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Correio do Povo do dia 7 de janeiro de 1910 Fechamento de commercio - As casas commerciaes da cidade do Rio Grande tambem fecharão ao escurecer. Correio do Povo do dia 8 de janeiro de 1910 Queixa de operarios Rio, 7 - Segundo telegrammas de Berlim, continuam os commentarios com relação ás queixas dos trabalhadores da estrada de ferro Madeira Mamoré ha pouco aqui chegados do Brazil. O governo allemão declarou que tomou providencias, no sentido de salvaguardar os interesses dos trabalhadores allemães no Brazil. O ministro brazileiro, dr. Itiberê da Cunha, entrevistado pelo redactor da Gazeta de Berlim, declarou ignorar os factos que se commentam e disse não acreditar que a policia brazileira tivesse obrigado os operarios allemães a trabalharem á força. Correio do Povo do dia 9 de janeiro de 1910 Trabalhadores allemães Rio, 8 - A Gazeta da Colonia, da provincia do Rheno, na Alemanha, procura diminuir o alarme provocado com as noticias dadas pelo Vorwaerts, a proposito dos trabalhadores allemães que estiveram trabalhando na estrada de ferro Madeira-Mamoré. Aquelle jornal diz que apenas 18 trabalhadores morreram, quando o Vorwaerts da como sendo de 300 o numero de mortos. Correio do Povo do dia 14 de janeiro de 1910 Mortalidade de creanças - Nestes ultimos dias têm sido registrados nos respectivos cartorios muitos obitos de creanças. Ainda hontem, só no cartorio do 1º e 2º districtos foram registrados oito fallecimentos de creanças, todas menores de 1 anno. Fechamento de portas Pelotas, 13 - Os commerciantes desta praça estão tratando do fechamento das portas de seus estabelecimentos ás 8 horas da noite, no verão e ás 7 horas, no inverno. É provavel que esse accôrdo comece a vigorar de 20 do corrente em diante. Correio do Povo do dia 19 de janeiro de 1910 Fechamento de portas - O commercio de Uruguayanna tambem convencionou fechar seus estabelecimentos ás 7 e 1/2 horas da tarde.

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Correio do Povo do dia 7 de janeiro de 1910

Fechamento de commercio - As casas commerciaes da cidade do Rio Grande tambem fecharão ao escurecer.

Correio do Povo do dia 8 de janeiro de 1910

Queixa de operarios

Rio, 7 - Segundo telegrammas de Berlim, continuam os commentarios com relação ás queixas dos trabalhadores da estrada de ferro Madeira Mamoré ha pouco aqui chegados do Brazil. O governo allemão declarou que tomou providencias, no sentido de salvaguardar os interesses dos trabalhadores allemães no Brazil. O ministro brazileiro, dr. Itiberê da Cunha, entrevistado pelo redactor da Gazeta de Berlim, declarou ignorar os factos que se commentam e disse não acreditar que a policia brazileira tivesse obrigado os operarios allemães a trabalharem á força.

Correio do Povo do dia 9 de janeiro de 1910

Trabalhadores allemães

Rio, 8 - A Gazeta da Colonia, da provincia do Rheno, na Alemanha, procura diminuir o alarme provocado com as noticias dadas pelo Vorwaerts, a proposito dos trabalhadores allemães que estiveram trabalhando na estrada de ferro Madeira-Mamoré. Aquelle jornal diz que apenas 18 trabalhadores morreram, quando o Vorwaerts da como sendo de 300 o numero de mortos.Correio do Povo do dia 14 de janeiro de 1910

Mortalidade de creanças - Nestes ultimos dias têm sido registrados nos respectivos cartorios muitos obitos de creanças. Ainda hontem, só no cartorio do 1º e 2º districtos foram registrados oito fallecimentos de creanças, todas menores de 1 anno.

Fechamento de portas

Pelotas, 13 - Os commerciantes desta praça estão tratando do fechamento das portas de seus estabelecimentos ás 8 horas da noite, no verão e ás 7 horas, no inverno. É provavel que esse accôrdo comece a vigorar de 20 do corrente em diante.

Correio do Povo do dia 19 de janeiro de 1910

Fechamento de portas - O commercio de Uruguayanna tambem convencionou fechar seus estabelecimentos ás 7 e 1/2 horas da tarde.

Correio do Povo do dia 20 de janeiro de 1910

Operarios, jornaleiros, etc. - Pela lei n 2221, de 30 de dezembro de 1909, que fixa a despeza para 1910, os operarios, jornaleiros, etc., começarão a receber seus salários aos domingos e dias feriados, como dispõe o art. 41 da citada lei.

Correio do Povo do dia 21 de janeiro de 1910

Carestia de generos

Roma, 19 - Em Napoles, os populares apedrejaram a policia devido a carestia dos generos alimenticios.

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Correio do Povo do dia 23 de janeiro de 1910

Francisco Ferrer

Madrid, 22 - Uma mulher, que se diz ex-amante de Francisco Ferrer, requereu, judicialmente, a entrega de certa somma de dinheiro que, segundo affirma, confiára áquelle chefe socialista.

Correio do Povo do dia 27 de janeiro de 1910.

Gréve na Bahia

Rio, 26 - A Bahia está na imminencia de uma nova gréve ferroviaria, devido ao não cumprimento das promessas feitas aos operarios e a perseguição movida aos chefes do ultimo movimento ali havido.

Correio do Povo do dia 3 de fevereiro de 1910

Jornaleiros - Sabemos que os operarios jornaleiros do Arsenal de Guerra, da Alfandega e das demais repartições da União vão reclamar aos poderes competentes, por não ter ainda sido cumprida a lei que lhes garante o abono de vencimentos aos domingos e dias feriados.

Correio do Povo do dia 10 de fevereiro de 1910

Desastre e morte - No quartel que está sendo construido, para o 2º batalhão da Brigada Militar, á praia de Bellas, occorreu um desastre, ás 6 horas da manhã de ante-hontem: o pedreiro Angelino Generatto, italiano, solteiro, de 18 annos de idade, quando trabalhava em um andaime, perdeu o equilibrio, caíndo ao solo. O desventurado operario, havendo batido com o craneo sobre uma grande pedra, teve morte instantanea. Seus companheiros de trabalho avisaram logo o inspector Ernestino Rosa, de dia ao 2º posto, de onde seguiram, para o local, o dr. Landell de Moura e o enfermeiro Paulino Guerra. Estes tiveram apenas de mandar remover o cadaver para o necroterio da Chefatura de Policia, de onde saiu o enterro, após as formalidades legaes.

Correio do Povo do dia 18 de fevereiro de 1910.

Trabalho de exgottos - Hontem, ás 11 1/2 horas da manhã, á rua Bento Martins, esquina da dos Andradas, o pessoal encarregado do serviço dos exgottos occupava-se em arrebentar pedras, no vallo por onde passa o encanamento geral da Hydraulica Municipal. O arrebentamento de uma pedra produziu tal estampido, que causou panico entre os moradores das adjacencias. Estilhaços foram arremessados a grandes distancias, felizmente sem consequencias. O encanamento da Hydraulica ficou com um grande rombo. Alguns trabalhadores tentaram fazer um engate nesse encanamento, mas não o conseguiram.

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Correio do Povo do dia 26 de fevereiro de 1910

TELEGRAMMAS

Santa Maria, 25 - O dr. Gustavo Vauthier, director da Viação Ferrea, baixou uma portaria, prohibindo os empregados da estrada de tomar parte em qualquer manifestação politica, ficando lhes, apenas, o direito de votar livremente. Essa portaria tem dado logar a commentarios, parecendo a muitos ser absurdo que uma empreza extrangeira intervenha em assumptos attinentes á liberdade de reunião. Quasi todos os empregados da Viação Ferrea, desde as officinas até ao escriptorio, são opposicionistas.

Correio do Povo do dia 27 de fevereiro de 1910.

Gréve

Pariz, 26 - Declararam-se em gréve os lavradores de Guadeloupe. Saquearam elles as povoações de Sail François e outras vizinhas, incendiando os cannaviaes. O cruzador Friant partiu para ali.

Correio do Povo do dia 2 de março de 1910.

As accumulações - Os funcionarios da prefeitura do Distrito Federal que accumulam cargo municipal com federal, foram convidados a optar, dentro de 24 horas, por um dos dois logares. O unico a responder foi o dr. Ernani Pinto, preparador da cadeira de histologia da Faculdade de Medicina e chefe da commis-são do exame das vaccas leiteiras e commercio de leite, dizendo não ter que optar, por se achar garantido em ambos esses cargos.

Explosão e ferimentos - No logar denominado Feitoria, no município de S. Leopoldo, ocorreu, há dias, um desastre: na serraria do sr. Luiz Strack houve a explosão de uma caldeira, ficando gravemente feridos esse cidadão e dois filhos.

Correio do Povo do dia 6 de março de 1910.

Abalroamento - Hontem pela manhã, no Rio Guahyba, proximo á ilha da Pintada, abalroaram devido á forte cerração, os vapores Estrella e Santa Cruz, resultando sair este com algumas avarias grossas. O cosinheiro deste ultimo vapor, Estefanio Jesus saiu muito contundido e depois de soccorrido pelo enfermeiro Leonardo Gomes, foi transportado em estado grave para a Santa Casa. O panico entre os passageiros foi grande. Pouco depois, o Santa Cruz e o Estrella continuaram viagem.

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Correio do Povo do dia 7 de março de 1910.

CRIMINALIDADE INFANTIL

O problema da criminalidade infantil preocupa os homens de sciencia de todos os paizes. Na Itália o tema reveste um aspecto muito grave e deu logar a que um antigo ministro, nomeasse uma comissão para estudar o augmento progressivo desse mal e propor remedios convenientes para a sua attenuação. Para se avaliar do augmento que tem tido na Italia, a criminalidade dos menores, basta ler a seguinte relação dos menores condemnados pelas varias autoridades judiciaes em diversos annos.

Em 1890 .................. 30.108

Em 1900 .................. 42.684

Em 1905 .................. 67.944

É um crescendo terrivel.

Categorias de abandono

Segundo um eminente criminalista italiano, a infancia abandonada póde dividir-se em tres categorias:

1º - Infancia materialmente abandonada. Os orphãos que escapando á mortalidade, quasi sempre são candidatos ao crime.

2º - Infancia moralmente abandonada. Os filhos de viciosos e degenerados. Maltratados pelos paes, impellidos por eles para a mendicidade, a vagabundagem, o furto, a prostituição, etc.

3º- Infancia necessariamente abandonada. Esta é a categoria mais numerosa e desgraçada. O moderno industrialismo obrigando, não só os homens, mas as mulheres e mães de familia a buscar o pão quotidiano nas fabricas e officinas, desorganizou e fez dispersar a familia. O pae e mãe, trabalhadores honestos, são forçados a passar o dia fóra de casa e têm necessariamente de abandonar os filhos. Assim, sem disciplina e sem o aconchego da vida de familia, as pobres creanças, sem os paes o quererem, acabam por seguir, muitas vezes o caminho do crime. Eis aqui exposto o mal e definidas as suas causas.

Em França, a marcha da criminalidade dos menores não tem sido tão alarmante como na Italia, mas em todo o caso, não é tranquilisadora. Foram condemnados:

Em 1880 ............... 23.000

Em 1905 ............... 31.000.

Na Allemanha, o accrescimo da criminalidade entre os menores é muito grave, como póde ver-se da estatística dos condemnados:

Em 1882 ............... 30.000

Em 1906 ............... 55.000.

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Inglaterra e Estados Unidos

Na Inglaterra e nos Estados Unidos o mal tem sido muito attenuado. Com effeito, o numero de menores delinquentes tem diminuido nestes dois paizes. Os inglezes attribuem essa diminuição á lei sobre a infancia promulgada pelo governo liberal. Quanto aos americanos, esses orgulham-se de ter dado ao Velho Mundo o exemplo de uma instituição que é e será o modelo de todas as reformas a realisar. Queremos nos referir aos tribunaes para menores. Essa instituição foi também adoptada pela Allemanha desde ha um anno. A emoção produzida no publico pelas estatisticas da criminalidade infantil deu logar a que o governo allemão procurasse um remedio para tão grande calamidade. O remedio encontrou-o nos tribunaes de menores, á semelhança dos que existem nos Estados Unidos. Segundo os novos processos de correção, parte-se do principio de que o menor delinquente deve ser julgado, vigiado e castigado como creança e não como se fora um homemzinho. O pequeno accusado não é conduzido aos tribunaes por agentes da força publica, mas citado, directamente, para comparecer livre no tribunal. Mas isto é apenas o aspecto exterior da reforma.

TRIBUNAL ESPECIAL

A sua essencia está na composição do tribunal e nas medidas de proteção applicadas ao menor. O juiz especial é nomeado, tendo em attenção as suas qualidades de bondade e perspicacia. Junto delle, e fazendo parte do tribunal, estão alguns particulares, que pela sua pratica da vida, professores, philantropos, directores de asylos, etc. tenham conhecimento das miserias sociaes e da vida das crianças pobres. O juiz dispõe de dupla qualidade, de julgador e de tutor. Si resolve não applicar nenhuma pena, fica autorisado a decidir sobre a maneira de viver do menor, vigilancia a que deve ficar sujeito, etc. Tambem na França o problema está sendo estudado pelos homens mais eminentes, devendo em breve o governo apresentar um projecto sobre a reforma do codigo da infancia.

Correio do Povo do dia 08 de março de 1910

Apanhado por um trem - Na estação da estrada de ferro do Riacho, occorreu um desastre, hontem, ás 6 horas da tarde. O trem de passageiros que, áquella hora, saía para o arrabalde da Tristeza, apanhou o trabalhador Apollinario Ferreira dos Santos, branco, casado, de 60 annos de idade e morador do Parthenon. O pobre homem ficou comprimido entre dois wagons, resultando-lhe o esmagamento da côxa esquerda. Seu estado é grave.

Correio do Povo do dia 09 de março de 1910

Convenio dos bancos - Os Bancos da Provincia, Commercio, Pelotense, London Bank e Brasilianische Bank, vão encerrar seus expedientes aos sabbados, á 1 hora da tarde.

Correio do Povo do dia 10 de março de 1910

Desastre - O capitão Leonel Correia, administrador da estrada de ferro do Riacho, informa-nos ter sido um troly a causa do desastre de que foi victima o operario Apollinario Francisco dos Santos, recolhido ao hospital da Santa Casa.

