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Viagem a Andara oO livro invisível Desnutrir a pedra Vicente Franz Cecim ó Ser neblina

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Viagem a Andara oO livro invisível

Desnutrir a pedra

Vicente Franz Cecim

ó Ser neblina

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I há um Eu no eu?

II oÓ: Desnutrir a pedra

III Isso, o Aquilo, o Sem Nome, O

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há um Eu no eu?

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Sim?

E através de ti Ele quer a transfiguração, a trans-figuração

é?

Quer transpassar as figuras das coisas brotadas no visível e des cobrir,

do Outro lado, suas raízes invisíveis

Pois Se há um Eu no eu, esse Eu tendo suas Raízes também onde? Lá:

sente necessidade de voar do seu eu mínimo e ir ao encontro desse

Máximo

Quem disse que existe?

A Viagem a Andara

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Assim, também, oO livro invisível podendo emanar os livros visíveis,

fez a trans-figuração inversa: e se transfigurou em visível

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Com o que se equilibrando a aversão pelo Ente, uma versão adensada

de Ser que sendo uma outra versão adensada também de nãoser?

Nós somos os sonhos de Asas imersas na carne

Mas onde essas Asas imersas, as Imensas, serão encontradas?

A menos que das tuas omoplatas um dia nasçam asas?

Nelas um dia foram semeadas,

as Asas?

Ou és tu o semeador,

a quem cabe, se plantares, colher

Por isso, então, eis: oO livro invisível

Que Semeador e semeado, Ele e tu vamos começando

Ou desde sempre estamos neste campo para colher de mãos vazias,

desde o Início dos dias?

talvez até Antes

esse Eu

já colhia

sem eu?

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oÓ: Desnutrir a pedra

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lervendo ouvisses: ora

o Silêncio

a

Pai

X

ão

de

Bach

e em ti, qual Oração?

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eu tinha um filho de névoa

eu tinha em mim um filho de névoa

E uma noite, para que adormecesse, lia em seu Ouvido o

Livro de Ezequiel

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aquele Ezequiel dizendo essas Palavras que lhe houvesse dito

Ó:

e tirarei da vossa carne o coração de pedra, e vos darei um

coração de carne

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aquele Ezequiel dizendo,

ouve, ó filho:

Veio sobre mim a mão de Ó, e me levou no Espírito do Ó, e

me pôs no meio do vale que estava cheio de ossos

e me fez andar ao redor deles. E eis que eram muito

numerosos sobre a face do vale, e eis que estavam sequíssimos.

Ó me perguntou: Filho do homem, poderão viver estes ossos?

Respondi: Ó, tu o sabes.

Então Ó me disse: Profetiza sobre estes ossos, e diz a eles:

Ossos secos, ouvi a Palavra de Ó.

Assim diz Ó a estes ossos: Eis que vou fazer entrar em vós o

fôlego da vida, e vivereis.

E porei nervos sobre vós, e farei crescer carne sobre vós, e

sobre vos estenderei pele, e porei em vós o fôlego da vida, e vivereis.

Então sabereis que eu sou o Ó.

Profetizei, pois, como me deu ordem. Ora, enquanto eu

profetizava, houve um ruído: e eis que se fez um rebuliço, e os ossos se

achegaram, osso ao seu osso.

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E olhei, e eis que vieram nervos sobre eles, e cresceu a carne,

e estendeu-se a pele sobre eles por cima, mas não havia neles fôlego.

Então Ó me disse: Profetiza ao fôlego da vida, profetiza, ó

filho do homem, e dize ao fôlego da vida: Assim diz Ó: Vem dos

quatro ventos, ó fôlego da vida, e sopra sobre estes mortos, para que

vivam.

Profetizei, pois, como Ó me ordenara: então o fôlego da vida

entrou neles e viveram, e se puseram em pé, e era um exército imenso

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Ó Serneblina,

ó filho de névoas

já dormes, Ezequiel?

Pois esse era também o seu nome o daquele filho Tênue que

em mim eu tinha

Mas vendo em seus olhos as Chamas, e ainda ardendo

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queres que eu te conte então uma história?

Lhe perguntei.

Ó filho de nervos, queres?

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eu te conte, eu te contasse

para que adormecesses, em mim

ainda mais uma história. De Andara, Sim

e de onde mais?

após a história

daquele outro Ezequiel, assim de ossos retornando a Ela: a

que se recusa ao pó

Mas uma história ainda mais sem história, ainda mais sem o

Amparo de uma história, eu contaria

queres?

