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88 I éPOCA I 21 de abril de 2014 aluno do 1 o ano do ensino mé- dio Danilo Foganholi, de 15 anos, levou um susto ao voltar das férias. Em sua primeira aula de edu- cação física, na quadra do colégio paulis- tano Mackenzie, encontrou seus colegas brincando com uma bola gigante, de 1,22 metro. Parecia uma gincana – ou uma pegadinha. O professor chegou, e Danilo percebeu estar diante não de uma brin- cadeira, mas de um esporte de verdade: Kin-ball. Pouco conhecido no Brasil, o kin-ball reúne três equipes na quadra. Elas se revezam para não deixar a bola gigante cair. Precisam se ajudar por um objetivo comum. O mais incrível: há gen- te que ganha dinheiro fazendo isso. Cria- do no Canadá, o kin-ball é um esporte profissional em 11 países, entre eles Ja- pão, Estados Unidos e França. De acordo com a Federação Internacional de Kin-ball, existem 3,8 milhões de jogado- res no mundo. O kin-ball chegou ao Bra- sil na esteira de outro esporte que privi- legia a cooperação entre os jogadores, também promovido por escolas: o tchoukball. Nesse outro “ball”, ninguém pode fazer aquilo que mais se vê no fu- tebol ou no basquete. É simplesmente proibido roubar a bola do adversário ou atrapalhar a visão dos demais jogadores. Os praticantes de kin-ball precisam cooperar com seus aliados e com seus O adversários. O tamanho monumental da bola exige que todos se unam para arremessá-la. Os três times em campo competem, mas duas regras os unem: é proibido atacar o time que está perden- do, e as equipes devem se juntar para enfrentar a mais forte. O objetivo é bus- car equilíbrio. Se um time erra uma jogada, os outros dois pontuam. “É um jogo estimulante e sem competição ex- cessiva”, diz Maria Ignez Giandalia, coordenadora de educação física e es- portes do Mackenzie. A Universidade São Judas e o colégio Global, ambos em São Paulo, também realizaram recentes atividades com kin-ball. Criado em 1986, no Canadá, o kin-ball não exige habilidades especí- ficas. O mais importante é o aluno se movimentar bem e prestar atenção para não deixar seu colega na mão – uma visão positiva, longe da ideia de destruição do adversário. O mesmo espírito emana do tchoukball. Para os ouvidos dos suíços, que criaram esse jogo, o nome é a onomatopeia do som produzido pela bola ao bater na rede. É um jogo de quadra com 14 jogado- res, cujo objetivo é arremessar a bola para uma espécie de trampolim – o quadro. Cabe aos adversários impedir que ela pingue no chão ao voltar do quadro. “Em outros jogos, quando um s MOMENTO ESPORTIVO Dois esportes de bola invadem escolas brasileiras com o objetivo de incentivar a cooperação entre os jogadores – inclusive com seus oponentes Vence quem ajuda o adversário Flavia Yuri Oshima e Felipe Germano Kin-ball No esporte canadense, três equipes No kin-ball, três times jogam ao mesmo tempo. Se a bola tocar o chão, dois times pontuam, e o responsável por pegá-la não O JOGO Jogadores Tempo de jogo Pontuação 3 times de 4 jogadores 3 tempos de 15 minutos 1 ponto para cada bola Fonte: Marcos Tadeu Abílio, professor do colégio Mackenzie

Vence quem ajuda

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Matéria publicada na Revista Época sobre esportes inusitados ganhando espaço nas escolas brasileiras. Entre eles, o Kinball e o Tchouckball, que tem a cooperação e o trabalho de equipe como princípios.

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88 I época I 21 de abril de 2014

aluno do 1o ano do ensino mé-dio Danilo Foganholi, de 15anos, levou um susto ao voltar

das férias. Em sua primeira aula de edu-cação física, na quadra do colégio paulis-tano Mackenzie, encontrou seus colegasbrincando com uma bola gigante, de 1,22metro. Parecia uma gincana – ou umapegadinha. O professor chegou, e Danilopercebeu estar diante não de uma brin-cadeira, mas de um esporte de verdade:Kin-ball. Pouco conhecido no Brasil, okin-ball reúne três equipes na quadra.Elas se revezam para não deixar a bolagigante cair. Precisam se ajudar por umobjetivo comum. O mais incrível: há gen-te que ganha dinheiro fazendo isso. Cria-do no Canadá, o kin-ball é um esporteprofissional em 11 países, entre eles Ja-pão, Estados Unidos e França. De acordocom a Federação Internacional deKin-ball, existem 3,8 milhões de jogado-res no mundo. O kin-ball chegou ao Bra-sil na esteira de outro esporte que privi-legia a cooperação entre os jogadores,também promovido por escolas: otchoukball. Nesse outro “ball”, ninguémpode fazer aquilo que mais se vê no fu-tebol ou no basquete. É simplesmenteproibido roubar a bola do adversário ouatrapalhar a visão dos demais jogadores.

