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VIGILÂNCIA SANITÁRIA E ESCOLA parceiros na construção da cidadania EXEMPLAR PARA PROFISSIONAIS DE VISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária 2008

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  • VIGILNCIA SANITRIA E ESCOLA parceiros na construo da cidadania

    EXEMPLAR PARA PROFISSIONAIS DE VISA

    Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria 2008

  • FICHA CATALOGRFICA

    Brasil. Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria.Vigilncia Sanitria e Escola: parceiros na construo da cidadania/ Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria. Braslia: Anvisa, 2008.

    120 p.ISBN 978-85-88233-34-8

  • Copyright 2008. Ministrio da Sade. Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria (Anvisa). permitida a reproduo desta obra, desde que citada a fonte.

    DIRETOR-PRESIDENTE. Dirceu Raposo de Mello

    DIRETORES. Maria Ceclia Martins Brito Jos Agenor lvares da Silva Agnelo Santos Queiroz Filho

    CHEFE DE GABINETE. Aldima Mendes

    Gerncia de Monitoramento de Fiscalizao de Propaganda, de Publicidade, de Promoo e de Informao de Produtos Sujeitos Vigilncia Sanitria

    GERENTE. Maria Jos Fagundes Delgado

    REDAO. Alice Alves de Souza Paula Simes de Oliveira Rosaura Hexsel

    COLABORADORES. Claudia Passos Guimares Fernanda Horne da Cruz Itamar de Falco Junior Kelly Dias Botelho Kobausk Frana Felix Lorilei de Ftima Wzorek Paulo Cesar Ferreira Maia Renata de Arajo Ferreira Rodrigo Veloso Taveira Caroline Bruggemann Katia R. Torres

    Assessoria de Divulgao e Comunicao Institucional

    ASSESSORA-CHEFE. Martha Nazar Santos Corra

    PROJETO GRFICO E DIAGRAMAO. Radiola Design & Publicidade

    ILUSTRAES. Victor Irigonh / Radiola Design & Publicidade

    1 EDIO. Tiragem: 4.500 exemplares

    www.anvisa.gov.br

  • APRESENTAO

    Vigilncia sanitria & escola: parceiros na construo da cidadania uma publicao destinada aos professores das escolas participantes do Projeto Educanvisa, uma iniciativa da Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria (Anvisa) em parceria com o Conselho Federal Gestor do Fundo de Direitos Difusos, do Ministrio da Justia (CFDD/MJ), desenvolvido com o objetivo de promover aes e estratgias em educao e comunicao em sade para formar cidados mais conscientes quanto aos assuntos referentes vigilncia sanitria.

    O texto, apresentado em linguagem simples e acessvel, lana mo de alguns conceitos prprios do campo da sade, em especial da vigilncia sanitria, com o objetivo de estimular e fortalecer a participao da comunidade escolar na construo dos processos de melhoria das condies de vida e sade das populaes. No decorrer da leitura, os professores podero se aproximar de temas de relevncia para a sade coletiva, presentes no dia-a-dia, como a construo do conceito de sade, a promoo e a educao em sade, a histria

    e a atuao da vigilncia sanitria, os medicamentos e o seu uso racional, a importncia da alimentao saudvel, o papel da publicidade/propaganda no mundo atual, e os riscos das propagandas de medicamentos e alimentos no desenvolvimento de hbitos de vida no saudveis como o uso inadequado de medicamentos, os riscos da automedicao e a influncia da publicidade/propaganda no consumo inadequado de produtos farmacuticos e na aquisio de alimentos no-saudveis, que, no raro, podem ser prejudiciais sade.

    O material foi desenvolvido com o intuito de discutir, de forma mais aprofundada, as temticas abordadas no Projeto, funcionando como um referencial terico para a construo das atividades em sala de aula e na comunidade.

    O conhecimento e a avaliao crtica, promovidos pela ao educativa, podem ser os passos iniciais para a adoo de modos de vida mais saudveis em busca da qualidade de vida. E educar em sade no deve ser uma tarefa exclusiva do professor, mas de toda a comunidade escolar. Entendemos que no adianta saber algo; preciso transformar o conhecimento adquirido em ao.

    TRANSFORMAR AGIR!

    Dirceu Raposo de MelloDiretor-presidente

  • CAPTULO 1: Sade e educao: direito de todos

    Sade: conceitos e perspectivas 10Constituio cidad 12Sistema nico de Sade 13

    Promoo da sade 17Educao 19

    Educao para a cidadania 20Educao & sade 21

    SNTESE DO CAPTULO 1 23

    CAPTULO 2 Vigilncia sanitria & escola

    O profissional de vigilncia sanitria na escola 24Educao bsica 26Educao infantil 26

    Ensino fundamental 27Ensino mdio 28

    Currculo 29O aprender 30

    Entendendo o desenvolvimento humano 31

    SNTESE DO CAPTULO 2 33

  • CAPTULO 4: Medicamentos e o seu uso racional

    Remdio versus medicamento 50Fique atento s plantas medicinais 50Finalidades do uso de medicamentos 52Forma farmacutica e via de administrao 53

    Medicamentos tambm possuem nomes 55Medicamentos de referncia, genricos e similares 56Embalagem do medicamento 58Classificao de venda dos medicamentos 59Entendendo a bula de medicamentos 60

    Cuidados com os medicamentos 62Cuidados na hora de descartar os medicamentos 64 Uso racional de medicamentos 64Posologia 65Automedicao 66O consumo abusivo de medicamentos pelos jovens 67

    CAPTULO 3: Vigilncia sanitria

    A era sanitria no Brasil 39D. Pedro I e o grito de independncia do Brasil 40

    Brasil, uma nao republicana 41O sculo XX e a sade pblica brasileira 42

    Mudanas e novos desafios 44Anvisa assume as aes de vigilncia sanitria no pas 46

    SNTESE DO CAPTULO 3 47

    SNTESE DO CAPTULO 4 69

  • CAPTULO 5: Alimentao saudvel

    Os alimentos e suas funes 72O consumo em excesso de acares, gorduras e sdio 75

    Praticando uma alimentao saudvel 76Dez passos para uma alimentao saudvel 78

    Rotulagem nutricional 80Alimento seguro 83

    Doenas transmitidas por alimentos 84Preveno e controle dos alimentos 84

    Como lavar as mos corretamente 87Acione a vigilncia sanitria 87

    Alimentao saudvel e atividade fsica 88

    SNTESE DO CAPTULO 5 91

    CAPTULO 6: Propaganda e consumo

    Em foco: a propaganda 92Publicidade e propaganda 93O fortalecimento da propaganda 94Propaganda como processo econmico e social 95A linguagem da propaganda 96Propaganda promocional e institucional 97Propaganda enganosa e propaganda abusiva 97Pblico-alvo: crianas? 98Propaganda de medicamentos 99

    O poder da propaganda de medicamentos 100Caminhos para a persuaso 102

    Propaganda ideal versus propaganda real 104Controle da propaganda de medicamentos 104

    Propaganda de alimentos 107Propaganda versus obesidade infanto-juvenil 108Propagandas enganosas e abusivas 110

    Aleitamento materno e propaganda 110Regulamentao da propaganda de alimentos 111

    A monitorao da propaganda no Brasil 112Como denunciar 112

    SNTESE DO CAPTULO 113

    BIBLIOGRAFIA 114

  • captulo 1

    Sade: conceitos e perspectivas

    A preocupao com a sade no algo recente, pelo contrrio, ela vem desde a antigidade e se mantm at os dias de hoje. No entanto, os enfoques e os conceitos foram sendo revistos e transformados ao longo do tempo. Afinal, falar sobre sade no algo simples, direto, e, principalmente, delimitado. Pelo contrrio, um tema abrangente, que est sempre em discusso e construo. Mas, afinal, o que sade?

    Etimologicamente, sade deriva do termo salus, que, no latim, quer dizer o atributo principal dos inteiros, intactos, ntegros. Desse mesmo termo, deriva o radical salvus, que conotava a superao de ameaas integridade fsica dos sujeitos (ALMEIDA FILHO, 2000). Como se pode ver, nesses casos, sade remete idia de totalidade, de fora.

    Ao percorrermos a Histria, identificamos o processo de transformao nas vises e conceitos sobre sade. Na Idade Mdia, por exemplo, a sade baseava-se no entendimento que as doenas eram transmitidas pelo ar contaminado, pela decomposio das matrias orgnicas e pelas guas sujas e estagnadas, contaminando as pessoas pelos poros do corpo. Ou seja, dependia apenas dos fatores ambientais como o ar, o clima, a terra e as guas.

    SADE E EDUCAO: DIREITO DE TODOS

  • 11

    Com o advento da medicina moderna, a sade passou a ser considerada a mera ausncia de doen-as fsicas e/ou mentais, estando relaciona-da dimenso puramente biolgica da pessoa. De acordo com esse ponto de vista, denominado de biomdico, a doena estaria relacionada a questes e condies abstratas, independentes de fatores ambientais, sociais e/ou psicolgicos. Ter sade era equivalente a no estar doente, dependendo somente do bom funcionamento do corpo. Tal posicionamento levou os servios de sade a adotarem uma postura de tratamento com foco apenas na dimenso curativa - tratando as doenas eles estariam produzindo sade.

    Em 1948, ano em que foi criada, a Organizao Mundial de Sade (OMS) formulou um conceito de sade que, ainda hoje, suscita discusso: "Sade o mais completo bem-estar fsico, mental e social, e no apenas a ausncia de enfermidade". certo dizer que este conceito rompeu com a viso tradicional, vez que extrapolou a questo fsica e determinou que fossem consideradas, tambm, as dimenses mental e social. No entanto, h controvrsia com essa definio, considerando que o conceito muito mais abrangente; o que o torna pouco prtico, pouco operacional, afirmaria

    Moacir Scliar, mdico e escritor, em seu artigo O idioma da sade.

    Apesar de o avano considervel, o conceito sofreu inmeras crticas, sendo considerado utpico.

    Afinal, como alcanar o estado de completo bem-estar? Ou ainda, como definir um estado de completo bem-estar? Em estado de completo bem-estar estaria o indivduo que possui todas as suas necessidades (fsicas, psicolgicas e sociais) integralmente satisfeitas, o que no condiz com a condio do ser humano, que , por natureza, insatisfeito (S JNIOR, 2004).

    Nas ltimas dcadas, o modelo biomdico passou a ser criticado, defendendo-se a idia de que o processo sade-doena no se restringe aos aspectos meramente biolgicos ou orgnicos. Pelo contrrio, abrange tambm outras dimenses sociais, culturais, ecolgicas, psicolgicas, econmicas, religiosas.

    A partir de novos entendimentos que foram sendo discutidos e construdos, chegou-se concluso de que o estado de sade de uma populao, comunidade, municpio ou pas no depende apenas do indivduo, mas da sua relao com o meio ambiente, do seu modo de vida, da sua cultura, assim como das condies econmicas

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    So considerados requisitos e condies para a sade:

    PAZ EDUCAO HABITAO ALIMENTAO

    RENDA ECOSSISTEMA ESTVELRECURSOS SUSTENTVEIS

    JUSTIA SOCIAL EQIDADE

    Fonte: OMS, 1986

    e sociais. Inicia-se uma abordagem mais integralista em relao ao processo sade-doena, superando a concepo anterior, centrada apenas no controle da enfermidade.

