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 VIDA DE JESUS Ditada por Ele mesmo

Vida de Jesus Ditada Por Ele Mesmo

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VIDA DE JESUS Ditada por Ele mesmo

VIDA DE JESUSDitada por ELE mesmoLivro escrito originariamente em francs. Traduzido para o italiano pelo Capito Ernesto Volpi; do italiano para o espanhol pelo Dr. Ovdio Rebaudi, acrescido da segunda parte neste idioma; e, finalmente, do espanhol para o portugus.

14 EDIO BRASILEIRA

Editora e Distribuidora 33

Copyright 2004 by Editora e Distribuidora 33 Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei n 9.610, de 19/2/1998. proibida a reproduo total ou parcial, por quaisquer meios, bem como a produo de apostilas, sem autorizao prvia, por escrito, da Editora. Direitos exclusivos da edio em lngua portuguesa: Editora e Distribuidora 33 Editor: Darci Dickel Capa: Rafael Dausen Meyer - 2M comunicao [email protected] Editorao Eletrnica: Graziani Kuhn da Silva Reviso: Luciano Noceti e Vieira [email protected] CATALOGAO NA FONTE DO DEPARTAMENTO NACIONAL DO LIVROJ58v Jesus Cristo (Esprito). Vida de Jesus / ditada por ele mesmo. 14 ed. brasileira. Montenegro-RS : Editora 33, 2008. 533p.: il.; 21 cm. Livro escrito originariamente em francs. Traduzido para o italiano pelo Capito Ernesto Volpi ; do italiano para o espanhol pelo Dr. Ovdio Rebaudi, acrescido da segunda parte neste idioma ; e finalmente, do espanhol para o portugus. ISBN 85-88428-09-1 1. Jesus Cristo Espiritismo. 2. Obras psicografadas. I. Ttulo. Cdd: 133.93

Editora e Distribuidora 33 (51) 3057-3390 www.editora33.com.br www.novaordemdejesus.com.br [email protected] [email protected]

PGINA DO GAMADevo ao Sr. Antnio Gama de Paula, presidente de um Centro Esprita, da cidade do Rio de Janeiro, o conhecimento desta obra. Alm de proporcionar-me a sua leitura, emprestando-me o velho exemplar que possui, ele, que no empresta livros a ningum, no s me emprestou como tambm me auxiliou com grande devotamento na reviso deste trabalho. Avaliando o grande bem que este livro far s almas sedentas de luz, estou convicto que o Grande Esprito lhe retribuir o obsquio e a dedicao. SEBASTIO CARAMURU

CRCULO ESPIRITUAL DO AMOR DE JESUSUma poderosa corrente vibratria do plano sideral denominada CRCULO ESPIRITUAL DO AMOR DE JESUS est sendo irradiada aos felizes habitantes desta abenoada Morada Divina. Destina-se a corrente vibratria a auxiliar a iluminao de todos os que demonstrarem a posse de um sincero desejo de se aproximarem de Jesus por meio de estudo, meditao e aplicao de sua doutrina. A corrente vibratria emanada do Crculo Espiritual do Amor de Jesus assemelha-se a uma onda gigantesca, abrangendo os continentes por meio de um elo eletromagntico entre o Plo Norte e o Plo Sul, irradiada no quinto dia da semana, passando por sobre a face da Terra, e incidindo em cada latitude, durante o tempo determinado abaixo. Esta corrente , portanto, projetada todas as quintas-feiras, atravessando cada regio no perodo de 21 s 21h15min hora local (ou fuso horrio). Todos aqueles, por conseguinte, que desejarem participar de seus eflvios benficos, devem nesse dia e hora supramencionados congregar-se em seus lares, para uma reunio espiritual com essa finalidade. Reunida a famlia (ou um crculo de amigos) em torno da mesa (+) devem, em silncio, fazer uma prece e concentrar o pensamento sobre as coisas Divinas, a fim de tornarem o mais positivo possvel o poder atrativo da antena assim constituda. Logo aps a pequena pausa mental, o chefe pronunciar, calma e pausadamente, a prece que se encontra no fim do Captulo VII do livro Vida de Jesus Ditada por Ele Mesmo, ou a orao que consta na ltima pgina do volume Derradeira Chamada, por exemplo. A seguir, um dos presentes (ou o prprio chefe da famlia) far a leitura de uma pgina ou captulo de um dos 7 livros (*) da Grande Cruzada de Esclarecimento das Foras Superiores, que(+) Mesa sem toalha

poder ser aberto ao acaso, como em continuao de uma leitura metdica, voltando-se sempre ao primeiro volume uma vez alcanado o fim da srie de livros. A leitura poder durar o suficiente para encher os quinze minutos de reunio, ou continuar pelo tempo desejado, no adiantamento de mais uma mensagem ou captulo, cuja leitura ser sempre proveitosa para todos os ouvintes. (Encontrando-se isolado, mesmo ao ar livre, naquela ocasio, faa uma suave meditao acolhedora dos eflvios, que tambm ser benfico.) Todas as pessoas desejosas esto aptas a ingressar no Crculo Espiritual do Amor de Jesus, participando, conjuntamente, dos amorosos eflvios emanados daquele poderoso ncleo sideral todas as semanas, trazendo a paz, a luz, a harmonia e alento espiritual a todos os lares onde houver um slido ponto de apoio, isto , uma antena mental sintonizada com aquela poderosa emissora de vibraes etreas. Recomenda-se, como ato preparatrio de uma bem sucedida reunio deste gnero, que seus componentes se esforcem por viver esse dia isentos de contrariedades, aborrecimentos, comentrios ou aes desprimorosas, para que sua antena mental se encontre em perfeita receptividade na hora estabelecida para a recepo da corrente emanada do Crculo Espiritual do Amor de Jesus. Outrossim, aqueles que estiverem atribulados ou necessitarem de alguma graa do Divino Senhor, escrevam o seu pedido numa pequena folha de papel branco, dobrem-na ao meio e a encerrem num envelope que dever ser colocado sobre a mesa sua frente durante a reunio. Numa demonstrao eloqente de que o Amor de Jesus estar presente onde os interessados o chamarem, o Divino Mestre far descer a cada um deles as graas que Lhe forem pedidas naquele momento de comunho espiritual, desde que sua posse no venha prejudicar a outrem ou mesmo queles que as pedirem. Nas reunies futuras os mesmos envelopes devem ser colocados sobre a mesa at que os pedidos neles contidos sejam alcanados. A perseverana nessas reunies, com elevao, apressar a realizao das aspiraes fervorosas de cada membro da famlia. Que todos divulguem este magno assunto das Foras Superiores grandemente empenhadas em auxiliar a todos que na( * ) Os livros que compem a Grande Cruzada de Esclarecimento no mundo so: Nova Ordem de Jesus; Derradeira Chamada; Vida Nova; Elucidrio; Corolarium; As Foras do Bem; e Vida de Jesus ditada por Ele mesmo. No encontrando estes livros, solicite: www.editora33.com.br | [email protected] | (51) 3057-3390

Terra cumprem suas tarefas evolutivas. Quanto maior for o nmero de participantes na hora aprazada em que o Crculo Espiritual do Amor de Jesus irradia sobre os homens os amorosos eflvios do Divino Salvador, maior ser tambm a paz, a luz, a harmonia e o alento espiritual derramado sobre a Humanidade, num apressamento de nossa reforma espiritual e da implantao do verdadeiro esprito de fraternidade entre os homens. Que o Amor de Jesus seja, pois, recebido fervorosamente por todas as criaturas.

ADENDO: Em caso de calamidade pblica, em qualquer parte do mundo (Mensagens ns 51 e 95), esta Corrente irradiada ininterruptamente sobre a face da Terra, durante os acontecimentos, unindo nossos pensamentos ao Divino Salvador e abrindo nosso corao s bnos do Pai Celestial. (Para maior facilidade na difuso mundial, solicitemnos as NOTAS ns 1, 2 e 3 de 1977, o Boletim n 4 e demais informaes que desejarem.) Dentro das irradiaes necessrias, e quando mais estivermos integrados em acolher esses eflvios benficos, mesmo que no haja situao de emergncia no mundo, ser essa Corrente mantida durante todas as noites e dias, sem interrupo, INDEFINIDAMENTE pela Compaixo do Extremado Governador Planetrio. Grato, Divino Salvador! Assim seja, Senhor!

Para maiores esclarecimentos, dirigir-se Instituio:

NOVA ORDEM DE JESUS (51) 3057-3390 www.novaordemdejesus.com.br [email protected]

S PELO AMOR SER SALVO O HOMEM

S PELO AMOR SER SALVO O HOMEM PREMBULO DA SEGUNDA EDIOMeu conhecimento com Antnio Gama de Paula, o introdutor deste livro no Brasil, surgiu ocasionalmente, vai para quinze anos, quando ambos nos encontramos na diretoria da Tenda Esprita Mirim, nesta cidade afortunada de S. Sebastio do Rio de Janeiro. J ento havia eu lido a VIDA DE JESUS DITADA POR ELE MESMO, em seres de famlia, calma e compassadamente, para que minha esposa e nossos quatro filhos pudessem participar, crianas estas embora, do encanto e bemestar que sua leitura transmitia ao meu esprito. O fato de ter sido Gama de Paula o elemento escolhido pelo Alto para difundir na Ptria do Evangelho e Corao do Mundo no dizer de Humberto de Campos, esta obra magnfica de claridades celestiais, de parceria com Sebastio Caramuru uma das personalidades mais atraentes por sua pureza dalma que conheci - e o perfeito esprito de compreenso que entre ns se desenvolveu, fez que nossas constantes palestras girassem quase sempre em torno da VIDA DE JESUS DITADA POR ELE MESMO. Muitos foram, sem dvida, os que saram a campo para dar combate a este livro, na sua primeira edio, em portugus, na tentativa de arras-lo se tal possvel lhes fosse, e o fizeram inegavelmente, alguns deles, com argumentos aparentemente irrespondveis, to brilhantes se mostraram no manejo de uma inteligncia de escol. Ao contrrio, porm, do que supunham esses denodados combatentes, tanto mais acirravam o combate ao livro, mais numerosos se mostravam os interessados em conheclo por a em fora. Necessria no foi a defesa da obra para que a mesma se difundisse. Sua luz assumiu uma to grande fora de expanso, que de muitos lugares chegaram pedidos de novos interessados em receb-lo quando a edio desde muito se esgotara. Mas, para que defesa? L esto as palavras do Autor pg. 252: Irmos meus: revelando as causas de minha

condenao e os juzos errneos de meus atos, desejo que minhas palavras no sejam defendidas a no ser por mim somente; preciso, pois, deix-las tal como as exponho. E mais adiante: No acreditais muitos de vs que sou eu quem vos fala e nem mesmo vendo-me o acreditareis, e to-pouco o acreditareis se novamente crucificados vos exibissem os meus pobres despojos; porm, isto porque fechados conservais os olhos da vossa f, fechadas as portas da humildade, fechados os caminhos de vosso corao. Para que defesa, pois? Ligado desde agora difuso deste livro no Brasil, atendendo a um apelo fraternal do meu amigo Antnio Gama de Paula que me solicita o patrocnio desta segunda edio, fao-o com o sentimento mais puro e santo que animar me pudesse para proporcionar a mais alguns milhares de leitores, o incomparvel prazer de receberem tambm em seus espritos ansiosos de luz e progresso as claridades celestiais que a leitura atenta, paciente, meditada, da VIDA DE JESUS DITADA POR ELE MESMO, faz projetarem-se em jorros bem-aventurados sobre to afortunados irmos. Para encerrar este prembulo da segunda edio, desejo fornecer aos leitores algumas breves notas acerca da personalidade do Dr. Ovdio Rebaudi, a meu ver suficientes para demonstrar todo o valor moral e cientfico do tradutor desta obra do italiano para o espanhol. Encontram-se as notas abaixo no discurso proferido pelo Sr. Juan Olivero, na noite de 24 de outubro de 1937, na Associao Crist Providncia, em Buenos Aires, ao comemorar-se o sexto aniversrio da desencarnao daquele culto e elevado esprito . . . . . . . . . . . . . . . ..................................................... ..................................................... Deve-se recordar diz o Sr. Olivero que, em mais de uma ocasio, havia manifestado Rebaudi que seus sentimentos foram espiritualistas desde sua infncia, porm os estudos das Cincias Naturais, mal dirigidos, como o so sempre pela cegueira dos professores universitrios, que no examinam seno a materialidade do que nos rodeia, foram talvez os que retardam a manifestao de suas faculdades supranormais; por isso seu crebro no dava ensejo, seno melhor se firmava nas afirmaes da escola materialista. Mais ou menos pelo ano de 1884, observou e estudou os fenmenos chamados transcendentais, logrando tambm

