Vida Pastoral 305

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Revista católica bimestral.

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    setembro-outubro de 2015 ano 56 nmero 305

    Permanecei no meu amor para dar muitos frutos (Jo 15,8-9):introduo ao Evangelho de JooCentro Bblico Verbo

    Eu sou o Bom Pastor: uma leitura de Jo 10,1-21Shigeyuki Nakanose, svd

    A ressurreio de Jesussegundo a comunidade joanina: uma leitura de Joo 20,11-18Maria Antnia Marques

    Animao bblicada pastoral (ABP) e o Jubileu do Vaticano IIDcio Jos Walker

    Roteiros homilticos Celso Loraschi

    Ms da Bblia:Evangelho de Joo

    VENDAS:11 3789-4000 | [email protected]

    CAMPANHA MS DA BBLIAEm todas as PAULUS Livrarias, distribuidoras, lojas especializadas e site.

    De 3 de agosto a 30 de setembro de 2015.

  • O testemunho

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    Centro Bblico Verbo

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    VENDAS:11 3789-4000 | [email protected]

    da luz

    Permanecei no meu amor para dar muitos frutos (15,8-9)Entendendo oEvangelho de Joo

    Caminhos para compreender Joo

    Vocabulrio teolgico do evangelho de Joo

    Este livro um convite para retomaro caminho, a verdade e a vida de Jesus. Cria um espao propenso Palavra do Senhor por meio do estudo bblico. Ideal para comunidades pastorais e catequese. um subsdio para o ms da Bblia de 2015, dedicado ao Evangelho de So Joo.

    Juan Barreto / Juan Mateos

    Um volume para familiarizar-secom a linguagem de Joo e entender o pano de fundo judaico e o sentido simblico dos termos prprios de seu Evangelho.

    O testemunhoda luzda luzO testemunhoda luzO testemunho

  • vidapastoral.com.br

    Caros leitores e leitoras,Graa e paz!

    Neste ano, o livro proposto pela CNBB para aprofundamento no ms da Bblia o Evangelho de Joo. O lema escolhido Permanecei no meu amor para produzir muitos frutos, e o tema, Discpulos missionrios a partir do Evangelho de Joo. O mandamento do amor de uns para com os outros, sinal do discipulado, o principal legado do Evangelho de Joo. No se trata de um amor qualquer, lembrando que a palavra amor muito banalizada e usada para tudo em nossos dias. Trata-se de amor que tem como meta e como ideal o amor de Cristo. A vivncia desse amor nas comunidades crists e dos cristos para com o todo da criao a principal fora missio-nria. Como tem repetido o papa Francisco, a Igreja cresce no por proselitismo, mas pela fora de atrao que vem do testemunho.

    Aspectos muito concretos do contexto da co-munidade de Joo ocasionaram a nfase dada ao mandamento do amor e a busca por fortalecer e aprofundar a f. A comunidade era formada por significativa diversidade: judeus convertidos, sa-maritanos, pagos convertidos, galileus, pobres, ricos, membros do grupo de Joo Batista. Isso exigiu maior abertura para conviver com pessoas de mentalidades diferentes. A convivncia e os vnculos de fraternidade foram possveis por meio do amor, fora capaz de ultrapassar as bar-reiras e preconceitos e ideal de uma nova aliana baseada na solidariedade. A comunidade tam-bm era marcada por conflitos e perseguies por parte das autoridades judeu-farisaicas e do imprio romano, alm de manter divergncias com outras correntes filosficas e religiosas. Tan-to pela diversidade cultural como pelos conflitos e dificuldades gerados pelas perseguies, a co-munidade precisou aprofundar os laos de amor e a f para resistir e manter-se fiel.

    Aps a guerra dos judeus contra os romanos (66 d.C.), sobreviveram os fariseus e os judeus

    cristos. Jerusalm e o Templo foram destrudos, e a vida dos habitantes da regio foi desestrutu-rada. O grupo dos fariseus assumiu a liderana, aliou-se aos romanos e procurou firmar uma identidade, expulsando os judeus cristos das sinagogas e perseguindo-os. Exigiam o cumpri-mento minucioso dos seus 613 mandamentos, situando a lei acima da vida e das pessoas e exi-gindo, para a purificao, ofertas e tributos. Causaram com isso muita opresso, pois grande parte do povo no tinha condies econmicas para tanto e era considerada impura.

    Nesse perodo surgiu o Evangelho de Joo, ao longo do qual, em suas entrelinhas, se percebe o conflito e a hostilidade entre luzes e trevas, entre a comunidade e o mundo expresso usada para se referir ao sistema social injusto que se opunha ao projeto de vida trazido por Jesus e assumido por seus seguidores. O Evangelho oferece uma ca-tequese, orienta e anima a comunidade para en-frentar essa situao, salienta a soberania e a di-vindade e humanidade de Jesus, o bom pastor que cuida de seu povo sofrido e o conduz; o po da vida eterna, da vida em abundncia. O cami-nho, a verdade e a vida Jesus, e no um conjun-to extenso de regras. Ressalta-se que no basta procurar Jesus superficialmente (6,25-29); pre-ciso crer e aprofundar essa adeso, assumir o mandamento do amor e as consequncias (15,18). Perante os 613 mandamentos dos fariseus, temos, no Evangelho de Joo, o nico mandamento do amor e a constante nfase na vida.

    Procuremos iluminar a conjuntura atual com o Evangelho de Joo, tendo presente seu contexto e o nosso, uma realidade tambm marcada por conflitos e adversidades, divises, preconceito e dio, grande desigualdade social e diversidade cultural, laos afetivos e comuni-trios frgeis, crise de f.

    Pe. Jakson Alencar, sspEditor

  • Revista bimestral para

    sacerdotes e agentes de pastoral

    Ano 56 nmero 305

    setembro-outubro de 2015

    Editora PIA SOCIEDADE DE SO PAULO Diretor Pe. Claudiano Avelino dos Santos Editor Pe. Jakson F. de Alencar MTB MG08279JP Conselho editorial Pe. Jakson F. de Alencar, Pe. Zulmiro Caon,

    Pe. Claudiano Avelino dos Santos, Pe. Paulo Bazaglia, Pe. Darci Marin

    Ilustrao da capa Lcio Amrico de Oliveira Ilustraes internas Lus Henrique Alves Pinto Editorao Fernando Tangi

    Reviso Caio Pereira, Alexandre Santana, Iranildo Bezerra Lopes Assinaturas [email protected] (11) 3789-4000 FAX: 3789-4011 Rua Francisco Cruz, 229 Depto. Financeiro CEP 04117-091 So Paulo/SP Redao PAULUS So Paulo (Brasil) ISSN 0507-7184 [email protected] www.paulus.com.br / www.paulinos.org.br vidapastoral.com.br

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    Permanecei no meu amor para dar muitos frutos (Jo 15,8-9):introduo ao Evangelho de JooCentro Bblico Verbo*

    Diante do contexto de perseguio e

    sofrimento, a comunidade joanina

    precisou manter viva a f e o amor

    mtuo. Permanecer fiel ao projeto de

    vida plena traduzida em casa,

    comida, sade, integrao social e

    laos fraternos alicerados no amor e

    na solidariedade s foi possvel por

    manterem viva a memria da vida e

    da prtica de Jesus.

    H alguns anos, um padre missionrio em outro pas recebeu a notcia de que seu pai estava com cncer. A doena j estava num estgio muito avanado. No havia mais recursos. O padre viajou e ficou ao lado do pai. Este viveu por mais seis meses. Nesse tempo, o filho, que estava ao lado dele, sen-tia-se totalmente impotente e muitas vezes reclamava com Deus, que parecia ausente e distante. Era muito duro ver o pai sofrendo daquele jeito, sem poder fazer nada. Mas, al-guns momentos antes de morrer, o pai virou--se e, com um sorriso, lhe disse: Padre Jos, muito obrigado! Sem a sua presena eu no aguentaria. Nesse instante, o padre ficou surpreso e compreendeu o mistrio do sagra-do: o estar junto, o cuidado amoroso com o outro, mesmo no compreendendo.

    Amem-se uns aos outros. Assim como eu amei vocs, que vocs se amem uns aos outros! (Jo 13,34). A comunidade do Disc-pulo Amado chamada a assumir o amor at as ltimas consequncias. A vivncia do amor como sinal do discipulado de Jesus a principal herana que o Evangelho de Joo transmite sua comunidade e que chega at os nossos dias: da mesma forma que padre

    *Alm dos cursos em sua sede, presta assessoria s dioceses, parquias, comunidades, grupos de reflexo, colgios, congregaes religiosas e outras entidades, no Brasil e em outros pases. www.cbiblicoverbo.com.br. E-mail: [email protected]

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    o autor deixou por escrito: para que vocs acreditem que Jesus o Messias, o Filho de Deus. E para que, acreditando, vocs tenham vida no nome dele (Jo 20,31).

    O Evangelho de Joo levou mais ou me-nos 60 anos para ser escrito. Provavelmente, foi sendo elaborado em vrios lugares: no norte da Galileia, na Sria e na sia Menor. A ltima redao do livro teria acontecido em feso, na sia Menor, por volta do ano 95, com alguns acrscimos posteriores. um

    escrito que deve ser lido como interpretao e vivncia da co-munidade, com o objetivo claro de aprofundar a f em Jesus como divino e humano: o Verbo encarnado.

    Enfim, o Evangelho de Joo fruto de uma caminhada co-munitria, representada no tex-to pela figura do Discpulo Ama-do (Jo 1,35-42; 13,23-25; 18,15; 20,2-10). Quem era esse

    discpulo? Ele annimo; embora possa ter existido um discpulo que tenha sido reco-nhecido dessa forma, pode tambm repre-sentar todas as pessoas crists que viveram o amor mtuo e assumiram a prtica da justi-a. o evangelho do Discpulo Amado! Para entender melhor esse texto, vamos olhar a histria e colocar nossos ps no cho da vida dessa comunidade.

    1. Conhecendo o cho da comunidade de Joo

    A regio da Judeia enfrentou diversas dominaes imperiais, e a partir da domina-o grega, as condies de vida pioraram ainda mais (333 a.C.). As pessoas estavam sendo dominadas, exploradas e escraviza-das. Muitos grupos populares resistiram dominao e buscaram uma forma alternati-va de viver. Em 63 a.C., os romanos domi-naram a Palestina. No tempo de Jesus e um

    Jos deixou tudo para estar com seu pai, cada pessoa da comunidade chamada a viver esse cuidado amoroso para com as irms e os irmos. E diramos mais: um amor extensivo a todas as pessoas, independentemente de et-nia, classe, religio e sexo.