    Relacionado com a qualidade de vida, o conceito atual de sade transcende as questes biolgicas e valoriza o modo de vida, o acesso a servios pblicos de sade, a educao, o trabalho, o transporte, o lazer, a alimentao, o saneamento bsico, entre outros. A sade deixa de ser a mera ausncia de doena e passa a levar em conta a diversidade, alm de ser entendida como um valor coletivo, diretamente ligado s condies socioeconmicas da populao.

    Desta forma, no h como qualificar um indivduo ou populao como completamente saudvel ou doente. Todos possuem condies de sade/doena, dependendo da realidade e do contexto onde cada um est inserido.

    Constituio cidad

    A sade no Brasil considerada direito de todos e dever do Estado. o que est exposto na Constituio Federal de 1988. Antes dela, somente os trabalhadores com carteira assinada e suas famlias tinham garantido o direito aos servios pblicos de sade, a outra parcela da populao era atendida como um favor prestado pelo Estado, que no era obrigado a isso. Com o processo de redemocratizao do pas, ocorre a insero da sade como direito de todos e dever do Estado e a assistncia mdica deixa de ser o nico componente determinante para a promoo da sade.

    A Constituio Federal de 1988, em sua Seo II, artigo 196, define:

    A sade um direito de todos e dever do Estado, garantido mediante polticas sociais e econmicas que visem reduo do risco de doena e de outros agravos e ao acesso universal e igualitrio s aes e servios para sua promoo, proteo e recuperao (BRASIL, 1988).

    Alm da garantia do acesso universal e no discriminatrio da populao aos servios de sade, h a preocupao em formular e instituir polticas pblicas de outras reas que influenciam diretamente na qualidade de vida do cidado e, portanto, na sua sade.

    A Lei Orgnica da Sade (Lei n 8.080/90) estabelece o conjunto de aes que devem ser seguidas por instituies pblicas federais, estaduais e municipais, e traz em seu texto:

    Artigo 2 A sade um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado prover as condies indispensveis ao seu pleno exerccio.

    2 O dever do Estado no exclui o das pessoas, da famlia, das empresas e da sociedade.

    Artigo 3 A sade tem como fatores determinantes e condicionantes, entre outros, a alimentao, a moradia, o saneamento bsico, o meio ambiente,o trabalho, a renda, a educao, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e servios essenciais; os nveis de sade da populao expressam a organizao social e econmica do Pas.

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    captulo 1 SA

    DE E EDUCA

    O: DIREITO DE TODOS

    A legislao ratifica a responsabilidade do Estado no sentido de prover polticas pblicas em todas as reas, visando promoo da sade da populao, assim como estende a responsabilidade com a sade ao indivduo, s famlias e sociedade.

    A pessoa passa a ser chamada para o cuidado consigo mesma e tambm para o cuidado com a sua comunidade. O cidado comea a intervir no processo de promoo da sade por meio da organizao e participao em escolas, associaes de bairro, de classe, empresas e conselhos participativos, exercendo o papel de interventor e transformador de sua realidade. Ao governo cabe a articulao entre todas as suas instncias, com o setor privado e com a sociedade civil.

    Sistema nico de Sade: uma conquista de todos os brasileiros

    Possivelmente, em diversas situaes do dia-a-dia, voc j deve ter ouvido o termo Sistema nico de Sade ou, simplesmente, SUS. A maioria das pessoas associa o nome imediatamente a hospitais pblicos, e de preferncia lotados, mas o SUS muito mais abrangente e, em que pesem todas as dificuldades, consiste em um marco na histria do Pas.

    O SUS representa uma verdadeira conquista da sociedade brasileira, fruto de um longo processo de luta e mobilizao sociais que, desde os anos 1970, envolve profissionais de sade, lideranas polticas, movimentos populares, usurios, gestores, intelectuais, sindicalistas e militantes dos mais diversos movimentos sociais. Foi criado a partir da Constituio Federal de 1988 e determina uma profunda reforma no Pas: a sade como direito, a ser garantido pelos princpios da Universalidade, Integralidade, Eqidade, Descentralizao e Participao Social.

    Como o prprio nome diz, o SUS um sistema, pois formado por instituies das trs esferas de governo Unio, estados e municpios e pelo setor privado, com o qual so feitos contratos e convnios para a realizao de servios e aes. Sua funo promover e proteger a sade, garantindo ateno qualificada e contnua aos indivduos e s coletividades, assegurando a cidadania e o fortalecimento da democracia.

    Dizemos que o SUS nico, pelo fato de ter a mesma filosofia de atuao em todo o territrio nacional e por ser organizado de forma a obedecer mesma lgica. um sistema pblico, ou seja, destinado toda a sociedade e financiado com recursos arrecadados por meio dos impostos pagos pela populao. As suas caractersticas principais so:

    UNIVERSALIDADE, pois deve atender a todos, sem distino, de acordo com suas necessidades, e sem cobrar nada pelo atendimento.

    INTEGRALIDADE, porque a sade da pessoa no pode ser dividida, deve ser tratada como um todo. Por isso, as aes de sade devem estar voltadas tanto para o indivduo quanto para a comunidade; e tanto para a preveno quanto para o tratamento, sempre respeitando a dignidade humana.

    EQIDADE, vez que deve oferecer os recursos de sade de acordo com as necessidades de cada um, ou seja, dar mais para quem mais precisa.

    DESCENTRALIZAO, deixando o poder de deciso para os responsveis pela execuo das aes. O SUS tem um gestor nico em cada esfera de governo. Por exemplo, a Secretaria Municipal de Sade tem que ser responsvel por todos os servios localizados na cidade.

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    REGIONALIZAO, considerando que nem todos os municpios possuem capacidade instalada para atender a todas as demandas e a todo tipo de problemas de sade.

    RACIONALIDADE, pois o SUS deve se organizar para oferecer aes e servios que estejam de acordo com as necessidades da populao e com os problemas de sade mais freqentes em cada regio.

    EFICCIA E EFICINCIA, prestando servios de qualidade e apresentando solues quando as pessoas o procuram ou quando h um problema de sade pblica. Deve ainda utilizar tcnicas mais adequadas, conforme a realidade local e a disponibilidade de recursos, eliminando o desperdcio e fazendo com que os recursos pblicos sejam aplicados da melhor maneira possvel.

    PARTICIPAO POPULAR, assegurando o direito de participao a todos os segmentos envolvidos governos, prestadores de servios, profissionais de sade e, principalmente, os usurios dos servios.

    CONTROLE SOCIAL, que significa a maneira como a sociedade fiscaliza a qualidade dos servios oferecidos pelo Estado. Os principais instrumentos para exercer esse controle social so os Conselhos e as Conferncias de Sade.

    No SUS, no existe hierarquia entre a Unio, os estados e os municpios, mas h competncias para cada um deles. Os entes federados negociam e entram em acordo sobre aes, servios, organizao do atendimento e outras relaes dentro do sistema pblico de sade. A gesto federal realizada por meio do Ministrio da Sade, que o principal financiador da rede pblica de sade. responsvel por formular polticas nacionais de sade, mas no realiza as aes. Nesse caso, depende de seus parceiros (estados, municpios, ONGs, fundaes, empresas, entre outros). Alm disso, tambm tem por funo planejar, criar normas, avaliar e utilizar instrumentos para o controle do SUS.

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    captulo 1 SA

    DE E EDUCA

    O: DIREITO DE TODOSO SUS est presente no dia-a-dia de todos os

    brasileiros. Do simples atendimento ambulato-rial a ser considerado o maior sistema pblico de transplantes do mundo, o SUS tem se man-tido ora avanando, reunindo inmeras expe-rincias de sucesso muitas delas consideradas de referncia internacional , ora enfrentando desafios de um projeto a concluir, considerando suas limitaes oramentrias.

    Mesmo assim, o SUS vai muito alm da ateno sade, investindo em pesquisa e produo de

    SUS: 20 anos a servio da sade

    Nos estados, a gesto realizada por meio das secretarias de sade, que atuam como parceiras do Ministrio da Sade na aplicao de polticas nacionais, alm de formularem suas prprias polticas de sade. So responsveis pela coordenao e planejamento do SUS no mbito estadual, e tambm pela organizao do atendimento sade em seu territrio.

    Os municpios, por sua vez, so considerados os principais responsveis pela sade da populao local, assumindo integralmente a gesto das aes e servios de sade oferecidos em sua rea de abrangncia. Assim como na gesto estadual, eles tambm possuem secretarias especficas para a gesto da sade e atuam como parceiros e formuladores de polticas de sade. Nesta esfera de governo, tm como funo coordenar e planejar o SUS, respeitando a normatizao federal e o planejamento estadual. Caso o municpio no possua todos os servios de sade, ele pode estabelecer parcerias com outros municpios para garantir o atendimento pleno de sua populao.

    No se pode esquecer que a vigilncia sanitria tambm faz parte do SUS, sendo a Anvisa um de seus representantes com os outros integrantes do Sistema Nacional de Vigilncia Sanitria (SNVS).

    Aps conhecer um pouco mais sobre o SUS, talvez fique a impresso de que ele a salvao para todos os problemas na rea da sade. Mas importante lembrar que a sade da populao depende do empenho de outras instncias, alm do SUS, sendo necessrio o investimento em polticas econmicas e sociais, capazes de garantir a melhoria das condies de vida e sade das populaes, tais como: emprego, salrio, moradia, alimentao, educao, lazere transporte, por exemplo.

    novas tecnologias e conhecimentos, participando na produo de insumos, medicamentos e imunobiolgi-cos e, tambm, desenvolvendo tecnologias de ponta. Alm disso, existe ainda um SUS quase invisvel, mas que faz parte do cotidiano de todos, no s prevenin-do doenas e epidemias, como tambm garantindo a qualidade da gua, dos alimentos e medicamentos que consumimos, das condies em que trabalhamos e de inmeros outros aspectos de nossas vidas.

    Fonte: BRASIL, 2006.

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    DE E EDUCA

    O: DIREITO DE TODOS

    Promoo da sade

    No h como negar, as dificuldades no que se refere sade so muitas, desde o atendimento nos servios de sade at problemas advindos do ritmo de vida moderno, como o estresse, o sedentarismo, a obesidade e a depresso. Fica a sensao de que est cada vez mais difcil conquistar ou manter uma vida saudvel. Quais seriam as possveis solues para isso?

    Nas ltimas dcadas, em contraposio ao modelo biomdico, iniciou-se uma discusso sobre como criar mecanismos para enfrentar os diversos problemas de sade que afetam as populaes e o seu entorno. Uma das estratgias identificadas foi a promoo da sade termo polissmico que admite variadas interpretaes, mas com uma mesma direo: a qualidade de vida das pessoas.

