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Vicente Fideles de Ávila
FORMAÇÃO DE EDUCADORES PARA A EDUCAÇÃO
BÁSICA: PROPOSTA DE PROGRAMA-PROCESSO EM
NÍVEL DE GRADUAÇÃO
UNIVERSIDADE CATÓLICA D O M BOSCO - U C D B Agosto/1999
VICENTE FIDELES DE ÁVILA1
FORMAÇÃO DE EDUCADORES PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA: PROPOSTA2
DE PROGRAMA-PROCESSO EM NÍVEL DE GRADUAÇÃO
AGOSTO DE 1999
CAMPO GRANDE-MS
1 Doutor em Políticas e Programas do Desenvolvimento pela Université de Paris I (Panthéon-Sorbonne, França). Professor do Programa de Mestrado em Educação da Universidade Católica Dom Bosco - UCDB. 2 Em subsídio ao Grupo de Estudos para Mudança nas Licenciaturas da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), instituído pela Portaria n° OOl/99-PROAC, extensiva às demais Instituições de Ensino Superior brasileiras.
UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO
Reitor: Pe. José Marinoni Pró-Reitor Administrativo: Pe. Giulio Boffi Pró-Reitor Comunitário: Pe. Osvaldo Scotti Pró-Reitor Acadêmico: Pe. Arlindo Pereira de Lima
Editora UCDB: Coordenação Geral: Heitor Romero Marques Coordenação Editorial: Ereni dos Santos Benvenuti
Ávila, Vicente Fideles de
Formação de educadores para a educação básica: proposta
de programa-processo em nível de graduação / Vicente Fideles
de Ávila Campo Grande : UCDB, 1999.
1. Professores - Formação profissional 2. Educação básica
Av. Tamandaré, 6000 Campo Grande - MS e-mail: [email protected] http://www.unibosco.br
CEP: 79117-900 Fone: (067)765-2040 Fax: (067) 765-1722
39p.
I. Título
SUMÁRIO
1. Pressupostos fundamentais 6
2. Acaba-se o Curso de Pedagogia? 9
3. O momento é propício a esse tipo de iniciativa? 10
4. Objetivo do Programa 12
5. Fases do Programa no campo das licenciaturas 13
6. Linhas de formação continuada na perspectiva do Programa 30
7. Observações sobre Pro gramas de Formação Pedagógica 32
8. Visão esquematizada do Programa-Processo como um todo 34
9. Lembretes organizacionais e dificuldades previsíveis 36
10. Agradecimentos 39
NOTA INTRODUTÓRIA
Podem as Universidades e demais Instituições de Ensino Superior do país resolver
o craciante problema da efetiva formação de professores para a Educação Básica
brasileira? -Podem, aliás já deveriam ter partido para isso desde o começo da década de
70. Nessa época (1974-75), exerci a função de Gerente de Operações do Centro de
Treinamento de Pessoal do Paraná (CETEPAR), vinculado à Secretaria de Estado da
Educação, e o contato sistemático com mais de dezoito mil professores de Io grau (Ia à 4a e
5a à 8a séries), assim como com alguns milhares do ensino de 2a grau, nas modalidades
regular e supletiva de todas as redes escolares (estadual, municipal e particular) dos oitenta
maiores municípios do Estado, me fez perceber que inclusive os professores graduados
pelas chamadas licenciaturas plenas não tinham incorporado o trabalho docente como uma
verdadeira profissão com fundamentação específica, desenvoltura operacional e
produtividade criativa integrados na mesma dinâmica formativa.
Até o Ministério de Educação, Cultura e Desporto (denominação da época)
influenciou muito para o academicismo das licenciaturas, interpondo entre o professor e o
aluno o chamado livro didático, que deixou de ser um suporte para o trabalho docente,
principalmente nas escolas carentes de todo o Brasil, para se transformar nos óculos-de-sol
dos professores e das escolas, pelos quais tanto professores quanto alunos filtram a visão
de mundo e o contato com a realidade, baixando a quase zero o exercício da criatividade de
ambos nesse relacionamento vital.
A necessidade de reversão desse quadro de performance formativa se tornou tão
significativa, para mim, que a documentei, juntamente com alguns traços gerais de solução,
em minha tese de doutorado , defendida em 1980, os quais são retomados nesta proposta.
3 Formation et conditions de travail des enseignants du premier dégré au Paraná -Paris I / Panthéon-Sorbonne, 1980, tese).
Brésil (Université de
6
1 - PRESSUPOSTOS FUNDAMENTAIS
Antes de passar ao detalhamento operacional da anunciada proposta, gostaria de
enfatizar que a mesma só terá sentido se:
Io) as Instituições de Ensino Superior (IES) deixarem para trás, apenas tirando os
proveitos cabíveis, a insistência na idéia de continuarem instituindo e mantendo
cursos, licenciaturas e/ou habilitações que não preparam, e muito menos formam,
nem os professores e nem os especialistas (técnicos não docentes) nas áreas de
Matemática, Geografia, História, Biologia, etc, ou seja, não formando
profissionalmente nem professores e nem matemáticos, geógrafos, historiadores,
biólogos, e assim por diante;
2o) as mesmas Instituições se propuserem a encarar a formação de professores para a
Educação Básica, em nível de graduação, como Programa-Processo voltado do
começo ao fim para essa finalidade formativa, sem artifícios de contemporizações ou
médias entre licenciaturas e bacharelados, como vem acontecendo desde meados da
década de 60, embora essas duas categorias de cursos visem, em tese, a formação de
profissionais com perfis completamente diferentes ( I o pressuposto);
3o) essas Instituições se convencerem de que o professor não é apenas ensinador, mas
educador profissional que ensina sobretudo para que sua clientela aprenda a
aprender (enfoque metodológico muito enfatizado por autores da atualidade como
Pedro DEMO e Vicente KELLER, da mesma forma que por Donald A. SCHÕN,
Angel Pérez GÓMEZ e Ken ZEICHNER, cujos títulos de matérias nesse sentido
constam da nota de rodapé, à p. 20)4;
4o) houver o entendimento de que o Programa-Processo, do começo ao fim voltado para a
formação profissional dos professores (2o pressuposto), enquanto educadores profis-
sionais que ensinam (3o pressuposto), precisa contar com duas dimensões operacionais:
- uma base-comum que crie condições no sentido de que, a partir do ingresso no
Programa, os alunos possam contar com espaço curricular inteiramente dedicado:
de um lado, à fundamentação teórica básica bem como à realidade implicadas pelos
perfis tanto da profissão quanto do profissional docente (a fim de que a opção por
essa modalidade de atuação profissional se faça com a mais ampla ciência e
4 DEMO, Pedro. Aprendendo a ap-render com o professor. Curitiba: BASES, 1998; BASTOS, Cleverson e KELLER, Vicente. Aprendendo a aprender: introdução à metodologia científica. 7.ed. Petrópolis: Vozes, 1996.
7
consciência possível); e, de . outro, à preparação técnica, em termos de
conhecimentos e exercitação de habilidades, a exemplo de Iniciação Científica, hoje
absolutamente indispensáveis ao exercício criativo e produtivo de qualquer
profissão que exija certo grau de qualificação de seus profissionais;
- parte-diversificadora que, acoplada à base-comum, vise a profissionalização dos
- candidatos à docência em áreas ou campos de conhecimento precisos (Matemática,
História, Física, Biologia, Geografia, Química, e outras) para faixas etárias5 e de
mercado específicas (ou seja, de 5a à 8a série do Ensino Fundamental e de Ia à 3a
série do Ensino Médio), enfocando direta e tanto quanto possível exaustivamente os
dois aspectos vitais do trabalho docente, os conteúdos e as respectivas
metodologias, concernentes ao ensino-aprendizagem e ao relacionamento interativo
professor-aluno, no âmbito de cada área ou campo de conhecimento, acima
referido, e para as séries -série-por-série- compreendidas pelas faixas etárias e de
mercado anteriormente mencionadas; exemplificando, a profissionalização
objetivará os conhecimentos e os procedimentos metodológicos interativos
concernentes à docência de Matemática (ou ...) do programa curricular de cada
série do nível de Ensino a que se referir, e não o ensino da Matemática em geral
(ou...), como tem sido até agora, ficando a cada professor se virar quanto à
adaptação aos programas curriculares das séries em que de fato vier a lecionar;
5o) se entender, sem muito esforço e apesar de o Parecer n° 53/99 deixar claro que "Os
Institutos Superiores de Educação poderão prover: Curso Normal Superior para
formação de professores de educação infantil (...)" assim como "(...) dos anos iniciais
do ensino fundamental (...)", que o Programa-Processo ainda poderá criar campos
específicos de formação desses professores, como ainda para os de Educação Especial,
em forma de curso normal superior, como disposto no Parecer, ou de verdadeiras
licenciaturas, evidentemente programadas e executadas de acordo com a filosofia e a
dinâmica operacional do Programa; pela lógica, porque programar curso normal
superior ao invés de licenciatura, se na ótica do Programa, a da profissionalização por
faixas etárias e de mercado, o esforço institucional despendido será praticamente o
mesmo?; - a menos que alguém pense, em insana consciência, que o trabalho
5 Faixas etárias, as de alunos em idade escolar, por exemplo, de zero a seis anos, de sete a dez, de onze a quatorze, é assim por diante. Faixas de mercado são as correspondentes à da Educação Infantil, à das quatro primeiras séries do Ensino Fundamental, à das quatro últimas séries do Ensino Fundamental e a concernente a todo o Ensino Médio.
8
profissional nesse campo de docência não seja tão exigente quanto o nas faixas acima
da 5a série do Ensino Fundamental; ademais, e na contramão da cultura tradicional que
atrelou curso normal ao nível médio de ensino, hoje se apela para cursos normais
superiores já se sabendo, de antemão, que serão discriminados, no futuro, assim como
acorre com os cursos de tecnólogos e as licenciaturas de curta duração, também
incentivados em caráter emergencial no passado mas agora não aceitos para ingresso
de seus titulares em programas de pós-graduação e quase nada valendo, se comparados
com os títulos de graduação plena, em planos de carreira;
6o) se admitir que a lógica acima se aplica de modo geral também à formação dos
Diretores Escolares, dos Orientadores Educacionais e dos Supervisores Escolares,
assim como de outras categorias de especialistas de educação, dado que inclusive eles
são, na base, educadores profissionais com funções de Direção, Orientação e
Supervisão, e não profissionais de direção, de supervisão e de orientação que
trabalham em educação; portanto, a base-comum do Programa poderá abrangê-los,
com campos específicos de profissionalização funcional na parte-diversificadora.