    S o amor capaz de ultrapassar as diver-sas formas de preconceito que impedem o relacionamento entre as pessoas. Essa comu-nidade era constituda por pessoas de dife-rentes grupos, culturas e mentalidades: ju-deus, discpulos de Joo Batista, galileus, samaritanos, estrangei-ros, doentes, pobres, ricos. Pes-soas chamadas a viver a nova aliana, baseada no amor e na solidariedade universal.

    Perseguio do imprio ro-mano, das autoridades judaicas, divergncias com outras corren-tes filosficas e religiosas faziam parte do cotidiano da comuni-dade: Vo excluir vocs das sinagogas. E vai chegar a hora quando algum, matando vo-cs, julgar estar prestando culto a Deus (Jo 16,2). Se o mundo odeia vocs, saiba que primeiro odiou a mim (Jo 15,18). Diante do contexto de perseguio e sofrimento, a co-munidade reforou a necessidade de desen-volver profundos laos fraternos de amor e de solidariedade.

    Perante as incertezas, preciso apostar e ir em frente. A comunidade joanina precisou manter viva a f. Permanecer fiel ao projeto da vida plena traduzida em casa, comida, sade, integrao social s foi possvel por causa dos vnculos entre seus membros e por manterem viva a memria da vida e da prti-ca de Jesus. Essas pessoas reforaram a sua f em Jesus como a ressurreio e a vida no tempo presente (cf. Jo 11,25). um grupo que acreditou e vivenciou a experincia de que o Verbo se fez carne e vive no seu meio (Jo 1,14). Dessa comunidade recebemos como herana o seu Evangelho, cujo objetivo

    um amor extensivo a

    todas as pessoas, independentemente

    de etnia, classe, religio

    e sexo.

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    pouco depois, as revoltas e os descontenta-mentos com a opresso dos romanos atingi-ram o auge. Em 66 d.C., quando os roma-nos saquearam o Templo de Jerusalm, os vrios grupos, mesmo tendo posies dife-rentes, uniram-se para lutar contra os domi-nadores. Esse movimento ficou conhecido como a Guerra Judaica (66-73 d.C.).

    Nessa guerra, o povo judeu foi derrotado pelos romanos. Jerusalm, a Cidade Santa, e o Templo foram destrudos. O Templo era uma instituio central na vida do povo, con-trolava a sua vida em todos os aspectos. Os principais grupos que participaram da guer-ra, os saduceus, os essnios, os zelotas e os sicrios, foram desarticulados e quase desa-pareceram. A guerra desestruturou a vida dos habitantes da regio da Judeia. Os judeus cristos e os judeus fariseus no assumiram a luta at o fim, por isso conseguiram sobrevi-ver. Aps a guerra, o grupo dos judeus fari-seus comeou a reorganizar a vida do povo.

    Os fariseus e os escribas, menos depen-dentes do Templo, desenvolveram uma es-trutura alternativa. Fazia tempo que eles exerciam suas atividades nas sinagogas, por meio da funo de explicar e interpretar a Lei. No contexto de destruio das principais instituies judaicas, como o Templo e o si-ndrio conselho supremo dos judeus , o povo buscou refgio e segurana no movi-mento dos fariseus e escribas. Aos poucos, os judeus fariseus foram se fortalecendo, a sina-goga passou a ser forte instituio para ga-rantir, proteger e controlar a vida do povo. Assim, os romanos perceberam que seria vantajoso se aliar aos judeus fariseus.

    A aliana com os romanos favoreceu o desenvolvimento dos grupos de linha fari-saica. Surgiram muitos grupos, entre os quais a Academia de Jmnia, fundada pelo rabi Iohanan ben-Zakai. O chefe desse gru-po foi reconhecido pelo imprio romano como representante do povo judeu. Como aliado dos romanos, eles tinham o direito de

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    Bula de Proclamao do Jubileu Extraordinrio da Misericrdia Misericordiae Vultus O rosto da misericrdia

    A Bula de Proclamao do Jubileu Extraordinrio da Misericrdia um documento composto por 25 itens que descreve as principais caractersticas da misericrdia e define o tema luz de Cristo. Com esse texto, Francisco oficializa o prximo ano como o Ano Santo da Misericrdia.Precisamos contemplar o mistrio da misericrdia. fonte de alegria, serenidade e paz. condio da nossa salvao. Misericrdia o ato ltimo e supremo pelo qual Deus vem ao nosso encontro. Misericrdia o caminho que une Deus e o homem, porque nos abre o corao esperana de sermos amados para sempre, apesar da limitao do nosso pecado..

    Papa Francisco

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    interpretar e aplicar a Lei, utilizando-a tam-bm para cobrar tributos dos judeus. Isso interessava aos romanos.

    A principal Lei era a do sbado. Uma lei que nasceu para manter viva a memria da libertao e defender a dignidade humana se tornou, porm, no decorrer do tempo, uma lei opressora. O cumprimento da Lei foi colo-cado acima da pessoa. Outra Lei igualmente importante era a da pureza. Essa lei dividia as pessoas e as coisas em puras e impuras.

    A lei do puro e do impuro definia quem estava mais perto e quem estava mais longe de Deus. Uma pessoa doente ou com alguma deficincia fsica era considerada impura por causa de algum pecado, uma vez que a doena era vista como castigo de Deus. O sim-ples contato com pessoas ou coisas impuras j causava impureza. Estar impuro significava no poder participar do culto e, consequentemente, do povo de Deus e da salvao.

    Muitas pessoas viviam em condies quase permanentes de impureza. As autori-dades judaicas, por meio da Lei, tinham a pretenso de controlar o corpo e a vida das pessoas. Essa situao de opresso tinha maior peso para a mulher, que ficava impura por causa da menstruao (Lv 15,19), das re-laes sexuais (Lv 15,18) e do parto (Lv 12,2-5). Para se purificar, as pessoas deviam levar ofertas e pagar o tributo religioso em dia. Isso custava muito caro, dificultando aos pobres o cumprimento da Lei.

    Os judeus fariseus viam o cumprimento da Lei como uma exigncia do prprio Deus. Essa crena, unida crena na ressur-reio dos mortos e na teologia da retribui-o, com prmios e castigos para esta vida e a outra, era usada para manter o povo na obedincia rigorosa s normas impostas pe-los dirigentes fariseus. A teologia da retri-

    buio estava ligada ideia de troca: se a pessoa cumprisse a Lei, seria abenoada com terra, descendncia e vida longa. Se no cumprisse, receberia o castigo: pobreza, esterilidade e vida breve (Dt 30,15-20).

    O ensino da Lei era feito por meio da si-nagoga. Por volta do ano 85, as sinagogas es-tavam espalhadas na sia Menor. Nessa re-gio, a comunidade judaica vivia certa auto-nomia, como uma cidade dentro da cidade. A aliana com os romanos possibilitou que a

    religio judaica, organizada pe-los judeus fariseus, fosse consi-derada religio lcita religio permitida pela lei do imprio ro-mano. Os judeus ligados sina-goga conquistaram o direito de se reunir, manter uma caixa co-mum e ter propriedades. Eram dispensados de prestar culto s divindades do imprio romano,

    tinham o direito de observar o sbado, de praticar seu culto e sua Lei, e participavam, quando necessrio, do exrcito s de judeus. Cada comunidade local tinha suas leis admi-nistrativas, estabelecia locais para estudo, culto e sepultamentos; oferecia ajuda aos in-digentes e mantinha tribunais para julgar dis-putas entre judeus.

    Os judeus fariseus, na tentativa de pre-servar a sua identidade como grupo e man-ter seus interesses, comearam a exigir uma observncia rigorosa da Lei. Havia 613 re-gras para ser cumpridas. A opresso era muito grande. No interior da sinagoga sur-giram alguns grupos, entre os quais o grupo dos cristos, que comearam a relativizar a importncia da Lei, pondo em primeiro lu-gar a vida humana. Isso provocou vrios conflitos. Aqueles que no cumpriam a Lei foram perseguidos, torturados e expulsos da sinagoga e consequentemente ficaram sujei-tos perseguio do imprio romano (cf. Jo 16,1-2). No final do perodo do imperador Domiciano (81-96 d.C.), a perseguio con-

    A lei do puro e do impuro definia quem estava mais

    perto e quem estava mais longe de Deus.

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    tra os cristos foi intensificada e generaliza-da, atingindo especialmente os grupos cris-tos da sia Menor.

    Entre esses grupos, havia a comunidade joanina. Essa comunidade surgiu entre os ju-deus que acreditaram ser Jesus o Messias es-perado por eles. A guerra dos judeus contra os romanos (66 d.C.) provocou a disperso das comunidades crists. Essa comunidade foi para o norte da Palestina e de l emigrou para a Sria e feso.

    A comunidade joanina era composta de pessoas pobres e marginalizadas que come-aram a viver de um jeito diferente: irmos e irms unidos no pela Lei, mas pelo amor. muito provvel que essas pessoas vives-sem sob a opresso da Lei. Elas conseguiram ver na proposta crist um caminho alterna-tivo. Vivenciaram o amor mtuo e a certeza de que a presena do Verbo encarnado em cada mulher e homem era a base que sus-tentava e animava sua vida. Era comunidade mista, com pessoas provenientes de vrios grupos e religies.

    2. A comunidade de Joo e suas caractersticas

    A diversidade de grupos existentes na co-munidade joanina exigiu-lhe maior abertura e constante aprendizagem para a convivncia com pessoas de mentalidades diferentes. Essa experincia s foi possvel por meio da vi-vncia do amor (Jo 15,12-15). O grupo de Betnia, nome cujo sentido em hebraico casa do pobre, representado por Lzaro, Ma-ria e Marta (Jo 11,1-44), retrata bem essa co-munidade. Um grupo que acredita na pre-sena de Jesus como portador de vida nova e vive a experincia do amor; uma comunida-de de amigos, de pessoas que se amam e cui-dam umas das outras.

    A presena forte de samaritanos e estran-geiros e a liderana das mulheres provocaram a perseguio dos judeus fariseus. A situao

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    Todos vs sois irmosJesus, nosso irmo, e os Religiosos Irmos na Vida Religiosa Consagrada

    O interesse desse livro refletir sobre a fraternidade evanglica a partir da perspectiva do irmo leigo. Essa forma particular de vocao dentro da Vida Religiosa Consagrada carrega uma dupla identidade: fraterna e laical. O Vaticano II significou, para os irmos leigos, a possibilidade de reconquistar sua cidadania batismal no conjunto do Povo de Deus, alm da construo de uma identidade nova alicerada em razes antigas. necessrio resgatar o elemento fundamental para a identidade do irmo leigo: o prprio Jesus, feito nosso irmo pela sua encarnao, vida, paixo, morte e ressurreio. Trata-se de refletir sobre uma cristologia na perspectiva de Jesus irmo.

