13
ÁREA TEMÁTICA: Direito, Crime e dependências [AT] POLÍTICA DO DIREITO COMO POLÍTICA DE AUSTERIDADE FERREIRA, António Casimiro Doutor em Sociologia do Estado e do Direito Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra [email protected]

Viii Com0390

Embed Size (px)

DESCRIPTION

texto antonio casimiro

Citation preview

REA TEMTICA: Direito, Crime e dependncias [AT] POLTICA DO DIREITO COMO POLTICA DE AUSTERIDADE FERREIRA, Antnio Casimiro Doutor em Sociologia do Estado e do Direito Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra [email protected] 2 de 13 3 de 13 Palavras-chave: austeridade, teoria, poltica, direitoKeywords: austerity, theory, politics, law COM0390 Resumo No sendo um fenmeno mundial, a questo da austeridade adquiriu um lugar de relevo nas agendas polticasedeinvestigaocientfica.Omeuprimeiroobjectivoodesugerirqueparaalmda evidentedimensoeconmico-financeiradomodelodeausteridadeexistetambmummodelode realidadesocialquedevesercaracterizadosociologicamente.Noplanoanalticoimportainterpretar sociologicamenteseoactualmomentodeausteridadecorrespondeefectivamenteaumnovotipode sociedade, se contribui para a eroso do anterior tipo de sociedade, se impede a formao de um novo tipo desociedade, ou, eaquiaquestono apenas analtica, seestafavorecer ainterveno e as manifestaesdeactoressociaisautoritriosnodemocrticosqueutilizamaexcepocomoforma de normalizao poltico-jurdica do social. No segundo tpico procuro densificar a ideia de que uma certa concepo de direito encarada como fundamental quanto a uma certa concepo de sociedade, o que significa que sociedade de austeridade corresponder um certo tipo de direito e de poltica. No mbito da minha reflexo sustento que as formas de poltica e de direito correspondentes sociedade deausteridadeassentamem4elementos-chave:1)oquestionamentodateoriadaseparaode poderes;2)oprincpiodaselectividadenaaplicaodasmedidasdeexcepo;3)ocontedodo direito de excepo; 4) e finalmente, a judicializao da poltica e a jurisprudncia da austeridade. Abstract Theissueofausterityhasacquiredaprominentplaceonthepoliticalagendasandonscientific research. My first aim is to suggest that besides the obvious economic and financial dimension of the austerity model there is also a model of social reality that must be characterized sociologically. At the analyticallevelitisimportanttointerpretsociologicallyaboutthepresenttimeofausterityandifit actuallycorrespondstoanewtypeofsociety,ifitcontributestotheerosionoftheformertypeof society,ifitpreventstheformationofanewtypeofsociety,or,andherethequestionisnotonly analytical,ifitispromotingtheinterventionandmanifestationofauthoritariandemocraticsocial actorswhoareusingaparticularformofpolitical-legalstandardizationofthesocial.Inthesecond topicItrytodensifytheideathatacertainconceptionoflawisseenasfundamentaltoacertain conception of society, which means that to the austerity society corresponds a certain type of law and politics.Within thescopeof my reflection I arguethatthe forms of political andthelaw attached to the austerity society are based on four key elements: 1) the questioning of the theory of the separation of powers; 2) the principle of selectivity in the application of measures of exception; 3) the content of the law of exception; 4) and finally, the legalization of politics and jurisprudence of austerity. 4 de 13 5 de 13 1.Como possvel a ordem social? A implementao do modelo da austeridade requer a fora moral e poltica da autoridade que fundamente o seu reconhecimento, permita a sua legitimao e constitua a razo da submisso voluntria. Neste sentido, asociedadedaausteridadesugereumareformulaodatradicionalquestohobbesianadaordemsocial. Prescindindoquerdasformulaesorientadasparaosproblemasdaintegraosocialquerdasquese centram na identificao dos princpios de regulao, opta por estabelecer uma afinidade entre asformas de produodaordemedocaos,asquaissoconsideradasindissociveis,namedidaemquesema negatividade do caos no h positividade da ordem; sem o caos no h ordem, como eloquentemente refere Bauman(2007: 19). Partilha,por isso, com anoo desociedadelquida,aambivalnciae indeterminao resultantes da permanente tenso entre a desordem da crise e a ordem das reformas, entendida como padro normal de vida em sociedade, facto que confere umaredobrada centralidade a quem administrae planeia o espao da mediao do terceiro includo, entre a ordem e o caos: Estado. O desligamento ou afrouxamento da vinculao recproca entre Estado e cidado instrumental, e conduz subversodoconsensoepistemolgico(cf.Merrien,2007:844-854)quefundamentouoEspritode Filadlfia, numa lgica semelhante do neoliberalismo. Assim, o ator social, carecendo