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- EUROPEANPOLICYBRIEF - Page | 1 MYPLACE: MEMÓRIA, JUVENTUDE, LEGADO POLÍTICO E ENVOLVIMENTO CÍVICO Esta terceira e última policy brief do projeto de investigação MYPLACE, financiado pelo 7º Programa Quadro e envolvendo parceiros de 14 países, destaca os resultados transnacionais da investigação e respetivas implicações para a agenda política europeia. Projeto em curso Iniciado em junho de 2011 23 de Março 2015 EUROPEAN POLICYBRIEF

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MYPLACE: MEMÓRIA, JUVENTUDE, LEGADO POLÍTICO E ENVOLVIMENTO CÍVICO

Esta terceira e última policy brief do projeto de investigação MYPLACE, financiado pelo 7º Programa Quadro e envolvendo parceiros de 14 países, destaca os resultados transnacionais da investigação e respetivas implicações para a agenda política europeia.

Projeto em curso Iniciado em junho de 2011

23 de Março 2015

INTRODUÇÃO

O MYPLACE (www.fp7-myplace) é um grande projeto de investigação, financiado pela Comissão Europeia com 7,9 milhões de euros, em curso desde junho de 2011 até maio de 2015. Este projeto, utilizando uma abordagem metodológica mista em 14 países, procura mapear a relação entre a herança política, os atuais níveis e formas de participação cívica e política dos jovens na Europa e a sua potencial recetividade para agendas políticas radicais e populistas.

Conceptualmente, o projeto concentra-se sobre as interconexões das orientações dos jovens relativamente ao passado, presente e futuro com o objetivo de mostrar que, apesar da sua

EUROPEAN

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participação cívica e política ser estruturalmente enraizada em contextos históricos e culturais, os jovens são eles próprios agentes ativos de mudança social e política.

Empiricamente, o MYPLACE combina o inquérito por questionário, entrevistas e estudos de caso etnográficos para mostrar as interações entre os padrões locais, nacionais e transnacionais de envolvimento e participação juvenil, proporcionando um novo e único conjunto de dados pan-europeus que não só mede os níveis de participação como também capta os significados que os jovens lhe atribuem.

Analiticamente, através do seu foco holístico mais abrangente sobre a contextualização histórica e cultural da participação cívica, social e política dos jovens, o MYPLACE substitui os pressupostos simplistas de um presumido “afastamento” da política por um mapeamento empiricamente rico dos seus entendimentos e orientações na definição dos espaços políticos locais, nacionais e europeu.

Em termos de políticas, o MYPLACE parte desta nova evidência para identificar os obstáculos e os facilitadores da reivindicação dos jovens na arena política europeia como “o seu espaço”. O que tem uma grande relevância para as agendas políticas europeias, particularmente as que são promovidas pela Estratégia Europeia da Juventude 2010-18.

O objetivo desta Policy Brief

Enquanto a Policy Brief 1 de 2013 descrevia a pesquisa a ser então realizada pelo projeto MYPLACE, a Policy Brief 2 de 2014 reportava os resultados nacionais da pesquisa quantitativa e qualitativa realizada em duas localizações contrastantes. A Policy Brief 3 concentra-se agora nos resultados transnacionais decorrentes da pesquisa e nas suas implicações para a importante agenda política europeia. A policy brief abrange os resultados de 4 pacotes de trabalho (PT): a pesquisa com os museus-parceiros sobre a memória histórica (PT2), as atitudes em relação à política e o envolvimento no ativismo político medido através de um inquérito por questionário (PT4), o aprofundamento destas mesmas questões numa subamostra de entrevistas de menor dimensão (PT5) e uma grande variedade de estudos de casos etnográficos que evidencia o envolvimento cívico e político dos jovens em ação (PT7).

Ao nível nacional a investigação foi realizada em colaboração com um Grupo de Aconselhamento em matéria de Políticas de Juventude (Youth Policy Advisory Groups – YPAGs) em cada país, incluindo uma série de parceiros locais/ou nacionais no campo das polítias de juventude. Os YPAGs também desempenharam um papel importante na ajuda aos investigadores do projeto na interpretação das implicações políticas e na disseminação dos resultados nacionais. Esta policy brief também beneficiou da discussão dos principais resultados e implicações políticas, realizada com os parceiros políticos num Fórum Político Europeu ou “European YPAG”, que decorreu em Bruxelas a 20 de novembro de 2014.

Uma vez que apenas os principais resultados selecionados deste estudo em larga-escala podem ser aqui mencionados, resumindo os resultados políticos mais significativos, recomenda-se a visita ao site do projeto, onde estão disponíveis para estudo e análise os relatórios de investigação integrais: http://www.fp7-myplace.eu/deliverables.php

RESULTADOS E ANÁLISE

Os jovens na Europa e as “Políticas de Memória”

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A família emergiu como um contexto importante para a socialização mnemónica na pesquisa sobre a memória histórica efetuada juntamente com os museus-parceiros, sobressaindo a coincidência frequente entre os marcos de referência familiares e nacionais. A revelação mais marcante é que muitas vezes os jovens – embora nem sempre e por vezes de forma ambivalente – confiam mais nos relatos familiares do que nas suas representações oficiais. A investigação mostra que as narrativas históricas do “passado difícil” continuam a ter influência na formação das atitudes, dos valores e nas atividades atuais dos jovens. No entanto, isto depende das características específicas das experiências históricas nacionais e locais.