    Fabiano Aguilar Satler

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    dos samaritanos, um povo marginalizado e desprezado que acolhe Jesus, era semelhante situao dessa comunidade. Por professa-rem a f em Jesus Cristo e assumirem a mes-ma prtica sua, essas pessoas sofreram vrias ameaas, chegando alguns membros a ser mortos (cf. Jo 11,16; 16,2). Neste contexto de sofrimento interno e externo e na tentati-va de manter vivo o projeto de Jesus de Naza-r, nasce o Evangelho de Joo.

    3. Conhecendo o Evangelho de Joo

    O Evangelho da comunidade de Joo nasceu do anncio vivo, da memria de homens e mulhe-res que guardavam e praticavam os ensinamentos transmitidos por Jesus. a comunidade viva, com suas lutas e dificuldades em meio aos conflitos vividos com as autoridades judaicas, com o im-prio romano e entre os seus prprios mem-bros, com suas diferentes compreenses da mensagem de Jesus.

    Diante das perseguies e das crises inter-nas e externas, a comunidade sentiu a necessi-dade de reafirmar a prpria f e definir a sua identidade. Para isso, os autores selecionaram algumas expresses e acontecimentos marcan-tes da vida de Jesus com a finalidade de levar os seus primeiros leitores f em Jesus como o Messias, o Filho de Deus, presente na histria: E o Verbo se fez carne e armou sua tenda en-tre ns (Jo 1,14).

    A situao de perseguio levou a comu-nidade joanina a usar uma linguagem sim-blica que, porm, lhe era familiar, com imagens tiradas do cotidiano, da tradio judaica e do momento presente. Por exem-plo, a apresentao de Jesus feita por meio da expresso Eu sou, termo muito conheci-do do povo judeu, o prprio nome de Jav (Ex 3,14). A comunidade acrescenta: eu sou

    o po da vida (Jo 6,35.48.51), a luz do mundo (Jo 8,12; 9,5), a porta das ovelhas (Jo 10,7.9), o bom pastor (Jo 10,11.14), a ressurreio e a vida (Jo 11,25) e a verdadei-ra videira (Jo 15,5). Imagens simblicas, li-gadas ao cotidiano das pessoas, que revelam o cuidado de Jesus com a vida de seus disc-pulos e discpulas.

    Ao longo do Evangelho de Joo, h gran-de variedade de imagens simblicas. Pode-mos classific-las em quatro tipos:

    Smbolos ligados a nmeros: seis talhas de pedras vazias (Jo 2,6), uma referncia s seis festas judaicas mencionadas no evan-gelho (Jo 2,13; 5,1; 6,4; 7,2; 10,22; 11,55). Os cinco maridos da mulher samaritana lembram os cinco povos que foram depor-tados de outras regies para a Samaria (2Rs 17,24).

    Objetos: as talhas para a gua, o poo de Jac e o cntaro (Jo 2,6; 4,12.28): podem ser uma referncia Lei. Natureza: a videira e os ramos (Jo 15,1-2),

    um smbolo da comunidade. Personagens: Discpulo Amado, mulher sa-

    maritana, Lzaro, Maria de Betnia, Marta e Maria Madalena representantes das comu-nidades joaninas.

    O uso de smbolos caracterstica mar-cante do Evangelho de Joo. Outra caracte-rstica importante o jeito de os autores or-ganizarem a estrutura desse livro. Vamos ver como ele foi planejado.

    4. Plano do Evangelho

    O Evangelho de Joo pode ser estrutura-do de vrias formas. Ns escolhemos a estru-tura que divide o texto em duas grandes par-tes: a primeira apresenta os sete sinais reali-zados por Jesus, e a segunda, o grande sinal: a entrega de Jesus por amor.

    A presena forte de samaritanos e estrangeiros e a liderana das

    mulheres provocaram a perseguio dos judeus fariseus.

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    A primeira parte (Jo 2,1-11,54) e a se-gunda (Jo 13,1-20,29) podem ser divididas pelo tema da hora: a hora no chegou (Jo 2,4), e a minha hora j chegou (Jo 13,1). En-tre essas duas partes h um texto que marca a passagem de uma para a outra (Jo 11,55-12,50), no qual vemos que a hora de Jesus se aproxima.

    possvel dividir o Evangelho de Joo da seguinte forma:

    Prlogo 1,1-18: abertura e sntese do li-vro. No prlogo encontramos um resumo de todos os temas que sero desenvolvidos ao longo do evangelho. Seo introdutria 1,19-51: pequena in-

    troduo na qual aparece Joo Batista, o seu testemunho a respeito de Jesus e os primeiros discpulos de Jesus. Primeira parte 2,1-11,54: a hora de Jesus

    ainda no chegou (2,4). O Livro dos Sinais apresenta sete sinais, nmero que significa perfeio. Os sinais indicam a realizao do tempo messinico. 1 sinal (2,1-12): bodas em Can.2 sinal (4,46-54): a cura do filho de um fun-cionrio real.3 sinal (5,1-9): a cura de um paraltico.4 sinal (6,1-15): a multiplicao dos pes.5 sinal (6,16-21): Jesus caminha sobre as guas.6 sinal (9,1-41): a cura de um cego de nas-cena.7 sinal (11,1-44): a ressurreio de Lzaro. Passagem 11,55-12,50: a hora de Jesus

    est se aproximando. Segunda parte 13,1-20,29: chegou a hora

    de Jesus (Jesus sabia que tinha chegado a sua hora, a hora de passar deste mundo para o Pai, 13,1). Essa parte conhecida como o Livro da Glorificao. uma catequese para a comunidade e pode ser subdividida em trs unidades: Os captulos 13 a 17 so chamados o livro

    da comunidade. Antes de entregar sua vida,

    Jesus rene os seus para um jantar de despe-dida no qual realiza um gesto simblico e proftico: o lava-ps (13,1-20). Nessa oca-sio, Jesus faz um discurso de despedida e deixa como herana comunidade o novo mandamento do amor mtuo (13,34-35; 15,12-17), promete que enviar o Esprito da Verdade (14,26; 16,12-15), faz uma avalia-o de sua vida e misso e reza ao Pai pela unidade (17).

    - Relato da paixo (18-19), parte que cul-mina com uma ltima palavra de Jesus: Tudo est consumado (19,30).

    - Cenas da ressurreio (20): privilegia a narrao do encontro de Jesus com Maria Madalena (20,11-18).

    Eplogo 20,30-31: a primeira concluso. Apndice 21,1-23: nova manifestao de

    Jesus aos discpulos. 2 concluso 21,24-25.

    5. Algumas mensagens do Evangelho de Joo

    O Evangelho de Joo continua nos desa-fiando para a vivncia do amor at as ltimas consequncias: Ele, que tinha amado os seus que estavam no mundo, amou-os at o fim (Jo 13,1). O nico mandamento que encon-tramos nesse evangelho o mandamento do amor: Eu dou a vocs um mandamento novo: amem-se uns aos outros. Assim como eu amei vocs, que vocs se amem uns aos outros! (Jo 13,34; 15,17).

    A medida do nosso amor o amor de Cristo: amar at dar a vida! um projeto de vida muito exigente! Significa trilhar o mesmo caminho de Jesus, assumindo a condio de servo. Jesus declara ser Mestre e Senhor pelo servio e desafia seus seguidores a fazer o mes-mo (Jo 13,13-14). Ser que estamos dispostos a seguir esse caminho de amoroso cuidado uns com os outros em nossas comunidades, igrejas, grupos e diversas associaes?

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    Para assumir as atitudes de Jesus, preci-so permanecer, conviver com ele, reavivar nossa experincia de f. Como discpulas e discpulos, queremos conviver com o Mestre, refazer a nossa experincia de discipulado e dar continuidade ao nosso seguimento de Je-sus nos tempos de hoje. O amor o caminho. ele que cria, recria, transforma e ressuscita. O caminho aberto a todas as pessoas que querem viver o amor-servio.

    Vejamos algumas mensa-gens importantes:

    1. Solidariedade e sensibilidade. As bodas de Can (Jo 2,1-11). Jesus e seus discpulos so con-vidados a uma festa de casa-mento. A me j estava l, o que pode indicar que no era convi-dada, e sim fazia parte da orga-nizao. Ela representa a Israel que percebe a falta do vinho, ao passo que o chefe da cerimnia representa os judeus preocupados com a falta de gua para a purificao. A falta do vinho alegria, bn-o de Deus simboliza o sofrimento do povo por causa de uma religio ritualista, a ausncia de relaes de amor e cuidado.

    De acordo com a religio oficial, defendi-da pelas autoridades da sinagoga, a salvao de Deus vinha somente pela observncia rigo-rosa da Lei e no pela prtica da solidariedade e do servio ao prximo. A religio ritualista aprisionava o povo. Jesus Cristo, salvador, transforma a gua das talhas, usada nos rituais de purificao, em vinho bom, smbolo da vida plena. importante observar que o mila-gre da vida acontece com a participao das pessoas sensveis e solidrias como a me de Jesus e os serventes.

    2. Superao de preconceitos. O encontro en-tre Jesus e a mulher samaritana (Jo 4,4-42). Ao reler essa narrativa, somos convocados

    para reavivar a nossa experincia de encontro com Jesus e anunci-lo. O encontro comea com a sede de Jesus: ele pede gua mulher samaritana. Como havia desentendimentos entre judeus e samaritanos, a mulher imedia-tamente refuta o pedido. Aps a mulher apresentar algumas objees, Jesus explica que pode dar uma gua que tem o poder de acabar definitivamente com a sede.

    A mulher, representando o povo samarita-no, tambm espera do Messias, abre-se para

    o encontro com Jesus: Eu sou esse Messias, eu que estou falan-do com voc (Jo 4,26). Ela deixa o cntaro e vai para a cidade com a certeza de que Jesus o Messias. Havia muitos samaritanos nas co-munidades crists, como tambm muitos estrangeiros; uma realida-de conflituosa e difcil de aceitar, sobretudo para os judeus cris-tos, enraizados na tradio ju-daica. Fazer memria da prtica

    de Jesus uma forma de voltar s razes da proposta crist e abrir-se para os outros povos, romper com os preconceitos e discriminaes de etnia, origem, religio, gnero e idade.

    3. Ser pastores e pastoras uns para os outros. O bom pastor (Jo 10,1-18). Essa narrativa apresenta a liderana de Jesus e nos convoca para rever nosso modelo de liderana. No Antigo Oriente, pastor era um ttulo dado aos reis e aos governadores, que tinham o dever de defender e conduzir o povo. No tempo do Evangelho de Joo, Jesus apre-sentado como o bom pastor que veio para dar a vida por suas ovelhas em oposio ao mercenrio, que rouba, destri e mata. Por trs desse texto est o conflito entre a comu-nidade crist e as autoridades judaicas, de tendncia farisaica, que buscam seus pr-prios interesses.

    O bom pastor d a vida por suas ovelhas e busca a vida plena para as pessoas. A comu-

    O Evangelho de Joo continua nos desafiando para a vivncia

    do amor at as ltimas

    consequncias.

