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Vida em verso

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Poemas de Paulo Henrique dos Reis Júnior, reunidos nesse livro.

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O sono profundo nos faz mergulharNum lugar onde nada desejamos,

além da paz do mar.Brisa, sol e poesias,

Essa é a nossa alegria.

O amor de outrora foi aprisionado,Em um pequeno baú e lançado num lago.

Aguarda um herói destemido que lhe salve,

Para que o brilho se propague.

O tempo é inimigo do espaço,Faça planos, crie um laço.

Não contente-se com o que é fugaz,Sinta, ouça, seja mais.

A escolha é a sina do navegantes,Buscam dominar águas cintilantes,Contar histórias num barco à velas,

Preocupar-se menos com as mazelas.

Coração do Oceano

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Meu coração é de pedra,Lanço meus sentimentos ao mar

E vejo-os afundarNum redemoinho de sonhos...

(Dez) ilusões

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Palavras são escravas,Escravas de nossas vontades,Do nosso medo de esquecer,

Da evanescência.

Histórias viram memórias,Memórias transformam-se em histórias,

E as palavras continuam presas,Sem chance de escapar.

O que seria da humanidade sem as palavras?

Valorizaria mais os sentimentos?Os gestos teriam mais importância?

O esclarecimento chegaria ao fim?

Ode à Maiêutica

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Filosofias, grandes pensamentos,Jamais serão maiores,Que os pequenos gestos cotidianos,Dessa brasilidade sem igual.

Rio de Janeiro,Carnaval em Fevereiro,Águas de Março,Deixa falar.

Literatura rotineiraVive o morador suburbano.Intrigas, casos, notícias,Cidade liquefeita.

Misturam-se vidas, histórias,Culturas, bebidas, Baixada e Zona Sul.Meninas descabeladas, pretos nascalçadas,Definem a memória Guanabara.

Sorrio, sou Rio

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Eu sou o oceanoQue deságua no abismoDas decepções da vida,No qual espero resgate

No meu Tártaro sem fim.

À Beira do Infinito

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Meu sonho está nas estrelas,Dizem que é impossível alcançar.

No meu mundo, ao qual só eu pertenço,Hei de um dia chegar lá.

Vilipendiaram-me por todo o caminho,Isolaram-me numa Caixa de Pandora.

Não obstante, meu reino chegaráE aclamarão boquiabertos minha vitória.

As flores que planteiCompartilhei com os que não me

anistiaram.Se agora estou sorrindo,

Foi porque muitos, comigo, choraram.

Nos meus versos fica a saudadeDas coisas que nunca vivi.Mas já sou um vencedor

Desde o dia em que nasci.

Elegia de Vênus

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Estou farto de mim,Estou farto de todos.

Os problemas nos engolem vorazmente,E nossas vidas continuam, simplesmente

continuam.

Oh, meu Deus, não me deixe perder a fé,Pois é a única coisa que ainda me

sustenta!Mas e o amor? Este não era para ser

constante?Porquê não consegue ofuscar a fé e a

esperança?

Tremores de solidão enervam meu corpo,Meu espírito transcende a Via Láctea,

Tudo isso por querer sempre ser notadoE não perceber que só o que notam é o

palpável.

Antes do começo, havia a essência

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Solidão, solidão, como teu perfume é doce e inebriante!Tu és necessária nesse martírio sem fim.Mesmo que me jogues em teu abismo eterno,Acabamos sempre de mãos dadas a vagar pelas elegias.

Enegrecer

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Nobreza de espírito,Devassidão de corpo,

Matar por instinto,Morrer de transtorno.

Sentimentos trancados no coraçãoVêm à tona no verão,

Para de novo desfrutara profundidade do mais sublime olhar.

Renascimento

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As sacerdotisas são o espelho da terra-mãe,Brumas guardam a magia inalcançável aos mortais,E uma melodia tão nobre e puraPaira nos ares da Britânia.

Já tentaram tudo para destruí-la,Não obstante a Grande Deusa jamais falhouE mesmo nos tempos de guerra,Quantos inimigos sucumbiram ao fio da Excalibur!

Meu coração faz parte desta magnífica história,Cheia de mistérios e fantasias.A distância não me faz desistir, pelo contrário,Só me faz ficar cada vez mais intrínsecoÀ celestial energia de Avalon.

