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Universidade do Estado do Pará Centro de Ciências Biológicas e da Saúde Escola de Enfermagem “Magalhães Barata” Mestrado Associado de Enfermagem UEPA-UFAM
Vera Lúcia Gomes de Oliveira
CAMINHO DAS PEDRAS: Cuidar cotidiano em
situações de urgência e emergência em uma comunidade
quilombola da Amazônia Paraense
Belém - Pará
2012
Vera Lúcia Gomes de Oliveira
CAMINHO DAS PEDRAS: Cuidar cotidiano em situações de
urgência e emergência em uma comunidade quilombola da
Amazônia Paraense
Dissertação apresentada como requisito para
obtenção do título de Mestre em Enfermagem no
Programa de Pós-graduação em Enfermagem da
Universidade do Estado do Pará e Universidade
Federal do Amazonas
Orientadora: Profª Drª Elizabeth Teixeira
Belém - Pará 2012
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Biblioteca do Curso de Enfermagem da UEPA – Belém -PA
O48c Oliveira, Vera Lúcia Gomes de
Caminhos das pedras: Cuidar cotidiano em situações de urgência e emergência em uma
comunidade quilombola da Amazônia Paraense / Vera Lúcia Gomes de Oliveira;
orientadora Elizabeth Teixeira. – Belém: [s.n.], 2012.
118 f.
Dissertação (Mestrado) - Universidade do Estado do Pará, 2012.
1. Urgência e emergência. 2. Enfermagem 3. Cuidar cotidiano. 4. Populações
Tradicionais I. Teixeira, Elizabeth. II. Título.
CDD: 21 ed. 610.73610981
Vera Lúcia Gomes de Oliveira
CAMINHO DAS PEDRAS
Cuidar cotidiano em situações de urgência e emergência em uma
comunidade quilombola da Amazônia Paraense
Dissertação apresentada como requisito para
obtenção do título de Mestre em Enfermagem
no Programa de Pós-graduação em
Enfermagem da Universidade do Estado do
Pará e Universidade Federal do Amazonas
Orientadora: Profª Drª Elizabeth Teixeira
Apreciado em 13/08/2012
Banca Examinadora
____________________________ Orientadora Profª Dra. Elizabeth Teixeira Universidade do Estado do Pará
____________________________ Examinador Externo Profº Dr. Hilton Pereira da silva Universidade Federal do Pará
____________________________ Examinador Interno Profª Drª Laura Maria Vidal Nogueira Universidade do Estado do Pará
_________________________________ Suplente Interno Profª Drª Nair Chase Universidade Federal de Manaus
A Deus por me conceder saúde
e graças de realizar este curso de
mestrado
AGRADECIMENTOS
Primeiramente a DEUS, por ter me dado à vida e manter minha
serenidade e força nos momentos mais adversos da minha saúde.
Aos meus pais GILDA E JOÃO (im memória), sem eles nada seria
possível.
A Dra. Elizabeth Teixeira, minha orientadora, por sua disponibilidade,
ensinamentos e apoio fundamentais durante todo o processo de criação e
elaboração desta dissertação, mesmo quando foi necessário um puxão de orelha. E
por acreditar nessa proposta desde o início.
A minha companheira por sua compreensão, por tantas horas, dias e
meses ausentes para a construção da dissertação.
Aos meus filhos AYUNE E AYÚ, o carinho e companhia nas madrugadas.
A minhas amigas, Marcia Helena, Margareth Braun sempre juntas até
mesmo nos momentos mais difíceis e a todas as minhas colegas de mestrado pela
afeição e pelas nossas conversas, onde vários insights foram possíveis;
As professoras Dra. Mary Elizabeth de Santana e Dra. Antônia Margareth
Moita Sá, pelo apoio, ensinamento e exemplo de vida.
A associação dos moradores da comunidade quilombola do Abacatal, por
ter acreditado e permitido a realização dessa pesquisa.
Aos meus amigos Gedel, Vera Lúcia e Rose da Secretaria Municipal de
cidadania, Assistência social e Trabalho, estes que apresentaram a comunidade e
seus lideres.
A todos que participaram como atores dessa pesquisa na comunidade
quilombola “Abacatal”, como a Santana, Francisdalva, Vanusa, Pedro (Pepê) e sua
esposa, e em especial a Vivia Cardoso que abriu a porta de sua casa juntamente
com sua família para me acolher e fazer desta o meu pouso durante um ano e dois
meses nessa comunidade.
A Universidade do Estado do Pará juntamente com a Fapespa - que me
concederam bolsa de auxílio para a efetivação desta pesquisa.
Aos doutores Hilton Pereira, Nair Chase e Dra. Laura Vidal, pelas
contribuições importantes enquanto membros da banca examinadora.
Todo dia ela faz tudo sempre igual,
me sacode as seis horas da manhã
Com um sorriso.........
Chico Buarque de Holanda
RESUMO
OLIVEIRA, Vera Lúcia Gomes. CAMINHO DAS PEDRAS: O cuidar cotidiano em
situações de urgência e emergência em uma comunidade quilombola da Amazônia
paraense. 2012. 100f. Dissertação (Mestrado Associado em Enfermagem)-
Universidade do Estado do Pará/ Universidade Federal de Manaus. Pará, 2012.
Introdução: O cuidado cotidiano de saúde comporta uma ação individual (cuidar do eu), uma ação coletiva (cuidar do outro e/ou família), uma ação local (cuidar da casa e do lugar de vida); portanto, comporta multiextensões, envolvendo um conjunto de aspectos interativos, cognitivos e conectivos, comportando, enfim, multidimensões. Objetivo geral: Descrever o cuidado cotidiano em situações de urgência e emergência dos moradores de uma comunidade Quilombola da Amazônia Paraense. Objetivos específicos: a) Identificar os tipos de situações de urgência e emergência mais frequentes na comunidade quilombola; b) Caracterizar as multidimensões dos cuidados prestados e itinerários percorridos em situações de urgência e emergência. Metodologia: Estudo exploratório e descritivo, de natureza
qualitativa. Foram sujeitos 20 moradores adultos. A produção de dados foi por meio de entrevista semi-estruturada.A análise de dados foi por meio da análise ídeo-central. Resultados: Identificamos três modos de cuidar,os que cuidam com procedimentos realizados na própria comunidade(23%);os que cuidam com procedimentos e encaminham para fora da comunidade, com 40%; os que só encaminham para fora da comunidade,com 37%. As situações mais frequentes com o sujeito e/família, foram os sinais e sintomas com 38% (Dor, febre, diárreia, vômito, sangramento, tontura, hemorragia, edema),seguidos de acidentes com arma branca, e ocorrências clínicas, provenientes de doenças crônicas degerativas, urgências traumatologicas e acidente ofídico; com os vizinhos e amigos foram os traumas contusos(04) e urgências clinicas (04);na comunidade predominou as picadas de cobra. Na dimensão interativa evidenciou-se a procura pelo membro mais velho da família; os itinerários terapeuticos são com o uso da bicicleta até o caminhar por 8 km. Na dimensão cognitiva constatou-se conhecimento sobre o cuidar paliativo e desconhecimento sobre o cuidar avaliativo. Na dimensão conectiva emergiram: conexão homem-vegetal e conexão homem-animal; utiliza-se recursos naturais para o cuidar-cuidado como os remédios caseiros. Conclui-se que há limites e desafios enfrentados no cuidado cotidiano. Sugere-se ações-intervenções educativas; e ampliação do acesso/acessibilidade à rede de atenção local.
Palavras chave: Urgência e Emergência; Enfermagem; Cuidar Cotidiano; População
Tradicional.
ABSTRACT
OLIVEIRA, Vera Lúcia Gomes de. WAY OF STONES: The routine care in situations
of urgency and emergency care in a community quilombola the Amazon state of
Pará. 2012. 100f. Dissertation (Master's Associate in Nursing) - University of the
State of Para / Universidade Federal do Manaus. Para 2012.
Introduction: The health care routine includes an individual action (take care of me),
a collective action (taking care of others and / or family), a local action (take care of
home and place of living), so it behaves multiextensões involving a set of interactive
features, cognitive and connectives, behaving, in short, multi-dimensions. General
Objective: To describe the routine care in emergency situations and emergency
residents of a community Quilombola Amazon Para. Specific Objectives: a) Identify
the types of emergencies and more frequent emergency in quilombo b) characterize
the multiple dimensions of care and itineraries flown in emergency situations and
emergency. Methodology: exploratory and descriptive qualitative. The subjects were
20 adult residents. The production data was through semi-estruturada.A data
analysis was by analysis ideo-centric. Results: Three modes of care, those who care
with procedures performed in the community, with 23%, those who care with
procedures and forward out of the community, with 40% leads only to those outside
the community, with 37% . The most frequent situations with the subject and / family,
were the signs and symptoms with 38% (pain, fever, diarrhea, vomiting, bleeding,
dizziness, hemorrhage, edema), followed by injuries from knives, and clinical events,
from degerativas chronic diseases, emergencies and traumatologicas snakebite, with
neighbors and friends were blunt trauma (04) and emergency clinics (04); community
predominated snake bites. In the interactive dimension revealed a demand by the
oldest member of the family; therapeutic itineraries are using the bicycle to the walk
for 8 km. In the cognitive dimension was found knowledge about palliative care and
ignorance about the care assessment. In connective dimension emerged: plant and
connection man-man-animal connection, it uses up natural resources for the care-
care such as home remedies. It is concluded that there are limits and challenges
faced in daily care. It is suggested actions, educational interventions, and expanding
access / accessibility to the network of local attention.
Keywords: Urgent and Emergency, Nursing, Care for Everyday Life, Traditional
Population.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Fotografia 1 Sede Social da comunidade quilombola 26
Fotografia 2 Barracão de Sagrado coração de Jesus 26
Fotografia 3 Escola Municipal Manoel Gregório Rosa Filho 27
Fotografia 4 Casa da Farinha 27
Figura 1 “Mapa” da Comunidade Abacatal 28
Figura 2 Unidade de Transporte de Feridos (projetada pelo médico Dominique Jean Larrey
33
Diagrama 1 Cuidar Cotidiano de Saúde 43
Quadro 1 Perfil dos Sujeitos 55
Quadro 2 Perfil Familiar dos Sujeitos 57
Quadro 3 Perfil Domiciliar dos Sujeitos 58
Fotografia 5
6
7
Estrada de acesso à comunidade no verão
Estrada de acesso a comunidade no inverno
Estrada de acesso a portaria da comunidade
60
61
61
Fotografia 8
Fotografia 9
Fotografia 10
Fotografia 11
Casa de Alvenaria
Casa de Madeira
Casa de Alvenaria sem reboco
Casa de pau a pique
61
62
62
62
Fotografia 12 As crianças brincando no quintal 63
Fotografia 13 Conversando e identificando sua cultura 63
Fotografia 14 Brincando com caroço de tucumã 63
Fotografia 15 Moradores descascando a mandioca 64
Fotografia 16 Interior da casa de farinha 64
Fotografia 17 Fazendo a farinha 64
Fotografia 18 Peneirando e torrando a mandioca 65
Fotografia 19 Fervendo o tucupi 65
Fotografia 20 Peneirando a farinha 65
Fotografia 21 Área roçada e plantada 66
Fotografia 22 Cuidando da Roça 66
Fotografia 23 Colheita de mandioca 66
Fotografia 24 Missa do círio do sagrado coração de jesus 67
Fotografia 25 O início da procissão 67
Fotografia 26 Acompanhando a procissão 67
Fotografia 27 A procissão 68
Fotografia 28 O barracão do sagrado coração de jesus 68
Fotografia 29 O leilão na festa do sagrado coração de jesus 68
Fotografia 30 Caminhada dos jovens 69
Fotografia 31 Parada no igarapé em dia de sol 69
Fotografia 32 fixação da cruz 69
Fotografia 33 Um dos meios de transporte 70
Fotografia 34 A bicicleta como instrumento na pesquisa 70
Fotografia 35 Cuidando das crianças 70
Fotografia 36 cuidando da família 71
Fotografia 37 Cuidando do alimento 71
Fotografia 38 O cuidado cotidiano doméstico 71
Figura 3 Áreas de serviços de saúde de Ananindeua 72
Figura 4 Tipos de situações de urgência e emergência com 74
os sujeitos e/ou família, comunidade
Figura 5 Tipos de situações de urgência e emergência com
vizinhos, amigos
75
Figura 6 Situações mais frequentes de urgência e
emergência
75
Figura 7 Os modos de cuidar dos sujeitos na comunidade 76
Diagrama 2 Os encontros em situações de urgência e
emergência
78
Diagrama 3 Saberes – conhecimentos (desconhecimentos) no
cuidar em situações de urgência e emergência
85
Diagrama 4 As conexões com a natureza no cuidado cotidiano
em situações de urgência e emergência
89
LISTA DE SIGLAS
ANANIN Moeda utilizada na compra de materiais no Projeto Boutique
Solidária, em homenagem ao nome da cidade “Ananindeua”.
APH Atendimento Pré-hospitalar
CETAS Centro de Estudos e Tratamentos Alternativos para Saúde
CONSUN Conselho Universitário
COREN Conselho Regional de Enfermagem
ELETRONORTE Centrais Elétricas do Norte do Brasil
FAF Ferimento por Arma de Fogo
IENPSAD Intervenção de Enfermagem no Processo Saúde Doença
INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
ITERPA Instituto de Terras do Pará
NUP Núcleo de Pesquisa
PCR Parada Cardiorespiratória
PESCA Prática Educativa de Saúde nas Comunidades Amazônicas
RCP Reanimação Cardiorrespiratória
SAMU Serviço de Atendimento Móvel de Urgência
SAV Suporte Avançado de Vida
SBV Suporte Básico de Vida
SEMCAT Secretaria Municipal de Cidadania, Assistência Social e Trabalho
SESPA Secretaria de Estado de Saúde Publica do Pará
SUAS Sistema Único de Assistência Social
SUS Sistema Único de Saúde
TCC Trabalho de Conclusão de Curso
TCE Traumatismo Crânio Encefálico
TCLE Termo de Consentimento Livre Esclarecido
THEMAG Empresa de Engenharia e Consultoria
UEPA Universidade do Estado do Pará
UFAM Universidade Federal do Amazonas
UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO 16
1.1 APROXIMAÇÃO – IMPLICAÇÃO COM SITUAÇÕES DE
URGÊNCIA E EMERGÊNCIA
17
1.2 ENCONTROS DECISIVOS COM O CONTEXTO COMUNIDADE
QUILOMBOLA
21
1.3 OBJETO DE ESTUDO, QUESTÕES E OBJETIVOS 24
1.4 TRILHAS METODOLÓGICAS 25
2. BASES CONCEITUAIS E HISTÓRICAS 31
2.1 SITUAÇÕES DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA 32
2.2 CUIDAR, CUIDADO E CUIDADO COTIDIANO EM SAÚDE 39
2.3 LINHAS HISTÓRICAS: QUILOMBO, QUILOMBOLAS E
POLÍTICAS PÚBLICAS.
44
3. CUIDAR COTIDIANO DE SAÚDE EM SITUAÇÕES DE
URGÊNCIA E EMERGÊNCIA
53
3.1 QUEM SÃO E DE ONDE FALAM OS SUJEITOS DO ESTUDO 54
3.2 AS SITUAÇÕES DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA 73
3.2.1 AS SITUAÇÕES DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA QUE
DEMANDAM CUIDADO
73
3.2.2 OS CUIDADOS PRESTADOS NAS SITUAÇÕES DE URGÊNCIA
E EMERGÊNCIA
76
3.2.3 AS DIMENSÕES DO CUIDAR COTIDIANO EM SITUAÇÕES DE
URGÊNCIA E EMERGÊNCIA
77
4. CONSIDERAÇÕES TRANSITÓRIAS 93
REFERÊNCIAS 96
APÊNDICES 103
ANEXOS 114
16
1 INTRODUÇÃO
Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal
17
1.1 APROXIMAÇÃO - IMPLICAÇÃO COM “SITUAÇÕES DE URGÊNCIA E
EMERGÊNCIA”
Comecei a me envolver com situações de Urgência e Emergência na
Graduação em Enfermagem (1979 a 1982) e na Habilitação em Enfermagem
Médico-Cirúrgica (1984), onde teve inicio a minha trajetória teórico-prática. Na
graduação, o despertar ocorreu na disciplina enfermagem médico-cirúrgica I, no 3º
ano, nas práticas de laboratório e na unidade de Urgência e Emergência do Pronto
Socorro Municipal “Mario Pinot”, onde passei a desenvolver habilidades no que se
refere às técnicas de imobilização, transporte de pacientes, administração de
medicamentos e parada cardiopulmonar (RCP), além de participar ativamente do
processo de assistência direta aos pacientes em várias etapas de seu tratamento
frente aos agravos que foram vítimas. Neste momento foi se consolidando o
despertar para essa área de conhecimento, haja vista, que me via útil neste contexto
por sua dinâmica e diversidade de casos, os quais necessitavam de uma resposta
imediata e assistência de qualidade e eficaz.
Nesta instituição eram atendidos todos os pacientes vindos da capital e
de todos os municípios do estado do Pará. Diante deste quadro, com o objetivo de
buscar novos conhecimentos e melhorar os já adquiridos, passamos a realizar, em
acordo com a supervisora docente, os chamados estágios-plantões em datas
comemorativas e alguns finais de semana. Atividades extracurriculares estas que
mais uma vez me fizeram concluir que estava me encontrando na área do
conhecimento de Urgência e Emergência.
Em 1984 me submeti a processo seletivo para estágio na própria
instituição, realizado pela Coordenação de Educação Continuada, sendo aprovada
em 1º lugar; a partir daí comecei a me familiarizar com as normas e rotinas desta
instituição, não mais como acadêmica, mas sim, como estagiária, haja vista que
nossas atribuições tinham um caráter profissional; fui adquirindo experiências no que
se refere ao cuidar de pacientes que chegavam com quadros clínicos críticos.
Em 3 de janeiro de 1985 iniciei minhas atividades profissionais em
Urgência e Emergência. Fui chamada para realizar um treinamento de ingresso na
Secretaria de Estado de Saúde Pública (SESPA), no Distrito de Mosqueiro, para um
período de 2 meses; mais uma vez, a maioria das atividades eram voltadas para o
atendimento de situações de Urgência e Emergência. Encontrei-me e me apaixonei
18
por essa área de conhecimento ao realizar cuidados a pacientes na sua grande
maioria com agravos que requeriam atendimento de pequena e média
complexidade. Foi neste momento da estrada da vida que soube o caminho que iria
percorrer e a área em que iria aprofundar meus conhecimentos e habilidades
enquanto Enfermeira.
Em março do mesmo ano fui lotada na Unidade Mista de Saúde do
município de Gurupá, no baixo amazonas, onde atuei até dezembro de 1985. Passei
32 horas navegando sobre as águas do Rio Amazonas para chegar ao 8º Centro
Regional de Saúde – SESPA, localizado no município de Breves.Quando cheguei ao
município de Gurupá, foi numa noite chuvosa e escura, e não havia nenhum
conhecido ou alguém que fosse me receber. Desci do CATAMARÃ PARÁ, em uma
balsa que estava ancorada no trapiche cheio de carretas; foi quando percebi que
estava cheia de bagagens e caixas de livros; ali senti que era chegada a hora de ser
“apenas eu”. Na unidade onde fui lotada, além do horário comercial, tínhamos os
sobreavisos, e era aí que apareciam os casos de urgência e emergência; eu fazia
questão de prestar todos os cuidados de enfermagem e às vezes até os que não
eram diretamente de enfermagem, ficando satisfeita quando obtinha um bom
resultado e constatava a recuperação dos pacientes.