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    nidade joanina refora qual a misso de Je-sus e das pessoas que seguem a sua prtica: Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundncia (Jo 10,10). Vida em abundncia significa condies dignas de vida. Ouvir a voz do pastor assumir o mesmo projeto. comprometer-se com o projeto da justia at o fim. um convite para revermos se a nossa liderana conduz para a liberdade ou para a dependncia e a passividade.

    4. Amar e servir. Vocs tambm devem lavar os ps uns dos outros (Jo 13,1-20). O epis-dio do lava-ps apresenta Jesus ajoelhado, la-vando os ps de seus discpulos. um exem-plo do que as comunidades cantavam desde a dcada de 50 d.C.: Ele esvaziou-se a si mes-mo e tomou a forma de servo (Fl 2,7). No Antigo Oriente, lavar os ps constitua gesto de acolhida e hospitalidade que, em sua ori-gem, era feito pelo dono da casa. No decorrer do tempo, tornou-se um servio desprezado, feito por escravos. Em casa que no havia es-cravos, era realizado pelas filhas ou pela espo-sa do dono da casa.

    Em uma sociedade escravista e hierrqui-ca, um mundo organizado para que o escravo servisse o senhor, Jesus, Mestre e Senhor, as-sume o servio de lavar os ps, eliminando a desigualdade e as diferenas sociais e, ao mesmo tempo, propondo uma sociedade igualitria e fraterna. Que esse gesto proftico possa inspirar nossa vida e misso e reforar nossa conscincia de que seguir Jesus implica assumir a prtica do amor-servio e concreti-zar relaes de cuidado recproco nos meios em que vivemos. A comunidade deixa claro: Jesus Mestre e Senhor pela capacidade de amar e servir. Essa a nossa misso!

    5. Reavivar a f em Jesus ressuscitado. Eu vi o Senhor (Jo 20,11-18). Maria Madalena representa a comunidade junto ao sepulcro. Ela experimentou dor, angstia e sofrimen-to (Jo 20,11-15). Sua busca foi escrita ten-

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    do por inspirao a atitude da amada de Cntico dos Cnticos, que enfrenta vrias dificuldades para encontrar o amado e no desiste enquanto no atinge seus objetivos (Ct 3,1-4). Mesmo sofrendo, a mulher per-manece prxima ao tmulo e faz a experi-ncia de encontro com o Ressuscitado ao ser chamada pelo nome.

    A certeza que impulsionou a comuni-dade joanina e que continua nos impulsio-nando e nos enviando em misso a de que Jesus est vivo e presente em nosso meio. Maria Mada-lena a primeira testemunha da ressurreio. Esse encontro aconteceu porque ela venceu o medo. Em meio situao de morte, a mulher resistiu, permaneceu at encontrar o Senhor. Na comunidade de Joo h muitas mulheres dis-cpulas fiis a Jesus que ani-mam os outros a fazer o mes-mo. Que o testemunho dessa comunidade crist continue nos iluminando e nos enviando em mis-so.

    Uma palavra finalA leitura do Evangelho de Joo sempre

    nova e atual. fonte que sempre borbulha

    novas guas para a nossa vida e misso. Ela reaviva, de diversas formas, a certeza de que Jesus o enviado de Deus e que a intrnseca ligao entre Jesus e a comunidade tem sua fonte em Deus: Da mesma forma que o Pai me amou, eu tambm amei a vocs: perma-neam no meu amor (Jo 15,9).

    Permanecer no amor de Jesus ser fiel ao projeto do Pai. Esse o testemunho da comunidade joanina. O mandamento do amor no pede que amemos a Deus, mas

    que amemos os irmos: Amem--se uns aos outros, assim como eu amei vocs (Jo 15,12; cf. 13,34; 15,17). A melhor forma de amar a Deus a vivncia do amor at o fim, at a entrega da prpria vida.

    E mais, acreditamos que a nica forma de Deus continuar se encarnando pela vivncia do amor: Se algum me ama, guardar a minha palavra, e meu Pai o amar. Eu e meu Pai vire-mos e faremos nele nossa mora-

    da (Jo 14,23). O Evangelho de Joo est em nossas mos! a nossa herana! Que a vi-vncia da comunidade joanina nos ajude a encontrar caminhos para vivenciar o projeto de Jesus e continuar abrindo espao para que o Verbo se faa carne entre ns!

    Em uma sociedade escravista e

    hierrquica, Jesus, Mestre e Senhor, assume o servio de lavar os ps, eliminando a

    desigualdade e as diferenas sociais.

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    Shigeyuki Nakanose, svd*

    A intensificao da perseguio dos judeus fariseus e do imprio romano mergulhou a comunidade joanina em uma crise profunda. Surgiu ento o Evangelho de Joo, para orientar e animar a caminhada da comunidade. De modo especial, Joo 10,1-21 aborda a figura da liderana: o bom pastor e o falso pastor. Para os cristos, Jesus seu pastor, aquele que realiza a esperana de um messias-pastor que protege e conduz seu povo sofrido.

    Em 2005, seu Antnio, do Parque Santo Antnio, em So Paulo, faleceu por causa de um tumor na cabea. No recebeu trata-mento adequado por motivo bem conhecido: atendimento ruim no sistema pblico de sa-de. Ele fez longa romaria: espera desesperada por atendimento; falta de leito e de material para o tratamento. Passou alguns dias no cor-redor do hospital e acabou falecendo na en-fermaria. Este foi o ltimo pedido do seu An-tnio: Reze para mim aquela orao do bom pastor: O Senhor o meu pastor, nada me faltar. Em verdejantes pastagens me faz des-cansar e sobre guas tranquilas me conduz. O bom pastor do Salmo 23 figura forte na espiritualidade do povo sofrido!

    O Novo Testamento tambm registra v-rias menes ao bom pastor. Um dos textos mais conhecidos est no Evangelho de Joo: Eu sou o bom pastor: conheo as minhas ovelhas, e elas me conhecem, assim como o Pai me conhece e eu conheo o Pai, e expo-nho minha vida pelas ovelhas (Jo 10,14-15).

    *Religioso verbita, assessor do Centro Bblico Verbo, leciona no Itesp (So Paulo) e na Faculdade Catlica de So Jos dos Campos. Juntamente com a equipe do Centro Bblico Verbo, tem publicado todos os anos pela Paulus um subsdio para reflexo e crculos bblicos para o ms da Bblia. Para o ano de 2015, o subsdio Permanecei no meu amor para dar muitos frutos entendendo o Evangelho de Joo.E-mail: [email protected]/shigeyuki.nakanose

    Eu sou o Bom Pastor: uma leitura de Jo 10,1-21

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    Por volta do ano 95 d.C., os judeus fari-seus e o imprio romano intensificaram a perseguio, mergulhando a comunidade joanina em profunda crise. O grupo sofreu e foi perseguido at mesmo pelos prprios governantes. Surgiu, ento, o Evangelho de Joo, para orientar e animar a caminhada da comunidade. De modo especial, Joo 10,1-21 aborda a figura da liderana: o bom pas-tor e o falso pastor.

    1. A imagem do pastor no Antigo Testamento

    A imagem do pastor, fre-quente na Bblia, surgiu do trabalho cotidiano do povo do Antigo Oriente. A tarefa de pastorear era assumida pe-los membros da famlia, so-bretudo pelos homens, por causa dos riscos de enfrentar feras e outros perigos, como assaltos e roubos. Mulheres e crianas cuidavam do rebanho somente nas proximidades da casa (cf. Ex 2,16-17; 1Sm 16).

    Os pastores deviam ser prudentes, pa-cientes e dedicados. No vero, era muito di-fcil encontrar novas pastagens e manter o equilbrio entre o pastoreio, o abastecimen-to de gua, o descanso e a viagem. O pastor devia cuidar incansavelmente dos animais indefesos. As feras e os bandos de salteado-res atacavam os rebanhos com bastante fre-quncia (cf. Gn 31,39; 1Sm 17,34-37).

    No Antigo Oriente, o rei era comparado ao pastor. Esse ttulo era comum entre os governantes na Assria e na Babilnia. Usa-vam muito os verbos conduzir e pastorear para falar da ao de governar. Ser chamado de pastor era uma honra, especialmente pe-las caractersticas de cuidado e proteo. Neste sentido, Ezequiel, profeta exilado para a Babilnia junto com o rei Joaquin, na primeira deportao (597-587 a.C.), critica

    o rei Sedecias e os governantes de Jerusalm pelos abusos e descuidos com o rebanho:

    Ai dos pastores de Israel que so pas-tores de si mesmos! No do rebanho que os pastores deveriam cuidar? Vocs bebem o leite, vestem a l, sacrificam as ovelhas gordas, mas no cuidam do reba-nho. Vocs no procuram fortalecer as ovelhas fracas, no curam as que esto doentes, no tratam as feridas daquelas que sofrem fratura, no trazem de volta

    aquelas que se desgarraram e no procuram aquelas que extra-viaram. Pelo contrrio, vocs do-minam sobre elas com violncia e opresso (Ez 34,2-4).

    Para apascentar o rebanho, o grupo de Ezequiel apresenta Jav mesmo como o pastor do seu povo: Assim diz o Senhor Jav: eu mesmo vou procurar minhas ovelhas para cuidar de-

    las. Como o pastor conta seu rebanho quan-do est no meio de suas ovelhas que se ha-viam dispersado, eu tambm contarei mi-nhas ovelhas e as reunirei de todos os luga-res por onde se haviam dispersado, nos dias nebulosos e escuros (Ez 34,11-12).

    No exlio, surge a promessa de que o prprio Jav-pastor dar ao seu povo o messias-pastor, como Davi, que liberta seu povo e o rene num s rebanho: Providen-ciarei um s pastor para cuidar de minhas ovelhas. Ser o meu servo Davi. Ele cuidar delas e ser seu pastor (Ez 34,23). Segun-do o grupo de Ezequiel, Jav, por meio do seu Messias como rei, governar seu povo. o messias rei que as autoridades religiosas judaicas pregariam ao longo dos anos pos-teriores at o tempo do Novo Testamento. Na poca de Jesus, por exemplo, o povo ju-deu sonhava com um messias pastor como o rei Davi, que poderia estabelecer o reina-do definitivo de Israel, derrotando os roma-

    Em meio realidade de sofrimento e de

    abandono, os pobres da terra tambm

    sonham com Deus como pastor.

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    nos e expulsando os governantes corruptos e opressores.

    No exlio, os camponeses, chamados pobres da terra (Am 8,4; Sf 2,3), tambm foram deportados para a Babilnia, na segun-da deportao (587 a.C.). O grupo no teve a mesma sorte dos primeiros deportados junto com Ezequiel, foi tratado como escravo e despojo de guerra. A Babilnia no teve compaixo dele e colocou um jugo pesado nos ombros dos ancios (Is 47,6). Os po-bres e os indigentes buscam gua, mas no a encontram! Esto com a lngua seca de sede (Is 41,17). Os deportados estavam cansados e enfraquecidos, sem esperana no futuro (Is 40,29). Levavam uma vida de prisioneiros como semiescravos!

