de expressão e de comunicação. Seja ela expressiva ou comunicativa, é

possível admitir que uma imagem sempre constitui uma mensagem para o outro,

mesmo quando esse outro somos nós mesmos. Por isso, uma das precauções

necessárias para compreender da melhor forma possível uma mensagem visual é

buscar para quem ela foi produzida (Joly, 1996, p. 55).

Precisamos considerar também que as imagens expressam mensagens explícitas e

implícitas, determinada pela sua força, expectativa, contexto e seu papel sociocultural.

Para a análise da imagem como complemento do texto, vejamos como essas relações

de significação acontecem no próximo item.

1. 5. 3. Construção de Sentido em Texto-imagens

Vimos anteriormente (item 2.4.) que as relações texto-imagem podem ser de

ancoragem, ilustração ou relay; no caso das capas de revistas, o texto apresentado é curto e

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simples, permite voltar a atenção para a imagem que o acompanha. Os tipos mais comuns de

textos informativos são os narrativos, os descritivos os expositivos.

O texto que se apoia na imagem é, geralmente, de curta de extensão e estabelece-se

uma relação muito próxima entre os dois, sem apresentar grandes dificuldades para o leitor; já

o texto descritivo fornece informações, mas não é de caráter informativo, pois a

particularização de uma entidade (imagem) contribui para uma conotação de atualidade e

pertinência da informação; por fim, o texto expositivo contém uma tese e uma evidência

(Kleiman, 2000, p. 88-89).

Para entendermos qual o sentido apresentado nas capas de revistas que serão

analisadas, é importante identificarmos quais são as relações texto-imagem apresentadas,

como os textos e as imagens podem ser analisados separadamente e o que muda quando são

analisados juntos.

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2. METODOLOGIA DE PESQUISA

Neste capítulo, explicarei e descreverei os instrumentos e os procedimentos

utilizados na coleta e na análise de dados. Tomarei por base a fundamentação teórica

apresentada no capítulo anterior e, de acordo com as questões apresentadas que norteiam este

trabalho, justificarei a utilização dos instrumentos escolhidos e dos procedimentos adotados.

Inserida na linha de pesquisa da Semiótica e na análise das relações texto-imagem, a

presente pesquisa foi desenvolvida em função do crescimento do número de distribuição de

revistas que tratam de assuntos variados de abrangência nacional e global (tais como política,

cultura e economia) veiculadas em grande parte do território brasileiro.

Para a análise, utilizei capas das revistas Época e Veja que foram distribuídas pelo

Brasil no período de 07 de novembro de 2011 a 26 de setembro de 2012. De nove imagens

selecionadas, todas foram obtidas pela internet, embora todos estivessem disponíveis nas

bancas; as capas da revista Veja foram selecionadas no acervo de capas digital, disponível no

site da revista, as capas da revista Época foram selecionadas no blog que faz parte da revista,

Faz Caber.

Apesar de as revistas escolhidas serem veiculadas em todo o território nacional, são

destinadas a pessoas de classe média ou alta, pois não possuem preço acessível para a

população da classe baixa. O conteúdo dessas revistas são estrategicamente destinados e

formulados para a população que tem acesso as essas revistas.

Antes de o projeto ser aceito pelo professor orientador, pesquisei capas de revistas

apenas nas bancas de jornal, escolhi dez que se destacaram e as utilizei para explicar e

exemplificar a intenção do meu trabalho; entre as dez imagens escolhidas, apenas uma

permaneceu para a análise (Figura 9).

Após o projeto ser aceito, procurei diversas capas de revistas e acompanhei os novos

lançamentos a cada semana (as revistas escolhidas são distribuídas semanalmente); já com o

trabalho em andamento, pesquisei nos sites das respectivas revistas por edições anteriores e,

como citado acima, as nove imagens escolhidas para análise foram retiradas desses sites.

No geral, comecei a pesquisar sobre os objetos de análise em setembro de 2011 e

pausei em dezembro do mesmo ano; voltei à pesquisa em agosto de 2012, mas só cheguei à

decisão de quantas e quais capas estudar em novembro de 2012.

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Consegui descobrir as respostas para minhas questões problemas, proposta inicial da

presente pesquisa, com o total de nove imagens; precisei descartar outras vinte e duas, pois

elas serviam apenas para reforçar aquilo que já havia analisado.