No final do ano de 1985, fui admitida no Conselho Regional de
Enfermagem do Pará (COREN-PA), como fiscal, até 1988; como o COREN é o
órgão responsável pela fiscalização do exercício profissional de enfermagem, passei
a realizar viagens de supervisão nas mais diversas regiões desse nosso Estado do
Pará, da área metropolitana de Belém até a zona bragantina; Marajó; baixo
amazonas, etc. Durante essas viagens passei a ter um olhar diferenciado frente as
diversas situações percebidas e vivenciadas; um olhar inicialmente voltado para a
prevenção de possíveis acidentes, e depois para as situações de urgência e
emergência; e quando chegava para supervisão em instituições de saúde bem como
em empresas que tinham um ambulatório, como a Camargo Correia em Tucuruí;
Vale do Rio Doce em Serra dos Carajás, tinha uma atenção especial à área de
atendimento de Urgência e Emergência. Nestes locais percebi enquanto Enfermeira
que devemos tomar o cotidiano dos indivíduos como referência para uma prática
educativa voltada para a melhoria da qualidade de vida. Após conversas com alguns
profissionais de enfermagem e pacientes passei a realizar palestras sobre o
atendimento em situações de Urgência e Emergência, específicas para cada região,
19
município, e porque não dizer, localidade. Dentre os assuntos mais abordados
estavam os acidentes ofídicos, fraturas, acidentes automobilísticos, afogamento,
soterramento e outros. Era frequente nos momentos de trocas de experiências ouvir
relatos sobre o uso de plantas no tratamento de algumas situações de Urgência e
Emergência.
Em 1989, por meio da ELETRONORTE/THEMAG, se deu a minha ida ao
município de Tucuruí para compor uma equipe multiprofissional que tinha como
objetivo realizar educação em saúde com as populações que foram afetadas com a
construção da barragem; as atividades eram desenvolvidas na parte baixa da
barragem, ou seja, a juzante da hidroelétrica, em vários lugarejos dos municípios
que compunham a área inundada como Baião, Mocajuba, Cametá e Limoeiro do
Ajurú; realizei cursos de manuseio do eco-sistema na construção de fossas,
primeiros socorros, saneamento básico e outros, além de fazer levantamento de
condições de vida. Nosso meio de transporte e moradia era um barco de médio
porte, onde era feito o planejamento para as ações previamente agendadas para
serem desenvolvidas, articulado com as lideranças das comunidades; em geral eram
realizadas em barracões improvisados ou até mesmo dentro de nossa casa (Barco
João Pinto). Neste meu caminhar tive oportunidade de atender algumas situações
de urgência como picada de cobra, ferimento por terçado, queda e outros, e isso se
dava por ter sempre comigo o material mínimo necessário para esse tipo de
atendimento.
No exercício do dia-a-dia enquanto enfermeira assistencial na Unidade de
Urgência e Emergência Dr. Augusto Chaves Rodrigues, no Município de Marituba,
no período de 1992 a 2004, observei a importância de se promover um atendimento
rápido e eficaz para a estabilização hemodinâmica das vítimas, reconhecendo o
mais breve possível os agravos decorrentes dos traumas sofridos e o quanto
precisamos de uma integração e articulação entre os profissionais e as instituições
de saúde para a qualidade do atendimento, e consequentemente, o bem estar dos
pacientes; nesta unidade eu fazia parte de um grupo de enfermeiras responsáveis
pelo planejamento e organização da unidade, além de atuar como enfermeira
assistente em plantões noturnos com escala fixa nas terças-feiras e um plantão de
24 horas em um final de semana. Esta unidade era gerenciada pela Secretaria de
Estado de Saúde Pública (SESPA); era de pequena a média complexidade e o
atendimento era em Clinica Médica e Cirúrgica, Clínica Pediátrica, Odontologia,
20
Ortopedia e Traumatologia e Pacientes Críticos; contávamos com uma cadeia de
apoio diagnóstico com laboratório, ultrassonografia e Raio x. Durante todos esses
anos tive a oportunidade de conviver, presenciar e atuar no atendimento de vítimas
das mais variadas situações desde um simples trauma como um corte superficial até
um traumatismo craneoencefálico (TCE) e parada cardiorespiratória (PCR). Ainda
neste período fui responsável em planejar e executar a I Jornada de Urgência e
Emergência da unidade.
De 2004 a 2006 trilhei um caminho um pouco diferente; por meio das asas
de um avião, aterrizei na cidade de São Paulo com o objetivo de fazer um curso
voltado para o manuseio das chamadas terapias alternativas, e assim foi feito;
conclui o Curso de Terapeuta Corporal pelo Centro de Estudos e Tratamento
Alternativo para Saúde (CETAS).
De volta à terra natal, no dia 30 de junho de 2006 fui admitida para
exercer minhas funções de Enfermeira no Hospital do Pronto Socorro Municipal
Humberto Maradei Pereira no município de Belém; um grande sonho foi realizado, o
de trabalhar neste local; esta instituição realiza atendimentos de pequena e média
complexidade com uma demanda espontânea superior a sua capacidade. Neste
caminho tracei trilhas de especificidade, partindo das urgências clínicas,
traumatologia, clínica cirúrgica, unidade de reanimação, centro de terapia intensiva;
e foi neste trilhar que mais uma vez percebi a grande paixão, que me faz viver
intensamente, o cuidar de pessoas que necessitam de atendimento de urgência e
emergência. Tenho certeza que contribui para a melhoria da assistência prestada
aos pacientes. Foi ainda nessa instituição que tive oportunidade de fazer cursos de
capacitação. No dia 01 de janeiro de 2009, tive que sair da função de enfermeira
assistente, mas permaneci na unidade acompanhando alunos em estágio
supervisionado em Enfermagem em Urgência e Emergência.
Na docência minha trajetória se fortaleceu a partir da aprovação no
concurso público para a Fundação Educacional do Estado do Pará, hoje
Universidade do Estado do Pará, na Escola de Enfermagem “Magalhães Barata”,
para a Disciplina Enfermagem Médico-Cirúrgica; e assim, me tornava funcionária
pública estadual. Foram muitas as atividades que passei a desenvolver já em pleno
exercício da função; e comecei uma especialização em Metodologia do Ensino
Superior para a área da Saúde, em 1993, pela Fundação Educacional do Estado do
Pará. No ano seguinte, passei a acompanhar alunos em aulas práticas no centro
21
cirúrgico do Hospital dos Servidores do Estado; posteriormente passei a realizar
esses acompanhamentos nas dependências do Pronto Socorro Municipal Mario
Pinot, ficando ai por um longo período. Em paralelo a essa atividade, passei a
desempenhar a função de Coordenadora da Disciplina Enfermagem em Urgência e
Emergência, de 1999 a 2001, sendo reconduzida por mais 2 anos; participei de
bancas de qualificação e defesa de Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC), fui
membro do colegiado de curso, em 2000, e conselheira do Conselho Universitário
(CONSUN) em 2002; participei de vários eventos regionais e estaduais, sempre
voltados para a urgência e emergência e administrando aulas teóricas e práticas. No
segundo semestre de 2006 fui coordenadora do Núcleo de Pesquisa do Curso de
Enfermagem (NUP) e coordenadora da jornada de qualificação e defesa de TCC.
Em 2009 passei a fazer parte do Grupo de Pesquisa Intervenções de Enfermagem
no Processo Saúde Doença (IENPSAD), desenvolvendo o projeto de pesquisa
“Percepção da Equipe de Enfermagem diante de paciente vítima de violência
urbana”. Em 2010 fui aprovada no processo seletivo para o Mestrado Associado em
Enfermagem UEPA /UFAM, e passei a fazer parte do Grupo de Pesquisa Práticas
Educativas em Saúde e Cuidado na Amazônia (PESCA). Todas essas aproximações
com situações de urgência e emergência foram determinantes para a opção pelo
tema-objeto de minha dissertação; mas, outros encontros também foram decisivos
para a concretização do estudo, do que trato a seguir.
1.2 ENCONTROS DECISIVOS COM O CONTEXTO “COMUNIDADE
QUILOMBOLA”.
Durante minha trajetória como Enfermeira assistente no Hospital do
Pronto Socorro Municipal, tive meu primeiro contato com moradores da comunidade
quilombola de Bom Jesus do bairro do Tapanã, ocasião em que um morador foi
levado pelo Serviço de Atendimento Móvel em Urgência (SAMU), apresentando
traumatismo abdominal ocasionado por queda; seus familiares relataram
dificuldades de atendimento em outros locais. Essa informação foi resignificada
durante uma sessão no Congresso Médico Amazônico de 2010, realizado no Centro
de Convenções Hangar, em que emergiu a temática “comunidade quilombola”, na
apresentação dos projetos das doutorandas da Universidade Federal do Rio de
Janeiro – UFRJ, e as dificuldades de acesso aos serviços de saúde por essas
populações foram destacadas, passando a despertar meu interesse.
22
Em seguida, passei a procurar na internet dados sobre “comunidades
quilombolas” na grande Belém. Tive acesso a informações sobre as comunidades,
Bom Jesus no bairro do Tapanã e Abacatal no município de Ananindeua. Optei por
me aproximar da comunidade quilombola Abacatal, por ainda conservar
características peculiares; e comecei a realizar leituras acerca dessa comunidade.
A origem dessa comunidade esta ligada aos vários engenhos de cana-de-
açúcar que existiram ao longo dos séculos XVII e XIX as margens de rios como
Guamá, Bujarú, Acará e Mojú. O engenho do Uriboca, do Conde Coma Mello, era
uma dessas propriedades e é nele que se inicia a história da comunidade quilombola
Abacatal. Sua localização é as margens do Igarapé Uriboquinha, que desemboca no
rio Guamá.
No início do ano de 2011 tive contato com a Secretaria Municipal de
Cidadania, Assistência Social e Trabalho (SEMCAT) do Município de Ananindeua, e
com o coordenador das ações sociais na comunidade quilombola Abacatal; por meio
dele, com as coordenadoras da equipe de Gestão, Trabalho e Articulação
Interinstitucional e as assistentes sociais da equipe.
Em fevereiro, conheci um dos projetos da secretaria, denominado
“Boutique Solidária”, projeto destinado ás comunidades carentes do município;
fazem parte moradores responsáveis em arrecadar donativos, realizar consertos e
vender as peças às comunidades, utilizando uma moeda própria, o “ANANIN”, nome
dado para homenagear o símbolo do município, que é uma árvore. Nesta
oportunidade fui convidada para participar da Pré-Conferência para a VII
Conferência Municipal de Assistência Social, com o tema central “Os Avanços na
Consolidação do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) com a Valorização
dos Trabalhadores e a Qualificação da Gestão, dos Serviços, Programas, Projetos e
Benefícios”. A partir de minha inserção no município, busquei condições para me
aproximar da comunidade quilombola.
Em maio nos encaminhamos para a comunidade quilombola Abacatal;
nosso meio de transporte foi uma Kombi, e durante o percurso de aproximadamente
01h30min em estradas e caminhos de terra, com grandes atoleiros e atravessia de
um pequeno córrego, percorremos 8 kilometros até o acesso a comunidade.
No trajeto até a localidade observei as marcas da destruição do meio
ambiente e, em alguns momentos, pude ver “covões,” abertos nas proximidades da
entrada de Abacatal, o que evidenciou degradação do solo. Perto do centro de
23
Abacatal, a paisagem chega a surpreender agradavelmente. A vegetação é
exuberante, o clima é quente, e o silêncio só é interrompido pelos gritos das crianças
e o canto dos passarinhos, o verde é imponente e as arvores frutíferas. As
condições das estradas, face às chuvas, são precárias, trazendo dificuldades para o
acesso. Quando lá chegamos os moradores já estavam reunidos no barracão
comunitário com todas as lideranças, fui apresentada pela assistente social, e esta
solicitou que eu justificasse a minha presença. Em poucas palavras fiz um relato
claro e breve dos meus objetivos junto à comunidade; logo depois fui apresentada
as lideranças da Associação dos Moradores da Comunidade de Abacatal e Aurá e
as lideranças locais. Em conversa com alguns moradores fiquei sabendo que as 83
famílias que residem na comunidade constituem-se de aproximadamente 400
pessoas entre descendentes de escravos em sua 8ª geração, e outros residentes
ligados a estes por parentesco. No final do evento tive permissão para realizar
estudos e frequentar quantas vezes fosse necessário à comunidade, fui ainda
apresentada a outros membros da comunidade, como “a professora”; também visitei
a residência de uma das líderes, e a Escola de Ensino Fundamental Manoel
Gregório Rosa Filho. Após as visitas fui convidada por um dos líderes para participar
das Festividades do Sagrado Coração de Jesus, o que aceitei imediatamente. Neste
encontro iniciei minha inserção no contexto “comunidade quilombola”.
Em junho após um dia de muita chuva, em companhia de um acadêmico
de enfermagem e monitor, fui até a comunidade; quando lá chegamos à maioria dos
moradores já estavam tomando café e esperando o inicio da missa e procissão do
SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS; fiz-me presente no evento religioso
acompanhando a procissão que percorreu toda a extensão da comunidade, ficando
o percurso em torno de 2,5 kilometros; durante o trajeto fizemos algumas paradas na
frente de casas onde havia pessoas doentes e houve queima de fogos de artifícios;
as casas estavam decoradas e as famílias se colocavam na frente saudando os
passantes; foram ofertados vários tipos de comidas: maniçoba, arroz com
galinha,churrasco, e realizado um leilão com as ofertas dos devotos com o objetivo
de levantar recursos para a reforma do barracão.
Nessa oportunidade tive o prazer de conhecer e conversar com alguns
dos moradores mais antigos, descendentes de escravos. Estes me relataram suas
lutas para conseguir que suas terras fossem regulamentadas e tituladas, o que só
aconteceu em maio de 1999. Conheci a agente comunitária de saúde, a diretora da
24
escola, líderes e membros da Associação dos Moradores e o Presidente da
Associação dos Moradores. Um dos moradores ficou todo o tempo comigo, sempre
repassando as informações e é claro contando as histórias de luta da comunidade
quilombola Abacatal.
Foi neste encontro que me foi relatado sobre o nome da comunidade
“ABACABAL”; por ter na região muitas plantações de ABACABA se pensou no nome
da árvore para o nome da comunidade; no entanto na hora de registrar no cartório o
nome da comunidade, ocorreu “um erro”, e então ficou “ABACATAL”; não há quase
nada de plantação de abacate na comunidade. Esses e outros encontros foram
decisivos, pois pude constatar não só as dificuldades de acesso e atendimento a
unidades de Urgência e Emergência, como também pude verificar que no dia-a-dia
da comunidade há inúmeras “manifestações” de cuidar-cuidado, pois os moradores
recorrem a diferentes estratégias e recursos para “dar conta” das necessidades de
saúde das famílias.
A partir dos encontros passei a refletir sobre o “cuidar cotidiano”. Com
base nesse conceito, emerge o objeto de estudo da dissertação, do que trato a
seguir.
1.3 OBJETO DE ESTUDO, QUESTÕES E OBJETIVOS.
O cuidar cotidiano de saúde indica a disposição para a vida e a
sobrevivência, indica tanto um pensar como um fazer, envolvido e envolvendo-se
com os ecossistemas onde está circunscrito. A noção de cuidar cotidiano de saúde
comporta a promoção, a prevenção, o diagnóstico, o tratamento, a cura e a
reabilitação. Portanto, comporta multiterapêuticas. O cuidar cotidiano de saúde
também comporta uma ação individual (cuidar do eu ou auto cuidado), uma ação
coletiva (cuidar do outro e/ou família), e uma ação local (cuidar da casa e do lugar de
vida). Portanto, comporta multiextensões (cuidar do eu, cuidar do outro/família,
cuidar da casa, cuidar do lugar). Ainda envolve um conjunto de aspectos interativos,
cognitivos e conectivos, comportando, enfim, multidimensões (TEIXEIRA, 2001).
Meu interesse em conhecer as manifestações do cuidar cotidiano em
situações de urgência e emergência entre famílias quilombolas da comunidade
Abacatal , município de Ananindeua, área metropolitana de Belém foi o objeto de
estudo da dissertação que se ancora na premissa de que as práticas cotidianas de
saúde representam um importante aspecto na perspectiva das populações
25
quilombolas alcançarem acesso, acessibilidade e direito ao cuidado de saúde
individual e coletivo. A identificação e valorização de seus saberes e fazeres passa a
ser uma questão relevante para avançarmos na busca da garantia do direito à
saúde. Além disso, é importante estudar as multiterapêuticas do cuidar cotidiano de
saúde, pois nos auxiliará a obter novos conhecimentos e estabelecer outras e
diferentes interações entre e com diferentes atores-sujeitos-usuários. Nesse modo
de pensar, Leininger (apud GEORGE, 2000) faz uma distinção entre dois sistemas
de saúde existentes na sociedade: um que se refere aos sistemas de cuidados
populares de saúde, ou sistemas “folk”; e outro que diz respeito aos sistemas de
cuidados profissionais de saúde. A autora pressupõe, ainda, que todos os tipos de
culturas possuem práticas de cuidado à saúde desses dois tipos de sistemas,
realizada por profissionais e comunitários.
Ao me deparar com relatos e dados sobre as dificuldades de acesso ao
atendimento na rede do Sistema Único de Saúde pelos moradores da comunidade
quilombola, precisei, ampliar o fenômeno a ser estudado. Nesse sentido formulei as
seguintes questões norteadoras: a) Quais os tipos de situações de urgência e
emergência mais frequentes na comunidade quilombola? b) Quais os cuidados
cotidianos realizados no atendimento dessas situações de urgência e emergência?
Nesse sentido, esse estudo teve como objetivo geral: Descrever os
cuidados cotidianos em situações de urgência e emergência dos moradores de uma
Comunidade Quilombola da Amazônia Paraense. E como objetivos específicos: a)
Identificar os tipos de situações de urgência e emergência mais frequentes na
comunidade quilombola; b) Caracterizar as dimensões do cuidado cotidiano em
situações de urgência e emergência.
1.4 TRILHAS METODOLÓGICAS
Para atender aos objetivos da pesquisa optei pela abordagem qualitativa-
descritiva. A abordagem foi escolhida por proporcionar a produção de um estudo a
partir dos sujeitos, que possuem em comum, o cotidiano onde desenvolvem suas
atividades de cuidado.
Na abordagem qualitativa como afirma Teixeira (2003), o social é visto
como um mundo de significados passível de investigação e a linguagem dos atores
sociais e suas práticas são as matérias primas dessa abordagem. É o nível dos
significados, motivos, aspirações, atitudes, crenças e valores, que se expressa pela
26
linguagem comum e na vida cotidiana, o objeto da abordagem qualitativa. O estudo
teve um enfoque retrospectivo, com ênfase nos acontecimentos já passados, ou
seja, nas situações de urgência e emergência já ocorridas na comunidade até o
momento da pesquisa.
Os sujeitos da pesquisa foram 20 moradores adultos da comunidade
quilombola Abacatal. Os dois kilometros e meio da área geográfica da comunidade
no sentido longitudinal, à direita e á esquerda. Durante a realização das visitas nas
primeiras casas da comunidade, constatei repetições de informações muito
rapidamente. Assim, para garantir a diversidade de situações e experiências de
cuidado e poder atingir outras áreas, optei por dividir a comunidade em setores;
cada setor foi nomeado de acordo com referências marcantes na localidade.
Fotografia 1:Setor SEDE fica próximo ou em frente à sede social da comunidade
(05 famílias).
Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal- 2011
Fotografia 2: Setor BARRACÃO fica próximo ao barracão de festividades (04
famílias).
Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal – 2011
27
Fotografia 3: Setor ESCOLA fica próximo ao caminho em frente à escola (06
famílias).
Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal – 2011
Fotografia 4: Setor CASA DE FARINHA fica próximo à Casa de Farinha
(05famílias).
Fonte: comunidade Quilombola Abacatal – 2011
De cada setor foi escolhido o descendente ou remanescente que referiu
ter realizado algum cuidado em situação de urgência e emergência, com indicativo
dos entrevistados durante sua fala ou por conversa com alguns membros da
associação; levando-se em consideração manifestações de até (01) ano. Quem
referiu que teve envolvimento ou quem foi citado por alguém, foi o “sujeito”. No setor
Sede foram 05 pessoas, no setor Barracão 04, no setor Escola 06 e no setor Casa
da Farinha 05 entrevistados. Três não quiseram participar, um tem deficiência
auditiva, um se mudou da comunidade e cinco foram considerados agregados.
A comunidade quilombola Abacatal é constituída por 83 famílias, com um
total de 71 casas (05 se encontram abandonadas e 02 estão com famílias
agregadas recém-chegadas); está localizada no município de Ananindeua vizinho a
28
cidade de Belém, no Estado do Pará, a mais ou menos 1 hora de distância de Belém
(em carro) e uma distância de Ananindeua de 8 km; possui uma área de 308
hectares aproximadamente; mais recentemente recebeu titulação de 218 hectares,
num total de 526.