de proteo e sendo vtimadoscontextos,substitudo por umhomo sociologicus, racional e responsvel, quedeveproceder a clculosdeoportunidade.Noplanoinstitucionaleorganizacional,ossistemasdeproteosocialede responsabilidadecoletivaso,agora,obstculoscompetitividadeeaocrescimentoeconmico, constituindo-seemfontededesemprego.Omainstreamdopensamentosociolgiconestamatriarealaa contraposio entre a conceo classista de sociedade com o seu pacto entre associaes sindicais e patronais mediado pelo Estado, e a sociedade atomizada dos indivduos, onde o Estado substitudo ou inspirado pelo mercado enquanto mecanismo de distribuio da riqueza porque o crescimento bom para os pobres.Menossublinhadaainflunciadesteprocesso detransformao,abundantementeestudadopelascincias sociais,sobreossistemasdeobrigaesedeveresestabelecidosentreoscidadoseoEstado,ouentreos indivduos e a sociedade. E justamente aqui que reside a estrutura profunda do modelo de ordem social da sociedade da austeridade. Exploro teoricamente a ideia de o sistema de obrigaes e deveres doprocesso de austerizaodasociedaderequererumacombinaosubtilentreEstado,responsabilidadeindividuale responsabilidade coletiva. Vejamos um pouco melhor esta questo.Tradicionalmente,oEstadosocialsegueumalgicadesolidariedadecoletivadematrizdurkheimiana,de onde emerge uma razo jurdica fundada politicamente na ideia de que a liberdade individual e a soberania coletivaevoluememtornodocritriodajustiasocial,entendidocomopilardaconstruoconjuntada sociedade. Este entendimento do Estado posto em causa, como anteriormente mencionado, pela conceo doEstadoneoliberal,ondealiberdadeindividualadquireumvalorsupremo,afastando-sedasdinmicas coletivas.Aautossuficinciadoindivduoealiberdadeindividualcomofontedeorientaoparaaao conduzem exploso de direitos individuais em todos os domnios, tornando cada vez mais instvel e frgil odifcilequilbrioentreapromooeproteodaliberdadeindividualeoprogressodaigualdadee organizao coletiva. A concorrncia entre estes dois aspetos vai dando vantagem ao primeiro, enfatizando o princpiofundamentaldenoestabelecerdireitossemresponsabilidades,numalgicasociojurdicade convergncia entre os entendimentos sociolgicos da Terceira Via e a crescente individualizao do sistema de direitos (cf. Bec, 2007: 13-14; 19).Oprocessodeausterizaoaproveitaestelegadopoltico-jurdico,tendopresenteadinmicaresultanteda atuao de um governo ocupado em difundir a mensagem de que no h alternativa, afirmando a ideia de a culpapelasituaoemqueestamosmergulhadospassarportodososindivduos,fazendo-ospagare acreditar que foram as suas aes irresponsveis e o seu modo devida imprudente que contriburam para a situaoatual(cf.Bauman,2002:87).Particularmentevisadassoasresponsabilidadesimputadasaos trabalhadores-consumidoresqueseendividaram,e,emgeral,consumiramdesenfreadamente,comoseno houvessem um dia de prestar contas. Daqui resulta a legitimidade nietzchesiana assente na ideia de dvida-culpa que viabiliza a exigncia do esforo requerido pela austeridade. 6 de 13 OEstadodeausteridade,porsuavez,nocarecedetrocasentreaquestosocialeas questesdalei eda ordem,namedidaemqueafirmanoexistiremalternativasdecombatecrise,anoserasqueresidem numa transferncia clara dos seus custos para a sociedade. Pe, deste modo, termo ambivalncia associada avaliaodosmecanismosdeproteosocial,uniformizandosobosignodaausteridadeorepertriode medidas da nova ordem social: impostos; cortes salariais; cortes nas penses e subsdios; reforma no sistema de sade; flexibilizao negativa do direito do trabalho, etc. Embora a frmula de legitimao do Estado de austeridadesejaconcordantecomadoEstadopenal,isto,colocandoemestreitarelaoaspolticasdo medo,dasegurana,daincertezaeansiedadepartilhada,oreferentemuda.Oestadodeemergncia produzidopelomedocrescenteacercadaseguranapessoalfaceaodesperdciohumanoimigrantes, criminosos,excludos,etc.dagoralugaraoestadodeemergnciasocial,clamandopelosacrifcioem nome do bem comum e reorientando o sistema de deveres e obrigaes (cf. Priban, 2007: 5).1.1 A teoria da separao de poderes e o poder dos no-eleitos Neste tpico sustento a ideia de queestamos a assistir a uma forma de produo e aplicao do poder e do direito,tendoporfonteacombinaosimultaneamentecnicaeestratgicaentreatoresgovernamentaise atoresno-governamentaiscomoobjetivodeinstitucionalizaromodelodeausteridade.Istosignificaque estamos perante uma reconfigurao do exerccio do poder poltico, assente na combinao entre o poder dos eleitoseopoderdosno-eleitos,ouseja,paradarumexemplo,nospasessobresgateestamosperanteo poder do governo eleito e o poder da troika no-eleito.Desde os clssicos Locke e Montesquieu passando pelas anlises da sociologia poltica e do direito