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Universidade do Estado do Pará Centro de Ciências Biológicas e da Saúde Escola de Enfermagem “Magalhães Barata” Mestrado Associado de Enfermagem UEPA-UFAM Vera Lúcia Gomes de Oliveira CAMINHO DAS PEDRAS: Cuidar cotidiano em situações de urgência e emergência em uma comunidade quilombola da Amazônia Paraense Belém - Pará 2012

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Universidade do Estado do Pará Centro de Ciências Biológicas e da Saúde Escola de Enfermagem “Magalhães Barata” Mestrado Associado de Enfermagem UEPA-UFAM

Vera Lúcia Gomes de Oliveira

CAMINHO DAS PEDRAS: Cuidar cotidiano em

situações de urgência e emergência em uma comunidade

quilombola da Amazônia Paraense

Belém - Pará

2012

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Vera Lúcia Gomes de Oliveira

CAMINHO DAS PEDRAS: Cuidar cotidiano em situações de

urgência e emergência em uma comunidade quilombola da

Amazônia Paraense

Dissertação apresentada como requisito para

obtenção do título de Mestre em Enfermagem no

Programa de Pós-graduação em Enfermagem da

Universidade do Estado do Pará e Universidade

Federal do Amazonas

Orientadora: Profª Drª Elizabeth Teixeira

Belém - Pará 2012

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Biblioteca do Curso de Enfermagem da UEPA – Belém -PA

O48c Oliveira, Vera Lúcia Gomes de

Caminhos das pedras: Cuidar cotidiano em situações de urgência e emergência em uma

comunidade quilombola da Amazônia Paraense / Vera Lúcia Gomes de Oliveira;

orientadora Elizabeth Teixeira. – Belém: [s.n.], 2012.

118 f.

Dissertação (Mestrado) - Universidade do Estado do Pará, 2012.

1. Urgência e emergência. 2. Enfermagem 3. Cuidar cotidiano. 4. Populações

Tradicionais I. Teixeira, Elizabeth. II. Título.

CDD: 21 ed. 610.73610981

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Vera Lúcia Gomes de Oliveira

CAMINHO DAS PEDRAS

Cuidar cotidiano em situações de urgência e emergência em uma

comunidade quilombola da Amazônia Paraense

Dissertação apresentada como requisito para

obtenção do título de Mestre em Enfermagem

no Programa de Pós-graduação em

Enfermagem da Universidade do Estado do

Pará e Universidade Federal do Amazonas

Orientadora: Profª Drª Elizabeth Teixeira

Apreciado em 13/08/2012

Banca Examinadora

____________________________ Orientadora Profª Dra. Elizabeth Teixeira Universidade do Estado do Pará

____________________________ Examinador Externo Profº Dr. Hilton Pereira da silva Universidade Federal do Pará

____________________________ Examinador Interno Profª Drª Laura Maria Vidal Nogueira Universidade do Estado do Pará

_________________________________ Suplente Interno Profª Drª Nair Chase Universidade Federal de Manaus

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A Deus por me conceder saúde

e graças de realizar este curso de

mestrado

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente a DEUS, por ter me dado à vida e manter minha

serenidade e força nos momentos mais adversos da minha saúde.

Aos meus pais GILDA E JOÃO (im memória), sem eles nada seria

possível.

A Dra. Elizabeth Teixeira, minha orientadora, por sua disponibilidade,

ensinamentos e apoio fundamentais durante todo o processo de criação e

elaboração desta dissertação, mesmo quando foi necessário um puxão de orelha. E

por acreditar nessa proposta desde o início.

A minha companheira por sua compreensão, por tantas horas, dias e

meses ausentes para a construção da dissertação.

Aos meus filhos AYUNE E AYÚ, o carinho e companhia nas madrugadas.

A minhas amigas, Marcia Helena, Margareth Braun sempre juntas até

mesmo nos momentos mais difíceis e a todas as minhas colegas de mestrado pela

afeição e pelas nossas conversas, onde vários insights foram possíveis;

As professoras Dra. Mary Elizabeth de Santana e Dra. Antônia Margareth

Moita Sá, pelo apoio, ensinamento e exemplo de vida.

A associação dos moradores da comunidade quilombola do Abacatal, por

ter acreditado e permitido a realização dessa pesquisa.

Aos meus amigos Gedel, Vera Lúcia e Rose da Secretaria Municipal de

cidadania, Assistência social e Trabalho, estes que apresentaram a comunidade e

seus lideres.

A todos que participaram como atores dessa pesquisa na comunidade

quilombola “Abacatal”, como a Santana, Francisdalva, Vanusa, Pedro (Pepê) e sua

esposa, e em especial a Vivia Cardoso que abriu a porta de sua casa juntamente

com sua família para me acolher e fazer desta o meu pouso durante um ano e dois

meses nessa comunidade.

A Universidade do Estado do Pará juntamente com a Fapespa - que me

concederam bolsa de auxílio para a efetivação desta pesquisa.

Aos doutores Hilton Pereira, Nair Chase e Dra. Laura Vidal, pelas

contribuições importantes enquanto membros da banca examinadora.

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Todo dia ela faz tudo sempre igual,

me sacode as seis horas da manhã

Com um sorriso.........

Chico Buarque de Holanda

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RESUMO

OLIVEIRA, Vera Lúcia Gomes. CAMINHO DAS PEDRAS: O cuidar cotidiano em

situações de urgência e emergência em uma comunidade quilombola da Amazônia

paraense. 2012. 100f. Dissertação (Mestrado Associado em Enfermagem)-

Universidade do Estado do Pará/ Universidade Federal de Manaus. Pará, 2012.

Introdução: O cuidado cotidiano de saúde comporta uma ação individual (cuidar do eu), uma ação coletiva (cuidar do outro e/ou família), uma ação local (cuidar da casa e do lugar de vida); portanto, comporta multiextensões, envolvendo um conjunto de aspectos interativos, cognitivos e conectivos, comportando, enfim, multidimensões. Objetivo geral: Descrever o cuidado cotidiano em situações de urgência e emergência dos moradores de uma comunidade Quilombola da Amazônia Paraense. Objetivos específicos: a) Identificar os tipos de situações de urgência e emergência mais frequentes na comunidade quilombola; b) Caracterizar as multidimensões dos cuidados prestados e itinerários percorridos em situações de urgência e emergência. Metodologia: Estudo exploratório e descritivo, de natureza

qualitativa. Foram sujeitos 20 moradores adultos. A produção de dados foi por meio de entrevista semi-estruturada.A análise de dados foi por meio da análise ídeo-central. Resultados: Identificamos três modos de cuidar,os que cuidam com procedimentos realizados na própria comunidade(23%);os que cuidam com procedimentos e encaminham para fora da comunidade, com 40%; os que só encaminham para fora da comunidade,com 37%. As situações mais frequentes com o sujeito e/família, foram os sinais e sintomas com 38% (Dor, febre, diárreia, vômito, sangramento, tontura, hemorragia, edema),seguidos de acidentes com arma branca, e ocorrências clínicas, provenientes de doenças crônicas degerativas, urgências traumatologicas e acidente ofídico; com os vizinhos e amigos foram os traumas contusos(04) e urgências clinicas (04);na comunidade predominou as picadas de cobra. Na dimensão interativa evidenciou-se a procura pelo membro mais velho da família; os itinerários terapeuticos são com o uso da bicicleta até o caminhar por 8 km. Na dimensão cognitiva constatou-se conhecimento sobre o cuidar paliativo e desconhecimento sobre o cuidar avaliativo. Na dimensão conectiva emergiram: conexão homem-vegetal e conexão homem-animal; utiliza-se recursos naturais para o cuidar-cuidado como os remédios caseiros. Conclui-se que há limites e desafios enfrentados no cuidado cotidiano. Sugere-se ações-intervenções educativas; e ampliação do acesso/acessibilidade à rede de atenção local.

Palavras chave: Urgência e Emergência; Enfermagem; Cuidar Cotidiano; População

Tradicional.

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ABSTRACT

OLIVEIRA, Vera Lúcia Gomes de. WAY OF STONES: The routine care in situations

of urgency and emergency care in a community quilombola the Amazon state of

Pará. 2012. 100f. Dissertation (Master's Associate in Nursing) - University of the

State of Para / Universidade Federal do Manaus. Para 2012.

Introduction: The health care routine includes an individual action (take care of me),

a collective action (taking care of others and / or family), a local action (take care of

home and place of living), so it behaves multiextensões involving a set of interactive

features, cognitive and connectives, behaving, in short, multi-dimensions. General

Objective: To describe the routine care in emergency situations and emergency

residents of a community Quilombola Amazon Para. Specific Objectives: a) Identify

the types of emergencies and more frequent emergency in quilombo b) characterize

the multiple dimensions of care and itineraries flown in emergency situations and

emergency. Methodology: exploratory and descriptive qualitative. The subjects were

20 adult residents. The production data was through semi-estruturada.A data

analysis was by analysis ideo-centric. Results: Three modes of care, those who care

with procedures performed in the community, with 23%, those who care with

procedures and forward out of the community, with 40% leads only to those outside

the community, with 37% . The most frequent situations with the subject and / family,

were the signs and symptoms with 38% (pain, fever, diarrhea, vomiting, bleeding,

dizziness, hemorrhage, edema), followed by injuries from knives, and clinical events,

from degerativas chronic diseases, emergencies and traumatologicas snakebite, with

neighbors and friends were blunt trauma (04) and emergency clinics (04); community

predominated snake bites. In the interactive dimension revealed a demand by the

oldest member of the family; therapeutic itineraries are using the bicycle to the walk

for 8 km. In the cognitive dimension was found knowledge about palliative care and

ignorance about the care assessment. In connective dimension emerged: plant and

connection man-man-animal connection, it uses up natural resources for the care-

care such as home remedies. It is concluded that there are limits and challenges

faced in daily care. It is suggested actions, educational interventions, and expanding

access / accessibility to the network of local attention.

Keywords: Urgent and Emergency, Nursing, Care for Everyday Life, Traditional

Population.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Fotografia 1 Sede Social da comunidade quilombola 26

Fotografia 2 Barracão de Sagrado coração de Jesus 26

Fotografia 3 Escola Municipal Manoel Gregório Rosa Filho 27

Fotografia 4 Casa da Farinha 27

Figura 1 “Mapa” da Comunidade Abacatal 28

Figura 2 Unidade de Transporte de Feridos (projetada pelo médico Dominique Jean Larrey

33

Diagrama 1 Cuidar Cotidiano de Saúde 43

Quadro 1 Perfil dos Sujeitos 55

Quadro 2 Perfil Familiar dos Sujeitos 57

Quadro 3 Perfil Domiciliar dos Sujeitos 58

Fotografia 5

6

7

Estrada de acesso à comunidade no verão

Estrada de acesso a comunidade no inverno

Estrada de acesso a portaria da comunidade

60

61

61

Fotografia 8

Fotografia 9

Fotografia 10

Fotografia 11

Casa de Alvenaria

Casa de Madeira

Casa de Alvenaria sem reboco

Casa de pau a pique

61

62

62

62

Fotografia 12 As crianças brincando no quintal 63

Fotografia 13 Conversando e identificando sua cultura 63

Fotografia 14 Brincando com caroço de tucumã 63

Fotografia 15 Moradores descascando a mandioca 64

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Fotografia 16 Interior da casa de farinha 64

Fotografia 17 Fazendo a farinha 64

Fotografia 18 Peneirando e torrando a mandioca 65

Fotografia 19 Fervendo o tucupi 65

Fotografia 20 Peneirando a farinha 65

Fotografia 21 Área roçada e plantada 66

Fotografia 22 Cuidando da Roça 66

Fotografia 23 Colheita de mandioca 66

Fotografia 24 Missa do círio do sagrado coração de jesus 67

Fotografia 25 O início da procissão 67

Fotografia 26 Acompanhando a procissão 67

Fotografia 27 A procissão 68

Fotografia 28 O barracão do sagrado coração de jesus 68

Fotografia 29 O leilão na festa do sagrado coração de jesus 68

Fotografia 30 Caminhada dos jovens 69

Fotografia 31 Parada no igarapé em dia de sol 69

Fotografia 32 fixação da cruz 69

Fotografia 33 Um dos meios de transporte 70

Fotografia 34 A bicicleta como instrumento na pesquisa 70

Fotografia 35 Cuidando das crianças 70

Fotografia 36 cuidando da família 71

Fotografia 37 Cuidando do alimento 71

Fotografia 38 O cuidado cotidiano doméstico 71

Figura 3 Áreas de serviços de saúde de Ananindeua 72

Figura 4 Tipos de situações de urgência e emergência com 74

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os sujeitos e/ou família, comunidade

Figura 5 Tipos de situações de urgência e emergência com

vizinhos, amigos

75

Figura 6 Situações mais frequentes de urgência e

emergência

75

Figura 7 Os modos de cuidar dos sujeitos na comunidade 76

Diagrama 2 Os encontros em situações de urgência e

emergência

78

Diagrama 3 Saberes – conhecimentos (desconhecimentos) no

cuidar em situações de urgência e emergência

85

Diagrama 4 As conexões com a natureza no cuidado cotidiano

em situações de urgência e emergência

89

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LISTA DE SIGLAS

ANANIN Moeda utilizada na compra de materiais no Projeto Boutique

Solidária, em homenagem ao nome da cidade “Ananindeua”.

APH Atendimento Pré-hospitalar

CETAS Centro de Estudos e Tratamentos Alternativos para Saúde

CONSUN Conselho Universitário

COREN Conselho Regional de Enfermagem

ELETRONORTE Centrais Elétricas do Norte do Brasil

FAF Ferimento por Arma de Fogo

IENPSAD Intervenção de Enfermagem no Processo Saúde Doença

INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária

ITERPA Instituto de Terras do Pará

NUP Núcleo de Pesquisa

PCR Parada Cardiorespiratória

PESCA Prática Educativa de Saúde nas Comunidades Amazônicas

RCP Reanimação Cardiorrespiratória

SAMU Serviço de Atendimento Móvel de Urgência

SAV Suporte Avançado de Vida

SBV Suporte Básico de Vida

SEMCAT Secretaria Municipal de Cidadania, Assistência Social e Trabalho

SESPA Secretaria de Estado de Saúde Publica do Pará

SUAS Sistema Único de Assistência Social

SUS Sistema Único de Saúde

TCC Trabalho de Conclusão de Curso

TCE Traumatismo Crânio Encefálico

TCLE Termo de Consentimento Livre Esclarecido

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THEMAG Empresa de Engenharia e Consultoria

UEPA Universidade do Estado do Pará

UFAM Universidade Federal do Amazonas

UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO 16

1.1 APROXIMAÇÃO – IMPLICAÇÃO COM SITUAÇÕES DE

URGÊNCIA E EMERGÊNCIA

17

1.2 ENCONTROS DECISIVOS COM O CONTEXTO COMUNIDADE

QUILOMBOLA

21

1.3 OBJETO DE ESTUDO, QUESTÕES E OBJETIVOS 24

1.4 TRILHAS METODOLÓGICAS 25

2. BASES CONCEITUAIS E HISTÓRICAS 31

2.1 SITUAÇÕES DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA 32

2.2 CUIDAR, CUIDADO E CUIDADO COTIDIANO EM SAÚDE 39

2.3 LINHAS HISTÓRICAS: QUILOMBO, QUILOMBOLAS E

POLÍTICAS PÚBLICAS.

44

3. CUIDAR COTIDIANO DE SAÚDE EM SITUAÇÕES DE

URGÊNCIA E EMERGÊNCIA

53

3.1 QUEM SÃO E DE ONDE FALAM OS SUJEITOS DO ESTUDO 54

3.2 AS SITUAÇÕES DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA 73

3.2.1 AS SITUAÇÕES DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA QUE

DEMANDAM CUIDADO

73

3.2.2 OS CUIDADOS PRESTADOS NAS SITUAÇÕES DE URGÊNCIA

E EMERGÊNCIA

76

3.2.3 AS DIMENSÕES DO CUIDAR COTIDIANO EM SITUAÇÕES DE

URGÊNCIA E EMERGÊNCIA

77

4. CONSIDERAÇÕES TRANSITÓRIAS 93

REFERÊNCIAS 96

APÊNDICES 103

ANEXOS 114

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1 INTRODUÇÃO

Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal

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1.1 APROXIMAÇÃO - IMPLICAÇÃO COM “SITUAÇÕES DE URGÊNCIA E

EMERGÊNCIA”

Comecei a me envolver com situações de Urgência e Emergência na

Graduação em Enfermagem (1979 a 1982) e na Habilitação em Enfermagem

Médico-Cirúrgica (1984), onde teve inicio a minha trajetória teórico-prática. Na

graduação, o despertar ocorreu na disciplina enfermagem médico-cirúrgica I, no 3º

ano, nas práticas de laboratório e na unidade de Urgência e Emergência do Pronto

Socorro Municipal “Mario Pinot”, onde passei a desenvolver habilidades no que se

refere às técnicas de imobilização, transporte de pacientes, administração de

medicamentos e parada cardiopulmonar (RCP), além de participar ativamente do

processo de assistência direta aos pacientes em várias etapas de seu tratamento

frente aos agravos que foram vítimas. Neste momento foi se consolidando o

despertar para essa área de conhecimento, haja vista, que me via útil neste contexto

por sua dinâmica e diversidade de casos, os quais necessitavam de uma resposta

imediata e assistência de qualidade e eficaz.

Nesta instituição eram atendidos todos os pacientes vindos da capital e

de todos os municípios do estado do Pará. Diante deste quadro, com o objetivo de

buscar novos conhecimentos e melhorar os já adquiridos, passamos a realizar, em

acordo com a supervisora docente, os chamados estágios-plantões em datas

comemorativas e alguns finais de semana. Atividades extracurriculares estas que

mais uma vez me fizeram concluir que estava me encontrando na área do

conhecimento de Urgência e Emergência.

Em 1984 me submeti a processo seletivo para estágio na própria

instituição, realizado pela Coordenação de Educação Continuada, sendo aprovada

em 1º lugar; a partir daí comecei a me familiarizar com as normas e rotinas desta

instituição, não mais como acadêmica, mas sim, como estagiária, haja vista que

nossas atribuições tinham um caráter profissional; fui adquirindo experiências no que

se refere ao cuidar de pacientes que chegavam com quadros clínicos críticos.

Em 3 de janeiro de 1985 iniciei minhas atividades profissionais em

Urgência e Emergência. Fui chamada para realizar um treinamento de ingresso na

Secretaria de Estado de Saúde Pública (SESPA), no Distrito de Mosqueiro, para um

período de 2 meses; mais uma vez, a maioria das atividades eram voltadas para o

atendimento de situações de Urgência e Emergência. Encontrei-me e me apaixonei

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por essa área de conhecimento ao realizar cuidados a pacientes na sua grande

maioria com agravos que requeriam atendimento de pequena e média

complexidade. Foi neste momento da estrada da vida que soube o caminho que iria

percorrer e a área em que iria aprofundar meus conhecimentos e habilidades

enquanto Enfermeira.

Em março do mesmo ano fui lotada na Unidade Mista de Saúde do

município de Gurupá, no baixo amazonas, onde atuei até dezembro de 1985. Passei

32 horas navegando sobre as águas do Rio Amazonas para chegar ao 8º Centro

Regional de Saúde – SESPA, localizado no município de Breves.Quando cheguei ao

município de Gurupá, foi numa noite chuvosa e escura, e não havia nenhum

conhecido ou alguém que fosse me receber. Desci do CATAMARÃ PARÁ, em uma

balsa que estava ancorada no trapiche cheio de carretas; foi quando percebi que

estava cheia de bagagens e caixas de livros; ali senti que era chegada a hora de ser

“apenas eu”. Na unidade onde fui lotada, além do horário comercial, tínhamos os

sobreavisos, e era aí que apareciam os casos de urgência e emergência; eu fazia

questão de prestar todos os cuidados de enfermagem e às vezes até os que não

eram diretamente de enfermagem, ficando satisfeita quando obtinha um bom

resultado e constatava a recuperação dos pacientes.