Correio do Povo do dia 15 de março de 1910

Syndicato agricola - Reuniram-se ante-hontem, na Tristeza, na residencia do sr. João Pilla, diversos agricultores, afim de tratar da fundação de um syndicato agricola. A reunião esteve muito concorrida, comparecendo, entre outros, os srs. major Euclydes Moura, inspector da 10ª Região Agrícola; Arthur Marques de Carvalho, representando o dr. Montaury, intendente municipal; José Baptista e José Luiz de Abreu Valadares, ajudantes da Inspectoria Agricola. O sr. José Winge leu os estatutos da associação, que já conta 27 socios.

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Correio do Povo do dia 18 de março de 1910

Operarios allemães

Rio, 17 - Segundo telegrammas de Berlim, na sessão de hontem, do Reichstag, alguns deputados alludiram aos máus tratos que têm recebido operarios allemães empregados na estrada de ferro Madeira-Mamoré, no Brazil.

Allemães no extrangeiro

Berlim, 17 - No Reichestag, o deputado Liebermann censurou o ministro do exterior, por não proteger este, os allemães domiciliados no extrangeiro.

Correio do Povo do dia 20 de março de 1910

Diversas

Varejistas de seccos e molhados - Foi fundada, em Pelotas, a 30 de janeiro ultimo, a Associação Commercial dos Varejistas de Seccos e Molhados. Em sessão de assembléa geral, realisada a 6 do corrente, foi empossada a primeira diretoria, tendo como presidente o sr. Francisco Salles da Costa e como vice-presidente João Larré.

Correio do Povo do dia 25 de março de 1910

Explosão, mortes e ferimentos - De Passo Fundo, recebemos, hontem, o seguinte telegramma: "Hoje, ás 2 horas da tarde, no kilometro 70 da linha em construcção de Passo Fundo ao Uruguay, deu-se a explosão de 35 caixas de dynamite, que seguiam num trem de lastro, occasionando o decarrilamento da locomotiva e dos carros. Morreram cinco pessoas e ficaram gravemente feridas doze. Entre os mortos estão a viuva Muller, d. Martha Muller, Nicolau P. de Mello, empregado da estrada, e outros cujos nomes ignoro. Oswaldo Schilling".

Correio do Povo do dia 30 de março de 1910

Assassinatos de politicos

Rio, 29 - O dr. Leoni Ramos, chefe de policia, recebeu, hoje, telegramma, communicando haver embarcado, no porto de Santos, um anarchista, ao qual foi dada a incumbencia de assassinar chefes politicos aqui residentes. A policia tomou precauções, para impedir a realisação do atentado.

Correio do Povo do dia 06 de abril de 1910

diversas

Incendio- Hontem, ás 8 horas da manhã, manifestou-se incendio no pavilhão central da estação da estrada de ferro do Riacho, ficando queimado em parte o forro e as paredes laterais. O operario Miguel Rodenbusch, das oficinas daquella estrada, presentindo o fogo, deu alarme, acudindo logo o capitão Leonel Correia, administrador, e outros empregados da estação. Estes, a agua e areia, conseguiram que o incendio não destruisse o pavilhão e diversos wagons, os quais foram logo retirados dali. O pessoal do corpo de bombeiros, avisado pelo agente municipal n. 87, compareceu ao local ultimando a extincção do fogo. O sinistro foi devido ao descuido de um operario, o qual deixara fechada a fornalha do motor de uma machina de irrigar. O alcatrão desta communicando-se ao fogo da fornalha, attingiu as taboas das paredes lateraes do pavilhão, incendiando-as. Estiveram no local os drs. Montaury, Oscar Bittencourt, Henrique Pereira Netto e muitos curiosos.

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Vencimentos do magisterio - Brevemente, será dirigido ao presidente do Estado um memorial pedindo augmento dos vencimentos do professorado publico. Sabemos que esse memorial está bem elaborado, advogando, com vantagem, a justa pretenção do nosso magisterio publico, sempre tão mal remunerado.

Correio do Povo do dia 19 de abril de 1910:

União dos Trabalhadores em Madeira - Passará, a 24 do corrente, o 1 anniversario da reorganisação da União dos Trabalhadores em Madeira. Comemorando essa data, a União realizará, naquelle dia, em sua séde social, á rua Ramiro Barcellos, n 74, uma sessão solemne, para assistir á qual recebemos attencioso convite.

Correio do Povo do dia 20 de abril de 1910:

Atheneu Operario - Já está elaborada a planta do edificio que será levantado nesta capital, para nelle funccionar as aulas do Atheneu Operario, instituto de ensino, em favor do qual muito se tem esforçado o nosso collega Xavier da Costa.

Correio do Povo do dia 22 de abril de 1910:

Estrada S.Paulo-Rio Grande

Rio, 21 - A 1º de maio proximo, será aberto o trafego provisorio no trecho da estrada de ferro de S. Paulo-Rio Grande, compreendido entre as estações Presidente Penna e Rio das Pedras (noventa quilometros).

Correio do Povo do dia 24 de abril de 1910:

Empregos para senhoras - O dr. Rodopho Miranda, ministro da Agricultura, autorisou o director geral da Repartição de Estatistica a empregar, no serviço do recenceamento, senhoras habilitadas nesse mister, de accôrdo, porém, com as necessidades do serviço e sem que lhes seja, por isso, abonada gratificação superior a 300$.

Ataque a um convento

Lisboa, 23 - Em Penares, a população atacou o convento dos benedictinos ali existente, matando um monge e ferindo outros religiosos. Na segunda investida, o populacho foi repellido pela força publica. Receia-se que outros conventos sejam tambem atacados.

Correio do Povo do dia 28 de abril de 1910

Estradas de Ferro - As ultimas chuvas não só impediram a marcha do serviço, como damnificaram a linha entre Nova Vicenza a Caxias, onde, actualmente, trabalham as turmas de nivelamento da estrada de rodagem que ligará aquella villa e Montenegro a Porto Alegre. É possivel que a inauguração fique adiada, por esse motivo, de 13 de maio, para meados de junho proximo. Os trilhos do ramal de Santa''Anna do Livramento já attingiram o Passo da Cruz, entrando nos campos de João Paiva, distante daquella cidade 7 leguas.Espera-se que, em maio proximo, os trilhos estejam em Sant''Anna.

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Correio do Povo do dia 29 de abril de 1910

Dia 1º de maio - O operariado de Porto Alegre commemorará condignamente a data do 1º de maio, com o seguinte programma: Ás 8 horas da manhã, haverá na séde da Federação Operaria, á rua Aurora, reunião das sociedades federadas que, com as respectivas bandeiras e precedidas da Lyra Oriental, irão proceder o lançamento da pedra fundamental do Atheneu Operario, na Varzea. Dali, dirigir-se-ão á sede da Sociedade Principessa di Montenegro, á rua João Telles, onde haverá sessão solemne, na qual se farão ouvir diversos oradores. Ás 3 horas da tarde, grande match entre o Centro Sportivo e o Foot-ball Club Rio-Grandense. Ás 8 horas da noite, festa commemorativa pelo Gremio Dramatico Operario Xavier da Costa, no salão Principessa Elena, iniciando-a uma conferencia pelo dr. Alfredo Osorio. Após a conferencia, realisar-se-á um sarau dramatico e musical, em que tomarão parte o corpo scenico do Gremio, a banda da Lyra Oriental e os professores Miguel Ferreira e João Gonçalves Cruz que, respectivamente, executarão sólos de bombardino e clarinete. O resultado da festa do Gremio DramaticoOperario será em beneficio da construcção do Atheneu Operario.

Correio do Povo do dia 30 de abril de 1910

Grande explosão - Segunda-feira ultima, na cidade de Pelotas, explodiu uma grande caldeira de derreter sebo, na xarqueada dos srs. Nobre, Cassalha & C. Devido á explosão, foi arrancada a coberta de um galpão com 60 metros de comprimento e parte de uma parede abateu. Um dos fragmentos da caldeira attingiu um lanchão, arrobando-lhe a prôa. Ficou ferido, escapando de morte horrivel, o operario João Renk.

Correio do Povo do dia 03 de maio de 1910:

Telegrammas

1º de maio

Rio Grande, 2 - As festas commemorativas do 1º maio ocorreram, aqui, muito animadas. A União Operaria realisou, ontem, á tarde, luzida passeata vendo-se, á frente do prestito, a directoria, socios e creanças, empunhando bandeiras. Precedida de bandas de musica, a União compareceu ás redacções dos jornaes locaes, comprimentado-os. A'' noite, realisou-se sessão solemne, achando-se o salão do União replecto de autoridades civis e militares, representantes de diversas associações e da imprensa, familias, etc. Produziram applaudidos discursos o jornalista operario Guedes Coutinho, o poeta Barbosa Netto, o jornalista Frediano Trebbi, Rezende e outros. A União Operaria fez, tambem, distribuir uma polyanthéa.

Correio do Povo do dia 04 de maio de 1910:

Minas de Lavras - O syndicato inglez que explora as minas de ouro de Lavras vae estabelecer ali uma linha telegraphica, que porá em communicação as uzinas com aquella cidade, e proceder á instalação de illuminação electrica para poder funccionar á noite. O material para esses novos elementos de progresso já foi despachado na Alfandega da cidade do Rio Grande.

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Correio do Povo do dia 05 de maio de 1910:

Parede de operarios

Paris, 4 - Em Dunkerque, tem tomado incremento a parede de operarios. O governo dali requisitou reforços. Tem havido sérios conflictos entre os paredistas e a policia. Foram lynchados dois policiaes que se achavam afastados dos outros companheiros.

Correio do Povo do dia 07 de maio de 1910:

Trafico de mulheres

Paris, 6 - Nesta capital, foram encerrados os trabalhos do congresso internacional contra o tráfico de mulheres brancas. O dr. Souza Bandeira, delegado do Brazil, fez annexar aos trabalhos o projecto que, em 1908, o deputado brazileiro Mello Franco apresentou à Camara, e protestou contra algumas resoluções tomadas por aquelle congresso.

A grafia de época está preservada nos textos acima

Correio do Povo do dia 08 de maio de 1910:

Accidente - Manoel Moreira da Conceição, de 14 annos de idade, quando collocava uma chaminé em um predio, fracturou o dedo medio da mão esquerda. O enfermeiro João Evangelista pensou-lhe o ferimento.

Correio do Povo do dia 11 de maio de 1910:

Imprensa - A 7 do corrente entrou no terceiro anno de publicação o Echo do Povo, orgão da classe operaria nesta capital.

O Echo, que acaba de augmentar o formato e crear novas e boas secções é dirigido pelo nosso collega Francisco Xavier da Costa, sendo seu proprietario o sr. Antonio Heit.

Correio do Povo do dia 13 de maio de 1910:

Compra de typographia - O governo do Estado acaba de comprar o material typographico do extincto jornal Debate, orgam do bloco academico castilhista. Hontem, esse material foi transportado para a Casa de Correcção, onde será installada uma officina typographica, para a impressão de relatórios e outras publicações officiaes.

Correio do Povo do dia 14 de maio de 1910:

DIVERSAS

Distribuição de carne - Amanhã, domingo do Divino Espírito Santo, o respectivo imperador festeiro, tenente-coronel Aurelio de Bittencourt, fará distribuir, no açougue Provenzano, no Mercado, carne a mil pobres que ali se apresentarem às 9 horas da manhã.

Estradas de ferro - Lemos na Gazeta de Noticias, do Rio, que o dr. Francisco Sá, ministro da Viação, esteve, ha dias, em larga conferencia com o representante do governo federal junto á Compagnie Auxiliaire des Chemins de Fer au Brésil, sobre o projecto daquelle ministro, da construcção de uma rêde complementar no Estado do Rio Grande do Sul. Accrescenta o mesmo jornal que parece tratar-se de realisar combinações que permitam a construcção das seguintes linhas e ramaes: de S. Sebastião a D. Pedrito e Sant''Anna do Livramento; de Jaguarão ao Basilio; da Taquara a Conceição do Arroio; de Quarai a Alegrete; de S. Pedro a S. Borja e a S. Luiz; e de Garibaldi a Bento Gonçalves.

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Fabricas de ferro

Rio, 13 - Foram apresentadas varias propostas para o estabelecimento de fabricas de ferro. O governo concederá vantagens, sem privilegio, a quem as quizer montar. Além de outras condições, o governo exige a installação de secções especiaes de apetrechos bellicos.

Correio do Povo do dia 19 de maio de 1910:

Gréve na Argentina

Rio, 18 - No theatro San Martin, em Buenos Aires, houve, hontem, um meeting de estudantes, no qual foram pronunciados violentos discursos contra os anarchistas, e outros de applausos ao governo. Do theatro, seguiram os estudantes para o palacio do presidente da Republica, que foi muito acclamado. Agradeceu a manifestação o ministro do Interior da Republica Argentina, o qual recommendou calma aos manifestantes. Um operario ergueu, por essa occasião, um viva á liberdade de pensamento, provocando isso um conflito entre um grupo de exaltados, contra o qual foi lançada uma pequena bomba de dynamite, que não explodiu. Sendo imponente a policia para reprimir as desordens, interveiu uma força do Exercito. No conflicto foram mortos dois estudantes e feridos outros, saindo tambem feridos alguns operarios. Calcula-se 40.000 o numero dos grevistas.

Correio do Povo do dia 20 de maio de 1910:

Fabricas de ferro

Rio, 19 - Foi, hoje, assignado decreto concedendo favores sem privilegio para a montagem de estabelecimentos cirurgicos, com fornos para a propducção de ferro gusa, tendo o governo o direito de exigir a installação de secções especiaes para o fabrico de petrechos bellicos de occupar, temporariamente, as mesmas fabricas, para fiscalisal-as.

Correio do Povo do dia 24 de maio de 1910:

Apanhado por um bonde - Ás 7 1/2 horas da noite de ante-hontem, á rua Voluntarios da Patria, nas proximidades da avenida Patria, deu-se um desastre, do qual foi victima o operario França Brum Mayer, de 31 annos de idade, branco, solteiro e natural da Austria. Viajava elle num carro da linha dos Navegantes, e, ao descer, foi apanhado pelo comboio, cujas rodas lhe produziram a fractura completa do terço médio da perna esquerda. O conductor e o motorneiro do vehiculo, foram intimados a dar explicações á policia.

Prolongação de expediente - Ouvimos dizer que o governo do Estado, brevemente, prolongará o expediente, em todas as repartições publicas, até as 4 horas da tarde.

Colonia de alienados - O governo do Estado trata de apressar a creação da colonia de alienados, que será installada aos fundos do edifício onde funcciona o Hospicio São Pedro.

Telegrammas

Descarrilamento

Rio Grande, 23 - Em Povo Novo, hontem, às 8 horas da manhã, deu-se o descarrillamento de vagões de carga do trem de passageiros. Os vagões ficaram damnificados. De Pelotas e daqui, seguiram socorros, para desembaraçar a linha. Trilhos e dormentes foram arrancados. Não houve desgraça pessoal a lamentar. O trafego foi restabelecido ás 5 horas da tarde.