reproduzir muitos deles em forma experimental e cientfica. Teria ento os seus quarenta anos quando ingressou na Sociedade Constncia, ao tempo em que praticava estudos de magnetismo nos laboratrios da Sociedade Cientfica de Estudos Psquicos, que o levaram doutrina da destrutibilidade da matria, chegando a completar a teoria com numerosas provas, demonstrando que a matria um estado transitrio da energia. Com este ttulo apresentou um de seus trabalhos juntamente com outro1 ao Terceiro Congresso Cientfico Pan-Americano reunido em Lima em 1924. Muito tempo antes da descoberta do rdium, o Dr. Rebaudi havia notado que o acetato de urnio possua propriedades biopsquicas e mais tarde, quando se descobriu o rdium, comprovou a presena de pequenos vestgios deste; designou o primeiro como sal radiomagntico, por sua radioatividade. Assim, por seus mltiplos trabalhos cientficos e seu saber, Rebaudi era conhecido pelo nome de Sbio Paraguaio. Recordarei que ele foi reitor da Universidade Professor de Biologia e Qumica Mdica, Diretor do Laboratrio Qumico e Bacteriolgico de Assuno como dos Laboratrios Qumicos, Nacional e Municipal, de Buenos Aires, tendo o Municpio lhe concedido o ttulo de Qumico Honorrio; possuindo ainda numerosas outras distines de instituies cientficas tanto do pas como do estrangeiro. O Dr. Rebaudi somente procurou obter renome cientfico, para que sua palavra tivesse autoridade ao manifestarse sobre Espiritismo e Cristianismo. Assim o vemos provando cientificamente suas teorias com investigaes realizadas no Instituto Metapsquico, cujos trabalhos foram publicados em revistas. Entre outras, La Magnetolgica e Metapsquica, em livros e folhetos, como tambm em conferncias pblicas, de onde pontificou que: A matria um estado transitrio de energia; que a realidade reside mais no invisvel e intangvel do que no visvel e tangvel; que, entre o material e o eltrico e o corporal e o extracorporal, existe uma substncia intermdia; que a personalidade humana pode agir independentemente do corpo; que1 - Minerao Paraguaia e Qumica Aplicada Higiene.

experimentalmente, por processos magnticos, se pode determinar a separao da personalidade humana; dita personalidade exteriorizada no mais do que a alma humana; que a mesma personalidade, separada definitivamente do corpo pela morte, tem dado provas de sobrevivncia; a volta da alma ao mundo de relao mediante um novo corpo; a pluralidade dos mundos habitados; a idia de justia; a lei iniludvel do progresso; e, no fim de tudo, encontra-se a Deus. Seja por disposio natural ou por meio de exerccios realizados, Rebaudi havia conseguido desenvolver faculdades supranormais em alto grau, sendo-lhe possvel o desdobramento, at haver chegado em certas oportunidades a fazer-se visvel longe de seu corpo. Em vrios ensaios de exteriorizao, conseguiu visitar distantes regies planetrias, onde recolheu sensaes das quais guardou clara impresso de sua rpida viso. Ele prprio tambm conservava recordaes de diversas existncias passadas que tinha bem presentes, referindo-nos encarnaes, algumas delas de pocas bem remotas. Tudo isto eu ponho de manifesto a fim de que seja compreendido que necessariamente deveria ser muito elevada sua personalidade espiritual para possuir um organismo de condies excepcionais por sua sensibilidade, dotado de faculdades notveis. Por sua mesma sensibilidade devia arrostar com inteireza de nimo e superior firmeza a contnua avalanche das foras do mal que, em constantes arremetidas, pretendiam aniquil-lo. Mas Rebaudi, com pureza de seus pensamentos e agindo com a conscincia de sua misso, passou sua vida na Terra em intensa luta para sustentar a luz pura, porque amava a Verdade. Conhecemos seus esforos, suas obras e seus sacrifcios; por isso dizemos que Ovdio Rebaudi foi um ser superior, porque sustentou bem alto o ideal do Cristianismo e continua do espao alentando com suas comunicaes em apoio de seus irmos da Terra a prosseguirem a obra de amor, como o ensinara o Divino Mestre Jesus. Eis, para os leitores desta segunda edio da VIDA DE

JESUS DITADA POR ELE MESMO, estes expressivos esclarecimentos acerca da personalidade do tradutor da edio italiana para o espanhol, o que deve constituir, por isto mesmo, um valioso testemunho do valor que o mesmo reconheceu nos fundamentos da obra. Rio de Janeiro, julho de 1948 DIAMANTINO COELHO FERNANDES

PREMBULO DA PRIMEIRA EDIOLeitor espiritualista. Em tuas mos depositamos este presente do cu. So pginas buriladas pelo esprito de Jesus de Nazareth, que mais uma vez nos visita para mostrar-nos os caminhos que engrandecem a alma e do felicidade ao homem. Queres seguir a Jesus tendo Sua palavra por guia de teus passos para pores em prtica as Suas instrues? Aqui est o cdigo de amor que Ele ditou para os Seus novos discpulos. Com a Sua nova descida Terra, o Filho de Deus veio realizar uma das suas mais importantes promessas, a saber: a vinda do Esprito Consolador. A histria mais uma vez se repete. Ali na Judia, vemos Joo Batista, o Precursor, preparando os caminhos espirituais para que Jesus lance com a maior segurana os alicerces de sua doutrina, doutrina que tem vencido o decorrer dos sculos e a m vontade dos homens. Quando no Glgota os padres fizeram levantar a cruz supliciadora do divino enviado, completava-se a segunda revelao: estava fundado o Cristianismo. Na Frana, em 1865, Allan Kardec publicou o primeiro volume de coordenao da doutrina dos espritos e em 1885, em Avinho, antiga cidade do sul desse pas, outrora residncia dos papas franceses, Jesus de Nazareth consubstanciou nestas pginas de Sua Vida, por Ele mesmo ditadas, este grandioso monumento de histria e de religio. No admirvel que Jesus escolhesse a mesma cidade onde os papas imperaram para dali ser espalhada a sua nova mensagem? Por Jesus, o mesmo celeste embaixador, recebamos a luz da terceira revelao: estava, pois, fundado o Espiritismo. Debalde a intolerncia dos sacerdotes da igreja romana, demonstrada no memorvel auto-de-f, de Barcelona, reduziu a

cinzas os livros do Coordenador; debalde a destruio sistemtica fez desaparecer, um a um, os exemplares da VIDA DE JESUS DITADA POR ELE MESMO. Ela aqui est! Ressurge no momento mais propcio, exatamente quando o nosso pas encontra-se espiritualmente melhor preparado para receb-la e para assimilar os seus inigualveis ensinamentos. A despeito das minuciosas buscas que se tem procedido na Frana e em outros pases, da edio francesa atualmente, no se conhece o paradeiro de um nico volume e o mesmo pode se dizer com referncia edio italiana feita pelo ilustre e intimorato capito Ernesto Volpi. Desta, apenas um exemplar veio para a Amrica, onde as almas boas e dedicadas a Jesus trabalharam a semente que lhes foi confiada e fizeram-na reproduzir aos milhares. Uma senhora, mdium, que da Argentina trasladou-se para as plagas brasileiras, trouxe em sua bagagem um exemplar da segunda edio espanhola, publicada em 1909; este volume veio ter s nossas mos; achamos a obra admirvel mas no pensamos traduzi-la devido aos nossos escassos conhecimentos da lngua castelhana. mdium do Centro Esprita Apstolos de Jesus, D. Theolinda Bittencourt, que tambm leu o exemplar que nos havia sido emprestado por um espiritista, deve-se a traduo que agora apresentamos queles que amam e seguem o Messias. Tanto esta senhora se entusiasmou pela leitura da VIDA DE JESUS DITADA POR ELE MESMO, e tanto instou para que a traduzssemos, que afinal venceu a nossa resistncia. A vaidade que nos acompanha bem grande ainda pela imperfeio do esprito que d vida ao nosso corpo, mas isto no impede que reconheamos que o trabalho que realizamos deixa muito a desejar; erros sabemos que ele contm e muitos, alguns no soubemos corrigir, outros a nossa falta de viso espiritual no viu e a maior parte deles deixamos passar. Entregamos aos habitantes do Brasil a primeira edio desta grandiosa obra; ela , sem favor, a mais bela manifestao do gnio atravs da perfumada flor da mediunidade. Nenhuma outra se lhe aproxima. ao mesmo tempo um livro de histria e um compndio didtico de espiritismo, ensina com segurana os caminhos da espiritualidade e esclarece as pginas at aqui nebulosas da passagem de Jesus-homem pela face da Terra, onde viveu, amou e sofreu. Tudo o que andava oculto pelo interesse dos homens ou por estes vinha sendo mal explicado, recebe do insigne

autor um poderoso jato de luz. Em suas pginas de uma filosofia profunda, moderna e comprovada pelos fatos, j agora em grande parte ao alcance do investigador, o estudioso encontra tudo quanto necessita para, sem outro auxlio qualquer, saber qual foi a sua origem e qual o seu destino; onde est localizado o Inferno e onde fica o Cu, ou seja, a casa de Deus, e como se consegue penetrar ali; como a criatura deve agir no presente para ser feliz ao transpor a porta estreita da morte, dessa parca tirana que a todo o instante nos espera. Com o que aqui aprende-se com Jesus de Nazareth, a morte perde o seu prestgio e deixa de ser apavorante para tornar-se apenas um incidente na vida daqueles que se vo espiritualizando. No conhecemos outro livro que ensine e deleite como este. A sua leitura nos comove at s lgrimas, ele tem um poder espiritual to grande que desperta a alma do pecador endurecido, a ponto deste, espontaneamente, dispor-se a passar pelas mais duras provaes desde que possa redimir as faltas que cometeu. um milagre de amor! Aos vencidos na luta da vida terrena, que so muitos na hora que atravessamos, enche a alma de f, dessa f que se dinamiza em herosmo, desse herosmo que tudo vence e que triunfa das enfermidades do corpo, das misrias e das dores morais que oprimem a criatura. Ao que vence as tentaes da Terra e os sofrimentos, no outro mundo abrem-se-lhe de par em par as portas de uma vida mais bela e muito mais gloriosa. Quando esta doutrina estiver bem disseminada neste planeta, no haver mais suicdios, nem assassinatos e nem guerras. Alm disto, a doutrina que Jesus aqui explana o caminho para a soluo racional e positiva de todos esses problemas sociais que agitam as naes nestes dias to cheios de angstias e que vm desafiando a acuidade dos homens de Estado. O nosso maior desejo seria ver este livro nos lares de todos os habitantes desta grande nao e que as mes amorosas quotidianamente, o lessem como seu brevirio e fizessem dele o fundamento da educao de sua adorada prole. Assim esta cresceria robusta na f e se tornaria digna perante sua prpria conscincia. Desejamos tambm que os educadores da gerao que vem surgindo bebessem nestas pginas os conhecimentos da doutrina do insigne Mestre para incuti-la nas almas que, sob seus cuidados, vo desabrochando para a vida, a fim de extirpar os males do mundo. Leitor amigo; se a tua alma abriga o desejo de ser til aos teus companheiros da Terra, auxiliando-os para o seu progresso,