Eu perguntei ao meu filho de névoas, se recusando às Brumas

Pois não adormecia, não adormecia

e de névoas ainda não iam se cobrindo os seus olhos pois as

Chamas,

neles, elas se recusavam às Cinzas

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então vem mais a mim, eu lhe dizia

e repousa tua a fronte, a

tua aurora de Noites semeadas por mãos vazias no meu colo turvo,

a tua escassez de Musgos

Ó filho de neblina

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Sabes?

Eu lhe dizendo:

terás primeiro que adormecer

para só depois despertarem em ti os sonhos: e quem sabe um

Sonho que pudéssemos sonhar juntos,

ó Ser na Neblina

se quisesses ouvir ainda mais uma história sem história de Andara

Ó filho turvo

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ah, tão cansados de nos contarmos noites após noites histórias de

homens

sem asas

não estás cansado disso ainda? Ó Pai de Névoas

eu me perguntei

NãoSim?

Eu te contasse então,

mas o que? Ó filho ser ó Pai, em mim des sendo

Ah

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ah

Uma história de pedra que andasse, e que em Andara fosse

Como aqueles Ossos foram, se foram: exército imenso

e tirarei da vossa carne o coração de pedra

Lembras, filho,

o que disse aquele Outro Ezequiel e não adormeceste ainda?

Queres,

uma história de pedra após essa história de ossos? Ó filho Nada?

eu te contasse, eu te contaria

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Em Andara, era uma vez uma Pedra

oh,

esses lábios que se entreabrem em nós contando histórias

Depois: já fôssemos somente os nossos Lábios de nos contar:

Um Corpo só lábios

e os nossos Ouvidos de nos ouvir

e os nossos Olhos de nos olhar? E onde?

Por onde andaremos quando já houveres dado o Passo sem volta,

e eu, já sem remédio para os teus ouvidos

houver iniciado a história não história

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quisesse ela uma Lágrima de Amparo para humanizar suas Areias

Quisesse ela, essa Pedra

como aqueles Ossos, também ela,

um Caminho

para ir além do seu caminho

de pedra

oh, vês?

já comecei, Ó Serneblina, ó

Filho de Névoas

Já comecei mais uma história não história

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que eu te conte logo

Enquanto ainda posso falar

e antes que aconteça comigo o que aconteceu àquele outro

Jeremias um aquele lembras que em suas Lamentações contou o que

um dia lhe fez

Ó:

Quebrou com pedrinhas de areias os meus dentes

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Adormecido em mim, estás ouvindo? Já estás ouvindo

Abre os teus olhos de Espanto, oh

ser neblina, também tu

só Ser na Névoa de Ser

Ó Ser neblina de ser

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e já estamos indo, na Neblina, já estamos indo Canta, ó filho

comigo, em teu Sono, canta:

Nós somos os Filhos da Neblina em Andara indo nós vamos indo para

não sermos mais nós

nós vamos

nós vamos, através da Neblina

Nós vamos

Cantemos assim, em coro de estar na Névoa, ó tu Filho Névoa, ó eu Pai

Neblina

Contigo na névoa eu vou, comigo na névoa tu vais, e nós indo vamos

Neblina neblina e Névoa

ó sermos: não-Ó: ser na Neblina: Ó Serneblina

pois como aquele agora tu, em Andara, seja esse o teu

Nome: ó

Serneblina

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Ezequiel, se me escutas ainda ou já nos perdendo o Sono

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ah, tão cansados

após noites e noites histórias de homens

e sem Asas

tão cansados

ah,

assim cansados

eu adormecesse antes de ti,

em ti,

tu, em mim

e nos contando

fôssemos então a Voz de um único Sonho nos contando isso

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a Pedra falante

em nós, falasse

e Ouvimos: era uma vez

adormecendo

ouvimos

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ó

dizer o

repetir Ó

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eu

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eu vivia

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eu vivia ali

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eu vivia ali pensando

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eu vivia ali pensando em d

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eu vivia ali pensando em deus, quando de repente deus veio e

me disse para desnutrir a pedra.

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Ah, o humano: um coração de pedra

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eu desnutri a pedra

eu desnutri

E tive na mão a centelha de luz.

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Depois vieram os Sóis, centenas deles, me fazendo recordar

os mortos.

Tudo eram cinzas, não é mesmo?

Então, por que lamentar? Nada havia para lamentar

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Eu desnutri as pedras.

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Uma a uma, indo pelos caminhos, ia desnutrindo uma a uma

as pedras, dia e noite

e

então

podia

compreender as Montanhas, as areias também.

Tudo depende.