Para realizar este trabalho e para que eu pudesse chegar aos conceitos das relações

texto-imagem e ao entendimento de como acontece a construção de sentido em capas de

revistas foram necessárias imagens digitais das capas das revistas analisadas e um problema, a

razão pela qual desenvolvi esta pesquisa. As questões levantadas foram:

1. Que tipos de relações texto-imagem são encontradas nas capas de revistas?

2. Como essas relações contribuem para a construção de sentido nessas capas?

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3. ANÁLISE DAS CAPAS DE REVISTAS

Neste capítulo, analisarei as capas de revistas escolhidas de acordo com referências

estudadas no primeiro capítulo deste trabalho.

3.1. Capa da Época de 17/09/2012

Figura 7 — Capa da Revista Época de17/09/2012

Esta revista foi veiculada no dia 17 de setembro de 2012, aproximadamente um mês

antes de acontecer o primeiro turno das eleições municipais do Brasil (que ocorreu dia 7 de

outubro de 2012), assim, 2012 foi um ano eleitoral.

Na capa, vemos a foto de uma urna eleitoral (confirmada pelo logo da Justiça

Eleitoral no lado direito do objeto), no plano inferior, em cima de um objeto marrom,

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acompanhada de notas de dinheiro brasileiro (Real) de valores altos. O logotipo da revista, em

vermelho, está em primeiro plano, destacado, posicionado na altura dos olhos; a letra “o” que

faz parte da palavra Época é representada por um globo terrestre, simbolizando que a revista

traz informações do mundo todo. O fundo da imagem é de cor cinza, cor que indica seriedade

ou sobriedade; o título da matéria principal e as descrições estão centralizados na capa e em

preto, cor neutra, porém, acompanhados da palavra Exclusivo que, apesar de estar com fonte

de tamanho menor, ganha destaque por causa da cor vermelha.

O texto Eleição à venda não é explícito, mas permite que o leitor pressuponha que,

durante as eleições, subornos são trocados por votos, e a frase O mercado que ainda assola o

Brasil complementa a pressuposição de que esses subornos existem há muito tempo em nosso

país; além disso, o termo à venda trata as eleições como um objeto, um objeto que

supostamente é vendido sempre e não é um “mercado” escondido, mas sim, explícito.

Aqui é possível perceber uma relação de ilustração entre texto e imagem, (imagem

apoiando texto), expandindo a informação verbal (GOMES, 2010, p. 54), pois o texto,

centralizado na capa da revista, é o foco principal e ele, por si só, já tem um sentido completo,

não explícito, mas completo; a imagem reforça a ideia de eleição como mercadoria — a urna

eleitoral transformada em caixa eletrônico transmite o sentido de que quem vota em

determinado candidato receber determinada quantia em dinheiro. Entretanto, é possível que

algum leitor não tenha conhecimento prévio sobre os subornos das eleições, não conheça um

caixa eletrônico ou uma urna devido ao seu contexto social e não consiga entender a

mensagem se observar os itens separadamente.

Com relação ao sentido, a imagem dramatizada em caixa eletrônico dá ênfase à

mensagem proposta pelo texto, de caráter expositivo, a torna mais impactante e completa o

sentido quando necessário. Neste caso, o texto não altera a imagem ou vice-versa.

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3.2. Capa da Veja de 21/12/2011

Figura 8 — Capa da Revista Veja de 21/12/2011

Lançada no dia 21 de dezembro de 2011, a capa acima traz como imagem um lápis,

posicionado em primeiro plano, de forma vertical e na altura dos olhos; o logo da revista está

em segundo plano, atrás do lápis, de cor azul com contorno branco no canto superior direito

da revista; o texto está posicionado no canto inferior direito.

O lápis é em cor vermelha, com estrelas amarelas na ponta superior, cores

chamativas, e parece estar “soltando fogo”; se levarmos em consideração a cor azul do fundo

da imagem (que, neste caso, simboliza o céu), é possível interpretar esse lápis como um

foguete que está direcionado ao céu. Se o leitor possuir algum conhecimento prévio sobre

bandeiras, saberá que o vermelho e as estrelas amarelas representam a bandeira da China. O

título A arma secreta da China está em cor preta (cor neutra) e em letras maiúsculas (assim

como vimos na análise da capa anterior), seguida pela descrição A educação de qualidade e

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baixo custo para milhões é o verdadeiro segredo dos chineses em sua corrida para a

liderança mundial em cor branca (cor que, geralmente, simboliza paz e calma).