Para ilustrar o “lócus” do estudo, apresento a seguir um desenho feito por
um menino de 10 anos, morador da comunidade (Anthonny). O mesmo é bastante
fiel ao “mapa” da comunidade e por isso optei por incluí-lo.
FIGURA 1: “Mapa” da Comunidade Abacatal
Fonte: Anthonny Cardoso de 10 anos – 2012
29
É no engenho do Uriboca, do Conde Coma de Mello, uma das
propriedades da região que se inicia a história da comunidade quilombola de
Abacatal. As terras da comunidade foram deixadas como herança pelo Conde Coma
de Mello para três de suas filhas: Maria do Ó Rosas de Moraes, Maria Filistina
Barbosa e Maria Margarida Rodrigues da Costa. As “Três Marias”, como são
chamadas, foram filhas do conde com sua escrava Olímpia. A memória dessa época
esta materializada no Caminho das Pedras construído pelos escravos da antiga
fazenda ligando o igarapé Uriboquinha à casa do conde. Esse caminho tem uns 500
metros de comprimento e meio de largura; essa história foi contada por Vivia
Cardoso da Conceição, uma jovem liderança da comunidade.
A produção de dados foi realizada de outubro de 2011 a março de 2012, e
se deu por meio de entrevistas com os “sujeitos”, moradores adultos da comunidade
quilombola Abacatal. Segundo Minayo (2001):
A entrevista privilegia a obtenção de informações através da fala individual, a qual revela condições estruturais, sistema de valores, normas e símbolos e transmite, através de um porta-voz, representações de determinados grupos (p. 65).
A entrevista foi marcada antecipadamente e realizada com privacidade;
todos os entrevistados tiveram suas identidades preservadas, e são citados e
identificados pelas letras “Q” (de quilombola) e “C” (de casa), combinadas ao número
da ordem das casas: o primeiro entrevistado é o QC-01. As respostas foram
registradas por meio de um gravador. O roteiro foi semi-estruturado. Para Triviños
(1987):
A entrevista semi-estruturada possibilita ao informante discorrer sobre suas experiências, a partir do foco principal proposto pelo pesquisador. Ao mesmo tempo em que permite respostas livres e espontâneas do informante, valoriza a atuação do entrevistador. Assim será possível extrair o máximo de veracidade dos entrevistados, possibilitando aos entrevistados uma maior compreensão do tema (p. 146).
A entrevista foi precedida de esclarecimentos sobre o estudo e leitura do
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (Apêndice A); além disso, foi
esclarecido que não haveria qualquer tipo de remuneração pelas informações
obtidas; foram realizadas perguntas sobre dados pessoais e sobre o tema em
questão. As entrevistas e as conversas com os moradores foram realizadas na sua
maioria em ambiente domiciliar e guiada por um roteiro (Apêndice B).
A análise dos dados seguiu os passos da técnica denominada por
Teixeira (2009) como “análise ídeo-central” uma modalidade de análise temática que
30
visa evidenciar idéias centrais ou idéias-chave nucleares dos discursos; idéias que
emergem das respostas obtidas questão-por-questão. Ao final da análise, poder-se-
á reunir as idéias-chave, resignificando-as, reagrupando-as e/ou reorganizando-as
em outros núcleos de sentido.
A amostra “foi por saturação, de acordo com Turato (2008) que diz”: [...] o
pesquisador fecha o grupo quando, após as informações coletadas com certo
número de sujeitos, novas entrevistas passam a apresentar uma quantidade de
repetições em seu conteúdo [...]”.
O projeto foi autorizado pela Secretaria Municipal de Cidadania,
Assistência Social e Trabalho (SEMCAT) do Município de Ananindeua e pela
Coordenação da Associação da Comunidade Quilombola Abacatal, posteriormente,
submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Escola de Enfermagem
“Magalhães Barata” - Universidade do Estado do Pará, protocolo CAAE –
005.0321.000-11/2011 (Apêndice C). Dessa forma, objetivou-se atender às
exigências da Resolução 196/96 do Ministério da Saúde, que regulamenta a
pesquisa em seres humanos. Aos sujeitos do estudo foi fornecido um Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido, com as devidas informações quanto aos
objetivos da pesquisa, anonimato, consentimento escrito e permissão para utilização
de imagens, com esclarecimento prévio de possíveis dúvidas.
31
2 BASES CONCEITUAIS E HISTÓRICAS
Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal – 2011
32
2.1. SITUAÇÕES DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA
PRIMÓRDIOS DO ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR: uma breve linha do
tempo.
Condições de risco para a vida das pessoas sempre existiram e junto com
esses riscos, pelo instinto de preservação da vida, o ser humano teve a
preocupação de buscar o mais precocemente possível, um suporte para manter as
suas condições vitais.
Embora não descrito com a finalidade de explicitar um atendimento a uma
vítima de violência, um dos primeiros registros identificados está na Bíblia, no livro
de Lucas, capítulo 10, versículos 30 a 34;
“ [...]; certo homem descia de Jericó e veio a cair em mãos de salteadores, os quais, depois de tudo lhe roubarem e lhe causarem muitos ferimentos, retiraram-se, deixando-o semimorto. Casualmente, descia um sacerdote por aquele mesmo caminho e, vendo-o, passou de largo. Semelhantemente, um levita descia por aquele lugar e, vendo-o, também passou de largo. Certo samaritano, que seguia o seu caminho, passou-lhe perto e, vendo-o, compadeceu-se dele. E, chegando-se, pensou-lhe os ferimentos, aplicando-lhe óleo e vinho; e, colocando-o sobre o seu próprio animal, levou-o para uma hospedaria e tratou dele”( BIBLIA SAGRADA, 1969).
Falar em preservação da vida ao longo dos séculos implica lembrar como
foi possível ressuscitar indivíduos “aparentemente mortos”. Isso só foi considerado
possibilidade científica, a partir do século XVIII. Até então, há registros de sucesso,
mas envoltos em misticismo e crenças religiosas. As manobras de ressuscitação
foram desenvolvidas e tornaram-se realidade após os anos 1960(TIMERMAN;
GONZÁLES; RAMIRES, 2007).
O socorro sistematizado emergencial prestado às vítimas de situações
críticas teve suas bases alicerçadas durante a guerra civil americana, onde eram
perdidas muitas vidas, principalmente de soldados, por falta de atendimento
imediato. Foi identificada a necessidade de providências para agilizar o atendimento
às vítimas ainda no campo de batalha. Alguns conceitos como segurança da cena
(evitar tornar-se mais uma vítima, evitar a ocorrência de novas vítimas), exame
primário (tratamento das lesões em risco de vida, evitar mais dano) e a própria
questão do transporte rápido (para o local de tratamento definitivo), são oriundos
dessa época (NATIONAL ASSOCIATION OF EMERGENCY MEDICAL
TECHNICIANS, 2004).
33
Tecnicamente, o marco da criação da ambulância projetada deve-se ao
médico Dominique Jean Larrey (1766 – 1842), considerado “Pai da Medicina Militar”
(Figura 2). Como cirurgião do exército napoleônico, identificou a necessidade de
resgatar os feridos não apenas após o término do conflito, mas ainda durante a
batalha. Larrey, necessitando estabelecer atendimento imediato, projetou Unidades
de Transporte de Feridos, que batizou como “ambulâncias voadoras”, pois tinham
como características serem leves e velozes. O aumento da velocidade deu-se pelo
uso, inicialmente, de dois cavalos lado a lado e posteriormente perfilados, bem como
madeira leve, rodas pequenas e teto arredondado para evitar retenção de água na
madeira durante a chuva (FERRARI, 2006).
FIGURA 2: Unidade de Transporte de Feridos (projetada pelo Médico Dominique Jean Larrey)
.
Fonte: hptt/ wikipedia.org/wiki/Ambulância –
Segundo Silva et al (2010), o atendimento pré-hospitalar (APH) tem por
característica atender a vítima nos primeiros minutos após o agravo, de maneira a
prestar atendimento adequado e transporte rápido para um estabelecimento de
referência. Tem o objetivo de estabilizar as condições vitais e reduzir a
morbimortalidade, por meio de condutas adequadas durante a fase de estabilização
e transporte, assim como as iatrogenias que possam culminar com adventos
variados, desde as incapacidades físicas temporárias ou permanentes até a morte.
O APH móvel primário é o socorro oferecido mediante o pedido de um
cidadão; o secundário é a solicitação de um serviço de saúde, no qual o usuário está
34
recebendo um primeiro atendimento e necessita ser conduzido a um serviço de
maior complexidade (BRASIL, 2002).
No contexto do APH, as ações são divididas em suporte básico (SBV) e
suporte avançado de vida (SAV). O SBV é a estrutura de apoio oferecida a vítimas
com risco de morte desconhecidas por profissionais de saúde, por meio de medidas
conservadoras não invasivas, tais como: imobilização cervical, contenção de
sangramento, curativo oclusivo e imobilização em prancha longa. Inclui ainda ações
que visam à qualidade da circulação e oxigenação tecidual, aumentando a chance
de sobrevida. O SAV corresponde à estrutura de apoio oferecida por profissionais
médicos onde há risco de morte, por intermédio de medidas não invasivas ou
invasivas, tais como: intubação endotraqueal, toracocentese, drenagem torácica,
pericardiocentese, etc (TIMERMAN, RAMIREZ, 2007).
O serviço pré-hospitalar, desenvolvido no Brasil, atua baseado em duas
correntes metodológicas: o sistema europeu e o sistema americano O Serviço de
Atendimento Móvel em Urgências (SAMU) tem origem francesa e foi criado por
anestesistas intensivistas e emergenciais devido à necessidade da assistência pré-
hospitalar, pois os pacientes chegavam ao hospital muitas vezes com piora do caso
ou mesmo mortos, por não receberem atendimento precoce e adequado. Este
sistema tem como referencial o médico, tanto na regulação do sistema, como no
atendimento e monitoramento do paciente, até a recepção hospitalar. É um serviço
ligado ao sistema de saúde, hierarquizado e regionalizado, possuindo comunicação
direta com os centros hospitalares. Já o sistema norte americano trabalha com
paramédicos (com um período de formação de três anos após o segundo grau). Os
paramédicos começaram a desenvolver suas atividades nos EUA, devido a Guerra
do Vietnã, pois havia necessidade de atendimento médico imediato e como não era
possível contar com a presença médica, em todas as frentes de combate, alguns
soldados foram treinados para realizarem a assistência necessária. No Brasil, a
implantação de serviços pré-hospitalares, municipais e estaduais, vem escolhendo o
modelo metodológico de acordo com realidades, demandas, perfis de morbi-
mortalidade, recursos técnicos, tecnológicos e financeiros(ROCHA et al,2003).
Em uma emergência, a Enfermagem deve estabelecer prioridades de
assistência de acordo com a avaliação preliminar, garantindo assim a identificação e
o tratamento das situações que ameaçam a vida do paciente. Consideramos
relevante que a enfermeira de emergência tenha presente, nesta situação, arte,
35
habilidade, conhecimento, emoção, sentido; vivencie e compartilhe informações para
um processo rápido, preciso,hábil e eficiente ao prestar assistência de Enfermagem,
além de prestar uma assistência globalizada ao ser humano e família. O tempo que
transcorre da hora do trauma até os primeiros procedimentos tem sido considerado
um fator crítico (NAZÁRIO, 1999).
Cunningham (1997) escreve que a primeira hora, imediatamente após o
trauma, é um período em que a ressuscitação e a estabilização são consideradas
mais benéficas para o paciente, a chamada golden hour.
Neste contexto, a enfermagem participa nas situações de urgência quanto
nas de emergência, tanto na prevenção de situações, quanto na orientação sobre o
cuidado adequado quando da ocorrência.
O Ministério da Saúde implementa a assistência pré-hospitalar no âmbito
do SUS, em um primeiro nível de atenção, aos indivíduos com quadros agudos, de
natureza clínica, traumática ou psiquiátrica, quando ocorrem fora do ambiente
hospitalar, podendo acarretar sofrimento, sequelas ou morte. Nesse contexto, deve
existir um forte potencial ordenador da assistência, como forma de responder
demandas de urgência ocorridas no domicílio, no local de trabalho, em vias públicas
ou onde o indivíduo vier a precisar do SUS, com recursos necessários e adequados
para a complexidade da condição do paciente. Vale lembrar que historicamente nível
de resposta pré-hospitalar às urgências e emergências tem sido insuficiente,
provocando a superlotação dos hospitais e prontos socorros, mesmo quando a
situação clínica não é característica de um atendimento de emergência. Essa
realidade, aliada a falta de orientação adequada ou suficiente da população contribui
para que esses serviços não consigam oferecer atendimento qualificado e
humanizado.
ESCLARECENDO OS CONCEITOS DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA
Segundo Carvalho (2007), a urgência é caracterizada como um evento
grave, que deve ser resolvido urgentemente, mas que não possui um caráter
imediatista, ou seja, deve haver um empenho para ser tratada e pode ser planejada
para que a pessoa não corra risco de morte. Já a emergência é uma situação
gravíssima que deve ser tratada imediatamente, caso contrário, a pessoa vai morrer
ou apresentará uma sequela irreversível.
A constituição federal promulgada em 1988, no Brasil, estabelece que a
saúde é um dever do Estado e um direito da população. A partir disso, apregoa-se
36
que as ações e os serviços de saúde devem ser promovidos por um Sistema Único
de Saúde (SUS), organizado em torno dos princípios da universalidade,
integralidade e equidade, e articulado por mecanismos de referência e contra-
referência, visando uma assistência resolutiva aos usuários em todos os seus níveis
de complexidade a partir da superação do modelo hospitalocêntrico e curativista
(PINHO, 2006).
A portaria nº 1863, de 29 de setembro de 2003, instituiu a Política
Nacional de Atenção às Urgências, a serem implantadas em todas as unidades
federadas, respeitadas as competências das três esferas de gestão (BRASIL, 2003).
A Política Nacional de Atenção às Urgências e Emergências, por meio da
Portaria nº 2048, de 05/11/2002, aprova o Regulamento Técnico dos Sistemas
Estaduais de Urgência e Emergência, que propõe que a atenção às urgências flua
em todos os níveis do SUS, organizando a assistência desde as unidades de saúde
até os cuidados pós-hospitalares, na convalescença, recuperação e reabilitação. Os
pressupostos principais dessa política estão alicerçados em cinco pilares:
humanização, organização das redes assistenciais, estratégias promocionais,
regionalização médica de urgências, qualificação e educação permanente em
consonância com os preceitos do Sistema Único de Saúde (BRASIL, 2002).
Dessa forma, foram estabelecidos os princípios e diretrizes dos Sistemas
Estaduais de Urgência e Emergência, as normas e critérios de funcionamento, a
classificação e os critérios para a habilitação de serviços que devem participar dos
planos estaduais de atendimento às Urgências e Emergências, a saber: Regulação
Médica de Urgência e Emergência, Atendimento Pré-hospitalar Fixo, Atendimento
Pré-hospitalar Móvel, Atendimento Hospitalar, Transporte Inter-hospitalar; a criação
de Núcleos de Educação em Urgência, com a proposição de grades curriculares
para capacitação de recursos humanos na área (BRASIL, 2003).
As situações de urgência se caracterizam por serem ocorrências
perigosas, de aparecimento rápido, mas não necessariamente imprevistas e súbitas,
necessitando de solução em curto prazo; enquanto as situações de emergência são
ocorrências ou situações perigosas, de aparecimento súbito e imprevisto,
necessitando de imediata solução.
Ambos os termos têm em comum serem quadros nosológicos graves e se
não tratados, podem causar mal irreversível ou morte. A emergência o aparecimento
ou agravamento é súbito e imprevisto, necessitando de solução imediata - é um
37
estado de agudeza; na urgência o aparecimento é rápido, mas não é súbito e
imprevisto e a solução pode ser em curto prazo - é um estado de semi-agudeza. Um
politraumatismo; fraturas expostas com hemorragias; ferimento por arma fogo (FAF)
ou ferimento por arma branca (FAB) com evisceração (vísceras expostas);
hemorragias volumosas; infarto agudo do miocárdio e atropelamento são
emergências; estado de dor, ferimento perfuro cortante sem hemorragias, podem ser
feitas posteriormente, em curto prazo, sendo por isso apenas urgências. É
importante frisar que em uma situação de urgência se não for realizado o suporte
básico de vida, esta situação pode vir a se tornar uma emergência. A diferença entre
emergência e urgência reside em dois pontos: 1] na primeira o aparecimento é
súbito e imprevisto, na segunda não; 2] a primeira exige solução imediata; a
segunda, em curto prazo, havendo apenas premência ou insistência de solução.
Ambas têm em comum a periculosidade.
REVENDO A LITERATURA
Foram consultadas as bases de dados LILACS, SCIELO, BDENF com os
descritores cuidar cotidiano, urgência e emergência e quilombola. Não foi
encontrado nenhum artigo nessa busca. Quando utilizamos os descritores
enfermagem, e urgência e emergência, encontramos 32 artigos; destes 20
atenderam aos critérios: artigos originais completos; em português; entre 2001 e
2011. A maioria dos estudos é de três (3) autores na modalidade pesquisa de
campo, publicados em revistas de enfermagem. Predominam estudos com
abordagem qualitativa; os sujeitos mais consultados são os profissionais
enfermeiros; para a coleta de dados a técnica que predominou foi a entrevista; para
a analise de dados, a técnica de análise de conteúdo foi a mais referida.Os
resultados – evidências revelaram 02 eixos, a seguir destacados.
A formação do enfermeiro para o atendimento pré-hospitalar.
Evidenciou-se que os enfermeiros do APH se sentem seguros,
preparados e motivados para atuar. Porém nenhum recebeu preparação específica
durante a formação acadêmica, no entanto consideram a experiência anterior no
âmbito intra-hospitalar como importante para o desenvolvimento da função. A falta
de preparo nas universidades leva os enfermeiros a buscar compensar essa lacuna
e complementar sua formação (ROMANZINI; BOCK, 2006).
38
Para Avelar e Paiva (2010), para ser Enfermeiro do SAMU o profissional
deve além de gostar de trabalhar em urgência, estar sempre se aperfeiçoando,
possuir experiência e habilidade técnica, boa vontade e interesse, demonstrar
dedicação e compromisso; agilidade e objetividade na avaliação dos pacientes, e na
realização de procedimentos, auto controle e adaptar-se as adversidades e aos
diferentes locais de atendimento e com os colegas da equipe. Os procedimentos
assistenciais de maior complexidade e a organização do cenário de cuidar
constituem as principais atividades desenvolvidas pelos Enfermeiros em seu
cotidiano de trabalho.
Evidenciou-se que os conteúdos teóricos e as habilidades propostas pela
Portaria 2.048 são temas básicos para a capacitação dos enfermeiros que atuam em
APH. No Brasil, os cursos de especialização em emergência ou em APH ainda são
recentes. Diferente dos enfermeiros americanos e franceses, o enfermeiro brasileiro
vem se qualificando nessa área, por meio de cursos de especialização (lato sensu),
atendendo as diretrizes do Ministério da Educação e do Conselho Federal de
Enfermagem.
A constatação da necessidade de desenvolver competências específicas
e diferenciadas reforça a importância do planejamento de programas de capacitação
e especialização direcionados aos enfermeiros que atuam em APH.
As condições de trabalho da equipe de enfermagem no atendimento de
emergência.
Evidenciou-se de uma forma geral que os Enfermeiros consideram o
ambiente, o processo de trabalho, assim como a estrutura organizacional das
unidades de emergência são fatores estressantes que levam à insatisfação e esta
consequentemente, pode gerar agravos à saúde mental e física do trabalhador,
prejuízos no seu desempenho profissional e absenteísmo (CARVALHO; LOPES,
2006).
Para Silveira et al (2009), os Enfermeiros avaliam os estressores no
ambiente de trabalho de maneira semelhante, porém, buscam estratégias de
enfrentamento através do lazer; meditação, cuidar de si, e da família; assim como
estabelecer e manter o diálogo. A interferência dos estressores na assistência ao
usuário esta a demanda.