amparando-os em seus sofrimentos e encaminhando-os para a espiritualidade, introduze em cada lar onde tenhas uma amizade, uma destas mensagens do divino enviado para que todos recebam os altos benefcios da nova peregrinao do Mestre excelso pelo planeta terrqueo. Somente assim, semeando nas almas a doutrina de Jesus, pura como aqui se encontra, teremos amanh uma sociedade mais espiritualizada e por conseguinte melhor. Os elevados conhecimentos espirituais que aqui nos so to singelamente transmitidos so to bem explicados como ainda no vimos em nenhum outro livro. Se outros mritos no tivesse esta obra admirvel, preparadora da evoluo da criatura para a vida eterna, lapidadora de caracteres, suavizadora de sofrimentos, ao menos serviria de pedestal ao grandioso monumento de paz que se vai levantando entre as humanas criaturas que ouvem a voz do Esprito e pem em prtica a sua doutrina. A leitura desta mensagem nos predispe para o vo alto da espiritualidade, para a conquista dos dons de Deus a mediunidade ainda que isto seja, como quase sempre acontece, com o sacrifcio dos bens passageiros da Terra. Aqueles que no quiserem progredir pela cincia e pelo amor, fechem o livro porque os seus ensinamentos muito avanados lhes no convm. Ele foi ditado para os trabalhadores e no para os comodistas; veio luz para os inteligentes e para os pensadores que repelem os dogmas, porque estes escravizam o pensamento e embotam o esprito. E o tesouro daqueles que sabem que o pensamento no se apaga e segue atravs dos mundos, comunica-se nos espaos, liga entre si os espritos, sanciona os princpios da fraternidade e realiza milagres de amor. Alm de tudo isto, praticando esta doutrina elevada e pura do Messias, teremos numa arrancada prodigiosa deitado abaixo o castelo dos milagres, espavorido os ardilosos defensores dos dogmas religiosos, banido os sentimentos malsos desta morada dos filhos de Deus e palmilhado o mais belo caminho que o da crena em Deus com uma conscincia limpa. Aos novos apstolos do amor concitamos tomar a peito, levarem a palavra de Jesus a todas as partes, disseminando a religio por ele pregada, com as suas belezas, a sua cincia profunda e a sua espiritualidade segura. Se o leitor tiver interesse em conhecer a histria da poca em que os romanos dominavam o mundo, ela aqui est narrada pelo mais erudito historiador; se desejar conhecer os fundamentos

de uma cincia vasta, profunda e evolutiva, que muito de perto se relaciona com os homens de todos os hemisfrios, aqui est o abenoado manancial onde a alma se ilustra e dessedenta; aqui onde o esprito vido de luz prepara-se para a grande caminhada atravs do espao e do tempo. Se quiser saber de religio, duma religio que no imposta porque no tem dogmas, que no anda atrs de predomnio porque no tem um corpo luzidio de sacerdotes e que no persegue ningum porque o seu reino no deste mundo, aqui est o seu cdigo escrito pelo sbio legislador. Tome-o, estude-o com carinho e que sua alma se encha de luz e compreenda afinal Deus manifestando-se ao homem por intermdio do seu Messias. Para o sbio, para o sacerdote de idias elevadas, para o pastor de almas, para os governantes de povos, para o chefe de famlia e finalmente para o povo, este o livro imprescindvel, ele completa a educao e dilata ainda mais o horizonte da vida terrena. Nestas pginas falam Jesus de Nazareth, Maria Sua me, Joo o Batista, os apstolos Pedro, Joo o Velho, Barnab, Mateus e Paulo de Tarso. Aos homens, o Mestre vem lembrar as coisas que por ele j foram ditas e acrescentar uma poro de novos ensinamentos que no puderam ser dados aos pagos, nem aos hebreus, mas que agora a nossa inteligncia, um pouco mais esclarecida, j pode suportar. As palavras de Jesus so como que um avivamento de nossas idias para que a Sua doutrina retome o fulgor dos ureos tempos apostlicos, quer dizer, pura e simples, como era naqueles dias memorveis em que no havia uma corporao sacerdotal enfatuada de teologia, mas que os predicadores homens do povo tinham convices e o Esprito descia sobre eles para que bem cumprissem suas misses. Belos tempos! Examinando-se com ateno o que se passou no tempo de Jesus e o que agora em nossos dias se repete, no deparas, leitor amigo, com uma certa analogia entre os seguidores do filho do carpinteiro e os espiritistas desta gerao? Certamente a semelhana grande, mas ns no vamos analis-la porque Jesus quem est com a palavra. E como interessante ouvi-lo falar de Sua misso terrena, de Sua meninice e de Sua juventude, da profisso humilde de Seu honrado pai, de Sua querida me que O adorava mas que no soube compreender a grandeza de Seu trabalho messinico; de Seus irmos e de suas irms, apontando os

nomes de cada um deles; lembrar-se por onde andou e de tudo quanto fez, inclusive de Sua primeira visita ao Templo de David, em Jerusalm, acompanhado de Lia, viva de um negociante, que ainda hoje tem a felicidade de ser abenoada pelo celeste mensageiro, apesar dos vinte sculos decorridos! Estamos bem certos que, somente para conhecer estes detalhes to interessantes da vida de Jesus, no faltar quem deseje ler esta sua mensagem com acurado interesse. Agora no h mais mistrios sobre a vida do Mestre, j se sabe como decorreram os dias de Sua mocidade e como, e onde foram feitos seus estudos sob a proteo de Jos de Arimatia, esse grande amigo do carpinteiro Jos e de seu filho, o carpinteiro Jesus. Foi Arimatia quem abriu a Jesus as portas da Cabala1 onde se estudava a cincia dos espritos e praticava-se o espiritismo antigo. Logo, Jesus de Nazareth era espiritista, ningum pode fugir lgica dos fatos. E como Jos de Arimatia explica em sntese um mundo de conhecimentos em uma pgina admirvel, como aponta a lei que o Mestre tinha que respeitar para se manter em constante comunicao com os espritos! Vede bem, leitor, que o prprio Jesus quem agora vem recordar as palavras de seu amigo e esta recordao como que a bssola que nos h de servir para as nossas relaes de todos os dias com os habitantes do mundo invisvel. Ningum menospreze os conselhos dados por Arimatia a Jesus e que este, certamente, deseja que sejam seguidos com carinho para que o intercmbio entre os dois mundos prossiga nessa marcha gloriosa que os espritos vo dilatando por todos os recantos da Terra, com real proveito para aqueles que aqui se encarnam em busca de espiritualidade. Talvez cause estranheza aos menos aprofundados no conhecimento das leis espirituais o fato singular de Jos de Arimatia ter levado Jesus a uma reunio composta de homens chegados idade madura, e no ao Templo, para assistir a uma sesso onde se tratou da luz espiritual e dos meios para transform-la em mensageira ativa dos desejos do Ser Supremo,

1 - Cabala ou Kabbla designa recepo da Lei revelada da cincia de comunicar com os entes sobrenaturais, em uma palavra: Espiritismo.

e que quando deixou de ouvir-se a voz eloqente, um estremecimento magntico deu-lhes a conhecer uma adorao inefvel. Mas que tem isso? No era no Templo, como no na Igreja, o lugar onde a voz eloqente do Esprito se faz ouvir, e nem no Templo, nem na Igreja, as correntes fludicas banham os assistentes. nos Centros Espritas onde a voz eloqente do Esprito a cada momento inunda a alma do crente e as nossas perguntas recebem respostas sbias e conscienciosas, e se estudam pginas magnficas, e se explicam e desvanecem contradies aparentes e dvidas passageiras. A escola a mesma, os processos postos em prtica so os mesmos, e os espritos sbios professores assim como ensinaram a Jesus na memorvel sesso daquela noite em que a alma do jovem Messias se sentiu arroubada diante da manifestao dos Espritos que lhe vinham falar em nome do Pai e, como Ele mesmo confessa, na qual se sentiu ainda mais desejoso das alegrias de Deus e o Seu esprito mergulhou em profundo recolhimento para merecer essas mesmas alegrias, do mesmo modo os filhos de luz vm ensinando aos espritas, em nossos dias, os caminhos do Senhor, sem pedirem licena clerezia afoita. Ser bom lembrar aqui que no dia seguinte Jos de Arimatia presidiu primeira sesso de desenvolvimento da mediunidade de Jesus de Nazareth. Jesus-homem preparava-se assim para receber as comunicaes dos espritos de Deus. Para que se possa compreender a lei que rege as comunicaes dos espritos, tornase necessrio salientar que em Jesus se confirmava que o veculo da vontade de Deus o homem. preciso repetir bem que estes nunca deixam de ser homens, no pleno exerccio de suas faculdades, porque foram assim iluminados. Essas revelaes eles no as recebem muitas vezes por seu prazer, mas lhes vm a contragosto; e quando vm, eles as recebem como recados mesmos de Deus, seus juzos e intentos; e a sua convico de que so rgos deles a melhor prova possvel de que so verdadeiros orculos divinos. Nesse caso esses inspirados no exprimem as suas prprias idias, apesar de que seu o modo de exp-las, e de que suas so as palavras. Se Deus ou o Esprito Santo quem inspira as revelaes,

estas so divinas, mas o rgo delas sempre o homem, com suas limitaes, sendo por isso essencial que, nessa inspirao, assim recebida e revelada, se reconhea sempre, repetimos, o elemento humano.2 E ainda devemos acrescentar aqui: os homens mdiuns que recebem as ordens de Deus para serem transmitidas aos homens, seus irmos, todos eles j viveram na Terra e o prprio Jesus nos diz Ele o Messias j tinha vivido como homem sobre a Terra e o homem novo tinha cedido seu lugar ao homem compenetrado das grandezas celestes, quando o esprito se viu honrado pelos olhares de Deus para ser mandado como enviado e mediador. O Messias tinha vivido sobre a Terra porque os Messias jamais vo como mediadores a um mundo que no tenham habitado anteriormente. Logo, alm de homem, necessrio que o esprito traga a experincia das vidas anteriores para ser distinguido com o mandato divino. Ser bom no esquecermos que as revelaes sempre tiveram a sua origem fora das igrejas e longe da influncia da casta sacerdotal. O padre como que um fantasma que afugenta o esprito e por isso o esprito somente se manifesta onde a mo do sacerdote no amordaa a conscincia. Enquanto o padre espiritualmente no se reformar, no poder ser til coletividade, no servir para nada nesse trabalho preparatrio de reformas grandiosas que o mundo tanto necessita e que vagarosamente, mas com segurana admirvel, vo se realizando sob a direo dos Espritos. Assim, como o padre est vivendo, poltico apaixonado no seio da mais poltica das instituies, ambicionando e empregando todas as suas energias para conquistar as mais altas posies sociais e fortuna, no poder de forma alguma nos servir de guia, nem mesmo para que bebamos das guas lmpidas das fontes do Cristianismo, dispensamos permisses de sacerdotes ou de quem quer que seja. Precisamos lembrar que nem o Velho nem o Novo Testamento tm por base ou esteio o sacerdotalismo. Na Velha Aliana existiam sacerdotes como em todas as religies; mas quem ensinava os mandamentos de Deus aos homens de Israel no eram os sacerdotes mas sim Moiss, leigo, e os Profetas, sendo que s dois destes foram da classe donde saam os sacerdotes.