    A promoo da sade extrapola o campo especfico da assistncia mdico-curativa, baseando-se na concepo de que todos os cidados devem ter igual acesso aos recursos que possibilitem a melhoria das condies de vida e sade de todos: educao, habitao e meio ambiente adequados, emprego e renda, informao, lazer e cultura, saneamento, alimentao, segurana, participao social e servios de sade. Para isso, busca fomentar mudanas em trs nveis: assistncia sade, gesto local de polticas pblicas e proteo e desenvolvimento social para todos, constituindo-se em um processo social e poltico.

    Em 1986, foi realizada, no Canad, a 1 Conferncia Internacional sobre promoo da sade. Desse encontro resultou uma carta de intenes, chamada Carta de Ottawa, um dos documentos fundadores

    da promoo da sade, que define: A promoo da sade o processo de capacitao das pessoas e da comunidade para atuar na melhoria de sua qualidade de vida e sade, incluindo uma maior participao no controle sobre os determinantes da sade. Detalhando mais o conceito acima, a promoo da sade considerada como

    um conjunto de atividades, processos e recursos, de ordem institucional, governamental ou da cidadania, orientados a propiciar a melhoria das condies de bem-estar e acesso a bens e servios sociais, que favoream o desenvolvimento de conhecimentos, atitudes e comportamentos favorveis ao cuidado da sade e o desenvolvimento de estratgias que permitam populao maior controle sobre sua sade e suas condies de vida, em nveis individual e coletivo (GUTIERREZ, 1996).

    Na Carta de Ottawa so definidos cinco campos de ao para promover a sade das populaes:

    Elaborao de polticas pblicas, colocando a sade na agenda de prioridades dos polticos e dirigentes em todos os nveis e setores.

    Criao de ambiente favorvel proteo da sade, aliando a sade s outras questes sociais, como trabalho e meio ambiente.

    Fortalecimento de aes comunitrias.

    Desenvolvimento de habilidades pessoais, por meio da divulgao de informao, educao para a sade e intensificao das habilidades vitais.

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    Reorientao de servios de sade, compartilhando a responsabilidade entre todos os atores envolvidos indivduos, governo, comunidade, parceiros , para desenvolver um sistema de sade de nvel elevado.

    Ao desenvolver estratgias de promoo da sade importante seguir alguns princpios norteadores (WHO, 1998):

    Adotar uma viso holstica da sade, integrando as dimenses fsica, mental, social e espiritual.

    Desenvolver aes intersetoriais, visando alcanar melhores resultados, alm de proporcionar uma racionalizao de recursos.

    Trabalhar com o empoderamento dos indivduos e das comunidades, capacitando-os para desenvolver um controle maior sobre os fatores pessoais, socioeconmicos e ambientais que afetam a sua sade. Nesse caso, as comunidades passam a ser responsveis pela definio e eleio de seus problemas e necessidades prioritrias.

    Estimular a participao social, envolvendo todos os atores diretamente interessados no processo de eleio de prioridades, tomada de decises, implementao e avaliao das iniciativas.

    Eliminar as diferenas desnecessrias, evitveis e injustas que restringem as oportunidades para se atingir o direito de bem-estar, alcanando a eqidade.

    Desenvolver aes estratgicas, envolvendo diferentes disciplinas e combinando mtodos e abordagens variadas, incluindo o desenvolvimento de polticas, mudanas organizacionais, desenvolvimento comunitrio, questes legislativas, educacionais e do mbito da comunicao.

    Gerar iniciativas que estejam de acordo com o princpio do desenvolvimento sustentvel, garantindo um processo contnuo e duradouro.

    Para promover sade deve-se ter em mente que cada pessoa, assim como cada comunidade, nica, com suas prprias necessidades, desejos, aspiraes, potencialidades, formas de pensar e de sentir. fundamental considerar, respeitar e valorizar a experincia de vida e os conhecimentos de cada um, alm de estimular as pessoas a pensarem sobre sua prpria realidade, de seu prprio jeito, evitando adotar uma postura nica e rgida na busca de solues, afinal, existem diferentes formas de explicar e lidar com cada situao.

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    captulo 1 SA

    DE E EDUCA

    O: DIREITO DE TODOS

    Operacionalizar a promoo da sade requer a cooperao entre os diferentes setores envol-vidos e a articulao de suas aes: legislao, sistema tributrio e medidas fiscais, educao, habitao, servio social, cuidados primrios em sade, trabalho, alimentao, lazer, agricultura, transporte, planejamento urbano entre outras coisas. Neste sentido, cabe destacar a responsa-bilidade do governo, tanto em nvel local como nacional, de atuar de maneira a garantir que as condies totais, que esto alm dos indivduos ou grupos, sejam favorveis sade.

    Fonte: OMS, 1984

    No momento de desenvolver estratgias e programas na rea da promoo da sade, deve-se levar em conta as necessidades locais, as possibilidades de cada pas e regio e as especificidades sociais, culturais e econmicas.

    A disseminao de contedos informativos e educativos so as bases para a tomada de deciso e, portanto, componentes importantes da promoo da sade. Por isso a necessidade da participao da escola no processo de construo de uma vida mais saudvel, na busca por qualidade de vida.

    Educao

    A educao constitui-se no processo pelo qual o ser humano adquire conhecimento, desenvolve sua capacidade intelectual, sensibilidade afetiva e suas habilidades psicomotoras. Confunde-se com o prprio processo de humanizao quando capacita o indivduo de forma que este seja capaz de estabelecer cdigos de comportamento para agir conforme princpios e valores seus e de sua comunidade, podendo alter-los quanto julgar necessrio.

    Atualmente, a educao tem se consolidado como uma via extremamente eficaz no combate excluso social, caracterstica da sociedade moderna. A funo da escola deixou de ser meramente reprodutora. A simples transmisso de contedos formais e a mera capacitao para a insero no mercado de trabalho deixaram de ser objetivo principal dos planejamentos de ensino. Alm do currculo composto pelas disciplinas tradicionais, prope-se a insero de temas transversais, vinculados ao cotidiano da populao, como tica, meio ambiente, consumo, sade, entre outros. O foco a socializao do indivduo, tanto que os planos anuais das escolas passaram a ser chamados de projetos poltico-pedaggicos, que so muito mais abrangentes. A escola transforma-se em um ambiente que fomenta a discusso e a participao, cumprindo a sua funo de preparao para a vida, adulta e pblica, na busca do exerccio da cidadania plena.

    Como espao privilegiado, na escola devem ser desenvolvidas estratgias que envolvem tanto o estabelecimento de ensino quanto o seu entorno, visando qualidade de vida de toda a sociedade. Assim, qualquer ao que pretenda melhorar as condies de vida das populaes, em especial as menos favorecidas, tem maior chance de sucesso se contar com a participao da comunidade escolar.

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    A educao no Brasil norteada pela Lei de Diretri-zes e Bases da Educao Nacional (LDB), publicada sob o nmero 9394, em dezembro de 1996. A lei estabelece os parmetros, princpios e objetivos da educao nacional.

    Estabelece em seu artigo 2 que A educao, dever da famlia e do Estado, inspirada nos princpios da li-berdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do edu-cando, seu preparo para o exerccio da cidadania e sua qualificao para o trabalho. Nesse sentido, o Ministrio da Educao e do Desporto instituiu o documento Parmetros Curriculares Nacionais que, no seu volume Temas Transversais, diz a educao para a cidadania requer que questes sociais sejam apresentadas para a aprendizagem e a reflexo dos alunos, buscando um tratamento didtico que con-

    temple sua complexidade e sua dinmica, dan-do-lhes a mesma importncia das reas conven-cionais. O mesmo documento diz, ainda, que a formao de cidados exige uma prtica edu-cacional voltada para a compreenso da reali-dade social e dos direitos e responsabilidade em relao vida pessoal, coletiva e ambiental.

    A LDB proporciona as condies para que essa prtica ocorra. De acordo com o artigo 26, Os currculos do ensino fundamental e mdio devem ter uma base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar, por uma parte diver-sificada, exigida pelas caractersticas regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da clientela.

    Educao para cidadania

    Para atender s necessidades sociais, polticas e econmicas das comunidades locais, o Ministrio da Educao publicou, para cada etapa do ensino fundamental e mdio, os Parmetros Curriculares Nacionais (PCNs) que constituem o documento base de orientao para que estados e municpios elaborem suas propostas curriculares e o professor direcione o seu trabalho em sala de aula.

    Os PCNs, como proposta de uma educao para o desenvolvimento pleno da cidadania, indicam como princpios orientadores a dignidade da pessoa humana, a igualdade de direitos, a participao e a co-responsabilidade pela vida social, envolvendo toda a comunidade na tarefa de educar.

    Como estratgia para a formao geral do indivduo, os PCNs utilizam a incluso nos projetos poltico-pedaggicos da escola, o trabalho com os temas transversais tica, Meio Ambiente, Orientao Sexual, Sade, Pluralidade Cultural, Trabalho e Consumo que devem, na medida do possvel, serem trabalhados por todas as disciplinas do currculo, da o termo transversal.

    Segundo o documento, a transversalidade pressupe um tratamento integrado das reas e um compromisso das relaes interpessoais e sociais escolares com as questes que esto envolvidas nos temas, a fim de que haja uma coerncia entre os valores experimentados na vivncia que a escola propicia aos alunos e o contato intelectual com tais valores (BRASIL, 1998).

    A escola precisa promover aes voltadas para a formao e o exerccio da cidadania e estabelecer parcerias com as outras reas sociais para o desenvolvimento de projetos que possam atender s demandas da populao. Alm do trabalho em conjunto com outros setores deve atrair a comunidade que precisa reconhecer a escola como um espao seu, usando-o para reunio de grupos religiosos, esportivos, associaes de moradores, sindicatos festas familiares, promoes culturais e outros. Dessa forma, a atuao escolar eleva a auto-estima, promove o respeito e a tolerncia entre os indivduos ao mesmo tempo em que valoriza e mantm a cultura da regio onde atua.

  • 21

    captulo 1 SA

    DE E EDUCA

    O: DIREITO DE TODOS

    Como conseqncia da preocupao com a formao geral do aluno, a insero da sade como tema transversal justifica-se pelo fato de que esta elemento de crucial importncia para a melhoria das condies de vida e conquista da cidadania. evidente a correlao entre o acesso educao e a melhora dos nveis de sade e bem-estar de uma populao. Portanto, um grande desafio se coloca na tentativa de que a educao para a sade nas escolas transforme atitudes e hbitos de vida do indivduo e de toda a comunidade.

    Educao em sade

    A Educao para a Sade na escola consiste num fator de proteo e promoo da sade e conquista da cidadania. A partir de situaes vivenciadas diariamente pelas crianas, a escola deve elaborar estratgias e criar condies para que se consigam mudanas de atitudes necessrias melhoria da qualidade de vida de nossas comunidades.

    Os PCNs prevem que a sade, como um tema transversal, deve ser abordada a partir de atividades que articulam questes gerais (das vivncias cotidianas dos alunos, de contexto brasileiro etc.) e contedos de diferentes reas, ampliando dessa forma a perspectiva de abordagem e criando pontes entre conhecimentos escolares e a realidade dos alunos e suas famlias (BRASIL, 1998).