    Em meio realidade de sofrimento e de abandono, os pobres da terra tambm so-nham com Jav como pastor: Como um pas-tor, ele cuida do rebanho e com seu brao o rene. Leva os cordeirinhos no colo e guia mansamente as ovelhas que amamentam (Is 40,11). Todavia, enquanto o grupo de Eze-quiel apresenta o messias como o rei Davi, os pobres da terra propem o messias servo para proteger e conduzir seu povo sofrido:

    Vejam meu servo, a quem eu susten-to. Ele o meu escolhido, nele tenho o meu agrado. Eu coloquei sobre ele meu esprito, para que promova o direito en-tre as naes. Eu, Jav, chamei voc para a justia, tomei-o pela mo e lhe dei for-ma. E o coloquei como aliana de um povo e luz para as naes, para voc abrir os olhos dos cegos, para tirar os presos da cadeia, e do crcere os que vivem no es-curo (Is 42,1.6-7).

    O grupo dos pobres da terra lana um olhar sobre a histria e constata que, h mui-tos anos, o povo vem sendo oprimido pela tirania dos grandes imprios e explorado pe-los prprios governantes da monarquia. Com base em sua memria das aldeias comunit-

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    O ministrio da coordenao da animao bblico-catequtica

    Sabemos que evangelizar , acima de tudo, conduzir a pessoa a um encontro com sua humanidade, para poder anunciar Jesus Cristo, centro da ao de uma catequese evangelizadora. Este livro indicado para todos os catequistas, e no somente para quem coordena. Apresenta pistas de reflexo sobre a importncia da coordenao na Animao Bblico-Catequtica. Coordenar ato de amor e servio que exige de quem exerce esse Ministrio atitudes humano-crists que encontram suas fontes nas virtudes cardeais e teologais, pois quem ama coloca o outro em primeiro lugar. V o outro como prioridade. No teremos comunidades vivas se no tivermos uma boa organizao do ministrio da coordenao da Animao Bblico-Catequtica. Pois pelo ministrio da catequese que a Igreja se sustenta desde os primrdios, e com ele perseguiremos por todo o sempre a misso de Jesus, confiada a homens e mulheres de boa vontade que desejam levar adiante a sua mensagem de vida em plenitude.

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    Pe. Eduardo Calandro / Pe. Jordlio Siles Ledo, CSS

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    rias e tambm de sua experincia da sobrevi-vncia comunitria dos exilados escravos, o grupo projeta nova liderana a do Servo, com caractersticas diferentes dos tiranos e dos reis injustos: uma liderana baseada no amor, na ternura, na gratuidade, na no vio-lncia; na justia, na solidariedade e, sobre-tudo, no maior cuidado com os sofridos, imagem que os cnticos do servo nos apre-sentam (Is 42,1-9; 49,1-6; 50,4-11). O mes-sias servo d at sua prpria vida por amor ao seu povo (Is 53,12).

    Nos evangelhos sinticos, as comunidades crists com-preendem e apresentam o se-guimento de Jesus no caminho do messias servo: Se algum quiser seguir aps mim, negue--se a si mesmo, carregue sua cruz e me siga (Mc 8,34). A fi-delidade ao amor e justia do Deus da vida leva Jesus perse-guio, cruz e at morte. Sua prtica como o messias servo do carinho e do amor de um pastor: Quan-do Jesus desceu da barca, viu uma grande multido e se encheu de compaixo, porque eram como ovelhas sem pastor (Mc 6,34).

    No Evangelho de Joo, Jesus descrito mais diretamente como o bom pastor, com caractersticas do messias servo (Jo 10,1-18). Ele conhece suas ovelhas e elas o conhecem, e ningum pode arrebat-las de sua mo. Como os pobres da terra no exlio da Babil-nia, a comunidade sofrida de Joo sonha e reza para que seja conduzida e protegida por Jesus, o bom pastor.

    2. Eu sou o bom pastor

    A narrativa do bom pastor tem como pano de fundo o conflito com os fariseus, as autoridades religiosas do tempo do Evange-lho de Joo, como est descrito no captulo anterior, no episdio do cego de nascena (Jo

    9). O modo de agir dos fariseus est em con-flito com as obras de Jesus. Eles, que se jul-gam lderes dos judeus e donos de Deus e da Escritura, perseguiram e expulsaram o cego seguidores de Jesus da sinagoga, centro comunitrio dos judeus. No final desse epi-sdio, os fariseus so condenados como fal-sos pastores: cegos e pecadores (Jo 9,41), eles veem um cego no como pessoa que ne-cessita da solidariedade, mas como pecado. So chamados de ladro e assaltante na

    narrativa do bom pastor. Diferentemente da narrativa

    da cura do cego de nascena, com a longa discusso entre o cego e os fariseus, a primeira cena da narra-tiva do bom pastor a parbola da porta do curral (Jo 10,1-6). pa-rbola que nasce no cotidiano da vida do campo: de manh, o pas-tor chama cada ovelha pelo nome para lev-la pastagem e, tarde, ele rene o rebanho num recinto para a noite. Nessa parbola, o au-

    tor descreve as caractersticas e os deveres do bom pastor e de seus seguidores:

    a) Ele chama cada uma de suas ovelhas pelo nome (Jo 10,13). Chamar a pessoa pelo nome na Bblia significa um rela-cionamento de amor e de comunho: No tenha medo, porque eu o protegi e o chamei pelo nome. Voc meu (Is 43,1; Jo 20,16). Conhecer as ovelhas e ser reconhecido por elas so virtudes fundamentais da liderana de ontem e de hoje. O pastor tem de sentir o cheiro de suas ovelhas, afirmou recentemente o papa Francisco.

    b) Ele as conduz para fora e caminha na frente delas (Jo 10,3-4). O bom pastor conduz suas ovelhas s pastagens verde-jantes e as protege contra predadores e ladres. Entrega at a prpria vida em

    A narrativa do bom pastor tem como pano de

    fundo o conflito com os fariseus, as

    autoridades religiosas do tempo do

    Evangelho de Joo.

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    favor de suas ovelhas. Ontem e hoje, o bom pastor a imagem do lder que conduz, apascenta e protege a vida do povo e, ao mesmo tempo, uma adver-tncia contra a liderana que assume esta posio por interesses de lucro, po-der e vaidade e, na dificuldade, abando-na suas ovelhas.

    c) Elas nunca vo seguir um estranho (Jo 10,5). As ovelhas devem ouvir a voz do seu pastor, sem se deixar seduzir ou enganar pela voz dos estranhos. Para os cristos, Jesus seu pastor. Seguindo sua palavra e prtica, eles podem encontrar a plenitude da vida.

    Ao contrrio do bom pastor, os falsos pastores so chamados de ladres e assaltan-tes, termos associados a uma ao violenta, ou seja, arrebatar, flagelar, roubar, o que tam-bm acontecia nas sinagogas (Mt 10,17; Jo 16,2). Flvio Josefo, historiador judeu do s-culo I d.C., e os rabinos usavam esses termos para falar dos mtodos empregados pelos ze-lotas e outros grupos nacionalistas em suas prticas de guerrilha. Nos evangelhos, esses termos designam os assaltantes e bandidos que roubam, machucam e matam as pessoas (Mc 15,27; Mt 27,44; Lc 10,30; Jo 18,40).

    Enfim, os termos ladro e assaltante so usados para enfatizar o uso da fora, da ao violenta de entrar no curral para roubar, destruir e matar as ovelhas. Na realidade, uma prtica corrente das lideranas poltico--religiosas contra o povo no tempo das comu-nidades joaninas. Eles no esto preocupados com a vida do povo, mas com a segurana de suas instituies e a manuteno do poder, para defender seus interesses e privilgios.

    A descrio sobre o contraste entre a ma-neira de Jesus, bom pastor, agir e a das auto-ridades judaicas junto com o imprio roma-no ampliada e detalhada na segunda cena, marcada pelos dois discursos: Jesus a porta

    das ovelhas (Jo 10,7-10); Jesus o bom pas-tor (Jo 10,11-18).

    No primeiro discurso, a afirmao mais importante eu sou a porta. De que porta se trata? Da porta do redil... Aprofundando o contexto bblico, a porta de uma cidade ou de uma aldeia era importante espao da vida cotidiana, era o local de comrcio e tambm do tribunal. Acontecia ali muita in-justia: Eles odeiam aqueles que se defen-dem na porta e tm horror de quem fala a verdade. Porque esmagam o fraco, cobran-do dele o imposto do trigo. [...] Pois eu sei como so numerosos seus crimes e graves seus pecados: exploram o justo, aceitam su-bornos e enganam os necessitados junto porta (Am 5,10-12).

    Todos os que vieram antes de mim so ladres e assaltantes (Jo 10,8). Os fariseus, os adversrios por excelncia das comunida-des joaninas, perseguiram e expulsaram os cristos da sinagoga, deixando-os na pobre-za, na misria e no risco de morte. Os confli-tos com os fariseus eram, portanto, no s na teologia, mas tambm no cotidiano da vida: comrcio, trabalho, justia etc. Jesus porta. Os autnticos pastores so aqueles que en-tram pela porta de Jesus porta da gratuida-de, da partilha e da justia que faz brotar a vida: Eu vim para que tenham vida, e a te-nham em abundncia (Jo 10,10).

    No segundo discurso, o tema principal aprofundar a qualidade fundamental do bom pastor: Eu sou o bom pastor (Jo 10,11a). S nesse momento Jesus se apresenta de manei-ra explcita como o bom pastor. Essa afir-mao de Jesus, eu sou, evoca a apresenta-o de Deus a Moiss na sara ardente como Eu sou (Ex 3,14). o nome prprio de Jav! Portanto, a obra de Jesus Eu sou di-vina e autntica com as imagens conhecidas: porta, po da vida, po descido do cu, cami-nho, verdade e vida.

    Jesus, o Eu sou que conduz as ovelhas at os pastos, demonstra ser o autntico guar-

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    dio do rebanho, como o bom pastor na hora do perigo, aquele que no foge e arrisca a prpria vida para defender suas ovelhas. A figura de oposio o assalariado, com a fi-nalidade de excluir aqueles que almejam o ttulo de pastor. Da mesma forma que os la-dres, os salteadores e os estranhos ficaram desqualificados como pastores, assim se d com o mercenrio.