A investigação efetuada em parceria com museus e outros parceiros dos “lugares de memória” evidenciou a existência de agendas políticas distintas na representação do “passado difícil” a públicos mais alargados públicos nos 14 países, agrupados nas seguintes formas:

Cluster 1 Os países do antigo bloco de leste procuraram preservar as memórias das eras “problemáticas”, a comunista e a Nazi, muitas vezes por meio de ação do Estado, com o fim de reforçar a conceção de uma identidade nacional mais “democrática” e redefinida na atualidade. Verificaram-se algumas falhas na admissão aberta da colaboração com as forças Nazis (Eslováquia, Hungria, Croácia, Letónia, Estónia, Geórgia, Rússia). Cluster 2 Outros contextos procuraram interpretar o “passado difícil” das ditaduras (no sul da Europa) ou da desindustrialização e as políticas da era Thatcher (no caso do Reino Unido) através de fórmulas “esquerdistas” ou implicitamente críticas (Grécia, Portugal, Espanha, Reino Unido). Cluster 3 Os espaços de memória oficiais, no caso das antigas Alemanhas (Federal e de Leste), procuraram homenagear as vítimas dos campos de concentração Nazi implementando programas educativos fortemente moralistas destinados aos estudantes. Porém, na atualidade, o passado socialista é marginalizado na antiga Alemanha oriental. Cluster 4 Nos países escandinavos (Finlândia e Dinamarca) as memórias coletivas da guerra procuraram definir as origens das conceções contemporâneas da identidade nacional, a perda de território da Dinamarca para a Alemanha em 1864 e a defesa da Finlândia contra a União Soviética 1939-1940. Tal como acontece com alguns países do Cluster 1 houve uma tendência para "silenciar" a colaboração Nazi.

As entrevistas de grupo com os jovens e as entrevistas intergeracionais mostraram a tendência dos jovens para o desinteresse ou para a desconfiança relativamente às versões oficiais, sobretudo as promovidas pelas escolas e por muitos locais de memória. Embora alguma informação ter sido obtida a partir de fontes culturais, registou-se uma tendência a valorizar as narrativas de pais e avós. Como referiu um jovem catalão:

É melhor ouvi-los do que pesquisar na Internet, porque talvez isso não seja verdade... a experiência dos avós é melhor.

Um jovem politicamente ativo da Alemanha de Leste afirmou:

Fui claramente influenciado pelos meus pais ... Nós tornamo-nos autoconfiantes e rebeldes também.

No entanto os jovens não são passivamente socializados nos mesmos pontos de vista dos seus pais ou dos seus avós. Coproduzem-nos ativamente. Além disso, os jovens nem sempre aceitam os pontos de vista dos pais de uma forma acrítica. Uma jovem croata questionou se a hostilidade dos seus pais em relação aos sérvios foi o resultado das atrocidades do passado.

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OK mamã, mas isso não quer dizer que os sérvios me fizessem isso agora. Eu tenho amigos sérvios.

É mais provável que os jovens estejam interessados na história quando tal é claramente relevante para as suas preocupações quotidianas. Seja do lado esquerdo ou direito do espectro político podem ser efetuadas referências à história na construção contemporânea de atitudes xenófobas ou antirracistas. Tal foi frequentemente associado com um sentimento alargado de nostalgia pelo passado, algo que é transversal a muitos países nos quais as presentes dificuldades socioeconómicas associadas a um “presente depressivo” de austeridade e insegurança e de um futuro ausente contrastou claramente com uma prévia “era dourada de prosperidade e/ou de segurança”. Um jovem húngaro expressou-o deste modo:

Era melhor ser jovem naquela época. Então, o jovem poderia ir para bons campos, por exemplo, no Lago Balaton, agora eles não têm para onde ir [...] Pelo menos havia regras claras: 8 horas de trabalho, 8 horas de descanso, estava tudo resolvido. Agora todos têm que fazer horas-extra.

Existe assim uma conexão entre estas narrativas históricas “críticas” e as dificuldades socioeconómicas mais amplas que afetaram a Zona Euro e as sociedades pós-socialistas. Parece que enfrentar o presente e criar um futuro para os jovens é a tarefa política privilegiada, uma questão à qual vamos retornar mais tarde. No entanto, abordar as perceções da história também é importante. Embora as escolas e os museus nem sempre tenham marcado os jovens, houve casos que em vez de promoverem uma única versão “autorizada” promoveram a discussão e o debate. Na Alemanha, por exemplo, tem havido uma mudança de uma orientação para o passado “dever de recordar” para uma mais orientada para o futuro “isto não deve acontecer novamente”, uma abordagem que parece resultar melhor mais entre os jovens.

Evidência adicional da importância da história e da memória emergiu também nos resultados obtidos a partir do inquérito por questionário e das entrevistas em profundidade. Dos dados quantitativos sobressai o facto de a maioria dos jovens considerar importante a comemoração do passado. Os dados mais expressivos surgem em ambas as localizações da Geórgia e os menos concordantes na localidade de Daugavpils, na parcela de maioria russa desta cidade da Letónia. Muitos jovens reconheceram a importância das duas guerras mundiais, em particular a Segunda Guerra Mundial, como tendo tido uma influência significativa na história do seu país. Nos casos em que se aplica, a importância atribuída à adesão à UE foi semelhante à conferida à Segunda Guerra Mundial.