    Portanto, necessrio que a escola construa com o aluno a cultura de que a sade envolve a pessoa nas suas dimenses orgnica, ambiental, psquica e sociocultural, fazendo-o refletir sobre os problemas e as necessidades da comunidade e enfatizando que imprescindvel a ao, a prtica, suscitando novas formas de pensar e agir para mudar as condies de vida que favorecem a instalao de doenas.

    A partir da leitura dos PCNs possvel selecionar, entre os objetivos do Ensino Fundamental, os seguintes tpicos que ilustram bem a mudana esperada na forma de trabalho da escola e que vm ao encontro dos objetivos da educao para a sade. Segundo o documento, o aluno deve ser capaz de:

    O importante que o indivduo compreenda que alm do cuidado com seu prprio corpo e com seu

    ambiente, ele tambm responsvel pela sade coletiva.

    A Constituio definiu como ator principal do Estado Democrtico de Direito o cidado e como direito fundamental a ele o direito vida. O direito educao surge como conseqn-cia. Preservar a vida , sobretudo, proteg-la para que seja digna, plena, produtiva e feliz e neste sentido a educao apresenta a este ci-dado condies para que ele possa criar, para que ele desenvolva e atualize seus potenciais e realize seus anseios naturais. Mesmo porque o direito vida no se limita preservao bio-lgica, mas se estende a valores psicolgicos, sociais, polticos e morais, que, sem um mnimo de educao, no chegaro para o exerccio da cidadania, no sero humanos.

    Fonte: MOTA, 1997.

  • 22

    perceber-se integrante, dependente e agente transformador do ambiente, identificando seus elementos e as interaes entre eles, contribuindo ativamente para a melhoria do meio ambiente;

    conhecer o prprio corpo e dele cuidar, valorizando e adotando hbitos saudveis como um dos aspectos bsicos da qualidade de vida e agindo com responsabilidade em relao sua sade e sade coletiva;

    questionar a realidade formulando-se problemas e tratando de resolv-los, utilizando para isso o pensamento lgico, a criatividade, a intuio, a capacidade de anlise crtica, selecionando procedimentos e verificando sua adequao (BRASIL,1998).

    Para a efetiva mudana de hbitos, a escola precisa promover a entrada dos profissionais de sade no seu ambiente. Educar em sade no deve ser uma tarefa

    exclusiva do professor. H a necessidade de integrao entre todos os segmentos da comunidade escolar no planejamento e desenvolvimento das atividades que envolvam o tema.

    Todos passam a ser responsveis pela sade prpria e da comunidade por intermdio de aes integradas de preveno, de cura e de promoo da sade. O foco no se concentra apenas na sade do aluno, possui a mesma importncia a sade do professor, funcionrios, profissionais de sade, administradores, pais e comunidade. Para tanto, necessrio concentrar esforos num planejamento comum, participativo, levando em conta o cotidiano e a realidade local.

    A atuao de um profissional de sade em um programa ou projeto de educao em sade consiste em informar, estabelecer suporte tcnico confivel na eleio de temas que so relevantes para localidade, j que ele tem viso diferente que complementa a do profissional de educao.

  • 23

    O conceito de sade tem sido revisto e transformado ao longo do tempo. Atualmente, adota-se um enfoque mais integralista, sendo considerados requisitos e condies para a sade: paz, educao, trabalho, transporte, moradia, lazer, alimentao, saneamento bsico, renda, justia social, eqidade, entre outros.

    A sade no Brasil considerada direito de todos e dever do Estado. Mas, a responsabilidade tambm deve ser estendida ao indivduo, s famlias e sociedade.

    O SUS foi criado a partir da Constituio Federal de 1988 e determina uma profunda reforma no Pas: a sade como direito, a ser garantido pelos princpios da universalidade, integralidade, eqidade, descentralizao e participao social.

    A promoo da sade o processo de capacitao das pessoas e da comunidade para atuar na melhoria de sua qualidade de vida e sade, incluindo uma maior participao no controle sobre os determinantes da sade (Carta de Ottawa, 1986).

    Para promover sade fundamental considerar, respeitar e valorizar a experincia de vida e os conhecimentos de cada um, alm de estimular as pessoas a pensarem sobre sua prpria realidade, de seu prprio jeito, evitando adotar uma postura nica e rgida na busca de solues.

    A educao para a sade na escola consiste num fator de proteo e promoo da sade, e de conquista da cidadania.

    Educar em sade no deve ser uma tarefa exclusiva do professor. preciso promover a entrada dos profissionais de sade no ambiente escolar, para a efetiva mudana de hbitos.

    A atuao de um profissional de sade em programa ou projeto de educao em sade consiste em informar e estabelecer suporte tcnico confivel na eleio de temas relevantes para a localidade, j que tem a viso complementar a do profissional de educao.

    SNTESE DO CAPTULO 1

  • captulo 2 VIGILNCIA

    SANITRIA E ESCOLA

    O profissional de vigilncia sanitria na escola

    A Organizao Pan-Americana da Sade (OPAS) aponta a criao de entornos saudveis como um dos principais componentes para a promoo da sade nas escolas. E essa a tica que deve justificar a integrao educao-sade. A pretenso de que a populao desenvolva uma mentalidade pr-ativa para manter-se saudvel e capaz de promover sade, atuando de forma crtica e reflexiva para a transformao da realidade, exige uma postura inovadora de parceria com o setor sade, em especial e, neste caso, a vigilncia sanitria, de forma que, alm da equipe da escola, todos os atores sejam envolvidos na construo de ambientes saudveis: familiares, amigos, voluntrios e instituies pblicas ou privadas.

    A escola um poderoso canal para a promoo da sade, nosso foco de interesse, onde o profissional de vigilncia sanitria deve auxiliar professores e alunos na deteco dos problemas da comunidade que impedem uma vida saudvel e na identificao de quais deles dependem da ao imediata dos cidados, ou esto sujeitos a uma interveno do governo local, evidenciando as principais situaes problemas.

  • 25

    O profissional de vigilncia sanitria deve optar pela adoo de metodologias participativas, envolvendo os professores na construo de seu projeto de educao em vigilncia sanitria, promovendo a troca de experincias. Ao capacitar os professores, os contedos devem ser trabalhados de forma clara e precisa, considerando que a temtica, provavelmente, no fez parte da formao desses profissionais de ensino. Para abordagem do tema, podero ser organizados alguns eventos: palestras, reunies de pais, peas teatrais, teatro de bonecos, mostras, jogos e brincadeiras. Alm disso, podem ser promovidas visitaes s comunidades, supermercados, farmcias, hospitais, para que alunos e professores possam vivenciar a ao em vigilncia sanitria.

    De maneira diferente do professor, o profissional de sade no possui a sua atuao restrita ao espao fsico da escola e pode muito bem fazer o intercmbio desta com o usurio dos servios de sade, fomentando a participao em atividades que socializem os conhecimentos com toda a comunidade, estimulando a adoo de modos de vida mais saudveis.

    Escola, vigilncia sanitria e famlia devem caminhar juntas na construo de valores pessoais e no

    significado atribudo aos objetos e s situaes, em especial a sade. Contudo, reconhece-se a dificuldade para a adeso da famlia nesse processo, seja porque h pais que trabalham muito e no dispem de tempo para acompanhar seus filhos, porque falta-lhes o interesse ou ento porque a famlia vivencia o problema do desemprego, que, no raro, pode gerar outros problemas sociais, como a violncia domstica, o alcoolismo, entre outros, apenas para exemplificar algumas das tantas situaes enfrentadas. O profissional de vigilncia sanitria deve atuar como um facilitador da integrao da famlia junto escola, j que pode promover a discusso de temas que interessam - de forma imediata - os adultos.

    importante que se criem mecanismos de avaliao e monitoramento do impacto dos projetos de educao em sade na comunidade, pois os dados obtidos devero ratificar ou corrigir pontos e estratgias do planejamento, alm de indicar o momento em que o trabalho pode evoluir e tratar de temas menos corriqueiros.

    H necessidade, para a eficaz atuao do agente de vigilncia sanitria na parceria com a escola, que esse conhea melhor o funcionamento do sistema educacional brasileiro e do processo ensino-aprendizagem. E, sobre tais assuntos, procura-se discorrer a seguir.

    As aes de educao em sade precisam de plane-jamento conjunto e para isso necessrio o dilogo

    e o respeito mtuo entre a equipe da escola e a de sade. Antes de desenvolver qualquer atividade necessria uma articulao entre esses profissionais, onde cada um reconhe-a a importncia e singularidade do trabalho do outro.

  • 26

    Educao bsica

    A Constituio de 1988, da mesma forma que garante a sade, a universalizao e a igualdade de oportunidades a todos, garante tambm a educao; considerando a importncia desta para a construo de uma sociedade justa e democrtica.

    Procura-se, por intermdio da legislao, minimizar, ou mesmo acabar, a situao histrica de dualidade na educao brasileira um ensino para os membros das classes mais abastadas, a chamada elite dirigente, e, outro para os filhos da classe trabalhadora. O objetivo diminuir as desigualdades sociais e econmicas evidenciadas na sociedade brasileira.

    Muito j se tem avanado nesse campo, principalmente no que diz respeito ao acesso ao sistema o Brasil possui quase 100% das crianas com sete anos na escola. O censo escolar de 2006 comprovou a existncia de 203,9 mil estabelecimentos de ensino de educao bsica, sendo que 82,6% so pblicos. Porm, o desafio encontra-se na permanncia do aluno em sala de aula e na qualidade da educao.

    O Sistema Educacional Brasileiro compe-se de Educao Bsica e Ensino Superior. Segundo a LDB, artigo 22: A Educao Bsica tem por finalidades desenvolver o educando, assegurar-lhe a formao comum indispensvel para o exerccio da cidadania e fornecer-lhes meios para progredir no trabalho e estudos posteriores (BRASIL, 1996). A Educao Bsica compe-se de Educao Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Mdio.

    Educao infantil

    A Educao Infantil, na LDB, artigo 29, assim descrita: primeira etapa da educao bsicatem como finalidade o desenvolvimento integral da criana at seis anos de idade, em seus aspectos fsico, psicolgico, intelectual e social, complementando a ao da famlia e da comunidade (BRASIL, 1996). Ser oferecida em creches para as crianas de 0 a trs anos e em pr-escolas para a faixa etria de quatro a seis anos.

    O Ministrio da Educao recomenda que nessa fase o trabalho seja desenvolvido no sentido de:

    Apoiar a organizao em pequenos grupos, estimulando as trocas entre os parceiros; incentivar a brincadeira; dar-lhes tempo para desenvolver temas de trabalho a partir de propostas prvias; oferecer diferentes tipos de materiais em funo dos objetivos que se tem em mente; organizar o tempo e o espao de modo flexvel so algumas formas de interveno que contribuem para o desenvolvimento e a aprendizagem das crianas. (BRASIL, 1998)

    Pesquisa realizada pela Anvisa em convnio com a Fundao Escola de Sociologia e Poltica de So Paulo (FESPSP) constatou que das 67 Visas pesquisadas, 14 Visas estaduais (51,85%) e 8 Visas municipais (20%) disseram desenvolver aes educativas preventivas. A maior prevalncia dessas aes ocorre na regio Sudeste (75%), no caso das Visas estaduais, e nas re-gies Sul (31,25%) e Sudeste (33,33%), no caso das Visas municipais. Das Visas pesquisadas, 25 (37,31%) no responderam a questo. As vigilncias sanitrias municipais das regies Centro-Oeste e Norte pesqui-sadas no realizavam aes educativas.