    Em Jo 10,12-13 a imagem do mercenrio aparece de maneira negativa. Na vida rural da Palestina, os pastores contra-tados eram comuns e deles se exigia que fizessem todo o pos-svel para afastar os animais sel-vagens. Conforme a Mishn (as opinies rabnicas) em caso de descuido, os mercenrios eram obrigados a reparar os danos materiais. O relacionamento entre os mercenrios e as ove-lhas era mediado somente pelo aspecto econmico, por isso eles no criavam vnculos amo-rosos com elas. Nesse contexto, a imagem do bom pastor torna--se ainda mais apaixonante: aquele que est profundamente unido, por laos de amor e amizade, s suas ovelhas. Podemos nos per-guntar: como ficam os dirigentes polticos e religiosos que, em nome da Lei, expulsam o povo da sinagoga (Jo 9,22.34; 12,42) e se preocupam unicamente em manter seus pr-prios interesses (Jo 11,48)?

    A imagem do lobo assaltando os reba-nhos aplicada aos falsos profetas e doutores (Mt 7,15; At 20,29). Jesus envia seus discpu-los no meio de lobos (Mt 10,16; Lc 10,3), ou seja, em situaes difceis, de perseguio e risco de vida. Em Jo 10,12 aparece duas ve-zes a palavra lobo para se referir s ameaas a que a comunidade, as pessoas, simbolizadas pelas ovelhas, estavam expostas. Ao mesmo tempo, o texto indica que a fonte de vida e proteo est em Jesus, o verdadeiro pastor.

    O bom pastor estabelece relao de co-nhecimento e amor recprocos com suas ove-lhas: Eu sou o bom pastor: conheo as mi-nhas ovelhas e elas me conhecem, assim como o Pai me conhece e eu conheo o Pai. Eu dou a vida pelas ovelhas (Jo 10,14-15). Jesus estabelece com as pessoas relaes de amizade e confiana. Conhecer significa ter relaes de intimidade e de comunho. o amor que cria a unio: Ele, que tinha amado os seus que estavam no mundo, amou-os at

    o fim (Jo 13,1; 16,27; 17,26). A relao de amor entre Deus

    Pai e seu Filho o modelo e o fundamento da comunho entre Jesus e os seus. Joo 10,27-30 mostra que Jesus conhece as ove-lhas que o seguem. Mas o vncu-lo permanente que une as suas ovelhas est fundamentado no Pai, que cuida para que ningum as roube. Com base na unidade com o Pai, Jesus pode cumprir sua misso. No um conheci-mento terico-racional, mas compreenso que conduz a nova

    volta ao Deus que elege e salva (Os 11,1-4). Jesus d a vida pelos seus, porque os conhece e os ama.

    A misso do pastor conduzir tambm as outras ovelhas que no so deste curral (Jo 10,16). Aqui, o olhar da comunidade vai alm do pequeno grupo que se encontra no ambiente judaico, mas tem um horizonte amplo que inclui os samaritanos, os gregos, os romanos, enfim, todas as pessoas que acei-tam o projeto de vida de Jesus em todos os lugares e em todos os tempos.

    A condio de pastor, prpria de Jesus, atinge o seu ponto culminante: O Pai me ama: porque eu dou a minha vida para reto-m-la de novo (Jo 10,17). Jesus assume o projeto do Pai (Jo 6,39). A memria dos ges-tos de amor faz a comunidade identificar Je-sus com Deus Pai. Dar a vida gesto mximo

    O relacionamento entre os

    mercenrios e as ovelhas era

    mediado somente pelo aspecto

    econmico, por isso eles no criavam

    vnculos amorosos com elas.

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    de liberdade e amor at o fim. A liberdade de Jesus e o seu compromisso com a defesa da vida ameaada provocam o dio dos dirigen-tes judaicos (Jo 7,1.19; 8,37.40).

    Jesus livre diante da entrega de sua vida (Jo 3,35; 13,3). Existe forte relao de intimi-dade entre Jesus e o Pai, marcada pelo amor e pelo respeito. O Pai nada fora. da relao entre Jesus e o Pai que brota nova relao en-tre Jesus e aquelas e aqueles que o Pai lhe confiou. Notemos bem: Jesus o bom pastor, mas no o dono do rebanho (Jo 10,29; 17,12). Ele a porta, o caminho... (Jo 10,9; 14,6). Jesus no o ponto de chegada, mas a passagem. O seu pastoreio se realiza na liber-dade. O seu sonho que os seus tenham vida plena: sade, educao, famlia, comida, casa, lazer, convivncia humana na igualdade e na fraternidade; enfim, que cada pessoa viva de maneira digna.

    Jesus prope um nico mandamento: amar at o extremo (Jo 10,18; 13,1). Esse mandamento vivenciado por Jesus, que o transmite s comunidades joaninas: amem--se uns aos outros (Jo 13,34; 15,12.17). o amor que cria e renova a comunidade: Se vocs tiverem amor uns aos outros, todos vo reconhecer que vocs so meus discpu-los (Jo 13,35). O amor fortalece a comuni-dade e a impulsiona a trabalhar em busca de mais vida para todas as pessoas.

    Ningum tira a minha vida; eu a dou livremente. Tenho poder de dar a vida e te-nho poder de receb-la (Jo 10,18). Dessa forma, a comunidade apresenta Jesus rom-pendo com o poder e a hierarquia. A entrega de sua vida gera nova vida. O poderio de Je-sus se desdobra em gestos de amor e servio. Lembremo-nos da famosa cena do lava-ps: Jesus tira o manto e coloca a toalha. O manto smbolo do poder. A toalha significa servi-o. Ao voltar para a mesa, ele retoma o man-to, mas no tira a toalha. apenas um deta-lhe, mas pleno de significado: o poder s tem sentido se est a servio do bem comum.

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    Alvio para o sofrimento e a depressoO papel da compreenso e da f

    A dor e o sofrimento, a preocupao, a ansiedade e a depresso so parte da vida humana na terra. Alguns so mais afetados que outros por esses problemas, mas todos ns temos de lidar com eles, de um jeito ou de outro, em algum momento da vida. H intervenes mdicas e psiquitricas que oferecem algum alvio por algum tempo, mas no fornecem de fato uma resposta. A est o papel da compreenso e da f. Sem uma filosofia coerente de vida e uma f profunda em Deus, o indivduo fica sem esperana e muitas vezes cai no desespero. Doutor Drane, valendo-se de seu vasto conhecimento da natureza humana e de sua extraordinria competncia nas reas da psicologia, filosofia e religio, demonstra que a compreenso e a f podem ter um papel potente no alvio de todas as espcies de sofrimento e depresso em todas as idades do indivduo.

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    Na ltima cena da narrativa (Jo 10,19-21), a comunidade joanina apresenta a rea-o dos ouvintes diante dos discursos, ou seja, a reao dos fariseus e seus seguidores: Muitos diziam: Ele tem um demnio! Est louco! Por que vocs o escutam? A reao de rejeio! Demonizar a melhor maneira de contestar e rejeitar seu inimigo. Os chefes das sinagogas rejeitam Jesus e oprimem o povo, cuidando apenas do seu interesse e do poder que sua funo proporciona.

    Mas outros diziam: Essas palavras no so de um possesso; ser que um demnio poderia abrir os olhos de cegos? (Jo 10,20-21). Ou seja, como diz o cego de nascena: Sabemos que Deus no ouve os pecadores, mas aquele que o respeita e faz a sua vontade, a este Deus ouve. Nun-ca se ouviu falar de ningum que tenha aberto os olhos de algum que nasceu cego. Se esse homem no tivesse vindo de Deus, no poderia fazer nada (Jo 9,31-33). A obra de Deus, que cria e ali-menta a vida, desafia os seus opositores.

    Hoje, Jesus bom pastor e Eu sou conti-nua agindo no meio de ns, sobretudo no meio das pessoas injustiadas e empobreci-das. O projeto do bom pastor muito claro, objetivo e exigente: Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundncia (Jo 10,10). Seguir o bom pastor dar continuidade a esse projeto; tornar vivo o sonho de Deus para todos. Assim, cabe-nos aceitar o desafio de ser conduzidos por Jesus: O Senhor o meu pastor, nada me faltar...

    3. A origem de Jesus e a sua humanidade segundo o Evangelho de Joo

    Ao ler o Evangelho de Joo, percebe-se que a comunidade, na discusso e no conflito

    com os judeus fariseus e o imprio romano, salienta a soberania e a divindade de Jesus. Nesse evangelho, Jesus aparece aclamado com a afirmao da divindade e da realeza. J no prlogo lemos: No princpio era o Verbo e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus (Jo 1,1). Diante de Pilatos, Jesus fala com autori-dade e afirma sua realeza (Jo 18,28-40).

    No difcil, porm, tambm constatar a afirmao da humanidade de Jesus no Evan-gelho de Joo. No mesmo prlogo, lemos: O

    Verbo se fez carne e habitou en-tre ns (Jo 1,14). O Verbo en-carnado no meio de ns. Ele carne! o bom pastor que con-duz, apascenta e d at sua vida pela vida do povo. Eis aqui al-guns textos exclusivos de Joo que descrevem a origem e a hu-manidade de Jesus:

    1) Tendo ouvido essas palavras, alguns da multido diziam: Ele mesmo o Profeta! Outros diziam: Ele o Cristo. Mas outros di-ziam: Por acaso o Cristo vem da

    Galileia? A Escritura no disse que o Cris-to vem da descendncia de Davi e de Be-lm, a aldeia de onde era Davi? (Jo 7,40-42). Jesus viveu na aldeia de Nazar e pas-sou a maior parte de sua vida na Galileia. Era uma regio de terra frtil para a agri-cultura e de rica pesca. Mas o povo das aldeias e dos vilarejos da Galileia sofria com a explorao, opresso e violncia do poder civil e religioso: os impostos e a presena do exrcito romano; a extorso e ladroagem dos lderes religiosos de Jerusa-lm. Fome, misria e doenas eram reali-dades constantes. Ento Jesus de Nazar experimentou na prpria pele a dureza e o sofrimento: Quando Jesus desceu da bar-ca, viu uma grande multido e se encheu de compaixo, porque eram como ovelhas sem pastor (Mc 6,34).

    Os falsos pastores no esto preocupados com a vida do povo, mas

    com a segurana de suas instituies e a manuteno do

    poder, para defender seus interesses e

    privilgios.

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    2) Algumas pessoas de Jerusalm di-ziam: No a esse que esto procurando para matar? Ele est a falando aberta-mente, e ningum lhe diz nada! Ser que as autoridades se convenceram de que ele o Cristo? Mas este, ns sabemos de onde vem; quando o Cristo vier, nin-gum saber de onde ele vem (Jo 7,25-27). Na tradio apocalptica do tempo do Novo Testamento (cf. Ap 14,14), o Messias viria de um lugar misterioso e ningum saberia a sua origem. Porm, Je-sus, o filho de Jos, de Nazar (Jo 1,45; 6,42), viveu no meio do povo, pregando, atuando e andando de uma aldeia a outra na Galileia, convivendo com os pobres, empobrecidos e excludos: Enquanto eles continuavam pelo caminho, algum disse a Jesus: Eu te seguirei aonde quer que fores. Jesus lhe respondeu: As rapo-sas tm tocas e as aves do cu tm ni-nhos, mas o Filho do homem no tem onde repousar a cabea (Lc 9,57-58).