39
Garlet et al (2009), nos revelam que a equipe de saúde tem insatisfação
com a procura excessiva de pacientes, cujas necessidades não podem ser
classificadas como urgência ou emergência, apontando o número de atendimentos
como justificativa para a resistência em realizar o trabalho e o descompromisso com
a produção do cuidado.
Salomé et al (2009) resaltam que os profissionais de enfermagem
vivenciam momentos de estresse, cansaço, esgotamento e frustração no seu
cotidiano de trabalho devido a sobrecarga de trabalho, provocada pela falta de
material, de profissionais. Ferrareze et al (2006) ressaltam a complexidade existente
nas urgência e emergências, revelando a importância de se rever as questões que
permeiam o relacionamento interpessoal da equipe de enfermagem nesse contexto,
tendo em vista os problemas emergentes e as circunstâncias e peculiaridades que o
ambiente ocasional aos seus profissionais; também evidenciam o nível de ansiedade
e de tensão provocados, sobretudo, pela elevada responsabilidade que a
enfermagem enfrenta em seu cotidiano profissional.
2.2 CUIDAR, CUIDADO E CUIDADO COTIDIANO EM SAÚDE.
A palavra cuidar vem do latim “cogitare” e é igual a pensar, meditar, tratar
de, zelar, o que se opõe ao descuido e ao descaso; representa uma atitude de
ocupação, preocupação, de responsabilização e de envolvimento afetivo com o
outro. É igual a pensado, previsto, aplicação do espírito a uma coisa, atenção
zelosa, incumbência, responsabilidade (BOFF, 1999).
Para Watson (2004), cuidar consiste em concentrar esforços
transpessoais (além do pessoal) de um ser humano para outro, visando proteger,
promover e preservar a humanidade. Ainda para a autora cuidar significa desvelo,
solicitude, diligência, zelo, atenção e se concretiza no contexto da vida em
sociedade.
Para Neves (2002), o cuidar, independente do pouco ou nenhum valor a
ele atribuído, continuará sendo essencial para a sobrevivência das espécies,
promoção da vida e preservação do planeta.
O processo de cuidar para Waldow (2004), é o desenvolvimento de
ações/atitudes e comportamentos com base em conhecimentos científicos,
experiências, intuição e pensamento crítico, realizado para e com o paciente e/ou
40
cliente; ser cuidado tem o sentido de promover, manter e/ ou recuperar a dignidade e
a totalidade humana.
Florence Nightingale foi pioneira em demonstrar os feitos do processo de
cuidado na promoção da saúde das pessoas, ao cuidar de soldados na guerra da
Criméia; em meio à escuridão nas tendas de atendimentos dos soldados feridos,
tinha a preocupação com o meio em que estavam inseridos tanto os cuidadores
como os soldados o que ampliou a perspectiva do processo de cuidado. Com o
passar do tempo a fundamentação epistemológica do cuidar foi se constituindo
(NEVES, 2002).
Os cuidados manifestam-se na preservação do potencial saudável dos
cidadãos e depende de uma concepção ética que contemple a vida como um bem
valioso em si. Isso significa solidarizar-se, evocando relacionamentos
compartilhados entre cidadãos em comunidade; dependendo das circunstâncias e
da doutrina adotada se transmite uma noção de obrigação, dever e compromisso
social (BOFF, 1999).
Segundo Watson (1985) para cuidar é necessário aceitar a pessoa não
somente como ela é, mas também como ela poderá vir a ser; um ambiente de
cuidado é aquele que oferece o desenvolvimento do potencial humano (auto-
realização) e permite a liberdade de escolha; o cuidado possui maior capacidade de
autogenia, quando comparado com a cura, ou seja, por ser autógeno, o cuidado
gera cuidado; a prática do cuidado integra conhecimentos biofísicos com
conhecimentos do comportamento humano para gerar e promover saúde para quem
está doente; a prática do cuidado é o centro ou a essência da enfermagem.
Não podemos pensar em modelos de cuidado sem fazer reflexões
pessoais e coletivas, que passam pela compreensão do valor desse cuidado no
contexto sócio-político e cultural em que se insere. Isso porque cada comunidade
tem uma maneira própria e peculiar de cuidar de si e dos outros.
Saber cuidar inclui o aprender e o fazer, ou seja, habilidades e atitudes
frente a situações socioambientais; exige incorporar-se no trabalho coletivo, em
práticas que exercitem a solidariedade em prol de um ambiente saudável
(TEIXEIRA, 2008).
Para Coelho (2000), cuidar e cuidado são sinônimos, mas distinguem-se
ao passo que se completam; o cuidar é o processo que o enfermeiro desenvolve
ainda no campo das ideias, ou seja, engloba todo o pensar acerca das ações mais
41
simples até as mais complexas destinadas ao atendimento do indivíduo e suas
necessidades, levando em consideração a realidade das condições estruturais,
ambientais e da equipe disponível. O cuidado representa a execução dessas ações
por qualquer membro da equipe de enfermagem, configurando a assistência direta e
imediata. Por isso, quando voltados à prática assistencial, deve-se abordar
conjuntamente cuidar/cuidado.
Para Silva et al (2008), cuidado provém do latim cogitatu:
pensado,imaginado e meditado. A origem etimológica é cogitâtus: refletido. O
cuidado também se refere a dedicação, cujo comportamento, aparência, formação
moral e intelectual são primorosos (falando de pessoas); é também atenção
especial, comportamento precavido, zelo, desvelo que se dedica a alguém ou algo.
O cuidado nasce quando se conhece a essência de todas as coisas,
quando se descobre os propósitos e finalidades da vida, quando o homem se
compromete e assume a responsabilidade de zelar, atender e preocupar-se com o
outro (BOFF, 1999).
O cuidado manifesta-se, na preservação do potencial saudável dos
cidadãos e depende de uma concepção ética que contemple a vida como um bem
valioso em si. Por ser um conceito de amplo espectro, pode incorporar diversos
significados. Ora quer dizer solidarizar-se, evocando relacionamentos
compartilhados entre cidadãos em comunidades, ora, dependendo das
circunstâncias e da doutrina adotada, transmite uma noção de obrigação, dever e
compromisso social (SILVA et al ,2008).
O cuidado significa desvelo, solicitude, diligência, zelo, atenção e se
concretiza no contexto da vida em sociedade. Cuidar também implica colocar-se no
lugar do outro, em situações diversas, quer na dimensão pessoal, quer na social. É
um modo de estar com o outro, no que se refere a questões especiais da vida dos
cidadãos e de suas relações sociais, dentre estas o nascimento, a promoção e a
recuperação da saúde e a própria morte.
Por cotidiano entendemos o espaço – território das práticas humanas
realizadas pelos atores sociais no seu dia-a-dia, mas não se resuma à mecanicidade
da rotina. Apesar de serem, na maioria das vezes, vistas como algo banal ou
insignificante, as ações cotidianas compõem um campo extremamente frutífero para
o desenvolvimento das relações sociais e, consequentemente, de estudos sobre a
sociedade. Dentre as principais características do cotidiano, podemos apontar a
42
probabilidade, a espontaneidade, a sociabilidade, a polissemia e a heterogeneidade
nas relações humanas (MEDEIROS, 2007).
O foco no cotidiano se justifica por ser este o lócus onde as experiências,
relações e práticas acontecem de modo dinâmico. Santos (2006), afirma que o
cotidiano representa o aspecto de um lugar que é compartilhado entre pessoas,
grupos e instituições, numa relação dialética de conflito e cooperação, que é à base
da vida comum. Assim, estudar os atores e suas práticas no dia a dia é fundamental,
pois localiza aspectos objetivos e subjetivos que constroem a vida institucional e
social.
Para Heller (1994), é na vida cotidiana que se produzem as relações
sociais entre os homens. É através da cotidianidade que o indivíduo se insere na
sociedade, reproduzindo as atividades e a cultura existentes. A cópia, a mimese, e a
primeira forma que o homem tem de se relacionar e de aprender. É por meio dessa
reprodução do indivíduo que acontece a reprodução social. Estar inserido na
sociedade é organizar uma vida cotidiana capaz de conduzir a uma continuidade,
em interação com os outros à sua volta e com o modo de produção da sociedade.
Pinheiro (2006) corrobora essa assertiva, ao afirmar que a demanda dos
serviços de saúde se constrói cotidianamente, fruto de uma inter-relação entre as
normas e as práticas que orientam os diferentes atores envolvidos (indivíduos,
profissionais e a instituição). Nas pesquisas desenvolvidas pela autora, o cotidiano é
o lugar onde os elementos da demanda em saúde surgem da interação entre os
sujeitos, e na sua relação com a oferta dos serviços, em face de um determinado
projeto político institucional. É também no cotidiano que a sociedade encontra a
oportunidade de se transformar e se reconstruir. Uma mudança que se inicia com
pequenas alterações na vida de cada indivíduo, até alcançar o âmbito da
coletividade.
Para Morin (1992), há que se retornar ao conhecimento cotidiano, pois as
ideias, os saberes, as crenças, as percepções e outras manifestações ricas de
significados se dão e habitam no mundo da vida, partindo dele e a ele retornando de
intensas relações.
Para Teixeira (2001) o cuidar cotidiano de saúde constitue-se de uma
dimensão cognitiva (OS SABERES), uma interativa (OS ENCONTROS) e uma
conectiva (NATUEZA). Estas dimensões se desdobram em extensões do cuidar
(cuidar do eu, do outro e da família, da casa e do lugar),demonstrando que o cuidar
43
cotidiano se operacionaliza em quatro (04) extensões. Tanto as multidimensões
como as multiextensões, com base em redes que constroem e nós que impõem, são
atravessadas, ao mesmo tempo em que dão origem a dois (02) ciclos (benefício –
risco e cuidar – descuidar), apontando para uma complexidade do cuidar cotidiano
de saúde, como representado no Diagrama.
Diagrama 1: Cuidar cotidiano de saúde
Dimensão Interativa
(OS ENCONTROS)
Cuidar do Eu
Ciclo Cuidar do Outro Ciclo
Cuidar-Descuidar Benefício-Risco
Cuidar da Casa
Dimensão Cognitiva
(OS SABERES)
Dimensão Conectiva
(A NATUREZA) Fonte: Teixeira (2001)
Os ciclos benefício – risco e cuidar – descuidar perpassam as dimensões
e extensões, e estabelecem a dinâmica complexa e dialógica do cuidar cotidiano; e
indicam-nos os desafios enfrentados pelos moradores no dia-a-dia, bem como
aqueles a serem enfrentados pelas políticas públicas, com vistas ao alcance de uma
qualidade de vida em sociedade.
Cuidar do Lugar
44
2.3 LINHAS HISTÓRICAS: QUILOMBO, QUILOMBOLAS E POLITICAS PÚBLICAS.
Os Quilombos representam uma das maiores expressões de luta
organizada no Brasil, em resistência ao sistema colonial-escravista, atuando sobre
questões estruturais, em diferentes momentos histórico-culturais do país, sob a
inspiração, liderança e orientação político ideológica de africanos escravizados e de
seus descendentes de africanos nascidos no Brasil. O processo de colonização e
escravidão no Brasil durou mais de 300 anos. O Brasil foi o último país do mundo a
abolir a escravidão, através de uma lei que atirou os ex-escravizados numa
sociedade na qual estes não tinham condições mínimas de sobrevivência.
Quilombo é um movimento amplo e permanente que se caracteriza pelas seguintes dimensões: vivência de povos africanos que se recusavam à submissão, à exploração, à violência do sistema colonial e do escravismo; formas associativas que se criavam em florestas de difícil acesso, com defesa e organização sócio- econômico política própria; sustentação da continuidade africana através de genuínos grupos de resistência política e cultural (NASCIMENTO, 1980, p.32) .
As comunidades de quilombos se constituíram a partir de uma grande
diversidade de processos, que incluem as fugas com ocupação de terras livres e
geralmente isoladas, mas também as heranças, doações, recebimento de terras
como pagamentos de serviços prestados ao Estado, simples permanências nas
terras que ocupavam e cultivavam no interior de grandes propriedades, bem como a
compra de terras, tanto durante a vigência do sistema escravocrata quanto após sua
abolição (CPISP, 2009).
Sabe-se que os quilombolas carregam consigo e ainda praticam os
costumes de seus antepassados, entre esses costumes está à prática do uso das
plantas medicinais como uma alternativa para as curas e tratamentos de suas
enfermidades, assim como outros meios de tratamento (NASCIMENTO, 1980).
Segundo Marin & Castro (2004), os quilombos não pertencem somente a
nosso passado escravista. Tampouco se configuram como comunidades isoladas,
no tempo e no espaço, sem qualquer participação em nossa estrutura social. Ao
contrário, as mais de 2 mil comunidades quilombolas espalhadas pelo território
brasileiro mantêm-se vivas e atuantes, lutando pelo direito de propriedade de suas
terras consagrado pela constituição federal desde 1988.Para Schmitt (2002):
45
Quilombolas é designação comum aos escravos refugiados em quilombos, ou descendentes de escravos negros cujos antepassados no período da escravidão fugiram dos engenhos de cana-de-açúcar, fazendas e pequenas propriedades onde executavam diversos trabalhos braçais para formar pequenos vilarejos chamados de quilombos (p.4).
Local isolado, formado por escravos negros fugidos. Esta talvez seja a
primeira ideia que vem à mente quando se pensa em quilombo. Essa noção remete-
nos a um passado remoto de nossa História, ligado exclusivamente ao período no
qual houve escravidão no País. Quilombo seria, pois, uma forma de se rebelar
contra esse sistema e aonde os negros iriam se esconder e se isolar do restante da
população.
Consagrada pela “história oficial”, essa visão ainda permanece arraigada
no senso comum. Por isso o espanto quando se fala sobre comunidades
quilombolas presentes e atuantes nos dias de hoje, passados mais de cem anos do
fim do sistema escravocrata (CPISP, 2009).
A palavra "quilombo” tem origem nos termos "kilombo" (quimbundo) ou
"ochilombo” (umbundo), e esta presente em outras línguas faladas ainda hoje por
diversos povos Bantus que habitam a região de Angola, na África Ocidental.
Originalmente, designava apenas um lugar de pouso utilizado por populações
nômades ou em deslocamento; posteriormente passou a designar também as
paragens e acampamentos das caravanas que faziam o comércio de cera, escravos
e outros itens cobiçados pelos colonizadores.Foi no Brasil que o termo "quilombo"
ganhou o sentido de comunidades autônomas de escravos fugitivos. Havia
escravidão, porém, em alguns quilombos (MOURA, 2003).
Um quilombo era um local de refúgio dos escravos no Brasil, em sua
maioria afrodescendentes (negros e mestiços), havendo minorias indígenas e
brancas.Tradicionalmente, os quilombos eram das regiões de grande concentração
de escravos, afastados dos centros urbanos e em locais de difícil acesso.
Embrenhados nas matas, selvas ou montanhas, esses núcleos se transformaram em
aldeias, dedicando-se à economia de subsistência e às vezes ao comércio, alguns
tendo mesmo prosperado(PENTEADO, 2004).
Existem registros de quilombos em todas as regiões do país.
Primeiramente um destaque especial ao estado de Alagoas, mais precisamente no
interior na cidade de União dos Palmares, que até hoje concentra o principal e maior
quilombo que já existiu: o quilombo dos Palmares. Segundo os registros existem
46
quilombos nos seguintes estados brasileiros: Pernambuco, Bahia, Goiás, Mato
Grosso, Minas Gerais, Pará, Rio de Janeiro e São Paulo.Os seus
habitantes,denominados de "quilombolas", eram originalmente agrupamentos de ex–
escravos fugidos de seus senhores desde os primeiros tempos do período colonial.
Em algumas épocas e locais, tentaram reproduzir a organização social africana,
inclusive com a escolha de reis tribais (MARIN ; CASTRO, 2009).
A palavra africana remonta aos séculos XVI e XVII. Para o historiador Joel
Rufino dos Santos, o nome vem da África Ocidental, partindo do norte de Angola,
próximo ao Rio Kuanga, onde portugueses e holandeses iniciam o tráfico negreiro.
Os africanos capturados por outros africanos eram recolhidos a depósitos
provisórios, prisões a céu aberto, ajuntamentos que foram chamados de quilombos.
Transferido para o Brasil, o nome terá outro significado e outro contexto. Nas
diversas nações e sociedades que se formaram no Novo Mundo as comunidades
formadas por negros escravos, em sua maioria fugida do trabalho forçado e da ação
das forças escravocratas, foram chamadas de quilombos, no Brasil; de palenques,
na Colômbia e em Cuba; de cumbes, na Venezuela; de marrons no Haiti , Caribe;
Jamaica e sul dos Estados Unidos, de cimarrones, em diversas partes da América
Espanhola(REIS; GOMES, 1996).
Para o rei de Portugal, em documento de 02 de dezembro de 1740,
quilombo era “toda habitação de negros fugidos que passem de cinco, em parte
despovoada, ainda que não tenham ranchos levantados nem se achem pilões neles”
(SIQUEIRA; CARDOSO, 1995).
As comunidades remanescentes de quilombos são detentoras de direitos
culturais e históricos, assegurados pelos artigos 215 e 216 da Constituição Federal
que tratam das questões relativas à preservação dos valores culturais da população
negra, e elevam as terras dos remanescentes de quilombos à condição de Território
Cultural Nacional. Organizadas para garantir seu direito imemorial à propriedade da
terra, as comunidades remanescentes de quilombos são preservadoras do seu meio,
respeitam o local onde vivem e reivindicam condições que permitam à sua
comunidade a permanência em suas terras. Esta população sofre constantes
ameaças de subtração e expropriação territorial dos mais diversificados inimigos que
cobiçam seus territórios por vários motivos: pela fertilidade do solo, pela riqueza em
recursos naturais, pela qualidade da madeira, da água, a riqueza do subsolo
(MARIN; CASTRO, 1999).
47
Hoje, no Brasil, estudos realizados por diferentes profissionais
educadores, sociólogos, antropólogos, historiadores e juristas buscam determinados
critérios para denominar a luta quilombola: comunidades negras rurais, terras de
pretos, remanescentes de comunidades de quilombos, hoje comunidades
remanescentes de quilombos compreendendo: descendentes dos primeiros
habitantes da terra; trabalhadores rurais que ali mantém sua residência habitual ou
permaneçam emocionalmente vinculados. Os debates em torno destas designações
ganham sentido, sobretudo, para efeito de medidas legais, jurídicas ou definição de
direitos sociais, econômicos e políticos para os quilombolas e seus descendentes.
Por exemplo, direito à legalização da terra, à moradia, à educação, à saúde, ao lazer
(LINHARES, 2002).
O Quilombo dos Palmares, se localizava em Alagoas (Serra da Barriga).
Com a fuga em massa nessa época, em 1670, o quilombo abrigava mais de 50 mil
escravos. Os quilombolas começaram a se organizar e se tornarem muito fortes
nessa região, vistos como ameaça pela sociedade colonial. Já eram conhecidos a
essa época, pois por toda essa estrutura e tamanho, já não tinham mais como ser
ignorados. Houve expedições para destruir essa comunidade, porém os quilombolas
resistiram. Um tratado foi criado entre o governo de Pernambuco e um dos principais
líderes do Quilombo de Palmares, Ganga Zumba. Esse tratado levou o nome de
“Acordo de Recife” que consistia no reconhecimento do governo à liberdade de
todos os negros nascidos em Palmares. Mas nem todos estavam de acordo com
Zumba, pois muitos quilombos consideravam traição ter qualquer tipo de pacto junto
ao governo. Os opositores o envenenaram. De sua morte em diante, Palmares foi
comandado por Zumbi que era resistente a qualquer tipo de negociação com a
autoridade. Após inúmeros conflitos Zumbi foi morto e degolado por bandeirantes.
Hoje, Zumbi é uma figura importante para a sociedade afro brasileira, que o
considera como um grande herói e um valente que lutou pelos direitos do seu povo
até a sua morte.