    Fonte: BRASIL, 2006.

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    captulo 2 VIGILN

    CIA SA

    NIT

    RIA E ESCOLA

    Ensino fundamental

    Em seu artigo 5, a LDB afirma o direito universal ao ensino fundamental pblico, subjetivo, obrigatrio, gratuito e de qualidade, admitindo a interferncia do Ministrio Pblico para sua garantia s crianas na faixa etria de 6 a 14 anos.

    O objetivo do ensino fundamental descrito no artigo 32 da LDB:

    o ensino fundamental obrigatrio com durao de 9 (nove) anos, gratuito na escola pblica, iniciando-se aos 6 (seis) anos de idade, ter por objetivo a formao bsica do cidado, mediante:

    I o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios bsicos o pleno domnio da leitura, da escrita e do clculo;

    II a compreenso do ambiente natural e social, do sistema poltico, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade;

    III o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo em vista a aquisio de conhecimentos e habilidades e a formao de atitudes e valores;

    IV o fortalecimento dos vnculos de famlia, dos laos de solidariedade humana e de tolerncia recproca em que se assenta a vida social. (BRASIL, 2006).

    O Ensino Fundamental, anteriormente conhecido como Primeiro Grau, concebido a partir da juno dos antigos cursos primrio e ginasial. composto de dois ciclos: o primeiro cliclo - anos iniciais, que correspondem aos primeiros cincos anos do Ensino Fundamental. Nesta fase, geralmente, o trabalho pedaggico realizado por uma ou, no mximo duas professoras regentes. Segundo ciclo quatro anos finais uma equipe de professores especialistas nas diferentes disciplinas quem desenvolve o trabalho.

    A Lei n 11.274, de 06 de fevereiro de 2006, alterou a durao do Ensino Fundamental de oito para nove anos, com matrcula obrigatria a partir dos seis anos de idade. Os estados e municpios tm at 2010 para que sejam efetivadas as adaptaes necessrias para a efetivao da matrcula aos seis anos de idade (BRASIL, 2005).

    As instituies de ensino que oferecem essa modalidade de ensino devem obedecer, nos seus currculos, a uma base comum nacional e oferecerem uma parte diversificada definida de acordo com as caractersticas sociais, culturais e econmicas da localidade, respeitando a realidade do estudante. comum, em algumas escolas, que nessa parte diversificada sejam desenvolvidos os projetos de educao em sade.

  • 28

    Ensino mdio

    O Ensino Mdio a etapa final da Educao Bsica, tem durao mnima de trs anos e o equivalente ao chamado Segundo Grau. De acordo com a LDB, artigo 35, tem por objetivo:

    I - a consolidao e o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no ensino fundamental, possibilitando o prosseguimento de estudos;

    II - a preparao bsica para o trabalho e a cidadania do educando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar com flexibilidade a novas condies de ocupao ou aperfeioamento posteriores;

    III - o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formao tica e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crtico;

    IV - a compreenso dos fundamentos cientfico-tecnolgicos dos processos produtivos, relacionando a teoria com a prtica, no ensino de cada disciplina. (BRASIL, 1996).

    uma das associaes mais comuns a lembrana Tal qual o Ensino Fundamental, o Ensino Mdio tem que obedecer a uma base nacional de currculo que organizada em trs reas de conhecimento Linguagens, Cdigos e suas Tecnologias; Cincias da Natureza, Matemtica e suas Tecnologias e Cincias Humanas e suas Tecnologias. A parte diversificada atende s exigncias da comunidade.

    Segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Mdio as propostas pedaggicas, nesta etapa, devem privilegiar a interdisciplinaridade e a contextualizao, o que significa dizer que a escola pode, e deve, se valer do conhecimento de vrias disciplinas, para resolver problemas concretos da realidade onde est inserida.

    A LDB apresenta, ainda, modalidades especficas: a Educao de Jovens e Adultos (EJA), o Ensino Especial para alunos portadores de necessidades especiais e a Educao Escolar Indgena.

    A educao abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivncia

    humana, no trabalho, nas instituies de ensino e pes-quisa, nos movimentos sociais e organizaes da socie-dade civil e nas manifestaes culturais.

    (LDB, art. 1)

  • 29

    captulo 2 VIGILN

    CIA SA

    NIT

    RIA E ESCOLA

    Currculo uma breve discusso

    A base curricular nacional, a carga horria, a nor-matizao sobre as formas de promoo regras para que o aluno avance de um ano para outro e presena, so defi-nidas pela LDB. J questes locais, so determinadas pelos estados, municpios e, at mesmo pela escola. Um bom exemplo o calendrio escolar em algumas cida-des do Nordeste, por exemplo, no so ministradas aulas durante o ms de junho, por conta das festas juninas, enquanto que na maioria das cidades de outras regies o recesso acontece em julho.

    O termo curriculum, deriva do verbo latino currere (correr, percorrer) dando uma idia de seqncia, continuidade. O Ministrio da Educao define que

    currculos so os contedos, as informaes e as atividades humanas necessrias para formar novas memrias que serviro de suporte para aquisio de conhecimentos posteriores, assim como para tomada de deciso e soluo de problemas na vida cotidiana (BRASIL, 2007).

    O currculo no envolve somente o contedo a matria, como o aluno chama mas, tambm os mtodos de ensino-aprendizagem, as atividades necessrias para que o aprendizado, os conhecimentos e habilidades que a escola considera importante trabalhar com o aluno. Logo, o currculo deve ser construdo incluindo alm da matria a ser ministrada as propriedades da comunidade local e seus interesses.

    A base nacional comum composta por Lngua Portuguesa, Matemtica, Geografia, Histria, Educao Artstica, Educao Fsica, Cincias - que no Ensino Mdio desmembrada em Qumica e Fsica - e Ensino Religioso que facultativo ao aluno. A idia da

    obrigatoriedade desse conjunto de disciplinas de oferecer ao aluno o contedo mnimo necessrio para sua formao.

    A parte diversificada destinada a atender as necessidades locais e onde so trabalhados os temas transversais. O ensino de Lngua Estrangeira Moderna (Ingls, Espanhol, Francs) tambm esta contabilizada na carga horria da parte diversificada, que deve ser complementada com o que for mais conveniente para a escola.

  • 30

    O aprender

    A aprendizagem um processo mltiplo. O ser humano utiliza estratgias diversas para aprender, que variam de acordo com o perodo de desenvolvimento do indivduo e com a natureza do objeto a ser aprendido.

    Vrias so as teorias que procuram analisar o processo de ensino-aprendizagem e no intuito deste material detalh-las. Porm, algumas colocaes fazem parte do consenso coletivo atual.

    Hoje, o processo de ensino ultrapassa a mera transmisso de contedos, exige construo, o aluno sujeito ativo de produo do conhecimento. Para tanto necessrio valorizar o conhecimento que este traz consigo e fazer com que ele encontre significado nos novos. O aluno precisa estar motivado para aprender, isso implica em que o contedo deve ser adequado ao seu nvel de desenvolvimento cognitivo e o elemento afetividade tem que ser considerado, principalmente no que diz respeito relao professor-aluno.

    O xito na tarefa de ensinar est baseado no correto diagnstico da realidade do aluno pelo professor. Para aprender a criana tem que sentir-se respeitada e motivada. necessrio que exista interao, dilogo entre o educador e sua turma, ou seja, a sala de aula deve ser um ambiente agradvel, no deixando de refletir compromisso e organizao.

    Trabalhos em grupos, jogos com regras bem definidas, atividades musicais, fantoches, dramatizaes, leitura e contao de histrias, sesses de pintura, desenhos, produo de vdeos, criao de histrias em quadrinhos, montagem de painis so exemplos de atividades que desenvolvidas em sala de aula, geralmente so muito participativas e permitem aos alunos desenvolverem a sua criatividade.

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    captulo 2 VIGILN

    CIA SA

    NIT

    RIA E ESCOLA

    Entendendo o desenvolvimento humano

    A criana apresenta caractersticas prprias de sua idade. Cada faixa etria percebe e se comporta diante do mundo de forma diferenciada. Em funo disso, a maneira de ensinar deve ser adaptada a cada pblico, adotando linguagem e tcnica adequadas para se atingir o objetivo esperado. Afinal, se a forma de aprender distinta, a forma de ensinar dever se moldar a isso. Por exemplo, um profissional de vigilncia sanitria que for convidado para conversar com alunos de 7 anos, dever adotar uma didtica totalmente diferente daquela que costuma utilizar com pessoas adultas, como a to utilizada apresentao em power point. Para esse grupo de alunos, que ainda no domina o significado das palavras, mais recomendado utilizar atividades ldicas e interativas em sala de aula. O ideal que antes do encontro com os alunos, o profissional converse com o professor para juntos elaborarem uma forma mais adequada de desenvolver as aes propostas.

    Para entender um pouco mais sobre isso, seguem os quatro perodos de desenvolvimento humano (Teoria Cognitiva), segundo Piaget professor de psicologia da Universidade de Genebra de 1929 a 1954 -, que ficou conhecido, principalmente, por organizar o desenvolvimento cognitivo em uma srie de estgios.

    PERODO SENSRIO-MOTOR recm-nascido e lactente (0 a 2 anos) neste perodo a criana evolui de uma atitude passiva, em relao ao ambiente e s pessoas para uma atitude ativa e participativa. Esse estgio chamado sensrio-motor, pois o beb adquire o conhecimento por meio de suas prprias aes que so controladas por informaes sensoriais imediatas. A criana interage a partir da imitao. Mesmo ao final do perodo, com dois anos, a sua fala apenas imitativa.

    PERODO PR-OPERACIONAL primeira infncia (2 a 6 anos) nesta fase aparece a linguagem e, em conseqncia, h a acelerao do pensamento. A criana ainda no domina o significado das palavras, tem dificuldade para reconhecer a ordem em que mais de dois ou trs eventos acontecem e no possui o

    conceito de nmero. No pensa o pensamento e sim, brinca com ele. No consegue colocar-se a partir do ponto de vista do outro.Nesse perodo, as caractersticas observveis mais importantes so:

    inteligncia simblica;

    o pensamento egocntrico, intuitivo e mgico;

    a centrao (apenas um aspecto de determinada situao considerado);

    a confuso entre aparncia e realidade;

    aplicao de uma mesma explicao a situaes parecidas;

    a caracterstica do animismo (vida a seres inanimados).

    PERODO DAS OPERAES CONCRETAS infncia (7 a 11 ou 12 anos) h o incio da construo lgica, a criana j consegue cooperar com os outros, trabalhar em grupo e ao mesmo tempo ter autonomia pessoal. Ela capaz de organizar seus prprios valores morais, sendo que a honestidade, o companheirismo, o respeito mtuo e a justia so caractersticos desse perodo. As operaes sempre se referem a objetos concretos presentes ou j experimentados, consegue exercer suas habilidades e capacidades a partir de objetos reais, concretos. A criana capaz de estabelecer corretamente as relaes de causa e efeito e de meio e fim, seqenciar idias ou eventos, trabalhar com idias sob dois pontos de vista simultaneamente, formar o conceito de nmero no incio, vinculada ao objeto concreto.

