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Livreto da experiência de parklets. Parte da constelação que pode ser formada pelo mediador na estratégia do VII
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Parklets
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Parklets (ou Vagas ViVas)1. IntroduçãoParklets são intervenções urbanas de pe-
queno porte - aprox. 20m2 - implantadas
no espaço que normalmente é destinado
ao estacionamento de automóveis, es-
tendendo o espaço do passeio público.
Ocupando a área de uma ou mais de uma
vagas, estas construções podem ser efê-
meras ou permanentes e buscam tanto
criar espaços de convívio social quanto
levantar a discussão sobre as formas de
ocupação do espaço público. Para tanto,
os usos ao que os Parklets se destinam
são variados: de simples bancos à play-
grounds, de pequenos parques à pontos
comerciais.
A ideia surgiu em 2005 em São Francis-
co, nos Estados Unidos, com o nome de
Park(ing), por uma iniciativa indepen-
dente do estúdio Rebar. A intervenção
gerou o Park(ing) Day, um “evento open-
-source anual onde cidadãos, artistas
e ativistas colaboram para transformar
temporariamente espaços de estaciona-
mento pago em espaços de ‘PARK(ING)’:
espaços públicos temporários”4.
No Brasil a iniciativa é normalmente ba-
tizada de Vaga Viva e é realizada desde
2006, inicialmente no Rio de Janeiro e
hoje em diversas cidades, como Recife e
São Paulo.
Já são alguns municípios que conside-
ram em sua legislação urbanística a in-
corporação de Parklets, como é o caso
de São Francisco e São Paulo. Do lado da
sociedade civíl, há coletivos autônomos
que desenvolvem seus próprios progra-
mas, caso do Instituto Mobilidade Ver-
de que criou o Programa Zona Verde.
Pela versatilidade e potencial facilidade
de construção destes projetos, são diver-
Parklet em Oakland (EUA) | Foto: oaklandnet.com/
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mas mais do que isso, afinidade pela cul-
tura de calçada. Contudo, não é impera-
tivo se considerar tradições ou especifici-
dades locais.
Visão: Qual é a intenção de envolvi-
mento pela visão? Um dos grandes ob-
jetivos é provocar o debate sobre o uso
dos espaços públicos e transformar gra-
dualmente a forma de ocupação corri-
queira de certos locais. O envolvimento
é facilitado pela intervenção não causar
grandes críticas ou conflitos.
Intenção
As principais intenções dos Parklets es-
tão em chamar a atenção da sociedade
quanto ao uso e ocupação dos espaços
públicos através de intervenções físicas
e proporcionar novas situações de con-
vívio social.
Considerando então que não há inter-
venção sem construção e esta interven-
ção busca uma transformação de cultura,
podemos entender que a intenção pre-
dominante dos Parklets está em gerar
experiências através do Meio e da Visão
de Transformação.
Equilíbrio
É uma atividade baseada na iniciativa e
2. ExperiênciaA quem se destina
As intervenções são destinadas princi-
palmente a pedestres, ou seja, as pessoas
que transitam pelo local. Contudo, todos
que utilizam o espaço vivenciam de al-
guma forma esta experiência: motoristas
estacionando; motoristas trafegando; ci-
clistas; comerciantes, moradores e todos
os usuários e passantes na área.
CaracterísticasI
Meio: Qual é a intenção de envolvimen-
to pelo meio? É uma intervenção urbana
essencialmente física. A experiência é ge-
rada pela materialidade da construção,
seja através de sua simples constatação
no espaço ou de seu uso.
Ação: Qual é a intenção de envolvimen-
to pela ação? Usuários utilizam a inter-
venção da forma como quiserem, depen-
dendo da proposta de uso que tiver sido
executada. Mas é prescindível que haja
ação física, contanto que gere reflexão.