Importa ressaltar, por último, que de maneira alguma as expressões base-comum
e parte-diversificadora têm o mesmo significado que parte propedêutica e parte
profissionalizante, amplamente empregadas no contexto das estruturas curriculares dos
cursos de graduação após a vigência da Lei n° 5540/68, revogada pela LDBEN (Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional) n° 9394/96. Isto, porque a parte propedêutica
deveria consistir na retomada e aprofundamento da educação geral, que os acadêmicos
traziam dos hoje Ensino Fundamental e Médio, e só a parte profissionalizante visava direta
e imediatamente a profissionalização propriamente dita, em nível de graduação. No
Programa-Processo, base-comum e parte-diversificadora objetivam direta e
imediatamente a profissionalização propriamente dita, com retomadas e aprofundamento
das bagagens de educação geral trazidas pelos alunos sendo contemplados ao longo de
toda a sua trajetória, até porque, de uma maneira ou de outra, os alunos do Programa já
terão passado pela situação de clientela praticamente na grande maioria dos campos de
atuação profissional agora por eles pretendidos. Portanto, inclusive a condição anterior de
alunos, vivenciada quando cursaram os níveis equivalentes a Educação Infantil, Ensino
Fundamental e Ensino Médio, deverá ser constantemente retomada e aproveitada no
sentido do. aperfeiçoamento profissional da ação magisterial futura dos mesmos.
9
2 - ACABA-SE O CURSO DE PEDAGOGIA?
Nesse contexto, como fica o curso de pedagogia, acaba-se ? -Sim, acaba-se o
curso mas não a Pedagogia. Aliás, o curso de pedagogia já se acabou há muito tempo no
que diz respeito a magistério, ou enquanto destinado à formação de professores para
atuarem em habilitações de magistério em nível de Ensino Médio, vez que estas
praticamente não mais existem a partir da extinção dos cursos normais e do esvaziamento
desse e de outros tipos de habilitações profissionalizantes de nível médio pela Lei n°
5692/71. A formação desses professores constituiu o objetivo da criação do curso de
pedagogia no Brasil, que, no entender de Bernadete A. GATTI6, não encontra similar em
outros países e
"(...) nasceu como uma tentativa de se montar algo semelhante à Escola Normal
Superior francesa, mas, entre nós, assumiu características bem distintas daquela. Nosso
Curso de Pedagogia objetivou, ao ser criado, a formação de professores para atuar
como docentes de nossas escolas normais, que eram cursos em nível médio, como
também para dar uma certa formação psicopedagógica (...). Trazidas as habilitações
para a graduação em Pedagogia, amplia-se a descaracterização da imagem do
pedagogo e do sentido mais global de sua formação (...)".
Analisando-se por esse ângulo, o de sua finalidade inicial, fica claro que o curso
de pedagogia se acabou, no que respeita à sua primeira razão de ser, com a extinção dos
cursos normais e sua extrapolação para domínios não docentes, como os de Direção,
Supervisão e Orientação. Em outros termos, não existe mais o curso de pedagogia mas,
sim, cursos disto e daquilo enfeixados nesse rótulo geral.
Ademais, mesmo que os cursos normais de nível médio venham a ser de fato
reativados, como possibilidade recriada pela LDBEN n° 9394/96 e com diretrizes
normatizadas pelo Conselho Nacional de Educação, conforme minuta aprovada pela
CEB/CNE em 29/01/99, tanto a formação de seus professores quanto a de outros
profissionais, ora abrangidas pelo atual curso de pedagogia, poderão constituir domínios
específicos de profissionalização na parte-diversificadora e alguns ajustes na base-
comum do Programa (já se falou sobre isto no item 1-5°).
6 GATTI, Bernadete A. Curso de pedagogia em questão ou a questão da formação dos educadores. Nuances -Revista do Curso de Pedagogia. Presidente Prudente-SP: UNESP, v. 4, p. 1-4, set./98.
10
Portanto, ao invés de se acabar com a Pedagogia, o que efetivamente se
intenciona, com o Processo em pauta, é estendê-la de fato a todos os docentes de todos os
níveis de ensino e campos de atuação educacional: não parece total contra-senso os
professores das quatro últimas séries do Ensino Fundamental e do Ensino Médio poderem
se licenciar, de acordo com as atuais licenciaturas, sem se tornarem autênticos pedagogos,
no sentido mais profundo de que se reveste este termo? -Não é pelo menos esquisito um
especialista de educação denominar-se pedagogo, em virtude do rótulo geral -curso de
pedagogia- que abriga sua habilitação, e ao professor titulado por licenciatura sequer isso
lhe sér permitido ostentar?
3 - 0 MOMENTO É PROPÍCIO A ESSE TIPO DE INICIATIVA ?
Há, atualmente, ambiente favorável à implantação de novo Programa de
Formação de Professores, como o aludido acima e mais explicitado nos próximos itens? -
A resposta é afirmativa pelo menos nos âmbitos dos Pareceres n.° 776/97 e n.° 53/99 do
Conselho Nacional de Educação - CNE, ou seja:
a) O Parecer n.° 776/97, que oficializa "(...) orientação para as diretrizes curriculares dos
cursos de graduação", definiu os seguintes princípios a serem necessariamente
respeitados pelas Instituições de Ensino Superior:
"1) Assegurar às instituições de ensino superior a ampla liberdade na composição
da carga horária a ser cumprida para a integralização dos currículos, assim
como na especificação das unidades de estudos a serem ministradas.
2) Indicar os tópicos ou campos de estudo e demais experiências de ensino-
aprendizagem que comporão os currículos, evitando ao máximo a fixação de
conteúdos específicos com cargas horárias pré-determinadas, as quais não
poderão exceder 50% da carga horária total dos cursos.
3) Evitar o prolongamento desnecessário da duração dos cursos de graduação.
4) Incentivar uma sólida formação geral, necessária para que o futuro graduado
possa vir a superar os desafios de renovadas condições de exercício
profissional e de produção do conhecimento, permitindo variados tipos de •
formação e habilidades diferenciadas em um mesmo programa.
11
5) Estimular práticas de estudo independente, visando uma progressiva
autonomia profissional e intelectual do aluno.
6) Encorajar o reconhecimento de conhecimentos, habilidades e competências
adquiridas fora do ambiente escolar, inclusive as que se refiram a experiência
profissional julgada relevante para a área deformação considerada.
7) Fortalecer a articulação da teoria com a prática, valorizando a pesquisa
individual e coletiva, assim como os estágios e a participação em atividades de
extensão;
8) Incluir orientações para a condução de avaliações periódicas que utilizem
instrumentos variados e sirvam para informar a docentes e a discentes acerca
do desenvolvimento das atividades didáticas".
O Programa proposto vem de encontro a todos esses princípios, ajustando-se até
organizacionalmente aos de n° 3 e 4.
b) Quanto à compatibilidade do Programa com as "Diretrizes Gerais para os Institutos
Superiores de Educação" , constantes do Parecer n° 53/99, frisa-se que o mesmo já se
configura como dimensão operacional do Instituto Superior de Educação da IES que o
implementar. Em outros termos, estruturar e oficializar administrativamente um
Instituto como esse é tarefa até relativamente fácil. O grande problema-desafio consiste
em saber efetivamente o quê de fato irá fazer e como realmente funcionará. Uma vez
definida esta dimensão operacional, exatamente o que se intenta com o Programa em
questão, fica mais fácil ainda institucionalizar a organização administrativa do Instituto,
cuja razão de ser é enfatizada, com propriedade, pelo Parecer: "Ao propor uma
Instituição e não simplesmente um curso, fica configurada a idéia da constituição de
todo um novo ambiente institucional, mais propício à renovação das práticas
necessárias à formação dos docentes".
Reiterando, a proposta de Programa-Processo, a seguir especificada, nem colide e
muito menos esvazia a idéia, inclusive da LDBEN n° 9394/96, de criação dos chamados
Institutos Superiores de Educação nas Instituições de Ensino Superior do país, pois, ao
contrário, a reforça como sua dimensão programática substantiva e funcional, significando
que a realidade desse tipo de Instituto estará se evoluindo e construindo no sentido da
dimensão funcional para a organizacional, e não desta para aquela. Em verdade, já se
institucionalizou administrativamente muita coisa neste país, inclusive na área da
12
educação, que funciona mal (a exemplo das próprias licenciaturas), que de fato nunca
cumpriram suas funções (como as usinas nucleares de Angra I e II, e similares), ou jamais
funcionarão, conforme a imprensa tem divulgado constantemente.
4 - OBJETIVO DO PROGRAMA
Em temos gerais, o grande objetivo do Programa será o de:
IMPLANTAR, NAS IES (INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR) DO PAÍS, NOVO PROCESSO DE FORMAÇÃO PROFISSIONAL DE PROFESSORES E ESPECIALISTAS DE EDUCAÇÃO PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA, NAS MODALIDADES DE LICENCIATURAS, LINHAS DE FORMAÇÃO CONTINUADA E PROGRAMA DE FORMAÇÃO PEDAGÓGICA, VISANDO O DISPOSTO NO CAPÍTULO II -ARTIGOS 22 A 28- DA LDBEN N° 9394/96, QUE CRIE CONDIÇÕES REAIS E INTERATIVAS DE FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E EXERCITAÇÃO PRÁTICA RELACIONADAS COM:
a) OS PERFIS DA PROFISSÃO E DO PROFISSIONAL DOCENTE OU ESPECIALISTA DE EDUCAÇÃO, NA ÁREA DE INFLUÊNCIA DE CADA IES, NA REGIÃO E NO BRASIL, AMBOS CONTEXTUALIZADOS PELAS ACELERADAS EVOLUÇÕES CIENTÍFICAS, TECNOLÓGICAS, SOCIAIS E CULTURAIS PELAS QUAIS PASSA O MUNDO ATUAL;
b) A QUALIDADE, IMPLICANDO NECESSARIAMENTE COMPETÊNCIA E EFICIÊN-CIA, EM CONTEÚDOS E RESPECTIVAS METODOLOGIAS DE EFETIVA ATUA-ÇÃO ESCOLAR NAS FAIXAS ETÁRIAS E DE MERCADO A QUE SE DESTINEM OS DOMÍNIOS PROFISSIONALIZANTES ENCAMPADOS PELO PROGRAMA;
c) AS NECESSIDADES E/OU CONVENIÊNCIAS DE EDUCAÇÃO CONTINUADA QUE PROPICIE AOS EGRESSOS DAS LICENCIATURAS E DO PROGRAMA DE FORMA-ÇÃO PEDAGÓGICA: APROFUNDAMENTO E/OU AMPLIAÇÃO DE CONHECIMEN-TOS E COMPETÊNCIAS AO LONGO DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL; OPORTU-NIDADES DE RETORNOS A OUTROS DOMÍNIOS PROFISSIONALIZANTES DAS RESPECTIVAS PARTES-DIVERSIFICADORAS PARA A CONQUISTA DE NOVAS FRONTEIRAS (OU FAIXAS ETÁRIAS E DE MERCADO) DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL; BEM COMO A CONTINUIDADE FORMAT1VA INCLUSIVE NO NÍVEL DA PÓS-GRADUAÇÃO LATO E STRICTO SENSU.