Da solidão.

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Dos pais que não se teve, nem já se terá

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dos sonhos que se tem, de Pedra e Sono

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Desnutrir as pedras bem

poderia ser

uma atividade

para me ocupar

pelo resto da

vida. Em vez

de ficar

olhando o dia

nascer,

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todo dia o sol nasce todo dia

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ou ficar testemunhando a morte de um dia se acabando ao

mesmo tempo nos olhos de alguém, uma pessoa, dessas que lançam um

olhar

de adeus tão sozinhas para nós no último momento,

às vezes bem

na hora do crepúsculo.

Quando tudo se

apaga. Ou tudo se acende. Isso é desnutrir a pedra, talvez.

Também

E

agora esse passo ainda

mais um a ser dado

E

para onde

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e vindo aquela voz, a

o ir sem Ir

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se deixou ficar em solidão serena

e em estado de imperturbabilidade,

sem se desviar com sua essência

para nenhum lugar nem girar

em torno de si mesmo,

mas em repouso absoluto

e convertido em repouso

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ainda mais um passo

Para dentro daquela Pedra lá. Talvez

Então, pois nunca havia visto uma como aquela. Com todos

os seus ruídos sua Música de Pó por dentro dela, que mal conseguia se

manter inteira, pedra,

de maneira que se pudesse dizer sem a menor dúvida: é uma

pedra.

Pois se via tanto os seus grãos, que não se podia confiar que

fosse

uma coisa só, pedra pedra. Poderia ser várias construções terríveis,

humilhantes. Pirâmides por exemplo. Pudessem ser

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Tudo era como se uma simulação de existência homogênea,

inteira,

pretendendo enganar como forma de coisa para sempre.

Mas falsa.

Como fosse falso este corpo que é eu, não para sempre, sei

Um caminhar de pedra: ah, o umanoh

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não eram duas coisas,

mas o vidente era um só

com o visto

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Desnutri também essa pedra, e segui adiante, cada vez mais e

menos

eu mesmo intacto,

pois pensava: se ela não tem pedra em si,

por que haveria de ter eu homem em mim

E assim, me suspeitando, caminhava

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caminhava e caminhava e caminhava

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todo dia o sol nasce todo dia

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caminhava e caminhava: a pedra, em Andara

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dia e noite desnutrindo pedras

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pedra que andara

querendo a cada passo me por de pé, enfim por de pé em mim

um homem.

Mesmo que fosse como um lagarto

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oh,

o Nutridor de Serpentes, em Andara

obscuro prodígio. Que avança através do Mal

ó filho névoa, adormecidos o teu sono de pedra

ouves? Quantas vozes em nós

se fosse tua a voz não mais a minha contando Mundo

escuro e por que outro nome esse Ser evocado assim de Trevas tão

espessas? Qual Nome que não se diz fosse o Seu nome

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em Andara

oH, o Nutri

Dor, a

s Serpentes

ó Serneblina

E onde a aSa?

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o umano: Pedra desnutrida

ah

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mesmo que fosse como um lagarto, para só depois ser um homem. Para

só depois

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em nós quantos Grãos quantas vozes em nós

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eu seguia

O importante,

Aquilo em mim pensava,

olhando as caudas, é que elas, as Serpentes, as outras pedras,

olham para mim

como se eu existisse. E me confirmam humano,

mesmo que coberto por esses panos Negros,

por essas rasgadas lonas de velas de naves submersas: e

ouvisse também as linfas em mim se associando em coro submerso

às ervas do Fundo: mÚsica aqUática, agora, e seguindo

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À tona,

um vento forte às vezes vindo me soprar para mais longe dos

Caminhos

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via a poeira de Ossos, lá sumindo no Horizonte

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e aquela voz que voltava

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ele próprio era uma só coisa

sem ter em si diversidade alguma

nem para consigo mesmo

nem para com outras coisas,

porque nenhum movimento

havia nele

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para mais longe do caminho por onde no momento eu trafegava

Um vento vindo

já me soprar,

e cardumes de guelras

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para me desnutrir. E submergir também

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e a voz que vindo diz:

chegará, sim,

em sua descida,

até o mal

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também ouves, o filho pai em Sonhos?

É

antes que esta Noite sem manhã anoiteça

ouves

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mas percorrendo

o caminho inverso

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e se partindo

de si mesmo como imagem

regressa à Fonte de todas as imagens,

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então alcançasse a meta

da sua peregrinação

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o humano o umano h

ah

a

Pedra

de

ser

o

umano

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X

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ó Filho Pai?

ouviste

a Pedra

de Ser em Sonhos?