Cultura: Qual é a intenção de envol-
vimento pela cultura? Principalmente
para pessoas que utilizam ou percorrem
aquele local com alguma frequência,
sos os contextos favoráveis a sua implan-
tação, o que possibilita serem realizados
em vias importantes e de grande fluxo,
potencializando sua visibilidade. Impor-
tante notar o impacto trazido à calçada,
resguardando-a do trafego viário, am-
pliando e favorecendo a zona de circu-
lação livre e possibilitando ocupações
diferenciadas de acordo com os usos da
área.
Os processos de implantação de Parklets
são dos mais diversos, variando de acor-
do com os agentes interessados envol-
vidos. No caso de São Paulo, foi promul-
gado um decreto em Abril de 20145 que
regulamenta este tipo de intervenção.
De forma semelhante, em São Francisco
há o programa municipal Pavement to
Parks, do departamento de planejamen-
to da cidade, que apoia e instrumentaliza
o cidadão que queria propor um Parklet
para a cidade.
Park(ing) Rebar | São Francisco (EUA) Foto: Rebar / Andrea Scher
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universal e jogos.
É interessante observar que por este
tipo de intervenção tradicionalmente ser
efêmero, o momento escolhido para sua
implantação pode potencializar sua ex-
periência. Em São Paulo, Parklets foram
implantados no Dia Mundial Sem Carro
e na Virada Cultural, por exemplo. Esta
pode ser uma boa consideração mesmo
para eventos mais locais e cotidianos,
como festas em escolas, atividades em
praças ou feriados.
Parklet em Los Angeles (EUA)Foto: Sam Lubell / AN
Parklet em Los Angeles (EUA) com variados usos. Bancos, jogos e aparelhos de exercício
Fotos: Sam Lubell / AN
Neste sentido, Parklets remetem a expe-
riência de caminhar em calçadas que as
pessoas normalmente tem. Contudo,
pode-se reforçar a Cultura vinculando-se
a Ação proposta às características da
área, seja pelo relacionamento com os
usos das edificações próximas - princi-
palmente a diretamente vizinha - quanto
às características do bairro. Por exemplo,
se for uma região com muitas crianças,
pode-se propor experiências com brin-
quedos; se pelo contrário for um bairro
com muitos idosos, pode-se propor um
Parklet com mais bancos, acessibilidade
intenção externas às pessoas que a vi-
venciarão, ou seja, mais focadas na atu-
ação de mediadores. Mas isso não signi-
fica que Ação e Cultura são deixadas de
lado ou geram experiências contraditó-
rias às intenções básicas.
Pelo fluxo de pedestres nos locais onde
normalmente os Parklets são implanta-
dos, espera-se que sua visibilidade seja
significativa, bem como seu uso poten-
cializado.
Não é necessário e não é um problema
se poucas pessoas o utilizarem, mas po-
demos discutir que diferentes propos-
tas de uso geram diferentes formas de
apropriação. Ou seja, um parklet cuja
intenção de experiência pelo Meio é sim-
plesmente de as pessoas se sentarem
tende a gerar menos Ação do que um
que agregue mais elementos e vínculos
com a área.
Vemos então Parklets com paraciclos,
com pequenos gramados, com brinque-
dos, com mesas de apoio a restaurantes
e cafés, com jogos de mesa, árvores, etc.
Elementos como estes podem reforçar
a experiência de Ação dos Parklets, por
mais que não se façam necessários.
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não tiveram contato com o trabalho que
vem sendo feito na comunidade. Utili-
zando ou não a intervenção, sua visibili-
dade é um trunfo para o mediador.
Primeiro Parklet implantado permanente-mente em São Paulo na região da Av. Paulista
Foto: Instituto Mobilidade Verde
Para comunidades cuja ação política,
mobilização e integração já são mais
consolidadas, Parklets podem ser desen-
volvidos pela própria comunidade. Neste
ponto, pode-se pensar em intervenções
ainda com o intúito de Visão, buscando
difundir uma reflexão sobre a ocupação
dos espaços públicos.