Os escravos refugiados nos quilombos eram designados como
quilombolas. Indignados com a sua situação e o tratamento fornecido a eles, às
vezes tratado como animais pelos senhores de engenho, no período de escravidão,
que consiste entre os séculos XVII e XVIII os negros se rebelavam e fugiam em
bandos, ou, quando conseguiam, sozinhos, mas os escravos fugitivos formavam
uma comunidade nomeada Quilombo. Local onde eles podiam divulgar e vivenciar
48
sua própria cultura sem repressão. Claro que por serem fugitivos buscavam montar
essa comunidade em lugar bem distante e no meio da mata para não serem
encontrados por seus ex-senhores. Na época do ciclo da cana-de-açúcar, após
a invasão dos holandeses, muitas terras foram abandonadas, com isso uma grande
parte de escravos buscaram os quilombos para estarem junto aos seus (MARIN;
CASTRO, 2004).
Para Caldeira (1998), os habitantes dos quilombos, chamados
“quilombolas”, eram escravos fugidos de seus senhores desde as primeiras fases
do período colonial. A maioria dos quilombolas sofria com a perseguição dos donos
de terras, pois havia interesse em retomar um escravo fugitivo e puni-lo como
exemplo para os demais.
A história da escravidão no Pará foi marcada pela resistência de negros e
índios que buscaram a sua liberdade por meio da fuga, da construção dos quilombos
e da participação na Cabanagem. No século XXI, os descendentes dos quilombos
prosseguem na trajetória de luta constante por seus direitos. O alvo principal agora é
a titulação das suas terras duramente conquistadas.
Desde 1998, o Pará conta com uma legislação que regulamenta o
processo de titulação dessa categoria de terras. Inovadora, essa legislação garante
o direito à auto-identificação das comunidades sem a necessidade do laudo
antropológico - algo que o governo federal só veio a reconhecer em 2003. As
mulheres e os homens quilombolas do Pará alcançaram diversas conquistas
pioneiras, abrindo caminho para a consolidação dos direitos das comunidades
quilombolas em todo o Brasil.
Foi no Pará que aconteceu a primeira titulação de uma terra de quilombo
no Brasil, em cumprimento ao artigo 68 do Ato das Disposições Transitórias da
Constituição Federal. Em 20 de novembro de 1995, a comunidade quilombola de
Boa Vista situada no município de Oriximiná, recebeu do INCRA o título de
propriedade de seu território com 1.125 hectares.
Essa titulação foi um marco que consolidou o entendimento de que o
artigo 68 é auto-aplicável e que a regularização desta categoria de terras deve ser
coletiva, respeitando a forma como os quilombolas concebem e ocupam os seus
territórios.
Em 2005, o Estado do Pará concentrava mais da metade (58%) da
dimensão total de terras quilombolas tituladas do país. São 27 territórios, ocupados
49
por 79 comunidades (com cerca de 3.700 famílias), que somam 527.139 hectares.
As conquistas dos quilombolas paraenses traduzem-se também em leis
estaduais e programas de governo destinados especificamente a este setor da
população. O reconhecimento de direitos específicos às comunidades quilombolas é
algo relativamente recente no Brasil. Enquanto os direitos dos índios às suas terras
são reconhecidos desde a época colonial e pelas sucessivas Constituições
Brasileiras desde 1934, o direito dos remanescentes de quilombos foi reconhecido
pela primeira vez no ano de 1988 quando da promulgação da atual Constituição que
no artigo 68 das disposições transitórias determinou: “Aos remanescentes das
comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas terras, é reconhecida a
propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes títulos respectivos”(BRASIL,
2007).
A concretização do artigo 68 tem sido difícil. A primeira titulação de uma
terra quilombola deu-se somente sete anos após a promulgação da Constituição, em
novembro de 1995. Até outubro de 2010, somente 105 terras quilombolas foram
tituladas (CPISP, 2012).
A Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, esta
embasada nos princípios constitucionais de cidadania e dignidade da pessoa
humana (BRASIL, 1988, ART. 1º, INC. II E III), do repúdio ao racismo (BRASIL,
1988, art. 4º, inc. VIII) e da igualdade (BRASIL, art. 5º, caput). É igualmente coerente
com o objetivo fundamental da Republica Federativa do Brasil de “promover o bem
de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras
formas de discriminação” (BRASIL, 2007).
Esta política ainda reafirma os princípios do SUS, constantes da Lei nº
8,080, de 19 de setembro de 1990, tais como: a) a universalidade do acesso,
compreendido como o “acesso garantido aos serviços de saúde para a população
em todos os níveis de assistência, sem preconceitos ou privilégios de qualquer
espécie”; b) a integralidade da atenção, ”entendida como um conjunto articulado e
contínuo de ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigido
para cada caso, em todos os níveis de complexidade do sistema”; c) a igualdade da
atenção à saúde; e d) descentralização político-administrativa, com direção única em
cada esfera de governo (BRASIL, 1990).
A política tem como objetivo geral promover a saúde integral da
população negra, priorizando a redução da desigualdade étnico-raciais, o combate
50
ao racismo e à discriminação nas instituições e serviços do SUS; e como um dos
objetivos específicos: garantir e ampliar o acesso da população negra residente em
áreas urbanas, em particular nas regiões periféricas dos grandes centros, às ações
e aos serviços de saúde;
A lei nº 12.288 de 20 de julho de 2010 institui o Estatuto da Igualdade
Racial, destinado a garantir à população negra a efetivação da igualdade de
oportunidades, a defesa dos direitos étnicos individuais, coletivos e difusos e o
combate à discriminação e às demais formas de intolerância étnica. Vejamos partes
de seu conteúdo:
Parágrafo único. Para efeito deste Estatuto, considera-se:
I - discriminação racial ou étnico-racial: toda distinção, exclusão, restrição ou preferência baseada em raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica que tenha por objeto anular ou restringir o reconhecimento, gozo ou exercício, em igualdade de condições, de direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos político, econômico, social, cultural ou em qualquer outro campo da vida pública ou privada;
II - desigualdade racial: toda situação injustificada de diferenciação de acesso e fruição de bens, serviços e oportunidades, nas esferas pública e privada, em virtude de raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica;
CAPÍTULO I. DO DIREITO À SAÚDE
Art. 6o O direito à saúde da população negra será garantido pelo poder público mediante políticas universais, sociais e econômicas destinadas à redução do risco de doenças e de outros agravos.
§ 1o O acesso universal e igualitário ao Sistema Único de Saúde (SUS) para promoção, proteção e recuperação da saúde da população negra será de responsabilidade dos órgãos e instituições públicas federais, estaduais, distritais e municipais, da administração direta e indireta.
§ 2o O poder público garantirá que o segmento da população negra vinculado aos seguros privados de saúde seja tratado sem discriminação. Art. 7o O conjunto de ações de saúde voltadas à população negra constitui a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, organizada de acordo com as diretrizes abaixo especificadas (BRASIL, 2010).
O Pará foi o primeiro governo a proceder a uma desapropriação para
garantir a propriedade de uma comunidade quilombola, em 2002. O governo do Pará
promulgou os Decretos 5.273, de 03/05/2002, e 5.382, de 12/07/2002, declarando
de utilidade pública, para fins de desapropriação, imóveis rurais situados nas terras
quilombolas Altos Trombetas e Itacuã- Miri, de forma a poder titular tais áreas em
nome dos quilombolas.
51
Entre 1997 e 2003, o Instituto de Terras do Pará (ITERPA) regularizou
410.275,11 hectares de terra, o equivalente a 78% da dimensão total de terras
quilombolas tituladas no Pará. No entanto, o governo do Pará não manteve o ritmo
das titulações. Nenhuma terra de quilombo foi titulada entre 2004 e setembro de
2005.
Em novembro de 2005, pelo menos 40 comunidades aguardavam pela
conclusão de processos em curso no ITERPA. A demora na regularização tende a
causar o acirramento dos conflitos envolvendo a disputa pelas terras de quilombo.
Muitas comunidades vivenciam situações de tensões e conflitos com os ocupantes
ilegais de suas terras.
Preocupada com esta situação, a Malungu lançou em 2004 uma
campanha para agilizar os processos. Embora o INCRA tenha titulado duas áreas no
Estado, o ITERPA continuou paralisado. Assim, apesar das vitórias, a luta dos
quilombolas paraenses está longe de acabar.
Na Constituição Estadual, destaca-se o artigo 322 que afirma: Aos
remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas terras,
é reconhecido a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes títulos
respectivos no prazo de um ano, depois de promulgada esta Constituição (PARÁ,
1989.p.99).
O termo “remanescente” serve para identificar populações que não
podem ser confundidas com os quilombos históricos, e nem associadas por
descendência somente. Grupos que passaram a contar com um reconhecimento
oficial de identidade e cultura, mas também com consequências diretas para sua
militância e principalmente para conflitos fundiários (CALHEIROS; STADTLER,
2010).
O Decreto nº 261, de 22 de Novembro de 2011 Institui a Política Estadual
para as Comunidades Remanescentes de Quilombos no Estado do Pará e dá outras
providências. No seu artigo 2º estabelece:
A Política Estadual para as comunidades Remanescentes de Quilombos tem por objetivo geral reconhecer, promover e proteger os direitos dessas comunidades assegurando-lhes melhoria da qualidade de vida, respeito as suas identidades, instituições e formas de organização, garantindo a participação de seus representantes nas decisões.
52
Todos esses dispositivos legais, a nosso ver, demonstram que existe uma
política voltada para as populações quilombolas, no que se refere aos direitos que
concebe o sistema único de saúde no que se refere à universalidade.
53
3 CUIDAR COTIDIANO DE SAÚDE EM
SITUAÇÕES DE URGÊNCIA E
EMERGÊNCA
Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal – 2011
54
3.1. QUEM SÃO E DE ONDE FALAM OS SUJEITOS DO ESTUDO
Quanto ao perfil pessoal dos sujeitos do estudo constatamos que grande
parte encontra-se na faixa etária de 30 a 39 anos, são do gênero feminino, referem a
cor negra, vivem em união estável , tem o 1º grau incompleto e são produtores
rurais.
Destaca-se que a maioria dos sujeitos são mulheres (18 dentre 20
sujeitos) e por serem tradicionalmente as cuidadoras da saúde da família foram
indicadas para falar sobre o tema. Sobre esse aspecto destacam-se algumas
afirmações-constatações de diferentes estudos. Segundo Neves e Cabral (2008), o
contexto da família, está socioculturalmente determinado, e a mulher é a provedora
dos cuidados às crianças, idosos e doentes. Nesse contexto, a mulher assume o
papel de cuidadora principal, dedicando-se integralmente ao cuidado. Os legados
(da tradição, dedicação, abnegação, educação e socialização familiar e
solidariedade feminina, aliados à obrigação moral) que são transmitidos
culturalmente para as meninas da família, contribuíram para que elas
internalizassem a função de cuidadora principal da família. Já o legado da
dedicação, implica numa exclusividade da mulher para o desenvolvimento do papel
de cuidadora de crianças, em particular daquelas com necessidades especiais de
saúde. Esses legados reforçam que o papel da mulher para cuidar é uma construção
social ideologicamente determinada, o que se constitui em uma obrigação moral.
Nesse sentido, para as mulheres é delegada a responsabilidade do cuidado de toda
a família, como uma obrigação moral socioculturalmente construída.
Segundo Gonçalves et al (2006), na maioria dos países, observa-se que ao
longo da história o cuidado é exercido por mulheres. Também em nosso meio as
cuidadoras no contexto familiar, são principalmente, as esposas, as filhas e as netas.
Tal fato pode ser explicado pela tradição de no passado recente as mulheres não
desempenharem funções fora de casa, justificando sua maior disponibilidade para o
cuidado da família. Contudo, essa realidade vem sendo modificada em função da
inserção social da mulher participando progressivamente no mercado de trabalho.
Os estudos em nosso meio apontam que, geralmente, as cuidadoras residem com o
idoso, são casadas e, por isso, somam às suas atividades de cuidar as atividades
domésticas próprias de mãe, esposa e avó, gerando um acúmulo de trabalho em
casa e uma sobrecarga nos diversos domínios da vida da cuidadora, como: social,
55
físico, emocional, espiritual, enfim, contribuindo para o autodescuido da própria
saúde.
No Quadro 1, apresento os dados pessoais (idade, gênero, cor, estado
civil, escolaridade e ocupação) dos sujeitos do estudo.
Quadro 1 – Perfil dos Sujeitos
IDADE GÊNERO COR ESTADO CIVIL ESCOLARIDADE OCUPAÇÃO
58
M
NEGRA
SOLTEIRO
1º GRAU INCOMPLETO
AGRICULTOR
37
F
NEGRA
VIUVA
1º GRAU INCOMPLETO
TRABALHADORA RURAL
37
F
NEGRA
VIUVA
1º GRAU COMPLETO
TRABALHADORA RURAL
43
F
NEGRA
CASADA
1º GRAU INCOMPLETO
AGRICULTORA RURAL
25
F
NEGRA
UNIÃO ESTÁVEL
2º GRAU COMPLETO
TRABALHADORA RURAL
33
F
NEGRA
UNIÃO ESTÁVEL
3º GRAU COMPLETO
AGENTE DE PORTARIA
30
F
NEGRA
UNIÃO
ESTÁVEL
1º GRAU COMPLETO
TRABALHADORA RURAL
28
F
NEGRA
UNIÃO ESTÁVEL
1º GRAU COMPLETO
BABÁ
50
F
NEGRA
UNIÃO ESTÁVEL
1º GRAU INCOMPLETO
MANIPULADORA DE ALIMENTOS
17
F
NEGRA
UNIÃO ESTÁVEL
1º GRAU INCOMPLETO
ESTUDANTE
32
F
NEGRA
UNIÃO
ESTÁVEL
3º GRAU INCOMPLETO
PROFESSORA
46
F
NEGRA
UNIÃO ESTÁVEL
ANALFABETO
PRODUTORA RURAL
42
F
PARDA
UNIÃO ESTÁVEL
1º GRAU COMPLETO
DO LAR
37
F
NEGRA
UNIÃO ESTÁVEL
ANALFABETO
AGRICULTORA RURAL
39
F
NEGRA
SOLTEIRA
3º GRAU COMPLETO
SECRETARIA ESCOLA
33
F
NEGRA
UNIÃO ESTÁVEL
3º GRAU INCOMPLETO
PRODUTORA RURAL
34
F
NEGRA
UNIÃO ESTÁVEL
1º GRAU COMPLETO
PRODUTORA RURAL
47
F
NEGRA
SOLTEIRA 1º GRAU INCOMPLETO
PRODUTORA RURAL
65
M
NEGRA
CASADO
1º GRAU INCOMPLETO
PRODUTOR RURAL
51
F
NEGRA
UNIÃO ESTÁVEL
1º GRAU INCOMPLETO
PRODUTORA RURAL
56
Sobre o perfil familiar constatamos que a maioria divide seu espaço
domiciliar com oito (08) membros, entre esposo (a), filhos, mãe, irmãos e sobrinhos.
Tal constatação vai ao encontro dos dados nacionais e regionais, pois segundo o
PNAD (2009) o número médio de pessoas por família residente em domicílio
particular foi de 3,1 pessoas, o mesmo registrado em 2008. Regionalmente, o menor
valor deste indicador foi observado na Região Sul (2,9). A Região Norte, apresentou
as maiores médias: 3,4, em 2009, e, 3,5, em 2008.
A família, segundo Moreira (2007), não é apenas uma instituição de
origem biológica, mas, sobretudo, um organismo com nítidos caracteres culturais e
sociais. Nas palavras de Hironaka (1999, p. 7),
“[...] é uma entidade histórica, ancestral como a historia, interligada com os
rumos e desvios da historia ela mesma, mutável na exata medida em que
mudam as estruturas e a arquitetura da própria historia através dos tempos
[...]; a historia da família se confunde com a historia da humanidade”. Trata-
se, em verdade, da celula mater da sociedade, do seu núcleo inicial, básico
e regular. É um microssistema social, onde os valores de uma época são
reproduzidos de modo a garantir a adequada formação do individuo.
A Lei Maria da Penha, ao estatuir, no seu art. 5o, II, que a família deve ser
“[...] compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou
se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por
vontade expressa” acabou se tornando a primeira norma infraconstitucional
a reconhecer categoricamente o conceito moderno de família. Dessa forma,
pode-se afirmar que a presente norma consagra, pela primeira vez, no
âmbito infraconstitucional, a ideia que a família não é constituída por
imposição da lei, mas sim por vontade dos seus próprios membros.
No Quadro 2, apresento o perfil familiar dos sujeitos do estudo
destacando o número de membros por casa-domicÍlio e grau de parentesco com o
sujeito – informante.
57
Quadro 2 – Perfil Familiar dos Sujeitos
No quadro 3, trago o perfil domiciliar dos sujeitos, com ênfase no tipo de
moradia,número de cômodos, destino do lixo,origem da água,tipo de fossa e tipos de
animais domésticos.
Nº MEMBROS
GRAU DE PARENTESCO
3 1 ESPOSA 1 FILHO
5 3 FILHOS 1 IRMÃO 1 NETA
4 1 ESPOSO 2 FILHOS
8 1 ESPOSO 3 FILHOS 1 PAI 1 IRMÃ 1 NETO 1 GENRO
7 1 ESPOSO 3 FILHOS 1 MAE 1 IRMÃO 1 SOBRINHO
7 1 ESPOSO 5 FILHOS
4 1 ESPOSA 2 FILHOS
8 1 ESPOSO 3 FILHOS 1 MÃE 1 IRMAO 1 SOBRINHO
5 1 ESPOSO 1 FILHO 2 IRMAOS 1 NETO
2 1 ESPOSO
5 1 ESPOSO 2 FILHOS 1 IRMÃO 1 SOBRINHO
5 1 ESPOSO 3 FILHOS
5 1 ESPOSO 3 FILHOS
8 1 ESPOSO 7 FILHOS
6 2 FILHOS 1 PAI 1 MAE 1TIO
7 1 ESPOSO 3 FILHOS 1 NETA 1 GENRO
4 1 ESPOSO 2 FILHOS
8 3 FILHOS 1 SOBRINHO COM 3 FILHAS
2 1 ESPOSA
7 1 ESPOSO 3 FILHOS 2 NETOS
58
Quadro 3 – Perfil Domiciliar dos Sujeitos
Evidenciamos que a maioria das famílias tem como tipo de moradia as
casas de madeira, com 08 cômodos, com o telhado de telhas de barro e brasilit; o
abastecimento de água é encanado com origem em poço aberto com bomba “sapo”.
O destino do lixo no período chuvoso são os buracos e no verão são queimados; o
destino dos dejetos é em fossa negra e a céu aberto. Essa realidade é um tanto
diferente dos dados nacionais, segundo a PNAD apenas 11,4% dos domicílios do
TIPO COMODOS LIXO AGUA FOSSA ANIMAIS
MADEIRA 4 QUEIMADO POÇO NEGRA GALINHAS/PATOS
ALVENARIA 5 BURACO ARTESIANO NEGRA GATO/ CACHORRO
ALVENARIA 5 QUEIMADO ARTESIANO NEGRA PAPAGAIO
ALVENARIA 6 BURACO POÇO NEGRA TUCANO
PAU A PIQUE
2 ENTERRA POÇO NEGRA CACHORRO/GAL
MADEIRA 3 QUEIMADO POÇO SÉPTICA GATO
ALVENARIA 3 CEU ABERTO POÇO NEGRA CACHORRO/GALINHA
PAU A PIQUE
1 CEU ABERTO POÇO NEGRA CACHORRO/GALINHA
MADEIRA 5 QUEIMADO CAÇIMBA NEGRA CACHORRO/GALINHA
MADEIRA 1 QUEIMADO POÇO NEGRA CACHORRO/GALINHA
ALVENARIA 5 BURACO ARTESIANO SÉPTICA PORCO, BURRO,PASSARINHO
MADEIRA 2 BURACO/QUEIMA POÇO NEGRA CACHORRO
ALVENARIA 5 QUEIMADO BOCA ABERTA NEGRA CACHORRO
MADEIRA 5 BURACO /QUEIMA POÇO NEGRA CACHORRO/GALINHA
MADEIRA 5 BURACO/QUEIMA POÇO SÉPTICA CACHORRO/GALINHA/GATO
ALVENARIA 5 QUEIMA / ENTERRA
POÇO ARTESIANO NEGRA CACHORRO/GALINHA
MADEIRA 4 QUEIMADO POÇO NÃO RESPONDEU
NÃO RESPONDEU
ALVENARIA 5 QUEIMA/ENTERRA POÇO NEGRA CACHORRO/GATO/GALINHA
MADEIRA PAU A PIQUE
4 BURACO POÇO ARTESIANO NEGRA CACHORRO/ GATO
MADEIRA 4 QUEIMA/ ADUBA POÇO NEGRA CACHORRO/ GALINHA
59
país queimam o lixo na sua propriedade; a participação dos domicílios atendidos
pelo serviço de rede coletora ou por fossa séptica ligada à rede coletora foi de
59,1% (PNAD, 2009).