O título, quando visto sozinho, não é claro ou direto, o leitor pode fazer várias

pressuposições sobre o que ele significa, ou qual o sentido implícito, pois o termo “arma” tem

muitos sentidos literais ou figurados; quando essa palavra está acompanhada do termo

“secreta”, geralmente faz referencial a atentados ou guerras. A descrição direciona a

construção de sentido do título, pois com ela percebemos que a tal “arma secreta” é a

educação dos chineses, e sua contribuição para a disputa da liderança mundial.

A relação entre texto-imagem presente nesta capa é de ancoragem, ou seja, o texto

conota a leitura da imagem, propõe um viés de leitura (GOMES, 2010, p. 54), o texto

direciona o leitor através da escolha de significados transmitidos pela imagem. Anteriormente,

o lápis poderia ser interpretado como um foguete (por sua aparência e posição), agora, com as

informações proporcionadas pelo texto, é possível entender que o lápis representa um míssil, a

arma descrita no título; o lápis dramatizado em como míssil direcionado ao céu transmite a

informação de que a educação é a nova arma; se repararmos nas cores do lápis, vermelho com

estrelas amarelas, percebemos que é a bandeira da China, assim, refere-se à educação dos

chineses.

O texto contextualiza a mensagem transmitida pela imagem, que, por si só, não

transmite uma mensagem clara aos leitores; a relação texto-imagem encontrada aqui completa

o sentido proposto, pois, ao direcionar a leitura da imagem, o texto ganha força de sentido,

ênfase na mensagem proposta e, quando analisados juntos, todo o conceito exposto na capa se

torna harmonioso, apelativo e/ou chamativo.

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3.3. Capas da Época de 07/11/2011

Figura 9 — Capa da Revista Época de 07/11/2011 Figura 10 — Opção de capa da Revista Época de

07/11/2011

As duas capas acima são da mesma edição da revista Época do dia 7 de novembro de

2011; a capa da esquerda foi a escolhida, já a direita foi umas das capas consideradas para

escolha (ambas retiradas do blog Faz Caber).

Em ambas as capas vemos o fundo preto, e, neste caso, indica formalidade e até

mesmo morte; também vemos o logotipo da revista centralizado na altura dos olhos em ambas

as figuras, mas na Figura 9 está em azul, cor que pode indicar tranquilidade e confiança, e na

Figura 10 está em branco, cor que pode indicar calma e pureza — os dois se destacam no

fundo preto.

Os títulos das reportagens são diferentes; na primeira temos O SUS e o preconceito,

seguida do enunciado ÉPOCA investiga o sistema público de saúde e revela que — em alguns

hospitais — ele funciona melhor do que sugerem as baixarias contra Lula. O título não

desvenda totalmente o assunto da reportagem, o leitor pode apenas pressupor que o

preconceito seja contra a pessoa da foto, Lula, mas a descrição situa o contexto da tal

reportagem, é possível entender que a revista investiga alguns hospitais públicos de saúde e o

preconceito realmente é referente a Lula, mas a expressão “baixarias contra Lula” é confusa,

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exige um conhecimento prévio do assunto (o ex-presidente fazia tratamento contra o câncer

em um hospital particular famoso, enquanto uma parte da população protestava nas redes

sociais, afirmando que ele deveria ser tratado em hospital público).

Na segunda capa temos o título O drama de Lula e não temos nenhuma descrição,

provavelmente porque a capa ainda não estava finalizada, mas baseada na situação do ex-

presidente naquela época, podemos pressupor que o texto se trata da doença que ele sofria. Os

textos também estão em branco nas duas capas, a diferença é que, na Figura 9, ele está

centralizado na capa, entre o logotipo e a foto do homem, enquanto, na Figura 10, está na

parte superior direita.

A primeira foto de Lula está centralizada, ocupando a parte inferior, metade da capa;

parece, pelo ângulo que a foto foi tirada, que ele está olhando para cima e está usando roupas

claras. Na segunda, a foto está na parte inferior direita, pequena; o homem parece estar

olhando para baixo, com o semblante cansado, está usando roupas escuras, eu se fundem com

a sombra que cobre a foto e com o fundo preto.