sempre existiuumatenso entre a dimensonormativadeumateoriapurada separao depoderes eas dinmicas sociopolticas concretas. Por exemplo, o que resulta dos estudos que captaram esta dinmica atendendo: s diferentes formas de combinao entre poderes polticos e poderessociais envolvendo partidos polticos; s manifestaesdepluralismopoltico(atravsdegruposdepressooudeinteresses);smanifestaesde neocorporativismo; ao auto governo; auto-regulao; judicializao da poltica, politizao da justia; ao uso alternativo do direito; ao activismo judicial; ao direito dos juzes; etc.Talsignificaqueaperspetivadeanlisedopoderdosnoeleitos,nosendonovidade,constituium desenvolvimento desta problemtica (Vibert, 2007). Por exemplo, podem incluir-se nestas manifestaes do poderdosnoeleitosummundoconstitudoporvariadasexpressesqueincluemmercados,organizaes financeiras internacionais, bancos centrais, agncias de regulao, agncias de rating, etc. (Vibert, 2007: 1).Nenhumadestasmanifestaesdepodernovanapticadacinciapolticaedasociologiapoltica, expressando-seatravsdasanlisesqueprocuramcaptarasmanifestaesdeinflunciapolticae econmica(Dahl,1981:23-46)ounacapacidadederegulaodesectoresereaseconmicasesociais diversas.Porm, o queagorahdenovo com o poder dosnoeleitosqueeles passaram aser elementos constitutivos da autoridade poltica, do poder poltico, dos processos de legitimao e de legalidade.Como do conhecimento geral os memorandos assinados com a troika (IMF, EC and ECB) e os governos da Irlanda, Grcia e Portugal determinam a implementao de processos de reforma da legislao, de polticas pblicas, de reformas do estado e da economia, sem as quais no so concedidos os emprstimos financeiros.Para alm disso, existe, ainda, uma outra dimenso ligada a estas intervenes polticas nos estados nacionais pelos no eleitos, que resulta da combinao entre as agendas polticas dos no eleitos e as agendas polticas reformadorasdosgovernos,nomeadamentequantoestesassumemorientaespolticasneoliberais.O exemplo portugus evidencia a forma confusa como no espao pblico se torna difcil determinar a fonte das medidas poltico-jurdicas. A questo subjacente a de que em qualquer caso posto em aco um processo de legitimao e de criao de legalidade que radica nesta combinao perversa e indeterminada entre eleitos e no-eleitos.Aslgicascombinatriasentreambosresultamemreformasorientadaspeloprincpiodaincertezaepela indeterminao. Estando prximos das origens da incerteza e sendo a sua prpria conduta fonte de incerteza para a situao de outros, o exerccio do poder governativo encontra-se, deste modo, livre para fixar o regime deexceodasoberaniaedodireito.Poroutrolado,aindeterminaoquantoverdadeirafontedas 7 de 13 reformas, os memorandos da troika ou agenda poltica nacional do Governo portugus gera uma unidade de medida na interveno governamental dificilmente sujeita ao contraditrio.Onde comeam os requisitos da troika e acaba o programa neoliberal do Governo? Esta ambiguidade permite levaracaboumprocessodereformasradicaisdoEstadoedasociedadeportuguesasobosignodaaus-teridade sem que se enunciem os seus limites, ou se h limites. Asactuaisexperinciasemcursorevelam,porisso,anecessidadededeslocaraanlisedopoderdosno eleitos para o modo como este se combina com as iniciativas dos Governos, a que se podem ainda associar os fenmenos de constituio de governos tecnocrticos como sucedeu na Itlia.Acresce, tambm, a situao limite referida por Ulrich Beck que decorre dos casos em que o parlamento de um pas, neste caso a Alemanha, vota o destino de outra democracia, a grega, ao aprovar os pacotes de ajuda associadosimposiodeausteridadeesrestriesdesoberaniaoramentaldaGrcia.queoseleitos alemessonoeleitosparaosgregos,colocando-se,assim,emevidnciaoesvaziamentoda autodeterminao do povo grego. (Beck, 2013: 15).1.2 A selectividade das polticas e do direito de excepo teorizaodoestadodeexcepoencontra-seassociadaumaextensaliteraturatendoporobjectoo trabalho de Carl Schmitt. Pela minha parte apenas quero retomar a ideia apresentada no primeiro tpico desta comunicaoondesustenteiqueomodeloderealidadesocialdaausteridadefortementemarcadopelos predicadossociolgicosdaexcepcionalidadeenquantopadrodesociabilidadeedeorganizao institucional.Porm,agora,oquepretendorealaratraduodestaexcepcionalidadesocietalem excepcionalidade poltico-jurdica. Acontraposioexistenteentreosfundamentosdoestadodeexcepoenquantocontrapontoaoestado democrtico de direito surge aqui por duas vias: uma tem por origem os intensos debates gerados no espao pblicoenvolvendoacadmicos,nomeadamentejuristasligadosaodireitoconstitucional,polticos, organizaes sindicais etc, as quais invocam a ideia do estado de excepo enquanto elemento