    3) Quando a festa j estava pela metade, Jesus subiu ao Templo e comeou a ensi-nar. Os judeus ficaram admirados e di-ziam: Como que esse homem tem tanta instruo, se nunca estudou? (Jo 7,14-15). Jesus no frequentou a escola dos rabinos! Mas, em Nazar, na pequena vila dos judeus, Jesus foi criado, apren-deu e guardou as tradies de Moiss e dos profetas, vivenciadas e transmitidas pelos pobres camponeses que lutavam pela sobrevivncia. Os atos, ensinamen-tos, ditos e parbolas de Jesus estavam enraizados em sua experincia da vida camponesa da sua terra; sobretudo, nas instrues sapienciais decorrentes das preocupaes e angstias cotidianas dos pobres da Galileia: Nessa mesma hora, Jesus exultou de alegria no Esprito Santo e disse: Eu te louvo, Pai, Senhor do cu e da terra, porque escondeste estas coisas

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    O Vaticano II Contado aos que no o vivenciaram

    Para bom nmero de cristos, o Conclio Vaticano II (1962-1965) representou um fulgor extraordinrio, um convite intrepidez e esperana, pondo em evidncia a importncia da Escritura, de sua leitura e meditao, a colaborao entre presbteros e leigos, a restaurao do diaconato permanente, o ecumenismo e o dilogo inter-religioso e a abertura ao mundo. Mas, afinal, o que aconteceu naqueles anos de 1960? Meio sculo depois, o que permanece? De leitura fcil e agradvel, indo ao essencial, a obra de Daniel Moulinet apresenta s novas geraes as principais etapas e os textos essenciais do conclio, lembrando como esse acontecimento singular na histria do cristianismo continua a ser fonte de energias benfazejas para a Igreja e o anncio do Evangelho no mundo atual.

    Daniel Moulinet

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    aos sbios e entendidos e as revelaste aos pequeninos (Lc 10,21).

    4) Quando chegou ao lugar onde estava Jesus e o viu, Maria caiu a seus ps e disse: Senhor, se estivesse aqui, meu irmo no teria morrido. Ao ver que Maria e os ju-deus que iam com ela estavam chorando, Jesus se comoveu interiormente e se per-turbou. E disse: Onde vocs colocaram Lzaro? Disseram-lhe: Senhor, vem e v. E Jesus chorou (Jo 11,32-35). O episdio da ressurreio de Lzaro (Jo 11,1-44), o l-timo dos setes sinais, descre-ve o poder de Jesus sobre a morte, preparando os leitores para o Grande Sinal: sua morte e a ressurreio. Ape-sar de ser marcado pela ao libertadora e pela soberania de Jesus, o episdio traz tona a memria da vida de Jesus com seus seguidores e seguidoras, representados por Lzaro, Marta e Maria. Diante da fragilidade da existncia humana a morte , Jesus chora sozinho ao ver o tmulo. O sentimento de perda! A vida en-sina e faz o ser humano crescer... Assim foi a vida do homem Jesus de Nazar.

    Em comparao com os evangelhos sin-ticos, o Evangelho de Joo destaca a sobera-nia e a divindade de Jesus. Mas, ao mesmo tempo, procura descrever a humanidade de Jesus: ele o Verbo encarnado, o filho de Jos, de Nazar, que age na histria e na vida cotidiana do povo da Galileia.

    A descrio da humanidade de Jesus tem sua importncia na comunidade joanina, porque ela sofre com o movimento da gno-

    se. um movimento, com influncia grega, que separa o humano do divino, a terra do cu. Os cristos gnsticos procuram obter a salvao somente pelo conhecimento da di-vindade de Cristo Jesus o Verbo encarnado e chegam a ponto de negar sua humanida-de. Pregam um Jesus divino e soberano, des-prezando a palavra e a prtica de Jesus naza-reno em sua existncia humana: ele carne.

    Por isso, o Evangelho de Joo emprega o termo conhecer no sentido existencial (Jo

    14,4-17; 17,20-26; cf. 2Jo 1-2). Nesse evangelho, o conhecimen-to no provm de um exerccio puramente intelectual, espiritual e elitista, mas da experincia e convivncia humana. O verda-deiro conhecimento do amor de Deus conhecer e praticar o amor de Jesus em suas palavras e seus atos: Eu sou o bom pastor: conheo as minhas ovelhas, e elas me conhecem, assim como o Pai me conhece e eu conheo o Pai, e exponho a minha vida pelas ove-lhas (Jo 10,14-15).

    Hoje como ontem, podemos constatar a existncia de muitos movimentos cristos que acentuam o Jesus divino e glorioso, me-nosprezando o Jesus humano, o Verbo encar-nado na histria. Quem confessa e segue Cristo Jesus, bom pastor, como um dos cami-nhos para construir o Reino de Deus cha-mado a praticar as palavras e os atos de Jesus de Nazar nas atividades cotidianas: cons-cientizar e promover a vida; ser solidrio com os mais desprezados e rejeitados pelos pode-res do mundo, seduzidos pela ambio de-senfreada de bens, poder, prazer e honra que promove a morte: Eu sou o Caminho, a Ver-dade e a Vida (Jo 14,6).

    Hoje como ontem, podemos constatar

    a existncia de muitos movimentos

    cristos que acentuam o Jesus divino e glorioso, menosprezando o Jesus humano.

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    Maria Antnia Marques*

    * Assessora do Centro Bblico Verbo e professora na Faculdade Dehoniana, em Taubat; na Faculdade Catlica de So Jos dos Campos e no Itesp, em So Paulo. Juntamente com a equipe do Centro Bblico Verbo, tem publicado todos os anos pela Paulus um subsdio para reflexo e crculos bblicos para o ms da Bblia. Para o ano de 2015 o subsdio Permanecei no meu amor para dar muitos frutos entendendo o Evangelho de Joo.E-mail: [email protected]

    A ressurreio de Jesus segundo a comunidade joanina:uma leitura de Joo 20,11-18

    Maria Madalena, diante do

    sepulcro vazio, representa a

    comunidade. A ausncia do corpo

    de Jesus provoca angstia, dor e

    tristeza. o sofrimento que distorce

    e dificulta a viso e a compreenso.

    H vrios motivos que abatem e

    dificultam a crena da comunidade

    no Senhor ressuscitado. Eles

    precisam reavivar sua f e

    reacender a esperana para resistir

    aos sofrimentos e perseguies e

    crer na possibilidade da vida nova.

    Jesus ainda no tinha chegado aldeia; es-tava no lugar onde Marta o havia encon-trado. Quando os judeus que estavam na casa com Maria, procurando consol-la, a viram levantar-se depressa e sair, foram atrs dela, pensando que iria ao tmulo para a chorar. Ao chegar ao lugar onde estava Jesus, ela o viu. Maria caiu a seus ps e disse: Se-nhor, se estivesses aqui, meu irmo no teria morrido (Jo 11,30-32).

    O encontro entre Maria e Jesus pleno de sentimentos. Ela se prostra, no tem receio de ser ela mesma, de expressar sua dor e tris-teza pela perda do seu irmo Lzaro. Uma cena comovente: de um lado esto os judeus que se comovem e choram a morte de seu amigo; de outro, Jesus, que se compadece e se emociona (Jo 11,33). Morte, dor, angstia, sofrimento e muita tristeza!

    O episdio, que narra a doena, a morte e a ressurreio de Lzaro, inicia-se mos-trando o sofrimento: em Joo 11,1-6, a pala-vra doena aparece cinco vezes. A repeti-o desse termo reflete a situao de sofri-mento das comunidades joaninas, provoca-

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    da pela perseguio; da comunidade repre-sentada por Lzaro, cujo nome significa a quem Deus ajuda, Marta, dona de casa ou senhora, e Maria, a amada. Eles esto lo-calizados em Betnia, a casa do pobre ou da aflio. Esse grupo abraou a f crist e, por isso, foi perseguido pelo imprio roma-no e pelas autoridades judaicas. Os judeus fariseus chegaram a ponto de expulsar os judeus cristos da sinagoga, o centro comu-nitrio dos judeus da poca: Eu tenho fala-do todas essas coisas, para que vocs no fiquem escandaliza-dos. Vo excluir vocs das si-nagogas. E vai chegar a hora quando algum, matando vo-cs, julgar estar prestando culto a Deus (Jo 16,1-2).

    No episdio de Lzaro, o si-nal de morte transparece na pa-lavra de Tom ao ouvir de Jesus a deciso de ir para a Judeia: Vamos ns tambm para mor-rermos com ele (Jo 11,16). Os membros da comunidade joani-na esto sendo torturados e mortos na perse-guio. A comunidade descreve que a morte de Lzaro definitiva: ele j est morto h quatro dias. O fim de todas as esperanas da vida! Ainda mais: a crena na ressurreio do ltimo dia, conforme tradio farisaica, tor-na difcil para a comunidade crer na vida nova: Eu sei que ele vai ressuscitar na res-surreio, no ltimo dia (Jo 11,24). No h a ressurreio na vida da comunidade?

    A comunidade precisa reavivar a f e re-acender a esperana para resistir aos sofri-mentos e s perseguies! No episdio de Lzaro, possvel afirmar que uma profun-da relao de amizade e amor, capaz de ge-rar vida nova entre os membros, ajuda a co-munidade a superar o abandono e o sofri-mento. Em tal contexto, esse episdio relata uma relao de intimidade e afeto entre Je-sus e suas amigas e amigos.

    Jesus chorou (Jo 11,35). Jesus toma-do por um sentimento intenso de perda e tristeza. Diante do choro, os judeus con-cluem: Vejam como ele o amava! (Jo 11,36). Essa a principal caracterstica das comuni-dades joaninas do discpulo amado: o amor mtuo entre Jesus e os membros da comuni-dade. Se vocs tiverem amor uns aos outros, todos vo reconhecer que vocs so meus discpulos (Jo 13,35).

    Por trs da reao de Jesus, to humana e afetiva, podemos ler as atitudes cotidianas das comunidades joa-ninas: a convivncia e os laos de amor que unem os membros en-tre si na dor e na alegria. Sinal da presena de Jesus ressuscitado na comunidade. Essa fora transpa-rece na cena em que Lzaro passa da morte vida: Jesus gritou em alta voz: Lzaro, venha para fora! (Jo 11,43). Lzaro sai com os ps e as mos enfaixados e com o rosto recoberto com um sudrio. Jesus diz comunidade:

    Soltem-no e deixem que ele ande (Jo 11,44). a comunidade que ajuda a ressuscitar

    Lzaro, desata-lhe as mos e os ps. A comu-nidade colabora para devolver a vida a seus membros. O grito de Jesus e da comunidade expressa o clamor pela vida! a convivncia, sedimentada pelo lao de amor, que faz a co-munidade defender a vida e ressuscitar. A vida nova depende da ao solidria e amo-rosa da comunidade. medida que as pesso-as vo sendo libertas de suas amarras, elas se abrem para uma nova vida.