Podemos perceber aqui a relação de ilustração entre texto e imagem, pois a imagem

tem a função de expandir a informação verbal (GOMES, 2010, p. 54); na Figura 9 vemos que

Lula está na parte inferior da capa, logo acima está o texto, “cobrindo” a cabeça dele, e por

fim está o logotipo, em azul: o olhar para cima (ou para o horizonte) indica esperança, o texto

pode representar uma auréola e o logotipo o céu, assim, o sentido transmitido é de que o ex-

presidente não é culpado na “baixaria” descrita e, de que há esperança de, provavelmente,

vencer a doença e esperar pelo futuro. Em contrapartida, na Figura 10 temos um homem

cabisbaixo, coberto pela sombra, isolado e perdido no escuro da capa: nem o texto está

posicionado perto dele; a imagem complementa o sentido do drama descrito na reportagem,

não indícios de esperança, apenas o isolamento nessa etapa difícil da vida.

As relações texto-imagem aqui complementam o sentido proposto, enriquecem a

mensagem ao expandir a informação verbal e criam pequenas mensagens implícitas e sutis na

diagramação e disposição dos itens na capa.

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3.4. Capa da Veja de 26/09/2012 e capa da Época de 23/07/2012

Figura 11 — Capa da Revista Veja de 26/09/2012 Figura 12 — Capa da Revista Época de 23/07/2012

Diferentemente da análise anterior, agora temos duas capas de revistas diferentes que

abordam o mesmo assunto; a revista da esquerda, Veja, foi publicada no dia 26 de setembro

de 2012, enquanto a revista da direita, Época, foi publicada no dia 27 de julho de 2012.

Na Figura 11 o título apresentado é Vamos falar daquilo?, frase que é um chavão

conhecido, em que a palavra “daquilo” se refere ao sexo, editado na cor azul, acompanhado

do enunciado Veja foi saber das empresárias, modelos, donas de casa e até ministras de

estado qual o segredo do best-seller que hipnotiza as mulheres e incomoda os homens na cor

preta; o enunciado esclarece o assunto da matéria, mas não cita o nome do tal best-seller que

faz tanto sucesso no momento. O logotipo da revista está com o contorno branco e sem

preenchimento, tomando como cor o cinza quadriculado do fundo da capa.

Já na Figura 12 o título é Um pornô para mulher, editado na cor branca, seguido da

descrição O que Cinquenta Tons de Cinza — romance que vendeu mais de 31 milhões de

cópias no mundo todo e agora chega ao Brasil — ensina sobre o desejo feminino, também na

cor branca com destaques em vermelho; descrição que informa sobre o que é a matéria,

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inclusive o nome do livro. Este logotipo está em vermelho, exceto pela letra “o”, que é sempre

representada pelo globo terrestre.

Nas duas capas a figura da mulher ocupa todo o lado esquerdo da revista e o texto

está posicionado no lado direito. Na primeira capa vemos o corpo de uma mulher, exceto

pelos olhos, vestida com o que parece ser uma camisa masculina branca e uma gravata azul,

com a roupa íntima à mostra, em uma posição que pode ser considerada provocante. Na

segunda vemos apenas o rosto de uma mulher vendada, com a mão elevada à boca, posição

que podemos considerar insinuante. Em ambas as capas o fundo é cinza, porém a cor é mais

predominante na capa da direita, pois a foto da modelo também está editada em tons de cinza,

exceto pelos lábios e pela faixa que venda seus olhos.

Apesar das diferenças, a relação texto-imagem encontrada em ambas as capas é de

ilustração, pois as imagens tem a função de expandir a informação verbal (GOMES, 2010, p.

54).

Na Figura 11, a imagem provocante enfatiza o sentido de “sexo” implícito no

enunciado, a vestimenta masculina da modelo complementa a frase “e incomoda os homens”

e também apresenta indícios do livro, como a gravata, a sensualidade e os tais “tons de cinza”

representados no fundo da foto, mas, para perceber estes indícios, algum conhecimento sobre

o livro é necessário; a imagem sozinha poderia ter múltiplas interpretações e seria difícil

contextualizá-la sem o texto.