crucial para a respostadesesaber se a democracia, no quadro das polticas de austeridade se encontra, ou no, suspensa, ouqualotipoderelaoaestabelecerentreaesferapolticaejurisdicional;asegundatempororigemas reflexeseosestudosdecarcteracadmico,osquaistmporobjectivoreflectiracercadosignificado sociojurdicodoestadodeexceponoactualcontextodesociedadesdemocrticasmarcadaspela austeridade.Aquestononovanoplanoeuropeu,namedidaemqueassituaesdeexcepotendemaser enquadradas pela necessidade do seu controlo democrtico e jurisdicional formal como assinala Maxime St- Hilaire(2011:78).Observaoque,contudo,deveseracompanhadapelasmanifestaesdepreocupao comasmedidasdeausteridadeeexcepcionalidadequetmestadonabasedeestudosdesenvolvidosno mbito do Conselho da Europa. Menos estudado e esta a questo que quero aqui salientar a da conjugao do princpio da excepo com o princpio da selectividade da actuao estatal. Esta articulao terica e analtica afigura-se como profcua, namedidaemqueasevidnciasqueencontramosnaspolticasdeausteridaderevelamadesigual distribuiodasrestriesdossacrifciosentreindivduosegrupossociaispondoemcausaoprincpiodo imprio da lei.Assim quero realar a articulao existente entre a aplicao de medidas de excepo com a selectividade das orientaesestatais.Talexerccio,noactualmomento,pertinente,pordesvelaraheursticadasrelaes contraditrias que mantem com os diferentes grupos e interesses sociais. que para alm das aparncias visveis das estruturas legais, dos processos de tomada de deciso poltica e docomportamento poltico, outras existemquetornam o estadointrpretede racionalidadesreveladoras de processos de selectividade na sua actuao. 8 de 13 Este tema foi analisado criteriosamente por Antnio Hespanha quando identificou a existncia de dois tipos deintervenodoestadoemrelaossituaesedireitosadquiridoseporelegarantidos:oprimeiro correspondendo manuteno da garantia de certos direitos; e o segundo na precarizao geral de outros. Noquadrodoseuargumento,emcausaesttambmousoselectivodoprincpiojurdicodaconfiana,o qualaplicadodesigualmenteconsoanteseestejaperantedireitosdepropriedadeedireitosprovindode contratos entre particulares, ou direitos relativos a prestaes sociais do estado.Umdoselementosqueoautorcriticaodaaparentedistinoentreasobrigaesdoestadoconsoante estejaemcausa,umououtrotipo,dedireitos.Nassuaspalavras,entreasprestaesdoEstado,tem-se frequentemente tratado com deferncia as que so devidas nos termos de contratos e que, por isso, estariam blindadas contra alteraes motivadas pelo interesse pblico, pela correo de vcios estruturais do contrato (como a desproporo das prestaes: contratos leoninos) ou pelos apertos da crise.Temsidoissoquetemdificultadoarenegociaoourescisodecontratosdeparceriapblico-privada geralmentetidoscomolesivos(oualtamentelesivos)dointeressepblico[]Emcontrapartida,outras prestaes do Estado nomeadamente, as que decorrem das polticas pblicas do Estado Social, ou mesmo os salrios do funcionalismo ficam fora desta rea de garantia, ficando sujeitas precarizao (Hespanha, 2011:18-19).Argumentoquesepodeestenderaomodocomoseinterpretamosregimesdepenses, subsdio de desemprego e outras prestaes sociais.1.3 Austeridade e direito de excepo Oterceiropontoremeteparaaproblemticadaproduoeaplicaododireitoeformacomoestasso desafiadaspelasubstituiodoprincpiododireitodemocrtico,porumoutro,baseadoemnormas pretensamentenaturais,tcnicaseexcepcionais(cf.Hespanha,2007:83)maisadequadasaocontextode crise.Odireitodaquiemergentesegueospadresdoatualcapitalismofinanceirocomoummodeloforosode organizao das relaes, no apenas econmicas, mas em geral das relaes humanas. O direito de exceo surgeagoracomoincontornvel,nopodendocontraelevalerasoberaniapopularouoprincpioda produo democrtica do direito (cf. Hespanha, 2007: 84-86). Odireitodeexcepodo modelo deausteridadepartilhacom o conceito de direito lquidotal como se extrai da reflexo sociojurdica desenvolvida pelo trabalho de Zygmunt Bauman - partilha o afastamento dos predicadosdaprevisibilidade,dasegurana edaconfiana,transmutando-seem instrumento dedominao danovaconfiguraodepoderes.Aexcecionalidadedestedireitofazpartedoprocessodeausterizao suportadoporumaracionalidadeinstrumentaledeclculocusto-benefcio,aqualliquidificaefragilizaos obstculos colocados pelo direito at ento vigente (cf. Priban, 2007: 1).Est-seperanteumprocessoderenormativizaodarealidadesocialorientadoparaaflexibilizaodas normasjurdicas,retirando-lhearigidezatravsdasubversodoprincpiodaseguranajurdica.Attulo meramente ilustrativo pode mencionar-se que neste regime jurdico de excepo, princpios gerais de direito comoodano retroactividade das leis, so postosem causa com apromulgao de legislaoque afecta a legislao