Comunidades cujo medo da exposição
no espaço a fazem buscar policiamento
privado, fechamento de vias e áreas, e
outras estratégias de gerar sensação de
segurança, podem passar a encontrar
outras maneiras de lidar com esta ques-
tão a partir de experiências como as dos
Parklets, trazendo mais gente para as
ruas e ocupando-as por mais tempo.
Constelando
Parklets podem ajudar mediadores no
momento de difundir e dar visibilidade
ao trabalho no bairro - após o início do
desenvolvimento do IV MovimentoII. Por
seu investimento potencialmente bai-
xo e relativa facilidade de implantação
quanto a entraves políticos, é uma boa
experiência para agregar visibilidade às
possiveis transformações no bairro.
Quanto mais a comunidade estiver pas-
sando a utilizar os espaços públicos, mes-
mo que ainda de forma precária, os Park-
lets podem potencializar essa vontade
de ocupação. Contudo, se o movimento
ainda for muito baixo, sua intenção de Vi-
são pode ficar aquém do desejado.
Por sua característica de intervenção no
Meio, é uma excelente experiência para
chamar a atenção daqueles que ainda
3. Narrativa de usoDa comunidade
As experiências geradas podem ser in-
teressantes para bairros onde há infra-
estrutura urbana instalada, mesmo que
precária. Logo, onde há a interface entre
rua e calçada, mas carência de espaços
de interação social e predominância de
infraestrutura viária.
Tendo a intenção principalmente em
Meio e Visão, focado inicialmente na atu-
ação de mediadores, não é necessário
que se tenha uma comunidade integra-
da e com cultura e estruturas de partici-
pação política estabelecidas.
Importante observar que a Visão conso-
lidada na comunidade pode ser muito
distinta da proposta pela experiência
dos Parklets, mas é exatamente nesta di-
ferença que reside seu maior potencial.
Não é necessária qualquer Visão estabe-
lecida especifica da comunidade, con-
tudo, exatamente pela autonomia do
mediador, é possível imaginar implantar
Parklets em comunidades cuja visão do
espaço público é fundamentalmente de
segregação e isolamento. A contradição
com a proposta não a enfraquece.
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pode ajudar a precaver problemas no
momento da implantação do Parklet.
Impacto
Pode-se esperar diversos impactos, mui-
tos dos quais seriam inapreensíveis em
medições objetivas. Mas alguns que po-
demos perceber:
• Fluxo de pedestres pelo local; pode-mos medir com contagens
• Número de pedestres que param na intervenção; podemos medir com contagens
• Tempo de permanência; pode ser me-dido por amostragem
• Quais sensações as pessoas tem; en-trevistas
• Modificações nos padrões de uso dos comércios locais; entrevistas
• Incorporação gradual na cultura de qualificação de calçadas
• Aumento das áreas de permanencia de pedestres ao longo de vias
São muitas as possibilidades e que é inte-
ressante encontrar em cada comunidade
os impactos possíveis, seus motivos de
consideração e sua forma de medição.
“The Peace Keeper”. Parklet executado pelo artista Erik Otto com o coletivo Fabric8.
São Francisco (EUA)Foto: Mark Hogan
Importante ressaltar que cada cidade
possui uma legislação que lida com este
tipo de projeto urbano, seja efêmero ou
permanente. É necessário verificar na ci-
dade onde se planeja utilizar esta experi-
ência qual a legislação pertinente tanto
para verificar sua viabilidade quanto suas
limitações.
Para verificar este tipo de questão, quan-
to para discutir sobre o projeto pro-
priamente dito, pode-se pedir apoio a
profissionais específicos, advogados,
arquitetos, bem como procurar conta-
tos na prefeitura ou subprefeitura para
apoiar a iniciativa. Este tipo de cuidado
Neste caso, pode-se formar grupo temá-
tico ainda no IV Movimento com a inten-
ção de desenvolver as intervenções, ten-
do debates sobre a localização, o uso, a
relação com o entorno, etc.