Para além de Avalon

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Pedir perdão pelo que não se fez,Se desculpar por ser você mesmo,

Essa é a vida do príncipe,Ofuscado pelo ouro dos tolos.

Envergonha a corte por falar demais,Desaponta o clero por ficar calado.

Essa é a vida do príncipeQue é criticado por todos.

Culpado por amar os desamores,Condenado a sofrer no gelo eterno,

Essa é a vida do príncipe,Arrancado de sua terra-mãe ainda novo.

Ter a pele escura é um crime,Viver de aparência é o que importa,

Esse é o pecado do príncipe,Crucificado pela ira do povo.

Raiz da existência

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Loucura, sedutora loucura!Leve-me contigo para longe da lucidez,

Pois ela há de transformar todos em fantoches

Nesse teatro moldado pelo destino.

Somos espectadores de nossos sonhosSequestrados e afugentados pelo medo,

Levados para o Mundo InferiorPara junto do titã temporal.

Perdemos tempo querendo ser arlequim,Nossa vida jamais terá valor em si,

Afinal, quem não quer ser aplaudidoPor uma plateia pomposa e hipócrita?

BetelgeuseRigel

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Devaneios, anseios e desejos,Batalhas cognitivas sem fim.

O Universo não se conforma com minhas robinsonadas

Nas florestas do espírito meu demônio se perde.

A frivolidade é irmã gêmea da vaidade,A carapaça ofusca o besouro.

Já que a humanidade é desumana,Então vamos democratizar as misérias.

Olhe ao redor, a sensatez clama.O 12º planeta se faz presente,

E o sonho de ser alguémFoi engolido pelo abismo do nascimento.

Temores, dores e desamoresQue o silêncio solitário traz consigo,

Não passam de erros constantesQue se cristalizam na essência do Ser.

Rigel

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Sonhar, imaginar, cinemalizar,Os prazeres ganham vida no momento.Uma cena, uma música, um gesto,Seja de alegria, ansiedade ou sofreguidão.

A Doce Vida é belaPara não se encontrar Uma Linda Mulher.Faça Tudo por Amor,Não deixe Rastros de Ódio.

Fuja para a Cidade das Crianças,Se perca com Alice no País das Maravilhas,Bole o Plano Brilhante,Liberte-se dos Cães de Aluguel.

Aproveite o Dia Depois de Amanhã,Colha as Pequenas Flores Vermelhas,Pois chegará o tempo em que vamos dizer:“E o Vento Levou”.

Cinelogia

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O Maravilhoso Mágico de OzPerdeu-se no Mundo de Sofia,

Estava a esperar a Menina que Roubava Livros

Para apresentá-la ao Corcunda de Notre-Dame.

Contavam-se as Crônicas de NárniaPara os moradores da Cidade do Sol,

Até que presenciaram o Rapto do Garoto de Ouro,

E passaram a ver a Vida Como Ela é.

Invadido foi o planeta do Pequeno Príncipe

E este ficou admirando a Hora da Estrela,Que passava numa Odisseia tão rápida

A ponto de não deixar marcas nas Areias do Tempo.

Abriram o Diário de Annie FrankE leram suas Confissões

Para um Shakespeare apaixonado, onde dizia:

Desculpa se te chamo de amor.

Constelação para Recordar

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Em uma noite escuraFantasmas assustam,

Lobisomens uivamE monstros rastejam.

AmedrontandoA criança acordada eles estão.Passos no vazio são ouvidos,A angústia é companhia real.

Ela corre para o quarto,Procura refúgio,Solta um grito,

Busca uma última solução.

A única saída é enfrentá-los,Não passam de transcendências irreais.Quando de repente, quase vencida, diz:

Vamos juntos para as sombras do medo?Até amanhã, quando o sol raiar.

Lenda Viva

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Conheci uma meninaQue é bem pequenininha.

Sua beleza é singular,Perco-me no seu olhar.

Dei-lhe um sapatinho de cristalPara dançarmos sob o luar astral,

Ao som das doze badaladasFaremos o nosso conto de fadas.

Ela parou, pensou e disse:“Vamos fugir!”

Eu respondi: tudo bem,Não tenho mesmo aonde ir.

Ao Eldorado nossos caminhos seguem,Pelo Universo, com as leis que o regem.

Essa menina pequenina,Deu fim à vida minha severina.