social em geral (penses, salrios etc).Queroaindamencionarduascaractersticas dodireitodeexcepoeumaconsequnciaquedelasdecorem para as funes do direito (cf. Arnaut e Farinas: 1996).A primeira caracterstica reporta-se relao existente entre tempo e direito. Quando Franois Ost, em 2000, escrevia as palavras introdutrias para os textos resultantes do seminrioA acelerao do tempo jurdico, a austeridadenofaziaaindapartedaagendadeinvestigaosociojurdica.Contudo,aaceleraodotempo jurdico, o ritmo acelerado de adoo, de transformao e de alterao da legislao, a marca da urgncia de uma temporalidade de exceo que se impe hoje como tempo normal (Ostet al, 2000). Se a acelerao pressupeoaumentodavelocidadedasalteraespolticaselegislativas,oquedevemospensardeum direitoedeumanormatividadeprecipitada,tempestiva,instantnea,quereclamaaurgnciacomo autojustificaoparaaprontidodasuaprpriaemergncia?Oquepensardeumdireitodesprovidode 9 de 13 ponderaodemocrtica eincapaz deassegurar asegurana jurdica? Comomanter o justo equilbrio entre estabilidade poltico-normativa e mudana social? Opontodepartidaparaoesboosindagaesodaconsideraodaausteridadeenquantocatalisador histrico do projeto neoliberal. A oposio entre o medo e a esperana, dois estados afetivos temporalmente marcados pela incerteza quanto ao futuro, ficam refns da intensificao da experincia do tempo presente, talcomoHannaArendtsublinhou,rompendocomotempohistricoenquantoalteridadeemrelaoao presente, convertendo-se o passado numa extenso homognea do presente (cf. Genard, 2000: 110). Como se compreender,nosetrataapenasdedarrespostaquestoanalticadarelaoentreoindivduoeas estruturas sociais (ou, dito de outro modo, entre o subjetivo e o objetivo, entre o micro e o macro, ou entre ao e estrutura), mas tambm, e sobretudo, de aferir das implicaes polticas e de cidadania que decorrem do tempo de austeridade (Ferreira, 2005: 116).Asinterpretaesdosefeitossociolgicosresultantesdaintensificaodotempopresentedaausteridade conduzem-meavincartrsconsequnciasdatemporalidadedeexceo.Aprimeira,adarelativizaoda histria edamemria.As sociedades so sistemas pluraisdetempo nem sempresincronizadosuns com os outros.Otempo,deumpontodevistasocial,sexistenamedidaemquecompostoporgrupos, instituieseindivduos,oquepermitesustentaraideiadaexistnciadediferenasdeordemsocialna organizaodotempo.DeacordocomaposiodeGurvitch(1973),noexisteumtempo,mastempos sociais ou uma multiplicidade de tempos sociais (cf. Ferreira, 2005: 115). A dessincronia entre os mltiplos temposvaideparcomastentativasderegulaoparaqueestanoocorra.Omodocomoassociedades organizamesistematizamtemporalmenteinstituies,normas,valores,relaeseprticassociais(Ost, 2001:38-39)traduzoquesepodedefinirporsoberaniatemporal.Nestesentido,otempopoder,por regular poltica, jurdica e socialmente a sociedade. Em momentos de temporalidade de exceo, o conflito entre esta e o reconhecimento do direito construo da temporalidade instala-se. A necessidade de introduzir mecanismos de exceo, suscetveis de reorganizar aconcordnciadostempos,torna-senumcampodetensoentreatemporalidadedaausteridadeeada sociedadenacional.Oqueestemjogoodomniosobreacapacidaderegulatriadasincronizaodos ritmos sociais, quer se trate de partilhar e organizar o tempo de trabalho, de redistribuir o tempo livre, e de repensar a solidariedade intergeracional e os mecanismos de proteo e segurana social (cf. Ost, 2001: 41).A segunda consequncia a da transformao do princpio da segurana jurdica em insegurana jurdica eontolgica.Otempojurdicoumaspetoimportantequandofalamosdeseguranajurdica,entendida comootemponecessrioparaqueocorraaconstruodeumaculturajurdicaadaptadasociedadeque procuraregularedeumaconsolidaodoprpriodireitoedosseusprincpios(Commaille,1998:320). nessesentido que Jacques Commailese refere viso do tempo por parte do jurista como sendo paradoxal (1998: 321). Por um lado, a necessidade de que o tempo jurdico acompanhe a mudana social, por outro, a ambio de inscrever a lei jurdica no tempo longo da histria e no no tempo curto das paixes humanas e das suas cegueiras perante o imediato (Commaille, 1998: 321).O tempo da segurana jurdica , deste modo, um tempo longo, caracterstica essencial para a afirmao de uma cultura jurdica que no seja influenciada por fatores meramente conjunturais. Todavia, o desfasamento entreoprincpiodaseguranajurdicaeatemporalidadedeexceoprovocainstabilidadepoltico-social. Neste caso, as exigncias de curto prazo obrigam a alteraes legislativas que colocam em causa princpios gerais do direito. Ainseguranajurdicadaquiresultante,concomitantemente,inseguranaontolgicapor desinstitucionalizar relaes sociais cuja consolidao havia ocorrido no tempo longo do