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Correio do Povo do dia 26 de maio de 1910

DIVERSAS

Operarios em gréve - Hontem, conforme estava annunciado, houve nova reunião dos operarios que se declararam em gréve, ha dias, na fabrica do major Alberto Bins, á rua Voluntarios da Patria. A reunião effectuou-se no predio n. 168 da rua Aurora, com a presença dos membros da commissão central da Federação Operaria. Varios oradores fizeram uso da palavra discutindo assumptos relativos a gréve. Ficou resolvido, entre o operariado, manter a gréve enquanto o major Alberto Bins não suspender a execução do regulamento que mandou affixar em seu estabelecimento industrial. Por outro lado, o major Alberto Bins tambem se mostra no firme proposito de não ceder a essa exigencia. Hontem, o major Alberto Bins mandou pagar aos seus operarios os salarios que lhes competiam, de serviços por elles feitos durante dois dias. Hontem, como de costume, o major Alberto Bins e os empregados do escriptorio do seu estabelecimento comparecerem ao serviço, ali se conservando durante todo o dia.

Accidente - Hontem, á tarde, na Carpintaria Rampi, Alberto Kessler, quando trabalhava com uma plaina, teve decepado o dedo médio da mão direita. O enfermeiro Paulino Guerra soccorreu o ferido, na ambulancia da 2 zona.

Novo feriado - O deputado Monteiro Lopes apresentou á Camara o seguinte projeto de lei: É declarado feriado nacional o dia 1 de maio, consagrado á festa do trabalho universal.

Correio do Povo do dia 28 de maio de 1910

Gréve - Continúa a gréve dos operarios da fabrica de cofres do major Alberto Bins, á rua Voluntarios da Patria. Ante-hontem, á noite, effectuou-se nova reunião dos grevistas, no predio n 168 da rua Aurora. Segundo ouvimos dizer, ha operarios que pretendem voltar ao trabalho, por estes dias.

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Correio do Povo do dia 29 de maio de 1910

A gréve

Serralheria da fábrica de cofres do major Alberto Bins (no detalhe) Crédito: fotos cp memória

Hontem, ás 8 horas da noite, na séde da Federação Operaria, a commissão central dessa corporação fez entrega, a grande numero dos operarios em gréve da fábrica de cofres do major Alberto Bins, do auxilio em dinheiro, a que elles têm direito, emquanto permanecerem desoccupados. O acto publico, foi assistindo por varias pessoas extranhas ao operariado. Talvez amanhã, recomecem a funccionar diversas secções da fabrica de cofres pois, segundo ouvimos dizer, um grupo de operarios está no propósito de voltar ao trabalho. Hontem, foi distribuido o seguinte boletim: "Comicio operario - Convida-se o operariado desta capital para uma reunião, domingo, 29, ás 3 horas da tarde, no salão 1 de Maio, á avenida das Missões, nos Navegantes, para tratar da gréve declarada pelos operarios da casa Alberto Bins. - Comité de Propaganda Operaria". Ouvimos também que o major Alberto Bins já providenciou no sentido de embarcarem na Europa, com destino a esta capital, operarios especialistas em trabalhos metallurgicos.

Correio do Povo do dia 31 de maio de 1910

A gréve - Conforme fôra anunciado, realisou-se ante-hontem, á tarde, no salão 1 de Maio, na avenida Missões, no arrabalde dos Navegantes, a reunião promovida por um grupo de operarios, para tratar de assumptos relativos à gréve dos operarios da fabrica de cofres do major Alberto Bins. Nesse comicio, que ocorreu pacifico, proferiram discursos varios oradores, nos idiomas portuguez, allemão, italiano e polaco. Á reunião compareceram além da maioria dos grévistas, muitos outros operarios. Por determinação do dr. Vasco Bandeira, o dr. Freitas Valle, delegado judiciario do 3º districto, permaneceu no local em que se realisou a reunião. Hontem, pela manhã, o major Alberto Bins conferenciou longamente com o dr. Vasco Bandeira, chefe de polícia, sobre a gréve. Consta que alguns dos grévistas pretendem apresentar-se ao trabalho desde que lhes sejam dadas garantias.

Correio do Povo do dia 01 de junho de 1910

DIVERSAS

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Operarios em gréve - Continua a gréve dos operarios da fabrica de cofres do major Alberto Bins, á rua Voluntarios da Patria. Hontem, cedo, compareceram ali agentes da policia administrativa, afim de garantir a entrada dos operarios que quizessem trabalhar naquelle estabelecimento industrial. Ás 7 horas da manhã, o major Alberto Bins compareceu á fabrica e, em seguida, os empregados do escriptorio, bem como o contra-mestre das officinas. Momentos depois, em uma carroça funda, desembarcaram ali, sem que isso fosse notado, diversos operarios extranhos á fabrica. Durante o dia, trabalharam elles na limpeza das machinas, e em outros serviços. Ante-hontem, o major Alberto Bins fora procurado por um grevista dizendo que elle e outros companheiros desejavam voltar ao trabalho, porém que, para isso desejavam garantias, afim de evitar que fossem desacatados pelos operarios que continuavam em gréve. Nas immediações da fabrica do major Alberto Bins, entre as ruas Aurora e Ernesto Alves o movimento operario era extraordinario, principalmente ás 5 da tarde, hora em que os estabelecimentos industriaes cessam de trabalhar.

Correio do Povo do dia 02 de junho de 1910

DIVERSAS

Operarios em gréve - Ainda hoje, continuará a gréve dos operarios da fabrica de cofres do major Alberto Bins. Hontem, já foi maior o movimento, naquelle estabelecimento industrial. Foram chamados á Chefatura de Policia, e interrogados pelo dr. Freitas Valle, delegado do 3º districto, diversos operarios que se acham em gréve, os quaes declararam áquella autoridade estar dispostos a voltar ao trabalho, desde que lhes fossem dadas as garantias necessarias, pela policia. O dr. Freitas Valle prometteu todas as garantias pedidas pelos operarios, aconselhando-os a que voltassem ao trabalho. Aquelle estabelecimento industrial continúa sendo guardado por praças da policia administrativa do 3º posto. O movimento, hontem á rua Voluntarios da Patria, nas immediações da fabrica do major Alberto Bins, continuou, como nos dias anteriores, a ser extraordinario. Hontem, ás 2 horas da tarde, um operario grevista foi ao escriptorio daquelle estabelecimento, e pediu dois exemplares do regulamento que deu causa á parede. Consta que, segunda-feira proxima, diversos grevistas apresentar-se-ão ao major Alberto Bins, para trabalhar. Hontem, á noite, no predio n168 da rua Aurora, onde funcciona a Federação Operaria, houve concorrida reunião, á qual compareceu avultado numero de obreiros.

Correio do Povo do dia 03 de junho de 1910

DIVERSAS

Operarios em gréve - Conforme noticiamos, realisou-se, ante-hontem, á noite, no prédio n. 168 da rua Aurora, mais uma reunião de operarios para tratar da gréve em que se acham ha dias os trabalhadores da fabrica de cofres do major Alberto Bins, á rua Voluntarios da Patria.

Oraram: o sr. Guilherme Koch, em allemão, lendo o regulamento do major Alberto Bins, e criticando-o; o sr. Adolpho Brandt, também em allemão, opinando que os operarios não podem, de modo algum, aceitar tal regulamento sem modificação; os srs. Waldomiro Padilha, Anastacio Gago, João Trangott e Luiz Derivi, em portuguez, fazendo longas considerações sobre o actual movimento grevista e atacando fortemente o regulamento em questão. Esses oradores foram applaudidos. O sr. Xavier da Costa, presidente da Federação Operaria do Estado, chamado por varias vezes para occupar a tribuna também usou da palavra, historiando a origem da gréve. Enumerou os meios de que o major Alberto Bins lança mão, para rebaixar moralmente os seus operarios á condição de escravos sem brio, querendo impor-lhes o regulamento impugnado.

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Referiu os esforços dos grevistas, para solver a questão, sem escandalo, nem prejuizos e que o major Bins se mostrou pyrrhonico e intratavel como um grão-duque russo.

Correio do Povo do dia 04 de junho de 1910

Operarios em gréve - Hontem, na Chefatura de Policia, foram inquiridos pelo dr. Freitas Valle, delegado judiciario do 3 districto, mais alguns operarios accusados de haver ameaçado os seus companheiros de gréve, caso recomeçassem a trabalhar nas officinas da fabrica de cofres do major Alberto Bins, á rua Voluntarios da Patria. Hoje, á noite, na séde da Federação Operaria, á rua Aurora n. 168, serão pagos, por essa associação, os operarios que se acham em gréve. Continúa a funccionar a secção de fabríco de baldes, nas officinas do major Alberto Bins. Esse estabelecimento industrial continúa guardado pela policia judiciaria, para evitar que os grevistas cheguem ao local.

Correio do Povo do dia 07 de junho de 1910

Operarios em gréve - Hontem, desde muito cedo, apezar do frio que fazia e da forte cerração reinante, o movimento operario era extraordinario á rua Voluntarios da Patria, principalmente nas immediações da fabrica de cofres do major Alberto Bins. Depois das 6 horas, começaram a reunir-se grupos de operarios grevistas, que discutiam - uns, com calma, outros, acaloradamente. Tratamos de saber o motivo daquelle movimento, e conseguimos as notas que seguem: Domingo, falava-se que um grupo de grevistas não mais estava disposto a manter-se em parêde, e pretendia voltar ao trabalho, apresentando-se ao major Alberto Bins. Entretanto, á reunião de sabbado, na Federação Operaria, á rua Aurora n168, onde foram distribuidos auxilios pecuniarios aos paredistas, compareceram 62 destes. Hontem, ás 7 horas da manhã, encaminharam-se para aquelle estabelecimento industrial diversos operarios, sendo tres grevistas e outros extranhos á fabrica. Apresentando-se ao major Alberto Bins, os primeiros declararam que estavam dispostos a voltar ao trabalho. Esses operarios pertenciam á secção de pintura, e entraram logo em serviço. A 1 da tarde, á vista da attitude dos collegas que foram trabalhar, pela manhã, tambem se apresentou ao serviço o operario, pintor, Luiz Pinto de Oliveira. Já se acham naquella fabrica 26 operarios. Hoje, deverão recomeçar a funccionar diversas machinas a vapor, as quaes, desde o dia em que se declarou a gréve, estavam paradas. Foi augmentado, desde hontem, o patrulhamento feito pela policia administrativa do 3 posto, á rua Voluntarios da Patria. A fabrica Bins continúa guardada pela polícia. Hoje á noite, haverá, na séde da Federação Operaria do Rio Grande do Sul uma reunião geral do operariado para deliberar quanto ás providencias a adoptar para a manutenção da gréve. Na reunião de sabbado, a commissão central pagou de subvenções a 62 operarios, 603$500. Entre os subvencionados se contam meninos apprendizes da fabrica de cofres.

Correio do Povo do dia 10 de junho de 1910

Operarios em gréve - Hontem, o dia foi de commentarios a respeito dos successos occorridos, na vespera, nas immediações da fabrica do major Alberto Bins, á rua Voluntarios da Patria. Muito movimento, durante o dia, e principalmente, ás 6 e 1/2 da manhã e as 5 da tarde.

- O patrulhamento daquelle trecho da rua foi reforçado com praças da policia administrativa.

- Ao major Alberto Bins appresentaram-se cinco operarios grevistas, que, hontem mesmo recomeçaram o trabalho.

- Devido as noticias da imprensa, diversos operarios têm vindo do interior do Estado pedir trabalho áquelle industrialista.

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- Todas as machinas da fabrica Bins estão funccionando.

- Continuam a reunir-se, na séde da Federação Operaria, á rua Aurora, n. 168, commissões de diversas sociedades da classe, para tratar da manutenção da gréve.

- Assignado pelo Comitë de Propaganda Operaria, foi hontem distribuido um boletim atacando a policia e o major Alberto Bins, pelos successos de ante-hontem.

- A gréve continuará ainda hoje, por parte da grande maioria dos operarios da fabrica Bins.

- O redactor Padilha, da Luta não será processado pelo major Bins, e sim pela justiça publica.

Correio do Povo do dia 11 de junho de 1910

Continúa a gréve por parte da maioria dos operarios da fabrica do major Alberto Bins, á rua Voluntarios da Patria. São em numero de 42 os operarios que trabalham, actualmente, na fabrica Bins. Esse pessoal é quasi todo novo. O patrulhamento continúa a ser feito, nas immediações daquelle estabelecimento industrial, por praças da policia administrativa. Hontem, durante o dia, nada de anormal occorreu.

Correio do Povo do dia 12 de junho de 1910

Operarios em gréve - Com o mesmo numero de hontem, (42 operarios), funcionou hontem a fabrica do major Alberto Bins, á rua Voluntarios da Patria. Como já dissemos em edição anterior esse pessoal é quasi todo novo. Os operarios grevistas que ali se apresentarem amanhã, ainda serão aceitos. Depois desse dia, porém o major Alberto Bins está no firme propósito de não aceitar nenhum delles. Esse aviso foi hontem transmittido a diversos grevistas.

- Continua o patrulhamento nas immediações da fabrica. A'' noite, a policia comparece tambem nas immediações das casas em que residem os operarios que actualmente trabalham naquelle estabelecimento industrial.

- A policia continua a fazer inquirições, por motivo da parede, tendo sido chamadas a depor, na Chefatura, diversas pessoas.

- Ao major Alberto Bins, apresentaram-se, hontem, diversos operarios extranhos á fabrica e que lhes foram pedir trabalho. Amanhã, entrarão elles em serviço.

- Hoje ás 9 horas da manhã e amanhã, ás 7 e 1/2 da noite, na sede da Federação Operaria, serão feitos pagamentos a todos os grevistas.

Estrada de ferro

Rio, 11 - A 20 do corrente, ficará concluido o trecho da estrada de ferro ligando o Estado do Paraná ao de Santa Catharina, no extremo sul dos limites com o Rio Grande do Sul. Em setembro, a Compagnie Auxiliaire concluirá a linha do Passo Fundo, a qual se encontrará com aquella, ligando-se ambos os trechos por uma ponte no Rio Uruguay e permittindo viagens directas de Victoria, no Espirito Santo a esse Estado.

