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Existem no mundo milhares de vidas. Multidões de pessoas seguindo em várias direções. Existem no mundo milhares e milhares de histórias, algumas felizes, outras nem tanto. Histórias de amor e de guerras. De alegrias e pesares. Histórias que se limitam a algumas páginas, ou, que se demoram no infinito delas. Histórias de chegadas e partidas, de alegrias e decepções. Histórias capazes de nos arrancar suaves sorrisos enquanto pequenos rios de lágrimas escorrem de nossos olhos. Histórias que nos inspiram e fazem o coração bater mais forte. Histórias que nos conduz aos caminhos mais sutis e devastadores da vida. Histórias que nos inspiram e nos provocam perenes suspiros. Histórias... Existem milhares delas.

Web viewSenti naquele lugar, um cheiro de lágrimas. Um aroma de saudades. Olhei lentamente ao meu redor, e vi em cada face dos que ali estavam, a dor do esquecimento,

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Existem no mundo milhares de vidas. Multides de pessoas seguindo em vrias direes. Existem no mundo milhares e milhares de histrias, algumas felizes, outras nem tanto. Histrias de amor e de guerras. De alegrias e pesares. Histrias que se limitam a algumas pginas, ou, que se demoram no infinito delas. Histrias de chegadas e partidas, de alegrias e decepes. Histrias capazes de nos arrancar suaves sorrisos enquanto pequenos rios de lgrimas escorrem de nossos olhos. Histrias que nos inspiram e fazem o corao bater mais forte. Histrias que nos conduz aos caminhos mais sutis e devastadores da vida. Histrias que nos inspiram e nos provocam perenes suspiros. Histrias... Existem milhares delas.

Posso dizer que a minha apenas uma entre tantas outras. A minha, a sua, so histrias que existem entre tantos outros acervos. Histrias que sero arquivadas na gaveta do tempo e talvez at corrodas pelos segundos que se passam to velozmente. Histrias que na maioria das vezes, so esquecidas ao final da escrita. Ao deslizar do ponto final. Esquecidas ao virar da ltima pgina. Histrias que ficaro guardadas no infinito de uma vida que no se demora. Ora, no seria assim para a maioria de ns? No seria esse um feito destinado a todos?

Sim, acreditem, nessa vida de linhas numerosas, nossas histrias so escritas e guardadas incessantemente na estante do tempo. Arquivadas no interior dos minutos e segundos que arrastam consigo todos os nossos dias, todo o nosso flego. Talvez permaneam ali, silenciosas, inaudveis, at que o tempo corroa nossas folhas e apague o que nelas est registrado. E ento, nesse momento, nossos traos estaro contidos nas memrias das pessoas com quem vivenciamos, e, quando estas memrias tambm adormecerem, nossa existncia ser apenas uma suave brisa que passeia pelo infinito do que no mais existe.

E a vida seguir... Outras histrias comearo a ser escritas a cada dia, dando continuidade ao livro inacabvel da vida. assim para a maioria de ns, ou melhor, assim para todos ns. Mas, confesso a voc, que, existem histrias que definitivamente, no podem passar pela vida silenciosamente. Existem histrias que nos fazem parar por alguns minutos e apreciar o doce sabor de suas pginas. So histrias que nos encantam. Nos fascinam. So histrias que no meio de tantas, nos chamam a ateno pelos seus traos delicados de singelidade e emoo. So histrias que merecem ser eternizadas ante a um tempo que a ningum perdoa. So histrias serenas, suaves, prazerosas. So dessas histrias as quais me refiro, que agora dedico minhas linhas. Se existe alguma maneira de eterniz-las, digo que, agora o tento fazer.

No o fao com a inteno de que estas linhas estendam-se at o pice do renome. Definitivamente no. Escrevo-a para que, em algum lugar, no importa que horas sejam, algum possa deslizar o olhar sobre estas linhas e conhecer, embora que rapidamente, a vida da qual vou aqui falar. Uma vida que encontrei pelo caminho, uma alma da qual jamais esquecerei. Uma pessoa cuja passagem deixou em meu interior um acalento de serenidade da qual gostaria agora de gritar ao mundo. Porm, melhor do que isso, vos deixo registrado esta vida que agora, faz parte da minha prpria.

Talvez no a encontre mais pela trajetria da vida. Talvez os segundos nos levem para um lugar onde o encontro se faz impossvel. Talvez tenha sido aqueles dias, os nicos momentos em que nossos mundos iriam se cruzar. Aqueles raros momentos em que nos deparamos com pessoas que marcam com intensidade o nosso esprito e depois seguem seu caminho. Acredite, no so todos que o conseguem. No com tamanha suavidade. Sim, talvez no mais a veja, ou, no mais escute a sua delicada voz. Mas, se assim o for, deixo claro o quo belo e intenso foram tais momentos. O quo importante foi para o meu ser, ter encontrado essa alma que tanto me acrescentou.

Espero que, de alguma maneira, consiga mant-la imortalizada nessas palavras que escrevo com tanto carinho. Espero que sua histria possa ser lida e relida por outras vozes. Contemplada por outros olhares. Com toda a sinceridade e emoo que agora me dominam, tenho esperanas de que, sua histria no seja de alguma forma, corroda e esquecida no decorrer do tempo, pois, permanecer aqui, nestas linhas onde o tempo no ultrapassa a redoma. Permanecero intactas nestas palavras cujo o tempo se abstm.

Mas, chega de delongas. O tempo passa depressa. No podemos deixar os minutos escaparem de nossas mos, pois, precisaremos de cada um deles para materializar esta histria. Pego o lpis e o caderno com estas folhas um pouco amareladas e dou incio a esta histria. Ou melhor, a histria que conheci por essas pginas da vida.