2 - Consideraes gerais sobre a Bblia, por Jos Carlos Rodrigues, Cap. III, pgina 38.

O que Deus quer que todos os homens sejam sacerdotes e formem assim a Sua nao sacerdotal. E no Novo Testamento Jesus Cristo provir no da tribo dos Levitas, mas da de Jud, e nenhum de seus discpulos era sacerdote ou da classe sacerdotal.3 Por que a segunda revelao (crist) seguiu os passos da primeira (mosaica), e no irrompeu no meio dos sacerdotes que afirmam serem os representantes autorizados de Deus na Terra? E por que o mesmo aconteceu com o Espiritismo (terceira revelao), que teve a sua origem fora do domnio das igrejas? Fora, sempre fora dos templos e do convvio dos padres, onde imperam o sentimento religioso e a humildade, e onde o Esprito de Jesus e os espritos de Deus encontram os humildes homens do povo e por ele se manifestam aos homens, seus irmos. Esta preferncia to significativa no estar indicando que as igrejas abrigam uma religio aparatosa, amparada por dogmas insensatos e falha em seus fundamentos? Esta verdade felizmente comea a ser compreendida pelos homens inteligentes. A deplorvel cegueira humana, vagarosamente, vai se libertando da ignorncia na qual tem vegetado e os padres, j meio atemorizados, comeam a verificar que o espantalho dos dogmas principia a se tornar impotente para deter a marcha triunfante do Esprito que, sem lhes pedir licena, se comunica em todas as partes, fala em nome de Deus como seu mensageiro que e fundamenta suas instrues sobre a imortalidade e a reencarnao do esprito do homem. Agora, com estes fatos, a vida mais bela e a Justia de Deus muito mais compreensvel, porque Satans, o Demnio ou Lcifer, esses papes do passado, j no mais amedrontam os homens que se vo preparando para a aurora espiritual que vem surgindo no horizonte de sua vida. O observador sente que a era espiritual est bem prxima e v, fora das igrejas e do controle da casta sacerdotal, muita gente se purificando para entrar em constante comunicao com os espritos puros. O esprito, em cumprimento da profecia, vai se derramando por toda a carne e a mediunidade aflora em todos os lares mesmo aqueles que, melhor trabalhados catolicamente, pelo atavismo de seus ancestrais, se mostram mais infensos s manifestaes dos espritos. justamente no momento em que os espritos foram a3 - Idem. Cap. X, pg. 170.

passagem estreita da incredulidade e deitam por terra os preconceitos humanos, o castelo dos dogmas e as supersties religiosas, que o povo brasileiro recebe a VIDA DE JESUS DITADA POR ELE MESMO, e oxal a mensagem do embaixador das celestes moradas deposite um raio de luz em cada alma que a leia e amplie a viso do leitor para que compreenda os seus altssimos ensinamentos sobre a doutrina do esprito. meditao dos crentes, ao raciocnio dos sbios, investigao dos filsofos, ao estudo do povo deste grande pas que muito ama a Jesus, oferecemos este repertrio de verdades, nico no mundo. SEBASTIO CARAMURU

O RETRATO DE JESUS, FEITO POR PBLIO LNTULOSabendo que desejas conhecer quanto vou narrar, existindo nos nossos tempos um homem, o qual vive atualmente de grandes virtudes, chamado Jesus, que, pelo povo, inculcado o profeta da verdade, e os seus discpulos dizem que filho de Deus, criador do cu e da terra e de todas as coisas que nela se acham e que nela tenham estado; em verdade, Csar, cada dia se ouvem coisas maravilhosas desse Jesus: ressuscita os mortos, cura os enfermos, em uma s palavra um homem de justa estatura e muito belo no aspecto, e h tanta majestade no rosto, que aqueles que o vem so forados a am-lo ou tem-lo. Tem os cabelos da cor da amndoa bem madura, so distendidos at s orelhas, e das orelhas at s espduas, so da cor da terra, porm mais reluzentes. Tem no meio de sua fronte uma linha separando os cabelos, na forma em uso nos Nazarenos, o seu rosto cheio, o aspecto muito sereno, nenhuma ruga ou mancha se v em sua face de uma cor moderada; o nariz e a boca so irrepreensveis. A barba espessa, mas semelhante aos cabelos, no muito longa, mas separada pelo meio, seu olhar muito afetuoso e grave; tem os olhos expressivos e claros, o que surpreende que resplandecem no seu rosto como os raios do Sol, porm ningum pode olhar fixo o seu semblante, porque quando resplende, apavora, e quando ameniza, chora; faz-se amar e alegre com gravidade. Diz-se que nunca ningum o viu rir, mas, antes, chorar. Tem os braos e as mos muito belos; na palestra, contenta muito, mas o faz raramente e, quando dele se aproxima, verificase que muito modesto na presena e na pessoa. o mais belo homem que se possa imaginar, muito semelhante sua Me, a qual de uma rara beleza, no se tendo, jamais, visto por estas partes uma mulher to bela, porm, se a Majestade Tua, Csar, deseja v-lo, como no aviso passado escreveste, d-me ordens, que no faltarei de mand-lo o mais depressa possvel,

De letras, faz-se admirar de toda a cidade de Jerusalm; ele sabe todas as cincias e nunca estudou nada. Ele caminha descalo e sem coisa alguma na cabea. Muitos se riem, vendo-o assim, porm em sua presena, falando com ele, tremem e admiram. Dizem que um tal homem nunca fora ouvido por estas partes. Em verdade, segundo me dizem os hebreus, no se ouviram, jamais, tais conselhos, de grande doutrina, como ensina este Jesus; muitos judeus o tm como Divino e muitos me quereriam, afirmando que contra a lei de Tua Majestade; Eu sou grandemente molestado por estes malignos hebreus. Diz-se que este Jesus nunca fez mal a quem quer que seja, mas, ao contrrio, aqueles que o conhecem e com ele tm praticado, afirmam ter dele recebido grandes benefcios e sade, porm tua obedincia estou prontssimo, aquilo que Tua Majestade ordenar ser cumprido. Vale, da Majestade Tua, fidelssimo e obrigadssimo... PBLIO LNTULO, presidente da Judia. Lindizione setima, luna seconda.

Esse documento foi encontrado no arquivo do Duque de Cesarini, em Roma. Essa carta, onde se faz o retrato fsico e moral de Jesus, foi mandada de Jerusalm por Pblio Lntulo, ento presidente da Judia, a Tibrio Csar, em Roma. Tiramo-la da Revista Internacional do Espiritismo.

A SENTENA CONDENANDO CRISTO MORTESentena pronunciada por Pncio Pilatos, governador regente da alta Galilia, ordenando que Jesus de Nazareth sofrer o suplcio da Cruz. No ano dezessete do imprio de Tibrio Csar, no vigsimo quinto dia do ms de maro, na Cidade Santa de Jerusalm, Ans Caifs sendo sacerdote e sacrificador do Povo de Deus; Pncio Pilatos, governador da baixa Galilia, assentado na cadeira presidencial do Pretrio: Condena Jesus de Nazareth a morrer sobre uma cruz, entre dois ladres, dando o grande e notrio testemunho do povo: 1 Jesus sedutor; 2 Ele sedicioso; 3 inimigo da Lei; 4 Se intitula falsamente Filho de Deus; 5 Pretende ser Rei de Israel; 6 Entrou no templo seguido de uma multido que levava, em mos, palmas.

NOTA. Este documento apareceu publicado no Jornal de Francfort, nmero 115, de 26 de abril de 1839. Nesta sentena incisa em uma lmina de cobre est literalmente escrito: Uma igual lmina expedida a cada tribo. Esta sentena foi achada em um vaso antigo, de mrmore branco, quando se faziam escavaes na cidade de Aquila, no Reino de Npoles, em 1280, e foi exposta pelo comissrio das Artes, empregado na Armada Francesa. No tempo da expedio de Napoleo, ela estava na sacristia dos Certosinos, vizinha de Npoles, guardada em uma caixinha de bano. O vaso est na sacristia de Caserta. A tradio que se l foi feita pelos membros da comisso das Artes. Os Certosinos, mediante suas splicas, obtiveram que esta lmina no lhes fosse tomada, compensando com grandes sacrifcios que haviam feito pela Armada. Denon havia feito fabricar uma lmina do mesmo modelo, sobre a qual fez inscrever a mesma sentena. Na venda do seu gabinete, esta foi comprada por Lord Howard, por 2.890 francos. Esta cpia foi tirada do n 11, ano VIII, da Revista Internacional do Espiritismo.

Ordeno pelo primeiro centurio Quinto Cornlio, de conduzi-lo ao lugar do suplcio. Probo a qualquer pessoa, seja pobre ou rica, a impedir a morte de Jesus. As testemunhas que subscreveram a sentena contra Jesus so: 1 Daniel Robani Fariseu. 2 Joo Zorobatel; 3 Rafael Robani; 4 Capet Homem do Povo. Jesus sair da cidade de Jerusalm pela Porta Aruena.

INTRODUO EDIO CASTELHANAHavia formado o propsito de no dizer uma palavra sequer referente a esta obra, cuja traduo empreendi com verdadeiro tdio, somente cedendo aos numerosos e contnuos pedidos dos assinantes da Revista Magnetolgica e de outros amigos; porm confesso que bem depressa mudei de modo de pensar a seu respeito, como o demonstram as numerosas notas que lhe fui agregando, e ao termin-la neste momento, sinto uma verdadeira necessidade de quebrar, mais resolutamente do que fizera com as notas, minha primitiva resoluo e abster-me de todo comentrio e de omitir qualquer introduo edio castelhana. um dever de sinceridade que veio impor-se de certa maneira, e como a sinceridade uma virtude inerente a todo esprito evoludo, eu sempre quis comear por ela para chegar a s-lo algum dia. No pouca relutncia me custa realmente ocupar-me do assunto, no to-somente da obra, na forma em que vou faz-la, ainda que omitindo a maior parte do que poderia e teria que dizer, se o espao nos permite, pois no deixo de abrigar meus temores com respeito maneira como julgaro minha profisso de f alguns dos leitores, pouco preparados ainda para os assuntos do Moderno Espiritualismo, como natural sup-lo, quando se trata de coisas recentemente postas em ordem do dia.1 verdade que muitos ainda vem com olhos assustadios e muitos com incredulidade ou falta de compreenso, tudo o que se refere ao fenomenismo medianmico, com o qual justamente se relaciona uma boa parte do que vou dizer.

1 - No me refiro naturalmente aos que se sentem refratrios a tudo o que no se relaciona com a ordem exclusivamente material das coisas (que so os verdadeiros materialistas e que tambm no poderiam deixar de s-lo, por deficincia de evoluo cerebral neste sentido). H materialistas que o so por convencimento e no por convico, devido a que o estudo e a anlise dos fatos os convenceram da falta de fundamento do espiritualismo que se lhes havia ensinado. No destes que eu falo, pois so em geral os mais bem dispostos para o estudo do Moderno Espiritualismo. Nota do Sr. Rebaudi.

