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República de Angola
DISCURSO DE SUA EXCIA. SR. RUI JORGE CARNEIRO MANGUEIRA, MINISTRO DA JUSTIÇA E DOS DIREITOS HUMANOS DURANTE A APRESENTAÇÃO DO RELATÓRIO INICIAL SOBRE A IMPLEMENTAÇÃO DO PACTO INTERNACIONAL DOS DIREITOS
CIVIS E POLÍTICOS EM ANGOLA PERANTE O COMITÉ DOS DIREITOS HUMANOS
Genebra – Suíça, Março 2013.
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Sr. Presidente
Srs. Membros do Comité;
Minhas senhoras e meus senhores;
Gostaria, antes de mais de, em nome do Governo da República de
Angola, apresentar os nossos cumprimentos aos membros do Comité,
em particular o Sir Nigel Rodley pela sua eleição como presidente deste
Comité. A delegação angolana a esta sessão tem a honra de apresentar
o relatório inicial do Estado angolano sobre a implementação do Pacto
Internacional dos Direitos Civis e Políticos, bem como partilhar com este
Comité as dificuldades e os desafios para a plena implementação deste
importante instrumento internacional de promoção e protecção dos
direitos civis e políticos.
Permita-me também apresentar a delegação que me acompanha neste
acto composta por representantes dos seguintes: do Ministério da
Justiça e dos direitos Humanos, da Procuradoria-Geral da República; do
Ministério das Relações Exteriores; do Ministério da Economia;
Ministério do Interior; Ministério da Cultura; Ministério da Família e
Promoção da Mulher; Ministério do Urbanismo e Ministério da
Administração Publica Trabalho Segurança Social.
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Senhor Presidente,
Como é do vosso conhecimento, logo após a sua independência,
Angola viveu um período de conflito armado, que não permitiu criar as
condições para a implementação efectiva deste instrumento jurídico a
que aderiu em 1992. Por essa razão, só agora, em tempo de paz
efectiva, com estabilidade política e a consolidação do processo
democrático, foi possível apresentar ao Comité o relatório inicial, que
cobre o período que vai de Abril de 1992 a Dezembro de 2010.
Durante os 10 anos de paz, Angola tem dado passos concretos na vida
política, sobretudo na preservação dos direitos, deveres e garantias
fundamentais dos cidadãos. No entanto, reconhecemos que ainda há
um longo caminho a percorrer no tratamento das questões relacionadas
com os Direitos Humanos.
Em 2010 foi aprovada a Constituição da República de Angola, que
reafirma os princípios fundamentais dos Direitos Humanos, da
Democracia e do Estado de Direito. Neste contexto, Angola vive um
processo dinâmico, de estabilidade política, reconstrução,
desenvolvimento económico e social, que envolve a participação da
Sociedade Civil e as ONG´s.
Senhor Presidente,
O processo de reforma legislativa em curso tem permitido a elaboração
e adopção de novos instrumentos jurídicos, que regulamentam os
diferentes sectores da vida política, económica, social e cultural.
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Neste âmbito, a situação dos direitos humanos em Angola, tem
registado melhorias significativas nos últimos anos, embora as sequelas
de mais de duas décadas de conflito armado continuem a constituir um
desafio para a promoção e protecção dos Direitos Humanos e garantias
das liberdades fundamentais.
No sector da Justiça, Angola confronta-se ainda com algumas
debilidades institucionais, tais como, a cobertura a nível do território
nacional de infra-estruturas e recursos humanos para dar resposta total
às necessidades dos cidadãos, a falta de pessoal qualificado,
instituições judiciais que necessitam ser melhoradas, componentes que,
juntas, permitem a plena funcionalidade do Sistema de Justiça.
Um dos passos dados pelo Governo para fazer face a estes desafios, foi
a criação de uma Comissão para a Reforma da Justiça e do Direito, cuja
actividade compreende três fases:
Uma primeira fase já realizada e que compreendeu um diagnóstico
sobre o sistema judicial, onde foram analisados os aspectos
institucionais, legislativos, a capacidade dos recursos humanos e de
meios técnico-materiais.
Na segunda fase elaborámos propostas sobre diversos diplomas
legislativos, submetidos à análise e discussão pública, com destaque
para os Códigos Civil e Penal, e ainda a Legislação Processual,
correspondente conforme consta do nosso relatório.
Actualmente este processo passa pela sua terceira fase, que consiste
na apreciação dos diplomas acima referidos, para aprovação. Diplomas
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que permitirão a alteração pontual da Lei do Sistema Unificado de
Justiça, Lei nº 18/88 e permitirá que se possam prever aspectos
relacionados com o aumento das competências dos Tribunais
Municipais; introdução da figura do Administrador Judicial que possuirá
aptidões para proceder à Gestão Administrativa e Financeira dos
Tribunais, e ainda sobre a organização e Mapa Judiciário do País.