Princesa do Destino

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Esqueça a razão,Não pare para pensar.Viva para sentir,Sinta para viver.

Não perca tempo planejando,Simplesmente aja.Sonhe a realidade,Realize o sonho.

Sorria, brinque, alegre-se,Faça cada momento valer a pena.Lembranças para recordar,Recordações para lembrar.

Antes de partir, deixe saudades,Escreva um poema.Porque as palavras,São um gesto de amor.

Epifania

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Um sopro, um toque, um choro.Ligeira como uma raposa,Fugaz como um lampejo,

Chega e vai embora sem dizer adeus.

Antes que a chama se apague,Antes que a janela se feche,Ela vem com a brisa tépida

E nos leva a passear.

O espelho não reflete seus olhos,Com um beijo diz “olá!”E com um afago clama:

Venha comigo.

E ainda há quem digaQue encontrá-la é inevitável,Pois sua voz cálida e terrível

atinge até os mais fortes de espírito.

Héstia

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Um diamante selvagemcortejado pelos que não o merecem,Achará seu destinoJunto às pérolas do mar.

A flor que nasce com espinhosNão deseja ficar intocada,Quer que o louco se arrisquePara a leveza de seu perfume sentir.

Não olhe para trás,Siga essa flecha sinuosa,Pois ela há de recompensarOs que se jogam aos devaneios.

Assim como os tesouros,Que estão para os grandes navegantes,Só encontrará seu brilhoQuem por ti se entregar.

Todo o mel da flor

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Não contemple a LuaFaça melhor,

Vá para junto dela,Alcance-a.

Busque a luzE ilumine,

Busque os céusE voe.

Vire o medo do avesso,Transforme-o em esperança,

Pois refletir a féÉ o caminho para a glória.

Olhe para si,Não lamente os erros,

Recomece o hojeE faça valer a pena.

Espelhos

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A memória do futuroTemos de construir agora.Se viver não tem sentido,Mergulhe nos amores.

Encontrei uma flor,Faço dela minha razão de existir.Deixei-a brilharE ela sorriu para mim.

Enquanto não me faltar o fôlego,Jamais deixarei que lhe caia uma pétala,Seu perfume exalaráPela eternidade e além dela.

Ode a uma Flor

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Filmar a literaturaÀ medida que escrevemos o teatro,

Para interpretar a esculturaE moldar a pintura.

Pintemos a dança!Sem deixarmos de dançar a música.

Vamos cantar a arte,A arte pela arte!

Parnasianos Modernos

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Gravidade,Magnetismo,Amor...Estranhas forças de atraçãoNão podemos ver,Apenas sentir...Como a brisa que nos afaga,Como o calor que nos conforta...

Presunção humana medir o infinito?Hipocrisia não pensar Deus?Ciência,Filosofia,Religião,

Necessárias ou não?

A Maçã

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Os sentimentos se transformamComo lagartas em borboletas.

Não prenda o amor,Solte-o, deixe-o voar.

Deus nos quer firmes além do templo.Guarde a aparência,Preserve a essência,

Fique com um só Eu.

Deus nos quer constantes além do tempo.Os dias passam,

Com eles vamos,As marcas ficam.

Nosso destino está escrito,Existimos para viver,Vivemos para existir,

Essa é a nossa sina.

Além do tempo, além do templo

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Tranquilize-se.Se queremos um ao outro,A distância então diminui,Resume-se a um pensamento.

Olhe para as estrelas,Ou para o infinito,E você perceberá,Que estou mais próximo do que imagina.

A esperança é menos importante que o amor,Mas ela nos ajuda a perceberQue o encontro é inevitável.Deixe-se levar.

É tempo de escrevermos a história sem fim,Transforme o medo em confiança,Pois as coisas só acontecemPara os que não deixam de sonhar.

Natureza Viva

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Quem tem asas é livre,O voo é filho da liberdade.

Algemas?Quebre-as.

Seja um besouro,Voe pelas flores,

Seja um viajante,Voe pelos amores.

Seja uma abelha,Voe pelo mel,

Seja uma águia,Paire pelo céu.

Até mesmo um cometaNo espaço sideral,

Você deve imitarPara não deixar cair o seu astral.

Através do horizonteÉ onde está o seu caminho.

Então voe, voe, voe.Voe como um passarinho!

Passarinho

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Quando no inícioUns comeram o fruto do conhecimento,Outros não se contentaram,E comeram o da ignorância.