No final do ano de 1985, fui admitida no Conselho Regional de

Enfermagem do Pará (COREN-PA), como fiscal, até 1988; como o COREN é o

órgão responsável pela fiscalização do exercício profissional de enfermagem, passei

a realizar viagens de supervisão nas mais diversas regiões desse nosso Estado do

Pará, da área metropolitana de Belém até a zona bragantina; Marajó; baixo

amazonas, etc. Durante essas viagens passei a ter um olhar diferenciado frente as

diversas situações percebidas e vivenciadas; um olhar inicialmente voltado para a

prevenção de possíveis acidentes, e depois para as situações de urgência e

emergência; e quando chegava para supervisão em instituições de saúde bem como

em empresas que tinham um ambulatório, como a Camargo Correia em Tucuruí;

Vale do Rio Doce em Serra dos Carajás, tinha uma atenção especial à área de

atendimento de Urgência e Emergência. Nestes locais percebi enquanto Enfermeira

que devemos tomar o cotidiano dos indivíduos como referência para uma prática

educativa voltada para a melhoria da qualidade de vida. Após conversas com alguns

profissionais de enfermagem e pacientes passei a realizar palestras sobre o

atendimento em situações de Urgência e Emergência, específicas para cada região,

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município, e porque não dizer, localidade. Dentre os assuntos mais abordados

estavam os acidentes ofídicos, fraturas, acidentes automobilísticos, afogamento,

soterramento e outros. Era frequente nos momentos de trocas de experiências ouvir

relatos sobre o uso de plantas no tratamento de algumas situações de Urgência e

Emergência.

Em 1989, por meio da ELETRONORTE/THEMAG, se deu a minha ida ao

município de Tucuruí para compor uma equipe multiprofissional que tinha como

objetivo realizar educação em saúde com as populações que foram afetadas com a

construção da barragem; as atividades eram desenvolvidas na parte baixa da

barragem, ou seja, a juzante da hidroelétrica, em vários lugarejos dos municípios

que compunham a área inundada como Baião, Mocajuba, Cametá e Limoeiro do

Ajurú; realizei cursos de manuseio do eco-sistema na construção de fossas,

primeiros socorros, saneamento básico e outros, além de fazer levantamento de

condições de vida. Nosso meio de transporte e moradia era um barco de médio

porte, onde era feito o planejamento para as ações previamente agendadas para

serem desenvolvidas, articulado com as lideranças das comunidades; em geral eram

realizadas em barracões improvisados ou até mesmo dentro de nossa casa (Barco

João Pinto). Neste meu caminhar tive oportunidade de atender algumas situações

de urgência como picada de cobra, ferimento por terçado, queda e outros, e isso se

dava por ter sempre comigo o material mínimo necessário para esse tipo de

atendimento.

No exercício do dia-a-dia enquanto enfermeira assistencial na Unidade de

Urgência e Emergência Dr. Augusto Chaves Rodrigues, no Município de Marituba,

no período de 1992 a 2004, observei a importância de se promover um atendimento

rápido e eficaz para a estabilização hemodinâmica das vítimas, reconhecendo o

mais breve possível os agravos decorrentes dos traumas sofridos e o quanto

precisamos de uma integração e articulação entre os profissionais e as instituições

de saúde para a qualidade do atendimento, e consequentemente, o bem estar dos

pacientes; nesta unidade eu fazia parte de um grupo de enfermeiras responsáveis

pelo planejamento e organização da unidade, além de atuar como enfermeira

assistente em plantões noturnos com escala fixa nas terças-feiras e um plantão de

24 horas em um final de semana. Esta unidade era gerenciada pela Secretaria de

Estado de Saúde Pública (SESPA); era de pequena a média complexidade e o

atendimento era em Clinica Médica e Cirúrgica, Clínica Pediátrica, Odontologia,

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Ortopedia e Traumatologia e Pacientes Críticos; contávamos com uma cadeia de

apoio diagnóstico com laboratório, ultrassonografia e Raio x. Durante todos esses

anos tive a oportunidade de conviver, presenciar e atuar no atendimento de vítimas

das mais variadas situações desde um simples trauma como um corte superficial até

um traumatismo craneoencefálico (TCE) e parada cardiorespiratória (PCR). Ainda

neste período fui responsável em planejar e executar a I Jornada de Urgência e

Emergência da unidade.

De 2004 a 2006 trilhei um caminho um pouco diferente; por meio das asas

de um avião, aterrizei na cidade de São Paulo com o objetivo de fazer um curso

voltado para o manuseio das chamadas terapias alternativas, e assim foi feito;

conclui o Curso de Terapeuta Corporal pelo Centro de Estudos e Tratamento

Alternativo para Saúde (CETAS).

De volta à terra natal, no dia 30 de junho de 2006 fui admitida para

exercer minhas funções de Enfermeira no Hospital do Pronto Socorro Municipal

Humberto Maradei Pereira no município de Belém; um grande sonho foi realizado, o

de trabalhar neste local; esta instituição realiza atendimentos de pequena e média

complexidade com uma demanda espontânea superior a sua capacidade. Neste

caminho tracei trilhas de especificidade, partindo das urgências clínicas,

traumatologia, clínica cirúrgica, unidade de reanimação, centro de terapia intensiva;

e foi neste trilhar que mais uma vez percebi a grande paixão, que me faz viver

intensamente, o cuidar de pessoas que necessitam de atendimento de urgência e

emergência. Tenho certeza que contribui para a melhoria da assistência prestada

aos pacientes. Foi ainda nessa instituição que tive oportunidade de fazer cursos de

capacitação. No dia 01 de janeiro de 2009, tive que sair da função de enfermeira

assistente, mas permaneci na unidade acompanhando alunos em estágio

supervisionado em Enfermagem em Urgência e Emergência.

Na docência minha trajetória se fortaleceu a partir da aprovação no

concurso público para a Fundação Educacional do Estado do Pará, hoje

Universidade do Estado do Pará, na Escola de Enfermagem “Magalhães Barata”,

para a Disciplina Enfermagem Médico-Cirúrgica; e assim, me tornava funcionária

pública estadual. Foram muitas as atividades que passei a desenvolver já em pleno

exercício da função; e comecei uma especialização em Metodologia do Ensino

Superior para a área da Saúde, em 1993, pela Fundação Educacional do Estado do

Pará. No ano seguinte, passei a acompanhar alunos em aulas práticas no centro

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cirúrgico do Hospital dos Servidores do Estado; posteriormente passei a realizar

esses acompanhamentos nas dependências do Pronto Socorro Municipal Mario

Pinot, ficando ai por um longo período. Em paralelo a essa atividade, passei a

desempenhar a função de Coordenadora da Disciplina Enfermagem em Urgência e

Emergência, de 1999 a 2001, sendo reconduzida por mais 2 anos; participei de

bancas de qualificação e defesa de Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC), fui

membro do colegiado de curso, em 2000, e conselheira do Conselho Universitário

(CONSUN) em 2002; participei de vários eventos regionais e estaduais, sempre

voltados para a urgência e emergência e administrando aulas teóricas e práticas. No

segundo semestre de 2006 fui coordenadora do Núcleo de Pesquisa do Curso de

Enfermagem (NUP) e coordenadora da jornada de qualificação e defesa de TCC.

Em 2009 passei a fazer parte do Grupo de Pesquisa Intervenções de Enfermagem

no Processo Saúde Doença (IENPSAD), desenvolvendo o projeto de pesquisa

“Percepção da Equipe de Enfermagem diante de paciente vítima de violência

urbana”. Em 2010 fui aprovada no processo seletivo para o Mestrado Associado em

Enfermagem UEPA /UFAM, e passei a fazer parte do Grupo de Pesquisa Práticas

Educativas em Saúde e Cuidado na Amazônia (PESCA). Todas essas aproximações

com situações de urgência e emergência foram determinantes para a opção pelo

tema-objeto de minha dissertação; mas, outros encontros também foram decisivos

para a concretização do estudo, do que trato a seguir.

1.2 ENCONTROS DECISIVOS COM O CONTEXTO “COMUNIDADE

QUILOMBOLA”.

Durante minha trajetória como Enfermeira assistente no Hospital do

Pronto Socorro Municipal, tive meu primeiro contato com moradores da comunidade

quilombola de Bom Jesus do bairro do Tapanã, ocasião em que um morador foi

levado pelo Serviço de Atendimento Móvel em Urgência (SAMU), apresentando

traumatismo abdominal ocasionado por queda; seus familiares relataram

dificuldades de atendimento em outros locais. Essa informação foi resignificada

durante uma sessão no Congresso Médico Amazônico de 2010, realizado no Centro

de Convenções Hangar, em que emergiu a temática “comunidade quilombola”, na

apresentação dos projetos das doutorandas da Universidade Federal do Rio de

Janeiro – UFRJ, e as dificuldades de acesso aos serviços de saúde por essas

populações foram destacadas, passando a despertar meu interesse.

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Em seguida, passei a procurar na internet dados sobre “comunidades

quilombolas” na grande Belém. Tive acesso a informações sobre as comunidades,

Bom Jesus no bairro do Tapanã e Abacatal no município de Ananindeua. Optei por

me aproximar da comunidade quilombola Abacatal, por ainda conservar

características peculiares; e comecei a realizar leituras acerca dessa comunidade.

A origem dessa comunidade esta ligada aos vários engenhos de cana-de-

açúcar que existiram ao longo dos séculos XVII e XIX as margens de rios como

Guamá, Bujarú, Acará e Mojú. O engenho do Uriboca, do Conde Coma Mello, era

uma dessas propriedades e é nele que se inicia a história da comunidade quilombola

Abacatal. Sua localização é as margens do Igarapé Uriboquinha, que desemboca no

rio Guamá.

No início do ano de 2011 tive contato com a Secretaria Municipal de

Cidadania, Assistência Social e Trabalho (SEMCAT) do Município de Ananindeua, e

com o coordenador das ações sociais na comunidade quilombola Abacatal; por meio

dele, com as coordenadoras da equipe de Gestão, Trabalho e Articulação

Interinstitucional e as assistentes sociais da equipe.

Em fevereiro, conheci um dos projetos da secretaria, denominado

“Boutique Solidária”, projeto destinado ás comunidades carentes do município;

fazem parte moradores responsáveis em arrecadar donativos, realizar consertos e

vender as peças às comunidades, utilizando uma moeda própria, o “ANANIN”, nome

dado para homenagear o símbolo do município, que é uma árvore. Nesta

oportunidade fui convidada para participar da Pré-Conferência para a VII

Conferência Municipal de Assistência Social, com o tema central “Os Avanços na

Consolidação do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) com a Valorização

dos Trabalhadores e a Qualificação da Gestão, dos Serviços, Programas, Projetos e

Benefícios”. A partir de minha inserção no município, busquei condições para me

aproximar da comunidade quilombola.

Em maio nos encaminhamos para a comunidade quilombola Abacatal;

nosso meio de transporte foi uma Kombi, e durante o percurso de aproximadamente

01h30min em estradas e caminhos de terra, com grandes atoleiros e atravessia de

um pequeno córrego, percorremos 8 kilometros até o acesso a comunidade.

No trajeto até a localidade observei as marcas da destruição do meio

ambiente e, em alguns momentos, pude ver “covões,” abertos nas proximidades da

entrada de Abacatal, o que evidenciou degradação do solo. Perto do centro de

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Abacatal, a paisagem chega a surpreender agradavelmente. A vegetação é

exuberante, o clima é quente, e o silêncio só é interrompido pelos gritos das crianças

e o canto dos passarinhos, o verde é imponente e as arvores frutíferas. As

condições das estradas, face às chuvas, são precárias, trazendo dificuldades para o

acesso. Quando lá chegamos os moradores já estavam reunidos no barracão

comunitário com todas as lideranças, fui apresentada pela assistente social, e esta

solicitou que eu justificasse a minha presença. Em poucas palavras fiz um relato

claro e breve dos meus objetivos junto à comunidade; logo depois fui apresentada

as lideranças da Associação dos Moradores da Comunidade de Abacatal e Aurá e

as lideranças locais. Em conversa com alguns moradores fiquei sabendo que as 83

famílias que residem na comunidade constituem-se de aproximadamente 400

pessoas entre descendentes de escravos em sua 8ª geração, e outros residentes

ligados a estes por parentesco. No final do evento tive permissão para realizar

estudos e frequentar quantas vezes fosse necessário à comunidade, fui ainda

apresentada a outros membros da comunidade, como “a professora”; também visitei

a residência de uma das líderes, e a Escola de Ensino Fundamental Manoel

Gregório Rosa Filho. Após as visitas fui convidada por um dos líderes para participar

das Festividades do Sagrado Coração de Jesus, o que aceitei imediatamente. Neste

encontro iniciei minha inserção no contexto “comunidade quilombola”.

Em junho após um dia de muita chuva, em companhia de um acadêmico

de enfermagem e monitor, fui até a comunidade; quando lá chegamos à maioria dos

moradores já estavam tomando café e esperando o inicio da missa e procissão do

SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS; fiz-me presente no evento religioso

acompanhando a procissão que percorreu toda a extensão da comunidade, ficando

o percurso em torno de 2,5 kilometros; durante o trajeto fizemos algumas paradas na

frente de casas onde havia pessoas doentes e houve queima de fogos de artifícios;

as casas estavam decoradas e as famílias se colocavam na frente saudando os

passantes; foram ofertados vários tipos de comidas: maniçoba, arroz com

galinha,churrasco, e realizado um leilão com as ofertas dos devotos com o objetivo

de levantar recursos para a reforma do barracão.

Nessa oportunidade tive o prazer de conhecer e conversar com alguns

dos moradores mais antigos, descendentes de escravos. Estes me relataram suas

lutas para conseguir que suas terras fossem regulamentadas e tituladas, o que só

aconteceu em maio de 1999. Conheci a agente comunitária de saúde, a diretora da

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escola, líderes e membros da Associação dos Moradores e o Presidente da

Associação dos Moradores. Um dos moradores ficou todo o tempo comigo, sempre

repassando as informações e é claro contando as histórias de luta da comunidade

quilombola Abacatal.

Foi neste encontro que me foi relatado sobre o nome da comunidade

“ABACABAL”; por ter na região muitas plantações de ABACABA se pensou no nome

da árvore para o nome da comunidade; no entanto na hora de registrar no cartório o

nome da comunidade, ocorreu “um erro”, e então ficou “ABACATAL”; não há quase

nada de plantação de abacate na comunidade. Esses e outros encontros foram

decisivos, pois pude constatar não só as dificuldades de acesso e atendimento a

unidades de Urgência e Emergência, como também pude verificar que no dia-a-dia

da comunidade há inúmeras “manifestações” de cuidar-cuidado, pois os moradores

recorrem a diferentes estratégias e recursos para “dar conta” das necessidades de

saúde das famílias.

A partir dos encontros passei a refletir sobre o “cuidar cotidiano”. Com

base nesse conceito, emerge o objeto de estudo da dissertação, do que trato a

seguir.

1.3 OBJETO DE ESTUDO, QUESTÕES E OBJETIVOS.

O cuidar cotidiano de saúde indica a disposição para a vida e a

sobrevivência, indica tanto um pensar como um fazer, envolvido e envolvendo-se

com os ecossistemas onde está circunscrito. A noção de cuidar cotidiano de saúde

comporta a promoção, a prevenção, o diagnóstico, o tratamento, a cura e a

reabilitação. Portanto, comporta multiterapêuticas. O cuidar cotidiano de saúde

também comporta uma ação individual (cuidar do eu ou auto cuidado), uma ação

coletiva (cuidar do outro e/ou família), e uma ação local (cuidar da casa e do lugar de

vida). Portanto, comporta multiextensões (cuidar do eu, cuidar do outro/família,

cuidar da casa, cuidar do lugar). Ainda envolve um conjunto de aspectos interativos,

cognitivos e conectivos, comportando, enfim, multidimensões (TEIXEIRA, 2001).

Meu interesse em conhecer as manifestações do cuidar cotidiano em

situações de urgência e emergência entre famílias quilombolas da comunidade

Abacatal , município de Ananindeua, área metropolitana de Belém foi o objeto de

estudo da dissertação que se ancora na premissa de que as práticas cotidianas de

saúde representam um importante aspecto na perspectiva das populações

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quilombolas alcançarem acesso, acessibilidade e direito ao cuidado de saúde

individual e coletivo. A identificação e valorização de seus saberes e fazeres passa a

ser uma questão relevante para avançarmos na busca da garantia do direito à

saúde. Além disso, é importante estudar as multiterapêuticas do cuidar cotidiano de

saúde, pois nos auxiliará a obter novos conhecimentos e estabelecer outras e

diferentes interações entre e com diferentes atores-sujeitos-usuários. Nesse modo

de pensar, Leininger (apud GEORGE, 2000) faz uma distinção entre dois sistemas

de saúde existentes na sociedade: um que se refere aos sistemas de cuidados

populares de saúde, ou sistemas “folk”; e outro que diz respeito aos sistemas de

cuidados profissionais de saúde. A autora pressupõe, ainda, que todos os tipos de

culturas possuem práticas de cuidado à saúde desses dois tipos de sistemas,

realizada por profissionais e comunitários.

Ao me deparar com relatos e dados sobre as dificuldades de acesso ao

atendimento na rede do Sistema Único de Saúde pelos moradores da comunidade

quilombola, precisei, ampliar o fenômeno a ser estudado. Nesse sentido formulei as

seguintes questões norteadoras: a) Quais os tipos de situações de urgência e

emergência mais frequentes na comunidade quilombola? b) Quais os cuidados

cotidianos realizados no atendimento dessas situações de urgência e emergência?

Nesse sentido, esse estudo teve como objetivo geral: Descrever os

cuidados cotidianos em situações de urgência e emergência dos moradores de uma

Comunidade Quilombola da Amazônia Paraense. E como objetivos específicos: a)

Identificar os tipos de situações de urgência e emergência mais frequentes na

comunidade quilombola; b) Caracterizar as dimensões do cuidado cotidiano em

situações de urgência e emergência.

1.4 TRILHAS METODOLÓGICAS

Para atender aos objetivos da pesquisa optei pela abordagem qualitativa-

descritiva. A abordagem foi escolhida por proporcionar a produção de um estudo a

partir dos sujeitos, que possuem em comum, o cotidiano onde desenvolvem suas

atividades de cuidado.

Na abordagem qualitativa como afirma Teixeira (2003), o social é visto

como um mundo de significados passível de investigação e a linguagem dos atores

sociais e suas práticas são as matérias primas dessa abordagem. É o nível dos

significados, motivos, aspirações, atitudes, crenças e valores, que se expressa pela

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linguagem comum e na vida cotidiana, o objeto da abordagem qualitativa. O estudo

teve um enfoque retrospectivo, com ênfase nos acontecimentos já passados, ou

seja, nas situações de urgência e emergência já ocorridas na comunidade até o

momento da pesquisa.

Os sujeitos da pesquisa foram 20 moradores adultos da comunidade

quilombola Abacatal. Os dois kilometros e meio da área geográfica da comunidade

no sentido longitudinal, à direita e á esquerda. Durante a realização das visitas nas

primeiras casas da comunidade, constatei repetições de informações muito

rapidamente. Assim, para garantir a diversidade de situações e experiências de

cuidado e poder atingir outras áreas, optei por dividir a comunidade em setores;

cada setor foi nomeado de acordo com referências marcantes na localidade.

Fotografia 1:Setor SEDE fica próximo ou em frente à sede social da comunidade

(05 famílias).

Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal- 2011

Fotografia 2: Setor BARRACÃO fica próximo ao barracão de festividades (04

famílias).

Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal – 2011

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Fotografia 3: Setor ESCOLA fica próximo ao caminho em frente à escola (06

famílias).

Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal – 2011

Fotografia 4: Setor CASA DE FARINHA fica próximo à Casa de Farinha

(05famílias).

Fonte: comunidade Quilombola Abacatal – 2011

De cada setor foi escolhido o descendente ou remanescente que referiu

ter realizado algum cuidado em situação de urgência e emergência, com indicativo

dos entrevistados durante sua fala ou por conversa com alguns membros da

associação; levando-se em consideração manifestações de até (01) ano. Quem

referiu que teve envolvimento ou quem foi citado por alguém, foi o “sujeito”. No setor

Sede foram 05 pessoas, no setor Barracão 04, no setor Escola 06 e no setor Casa

da Farinha 05 entrevistados. Três não quiseram participar, um tem deficiência

auditiva, um se mudou da comunidade e cinco foram considerados agregados.