Carvinatto (2003) refere que a etapa de captação de água é aquela
realizada para coletar de modo adequado as águas naturais; nos bairros ou regiões
não atendidos pelos serviços públicos de abastecimento, cada residência é
responsável pelo seu próprio suprimento de água, e uma alternativa bastante
utilizada é a abertura de poços domésticos, mas é necessário que sua construção
seja feita de forma adequada, assim como para o destino dos detritos. Ainda para
essa autora sobre a escavação de fossas secas, que é bastante comum no Brasil
são construídas geralmente no quintal, servindo como sanitário.
Na maioria das cidades brasileiras, o lixo das casas, das indústrias e dos
hospitais simplesmente é jogado no solo, sem nenhuma cobertura, formando
depósitos a céu aberto também conhecido como lixões. Essa não é uma maneira
correta de se dispor o lixo e pode gerar problemas ambientais e de saúde pública
O ser humano, ao mesmo tempo em que interfere no ambiente, gerando
detritos que podem disseminar doenças, possui condições de evitar que isso ocorra,
empregando medidas de saneamento (CARVINATTO 2003). Por isso Investir em
saneamento é a única forma de se reverter o quadro existente. Dados divulgados
pelo Ministério da Saúde afirmam que para cada R$1,00 (hum real) investido no
setor de saneamento, economiza-se R$ 4,00 (quatro reais) na área de medicina
curativa (BRASIL, 2009).
Sobre o acesso à comunidade destaca-se que é necessário percorrer
uma estrada de chão batido, com atoleiros e igarapé, com uma paisagem muito
bonita; infelizmente há lixo jogado a céu aberto, covões e de vez em quando
ocorrem desabamentos de barrancos.
A área é rodeada de árvores frutíferas e vegetações diversas, com clima
quente e rajadas de ventos frequentes; no período noturno tem baixa de
temperatura. As terras, o clima e a vegetação são aspectos geográficos
representativos da região amazônica. Na região o clima é equatorial, quente e
úmido, com temperatura variando pouco durante o ano. As chuvas são abundantes,
nos meses de janeiro a abril.
As casas são em sua maioria de madeira. Estão distribuídas em
microrregiões, em torno de uma família, cobertas com telhas de barro ou brasilit;
60
com sua área externa rodeadas de arvores frutíferas. A comunidade vive do plantio
de mandioca; macaxeira; maxixe e jerimum nas roças de inverno e pelas culturas
perenes e semiperenes (cupuaçu, abacaba, açaí, pupunha, uxi,acerola e maracujá).
Os agricultores de Abacatal produzem para o seu consumo. A produção excedente
assim como farinha, farinha de tapioca, goma, tucupi e algumas frutas, destina-se
para venda na feira Livre de Ananindeua; em raros casos, é vendida dentro dos seus
sítios.
Sobre a área – local onde vive a comunidade, optei descrevê-la por
meio de uma narrativa imagética. O uso da fotografia é capaz de preservar o dado e
convergir para o leitor uma informação cultural a respeito do grupo estudado. A
linguagem fotográfica constitui-se um meio eficiente de registrar e difundir imagens e
está condicionada pelo nível de informação, capacidade de olhar e habilidade
técnica de quem a utiliza (ACHUTTI, 1970).
Para este autor os antropólogos Mead e Bateson (1967), deixaram a ideia
que as fotografias, antes de serem cópias da realidade, são “textos”, afirmações e
interpretações sobre o real. Para uma imagem alcançar eficácia simbólica, não basta
que seja vista, ela tem que ser interpretada por um sujeito que compartilhe dos
códigos simbólicos carregados de imagem.
A seguir faço narrativa imagética da comunidade quilombola Abacatal. A
apresentação das imagens segue o percurso do cotidiano, da entrada até os
diferentes lugares em que estive junto com a comunidade.As fotografias foram
obtidas por meio de uma máquina fotográfica da própria autora.
Fotografia 5: Estrada de acesso a comunidade no verão
Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal 2011
61
Fotografia 6: Estrada de acesso a comunidade no inverno
Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal
Fotografia 7: Estrada de acesso a Portaria da Comunidade
Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal – 2011
Fotografia 8: Casa de alvenaria
Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal – 2011
Fotografia 7:
Estrada de
Acesso a
Portaria da
comunidade
Fotografia 6: Estrada de acesso a Comunidade no verão
62
Fotografia 9: Casa de Madeira
Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal – 2011
Fotografia 10: Casa de alvenaria sem reboco
Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal – 2011
Fotografia 11: Casa de Pau a Pique
Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal – 2011
63
Fotografia 12: Crianças brincando no quintal
Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal – 2011
Fotografia 13: conversando e identificando sua cultura
Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal – 2011
Fotografia 14: Brincando com Caroço de tucumã
Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal – 2011
64
Fotografia 15: Moradores descascando a mandioca
Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal – 2012
Fotografia 16: Interior da Casa da Farinha
Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal – 2012
Fotografia 17: Fazendo a Farinha
Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal – 2012
65
Fotografia 18: Peneirando e torrando a mandioca
Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal – 2012
Fotografia 19: Fervendo o Tucupi
Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal – 2012
Fotografia 20: Peneirando a Farinha
Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal – 2012
66
Fotografia 21: Área Roçada e plantada
Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal – 2012
Fotografia 22: Cuidando da Roça
Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal – 2012
Fotografia 23: Colheita de mandioca
Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal – 2012
67
Fotografia 24: Missa do Círio do Sagrado Coração de Jesus
Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal – 2011
Fotografia 25: O início da Procissão
Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal – 2011
Fotografia 26: Acompanhando a procissão
Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal – 2011
68
Fotografia 27: A procissão
Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal – 2011
Fotografia 28: O barracão do Sagrado Coração de Jesus
Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal – 2011
Fotografia 29: O leilão na festa do Sagrado Coração de Jesus
Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal – 2011
69
Fotografia 30: Caminhada dos jovens
Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal – 2011
Fotografia 31: Parada no igarapé num dia de sol
Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal – 2011
Fotografia 32: Fixação da cruz
Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal – 2011
70
Fotografia 33: Um dos meios de transporte
Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal – 2011
Fotografia 34: A bicicleta como instrumento na Pesquisa
Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal – 2011
Fotografia 35: Cuidando das crianças
Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal – 2011
71
Fotografia 36: Cuidando da família
Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal – 2011
Fotografia 37: Cuidando do alimento
Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal – 2011
Fotografia 38: O cuidado cotidiano doméstico
Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal – 2011
72
Sobre a localização da comunidade no município de Ananindeua, verificamos
que a área está circunscrita na área rural (número 23), dentre as áreas de serviços
do município de Ananindeua (Figura 3).
Figura 3: Áreas de serviços do município de Ananindeua
Fonte: http: // pt.wikipedia.org/wiki/ananindeua
Esta área recebe cobertura de uma Unidade de Saúde da Família
(USF- Aurá) que faz parte do Polo Sanitário I, localizada na Rodovia BR 316,
Estrada do Aurá s/n. Esta USF tem duas Equipes de Saúde da Família (ESF Jardim
Japonês e ESF Aurá). A ESF que dá cobertura à comunidade quilombola Abacatal é
73
a ESF Jardim Japonês. Segundo o Cadastro Nacional de Estabelecimento de Saúde
,a equipe é composta: 1 enfermeira, 1 médico,1 cirurgião dentista,1 auxiliar de
enfermagem, 1 auxiliar em saúde bucal e 5 agentes comunitários de saúde.
Segundo a Enfermeira da Unidade de Saúde da Família do Aurá1, as
visitas são realizadas 1 vez ao mês; nestas visitas à comunidade realiza-se:
vacinação, visita nos domicílios, orientações quanto a higiene e saneamento,
agendamento de consultas. Segundo depoimento da Enfermeira, no 1º semestre do
ano não são realizadas porque a estrada fica “muito ruim”, e só entra carro de
tração; como o carro da unidade não tem essa característica, as visitas só são
realizadas no 2º semestre do ano, uma vez ao mês, de agosto a dezembro.
Sobre as condições de saúde-doença da comunidade, a Enfermeira da
USF referiu que a ”comunidade não manifesta tantos agravos a saúde”; nas crianças
são mais recorrentes as doenças prevalentes da infância como; insuficiência
respiratória, verminoses e quadros de diarréia; nos adultos é recorrente os
diabéticos e hipertensos; no momento não há nenhum caso de tuberculose e
hanseníase.
Sobre as situações de urgência e emergência que ocorrem na
comunidade, a Enfermeira relatou que quando acontece alguma urgência a
comunidade não recorre á USF Aurá; vão direto para o hospital, a ESF não tem
estrutura para atender casos de urgência e emergência, o que mais chega na
unidade é febre alta e crise asmática; outros casos mais graves de urgência não
chegam; só se sabe depois pela agente comunitária de saúde. A Enfermeira referiu
ocorrer com mais frequência: picada de cobra, queda de árvores com fraturas.
3.2. AS SITUAÇÕES DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA
3.2.1. As situações de urgência e emergência que demandam cuidados.
As situações de urgência e emergência foram reveladas pelos sujeitos
e registradas a partir de dois temas indutores. O primeiro trata das situações mais
frequentes com os sujeitos e/ou com a família. Obtivemos 38 tipos de situações
(alguns sujeitos mencionaram mais de uma situação), assim distribuídas e
apresentadas na Figura 1:
__________________________________________________________________
1 Dados obtidos na USF após contato verbal com a Enfermeira
74
Figura 4- Tipos de situações de urgência e emergência com os sujeitos e/ou
família,comunidade quilombola, 2012
As situações mais frequentes e que mais se destacaram foram os sinais e
sintomas com 38% (dor, febre, diárreia, vômito, sangramento, tontura, hemorragia,
edema); tais sinais e sintomas fazem com que os sujeitos busquem atendimento e
caracterizam situações de urgência clínica. Segundo Bergeron e Bizjak (1999) esse
atendimento é realizado a indivíduo com sinais e sintomas de agravamento de
determinada patologia colocando em risco a sua vida, ou seja, podem se
encontrarem em estado crítico ou semi-crítico.
Os acidentes com arma branca, laborais e por causas externas(21%) são
situações decorrentes de atividades na roça e por violência urbana.
As demais situações são ocorrências clínicas, provenientes de doenças
crônicas degerativas, urgências traumatológicas e acidente ofídico.
As 38 situações envolveram, além do sujeito ( 05 ): Marido (04 ), esposa
(01), filhos (12), pais (05), netos (02) sobrinhos (06), irmã (02), tios (02).
Predominam, com maior frequencia, situações envolvendo os filhos e sobrinhos.
O segundo termo indutor trata das situações mais frequentes com
vizinhos e amigos, o que esta apresentado no gráfico 2.
38%
21%
17%
8%
8%
8% Sinais e Sintomas
Acidente com Arma Branca,laborais e causa externa Quedas com fraturas
Afecções Neuro-hematológicas
Afecções Cardiovasculares
Acidente Ofídico
75
Figura 5 – Tipos de situações de urgência e emergência com vizinhos
amigos,comunidade abacatal,2011
Foram obtidos 14 tipos de situações. As mais frequentes foram os
traumas contusos(04) e urgências clinicas com (04).Segundo Coimbra et al (1998),
trauma, é toda e qualquer agressão ao corpo provocado por um agente causador se
constituindo em uma solução ou não de continuidade, podendo atingir diversas
estruturas.Considerando as respostas dos sujeitos sobre as situações de urgência e
emergência mais frequêntes na comunidadde obtivemos o seguinte resultado
(Gráfico 3).
Figura 6 – Situações mais frequentes de urgência e emergência
na comunidade abacatal,2011
4 4
3
2
1
Trauma Fechado Contuso
Clinicas Trauma Aberto por Arma Branca
Não souberam responder
Picada de Cobra
10
6
3 3 2 2
0
2
4
6
8
10
12
Picada de Cobra
F.A.B. Queda de Arvore
Diarréia Fratura Gripe
76
Emergiram 10 casos de picada de cobra, seguidos de 6 casos de
ferimentos por arma branca (FAB), que são cortes provocados por terçado,
machado, enxada e foice, utilizados na roça sem o uso de proteção.
Acidente ofídico ou ofidismo é aquele causado por serpentes
peçonhentas ou não peçonhentas.As serpentes peçonhentas são todas as que
possuem glândula de veneno e aparelho inoculador (presas); por exemplo:
surucucu,jararaca, cascavel e coral; enquanto as não peçonhentas não possuem
veneno e nem o aparelho inoculador (presa); por exemplo: jiboia, sucuri. O ofidismo
atualmente é um problema de saúde pública, em virtude do grande número de
pessoas acidentadas no Brasil. A região Norte contribui com 9,36% dos casos
brasileiros (LEÃO, 1997).
3.2.2. Os cuidados prestados nas situações de urgência e emergência
Os cuidados prestados pelos sujeitos nas situações de urgência e
emergência envolvendo-os diretamente e/ou família, vizinhos e amigos, foram assim
distribuídos ( Grafico 4).
Figura 7: Os modos de cuidar dos sujeitos na comunidade abacatal,
2011
Verificamos entre os sujeitos que há 17 sujeitos que tanto cuidaram com
procedimentos como encaminharam para fora da comunidade (40%); e 16 que só
encaminham para fora da comunidade (37%) e 10 que só cuidaram com
40%
37%
23% Cuidam realizando procedimentos e encaminhamentos
Só realizam encaminhamentos
cuidam realizando procedimentos na própria comunidade
77
procedimentos realizados na própria comunidade.a maioria realizou dois modos de
cuidado(na comunidade e fora da comunidade).
Nestas seções 3.2.1 e 3.2.2, a nosso ver, foi atingido o primeiro objetivo
de identificar os tipos de situações de urgência e emergência mais frequêntes na
comunidade.
Considerando que o cuidado cotidiano foi analisado com base nas três
dimensões de Teixeira (2001), passamos a tratar desse aspecto na próxima seção.
3.2.3 As dimensões do cuidar cotidiano em situações de urgência e
emergência
DIMENSÃO INTERATIVA
A Dimensão Interativa do cuidado cotidiano de saúde (TEIXEIRA, 2001),
se constitui no entrelaçamento das vias institucionais e locais com os agentes
profissionais e populares. Caracteriza-se pelos ENCONTROS E DESENCONTROS
(com ou sem negociações) em que se vivenciam, no cotidiano, as situações de
urgência e emergência. Tais encontros – desencontros formam os itinerários
terapêuticos da comunidade.
Nesta dimensão emergiram da análise do conteúdo das respostas dos
sujeitos três idéias-chave, representadas no Diagrama 1. As três indicam os meios
utilizados para os encontros do cuidar-cuidado, os sujeitos que são os “atores
sociais” nesses encontros e os lugares que são a “porta de entrada” dos sujeitos
após se envolverem numa situação de urgência e emergência. As unidades de
registro que deram origem a dimensão estão no quadro 4 (Apêndice C).
78
Diagrama 2 - Os encontros em situações de urgência e emergência
Segundo Kleinman (1980), os itinerários terapêuticos são os cuidados à
saúde adotados por cada indivíduo, sendo construído através das relações
interpessoais. As escolhas são influenciadas por três setores representados pela
família, setor de maior poder na determinação do itinerário terapêutico; pelos
profissionais, não reconhecidos legalmente, mas que se apresentam nas crenças
sociais dos indivíduos com os mesmos valores culturais e pelos profissionais da área
da saúde, que geralmente tem um poder menor de influência na determinação dos
cuidados à saúde, por ainda priorizarem o aspecto biológico.
Constatamos no que se refere aos dispositivos – meios que os moradores
da comunidade utilizam o telefone, carro particular ou alugado, carro da polícia,
moto, bicicleta, ônibus, e ainda vão a pé em busca de atendimento.
79
Quanto aos sujeitos, verificamos que em sua maioria, quando existe
alguma situação de urgência e emergência, procuram ajuda da esposa, mãe, sogra,
amigo, irmã, amigos, avô, filha e membros da associação, para o primeiro
atendimento ou ajuda na busca desse cuidar cotidiano fora de seus limites
geográficos.
As unidades “porta de entrada” dos sujeitos nas situações de urgência e
emergência são de diferentes municípios. O Hospital do pronto Socorro Municipal da
14 localiza-se em Belém: as unidades do Centro de Saúde do Aurá,Hospital de
clínica Hospital Anita Gerosa , Pronto Socorro da Cidade Nova e Hospital Modelo
no município de Ananindeua; a Unidade de Urgência e Emergência no município de
Marituba. Isso significa que os moradores (as) desenvolvem na comunidade as
primeiras ações de cuidar, e buscam o cuidar profissional fora de seus limites
geográficos.
Os moradores quando decidem buscar cuidado, utilizam diferentes meios
de transporte, da bicicleta até caminhadas de 8 kilometros; tais percursos podem
possibilitar o aparecimento de complicações, pois alguns meios de transporte são
inadequados; os itinerários são percorridos por meio de alianças interpessoais com
a família, amigos e conhecidos; como revelam as falas a seguir:
QC 09 [...o primeiro passo foi ligar para 192 né....como não veio o
192, ai eu tenho uma irmã que mora em Ananindeua,
aí liguei pra ela e ela trouxe o carro, a gente conseguiu
levar ele para o pronto socorro da 14, a gente levou ele
numa Kombi...]
QC 27 [...bom, primeiro aconteceu com o meu marido ele estava
bebendo num bar com o pessoal lá no bar, íi furaram ele, foi
a noite não tinha como levar, eu liguei para a minha mãe e
veio o carro da polícia ...]
80
QC 10 [ ... como os meus filhos, alguns sofrem de alergia, ai já fui
parar na emergência também com minha filha menor com
alergia, só que saímos daqui de madrugada ela toda
inchada, toda vermelha direto para a emergência de
bicicleta...]
QC 03 [ ...mandei chamar a mãe dele, porque estava sozinha
em casa, e sempre que acontecia essas coisas eu pedia
ajuda dela, pelo fato de ser uma idosa...]
[... passou um amigo de moto e perguntou se a gente
queria um taxi. Levei para a emergência de Marituba e de
lá foi transferido para o pronto socorro da 14... ]
Consideramos importante destacar que em situações de urgência e
emergência, o atendimento deve ser realizado na primeira hora, denominada de
”HORA OURO”; logo após a ocorrência, evidenciando-se a importância do
atendimento no local do evento, com intervenções básicas para a manutenção da
vida, com transporte seguro para o atendimento intra-hospitalar nas unidades de
referência. Segundo Cavalcante (2011), quanto à garantia de acessibilidade que
envolve as grandes distâncias geográficas na Amazônia Paraense, esta é uma
barreira que dificulta e/ou impossibilita os quilombolas de terem acesso a muitos
serviços de saúde.
A literatura que trata de acesso à saúde indica que as distintas
características do sistema e da população podem determinar a possibilidade de
ingressar no mesmo ou não, mas a prova do acesso em si não consiste na
disponibilidade dos serviços e recursos, mas sim no fato de que os serviços sejam
utilizados por quem os necessite. Segundo Cavalcante (2011) não há uma política
nacional de acesso e acessibilidade aos serviços de saúde e sim uma política de
oferta de serviços, pois não há uma preocupação dos gestores em garantir
condições de acesso e oportunidade de acessibilidade, não agregando
características multidimensionais que possibilitem a utilização da atenção básica até
81
os cuidados recebidos em qualquer nível de complexidade da atenção a saúde.
Dessa forma, amplia-se a vulnerabilidade social e atinge-se diretamente a saúde
coletiva e individual não permitindo avançar na concretização da Política Nacional de
Saúde Integral a População Negra.