direito. A acelerada desjuridificao ou radical alterao do direito induz, por isso, um efeito de precarizao e eroso da coeso social.que,comorefereFranoisOst,afunoprincipaldojurdicocontribuirparaainstituiodo social: mais do que interditos e sanes, como outrora se pensava, ou clculo e gesto, como frequentemente seacreditahoje,odireitoumdiscursoperformativo,umtecidodeficesoperatriasqueexprimemo sentido e o valor da vida em sociedade. Institui quer aqui dizer estreitar o elo social e oferecer aos indivduos ospontosdereferncianecessriosidentidadeeautonomia.sobongulodoseucontributoparaa 10 de 13 subtraoaoestadodenaturezaeasuaviolnciasempreameaadora,sobongulodasuacapacidadede instituio, que o direito ser pois interrogado (2001: 14).A terceira a do tempo do consentimento na sua relao com a teoria democrtica. Otempo jurdico uma construo social, logo, uma questo de poder, uma exigncia tica e um objeto jurdico (Ost, 2001: 12). O direito tem, como mencionei, como funo principal contribuir para a instituio do social, ou seja, dar um sentidoeumvalorvidaemsociedade.Estavisododireitorompecomasperspetivaspositivistase autorreferenciaisqueexteriorizamostempossocialepolticododireito,realandoqueapenasotempo jurdico confere uma capacidade instituinte ao mesmo.Nestesentido,JacquesCommaille(1998:318)consideraarelevnciadainteraoeconfrontoentreas diferentestemporalidadesexistentesnasociedade.Esteautoridentificatrsgruposdetemporalidades:os tempossociais,ostempospolticoseostemposjurdicos.Osdoisprimeirostempos,pelassuasprprias transformaes,nomeadamenteasquesemanifestamporumadiluiodosmarcostemporais,uma multiplicaodostempossociaisemrelaocomasrecomposiesdomundosocial,enosmodosde exercciodopoder,contribuemparaastransformaesdastemporalidadesjurdicas(cf.Commaille,1998: 319).Daquiretira-seoargumentodeaspolticasdodireitotambmserempolticasdotempododireito, interdependentesdateoriademocrtica,namedidaemqueasvriasconceesdedemocraciaassumem diferentesentendimentosquantoaolugarocupadopeloconflito.Asperspetivasradicaisdateoriademo-crtica reiteram a centralidade e relevncia cidad do conflito, contrapondo-o s concees consensualistas e shegemnicasdademocracialiberal(Mouffe,1996:11-20).Poressarazo,otempoderesoluodos conflitos to importante para as concees radicais de democracia (cf. Ferreira, 2005: 116).1.4 A judicializao da poltica e a jurisprudncia da austeridade Asquestesdajudicializaodapolticaedapolitizaodajustiatmsidodebatidasdeumaforma aprofundadanombitodadisciplinadasociologiadodireito.Pelaminhapartenovouentrarnodebate terico,avanando,alternativamente,comumareflexosugeridapelaactuaodoTribunalConstitucional portugus no actual contexto.Assim, ao invocar esta problemtica a minha inteno a de a associar ao debate em torno da sociedade de austeridade, das suas polticas e dos seus direitos a problemtica da judicializao da poltica.Opontodepartidapara a minhareflexo assentana ideiade queexisteumatenso inultrapassvel entre o modelo poltico-jurdico da austeridade e a Constituio Portuguesa.Em termos gerais, o meu argumento o de que, no caso portugus, a conjugao do poder dos eleitos e dos no-eleitos,atravsdosmemorandosdatroikaedaacopolticadogoverno,vonumsentido eminentementeneoliberalafastadodopactopolticoestabelecidoem1976comapromulgaoda Constituio, no obstante as sucessivas revises constitucionais entretanto ocorridas.Deoutromododito,julgoqueoqueaquiestemcausaacriaodecondiesquepressionemou contribuam,aoabrigodosargumentosdaausteridadeedaexcepo,paraacelebraodeumnovopacto polticodematrizneoliberalcapazdeprocederaoajustedecontaspoltico-ideolgicodomodelo democrtico institucionalizado depois de 1974. Esteprincpiodeoportunidadepolticoaproveitadopeladireitaneoliberalportuguesaencontravigorno modoclarocom que a JP Morganno relatrio"The Euro area adjustment: about halfway there"menciona expressamentequequeremPortugalcomonoutrospasesemcrise,senofossemosconstrangimentos constitucionais" tudo at estaria a correr bem!.Emdiscurso(Setembro2013),oprimeiro-ministroportugusexerceupressosobreoTribunal Constitucional argumentando que existe o risco constitucional de algumas medidas de austeridade em curso seremdeclaradasinconstitucionaise,setalsuceder,haverumretrocessonocombatecriseeaos sacrifcios j exigidos aos portugueses. 