A Ordem foi suplantada pelo Caos.A maldade semeada por homensAfogou o mundo em trevas,Trevas de solidão.

A guerra entre a vida e a morte começou,E até o fim dos tempos continuará,Enquanto houver uma almaPara ser disputada.

Luz e Sombra

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O paradoxo da vidaConsiste em acorrentar as escolhas

E defender uma liberdade finita,Presa pelas limitações do destino.

Destino este que não permite alternativa,A fuga não é possível,Correr só adiantará

O encontro com o inevitável.

O acaso não passa de um equívocoQue só existe no imaginário.

Pois o universo é um quebra-cabeçaOnde tudo se encaixa.

Mistérios? Continuarão.Não cabe a nós medir o princípio e o fim

Seja nos planos terrestre, astral ou etéreo,

Viver é preciso.

Tesouro de Lótus

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Estruturas,Formas,

Maneiras,Estilos,Modos,Regras,

Métodos,Critérios,

Leis,Padrões,

Identidades,Normas,Sentidos,Razões,Lógicas,

Alguém faça o favorDe levá-los de volta para a linguagem que

os pariu?

Amarras

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A variação é constanteNo plano onde a contradição impera

Propositalmente ou não,Somos fadados às mudanças do Eu.

O sagrado e o profano vivem em nós,Surgem numa explosão de estímulos,

Digladiando-se a todo instanteA fim de nos dominar.

Sabedoria e loucura,Gêmeas de nascimento.

Uma criada no luxo,Outra no lixo.

A presunção,Assassina da timidez,

Se faz necessáriaEnquanto tentarem nos controlar.

Avessos

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Num dia faz solNo outro nem dó,Entre sustenidos e bemóisNão há tempo para si.

Talvez cheguemos lá,Se não dermos réSe as notas não se perderemNum caminho agudo.

Graves são os problemasSob ritmos e desafinos,Escalas que nos rondamCom a melodia dissonante.

Esqueça a harmonia,Abandone a métricaApenas siga o compassoE delicie-se com o silêncio.

Sinfonia do Caos

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Inventaram as emoçõesMas nos proíbem de usá-las.

Plantam mentirasE colhem verdades.

O espírito quer liberdade,O corpo escravidão.

A realidade é o presídioQue acorrenta as ilusões.

Desculpas para guerrear,Licenças para assassinar,

A morte de longe só observa,Pois será a única sobrevivente.

A ruína dela também se aproxima,A vida clama por seu sangue.

E assim, a morte suicida-se,Dando fim a toda injustiça.

Ironias

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Palavrões,Palavrinhas,

Um mundo onde um “porra” é crimeE a miséria é problema de Estado.

Dimensões

Meta a Linguagem

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Que realidade é essa,Onde as liberdades nascem cativas,

Sob condições mais numerosasQue as estrelas do céu?

Meta a Linguagem

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Entregaram o amorNas mãos dos burocratas,E já não é mais possívelSe apaixonar sem cerimônias,Presentes,Certidões,Publicidades,Carimbos,Alvarás,Quando a única coisa necessáriaÉ a vontade de fazer alguém feliz.

Regressão

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Gauss na Matemática,Beethoven na Música,

Hegel na Filosofia,Einstein na Física,

Freud na Psicanálise,Weber na Sociologia,

Bohr na Química,Brecht no teatro,

Rugendas na Pintura,Goethe na Literatura,

Chaplin no Cinema,Lutero na Religião,

Rosa Luxemburgo na Revolução,Tantos gênios

E a vida resolve premiar a AlemanhaCom Hitler,

Mestre da patifaria e da perversão.

Equilíbrio

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Inconsequências, incongruências, coincidências,Como entendê-las?Sentimentos racionais,Ou razões sentimentais?

Ela é música,Ela é poema,Ela é pintura,Ela é cinema.

Uma dama que faz melodia,Faz bemol,E faz sustenido.Porém não faz sentido.

Me cativou com um sorriso,Chegou aqui de mansinho,E com muita singeleza,Me apresentou sua beleza.

Deixo os versos, guardo os beijos,Fico quieto, sinto desejo,Respiro fundo, tenho anseio,Moça bonita, em meus sonhos lhe vejo.

Diamante Carioca

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Cidade em lágrimas,Misérias à tona,

A tristeza consola,E a esperança desmorona.