    PERODO DAS OPERAES FORMAIS adolescncia (11 ou 12 anos em diante) nesta etapa acontece a passagem do pensamento do concreto para o abstrato o chamado pensamento formal. O indivduo realiza operaes no plano das idias e progressivamente, capaz de criar e generalizar teorias sobre o mundo. Reflete sobre a sociedade sempre acreditando que essa pode ser transformada.

  • 32

    2 5 ANOS: A criana desenvolve importantes atividades fsicas, como coordenao motora, orientao espao-temporal, equilbrio, ritmo. Devem praticar brincadeiras e jogos que estimulem a psicomotricidade e o conhecimento do prprio corpo. O esporte deve servir como ferramenta de socializao. Atividades indicadas: jogos com bolas, canes que envolvam o toque das mos nas diversas partes do corpo, movi-mentos de girar, abaixar, subir e correr, entre outras.

    6 7 ANOS: O treinamento ainda no deve ser levado a srio, mas nessa fase que se procura desenvolver o maior nmero de habilidades na criana. hora de experimentar todos os esportes possveis. A criana aprende a viver em grupo e passa a relacionar suas capacidades fsicas motoras (fora, resistncia e veloci-dade) com suas capacidades fsicas coordenativas (equilbrio e noo de distncia) capacidade fsica mista (flexibilidade). Estimule o uso de jogos que necessitem de habilidades, como queimada e pega-pega.

    8 11 ANOS: Estimule jogos e brincadeiras que envolvam, alm do esforo fsico, estratgias e raciocnio mais elaborado, como xadrez e mmicas. As crianas tambm devem participar de atividades que as faam racioci-narem rapidamente, como passar a bola e chutar para a pessoa certa; correr e esperar o adversrio.

    ACIMA DE 11 ANOS: a fase da iniciao esportiva. Nessa idade, a criana adora viver em grupo. Assim, estimule a prtica de esportes coletivos, daqueles de que a criana mais goste.

    ESCOLHA A BRINCADEIRA CERTA

    O DESENVOLVIMENTO POR IDADE

    CRIANAS DE 2 E 3 ANOS Jogos de encaixe com formas aleatrias. Identificao de cores e formas geomtricas. Seqncias lgicas. Muita msica e dana.

    POR QU? Ativa a memria visual. Desenvolve noes de espao e raciocnio. Ativa a coordenao motora.

    CRIANAS DE 4 E 5 ANOS Jogos de encaixe com letras do alfabeto. Introduo aos nmeros e clculos. Jogo da memria. Jogos de trilha com temas diversos.

    POR QU? Ativa a memria e a identificao de grupos. Inicia a familiarizao com o alfabeto e com a matemtica. Trabalha a associao de imagens.

    CRIANAS DE 6 ANOS Adivinhao de palavras e frases. Jogos com nmeros pares e mpares. Identificao das horas no relgio.

    POR QU? Ativa a memorizao e a ateno. Desenvolve a capacidade de associao. Familiariza com temas do cotidiano.

    CRIANAS DE 7 ANOS OU MAIS Perguntas e respostas sobre temas diversos. Jogos com clculos matemticos e de trilha mais complexos.

    POR QU? Auxilia no aprendizado formal. Desenvolve noes de espao. Familiariza com temas do cotidiano.

    Fonte: VELHO, 2008.

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    Alm da parceria escola-vigilncia sanitria, fundamental a participao de todos os atores envolvidos na construo de ambientes saudveis: familiares, amigos, voluntrios e instituies pblicas e/ou privadas.

    O profissional de Visa deve auxiliar professores e alunos na deteco dos problemas da comunidade que impedem uma vida saudvel e na identificao de quais deles dependem da ao imediata dos cidados, ou esto sujeitos a uma interveno do governo local, evidenciando as principais situaes problemas.

    Deve-se optar pela adoo de metodologias participativas, envolvendo os professores na construo de seu projeto de educao em vigilncia sanitria.

    interessante fomentar a participao em atividades que socializem os conhecimentos com toda a comunidade, estimulando a adoo de modos de vida mais saudveis.

    As aes de educao em sade precisam de planejamento conjunto.

    importante que se criem mecanismos de avaliao e monitoramento do impacto dos projetos de educao em sade na comunidade.

    necessrio que o profissional de Visa conhea melhor o funcionamento do sistema educacional brasileiro e do processo ensino-aprendizagem.

    SNTESE DO CAPTULO 2

  • Normalmente quando se fala em vigilncia sanitria uma das associaes mais comuns a lembrana de um agente estadual ou municipal fechando um estabelecimento como aougue, farmcia, restaurante ou padaria devido s condies precrias de higiene, venda de produtos falsificados ou com data de validade vencida, entre outras coisas. No entanto, a atuao da vigilncia sanitria abrange muitas outras atividades alm da interdio de estabelecimentos que oferecem produtos ou servios que possam colocar em risco a sade da populao. Por isso, a importncia de se compreender um pouco mais sobre essa face da Sade Pblica, que desde pocas imemoriais busca encontrar caminhos para prevenir danos ou diminuir riscos provocados por problemas sanitrios, desenvolvendo aes de proteo sade dos cidados.

    Em termos histricos, as aes de vigilncia sanitria esto presentes desde o advento da civilizao. O controle sobre o exerccio da medicina, do meio ambiente, dos medicamentos e dos alimentos j faziam parte da rotina dos antigos, assim como a criao de leis e normas com o intuito de disciplinar a vida em sociedade.

    captulo 3 VIGILNCIASANITRIA

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    Achados arqueolgicos, por exemplo, demonstram que no sculo XVI a.C. o homem j possua habilidade para preparar drogas, e lhes delimitar prazos de validade. Os alimentos, e at mesmo os perfumes, tambm eram alvo de preocupaes. Com o mundo moderno, diversas transformaes aconteceram, especialmente com o desenvolvimento da cincia e da tecnologia, construindo novas bases para a ampliao das prticas sanitrias em geral (ROZENFELD, 2000).

    Desde ento, a vigilncia sanitria se mantm em constante expanso, podendo at mesmo ser considerada quase que uma entidade onipresente no cotidiano das pessoas, atuando muitas vezes de forma silenciosa ou despercebida, mas no menos importante.

    No dia-a-dia, as pessoas se deparam consumindo inmeros produtos e utilizando diversos servios que necessitam de critrios de segurana, para evitar ameaas sade de todos. E exatamente para dar garantia de segurana e de qualidade aos produtos e servios sob sua responsabilidade que a vigilncia sanitria trabalha, desenvolvendo atividades que abrigam todos os segmentos do mercado direta ou indiretamente relacionados sade.

    Alimentos, medicamentos, cosmticos, saneantes - como produtos de limpeza e higiene, inseticidas, raticidas e cloro -, equipamentos para diagnstico e tratamento de doenas, servios mdicos e hospitalares, e propaganda so algumas das reas nas quais a vigilncia sanitria atua, dentre muitas outras. O principal objetivo evitar a comercializao ou oferta de produtos inadequados, que possam acarretar qualquer tipo de risco sade dos brasileiros.

    Conceitualmente, conforme estabelecido pela Lei Orgnica da Sade (Lei n 8.080, de 19 de setem-bro de 1990), a vigilncia sanitria definida como um conjunto de aes capaz de eliminar, diminuir, ou prevenir riscos sade e de intervir nos proble-mas sanitrios decorrentes do meio ambiente, da produo e circulao de bens e da prestao de servios de interesse da sade.

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    Como forma de concretizar suas aes, a vigilncia sanitria se utiliza de uma srie de ferramentas, tais como:

    Estabelecer normas e regulamentos, com o objetivo de disciplinar os diversos segmentos do mercado que estejam sujeitos vigilncia sanitria. Geralmente, essas regras estipulam questes de suma importncia para prevenir riscos sade. Por exemplo, quais as informaes que uma propaganda de medicamentos obrigatoriamente deve trazer, e quais so aquelas consideradas enganosas e abusivas; para quais pblicos determinados tipos de medicamentos podem ser anunciados; qual o tipo de embalagem que deve ser usada para a boa conservao de determinado produto; quais as informaes que devem estar presentes nos rtulos de alimentos para guiar o consumidor no momento da compra; quais as orientaes que devem constar na bula de um medicamento e a necessidade da adequao da linguagem para o pblico especfico (leigos e profissionais de sade); como deve ser o processo de produo na indstria, visando padronizar procedimentos, para garantir a qualidade do produto final, entre outros.

    Monitorar a propaganda de produtos sujeitos vigilncia sanitria, com o objetivo de proteger a populao contra informaes que possam enganar, confundir ou induzir ao consumo inadequado de determinados produtos, especialmente medicamentos.

    Conceder ou cancelar registro de produtos e autorizaes de funcionamento de empresas, indicando se o produto ou servio atende ou no s normas e aos padres sanitrios vigentes.

    Fiscalizar os estabelecimentos e aplicar multas sempre que identificar alguma inadequao ou irregularidade.

    Atuar em portos, aeroportos e fronteiras, de modo a evitar a propagao de agentes causadores de doenas e a doena entrasse no pas, foram realizadas diversas aes de vigilncia sanitria, dentre elas a monitorao de todos os passageiros que chegavam em territrio nacional vindos das regies afetadas.

    No Brasil, as atividades de vigilncia sanitria so de responsabilidade do Sistema Nacional de Vigilncia

    Sanitria (SNVS), que coordenado pela Anvisa, rgo vinculado ao Ministrio da Sade. Integram esse sistema as vigilncias do Distrito Federal, dos Estados e dos Municpios, alm de outros rgos de apoio tcnico e os Conselhos de Sade. O SNVS parte do SUS e atua de maneira integrada e descentralizada em todo o territrio nacional, tendo a responsabilidade compartilhada entre as trs esferas de governo: Unio, Estados e Municpios.

    Vale ressaltar, no h relao de subordinao entre os entes federativos. O que existe a definio de competncias e de responsabilidades para cada instncia. Estados e municpios so autnomos em sua atuao.

    No mbito federal, a Anvisa presta cooperao tcnica e financeira, acompanha e coordena a execuo de aes sanitrias em todo o pas, alm de promover parcerias e estabelecer normas gerais. No entanto, a legislao nacional pode ser complementada por leis estaduais e municipais, de forma a atender s prioridades locais. Os rgos municipais de vigilncia sanitria so, acima de tudo, referncia para a populao, que deve recorrer primeiramente a eles para esclarecer dvidas ou denunciar irregularidades.

    A Agncia tambm responsvel pelo controle sanitrio de portos, aeroportos, fronteiras e recintos alfandegados, de servios de sade e de produtos (medicamentos, cosmticos, saneantes, alimentos, derivados do tabaco, produtos mdicos, sangue e hemoderivados, entre outros). Controla os ambientes, os processos, os insumos e as tecnologias a eles relacionados e realiza o monitoramento de preos de medicamentos. D anuncia prvia no processo de concesso de patentes de produtos e processos farmacuticos pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) e faz a fiscalizao da propaganda de produtos sujeitos ao regime de vigilncia sanitria (BRASIL, 2005).