Em comunidades cuja estratégia do me-
diador já tiver chegado ao V Movimento,
pode-se pensar em grupos integrados
entre as redes do bairro. Neste ponto,
além de definir as intervenções, pode-
-se buscar maneiras de difundí-las, bem
como de integrar cada projeto em cada
rede. Por exemplo, o desenho de um Pa-
rklet pode ser desenvolvido como pro-
jeto pedagógico de uma escola, seu uso
pode ser fruto de um estudo das crianças
com os comerciantes de uma rua movi-
mentada, sua confecção pode ser realiza-
da com artesãos locais e a associação de
moradores pode divulgar a intervenção
bem como realizar algum evento nela.
Mesmo no VI Movimento estas interven-
ções podem ser incorporadas como es-
tratégias de requalificação permanente
de calçadas em vias de circulação inten-
sa.
Pode-se ver então que um Parklet indi-
vidualmente tem um impacto mais cir-
cunscrito, mas sua escalada de implanta-
ção pode ganhar vulto na comunidade.
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California, EUA.
7. San Francisco Planning Department. San Francisco Infographic Parklet Permitting Process. Disponível em http://pavementtoparks.sfplanning.org/docs/Parklet-O-Matic_final.pdf. 2013, California, EUA.
8. UCLA. Reclaiming the right of way: a toolkit for creating and implemen-ting Parklets. Disponível em www.its.ucla.edu/research/parklettoolkit.pdf. 2012, California, EUA.
9. Vadebike.org. O que são Zonas Verdes, Vagas Vivas e Parklets? Disponível em http://vadebike.org/2013/08/zona-verde-parklet-va-ga-viva/. 2013, São Paulo, Brasil.
10. SMDU. Manual Operacional para Implantar um Parklet em São Paulo. http://gestaourbana.prefei-tura.sp.gov.br/wp-content/uplo-ads/2014/04/MANUAL_PARKLET_SP.pdf
NotasI. Para mais detalhes e informações so-
bre as características da experiência, veja capítulo 3 da Carta ao Mediador: “Experiência”.
II. Considerações para a atuação de me-diação no trabalho vinculado a este documento. Para mais informações sobre os 6 Movimentos, ver volume “Estratégia”.
4. ApoioReferências1. G1.globo.com. Prefeitura de São
Paulo cria ‘vaga verde’ na Bela Vis-ta. Disponível em http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2014/04/prefeitura-de-sao-paulo-cria-vaga--verde-na-bela-vista.html. 2014, São Paulo, Brasil.
2. Instituto Mobilidade Verde. Zonas Verdes. http://institutomobilidade-verde.wordpress.com/
3. Mobilidade Sustentável. São Paulo ganha área de convivência para pedestres. Disponível em http://mobilidadesustentavel.blog.uol.com.br/arch2013-11-01_2013-11-30.html. 2013, São Paulo, Brasil.
4. Park(ing) Day. About Park(ing) Day. Tradução livre. Disponível em http://parkingday.org/. 2012, São Francisco, Brasil.
5. PMSP - Secretaria Municipal de De-senvolvimento Urbano. Decreto 55.045 de 2014: regulamenta a ins-talação e o uso de extensão tem-porária de passeio público, deno-minada “parklet”. 2014, São Paulo, Brasil.
6. San Francisco Planning Department. San Francisco Parklet Manual. Dis-ponível em http://sfpavementtopa-rks.sfplanning.org/docs/SF_P2P_Pa-rklet_Manual_1.0_FULL.pdf. 2013,
Parklets em São FranciscoFotos: Sam Lubell / AN | oaklandnet.com/
Parklets são intervenções urbanas permanentes ou temporárias que discutem a forma de ocupação dos espaços públicos