    A ressurreio de Lzaro encerra o Livro dos Sinais (Jo 2,1-11,54). o maior sinal realizado por Jesus: a vida que supera a morte. Ao mesmo tempo, anncio e pre-parao do grande sinal: a prpria morte e ressurreio de Jesus (Jo 18-20). Na pers-pectiva crist, Jesus a ressurreio e a vida (Jo 11,25-26). Quem cr nele viver na pr-

    No episdio de Lzaro, possvel afirmar que uma profunda relao

    de amizade e amor capaz de gerar vida nova entre os membros da comunidade.

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    tica da fraternidade, da justia e do amor como ressuscitado.

    Como o episdio de Lzaro, o relato da ressurreio de Jesus , inicialmente, marca-do por angstia, dor e sofrimento:

    No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi bem cedo ao tmulo de Je-sus, quando ainda estava escuro. E logo viu que a pedra tinha sido retirada do t-mulo. Ento saiu correndo e foi encon-trar com Simo Pedro e o outro discpu-lo, aquele a quem Jesus amava. E lhes disse: Tiraram do tmulo o Senhor, e no sabemos onde o colocaram. Maria continuava ali, chorando junto ao tmu-lo (Jo 20,1-2.11a).

    Maria, representando a comunidade que busca o corpo de Jesus para ungi-lo, vai ao sepulcro em que ele fora colocado e encontra a pedra removida e o local vazio. A ausncia do corpo de Jesus provoca angstia, dor e tristeza. o sofrimento que distorce e dificul-ta a viso e a compreenso da realidade. A comunidade, ento, compreende que o cor-po de Jesus foi roubado. No compreende que a ausncia do corpo indica o sinal da vida nova: a ressurreio. H vrios motivos que abatem e dificultam a crena da comuni-dade no Senhor ressuscitado:

    1) Os cristos sofrem com a perseguio: Se perseguiram a mim, vo perseguir a vocs tambm (Jo 15,20). H falta de esperana em meio ao sofrimento, misria e desola-o. Alguns membros da comunidade ficam prisioneiros do crculo do sofrimento e da morte.2) Segundo a cultura greco-romana, o ser hu-mano dividido em duas partes: a alma e o corpo. Enquanto a alma imortal, o corpo mortal. No h nenhuma possibilidade da res-surreio do corpo. As comunidades crists sofrem com a influncia de diferentes ideias e crenas sobre a morte. Alguns membros da

    comunidade crist de Corinto, por exemplo, rejeitam a ressurreio de Jesus e a dos mor-tos: De que maneira os mortos ressuscitaro? Com que corpo voltaro? (1Cor 15,35).3) A tradio farisaica prega que a pessoa justa por cumprir a Lei ressuscitada para a vida eterna e o injusto vai para o castigo eterno. Por isso, Paulo testemunha: Ns anunciamos Cristo crucificado, escndalo para os judeus (1Cor 1,23). escndalo porque Jesus rompe as barreiras da lei do puro e do impuro e mor-re na cruz, considerada maldio de Deus e ato de impureza (Dt 21,22-23).

    Tudo isso pe em dvida a ressurreio de Jesus. necessrio levar a comunidade a depositar sua f no Senhor ressuscitado, o Senhor da vida. Com o relato da apario a Maria Madalena, o Evangelho de Joo, ento, prepara o leitor para fortalecer a esperana e, nela, entrar na presena do Ressuscitado.

    O Evangelho de Joo 20,11-18 relata o encontro entre Maria Madalena e Jesus: ela comea o processo de superar a priso do cr-culo do sofrimento e morte e encontra Jesus Cristo ressuscitado. O relato do encontro se inspira no Cntico dos Cnticos, um poema do amor e, ao mesmo tempo, um grito de li-bertao, no qual a amada procura pelo ama-do. Uma busca intensa que termina com o encontro: Encontrei o amado da minha vida, agarrei-o e no o soltarei... (Ct 3,4).

    Jesus e Maria Madalena no jardim (Jo 20,11-18)

    No primeiro dia da semana, Maria Ma-dalena foi bem cedo ao tmulo de Jesus, quando ainda estava escuro. E logo viu que a pedra tinha sido retirada do tmulo (Jo 20,1). A comunidade continua no escuro, ainda no vivenciou a experincia da ressur-reio. Todos os evangelhos citam a presena de Maria Madalena no momento da morte como testemunha e anunciadora da ressur-reio. Quem essa mulher?

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    Maria Madalena foi uma liderana im-portante nas origens do movimento de Jesus. Eis algumas observaes sobre Maria Mada-lena nos evangelhos: Seguiu Jesus desde a Galileia at o momen-

    to da morte: Tambm algumas mulheres es-tavam a, olhando de longe, entre elas Maria Madalena, Maria me de Tiago Menor e de Joset, e Salom. Elas seguiam e serviam Jesus, quando ele estava na Galileia. E muitas ou-tras que tinham subido com ele para Jerusa-lm (Mc 15,40-41; Mt 27,55-56; Lc 23,49). Ela, juntamente com outras

    mulheres, mesmo de longe, ob-servou o sepultamento de Jesus (Mc 15,45-47). fiel at o fim! Ao lado de outras mulheres,

    ela vai ao tmulo no primeiro dia da semana (Mc 16,1-2; Mt 28,1; Lc 24,1.10). Est entre as primeiras a rece-

    ber e comunicar a notcia de que Jesus ressuscitou (Mt 28,5-8). Ela e outras mulheres so as primeiras que

    veem Jesus depois da ressurreio: Eis que Jesus foi ao encontro delas e disse: Alegrem--se! Elas ento se aproximaram, abraaram--lhe os ps e se ajoelharam diante dele. Ento Jesus lhes disse: No tenham medo! Vo avi-sar meus irmos que se dirijam para a Gali-leia. A eles me vero (Mt 28,9-10).

    Alm dos evangelhos cannicos, h outros textos antigos que citam a presena de Maria Madalena; existe at mesmo um evangelho cuja autoria lhe atribuda. Nos primeiros sculos, Maria Madalena foi referncia muito importan-te e significativa para as comunidades crists. No Evangelho de Joo, ela representa a comu-nidade, chamada a vivenciar e anunciar a res-surreio (Jo 20,18). Vejamos, passo a passo, como esse autor descreve o encontro no jardim entre Jesus e Maria Madalena.

    Mesmo encontrando o tmulo vazio, a sua busca continua: Maria continuava ali, cho-

    rando junto ao tmulo (Jo 20,11). Ela ima-gem da comunidade inconsolada com a morte de seus membros e com dificuldade de perce-ber os sinais de ressurreio. Essa situao descrita numa linguagem simblica, inspirada no livro do Cntico dos Cnticos. Nesse livro, a jovem sai ao encontro do amado: Em meu leito, durante as noites, sa procura do ama-do da minha vida. Eu o procurei, mas no o encontrei! Preciso levantar-me, dar uma volta pela cidade, pelas ruas e praas procura do

    amado da minha vida. Eu o pro-curei, mas no o encontrei! (Ct 3,1-2). Maria vai ao sepulcro cho-rar a morte do Senhor. Ela est presa ideia da morte como o fim de tudo. De longe, no escuro, Maria Madalena percebe que o tmulo est vazio. Desesperada, vai ao encontro dos discpulos, que constatam o fato e retornam para casa. Maria permanece cho-rando junto ao sepulcro.

    A mulher, angustiada e ainda chorando, olha para o interior do tmulo e v dois anjos. No livro do Cntico dos Cnticos, a jovem pergunta aos guardas: Acaso vocs viram o amado de minha vida? (Ct 3,3). No Evange-lho de Joo, so os anjos que perguntam a Ma-ria a razo de sua dor. A mulher responde: Tiraram o meu Senhor daqui, e no sei onde o colocaram (Jo 20,13), expresso da dificul-dade da comunidade em tomar conscincia da ressurreio de Jesus. A dor, o desespero e o medo no deixam a comunidade perceber que a vida mais forte que a morte.

    O seu objetivo encontrar o corpo do Se-nhor. Jesus se aproxima e lhe pergunta: Mu-lher, por que voc est chorando? A quem est procurando? Maria pensou que fosse o jardi-neiro e disse: Se foi voc que o levou, diga-me onde o colocou, eu vou busc-lo (Jo 20,15). Enquanto Maria continuar olhando para o t-mulo, no poder encontrar-se com Jesus, pois ele no est no sepulcro. A mulher continua

    A dor, o desespero e o

    medo no deixam a comunidade

    perceber que a vida mais forte que

    a morte.

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    sem esperana, ainda no conseguiu ver os si-nais de vida, mas, apesar disso, persiste na busca. O termo mulher foi usado para a Me, em Can e na cruz, e para a Samaritana (Jo 2,4; 19,26; 4,21). Maria Madalena representa a co-munidade como esposa da nova aliana, que busca o esposo no meio da desolao. Ela cha-ma Jesus de meu Senhor, tratamento dado ao marido conforme o costume da poca. Porm, ela continua perplexa, sem nada entender...

    Maria Madalena reconhece Jesus s quan-do ele a chama pelo nome: Maria. Ela vol-tou-se e exclamou em hebraico: Rabuni!, que quer dizer Mestre (Jo 20,16). Agora, ela j no olha para o sepulcro. Seu olhar dirigido para o Ressuscitado. o incio da nova cria-o. Maria faz a experincia de ser amada e aco-lhida como discpula: No tenha medo, por-que eu o protegi e o chamei pelo nome. Voc meu (Is 43,1). Ela a ovelha que reconhece a voz do pastor (Jo 10,2-3). Uma situao seme-lhante descrita no Cntico dos Cnticos: Eu dormia, mas meu corao estava desperto a ou-vir a voz do meu amado (Ct 5,2).

    a experincia humana de intimidade, de convivncia no amor, que faz a pessoa vi-ver. Quando Maria encontra o amado, um momento de grande alegria e emoo. Ela quer abraar e segurar o Senhor. No entanto, Jesus lhe diz: No me retenhas, pois ainda no subi para junto do Pai. Mas v encontrar os meus irmos e diga a eles: Eu estou subin-do para junto do meu Pai e Pai de vocs, do meu Deus e Deus de vocs (Jo 20,17).

    No, a misso ainda no acabou. preci-so continuar as obras de Jesus. O Reino de Deus para todos, por isso necessrio que Maria v anunciar aos meus irmos; e isso, no contexto da comunidade de Joo, no ap