....

Era comeo de janeiro, os enfeites natalinos ainda ornamentavam a pequena cidade de Carabas-RN. O sol irradiava seus pequenos raios dispersando as nuvens que brincavam pelo espao do cu azulado. O vento preguioso balanava as folhas adormecidas, como uma dana realizada a passos lentos. Algumas crianas brincavam pela rua deserta, a bola se fazia o centro das atenes. Um pouco mais adiante quase no final da rua, estava o lugar ao qual me dirigia. De longe pude ver os portes que reluziam ante ao sol da manh, como se me implorasse para ultrapass-lo. No mesmo instante, senti meu corpo estremecer, o que encontraria por trs daqueles portes? O que viria aps meus ps atravessarem aquela linha invisvel que separava aquele lugar do resto do mundo? O que haveria naquele lugar cuja redoma se faz constante?

A resposta? Viria logo a seguir. Abri vagarosamente o porto, de maneira a no chamar muita ateno. No mesmo instante, alguns olhares curiosos e surpresos se direcionaram at mim. Olhavam-me fixamente, como se estivessem esperando por algo, como estivessem tentando reconhecer algum. Caminhei a passos lentos, os olhares continuavam a me contemplar com cuidado. Desvendavam-me. Ao aproximar-me, pude enxergar no mais ntimo daqueles olhares, o triste sabor da decepo. No, no era quem eles esperavam. Os olhares voltaram-se para a imensido do espao que nada preenchia. No foi dessa vez. Ser, que algum dia o seria?

Senti naquele lugar, um cheiro de lgrimas. Um aroma de saudades. Olhei lentamente ao meu redor, e vi em cada face dos que ali estavam, a dor do esquecimento, confesso, que, no algo agradvel, definitivamente no.

Aproximei-me vagarosamente de uma senhora que estava sentada em uma cadeira de balano com vista para o porto de entrada, em suas mos segurava um pequeno relgio cor de prata, agarrava-o em suas mos com cuidado. Vestia uma blusa de cor marrom, um pouco desgastada pelo uso frequente, sua pele era frgil e delicada, to frgil que, transmitia a sensao de poder-se enxergar atravs dela. Seus movimentos eram calmos e vagarosos, to lentos como um caracol que segue seu caminho sem pressa pelas estradas da vida.

Seu olhar distrado notou minha presena, olhou-me. Havia um brilho diferente em seu olhar, no me refiro a um brilho de alegria, no. Havia no fundo daquele olhar, uma pequena chama de esperana que estava quase em seu fim. Sentei ao seu lado e com cuidado dirigi-lhe a minha voz. Naquele instante, senti o quo delicado se torna uma alma que foi deixada para trs, naquele momento, percebi o quo sensvel pode ser algum que perdeu todos os seus alicerces em questes de segundos, em questo de alguns passos pelo porto de entrada.

A senhora olhou-me por alguns segundos, seu olhar penetrava os meus como se estivesse procurando por algum. Revirava o meu ser em busca de um amparo que um dia foi perdido. No apressei-a, ou, no desviei sua ateno. No se deve interromper um olhar quando se est procura de algo, pois, qualquer descontrao, pode sufocar e mortalizar a alma, desviando-a de seu caminho de esperana. Esperei seu tempo.

Por um momento, tive a impresso de que ela havia achado algo, sim, estava ali em algum lugar do meu ser. Um sorriso incontido sobreveio em seu rosto. Seus lbios delicados e rosados deslizaram pela sua face por alguns segundos, como uma expresso do despertar de um riso adormecido, sim, durou apenas alguns segundos. Seu olhar logo voltou-se para o relgio que segurava em suas mos trmulas, e, em seguida permaneceu ali, intacto, preso aos ponteiros de um tempo que se passava to velozmente. Um tempo que a ningum deixa escapar.

Ainda um pouco sem jeito, perguntei seu nome. A resposta veio mais rpido do que esperava. Maria, esse era o seu nome. Olhou-me de relance, e voltou sua vista para o relgio em suas mos. O que me despertou uma certa curiosidade, o que haveria naquele relgio de to especial? O que existia naquele objeto que a mantinha to concentrada no tilintar dos ponteiros? Eram 15:30h, escutava apenas nossa respirao querendo participar de uma conversa que ainda se iniciava.

Eles falaram que viriam s 15:00h. Disse-me baixinho. Sua voz fraquinha pegou-me de surpresa. Antes que pudesse organizar suas palavras para entender seu sentido, sua voz interrompeu-me com preciso: Meus filhos, eles me falaram que viram s 15:00. Devem ter tido algum imprevisto, por isso no vinheram, devem vir amanh.

Suas palavras entraram como facas afiadas em meu ser. Senti como se cada uma delas mergulhassem pelo meu interior, rasgando-me por dentro. Minha alma chorou. Pequenos rios de lgrimas se faziam em meus olhos, prestes a descer pelo meu rosto, como uma cachoeira de sabor amargo. Em vez disso, forcei um pequeno sorriso, que foi prontamente retribudo. minha frente estava uma alma que vivia na expectativa de retornar ao seu seio familiar, vivia na expectativa de um dia, poder estar novamente com os seus. Ns sabemos que no, isso no aconteceria. No para aquela senhora, havia sido deixada para trs.

Com cuidado perguntei-lhe sobre o relgio, a resposta foi to surpreendente quanto a minha expectativa. A senhora contou-me com pacincia que havia ganhado do seu filho mais velho h alguns anos. Confessou-me com olhar distante, que, haviam lhe prometido que voltariam para