13
5 - FASES DO PROGRAMA NO CAMPO DAS LICENCIATURAS
Considerando o objetivo acima e retomando os pressupostos do item 1, o. Progra-
ma, sempre concebido no prisma de dinâmico Processo, abrange as dimensões da forma-
ção inicial e da formação continuada, como seu maior universo de referência, e sua traje-
tória de implementação no campo da licenciaturas compreenderá a base-comum e a par-
te-diversificadora, as quais, por sua vez, comportarão três fases de operacionalização, as
duas primeiras no âmbito da base-comum e a última no da parte-diversificadora.
Vejamos, então, em que consistem e como funcionam as mencionadas três fases
de operacionalização, tomando como referência a duração da formação inicial
programada para três anos bem aproveitados e considerando que todos os alunos tenham
passado por seleção e sejam matriculados no Programa, como um todo, e não em cursos
isolados a exemplo das vigentes licenciaturas:
5.1- PRIMEIRA FASE: IMPACTO E FUNDAMENTAÇÃO GERAL
5.1.1 - Objetivo: ENVOLVER OS ACADÊMICOS, DESDE O SEU
PRIMEIRO CONTATO COM O PROGRAMA, NO PROCESSO DE
CONHECIMENTO E VIVENCIAMENTO DE QUESTÕES
TEÓRICAS E REAIS QUE OS AJUDEM A FORMAR IDÉIAS
CLARAS SOBRE OS PERFIS TANTO DA PROFISSÃO QUANTO
DO PRÓPRIO DOCENTE OU ESPECIALISTA DE EDUCAÇÃO,
ENQUANTO EDUCADORES PROFISSIONAIS, NÃO
IMPORTANDO AINDA EM QUE ÁREA DE CONHECIMENTO
OU FAIXA ESPECÍFICA DE MERCADO IRÃO ATUAR.
5.1.2 - Duração: primeiro semestre letivo, o de entrada dos alunos no Programa.
t
14
5.1.3 - Enfoques temáticos7:
- A profissão e o profissional docente ou especialista de educação (quando for o
caso) no prisma histórico.
- A profissão e o profissional docente ou especialista de educação no prisma
filosófico.
- A profissão e o profissional docente ou especialista de educação no prisma
antropológico.
- A profissão e o profissional docente ou especialista de educação no prisma
psicológico.
- Ênfases de Psicologia Evolutiva: da infância à velhice.
- A escola na construção permanente da sociedade.
- A organização e o funcionamento dos sistemas de educação escolar no Brasil.
- O professor e a realidade de seu mercado de trabalho.
- Os especialistas de educação e a realidade de seu mercado de trabalho.
- Tópicos de Língua Portuguesa: interpretação e redação.
- Tópicos de Metodologia do Trabalho Científico: elaboração de relatórios, produ-
ção de ensaios, manuseio de normas da ABNT, organização e funcionamento de
grupos de estudos, encontros, mesas-redondas, seminários, debates e similares.
- E outros, em acréscimo ou substituição aos acima relacionados, dependendo de
suas relevâncias.
5.1.4 - Ênfase em Atividades Dinâmicas
Pela própria natureza do Programa, que requer procedimentos metodológicos
ativos e interativos, assim como em atenção ao princípio n° 2 do Parecer n° 776/97 do
CNE, transcrito no item 3, é aconselhável que só alguns enfoques temáticos, como os
Tópicos de Língua Portuguesa e os de Metodologia do Trabalho Científico, sejam
7 Quanto à relação TEORIA versus PRÁTICA ou PRÁTICA versus TEORIA para o desenvolvimento destes enfoques temáticos no currículo de cada Licenciatura, e em cada uma de suas três fases (cfr. indicação de enfoques temáticos também em 5.2.3 e 5.3,3), caberá à respectiva IES deliberar sobre a melhor proposta metodológica: Aprendizagem Baseada em Problemas!; Prática Reflexiva?; outral - Em 5.1.9 há comentários sobre isso. As sugestões de metodologia de desenvolvimento dos enfoques temáticos de todas as fases acima referidas pressupõem essa definição.
15
desenvolvidos em forma de disciplina envolvente, vez que os mesmos auxiliarão os alunos
tanto a coparticiparem da organização das atividades (ou eventos) de desenvolvimento dos
demais quanto a elaborarem relatórios e outros tipos de matérias escritas após a realização
dos mesmos. Outros enfoques temáticos poderão ou mesmo deverão ser trabalhados
através de atividades ou eventos: grupos-de-estudo-dirigido, seminários, palestras,
observações e entrevistas nas escolas, bem como de outras iniciativas metodológicas desde
que bem programadas (consultar letras a e b de 5.1.9 sobre metodologias ativas). Ressalta-
se, aliás, que o planejamento participativo deverá permear toda a trajetória do Programa,
envolvendo coordenadores, professores, alunos, dirigentes, etc, vez que constituirá o
mecanismo dinamizador capaz de, ao mesmo tempo, assegurar a substancialidade, a
sistematicidade, a agilidade, a qualidade e a produtividade do mesmo, da primeira à última
fase de sua operacionalização, no que concerne tanto às licenciaturas quanto a outras
modalidades de trabalho.
O termo atividade, no contexto do Programa, terá o sentido de evento a respeito
de um enfoque temático, sistematicamente programado, realizado e executado em função
de objetivo bem preciso e implicando computação de carga horária, para os alunos, que
nele se envolverem ativamente, correspondente às horas investidas em preparação, em
efetiva participação, em realização de sessões posteriores de aprofundamento temático e na
elaboração de relatórios, pequenos ensaios, artigos, papers, comunicações, e outros,
individualmente e/ou em grupo, dependendo de como for planejado o evento.
O grupo de professores atuará nesta fase sempre em equipe, ou seja, todos partici-
parão de todas as atividades, mas cada um terá função bem definida em cada uma delas: co-
ordenação geral, coordenação temática, assistência e monitoramento de alunos, e similares.
Importa ressaltar que cada aluno deverá contar com um professor monitor, que o reunirá
com os demais acadêmicos sob sua monitoração, o incentivará, o acompanhará em tudo,
facilitará seu envolvimento na atividade, cobrará o cumprimento de suas tarefas e se encarre-
gará de analisar tanto o engajamento do aluno quanto a qualidade de seu desempenho .
5.1.5- Limitação de Abrangência das Atividades
Dependendo das faixas etárias e de mercado para as quais as IES decidirem
oferecer domínios específicos de profissionalização na parte-diversificadora do Processo,
como docência de Ia à 4a e de 5a à 8a série do Ensino Fundamental, de Ia à 3a série do
Ensino Médio, em Educação Infantil, e para a atuação nos âmbitos da Supervisão Escolar,
de Orientação Educacional, etc, a base-comum do Processo se desenvolverá através de
atividades-comuns a todos os matriculados no Programa e de atividades com limitação
de abrangência para efeito de desenvolvimento dos enfoques temáticos, a exemplo dos
sugeridos em 5.1.3. Assim, e por exemplo:
a) Ênfases de Psicologia Evolutiva, A Escola na Construção Permanente da Sociedade, A
Organização e o Funcionamento da Educação Escolar no Brasil, Tópicos de
Metodologia do Trabalho Científico, e similares, poderão ser desenvolvidos em
atividades-comuns a toda a clientela ingressada no Programa.
b) Os cinco primeiros enfoques temáticos comportarão a possibilidade de variação de ativida-
des, dependendo da abrangência da programação de desenvolvimento das mesmas, de
acordo os domínios profissionalizantes pretendidos pelos candidatos, ou, exemplificando:
Ia opção: atividades-comuns só para os candidatos à docência e atividades-comuns só
para os aspirantes a especialistas de educação;
2a opção: atividades-comuns só para candidatos à docência em Educação Infantil e no
Ensino Fundamental; atividades-comuns só para candidatos à docência no
Ensino Médio; e atividades-comuns só para os aspirantes a especialistas de
educação; e assim por diante.
À primeira vista, a 2a opção parece ser a melhor porque vincula mais os enfoques
temáticos às características das faixas de mercado pretendidas pelos candidatos. Mas, na
perspectiva do Programa como Processo, acarretará desvantagens muito significativas em
relação à anterior: primeira, a da transformação de cada domínio profissionalizante em
curso estanque de habilitação, como já ocorre hoje; segunda, se os candidatos desde o início
do Programa se enclausurarem num domínio específico de faixa de mercado, não tomarão
consciência de como, por exemplo, sua atuação no âmbito da Educação Infantil refletirá em
toda a cadeia posterior do ensino escolar e nem os candidatos só à faixa do Ensino Médio
saberão adequar o seu trabalho às potencialidades e aos problemas emanados do desenrolar
dessa cadeia, desde a Educação Infantil; terceira, esse enclausuramento acarretará, ainda, a
dificuldade de os egressos retornarem futuramente apenas à parte-diversificadora do
mesmo (cfr. segunda linha de formação continuada, no item 6), para se inscreverem em
outros domínios específicos de profissionalização, visando a conquista de novas faixas de
mercado, tantas quantas em cujos domínios efetivamente puderem profissionalizar-se.
17
Em face das razões acima, o ideal será que essas atividades, mesmo acentuando a
relação dos enfoques temáticos com a realidade de cada faixa de mercado, sejam progra-
madas e desenvolvidas da maneira mais abrangente possível, variando-se apenas, e se de
fato convier, quanto às categorias dos professores e dos especialistas de educação, mas,
ainda assim, considerando-se como universo temático o âmbito de toda a Educação Básica.
5.1.6 - Grupos de Monitoramento
O desejável será que cada docente monitor se responsabilize, a cada atividade ou
evento, por grupo de monitoramento de, no máximo, cinqüenta alunos, pois, além das
atribuições acima, deverá relatar a situação de cada componente do grupo, no comitê de
avaliação, para a formação do respectivo conceito de participação e aproveitamento.
Será indispensável que se proceda ao rodízio dos professores monitores nos
diferentes grupos de monitoramento, preferentemente a cada atividade ou evento, para
que todos os professores se relacionem com todos os alunos, evitando-se que cada grupo se
sinta mais ou menos enriquecido, privilegiado ou prejudicado pela permanente
monitoração de apenas um professor.
Igualmente interessante será o rodízio dos próprios alunos nos diferentes grupos
de monitoramento, quando se referirem a atividades/eventos-comuns. Dessa forma,
também eles terão a oportunidade de convivência com todos os colegas.
5.1.7 - Comitê de Avaliação
Intentando que a avaliação dos alunos não se descambe para direções meramente
subjetivas ou puramente objetivas, sugere-se que se leve em consideração o acompanhamento
constante de cada um por toda a equipe docente e de gerenciamento do Programa, e, de modo
mais imediato e personalizado, pelos professores-monitores, nos termos do item anterior.