A comunidade quilombola Abacatal é constituída por 83 famílias, com um

total de 71 casas (05 se encontram abandonadas e 02 estão com famílias

agregadas recém-chegadas); está localizada no município de Ananindeua vizinho a

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cidade de Belém, no Estado do Pará, a mais ou menos 1 hora de distância de Belém

(em carro) e uma distância de Ananindeua de 8 km; possui uma área de 308

hectares aproximadamente; mais recentemente recebeu titulação de 218 hectares,

num total de 526.

Para ilustrar o “lócus” do estudo, apresento a seguir um desenho feito por

um menino de 10 anos, morador da comunidade (Anthonny). O mesmo é bastante

fiel ao “mapa” da comunidade e por isso optei por incluí-lo.

FIGURA 1: “Mapa” da Comunidade Abacatal

Fonte: Anthonny Cardoso de 10 anos – 2012

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É no engenho do Uriboca, do Conde Coma de Mello, uma das

propriedades da região que se inicia a história da comunidade quilombola de

Abacatal. As terras da comunidade foram deixadas como herança pelo Conde Coma

de Mello para três de suas filhas: Maria do Ó Rosas de Moraes, Maria Filistina

Barbosa e Maria Margarida Rodrigues da Costa. As “Três Marias”, como são

chamadas, foram filhas do conde com sua escrava Olímpia. A memória dessa época

esta materializada no Caminho das Pedras construído pelos escravos da antiga

fazenda ligando o igarapé Uriboquinha à casa do conde. Esse caminho tem uns 500

metros de comprimento e meio de largura; essa história foi contada por Vivia

Cardoso da Conceição, uma jovem liderança da comunidade.

A produção de dados foi realizada de outubro de 2011 a março de 2012, e

se deu por meio de entrevistas com os “sujeitos”, moradores adultos da comunidade

quilombola Abacatal. Segundo Minayo (2001):

A entrevista privilegia a obtenção de informações através da fala individual, a qual revela condições estruturais, sistema de valores, normas e símbolos e transmite, através de um porta-voz, representações de determinados grupos (p. 65).

A entrevista foi marcada antecipadamente e realizada com privacidade;

todos os entrevistados tiveram suas identidades preservadas, e são citados e

identificados pelas letras “Q” (de quilombola) e “C” (de casa), combinadas ao número

da ordem das casas: o primeiro entrevistado é o QC-01. As respostas foram

registradas por meio de um gravador. O roteiro foi semi-estruturado. Para Triviños

(1987):

A entrevista semi-estruturada possibilita ao informante discorrer sobre suas experiências, a partir do foco principal proposto pelo pesquisador. Ao mesmo tempo em que permite respostas livres e espontâneas do informante, valoriza a atuação do entrevistador. Assim será possível extrair o máximo de veracidade dos entrevistados, possibilitando aos entrevistados uma maior compreensão do tema (p. 146).

A entrevista foi precedida de esclarecimentos sobre o estudo e leitura do

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (Apêndice A); além disso, foi

esclarecido que não haveria qualquer tipo de remuneração pelas informações

obtidas; foram realizadas perguntas sobre dados pessoais e sobre o tema em

questão. As entrevistas e as conversas com os moradores foram realizadas na sua

maioria em ambiente domiciliar e guiada por um roteiro (Apêndice B).

A análise dos dados seguiu os passos da técnica denominada por

Teixeira (2009) como “análise ídeo-central” uma modalidade de análise temática que

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visa evidenciar idéias centrais ou idéias-chave nucleares dos discursos; idéias que

emergem das respostas obtidas questão-por-questão. Ao final da análise, poder-se-

á reunir as idéias-chave, resignificando-as, reagrupando-as e/ou reorganizando-as

em outros núcleos de sentido.

A amostra “foi por saturação, de acordo com Turato (2008) que diz”: [...] o

pesquisador fecha o grupo quando, após as informações coletadas com certo

número de sujeitos, novas entrevistas passam a apresentar uma quantidade de

repetições em seu conteúdo [...]”.

O projeto foi autorizado pela Secretaria Municipal de Cidadania,

Assistência Social e Trabalho (SEMCAT) do Município de Ananindeua e pela

Coordenação da Associação da Comunidade Quilombola Abacatal, posteriormente,

submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Escola de Enfermagem

“Magalhães Barata” - Universidade do Estado do Pará, protocolo CAAE –

005.0321.000-11/2011 (Apêndice C). Dessa forma, objetivou-se atender às

exigências da Resolução 196/96 do Ministério da Saúde, que regulamenta a

pesquisa em seres humanos. Aos sujeitos do estudo foi fornecido um Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido, com as devidas informações quanto aos

objetivos da pesquisa, anonimato, consentimento escrito e permissão para utilização

de imagens, com esclarecimento prévio de possíveis dúvidas.

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2 BASES CONCEITUAIS E HISTÓRICAS

Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal – 2011

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2.1. SITUAÇÕES DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA

PRIMÓRDIOS DO ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR: uma breve linha do

tempo.

Condições de risco para a vida das pessoas sempre existiram e junto com

esses riscos, pelo instinto de preservação da vida, o ser humano teve a

preocupação de buscar o mais precocemente possível, um suporte para manter as

suas condições vitais.

Embora não descrito com a finalidade de explicitar um atendimento a uma

vítima de violência, um dos primeiros registros identificados está na Bíblia, no livro

de Lucas, capítulo 10, versículos 30 a 34;

“ [...]; certo homem descia de Jericó e veio a cair em mãos de salteadores, os quais, depois de tudo lhe roubarem e lhe causarem muitos ferimentos, retiraram-se, deixando-o semimorto. Casualmente, descia um sacerdote por aquele mesmo caminho e, vendo-o, passou de largo. Semelhantemente, um levita descia por aquele lugar e, vendo-o, também passou de largo. Certo samaritano, que seguia o seu caminho, passou-lhe perto e, vendo-o, compadeceu-se dele. E, chegando-se, pensou-lhe os ferimentos, aplicando-lhe óleo e vinho; e, colocando-o sobre o seu próprio animal, levou-o para uma hospedaria e tratou dele”( BIBLIA SAGRADA, 1969).

Falar em preservação da vida ao longo dos séculos implica lembrar como

foi possível ressuscitar indivíduos “aparentemente mortos”. Isso só foi considerado

possibilidade científica, a partir do século XVIII. Até então, há registros de sucesso,

mas envoltos em misticismo e crenças religiosas. As manobras de ressuscitação

foram desenvolvidas e tornaram-se realidade após os anos 1960(TIMERMAN;

GONZÁLES; RAMIRES, 2007).

O socorro sistematizado emergencial prestado às vítimas de situações

críticas teve suas bases alicerçadas durante a guerra civil americana, onde eram

perdidas muitas vidas, principalmente de soldados, por falta de atendimento

imediato. Foi identificada a necessidade de providências para agilizar o atendimento

às vítimas ainda no campo de batalha. Alguns conceitos como segurança da cena

(evitar tornar-se mais uma vítima, evitar a ocorrência de novas vítimas), exame

primário (tratamento das lesões em risco de vida, evitar mais dano) e a própria

questão do transporte rápido (para o local de tratamento definitivo), são oriundos

dessa época (NATIONAL ASSOCIATION OF EMERGENCY MEDICAL

TECHNICIANS, 2004).

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Tecnicamente, o marco da criação da ambulância projetada deve-se ao

médico Dominique Jean Larrey (1766 – 1842), considerado “Pai da Medicina Militar”

(Figura 2). Como cirurgião do exército napoleônico, identificou a necessidade de

resgatar os feridos não apenas após o término do conflito, mas ainda durante a

batalha. Larrey, necessitando estabelecer atendimento imediato, projetou Unidades

de Transporte de Feridos, que batizou como “ambulâncias voadoras”, pois tinham

como características serem leves e velozes. O aumento da velocidade deu-se pelo

uso, inicialmente, de dois cavalos lado a lado e posteriormente perfilados, bem como

madeira leve, rodas pequenas e teto arredondado para evitar retenção de água na

madeira durante a chuva (FERRARI, 2006).

FIGURA 2: Unidade de Transporte de Feridos (projetada pelo Médico Dominique Jean Larrey)

.

Fonte: hptt/ wikipedia.org/wiki/Ambulância –

Segundo Silva et al (2010), o atendimento pré-hospitalar (APH) tem por

característica atender a vítima nos primeiros minutos após o agravo, de maneira a

prestar atendimento adequado e transporte rápido para um estabelecimento de

referência. Tem o objetivo de estabilizar as condições vitais e reduzir a

morbimortalidade, por meio de condutas adequadas durante a fase de estabilização

e transporte, assim como as iatrogenias que possam culminar com adventos

variados, desde as incapacidades físicas temporárias ou permanentes até a morte.

O APH móvel primário é o socorro oferecido mediante o pedido de um

cidadão; o secundário é a solicitação de um serviço de saúde, no qual o usuário está

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recebendo um primeiro atendimento e necessita ser conduzido a um serviço de

maior complexidade (BRASIL, 2002).

No contexto do APH, as ações são divididas em suporte básico (SBV) e

suporte avançado de vida (SAV). O SBV é a estrutura de apoio oferecida a vítimas

com risco de morte desconhecidas por profissionais de saúde, por meio de medidas

conservadoras não invasivas, tais como: imobilização cervical, contenção de

sangramento, curativo oclusivo e imobilização em prancha longa. Inclui ainda ações

que visam à qualidade da circulação e oxigenação tecidual, aumentando a chance

de sobrevida. O SAV corresponde à estrutura de apoio oferecida por profissionais

médicos onde há risco de morte, por intermédio de medidas não invasivas ou

invasivas, tais como: intubação endotraqueal, toracocentese, drenagem torácica,

pericardiocentese, etc (TIMERMAN, RAMIREZ, 2007).

O serviço pré-hospitalar, desenvolvido no Brasil, atua baseado em duas

correntes metodológicas: o sistema europeu e o sistema americano O Serviço de

Atendimento Móvel em Urgências (SAMU) tem origem francesa e foi criado por

anestesistas intensivistas e emergenciais devido à necessidade da assistência pré-

hospitalar, pois os pacientes chegavam ao hospital muitas vezes com piora do caso

ou mesmo mortos, por não receberem atendimento precoce e adequado. Este

sistema tem como referencial o médico, tanto na regulação do sistema, como no

atendimento e monitoramento do paciente, até a recepção hospitalar. É um serviço

ligado ao sistema de saúde, hierarquizado e regionalizado, possuindo comunicação

direta com os centros hospitalares. Já o sistema norte americano trabalha com

paramédicos (com um período de formação de três anos após o segundo grau). Os

paramédicos começaram a desenvolver suas atividades nos EUA, devido a Guerra

do Vietnã, pois havia necessidade de atendimento médico imediato e como não era

possível contar com a presença médica, em todas as frentes de combate, alguns

soldados foram treinados para realizarem a assistência necessária. No Brasil, a

implantação de serviços pré-hospitalares, municipais e estaduais, vem escolhendo o

modelo metodológico de acordo com realidades, demandas, perfis de morbi-

mortalidade, recursos técnicos, tecnológicos e financeiros(ROCHA et al,2003).

Em uma emergência, a Enfermagem deve estabelecer prioridades de

assistência de acordo com a avaliação preliminar, garantindo assim a identificação e

o tratamento das situações que ameaçam a vida do paciente. Consideramos

relevante que a enfermeira de emergência tenha presente, nesta situação, arte,

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habilidade, conhecimento, emoção, sentido; vivencie e compartilhe informações para

um processo rápido, preciso,hábil e eficiente ao prestar assistência de Enfermagem,

além de prestar uma assistência globalizada ao ser humano e família. O tempo que

transcorre da hora do trauma até os primeiros procedimentos tem sido considerado

um fator crítico (NAZÁRIO, 1999).

Cunningham (1997) escreve que a primeira hora, imediatamente após o

trauma, é um período em que a ressuscitação e a estabilização são consideradas

mais benéficas para o paciente, a chamada golden hour.

Neste contexto, a enfermagem participa nas situações de urgência quanto

nas de emergência, tanto na prevenção de situações, quanto na orientação sobre o

cuidado adequado quando da ocorrência.

O Ministério da Saúde implementa a assistência pré-hospitalar no âmbito

do SUS, em um primeiro nível de atenção, aos indivíduos com quadros agudos, de

natureza clínica, traumática ou psiquiátrica, quando ocorrem fora do ambiente

hospitalar, podendo acarretar sofrimento, sequelas ou morte. Nesse contexto, deve

existir um forte potencial ordenador da assistência, como forma de responder

demandas de urgência ocorridas no domicílio, no local de trabalho, em vias públicas

ou onde o indivíduo vier a precisar do SUS, com recursos necessários e adequados

para a complexidade da condição do paciente. Vale lembrar que historicamente nível

de resposta pré-hospitalar às urgências e emergências tem sido insuficiente,

provocando a superlotação dos hospitais e prontos socorros, mesmo quando a

situação clínica não é característica de um atendimento de emergência. Essa

realidade, aliada a falta de orientação adequada ou suficiente da população contribui

para que esses serviços não consigam oferecer atendimento qualificado e

humanizado.

ESCLARECENDO OS CONCEITOS DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA

Segundo Carvalho (2007), a urgência é caracterizada como um evento

grave, que deve ser resolvido urgentemente, mas que não possui um caráter

imediatista, ou seja, deve haver um empenho para ser tratada e pode ser planejada

para que a pessoa não corra risco de morte. Já a emergência é uma situação

gravíssima que deve ser tratada imediatamente, caso contrário, a pessoa vai morrer

ou apresentará uma sequela irreversível.

A constituição federal promulgada em 1988, no Brasil, estabelece que a

saúde é um dever do Estado e um direito da população. A partir disso, apregoa-se

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que as ações e os serviços de saúde devem ser promovidos por um Sistema Único

de Saúde (SUS), organizado em torno dos princípios da universalidade,

integralidade e equidade, e articulado por mecanismos de referência e contra-

referência, visando uma assistência resolutiva aos usuários em todos os seus níveis

de complexidade a partir da superação do modelo hospitalocêntrico e curativista

(PINHO, 2006).

A portaria nº 1863, de 29 de setembro de 2003, instituiu a Política

Nacional de Atenção às Urgências, a serem implantadas em todas as unidades

federadas, respeitadas as competências das três esferas de gestão (BRASIL, 2003).

A Política Nacional de Atenção às Urgências e Emergências, por meio da

Portaria nº 2048, de 05/11/2002, aprova o Regulamento Técnico dos Sistemas

Estaduais de Urgência e Emergência, que propõe que a atenção às urgências flua

em todos os níveis do SUS, organizando a assistência desde as unidades de saúde

até os cuidados pós-hospitalares, na convalescença, recuperação e reabilitação. Os

pressupostos principais dessa política estão alicerçados em cinco pilares:

humanização, organização das redes assistenciais, estratégias promocionais,

regionalização médica de urgências, qualificação e educação permanente em

consonância com os preceitos do Sistema Único de Saúde (BRASIL, 2002).

Dessa forma, foram estabelecidos os princípios e diretrizes dos Sistemas

Estaduais de Urgência e Emergência, as normas e critérios de funcionamento, a

classificação e os critérios para a habilitação de serviços que devem participar dos

planos estaduais de atendimento às Urgências e Emergências, a saber: Regulação

Médica de Urgência e Emergência, Atendimento Pré-hospitalar Fixo, Atendimento

Pré-hospitalar Móvel, Atendimento Hospitalar, Transporte Inter-hospitalar; a criação

de Núcleos de Educação em Urgência, com a proposição de grades curriculares

para capacitação de recursos humanos na área (BRASIL, 2003).

As situações de urgência se caracterizam por serem ocorrências

perigosas, de aparecimento rápido, mas não necessariamente imprevistas e súbitas,

necessitando de solução em curto prazo; enquanto as situações de emergência são

ocorrências ou situações perigosas, de aparecimento súbito e imprevisto,

necessitando de imediata solução.

Ambos os termos têm em comum serem quadros nosológicos graves e se

não tratados, podem causar mal irreversível ou morte. A emergência o aparecimento

ou agravamento é súbito e imprevisto, necessitando de solução imediata - é um

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estado de agudeza; na urgência o aparecimento é rápido, mas não é súbito e

imprevisto e a solução pode ser em curto prazo - é um estado de semi-agudeza. Um

politraumatismo; fraturas expostas com hemorragias; ferimento por arma fogo (FAF)

ou ferimento por arma branca (FAB) com evisceração (vísceras expostas);

hemorragias volumosas; infarto agudo do miocárdio e atropelamento são

emergências; estado de dor, ferimento perfuro cortante sem hemorragias, podem ser

feitas posteriormente, em curto prazo, sendo por isso apenas urgências. É

importante frisar que em uma situação de urgência se não for realizado o suporte

básico de vida, esta situação pode vir a se tornar uma emergência. A diferença entre

emergência e urgência reside em dois pontos: 1] na primeira o aparecimento é

súbito e imprevisto, na segunda não; 2] a primeira exige solução imediata; a

segunda, em curto prazo, havendo apenas premência ou insistência de solução.

Ambas têm em comum a periculosidade.

REVENDO A LITERATURA

Foram consultadas as bases de dados LILACS, SCIELO, BDENF com os

descritores cuidar cotidiano, urgência e emergência e quilombola. Não foi

encontrado nenhum artigo nessa busca. Quando utilizamos os descritores

enfermagem, e urgência e emergência, encontramos 32 artigos; destes 20

atenderam aos critérios: artigos originais completos; em português; entre 2001 e

2011. A maioria dos estudos é de três (3) autores na modalidade pesquisa de

campo, publicados em revistas de enfermagem. Predominam estudos com

abordagem qualitativa; os sujeitos mais consultados são os profissionais

enfermeiros; para a coleta de dados a técnica que predominou foi a entrevista; para

a analise de dados, a técnica de análise de conteúdo foi a mais referida.Os

resultados – evidências revelaram 02 eixos, a seguir destacados.

A formação do enfermeiro para o atendimento pré-hospitalar.

Evidenciou-se que os enfermeiros do APH se sentem seguros,

preparados e motivados para atuar. Porém nenhum recebeu preparação específica

durante a formação acadêmica, no entanto consideram a experiência anterior no

âmbito intra-hospitalar como importante para o desenvolvimento da função. A falta

de preparo nas universidades leva os enfermeiros a buscar compensar essa lacuna

e complementar sua formação (ROMANZINI; BOCK, 2006).

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Para Avelar e Paiva (2010), para ser Enfermeiro do SAMU o profissional

deve além de gostar de trabalhar em urgência, estar sempre se aperfeiçoando,

possuir experiência e habilidade técnica, boa vontade e interesse, demonstrar

dedicação e compromisso; agilidade e objetividade na avaliação dos pacientes, e na

realização de procedimentos, auto controle e adaptar-se as adversidades e aos

diferentes locais de atendimento e com os colegas da equipe. Os procedimentos

assistenciais de maior complexidade e a organização do cenário de cuidar

constituem as principais atividades desenvolvidas pelos Enfermeiros em seu

cotidiano de trabalho.

Evidenciou-se que os conteúdos teóricos e as habilidades propostas pela

Portaria 2.048 são temas básicos para a capacitação dos enfermeiros que atuam em

APH. No Brasil, os cursos de especialização em emergência ou em APH ainda são

recentes. Diferente dos enfermeiros americanos e franceses, o enfermeiro brasileiro

vem se qualificando nessa área, por meio de cursos de especialização (lato sensu),

atendendo as diretrizes do Ministério da Educação e do Conselho Federal de

Enfermagem.

A constatação da necessidade de desenvolver competências específicas

e diferenciadas reforça a importância do planejamento de programas de capacitação

e especialização direcionados aos enfermeiros que atuam em APH.

As condições de trabalho da equipe de enfermagem no atendimento de

emergência.

Evidenciou-se de uma forma geral que os Enfermeiros consideram o

ambiente, o processo de trabalho, assim como a estrutura organizacional das

unidades de emergência são fatores estressantes que levam à insatisfação e esta

consequentemente, pode gerar agravos à saúde mental e física do trabalhador,

prejuízos no seu desempenho profissional e absenteísmo (CARVALHO; LOPES,

2006).

Para Silveira et al (2009), os Enfermeiros avaliam os estressores no

ambiente de trabalho de maneira semelhante, porém, buscam estratégias de

enfrentamento através do lazer; meditação, cuidar de si, e da família; assim como

estabelecer e manter o diálogo. A interferência dos estressores na assistência ao

usuário esta a demanda.