No presente momento, está também, a ser preparada a legislação
Processual Laboral e sobre a Reforma nas áreas do Registo e do
Notariado.
Acresce-se a estas acções, um projecto de modernização e
informatização dos tribunais assim como, um vasto programa de
formação de funcionários, no sentido de se adaptarem às novas
tecnologias de informação que serão utilizadas no sector.
Igualmente gostaríamos de realçar a alteração da estrutura orgânica do
Ministério da Justiça, que passou a designar-se por Ministério da Justiça
e dos Direitos Humanos, o que vai assegurar uma maior e melhor
harmonização entre as questões da justiça com a promoção e protecção
de Direitos Humanos.
Senhor Presidente,
Com a vossa permissão, passaria agora a referir-me a algumas
questões constantes da lista do questionário que nos foi submetida pelo
Comité.
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Começo por assinalar que a equipa de profissionais que levou a cabo
esta tarefa fê-lo em condições difíceis, tendo em conta a realidade
objectiva do nosso País.
O primeiro grupo de questões da lista está relacionado com o quadro
jurídico-constitucional e a implementação do Pacto.
Nos termos do art.º 26º nº 3 da Constituição da República de Angola
(C.R.A.), os Tribunais angolanos aplicam os instrumentos jurídicos
internacionais, com destaque para a Declaração Universal dos Direitos
do Homem, a Carta Africana dos Direitos do Homem e dos Povos e
outros Tratados de que Angola é Estado Parte, ainda que não sejam
evocados pelas partes.
Os tribunais angolanos têm aplicado o Pacto. Como exemplo citamos o
acórdão 130/2011, sobre a fiscalização sucessiva, intentado pela Ordem
dos Advogados de Angola, onde houve referências à Declaração
Universal dos Direitos Humanos (artigos 11º, 18º,19º,20º) e artigos
(9º,10º e 11º) da Carta Africana dos Direitos do Homem e dos Povos.
Podemos também citar o acórdão 121/2010 sobre recurso
extraordinário, intentado por uma das partes, onde foram feitas
referências ao art.º 14º do Pacto dos Direitos Civis e Políticos, sobre o
direito a igualdade perante o Tribunal. Os réus foram absolvidos nos
dois processos vide a página Web do Tribunal Constitucional de Angola.
No âmbito da implementação do Pacto dos direitos Civis e Políticos, e
em conformidade com art.º 40, mutatis mutandis de outros instrumentos
jurídicos internacionais de que Angola é parte, foi criada a Comissão
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Intersectorial para a Elaboração de Relatórios de Direitos Humanos
(CIERDH) que tem entre outras funções, reforçar a parceria com a
Sociedade Civil e os Organismos do Sistema das Nações Unidas, em
matéria de promoção e protecção de Direitos Humanos,
O segundo grupo de questões refere-se à não-discriminação entre
homens e mulheres. A Constituição da República de Angola consagra
nos termos do art.º 23º, o princípio da igualdade entre todos os
cidadãos.
Neste âmbito foram aprovadas leis que salvaguardam a protecção do
direito das mulheres e da igualdade do género, bem como a
salvaguarda dos direitos da criança, nomeadamente a Lei nº 02/05
sobre a Participação da mulher na vida política a todos os níveis, a Lei
n.º 25/11 Contra a Violência Doméstica e a Lei n.º 25/12 sobre
Protecção e Desenvolvimento da Criança.
Em relação ao terceiro grupo referente às questões sobre o direito à
vida, permita-nos referir que este direito é reconhecido e representa um
valor supremo que a República de Angola respeita e protege nos termos
do artigo 58º da Constituição. De realçar ainda que, a abolição da pena
de morte em Angola, é anterior à adesão da República de Angola ao
Pacto dos Direitos Civis e Políticos.
Quanto as alegações de eventuais execuções sumárias e arbitrárias
podemos afirmar com propriedade, que tal não tem sido prática, nem
tão pouco é política do Estado Angolano.
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O quarto grupo de questões refere-se à proibição da tortura, tratamento
cruel, desumano e degradante. Tais práticas são proibidas
constitucionalmente em Angola, ainda que não tipificadas em virtude do
processo de reforma do Código Penal em curso.
Todavia, têm sido tomadas medidas preventivas com a aprovação do
código de conduta, da Policia Nacional, Forças Armadas e outros
órgãos de defesa e segurança, que prevêem a responsabilização
criminal dos efectivos, quando as denúncias de tais práticas forem
comprovadas.
A titulo de exemplo, foi registado em Setembro de 2012, um caso de
tratamento desumano a presos na Penitenciária de Viana em Luanda,
que resultou na suspensão imediata do director da referida Unidade
Penitenciaria, assim como de outros responsaveis e oficiais, cujos
processos foram encaminhados à Procuradoria-Geral da República para
o devido tratamento.