Correio do Povo do dia 14 de junho de 1910

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Operários em gréve - Hontem, compareceram á fabrica Bins quarenta operarios. Dois grevistas, que se haviam apresentado, ha dias, áquelle estabelecimento industrial, declarando que desejavam voltar ao trabalho, o que fizeram, não compareceram hontem ao serviço. As inquirições, por motivo da gréve, continuam a ser feitas pela policia. Na proxima semana, partirão desta capital, para pontos diversos, alguns operarios grevistas que não querem mais trabalhar naquella fabrica. O major Bins está contratando operarios mechanicos, afim destes substituirem os seus ex-empregados, que, desde hontem, foram considerados demitidos da fabrica. Na séde da Federação Operária, á rua Aurora n.168, continuam as reuniões de operarios de todas as classes. Para Santa Maria, onde existem muitos operarios metallurgicos, o comité de propaganda operaria dirigiu um telegramma, avisando-os do motivo da parêde.

Correio do Povo do dia 15 de junho de 1910

Greve de foguistas

Rio Grande, 14 - Os foguistas, aqui, da companhia de navegação Sudamerikanische, abandonaram os rebocadores, declarando-se em gréve, por não lhes terem sido dado o augmento de 20$000.

Correio do Povo do dia 16 de junho de 1910

Operarios em gréve - A questão da gréve dos operarios da fabrica do major Alberto Bins póde ser considerada liquidada. A quasi totalidade dos paredistas não voltou ao trabalho, e o major Alberto Bins está augmentando o seu pessoal com elementos novos. Ainda hontem ali entraram em serviço mais 4 operarios que eram extranhos áquelle estabelecimento industrial.

Gréve de foguistas

Rio Grande, 15 - A Capitania do Porto obrigou os grévistas da companhia de navegação Südamerikanische a voltarem para os rebocadores que tinham abandonado, em cumprimento do contrato que os mesmos têm com essa empreza.

Correio do Povo do dia 21 de junho de 1910

DIVERSAS

Accidente por um bonde - O bonde da linha Republica, quando regressava do arrabalde do Menino Deus, na madrugada de ante-hontem, depois da viagem do espetaculo, descarrilou, na esquina da rua da Concordia, indo de encontro ao lageado e a um poste. Este e as lages ficaram damnificados. O bonde só pôde ser reposto na linha algumas horas depois do accidente. O motorneiro Narciso Pereira foi demittido da Companhia Força e Luz.

Correio do Povo do dia 24 de junho de 1910.

Operarios em gréve - Tendo o major Alberto Bins sido procurado por um dos promotores da recente gréve, o qual fôra pedir-lhe para voltar ao trabalho, aquelle industrialista não accedeu á solicitação desse seu ex-empregado. Pediu-nos o major Alberto Bins tornassemos publico que os quinze cabeças do movimento grevista não deverão apresentar-se á sua fabrica, pois, de maneira alguma, os aceitará mais; que, porém, os outros operarios que continuam em parêde encontrarão serviço em seu estabelecimento industrial, desde que se sujeitem ao regulamento da casa.

Correio do Povo do dia 25 de junho de 1910 noticiava:

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Ponte da rua Sete de Abril, sobre o arroio Santa Bárbara

Praça Benjamin Constant no município de Estrela Crédito: fotos cp memória

Correio do Povo do dia 26 de junho de 1910.

Movimento operario

Sabemos que, hoje, em sessão extraordinaria da Commissão Central de Federação Operaria do Rio Grande do Sul, apresentará suas despedidas aos companheiros de propaganda, da qual se afasta absolutamente, o nosso collega Xavier da Costa, que acaba de resignar o cargo de presidente daquella corporação.

Em palestra com um dos nossos reporters, o antigo propagandista obreiro declarou que o seu afastamento da luta pela sua classe é irrevogavel, e que para ella contribuiu, além de uma longa série de desgostos, em que a ingratidão tem grande parte, a fórma por que fracassou a gréve do pessoal da fabrica do major Alberto Bins. O sr. Xavier da Costa considera como uma das maiores vergonhas para o operariado, o procedimento dos grévistas que se submetteram áquelle industrialista, depois de haverem firmado, espontaneamente, e com as mais inequivocas demonstrações de enthusiasmo, um compromisso, sob a palavra de honra, de não voltarem ao trabalho, naquella fabrica, si não fosse abolido o regulamento que deu motivo á parêde, e ainda mesmo, no caso de satisfeitos os seus desejos, ser despedido qualquer delles, em represalia a esse movimento. Durante a gréve, a Federação Operaria auxiliou, pecuniariamente, aquelles trabalhadores. O sr. Xavier da Costa concluiu com estas palavras, pouco mais ou menos, a palestra que teve com o nosso companheiro: "Só me interessarei, porém sem me envolver em movimento algum da classe, pela edificação do Atheneu Operario, que será um estabelecimento de preparo moral e intelectual dos obreiros, e pela consecução da lei sobre accidentes no trabalho".

Correio do Povo do dia 28 de junho de 1910

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Explosão num theatro

Teatro Colón, em Buenos Aires Crédito: fotos cp memória

Buenos Aires, 27 - A noite passada houve enorme explosão no theatro Colon, quando ali trabalhava a companhia lyrica do emprezario Ciacchi. O theatro achava-se repleto, tendo indescriptivel o panico dos espectadores. Após a explosão, manifestou-se incendio no theatro. A explosão ocorrida no theatro Colon deu-se às 9.45 da noite, e foi produzida por uma bomba de dynamite, atirada das galerias. A bomba rebentou antes de chegar ao chão, á altura da 14 fila de cadeiras. O salão esteve, durante dez minutos, envôlto em denso fumo. Muitas senhoras foram retiradas ao collo, do recinto do theatro. Depois de meia hora, cessou o fumo, permittindo ver-se a extensão do desastre. O theatro foi cercado pela força e impedida a saida dos espectadores das galerias. Foram effectuadas varias prisões de individuos suspeitos. Os estragos foram enormes. A bomba de dynamite, que estava envôlta em panno preto, explodiu com um ruido secco, á altura das frisas do 1 plano. Entre os feridos, cujo numero ainda não se conhece ao certo, estão o ex secretario da Directoria de Assistencia Publica, Nicolau Lozano e o ex-deputado Lavalle. Ha mais cicoenta feridos conhecidos. E geral a indignação contra o attentado. Verdadeira multidão percorreu, pela manhã as ruas da cidade, protestando contra o facto. Foram pronunciados violentos discursos contra os anarchistas.

Correio do Povo do dia 28 de junho de 1910

Explosão num theatro

Buenos Aires, 28 - Os prejuizos causados no Theatro Colon, com a explosão da bomba de dinamyte, são avaliados em 50.000 pesos (cerca de 60:000$000. As paredes do edifficio ficaram damnificadas.

Correio do Povo do dia 30 de junho de 1910

Attentado anarchista

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Buenos Aires, 29 - A policia nada conseguiu descobrir ainda sobre a explosão occorrida no theatro Colon. O Senado da Republica Argentina approvou o projecto regulamentando a expulsão de extrangeiros e conferindo ao governo amplos poderes para reprimir a propaganda libertaria. O russo Simão Radowisky, que assassinou o coronel Ramon Faleon, ficará preso, por tempo indeterminado, visto ser de menor de idade e não poder, por isso, ser comdenado á morte.

Correio do Povo do dia 02 de julho de 1910.

Ponte de ferro da rua Pantaleão Teles Crédito: fotos cp memória

Correio do Povo do dia 04 de julho de 1910.

Correio do Povo do dia 05 de julho de 1910.

Aggressão e crise nervosa - Ante-hontem, á tarde, á rua dos Andradas, ás portas da Bohemia, então cheia de famílias, que esperavam bondes, um negociante desta praça, subdito italiano, aggrediu, a bengaladas, um seu ex-empregado, a quem accusava de lhe haver desviado regular quantia. O aggredido, que se achava acompanhado de sua esposa, reagiu, travando se conflicto, que terminou logo devido á intervenção de terceiros. A esposa do aggredido foi acommetida de violenta crise nervosa.

Correio do Povo do dia 06 de julho de 1910.

Exploração do ferro

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Rio, 5 - O dr. Nilo Peçanha, presidente da Republica, recebeu um telegramma de Londres, noticiando a formação, ali, de um syndicato para exploração do ferro no Brazil.

Odio de raça

Paris, 5 - Nos Estados Unidos tem havido sangrentas lutas entre brancos e negros, provocadas pela victoria do negro Johnson sobre o branco Jeffries, num match de box. Os brancos queimaram, ali, alguns negros. Em Keyston, os negros expulsaram os brancos, tomando conta da cidade. A policia tem sido impotente para reprimir os desmandos.

Correio do Povo do dia 08 de julho de 1910.

Mentiras do Direito

Leon Tolstoi Crédito: cp memória

Leon Tolstoi, o notavel escriptor russo, dirigiu uma interessante carta a um estudante de sciencias juridicas. Eis suas palavras sobre o direito:

"O direito politico é o direito de tirar aos homens o producto do seu trabalho, de mandal-os commeter aquelle assassinato que chama a guerra.

O direito civil é o direito de um á posse de milhares e milhares de hectares de terra e de infinitos

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instrumentos de trabalho: e para os que não têm terras nem instrumentos de trabalho, é o direito de vender o proprio braço e a propria vida aos que possuem terras e capitaes, é o direito de morrer de fome.

O direito penal é o direito de um só a deportar, encarcerar, matar os homens que julga necessario.

Esse complexo de direitos é sanccionado pelas leis. Mas as leis foram inventadas pelos proprios homens: imperadores, reis, ministros, senadores, deputados, que vivem de violencias e que, consequentemente, defendem essas violencias mediante leis feitas por elles. O direito não tem nenhuma importancia moral. E a causa principal da immoralidade está nesse abominavel engano que se chama direito.

Correio do Povo do dia 09 de julho de 1910.

Serviço da Viação Ferrea - Pessoa vinda do interior do Estado informa-nos continuar sendo pessimo o serviço de trafego da Viação Ferrea: os wagons, além de velhos, são desasseados, sem mictorios, sem bacias, sem confôrto algum. Ha dias, o coronel Frederico Ortiz, sub-chefe de policia da 6 região, viajava em um trem no qual, o machinista, embriagado, fazia a locomotiva desenvolver 70 kilometros por hora! Isso causou panico e provocou protestos entre os passageiros. Diante de tal abuso, o coronel Ortiz mandou substituir, na estação João Rodrigues, o machinista ebrio por outro empregado, afim de se evitar algum desastre. Na estação da Margem de Taquary, constantemente, desapparecem bagagens de passageiros. Ainda ha pouco, uma senhora perdeu, ali, colxões, malas e diversos objectos, sem que a directoria da Viação Ferrea tomasse providencia alguma.

Correio do Povo do dia 10 de julho de 1910.

S. Paulo-Rio Grande

Rio, 9 - Os trilhos da estrada de ferro S. Paulo-Rio Grande já chegaram á estação do Rio Uruguay.

Correio do Povo do dia 12 de julho de 1910.

Seguro contra accidentes - O major Alberto Bins, industrialista desta praça, acaba de tomar, na companhia Cruzeiro do Sul, uma apolice de seguro contra acidentes, para todo o pessoal que trabalha nas suas officinas, á rua Voluntarios da Patria. Em caso de morte de qualquer dos operarios, será entregue aos herdeiros quantia correspondente a um anno de trabalho. Já entrou em vigor, desde 1º do corrente, esse seguro colectivo. O menor aprendiz Reynaldo Schulz, que, no dia immediato áquelle, se ferira, quando em trabalho na fabrica Bins, está percebendo a diária de 1$500.

Correio do Povo do dia 13 de julho de 1910.

TELEGRAMMAS

União Operaria

Rio Grande, 12 - A União Operaria resolveu effectuar, aos domingos, palestras de propaganda.

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Individuos suspeitos

Rio, 12 - A policia de Campinas, no Estado de S. Paulo, deteve, para averiguações, dois individuos procedentes de Buenos Aires e suspeitos de autores do attentado no theatro Colon.

Correio do Povo do dia 14 de julho de 1910.

Convento invadido

Roma, 13 - Em Bilbao, hontem, á noite, o convento de jesuitas ali existente foi invadido por individuos mascarados, que exigiram a entrega dos dinheiros da comunidade. A policia compareceu ao local, effectuando a prisão de alguns dos gatunos, um dos quaes saiu gravemente ferido.

Correio do Povo do dia 22 de julho de 1910.

Casa de Correcção

Crédito: FOTO CP MEMÓRIA

Nesse estabelecimento foi inaugurada, hontem, á tarde, a serralheria, montada nos fundos do edificio e dirigida pelo industrialista desta praça, sr. Pedro Wallig. A nova officina possue varias machinas aperfeiçoadas para o fabrico de fechaduras e outros artigos. Assistiram a inauguração os drs. Carlos Barbosa, Protasio Alves, Candido Godoy e Vasco Bandeira, presidente do Estado, secretários do Interior e das Obras Publicas e chefe de polícia, coronel Cypriano Ferreira, comandante da Brigada Militar, desembargadores André da Rocha e Pedro Mibielli e outras autoridades. Também estiveram presentes os jornalistas Mário Cinco Páus, pela Federação, Vicente Gianone pelo Jornal do Commercio e um dos reporters do Correio do Povo. As pessoas presentes apreciaram o funccionamento da nova officina, onde trabalham mais de trinta sentenciados.

Correio do Povo do dia 24 de julho de 1910.

DIVERSAS

Gréve - Há dias, na cidade de Pelotas, o pessoal empregado na descarga de trigo para o Moinho Pelotense, por motivo de terem sido diminuidos seus salarios, declarou-se em gréve, ameaçando os seus collegas que não queriam acompanhalos. Os grévistas foram substituidos por outros operarios, vindos da cidade do Rio Grande.

Correio do Povo do dia 26 de julho de 1910.

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Officina de serralheiro - Em publicação que hoje faz, por esta folha, o industrialista major Alberto Bins declara que, para emfrentar a concurrencia da officina de serralheiro da Casa de Correcção, se vê na contigencia de não vender aos seus freguezes as demais ferragens de sua fabrica, desde que elles comprem fechaduras, do mesmo typo, na Casa de Corecção. O major Alberto Bins allega que o mostruario desse estabelecimento contém, excepto um, os mesmos typos de fechaduras na sua fabrica.

Correio do Povo do dia 29 de julho de 1910.

Desastre e mortes

Rio, 28 - Hoje, pela manhã o trem que vinha de Bello Horizonte para esta capital descarrilou, entre as estações General Carneiro e Sabará. Os telegrammas aqui recebidos, a respeito, são muito laconicos. Dizem elles que varias pessoas ficaram gravemente feridas e que morreu todo o pessoal technico do trem. Accrescentam os despachos que apenas foram salvos os passageiros que viajavam em carros de primeira classe.

Correio do Povo do dia 06 de agosto de 1910.