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Garlet et al (2009), nos revelam que a equipe de saúde tem insatisfação

com a procura excessiva de pacientes, cujas necessidades não podem ser

classificadas como urgência ou emergência, apontando o número de atendimentos

como justificativa para a resistência em realizar o trabalho e o descompromisso com

a produção do cuidado.

Salomé et al (2009) resaltam que os profissionais de enfermagem

vivenciam momentos de estresse, cansaço, esgotamento e frustração no seu

cotidiano de trabalho devido a sobrecarga de trabalho, provocada pela falta de

material, de profissionais. Ferrareze et al (2006) ressaltam a complexidade existente

nas urgência e emergências, revelando a importância de se rever as questões que

permeiam o relacionamento interpessoal da equipe de enfermagem nesse contexto,

tendo em vista os problemas emergentes e as circunstâncias e peculiaridades que o

ambiente ocasional aos seus profissionais; também evidenciam o nível de ansiedade

e de tensão provocados, sobretudo, pela elevada responsabilidade que a

enfermagem enfrenta em seu cotidiano profissional.

2.2 CUIDAR, CUIDADO E CUIDADO COTIDIANO EM SAÚDE.

A palavra cuidar vem do latim “cogitare” e é igual a pensar, meditar, tratar

de, zelar, o que se opõe ao descuido e ao descaso; representa uma atitude de

ocupação, preocupação, de responsabilização e de envolvimento afetivo com o

outro. É igual a pensado, previsto, aplicação do espírito a uma coisa, atenção

zelosa, incumbência, responsabilidade (BOFF, 1999).

Para Watson (2004), cuidar consiste em concentrar esforços

transpessoais (além do pessoal) de um ser humano para outro, visando proteger,

promover e preservar a humanidade. Ainda para a autora cuidar significa desvelo,

solicitude, diligência, zelo, atenção e se concretiza no contexto da vida em

sociedade.

Para Neves (2002), o cuidar, independente do pouco ou nenhum valor a

ele atribuído, continuará sendo essencial para a sobrevivência das espécies,

promoção da vida e preservação do planeta.

O processo de cuidar para Waldow (2004), é o desenvolvimento de

ações/atitudes e comportamentos com base em conhecimentos científicos,

experiências, intuição e pensamento crítico, realizado para e com o paciente e/ou

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cliente; ser cuidado tem o sentido de promover, manter e/ ou recuperar a dignidade e

a totalidade humana.

Florence Nightingale foi pioneira em demonstrar os feitos do processo de

cuidado na promoção da saúde das pessoas, ao cuidar de soldados na guerra da

Criméia; em meio à escuridão nas tendas de atendimentos dos soldados feridos,

tinha a preocupação com o meio em que estavam inseridos tanto os cuidadores

como os soldados o que ampliou a perspectiva do processo de cuidado. Com o

passar do tempo a fundamentação epistemológica do cuidar foi se constituindo

(NEVES, 2002).

Os cuidados manifestam-se na preservação do potencial saudável dos

cidadãos e depende de uma concepção ética que contemple a vida como um bem

valioso em si. Isso significa solidarizar-se, evocando relacionamentos

compartilhados entre cidadãos em comunidade; dependendo das circunstâncias e

da doutrina adotada se transmite uma noção de obrigação, dever e compromisso

social (BOFF, 1999).

Segundo Watson (1985) para cuidar é necessário aceitar a pessoa não

somente como ela é, mas também como ela poderá vir a ser; um ambiente de

cuidado é aquele que oferece o desenvolvimento do potencial humano (auto-

realização) e permite a liberdade de escolha; o cuidado possui maior capacidade de

autogenia, quando comparado com a cura, ou seja, por ser autógeno, o cuidado

gera cuidado; a prática do cuidado integra conhecimentos biofísicos com

conhecimentos do comportamento humano para gerar e promover saúde para quem

está doente; a prática do cuidado é o centro ou a essência da enfermagem.

Não podemos pensar em modelos de cuidado sem fazer reflexões

pessoais e coletivas, que passam pela compreensão do valor desse cuidado no

contexto sócio-político e cultural em que se insere. Isso porque cada comunidade

tem uma maneira própria e peculiar de cuidar de si e dos outros.

Saber cuidar inclui o aprender e o fazer, ou seja, habilidades e atitudes

frente a situações socioambientais; exige incorporar-se no trabalho coletivo, em

práticas que exercitem a solidariedade em prol de um ambiente saudável

(TEIXEIRA, 2008).

Para Coelho (2000), cuidar e cuidado são sinônimos, mas distinguem-se

ao passo que se completam; o cuidar é o processo que o enfermeiro desenvolve

ainda no campo das ideias, ou seja, engloba todo o pensar acerca das ações mais

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simples até as mais complexas destinadas ao atendimento do indivíduo e suas

necessidades, levando em consideração a realidade das condições estruturais,

ambientais e da equipe disponível. O cuidado representa a execução dessas ações

por qualquer membro da equipe de enfermagem, configurando a assistência direta e

imediata. Por isso, quando voltados à prática assistencial, deve-se abordar

conjuntamente cuidar/cuidado.

Para Silva et al (2008), cuidado provém do latim cogitatu:

pensado,imaginado e meditado. A origem etimológica é cogitâtus: refletido. O

cuidado também se refere a dedicação, cujo comportamento, aparência, formação

moral e intelectual são primorosos (falando de pessoas); é também atenção

especial, comportamento precavido, zelo, desvelo que se dedica a alguém ou algo.

O cuidado nasce quando se conhece a essência de todas as coisas,

quando se descobre os propósitos e finalidades da vida, quando o homem se

compromete e assume a responsabilidade de zelar, atender e preocupar-se com o

outro (BOFF, 1999).

O cuidado manifesta-se, na preservação do potencial saudável dos

cidadãos e depende de uma concepção ética que contemple a vida como um bem

valioso em si. Por ser um conceito de amplo espectro, pode incorporar diversos

significados. Ora quer dizer solidarizar-se, evocando relacionamentos

compartilhados entre cidadãos em comunidades, ora, dependendo das

circunstâncias e da doutrina adotada, transmite uma noção de obrigação, dever e

compromisso social (SILVA et al ,2008).

O cuidado significa desvelo, solicitude, diligência, zelo, atenção e se

concretiza no contexto da vida em sociedade. Cuidar também implica colocar-se no

lugar do outro, em situações diversas, quer na dimensão pessoal, quer na social. É

um modo de estar com o outro, no que se refere a questões especiais da vida dos

cidadãos e de suas relações sociais, dentre estas o nascimento, a promoção e a

recuperação da saúde e a própria morte.

Por cotidiano entendemos o espaço – território das práticas humanas

realizadas pelos atores sociais no seu dia-a-dia, mas não se resuma à mecanicidade

da rotina. Apesar de serem, na maioria das vezes, vistas como algo banal ou

insignificante, as ações cotidianas compõem um campo extremamente frutífero para

o desenvolvimento das relações sociais e, consequentemente, de estudos sobre a

sociedade. Dentre as principais características do cotidiano, podemos apontar a

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probabilidade, a espontaneidade, a sociabilidade, a polissemia e a heterogeneidade

nas relações humanas (MEDEIROS, 2007).

O foco no cotidiano se justifica por ser este o lócus onde as experiências,

relações e práticas acontecem de modo dinâmico. Santos (2006), afirma que o

cotidiano representa o aspecto de um lugar que é compartilhado entre pessoas,

grupos e instituições, numa relação dialética de conflito e cooperação, que é à base

da vida comum. Assim, estudar os atores e suas práticas no dia a dia é fundamental,

pois localiza aspectos objetivos e subjetivos que constroem a vida institucional e

social.

Para Heller (1994), é na vida cotidiana que se produzem as relações

sociais entre os homens. É através da cotidianidade que o indivíduo se insere na

sociedade, reproduzindo as atividades e a cultura existentes. A cópia, a mimese, e a

primeira forma que o homem tem de se relacionar e de aprender. É por meio dessa

reprodução do indivíduo que acontece a reprodução social. Estar inserido na

sociedade é organizar uma vida cotidiana capaz de conduzir a uma continuidade,

em interação com os outros à sua volta e com o modo de produção da sociedade.

Pinheiro (2006) corrobora essa assertiva, ao afirmar que a demanda dos

serviços de saúde se constrói cotidianamente, fruto de uma inter-relação entre as

normas e as práticas que orientam os diferentes atores envolvidos (indivíduos,

profissionais e a instituição). Nas pesquisas desenvolvidas pela autora, o cotidiano é

o lugar onde os elementos da demanda em saúde surgem da interação entre os

sujeitos, e na sua relação com a oferta dos serviços, em face de um determinado

projeto político institucional. É também no cotidiano que a sociedade encontra a

oportunidade de se transformar e se reconstruir. Uma mudança que se inicia com

pequenas alterações na vida de cada indivíduo, até alcançar o âmbito da

coletividade.

Para Morin (1992), há que se retornar ao conhecimento cotidiano, pois as

ideias, os saberes, as crenças, as percepções e outras manifestações ricas de

significados se dão e habitam no mundo da vida, partindo dele e a ele retornando de

intensas relações.

Para Teixeira (2001) o cuidar cotidiano de saúde constitue-se de uma

dimensão cognitiva (OS SABERES), uma interativa (OS ENCONTROS) e uma

conectiva (NATUEZA). Estas dimensões se desdobram em extensões do cuidar

(cuidar do eu, do outro e da família, da casa e do lugar),demonstrando que o cuidar

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cotidiano se operacionaliza em quatro (04) extensões. Tanto as multidimensões

como as multiextensões, com base em redes que constroem e nós que impõem, são

atravessadas, ao mesmo tempo em que dão origem a dois (02) ciclos (benefício –

risco e cuidar – descuidar), apontando para uma complexidade do cuidar cotidiano

de saúde, como representado no Diagrama.

Diagrama 1: Cuidar cotidiano de saúde

Dimensão Interativa

(OS ENCONTROS)

Cuidar do Eu

Ciclo Cuidar do Outro Ciclo

Cuidar-Descuidar Benefício-Risco

Cuidar da Casa

Dimensão Cognitiva

(OS SABERES)

Dimensão Conectiva

(A NATUREZA) Fonte: Teixeira (2001)

Os ciclos benefício – risco e cuidar – descuidar perpassam as dimensões

e extensões, e estabelecem a dinâmica complexa e dialógica do cuidar cotidiano; e

indicam-nos os desafios enfrentados pelos moradores no dia-a-dia, bem como

aqueles a serem enfrentados pelas políticas públicas, com vistas ao alcance de uma

qualidade de vida em sociedade.

Cuidar do Lugar

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2.3 LINHAS HISTÓRICAS: QUILOMBO, QUILOMBOLAS E POLITICAS PÚBLICAS.

Os Quilombos representam uma das maiores expressões de luta

organizada no Brasil, em resistência ao sistema colonial-escravista, atuando sobre

questões estruturais, em diferentes momentos histórico-culturais do país, sob a

inspiração, liderança e orientação político ideológica de africanos escravizados e de

seus descendentes de africanos nascidos no Brasil. O processo de colonização e

escravidão no Brasil durou mais de 300 anos. O Brasil foi o último país do mundo a

abolir a escravidão, através de uma lei que atirou os ex-escravizados numa

sociedade na qual estes não tinham condições mínimas de sobrevivência.

Quilombo é um movimento amplo e permanente que se caracteriza pelas seguintes dimensões: vivência de povos africanos que se recusavam à submissão, à exploração, à violência do sistema colonial e do escravismo; formas associativas que se criavam em florestas de difícil acesso, com defesa e organização sócio- econômico política própria; sustentação da continuidade africana através de genuínos grupos de resistência política e cultural (NASCIMENTO, 1980, p.32) .

As comunidades de quilombos se constituíram a partir de uma grande

diversidade de processos, que incluem as fugas com ocupação de terras livres e

geralmente isoladas, mas também as heranças, doações, recebimento de terras

como pagamentos de serviços prestados ao Estado, simples permanências nas

terras que ocupavam e cultivavam no interior de grandes propriedades, bem como a

compra de terras, tanto durante a vigência do sistema escravocrata quanto após sua

abolição (CPISP, 2009).

Sabe-se que os quilombolas carregam consigo e ainda praticam os

costumes de seus antepassados, entre esses costumes está à prática do uso das

plantas medicinais como uma alternativa para as curas e tratamentos de suas

enfermidades, assim como outros meios de tratamento (NASCIMENTO, 1980).

Segundo Marin & Castro (2004), os quilombos não pertencem somente a

nosso passado escravista. Tampouco se configuram como comunidades isoladas,

no tempo e no espaço, sem qualquer participação em nossa estrutura social. Ao

contrário, as mais de 2 mil comunidades quilombolas espalhadas pelo território

brasileiro mantêm-se vivas e atuantes, lutando pelo direito de propriedade de suas

terras consagrado pela constituição federal desde 1988.Para Schmitt (2002):

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Quilombolas é designação comum aos escravos refugiados em quilombos, ou descendentes de escravos negros cujos antepassados no período da escravidão fugiram dos engenhos de cana-de-açúcar, fazendas e pequenas propriedades onde executavam diversos trabalhos braçais para formar pequenos vilarejos chamados de quilombos (p.4).

Local isolado, formado por escravos negros fugidos. Esta talvez seja a

primeira ideia que vem à mente quando se pensa em quilombo. Essa noção remete-

nos a um passado remoto de nossa História, ligado exclusivamente ao período no

qual houve escravidão no País. Quilombo seria, pois, uma forma de se rebelar

contra esse sistema e aonde os negros iriam se esconder e se isolar do restante da

população.

Consagrada pela “história oficial”, essa visão ainda permanece arraigada

no senso comum. Por isso o espanto quando se fala sobre comunidades

quilombolas presentes e atuantes nos dias de hoje, passados mais de cem anos do

fim do sistema escravocrata (CPISP, 2009).

A palavra "quilombo” tem origem nos termos "kilombo" (quimbundo) ou

"ochilombo” (umbundo), e esta presente em outras línguas faladas ainda hoje por

diversos povos Bantus que habitam a região de Angola, na África Ocidental.

Originalmente, designava apenas um lugar de pouso utilizado por populações

nômades ou em deslocamento; posteriormente passou a designar também as

paragens e acampamentos das caravanas que faziam o comércio de cera, escravos

e outros itens cobiçados pelos colonizadores.Foi no Brasil que o termo "quilombo"

ganhou o sentido de comunidades autônomas de escravos fugitivos. Havia

escravidão, porém, em alguns quilombos (MOURA, 2003).

Um quilombo era um local de refúgio dos escravos no Brasil, em sua

maioria afrodescendentes (negros e mestiços), havendo minorias indígenas e

brancas.Tradicionalmente, os quilombos eram das regiões de grande concentração

de escravos, afastados dos centros urbanos e em locais de difícil acesso.

Embrenhados nas matas, selvas ou montanhas, esses núcleos se transformaram em

aldeias, dedicando-se à economia de subsistência e às vezes ao comércio, alguns

tendo mesmo prosperado(PENTEADO, 2004).

Existem registros de quilombos em todas as regiões do país.

Primeiramente um destaque especial ao estado de Alagoas, mais precisamente no

interior na cidade de União dos Palmares, que até hoje concentra o principal e maior

quilombo que já existiu: o quilombo dos Palmares. Segundo os registros existem

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quilombos nos seguintes estados brasileiros: Pernambuco, Bahia, Goiás, Mato

Grosso, Minas Gerais, Pará, Rio de Janeiro e São Paulo.Os seus

habitantes,denominados de "quilombolas", eram originalmente agrupamentos de ex–

escravos fugidos de seus senhores desde os primeiros tempos do período colonial.

Em algumas épocas e locais, tentaram reproduzir a organização social africana,

inclusive com a escolha de reis tribais (MARIN ; CASTRO, 2009).

A palavra africana remonta aos séculos XVI e XVII. Para o historiador Joel

Rufino dos Santos, o nome vem da África Ocidental, partindo do norte de Angola,

próximo ao Rio Kuanga, onde portugueses e holandeses iniciam o tráfico negreiro.

Os africanos capturados por outros africanos eram recolhidos a depósitos

provisórios, prisões a céu aberto, ajuntamentos que foram chamados de quilombos.

Transferido para o Brasil, o nome terá outro significado e outro contexto. Nas

diversas nações e sociedades que se formaram no Novo Mundo as comunidades

formadas por negros escravos, em sua maioria fugida do trabalho forçado e da ação

das forças escravocratas, foram chamadas de quilombos, no Brasil; de palenques,

na Colômbia e em Cuba; de cumbes, na Venezuela; de marrons no Haiti , Caribe;

Jamaica e sul dos Estados Unidos, de cimarrones, em diversas partes da América

Espanhola(REIS; GOMES, 1996).

Para o rei de Portugal, em documento de 02 de dezembro de 1740,

quilombo era “toda habitação de negros fugidos que passem de cinco, em parte

despovoada, ainda que não tenham ranchos levantados nem se achem pilões neles”

(SIQUEIRA; CARDOSO, 1995).

As comunidades remanescentes de quilombos são detentoras de direitos

culturais e históricos, assegurados pelos artigos 215 e 216 da Constituição Federal

que tratam das questões relativas à preservação dos valores culturais da população

negra, e elevam as terras dos remanescentes de quilombos à condição de Território

Cultural Nacional. Organizadas para garantir seu direito imemorial à propriedade da

terra, as comunidades remanescentes de quilombos são preservadoras do seu meio,

respeitam o local onde vivem e reivindicam condições que permitam à sua

comunidade a permanência em suas terras. Esta população sofre constantes

ameaças de subtração e expropriação territorial dos mais diversificados inimigos que

cobiçam seus territórios por vários motivos: pela fertilidade do solo, pela riqueza em

recursos naturais, pela qualidade da madeira, da água, a riqueza do subsolo

(MARIN; CASTRO, 1999).

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Hoje, no Brasil, estudos realizados por diferentes profissionais

educadores, sociólogos, antropólogos, historiadores e juristas buscam determinados

critérios para denominar a luta quilombola: comunidades negras rurais, terras de

pretos, remanescentes de comunidades de quilombos, hoje comunidades

remanescentes de quilombos compreendendo: descendentes dos primeiros

habitantes da terra; trabalhadores rurais que ali mantém sua residência habitual ou

permaneçam emocionalmente vinculados. Os debates em torno destas designações

ganham sentido, sobretudo, para efeito de medidas legais, jurídicas ou definição de

direitos sociais, econômicos e políticos para os quilombolas e seus descendentes.

Por exemplo, direito à legalização da terra, à moradia, à educação, à saúde, ao lazer

(LINHARES, 2002).

O Quilombo dos Palmares, se localizava em Alagoas (Serra da Barriga).

Com a fuga em massa nessa época, em 1670, o quilombo abrigava mais de 50 mil

escravos. Os quilombolas começaram a se organizar e se tornarem muito fortes

nessa região, vistos como ameaça pela sociedade colonial. Já eram conhecidos a

essa época, pois por toda essa estrutura e tamanho, já não tinham mais como ser

ignorados. Houve expedições para destruir essa comunidade, porém os quilombolas

resistiram. Um tratado foi criado entre o governo de Pernambuco e um dos principais

líderes do Quilombo de Palmares, Ganga Zumba. Esse tratado levou o nome de

“Acordo de Recife” que consistia no reconhecimento do governo à liberdade de

todos os negros nascidos em Palmares. Mas nem todos estavam de acordo com

Zumba, pois muitos quilombos consideravam traição ter qualquer tipo de pacto junto

ao governo. Os opositores o envenenaram. De sua morte em diante, Palmares foi

comandado por Zumbi que era resistente a qualquer tipo de negociação com a

autoridade. Após inúmeros conflitos Zumbi foi morto e degolado por bandeirantes.

Hoje, Zumbi é uma figura importante para a sociedade afro brasileira, que o

considera como um grande herói e um valente que lutou pelos direitos do seu povo

até a sua morte.

Os escravos refugiados nos quilombos eram designados como

quilombolas. Indignados com a sua situação e o tratamento fornecido a eles, às

vezes tratado como animais pelos senhores de engenho, no período de escravidão,

que consiste entre os séculos XVII e XVIII os negros se rebelavam e fugiam em

bandos, ou, quando conseguiam, sozinhos, mas os escravos fugitivos formavam

uma comunidade nomeada Quilombo. Local onde eles podiam divulgar e vivenciar

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sua própria cultura sem repressão. Claro que por serem fugitivos buscavam montar

essa comunidade em lugar bem distante e no meio da mata para não serem

encontrados por seus ex-senhores. Na época do ciclo da cana-de-açúcar, após

a invasão dos holandeses, muitas terras foram abandonadas, com isso uma grande

parte de escravos buscaram os quilombos para estarem junto aos seus (MARIN;

CASTRO, 2004).