A queda do muro de Berlim e o fim dos Regimes socialis-tas

Ser membro da União Europeia

Primeira Guerra Mundial

Segunda Guerra Mundial

0% 20% 40% 60% 80% 100%

61%

84%

77%

85%

Gráfico 1. Importância dos quatro acontecimentos (% importante ou muito importante)

Esta ênfase na importância da Segunda Guerra Mundial não foi surpreendentemente elevada em ambas as partes ocidental e oriental da Alemanha (mais de 90% em cada caso), sendo significativamente menor,

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menos de 70%, em Portugal, país que não participou ativamente nela. Não surpreendentemente também a queda do muro de Berlim e o fim dos regimes socialistas foi geralmente visto como o mais importante nos países mais diretamente afetados por este acontecimento - na ex-Alemanha Oriental e Ocidental, respetivamente, 99% e 98% consideraram importante ou muito importante e 93% na Rússia. Nas localizações dos países do Sul da Europa (Espanha, Portugal, Grécia), foi atribuída menos importância a este acontecimento, abaixo dos 50%.

Interesse dos Jovens na Política e a Participação na Política Formal

O desinteresse pela política formal por parte dos jovens e respetivas implicações para a saúde futura da democracia europeia tem sido objeto de uma significativa preocupação. O inquérito apurou que mais jovens “desinteressados” (58%) do que “interessados” na política (42%). Registou-se contudo alguma variação, verificando-se uma maior propensão dos jovens pelo interesse pela política nas localizações da Alemanha Oriental, Grécia e Espanha, enquanto por oposição se assinalaram níveis de interesse particularmente baixos em localizações da Croácia, Letónia, Finlândia e Estónia. Quanto ao nível de interesse registado relativamente a questões envolvendo localizações com diferentes níveis de proximidade, desde a União Europeia à vizinhança verificou-se que o interesse dos jovens se dirige sobretudo para o país (79%) e cidade (75%) onde vivem, e com muito menor intensidade para os países vizinhos do seu (49%).

… os países vizinhos do seu país?

… o bairro/rua em que atualmente reside?

… Europa

… a cidade em que atualmente reside?

… o país em que reside?

0% 20% 40% 60% 80% 100%

49%

59%

59%

75%

79%

Gráfico 2. Em que medida está interessado em questões relacionadas com … (% muito interessado ou algo interessado)

No que respeita a questões ou assuntos relativamente aos quais os jovens se declaram particularmente interessados, verifica-se que tal acontece em áreas que têm uma relevância direta para a vida dos jovens, com o emprego, a habitação e o meio ambiente a colherem o maior interesse; e a União Europeia, a imigração e os direitos LGBT a recolherem a pontuação mais baixa. A televisão e a internet foram os dois meios mais significativos de informação utilizada pela maioria dos jovens para obter informações sobre política e assuntos públicos. Estes podem também ser um meio de participação:

Eu tento estar ativamente envolvido na política. Pelo menos para partilhar algumas opiniões na minha página do Facebook, porque eu acho que isso afeta a todos nós, e esta é a nossa vida, não é a de mais ninguém

Confiança Política

O nível médio de confiança nos políticos e na política, numa escala de 0 (não confia nada) a 10 (confia totalmente), ficou abaixo do ponto médio da escala:

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Primeiro-ministro 4.3Parlamento 4.5Partidos Políticos 3.8

No entanto, existem diferenças significativas entre os países e entre as localizações dentro deles. Os jovens da Grécia, Croácia, Espanha e Hungria são os que menos confiam, enquanto os da Dinamarca, da Finlândia, de ambas as partes da Alemanha e da Geórgia expressaram uma confiança mais elevada, em torno do ponto médio da escala. Há aqui indícios, entre outras coisas, de uma divisão entre o norte e o sul da Europa.

Gráfico 3. Confiança em relação às principais instituições políticas por localização (Primeiro-ministro, Parlamento e os Partidos Políticos) numa escala de 0 (nenhuma confiança) a 30 (total confiança)

Um resultado generalizável a todas as localizações dos 14 países é a imagem bastante negativa dos políticos entre os jovens: apenas 20% acreditam que os políticos estão interessados nos jovens, 60% acham que os políticos são corruptos e 69% estão convencidos de que os ricos têm muita influência sobre os políticos.

Um político faz-me lembrar uma daquelas coisas que temos hoje, isso faz-me pensar numa coisa normalmente de fraude, de suborno, de corrupção, faz-me pensar tudo isto

É como… sim, sim, vamos fazê-lo, nós vamos fazer isto, isto e isto, para o país e depois eles não fizeram nada

Mas o nosso governo não nos ouve, você sabe o que quero dizer [...] No momento tudo o que lhes importa é dar aos ricos os benefícios fiscais, atingindo as pessoas pobres

Votar

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Apesar da generalizada diminuição das taxas de participação eleitoral entre os jovens o inquérito verificou que votar é a forma mais popular de participação política entre os jovens nas localizações dos 14 países, com 70,3% dos inquiridos a declararem ter votado, conforme apresentado no gráfico 4. Porém, houve variações significativas, por exemplo, os jovens das localizações dos países do Norte da Europa, em particular na Finlândia, Dinamarca e Alemanha (onde os níveis de confiança também tendem a ser mais elevados), mas também em Vic (Espanha), verificam-se taxas de participação eleitoral superiores a 80%. O menor nível de votação (43%) foi encontrado em Nuneaton, no Reino Unido, uma localidade de classe trabalhadora afetada pela desindustrialização e pelo desemprego. Também verificámos que os preditores comuns de votação que surgiram não poderiam ser explicados puramente em termos dos fatores contextuais de localização. Assim, a propensão para votar foi fortemente influenciada por fatores sociais estruturais, como a classe, o género, a religião e a etnia:

70%

12%

6%

8%4%

Votou

Eu gostava de ter votado mas não pude nesse dia

Não havia nenhum partido que cor-respondesse às minhas opiniões

Para mim, votar ou não votar era igualmente indiferente

Não votei para demonstrar a minha insatisfação com os políticos e com os partidos

Gráfico 4. Percentagem dos jovens que votaram e não votaram nas eleições, pelo motivo declarado

Níveis elevados de educação e classe social estão relacionados com taxas elevadas de voto O desemprego juvenil diminui a probabilidade de votar Os homens são mais propensos a votar nas eleições nacionais, essas diferenças não são visíveis nas

eleições locais Um nível mais elevado de identidade religiosa está relacionado com uma maior propensão para

votar Os jovens mais velhos são mais propensos a votar

Em comparação com outras formas de participação na política, o voto foi considerado como o mais eficaz (0 - nada eficaz e 10 - muito eficaz):

Votar em eleições 6,9Ganhar publicidade através da exposição nos média 5.9Participação em protestos ilegais 3.5Participação em protestos violentos 2.9

Contudo, mesmo os jovens que votaram não acreditam necessariamente na sua eficácia:

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Independentemente da forma como você vai se tramar, é a minha opinião pessoal [...] Eu voto [...] as pessoas dizem que se não votar não vai poder reclamar

Isso também pode ser o caso para aqueles que participam em manifestações:

A minha impressão é que nunca é muito bem-sucedida. Mas eu acho que é melhor nos manifestarmos do que não fazermos nada

Aqueles que não votam não são necessariamente desmobilizados, mas podem ter feito uma escolha fundamentada:

Eu não participo nas eleições. Parei de fazê-lo recentemente. Muito provavelmente porque eu acho que o meu voto não vai mudar nada

O ativismo político dos jovens e a participação em movimentos sociais e ação cívica

Uma medida agregada de envolvimento organizacional em 11 organizações numa escala de 0 a 11 (de um reduzido para um elevado envolvimento), revelou uma média geral de 0,3. Os jovens das localizações nórdicas (Finlândia e Dinamarca) apresentaram níveis mais elevados de adesão a organizações cívicas e políticas, enquanto os níveis mais baixos foram encontrados nas localizações do Mediterrâneo (Grécia, Portugal e Espanha, e nas sociedades pós-socialistas (na Hungria, Eslováquia, Geórgia e Letónia).

O envolvimento sociopolítico para além da participação organizacional, medido por 20 atividades políticas diferentes também variou bastante. Por exemplo, ambas as localizações da Hungria representam um nível de participação cerca de 25 mais baixo do que algumas localizações da Alemanha Oriental e da Espanha. Os baixos níveis de envolvimento foram geralmente registrados em organizações cívicas e políticas, com 11 tipos identificados, incluindo partidos políticos, organizações religiosas, organizações pacifistas e de direitos humanos e movimentos antiglobalização. O ativismo de protesto foi mais elevado nos locais dos países mais atingidos pela crise, como a Grécia, Portugal e Espanha. No entanto, (como vimos acima) se a classe social e o nível de escolaridade são fortes preditores para votar, o mesmo não acontece no caso no envolvimento em atividades de protesto.

De um modo geral a participação política, incluindo a proximidade a um partido, é maior nas localizações onde o sistema político nacional se baseia na representação proporcional e onde existe a tradição de um Estado mais intervencionista, nomeadamente nas localizações do norte da Europa; no sul da Europa, Reino Unido e sociedades pós-socialistas o mesmo não acontece.

Propensão para a xenofobia, políticas de extrema-direita e satisfação geral com a democracia

No geral os respondentes MYPACE mostraram atitudes ambivalentes em relação aos imigrantes, não se inclinando para acreditar que os membros de grupos de minorias étnicas dão um contributo positivo para a sociedade, como apresentado no gráfico 5.Porém, as atitudes relativamente aos imigrantes e grupos minoritários tendem a variar de acordo com a localização do país:

Na Letónia e Estónia a visão sobre a minoria russa é maioritariamente positiva As atitudes perante os grupos minoritários são mais favoráveis nas localidades da Europa do norte,

sendo nas duas localizações da Alemanha que são os mais favoráveis Os jovens das localizações pós-socialistas, a par dos da Grécia e em certa medida dos de Portugal,

expressam os níveis mais elevados de visões negativas perante os grupos minoritários, sendo também os mais propensos a apoiar as políticas de exclusão de migrantes

Na Grécia os albaneses são o grupo em que os jovens menos confiam

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Atitudes em relação a diferentes grupos minoritários variam:

Em muitas localizações (por exemplo, na Dinamarca, Finlândia, Portugal, Espanha, Rússia e Eslováquia) o grupo étnico mais propenso à discriminação é constituído pelos Roma

Nas localizações húngaras, russas e georgianas, os jovens são mais favoráveis à limitação do acesso dos imigrantes a um conjunto de recursos do Estado

Em muitas localizações (especialmente na Finlândia, Alemanha, Rússia e Reino Unido) os jovens com baixos níveis de educação e de origem operária são mais propensos a serem negativos em relação a grupos minoritários e migrantes

No entanto, nas localizações eslovacas os jovens menos escolarizados de grupos socioeconómicos mais baixos têm opiniões mais favoráveis sobre os ciganos

Os homens são mais favoráveis a expressar hostilidade para pessoas de grupos minoritários e migrantes

Os ciganos dão um contributo positivo para a sociedade

Os judeus dão um contributo importante para a sociedade

Os muçulmanos dão um contributo importante para a sociedade

Os imigrantes contribuem bastante para a diversidade cultural nacional

controlo rigoroso das fronteiras e restrições à concessão de vistos para prevenir mais imigração

Os imigrantes deveriam ter os mesmos direitos de assistência social

Os cidadãos nacionais deveriam ter mais direitos aos empregos

0% 20% 40% 60% 80% 100%

14%

33%

27%

54%

48%

55%

57%

Figura 5. Concordância com afirmações sobre imigração e minorias (% concorda totalmente e concorda)

Satisfação com a democraciaO valor médio de apoio à democracia, numa escala entre 0 e 10, foi de 5,01. No entanto, o gráfico 6 revela que este variou consideravelmente de acordo com o país e a localização.