Ainda neste âmbito, as vítimas de actos de tortura, têm o direito de
apresentar queixa, diante do Departamento de Inquérito e Reclamações
junto da Direcção Nacional de Investigação Criminal (DNIC), que tem
como competência velar especificamente dos casos que derivam de
condutas indevidas e violação dos direitos legítimos dos cidadãos por
parte dos Agentes da Ordem Pública.
A suposta impunidade está a merecer uma particular atenção do
governo angolano que mantem um controlo efectivo sobre as FAA e a
Polícia Nacional e tem mecanismos para investigar e punir os abusos e
actos de corrupção das forças de segurança. Tanto a Polícia Nacional
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como as FAA têm seus próprios mecanismos internos para o tratamento
destes casos.
Senhor Presidente,
No que concerne as questões sobre as condições das prisões e dos
Centros de detenção, podemos afirmar que as condições prisionais em
Angola tem vindo a registar melhorias significativas.
Esta em curso a construção de novas unidades penitenciárias para
solucionar o problema da sobrelotação.
Com esta actuação melhoraram significativamente as condições nas
penitenciárias incluindo as condições de trabalho dos agentes
penitenciários que recebem formação em matéria de direitos humanos,
o que permitiu humanizar o sistema penitenciário nacional.
Os presos têm os direitos salvaguardados, inclusive a apresentação de
queixas às autoridades judiciais e podem solicitar uma investigação
sempre que os seus direitos forem violados.
As famílias dos presos, os defensores dos direitos humanos, diplomatas
estrangeiros e observadores internacionais dos direitos humanos, têm
livre acesso aos Centros Penitenciários e aos presos desde que
cumpridas as formalidades previstas.
Actualmente estão em curso iniciativas que visam melhorar a base de
dados do sistema penitenciário que deverá transitar do registo manual
para a informatizada, incluindo dados biométricos e uma conexão a
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outros organismos da Polícia e ao sistema judicial.
Senhor Presidente,
Relativamente às informações que circulam segundo as quais teria
havido actos de violência sexual sistemática contra mulheres imigrantes
em Angola, durante o processo de repatriamento, reiteramos que não é
política do Estado angolano, pois o mesmo ocorre em obediência dos
princípios dos direitos humanos e do direito internacional.
Para maior transparência, o Governo reforçou a sua cooperação com
algumas agências especializadas das Nações Unidas, nomeadamente a
Organização Internacional da Migração, a Cruz Vermelha e o Alto
Comissariado para os Refugiados, para acompanhar o processo de
repatriamento dos imigrantes em Angola e tem vindo a adoptar medidas
apropriadas para prevenir e combater tais práticas.
A este respeito deslocou-se no mês de Outubro à província da Lunda
Norte uma equipa multissectorial que inclua também o representante
residente das Nações Unidas e conclui que as acusações sobre
violações sexuais contra mulheres imigrantes em Angola eram
infundadas.
Senhor Presidente,
No que concerne à liberdade de expressão, trata-se de um direito, cuja
garantia de exercício está assegurado pelas Leis nº7/06 da liberdade de
Imprensa e nº 14/91 das Associações.
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Em Angola, todo o cidadão é livre de expressar as suas ideias e
opiniões. O exercício destes direitos é limitado nos termos do nº 2 do
Art.º 64º da Constituição da República de Angola (CRA), quando
atingem o bom nome, a reputação a imagem de outrem, ou quando elas
visam o incitamento à desobediência da ordem pública. Temos a
certeza que esta disposição está em conformidade com o disposto no
artigo 19 do Pacto dos Direitos Civis e Políticos.
Relativamente à liberdade de Religião e de Culto, gostaria de referir que
em Angola, este direito está garantido. No entanto, assiste-se ao
surgimento de milhares de organizações religiosas, sem o cumprimento
dos pressupostos legais para o seu exercício. Para compreender a
fenómeno da proliferação, foi criada em 2009, uma Comissão
Multissectorial para analisar a sua origem, os objectivos reais, e o seu
impacto na sociedade.
Esta Comissão concluiu que muitas dessas organizações religiosas
praticam actos socialmente condenáveis tais como: acusações de
práticas de feitiçaria contra crianças e idosos, promessas de curas
milagrosas, realização de cultos em locais e horários inapropriados,
entre outras práticas que contrariam a Lei, a ordem pública e os bons
costumes.
Senhor Presidente,
A Protecção dos menores tem sido uma das prioridades do governo.
Para o efeito, temos adoptado medidas cujos pressupostos reflectem
aspectos que cobrem de forma especial, a necessidade de proteger,
cuidar e educar a criança para um futuro melhor.