Para Caldeira (1998), os habitantes dos quilombos, chamados

“quilombolas”, eram escravos fugidos de seus senhores desde as primeiras fases

do período colonial. A maioria dos quilombolas sofria com a perseguição dos donos

de terras, pois havia interesse em retomar um escravo fugitivo e puni-lo como

exemplo para os demais.

A história da escravidão no Pará foi marcada pela resistência de negros e

índios que buscaram a sua liberdade por meio da fuga, da construção dos quilombos

e da participação na Cabanagem. No século XXI, os descendentes dos quilombos

prosseguem na trajetória de luta constante por seus direitos. O alvo principal agora é

a titulação das suas terras duramente conquistadas.

Desde 1998, o Pará conta com uma legislação que regulamenta o

processo de titulação dessa categoria de terras. Inovadora, essa legislação garante

o direito à auto-identificação das comunidades sem a necessidade do laudo

antropológico - algo que o governo federal só veio a reconhecer em 2003. As

mulheres e os homens quilombolas do Pará alcançaram diversas conquistas

pioneiras, abrindo caminho para a consolidação dos direitos das comunidades

quilombolas em todo o Brasil.

Foi no Pará que aconteceu a primeira titulação de uma terra de quilombo

no Brasil, em cumprimento ao artigo 68 do Ato das Disposições Transitórias da

Constituição Federal. Em 20 de novembro de 1995, a comunidade quilombola de

Boa Vista situada no município de Oriximiná, recebeu do INCRA o título de

propriedade de seu território com 1.125 hectares.

Essa titulação foi um marco que consolidou o entendimento de que o

artigo 68 é auto-aplicável e que a regularização desta categoria de terras deve ser

coletiva, respeitando a forma como os quilombolas concebem e ocupam os seus

territórios.

Em 2005, o Estado do Pará concentrava mais da metade (58%) da

dimensão total de terras quilombolas tituladas do país. São 27 territórios, ocupados

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por 79 comunidades (com cerca de 3.700 famílias), que somam 527.139 hectares.

As conquistas dos quilombolas paraenses traduzem-se também em leis

estaduais e programas de governo destinados especificamente a este setor da

população. O reconhecimento de direitos específicos às comunidades quilombolas é

algo relativamente recente no Brasil. Enquanto os direitos dos índios às suas terras

são reconhecidos desde a época colonial e pelas sucessivas Constituições

Brasileiras desde 1934, o direito dos remanescentes de quilombos foi reconhecido

pela primeira vez no ano de 1988 quando da promulgação da atual Constituição que

no artigo 68 das disposições transitórias determinou: “Aos remanescentes das

comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas terras, é reconhecida a

propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes títulos respectivos”(BRASIL,

2007).

A concretização do artigo 68 tem sido difícil. A primeira titulação de uma

terra quilombola deu-se somente sete anos após a promulgação da Constituição, em

novembro de 1995. Até outubro de 2010, somente 105 terras quilombolas foram

tituladas (CPISP, 2012).

A Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, esta

embasada nos princípios constitucionais de cidadania e dignidade da pessoa

humana (BRASIL, 1988, ART. 1º, INC. II E III), do repúdio ao racismo (BRASIL,

1988, art. 4º, inc. VIII) e da igualdade (BRASIL, art. 5º, caput). É igualmente coerente

com o objetivo fundamental da Republica Federativa do Brasil de “promover o bem

de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras

formas de discriminação” (BRASIL, 2007).

Esta política ainda reafirma os princípios do SUS, constantes da Lei nº

8,080, de 19 de setembro de 1990, tais como: a) a universalidade do acesso,

compreendido como o “acesso garantido aos serviços de saúde para a população

em todos os níveis de assistência, sem preconceitos ou privilégios de qualquer

espécie”; b) a integralidade da atenção, ”entendida como um conjunto articulado e

contínuo de ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigido

para cada caso, em todos os níveis de complexidade do sistema”; c) a igualdade da

atenção à saúde; e d) descentralização político-administrativa, com direção única em

cada esfera de governo (BRASIL, 1990).

A política tem como objetivo geral promover a saúde integral da

população negra, priorizando a redução da desigualdade étnico-raciais, o combate

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ao racismo e à discriminação nas instituições e serviços do SUS; e como um dos

objetivos específicos: garantir e ampliar o acesso da população negra residente em

áreas urbanas, em particular nas regiões periféricas dos grandes centros, às ações

e aos serviços de saúde;

A lei nº 12.288 de 20 de julho de 2010 institui o Estatuto da Igualdade

Racial, destinado a garantir à população negra a efetivação da igualdade de

oportunidades, a defesa dos direitos étnicos individuais, coletivos e difusos e o

combate à discriminação e às demais formas de intolerância étnica. Vejamos partes

de seu conteúdo:

Parágrafo único. Para efeito deste Estatuto, considera-se:

I - discriminação racial ou étnico-racial: toda distinção, exclusão, restrição ou preferência baseada em raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica que tenha por objeto anular ou restringir o reconhecimento, gozo ou exercício, em igualdade de condições, de direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos político, econômico, social, cultural ou em qualquer outro campo da vida pública ou privada;

II - desigualdade racial: toda situação injustificada de diferenciação de acesso e fruição de bens, serviços e oportunidades, nas esferas pública e privada, em virtude de raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica;

CAPÍTULO I. DO DIREITO À SAÚDE

Art. 6o O direito à saúde da população negra será garantido pelo poder público mediante políticas universais, sociais e econômicas destinadas à redução do risco de doenças e de outros agravos.

§ 1o O acesso universal e igualitário ao Sistema Único de Saúde (SUS) para promoção, proteção e recuperação da saúde da população negra será de responsabilidade dos órgãos e instituições públicas federais, estaduais, distritais e municipais, da administração direta e indireta.

§ 2o O poder público garantirá que o segmento da população negra vinculado aos seguros privados de saúde seja tratado sem discriminação. Art. 7o O conjunto de ações de saúde voltadas à população negra constitui a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, organizada de acordo com as diretrizes abaixo especificadas (BRASIL, 2010).

O Pará foi o primeiro governo a proceder a uma desapropriação para

garantir a propriedade de uma comunidade quilombola, em 2002. O governo do Pará

promulgou os Decretos 5.273, de 03/05/2002, e 5.382, de 12/07/2002, declarando

de utilidade pública, para fins de desapropriação, imóveis rurais situados nas terras

quilombolas Altos Trombetas e Itacuã- Miri, de forma a poder titular tais áreas em

nome dos quilombolas.

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Entre 1997 e 2003, o Instituto de Terras do Pará (ITERPA) regularizou

410.275,11 hectares de terra, o equivalente a 78% da dimensão total de terras

quilombolas tituladas no Pará. No entanto, o governo do Pará não manteve o ritmo

das titulações. Nenhuma terra de quilombo foi titulada entre 2004 e setembro de

2005.

Em novembro de 2005, pelo menos 40 comunidades aguardavam pela

conclusão de processos em curso no ITERPA. A demora na regularização tende a

causar o acirramento dos conflitos envolvendo a disputa pelas terras de quilombo.

Muitas comunidades vivenciam situações de tensões e conflitos com os ocupantes

ilegais de suas terras.

Preocupada com esta situação, a Malungu lançou em 2004 uma

campanha para agilizar os processos. Embora o INCRA tenha titulado duas áreas no

Estado, o ITERPA continuou paralisado. Assim, apesar das vitórias, a luta dos

quilombolas paraenses está longe de acabar.

Na Constituição Estadual, destaca-se o artigo 322 que afirma: Aos

remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas terras,

é reconhecido a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes títulos

respectivos no prazo de um ano, depois de promulgada esta Constituição (PARÁ,

1989.p.99).

O termo “remanescente” serve para identificar populações que não

podem ser confundidas com os quilombos históricos, e nem associadas por

descendência somente. Grupos que passaram a contar com um reconhecimento

oficial de identidade e cultura, mas também com consequências diretas para sua

militância e principalmente para conflitos fundiários (CALHEIROS; STADTLER,

2010).

O Decreto nº 261, de 22 de Novembro de 2011 Institui a Política Estadual

para as Comunidades Remanescentes de Quilombos no Estado do Pará e dá outras

providências. No seu artigo 2º estabelece:

A Política Estadual para as comunidades Remanescentes de Quilombos tem por objetivo geral reconhecer, promover e proteger os direitos dessas comunidades assegurando-lhes melhoria da qualidade de vida, respeito as suas identidades, instituições e formas de organização, garantindo a participação de seus representantes nas decisões.

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Todos esses dispositivos legais, a nosso ver, demonstram que existe uma

política voltada para as populações quilombolas, no que se refere aos direitos que

concebe o sistema único de saúde no que se refere à universalidade.

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3 CUIDAR COTIDIANO DE SAÚDE EM

SITUAÇÕES DE URGÊNCIA E

EMERGÊNCA

Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal – 2011

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3.1. QUEM SÃO E DE ONDE FALAM OS SUJEITOS DO ESTUDO

Quanto ao perfil pessoal dos sujeitos do estudo constatamos que grande

parte encontra-se na faixa etária de 30 a 39 anos, são do gênero feminino, referem a

cor negra, vivem em união estável , tem o 1º grau incompleto e são produtores

rurais.

Destaca-se que a maioria dos sujeitos são mulheres (18 dentre 20

sujeitos) e por serem tradicionalmente as cuidadoras da saúde da família foram

indicadas para falar sobre o tema. Sobre esse aspecto destacam-se algumas

afirmações-constatações de diferentes estudos. Segundo Neves e Cabral (2008), o

contexto da família, está socioculturalmente determinado, e a mulher é a provedora

dos cuidados às crianças, idosos e doentes. Nesse contexto, a mulher assume o

papel de cuidadora principal, dedicando-se integralmente ao cuidado. Os legados

(da tradição, dedicação, abnegação, educação e socialização familiar e

solidariedade feminina, aliados à obrigação moral) que são transmitidos

culturalmente para as meninas da família, contribuíram para que elas

internalizassem a função de cuidadora principal da família. Já o legado da

dedicação, implica numa exclusividade da mulher para o desenvolvimento do papel

de cuidadora de crianças, em particular daquelas com necessidades especiais de

saúde. Esses legados reforçam que o papel da mulher para cuidar é uma construção

social ideologicamente determinada, o que se constitui em uma obrigação moral.

Nesse sentido, para as mulheres é delegada a responsabilidade do cuidado de toda

a família, como uma obrigação moral socioculturalmente construída.

Segundo Gonçalves et al (2006), na maioria dos países, observa-se que ao

longo da história o cuidado é exercido por mulheres. Também em nosso meio as

cuidadoras no contexto familiar, são principalmente, as esposas, as filhas e as netas.

Tal fato pode ser explicado pela tradição de no passado recente as mulheres não

desempenharem funções fora de casa, justificando sua maior disponibilidade para o

cuidado da família. Contudo, essa realidade vem sendo modificada em função da

inserção social da mulher participando progressivamente no mercado de trabalho.

Os estudos em nosso meio apontam que, geralmente, as cuidadoras residem com o

idoso, são casadas e, por isso, somam às suas atividades de cuidar as atividades

domésticas próprias de mãe, esposa e avó, gerando um acúmulo de trabalho em

casa e uma sobrecarga nos diversos domínios da vida da cuidadora, como: social,

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físico, emocional, espiritual, enfim, contribuindo para o autodescuido da própria

saúde.

No Quadro 1, apresento os dados pessoais (idade, gênero, cor, estado

civil, escolaridade e ocupação) dos sujeitos do estudo.

Quadro 1 – Perfil dos Sujeitos

IDADE GÊNERO COR ESTADO CIVIL ESCOLARIDADE OCUPAÇÃO

58

M

NEGRA

SOLTEIRO

1º GRAU INCOMPLETO

AGRICULTOR

37

F

NEGRA

VIUVA

1º GRAU INCOMPLETO

TRABALHADORA RURAL

37

F

NEGRA

VIUVA

1º GRAU COMPLETO

TRABALHADORA RURAL

43

F

NEGRA

CASADA

1º GRAU INCOMPLETO

AGRICULTORA RURAL

25

F

NEGRA

UNIÃO ESTÁVEL

2º GRAU COMPLETO

TRABALHADORA RURAL

33

F

NEGRA

UNIÃO ESTÁVEL

3º GRAU COMPLETO

AGENTE DE PORTARIA

30

F

NEGRA

UNIÃO

ESTÁVEL

1º GRAU COMPLETO

TRABALHADORA RURAL

28

F

NEGRA

UNIÃO ESTÁVEL

1º GRAU COMPLETO

BABÁ

50

F

NEGRA

UNIÃO ESTÁVEL

1º GRAU INCOMPLETO

MANIPULADORA DE ALIMENTOS

17

F

NEGRA

UNIÃO ESTÁVEL

1º GRAU INCOMPLETO

ESTUDANTE

32

F

NEGRA

UNIÃO

ESTÁVEL

3º GRAU INCOMPLETO

PROFESSORA

46

F

NEGRA

UNIÃO ESTÁVEL

ANALFABETO

PRODUTORA RURAL

42

F

PARDA

UNIÃO ESTÁVEL

1º GRAU COMPLETO

DO LAR

37

F

NEGRA

UNIÃO ESTÁVEL

ANALFABETO

AGRICULTORA RURAL

39

F

NEGRA

SOLTEIRA

3º GRAU COMPLETO

SECRETARIA ESCOLA

33

F

NEGRA

UNIÃO ESTÁVEL

3º GRAU INCOMPLETO

PRODUTORA RURAL

34

F

NEGRA

UNIÃO ESTÁVEL

1º GRAU COMPLETO

PRODUTORA RURAL

47

F

NEGRA

SOLTEIRA 1º GRAU INCOMPLETO

PRODUTORA RURAL

65

M

NEGRA

CASADO

1º GRAU INCOMPLETO

PRODUTOR RURAL

51

F

NEGRA

UNIÃO ESTÁVEL

1º GRAU INCOMPLETO

PRODUTORA RURAL

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Sobre o perfil familiar constatamos que a maioria divide seu espaço

domiciliar com oito (08) membros, entre esposo (a), filhos, mãe, irmãos e sobrinhos.

Tal constatação vai ao encontro dos dados nacionais e regionais, pois segundo o

PNAD (2009) o número médio de pessoas por família residente em domicílio

particular foi de 3,1 pessoas, o mesmo registrado em 2008. Regionalmente, o menor

valor deste indicador foi observado na Região Sul (2,9). A Região Norte, apresentou

as maiores médias: 3,4, em 2009, e, 3,5, em 2008.

A família, segundo Moreira (2007), não é apenas uma instituição de

origem biológica, mas, sobretudo, um organismo com nítidos caracteres culturais e

sociais. Nas palavras de Hironaka (1999, p. 7),

“[...] é uma entidade histórica, ancestral como a historia, interligada com os

rumos e desvios da historia ela mesma, mutável na exata medida em que

mudam as estruturas e a arquitetura da própria historia através dos tempos

[...]; a historia da família se confunde com a historia da humanidade”. Trata-

se, em verdade, da celula mater da sociedade, do seu núcleo inicial, básico

e regular. É um microssistema social, onde os valores de uma época são

reproduzidos de modo a garantir a adequada formação do individuo.

A Lei Maria da Penha, ao estatuir, no seu art. 5o, II, que a família deve ser

“[...] compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou

se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por

vontade expressa” acabou se tornando a primeira norma infraconstitucional

a reconhecer categoricamente o conceito moderno de família. Dessa forma,

pode-se afirmar que a presente norma consagra, pela primeira vez, no

âmbito infraconstitucional, a ideia que a família não é constituída por

imposição da lei, mas sim por vontade dos seus próprios membros.

No Quadro 2, apresento o perfil familiar dos sujeitos do estudo

destacando o número de membros por casa-domicÍlio e grau de parentesco com o

sujeito – informante.

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Quadro 2 – Perfil Familiar dos Sujeitos

No quadro 3, trago o perfil domiciliar dos sujeitos, com ênfase no tipo de

moradia,número de cômodos, destino do lixo,origem da água,tipo de fossa e tipos de

animais domésticos.

Nº MEMBROS

GRAU DE PARENTESCO

3 1 ESPOSA 1 FILHO

5 3 FILHOS 1 IRMÃO 1 NETA

4 1 ESPOSO 2 FILHOS

8 1 ESPOSO 3 FILHOS 1 PAI 1 IRMÃ 1 NETO 1 GENRO

7 1 ESPOSO 3 FILHOS 1 MAE 1 IRMÃO 1 SOBRINHO

7 1 ESPOSO 5 FILHOS

4 1 ESPOSA 2 FILHOS

8 1 ESPOSO 3 FILHOS 1 MÃE 1 IRMAO 1 SOBRINHO

5 1 ESPOSO 1 FILHO 2 IRMAOS 1 NETO

2 1 ESPOSO

5 1 ESPOSO 2 FILHOS 1 IRMÃO 1 SOBRINHO

5 1 ESPOSO 3 FILHOS

5 1 ESPOSO 3 FILHOS

8 1 ESPOSO 7 FILHOS

6 2 FILHOS 1 PAI 1 MAE 1TIO

7 1 ESPOSO 3 FILHOS 1 NETA 1 GENRO

4 1 ESPOSO 2 FILHOS

8 3 FILHOS 1 SOBRINHO COM 3 FILHAS

2 1 ESPOSA

7 1 ESPOSO 3 FILHOS 2 NETOS

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Quadro 3 – Perfil Domiciliar dos Sujeitos

Evidenciamos que a maioria das famílias tem como tipo de moradia as

casas de madeira, com 08 cômodos, com o telhado de telhas de barro e brasilit; o

abastecimento de água é encanado com origem em poço aberto com bomba “sapo”.

O destino do lixo no período chuvoso são os buracos e no verão são queimados; o

destino dos dejetos é em fossa negra e a céu aberto. Essa realidade é um tanto

diferente dos dados nacionais, segundo a PNAD apenas 11,4% dos domicílios do

TIPO COMODOS LIXO AGUA FOSSA ANIMAIS

MADEIRA 4 QUEIMADO POÇO NEGRA GALINHAS/PATOS

ALVENARIA 5 BURACO ARTESIANO NEGRA GATO/ CACHORRO

ALVENARIA 5 QUEIMADO ARTESIANO NEGRA PAPAGAIO

ALVENARIA 6 BURACO POÇO NEGRA TUCANO

PAU A PIQUE

2 ENTERRA POÇO NEGRA CACHORRO/GAL

MADEIRA 3 QUEIMADO POÇO SÉPTICA GATO

ALVENARIA 3 CEU ABERTO POÇO NEGRA CACHORRO/GALINHA

PAU A PIQUE

1 CEU ABERTO POÇO NEGRA CACHORRO/GALINHA

MADEIRA 5 QUEIMADO CAÇIMBA NEGRA CACHORRO/GALINHA

MADEIRA 1 QUEIMADO POÇO NEGRA CACHORRO/GALINHA

ALVENARIA 5 BURACO ARTESIANO SÉPTICA PORCO, BURRO,PASSARINHO

MADEIRA 2 BURACO/QUEIMA POÇO NEGRA CACHORRO

ALVENARIA 5 QUEIMADO BOCA ABERTA NEGRA CACHORRO

MADEIRA 5 BURACO /QUEIMA POÇO NEGRA CACHORRO/GALINHA

MADEIRA 5 BURACO/QUEIMA POÇO SÉPTICA CACHORRO/GALINHA/GATO

ALVENARIA 5 QUEIMA / ENTERRA

POÇO ARTESIANO NEGRA CACHORRO/GALINHA

MADEIRA 4 QUEIMADO POÇO NÃO RESPONDEU

NÃO RESPONDEU

ALVENARIA 5 QUEIMA/ENTERRA POÇO NEGRA CACHORRO/GATO/GALINHA

MADEIRA PAU A PIQUE

4 BURACO POÇO ARTESIANO NEGRA CACHORRO/ GATO

MADEIRA 4 QUEIMA/ ADUBA POÇO NEGRA CACHORRO/ GALINHA

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país queimam o lixo na sua propriedade; a participação dos domicílios atendidos

pelo serviço de rede coletora ou por fossa séptica ligada à rede coletora foi de

59,1% (PNAD, 2009).