Uma experteza - Ha tempos, fundou-se nesta capital, a União dos Estivadores, sociedade destinada a pugnar pelos interesses dos seus associados, proporcionando-lhes, ao mesmo tempo, auxilios, em casos de necessidades. A União recolheu o seu peculio à Caixa Economica, officiando a este estabelecimento que qualquer quantia só poderia ser retirada mediante requisição collectiva do presidente, do thesoureiro e do secretario da agremiação. Para evitar uma experteza, aquella sociedade fez registrar na Caixa Economica a firma dos seus principaes membros. Ha dias, o thesoureiro da União, cujo nome não nos occorre, ali compareceu com um officio, assignado pelo presidente, por elle e pelo secretario, requisitando a entrega de 250$000. Todas as assignaturas eram do proprio punho do thesoureiro e a quantia foi entregue. De posse do dinheiro, o infiel fugiu para Buenos Aires. Sciente do facto, a directoria da União reclamou da administração da Caixa.

Correio do Povo do dia 11 de agosto de 1910.

Prisão e resistencia

Buenos Aires, 10 - Foi preso aqui o russo Pedro Romanoff, de 19 annos de idade, trabalhador de uma fundição, como suspeito autor do attentado ao theatro Colon. No momento de ser preso, Romanoff feriu um agente de policia, disparando sobre este seis tiros de revólver.

Correio do Povo do dia 12 de agosto de 1910.

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Operários trabalhando na abertura do leito da Estrada de Ferro, inundado, abrem canaletas para o escoamento das águas. Os homens trabalhavam dezenas e dezenas de quilômetros, dez horas por dia, dentro de águas cheias dos mais variados miasmas

ESTRADA MADEIRA-MAMORÉ

O dr. Lassance Cunha, chefe da fiscalisação das estradas de ferro recebeu communicação, do engenheiro fiscal da estrada de ferro Madeira-Mamoré, dr. Ignacio Martins, de que, tendo percorrido longo trecho dessa estrada, verificou, com inteira satisfação, a actividade com que marcham todos os serviços da construcção, tendo já conseguido a companhia levar os trilhos até ao kilometro 25X500, esperando apenas a conclusão de uma parte sobre o Igarapé, que passa naquelle ponto, para proseguir rapidamente no assentamento de mais 30 kilometros. Em fins de setembro, ficarão terminados os trabalhos até ao rio Jacy Paraná, ou cêrca de 86 kilometros. Accrescenta o dr. Martins que há, actualmente, em serviço, 2.700 homens, e que, por estar se aproximando o tempo secco e, por conseguinte, menos insalubre, os trabalhos correrão com maior rapidez. Informa ainda aquelle engenheiro que, para o serviço de excavação, funcciona um excellente excavador a vapor, sendo perfeito o machinismo para descarga, de modo a executar um serviço de rapidez ainda não excedido no Brazil. E’ de tal importancia a estrada de ferro Madeira-Mamoré, que esta noticia só pode trazer jubilo, mórmente quando se sabe que a questão sanitária parecia um obstáculo insuperavel, capaz até de impedir a realisação de tão importantes melhoramentos. A porcentagem de doentes tem decrescido gradativamente, graças ás energicas providencias tomadas pela companhia constructora, já construindo hospitaes com todas as regras da hygiene, já criando um corpo medico especialista para attender os pacientes nos differentes logares do serviço e adoptando medidas prophylaticas reciprocas e de maior efficacia. Apesar de tudo, porém, esse continúa a ser o mais sério obstaculo a este empreendimento.

Correio do Povo do dia 13 de agosto de 1910.

Emigração italiana

Roma, 12 - O Avanti e outros jornaes socialistas continuam fazendo activa campanha contra a emigração de italianos para a Republica Argentina.

Esses jornaes publicam cartas e outros documentos procedentes de Buenos Aires, demonstrando as arbitrariedades que á sombra da nova lei de repressão ao anarchismo, as autoridades argentinas estão praticando contra pacíficos trabalhadores extrangeiros, que nada tem com a politica, nem com sociedades condemnadas pelo criterio do governo daquelle paiz. Uma dessas cartas é assignada por dois conhecidos socialistas, Rinazzi e D''Angio.

Os jornaes liberaes aconselham os italianos a que, de modo algum, emigrem para a Republica Argentina, para onde não terão garantias e aonde ficarão sujeitos a soffrer violencias e torturas.

Correio do Povo do dia 17 de agosto de 1910.

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Emigração para a Argentina

A Argentina experimentava um ciclo de crescimento no início do século passado Crédito: cp memória

Roma, 31 de julho - Os jornaes daqui publicam uma entrevista com o advogado Pedro Gori, director da Bibliotheca Civica de Florença, sobre a actual situação na Argentina em relação a emigração italiana. "Pedro Gori, que esteve por longo tempo na Argentina, quando condemnado na Italia por crimes politicos, fez declarações absolutamente pessimistas, as quaes merecem todo o crédito, dado o precedente de ter sido accusado pelos seus ex-correligionarios, de interesseira argentinophilia. Entre outras coisas, Pedro Gori disse que, apezar de ser a constituição da Republica da Argentina uma das mais liberaes do mundo, as recentes leis sociais fazem do paiz uma nação muito pouco, para não dizer, nada desejavel para destino da emigração italiana."

Correio do Povo do dia 18 de agosto de 1910.

Trabalhadores - Dos municipios da Taquara do Mundo Novo e de Santo Antonio da Patrulha chegaram, hontem, á noite, 65 pessoas, inclusive mulheres e crianças. Essa gente seguirá, hoje, para Passo Fundo, aonde vae trabalhar na construcção da estrada de ferro S. Paulo-Rio Grande.

Anarchistas

Roma, 18 - A policia acha-se em activa vigilancia na fronteira da Suissa, devido á chegada, ali, de anarchistas expulsos da America do Sul.

Correio do Povo do dia 21 de agosto de 1910.

Immigração - Durante o semestre proximo findo, entraram no Estado 1.702 immigrantes, formando 284 familias. Desses, por conta da União, vieram 1.355 e, expontaneos, 347.

Para a colonia Guarany seguiram 570; para Ijuhy, 420; e para Erechim, 107. No Rio Grande ficaram 244, e, em Porto Alegre, 360.

Estão elles distribuidos assim pelas seguintes nacionalidades: allemães, 507; austriacos 96; francezes 44; hespanhoes, 32; hollandezes 81; italianos 271; polacos 6; portuguezes, 50, suecos, 82; suissos, 1 e russos 572.

Correio do Povo do dia 25 de agosto de 1910.

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Telegrammas

Desastres e mortes

S. Gabriel, 24 - Na estação Cacequy, foi, hoje, apanhado por um trem o guarda-freio João Manoel, indiatico, de 20 annos de idade e natural de Uruguayana. O infeliz teve ambas as pernas esmagadas. Transportado para a Casa de Caridade daqui, João Manoel veiu a fallecer, após a amputação dos membros offendidos.

Correio do Povo do dia 26 de agosto de 2010.

O julgamento de Theobaldo Jaeger

Aconteceu na Porto Alegre de 1857. O litógrafo Theobaldo Jaeger submetera a castigos leves um dos seus operários, que dizia chamar-se Augusto Ben. O trabalhador castigado, surpreendentemente, revelou depois, ser, na verdade, o conde de Lanzac Chanac. Com o apoio dos seus patrícios, o ofendido reuniu recursos e processou Jaeger. Constituído o júri, ficaram, na acusação o notável tribuno Félix da Cunha e, na defesa, Israel Barcelos. O julgamento foi levado a efeito e, ao final da sessão, Jaeger foi absolvido. Felipe Nery cobriu o fato para o Correio do Sul, e descreveu-o de tal modo que desagradou profundamente Félix da Cunha. A notícia levou o jornalista e o advogado a discutirem violentamente, tendo Nery desafiado Félix para um duelo, rejeitado por este. A polêmica se prolongou e os dois passaram a trocar farpas por largo tempo.

Fonte: Datas Rio-Grandenses, Coruja Filho

(Sebastião Leão)

Correio do Povo do dia 28 de agosto de 2010.

Estrada de ferro

Rio, 27 - Foi designado o dia 30 de outubro proximo para a inauguração official da ligação férrea entre o Rio de Janeiro e Porto Alegre.

No dia 29 de agosto de 1910 não houve edição do Correio do Povo. Na época, o jornal não circulava às segundas-feiras.Rio, 27 - O Diario de Noticias (do Rio), em artigo de hoje, de seu redactor-chefe, dr. Pinto da Rocha (*), denuncia que o senador Pinheiro Machado pretende conseguir do Congresso Nacional a approvação de um projecto, regulando a liberdade de imprensa.

A proposito desse projecto, o dr. Pinto da Rocha diz que, quando foi deputado pelo Rio Grande do Sul, um seu collega jornalista, que era, nessa época, e ainda hoje é deputado, lhe pedira que formulasse um projecto sobre tal materia. Entendendo o dr. Pinto da Rocha ser grave a delicada incumbencia, consultou o senador Pinheiro Machado, que aconselhou o adiamento do projecto, accrescentando:

- Vamos deixar a imprensa livre, porque, o melhor freio para as impetuosidades jornalisticas é a propria liberdade da imprensa. Diz o articulista que o senador Pinheiro Machado fez o projecto dormir perpetuamente no Senado.

Em tom satyrico, accusa de incoherencia o senador Pinheiro, que, hoje, é o primeiro a querer apresentar um projecto, que ainda a pouco reconhecia ser inutil.

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Diz mais, que o senador Pinheiro está agindo de accôrdo com Nilo Peçanha, a quem domina, tendo ás suas ordens o Thesouro, a força publica e as oligarchias.

Accrescenta que o senador Pinheiro derrotou tudo, inclusive o dr. Affonso Penna, a quem levou a sepultura, collocando o dr. Nilo Peçanha na Presidencia da Republica: que apresentou o marechal Hermes candidato ao cargo de presidente da Republica, sendo este inelegivel e conseguindo o seu reconhecimento, como presidente, quando não fôra eleito, esbulhando o senador Ruy Barbosa.

O dr. Pinto da Rocha conclue dizendo que o senador Pinheiro deveria, primeiramente, impor ao orgam official do seu partido, no Rio Grande do Sul, que modere a linguagem e não escreva com a lama das sargetas, tornando-se uma cornucopia vil de calumnias, a vomitar miserias sobre a honra, a vida e o talento dos pobres adversarios.

S. exc., que vem pedir uma lei que esmague a liberdade da imprensa, devia, antes, empenhar a sua influencia para que os jornaes governistas do seu Estado deixassem de ser esterqueiras nauseabundas contra as opposições, perseguidas e diffamadas.

E, sómente depois de conseguir essa remodelação dos costumes politicos do seu partido, sómente depois desse exemplo de grandeza d''alma, que deve distinguir o homem superior, que sua exc. quer ser e parecer, teria direito de pedir que fosse regulada a liberdade de imprensa. Si s. exc. é victima dessa liberdade, si sua honra, seu nome, seu orgulho, seu talento, sua situação pessoal têm sido alvejados e desrespeitados pelos organs da imprensa adversa, baixe s. exc. os olhos divinos do Olympo em que se acha, e veja, leia e condemne o que os seus amigos, acobertados pela sua autoridade e pela impunidade do seu silencio, e até acoroçoados pelos applausos da sua solidariedade, têm feito soffrer, os homens cujo unico crime é terem ideal contrario ao seu.

Bem sabe s. exc. que especie de pelourinho infamante tem sido o proprio orgam official do seu partido, em Porto Alegre, e como é repudiado e odiado esse jornal, que dias amargos e miseraveis tem semeado no Rio Grande do Sul, regando de sangue e lagrimas uma vasta sementeira de odio. Quer s. exc. que a imprensa não se exceda e que a imprensa adversaria o respeite e exalte?

Empunhe o chicote, entre no templo da sua religião e corra dali, a tagantadas rijas de indignação verdadeira, e expulse os escribas prostituidos e os ignorantes sandeus que deshonram a civilisação, calumniando os adversarios, aos quaes ameaçam covardemente, na propria vida e na honra da familia. Conclue o dr. Pinto da Rocha dizendo:

"Deixe a liberdade de imprensa, que ella ainda não impediu a realisação dos seus sonhos de senhor omnipotente."

Correio do Povo, 28/8/1910.

(*) Pinto da Rocha, fundador e redator-chefe da Gazeta do Commércio, jornal diário que circulou em Porto Alegre entre 1901 a 1911, assumiu o Diário de Notícias, do Rio, a convite de

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Ruy Barbosa, conforme se lê na nota abaixo, publicada no Correio do Povo de 1/7/1910. Ao deixar a direção da Gazeta, foi substituído por Francisco Leonardo Truda.

Dr. Pinto da Rocha - Foi concebido, nos seguintes termos, o telegramma em que o senador Ruy Barbosa convidou o nosso collega dr. Pinto da Rocha para assumir, no Rio, a direcção do Diario de Noticias, orgão civilista: "Nossa causa exige que um grande jornalista rio-grandense venha, com urgencia, chefiar a redacção do Diario de Noticias. Caso possa fazer mais esse sacrificio, diga quando embarca. Cordeaes saudações - Ruy Barbosa."

A grafia de época está preservada nos textos acima.

Correio do Povo 08 de setembro de 1910.

Pinheiro Machado - O milionario norte-americano sr. P. P. Demmers offereceu ha dias, no Rio de Janeiro, um banquete ao senador Pinheiro Machado. O jantar realisou-se a bordo do hiate Warmahal, daquelle milionario, que se achava não só ornamentado de flôres naturaes, como tambem fartamente iluminado, a electricidade. Nesse banquete, tambem tomaram parte os srs. almirante Alexandrino Alencar, ministro da Marinha; dr. Francisco Sá, ministro da Viação; almirante barão de Teffé e outras pessoas. Ao champagne, foram trocados varios brindes. Os convidados embarcaram na lancha Olga, às 6 horas da tarde, no Pharoux, e regressaram ás 11 da noite.

Correio do Povo 9 de setembro de 1910.

20 de Setembro

Livramento, 8 - A colonia italiana aqui domiciliada prepara-se para festejar, solemnemente, o dia 20 de setembro, anniversario da unificação da Italia. Virá de Montevidéo a escriptora hespanhola Belen Saraga, que falará sobre aquella data.

Correio do Povo 10 de setembro de 1910.