A nosso ver, a dimensão interativa possibilitou-nos constatar que em sua
grande maioria os moradores da comunidade quilombola de Abacatal não dispõem
de mecanismos de acesso e acessibilidade ao sistema de atenção à saúde. As
ofertas de serviços de atenção às urgências e emergências se concentram nas
sedes dos municípios, ficando a uma distância considerável, assim, ficam expostos
aos riscos de morte e iatrogenias por falta de atendimento imediato de qualidade
segundo a Política Nacional de Atenção as Urgências.
Quanto ao itinerário terapêutico especificamente, destaca-se que há um
movimento articulado entre situações – sujeitos – meios – serviços. Mais uma vez os
atores locais (família principalmente) se destacam. Cabe então refletir sobre a
centralidade da família na política pública – Estratégia Saúde da Família (ESF).
Segundo Chase (2010), a família como foco da atenção é um dos
atributos da Atenção Primária em Saúde, sendo necessário conhecê-la em sua
dinâmica e assistí-la em suas necessidades individuais e de grupo em interação.
Reconhece-se o contexto familiar como o espaço primeiro de identificação e
explicação do adoecimento de seus membros e onde este adoecimento adquire
maior relevância. Tais características tornam a família uma unidade de cuidados,
devendo ser compreendida pelos profissionais de saúde em suas interrelações, ao
mesmo tempo em que é uma unidade prestadora de cuidados, podendo tornar-se
uma parceira dos serviços de saúde no cuidado de seus membros. A Estratégia
Saúde da Família tem como proposta estabelecer esta parceria com a família
tornando-a mais autônoma, mais independente, contribuindo assim para a
construção de sua cidadania.
Ainda segundo Chase (2010), a família é um espaço de cuidados
naturalmente reconhecido podendo ser confirmado pelas responsabilidades que lhe
são atribuídas para com os seus membros. É na família que se dá os primeiros
cuidados permitindo que o indivíduo não só desenvolva o corpo biológico, mas
também sua inserção social; a família é um espaço de cuidados, de transmissão da
cultura, e de socialização. Para que a família desenvolva suas atribuições algumas
de suas funções são assumidas junto com o Estado, a exemplo da proposta da ESF;
82
a família passa a ser o principal objeto da atenção em saúde reconhecida suas
potencialidades, isto é: a família é um grupo social que compartilha
responsabilidades, um espaço de construção de relações entre seus membros e
com a sociedade, e um espaço que articula estratégias para a sobrevivência de seus
membros e de si mesma. Diante de tudo isso a Estratégia Saúde da Família é tida
como uma possibilidade de mudança do modelo assistencial vigente, nela a família
passa a ser o foco da atenção em substituição ao modelo que privilegia o foco sobre
o indivíduo dividido em órgãos, descontextualizado de seu ambiente familiar e social.
Se houver um investimento cuidativo – educativo com as famílias,
poderemos garantir “primeiros socorros” de melhor qualidade, até o acesso ao
sistema oficial de saúde. Assim, emerge dessa dimensão, um indicativo para ações
– intervenções informativas – educativas, para fortalecer os itinerários terapêuticos
locais no Abacatal.
Segundo Carvalho (2001), a educação em saúde torna-se uma
“construção compartilhada de conhecimentos”. Ela parte da experiência e práticas
dos sujeitos envolvidos buscando “intervenção nas relações sociais que vão
influenciar a qualidade de suas vidas” e que, consequentemente, vão reproduzir
outras representações.
Para Soares et al (2010) a educação em saúde é um campo
multifacetado, para o qual convergem diversas concepções, das áreas da educação,
quanto da saúde, as quais espelham diferentes compreensões de mundo,
demarcadas por distintas posições político-fiosóficas sobre o homem e a sociedade.
Muitas vezes, a educação em saúde ainda é entendida como transmissão de
conhecimento acerca de conteúdos predefinidos pelos profissionais da área da
saúde, modelo que, por vezes, não atende satisfatoriamente as necessidades de
aprendizagem do público. Isso ocorre porque, para educar alguém, é preciso ir ao
encontro dos interesses do educando, oferecendo conteúdos e práticas que sejam
em consonância com suas atividades. Somente dessa forma é que as ferramentas
oferecidas pela ação educativa poderão servir para a realidade dos sujeitos
envolvidos na ação.
Para Sabóia (2003), na prática educativa em saúde esse poder
disciplinador também pode ser evidenciado. A ordem para o atendimento, os
critérios de inclusão e/ou exclusão do cliente nos grupos, os nomes utilizados que
rotulam os clientes com essa ou aquela doença, o fornecimento de medicações
83
específicas apenas para os que frequentam “as palestras” a distância entre os
valores dos profissionais e da clientela, a utilização de material didático e do
conteúdo (às vezes inadequado) e até a linguagem são estratégias do poder
disciplinador.
Para Mendonça (1982) a educação em saúde é uma prática social,
devendo ser centrada na problematização do cotidiano, na valorização da
experiência de indivíduos e grupos sociais e na leitura das diferentes realidades.
Vista como prática social, a educação em saúde passou a ser repensada como um
processo capaz de desenvolver a reflexão e a consciência crítica das pessoas sobre
as causas de seus problemas de saúde, enfatizando o desencadeamento de um
processo baseado no diálogo, de modo que se passe a trabalhar com as pessoas e
não mais para as pessoas. Esse diálogo assume o pressuposto de que todos
possuem potencial para serem protagonistas de sua própria história, de que estão
motivados para se organizarem e de que possuem expectativas sobre as
possibilidades de mudança.
Para Brandão (2002), como uma prática social, a educação em saúde traz
implícita uma visão cultural, que consiste em valores, crenças e visões de mundo,
situados em um tempo e espaço delimitado. Ela se define a partir da maneira como
as pessoas vivem e entendem a vida e com negociações cotidianas, nas quais cada
um torna a vida social possível. Assim, tudo aquilo que é chamado de educação e
de saúde acontece também no âmbito da cultura. Se a cultura é algo que se
reproduz, sob determinadas condições, a educação e a saúde também estão
relacionadas a essas condições e são determinadas pelo modelo econômico,
político, social e cultural de um país.
Segundo Caldeiras (1997), muitos são os princípios e os conceitos que
fundamentam a prática da educação em saúde e da promoção em saúde. Sem cair
em armadilhas reducionistas, a educação em saúde (não confundir com informação
em saúde) procura desencadear mudanças de comportamento individual, enquanto
a promoção em saúde, muito embora inclua sempre a educação em saúde, visa a
provocar mudanças de comportamento organizacional, capazes de beneficiar a
saúde de camadas mais amplas da população, particularmente, porém não
exclusivamente, por meio da legislação.
Com base nessas posições, acreditamos que as interações reveladas
pelos sujeitos do cuidar – cuidado apontam que a família é central nessas in
84
terações e há de ser o centro-núcleo do agir das ESF, com ênfase em práticas
educativas “inclusivas” e dialogais sobre as situações de Urgência e Emergência.
Mas para além das interações, cabe dar valor, no cotidiano, à dimensão cognitiva,
do que tratamos a seguir.
DIMENSÃO COGNITIVA
A dimensão cognitiva do cuidado de saúde (TEIXEIRA, 2001), se organiza
em torno dos SABERES – CONHECIMENTOS (DESCONHECIMENTOS) dos
moradores sobre o cuidar. Segundo Piaget (1974), o conhecimento não está no
sujeito – organismo, tampouco no objeto – meio, mas é decorrente das contínuas
interações entre os dois. Para o autor, a inteligência é relacionada com a aquisição
de conhecimento à medida que sua função é estruturar as interações sujeito- objeto.
Assim, para o autor, todo pensamento se origina na ação, e para se conhecer a
gênese das operações intelectuais é imprescindível a observação da experiência do
sujeito com o objeto. Para o autor conhecer tem sentido claro: organizar, estruturar
e explicar, porém, a partir do vivido (experienciado). Conhecer não é simplesmente
contemplar, imaginar ou representar o objeto; conhecer exige uma ação sobre o
objeto para transformá-lo e para descobrir as leis que regem suas transformações.
Conhecer é compreender, é distinguir as relações necessárias das contingentes;
levando em conta não só o atual e explícito como o passado, o possível e o implícito.
Nesta dimensão emergiram a partir da análise dos conteúdos das
interlocuções dos sujeitos duas idéias- chave, representadas no Diagrama 2. As
duas indicam o conhecimento sobre o cuidar paliativo e o desconhecimento do
cuidar avaliativo em situações de urgência e emergência nas primeiras horas após o
ocorrido. As unidades de registro que deram origem a dimensão estão no Apêndice
C.
85
Diagrama 3 - Saberes – conhecimentos (desconhecimentos) no cuidar em
situações de urgência e emergência
Cuidado Cotidiano
Conhecimentos sobre o Desconhecimentos sobre o
cuidar-cuidado Paliativo das cuidar-cuidado Avaliativo dos ações nas primeiras horas riscos nas primeiras horas após o ocorrido após o ocorrido
O cuidar-cuidado avaliativo significa o ato de avaliar a gravidade do
trauma e a instituição de manobras para manutenção básica da vida, no local do
evento, que podem representar a oportunidade de sobrevida para as vítimas de
trauma até a sua chegada ao hospital.
Segundo Silva (2009), os riscos á situações de urgência e emergência
são eventos adversos relacionados ao processo de cuidar; é necessário que se
reconheçam quais são os riscos aos quais o paciente está exposto, por meio da
avaliação de risco. São chamados eventos adversos em saúde “as injúrias não
intencionais decorrentes da atenção à saúde não relacionada à evolução natural da
doença de base, que ocasionam lesões nos pacientes acometidos, prolongamento
do tempo de internação e/ou morte”. O risco expressa uma probabilidade de
possíveis danos que podem ser entendidos como lesões às pessoas, danos aos
equipamentos, às instalações, ao meio ambiente, perda de material em processo, ou
redução da capacidade de produção.
São passados de geração a
geração (Transmissão
Intergeracionais)
Expõem os indivíduos à
riscos de iatrogenias e morte
86
Segundo Galdino e Nunes (2000), latrogenia é a ocorrência de uma
alteração indesejável, de natureza prejudicial ou danosa, desencadeada por
omissão ou ação inadvertida ou falha, voluntária ou involuntária praticada por quem
assiste, mais importante do que apontar quais são, já que podem ser inúmeras, seria
identificar em que circunstância podem ocorrer
Desconhecer o que fazer nas primeiras horas após ocorrer uma situação
de urgência e emergência é extremamente perigoso, expondo os sujeitos à risco de
complicações até mesmo podendo levar a óbito quando os cuidados não são
adequados aos indivíduos.
A nosso ver, essa dimensão revelou que os moradores da comunidade
quilombola de Abacatal desconhecem princípios avaliativos para o atendimento em
situações de urgência e emergência, como se revela nas falas a seguir:
QC 10 “[... a princípio eu tenho que saber a definição de urgência e
emergência né?...]
Nos casos referidos a asma e a q-boa? Olha a prioridade
QC 65 pra mim... é como eu venho fazendo, né, dando remédio caseiro.
É a minha prioridade ainda! Apesar de a pediatra me alertar que
não é o melhor a se fazer, né !
QC 15
Mais uma vez revela-se a importância de um trabalho cuidativo-educativo com
as famílias sobre “primeiros socorros”, mas ainda é pouco, a nosso ver. O depoimento a
seguir ilustra o que estamos debatendo.
[...meu neto se queimou,na hora molharam ele e passaram
uma pomada,eu passaria banha de galinha com uma pena...]
87
[...olha nós já tivemos algumas palestras só que daqui de
dentro as pessoas mais antigas nunca tiveram. É, mas cada
família se reserva, o antigo vai passando os ensinamentos
pra sua geração mais de fora; a gente já teve palestra sobre
doença sexualmente transmissível, sobre quedas, sobre o
veneno de cobras, sobre diarreia, vômito, infecção intestinal,
urinária, sobre doenças femininas de mulheres...]
QC 10
O cuidar-cuidado paliativo é oriundo de transmissão intergeracional,
Segundo Lisboa, Féres-Carneiro, Jablonski (2007), compreende a travessia de uma
geração à seguinte de legados, rituais e tradições, a qual pode ser consciente ou
inconsciente. Como uma modalidade da transmissão psíquica, a transmissão
intergeracional compreende a possibilidade de uma geração transformar uma
herança psíquica ou cultural, muitas vezes patológica.
A transmissão intergeracional permite continuar a identidade de uma
família através de um legado estruturante de rituais e mitos, por exemplo. O
processo de transmissão é importante para o universo grupal, porque é uma função
de base na construção de uma identidade, assim como permeia a construção da
subjetividade dos membros do grupo. Num grupo familiar, o sentido da transmissão
ganha estatuto de travessia de uma história particular, de acontecimentos
circunscritos nessa história e dos laços estabelecidos de uma pessoa para outra ou
de uma geração para outra (CORREA, 2000).
Com base nessas posições, acreditamos que os conhecimentos paliativos
revelados pelos sujeitos do cuidar-cuidado indicam e reforçam a importância da
família e das ações cuidativas-educativas. Essa dimensão será ampliada ao
destacarmos as relações e conexões com a natureza, do que tratamos a seguir.
DIMENSÃO CONECTIVA
A terceira e última dimensão do cuidado cotidiano de saúde (TEIXEIRA,
2001), é a conectiva. Caracteriza-se mediante as sub-dimensões: a) conexão
88
HOMEM-VEGETAL (plantas e outros dispositivos usados no cuidar-cuidado); b)
conexão HOMEM-ANIMAL (os animais ou partes deles utilizados no cuidar-cuidado);
c) conexão HOMEM-MINERAL (destacando-se a relação com o solo-água-minerais).
Na Amazônia, o uso dos recursos naturais no cuidar-cuidado da saúde é
tão antigo quanto a sua história. Segundo Alvin (1999), recursos naturais são
elementos da natureza com utilidade para o homem, com o objetivo do
desenvolvimento da civilização, sobrevivência e conforto da sociedade em geral.
Podem ser renováveis, como a energia do sol e do vento. Já a água, o solo e as
árvores que estão sendo considerados limitados, são chamados de potencialmente
renováveis. Há ainda os não renováveis, como o petróleo e minérios em geral.
Os recurso naturais são componentes, materiais ou não, da paisagem geográfica,
mas que ainda não tenham sofrido importantes transformações pelo trabalho
humano e cuja própria gênese é independente do homem, mas aos quais lhes foram
atribuídos, historicamente, valores econômicos, sociais e culturais. Portanto, só
podem ser compreendidos a partir da relação homem-natureza. Os recursos naturais
são muito importantes para o mundo humano e também para o cuidar-cuidado da
saúde.
Atualmente, as mudanças econômicas, políticas e sociais que eclodiram
pelo mundo afora, influenciaram não só a saúde das pessoas como também os
modelos de cuidado. O uso terapêutico de recursos naturais no cuidado humano,
que antes estava situado às margens das instituições de saúde, hoje tenta legitimar-
se nesse meio dominado pelas práticas alopáticas. Nesse contexto, se percebe uma
necessidade constante de se construir métodos alternativos para o ato de cuidar,
para que a prática possa ser desenvolvida mediante outras formas de tratamentos
não convencionais como é o caso da utilização de plantas medicinais. Portanto,
acredita-se que esta prática possa contribuir significativamente não só para o
resgate e preservação da diversidade cultural, mas, principalmente, para dar maior
autonomia ao usuário no que diz respeito ao seu próprio cuidado (ALVIM et al,
2004).
Nesta dimensão emergiram a partir da análise dos conteúdos das
interlocuções dos sujeitos duas das três conexões: conexão HOMEM-VEGETAL e
conexão HOMEM-ANIMAL, representadas no Diagrama 4.
89
Diagrama 4 – As conexões com a natureza no cuidado cotidiano em situações de
urgência e emergência.
Situações de urgência
e emergência
CONEXÃO CONEXÃO
HOMEM – VEGETAL HOMEM - ANIMAL
CASCA DE CAJU DIARREIA E VOMITO FEU DE PACA PICADA DE COBRA
INSUMO DO PALMITO ESTANCAR O SANGUE BANHA DE GALINHA MASSAGEM
CHA DE PARIRI ANEMIA BANHA DE JIBOIA TRAUMAS E DOR
ANADOR PLANTA DOR MUSCULAR
MEL,LIMÃO,GENGI- ASMA
BRE, ALHO E
ANDIROBA
No que se refere a conexão HOMEM-VEGETAL, destaca-se que segundo
Rosa et al (2007),apesar da utilização das plantas medicinais já fazerem parte da
cultura popular, nas últimas décadas o interesse pela fitoterapia teve um aumento
considerável entre usuários, pesquisadores e serviços de saúde. Na Declaração de
Alma-Ata, em 1978,a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece que 80% da
população dos países em desenvolvimento utilizam práticas tradicionais nos seus
cuidados básicos de saúde e 85% usam plantas ou preparações destas. Desde
então, a OMS tem expressado a sua posição a respeito da necessidade de valorizar
a utilização de plantas medicinais no âmbito sanitário e na atenção básica à saúde.
90
No Brasil, a temática foi levantada em diversas oportunidades, como em 1986, na 8ª
Conferência Nacional de Saúde, quando foi recomendada a introdução das práticas
tradicionais de cura popular no atendimento público de saúde.
Nesta conexão identificamos que os moradores da comunidade
quilombola de Abacatal utilizam recursos naturais para o cuidar-cuidado nas
situações de urgência e emergência utilizando meios alternativos como estratégia,
os remédios caseiros (chás, lambedores, folhas e flores de plantas, óleos e partes
de animais).
No que se refere a conexão HOMEM-ANIMAL, Silva (2008) afirma sobre o
uso de partes de animais em situação de saúde-doença, que os animais também
têm importância na cura de doenças físicas, as quais são associadas às causas
naturais (biológicas) e não-físicas (espirituais), de ordem sobrenatural ou
cosmológica. As doenças naturais são curadas por meio da medicina ocidental
(médicos, enfermeiros etc.) ou por meio de receitas fitoterápicas, sendo comum a
inclusão de partes de animais.
Nesta conexão constatamos que os moradores da comunidade
quilombola de Abacatal utilizam parte dos animais para cuidar em situações de
urgência e emergência assim como para tratar doenças.
Neste sentido infere-se que os sujeitos tem um conhecimento prático, de
senso comum, baseado na experiência de vida e de atuação, que gera concepções
e diagnósticos sobre os problemas encontrados, ao mesmo tempo em que orienta e
propõe intervenções mais eficazes na realidade. Portanto, o resgate destas
experiências, através da análise do conjunto de conhecimentos, pode trazer luz
sobre vários problemas encontrados no desenvolvimento do SUS(NAGA;QUEIROZ,
2011).
Constatamos no que se refere às conexões com a natureza entre os
moradores da comunidade, em situações de urgência e emergência, que utilizam
como meios alternativos, lançando mão prioritariamente dos remédios caseiros
como se revela nas falas a seguir:
QC 12 Asma [...primeiro eu dou o remédio caseiro. Mel,limão, gengibre
e alho e as vezes o azeite... o azeite de andiroba...ela regride, mas quando não acaba eu corro pro pronto socorro]
91
QC 10 Diarreia e vômito [..A gente chama o mais velho pra saber o que
fazer em casa, procuro o posto médico que fica no Aurá,
e...geralmente não faz efeito rápido..ai agente utiliza remédios
caseiros”chá travoso da casca do caju com goiaba que limpa o
intestino; chá de pariri e anador de planta..]
Nos cortes lavar bem com sabão; insumo do palmito(estancar o
sangue)e arvores travosas (insumo de caju ; ouriço de castanha
; o limão que ajuda a lavar o ferimento)
Picada de cobra utiliza o feu de paca. Espera uns dias, se surgi
efeito não procura o médico
QC 06 Picada de cobra [...Dei um colherzinha de feu de paca, que
dizem que é bom para o veneno não subir, e depois levamos
para o hospital...]
QC 09 Pancada no joelho. [...Fizemos massagem com banha e dei
remédio (diclofenaco) e no outro dia que foi para o médico...]
Estes recursos são utilizados porque são de fácil obtenção e baixo custo
e também por não disporem a curtas distancias de acesso e acessibilidade ao
sistema de atenção à saúde. As ofertas de serviços de atenção às urgências e
emergências se concentram nas sedes dos municípios, ficando a uma distância
considerável, assim, ficam expostos aos riscos de morte e iatrogenias por falta de
atendimento imediato de qualidade segundo a Política Nacional de Atenção as
Urgências (BRASIL, 2003).