11 de 13 Aquestodaconstitucionalidadedasmedidasdeausteridadecolocou-sedesde2011comossucessivos pacotes legislativos resultantes das negociaes com a troika, e significativamente sempre versaram questes relacionada com as polticas do estado social. Emboaverdade,noactualcontexto,astensesentreopolticoeojudicialestoassociadasspolticase direitossociaisdoestadosocial,asquaissoapresentadasnoespaopblicoenodebatepolticocomo impeditivasdarecuperaodopas.Porestarazo,ajudicializaodapolticanocasodaausteridade sinnimo de judicializao da questo social.Na perspectiva do direito constitucional as diferentes posies dos actores polticos e jurdicos decorrem das interpretaesdosprincpiosdaconfiana,daigualdade,daproporcionalidade,daseguranajurdicaeda equidade.Numbreverelato,refira-sequeoTribunalConstitucionalaprovouoprimeirooramentodeestadode austeridadeem2011oqualcontinhafortesmedidasrestritivas,nomeadamenteumareduodas remuneraes,entre3,5%e10%(consoanteoseumontante)deumamplouniversodepessoas,sendo genericamenteabrangidostodosquantosauferiamretribuiesmensaispagaspordinheirospblicos, superiores a 1500 euros, considerando o carcter transitrio destas medidas.Alis,atemporalidadelimitadadasmedidasassociadasaooramentodeestadoparecetersidoumdos elementos determinantes para a no declarao da inconstitucionalidade das mesmas.De igual modo, o Tribunal Constitucional mostrou-se sensvel aos compromissos assumidos com instncias europeiaseinternacionaisnaimposiodesacrifcios,osquais,noentanto,noassumiramumcarcter universalconsiderando-semesmoquequemrecebeporverbas pblicas noestemposiodeigualdade comosrestantescidados,peloqueosacrifcioadicionalqueexigidoaessacategoriadepessoas vinculadaqueelaest,oportunolembr-lo,prossecuodointeressepbliconoconsubstanciaum tratamento injustificadamente desigual. OsentidodestaprimeiradecisodoTribunalConstitucionalperanteumoramentodeausteridadeveio posteriormente a sofrer uma inflexo, tendo sido declaradas inconstitucionais vrias medidas constantes dos posteriores oramentos de estado aprovados pela maioria parlamentar de direita de 2012 e 2013, bem como de outros decretos-lei promulgados pelo governo.Nestascircunstnciaseseconsiderarmososdoisltimosacrdos,asmedidasimpostasso,agora, encaradaspeloTribunalConstitucionalcomoultrapassandooslimitesdosacrifcioedaequidade, nomeadamente,querpeloforteagravamentodosmontantespecuniriosesalariaisretirados,querpelo alargamentodouniversoabrangidoondeparaalmdostrabalhadoresseincluemagorareformadose pensionistas e, ainda, ponto significativo nas discusses sobre a austeridade e a excepo, por expressamente seaplicaremdefinitivamente,nosendoadmitidaqualquerclusuladetemporalidadesmedidasde excepo.OTribunalConstitucionalinvocouaviolaodosprincpiosdaconfiana,daigualdade,da proporcionalidade, do Estado de direito democrtico e do direito segurana social. Resultadaactividadedo TribunalConstitucionalnaapreciaodaspolticasde excepo edeausteridade, queapsumprimeiromomentoondeseadmitiuanecessidadedeconformarapolticaeodireitos condicionalidadesexternasimpostaspelatroika,parece,agora,estaraevoluir-senumsentidopreservador dos princpios constitucionais.Atensoentreamaioriaparlamentar,ogovernodedireitaeoTribunalConstitucionalnoseesgotanas decises deste ltimo. Assumindo a obrigao de respeitar as decises do Tribunal Constitucional o governo utilizaasmesmas como pretexto paraacelerar um processo amplo dereformado estado social. por isso, que aps o chumbo o terceiro oramento de estado (2013) e invocando essa mesma razo, lana um conjunto deactividadesconcertadosnoespaopblicoenvolvendoacadmicoseespecialistasdedireito constitucional no sentido de fundamentar a necessidade de reformar o estado. 12 de 13 Aps encomendar um estudo ao FMI, o governo e os seus apoiantes passaram a referir que este documento forneceria os termos de referncia para a inevitvel reforma do estado, sem a qual no se poderia cumprir os objectivonegociadoscomatroika.Estareacoconfigura,emmeuentender,umaformadepolitizaoe utilizaoestratgicadasdecisesdoTribunalConstitucional,queagoraapresentadoopiniopblica comoforadebloqueioimpeditivadorespeitoquedeveserexigidoaoscompromissosassumidoscoma troika. Recordo,noentanto,quenosencontramosemplenoplanodeinterpretaosociolgicaedeinterveno polticaondeaambiguidadeeindeterminaoquantosmedidasdeausteridadecomoprocureiilustrarno tpico anterior.Asituaodopoderjudicial,nestecontexto,adquireumacentralidaderenovada,ponderando-seomodo comosearticularcomasdecisespolticasdaausteridade.Mantendooargumentodanormatividadede exceoassociadaausteridade,afronteiraentreoconstitucionaleoinconstitucionaltornar-se- inevitavelmenteumcampodedisputapoltica.Emparticular,seasdecisesdostribunaisvalorizarema singularidade do atual momento.Domesmomodo,alteraesdascircunstnciasquedeterminemainvocaodaexcecionalidadeparaa legitimaodaausteridadecolocamsobpressoasinterpretaesdalegislaofeitaspelostribunais.no mbito desta tenso que podem convocar-se as discusses sobre o novo constitucionalismo, nomeadamente, quando se sublinha a ideia de que o ativismo judicial surge quando se est perante situaes em que o Estado