Os praticantes de kin-ball precisamcooperar com seus aliados e com seus

o adversários. O tamanho monumentalda bola exige que todos se unam paraarremessá-la. Os três times em campocompetem, mas duas regras os unem: éproibido atacar o time que está perden-do, e as equipes devem se juntar paraenfrentar a mais forte. O objetivo é bus-car equilíbrio. Se um time erra umajogada, os outros dois pontuam.“É umjogo estimulante e sem competição ex-cessiva”, diz Maria Ignez Giandalia,coordenadora de educação física e es-portes do Mackenzie. A UniversidadeSão Judas e o colégio Global, ambos emSão Paulo, também realizaram recentesatividades com kin-ball.

Criado em 1986, no Canadá, okin-ball não exige habilidades especí-ficas. O mais importante é o aluno semovimentar bem e prestar atençãopara não deixar seu colega na mão –uma visão positiva, longe da ideia dedestruição do adversário. O mesmoespírito emana do tchoukball. Para osouvidos dos suíços, que criaram essejogo, o nome é a onomatopeia do somproduzido pela bola ao bater na rede.É um jogo de quadra com 14 jogado-res, cujo objetivo é arremessar a bolapara uma espécie de trampolim – oquadro. Cabe aos adversários impedirque ela pingue no chão ao voltar doquadro.“Em outros jogos, quando um s

momento esportivo

Dois esportes de bola invadem escolas brasileirascom o objetivo de incentivar a cooperação entreos jogadores – inclusive com seus oponentes

Vence quemajuda o adversário

Flavia Yuri oshima e Felipe Germano

Kin-ballNo esporte canadense, três equipes s

No kin-ball, três times jogam ao mesmotempo. Se a bola tocar o chão, dois timespontuam, e o responsável por pegá-la não

O jOgO

Jogadores

Tempo de jogo

Pontuação

3 times de 4 jogadores

3 tempos de 15 minutos

1 ponto para cada bola

Fonte: marcos tadeu Abílio, professor do colégio mackenzie

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s se enfrentam em quadra para equilibrar uma bola gigante. Quando uma erra, as outras duas pontuam

o campo

1,22m

A bola

1 Jogadores do timeque ataca formamuma base para abola ser lançadapara outro time

2 Um dos times rivaisé escolhido para nãodeixar a bola cair

3 Se a bola tocar ochão, as duas outrasequipes pontuam

trAbAlho em equipeAiunos do colégiomackenzie jogam

kin-ball. A escola adotouo esporte devido a seu

espírito de colaboração

Foto: Rogério Cassimiro/ÉPOCA

20 m

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momento esportivo

aluno se destaca, a equipe gira em tor-no dele”, diz Rogério Sousa, coorde-nador de esportes do Colégio Rainhada Paz e técnico da seleção femininade tchoukball. “No tchoukball, issonão existe. Pode haver jogadores ha-bilidosos e não habilidosos, e o jogoocorre com qualidade.” A dinâmica decolaboração levou a ONU a recomen-dar o tchoukball como um esporte quepropaga a paz. Quem joga tchoukballafirma que os bons princípios nãocomprometem a diversão. “As partidassão rápidas, com muita adrenalina”,diz Nathália Tavares, de 18 anos, pra-ticante do esporte há sete. Nathália jáintegrou a seleção brasileira. Disputouo Sul-Americano de 2010, o Mundialde 2011 e o Pan-Americano de 2012.

O tchoukball foi inventado em 1967,na Suíça, pelo médico Hermann Brandt.Ele queria criar um esporte em que osriscos de lesão fossem mínimos. Che-gou ao Brasil há 22 anos. Hoje, é prati-cado em cerca de 70 escolas, no Paraná,em Mato Grosso do Sul, Minas Gerais,Sergipe, Rio de Janeiro e São Paulo. Fazparte do currículo das escolas estaduaispaulistas desde 2008. O Brasil não temfeito feio em recentes torneios. Em2008, a equipe nacional masculina ven-ceu o Sul-Americano. Em 2010, houvedobradinha, com canecos para as sele-ções brasileiras masculina e feminina.No ano seguinte, o masculino foi o oi-tavo entre os 15 participantes do Mun-dial. Em 2012, brasileiros e brasileirasforam campeões pan-americanos.