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No entanto, os direitos das crianças não deixam de estar associados ao
contexto político económico e social em que estão inseridas. O País
vive o fenómeno de crianças acusadas de feitiçaria, que surgiu em
algumas organizações religiosas, com índole duvidosa, que se
aproveitam da vulnerabilidade de famílias sem condições para o
sustento dos seus agregados.
Existe também, um número considerável de menores que têm sido
instrumentalizados por adultos para prática de crimes, sendo alguns
deles considerados hediondos. O Estado Angolano está atento e tem
salas de Julgado de Menores para que estes não sejam expostos a
julgamento nas salas comuns dos Tribunais e violados os seus direitos
enquanto menores de idade.
Entende-se que a nossa maior dificuldade reside no facto de o menor
ter de regressar ao seu ambiente quotidiano e deste modo poder, mais
facilmente, voltar a práticas delituosas. Contudo, esta dificuldade será
ultrapassada ainda este ano, pois perspectiva-se a construção e
inauguração de Centros de Reeducação que virão a albergar os
Menores em Conflito com a Lei, de forma a permitir que não se
interrompa a sua infância e que se possa proceder à sua reintegração
na sociedade por meio de um ambiente saudável.
Quanto ao trabalho infantil, a Lei proíbe o trabalho forçado ou
obrigatório, de acordo com a Lei Geral do Trabalho (lei 2/200) que
estabelece que a idade mínima para uma criança ingressar no mercado
de trabalho.
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Entretanto importa destacar que grande parte do trabalho infantil se
regista no sector informal e é exercido de forma precária, este facto
mereceu atenção especial do Governo e resultou na criação de um
programa, para formar e fortalecer redes de protecção de menores, aos
níveis provinciais e municipais nas dezoito Províncias do Pais. As redes
identificaram muitos casos de exploração de crianças, sendo estas
recolhidas e encaminhas para os Centros de Abrigo.
Senhor Presidente,
Quanto a questão das eleições e o Direito à participação na vida
pública, a Constituição de Angola garante aos cidadãos o direito de
participar na vida pública através das eleições livres e justas, onde o
cidadão tem a liberdade de escolher os seus representantes.
Em Angola, os cidadãos tiveram a oportunidade de exercer o direito de
voto em 1992, 2008 e 2012 durante as eleições gerais. A Constituição
prevê igualmente eleições autárquicas, cuja realização está dependente
do senso populacional que se prevê realizar em 2014.
Nos termos da Constituição, as eleições realizam-se de cinco em cinco
anos, onde é eleito como presidente o cabeça de lista do partido
vencedor.
Importa no entanto realçar que as ultimas eleições gerais realizadas no
dia 31 de Agosto de 2012, foram consideradas pelos observadores
nacionais e internacionais como livre e justa, caracterizada pela
participação da população de forma cívica e pacífica.
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Senhor Presidente,
A corrupção é um fenómeno mundial que preocupa igualmente o
governo da República de Angola, que nesta senda tem vindo adoptar
uma série de medidas e leis que visam melhoraria da transparência da
acção governativa.
Neste sentido, a Assembleia Nacional ratificou a Convenção contra a
corrupção e o branqueamento de capitais e aprovou em Março de 2010,
uma Lei Nº 3/10 sobre a Probidade Pública, que exige aos altos
funcionários do governo a apresentação de uma declaração dos seus
bens junto do Procuradoria-Geral da República.
O governo fez progressos na melhoria da transparência das suas
operações financeiras e transações econômicas, em grande parte
devido às medidas implementadas no âmbito do STAND BY
AGREEMENT celebrado com o Fundo Monetário Internacional (FMI) em
2009 e o Banco Mundial. Para além disso, o governo procedeu a
alteração da Lei da contratação pública reforçando os mecanismos de
controlos para aprovação de projectos que digam respeito ao
desenvolvimento social e económico de Angola.
Um outro mecanismo criado reside na intervenção do Tribunal de
Contas, organismo que exerce o controlo da conta geral do estado na
aprovação de todos os contractos celebrados pelas entidades públicas.
Por fim, gostaria de acrescentar que a Assembleia Nacional anualmente
escrutina a execução do orçamento e a conta geral do Estado.
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Senhor Presidente,
Para terminarmos, gostaríamos de reafirmar o compromisso político do
Estado angolano de reforçar a consolidação do Estado Democrático e
de Direito, premissas sine qua non para o pleno gozo dos Direitos Civis
e Políticos.
De igual modo gostaria de agradecer ao Senhor Presidente e aos
demais membros da Comissão pelo trabalho desenvolvido que permitiu
a nossa presença neste palco, e estamos abertos para um diálogo
construtivo e franco, e prestar todos os esclarecimentos que o Comité
considerar pertinente.
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