Todavia, esse acompanhamento não bastará por si só, pois ao se encerrar cada
uma das atividades, mencionadas em subitens anteriores, haverá a necessidade de
explicitação e oficialização dos conceitos de participação e aproveitamento, tomando-se
por referência o envolvimento ativo de cada aluno nas mesmas, assim como a quantidade e
a qualidade dos materiais por ele escritos em relação a elas.
18
Aí não será a hora de alguém decidir sozinho, mas da reunião de um comitê de
avaliação, conduzido pelo Gerente do Programa, cuja composição talvez possa assim ser
constituída: toda a equipe de professores monitores e três alunos de cada grupo de
monitoramento, evidentemente só participando das sessões em que os integrantes do seu
grupo forem avaliados, o que pressupõe prévia e ampla divulgação do calendário das
sessões, eom a especificação dos grupos a que se referirão.
5.1.8 - Composição e Treinamento da Equipe Docente
Em termos de recrutamento dos componentes da equipe, os principais pré-
requisitos são: manifesto interesse pela formação de profissionais da educação escolar;
conhecimento da filosofia do Programa; declarado compromisso de responsavelmente se
engajar em sua dinâmica operacional; capacidade de trabalhar em conjunto com colegas e
alunos; habilidades de liderança, organização e monitoramento de grupos de alunos; além
das demais qualidades humanas, em geral, e éticas, em particular, requeridas de qualquer
outro tipo de profissional que se preza.
E a titulação? - A titulação é importante, até para efeito de obediência a exigências
legais, mas não é tudo. Por isso, recomenda-se que todos os integrantes da equipe
detenham titulação de mestrado para cima, dos quais pelo menos um terço especificamente
na Área de Educação e os outros dois terços em Áreas de Conhecimento abrangidas pelos
campos profissionalizantes da parte-diversificadora do Programa, evidentemente
mediante os pré-requisitos anteriormente mencionados.
No tocante à atuação dos docentes nesta fase de impacto e fundamentação
geral, já se falou atrás sobre quase tudo o que deverão fazer em equipe e individualmente.
Mas, como de fato se tornarão aptos à realização de tarefas até agora não incorporadas às
rotinas de sua atuação: orientar a elaboração de relatórios e de outros materiais escritos,
corrigir falhas redacionais e similares? -Para isso, a equipe deverá ser rigorosamente trei-
nada. Deverá ser treinada ainda em programação e desenvolvimento de pesquisa, levando-
se em conta que a dinamização do Processo implicará o suporte de constante investigação
sobre perfis da profissão e dos profissionais da educação escolar, referentes a esta fase do
Programa, .assim como sobre as questões-chave das demais fases, requerendo a participa-
ção de docentes e alunos nessa dinâmica investigatória (cfr 5.1.9 ). Aliás, deverão orientar
os alunos inclusive em relação a planejamento e desenvolvimento de pesquisa, em razão de
19
que isso faz parte do perfil profissional de todos os professores, não devendo ser relegado à
responsabilidade apenas de um professor especialista em Metodologia de Produção Cien-
tífica ou similar. A este caberá preparar os outros para que todos atuem corporativamente.
A questão da rigorosa preparação da equipe docente para atuar no Programa é tão
séria que o mesmo já nascerá fadado ao fracasso se implantado antes de ela ocorrer.
Também importantes são três outras observações: primeira, a equipe docente não precisa
ser tão grande, isto é, que seja composta de tal forma que cada professor possa monitorar,
em rodízio, grupos de no máximo cinqüenta alunos; segunda, o treinamento prévio poderá
ser feito para maior número de professores que o da equipe por várias razões, inclusive a
da substituição de componentes quando necessária; terceira, o ideal será que os
professores da equipe docente desta primeira fase possam coordenar, cada um em sua
respectiva Área de Conhecimento, trabalhos em domínios profissionalizantes específicos
durante a terceira fase. Por menor que seja a representação numérica deles também nessa
fase, dado que a equipe docente desta primeira fase poderá não ser tão grande quanto o
grupo de coordenadores de domínios lá na terceira, sua inserção no processo, desde o
início, constituirá um reforço a mais para que se garantam, do começo ao fim, a filosofia, a
lógica processual e a dinamicidade operativa do Processo implicado pelo Programa.
5.1.9- Atividade de Investigação Permanente
Não se trata de investigação ou pesquisa puramente acadêmico-formativa, só para
exercitar a capacidade produtiva dos docentes, dos alunos e de quantos se envolvam com o
Programa.
Além dessa finalidade formativa, evidentemente essencial para o desenvolvi-
mento de aptidões qualitativo-produtivas em toda a clientela engajada em sua implemen-
tação, há pelo menos outras quatro finalidades pragmáticas, absolutamente necessárias no
sentido de que o próprio Programa não se divorcie da dinâmica realidade para a qual
objetiva formar profissionais. São aquelas que lhe possibilitarão manter-se constantemente
inteirado sobre performance atual e tendências de evolução dos: a) perfis da profissão e
do profissional docente ou especialista de educação (concernentes a esta primeira fase
do Programa); b) preparação técnica dos candidatos à profissionalização em domínios
específicos (referente à segunda fase); c) conteúdos curriculares e metodologias (de
ensino-aprendizagem e de relacionamento interativo professor-aluno), atinentes a todos os
20
domínios de profissionalização envolvidos na terceira fase; e d) necessidades e
modalidades de educação continuada (conforme item 6).
No que concerne a metodologias de ensino-aprendizagem e a relacionamento
interativo professor-aluno, à letra c supra, o Programa não poderá deixar de contatar
experiências inovadoras de outras instituições nacionais e estrangeiras que lidam com
Educação Básica e Educação Superior. Há muitas propostas metodológicas em andamento,
por aí afora, que podem ser pesquisadas a exemplo das duas que se seguem:
o
a) PBL-"Problem-Based Learning" ou Aprendizagem Baseada em Problemas
Trata-se de proposta de desenvolvimento curricular implantada em 1969 na área
de medicina da Universidade Mc Master, do Canadá, hoje estendida aos Estados Unidos,
Holanda, Inglaterra, Egito, África do Sul, Austrália, Brasil, etc. Foi trazida para o Brasil
em 1997 pela Faculdade de Medicina da Fundação Municipal de Ensino Superior de
Marília-SP (FAMEMA) e o sucesso aí alcançado está propiciando a sua expansão para a
área de Ciências Médicas de outras universidades, como Universidade Estadual de
Londrina-UEL e UNESP de Botucatu. De acordo com MORAES, a Aprendizagem Basea-
da em Problemas leva em consideração "(•••) quatro concepções de ensino-aprendizagem:
a aprendizagem auto-dirigida, aprendizagem baseada em problemas, aprendizagem em
pequenos grupos de tutoria e aprendizagem orientada para a comunidade".
b) Prática Reflexiva9
A Prática reflexiva ou practicum reflexivo é a concepção metodológica sobre
ensino-aprendizagem defendida por Donald A. SCHÕN, pela qual a prática ilumina
processualmente a teoria, ou seja, da reflexão na prática se evolui para a reflexão sobre a
prática, como também para a reflexão sobre a reflexão, e assim por diante, a exemplo do
que ocorre com o aprendizado na área da educação artística. Para SCHÕN, "O movimento
8 MORAES, Magali Aparecida Alves. A interdicisplinaridade e a aprendizagem baseada em problemas (PBL). Marília-SP : UNESP/Programa de Pós-Graduação em Educação, 1998 (título provisório de projeto de pesquisa para doutorado). Também o jornal O Estado de São Paulo, de 18/10/98, caderno A-18, publicou ampla matéria, intitulada Universidade inova na formação de médico, sobre a experiência da FAMEMA. 9 SCHÕN, Donald- A. Formar professores como profissionais reflexivos. In: NÓ VOA, Antônio (org.). Os pro-fessores e a sua formação. Lisboa : Publicações Dom Quixote Ltda (Temas de Educação 1), 1995, p.77-91. Nessa mesma publicação há matérias de outros autores que corroboram a proposta de SCHÕN: O pensamento prático do professor: a formação do professor como profissional reflexivo (p.93-114) de Angel Pérez GOMEZ e Novos caminhos para o practicum: uma perspectiva para os anos 90 (p. 115-138) de KenZEICHNER.
21
crescente no sentido de uma prática reflexiva, cujas origens remontam a John Dewey, a
Montessori, a Tolstoi, a Froebel, a Pestalozzi, e mesmo ao Emílio de Rousseau, encontra-
se no centro de um conflito epistemológico ".
No tocante ao objetivo deste Programa-Processo, esse autor aponta duas
dificuldades para o desenvolvimento da prática reflexiva:
"Na formação de professores, as duas grandes dificuldades para a introdução de um
practicum reflexivo são, por um lado, a epistemologia dominante na Universidade e, por
outro, o seu currículo profissional normativo: Primeiro ensinam-se os princípios
científicos relevantes, depois a aplicação desses princípios e, por último, tem-se um
practicum cujo objectivo é aplicar à prática quotidiana os princípios da ciência aplicada.
Mas, de facto, se o practicum quiser ter alguma utilidade, envolverá sempre outros
conhecimentos diferentes do saber escolar. Os alunos-mestres têm geralmente
consciência deste desfasamento, mas os programas deformação ajudam-nos muito pouco
a lidar com estas discrepâncias ".
Em relação a propostas como as duas aludidas acima, por que não pesquisar a sua
aplicabilidade nas licenciaturas, da maneira como estão sendo sugeridas ao longo de todo
o item 5? -Uma outra postura importante será a da articulação do Programa com os meios
de comunicação especializados em educação, dado que estão descobrindo constantemente
iniciativas inovadoras em termos de ensino-aprendizagem e de relacionamento interativo
em todo o âmbito escolar.
Na verdade a programação e o desenvolvimento da referida atividade de
investigação permanente precisa começar antes mesmo da implementação operacional
desta primeira fase do Programa (já se falou disso em relação ao treinamento da equipe
docente em 5.1.8.) e se estenderá por toda a duração do mesmo, na respectiva IES, visto
que é e será sempre o pilar central que sustentará e subsidiará a sua contínua performance
de atualização e evolução qualitativa.
Por tudo o que foi exposto até aqui, é o momento de deixar absolutamente claro
que o Programa, da maneira como vem sendo configurado, engloba a interação de duas
dinâmicas operacionais: a da investigação permanente e a da ação processual. Nesta
proposta, praticamente só a dinâmica da ação processual está sendo detalhadamente
explicitada, em termos operacionais, porque deliberadamente se entende que o efetivo
planejamento de como organizar e funcionar a dimensão da investigação permanente
deva contar com a participação pelo menos das pessoas que constituirão as primeiras
22
coordenação e equipe docente do Programa. Todavia, nada impede que cada IES se decida
de imediato por linhas de investigação com as finalidades formativa e pragmáticas
acima mencionadas, dado que isso lhe será de muita valia mesmo que não adote a
dinâmica de ação processual contida nesta proposta.