Mas, como se trata de fatos, meu nico papel referi-los com clareza e simplicidade. Direi, antes, que, como espiritualista independente, no estou preso a nenhum credo ou religio, aceitando o que me parece justo e verdadeiro, de onde quer que ele venha. Assim com respeito ao Cristianismo mais uma objeo havia alimentado em meu esprito e muito pobre conceito me havia merecido seu fundador. Concedia-lhe quando muito o ttulo de um ignorante e fantico iluminado, sustentando contnuas polmicas a respeito, na Sociedade Constncia e particularmente com seus ilustrados Presidente e Vice, senhores Cosme Marinho e Felipe Senilhosa, que me honravam com sua amizade e confiana. Dizia-lhes, entre outros muitos argumentos: Aceitando completamente vossas teorias com respeito aos seres encarregados de uma misso sobre a Terra, no admissvel que a Inteligncia Suprema escolhesse a brbara e atrasada Judia como ponto de partida para a implantao de novas doutrinas, mediante uma nova revelao, se que as chamadas revelaes2 tm tido lugar alguma vez. No admissvel, portanto, a apario de um Jesus, tal como o pintam, e sempre aceitando a teoria dos enviados, no meio de um ambiente como o hebreu, que nenhum prestgio tinha no mundo civilizado, nem por seu poder militar, nem por seu comrcio e riquezas, nem pelas indstrias, artes, letras e cincias. Roma dominava o mundo por seu poder e Atenas por sua cultura; qualquer dessas duas cidades houvera podido servir vantajosamente como centro de irradiao para as novas idias e no se pode supor em uma inteligncia superior, como seja a de Deus, tanta falta de tino como colocar seu enviado em meio de um povo pobre, atrasado e vencido, em lugar de aproveitar-se das vantagens que lhe resultariam da supremacia de Roma ou Atenas. A atuao de Jesus teve to pouca ressonncia, que nenhum escritor se ocupou dela, a no ser o historiador hebreu Josepho, que s a ele se refere de passagem, e ainda isto mesmo se cr que ela representa uma interpelao alheia ao autor.2 - Ns os modernos-espiritualistas cremos na estrita solidariedade entre o mundo corporal e o extracorporal, do qual resultam revelaes permanentes da verdade, mediante o progresso, que nos torna capazes de sua percepo e compreenso cada vez mais completa. Essas revelaes, de preferncia, que se singularizam em determinados povos, favorecendo as divises entre os homens, no so crveis, ainda que aceitando a teoria religiosa. As religies tm sido sempre uma da causas permanentes das discrdias humanas e no possvel atribuir esse papel revelao divina, na qual todas elas dizem basearem-se. O que se observa que os indivduos como os povos marcham para a perfeio por seus prprios mritos e por seus prprios esforos. Nota do Sr. Rebaudi.

A Vida de Jesus, as profecias que a anunciaram, seu nascimento de uma virgem por obra do Esprito Santo, a morte dos inocentes, sua pregao, seus milagres, at mesmo a transfigurao, tudo uma cpia dos Vedas, da vida e atuao de Krishna, a segunda pessoa da trindade budista. Finalmente, depois de ajuntar e ampliar os argumentos dos autores contrrios a Cristo, terminava sempre, em minhas discusses ntimas, por classificar de vagabundo a Jesus, por no ter domiclio nem meio de vida conhecidos. Expondo tudo isto com singela preciso porque se ligam com ele umas alucinaes sumamente curiosas que, em verdade, no deixaram de impressionar-me profundamente. Vou referi-las sem mais delongas, com o objetivo de abreviar. Casualmente havia tido com alguns amigos uma conversao referente a questes filosficas, a qual havia terminado com pareceres diversos a respeito do Cristianismo e com minha opinio desfavorvel para com Jesus; havia regressado bastante tarde a minha casa e, momentos depois de me haver deitado, vi ao lado de minha cama uma pessoa de p, olhando-me ternamente porm com fixidez. Sua figura e sua vestimenta eram as do prprio Jesus, tal como nos acostumaram a ver nas pinturas e esculturas. Porm era tal a superioridade e doura de sua expresso, era tal sua idealidade, que no somente eu nunca tinha visto nada parecido, como nem sequer imaginado. Sentia-me ao mesmo tempo envolvido por uma aura to suave, que se apoderou de mim num bem-estar indizvel. Sentia-me penetrado, diremos assim, pelo pensamento desse ser superior, e tinha a sensao de que todos os meus pensamentos se encontravam a descoberto, claramente revelados, desnudos, diante de seus ternos olhares. Que pensas tu de mim? Perguntou-me com voz e aspecto graves, porm carinhoso. Que foste um vagabundo,3 respondi maquinalmente. Sei que assim pensas, disse com suavidade. Em seguida, j completamente senhor de mim mesmo, lhe perguntei por minha vez com veemncia: Porm, dize-me: Tiveste realmente conscincia de que desempenhavas uma misso e de que eras um enviado? Respondeu-me, sem falar, movendo a cabea trs vezes em sinal de confirmao.3 - Essa era na realidade minha idia e eu manifestei-a maquinalmente; quase pode dizer-se que se manifestou por si mesma ao ver-se meus pensamentos completamente a descoberto.

Porm, em meio das contradies e da malevolncia que te rodeavam, continuavas julgando-te com inteira segurana? Igual resposta. Sabias que ias morrer e aceitavas a morte em apoio de tuas doutrinas com verdadeira conscincia do que fazias? Novamente a mesma resposta. E agora, depois de vinte sculos de tua pregao, vendo que os homens no se emendam, no se apartam de suas discrdias e maldades, segues com as mesmas idias? Movendo uma vez mais a cabea em forma afirmativa e apontando o cu com o indicador, disse: S pelo amor ser salvo o homem. Desapareceu a viso ou alucinao, deixando-me na mais profunda perplexidade, sem mover-me e sem saber a que atinar durante largo tempo. O fato no tornou a repetir-se, porm, ao decorrer um ano talvez, experimentei uma alucinao auditiva, relacionada com o mesmo Jesus. Encontrava-me no Paraguai, terminando uma carta dirigida ao Professor Garca, ento Diretor da Revista Magnetolgica, na qual me declarava vencido afinal pelas instncias que se me faziam para a traduo da Vida de Jesus e pensava a razo por que teria que ser precisamente eu o tradutor de dita obra, tais eram as insistncias com que desde muito tempo se me assediava para esse trabalho, quando ouvi distintamente estas palavras: Foste o escolhido por tua sinceridade. A voz era perfeitamente humana. Voltei-me rapidamente para ver quem falava, sem pensar que se tratava da resposta a uma reflexo mental minha, o que demonstrava imediatamente no se tratar de um fato normal.4 Efetivamente no descobri ningum. Mas devo uma explicao a respeito dos repetidos pedidos no sentido deste trabalho, que, como j disse, eu no estava disposto a empreender, havendo-me negado sempre a ele.

4 - Nos dois casos, porm, mormente no primeiro, o fenmeno alucinatrio me tomou realmente de surpresa, porquanto nenhum antecedente interveio para a sua produo: nada, nem remotamente parecido, havia passado por minha imaginao e nada pode haver-se apresentado nunca com maior espontaneidade. Sem dvida alguma no houve nisto possibilidade de controle; por isso designo o caso como alucinatrio, confessando no obstante que ele influiu em mim como se se tratasse de fatos reais.

Haviam decorrido uns cinco anos mais ou menos, da data em que, encontrando-me na Redao de La Fraternidad, me dissera seu Diretor, ao mesmo tempo que mostrava-me um livro de capa cor de tijolo: Aqui tem uma obra medianmica que est fazendo muito rudo, a VIDA DE JESUS, DITADA POR ELE MESMO. Todas as revistas se tm ocupado dela, dedicando-lhe entusisticos elogios. Seria sumamente til que voc a traduzisse. Por que eu? J sabe o pouco amigo que sou destas coisas. Tenho muito de que ocupar-me e que considero de maior utilidade. Meses depois encontrei a mesma obra sobre a mesa da Redao de Constncia e o Administrador, que me viu olhando o livro longe, perguntou-me se a conhecia e se me animaria a traduzi-la para o castelhano, pois contavam-se em grande nmero os interessados. Respondi na mesma forma que o havia feito anteriormente e como outras pessoas insistissem em aconselharme a empresa, manifestei a opinio de que ela talvez se tornasse causa de prejuzos maiores que de utilidade. Mais tarde o Senhor Ferraro, Secretrio da Federao Espiritualista, apresentou-se-me com o mesmo exemplar (o que no era de estranhar porque a Federao celebra suas reunies no mesmo local de La Fraternidad), e elogiando a obra, me fez ver tambm a convenincia de sua traduo, com resultados idnticos aos casos anteriores. Certa ocasio, estando de visita em casa do Dr. Cosme Marinho, pai, deparei com o mesmo exemplar sobre sua escrivaninha. Falou-me ele tambm muito favoravelmente da tal VIDA, pelo que dela havia ouvido falar e por ter encontrado passagens notveis ao folhe-la, e me perguntou se eu no achava conveniente sua traduo. Insisti na mesma resposta, acrescentando que parecia no haver mais que esse exemplar em Buenos Aires, pois era sempre o mesmo o que caa sob meus olhos, como se me fosse perseguindo, talvez pelo muito amigo que era eu de Jesus. Havia-me esquecido, disse o Dr. Marinho, que o senhor nada quer saber de Jesus, porm est laborando em um grande erro, porquanto a idia religiosa est intimamente ligada personalidade do Cristo no Ocidente e unicamente sob o prestgio de seu nome h de evoluir a moral entre ns. Ademais, a nova revelao tem agora seu lugar dentro do Cristianismo. Eu jamais lhe contestei, fiz derramar uma lgrima a um

semelhante meu, nem mesmo entre os meus companheiros sendo menino, pois sempre estive completamente alheio s disputas de rapazes; jamais cometi tampouco a menor injustia, consciente do ato que ia praticar, e tenho feito todo o bem ao meu alcance, ainda que prejudicando-me, como tem acontecido muitas vezes, no obstante este meu viver, nem sou cristo nem quero saber nada do Cristianismo, e se o Cristianismo jamais houvera existido, nem por isso a moral e o sentimento religiosos haveriam deixado de participar do progresso geral do mundo.5 O Dr. Marinho manifestou sua discordncia com argumentos e citaes muito felizes, mas que no me convenceram. Foi algum tempo depois desta conversao com o Dr. Marinho que teve lugar a estranha alucinao da apario de Jesus, qual, diga-se a verdade, coube o poder de mudar radicalmente meu modo de consider-lo a ele e sua obra. Tive que transportar-me mais tarde para o Paraguai, buscando em seu benfico clima e formosa natureza um remdio para minha abalada sade, o que tive a sorte de encontrar, conseguindo uma notvel, quase radical, melhora. Foi ento quando recebi carta do Diretor da Revista Magnetolgica, dizendo-me que havia se tornado mais intenso o entusiasmo pela Vida de Jesus, e que a seu ver eu devia satisfazer o desejo de muitos bons assinantes. Que afortunadamente tinha em seu poder um exemplar em italiano, que lhe emprestara o Senhor Ezequiel Mazzini; este tambm indicando a convenincia da traduo, e que com esse objetivo tinha lido a obra, ficando encantado com ela e completamente seduzido por seu estilo e por seu contedo. A obra se impe realmente ao esprito do leitor e se no foi Jesus quem a escreveu, ou ditou, deve ser outra pessoa igual a ele, como se fora ele, tal a influncia que ela exerce no nimo dos que a lem; assim, mais ou menos, me escreveu. Minha resposta foi negativa, porm pouco categrica, e com o recebimento de novas cartas, mais fracas ainda se tornaram as negativas, at que me foi remetido o exemplar prometido, que outro no era seno o que eu j havia visto nas diversas ocasies a que me tenho referido. Este detalhe tambm me impressionou, embora nada de estranho tivesse em verdade, porquanto me parece no existia outro exemplar em Buenos Aires.5 - Refiro tudo isto, que por si s carece de importncia, para demonstrar o estado de meu esprito antes da manifestao que tanto me impressionou, por mais que ela no tivesse parecido relacionar-se com a Vida de Jesus.