Carvinatto (2003) refere que a etapa de captação de água é aquela

realizada para coletar de modo adequado as águas naturais; nos bairros ou regiões

não atendidos pelos serviços públicos de abastecimento, cada residência é

responsável pelo seu próprio suprimento de água, e uma alternativa bastante

utilizada é a abertura de poços domésticos, mas é necessário que sua construção

seja feita de forma adequada, assim como para o destino dos detritos. Ainda para

essa autora sobre a escavação de fossas secas, que é bastante comum no Brasil

são construídas geralmente no quintal, servindo como sanitário.

Na maioria das cidades brasileiras, o lixo das casas, das indústrias e dos

hospitais simplesmente é jogado no solo, sem nenhuma cobertura, formando

depósitos a céu aberto também conhecido como lixões. Essa não é uma maneira

correta de se dispor o lixo e pode gerar problemas ambientais e de saúde pública

O ser humano, ao mesmo tempo em que interfere no ambiente, gerando

detritos que podem disseminar doenças, possui condições de evitar que isso ocorra,

empregando medidas de saneamento (CARVINATTO 2003). Por isso Investir em

saneamento é a única forma de se reverter o quadro existente. Dados divulgados

pelo Ministério da Saúde afirmam que para cada R$1,00 (hum real) investido no

setor de saneamento, economiza-se R$ 4,00 (quatro reais) na área de medicina

curativa (BRASIL, 2009).

Sobre o acesso à comunidade destaca-se que é necessário percorrer

uma estrada de chão batido, com atoleiros e igarapé, com uma paisagem muito

bonita; infelizmente há lixo jogado a céu aberto, covões e de vez em quando

ocorrem desabamentos de barrancos.

A área é rodeada de árvores frutíferas e vegetações diversas, com clima

quente e rajadas de ventos frequentes; no período noturno tem baixa de

temperatura. As terras, o clima e a vegetação são aspectos geográficos

representativos da região amazônica. Na região o clima é equatorial, quente e

úmido, com temperatura variando pouco durante o ano. As chuvas são abundantes,

nos meses de janeiro a abril.

As casas são em sua maioria de madeira. Estão distribuídas em

microrregiões, em torno de uma família, cobertas com telhas de barro ou brasilit;

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com sua área externa rodeadas de arvores frutíferas. A comunidade vive do plantio

de mandioca; macaxeira; maxixe e jerimum nas roças de inverno e pelas culturas

perenes e semiperenes (cupuaçu, abacaba, açaí, pupunha, uxi,acerola e maracujá).

Os agricultores de Abacatal produzem para o seu consumo. A produção excedente

assim como farinha, farinha de tapioca, goma, tucupi e algumas frutas, destina-se

para venda na feira Livre de Ananindeua; em raros casos, é vendida dentro dos seus

sítios.

Sobre a área – local onde vive a comunidade, optei descrevê-la por

meio de uma narrativa imagética. O uso da fotografia é capaz de preservar o dado e

convergir para o leitor uma informação cultural a respeito do grupo estudado. A

linguagem fotográfica constitui-se um meio eficiente de registrar e difundir imagens e

está condicionada pelo nível de informação, capacidade de olhar e habilidade

técnica de quem a utiliza (ACHUTTI, 1970).

Para este autor os antropólogos Mead e Bateson (1967), deixaram a ideia

que as fotografias, antes de serem cópias da realidade, são “textos”, afirmações e

interpretações sobre o real. Para uma imagem alcançar eficácia simbólica, não basta

que seja vista, ela tem que ser interpretada por um sujeito que compartilhe dos

códigos simbólicos carregados de imagem.

A seguir faço narrativa imagética da comunidade quilombola Abacatal. A

apresentação das imagens segue o percurso do cotidiano, da entrada até os

diferentes lugares em que estive junto com a comunidade.As fotografias foram

obtidas por meio de uma máquina fotográfica da própria autora.

Fotografia 5: Estrada de acesso a comunidade no verão

Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal 2011

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Fotografia 6: Estrada de acesso a comunidade no inverno

Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal

Fotografia 7: Estrada de acesso a Portaria da Comunidade

Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal – 2011

Fotografia 8: Casa de alvenaria

Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal – 2011

Fotografia 7:

Estrada de

Acesso a

Portaria da

comunidade

Fotografia 6: Estrada de acesso a Comunidade no verão

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Fotografia 9: Casa de Madeira

Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal – 2011

Fotografia 10: Casa de alvenaria sem reboco

Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal – 2011

Fotografia 11: Casa de Pau a Pique

Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal – 2011

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Fotografia 12: Crianças brincando no quintal

Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal – 2011

Fotografia 13: conversando e identificando sua cultura

Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal – 2011

Fotografia 14: Brincando com Caroço de tucumã

Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal – 2011

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Fotografia 15: Moradores descascando a mandioca

Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal – 2012

Fotografia 16: Interior da Casa da Farinha

Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal – 2012

Fotografia 17: Fazendo a Farinha

Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal – 2012

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Fotografia 18: Peneirando e torrando a mandioca

Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal – 2012

Fotografia 19: Fervendo o Tucupi

Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal – 2012

Fotografia 20: Peneirando a Farinha

Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal – 2012

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Fotografia 21: Área Roçada e plantada

Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal – 2012

Fotografia 22: Cuidando da Roça

Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal – 2012

Fotografia 23: Colheita de mandioca

Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal – 2012

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Fotografia 24: Missa do Círio do Sagrado Coração de Jesus

Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal – 2011

Fotografia 25: O início da Procissão

Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal – 2011

Fotografia 26: Acompanhando a procissão

Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal – 2011

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Fotografia 27: A procissão

Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal – 2011

Fotografia 28: O barracão do Sagrado Coração de Jesus

Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal – 2011

Fotografia 29: O leilão na festa do Sagrado Coração de Jesus

Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal – 2011

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69

Fotografia 30: Caminhada dos jovens

Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal – 2011

Fotografia 31: Parada no igarapé num dia de sol

Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal – 2011

Fotografia 32: Fixação da cruz

Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal – 2011

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Fotografia 33: Um dos meios de transporte

Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal – 2011

Fotografia 34: A bicicleta como instrumento na Pesquisa

Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal – 2011

Fotografia 35: Cuidando das crianças

Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal – 2011

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Fotografia 36: Cuidando da família

Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal – 2011

Fotografia 37: Cuidando do alimento

Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal – 2011

Fotografia 38: O cuidado cotidiano doméstico

Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal – 2011

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Sobre a localização da comunidade no município de Ananindeua, verificamos

que a área está circunscrita na área rural (número 23), dentre as áreas de serviços

do município de Ananindeua (Figura 3).

Figura 3: Áreas de serviços do município de Ananindeua

Fonte: http: // pt.wikipedia.org/wiki/ananindeua

Esta área recebe cobertura de uma Unidade de Saúde da Família

(USF- Aurá) que faz parte do Polo Sanitário I, localizada na Rodovia BR 316,

Estrada do Aurá s/n. Esta USF tem duas Equipes de Saúde da Família (ESF Jardim

Japonês e ESF Aurá). A ESF que dá cobertura à comunidade quilombola Abacatal é

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a ESF Jardim Japonês. Segundo o Cadastro Nacional de Estabelecimento de Saúde

,a equipe é composta: 1 enfermeira, 1 médico,1 cirurgião dentista,1 auxiliar de

enfermagem, 1 auxiliar em saúde bucal e 5 agentes comunitários de saúde.

Segundo a Enfermeira da Unidade de Saúde da Família do Aurá1, as

visitas são realizadas 1 vez ao mês; nestas visitas à comunidade realiza-se:

vacinação, visita nos domicílios, orientações quanto a higiene e saneamento,

agendamento de consultas. Segundo depoimento da Enfermeira, no 1º semestre do

ano não são realizadas porque a estrada fica “muito ruim”, e só entra carro de

tração; como o carro da unidade não tem essa característica, as visitas só são

realizadas no 2º semestre do ano, uma vez ao mês, de agosto a dezembro.

Sobre as condições de saúde-doença da comunidade, a Enfermeira da

USF referiu que a ”comunidade não manifesta tantos agravos a saúde”; nas crianças

são mais recorrentes as doenças prevalentes da infância como; insuficiência

respiratória, verminoses e quadros de diarréia; nos adultos é recorrente os

diabéticos e hipertensos; no momento não há nenhum caso de tuberculose e

hanseníase.

Sobre as situações de urgência e emergência que ocorrem na

comunidade, a Enfermeira relatou que quando acontece alguma urgência a

comunidade não recorre á USF Aurá; vão direto para o hospital, a ESF não tem

estrutura para atender casos de urgência e emergência, o que mais chega na

unidade é febre alta e crise asmática; outros casos mais graves de urgência não

chegam; só se sabe depois pela agente comunitária de saúde. A Enfermeira referiu

ocorrer com mais frequência: picada de cobra, queda de árvores com fraturas.

3.2. AS SITUAÇÕES DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA

3.2.1. As situações de urgência e emergência que demandam cuidados.

As situações de urgência e emergência foram reveladas pelos sujeitos

e registradas a partir de dois temas indutores. O primeiro trata das situações mais

frequentes com os sujeitos e/ou com a família. Obtivemos 38 tipos de situações

(alguns sujeitos mencionaram mais de uma situação), assim distribuídas e

apresentadas na Figura 1:

__________________________________________________________________

1 Dados obtidos na USF após contato verbal com a Enfermeira

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Figura 4- Tipos de situações de urgência e emergência com os sujeitos e/ou

família,comunidade quilombola, 2012

As situações mais frequentes e que mais se destacaram foram os sinais e

sintomas com 38% (dor, febre, diárreia, vômito, sangramento, tontura, hemorragia,

edema); tais sinais e sintomas fazem com que os sujeitos busquem atendimento e

caracterizam situações de urgência clínica. Segundo Bergeron e Bizjak (1999) esse

atendimento é realizado a indivíduo com sinais e sintomas de agravamento de

determinada patologia colocando em risco a sua vida, ou seja, podem se

encontrarem em estado crítico ou semi-crítico.

Os acidentes com arma branca, laborais e por causas externas(21%) são

situações decorrentes de atividades na roça e por violência urbana.

As demais situações são ocorrências clínicas, provenientes de doenças

crônicas degerativas, urgências traumatológicas e acidente ofídico.

As 38 situações envolveram, além do sujeito ( 05 ): Marido (04 ), esposa

(01), filhos (12), pais (05), netos (02) sobrinhos (06), irmã (02), tios (02).

Predominam, com maior frequencia, situações envolvendo os filhos e sobrinhos.

O segundo termo indutor trata das situações mais frequentes com

vizinhos e amigos, o que esta apresentado no gráfico 2.

38%

21%

17%

8%

8%

8% Sinais e Sintomas

Acidente com Arma Branca,laborais e causa externa Quedas com fraturas

Afecções Neuro-hematológicas

Afecções Cardiovasculares

Acidente Ofídico

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Figura 5 – Tipos de situações de urgência e emergência com vizinhos

amigos,comunidade abacatal,2011

Foram obtidos 14 tipos de situações. As mais frequentes foram os

traumas contusos(04) e urgências clinicas com (04).Segundo Coimbra et al (1998),

trauma, é toda e qualquer agressão ao corpo provocado por um agente causador se

constituindo em uma solução ou não de continuidade, podendo atingir diversas

estruturas.Considerando as respostas dos sujeitos sobre as situações de urgência e

emergência mais frequêntes na comunidadde obtivemos o seguinte resultado

(Gráfico 3).

Figura 6 – Situações mais frequentes de urgência e emergência

na comunidade abacatal,2011

4 4

3

2

1

Trauma Fechado Contuso

Clinicas Trauma Aberto por Arma Branca

Não souberam responder

Picada de Cobra

10

6

3 3 2 2

0

2

4

6

8

10

12

Picada de Cobra

F.A.B. Queda de Arvore

Diarréia Fratura Gripe

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Emergiram 10 casos de picada de cobra, seguidos de 6 casos de

ferimentos por arma branca (FAB), que são cortes provocados por terçado,

machado, enxada e foice, utilizados na roça sem o uso de proteção.

Acidente ofídico ou ofidismo é aquele causado por serpentes

peçonhentas ou não peçonhentas.As serpentes peçonhentas são todas as que

possuem glândula de veneno e aparelho inoculador (presas); por exemplo:

surucucu,jararaca, cascavel e coral; enquanto as não peçonhentas não possuem

veneno e nem o aparelho inoculador (presa); por exemplo: jiboia, sucuri. O ofidismo

atualmente é um problema de saúde pública, em virtude do grande número de

pessoas acidentadas no Brasil. A região Norte contribui com 9,36% dos casos

brasileiros (LEÃO, 1997).

3.2.2. Os cuidados prestados nas situações de urgência e emergência

Os cuidados prestados pelos sujeitos nas situações de urgência e

emergência envolvendo-os diretamente e/ou família, vizinhos e amigos, foram assim

distribuídos ( Grafico 4).

Figura 7: Os modos de cuidar dos sujeitos na comunidade abacatal,

2011

Verificamos entre os sujeitos que há 17 sujeitos que tanto cuidaram com

procedimentos como encaminharam para fora da comunidade (40%); e 16 que só

encaminham para fora da comunidade (37%) e 10 que só cuidaram com

40%

37%

23% Cuidam realizando procedimentos e encaminhamentos

Só realizam encaminhamentos

cuidam realizando procedimentos na própria comunidade

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procedimentos realizados na própria comunidade.a maioria realizou dois modos de

cuidado(na comunidade e fora da comunidade).

Nestas seções 3.2.1 e 3.2.2, a nosso ver, foi atingido o primeiro objetivo

de identificar os tipos de situações de urgência e emergência mais frequêntes na

comunidade.

Considerando que o cuidado cotidiano foi analisado com base nas três

dimensões de Teixeira (2001), passamos a tratar desse aspecto na próxima seção.

3.2.3 As dimensões do cuidar cotidiano em situações de urgência e

emergência

DIMENSÃO INTERATIVA

A Dimensão Interativa do cuidado cotidiano de saúde (TEIXEIRA, 2001),

se constitui no entrelaçamento das vias institucionais e locais com os agentes

profissionais e populares. Caracteriza-se pelos ENCONTROS E DESENCONTROS

(com ou sem negociações) em que se vivenciam, no cotidiano, as situações de

urgência e emergência. Tais encontros – desencontros formam os itinerários

terapêuticos da comunidade.

Nesta dimensão emergiram da análise do conteúdo das respostas dos

sujeitos três idéias-chave, representadas no Diagrama 1. As três indicam os meios

utilizados para os encontros do cuidar-cuidado, os sujeitos que são os “atores

sociais” nesses encontros e os lugares que são a “porta de entrada” dos sujeitos

após se envolverem numa situação de urgência e emergência. As unidades de

registro que deram origem a dimensão estão no quadro 4 (Apêndice C).

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Diagrama 2 - Os encontros em situações de urgência e emergência

Segundo Kleinman (1980), os itinerários terapêuticos são os cuidados à

saúde adotados por cada indivíduo, sendo construído através das relações

interpessoais. As escolhas são influenciadas por três setores representados pela

família, setor de maior poder na determinação do itinerário terapêutico; pelos

profissionais, não reconhecidos legalmente, mas que se apresentam nas crenças

sociais dos indivíduos com os mesmos valores culturais e pelos profissionais da área

da saúde, que geralmente tem um poder menor de influência na determinação dos

cuidados à saúde, por ainda priorizarem o aspecto biológico.

Constatamos no que se refere aos dispositivos – meios que os moradores

da comunidade utilizam o telefone, carro particular ou alugado, carro da polícia,

moto, bicicleta, ônibus, e ainda vão a pé em busca de atendimento.

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Quanto aos sujeitos, verificamos que em sua maioria, quando existe

alguma situação de urgência e emergência, procuram ajuda da esposa, mãe, sogra,

amigo, irmã, amigos, avô, filha e membros da associação, para o primeiro

atendimento ou ajuda na busca desse cuidar cotidiano fora de seus limites

geográficos.

As unidades “porta de entrada” dos sujeitos nas situações de urgência e

emergência são de diferentes municípios. O Hospital do pronto Socorro Municipal da

14 localiza-se em Belém: as unidades do Centro de Saúde do Aurá,Hospital de

clínica Hospital Anita Gerosa , Pronto Socorro da Cidade Nova e Hospital Modelo

no município de Ananindeua; a Unidade de Urgência e Emergência no município de

Marituba. Isso significa que os moradores (as) desenvolvem na comunidade as

primeiras ações de cuidar, e buscam o cuidar profissional fora de seus limites

geográficos.

Os moradores quando decidem buscar cuidado, utilizam diferentes meios

de transporte, da bicicleta até caminhadas de 8 kilometros; tais percursos podem

possibilitar o aparecimento de complicações, pois alguns meios de transporte são

inadequados; os itinerários são percorridos por meio de alianças interpessoais com

a família, amigos e conhecidos; como revelam as falas a seguir:

QC 09 [...o primeiro passo foi ligar para 192 né....como não veio o

192, ai eu tenho uma irmã que mora em Ananindeua,

aí liguei pra ela e ela trouxe o carro, a gente conseguiu

levar ele para o pronto socorro da 14, a gente levou ele

numa Kombi...]

QC 27 [...bom, primeiro aconteceu com o meu marido ele estava

bebendo num bar com o pessoal lá no bar, íi furaram ele, foi

a noite não tinha como levar, eu liguei para a minha mãe e

veio o carro da polícia ...]

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QC 10 [ ... como os meus filhos, alguns sofrem de alergia, ai já fui

parar na emergência também com minha filha menor com

alergia, só que saímos daqui de madrugada ela toda

inchada, toda vermelha direto para a emergência de

bicicleta...]

QC 03 [ ...mandei chamar a mãe dele, porque estava sozinha

em casa, e sempre que acontecia essas coisas eu pedia

ajuda dela, pelo fato de ser uma idosa...]

[... passou um amigo de moto e perguntou se a gente

queria um taxi. Levei para a emergência de Marituba e de

lá foi transferido para o pronto socorro da 14... ]

Consideramos importante destacar que em situações de urgência e

emergência, o atendimento deve ser realizado na primeira hora, denominada de

”HORA OURO”; logo após a ocorrência, evidenciando-se a importância do

atendimento no local do evento, com intervenções básicas para a manutenção da

vida, com transporte seguro para o atendimento intra-hospitalar nas unidades de

referência. Segundo Cavalcante (2011), quanto à garantia de acessibilidade que

envolve as grandes distâncias geográficas na Amazônia Paraense, esta é uma

barreira que dificulta e/ou impossibilita os quilombolas de terem acesso a muitos

serviços de saúde.

A literatura que trata de acesso à saúde indica que as distintas

características do sistema e da população podem determinar a possibilidade de

ingressar no mesmo ou não, mas a prova do acesso em si não consiste na

disponibilidade dos serviços e recursos, mas sim no fato de que os serviços sejam

utilizados por quem os necessite. Segundo Cavalcante (2011) não há uma política

nacional de acesso e acessibilidade aos serviços de saúde e sim uma política de

oferta de serviços, pois não há uma preocupação dos gestores em garantir

condições de acesso e oportunidade de acessibilidade, não agregando

características multidimensionais que possibilitem a utilização da atenção básica até

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os cuidados recebidos em qualquer nível de complexidade da atenção a saúde.

Dessa forma, amplia-se a vulnerabilidade social e atinge-se diretamente a saúde

coletiva e individual não permitindo avançar na concretização da Política Nacional de

Saúde Integral a População Negra.

A nosso ver, a dimensão interativa possibilitou-nos constatar que em sua

grande maioria os moradores da comunidade quilombola de Abacatal não dispõem

de mecanismos de acesso e acessibilidade ao sistema de atenção à saúde. As

ofertas de serviços de atenção às urgências e emergências se concentram nas

sedes dos municípios, ficando a uma distância considerável, assim, ficam expostos

aos riscos de morte e iatrogenias por falta de atendimento imediato de qualidade

segundo a Política Nacional de Atenção as Urgências.

Quanto ao itinerário terapêutico especificamente, destaca-se que há um

movimento articulado entre situações – sujeitos – meios – serviços. Mais uma vez os

atores locais (família principalmente) se destacam. Cabe então refletir sobre a

centralidade da família na política pública – Estratégia Saúde da Família (ESF).