5.2 - SEGUNDA FASE: PREPARAÇÃO TÉCNICA PARA A PROFISSIONALIZAÇÃO
5.2.1 - Objetivo: AMPLIAR E APROFUNDAR A BASE DE FORMAÇÃO
TÉCNICA, CONDIZENTE COM OS PERFIS DA PROFISSÃO E DO
PROFISSIONAL DOCENTE E/OU ESPECIALISTA DE
EDUCAÇÃO, VISANDO A QUE OS ALUNOS SE RESPALDEM DE
AUTOCONFIANÇA E SUBSÍDIOS PARA O CRUCIAL
ENFRENTAMENTO DA QUESTÃO TEORIAS VERSUS PRÁTICAS
PROFISSIONAIS NA PRÓXIMA FASE DO PROCESSO.
5.2.2 - Duração: aproximadamente os 2o e 3o semestres letivos de permanência
dos alunos no Programa.
5.2.3 - Enfoques Temáticos (muita atenção à nota de rodapé em 5.1.3):
- Psicologia Evolutiva: de 0 a 17 anos (aprofundamento).
- Teorias de aprendizagem.
- Psicologia da aprendizagem.
- Avaliação no processo ensino-aprendizagem.
- Administração de conflitos na relação aluno-professor (e vice-versa).
- Relação família, escola e sociedade.
- Ética e exercício profissional de docentes e especialistas de educação.
- Relações multilaterais: professores versus especialistas de educação versus
dirigentes escolares.
- Educação escolar e projeto educacional.
23
- Informática na educação.
- Iniciação à computação.
- Língua(s) estrangeira(s), sobretudo Inglês e Espanhol (instrumental).
- Matemática básica (aquela que todo cidadão precisa saber).
- Tópico de Língua Portuguesa: redação técnica.
-Tópicos de Metodologia de Produção Científica: planejamento, desenvolvimento
e sistematização documental de pesquisa.
- Quanto à Iniciação Científica, na verdade os alunos já a estarão exercitando de
alguma maneira através das tarefas a serem sistematizadas e cumpridas sobre as
diferentes atividades; assim mesmo, será conveniente, talvez até necessário,
que elaborem um projeto de investigação, a desenvolvam e a sistematizem
documentalmente até o final desta fase.
- Outros, em acréscimo ou substituição aos acima elencados, até porque,
dependendo dos domínios específicos de profissionalização a serem exercitados
na próxima fase, talvez se torne necessário ou conveniente o desenvolvimento
também de enfoques temáticos mais especializados.
5.2.4 - Metodologia de Desenvolvimento dos Enfoques Temáticos
Podem ser aproveitadas muitas sugestões metodológicas da primeira fase (do
subitem 5.1.4 ao 5.1.9). Entretanto, e face à tentação de enquadrar a maioria dos enfoques
temáticos desta fase na forma de disciplina tradicional, convém lembrar que o
desenvolvimento de vários dentre esses enfoques poderá combinar, sem conflito algum:
abordagens gerais (explanações, debates, seminários, etc) para grandes grupos, em
auditórios ou ambientes evidentemente adequados, sobre as idéias ou conteúdos de fundo;
e retomada de aprofundamento e sistematização em grupos menores, os chamados,
atrás, grupos de monitoramento.
Por outra, há enfoques temáticos, ou partes deles, que poderão ou mesmo
deverão ser trabalhados em laboratórios, oficinas ou ateliês apropriados, como: Informática
na Educação, Línguas, Matemática Básica, Iniciação à Computação, etc. Aliás, além
desses ambientes laboratoriais internos à IES, há a grande realidade lá fora, para o âmbito
24
da,qual muitas atividades poderão ser programadas no que respeita principalmente aos 9
primeiros enfoques temáticos sugeridos em 5.2.3.
Portanto, o planejamento participativo, sério e sistemático, será a alma do
negócio tanto na primeira como nesta segunda fase, da mesma maneira que continuará
sendo em todo o Programa.
5. 3 - TERCEIRA FASE: PROFISSIONALIZAÇÃO EM DOMÍNIOS ESPECÍFICOS
5.3.1 - Objetivo
A expressão domínios específicos compreende os espaços e limites das seguintes
três variáveis básicas de abrangência da profissionalização pretendida: primeira, a de cada
faixa de mercado (exemplos, a das quatro últimas séries do Ensino Fundamental + a do
Ensino Médio; a das quatro primeiras séries do Ensino Fundamental; a da Educação
Infantil; a da Educação Especial; a da Direção Escolar; a da Supervisão Escolar; a da
Orientação Educacional, etc) , segunda, a das faixas etárias assim como, terceira, a das
unidades de conhecimento e modalidades de ser e agir com qualidade, objetivadas para
os alunos de cada série, em cada faixa de mercado, a partir da programação curricular
real (a que já consta da média das Diretrizes Curriculares -em âmbito geral e no de cada
Área ou Subárea de Conhecimento adotada pelo Programa- orientadoras da educação
escolar e do ensino na região e no país) e da programação curricular desejável no
sentido de que a escola se evolua contribuindo efetivamente para o consciente, sadio e
dinâmico desenvolvimento da sociedade brasileira. Em verdade, o objeto direto da
profissionalização diz respeito a esta terceira variável, considerando necessariamente os
espaços, limites, características e peculiaridades das segunda e terceira.
Então, substituindo domínios específicos pelo seu próprio significado, de fato ESTA TERCEIRA FASE OBJETIVA A PROFISSIONALIZAÇÃO DOS ALUNOS DO PROGRAMA
EM CONTEÚDOS E METODOLOGIAS CURRICULARES:
A. PARA O MAGISTÉRIO DE ... (Geografia, ou de História, ou de Matemática, ou de
Física, ou de Química, ou de Biologia, ou de Língua Portuguesa, ou de Língua
Inglesa, ou de Língua Espanhola, ou de Educação Física, ou de Psicologia, ou de
Filosofia, etc ) ... NAS ÚLTIMAS SÉRIES DO ENSINO FUNDAMENTAL, A PARTIR DA 5a,
E NAS DO ENSINO MÉDIO;
25
B. PARA O MAGISTÉRIO NAS SÉRIES INICIAIS, DE Ia À 4a, DO ENSINO FUNDAMENTAL;
C. PARA O MAGISTÉRIO NO ÂMBITO DA EDUCAÇÃO INFANTIL;
D. PARA O MAGISTÉRIO EM CURSOS DE EDUCAÇÃO PARA JOVENS E ADULTOS;
E. PARA O MAGISTÉRIO NO ÂMBITO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL;
F. PARA O MAGISTÉRIO EM CURSOS NORMAIS DE NÍVEL MÉDIO;
G. PARA O EXERCÍCIO DE DIREÇÃO ESCOLAR;
H. PARA O EXERCÍCIO DE SUPERVISÃO ESCOLAR;
I. PARA O EXERCÍCIO DE ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL;
J. ETC, ETC.
Duas observações:
a) Cada Instituição de Ensino Superior é que-deliberará por quais e quantos domínios
específicos de profissionalização desejará e poderá implementar.
b) Não é demais enfatizar que, pela lógica do objetivo acima, o egresso do Programa -
evidentemente que o concluir com êxito- dele não sairá licenciado em Geografia,
História, Matemática, etc, mas, sim, licenciado para lecionar aquilo de Geografia, de
História, de Matemática, etc, que constituir matéria curricular da 5a, da 6a, da 7a e da
8a série do Ensino Fundamental, assim como da Ia, da 2a e da 3a série
(excepcionalmente até da 4a) do Ensino Médio.
Isso quer dizer que: primeiro, a extensão e o volume de conhecimento de
Geografia, de História, de Matemática, etc, que o licenciando precisa de fato dominar para
lecionar são incomparavelmente menos complexos e abrangentes que os ora embutidos nas
atuais licenciaturas (as quais, por analogia, fazem o mais amplo arrastão possível, e com
malha fina, deixando aos licenciados tentarem selecionar, lá no mercado de trabalho, os
peixes que oferecerão à sua clientela, sem que se dêem conta de que alguns já saem mortos
da pescaria e a maioria se escapa ou deteriora antes de chegar aos necessitados
consumidores); segundo, o Programa terá sempre de estar atualizado a respeito da
performance real e das perspectivas de evolução da programação curricular de cada uma
dessas áreas de conhecimento, sem o que se transformará em mero, defasado e alienado
academicismo e em razão do que se enfatizou veementemente a importância da atividade de
investigação permanente em 5.1.9; terceiro, o Programa, uma vez continuamente
26
fundamentado e atualizado, sempre ofereça oportunidades de aprofundamento e atualização
aos seus egressos, e a quantos mais se interessarem, no âmbito das linhas de formação
continuada (cfr. item 6), significando que a dimensão da formação inicial compreendida
neste Programa-Processo se propõe a desembarcar os licenciandos em determinadas
estações iniciais mas não nos fins-de-linha dos respectivos mercados de trabalho.
5.3.2 - Duração: aproximadamente três semestres letivos, os 4o, 5o e 6o, contados
da entrada dos alunos no Programa.
5.3.3 - Enfoques Temáticos (muita atenção à nota de rodapé de 5.1.3):
- ESTUDO DE TEORIAS METODOLÓGICAS: sobretudo referentes a Prática de Ensino e
Didática no real contexto curricular dos ambientes escolares.
- ESTUDO APROFUNDADO DOS CONTEÚDOS CURRICULARES atinentes a Área e/ou Subárea
e/ou Campos de Conhecimento que constituam objeto direto de cada domínio
profissionalizante (cfr. Observações em 5.3.1):
- série-por-série, quando a profissionalização visar o magistério para faixas de mercado
seriadas ( as do Ensino Fundamental e do Ensino Médio, por exemplo );
- orientando-se pela própria lógica da programação curricular quando não houver
seriação explícita, como nos casos de Educação Infantil, Educação Especial, Direção
Escolar, Orientação Educacional, Supervisão Escolar, e similares.
-EXERCITAÇÃO DE INTERAÇÕES CURRICULARES CRIATIVAS ENTRE TEORIAS (dos
conteúdos programáticos) E PRÁTICAS (nos respectivos ambientes escolares de
atuação profissional), valendo-se:
- de tudo o que se trabalhou anteriormente, inclusive nas primeira e segunda fases, sobre
teorias (de aprendizagem, relacionamento professor-aluno, avaliação, psicologia da
aprendizagem, ética profissional do educador escolar, psicologia evolutiva, administração
de conflitos, Prática de Ensino, Didática, etc.);
- de todas as experiências vivenciadas no decorrer do Programa, dentro e fora dos Campi
das respectivas IES;
27
- da demonstração de capacidade e desenvoltura no sentido de detectar e criar situações
que favoreçam o processo de ensino-aprendizagem e de relacionamento construtivamente
produtivo entre educadores-educandos, educadores-educadores, educandos-educandos,
assim como entre todos os membros da comunidade escolar e escola-família-comunidade
em geral.