O que realmente estranho, e que mais do que tudo merece chamar a ateno, o fato, que a muitos tenho referido, da paralisao que experimentava na mo toda vez que, ao traduzir alguma passagem que se me deparava difcil, pretendia introduzir modificaes na frase. Devia, pois, restringir-me o mais possvel letra do original, porquanto se me tornava humanamente impossvel o escrever com alteraes, a menos que se tratasse de alguma modificao de simples palavras forosamente impostas pelas diferenas do idioma; porquanto a mo no obedecia j a minha vontade, e se, fazendo um esforo, lograva introduzir alguma ligeira modificao, a mesma mo, arrastada por uma fora irresistvel, riscava as palavras acrescentadas ou substitudas. Penso ser um dever de conscincia referir este fato, que considero de uma importncia transcendente, porquanto devido a ele, a traduo resultou de uma extraordinria exatido, e tambm porque o carter misterioso que presidiu o processo da traduo em si mesma, feita por quem menos que nenhum outro houvera parecido ser o designado para este trabalho, veio a acentuar-se muito mais ainda devido a tal fenmeno. Trata-se realmente de fatos anormais, tanto neste caso como nos dois anteriores, fatos cuja referncia no me h de favorecer perante a opinio pblica, pela falta geral de conhecimentos das matrias que se relacionam ao medianismo. Bem sei que, salvo casos especiais, o escritor deve manifestar-se sempre de acordo com a cor e grau de intelectualidade de seus leitores, sem adiantar-se imprudentemente poca em que se encontra6 e ao nvel geral da inteligncia, sob pena de cair vtima do desequilbrio em que viriam a ficar reciprocamente colocados, um com respeito aos outros; porm sei tambm que grave erro o de manter-se sempre dentro da rotina6 - Sem ser esprita, ou coisa parecida (j disse que no perteno a nenhuma escola determinada) compreendo que o mesmo se encontra fora do alcance da generalidade dos homens. Como doutrina moral, no sendo outra coisa que o prprio Cristianismo, seus preceitos so claros e simples, embora moralmente superiores a sua execuo na prtica por parte dos adeptos; porm o lado filosfico j mais difcil, sendo a chamada Teosofia uma prova das complicaes que podem resultar de seu estudo. A inventiva teosfica, efetivamente, chega at a dotar a alma de um corpo de desejos e que se organiza de maneira como que para constituir dentro de um regime centenrio todo o desenvolvimento de suas teorias, demonstra como fcil desviar-se quando se abandona o terreno positivo para lanar-se no campo das divagaes filosficas. O verdadeiro o positivo, o que de alguma maneira constitui uma realidade. A Teosofia despreza o fenomenismo, adiantando em troca afirmaes, no abonadas por fatos, sobre estas afirmaes levanta um edifcio, que tanto mais se distancia da verdade quanto mais se eleva. A Teosofia , pois, um desvio mstico do Espiritismo terico.

dessas idias velhas, to-somente pelo temor egosta de comprometer sua prpria reputao de homem ponderado e de reflexo madura, pelo qual os espritos conservadores imaginam ser distinguidos pelas maiorias. O justo e lgico seria que, sem dar saltos, imprimindo estremecimentos bruscos tranqila superfcie das guas da intelectualidade geral, procurasse cada um provocar um pequeno movimento de avano ao conjunto das idias e do pensamento das massas, colaborando pessoalmente assim todo o que escreve, na grande obra do progresso humano, em lugar de contribuir para a paralisao das faculdades superiores do esprito. Devido a tal crena que me animei a apresentar as manifestaes sinceras que deixei acima, com respeito ao que me sucedeu no terreno do fenomenismo medianmico e que designei como casos de alucinao, por falta de controle, nico que, estabelecido com rigor, teria podido conduzir-me ao estudo de ditos fenmenos, como de alguma coisa realmente objetiva. Apesar disso, a mesma ndole dessas alucinaes e o momento em que tiveram lugar, so de natureza como que para dar algum prestgio ao protagonista da obra que eu haveria de traduzir mais tarde, e prpria obra, arrastando-me de alguma maneira para o sentido religioso de seu contedo. J que tratamos deste ponto, Vou permitir-me tambm relatar o que em igual sentido sucedeu com a distinta Senhora Maria Z. De Brignardello, membro ativo da Sociedade Constncia Encontrava-me algo adiantado na traduo da VIDA DE JESUS, quando esta senhora veio em visita a minha esposa. Julgando-a sabedora do trabalho que estava executando, falei-lhe dele e do entusiasmo geral, manifestado por uma infinidade de cartas, que todos os dias vinha recebendo. Fui informado que a senhora, no recebendo por aquele tempo a Revista Magnetolgica, tudo ignorava sobre este particular, e com o propsito de bem inteir-la sobre o assunto, li para que ela ouvisse o belo prlogo do Capito Volpi, e diversos outros fragmentos, entre os quais se encontrava o retrato que Jesus traara de si mesmo. Ao ler esta parte notei que a senhora a escutava com manifesta contrariedade. Manifestou-me, sem embargo, a boa impresso geral que a leitura do trabalho tinha produzido em seu esprito, e se retirou levando consigo o que lhe entreguei da traduo. Alguns dias depois fomos, minha senhora e eu, sua casa em retribuio visita que nos fizera, e me recebeu dizendo-me:

Estava ansiosa por encontr-lo para referir-lhe um fato extraordinrio que me sucedeu fora de toda a expectativa de minha parte. Eu tinha lido a descrio do retrato de Jesus, prosseguiu, em uma obra que tratava dele e que muito me havia agradado, aceitando como absolutamente exato o que a seu respeito na mesma se dizia. Quando ouvi depois o que o senhor me leu com referncia ao fsico do Mestre, me impressionou muito desagradavelmente a assinalada diferena resultante da comparao que fiz dos dois retratos: o que eu conhecia anteriormente e tinha por certo e o da leitura que me proporcionou. Calei-me no obstante, dizendo para comigo mesma: talvez eu no tenha ouvido bem. Na mesma noite, logo que cheguei minha casa e me dispus a deitar-me, resolvi antes tornar a ler o retrato. Sua leitura veio confirmar o meu juzo primitivo, causando-me verdadeiro dissabor o que, sem mais demoras, considerei uma inaudita mistificao. Deitei-me sob essa desagradvel impresso, depois de haver aceso, como de costume, a lamparina da noite. Havia-me deitado h poucos instantes, quando, fixando meu olhar em um quadro de Jesus que tenho em frente ao meu leito, me pareceu que o retrato movia os olhos, olhei com redobrada ateno e o fato tornou-se-me real; os olhos se moviam sem dvida alguma e me olhavam com uma expresso to delicada e to suave, que eu no posso definir. Via ao mesmo tempo a imagem que se ia engrandecendo e destacando-se do quadro, aos poucos ia tomando corpo e assumindo vagarosamente os caracteres da realidade. A dvida no era possvel, a evidncia estava ali diante de meus olhos. E j no eram to-somente os olhos, seno o rosto todo e depois o corpo inteiro, que se via claramente no centro de uma luz difana, tenuemente azulada, que a este tempo tinha inundado todo o aposento. No centro deste claro divisava-se nitidamente uma pessoa, e esta era a pessoa de Jesus toda inteira, cobrindo naturalmente o quadro, que desapareceu por detrs de to inesperada como portentosa viso; o Mestre se deslocou lentamente para o meu lado, como que deslizando, sem tocar o solo. A luz que rodeava, com uma claridade realmente celestial, a pessoa de Jesus, me permitiu ver com preciso a sua fisionomia, sem igual por sua beleza e pelo idealismo de suas expresses. Os

seus traos, a cor de seus olhos, tudo correspondia em seus menores detalhes com os do retrato que o livro, que ele ditou, fazia do Mestre. A viso permaneceu alguns instantes diante de mim e durante todo esse tempo, e depois de seu desaparecimento, me senti inteiramente envolvida e penetrada por uma atmosfera salutar, to tnue e to suave, que nada que com ela se parecesse havia eu jamais percebido, nem sequer imaginado. Produziu-me aquilo um mstico arroubamento que me sinto incapaz de descrever. Desvanecida a apario, continuei sentindo-me como que docemente dominada por esses benficos eflvios que se tinham desprendido do esprito que me aparecera, e que produziram em mim um bem-estar at ento desconhecido, e adormeci como que possuda por um sentimento de devoo, sob a impresso de que realmente tinha sido o prprio Jesus, quem se apresentara em pessoa para testemunhar a exatido do retrato, que ele nos faz de si mesmo nesta sua histria e para dar ao mesmo tempo obra todo o cunho de veracidade que se pode deduzir de to extraordinrio fenmeno, produzido em seu favor.7 Este comovedor acontecimento deixou-me profundamente convencida que a VIDA DE JESUS, DITADA POR ELE MESMO, realmente verdica. Convm recordar que a Senhora Brignardello se havia retirado de minha casa levando um conceito desfavorvel para com o novo retrato de Jesus e que essa m disposio se tornou extensiva a todo o livro quando, relendo-o j em sua casa, disse: isto mistificao. Recolheu-se, pois, a seu aposento com essa impresso e foi sob a mesma que teve lugar o fenmeno, sob todo ponto inesperado. O mais curioso que estas aparies, as chamaremos assim, se repetiram com diversas outras pessoas, freqentemente,7 - Se supomos que estas alucinaes tm uma causa consciente que se encarregara de fazer ressaltar o valor da VIDA DE JESUS, temos de convir que o objetivo foi alcanado. A nica coisa, sem embargo, que nos conduz a essa suposio e o prprio resultado das alucinaes que, se quisssemos catalog-las como VERDICAS, nos encontraramos diante da absoluta falta de controle. A nica coisa que poderamos dizer, que existe um acmulo de circunstncias, que devido a raras coincidncias, todas elas se ajuntam para dar valor obra e comunicar-lhe um carter de elevado misticismo. A Sociedade Real de Cincias, de Londres, fez reunir e estudou uma grande quantidade de fenmenos de alucinaes verdicas e merece sobretudo ler-se a obra, que justamente com o ttulo de Alucinaes Telepticas, publicou a Comisso formada na douta associao, constituda especialmente pelos senhores Turney, Myers e Padmore. Porm tudo isso se refere a questes complicadas das quais no podemos tratar assim em passagem rpida.