Destino incerto,Sonhos afogados,Sombras eternas,

Planos frustrados.

No caos, há poesia,Nas dúvidas, conhecimento,

Nas ruas, lamento.

Glosas, decassílabos,Sonetos, elegias,

Apenas descrevem a agonia.

Soneto de Véspera

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Vazio,Nada,Éter,Alma,Espírito,Ideia,Silêncio.Falam mais que palavras.

Página em Branco

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No Brasil há solo fértil,Terra onde tudo floresce.

Planta-se ignorância,Nasce miséria.

A soja está para o gado,Assim como o feijão para o lavrador.

Numa labuta incessante,Nos engordam para o abate.

Passou a Idade Média,Mas o mecanismo permanece.

Os padres rezam, os políticos guerreiam,E os trabalhadores... Trabalham.

Nas favelas, mãos à obra,Nos condomínios, lazer e luxo,

No parlamento, os discursos,Nas ruas: fumaça e lixo.

Nuvem

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Saudades, dores,Brilhos, amores,Jardins sem flores,Mundos e cores.

Um perfume, um acorde,Evocam lembranças do tempo que dorme,Quando a inocência reinava,E a brincadeira jamais cessava.

Época de passear no bosque,De roubar doces,Admirar peixinhos,Chorar com professores.

Foi-se a infância, a ternura,Ficou a memória,Dias que não voltam,Ventos que não sopram.

Chegará a velhice,Virão os netos,Dessa história não esqueceremos,Pois será eterno o afeto.

Castelo de Areia

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Rótulos,Títulos,

Identidades,Definições,

Nos guiam à paralisia.Metamorfoses,

Mudanças,Ventanias,Estações,

À fantasia.

Deuses e Homens

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Internet faz poema?Eis o dilema.E-mail cura doença?Mais um problema.

Divulguem abraços,Que voltem os amassos,Joguem conversa fora,O tempo é agora.

Orgasmo digital

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Não há justiça na imperfeição,Tampouco nobreza na pobreza.

Indivíduos solitáriosNão largam mão da avareza.

Nem todos os caminhos levam à Roma.Alguns te induzem ao coma.

Amor e ódio,Duas faces do ópio.

Embriaguez, insanidade, porres,Só vive quem morre.

Viver faz parte,Morrer é uma arte.

Violência é não falar,Burrice é não sentir.

Espírito a flanarPela estrada a seguir.

Madrugada

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Um dedo de prosa,Um corpo de soneto,Um braço de glosa.

Uma palhinha na sanfona,Uma parte no cavaquinho,

Uma moda de viola.

Pedaços

Manifesto do Espírito

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Romances,Lendas,Contos,

Crônicas,Fatos,

Trovas,Mitos,

Cartas,Partituras,

Diários,Perca a cabeça,

Mas não perca a caneta.

Manifesto do Espírito

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Seguro de certezas,Andar pelas veredas,Não aguento o pranto,Choro num banco.

Palavras miscigenadasE árvores almiscaradas,O feitiço do tédioQue se lança do prédio.

Há poeira na estante da memória,Ser assombrado por um passado sem glória.Adoecer com a expectativaDe evitar uma morte vazia.

Semanas sentado no sofá,Na mão apenas uma xícara de chá.Na primavera, tudo floresceu,Nada ainda aconteceu.

O quê você fez?

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Idade MédiaOu Idade Inteira,

Não importa onde,Sempre se falou besteira.

Oriente PróximoE Ocidente Distante,

Os segredos do mundoNão são para os iniciantes.

Jogo de Palavras

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Quiseras tu o quê não podia,Dormiras onde cama não havia.Comera o pão que o diabo amassava,Fizera cartas que eu queimava.

Sentara num barco que navegava,Partira e para trás não olhava.Mergulhara no mar que se lançava,Remara e não o alcançava.

Cantava,E se escondera.Meditava,E aparecera.

O horizonte nascia,A noite morrera.Da proa tudo se via,A bruma desaparecera.

Mais-que-imperfeito

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Pessoas, objetos.Programas, dejetos.

Natureza, afetos.Lugares, estradas.

Tradições, amarras.Carnaval, fanfarras.Carreiras, escolhas.

Paixões, caolhas.Problemas, garoas.

Minimalismo

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Editora 421ª edição2015

www.editora42.com

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