Na Figura 12 o título é mais explícito, enquanto a imagem não é tão explícita quanto

à da outra capa, mas também seria difícil de interpretar fora do contexto. O uso da cor cinza

em grande parte da capa faz referência ao nome do livro, Cinquenta tons de cinza, e a modelo

representa a sensualidade contida no livro, destacada pelos lábios coloridos de vermelho; a

faixa pode ser um índice do tipo de sexo que é apresentado no livro, a cor vermelha representa

a paixão, energia e excitação.

As imagens complementam e completam o sentido proposto pela revista, ampliam o

olhar do leitor, confirmam as informações verbais contidas nas capas, apresentam indícios do

tipo de literatura que será tratada na reportagem e tornam as revistas mais apelativas; quando

texto e imagens são observados em conjunto, o sentido se torna completo.

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3.5. Capas da Época de 23/07/2012 e capa da Veja de 16/09/2012

Figura 13 — Capa da Revista Época de 19/03/2012 Figura 14 — Opção de capa da Revista Época de

19/03/2012

Figura 15 — Capa da Revista Veja de 16/09/2012

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Para a análise final temos três capas: duas da revista Época, com o mesmo assunto, e

uma da revista Veja, com o assunto similar.

A primeira capa (Figura 13) apresenta o texto Quero morrer, em cor cinza, quase

transparente, centraliza no meio da capa, seguido de Os brasileiros que pagaram R$ 15 mil

reais a uma clínica na Suíça especializada em morte assistida, em cor preta, com tamanha

menor, posicionado no centro inferior; o título está em primeira pessoa, aproxima o leitor da

situação, e a descrição contextualiza e apresenta o assunto da matéria. O plano de fundo é

branco e o logotipo da revista está posicionado no centro superior, em cor preta. Não há

imagens, mas é possível perceber que o texto desempenha o papel das imagens na presente

capa; o fundo branco indica tranquilidade, paz; a cor preta utilizada nos textos, apesar de ser

uma cor neutra, representa o luto e a morte; o cinza transparente pode ser interpretado como o

desejo desaparecer, pois o assunto tratado é morte.

Na segunda capa temos uma imagem, uma mão que segura um fio branco; o fundo

da capa é preto e todo o texto está editado na cor branca, incluindo o logotipo, que também

posicionado na parte superior central da capa. O texto é Eles querem decidir como morrer,

apresenta impessoalidade, pois está colocado na terceira pessoa do plural, seguido de Os

brasileiros que pagaram para agendar o próprio fim numa clínica da Suíça — e o debate

sobre a morte assistida, texto esclarecedor que, na primeira frase trata a morte como “fim”,

mas não é com a intenção de evitar o termo, mas de evitar a repetição, pois já é utilizado na

segunda frase. Nas duas capas, se o texto for observado como um todo, não em fragmentos,

não irá gerar muitas dúvidas ao leitor, nem deixará margem para muitas interpretações — são

textos diretos com mensagens explícitas.

Na terceira capa também há a presença da mão, mas em uma posição diferente,

segurando uma linha azul e com uma pulseira que parecer ser de identificação, daquelas

usadas em hospitais, um coração com o número 68 no lado inferior esquerdo e outro coração

com o número 0 no lado inferior direito; o plano de fundo é preto com quadriculado azul, que

também é o preenchimento do logotipo, apenas com contorno branco, posicionado no lado

superior direito. A frase Eu decido meu fim está, novamente, em primeira pessoa, gera uma

aproximação ao leitor, na cor azul, centralizado logo acima da imagem, e Agora que os

médicos brasileiros são orientados a reconhecer a vontade dos pacientes terminais, a decisão

de interromper os tratamentos torna-se menos dolorosa?, em cor branca, localizado abaixo

do título.

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Em todas as capas a relação texto-imagem apresentada é de ilustração, imagem

apoiando texto (GOMES, 2010, p. 54); na Figura 13, o texto transformado em imagem dita o

“clima” da mensagem transmitida, a cor transparente representa o desejo e o sentimento das

pessoas que pagaram para ter uma morte assistida e, acompanhado do fundo branco, passa a

sensação de paz para o leitor, a sensação de que aquelas pessoas buscavam a tranquilidade.