    No dia-a-dia, as pessoas tendem a confundir o papel a ser desempenhado pelos integrantes do SNVS. Por exemplo, h registro de inmeros casos de denncias feitas Anvisa a respeito de restaurantes em condies de higiene inadequadas, solicitando que a Agncia fiscalize e interdite o local. Porm, as aes de natureza

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    local so de responsabilidade do rgo mais prximo do cidado, normalmente a Vigilncia Sanitria municipal. Portanto, a esta instncia que o cidado deve recorrer, prioritariamente, em caso de esclarecimento de dvidas ou denncia de irregularidades. A Anvisa atua somente nas questes de mbito nacional.

    Seja exercendo seu papel regulador, seja coordenando o Sistema Nacional de Vigilncia Sanitria, a Anvisa busca desenvolver aes com o objetivo de promover a cidadania, atuando em conjunto com as Vigilncias Sanitrias estaduais e municipais e em parceria com as entidades da sociedade civil organizada (BRASIL, 2005).

    A vigilncia sanitria uma rea de atuao muito vasta, que tem como funo intervir em todas as etapas e processos das atividades direta ou indiretamente

    relacionadas sade, desde a produo at o uso de produtos e servios, assim como nas conseqncias destes para o meio ambiente. Em funo de seu desempenho, cada vez mais abrangente, vem sendo reconhecida pela comunidade - que tem se conscientizado de sua importncia -, assim como pelas entidades de defesa do consumidor, que a valorizam como uma prtica capaz de promover e proteger a sade da populao, sendo considerada um forte instrumento para a melhoria da qualidade de vida.

    Dessa forma, a informao sobre as atividades de vigilncia sanitria devem ser divulgadas, de modo a permitir que os cidados possam tomar decises conscientes, exercendo o efetivo controle e participao social.

    Apesar de as aes de vigilncia sanitria serem de competncia exclusiva do Estado, pela sua natureza

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    PARTICIPAO SOCIALA participao social a forma mais concreta de ci-dadania. Um exemplo de participao efetiva e his-trica foi a mobilizao social da dcada de 1980, que culminou com a criao do Sistema nico de Sade e a institucionalizao da sade como um di-reito de todos os cidados e um dever do Estado.

    A segurana sanitria, a qualidade de vida e a sa-de fazem parte das preocupaes cotidianas dos ci-dados. Desde a sua criao, a Anvisa procura criar espaos voltados para a ampliao da transparn-cia de sua gesto, acolhendo os questionamentos, opinies e demandas populares, com a preocupa-o de favorecer o equilbrio entre os diversos inte-resses e de efetivar o debate. Nessa linha de atua-o, destacam-se as cmaras setoriais e as cmaras tcnicas - espaos que propiciam a participao social na avaliao e na formulao de polticas, diretrizes e estratgias relativas regulao sanit-ria. Outra importante instncia de participao da comunidade o Conselho Consultivo, cuja funo formular estratgias e controlar a execuo das polticas associadas atuao da Anvisa.

    Fonte: BRASIL, 2008.

    CONTROLE SOCIALCom a promulgao da Constituio Federal de 1988, adotou-se no Brasil uma perspectiva de democracia representativa e participativa, in-corporando a atuao da comunidade na ges-to das polticas pblicas. Diversos mecanismos dessa nova prtica vm sendo implementados, a exemplo das consultas e audincias pblicas, cmaras setoriais e ouvidoria, utilizadas pela Anvisa para permitir a participao da socieda-de no planejamento, monitoramento e acom-panhamento das polticas pblicas implanta-das no campo da Vigilncia Sanitria brasileira e na avaliao de seus resultados. A Agncia valoriza a integrao do elemento social como componente da grande esfera pblica, convi-dando a sociedade a participar da construo de polticas pblicas e de prticas que promo-vam a vigilncia sanitria.

    O controle social deve ser exercido no convvio dirio, por meio da relao social com a coisa pblica, pois a cidadania um processo cont-nuo que ganha fora quando, por exemplo, uma queixa deixa de ser individual para se tornar um dever de ser manifestada socialmente, junto aos canais institudos para esse registro, como ouvi-dorias, conferncias e conselhos de sade. A Ou-vidoria da Anvisa um espao de participao social no mbito do Sistema Nacional de Vigiln-cia Sanitria e contribui para a cidadania.

    Fonte: BRASIL,2008.

    de interveno reguladora, suas questes so de responsabilidade pblica, especialmente em funo de sua capacidade transformadora da qualidade dos produtos, dos processos e das relaes sociais, ultrapassando a esfera governamental. Sua natureza exige uma ao interdisciplinar e interinstitucional, e a mediao de setores da sociedade por meio de canais de participao constitudos. Incluem o dever dos cidados, trabalhadores de sade, produtores e prestadores de servios pblicos e privados. Tal posicionamento reflete a proposta de instaurao de nova cultura no Brasil, reforando comportamentos educativos e incentivando a criao de formas de organizao da sociedade civil, voltadas para sua prpria defesa, e a explicitao de uma responsabilidade compartilhada.

    Para se compreender um pouco mais sobre o caminho da Vigilncia Sanitria no Brasil, segue uma contextualizao histrica, que abrange desde a chegada da Famlia Real ao pas, at a criao da Anvisa, em 1999.

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    A chegada da Famlia Real marca o incio da era sanitria no pas. A comitiva zarpou de Portugal ao final de 1807, em novembro, para o exlio no Brasil. Foram quase dois meses de viagem pelo Oceano Atlntico, at a esquadra aportar em Salvador, no dia 22 de janeiro de 1808. Talvez nem a comitiva real tenha imaginado que o momento do de-sembarque marcaria uma nova era, de muitas e grandes transformaes, inclusive nas questes relacionadas sade pblica, na Histria do Brasil.

    O ato de abertura dos portos brasileiros s naes amigas, por exemplo, no dia 28 de janeiro daquele mesmo ano, assinado por D. Joo VI, considerado o momento em que a vigilncia sani-tria finalmente se estabeleceu no pas. Ali, iniciava-se uma das aes at hoje assumi-das pela vigilncia sanitria: o controle dos navios, das tripulaes e dos passagei-ros que chegavam s terras brasileiras. Nessas embarca-es, muitas doenas eram trazidas de outros lugares do mundo. Ainda em Sal-vador, o rei criou a Escola de Medicina e Cirurgia da Bahia. Esses dois eventos passam a vincular o nome de D.Joo VI Histria da Sade Pblica no Brasil.

    Ao final de fevereiro, a Famlia Real rumou para a nova capital, o Rio de Ja-neiro. Um total de 50 esqua-dras, com aproximadamente 15 mil nobres, aportaram no cais da baa da Guanabara. O Rio, poca uma cidade colonial nos moldes das construes europias, era uma cidade pobre e exalava maus cheiros no ar.

    A populao carioca, que vivia a expectativa de conhecer a Famlia Real afinal, a nobreza passaria a viver naquela cidade surpreendeu-se com a feira do casal D.Joo e D.Carlota , com a loucura de D. Maria I; e, tambm, com as cabeas raspadas

    das cortess, por conta de um surto de piolhos ocorrido na viagem de 64 dias, pelo Oceano Atlntico.

    O Rio de Janeiro, com 100 mil habitantes, era uma cidade rodeada de pntanos, morros e florestas. As casas eram

    baixas, pequenas e escuras, sem nenhum conforto, dispostas ao longo de ruas muito estreitas.

    Os escravos representavam mais que um tero da populao. Eram os que mais andavam pelas ruas, praas, lavouras, portos, matas e morros, em constantes e variadas atividades, dentre elas a de carregar barris de fezes e lixo, que eram despejados no mar.

    O prncipe-regente, preocupado com a freqncia de doenas

    e com a falta de higiene na cidade, ordenou que

    algumas medidas fossem tomadas para sanar esses problemas, tais como: a drenagem dos pntanos e o alargamento das ruas; a criao da Escola Anatmica, Cirrgica e Mdica; e a

    criao de laboratrios: um farmacutico e um de qumica.

    Passados dois anos foi institudo o Regimento da Provedoria, que estabelecia normas mais rgidas de controle sanitrio nas reas da alimentao, dos portos e das boticas, regulando, tambm, o exerccio da medicina e da farmcia.

    Ironicamente, o homem ao qual a sade pblica tanto deve, foi, ele prprio, o maior exemplo da falta de higiene. Segundo Neil Macaulay,

    historiador norte-americano, D. Joo VI era conhecido por usar as suas roupas at que estas, literalmente, apodrecessem em seu corpo. Alm disso, dizia-se que o rei nunca na vida tomara um banho completo com gua e sabo. Nada to difcil de imaginar, considerando que D. Joo sofria de muitas doenas de pele. A mesma mo que coava as comiches, em qualquer parte do corpo e na presena de quem quer que fosse, era oferecida para ser beijada pelos sditos.

    A era sanitria no Brasil

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    A histria conta que D. Pedro I, filho varo mais velho do rei, ao contrrio do pai, mostrava-se sem medo da gua. Ele amava o mar, a vida livre, a bomia, a msica e, sobretudo, amava o Brasil, apesar de ter nascido em Portugal ele tinha dez anos, quando chegou ao pas, com a Famlia Real.

    Na ocasio do anncio da Independncia do Brasil, por D. Pedro I, em 7 de setembro de 1822, o pas ainda se mantinha como uma monarquia escravocrata. A rea da sade pblica era uma grande preocupao. O pas vivia um momento em que constantes epidemias surgiam e se alastravam.

    Em 1824, com a nova Constituio, foram criadas as Cmaras Municipais para assumirem as questes de higiene pblica locais. Insatisfeitos com a atuao das Cmaras, um grupo de mdicos criou, em 1829, a Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro alegando incompetncia daqueles rgos que no conseguiam fazer o controle sanitrio no pas. Porm, as epidemias eram constantes, os problemas de sade se agravavam e estavam longe de uma soluo.

    D. Pedro I e o grito de independncia do Brasil

    Nas quatro ltimas dcadas do sculo XIX o pas passou por muitas transformaes: o caf era o principal produto de exportao; um grande nmero de imigrantes europeus apor-tava por aqui; o movimento abolicionista che-gava ao final e o Brasil, ao lado da Argentina e Uruguai, travava uma guerra com o Paraguai, a qual durou cinco anos (1864-70).

    De 1834 a 1836 o Brasil conheceu doenas graves como a varola, a gripe, a febre tifide e o sarampo, que ainda no tinham cura.

    Para o combate febre amarela, que ressurgiu em 1849 (a primeira epidemia da doena foi em 1599), foi criada a Comisso Central de Sade Pblica, transformando-se, em seguida, em Junta Central de Higiene Pblica. A partir da, estabeleceu-se uma nova organizao da vigilncia sanitria que se manteria at o final do sculo XIX.