5.3.4 - Metodologia de Desenvolvimento dos Enfoques Temáticos
Com o intuito apenas de facilitar a proposta de sugestões metodológicas mais
adequadas às características dos enfoques temáticos referidos acima, entendeu-se oportuno
considerá-las em relação às duas seguintes dimensões:
a - Dimensão dos enfoques temáticos que abrangem as teorias dos conteúdos
curriculares, assim como as de Prática de Ensino e de Didática.
Se o Programa houver funcionado bem, em termos de metodologias ativas,
participativas e produtivas nas fases anteriores, ficará muito simples programar
atividades/eventos ou até disciplinas dinâmicas para esta dimensão de enfoques.
Entretanto, sejam quais forem as estratégias de procedimentos metodológicos
adotadas, não se poderá descuidar, de maneira alguma, no sentido de que realmente os
alunos do Programa dominem essas teorias. Mas, em se tratando de teorias concernentes
a conteúdos curriculares, quais são e onde encontrar esses conteúdos? -Encontrá-los nas
diretrizes e nas próprias programações curriculares -locais, regionais e nacionais-, como
também verificar se são atualizados, compatíveis com o desenvolvimento tanto societário
quanto científico e tecnológico, se se inserem com lógica nas programações curriculares, e
assim por diante, são questões que devem ser resolvidas periodicamente no âmbito da
atividade de investigação permanente enfatizada em 5.1.9.
No que respeita às teorias de Prática de Ensino e de Didática, as experiências de
ensino-aprendizagem e de relacionamento interativo professor-aluno, investigadas em
instituições escolares de Educação Básica e de Educação Superior (cfr. 5.1.9), devem ser
aproveitadas juntamente com tudo o que foi trabalhado, nesse sentido, nas fases anteriores.
28
b - Dimensão do enfoque temático concernente a INTERAÇÕES CURRICULA-
RES criativas entre TEORIAS (dos conteúdos programáticos) e PRÁTICAS
(nos ambientes escolares reais).
É chegada a hora de pôr a mão na massa, isto é, de partir para a ação, o que pode
ser feito pelo menos de duas maneiras: exercícios de vivenciamento, nas dependências do
Programa, e estágios monitorados, nas próprias escolas.
Os exercícios de vivenciamento são encenações nas quais um professorando
incorpora o papel do professor real para trabalhar uma ou algumas unidades de conteúdos
curriculares com um grupo de colegas que também assumem os papéis dos alunos do nível
de ensino ao qual correspoda(m) essa(s) unidade(s), procurando vivenciar ao máximo a
realidade dos papéis encenados, os de diferentes tipos de aluno e o de professor. Todavia, é
indispensável que tais exercícios colaborem no sentido de os alunos do Programa
vivenciarem também papéis de professores que trabalham em equipe em relação a enfoques
curriculares uni e multidisciplinares, dado que essa maneira de agir vem sendo
enfaticamente requerida para a atuação docente na atualidade. Portanto, exercícios nesse
sentido precisam ser muito valorizados.
Mas, atenção, trata-se de exercícios de vivenciamento e não de demonstrações nas
quais um grupinho de extrovertidos faça algumas palhaçadas para a diversão dos tímidos:
primeiro, porque no mundo profissional dos educadores escolares só há espaço para os
equilibrados arrojados, tendo em vista que tanto os extrovertidos quanto os tímidos ou
introvertidos em demasia no fundo sofrem dos mesmos males, os da insegurança e da falta
de autoconfiança; e, segundo, porque todos os profissionalizandos nesta fase do Programa já
deverão conhecer muito bem os perfis de seus futuros alunos e/ou interlocutores
profissionais por tudo o que já vivenciaram (inclusive já foram alunos em situações
parecidas um dia), que estudaram e investigaram.
Aliás, aquele projeto de Iniciação Científica, previsto para a segunda fase (cfr.
5.2.3), poderá constituir autêntica chance para que os acadêmicos do Programa se interessem
pelo conhecimento mais concreto, real e sistemático dos perfis de suas futuras clientelas. O
fato é que esses exercícios de vivenciamento têm de ser preparados e realizados com muita
seriedade: que tal alguém pretender profissionalizar-se como educador sem querer ou ter a
oportunidade de vivenciar o outro lado da moeda, os mundos de seus próprios futuros
educandos? -Se as encenações sugeridas não constituírem a melhor modalidade de
29
exercícios de vivenciamento para estes ou aqueles grupos de profissionalizandos, pois que
busquem ou inventem outras mas jamais deixem de os realizar.
Os estágios monitorados nas próprias escolas são essenciais e, portanto, indis-
pensáveis, apesar dos enormes problemas que afetam os atuais estágios supervisionados,
quase sempre feitos em escolas aqui e acolá, nas quais os estagiários são na maioria das
vezes indesejados por todos -dirigentes, professores, alunos e pais- em virtude de causarem
mais incômodos que benefícios ao funcionamento das mesmas. Na verdade, um dos maiores
problemas do estágio supervisionado, da maneira como vem acontecendo, talvez consista no
fato de os estagiários realizarem demonstrações acadêmicas de atuação profissional em
ambientes e para clientelas reais, sem se sentirem efetivamente responsáveis pelas
conseqüências educacionais decorrentes de suas passagens por essas escolas.
Então, como resolver a questão concernente a ambientes adequados para que os
alunos do Programa exercitem autenticamente sua performance profissional, assumindo
consciente e compromissadamente as respectivas conseqüências educacionais? -Vamos
descartar a criação dos chamados colégios de aplicação, porque já nascem laboratórios
artificiais que transformam sobretudo crianças e jovens em cobaias para efeito de
manipulação acadêmica. Além disso, por que despender tantos esforços e recursos na
criação de escolas-laboratório quando a comunidade lá fora está clamando por escolas de
verdade? -O que se quer dizer com isso é que a IES que adotar o Programa poderá articular-
se com autoridades municipais, empresários de diferentes setores e outras lideranças locais
na busca de parcerias bi ou multilaterais, pelas quais o Programa se comprometa com os
recursos humanos, evidentemente dos domínios de profissionalização que tenham sido
institucionalizados -como professores e/ou diretores e/ou supervisores escolares e/ou
orientadores educacionais-, e a(s) outra(s) parte(s) se responsabilize(m) pelo provimento das
instalações, dos demais funcionários, dos equipamentos e das despesas de manutenção.
Nesse caso, professores monitores e respectivos estagiários, estes assistidos
permanentemente por aqueles, assumirão integralmente as responsabilidades educacionais
da escola, como no caso do estágio de Medicina em que o estagiário, embora sob supervisão
de um professor, ao treinar técnicas cirúrgicas num paciente de verdade também acaba
arcando com sua parcela de responsabilidade pela própria vida do mesmo.
Esse é o tipo de solução para os estágios monitorados -ou supervisionados, como
queiram- que a todos só beneficiará. As comunidades ganharão boas escolas a mais; os
estagiários não se sentirão intrusos em ambientes hostis; os professores monitores não
30
precisarão correr à cata de escolas que se disponham a receber seus monitorandos; e o
Programa contará com efetivas condições para a exercitação de performance profissional de
seus alunos em situações normais e reais. Além disso, a relação entre teorias e respectivas
práticas, no contexto de todo o Programa, tenderá a se aperfeiçoar continuamente se
considerarmos que os professores monitores serão compelidos a atuarem também como
professores dessas escolas, pois formarão com seus monitorandos as equipes docentes ou
de especialistas de educação que de fato desenvolverão as programações curriculares das
mesmas. Isso não só facilitará como até mesmo forçará e exigirá preparação psicológica,
intelectual e técnico-operativa tanto dos professores monitores quanto dos estagiários para o
trabalho inter e multidisciplinar, absolutamente necessário neste momento histórico que,
mesmo não dispensando conhecimentos especializados, reclama visões abrangentes e
capacidade de ação interativa por contínua conjugação de esforços, procedimentos e saberes.
6 - LINHAS DE FORMAÇÃO CONTINUADA NA PERSPECTIVA DO PROGRAMA
Mesmo não havendo, neste momento, a intenção de tratar detalhadamente as
referidas linhas de formação continuada, convém frisar que a própria lógica processual do
Programa se orienta para três linhas básicas (cfr. letra c do Objetivo, item 4),
principalmente em relação aos egressos de suas licenciaturas (de que se ocupa todo o
item 5) em domínios específicos de profissionalização: a primeira diz respeito a
iniciativas de constante realimentação; a segunda consiste na manutenção de porta
sempre aberta para matrículas-de-retorno dos egressos a outros domínios
profissionalizantes; e a terceira concerne à continuidade de aprofundamentos sistemáticos
em nível de pós-graduação lato e stricto sensu.
Não haverá surpresa alguma se os enunciados das linhas, acima, suscitarem
polêmicas e intermináveis discussões acadêmicas, por exemplo, no sentido de que só a
primeira se caracteriza como efetivamente de formação continuada porque passível de ser
implementada para clientelas em serviço ou nos próprios ambientes de sua atuação
profissional. Essa polêmica se reveste de sentido no contexto das atuais licenciaturas,
porque, fechadas nelas mesmas como cursos estanques e isolados, de fato conferem caráter
formal de terminalidade àquilo que, em tese, se apelida de formação inicial. Na dimensão
31
processual deste Programa, se considerado como um todo, as coisas são diferentes. O
Programa é concebido de forma que o aluno passe por um período (o descrito ao longo do
item 5) de sólida formação inicial, como educador profissional para atuar num domínio
profissionalizante específico, e, em seguida, conte com os três tipos de linhas ou
possibilidades, já configuradas no próprio âmbito do Programa (cfr. parágrafo introdutório
do item 5), para prosseguir, isto é, continuar -separada, paralela e/ou concomitantemente- a
sua incessante trajetória de formação profissional:
a) iniciativas de constante realimentação, oferecidas aos egressos, e a todos que se
interessarem, em forma de cursos, treinamentos, palestras, debates, seminários e similares
(cfr. comentários após a letra b de 5.3.1), assim como de participação em atividades de
pesquisa (conforme as apontadas em 5.1.9 e realçadas à letra a de 5.3.4) e de extensão;
b) chances de retornos dos egressos às partes-diversificadoras das licenciaturas e do
programa de formação pedagógica para habilitação profissional em novos domínios
específicos de atuação (rever preocupação nesse sentido desde a primeira fase, no
comentário às opções de delimitação de atividades/eventos, à letra b de 5.1.5), o que
implicará naturalmente atualizações mas não a necessidade de o egresso refazer todas as
fases da formação inicial quando retornar ao Programa; e
c) oportunidades de aprofundamentos sistemáticos em nível de pós-graduação,
significando que chegará o dia em que o Programa, em EES que de fato deslanchar
conjuntamente as suas dimensões de ação processual e de investigação permanente
(cfr. último parágrafo de 5.1.9), contará com ótimas condições para oferecer aos seus
egressos, e a outros, cursos de especialização, bem como programas de mestrado,
doutorado e pós-doutorado, tudo na perspectiva de permanente aprimoramento e/ou
complementação da formação inicial: neste ponto o Programa já estará se extrapolando
do nível da graduação (conforme o título geral desta proposta) para o da pós-graduação, o
que será perfeitamente desejável.