intervm, seletivamente, na prossecuo de polticas pblicas.Noquadrodassuasfunes(Santosetal,1996:51-56),aatividadedostribunais,nocontextodecrise, revela a existncia de uma jurisprudncia da austeridade que tem por objeto o direito de exceo. sabido que os tribunais desempenham um forte papel de racionalizao da legislao, tanto maior quanto ela assuma umcarcterpoliticamentecontroverso.Do ponto de vistapoltico, asua capacidade deponderao sobre a atividadedospoderesexecutivoelegislativotorna-ossujeitosativosnaatualfasedetransformaoda sociedade portuguesa.2. Caminhos para uma sociologia poltica do direito de austeridade Neste ltimo tpico, desenvolvo o que me parecem ser cenrios ou caminhos possveis para a construo de programasdeinvestigaoedeacoapropsitodeumasociologiadodireitodeausteridadeouuma sociologiapolticadodireitodeausteridade.Tenhoassimpresente,nasequnciadostrabalhosdeJacques Commailles,queodireitoreveladordasmetamorfosesdopoltico,edequeodireitoeapolticase combinamdediferentesformas.Emconjunto,constituemaportadeentradaparaodebateacercada sociedade de austeridade (Commaille, 2009: 9). Deste modo, peo-vos que encarem os cenrios ou caminhos que vos irei propor observando os seguintes pressupostos.Emprimeirolugar,elesdecorremdeumexercciodereflexotendoporbaseumasociologiadodireito crticae,porisso,disponvel,aenfrentarosproblemasdecorrentesdaarticulaoentreadimenso normativaecognitivadarealidadesocial.Poressarazo,tenhodepartilharconvoscoquenaminha identidade como socilogo do direito parto da defesa de pressupostos normativos (apriorsticos ou extrados darealidadesocial!)acercadoquedeveserumasociedadedignaedemocrtica.Procureiabordaresta questo no meu ltimo livro e em outros trabalhos por mim publicados.Emsegundolugar,asociologiadodireito,comosobejamenteconhecido,dispedasferramentasedos instrumentos de investigao necessrios para conduzir processos de investigao cientfica. Neste particular, aestratgiadeteorizaoedeinvestigaoqueutilizoaproxima-sedasorientaesestabelecidaspor Roberto Merton a propsito das teorias de mdio alcance.A relao entre ambos os pressupostos encontra uma boa sntese no trabalho de Boaventura de Sousa Santos, oqualsempreafirmouqueadesejvelobjectividadecientficanosedeveconfundircomneutralidade axiolgica. Acresce, ainda, uma possvel articulao com as propostas de reflexividade legal entre diferentes actores sociais: juristas, socilogos do direito, actores sociais envolvidos na mobilizao dos direitosetc., e 13 de 13 porestaviacriarcondiesfavorveisparaosdebatesquepodemcontribuirparaoaprofundamentoda democracia e da dignidade.Referncias Bibliogrficas Arnaud,Andr-Jean;eFariasDulce,MaraJos(1996),Sistemasjurdicos: elementosparaunanlisis sociolgico.Madrid:ImprentaNacionaldelBoletn Oficial del Estado. Bauman,Zygmunt(2007),ModernidadeeAmbivalncia.Lisboa:RelgioDgua. Dahl, Robert (1981), Anlise Poltica Moderna. Braslia: Editora Universidadede Braslia. Beck, Ulrich (2013), A Europa Alem De Maquiavel a Merkievel: Estratgiasde poder na crise do Euro. Lisboa: Edies 70 Bec,Colette(2007),DeltatsocialltatdesDroitsdeLHomme?Rennes:Presses Universitaires de Rennes. Commaille, Jacques (2009), O Modelo de Janus da regulao jurdica. O carcterreveladordastransformaes do estatuto poltico da justia, Revista Crtica deCincias Sociais, 87: 95-119 Commaille, Jacques (1998), La rgulation des temporalits juridiques par lesocial et le politique, in Mark Van Hoecke e Franois Ost (orgs.), Temps et droit.Le droit a-t-il pour vocation durer? Bruxelles:Bruylant, pp. 317-338 Ferreira,AntnioCasimiro(2005),Trabalhoprocurajustia:ostribunaisdetrabalhonasociedade portuguesa. Coimbra: Almedina. Genard, Jean-Louis (2000), Le temps de la responsabilit, In Philippe Grard,Franois Ost e Michel Van de Kerchove(dirs.),Lacclrationdutempsjuridique.Bruxelles:PublicationsdesFcultesuniversitaires Saint-Louis, pp. 105-125. Hespanha, Antnio (2007), O caleidoscpio do direito. O direito e a justia nosdias e no mundo de hoje. Coimbra: Almedina Merrien,Franois-Xavier(2007),Lesdevenirsdelasolidaritsociale,InSergePaugam(org.), Repenser la solidarit Lpport des sciences socials. Paris: PUF,pp. 839-886. Mouffe, Chantal (1996), O regresso do poltico. Lisboa: Gradiva. Ost, Franois (2000), Lacclration du temps juridique, in Philippe Grard,Franois Ost e Michel van de Kerchove(orgs.),Lacclrationdutempsjuridique.Bruxelles:PublicationsdesFcultesuniversitaires Saint-Louis, pp. 7-14. Ost, Franois (2001), O tempo do direito. Lisboa: Instituto Piaget. Pib, Ji (ed.) (2007), Liquid Society and Its Law. Aldershot, UK: Ashgate. Vibert, Frank (2007), The rise of the unelected: Democracy and the new separationsofpower.Cambridge: Cambridge University Press.