Segundo Chase (2010), a família como foco da atenção é um dos

atributos da Atenção Primária em Saúde, sendo necessário conhecê-la em sua

dinâmica e assistí-la em suas necessidades individuais e de grupo em interação.

Reconhece-se o contexto familiar como o espaço primeiro de identificação e

explicação do adoecimento de seus membros e onde este adoecimento adquire

maior relevância. Tais características tornam a família uma unidade de cuidados,

devendo ser compreendida pelos profissionais de saúde em suas interrelações, ao

mesmo tempo em que é uma unidade prestadora de cuidados, podendo tornar-se

uma parceira dos serviços de saúde no cuidado de seus membros. A Estratégia

Saúde da Família tem como proposta estabelecer esta parceria com a família

tornando-a mais autônoma, mais independente, contribuindo assim para a

construção de sua cidadania.

Ainda segundo Chase (2010), a família é um espaço de cuidados

naturalmente reconhecido podendo ser confirmado pelas responsabilidades que lhe

são atribuídas para com os seus membros. É na família que se dá os primeiros

cuidados permitindo que o indivíduo não só desenvolva o corpo biológico, mas

também sua inserção social; a família é um espaço de cuidados, de transmissão da

cultura, e de socialização. Para que a família desenvolva suas atribuições algumas

de suas funções são assumidas junto com o Estado, a exemplo da proposta da ESF;

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a família passa a ser o principal objeto da atenção em saúde reconhecida suas

potencialidades, isto é: a família é um grupo social que compartilha

responsabilidades, um espaço de construção de relações entre seus membros e

com a sociedade, e um espaço que articula estratégias para a sobrevivência de seus

membros e de si mesma. Diante de tudo isso a Estratégia Saúde da Família é tida

como uma possibilidade de mudança do modelo assistencial vigente, nela a família

passa a ser o foco da atenção em substituição ao modelo que privilegia o foco sobre

o indivíduo dividido em órgãos, descontextualizado de seu ambiente familiar e social.

Se houver um investimento cuidativo – educativo com as famílias,

poderemos garantir “primeiros socorros” de melhor qualidade, até o acesso ao

sistema oficial de saúde. Assim, emerge dessa dimensão, um indicativo para ações

– intervenções informativas – educativas, para fortalecer os itinerários terapêuticos

locais no Abacatal.

Segundo Carvalho (2001), a educação em saúde torna-se uma

“construção compartilhada de conhecimentos”. Ela parte da experiência e práticas

dos sujeitos envolvidos buscando “intervenção nas relações sociais que vão

influenciar a qualidade de suas vidas” e que, consequentemente, vão reproduzir

outras representações.

Para Soares et al (2010) a educação em saúde é um campo

multifacetado, para o qual convergem diversas concepções, das áreas da educação,

quanto da saúde, as quais espelham diferentes compreensões de mundo,

demarcadas por distintas posições político-fiosóficas sobre o homem e a sociedade.

Muitas vezes, a educação em saúde ainda é entendida como transmissão de

conhecimento acerca de conteúdos predefinidos pelos profissionais da área da

saúde, modelo que, por vezes, não atende satisfatoriamente as necessidades de

aprendizagem do público. Isso ocorre porque, para educar alguém, é preciso ir ao

encontro dos interesses do educando, oferecendo conteúdos e práticas que sejam

em consonância com suas atividades. Somente dessa forma é que as ferramentas

oferecidas pela ação educativa poderão servir para a realidade dos sujeitos

envolvidos na ação.

Para Sabóia (2003), na prática educativa em saúde esse poder

disciplinador também pode ser evidenciado. A ordem para o atendimento, os

critérios de inclusão e/ou exclusão do cliente nos grupos, os nomes utilizados que

rotulam os clientes com essa ou aquela doença, o fornecimento de medicações

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específicas apenas para os que frequentam “as palestras” a distância entre os

valores dos profissionais e da clientela, a utilização de material didático e do

conteúdo (às vezes inadequado) e até a linguagem são estratégias do poder

disciplinador.

Para Mendonça (1982) a educação em saúde é uma prática social,

devendo ser centrada na problematização do cotidiano, na valorização da

experiência de indivíduos e grupos sociais e na leitura das diferentes realidades.

Vista como prática social, a educação em saúde passou a ser repensada como um

processo capaz de desenvolver a reflexão e a consciência crítica das pessoas sobre

as causas de seus problemas de saúde, enfatizando o desencadeamento de um

processo baseado no diálogo, de modo que se passe a trabalhar com as pessoas e

não mais para as pessoas. Esse diálogo assume o pressuposto de que todos

possuem potencial para serem protagonistas de sua própria história, de que estão

motivados para se organizarem e de que possuem expectativas sobre as

possibilidades de mudança.

Para Brandão (2002), como uma prática social, a educação em saúde traz

implícita uma visão cultural, que consiste em valores, crenças e visões de mundo,

situados em um tempo e espaço delimitado. Ela se define a partir da maneira como

as pessoas vivem e entendem a vida e com negociações cotidianas, nas quais cada

um torna a vida social possível. Assim, tudo aquilo que é chamado de educação e

de saúde acontece também no âmbito da cultura. Se a cultura é algo que se

reproduz, sob determinadas condições, a educação e a saúde também estão

relacionadas a essas condições e são determinadas pelo modelo econômico,

político, social e cultural de um país.

Segundo Caldeiras (1997), muitos são os princípios e os conceitos que

fundamentam a prática da educação em saúde e da promoção em saúde. Sem cair

em armadilhas reducionistas, a educação em saúde (não confundir com informação

em saúde) procura desencadear mudanças de comportamento individual, enquanto

a promoção em saúde, muito embora inclua sempre a educação em saúde, visa a

provocar mudanças de comportamento organizacional, capazes de beneficiar a

saúde de camadas mais amplas da população, particularmente, porém não

exclusivamente, por meio da legislação.

Com base nessas posições, acreditamos que as interações reveladas

pelos sujeitos do cuidar – cuidado apontam que a família é central nessas in

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terações e há de ser o centro-núcleo do agir das ESF, com ênfase em práticas

educativas “inclusivas” e dialogais sobre as situações de Urgência e Emergência.

Mas para além das interações, cabe dar valor, no cotidiano, à dimensão cognitiva,

do que tratamos a seguir.

DIMENSÃO COGNITIVA

A dimensão cognitiva do cuidado de saúde (TEIXEIRA, 2001), se organiza

em torno dos SABERES – CONHECIMENTOS (DESCONHECIMENTOS) dos

moradores sobre o cuidar. Segundo Piaget (1974), o conhecimento não está no

sujeito – organismo, tampouco no objeto – meio, mas é decorrente das contínuas

interações entre os dois. Para o autor, a inteligência é relacionada com a aquisição

de conhecimento à medida que sua função é estruturar as interações sujeito- objeto.

Assim, para o autor, todo pensamento se origina na ação, e para se conhecer a

gênese das operações intelectuais é imprescindível a observação da experiência do

sujeito com o objeto. Para o autor conhecer tem sentido claro: organizar, estruturar

e explicar, porém, a partir do vivido (experienciado). Conhecer não é simplesmente

contemplar, imaginar ou representar o objeto; conhecer exige uma ação sobre o

objeto para transformá-lo e para descobrir as leis que regem suas transformações.

Conhecer é compreender, é distinguir as relações necessárias das contingentes;

levando em conta não só o atual e explícito como o passado, o possível e o implícito.

Nesta dimensão emergiram a partir da análise dos conteúdos das

interlocuções dos sujeitos duas idéias- chave, representadas no Diagrama 2. As

duas indicam o conhecimento sobre o cuidar paliativo e o desconhecimento do

cuidar avaliativo em situações de urgência e emergência nas primeiras horas após o

ocorrido. As unidades de registro que deram origem a dimensão estão no Apêndice

C.

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Diagrama 3 - Saberes – conhecimentos (desconhecimentos) no cuidar em

situações de urgência e emergência

Cuidado Cotidiano

Conhecimentos sobre o Desconhecimentos sobre o

cuidar-cuidado Paliativo das cuidar-cuidado Avaliativo dos ações nas primeiras horas riscos nas primeiras horas após o ocorrido após o ocorrido

O cuidar-cuidado avaliativo significa o ato de avaliar a gravidade do

trauma e a instituição de manobras para manutenção básica da vida, no local do

evento, que podem representar a oportunidade de sobrevida para as vítimas de

trauma até a sua chegada ao hospital.

Segundo Silva (2009), os riscos á situações de urgência e emergência

são eventos adversos relacionados ao processo de cuidar; é necessário que se

reconheçam quais são os riscos aos quais o paciente está exposto, por meio da

avaliação de risco. São chamados eventos adversos em saúde “as injúrias não

intencionais decorrentes da atenção à saúde não relacionada à evolução natural da

doença de base, que ocasionam lesões nos pacientes acometidos, prolongamento

do tempo de internação e/ou morte”. O risco expressa uma probabilidade de

possíveis danos que podem ser entendidos como lesões às pessoas, danos aos

equipamentos, às instalações, ao meio ambiente, perda de material em processo, ou

redução da capacidade de produção.

São passados de geração a

geração (Transmissão

Intergeracionais)

Expõem os indivíduos à

riscos de iatrogenias e morte

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Segundo Galdino e Nunes (2000), latrogenia é a ocorrência de uma

alteração indesejável, de natureza prejudicial ou danosa, desencadeada por

omissão ou ação inadvertida ou falha, voluntária ou involuntária praticada por quem

assiste, mais importante do que apontar quais são, já que podem ser inúmeras, seria

identificar em que circunstância podem ocorrer

Desconhecer o que fazer nas primeiras horas após ocorrer uma situação

de urgência e emergência é extremamente perigoso, expondo os sujeitos à risco de

complicações até mesmo podendo levar a óbito quando os cuidados não são

adequados aos indivíduos.

A nosso ver, essa dimensão revelou que os moradores da comunidade

quilombola de Abacatal desconhecem princípios avaliativos para o atendimento em

situações de urgência e emergência, como se revela nas falas a seguir:

QC 10 “[... a princípio eu tenho que saber a definição de urgência e

emergência né?...]

Nos casos referidos a asma e a q-boa? Olha a prioridade

QC 65 pra mim... é como eu venho fazendo, né, dando remédio caseiro.

É a minha prioridade ainda! Apesar de a pediatra me alertar que

não é o melhor a se fazer, né !

QC 15

Mais uma vez revela-se a importância de um trabalho cuidativo-educativo com

as famílias sobre “primeiros socorros”, mas ainda é pouco, a nosso ver. O depoimento a

seguir ilustra o que estamos debatendo.

[...meu neto se queimou,na hora molharam ele e passaram

uma pomada,eu passaria banha de galinha com uma pena...]

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[...olha nós já tivemos algumas palestras só que daqui de

dentro as pessoas mais antigas nunca tiveram. É, mas cada

família se reserva, o antigo vai passando os ensinamentos

pra sua geração mais de fora; a gente já teve palestra sobre

doença sexualmente transmissível, sobre quedas, sobre o

veneno de cobras, sobre diarreia, vômito, infecção intestinal,

urinária, sobre doenças femininas de mulheres...]

QC 10

O cuidar-cuidado paliativo é oriundo de transmissão intergeracional,

Segundo Lisboa, Féres-Carneiro, Jablonski (2007), compreende a travessia de uma

geração à seguinte de legados, rituais e tradições, a qual pode ser consciente ou

inconsciente. Como uma modalidade da transmissão psíquica, a transmissão

intergeracional compreende a possibilidade de uma geração transformar uma

herança psíquica ou cultural, muitas vezes patológica.

A transmissão intergeracional permite continuar a identidade de uma

família através de um legado estruturante de rituais e mitos, por exemplo. O

processo de transmissão é importante para o universo grupal, porque é uma função

de base na construção de uma identidade, assim como permeia a construção da

subjetividade dos membros do grupo. Num grupo familiar, o sentido da transmissão

ganha estatuto de travessia de uma história particular, de acontecimentos

circunscritos nessa história e dos laços estabelecidos de uma pessoa para outra ou

de uma geração para outra (CORREA, 2000).

Com base nessas posições, acreditamos que os conhecimentos paliativos

revelados pelos sujeitos do cuidar-cuidado indicam e reforçam a importância da

família e das ações cuidativas-educativas. Essa dimensão será ampliada ao

destacarmos as relações e conexões com a natureza, do que tratamos a seguir.

DIMENSÃO CONECTIVA

A terceira e última dimensão do cuidado cotidiano de saúde (TEIXEIRA,

2001), é a conectiva. Caracteriza-se mediante as sub-dimensões: a) conexão

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HOMEM-VEGETAL (plantas e outros dispositivos usados no cuidar-cuidado); b)

conexão HOMEM-ANIMAL (os animais ou partes deles utilizados no cuidar-cuidado);

c) conexão HOMEM-MINERAL (destacando-se a relação com o solo-água-minerais).

Na Amazônia, o uso dos recursos naturais no cuidar-cuidado da saúde é

tão antigo quanto a sua história. Segundo Alvin (1999), recursos naturais são

elementos da natureza com utilidade para o homem, com o objetivo do

desenvolvimento da civilização, sobrevivência e conforto da sociedade em geral.

Podem ser renováveis, como a energia do sol e do vento. Já a água, o solo e as

árvores que estão sendo considerados limitados, são chamados de potencialmente

renováveis. Há ainda os não renováveis, como o petróleo e minérios em geral.

Os recurso naturais são componentes, materiais ou não, da paisagem geográfica,

mas que ainda não tenham sofrido importantes transformações pelo trabalho

humano e cuja própria gênese é independente do homem, mas aos quais lhes foram

atribuídos, historicamente, valores econômicos, sociais e culturais. Portanto, só

podem ser compreendidos a partir da relação homem-natureza. Os recursos naturais

são muito importantes para o mundo humano e também para o cuidar-cuidado da

saúde.

Atualmente, as mudanças econômicas, políticas e sociais que eclodiram

pelo mundo afora, influenciaram não só a saúde das pessoas como também os

modelos de cuidado. O uso terapêutico de recursos naturais no cuidado humano,

que antes estava situado às margens das instituições de saúde, hoje tenta legitimar-

se nesse meio dominado pelas práticas alopáticas. Nesse contexto, se percebe uma

necessidade constante de se construir métodos alternativos para o ato de cuidar,

para que a prática possa ser desenvolvida mediante outras formas de tratamentos

não convencionais como é o caso da utilização de plantas medicinais. Portanto,

acredita-se que esta prática possa contribuir significativamente não só para o

resgate e preservação da diversidade cultural, mas, principalmente, para dar maior

autonomia ao usuário no que diz respeito ao seu próprio cuidado (ALVIM et al,

2004).

Nesta dimensão emergiram a partir da análise dos conteúdos das

interlocuções dos sujeitos duas das três conexões: conexão HOMEM-VEGETAL e

conexão HOMEM-ANIMAL, representadas no Diagrama 4.

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Diagrama 4 – As conexões com a natureza no cuidado cotidiano em situações de

urgência e emergência.

Situações de urgência

e emergência

CONEXÃO CONEXÃO

HOMEM – VEGETAL HOMEM - ANIMAL

CASCA DE CAJU DIARREIA E VOMITO FEU DE PACA PICADA DE COBRA

INSUMO DO PALMITO ESTANCAR O SANGUE BANHA DE GALINHA MASSAGEM

CHA DE PARIRI ANEMIA BANHA DE JIBOIA TRAUMAS E DOR

ANADOR PLANTA DOR MUSCULAR

MEL,LIMÃO,GENGI- ASMA

BRE, ALHO E

ANDIROBA

No que se refere a conexão HOMEM-VEGETAL, destaca-se que segundo

Rosa et al (2007),apesar da utilização das plantas medicinais já fazerem parte da

cultura popular, nas últimas décadas o interesse pela fitoterapia teve um aumento

considerável entre usuários, pesquisadores e serviços de saúde. Na Declaração de

Alma-Ata, em 1978,a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece que 80% da

população dos países em desenvolvimento utilizam práticas tradicionais nos seus

cuidados básicos de saúde e 85% usam plantas ou preparações destas. Desde

então, a OMS tem expressado a sua posição a respeito da necessidade de valorizar

a utilização de plantas medicinais no âmbito sanitário e na atenção básica à saúde.

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No Brasil, a temática foi levantada em diversas oportunidades, como em 1986, na 8ª

Conferência Nacional de Saúde, quando foi recomendada a introdução das práticas

tradicionais de cura popular no atendimento público de saúde.

Nesta conexão identificamos que os moradores da comunidade

quilombola de Abacatal utilizam recursos naturais para o cuidar-cuidado nas

situações de urgência e emergência utilizando meios alternativos como estratégia,

os remédios caseiros (chás, lambedores, folhas e flores de plantas, óleos e partes

de animais).

No que se refere a conexão HOMEM-ANIMAL, Silva (2008) afirma sobre o

uso de partes de animais em situação de saúde-doença, que os animais também

têm importância na cura de doenças físicas, as quais são associadas às causas

naturais (biológicas) e não-físicas (espirituais), de ordem sobrenatural ou

cosmológica. As doenças naturais são curadas por meio da medicina ocidental

(médicos, enfermeiros etc.) ou por meio de receitas fitoterápicas, sendo comum a

inclusão de partes de animais.

Nesta conexão constatamos que os moradores da comunidade

quilombola de Abacatal utilizam parte dos animais para cuidar em situações de

urgência e emergência assim como para tratar doenças.

Neste sentido infere-se que os sujeitos tem um conhecimento prático, de

senso comum, baseado na experiência de vida e de atuação, que gera concepções

e diagnósticos sobre os problemas encontrados, ao mesmo tempo em que orienta e

propõe intervenções mais eficazes na realidade. Portanto, o resgate destas

experiências, através da análise do conjunto de conhecimentos, pode trazer luz

sobre vários problemas encontrados no desenvolvimento do SUS(NAGA;QUEIROZ,

2011).

Constatamos no que se refere às conexões com a natureza entre os

moradores da comunidade, em situações de urgência e emergência, que utilizam

como meios alternativos, lançando mão prioritariamente dos remédios caseiros

como se revela nas falas a seguir:

QC 12 Asma [...primeiro eu dou o remédio caseiro. Mel,limão, gengibre

e alho e as vezes o azeite... o azeite de andiroba...ela regride, mas quando não acaba eu corro pro pronto socorro]

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QC 10 Diarreia e vômito [..A gente chama o mais velho pra saber o que

fazer em casa, procuro o posto médico que fica no Aurá,

e...geralmente não faz efeito rápido..ai agente utiliza remédios

caseiros”chá travoso da casca do caju com goiaba que limpa o

intestino; chá de pariri e anador de planta..]

Nos cortes lavar bem com sabão; insumo do palmito(estancar o

sangue)e arvores travosas (insumo de caju ; ouriço de castanha

; o limão que ajuda a lavar o ferimento)

Picada de cobra utiliza o feu de paca. Espera uns dias, se surgi

efeito não procura o médico

QC 06 Picada de cobra [...Dei um colherzinha de feu de paca, que

dizem que é bom para o veneno não subir, e depois levamos

para o hospital...]

QC 09 Pancada no joelho. [...Fizemos massagem com banha e dei

remédio (diclofenaco) e no outro dia que foi para o médico...]

Estes recursos são utilizados porque são de fácil obtenção e baixo custo

e também por não disporem a curtas distancias de acesso e acessibilidade ao

sistema de atenção à saúde. As ofertas de serviços de atenção às urgências e

emergências se concentram nas sedes dos municípios, ficando a uma distância

considerável, assim, ficam expostos aos riscos de morte e iatrogenias por falta de

atendimento imediato de qualidade segundo a Política Nacional de Atenção as

Urgências (BRASIL, 2003).

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Essa dimensão conectiva reforçou como as duas anteriores, a relevância

de uma intervenção cuidativo-educativa com as famílias sobre situações de urgência

e emergência.

Nesta seção 3.3.3 a nosso ver, foi atingido o segundo objetivo específico

do estudo: “caracterizar as dimensões do cuidado cotidiano em situações de

urgência e emergência”.