Nesta capa, a imagem reforça o sentido de morte, do que a morte pode representar para as

pessoas que a desejam.

A imagem da Figura 14, se analisada sozinha, não tem um sentido completo, pois o

fio branco pode ser referente à qualquer aparelho, mas, o texto direciona a leitura da imagem,

pois ao lê-lo, o leitor percebe que o fio transmite o sentido de desligar o aparelho da vida,

tornando a morte uma questão de escolha. Aqui, a relação completa o sentido proposto, pois a

imagem enfatiza o texto, torna a informação verbal mais abrangente.

Por fim, a Figura 15 é uma imagem mais explícita, pois é possível perceber que se

trata de um monitor cardíaco, entretanto, se o leitor não tiver conhecimento prévio este

aparelho, não conseguirá interpretá-lo como tal; contudo, não mensagem clara quanto à mão

que segura a linha azul, que depois de tocada, fica reta — mesmo sabendo que a linha reta e o

número 0 ao lado do coração do lado direito indicam o fim da vida, pois a mensagem não tem

seu sentido completo só na imagem —, mas, se aliada ao texto, a mensagem constrói seu

sentido completo: o título contextualiza a imagem, transmitindo que a morte é uma escolha

pessoal, e a descrição complementa a contextualização, pois apresenta o assunto da matéria,

mostra que a pessoa que “decide seu fim” se refere aos pacientes terminais, que podem

escolher quando parar o tratamento.

Nas três capas as relações entre texto e imagem complementam o sentido, expandem

a mensagem transmitida pelo texto, apresentam mensagens sutis e enfatizam a mensagem;

tornam as capas apelativas, chamativas e insinuantes.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

As revistas, como meios de comunicação, desempenham papéis importantes na

propagação da informação em massa; as capas dessas revistas proporcionam o primeiro

contanto do leitor com a informação e, não maioria das vezes, são formadoras de opinião.

Por meio das capas analisadas, foi possível identificar que a relação texto-imagem

mais comum presente nessas capas é a relação de ilustração (imagem apoiando texto); essa

relação tem a função de enriquecer o sentido da mensagem transmitida, pois a imagem

expande e complementa a informação verbal, enfatiza a reportagem apresentada e torna as

capas mais chamativas.

Com a pesquisa realizada pude perceber que as capas de revistas são de extrema

importância para o entendimento prévio do texto que se encontra dentro da revista, elas

direcionam o olhar do leitor e muitas vezes apresentam uma pré-opinião sobre a matéria (se

consideram uma atitude certa ou errada, por exemplo), influencia o julgamento que a pessoa

deveria fazer antes mesmo da leitura do texto.

As pessoas que acompanham revistas com certeza sabem ler um texto, interpretá-lo e

extrair algum sentido dele, mas a maiorias delas não reparam na imagem, não percebem a

quantidade de informação e mensagens implícitas nelas, o quão apelativas e determinantes

para a compra da revista elas se tornam. As escolas preparam as pessoas para estudar textos

individualmente, mas não quando estão em conjunto com uma imagem (ou até mesmo apenas

a imagem) e assim, formam-se os analfabetos visuais.

Os analfabetos visuais não conseguem julgar uma propaganda, que é uma das

principais funções das capas de revistas, não tem o senso crítico desenvolvido completamente

e “compram” qualquer ideia que é vendida. Assim como os outdoors ou os comerciais, as

capas são propagandas, procuram vender a notícia, porém, as revistas não apresentam os fatos

apenas, mas apresentam os fatos sob a perspectiva da revista, ou seja, acompanham uma

determinada ideologia e a transmitem de maneira implícita nas relações entre texto e imagem.

Com os estudos feitos nesta pesquisa e pelos motivos citados acima, é interessante

afirmar que o estudo de imagens é fundamental para a que a pessoa se torne alfabetizada em

mais de um aspecto; o entendimento das imagens permite que o leitor identifique mais de um

significado nas capas de revistas, perceba as mensagens que são veladas e consiga formar uma

opinião por si mesmo. Além disso, o leitor que é “completamente” alfabetizado tem o senso

crítico mais ricamente desenvolvido, analisa uma propaganda melhor e está preparado para

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fazer seu próprio julgamento, não sai por aí “comprando qualquer coisa” (sejam essas coisas

objetos, ideias ou opiniões).

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