Os níveis mais elevados de apoio à democracia foram encontrados nas localizações da Escandinávia e da Alemanha, com Odense, na Dinamarca, com o valor mais elevado 7,43

O menor apoio foi no Reino Unido e nas localizações pós-socialistas Os valores mais baixos foram encontrados na Rússia e na Europa do Sul, sendo em New

Philadelphia (Grécia) que se registou o valor mais baixo 3.34

Os níveis de apoio à violência para alcançar os objetivos políticos, numa escala de 0 (nunca) a 32 (sempre) foram baixos:

O apoio mais elevado foi em Rimavska Sobota na Eslováquia (14,6), Podsljeme na Croácia (13,31) e nas duas localizações russas (ambas com mais de 13).

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Os níveis mais baixos de apoio foram na Dinamarca (menos de 6), Kuopio na Finlândia (5,67), e nas duas localizações da Letónia (4,62).

As mulheres foram frequentemente mais contra a violência do que os homens.

Gráfico 6. Satisfação com a democracia por localidade numa escala de 0 (extremamente insatisfeito) a 10 (extremamente satisfeito)

Os jovens e o Projeto Europeu

Mais de metade dos jovens inquiridos afirmaram estarem muito ou bastante interessados em questões europeias:

Média % Mais elevado % (Lumiar, Port) Mais baixo % (Trnava, Slov Muito interessado 16 32 6Algo interessado 42 51 29Pouco interessado 33 14 51Nada interessado 9 2 14

Em alguns casos as duas localizações de cada país tiveram resultados muito semelhantes. Os dois locais de Portugal e da Alemanha estão nos três primeiros lugares em termos do grau de interesse, enquanto os dois locais da Eslováquia, Rússia e Croácia estão nos três últimos lugares. Também existem contrastes entre as localizações em países específicos que refletem os padrões mais vastos de envolvimento ou distanciamento

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do interesse na política, por exemplo, no Reino Unido, com Coventry incluído nas três primeiras posições e Nuneaton perto do último.

A confiança na Comissão Europeia foi um pouco maior do que a confiança nos parlamentos nacionais, a média global foi 5,17, numa escala de 0 (nenhuma confiança) a 10 (total confiança). A média mais elevada foi em Telavi na Geórgia (6,60). As duas localizações de países como a Geórgia, Dinamarca e Alemanha Oriental ficaram parte superior com a confiança mais elevada, enquanto as localizações da Grécia, Croácia e Hungria ficaram nos três lugares com as classificações mais baixas.

Em geral, os jovens do nosso estudo foram moderadamente favoráveis à ideia de que “a adesão à UE beneficia muito o nosso país”: 49% dos inquiridos concordaram ou concordaram totalmente com a afirmação e 20% discordaram ou discordaram totalmente. No entanto, a localização Rimavska Sobota na Eslováquia obteve a menor percentagem de concordância agregada, conjugando este dado com a percentagem mais elevada de indecisos. No entanto, New Philadelphia na Grécia teve a percentagem mais elevada de inquiridos (39%) que responderam que "discorda ou discorda totalmente" que a adesão à União Europeia tenha beneficiado muito o seu país.

Os jovens e o ativismo político: os casos de estudo etnográficos

A pesquisa etnográfica do MYPLACE proporcionou uma base de dados de 44 estudos de caso de participação ativa dos jovens em movimentos sociais e organizações políticas. Os resultados fornecem dados muito relevantes para os decisores políticos sobre as motivações e experiências dos jovens envolvidos.

Um primeiro conjunto de movimentos é integrado por movimentos patrióticos e filiados na direita radical. Incluiu organizações tão diversas como a English Defence League (EDL) do Reino Unido, uma organização de rua que contorna a política eleitoral tradicional, o Greek Golden Dawn Party que procurou combinar a ação de rua com esforços assinaláveis para obter mais poder parlamentar e constitui a organização mais à extrema-direita de entre todas as estudadas. O conjunto inclui ainda o Russian Run, um movimento fortemente nacionalista e promotor da prática desportiva e sobriedade iniciado na comemoração do ano novo de 2011. Muitos destes movimentos (com exceção da Golden Dawn), de facto, procuram distanciar-se da extrema-direita, pelo menos da forma como esta é classicamente entendida. Estes movimentos combinam uma típica proclamação de abertura e adesão solidária com uma tendência para o combate de rua. Destaca-se ainda o respetivo centramento na temática da imigração juntamente com o respeito pela memória histórica e comemoração. O patriotismo foi o valor comum mais frequentemente expresso no conjunto diverso de organizações e a fonte fundamental de “pertença”.