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    Brasil, uma nao republicana

    O imperador D. Pedro II (1840-1889) foi deposto por um grupo de militares do Exrcito brasileiro, chefiado pelo marechal Deodoro da Fonseca. Com a Proclamao da Repblica, instalava-se um governo autoritrio. Porm, para a sade pblica essa nova ordem foi positiva, porque permitiu um maior controle sobre as questes da vigilncia sanitria.

    So Paulo liderou a busca por autonomia e ins-tituiu uma sade pblica estadual, passando a ser referncia nessa rea. A Inspetoria de Higiene da Provncia de So Paulo transformou-se no Servio Sani-trio do Estado de So Paulo, que administrava uma rede de instituies criadas com dinheiro pblico, incluindo laboratrios, institutos de vacina, hospital de isolamento e servios de desinfec-o, que vistoriavam as casas sob suspeita de contaminao.

    Ao final do sculo XIX, So Paulo estabelecia como prioridade o combate febre amare-la. O Brasil era conheci-do no exterior como o tmulo dos estrangeiros. Essa m fama significa-va risco, prejudicando principalmente, o complexo cafeeiro, a vinda de es-trangeiros e o comrcio internacional.

    A conselho de um famoso cientista francs, Louis Pasteur, o governo criou, no ano de 1892, o Laboratrio de Bacteriologia. O laboratrio contava com uma equipe de grandes nomes da cincia que, uma vez reunidos, tinham a misso de combater as doenas que ameaavam a nao. Nesse laboratrio comeou a produo do soro antiofdico; em So Paulo, por exemplo, morriam cinco mil pessoas, por

    ano, vtimas das picadas de cobras. O Laboratrio de Bacteriologia, dirigido por Adolfo Lutz, tornou-

    se mais amplo e melhor equipado. Para reforar a equipe, Lutz contratou, em 1895, o cientista Vital Brasil, que trabalhara na fabricao do soro antiofdico, em Paris.

    Quatro anos depois, o pas teve que enfrentar a peste bubnica, uma doena

    provocada pela picada de pulgas, abrigadas no plo de ratos. Cientistas

    como Emlio Ribas, diretor do Servio Sanitrio, Adolfo Lutz, Vital Brasil

    e Oswaldo Cruz recm chegado do Instituto Pasteur, de Paris , se uniram para combater a molstia. O governo, ento, investiu em equipamentos para o laboratrio produzir o soro antipestoso.

    A sade pblica ganhou grande impulso. Enquanto

    em So Paulo era criada a Fundao do Instituto Butant, para a produo do soro; no Rio, em Manguinhos, foi criado

    o Instituto Soroterpico Federal, assumido por Oswaldo Cruz, ento, com 28 anos.

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    Com a entrada do sculo XX, uma nova etapa iniciava-se na sade pblica. Um nome sobressaa e marcava a histria da vigilncia em sade: Oswaldo Cruz.

    Rodrigues Alves, governador de So Paulo por duas vezes, foi um poltico preocupado com a rea da sade em seu estado. Quando assumiu a Presidncia da Repblica, em 1902, reurbanizou a capital, Rio de Janeiro, modernizou o porto e saneou a cidade.

    Em 1903, Oswaldo Cruz foi indicado para assumir a Diretoria Geral da Sade, com a tarefa de erradicar trs doenas epidmicas: a febre amarela, a peste bubnica e a varola. Foi ele o responsvel pelo surgimento das chamadas brigadas de mata-mosquitos, as quais percorriam as ruas e as casas do Rio, borrifando inseticida para eliminar o mosquito da febre amarela. A luta contra a peste bubnica corria paralela. Em setembro de 1905, Oswaldo Cruz partiu para uma expedio de 111 dias, percorrendo 30 portos brasileiros, de Norte a Sul do pas, para fazer a vigilncia sanitria. Comearam, ento, as expedies cientficas ao interior do pas.

    Os mtodos higienistas de Oswaldo Cruz foram alvo de muitas crticas. Todavia, o projeto sanitarista do

    mdico deu certo. No Rio, no ano de 1906, a febre amarela foi considerada extinta.

    Em 1908, Oswaldo Cruz deixou o cargo que ocupava na Diretoria Geral de Sade Pblica, permanecendo apenas como diretor do Instituto que levava o seu nome. No ano seguinte, Carlos Chagas, outro importante cientista da equipe de Oswaldo Cruz, descobriu o agente causador da Doena de Chagas, o trypanosoma cruzi. No perodo de 1911 a 1913 o Instituto Oswaldo Cruz promoveu diversas expedies ao interior do Brasil. Essas viagens de pesquisa permitiram traar um quadro da situao de sade dos brasileiros e possibilitaram um maior controle das doenas e das epidemias no pas. O cargo de diretor-geral do Instituto Oswaldo Cruz, foi assumido por Carlos Chagas, aps a morte de Oswaldo Cruz, em 1917.

    A Liga Pr-Saneamento do Brasil, criada por iniciativa de um grupo de intelectuais nacionalistas, em 1918, que se opunham ao sistema de vigilncia sanitria que exclua o homem do campo em suas aes tornou-se um marco na histria da sade brasileira.

    O sculo XX e a sade pblica brasileira

    alastrava-se no Rio, fazendo um nmero sete vezes Entre os anos de 1901 a 1907 a peste branca

    maior de vtimas do que a febre amarela, no mesmo perodo.

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    Oswaldo Cruz, em 1902, criou a profis-so de compradores de ratos fun-cionrios pblicos que saiam s ruas pagando pelos ratos que a populao

    apanhava. Porm, a iniciativa no deu certo. Alguns desonestos criavam ratos para ven-der ao governo. Essas medidas foram muito

    criticadas pela populao e se tornaram motivo de deboche, por muito tempo.

    COMPRADORES DE RATOS

    A vacina contra a varola tornou-se obrigatria. O governo, muitas vezes, usava a fora para fazer cumprir a lei. Nesse ano, 1904, surgiu um gran-de movimento de revolta popular a chamada Revolta da Vacina. Isso levou o presidente a re-

    vogar, no incio de 1905, a lei que tornava a vacina obrigatria.

    A REVOLTA DA VACINA

    entre os pobres. O governo, na ocasio, tratou A tuberculose fazia mais vtimas nas favelas,

    o problema com descaso.

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    Mudanas e novos desafios

    Na dcada de 20, a rea da sade exigia mudanas na conduo de seus processos e precisava de uma reforma. A criao do Departamento Nacional de Sade Pblica (DNSP), por exemplo, em substituio Diretoria Geral de Sade Pblica, assumia a responsabilidade dos servios sanitrios terrestres, martimos e fluviais e os servios de profilaxia rural. O sistema de vigilncia sanitria, embora eficaz, era centralizador e autoritrio, surgindo da muitas crticas.

    Nos anos 30, a sade pblica enfrentou uma fase de desmobilizao, perda de poder e de prestgio.

    O Ministrio da Sade foi criado, em 1953, no Rio de Janeiro. Porm, as aes de sade ainda estavam dispersas em vrios outros rgos. Nessa dcada o foco de ateno era a malria, a doena de Chagas, a peste bubnica e a febre amarela.

    O Cdigo Nacional de Sade, institudo em 1961, ainda no governo de Juscelino Kubitscheck, definiu um controle maior sobre as doenas no Brasil e deu ateno s questes do saneamento.

    Mas o grande marco para a sade pblica foi a realizao da 3 Conferncia Nacional de Sade, no Rio de Janeiro, em 1963. O assunto em pauta foi a reorganizao dos servios de sade e a municipalizao do setor.

    Cinco anos depois da Conferncia, iniciou-se a Reforma Administrativa Federal que possibilitou a retomada da Poltica Nacional de Sade idia abandonada por seis anos sob a responsabilidade do Ministrio da Sade.

    Ao final da dcada de 60 a legislao sanitria passou por uma fase de reviso, com a criao

    de leis e decretos que vigoram at hoje.

    O Brasil continuou enfrentando desafios na rea da sade de sua populao. So Paulo e o Rio de Janeiro foram atingidos por uma epidemia de meningite de grandes propores, em 1971. O governo federal promoveu uma campanha nacional de vacinao contra a doena, que s foi debelada em 1975.

    Ao final dos anos 70, o Ministrio da Sade passou por uma reestruturao e foi criada a Secretaria Nacional de Vigilncia Sanitria (SNVS). Nessa poca, a vigilncia sanitria era definida como um conjunto de medidas que visam elaborar, controlar a aplicao e fiscalizar o cumprimento de normas e padres de interesse sanitrio relativo a portos, aeroportos e fronteiras, medicamentos, cosmticos, alimentos, saneantes e bens, respeitada a legislao pertinente, bem como o exerccio profissional relacionado com a sade.

    Com a organizao do SUS, a Lei n 8.080, em complemento definio de vigilncia sanitria, afirma que abrangncia desta:

    I o controle de bens de consumo que, direta ou indiretamente, se relacionem com a sade, compreendidas todas as etapas e processos, da produo ao consumo;

    II o controle da prestao de servios que se relacionam direta ou indiretamente com a sade.

    Percebe-se claramente que a definio anterior Lei n 8.080 adotava um posicionamento de carter

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    COMO DENUNCIAREm caso de denncias referentes a problemas sani-trios, deve-se procurar o Centro de Vigilncia Sa-nitria Municipal, por ser o responsvel pela aes locais. Se no houver um centro municipal, pode-se recorrer ao estadual, mas se ao fizer isso a pessoa encontrar dificuldades, pode entrar em contato com a Secretaria Municipal ou Estadual de Sade, que a responsvel por coordenar as aes em vi-gilncia sanitria nos estados e municpios.

    burocrtico e normativo, enquanto a verso proposta com a Lei Orgnica, introduziu o conceito de risco e conferiu um aspecto mais completo ao conjunto das aes de vigilncia sanitria, situando-as na esfera da produo. E assim, harmoniza-se melhor com o papel do Estado hodierno, em sua funo reguladora da produo econmica, do mercado e do consumo, em benefcio da sade humana (ROZENFELD, 2000). Tendo em vista as mudanas no conceito de sade - advindas principalmente do movimento pela Reforma Sanitria -, a vigilncia sanitria tem sua importncia ampliada, tornando-se um instrumento imprescindvel na proteo da sade da populao. Passa a ter o poder de interferir em todos os fatores considerados determinantes da sade e mantm as suas caractersticas derivadas do poder de polcia fiscalizao, licenciamento e punio -, mas evolui ao exercer funes de normatizao e educao, estabelecendo uma nova relao com o Estado e a sociedade, sempre com o objetivo de proteger e promover a sade da populao, defendendo o direito vida e cidadania.

    A vigilncia sanitria uma prtica coletiva e cada cidado tem um papel fundamental na fiscalizao e na denncia ao rgo de vigilncia sanitria municipal sempre que entender que as normas sanitrias foram descumpridas.

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    Anvisa assume as aes de vigilncia sanitria no pas

    Criada em 26 de janeiro de 1999 pela Lei n 9.782, a Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria tem como finalidade institucional promover a proteo da sade da populao, por meio do controle sanitrio da produo e da comercializao de produtos e servios submetidos vigilncia sanitria, inclusive dos ambientes, dos processos, dos insumos e das tecnologias a eles relacionados, bem como o controle de portos, aeroportos e fronteiras. Alm d