Em outros termos, uma vez cumprido o período de formação inicial,
compreendido pelas três fases em que se desdobra o campo das licenciaturas, em todo o
item 5, o egresso voltará ao Programa ou o Programa irá ao egresso, imediatamente se
conclua seu primeiro ciclo de funcionamento, através da implementação pelo menos das
duas primèiras linhas de formação continuada (ou de continuação da formação, como
queiram) acima referidas, tendo em vista que o elevado grau de complexidade da terceira,
- evidentemente no que se refere a programas de pós-graduação stricto sensu, demandará pré-
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requisitos inviáveis a muitas Instituições de Ensino Superior, mesmo que dotadas de meios
para implantarem o Programa no nível da graduação. Ainda assim, depois de algum tempo
de experiência e maturação, começarão a despontar aquelas com boas condições no âmbito
dessa linha, o que gerará efeito irradiante, ou bola de neve, para todas as demais,
principalmente no tocante à qualificação de recursos humanos comprometidos com a
filosofia e o aperfeiçoamento do Programa em todas elas.
7 - OBSERVAÇÕES SOBRE PROGRAMAS DE FORMAÇÃO PEDAGÓGICA
Os programas de formação pedagógica, destinados à habilitação de bacharéis em
áreas técnicas (contabilidade, administração, economia, medicina, bioquímica, farmácia,
engenharias, direito, etc) para o magistério em setores especializados dos currículos do
Ensino Médio, por vezes até nos de 5a á 8a série do Ensino Fundamental, são admitidos pela
legislação vigente, constam do Parecer n° 53/99-CNE como item explícito das "Diretrizes
Gerais para os Institutos Superiores de Educação" e se inserem no contexto deste
Programa-Processo como uma das três modalidades objetivadas (cfr. 4-Objetivo) para a
dinamização do mesmo, ao lado das licenciaturas e das linhas de formação continuada.
Por isso, merecem muita atenção.
Aliás, esses programas de formação pedagógica não só merecem como exigem
muito cuidado, porque se planejados levando-se em conta apenas o simplismo sugerido pelo
seu caráter de excepcionalidade perderão a sua razão-de-ser como recurso estratégico de for-
mação de professores e se caracterizarão como bolhas-de-contradição no seio do Programa-
Processo como um todo, dado que se limitarão a plasmar professores dadores de aulas ao
invés de formar profissionais que educam ensinando com competência e qualidade.
Como resolver essa questão, se as próprias diretrizes normativas admitem encurta-
mento de duração, em relação às licenciaturas pensadas para três anos, visto que o Parecer n°
53/99-CNE estabelece a carga horária mínima de 500 horas para os mesmos (das quais pelo
menos 300 de formação pedagógica) e que essa carga horária poderá, em tese, ser cumprida
em até dois semestres letivos de quatro meses com 20 horas semanais de programação, em
média? -A saída para esta questão, sem desvirtuar a filosofia e a dinâmica formativa do
Programa-Processo em sua totalidade, passa por dois princípios: o de não considerar a
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carga horária mínima como máxima e o da essencialização das três fases do processo
'de operacionalização das licenciaturas (detalhadas anteriormente em 5.1, 5.2 e 5.3).
Quanto ao primeiro princípio, acima, basta apenas lembrar que será também
conveniente não exagerar na ampliação da carga horária e da duração de cada programa de
formação pedagógica, até porque isso o inviabilizaria perante a respectiva clientela
potencial; como diziam os romanos, "in médio virtus" (a virtude está sempre no meio).
Mas, que significa essencialização? -Embora este termo não conste de dicionários -
só existe essencialidade, conforme Novo Dicionário Aurélio- não deve ser confundido com
ato de miniaturizar ou de sumariar (estes, sim, são verbetes de dicionário), pois, neste
contexto, assume o sentido de extração das essências formativas (quantitativas e
qualitativas) dos objetivos, dos enfoques temáticos e das respectivas metodologias de
desenvolvimento dessas três fases. Ora, isso será possível? -Será possível, mas não fácil, se
se considerar que as clientelas desses Programas neles ingressarão com cabedal de
experiência de vida, bagagem de conhecimento e vivência universitária presumivelmente
muito além do que trazem os calouros iniciantes na vida universitária pelas licenciaturas ou
qualquer outro curso de graduação.
Deve-se institucionalizar um programa de formação pedagógica para cada tipo de
clientela, ou seja, um só para candidatos a professores de contablidade, outro só para
candidatos a professores de agronomia, e assim por diante? -A lógica do Programa-Processo
aponta para o contrário, isto é, que se planeje apenas um programa de formação
pedagógica com base-comum, abrangente de todos os tipos de clientela, e parte-
diversificadora, na qual se preveja tratamento diferenciado para a clientela de cada
domínio específico de profissionalização, da mesma forma que nas licenciaturas.
Essa será uma estratégia muito importante para que o programa assuma as
dimensões e a dinâmica de processo, como as do Programa-Processo maior que o abriga,
sem se esfacelar em cursinhos isolados disto ou daquilo. Aliás, essa estrutura organizacional
permitirá que também o programa de formação pedagógica possibilite o retorno dos seus
egressos à sua parte-diversifícadora (cfr. letra b do item 6) para ampliarem as fronteiras de
suas áreas de atuação profissional, desde que aí encontrem outros domínios
profissionalizantes compatíveis com a programação curricular dos bacharelados de origem,
pois, do contrário, terão que ingressar em processo de licenciatura e não mais retornarem ao
programa de formação pedagógica.
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8 - VISÃO ESQUEMATIZADA DO PROGRAMA-PROCESSO COMO UM TODO
Considerando tudo o que se registrou atrás, e tendo sempre em vista os
pressupostos fundamentais (item 1, p.2) e o objetivo (item 4, p.9), o panorama
organizacional e funcional do Programa-Processo, sistemicamente matriciado e tanto quanto
possível auto-explicativo, é o que vem ensejado a seguir.
DUAS DIMENSÕES
AÇAO PROCESSUAL
(itens 5 e 7)
VISÃO ESQUEMATIZADA DO PROGRAMA-PROCESSO COMO UM TODO
MODALIDADES
LICENCIA-TURAS
(item 5)
PROGRAMA DE FORMAÇÃO
PEDAGÓGICA
(item 7)
FORMAÇAO INICIAL
BASE-COMUM
FASE 1
IMPACTO E FUNDAMENTA-
ÇÃO GERAL
(subitem 5.1)
IDEM ACIMA ESSENCIALIZADA
FASE 2
PREPARAÇAO TÉCNICA PARA A PROFISSIONALI-
ZAÇÃO EM DOMÍNIOS
ESPECÍFICOS
(subitem 5.2)
IDEM ACIMA ESSENCIALIZADA
PARTE- DIVERSIFICADORA
FASE 3
PROFISSIO-NALIZAÇÃO
EM
(subitem 5.3)
IDEM ACIMA ESSEN-
CIALIZADA
DOMÍNIOS ESPECÍFICOS: A. Para o magistério de Mate-
mática, Biologia, História, Geografia, Português, Inglês e etc..., da 5a série do EF à última do EM.
B. Para o magistério de Educação Infantil.
C. Para o magistério nas 4 primeiras séries do EF
D. Para o magistério em Cursos Normais de EM
E. Para o magistério em cursos de educação para jovens e adultos.
F. Para o magistério no âmbito da Educação Especial.
G. Para Direção Escolar. H. Para Supervisão Escolar. I. Para Orientação
Educacional. J. Outros.
PARA O MAGISTÉRIO NAS SÉRIES ..., DE:
A. CONTABILIDADE B. AGRONOMIA C. DIREITO D. ECONOMIA E. OUTROS
ATIVIDADE DE INVESTIGAÇÃO PERMANENTE
(subitem 5.1.9)
SOBRE PERFORMANCE
ATUALE PERSPECTIVAS DE EVOLUÇÃO
DOS
PERFIS DA PROFISSÃO E DO PROFISSIONAL DOCENTE E DOS ESPECIALISTAS DE EDUCAÇÃO.
INSUMOS TEORICOS E METODOLÓGICOS DE PREPARAÇÃO TÉCNICA PARA A PROFISSIONALIZA-ÇÃO DE DOCENTES E ESPECIALISTAS DE EDUCAÇÃO.
CONTEÚDOS CURRICULARES DE CADA DOMÍNIO ESPECÍFICO E RESPECTIVAS METODOLOGIAS DE ENSINO-APRENDI-ZAGEM E INTERATIVAS DOS DIVERSOS SEGMENTOS HUMANOS QUE COMPÕEM A COMUNIDADE ESCOLAR.