Um outro conjunto agrega os movimentos anti-capitalistas, anti-racistas e anti-fascistas englobando, igualmente, um conjunto diversificado de tipos de movimentos. Muitos enfatizam a mobilização a partir de baixo, da desilusão com a política formal, uma ênfase na abertura, na solidariedade, na ação informal e na expressão catártica de pontos de vista marginais. As organizações neste cluster incluem movimentos culturais como o Anti-fascist Punk Activism (Antifa Punk), na Croácia, a organização para uma “internet livre” Estonian Pirate Party, um movimento para a “educação gratuita” na Croácia para, ou seja, com financiamento público da educação superior até ao nível de pós-graduação, e Anti-Discrimination Working Group of Football Fans (Anti Dis AG) na Alemanha.

Um terceiro conjunto conjuga os Movimentos de Ocupação e anti-austeridade, como os Indignados de Espanha os seus homólogos do Aganaktismeni na Grécia, iniciado em 2011, e que desde então levou à criação ou ao crescimento de movimentos de feição parlamentar como o PODEMOS em Espanha e o Syriza na Grécia. Contudo, o mesmo não ocorreu nos movimentos Occupy no Reino Unido e Dinamarca. Todos têm contestado a austeridade e as limitações identificadas no exercício contemporâneo da democracia representativa.

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Um quarto conjunto reúne os movimentos focalizados no género e dos direitos das minorias, entre os quais se contam as Indignant Feminists em Barcelona, a UK Feminista e o Estonian LGBT Movement. Estes movimentos, como em muitos dos estudos de caso etnográficos, utilizam de forma destacada a Internet nas suas atividades, tendo tal ajudado a promover a abertura e formas horizontais de organização. A expressão de uma forte emoção individual e coletiva é uma característica de muitos dos movimentos estruturados a partir da base que estudámos e tal facto pode ser visto como reação a uma cultura política que procura constrangê-la.

O conjunto formado pelas juventudes partidárias, sindicais e outras organizações patrocinadas pelo Estado abrangeu estudos de caso tais como o True Finns Party, à direita, e à esquerda a Frente da Juventude Socialista Dinamarquesa, o Partido Democrata Cristão da Eslováquia (conservador), bem como a seção juvenil do Sindicato IGMetall alemão. A pesquisa evidenciou que os jovens ativistas dessas organizações estão, por vezes, frustrados com o relacionamento com a “organização-mãe” e respetivas “regras associadas”, e da forma como isso às vezes constrange os seus esforços de independência e de capacidade de expressão da sua própria identidade.

Esta secção da policy brief identifica as implicações políticas mais significativas da nossa investigação, em especial aquelas mais de perto relacionadas com a agenda europeia, sendo a mais importante a Estratégia Europeia da Juventude para 2010-18. Esta foi formulada pela consciência de que “o futuro da Europa depende da sua juventude”. Contudo, as perspetivas de vida de muitos jovens são desencorajadoras. A Estratégia da UE para a Juventude 2010-18 tem dois objetivos gerais:

Investir na juventude, designadamente ao fornecer mais e iguais oportunidades para os jovens na educação e no mercado de trabalho;

Capacitar, incentivando os jovens a participar ativamente na sociedade de diversas formas.

Em termos de investimento na juventude uma ampla variedade de medidas do “lado da oferta” foi identificada a fim de melhorar as competências e a educação, a empregabilidade e o empreendedorismo, com vista a “nutrir o capital humano”, focalizando ainda a saúde e o bem-estar. Para lidar com o facto de os jovens terem sofrido mais com a crise económica desde 2008, com 1 em cada 4 jovens com menos de 25 anos desempregados (1 em 2, na Grécia, o país com a taxa de desemprego jovem mais elevada), a CE adotou uma política de garantia para a juventude em abril de 2013. Todos os jovens devem receber uma oferta de qualidade de emprego, uma educação continuada, ou um estágio dentro de 4 meses depois de deixarem a educação formal ou de ficarem desempregados.

Em termos de capacitação da juventude, a estratégia reconhece a constante “lacuna” entre os jovens e as instituições e incentiva os decisores políticos a resolverem esses problemas através de medidas, tais como:

Diálogar com os jovens, facilitando a participação na formulação de políticas nacionais e europeias; Apoiar as organizações de juventude e os conselhos nacionais e locais de juventude Promover a participação de grupos sub-representados; Apoiar formas de “aprender a participar” desde cedo; Promover a e-democracia de forma a chegar à juventude não-organizada.

O último ponto particularmente relevante para esta Brief é a ênfase na elaboração de políticas baseadas em resultados, uma vez que os resultados obtidos pelo MYPLACE são relevantes para o auxílio à União Europeia e respetivos países parceiros na prossecução destas agendas políticas.

Em muitos casos os nossos resultados apoiam as estratégias que estão a ser adotadas, embora levantem questões sobre se estas estão a ser implementadas com a eficácia necessária

IMPLICAÇÕES POLÍTICAS E RECOMENDAÇÕES

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Os nossos resultados também põem em relevo algumas interpelações efetuadas por parte das vozes críticas da juventude, evidenciando ainda uma significativa insatisfação com as atuais fórmulas de investimento na juventude e incentivo à participação dos jovens

Os nossos resultados sobre a participação proporcionam boas notícias, bem como outras menos boas. Assim, enquanto os resultados da investigação não evidenciam uma perda de legitimidade alargada por parte da democracia e das instituições políticas entre a maioria dos jovens

Muito mais precisa de ser feito para dotar os jovens do conhecimento e discernimento sobre a política que eles afirmam necessitar para que possam participar eficazmente

Mais consideração deve ser dada à promoção da participação pela via de um recenseamento mais fácil

A tendência para a redução da idade mínima para o exercício do direito de voto é um passo positivo no sentido da facilitação da participação.