E. F. Madeira-Mamoré

Estrada de Ferro Madeira-Mamoré

Segundo as ultimas noticias, já está inaugurado o primeiro trecho dessa importante via-ferrea, na extensão de 86 kilometros, entre Porto Velho, no rio Madeira, e o rio Jacy-Paraná. Devido, principalmente, á insalubridade da zona e á grande distancia que separa o ponto inicial de suas linhas dos centros fornecedores do material de construcção, resentiu-se de fortes obstaculos esse trecho, havendo, ainda, a grande difficuldade de achar os trabalhadores precisos por ser a zona quasi deshabitada, só se conseguindo a troco de elevadissimos salarios. Além daquelle

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trecho, de 86 kilometros, de Porto Velho a Jacy-Paraná, já estão passados 90 kilometros de linha e mais 30 kilometros promptos a receber os respectivos trilhos, continuando os trabalhos, com toda actividade, em direção ao Mutum-Paraná, com cêrca de 3.000 operarios em serviço.

Correio do Povo 11 de setembro de 1910.

Viação Ferrea

Rio, 10 - O dr. Francisco Sá, ministro da Viação, mandou apressar a construcção da estrada de ferro de S. Paulo - Rio Grande, de fórma a poder ella ser inaugurada a 25, e não a 30 de outubro do corrente anno.

Correio do Povo 14 de setembro de 1910.

Usina electrica municipal - Na rua dos Andradas e praça Martins de Lima, estão sendo collocados os postes de ferro, por onde devem passar os fios da usina electrica municipal.

Essa linha, que ficará prompta brevemente, irá até a estação da estrada de ferro do Riacho, para fornecimento de força e luz.

Gazometro - Hontem, no gazometro, em presença do dr. Montaury, intendente municipal, foi feita experiencia do novo balão, ha pouco chegado para aquella usina.

Viação Ferrea - No dia 18 do corrente, será aberta ao trafego a estação de Parecy, na linha de Neustadt á Margem, entre Montenegro e Capella.

Navegação Arnt - De 1 de outubro em diante, os vapores da empreza de navegação Arnt observarão o horario de verão, saindo desta capital ás 6 horas da manhã.

Vae adiantada, nos estaleiros dos srs. Alcaraz & C., a construcção do vapor Rio Grande do Sul, encommendado pela empreza Arnt, que tambem vae empregar em seu serviço a gazolina Palmas, pertencente ao sr. Christiano Fleck.

Bondes electricos - Segundo nosso collega do Correio Mercantil, de Pelotas, o dr. Augusto Simões Lopes, que aqui esteve, ha dias, veiu a Porto Alegre conferenciar com o presidente do Estado sobre a projectada creação de uma linha de bondes electricos, naquella cidade.

Correio do Povo do dia 28 de setembro de 1910 noticiava:

Dilligencia policial - Hontem, á tarde, o dr. Freitas Valle, delegado judiciario, mandou seu escrivão, sr. Oscar Vianna, em diligencia, a uma chacara no Caminho do Meio. Aos fundos dessa chacara, o sr. Vianna encontrou, deitada sob umas arvores, uma joven, de 16 annos de idade, a qual declarou ter abandonado a casa onde servia, como creada, devido aos maus tratos que ali lhe eram infligidos. Essa moça, que ficou depositada em casa de uma familia, deverá ser hoje interrogada, por aquella autoridade.

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Correio do Povo do dia 5 de outubro de 1910 noticiava:

Questão religiosa

Roma, 3 - Em Praticastello, os anticlericaes interromperam a procissão da festa do Rosario, aos gritos de - Viva Giordano Bruno!

A Gréve de Berlim

Berlim, 3 - O Syndicato dos Patrões Metallurgistas declarou ao prefeito Lockon que conta obter, durante a semana corrente, a adhesão de 60% dos trabalhadores de Dormstadt e Goerlitz.

Berlim, 3 - Fracassaram as negociações para a terminação da gréve. Agora não há como prever a data do final da parede.

Correio do Povo do dia 9 de outubro de 1910 noticiava:

Villa operaria - Vimos, hontem, a planta do projecto da construcção de habitações para operarios, no Campo da Redempção, por conta da Intendencia Municipal. Essas habitações serão todas de um só pavimento.

Serviço de bondes - Moradores do arrabalde de São João reclamam contra a falta de bondes com que lutam em horários da manhã e da tarde. Os moradores dos arrabaldes do Moinhos de Vento e da Floresta queixam-se também da insuficiencia dos meios de transporte em horarios do turno da tarde, diariamente.

Correio do Povo do dia 12 de outubro de 1910 noticiava:

DIVERSAS

Estradas de ferro - Os drs. Frederico Von Bock, director interino da Viação Ferrea, e Lima Brandão, engenheiro-chefe da fiscalisação, communicaram ao presidente do Estado ter a ponta dos trilhos da estrada de ferro São Paulo-Rio Grande attingido as margens do rio Uruguay, ficando assim concluido o serviço de assentamento dessa linha ferrea.

Correio do Povo do dia 14 de outubro de 1910:

Francisco Ferrer - No salão da sociedade Filhos do Trabalho effectuou-se, ante-hontem, á noite, uma sessão commemorativa ao 1 anniversario do fuzilamento do professor socialista Francisco Ferrer, na Hespanha. Fizeram uso da palavra varios oradores, que foram muito applaudidos pela numerosa assistencia.

Correio do Povo do dia 20 de outubro de 1910:

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Exportação de madeiras - Vindo do interior, acha-se hospedado no Hotel Familiar o sr. Rafael Capra, o qual percorreu o Estado, tendo em vista comprar algumas florestas de pinhaes. O sr. Capra faz parte da firma Capra & Sinemann, a qual pretende fazer exportação de madeiras para o sul da Africa, a um syndicato Allemão. Entrevistado por um dos nossos reporters, declarou elle que talvez não faça transacções nesse sentido, devido á falta de meios de transporte. No Itapuca, o sr. Capra seguirá, hoje, para o Estado de Santa Catharina, afim de conseguir, ali, algumas florestas nas condições em que deseja.

Correio do Povo do dia 25 de outubro de 1910.

Será inaugurada hoje a ligação, por estrada de ferro, de Porto Alegre ao Rio de Janeiro. O primeiro trem sairá hoje da capital da Republica, atravessando os Estados do Rio de Janeiro, S. Paulo, Paraná, Santa Catharina e Rio Grande do Sul e devendo gastar, no percurso, 96 horas, ou sejam, quatro dias de viagem. Assim, os excursionistas do trem inaugural deverão chegar a Porto Alegre no dia 28 do corrente, sexta-feira. Como tambem consta dos nossos telegrammas, não virão fazer a inauguração, como pretendiam, o presidente da Republica e o

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ministro da Viação, sendo o governo federal representado pelo dr. Lassance Cunha, chefe da Repartição de Fiscalização das Estradas de Ferro.

Correio do Povo do dia 28 de outubro de 1910.

No vapor Javary, procedente de Buenos Aires, chegará, hoje, a Porto Alegre, o notavel sociologo Enrico Ferri, que vem a este Estaso realisar conferencias e saber, por que motivo aqui, vivem ignorados 200.000 italianos. O director, os lentes e os alumnos da Faculdade de Direito irão, incorporados, ao trapiche da Companhia Fluvial, dar as boas vindas ao grande criminalista italiano. Muitos membros da colonia italiana seguirão em vapor que zarapará, ás 7 horas da manhã, do trapiche da Fluvial, aguardar o Javary, na altura das Pedras Brancas. Nosso collega da Vanguarda distribuiu, hontem, um boletim, convidando os operarios socialistas para receber Enrico Ferri. Em honra deste, haverá uma sessão solemne na Faculdade de Direito.

Correio do Povo do dia 30 de outubro de 1910 noticiava:

Enrico Ferri

Caxias, 29 - Acaba de chegar a esta cidade o illustre sociologo e criminalista italiano Enrico Ferri. Foi elle recebido, na estação da estrada de ferro, pelas autoridades e sociedades locaes e por grande massa popular.

Correio do Povo do dia 8 de novembro de 1910 noticiava:

Importante empreza

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Solenidades acompanhavam a finalização da construção das ferrovias

Por iniciativa do Banco da Provincia, acaba de se constituir, na Allemanha, um syndicato, para a construcção de ferrovias, de concessão estadual, no RS. A primeira via férrea que vae ser construida pelo novo syndicato será a de Taquary a Passo Fundo. A nova rêde de estradas de ferro abrangerá todas as zonas do Estado, em várias direcções. As suas linhas serão de bitola larga e trafegadas com excellente material rodante, de modo a preencher as duas condições essenciaes em taes emprezas: velocidade para os trens e confôrto para os passageiros. A velocidade será de 60 km por hora, o que permittirá fazer, em 3 horas, o mesmo percurso em que a Viação Ferrea gasta, actualmente, 9 e 10 horas.

Correio do Povo do dia 9 de novembro de 1910 noticiava:

Accidente e morte - Ante-hontem, Joaquim Angelico de Oliveira, de 17 annos de idade, quando accendia um combustor da illuminação publica, soffreu violenta queda e veiu a fallecer.

Correio do Povo do dia 10 de novembro de 1910 noticiava:

Parede de mineiros

Londres, 9 - Em Cardiff, 3000 paredistas atacaram a mina de carvão da Companhia Powell Duffryn, ateando fogo ao edificio das machinas. A policia conseguiu extinguir o incendio, lutando com os grevistas, que foram rechassados. Durante a luta, muitas mulheres e creanças apedrejaram os policiaes, muitos dos quaes receberam ferimentos. A usina electrica do estabelecimento ficou muito damnificada. Posteriormente, os grevistas reproduziram o ataque á mina de Glamorgan, sendo tambem ahi repellidos pela policia.

Correio do Povo do dia 11 de novembro de 1910 noticiava:

Desordens no México

Rio, 10 - No México, em represalia ao lynchamento, no Estado do Texas, do mexicano Rodriguez, tem havido grandes desordens.

Foram atacadas muitas casas norte-americanas, sendo rasgada a bandeira dos Estados Unidos.

Foi destruido e incendiado o edificio do jornal El Imparcial. Um filho do embaixador norte-americano foi muito maltratado pelos desordeiros.

Um bonde que conduzia crianças norte-americanas, para os collegios, foi appedrejado.

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O embaixador dos Estados Unidos protestou contra esses actos.

A policia carregou sobre os manifestantes, muitos dos quaes ficaram feridos.

Foram effectuadas cerca de duzentas prisões.

Correio do Povo do dia 12 de novembro de 1910 noticiava:

Desordens no Mexico

Rio, 11 - No México, o governo apresentou desculpas ao embaixador dos Estados Unidos, por ter o povo promovido desordens e ter rasgado bandeiras norte-americanas e praticando os actos de hostilidade áquelle paiz. O governo do Mexico assegurou àquelle diplomata que as tropelias comettidas não se repetirão.

Correio do Povo do dia 17 de novembro de 1910 noticiava:

Mão vermelha - Com esta denominação, foi organisada, em Porto Alegre, uma sociedade propagadora de idéas livres, anti-clericais. Da sociedade, fazem parte, até agora, 186 membros, na maior parte estudantes militares, caixeiros e operários. Foi estabelecido, entre os membros da Mão Vermelha, um pacto de vida e morte. A nova associação tem como chefe o nosso colega Carlos Cavaco

Correio do Povo do dia 18 de novembro de 1910 noticiava

Illuminação electrica - Amanhã, a Intendencia Municipal de Caxias assignará contrato, como a caixa filial do Banco da Provincia, naquela cidade, para o estabelecimento do serviço de illuminação e exploração de energia electrica.

A casa Lima e Martins, desta praça, encarregar-se-á das obras, seguindo, hoje, para Caxias, um engenheiro, afim de proceder os estudos definitivos.

Já foram examinadas quartro quédas d''agua, para a movimentação das machinas.

Correio do Povo do dia 22 de novembro de 1910 noticiava

Enrico Ferri

Rio, 22 - Enrico Ferri, hontem, em conversa com os deputados, alludiu á necessidade do estabelecimento de communicações rapidas entre a Europa e o Brazil, facilitando-se assim o intercambio intellectual e commercial. Sobre fórmas de governo, Ferri manifestou sua preferencia pelo regimen parlamentar, dizendo que na America do Sul o presidencialismo serve para encobrir dictaduras disfarçadas.

Correio do Povo do dia 25 de novembro de 1910 noticiava:

TELEGRAMMAS

Sucessos do Rio

Rio, 23 - As guarnições dos grandes couraçados Minas Geraes e S. Paulo e do scout Bahia,

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todos ultimamente construidos, passaram um radiogramma ao governo, pedindo a extincção do castigo da chibata a bordo dos vasos de guerra, sob pena de bombardearem esta capital.

Correio do Povo do dia 27 de novembro de 1910 noticiava:

DIVERSAS

Successos do Rio - O espirito publico, continuou, hontem, preocupado com os graves successos, que ha quatro dias vinham se desenrolando na bahia do Rio de Janeiro, em consequencia da revolta da marinhagem de alguns dos mais poderosos navios da nossa esquadra. Felizmente, á noite, cessou esse estado de inquietação geral com a divulgação do seguinte telegramma, recebido, da capital da Republica, pelo dr. Ildefonso Fontoura, chefe do 1 Districto Telegraphico:

"Neste momento (7 horas da noite), os navios Minas Geraes, S. Paulo, Bahia e Deodoro acabam de arriar o signal de guerra, hasteando bandeiras brancas e salvando a terra com 21 tiros." Esse telegramma, cuja cópia obtivemos do dr. Ildefonso Fontoura, foi logo affixado á vitrina do nosso escriptorio, onde tambem expuzemos alguns outros, do nosso serviço especial. O Correio do Povo, transmittindo ao publico a noticia da rendição dos navios sublevados, regosija-se pela terminação da revolta, que, durante longos quatro dias, encheu de tristeza e de appreensões todos os patriotas.

O serviço telegraphico está sendo feito com grande atrazo, tanto que os nossos recados de ante-hontem, do Rio, só começaram a serem entregues hontem, ás 6 horas da tarde.

Successos do Rio de Janeiro

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Deputado Pedro Moacyr Crédito: cp memória

Rio, 25 - O deputado federal Pedro Moacyr, hoje, na Camara, em discurso, disse que esta não praticava um acto de covardia, votando a favor do projecto que concede amnistia aos revoltosos. Estava seguro - accrescentou o orador - que representar, na occasião, o pensamento do Rio Grande do Sul, sem distincção de idéas partidarias, pois o seu estado natal jamais se curvou á prepotencia, tendo demonstrado civismo em tres annos de lutas contra os elementos congregados dos demais Estados da União. Concedendo amnistia, o Congresso Nacional não apologia a indisciplina, nem a rebelião, mas obedece ás injuncções do sentimento da humanidade, accedendo a um pedido justo e dentro da lei, qual o da abolição da chibata, pena desde muito extincta pelas nossas leis. "O marinheiro para ser valente e disciplinado não necessita de um castigo tão infamante", accrescentou.