Nada disso garantiu apoio financeiro.Os jogadores brasileiros não recebempara treinar, e as viagens internacionaissaem de seus bolsos.“Temos ótimos atle-tas que não participam dos campeonatospor falta de patrocínio”, diz ArchimedesMoura, presidente da Associação Brasi-leira de Tchoukball. As federações inter-nacionais de kin-ball e de tchoukballagora sonham em transformar suas inu-sitadas atividades em esportes olímpicos.Poucos jogos abraçariam tão bem o lemade que o importante é competir. u

bAsquete no chãobrasil x cingapura nomundial de 2013 detchoukball, na Áustria.o esporte quer setornar olímpico

TchoukballO esporte suíço usa um trampolim para devolver a bola ao jogo

O tchoukball consiste emnão deixar a bola pingarno chão quando éarremessada no quadro

O jOgO

Jogadores

A bola

o campo o quadro

Tempo de jogo

Pontuação

7 para cada time

3 tempos de 15 min

1 ponto a cada bolarebatida do quadro

1 Colegas de equipepassam a bola entre si.É proibido roubar a bola

2 A bola é arremessada noquadro, espécie de trampolimcom uma rede, e deve cairfora da área delimitada

3 O objetivo do timeadversário é pegara bola no ar, antesque ela toque o chão

26-29 m

58 a 60 cmpeso de 425 a 475 g

15-17

m 3 m

Fontes: Associação brasileira de tchoukball e seleção brasileira de tchoukball

100 X 100 cm einclinação de 55 graus

Foto: divulgação

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GustavoCerbasi

Gustavo Cerbasi é consultorfinanceiro e escritor. Escreva para ele emE-mail: www.maisdinheiro.com.br.Twitter: @gcerbasi.

Sim, alugar imóvelé um bom negócio

obsessão pela casa própria dei-xa evidente a falta de educação

financeira dos brasileiros. Quem dizisso não sou eu, e sim os números.Não é preciso fazer muitas contas.Coloque-se no lugar do proprietáriode imóvel. Raramente os rendimen-tos do aluguel superam 0,5% ao mês.Na dura realidade de juros elevados,qualquer um que compra um imóvelpode também investir seu patrimô-nio na renda fixa, com ganhos supe-riores a 0,7% mensais. Se não é bomnegócio para locadores, por que seriapara inquilinos?

O caminho para sair do aluguel,para a maioria das pessoas, é por meiodo financiamento. Na prática, finan-ciar é tomar dinheiro emprestado epagar um aluguel por ele. Pouca gen-te percebe o mau negócio que faz aodeixar de alugar por 0,5% ou 0,6% aomês e passar a alugar dinheiro dobanco ou da construtora por algo en-tre 0,8% e 1% ao mês. Aqui, alugardinheiro é mais caro que alugar imó-vel. É insensatez, mas é fato.

Há contra-argumentos que ten-tam derrubar essa reflexão. Um de-les é que aluguel de imóvel é pelavida toda, enquanto o “aluguel dedinheiro” – ou financiamento – épor apenas alguns anos. Façamosnovas contas. Um imóvel de R$ 500mil pode ser alugado por R$ 3 milmensais. Um financiamento dessemesmo imóvel pediria pelo menosuma entrada de R$ 150 mil, e o res-tante seria parcelado em, digamos,20 anos com prestações de cerca deR$ 3.550 mensais. Considerei jurosde 0,9% ao mês.

Os R$ 550 mensais da diferença,

se bem investidos por 20 anos, po-dem resultar em R$ 193 mil. Soma-dos aos R$ 150 mil da entrada e aosrendimentos que esse valor tambémgeraria em 20 anos, dá um total decerca de R$ 501 mil. Considerei ren-dimentos de 0,3% ao mês acima dainflação, para chegar a resultados emvalores de hoje.

Você não conseguirá comprar, da-qui a 20 anos, o mesmo imóvel quehoje vale R$ 500 mil apenas corrigin-do sua poupança pela inflação. Masestará mais flexível para morar ondequiser, em imóveis adequados a seuinstante de vida e de carreira, semabrir mão da oportunidade de pou-par e sem engessar demais seu orça-mento. Provavelmente, com isso, terámais chance de crescimento na car-reira e na renda, consequentementena poupança e na capacidade decomprar um imóvel melhor no futu-ro. Você se sentirá menos pressiona-do, por ter um orçamento flexível,que pode ser mudado se a renda cair.Podemos desistir de um imóvel alu-gado, mas é mau negócio desistir deum financiamento.

A reflexão se inverte quando asprestações do imóvel ficam inferioresà mensalidade do aluguel. Isso ocorrecom os imóveis mais baratos, que têmsubsídio do governo. Se não for seucaso, pense bem antes de apertar seuorçamento. Quanto mais altos os ju-ros, maior a vantagem da combinaçãode aluguel com poupança. u

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