Em termos substantivos, os jovens acreditam que o sistema político funciona mais a favor das pessoas mais velhas, ou das pessoas mais ricas, do que a favor deles próprios e isto pode desencorajar o voto e criar um círculo vicioso de negligência política e reforço da desconexão entre a política e a juventude. Há, portanto, uma responsabilidade dos políticos no quebrar desse círculo e ajudar a promover um círculo virtuoso em que, como resultado os jovens sintam que as questões políticas são relevantes para si próprios e que vale a pena participar. Os políticos precisam dar resposta aos seguintes factos:

Ao longo da investigação os jovens afirmaram que estão “desligados” da política em função da maneira como eles a percebem: conduzida pelos mais velhos, formalmente vestidos, “pessoas chatas”;

Os esforços efetuados pelas instituições políticas das para restringir os movimentos de protesto como uma ameaça à "ordem pública" são entendidos como incentivos para desencorajar a participação e minar a fé na democracia;

O desinteresse dos jovens pela política deve ser considerado menos como um “problema” e sim como a mobilização positiva por formas mais significativas e menos remotas de democracia. Se atendidos, estes argumentos podem revitalizar a democracia para o conjunto das populações.

A investigação constatou que os museus e os locais de memória podem precisar de enfrentar a história através de formas sensíveis e exploratórias, ao invés de fórmulas prescritivas, de procurarem esquecer ou mesmo suprimir passados nacionais difíceis. A nossa sugestão é o desenvolvimento de ações políticas adequadas e incentivar os museus e os locais de memória a desenvolverem linhas de ação que transmitam uma imagem mais equilibrada do passado, em vez de apresentarem entendimentos oficiais do acontecimento histórico.

Em acréscimo, a desafeição passiva ou ativa dos jovens é uma resposta a uma incapacidade de lidar com questões substantivas que afetam toda a sociedade, mas que particularmente tem impacto nos jovens e no seu desejo de procurar um futuro individual e coletivo positivo, tais como:

A acentuação das desigualdades socioeconómicas dentro e entre as sociedades, aspeto que que está também a tomar uma dimensão intergeracional;

A continuação do fracasso na resolução de problemas urgentes como as alterações climáticas; A exclusão de um número crescente de jovens do mercado de trabalho e de carreiras satisfatórias e

significativas, adiando indefinidamente as transições para os papéis de adultos.

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Com o domínio do neoliberalismo a nível nacional e europeu, muitos jovens sentem-se cada vez mais “por sua conta” vivendo num “presente deprimente” e com esperanças diminutas no futuro. Assim, os decisores políticos devem também lidar com as questões substantivas associados com a crise económica e a austeridade, para que a fé na democracia possa ser restaurada, em particular nos países da Europa do Sul.

Assim, a nossa investigação tem também implicações políticas na agenda para o investimento na juventude da Estratégia Europeia da Juventude 2010-18 que atualmente dá prioridade às estratégias do lado da oferta, características do modelo neoliberal dominante, ao invés de avançar com os direitos sociais coletivos e de reforçar o modelo social europeu. A Garantia Jovem é, sem dúvida, uma tentativa de colocar as necessidades da juventude no centro da política. No entanto, os críticos têm argumentado que foram atribuídos insuficientes recursos da UE à respetiva execução, e que esta tem vindo a ser implementada vagarosamente em vez de o ter sido de uma forma concertada pelos países membros. A austeridade também está a trabalhar no sentido oposto da Estratégia Europeia da Juventude 2010-18 de outras formas. Embora seja favorável ao estabelecimento de serviços informais de trabalho com os jovens, esta estratégia tem sido muito vulnerável aos cortes orçamentais no âmbito dos programas de austeridade. A nossa pesquisa sustenta que os locais mais adequados de participação da juventude - as organizações de juventude e associações, conselhos locais e nacionais de juventude – constituem os espaços mais indicados para proporcionar aos jovens mais oportunidades de entrar em contato com os políticos e se envolver nos processos políticos.

Muitos entrevistados na pesquisa MYPLACE não sentiram que as escolas estavam a prepará-los de uma forma adequada, por exemplo:

Deveria haver mais horas em estudos sociais na escola, talvez também mais história

O que nós precisamos é educação. A educação é a nossa arma, nada mais

Contudo, quando se registaram oportunidades de participação através dos Conselhos Escolares de Juventude estas foram apreciadas, e muitos estudantes valorizaram as oportunidades de participação fornecidas pelas associações de estudantes. Por isso ainda há muito a ser feito para dotar os jovens do conhecimento, da perceção da política e das competências práticas de participação através de oportunidades de aprendizagem não formal. Isto iria permitir que participassem de forma mais eficaz. A redução da idade de voto poderia ser uma medida positiva que provavelmente ajudaria a facilitar a participação.

Assim, os nossos resultados apoiam o foco mais forte da CE na juventude, mas levantam questões sobre se eles podem ser abordados de forma adequada através de estratégias económicas dominantes e formas suaves de implementação através do Método Aberto de Coordenação. Enquanto os jovens têm problemas, eles não são o problema. Como o documento da Estratégia para a Juventude da UE afirma: “Os jovens não são uma responsabilidade pesada, mas um recurso fundamental da sociedade”. Assim, os nossos resultados apontam para a necessidade de os políticos fazerem mais esforços para chegarem aos jovens e responderem melhor às mensagens que vêm dos jovens que participaram na pesquisa do MYPLACE. Eles apontam particularmente para a necessidade de os políticos procurarem alcançar melhores resultados não apenas nas questões processuais de participação democrática, como também nas questões substantivas da justiça social, dos direitos, da pobreza e da igualdade, tanto de um modo geral como nas formas específicas como têm impacto sobre os jovens.