FORMAÇAO CONTINUADA (item 6) LINHAS DE FORMAÇAO
CONTINUADA LINHA 1
INICIATI-VAS DE
CONSTAN-TE
RE ALIMEN-TAÇÃO
LINHA 2 LINHA 3
CHANCES DE
RETORNO DOS
EGRESSOS ÀS
RESPECTI-VAS PARTES DIVERSIFI-CADORAS,
EM OUTROS DOMÍNIOS ESPECÍFI-
COS
OPORTUNI-DADES DE APROFUN-
DAMENTOS SISTEMÁTI-
COS EM NÍVEL DE
PÓS-GRADUA-
ÇÃO LATO E STRICTO SENSU
INSUMOS TEORICOS E METODOLÓGICOS PARA AS LINHAS DE (ACIMA):
* EF= Ensino Fundamental EM= Ensino Médio
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9 - LEMBRETES ORGANIZACIONAIS E DIFICULDADES PREVISÍVEIS
9.1 - LEMBRETES
Quem leu com atenção as páginas anteriores certamente já formou também a sua
própria compreensão do Programa-Processo. Mas não custam algumas explicitações, mesmo
que redundantes:
a) visto como um todo, o Programa forma um grande e dinâmico sistema que precisa ser
estruturado e gerenciado sistematicamente na Instituição de Ensino Superior que o adotar;
b) isso implicará de início a designação de um Gerente Geral com determinadas qualidades
básicas, como: explícito ideal profissional relacionado com a formação de educadores
profissionais para a educação escolar; visão e liderança de dinâmica processual;
habilidades de planejamento participativo; boa performance de constante trabalho em
equipe; capacidade de articulação e interação com pessoas e entidades e/ou órgãos do
setor educacional dentro e fora da IES; conhecimento de leis e normas que tenham
alguma coisa a ver com o Programa; e outras qualidades e competências exigidas pelas
próprias natureza e abrangência desse tipo de função gerencial;
c) também de início deve ser designado um Gerente Setorial de Pesquisa, para organizar e
implementar a atividade de investigação permanente, conforme descrita em 5.1.9;
d) não se poderá descuidar da formação e do treinamento da equipe docente para a primeira
fase (em 5.1) e da sua reconstituição ao longo das segunda (5.2) e terceira(5.3), no campo
das licenciaturas, assim como -se for o caso- no do programa de formação pedagógica
(item 7); sem isso, reitera-se, o Programa já nascerá fadado ao fracasso;
e) prever e qualificar professores que se responsabilizem pela preparação e coordenação
técnica de conjuntos de domínios profissionalizantes específicos afins, quando da
implementação dos mesmos lá na terceira fase das licenciaturas (5.3) e do programa de
formação pedagógica (item 7), se houver;
f) prever e prover instalações físicas, equipamentos, mobiliários, assim como outros
recursos materiais e condições adequadas ao contínuo trabalho de gerentes (porque à
medida que o Programa for se solidificando surgirá a necessidade inclusive de gerentes
setoriais também para, exemplificando, o conjunto das licenciaturas, o conjunto das
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linhas de educação continuada e o conjunto do programa de formação pedagógica,
etc), docentes e pessoal técnico de respaldo logístico;
g) não se pode esquecer de que nas fases de funcionamento de cada base-comum, das
licenciaturas e/ou do programa de formação pedagógica, haverá demandas constantes
por locais amplos (auditórios, anfiteatros, salões ou similares) com boas condições para a
realização de atividades/eventos que envolvam grande contingente de pessoas;
h) interagir com os órgãos (municipais, estaduais e federais) que cuidam da Educação em
geral, principalmente os que normatizam (Conselhos Municipais, Conselhos Estaduais,
Conselho Nacional e assemelhados) e os que orientam, coordenam, administram, apoiam
e/ou supervisionam o funcionamento da Educação Infantil, do Ensino Fundamental, do
Ensino Médio, da Educação Especial, da Educação Superior (Secretarias Municipais e
Estaduais, Ministérios direta e indiretamente implicados, etc.), bem como com as escolas
(públicas, comunitárias e privadas) e muito intensamente com a própria sociedade: sem
interações, o Programa-Processo ou não irá avante òu irá avante academicamente
mas na contramão da realidade a que se destina.
Além de muitos outros aspectos não arrolados acima, jamais descuidar da
seriedade como selo de garantia de todo o Programa-Processo.
9.2 - DIFICULDADES PREVISÍVEIS
As duas primeiras grandes dificuldades, a de que o Programa é muito complicado e
a de que envolverá gente demais, em termos de gerentes e docentes, não passam de
ilusionismo decorrente das olhadas rápidas, da leitura dinâmica, da leitura diagonal ou
coisa parecida que o detentor das mesmas tiver dedicado à íntegra desta sugestão de
proposta.
Na verdade, a compreensão teórica de todo o Processo abrangido pelo Programa é
muito simples, porque essencialmente lógica, porém com dinâmica operacional bastante
trabalhosa. -Mas, desde quando e onde simples é sinônimo de fácil e trabalhoso o é de
complexo? -Se alguém descobriu ou descobrir alguma proposta concreta simultaneamente
simples (de ser compreendida), não trabalhosa (em termos de execução) e que de fato
aponte perspectiva de solução para a competente formação profissional dos educadores de
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que nossa Educação Básica tanto precisa, que a apresente urgentemente, pois a sociedade
brasileira aguarda ansiosamente por isso desde o início deste século.
—E daí (pergunta-se), essa sugestão de proposta, além de simples e trabalhosa,
aponta perspectiva de solução para esse problema? -Sim, pelo menos em termos de
contribuição no sentido de fazer com que a discussão dessa questão rompa a viciada
hortodoxia acadêmica de considerá-la como questão de simples conserto ou rearranjo das
licenciaturas vigentes.
No tocante a que se envolva gente demais, basta pensar com atenção para se concluir
que o Programa oferece vários espaços de economia e otimização de recursos, sobretudo
docentes, graças aos trabalhos em equipe, em forma de atividades/eventos e com a possi-
bilidade de alternância de estratégias que envolvam grandes e pequenos contigentes humanos
e locais físicos, nos seus itens de programação passíveis de desenvolvimento nos âmbitos tanto
de auditórios quanto de ambientes menores, reservados aos grupos de monitoramento.
Aliás, uma das maiores dificuldades reais que a idéia deste Programa deverá
enfrentar poderá advir dos próprios professores, hoje vinculados mais diretamente às atuais
licenciaturas, e consistirá na sua rejeição, parcial ou total, principalmente pelo temor da
desacomodação ou até da perda de emprego. Que os acomodados se desacomodem, é
evidente; mas que os bons professores se angustiem por medo de perderem emprego não
combina com a lógica do Programa.
E a questão da falta de candidatos? -Este problema é real, vem de longe e se
relaciona também com fatores externos às Instituições de Ensino Superior, sobretudo no que
se refere a questões de aviltamento salarial e de condições decentes de exercício
profissional. Todavia, e em contrapartida, tem sido amplamente divulgado que os mercados
profissionais em destaque no futuro globalizado serão principalmente os dos serviços em
educação, saúde e alimentação, com avanços científicos, tecnológicos e tudo o mais. Só que
para ingressar e permanecer nesses mercados, os profissionais terão que ser bons de verdade,
visto que as exigências e concorrências se tornarão cada vez mais acirradas. E já começamos
a sentir isso na própria realidade universitária, pelas manifestações inquietantes que a
sociedade vem endereçando aos seus cursos de modo geral, e às licenciaturas em especial,
neste último caso até pela clamorosa falta de candidatos a vestibulares.
Entretanto, e parafraseando os entendidos, a boa hora de investir não é justamente
aquela em que o mercado carente de nossos serviços se encontra em baixai -Além disso,
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não estamos ainda totalmente dependentes daquele dilema: se ficamos o bicho come, se
corremos o bicho pega. Se ficamos, de fato o bicho come, dada a falência geral das maneiras
como os professores da Educação Básica vêm sendo formados. Mas se corremos, com
consciência da gravidade da situação, e sabendo para onde e como, nem sempre o bicho
pega: permanece o risco mas não se absolutiza a fatalidade. Respeitados os juízos contrários,
parece que esta proposta de Programa se encaixa bem nessa situação.
E a clientela, os alunos?, insistir-se-á. -Se o trabalho for bem planejado e executa-
do, se houver diálogo franco e intenso com a sociedade, se os meios de comunicação social
efetiva, constante e consistentemente cruzarem os caminhos do Programa, os alunos virão
até pela motivação de que estarão investindo em algo que vale a pena. Em qualquer negó-
cio, a conquista da clientela depende fundamentalmente de seu algo que valha a pena.
Todavia, e incisivamente, a resistência cultural a mudanças com algum tipo de risco
tem sido, historicamente, o calcanhar-de-aquiles para quase tudo o que se propõe neste país,
ou seja, apregoam-se reformas mas quando muito se fazem remendos. E é justamente a
reversão dessa tendência cultural, no que respeita à formação de professores e especialistas
de educação para a Educação Básica brasileira, que esta proposta de Programa
verdadeiramente intenciona.
10 - AGRADECIMENTOS
Coerente com o ditado popular de que a última impressão é a que fica, dirijo
calorosos agradecimentos a três grupos de pessoas que colaboraram mais de perto para que
este trabalho fosse elaborado da melhor forma possível.
O primeiro se destina à minha esposa Marlene e às duas filhas Flávia e Elisa.
Tiveram que me incentivar e aturar ao longo de toda a redação deste texto, não dispensados
fins-de-semana, feriados e noitadas. Como disse no início, as idéias aqui apresentadas se
solidificaram ao longo dos últimos vinte e cinco anos, e este trabalho implicou muita
arqueologia de reconstituição e prospecção, o que não poupou paciência de todos que me
cercam mais de perto.
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O segundo visa o reconhecimento das valiosas colaborações prestadas pela ProP
Dr® Helena Faria de Barros, Coordenadora do Programa de Mestrado em Educação -
Formação de Professores- da Universidade Católica Dom Bosco-UCDB, sempre pronta a
sugestões e oferta de materiais sobre o assunto, bem como pelas Secretárias Sônia Maria
Rodrigues e Liliane Valverde Nogueira, inúmeras vezes incomodadas por pedido de socorro
em digitação e formatação de texto.
O terceiro se endereça às Professoras Dáugima Maria dos Santos Queiroz, Maria
Luiza Arruda de Almeida Serra, Marly Marinho Américo dos Reis, Marta Brostolin, Néli
Corrêa Luzio e Rosiley de Pádua Melo, companheiras do Grupo de Estudos para Mudança
nas Licenciaturas da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), instituído pela Portaria n°
001/96 da Pró-Reitoria Acadêmica, datada de 5 de março de 1999, em razão de praticamente
todas as idéias desenvolvidas neste trabalho terem sido apresentadas ao Grupo e de sua
lógica interna dele haver incorporado preciosas contribuições. Só encareço que não seja
considerado relatório oficial do Grupo porque prometi ao mesmo que o desenvolveria
apenas com o propósito de lhe propiciar subsídios, e não na condição de relator, até pela
razão de o teor da proposta em tela haver pré-existido à instituição do Grupo, ao que já me
referi iteradas vezes. Mas, em contrapartida, enfatizo que me sentirei sobremaneira honrado
se o Grupo entender por bem aproveitá-la, parcial ou integralmente, para a finalidade que a
Portaria lhe designou. Afinal, não fossem a constituição do Grupo, minha pertença a ele e a
reação construtiva das Professoras acima nomeadas, certamente a sistematização desta
proposta, neste momento, teria sido relegada ao sine die, em razão de outras prioridades
profissionais e pessoais de minha rotina profissional.
A todas estas pessoas, e a quantos aqui não nomeados que de alguma forma hajam
contribuído, o meu sincero e enorme muito obrigado.
PROF. DR. VICENTE FIDELES DE ÁVILA
Universidade Católica Dom Bosco-UCDB Campus-BIoco C - Av.Tamandaré n°6000
Jardim Seminário - Caixa Postal 100 79117-900 - Campo Grande - MS
mestrado @ unibosco.br FAX (067) 765-2041
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