92
Essa dimensão conectiva reforçou como as duas anteriores, a relevância
de uma intervenção cuidativo-educativa com as famílias sobre situações de urgência
e emergência.
Nesta seção 3.3.3 a nosso ver, foi atingido o segundo objetivo específico
do estudo: “caracterizar as dimensões do cuidado cotidiano em situações de
urgência e emergência”.
93
4 CONSIDERAÇÕES TRANSITÓRIAS
Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal
94
Muitas foram as reflexões realizadas ao longo desse estudo. Entre
questionamentos, dor, alegrias, perplexidades, ao conviver por quase 2 anos com as
famílias da comunidade quilombola de Abacatal,algumas idéias se tornaram
elucidativas para mim, a partir das questões iniciais suscitadas e desenvolvidas ao
longo dos capítulos. Muito mais, do que buscar explicações dos fatos, compartilhei
idéias, que ao longo do trabalho de campo foram me possibilitando pensar sobre a
realidade de vida das famílias da comunidade Quilombola de Abacatal.
A história de vida das famílias e suas lutas no decorrer de décadas para
obter o direito constitucional de ter suas terras e condições de saúde muito me
chamaram atenção, pois a complexidade do viver e sobreviver frente a dificuldades
lhes impõe permanentemente inúmeros deslocamentos e estratégias diversas, como
transformar o que foi plantado, cultivado e colhido em recursos financeiros é buscar
o que lhe é direito, como o acesso e acessibilidade aos serviços de saúde, que lhes
serão negado frente as condições precárias das estradas de acesso, permitindo
muitas vezes que apenas de bicicleta ou mesmo a pé obtenham atendimento de
saúde. Esse universo de desafios – limites possibilita às famílias recriarem e
inventarem uma cultura própria, para sobreviver. Ao traduzir o universo de suas
práticas em situações limite entre viver e morrer pude compreender essa realidade e
constatar, os elos explicativos sobre cuidar cotidiano em situações de urgência e
emergência nesse contexto.
Os objetivos propostos para este estudo foram alcançados e reforçaram a
tese de que conhecimentos, atitudes e práticas adequadas constituem elementos
importantes para a intervenção preventiva e o atendimento às situações de urgência
e emergência vivenciadas pelos moradores adultos da comunidade.
Existem dificuldades no acesso aos serviços de saúde por conta das
condições ruins das estradas, a distância e os meios de transportes deficientes,
evidenciando-se com isso complicações e riscos por demora ou falta de atendimento
imediato. Isso nos faz afirmar que a maioria dos moradores da comunidade não
dispõem de mecanismos de acesso e acessibilidade a rede de atenção à saúde.
Há um movimento por parte dos moradores, e o itinerário terapêutico se
dá entre situações – meios – serviços, com destaque para a família e mais
especificamente as mães-mulheres da família, o que reforça a importância destas no
trabalho educativo-cuidativo.
95
O nível de conhecimento e atitudes desses moradores em relação aos
cuidados em situações de urgência e emergência evidenciam claramente a
existência de lacunas em relação ao cuidado avaliativo e ao conceito de riscos e
iatrogenias que podem existir durante a primeira hora ,conhecida como “HORA
OURO” , bem como inconsistências sobre percepção do risco, vulnerabilidade e
outros fatores que contribuem para o agravo à saúde quando não há um
atendimento adequado nestes casos na comunidade.
Conclui-se que os cuidados cotidianos em situações de urgência e
emergência não são suficientes, pois são mais paliativos que avaliativos.
Assim é necessário criar espaços de discussão e reflexão na academia e
na comunidade, de modo a debater sobre as crenças e concepções, que ainda
fazem parte do imaginário social desses segmentos sobre os cuidados em situações
de urgência e emergência. Há que se criar e desenvolver mecanismos de inclusão
dos saberes populares nas novas gerações, e dessa forma manter a tradição
passada de geração para geração.
Na Universidade do Estado do Pará há que se desenvolver projetos de
extensão, no intuito de aproximar a comunidade acadêmica das comunidades
quilombolas e realizar práticas educativas em saúde; dessa forma, pode-se
proporcionar experiências inovadoras aos futuros enfermeiros para que venham
compreender sua história, lutas e cultura. Há que se desenvolver ações de
promoção a saúde, com intervenção cuidativo-educativa com as famílias sobre
situações de urgência e emergência.
Penso que é necessário o cumprimento pleno das políticas públicas de
atenção as urgências, assim como das políticas de saúde das populações
tradicionais; há que se buscar mecanismos que possibilitem aos quilombolas ou
remanescentes de escravos, o acesso e a acessibilidade ao sistema de atenção à
saúde, com maior envolvimento das equipes da Estratégia Saúde da Família (ESF),
no intento de legitimar as práticas populares de saúde, juntamente com o Sistema
Único de Saúde no Estado do Pará.
96
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103
104
APÊNDICE A
Universidade do Estado do Pará
Centro de Ciências Biológicas e da Saúde
Escola de Enfermagem”Magalhães Barata”
Programa de Pós-Graduação em Enfermagem
Mestrado Associado em Enfermagem UEPA / UFAM
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Título da Pesquisa
Cuidar Cotidiano em situações de Urgência e Emergência em Comunidade Quilombola da Amazônia Paraense
Venho por meio deste, convidá-lo (a) a participar da pesquisa da mestranda Vera Lúcia Gomes de Oliveira, a qual desenvolve suas atividades na Escola de Enfermagem “Magalhães Barata” – Campus IV da Universidade do Estado do Pará (U EPA), vinculada ao Programa de Pós Graduação em Enfermagem. Mestrado Associado em Enfermagem UEPA / UFAM, tendo como orientadora a Profª Drª Elizabeth Teixeira. Esta pesquisa tem como objetivo: Descrever os cuidados cotidianos em situações de Urgência e Emergência dos moradores de uma Comunidade Quilombola da Amazônia Paraense. Esclarecemos que o Sr (a) será informante da pesquisa participando de uma entrevista semi-estruturada com perguntas direcionadas ao objetivo proposto. Para o registro das informações coletadas serão utilizadas anotações diretas e um gravador de voz; assim como o uso de imagens. Após a obtenção dos dados, os mesmos serão organizados para análise. O resultado final da pesquisa será apresentado na UEPA e demais eventos científicos e/ou publicado. Será assegurado aos participantes total sigilo sobre sua identidade e para não identificá-los serão utilizados pseudônimos. A sua participação nesta pesquisa não acarretará nenhum prejuízo de ordem física ou moral. Vale ressaltar que sua participação poderá ser interrompida a qualquer momento e também poderá desautorizar a pesquisadora de fazer uso de suas informações. O benefício advindo da execução e análise deste projeto perpassa pela possível contribuição para melhoria das ações desenvolvidas pelos profissionais da área de saúde e mais especificamente, para os enfermeiros, que saberão como lidar em situações descritas na pesquisa, e assim, poder prestar uma melhor assistência.
Vera Lúcia Gomes de Oliveira (91) 8128-1183 / 8848-4819
CONSENTIMENTO LIVRE ESCLARECIDO
Eu ______________________________________ declaro que li as informações sobre a pesquisa e
que me sinto perfeitamente esclarecido (a) sobre o conteúdo da mesma. Declaro ainda que, por
minha livre vontade, aceito participar cooperando com a coleta de informações para a mesma.
Belém, ___/___/___
____________________________________
Assinatura do sujeito da pesquisa
* Comitê de Ética em Pesquisa da EEMB - Av. José Bonifácio, Nº. 1298 – Guamá – Belém/PA –
Fone: (091) 3229-1131 / 3249-0236
105
APÊNDICE B
Universidade do Estado do Pará
Centro de Ciências Biológicas e da Saúde
Escola de Enfermagem”Magalhães Barata”
Programa de Pós-Graduação em Enfermagem
Mestrado Associado em Enfermagem UEPA / UFAM
ROTEIRO DE ENTREVISTA
Parte 1 – Dados sócio-demográficos
a) Do Informante:
Idade:____________
Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino
Cor: ( ) Branca ( ) Negra ( ) Parda ( ) Amarelo
Estado Civil:( ) Solteiro ( ) Casado ( ) Viúvo ( )
Escolaridade: ( ) Analfabeto ( ) Desconhecida ( ) 1º Grau Incompleto ( ) 1º Grau Completo ( ) 2º Grau Incompleto ( ) 2º Grau Completo ( ) 3º Grau Incompleto ( ) 3º Grau Completo
Ocupação: _______________________________
b) Da Família
Quantos membros residem na casa? ________________________
Grau de Parentesco. ( ) Esposa; ( ) Filho; ( ) Pai; ( ) Mãe; ( ) Irmãos ( ) Outros: ___________
c) Da Casa
Tipo de Moradia:
( ) Madeira; ( ) Alvenaria; ( ) Pau a pique;
Nº de Cômodos: ___________
Destino do Lixo:___________________________________
Origem da água? ( ) Poço; ( ) Encanada; ( ) Outra.
Qual:_____________
106
Destino do esgoto: fossa séptica ( ) fossa negra ( )
Animais domésticos. ( ) Cachorro; ( ) Gato; ( ) Outros. Quais____________
Parte 2 – Questões Específicas – Temas Indutores
a) Tipos de situações de Urgência e Emergência mais frequentes na / com sua família que mora com o Sr/Sra: características das situações,sujeitos envolvidos, cuidados prestados (as mais frequentes e/ou as mais recentes (nesse ano) e/ou mais graves segundo o Sr./Sra).
b) Tipos de situações de Urgência e Emergência mais freqüentes na / com seus vizinhos / amigos / parentes que moram na mesma casa: características das situações,sujeitos envolvidos, cuidados prestados (as mais frequentes e/ou as mais recentes (nesse ano) e/ou mais graves segundo o Sr./Sra).
c) Ao se prestar um cuidado em situações de Urgência e Emergência:
o que é prioritário, essencial, muito importante de se fazer nesses casos?
O que se usa normalmente (materiais, objetos, recursos etc aqui no Abacatal?
O que faz depois dos primeiros cuidados, se leva para algum lugar (onde), se chama alguém (quem), o que acontece aqui no Abacatal?
d) Que tipo de situação de Urgência e Emergência é mais frequente na comunidade: razões e porquês?
e) Ações preventivas às situações de Urgência e Emergência: o que pode prevenir, ações para se evitar, se fazem essas ações aqui no Abacatal: razões e porquês?
f) Outros aspectos?
107
APÊNDICE C
QUADRO 1 – SITUAÇÕES DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA MAIS FREQUENTE
NA /COM A FAMÍLIA DO SUJEITO DO ESTUDO
QC SITUAÇÃO ENVOLVENDO A FAMÍLIA
01 [...sou diabético e minha perna ficou inchada...]
[...meu neto quebrou o braço...]
03 [...dor na barriga e febre (Marido)
[...minha tia tem diabetes, quando passa Mal começa se bater, bate nas pessoas...]
06 [...meu filho foi picado por cobra...]
[...mãe diabética...]
09 [...deu derrame no meu pai...]
10 [...diarreia e vomito nos filhos...]
[...esposo e sobrinho cortes de terçado e machado...]
[...mãe com ferrada de cabas...]
[...sobrinho com picada de cobra...]
11 [...sangramento pelo nariz na minha filha...]
[...queda com quebra do braço no meu Filho...]
[...irmã com febre e pressão alta...]
[...sobrinho quebrou o braço em 2 partes...]
12 [...asma dos filhos...]
[...caiu Q-boa nos olhos da minha irmã...]
13 [...tive hemorragia vaginal...]
[...fraturas no braço dos meus filhos..]
[...sobrinho com dor abdominal por crise de apendicite...]
[...pai diabético...]
15 [...foi meu neto que sofreu queimadura..]
16 [...corte no dedo com terçado do marido, com perda do dedo...]
25 [...tive uma dor de cabeça e tonteira...]
27 [...ferimento com arma branca no abdome e corte na perna com moto serra no meu
marido...]
33 [...filha com vômito e diarréia...]
[...filha menor quebrou as 2 canas do braço...]
[...tia Izabel que adoece muito...]
37 [...fui picada por uma cobra...]
44 [...minha filha com dor de cabeça e vômito...]
53 [...queda da minha mãe andando pelo terreno...]
108
58 [...minha sobrinha tem problema de anemia profunda...]
[...uma sobrinha sofreu acidente de moto que cortou a perna...]
63 [...eu atirei no bandido e ele morreu...];
[....minha mulher teve problema de coração, se operou...]
64 [...minha filha que deu dor para ter nenê...]
[...meu filho com dor de ouvido, cabeça e dente...]
65 [...eu mesma tive queimadura com tucupi fervendo nas pernas...]
[...meu filho com dor de crise de apendicite...]
109
QUADRO 2 – CUIDADOS PRESTADOS ÀS SITUAÇÕES DE URGENCIA E
EMERGENCIA NA /COM A FAMÍLIA
QC CUIDADOS PRESTADOS
01 [...fui com minha esposa para o hospital e passei 10 dias internado...]
[...tive que andar com ele 2 horas da madrugada pra urgência e emergência de
marituba...]
03 [...Chamei a mãe dele que conhece remédios e chás de ervas do mato e levamos
para a emergência de marituba...]
[...a gente passa álcool nela, passa arruda, chama um taxi, leva para a emergência...]
06 [...dei um colherzinha de feu de paca, que dizem que é bom para o veneno não subir,
e depois levamos para o hospital...]
[...vou lá 2 a 3 vezes na semana para fazer remédio caseiro, ela não gosta muito de
médico, só de remédio caseiro...]
09 [...eu e minha irmã levamos para o pronto socorro da 14...]
10 [...a gente chama o mais velho pra saber o q fazer em casa, procuro o posto médico
que fica no Aurá, e...geralmente não faz efeito rápido..ai agente utiliza remédios
caseiros”chá travoso da casca do caju com goiaba que limpa o intestino; chá de pariri
e anador de planta...]
[...os cortes e as ferradas de cabas a gente cuida mais em casa,como nos casos de
ferrada de cobra com fel de paca...]
11 [...botei algodão no nariz para tentar estancar o sangue; imobilizar e levar p
emergência...]
[...não foi feito nada, nem imobilizaram, porque como quebrou em duas partes ficou
difícil de mover e ele chorava muito...só depois levamos para o hospital...]
[...demos remédio caseiro e depois levamos para a emergência...]
12 [.. primeiro eu dou o remédio caseiro. Mel, limão, gengibre e alho e as vezes o
azeite... o azeite de andiroba...ela regride, mas quando não acaba eu corro pro
pronto socorro]
[...lavamos com água e sabão...]
13 [...comprimido pra cólica e compressa com água morna...]
[... imobilizar com fralda e levar para emergência...]
[...levar para a emergência...]
[... fazer o controle...]
15 [...na hora molharam ele e passamos uma pomada, para depois levar na
emergência...].. eu passaria banha de galinha com uma pena...]
16 [...amarrei o dedo que tinha muito sangue e levei pra emergência. Ele perdeu o
110
dedo...]
25 [...minha mãe fez chá de erva cidreira, não melhorou, ai fez um caribé colocou no
pano e na minha fonte e eu melhorei...]
27 [...amarramos e levamos para o pronto socorro...]
33 [..usei o marupazinho...]
[...coloquei uma fralda no braço e levamos imediatamente para o médico no pronto
socorro...]
[...eu levo logo para o médico, antes eu uso muito remédio caseiro...]
37 [...nenhum cuidado, na hora não tinha nada, não tem médico, sem transporte. Pela
manhã do outro dia que fui levada para o hospital já com hemorragia pela boca, dor,
inchaço e sem urinar...]
44 [...levamos para o médico...]
53 [...levamos imediatamente para o hospital de clinicas ou Anita Gerosa...]
58 [...um pessoal de fora que percebeu, fez exame e ai levamos para o médico...]
[...aqui não foi feito nada, levaram para fora de carro...]
63 [...não respondeu..]
[...faz controle e toma remédio...]
64 [...nos chamamos alguém para levar até a metade do caminho e a outra metade com
outro carro até o hospital...]
[... com o meu filho levamos para a emergência...]
65 [...no momento joguei bastante água, passei sabão, margarina e álcool, depois
procurei médico...];
[... depois de alguns dias levamos para o pronto socorro, onde foi operado...]
111
QUADRO 3 – SITUAÇÕES DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA MAIS FREQUENTE
COM VIZINHOS, AMIGOS.
QC SITUAÇÃO ENVOLVENDO VIZINHOS E AMIGOS
01 [...amigo que cortou a perna com machado...]
03
06
09 [...Meu compadre teve uma pancada no joelho
10
11 [...amigo picado de cobra...]
12
13
15 [...caso de violência com morte...]
16 [...um menino,meu vizinho cortou o pé com machado...]
25 [... meu primo deu uma doença nele que ele morreu de câncer...]
27 [...um rapaz da comunidade, em uma briga recebeu vários golpes de terçado,
sangrando muito...]
33
37 [...a filha da minha vizinha sofreu uma queda da moto e bateu muito a cabeça...]
44 [...cunhado sofreu acidente de moto com ferimentos na perna e no pé...]
53 [...filho de uma vizinha tem crise epilética por não tomar os remédios...]
58 [...uma sobrinha minha sofreu acidente de moto que cortou a perna...]
63 [...o pai de meu sobrinho de estimação, sofre de dor de cabeça...]
64 [...o filho da vizinha sentia muitas dores na barriga...]
65 [...no momento não sei dizer...]
112
QUADRO 4 – CUIDADOS PRESTADOS ÁS SITUAÇÕES DE URGÊNCIA E
EMERGÊNCIA COM VIZINHOS E AMIGOS.
QC CUIDADOS PRESTADOS
01 [...a Natalina fez os primeiros socorros e levamos para a emergência...]
03
06
09 [...a gente fez massagem com gel, deu remédio (diclofenaco),parar passar a dor ,
no outro dia ele procurar o hospital...]
10
11
12
13
15 [...foi levado por seus comparsas para o hospital na moto e nos chamamos a
policia...]
16 [...amarrei, coloquei ele no ombro e carreguei até aqui onde vinha um carro para
levar para o hospital...]
25 [...foi procurar saúde com o médico e já era tarde...ele tinha câncer...]
27 [...nos reunimos e resolvemos levar ele de bicicleta para o pronto socorro...]
33
37 [...não foi feito nada aqui, o pessoal foram atrás de carro e levaram para o hospital
de pois de muito tempo...]
44 [...ai ele foi para a emergência...]
53 [...a mãe não leva para a assistência médica...]
58
63 [...Eu ensino alguns remédios que eu sei, e ajudo no que posso...]
64 [...os pais ligaram para o carro vim, foi complicado levar ele,foi para o Anita e
depois para o pronto socorro...]; [... se não tem dinheiro é complicado...]
65 [...fazer uso de ervas,benzer e depois levar para o hospital...]
113
QUADRO 5 – SITUAÇÕES DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA MAIS FREQUENTES
NA COMUNIDADE.
QC SITUAÇÃO
01 Diarreia Infantil
03 Cortes, queda de arvore, quebrar o braço, picada de cobra, aranha.
06 Dores, catarreira, febre, picada de cobra.
09 É a hipertensão
10 Diarreia e vomito cortes, queda, fratura, picada de cobra, abelha.
11 Picada de cobra, viroses no inverno.
12 Picada de cobra
13 Verme, gripe nas crianças no inverno e ferimento com arma branca
15 Gripe, tosse, febre.
16 Diarreia
25 Acidente de Moto
27 Picada de Cobra / corte de terçado / queda
33 Corte de machado e terçado
37 Picada de cobra
44 Picada de cobra
53 Ferimento Arma Branca, dor,picada de cobra
58 Verme, gripe no inverno,
63 Não soube respondeu
64 Mulher para ter bebe, mordida de cobra (3 casos)
65 Infecção, picada de cobra , Ferimento Arma Branca
114
115
116
117
118
Centro de Ciências Biológicas e da Saúde
Curso de Graduação em Enfermagem
Escola de Enfermagem “Magalhães Barata”
Av. José Bonifácio, Nº. 1289 – Guamá
Belém/PA
www.uepa.br