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4 CONSIDERAÇÕES TRANSITÓRIAS

Fonte: Comunidade Quilombola Abacatal

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Muitas foram as reflexões realizadas ao longo desse estudo. Entre

questionamentos, dor, alegrias, perplexidades, ao conviver por quase 2 anos com as

famílias da comunidade quilombola de Abacatal,algumas idéias se tornaram

elucidativas para mim, a partir das questões iniciais suscitadas e desenvolvidas ao

longo dos capítulos. Muito mais, do que buscar explicações dos fatos, compartilhei

idéias, que ao longo do trabalho de campo foram me possibilitando pensar sobre a

realidade de vida das famílias da comunidade Quilombola de Abacatal.

A história de vida das famílias e suas lutas no decorrer de décadas para

obter o direito constitucional de ter suas terras e condições de saúde muito me

chamaram atenção, pois a complexidade do viver e sobreviver frente a dificuldades

lhes impõe permanentemente inúmeros deslocamentos e estratégias diversas, como

transformar o que foi plantado, cultivado e colhido em recursos financeiros é buscar

o que lhe é direito, como o acesso e acessibilidade aos serviços de saúde, que lhes

serão negado frente as condições precárias das estradas de acesso, permitindo

muitas vezes que apenas de bicicleta ou mesmo a pé obtenham atendimento de

saúde. Esse universo de desafios – limites possibilita às famílias recriarem e

inventarem uma cultura própria, para sobreviver. Ao traduzir o universo de suas

práticas em situações limite entre viver e morrer pude compreender essa realidade e

constatar, os elos explicativos sobre cuidar cotidiano em situações de urgência e

emergência nesse contexto.

Os objetivos propostos para este estudo foram alcançados e reforçaram a

tese de que conhecimentos, atitudes e práticas adequadas constituem elementos

importantes para a intervenção preventiva e o atendimento às situações de urgência

e emergência vivenciadas pelos moradores adultos da comunidade.

Existem dificuldades no acesso aos serviços de saúde por conta das

condições ruins das estradas, a distância e os meios de transportes deficientes,

evidenciando-se com isso complicações e riscos por demora ou falta de atendimento

imediato. Isso nos faz afirmar que a maioria dos moradores da comunidade não

dispõem de mecanismos de acesso e acessibilidade a rede de atenção à saúde.

Há um movimento por parte dos moradores, e o itinerário terapêutico se

dá entre situações – meios – serviços, com destaque para a família e mais

especificamente as mães-mulheres da família, o que reforça a importância destas no

trabalho educativo-cuidativo.

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O nível de conhecimento e atitudes desses moradores em relação aos

cuidados em situações de urgência e emergência evidenciam claramente a

existência de lacunas em relação ao cuidado avaliativo e ao conceito de riscos e

iatrogenias que podem existir durante a primeira hora ,conhecida como “HORA

OURO” , bem como inconsistências sobre percepção do risco, vulnerabilidade e

outros fatores que contribuem para o agravo à saúde quando não há um

atendimento adequado nestes casos na comunidade.

Conclui-se que os cuidados cotidianos em situações de urgência e

emergência não são suficientes, pois são mais paliativos que avaliativos.

Assim é necessário criar espaços de discussão e reflexão na academia e

na comunidade, de modo a debater sobre as crenças e concepções, que ainda

fazem parte do imaginário social desses segmentos sobre os cuidados em situações

de urgência e emergência. Há que se criar e desenvolver mecanismos de inclusão

dos saberes populares nas novas gerações, e dessa forma manter a tradição

passada de geração para geração.

Na Universidade do Estado do Pará há que se desenvolver projetos de

extensão, no intuito de aproximar a comunidade acadêmica das comunidades

quilombolas e realizar práticas educativas em saúde; dessa forma, pode-se

proporcionar experiências inovadoras aos futuros enfermeiros para que venham

compreender sua história, lutas e cultura. Há que se desenvolver ações de

promoção a saúde, com intervenção cuidativo-educativa com as famílias sobre

situações de urgência e emergência.

Penso que é necessário o cumprimento pleno das políticas públicas de

atenção as urgências, assim como das políticas de saúde das populações

tradicionais; há que se buscar mecanismos que possibilitem aos quilombolas ou

remanescentes de escravos, o acesso e a acessibilidade ao sistema de atenção à

saúde, com maior envolvimento das equipes da Estratégia Saúde da Família (ESF),

no intento de legitimar as práticas populares de saúde, juntamente com o Sistema

Único de Saúde no Estado do Pará.

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______, Elizabeth. Travessias, redes e nós: complexidade do cuidar cotidiano de saúde entre ribeirinho. Belém: Grafisa, 2001.

TIMERMANS, Gonzáles M. M. C, RAMIRES, J. A. F. Ressuscitação e emergências cardiovasculares. Barueri: Manole; 2007.

TRIVIÑOS, Antônio Nibaldo Silva. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987.

TURATO Egberto Ribeiro; BARCELLOS Bruno José; FONTANELLA. Janete Ricas. Amostragem por saturação em pesquisas qualitativas em saúde: contribuições teóricas. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 24(1): 17-27, jan, 2008. VIEIRA, Célia Maria Sales, Fernanda Carneiro Mussi. A implantação do Projeto de atendimento Móvel de Urgência em Salvador/BA: panorama e desafios. Rev Esc Enferm USP. 2008; 42(4): 793-7. WALDOW, Vera Regina. O cuidado na saúde: as relações entre o eu, o outro e o cosmos. Petropolis (RJ): Vozes, 2004.

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APÊNDICE A

Universidade do Estado do Pará

Centro de Ciências Biológicas e da Saúde

Escola de Enfermagem”Magalhães Barata”

Programa de Pós-Graduação em Enfermagem

Mestrado Associado em Enfermagem UEPA / UFAM

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Título da Pesquisa

Cuidar Cotidiano em situações de Urgência e Emergência em Comunidade Quilombola da Amazônia Paraense

Venho por meio deste, convidá-lo (a) a participar da pesquisa da mestranda Vera Lúcia Gomes de Oliveira, a qual desenvolve suas atividades na Escola de Enfermagem “Magalhães Barata” – Campus IV da Universidade do Estado do Pará (U EPA), vinculada ao Programa de Pós Graduação em Enfermagem. Mestrado Associado em Enfermagem UEPA / UFAM, tendo como orientadora a Profª Drª Elizabeth Teixeira. Esta pesquisa tem como objetivo: Descrever os cuidados cotidianos em situações de Urgência e Emergência dos moradores de uma Comunidade Quilombola da Amazônia Paraense. Esclarecemos que o Sr (a) será informante da pesquisa participando de uma entrevista semi-estruturada com perguntas direcionadas ao objetivo proposto. Para o registro das informações coletadas serão utilizadas anotações diretas e um gravador de voz; assim como o uso de imagens. Após a obtenção dos dados, os mesmos serão organizados para análise. O resultado final da pesquisa será apresentado na UEPA e demais eventos científicos e/ou publicado. Será assegurado aos participantes total sigilo sobre sua identidade e para não identificá-los serão utilizados pseudônimos. A sua participação nesta pesquisa não acarretará nenhum prejuízo de ordem física ou moral. Vale ressaltar que sua participação poderá ser interrompida a qualquer momento e também poderá desautorizar a pesquisadora de fazer uso de suas informações. O benefício advindo da execução e análise deste projeto perpassa pela possível contribuição para melhoria das ações desenvolvidas pelos profissionais da área de saúde e mais especificamente, para os enfermeiros, que saberão como lidar em situações descritas na pesquisa, e assim, poder prestar uma melhor assistência.

Vera Lúcia Gomes de Oliveira (91) 8128-1183 / 8848-4819

CONSENTIMENTO LIVRE ESCLARECIDO

Eu ______________________________________ declaro que li as informações sobre a pesquisa e

que me sinto perfeitamente esclarecido (a) sobre o conteúdo da mesma. Declaro ainda que, por

minha livre vontade, aceito participar cooperando com a coleta de informações para a mesma.

Belém, ___/___/___

____________________________________

Assinatura do sujeito da pesquisa

* Comitê de Ética em Pesquisa da EEMB - Av. José Bonifácio, Nº. 1298 – Guamá – Belém/PA –

Fone: (091) 3229-1131 / 3249-0236

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APÊNDICE B

Universidade do Estado do Pará

Centro de Ciências Biológicas e da Saúde

Escola de Enfermagem”Magalhães Barata”

Programa de Pós-Graduação em Enfermagem

Mestrado Associado em Enfermagem UEPA / UFAM

ROTEIRO DE ENTREVISTA

Parte 1 – Dados sócio-demográficos

a) Do Informante:

Idade:____________

Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino

Cor: ( ) Branca ( ) Negra ( ) Parda ( ) Amarelo

Estado Civil:( ) Solteiro ( ) Casado ( ) Viúvo ( )

Escolaridade: ( ) Analfabeto ( ) Desconhecida ( ) 1º Grau Incompleto ( ) 1º Grau Completo ( ) 2º Grau Incompleto ( ) 2º Grau Completo ( ) 3º Grau Incompleto ( ) 3º Grau Completo

Ocupação: _______________________________

b) Da Família

Quantos membros residem na casa? ________________________

Grau de Parentesco. ( ) Esposa; ( ) Filho; ( ) Pai; ( ) Mãe; ( ) Irmãos ( ) Outros: ___________

c) Da Casa

Tipo de Moradia:

( ) Madeira; ( ) Alvenaria; ( ) Pau a pique;

Nº de Cômodos: ___________

Destino do Lixo:___________________________________

Origem da água? ( ) Poço; ( ) Encanada; ( ) Outra.

Qual:_____________

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Destino do esgoto: fossa séptica ( ) fossa negra ( )

Animais domésticos. ( ) Cachorro; ( ) Gato; ( ) Outros. Quais____________

Parte 2 – Questões Específicas – Temas Indutores

a) Tipos de situações de Urgência e Emergência mais frequentes na / com sua família que mora com o Sr/Sra: características das situações,sujeitos envolvidos, cuidados prestados (as mais frequentes e/ou as mais recentes (nesse ano) e/ou mais graves segundo o Sr./Sra).

b) Tipos de situações de Urgência e Emergência mais freqüentes na / com seus vizinhos / amigos / parentes que moram na mesma casa: características das situações,sujeitos envolvidos, cuidados prestados (as mais frequentes e/ou as mais recentes (nesse ano) e/ou mais graves segundo o Sr./Sra).

c) Ao se prestar um cuidado em situações de Urgência e Emergência:

o que é prioritário, essencial, muito importante de se fazer nesses casos?

O que se usa normalmente (materiais, objetos, recursos etc aqui no Abacatal?

O que faz depois dos primeiros cuidados, se leva para algum lugar (onde), se chama alguém (quem), o que acontece aqui no Abacatal?

d) Que tipo de situação de Urgência e Emergência é mais frequente na comunidade: razões e porquês?

e) Ações preventivas às situações de Urgência e Emergência: o que pode prevenir, ações para se evitar, se fazem essas ações aqui no Abacatal: razões e porquês?

f) Outros aspectos?

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APÊNDICE C

QUADRO 1 – SITUAÇÕES DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA MAIS FREQUENTE

NA /COM A FAMÍLIA DO SUJEITO DO ESTUDO

QC SITUAÇÃO ENVOLVENDO A FAMÍLIA

01 [...sou diabético e minha perna ficou inchada...]

[...meu neto quebrou o braço...]

03 [...dor na barriga e febre (Marido)

[...minha tia tem diabetes, quando passa Mal começa se bater, bate nas pessoas...]

06 [...meu filho foi picado por cobra...]

[...mãe diabética...]

09 [...deu derrame no meu pai...]

10 [...diarreia e vomito nos filhos...]

[...esposo e sobrinho cortes de terçado e machado...]

[...mãe com ferrada de cabas...]

[...sobrinho com picada de cobra...]

11 [...sangramento pelo nariz na minha filha...]

[...queda com quebra do braço no meu Filho...]

[...irmã com febre e pressão alta...]

[...sobrinho quebrou o braço em 2 partes...]

12 [...asma dos filhos...]

[...caiu Q-boa nos olhos da minha irmã...]

13 [...tive hemorragia vaginal...]

[...fraturas no braço dos meus filhos..]

[...sobrinho com dor abdominal por crise de apendicite...]

[...pai diabético...]

15 [...foi meu neto que sofreu queimadura..]

16 [...corte no dedo com terçado do marido, com perda do dedo...]

25 [...tive uma dor de cabeça e tonteira...]

27 [...ferimento com arma branca no abdome e corte na perna com moto serra no meu

marido...]

33 [...filha com vômito e diarréia...]

[...filha menor quebrou as 2 canas do braço...]

[...tia Izabel que adoece muito...]

37 [...fui picada por uma cobra...]

44 [...minha filha com dor de cabeça e vômito...]

53 [...queda da minha mãe andando pelo terreno...]

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58 [...minha sobrinha tem problema de anemia profunda...]

[...uma sobrinha sofreu acidente de moto que cortou a perna...]

63 [...eu atirei no bandido e ele morreu...];

[....minha mulher teve problema de coração, se operou...]

64 [...minha filha que deu dor para ter nenê...]

[...meu filho com dor de ouvido, cabeça e dente...]

65 [...eu mesma tive queimadura com tucupi fervendo nas pernas...]

[...meu filho com dor de crise de apendicite...]

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QUADRO 2 – CUIDADOS PRESTADOS ÀS SITUAÇÕES DE URGENCIA E

EMERGENCIA NA /COM A FAMÍLIA

QC CUIDADOS PRESTADOS

01 [...fui com minha esposa para o hospital e passei 10 dias internado...]

[...tive que andar com ele 2 horas da madrugada pra urgência e emergência de

marituba...]

03 [...Chamei a mãe dele que conhece remédios e chás de ervas do mato e levamos

para a emergência de marituba...]

[...a gente passa álcool nela, passa arruda, chama um taxi, leva para a emergência...]

06 [...dei um colherzinha de feu de paca, que dizem que é bom para o veneno não subir,

e depois levamos para o hospital...]

[...vou lá 2 a 3 vezes na semana para fazer remédio caseiro, ela não gosta muito de

médico, só de remédio caseiro...]

09 [...eu e minha irmã levamos para o pronto socorro da 14...]

10 [...a gente chama o mais velho pra saber o q fazer em casa, procuro o posto médico

que fica no Aurá, e...geralmente não faz efeito rápido..ai agente utiliza remédios

caseiros”chá travoso da casca do caju com goiaba que limpa o intestino; chá de pariri

e anador de planta...]

[...os cortes e as ferradas de cabas a gente cuida mais em casa,como nos casos de

ferrada de cobra com fel de paca...]

11 [...botei algodão no nariz para tentar estancar o sangue; imobilizar e levar p

emergência...]

[...não foi feito nada, nem imobilizaram, porque como quebrou em duas partes ficou

difícil de mover e ele chorava muito...só depois levamos para o hospital...]

[...demos remédio caseiro e depois levamos para a emergência...]

12 [.. primeiro eu dou o remédio caseiro. Mel, limão, gengibre e alho e as vezes o

azeite... o azeite de andiroba...ela regride, mas quando não acaba eu corro pro

pronto socorro]

[...lavamos com água e sabão...]

13 [...comprimido pra cólica e compressa com água morna...]

[... imobilizar com fralda e levar para emergência...]

[...levar para a emergência...]

[... fazer o controle...]

15 [...na hora molharam ele e passamos uma pomada, para depois levar na

emergência...].. eu passaria banha de galinha com uma pena...]

16 [...amarrei o dedo que tinha muito sangue e levei pra emergência. Ele perdeu o

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dedo...]

25 [...minha mãe fez chá de erva cidreira, não melhorou, ai fez um caribé colocou no

pano e na minha fonte e eu melhorei...]

27 [...amarramos e levamos para o pronto socorro...]

33 [..usei o marupazinho...]

[...coloquei uma fralda no braço e levamos imediatamente para o médico no pronto

socorro...]

[...eu levo logo para o médico, antes eu uso muito remédio caseiro...]

37 [...nenhum cuidado, na hora não tinha nada, não tem médico, sem transporte. Pela

manhã do outro dia que fui levada para o hospital já com hemorragia pela boca, dor,

inchaço e sem urinar...]

44 [...levamos para o médico...]

53 [...levamos imediatamente para o hospital de clinicas ou Anita Gerosa...]

58 [...um pessoal de fora que percebeu, fez exame e ai levamos para o médico...]

[...aqui não foi feito nada, levaram para fora de carro...]

63 [...não respondeu..]

[...faz controle e toma remédio...]

64 [...nos chamamos alguém para levar até a metade do caminho e a outra metade com

outro carro até o hospital...]

[... com o meu filho levamos para a emergência...]

65 [...no momento joguei bastante água, passei sabão, margarina e álcool, depois

procurei médico...];

[... depois de alguns dias levamos para o pronto socorro, onde foi operado...]

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QUADRO 3 – SITUAÇÕES DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA MAIS FREQUENTE

COM VIZINHOS, AMIGOS.

QC SITUAÇÃO ENVOLVENDO VIZINHOS E AMIGOS

01 [...amigo que cortou a perna com machado...]

03

06

09 [...Meu compadre teve uma pancada no joelho

10

11 [...amigo picado de cobra...]

12

13

15 [...caso de violência com morte...]

16 [...um menino,meu vizinho cortou o pé com machado...]

25 [... meu primo deu uma doença nele que ele morreu de câncer...]

27 [...um rapaz da comunidade, em uma briga recebeu vários golpes de terçado,

sangrando muito...]

33

37 [...a filha da minha vizinha sofreu uma queda da moto e bateu muito a cabeça...]

44 [...cunhado sofreu acidente de moto com ferimentos na perna e no pé...]

53 [...filho de uma vizinha tem crise epilética por não tomar os remédios...]

58 [...uma sobrinha minha sofreu acidente de moto que cortou a perna...]

63 [...o pai de meu sobrinho de estimação, sofre de dor de cabeça...]

64 [...o filho da vizinha sentia muitas dores na barriga...]

65 [...no momento não sei dizer...]

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QUADRO 4 – CUIDADOS PRESTADOS ÁS SITUAÇÕES DE URGÊNCIA E

EMERGÊNCIA COM VIZINHOS E AMIGOS.

QC CUIDADOS PRESTADOS

01 [...a Natalina fez os primeiros socorros e levamos para a emergência...]

03

06

09 [...a gente fez massagem com gel, deu remédio (diclofenaco),parar passar a dor ,

no outro dia ele procurar o hospital...]

10

11

12

13

15 [...foi levado por seus comparsas para o hospital na moto e nos chamamos a

policia...]

16 [...amarrei, coloquei ele no ombro e carreguei até aqui onde vinha um carro para

levar para o hospital...]

25 [...foi procurar saúde com o médico e já era tarde...ele tinha câncer...]

27 [...nos reunimos e resolvemos levar ele de bicicleta para o pronto socorro...]

33

37 [...não foi feito nada aqui, o pessoal foram atrás de carro e levaram para o hospital

de pois de muito tempo...]

44 [...ai ele foi para a emergência...]

53 [...a mãe não leva para a assistência médica...]

58

63 [...Eu ensino alguns remédios que eu sei, e ajudo no que posso...]

64 [...os pais ligaram para o carro vim, foi complicado levar ele,foi para o Anita e

depois para o pronto socorro...]; [... se não tem dinheiro é complicado...]

65 [...fazer uso de ervas,benzer e depois levar para o hospital...]

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QUADRO 5 – SITUAÇÕES DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA MAIS FREQUENTES

NA COMUNIDADE.

QC SITUAÇÃO

01 Diarreia Infantil

03 Cortes, queda de arvore, quebrar o braço, picada de cobra, aranha.

06 Dores, catarreira, febre, picada de cobra.

09 É a hipertensão

10 Diarreia e vomito cortes, queda, fratura, picada de cobra, abelha.

11 Picada de cobra, viroses no inverno.

12 Picada de cobra

13 Verme, gripe nas crianças no inverno e ferimento com arma branca

15 Gripe, tosse, febre.

16 Diarreia

25 Acidente de Moto

27 Picada de Cobra / corte de terçado / queda

33 Corte de machado e terçado

37 Picada de cobra

44 Picada de cobra

53 Ferimento Arma Branca, dor,picada de cobra

58 Verme, gripe no inverno,

63 Não soube respondeu

64 Mulher para ter bebe, mordida de cobra (3 casos)

65 Infecção, picada de cobra , Ferimento Arma Branca

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Centro de Ciências Biológicas e da Saúde

Curso de Graduação em Enfermagem

Escola de Enfermagem “Magalhães Barata”

Av. José Bonifácio, Nº. 1289 – Guamá

Belém/PA

www.uepa.br