No dia 28 de novembro de 1910 não houve edição do Correio do Povo. Na época o jornal não circulava às segundas-feiras

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Revolta da Chibata

João Cândido desembarca do Minas Gerais Crédito: CP MEMÓRIA

Successos do Rio

Rio, 23 - As guarnições dos grandes couraçados Minas Geraes e S. Paulo e do scout Bahia, todos ultimamente construidos, passaram um telegramma ao governo, pedindo a extincção do castigo da chibata, a bordo dos vasos de guerra, sob pena de bombardearem esta capital.

O Almirante Marques Leão, ministro da Marinha, mostrou esse telegramma ao marechal Hermes.

- Consta que amanhã, caso o governo não acceda ás exigencias dos revoltosos, estes bombardearão a cidade.

Rio, 23 - Á hora em que telegrapho, estão sendo feitos muitos disparos de artilharia de vasos de guerra, sobre esta capital e a vizinha cidade de Nitheroy.

Parece que se trata de uma revolta da marinhagem, nada se sabendo, porém, de positivo.

Os ministros estão reunidos no palacio do Cattete, combinando com o marechal Hermes, presidente da Republica, as medidas a tomar, para abafar a sublevação.

Rio, 23 - Os revoltosos dão como causa do movimento estarem sujeitos a excesso de trabalho e castigos corporaes.

- O 2 tenente da Armada Alvaro Alberto ficou com o corpo crivado de facadas, que lhe foram dadas a bordo do couraçado S. Paulo. Com dificuldades, elle foi retirado de bordo e recolhido ao Hospital do Morro do Castello, pelo capitão-tenente médico Raymundo Catanheda. O escaler em que foi levado o ferido ainda foi alvejado pelos revoltosos.

- O capitão de mar e guerra João Baptista das Neves, commandante do Minas Geraes, ás 10 horas da noite, saiu do cruzador francez Duguay Trouin, cuja officialidade lhe offerecera um banquete, encaminhando-se para o seu navio. Chegando a bordo e encontrando a guarnição formada em attitude agressiva, dirigiu-lhe a palavra, aconselhando seus commandados que

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reflectissem e voltassem á ordem. Os marinheiros, debaixo de assuadas, aggrediram-no. Um delles deu-lhe certeiro tiro na testa, e outro desfechou-lhe uma machadada, deformando-o. O capitão Baptista das Neves caiu logo ao sólo, morto.

A guarnição exaltada também matou o capitão-tenente José Claudio da Silva Junior.

- Varios officiaes da guarnição do Minas Geraes atiraram-se ao mar, conseguindo alcançar, a nado, o Arsenal da Marinha.

Rio, 23 - O cruzador Barroso alvejou varios pontos da cidade, com os seus canhões.

- O Minas Geraes foi o primeiro navio sublevado que rompeu fogo, indo suas balas cair em diversos pontos.

- O marinheiro João Candido, da guarnição do Minas Geraes, era quem chefiava o movimento. Elle já dirigira a revolta do Tamandaré, há tres annos, quando este seguia, em exercicios, até á Bahia.

Rio, 23 - Ás 9 horas da manhã, os navios de guerra extrangeiros aqui fundeados seguiram para o fundo da bahia, pondo-se a salvo do tiroteio.

- As 9 1/2 da manhã os navios revoltosos extenderam-se em linha emfrente á cidade, pelo que o governo mandou guarnecer o littoral, por forças do Exercito.

- Ao caes Pharoux, affluiram muitos curiosos logo que se divulgou a noticia da sublevação.

Rio, 24 - A meio dia de hontem, o capitão de mar e guerra José Carlos de Carvalho, deputado rio-grandense, seguiu para bordo do Minas Geraes, a fim de parlamentar com os revoltosos em nome do governo.

- Os sublevados declararam que cessariam o fogo só depois de baixado o decreto satisfazendo as suas pretenções.

- Carvalho expoz á Camara o resultado da conferencia, dizendo que o marechal Hermes recusára as propostas, visto consideral-as desairosas ao principio da autoridade. Os próceres da Camara resolveram, então, que esta tomaria a iniciativa de conceder a amnistia, augmentar o soldo e satisfazer os outros pedidos dos revoltosos. Commissionado pela Câmara, o deputado José Carlos de Carvalho retornou a bordo do S. Paulo para communicar aos sediciosos a resolução acima.

- O projecto de amnistia votado pelo Senado foi apresentado pelo senador Severino Vieira e justificado pelos senadores Ruy Barbosa e Pinheiro Machado.

Rio, 25 - O marechal Hermes declarou que o governo estava apparelhado para resistir, dar uma solução prompta, energica e, talvez, dolorosa, para preservar a tranquilidade publica e os interesses das classes conservadoras. Adiantou, entretanto, que acatará as providencias tomadas pelo Congresso Nacional no interesse da salvação pública.

Rio, 25 - O marechal Hermes sanccionou o projecto concedendo amnistia aos revoltosos.

Nota. Os telegrammas acima foram publicados no Correio do Povo, nas edições dos dias 24, 25 e 26 de novembro de 1910. As comunicações da época, além de não terem a rapidez que conhecemos hoje, sofreram algumas interrupções, segundo alegou, em

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alguns despachos, o editor do jornal.

Correio do Povo do dia 29 de novembro de 1910 noticiava:

Fabrica de mosaicos

Rio Grande, 28 - Chegou, hoje, de Buenos Aires, no Austria, o sr. João Vicente Friederichs, que dali trouxe varios operarios para trabalhar na fabrica de mosaicos que possue nessa capital.

Escriptora uruguaya

Rio Grande, 28 - Seguiu hoje, para Pelotas, a escriptora uruguaya Belén de Sárraga. O padre João Reus continúa, pelo Echo do Sul, a contrariar as idéas expendidas por aquella escriptora, nas conferencias que ella realisou aqui.

Correio do Povo do dia 2 de dezembro de 1910 noticiava:

Telegrammas

Luz electrica

Cruz Alta, 1 - Apresentaram propostas na concurrencia publica aberta pela Intendencia Municipal para o serviço de installação de luz electrica nesta cidade as firmas Lima & Martins e Bromberg & C.

Dentro de trinta dias, o intendente municipal coronel Firmino de Paula Filho travará contrato com o proponente que mais vantagens houver offerecido.

Correio do Povo do dia 7 de dezembro de 1910 noticiava:

Telegrammas

Parede operaria

Rio Grande, 6 - Hoje á tarde, declararam-se em parede os operarios da companhia de tecelagem Italo-Brazileira, protestando contra a admissão de apprendizes, que lhes fazem concurrencia no trabalho, diminuindo-lhes a féria.

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Revolta da marinhagem

Rio, 6 - O almirante Alexandrino de Alencar, ex-ministro da Marinha, telegraphou, ao chegar a Genova, Italia, ao marechal Hermes, lamentando a revolta da marinhagem.

Correio do Povo do dia 8 de dezembro de 1910 noticiava:

Belén Sárraga

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Belén Sárraga Crédito: CP MEMÓRIA

Deverá chegar hoje, ás 7 horas da manhã, no Itaúba, a notavel publicista e oradora hespanhola d. Belén Sárraga, directora do jornal El Liberal de Montevidéo. Será ella recebida festivamente pelos anti-clericaes, que, ás 8 horas da noite, far-lhe-ão uma manifestação de apreço, partindo o prestito da praça Senador Florencio. D. Belén Sárraga acaba de fazer applaudidas conferencias nas cidades do Rio Grande e Pelotas, onde a imprensa lhe teceu rasgados encomios. A festejada propagandista gosa, hoje, de fama universal, como livre pensadora, tendo feito renome na Hespanha, na França, na Italia e na America. Descrevendo uma sessão do Congresso do Livre Pensamento, reunido em Roma, no anno de 1904, disse La Republique Sociale de Paris: "Foi nos dado o grato prazer de admirar e applaudir Belen Sárraga de Ferrero, litterata nascida na Hespanha. Mais de 8.000 mãos, electrisadas, entrechocaram-se pela eloquencia fogosa da oradora, fazendo-lhe, assim, uma ovação enthusiastica. Belén Sárraga é propagandista de merito, esposa e mãe de familia. Ella adora o marido e os filhos, porém, além disso, possue uma vocação a mais". L''Avante, jornal socialista de Roma, declarou, com razão, que ella foi o clou do Congresso. E nós podemos dizer que ella entre nós personifica o "Anjo da Revolução".

Parede operaria

Rio Grande, 7 - A directoria da companhia de tecelagem Italo-Brazileira não attenderá ás reclamações dos seus operários em parede, aos quaes pagou hoje. Parece que alguns dos operarios descontentes, que são em pequeno numero, voltarão ao trabalho.

Correio do Povo do dia 10 de dezembro de 1910 noticiava:

Telegrammas

Explosão e quatro mortes

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Alfredo Chaves, 9 - Hoje, ás 2 horas da tarde, houve uma horrível explosão na fabrica de fogos de artificio de Ausonio Facire, situada nos suburbios desta villa. Morreram tres operarios e uma creança. O coronel Achylles Rezende, intendente municipal, e as demais autoridades desta villa compareceram ao local do sinistro, fazendo remover os cadaveres, já carbonisados, e tomando outras providencias. Nada se sabe, por emquanto, sobre a causa do sinistro. A casa onde funccionava a fabrica ficou completamente destruida pelo fogo. Reina geral consternação nesta villa.

Correio do Povo do dia 11 de dezembro de 1910 noticiava:

Sucessos do Rio - Hontem, desde pela manhã, corriam, na cidade, boatos de que graves acontecimentos estavam novamente occorrendo no Rio de Janeiro.

E era geral a anciedade por noticias, sendo as redacções dos jornaes constantemente procuradas por grande numero de curiosos, avidos de novidades.

Que alguma cousa havia - era positivo, pois telegrammas particulares aqui recebidos diziam que, na capital da Republica, os bancos e o commercio se achavam fechados.

Ás 3 1/2 da tarde recebemos um telegramma do nosso correspondente no Rio communicando que os bancos não haviam funccionado e que os jornaes, em edições successivas, publicavam detalhadas noticias dos successos.

Quais eram, pois, esses successos, não o dizia o despacho, nem o haviam dito outros que, certamente, nos foram interceptados pela censura telegraphica.

Á noite constava que o batalhão naval, aquartelado na Ilha das Cobras, na bahia do Rio de Janeiro, se tinha revoltado; que, guarnecido o littoral, por forças de terra, se travára nutrido tiroteio, havendo mortos e feridos, entre os quaes dois generaes; que afinal os revoltos se haviam rendido ás 5 horas da tarde, sendo suffocada a sublevação.

Entretanto, até a hora em que escrevemos estas linhas (4 1/2 da madrugada), o Correio do Povo não recebeu do Rio senão os telegrammas que vão publicados na secção competente.

Correio do Povo do dia 14 de dezembro de 1910 noticiava:

Rio, 13 - O marechal Hermes da Fonseca, presidente da Republica, promulgou hontem, ás 7 e 1/2

horas da noite a resolução do Congresso Nacional, decretando o estado de sitio para o Districto Federal e Nitheroy.

- O coronel Julio Fernandes Barbosa, commandante da 1 brigada estrategica, recusa receber outros presos da Marinha, visto não comportar mais os diversos departamentos do Quartel-General, onde já estão detidos 150 marinheiros revoltosos.

- A guarnição do scout Bahia foi, pelo governo, mandada encostar ao 1 regimento de infantaria.

- No quartel do 1 batalhão de engenharia têm-se apresentado dezenas de marinheiros.

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- O general Menna Barreto, ferido durante os successos, tem experimentado melhoras.

- O governo está retirando, aos poucos, os marinheiros do couraçado S. Paulo, substituindo-os por praças do Exercito e do Corpo de Bombeiros.

- A polícia enviou aos jornaes uma circular, aconselhando-os a se abster, na vigencia do estado de sitio, de propagar versões capazes de concorrer para a perturbação da tranquilidade publica, e a ter comedimento na analyse da situação.arede de estivadores

Correio do Povo do dia 20 de dezembro de 1910 noticiava:

Telegrammas

Imposição de estivadores

Rio Grande, 19 - Os estivadores, devido a um artigo dos estatutos da sociedade por elles fundada, impõem aos embarcadores a escolha do capataz da turma. O embarcador Deboer não concordou e nomeou um capataz por elle escolhido. Os estivadores ameaçam tomar uma desforra daquelles que obedecem a Deboer. Na praia, está postada uma força de policia, afim de evitar qualquer desacato.

Correio do Povo do dia 21 de dezembro de 1910 noticiava:

Rio Grande, 20 - O movimento dos estivadores, a que hontem me referi, assumiu hoje maior gravidade. Quando José da Promptidão chegava para o serviço, na qualidade de chefe geral do serviço de cargas e descargas dos transatlanticos, foi aggredido por um numeroso grupo de paredistas, tendo estes lhe desferido varios golpes, ferindo-o e estragando-lhe o chapéo e o casaco. Promptidão fugindo para bordo do rebocador S. José, foi ali de novo aggredido.

Correio do Povo do dia 22 de dezembro de 1910 noticiava:

Parede de estivadores

Rio Grande, 21 - Hontem, durante á noite, á rua Riachuelo foi patrulhada por uma força de cavallaria da policia, com armas embaladas. Durante a manhã de hoje, o serviço de vapores esteve completamente paralysado. O dr. Trajano Lopes, intendente municipal, em companhia do chefe dos embarques, esteve na séde da sociedade de estivadores, entrando em accôrdo com estes. A tarde foi retirado o patrulhamento daquella zona. Amanhã, os paredistas voltarão ao trabalho.

Correio do Povo do dia 23 de dezembro de 1910 noticiava:

Ponte do Taquary

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Ponte ferroviária sobre o Taquari, ainda em construção, no início de 1910 Crédito: CENTRO DE PRESERVAÇÃO DA HISTÓRIA DA FERROVIA NO RS / CP MEMÓRIA

Já se acha prompta a ponte metallica sobre o rio Taquary e destinada a dar passagem aos trens da Viação Ferrea.

Domingo proximo sera inaugurado o respectivo trafego, ficando assim a cidade de Porto Alegre ligada a toda a rêde ferro-viaria do Estado.