durante o sono, porm outras vezes durante a viglia, com pessoas reciprocamente desconhecidas e que nessas ocasies ficaram surpreendidas pela manifestao, como no caso acontecido Senhora de Brignardello, por no terem antecedentes de nenhuma espcie a respeito e resultar-lhes completamente inesperado o fato. Porm eu s refiro a que antecede para evitar as que se tornariam inteis repeties, pois, salvo variantes de detalhe, todas elas se parecem. Como quer que seja, se v claramente do que ficou atrs, assim como do que vem relatado no belo prlogo da traduo italiana, e do contedo e estilo da prpria obra, se v de tudo isto alguma coisa como que o advento de uma era nova de labor cristo, como se o Mestre, reassumindo a direo, tome o lugar que de direito lhe pertence como encaminhador do intenso movimento espiritualista que se evidencia em todas as partes h pouco mais de meio sculo. A moral e o sentimento religioso nada so fora da idia espiritualista, nica que lhes empresta verdadeiro apoio, depois de lhes haver dado a existncia, seno que ela deve ajustar-se severamente verdade para possuir valor efetivo em si mesma. Se a idia espiritualista, para defender os foros de sua tradio, se declarasse contrria s verdades que vo descobrindo-se com o progresso das cincias, como sucede com o espiritualismo inculcado pelas religies e com o ensinado pela filosofia clssica, perderia todo o seu prestgio, porque a verdade nunca pode ser contrria verdade. Esta VIDA DE JESUS vem prestar um importantssimo servio neste sentido, deixando de lado, como no existentes, muitos acontecimentos que tornavam inaceitvel, para a maior parte dos estudiosos, a pessoa do Cristo, devolvendo-a assim realidade precisamente no momento em que se fazem os maiores esforos para releg-la categoria das lendas. Ganha deste modo a verdade e ganham principalmente a moral e o sentimento religioso, que se fundamentam e sempre devem fundamentar-se nela. Certos indivduos costumam estabelecer uma separao profunda entre o ideal e o real. Assim procedem porque ignoram que geralmente h maior realidade no que no se v, do que naquilo que se v, pois no desconhecido se encerra todo um infinito de realidade, ao passo que nossos cinco pobres sentidos s nos pem em relao com uma parte nfima do que existe; a outra grande parte para ns como se no existisse. Conformemo-nos entretanto com o que temos alcanado e com o que paulatinamente

vamos alcanando, demonstrando-nos, sobretudo, sempre sinceros, dispostos a aceitar o verdadeiro, venha ele de onde vier. Convm recordar aqui que se deve ao progresso das cincias, at agora em luta constante com todas as religies, o grande passo dado para a frente pela Humanidade. a esse progresso que se deve o rompimento das cadeias que tinham estreitamente acorrentado o pensamento do homem a preocupaes retrgradas e a doutrinas perversas, que chegaram a santificar os crimes mais horrendos da INQUISIO e a inundar o mundo inteiro em rios de sangue, com suas intrigas religiosas na Europa, com as cruzadas na sia e com a conquista na Amrica. Mas uma coisa o sentimento religioso e a moral e outra coisa so as religies. Esforam-se justamente a moral e o sentimento religioso por dirigir por caminho reto a mentalidade humana elevando-a acima dos atavismos de nossa origem bestial. No culpemos portanto a coisa alguma e a ningum do que somente fruto de nossas baixas paixes. Deixemos esse passado de oprbrios, e olhemos frente a frente, impondo a ns mesmos, como dogma essencial de nossas crenas, a obrigao estrita de fazer cada um quanto esteja ao seu alcance em favor da dignificao humana, mediante a cultura da inteligncia, a elevao do carter e o brilho de novos e alevantados sentimentos.8 OVDIO REBAUDI

8 - Este prlogo foi escrito sem ter vista as Duas Palavras do tradutor que se encontram mais adiante e que, publicadas dois anos antes, foram em verdade por mim esquecidas, devido aos dolorosos contratempos da revoluo do Paraguai, onde me encontrava ento, em julho de 1908, voltando a sofrer minha sade graves transtornos que me obrigaram a regressar a Buenos Aires. Os dois escritos refletem o meu modo de pensar, em dois momentos diferentes; eles se completam; entretanto, se os houvera recordado, um dos dois no teria aparecido. Que sejam tomados em conta do imprevisto e involuntrio, casos como este que forem aparecendo na publicao desta obra. O. R.

COMUNICAO DE SARA A HEBRIA1Haviam transcorrido muitos dias depois dos fatos referidos e nada havia eu tornado a saber de Jesus, quando tive de ir ao templo devido s festas de Pscoa, que ali se realizavam. No trio encontrei-me com algumas moas, entre as quais estava Maria, a irm: vinham desfiguradas e correndo. Eu perguntei a esta: Maria, me ds notcias de Jesus? Vem, me respondeu, se ainda queres v-lo. Corri, e todas partimos juntas. Aonde me levas? perguntei. Vem, se queres, me respondeu novamente Maria. Em meio do caminho nos encontramos com a bela Maria, conhecida pela Madalena, que chorando desesperadamente nos acompanhou, e chegamos assim correndo porta do palcio do governador de ento de Jerusalm, o qual se chamava Pilatos. Havia um gentio to numeroso diante dessa porta, que era impossvel passar, e uns vociferavam, outros batiam ferros ruidosamente, outros gritavam com voz rouquenha, enfim, jamais tinha eu ouvido uma barafunda to grande fora de irmos empurrando, chegamos ao ptio e pude ver. Deus meu! quem me houvera dito que tornaria a v-lo, ao meu Jesus, em semelhante estado? Estava quase despido, com todo o corpo ensangentado, com o cabelo e a barba em parte arrancadas, com os olhos inundados de lgrimas, porm com o semblante tranqilo; ns, as mulheres, no pudemos resistir a tal espetculo: Madalena desmaiou, Maria chorava, e eu, eu nada via j. Samos de entre a turba e para nos vermos livres mais depressa dela, atravessamos o prtico do palcio; um homem chamado Saimod estava sentado nos degraus do prtico; tinha a cabea apoiada entre as mos e grandes gotas de suor lhe corriam pela fronte e caam no solo. Eu amava muito a Saimod e por isso me aproximei dele. Ouvi que falava sozinho e parei para escut-lo: O corpo sofre, o esprito ora, o filsofo1 - Esta importante comunicao, devo-a amabilidade de meu distinto amigo, o Capito Ernesto Volpi. Nota do Sr. Rebaudi.

luta; eis Jesus. Saimod, disse-lhe eu, a quem falas assim? Apercebeu-se ento de minha presena e me disse: Que fazes aqui, Jones? Vim para ver Jesus, lhe respondi, mas, por que sucedeu isto? Vem, prosseguiu ele, agora Jesus descansa, porque seus verdugos esto cansados; vem e te contarei o que tem sucedido, porm lembra-te, Jones, que grandes coisas esto por suceder, lembra-te que acontecimentos que no tornars a ver se apresentaro hoje. Vs o sol que resplandece? Daqui a poucas horas se escurecer; vs a Terra imvel? Daqui a algumas horas se agitar. Quem te disse isso?, lhe perguntei. Os astros e o vento. Saimod era um homem original e incompreensvel, que sempre falava de um modo enigmtico; por isso nada mais lhe perguntei, restringindo-me a saber se devia permanecer com ele. Fica-te, me respondeu, at amanh. Entretanto voltou a sentar-se no degrau da escada e eu a seu lado, e no falou nada mais. Eu pus-me a olhar o que se passava ao derredor de mim. As mulheres que me acompanhavam todas tinham sado; Madalena, tendo recuperado os sentidos, entrou novamente, e se havia atirado ao solo, com os cabelos empapando-se no sangue de Jesus, chorava, chorava. Jesus se encontrava sentado ao p duma coluna, imvel como um cadver, com o olhar fixo no solo, apercebendo-se a gente de que estava vivo por um tremor que por momentos lhe percorria todo o corpo; uma infinidade de soldados dava voltas pelo ptio dirigindo palavras ignominiosas a Madalena, enquanto se riam parvoamente entre eles. Oh! Quo negras eram suas almas! Como eram maus todos eles! O pobre Jesus no os maldizia, pelo contrrio calava-se. Amigos meus, semelhantes recordaes no sabeis vs quanto me fazem sofrer; permiti-me, pois, que eu v retemperar minhas foras nos espaos superiores. Voltarei outra vez. SARA

PREFCIO DO SENHOR VOLPIEm 1885, o Antimaterialista, de Avinho, revista dirigida pelo Sr. Ren Caill, publicou esta obra obtida mediunicamente em francs. Eu recebi um volume, que ficou descansando em minha pequena biblioteca sem dar-me ao trabalho de l-la, durante algum tempo, por no atribuir-lhe valor algum. Somente quando, seduzido pela confiana que me inspirava o excelente diretor do Antimaterialista, que recomendava o livro sria ateno dos estudiosos, me pus a folhe-lo, recebendo uma profunda impresso de sua rpida leitura. Tornei a l-lo repetidas vezes, resultando aumentar cada vez mais a impresso, at chegar mais completa convico a respeito de sua identidade. O conhecimento cada vez maior que eu ia adquirindo a respeito do moderno espiritualismo me ajudava muito para formar este so critrio: Ningum, a no ser o prprio Jesus, pode haver ditado o livro que tenho debaixo de meus olhos! Do mesmo modo que, ouvindose falar de uma pessoa desconhecida para ns, da firmeza de suas expresses, conformes lgica das idias e do amor clido e enrgico, que nunca se desmente, recebemos internamente o convencimento de que ela no nos engana; idia que se converte em ntima certeza quando seus ensinamentos so ministrados com o mais completo desinteresse e em contnua harmonia com os fatos e idias que se agitam no meio das incertezas da mente e da alma; tal como aconteceu comigo diante da obra de Jesus. Em frente a ele adquire-se tambm a energia caracterstica, o amor imenso, a constante e admirvel fora de vontade que levaram ao Glgota Aquele que assim fala. Desmente a todos aqueles que querem faz-lo passar pelo nico filho de Deus, enquanto que assegura, em troca, que todos podemos chegar, depois de repetidas existncias, sua elevao, trabalhando nossa alma no sentido da luz divina. Confirma implicitamente as afirmaes do Sr. Allan Kardec, sem se referir ao coordenador, e o explica em certos pontos essenciais, que este ou no tratou ou o fez confusamente. Houve quem, sem duvidar da sinceridade da senhora

mdium, acusou-a de automatismo (qual?) e julgou poder provar que as idias manifestadas nesta obra carecem da firmeza e da elevao de idias prprias do grande e genial reformador, como igualmente combatida por aqueles que crem que Jesus o nico filho de Deus. Seria necessrio alguma coisa mais que um simples artigo de jornal para convenc-los de que todos eles se encontram laborando em um grave erro; porm no podendo faz-lo aqui, me parece conveniente referir o que disseram deste livro vrios personagens ilustres e de idade avanada, acostumados a dar com calma, s coisas, o verdadeiro lugar que lhes corresponde. Jos Zolli, um dos mil, professor de Matemtica, bem conhecido por suas obras, escreveu-me como segue a respeito da obra (veja-se II Vessillo de fevereiro de 1902): Eu li, tornei a ler e reler, muitas e muitas vezes, a belssima VIDA DE JESUS. Estou entusiasmado com ela, no tendo lido jamais uma obra mais formosa e elevada. Ela exala algo realmente superior. um livro que rene a arte santidade, constituindo talvez em sua admirvel simplicidade o livro mais esplndido. Quanto mais se o l, mais se o aprecia. O distinto advogado G. Sforza, membro do Conselho de Apelao, escreveu (veja-se II Vessillo de fevereiro de 1900): Ao comear a leitura deste livro assaltou-me a dvida a respeito da realidade de sua origem medianmica. Porm no tinha chegado ainda metade quando toda a dvida havia por completo desaparecido em virtude deste simples raciocnio: Se negarmos sua origem medianmica teremos que admitir na autora um engenho pouco comum, uma profunda cultura e minucioso conhecimento dos tempos e lugares em que se desenrolou a vida de Jesus, e tudo isto reunido a um esquisito sentimento tico, desenvolvido a tal ponto de constituir sua prpria essncia pessoal. Porm uma mulher dotada de semelhantes dotes encontra-se com toda a certeza nas condies de produzir uma obra original, e, at prova em contrrio, no ser jamais crvel que ela haja querido negar-se a si mesma apresentando uma obra alheia, cujo mrito em nada poderia corresponder-lhe. Para pod-lo crer seria necessrio ter em mos uma razo digna de to grande sacrifcio, e esta razo certamente no poderia ser o prurido de aparecer como mdium, compartindo assim uma