A pesquisa qualitativa e etnográfica revelou resultados das aspirações dos jovens a uma sociedade melhor, mesmo quando não defendem uma forte ideologia política ou defendem uma mudança radical da sociedade atual. Eles incluíram as seguintes afirmações que não pretendemos serem “representativas”, mas que sentimos que não há melhor forma de concluir esta Policy Brief, na esperança de que os políticos e os decisores políticos as tenham em conta:

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Uma sociedade onde as pessoas possam ganhar a vida, e não o que temos no momento

A eliminação total do desemprego para que todos pudessem encontrar um emprego e ter menos horas de trabalho

Uma sociedade mais comunicativa, políticos que realmente comuniquem com as pessoas e não uns com os outros, fazendo de conta que estão a comunicar com as pessoas

O Estado não deve tirar os sonhos dos jovens. Eles devem ser pressionados a fim de fazerem mais, e cumprir pelo menos metade deles

Se todos tivessem um pouco mais de consideração e todos cuidassem um pouco mais uns dos outros, serem mais tolerantes, isso seria importante

Uma sociedade melhor? Seria uma sociedade onde as pessoas não tivessem necessidade de julgar os outros e uma sociedade menos preconceituosa, menos racista, porque ainda há muito racismo

Onde as pessoas confiassem umas nas outras e com honestidade, nos negócios, nas relações pessoais, nas coisas deste tipo

Para mim, não haveria luta, é realmente pouco realista, mas não haveria luta

A vida deve ser baseada não em alguns bens materiais, mas em valores humanos [...] Tudo isso é muito difícil de fazer. Mas sim, se fôssemos menos dependentes da economia e do mercado, as coisas seriam melhores

Os relatórios da pesquisa completos em que esta Policy Brief se baseia podem ser consultados aqui: http://www.fp7-myplace.eu/deliverables.php

MYPLACE: (Memória, Juventude, Legado Político e Envolvimento Cívico)

Um projeto com a duração de quatro anos com 7,9 milhões de euros de financiamento por parte da Comissão Europeia

Explora o modo como a participação social dos jovens é moldada pelas sombras (do passadas, presentes e futuras) do totalitarismo e populismo na Europa

O MYPLACE combina técnicas como o inquérito por questionário, a entrevista e a pesquisa etnográfica, com vista ao fornecimento de dados novos, pan-europeus, que não só medem os níveis de participação como capturam o sentido que os jovens lhe atribuem:

Explorando a construção e transmissão da memória histórica, com grupos de foco e cerca de 120 entrevistas intergeracionais (Pacote de Trabalho 2).

Medindo a participação dos jovens através de um inquérito por questionário, aplicado em 14 países e envolvendo 17.000 respondentes (Pacote de Trabalho 4).

PARÂMETROS DA PESQUISA

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Compreendendo essa participação, através da utilização de 900 entrevistas em profundidade (Pacote de Trabalho 5).

Interpretando o ativismo dos jovens através de 44 casos de estudo etnográficos (Pacote de Trabalho 7).

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O MYPLACE disponibiliza um rico e sofisticado conjunto de dados, cobrindo as atitudes e crenças dos jovens, especificamente em relação às ideologias populistas e de extrema-direita, mas na prática inclui ainda temas como a classe social, xenofobia, racismo, educação e confiança nos processos democráticos e exclusão social e política associadas. A equipa do projeto procura ainda oportunidades de colaboração com políticos interessados à medida que a nossa análise dos dados se vai desenvolvendo.Contacte-nos, por favor, através do endereço: [email protected]

DESIGNAÇÃO Memória, Juventude, Legado Político e Envolvimento Cívico (MYPLACE)

COORDENAÇÃO Professora Hilary Pilkington, University of Manchester, United [email protected]

CONSÓRCIO Caucasus Research Resource CentreTbilisi, Georgia

Centro Investigacão e Estudos de SociologiaLisbon, Portugal

Daugavpils UniversitateDaugavpils, Latvia

Debreceni EgyetemDebrecen, Hungary

Friedrich-Schiller Universitaet Jena

FICHA DO PROJETO

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Jena, Germany

Institut Drustvenih Znanost Ivo PilarZagreb, Croatia

Manchester Metropolitan UniversityManchester, United Kingdom

Panteion University of Social and Political SciencesAthens, Greece

State Institution of Ulyanovsk Research and Development Centre “Region”Ulyanovsk, Russian Federation

Syddansk UniversitetSønderborg, Denmark

Tallinn UniversityTallinn, Estonia

The University of ManchesterManchester, United Kingdom

The University of WarwickCoventry, United Kingdom

Universitaet BremenBremen, Germany

Universitat Pompeu FabraBarcelona, Spain

University of Eastern FinlandKuopio, Finland

Univerzita sv Cyrila a Metoda v TrnavaeTrnava, Slovakia

FINANCIAMENTO 7º Programa Quadro para a Investigação da União Europeia – Projeto Colaborativo, Atividade SSH-2010-5.1.1: “Democracy and the shadows of totalitarianism and populism: the European experience

DURAÇÃO junho 2011 – maio 2015 (48 meses).

ORÇAMENTO Contribuição da UE: 7 994 463 €.

WEBSITE www.fp7-myplace.eu

INFORMAÇÕES Contacto: Martin Price (Gestor do Projeto) – [email protected]

MAIS INFORMAÇÕES Todos os relatórios publicados estão disponíveis em: http://www.fp7-

myplace.eu/deliverables.php