Officinas de cantaria - O sr. José Joaquim de Assumpção, aproveitando as excellentes pedreiras existentes em terrenos de sua propriedade, na Ponta do Dionysio, acaba de estabelecer ali, uma officina de cantaria, para trabalhos de esculputura. Estes são feitos de granito e outras pedras. Dirige a officina o sr. Antonio Cadoria, profissional competentíssimo, como tal reputado nas republicas platinas e a quem o sr. Assumpção deu sociedade. Também trabalham ali mais 15 operarios e, no proximo mez, chegará, de Buenos Aires, outro afamado profissional. A nova officina já tem encommenda de trabalhos de esculptura, do magestoso predio que o Banco da Província está construindo á rua 7 de Setembro, esquina da rua do Commercio, bem como para outras edificações.

Correio do Povo do dia 23 de dezembro de 1910 noticiava:

Chegada de marinheiros

Rio Grande, 23 - No Florianopolis, chegaram a esta cidade vinte marinheiros, que tiveram baixa do serviço da Armada, em consequencia das ultimas revoltas, e que se destinam ao Estado do Matto Grosso.

Correio do Povo do dia 27 de dezembro de 1910 noticiava:

Telegrammas

Festejos do Natal

Bagé, 25 - A''s 2 horas da tarde, effectuou-se, hoje, nos salões do Club Caixeiral, a festa de Natal das creanças pobres. Convidada, compareceu Belén de Sárraga, que proferiu comovente oração, sendo muito applaudida. Foram distribuídos, entre os pequenos indigentes, quinhentos brinquedos.

No dia 11 de abril de 1910 não houve edição do Correio do Povo. Na época, o jornal não circulava às segundas-feiras.

Correio do Povo do dia 05 de maio de 1911.

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A mulher na sociedade

Emprego de mulheres e crianças também aumentava no Brasil no início do século passado Crédito: cp memória

As reivindicações feministas

Comentarios e dados interessantes

O autorisado publicista francez Paul Louis escreveu, na Revue Bleue, um artigo muito interessante sobre a invasão feminina.

Começa elle mostrando a que ponto já chegaram, hoje, as reivindicações feministas. A litteratura, o theatro, a imprensa, as controversias juridicas, como as conversações familiares - tudo fala desse problema, devéras inquietante, que é o da mulher na sociedade actual.

Actividade feminina crescente

A propaganda feminista já não se vale somente das razões do sentimento; invoca tambem factos, dados estatisticos, para mostrar a extensão sempre crescente da actividade feminina em todas as categorias da producção material e intellectual. O grande publico, um pouco superficial, vê crescer o effectivo das advogadas, das pharmaceuticas, das cocheiras, das chauffeuses, mas não dá ao facto a importancia que elle merece, como um dos mais poderosos movimentos sociais da nossa época. Todos os annos augmenta de dezenas de milhares, de centenas de milhares de unidades, o numero das mulheres que trabalham nas industrias. É que o periodo industrialista actual trouxe, na Inglaterra, como na França, na Belgica como nos Estados Unidos, e na Alemanha não só o augmento, mas a profunda transformação do pessoal das fabricas.

Machinismo e oportunidades

Durante seculos, graças ao seu vigor physico, á estabilidade do seu esforço muscular, á continuidade e á igualdade do seu trabalho, o homem exercera uma especie de monopolio. Mas veiu o machinismo, e o braço de aço substituiu o do operario. Foi quando, com a complicação das machinas, que exigiam mais agilidade e attenção do que energia - penetraram nas officinas a mulher e a criança. A principio, por causa da retribuição menor, as crianças foram preferidas ás mulheres. Foi preciso que se fizessem leis sociais para impedir os abusos.

Mas nenhuma legislação social pôde paralysar a evolução manufactureira. Quando muito, conseguiu-se proteger contra o excessivo trabalho esses seres fracos.

Troca do lar pelas Fábricas

O numero de crianças foi augmentando, e muito mais ainda o das mulheres. Não tem outra

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causa a actual crise da familia. Cedendo ás necessidades da vida, as mulheres viram-se forçadas a abandonar o lar pelas fabricas, porque o marido ganhava pouco, e a vida ia se tornando sempre mais difficil.

Fóra desse exercito do trabalho, observa-se a mesma cousa. Os empregos mais modestos como as profissões liberaes foram invadidas pelas mulheres.

Tanto que, hoje, não haverá nenhum ramo de actividade que lhe seja extranho.

ESTATÍSTICAS

De resto, ahi estão as estatísticas que o provam cabalmente, e pelas quaes se póde bem avaliar a importancia da questão feminina.

O ultimo rescenseamento das profissões na França, durante o anno de 1906, appareceu sómente agora, no principio de 1911. São delle os dados que se seguem, referidos e commentados pelo autor do artigo que resumimos.

A população activa da França subia, em 1866, a 15.143.000 unidades; em 1896, a 18.994.000; em 1906, a 20.720.000. Nessas tres datas, o elemento feminino activo andava por 4.642.000, 6.411.000 e 7.693.000. Durante esses 40 annos, a progressão foi de 24 por cento relativamente ao elemento masculino e de 66 por cento quanto ao feminino.

De 1866 a 1890, o numero de homens occupados nos campos, nas florestas e na pesca, subiu de 5.356.000 a 5.741.000, para descer em 1906 a 5.525.000.

DIFERENÇAS

O numero de mulheres, entretanto, sendo em 1866 de 1.875.000, subiu em 1896 a 2.760.000 e em 1906 a 3.330.000. Em todo o período a progressão foi de 77 por cento para a mulheres e apenas de 3 por cento para os homens.

Mas há dados mais significativos. Na indústria propriamente dita, o elemento masculino cresceu, de 1866 a 1906, numa proporção de 56 por cento, ao passo que o feminino augmentou de cento por cento, apresentando 1.303.000 unidades em 1866, e 2.518.000 em 1906 com uma cifra intermedia de 2.068.000 em 1896.

Relativamente ao commercio, a progressão é enorme: 241.000 mulheres em 1866, 577.000 em 1896, e 779.000 em, 1906.

Nas profissões liberaes e nos serviços publicos: 164.000 mulheres em 1866, 257.000 em 1896 e 293.000 em 1906.

Nas indústrias extractivas, foi eliminado o elemento feminino, graças a uma lei especial.

Mas, em contraposição augmenta o effectivo de mulheres nas industrias chimicas, na metallurgia, no talhe e polimento de pedras.

A fabricação de papel occupa milhares, a confecção de cartonagem está quasi exclusivamente entregue a ellas. Nos differentes mistéres do couro e pelles nota-se a mesma progressão: mais de 20.000 mulheres são occupadas na confecção de sapatos, mais de 10.000 cortam e cosem luvas.

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A relojoaria, de longa data, emprega sómente operarias. E até as fundições de ferro, as usinas de mecanica geral, as forjas ja começam a empregar um pessoal mixto.

Nas profissões liberaes, também augmenta de dia para dia a influencia feminina. As distincções legaes e os preconceitos, sobreturo o egoismo masculino, foram outros obstaculos que as mulheres venceram.

Deixando de lado o ensino primario e secundario, ha, em França, 135 professoras de esgrima, 63 compositoras de musica, 841 que têm o título de publicistas ou jornalistas, 138 que se entregam a esculptura e 2.805 á pintura; 675 praticando a medicina, 326 a arte dentaria, 609 a pharmacia e 13.474 parteiras.

CONCLUSÃO

O que é que se conclúe de tudo isso? - Que a condição economica das mulheres se transformou completamente em França como nos outros paizes, durante os ultimos quarenta annos. Outrora, encerradas no lar e entregues a collaborar com os homens na producção, no commercio, em tudo que diz respeito á actividade geral.

Só na França, milhões de mulheres tiram a sua subsistencia dos seus proprios esforços.

Nenhum trabalho lhes é extranho, e os mais pesados, com os mais delicados, contam effectivos sempre crescente de mulheres.

Tudo leva a crer que essa evolução economica acarretará uma outra, porque, sem duvida nenhuma, o trabalho é o mais incontestavel fundamento do direito.

No dia 23 de maio de 1910 não houve edição do Correio do Povo. Na época, o jornal não circulava às segundas-feiras.

Correio do Povo, 5/5/1911

A grafia de época está preservada nos textos acima.

DOMINGO, 23 DE MAIO DE 2010

Cooperativa de Villa Nova

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Vila Nova. Terra fértil para o plantio da uva Crédito: FOTOS CP MEMÓRIA

SEU MOVIMENTO COMMERCIAL

Damos a seguir o movimento commercial da Cooperativa Agricola de Villa Nova, durante o primeiro trimestre do corrente anno.

Em janeiro, fevereiro e março deste anno, a sociedade exportou, para o Rio de Janeiro, 59.600 kilos de uvas, que vendidos á razão de rs. 117,77 produziram um total de 7:019$400, livres de todas as despezas.

Nesta capital, durante toda a safra, foram vendidos 103.944 kilos, que, com uma media de $ 211,13 por kilo, deram um total de 21:945$520.

Esta importancia, junto á que produziram as vendas no Rio de Janeiro, perfaz um total liquido de 28.964$920.

PREÇO BAIXO

Deve-se porém, notar que, além dos preços baixos obtidos no mercado da capital da Republica, houve uma diminuição de 69 caixas de uvas, allegando o consignatario terem chegado ali as fructas em mau estado.

Pelo mesmo motivo, outras caixas soffreram descontos, como se pode provar pelas facturas.

Si isso não tivesse acontecido, a Cooperativa de Villa Nova teria alcançado melhores resultados.

A directoria da sociedade foi tomar providencias a respeito, de modo que, futuramente, não se repitam taes irregularidades. Si a Cooperativa Central dos Agricultores do Brazil, com séde no Rio de Janeiro, ainda não estiver funccionando, a sociedade enviará, para aquelle centro de consumo, um commissario, afim de zelar pelos seus interesses.

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Mais tarde, a Cooperativa de Villa Nova pretende exportar outras classes de fructas.

Além da producção vendida a que acima nos referimos, os socios entregaram, na cantina social, 13.050 kilos de uvas, para serem transformados em vinho, produzindo 8.350 litros. Desse producto ainda não foi feita venda alguma.

Na recente II Exposição Agropecuaria, a sociedade expoz 12 garrafas de vinho tinto e 12 ditas de vinho branco, producção deste anno.

A Cooperativa de Villa Nova possue um prédio de material, com uma pequena adega e varios utensilios para a fabricação de vinho, assim como um terreno annexo, onde funcciona, provisoriamente, sua séde, e que foi adquirido, por compra, por 25:000$.

NOVA ADEGA

No momento actual, está sendo construida uma adega de maiores proporções, podendo conter até 60.000 litros de vinho.

Por cima da nova adega, construir-se-á um elegante chalet de madeira, com uma area superficial de 130 metros quadrados, a qual será dividida e terá um salão de 100 metros quadrados, devendo servir, futuramente, para reunião dos socios, e diversões, beneficiamento e encaixotamento de fructas. Terá, igualmente, salas para escriptorio, bibliotheca e escola agricola, servindo para tudo mais que redundar em favor da agricultura e dos socios. A obra está orçada em 8 a 10 contos de réis, concluindo-se a mesma brevemente.

A Cooperativa de Villa Nova conta com 108 socios contribuintes e socios benemeritos, entre os quaes o dr. Pedro Toledo, ministro da Agricultura, o dr Carlos Barbosa, presidente do Estado, o dr. Borges de Medeiros e outros.

Correio do Povo, 28/5/1912

O COOPERATIVISMO

Pouco a pouco, vencendo a má vontade de uns e rompendo o preconceito de outros, o cooperativismo vae ganhando terreno. Há dias, demos detalhada noticia sobre o movimento commercial da Cooperativa de Villa Nova, primeira sociedade que, nesse genero se fundou no Rio Grande do Sul.

Ante-hontem, em uma das salas do Centro Econômico, esteve reunida a directoria da Cooperativa de Lacticinios, que adoptou diversas medidas para melhorar as suas condições, importando machinismos e fazendo acquisição de um terreno appropriado á construcção do edificio social, de accôrdo com a planta já approvada. Na semana entrante, serão inauguradas as cantinas das cooperativas de vinhos de Caxias e de Nova Trento.

Segundo nos informou o dr. Paternó, todas as cooperativas da região colonial estão em marcha prospera, sendo garantido o seu futuro, pois, com a installação dessa sociedades, melhorarão muito os productos vinicolas e de lacticinios.

ORGANIZAÇÃO DA VIDA RURAL

A utilidade dessas associações já está comprovada, quer na Europa, quer nos Estados Unidos.

Page 50: boletimoperario.yolasite.com · Web viewCorreio do Povo do dia 7 de janeiro de 1910 Fechamento de commercio - As casas commerciaes da cidade do Rio Grande tambem fecharão ao escurecer

Foi por intermedio do cooperativismo que, principalmente na Italia, em França, na Allemanha e na Dinamarca, os productos agricolas, que, nem sempre encontravam mercados de consumo, conseguiram firmar a sua valorização, dando uma marcha regular aos negocios.

Em frança, o espirito mutualista, com cêrca de cinco mil syndicatos, está organizando a vida rural desse paiz, como em parte alguma da Europa. Segundo a noticia que demos há dias, sobre a Cooperativa de Villa Nova, vê-se perfeitamente que, tambem aqui, taes sociedades proderão prestar aos nossos agricultores os mais valiosos serviços.

O espirito de associação é, por assim dizer, uma garantia do trabalho do produtor.

Além disso, a sua divulgação conta com o apoio moral e material dos governos federal e estadoal, tendo sido creados alguns premios para as sociedades que mais desenvolverem as suas transações.

O facto é que, apezar da opposição que tem soffrido, o cooperativismo já aqui se enraizou, e, dentro em breve, começará a fructificar os seus resultados.

Correio do Povo, 7/6/1912

Domingos Passos era natural do Rio de Janeiro, tendo nascido, provavelmente, na última década do século XIX3. Sua trajetória militante está em grande parte ligada à sua organização de classe, a União dos Operários da Construcção Civil (UOCC), fundada como União Geral da Construcção Civil (UGCC) em abril de 1917. Apenas 2 meses após a sua fundação, a UGCC já com mais de 500 filiados, conseguiu mobilizar mais de 20.000 trabalhadores para o sepultamento dos 13 operários mortos no desabamento do New York Hotel, que se transformou em uma grande manifestação contra a ganância patronal. Nos rastro da greve geral iniciada em São Paulo, a UGCC e outras associações de resistência, declararam em 22 de julho de 1917 a extensão do movimento para o Rio de Janeiro, tendo como conseqüência imediata o fechamento de várias sedes sindicais pela polícia até o início de setembro e a prisão de vários militantes4. Outra conseqüência nefasta para a luta dos trabalhadores, foi o banimento da Federação Operária do Rio de Janeiro (FORJ), que só veio a ser substituída em 18 de janeiro de 1918 pela União Geral dos Trabalhadores (UGT).

Pesquisa e edição: DIRCEU CHIRIVINO | [email protected]