prerrogativa com muitas outras pessoas, muito inferiores, sem dvida alguma, aos dotes altssimos revelados pela escritora. Portanto, no existe nenhum motivo para duvidar da origem francamente medianmica deste livro. O prncipe Wisniewski escreveu-me assim (veja-se II Vessillo de outubro de 1899): Este livro a luz vinda do cu. um verdadeiro acontecimento. Finalmente, depois de tantos sofismas, contradies e supersties contidas em uma biblioteca to volumosa, que se se arrojara ao P seu curso ficaria interceptado e desviado, nos permitido ler a verdadeira vida, a verdadeira misso de Jesus, depurada das escrias da tradio com que os sculos a tm desfigurado. Tem voc razo em dizer que quem l este livro tem a sensao de estar falando com o doce Messias de Nazareth, tal o timbre de verdade que ressalta dele, verdade expressada com a maior simplicidade e o maior desprendimento da vida material, como ele o demonstrou durante sua curta estadia neste planeta. Esta opinio foi manifestada tambm pela Revista Freya (Argentina), que transcreveu uma parte dela. Deixo de citar outras revistas que se tm manifestado de uma forma sumamente favorvel a respeito da obra, para ocupar-me unicamente de LHarbinger of Light, de Melbourne (Austrlia). O Sr. James Smith, antigo e conhecido colaborador de dita revista, escreveu o seguinte (veja-se II Vessillo Spiritista de dezembro de 1899): Na VIDA DE JESUS, escrita desde o princpio at o fim por uma senhora francesa, traduzida para o italiano por Ernesto Volpi e publicada em Vercelli, se encontram muitas passagens fundamentalmente idnticas a uma srie de comunicaes que nos demonstram sua comum provenincia de uma mesma fonte, as quais foram recebidas nesta cidade (Melbourne) durante os ltimos sete anos, por intermdio de trs diferentes mdiuns de incorporao, entre os anos de 1892 a 1899 quase, e que foram empregados como intermedirios para a sua transmisso. Isto parece indicar que emanaram de uma mesma fonte. Como exemplo transcrevo aqui em colunas paralelas as seguintes palavras, que se referem a Judas Iscariote:

VIDA DE JESUS (Traduo de Ernesto Volpi) Pobre Judas! Em minhas ltimas horas, ocupaste mais que ningum meus pensamentos, e minha alma se inclinava para a tua para falar-te de esperana e de reabilitao. Perdido; costuma-se dizer perdido ao que atraioou a Jesus. Oh! No! Nada se perde das obras de Deus, todas esto destinadas a ser grandes, todas se vero honradas, embora todas comecem arrastando-se penosamente desde a falda da montanha, para iluminarem-se depois com a chama divina ao chegar l em cima.

VIDA DE JESUS Obtida medianimicamente em Melbourne (Austrlia) Pobre Judas! Agora eu tenho piedade e lgrimas para ele. At agora todos o tm caluniado e injuriado como a um imperdovel traidor. No obstante deviam compadecer-se dele; entre-tanto, ningum tem, em troca, uma lgrima para o pobre Judas. Eu que fui atraioado por ele, perdoei-o desde ento; ele progrediu depois, convertendo-se em mestre como ainda o , se bem que no costume revelar seu nome quando se comunica, devido marca cruel de oprbrio com que o homem o assinalou. Saibam eles que nem uma s alma ser ou poder perder-se e que entre os anjos puros e gloriosos que so dignos de se encontrarem em presena do Pai, no h um s que no tenha pecado e sofrido, que no tenha palmilhado o duro caminho do po da tribulao, exatamente como eu fiz.

Temos que relembrar aqui que, segundo as duas vidas de Jesus, Judas no atraioou por cobia de dinheiro, seno por cimes, por inveja das preferncias de quem eram objeto por parte do Mestre, Joo e Pedro. (Veja-se II Vessillo de novembro 1899.) O Sr. James Smith, entre outras coisas, disse o seguinte: Entre as muitas passagens notveis deste livro precioso, ressaltam esses vivos retratos que Ele faz de Joo Batista, de Salom, esposa de Zebedeu, de Scrates (precursor do Nazareno), de Maria de Betnia, de Maria de Magdala, do apstolo Marcos, de Pncio Pilatos e de outros personagens do Novo Testamento, pelos quais se adquire uma idia mais clara e mais definida nesta VIDA DE JESUS do que nos mesmos Evangelhos, que no nos do seno um simples esboo, ao passo que nestes retratos vemolos quase como se estivessem vivos. Pelo que diz respeito, por outra parte, eloqncia caracterstica que se destaca em toda a obra, a essa unidade essencial que domina em todas as suas partes, a essa sublime eliminao do Eu, jamais olvidada na constante adorao para o Pai, dele e de todos os homens, nesse sentimento divinamente admirvel de religio e de moral que inculca, eu no me atrevo quase a falar com essa entusistica admirao que a religio deste livro me tem inspirado por temor de que me acusem de exagerado. Seria uma verdadeira desgraa para os espiritualistas da GrBretanha, dos Estados Unidos, do Canad, da Austrlia, da Amrica do Sul, Frana, Espanha, Alemanha, ustria, Hungria, se este livro no fosse traduzido em ingls, alemo, espanhol e novamente em francs, tendo-se perdido o original e no existindo mais exemplar algum seno o conseguido por mim. Havendo-me, naturalmente, assaltado a dvida de que os mdiuns de Melbourne tivessem podido chegar a conhecer o livro A VIDA DE JESUS, escrevi ao Sr. James Smith, rogandolhe que me tirasse as dvidas a respeito. Eis sua resposta com data de 15 de agosto de 1901: Respondo a sua pergunta sem perda de tempo: completamente impossvel que qualquer das trs mdiuns (uma delas faleceu) pudesse conhecer o contedo de seu livro, porque as duas vivas so analfabetas, e a morta pouco lhe faltava para ser. Nenhuma delas conhecia uma nica palavra de francs nem de italiano. Sucedia, at com freqncia, que elas no

compreendiam as comunicaes que se recebiam por seu intermdio, como mdiuns falantes, sempre superiores sua limitada compreenso. James Smith acrescenta: Peo-lhe que desculpe minhas tentativas imperfeitas para escrever o italiano, ao transmitir-lhe estas mal traadas linhas dando-lhe a ltima comunicao recebida do Mestre do Crculo1 em presena de vrios visitantes estrangeiros: Queridos filhos, uma vez mais me encontro entre vs, onde quer que se encontrem coraes amorosos, eu me apresento. Alguns homens costumam dizer que eu no posso vir Terra. Mas, por que no? S por uma m vontade de receber-me. Se o cordo magntico fosse bastante forte, aquele que agora vos fala, viria com muito prazer transmitir-vos as palavras de ternura que vos traz de nosso Pai. Alguns me chamam filho de Deus; mas, no sois todos filhos de Deus? Credes que o Pai tem filhos preferidos? Jesus de Nazareth no mais querido do que o pauprrimo ser que se arrasta sobre a Terra. Deus ama todas as coisas que criou, desde o mais pequeno inseto at s obras mais grandiosas sadas de suas mos. Por isso todos so seus filhos, todos so iguais em seu corao divino. O sol resplandece igualmente sobre os maus e sobre os bons e vivifica todas as coisas belas e teis ao homem, para o sustento e a alegria de todos. No julgueis nunca impossvel que Jesus de Nazareth se comunique convosco sempre que faais vibrar as cordas da simpatia e do amor. Eis-me aqui, estou vivo. Ah! Quanto me aflige a nova crucificao que me fizeram sofrer os homens ao pretenderem fazer-me igual ao Pai para adorar-me como a Deus! Que sacrilgio! Que profanao! Que grande blasfmia a de adorar a criatura em lugar de Deus! No acrediteis que mais surpreendente minha volta Terra que a de vossos parentes e amigos. A mensagem que vos trago a mesma que trazia nos tempos antigos.1 - Esprito-guia.

Amai-vos uns aos outros, e ajudai-vos a carregar os vossos respectivos fardos. Rogo a vosso Pai que vos abenoe e vos ampare agora e por toda a eternidade. Deste modo, verifica-se que os nossos antpodas tiveram manifestaes de tal natureza a no deixar dvida a respeito da autenticidade da obra medianmica VIDA DE JESUS, escrita por uma mdium annima francesa sob o ditado do Messias Nazareno, manifestaes superiores s apresentadas pelos Evangelhos e at os esclarecem em diversos pontos. Na Europa me apraz citar: 1 Sara a Hebria (Anais do Moderno Espiritualismo, pgs. 114, 148, ano 1873) em que se descreve o tremendo tumulto produzido pelo povo diante de Pilatos, confirmando com isto nossa comunicao; 2 Herculanum, livro medianmico (2 volumes) de Wera Krijanowski, filha do general do mesmo nome, que vieram esclarecer algumas passagens dos Evangelhos, entre aquelas que, pelo lugar e as circunstncias, lanam muita luz ao sermo da montanha, tal como o indica a comunicao referida. Recentemente a Sra. Wera Krijanowski recebeu a nomeao de oficial da Academia Francesa. Os dois mdiuns citados no conheciam a VIDA DE JESUS. Convm citar tambm o Sr. Aquiles Brioschi, que embora sendo completamente contrrio ao esprito do livro, porquanto cr que Jesus o nico filho de Deus, me escreveu no obstante em 1899 o seguinte: Fao-o ciente que ns tambm temos comunicaes sumamente favorveis a esse livro, obtidas pela mediunidade de uma senhorita, alm de instruda e inteligente, mdium vidente, as quais afirmam que o livro far muito bem e que foi obra meritria public-lo. Esta senhorita goza da fama de santa. O sacerdote Guido Piccardi, to contrrio obra elogiada por sua convico de que Jesus o nico filho de Deus, e tendome escrito sobre este particular, como o declarei no Vessillo de agosto de 1899, teve mais tarde que revelar-me que havia recebido repetidas manifestaes medianmicas sinceras e contrrias ao seu modo de pensar. No quero tambm esquecer a distinta Virgnia Amlia Marchoni, professora, que eu via pela primeira vez, e que,

procurando amavelmente responder a uma pergunta minha de carter espiritualista, caiu de improviso em transe, empalidecendo intensamente e enfraquecendo-lhe a voz e me disse que era realmente de Jesus a obra que me interessava. Comprovei de uma maneira a no deixar lugar a dvidas o estado de transe em que se encontrava a distinta senhorita, que ao tornar a si recuperou sua voz e suas cores naturais. Eu possuo um quadro medianmico feito a lpis pelo mdium Favre e que representa a cabea de Jesus, em cujo anverso tinha o costume de escrever o que resolvia levar a cabo, sem fazer-lhe depois correes. Depois de quase quatorze anos que eu possua a VIDA DE JESUS DITADA POR ELE MESMO mdium Sra. X... e depois de algum tempo que acariciava a idia de publicar sua traduo, efetuada por mim, despertei uma manh com a resoluo firme de lev-la imediatamente tipografia. Levantei-me, coloquei o quadro sobre uma mesinha com o propsito de escrever no anverso do retrato a promessa solene de efetuar minha deciso to depressa estivesse vestido. Enquanto me vestia lancei um olhar sobre o quadro, cuja cabea tinha mudado de aspecto e de posio, oferecendo-se-me vista uma verdadeira cabea vivente. Ela se dirigia docemente para o cu com uma intensa expresso de adorao e de prece; porm o que mais me impressionou foram seus olhos de uma expresso sem igual, midos, dirigidos para as regies supremas, cheios de uma alegria indescritvel. Escrevi minha promessa e a primeira traduo veio luz. Assim, depois de trinta anos de constantes estudos, dos quais doze passei-os como diretor do Vessillo Spiritista, em meio do progresso lento porm seguro, de nossas doutrinas, passando por cima de muitas, banais e grosseiras mistificaes, s quais desgraadamente oferecem oportunidade estas matrias; tomando nota do que dizem cientistas e no cientistas a respeito do Moderno Espiritualismo que Deus os ajude! afirmo com