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Por ela o

ra o Silêncio

e em nós, qual Oração?

Ó Pai des sendo

O Sonho sido

Ó filho névoa

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tu

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se

agora vagas escuro no V

ale,

ou retornaste à Fonte?

E se na Fonte, não te perguntas mais

onde o meu V?

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Tu

Que, se no Vale, vagando ainda entre outras Sombras te perguntas

onde o meu Pai onde o meu guia onde o meu V

ir

g

ílio?

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tu

ouves?

Toda feita de Ossos em Chamas

se erguer no Vale de Sonhos a voz sem Lábios, que vem

e diz:

Dos Sonhos breves das Sombras longas daqueles que antes

passam, se ainda a Voz, seus Grãos seu

Eco

não ficará

S

nem sombra

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o Vale dos Sonhos, ah

agora o deserto

O:

vazio

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nem sombra de Ossos nos dias passando nus, sem vestes de carnes

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ó filho névoas, ó filhos névoa

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ó

: tu :

que irás te perguntar, fechando as páginas de ossos dAquela que se

recusa ao pó:

onde a

a

V

e

que voou para fora do Livro?

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ó

dizer o

repetir Ó

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dizer sem voz

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ó,

o

o no

Ó

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é antes que esta Noite sem manhã em nós anoiteça

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Fim de oÓ: Desnutrir a pedra

A viagem a Andara não tem fim

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IconoÍndice

por um Retorno à Fonte das Palavras,

ei-los,

os Ícones aqui se dando à Iconescritura:

O Nutridor de Serpentes:

Contaminações do Autor sobre Imagem arcaica

As Pedras de Ser:

de Calanish andaram até Andara,

as Caladas

As Pedras de Não-ser.

Por aí,

jogadas

e onde a aVe

que voou do Livro?

A voz que fala sob as Imagens é de Plotino: Enéadas,

às vezes contaminada pela voz do Autor

e a que no fim semFim tudo vindo dissolver até as sombras,

de Quem?

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Isso, o Aquilo, o Sem Nome, O

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O que faz a árvore, o que faz o vento, o que faz eu me

perguntar essas coisas?

- Lá.

Vê: aquela árvore, lá, se movendo.

Vês, vendo?

Parece coisa de sonho, não é? Aquela árvore longe, no

horizonte se movendo.

O que move a árvore?

Para isso a gente tem uma resposta humana na ponta da

língua: o vento. Outro Verbo.

Mas, ah, o que sopra o vento?

Para isso, eu não tenho a resposta.

Tu tens?

Ninguém tem, te digo.

É o Isso, o Aquilo, o Sem Nome,

e de onde vindo ninguém sabe, pois só sabemos que ao

chegar aqui vai logo se escondendo de nós sob muitas formas, as

Várias: aves, estrelas, insetos, peixes, e de vento vento

Pois se até sob a forma humana se esconde, em nós.

E se aquela árvore, lá, parar de se mover?

Para onde terá ido?

Diz-se disso: o vento sopra em toda parte, o vento: o Vento.

Da minha boca, agora mesmo ele está soprando para ti sob a

forma destas palavras, onde também está e se mantém, escondido.

Abro a boca, sopro um pensamento, e eis: ele aparece, mas

desaparecido, pois só percebes as palavras.

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Ouve, assim, com a tua mão roçando a minha boca.

É a voz do vento das palavras.

Sentes?

Ah, olha: agora a árvore parou de se mover.

Vês? Não-vendo¿

Ele terá ido embora dela, ou se mantém lá, nela, até a próxima

brisa, ventania, sopro disso que nos sopra? Escondido¿

São muitas as perguntas que nos fazemos só de olhar as

coisas, não é?

Então, essa que eu me faço agora: esse vento que sopra pela

minha boca sob a forma das palavras com que estou te perguntando

isto: ele é o mesmo vento que, antes, soprava lá aquela Árvore, longe,

no horizonte, e agora veio soprar em mim, através de Mim?

Pudesse, pois se Isso sopra os ventos um só, se dispersando

em vários istos, vários ventos, peixes, homens

Ou será que depois que deixa de ser o Isso ele é, em cada isto,

um Isto que não se compara a nenhum outro?

Então, são muitas as perguntas que fazemos a elas, sós,

olhando as coisas

As Coisas.

Elas, de Lá, nos olhando.

Aqui.

E aqui: um tU e um eU. Peixes homens

Ah, somos mesmo dois homens conversando, ou só um? O

Mesmo.

O Um¿