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Vinicius Moraes

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A Historia de um Poeta (Livro Completo)

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ALLAN GOMES

LORENA LEMOS

EDIÇÃO ÚNICA

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Copyright © 2013 by Lorena Lemos and Allan Gomes

Preparo: Lorena Lemos e Allan Gomes

Revisão: Valéria Lemos

Projeto Gráfico: Lorena Lemos

Capa: Allan Gomes

Acabamento: Alphagraphics

Edição: Única

Ano: 2013

Editora:

Título: Vinícius de Moraes – A História de um Poeta

________________

IMPRESSO NO BRASIL/PRINTED IN BRAZIL

IMPRESSÃO POR: ALPHAGRAPHICS

Rua Guararapes, 1855 – CEP 04561-003 – SÃO PAULO

www.alphagraphics.com.br

Tel. (11) 5505-0045/ [email protected]

DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO À

EDITORA CLUBE DE AUTORES LTDA.

www.clubedeautores.com.br

www.facebook.com/cdautores

[email protected]

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Os Autores

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Allan

"Eu descobri em mim mesmo desejos

os quais nada nesta Terra pode satisfazer.

A única explicação lógica é que

eu fui feito para outro mundo."

C.S. Lewis

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Lorena

“Ela pinta o rosto para

se esconder, seus olhos

são águas profundas."

Memorias de uma Gueixa

Luciana'
Typewritten Text
Luciana'
Typewritten Text
´
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Índice Biografia _________________________________ 13

Obras _____________________________________ 41

Poemas __________________________________ 51

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Biografia Na tempestuosa madrugada de 19 de

outubro de 1913, nascia o garoto Vinitius. A

grafia está correta. Seu pai, Clodoaldo Pereira

da Silva Moraes, um apaixonado pelo latim,

dera a ele este nome. Naquela noite nascia na

Gávea, o futuro garoto de Ipanema.

Escreveu seu primeiro poema de amor

aos 9 anos, inspirado em uma colega de escola

que reencontraria 56 anos depois. Seus

amores eram sua inspiração. Oficialmente,

teve nove mulheres: Tati (com quem teve

Susana e Pedro), Regina Pederneiras, Lila

Bôscoli (mãe de Georgina e Luciana), Maria

Lúcia Proença (seu amor maior, musa

inspiradora de Para viver um grande amor),

Nelita, Cristina Gurjão (mãe de Maria), a

baiana Gesse Gessy, a argentina Marta

Ibañez e, por último, Gilda Mattoso.

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Mulherengo? Não, “mulherólogo”, como ele

costumava se definir.

Tati, a primeira, única com quem casou

no civil, é a inspiradora dos famosos versos

“Que não seja imortal, posto que é chama/ Mas

que seja imortal enquanto dure”. Deixou-a

para viver com Regina Pederneiras. O

romance durou um ano, depois do que ele

voltou com Tati para deixá-la,

definitivamente, em 1956 e casar com Lila,

então com 19 anos, irmã de Ronaldo Bôscoli.

Foi nessa época que o poeta conheceu Tom

Jobim e o convidou para musicar sua peça

Orfeu da Conceição. Desta parceria,

surgiriam músicas símbolos da Bossa Nova

como Chega de Saudade e Garota de Ipanema,

feita para Helô Pinheiro, então uma garotinha

de 15 anos que passava sempre pelo bar onde

os dois bebiam. No ano seguinte, 1957, se

casaria com Lucinha Proença depois de oito

meses de amor escondido, afinal, ambos eram

casados. A paixão durou até 1963. Foi pelos

jornais que Lucinha, já separada, soube da ida

de Vinícius para a Europa “com seu novo

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amor”, Nelita, 30 anos mais jovem. Minha

namorada, outro grande sucesso, foi inspirado

nela.

Em 1966, seria a vez de Cristina Gurjão,

26 anos mais jovem e com três filhos. Com

Vinícius teve mais uma, Maria, em 1968.

Quando estava no quinto mês de gravidez,

Vinícius conheceu aquela viria a ser sua

próxima esposa, Gesse Gessy. No segundo

semestre de 69 começa sua parceria com

Toquinho. No dia de seu aniversário de 57

anos, em 1970, em sua casa em Itapuã,

Vinícius transformaria Gesse Gessy, então

com 31 anos, em sua sétima esposa. Gesse

seria diferente das outras e comandaria a vida

de Vinícius com bem entendesse. Em 1975, já

separado dela, ele se declara apaixonado por

Marta Ibañez, uma poeta argentina. No ano

seguinte se casariam. Ele tinha quase 40 anos

mais que ela.

Em 1972, a estudante de Letras Gilda

Mattoso conseguiu um autógrafo do astro

Vinícius após um show para estudantes da

UFF, em Niterói (RJ). Quatro anos depois o

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amor se concretizaria. O poeta, já sessentão;

ela, com 23 anos.

Na noite de 8 de julho de 1980, acertando

detalhes das canções do LP Arca de Noé com

Toquinho, Vinícius, já cansado, disse que iria

tomar um banho. Toquinho foi dormir. Pela

manhã foi acordado pela empregada que

encontrara Vinícius na banheira com

dificuldades para respirar. Toquinho correu

para o banheiro, seguido de Gilda. Não houve

tempo para socorrê-lo. Vinícius de Moares

morria na manhã de 9 de julho. No enterro,

abraçada a Elis Regina, Gilda lembrava da

noite anterior, quando em uma entrevista,

perguntaram ao poeta: “Você está com medo

da morte?”. E Vinícius, placidamente,

respondeu: “Não, meu filho. Eu não estou com

medo da morte. Estou é com saudades da

vida”.

Cronologia da Vida e da Obra

1913

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Nasce, em meio a forte temporal, na

madrugada de 19 de outubro , no antigo nº 114

(casa já demolida) da rua Lopes Quintas, na

Gávea, ao lado da chácara de seu avô materno,

Antônio Burlamaqui dos Santos Cruz. São

seus pais d. Lydia Cruz de Moraes e Clodoaldo

Pereira da Silva Moraes, este, sobrinho do

poeta, cronista e folclorista Mello Moraes

Filho e neto do historiador Alexandre José de

Mello Moraes.

1916

A família muda-se para a rua Voluntários da

Pátria, nº 192, em Botafogo, passando a

residir com o aos avós paternos, d. Maria da

Conceição de Mello Moraes e Anthero Pereira

da Silva Moraes.

1917

Nova mudança para a rua da Passagem, nº

100, ainda em Botafogo, onde nasce seu

irmão Helius. Vinicius e sua irmã Lygia

entram para a escola primária Afrânio

Peixoto, à rua da Matriz.

1919

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Transfere-se para a rua 19 de fevereiro, nº

127

1920

Mudança para a rua Real Grandeza, nº130.

Primeiras namoradas na escola Afrânio

Peixoto. È batizado na maçonaria, por

disposição de seu avô materno, cerimônia que

lhe causaria grande impressão.

1922

Última residência em Botafogo, na rua

Voluntários da Pátria, nº 195. Impressão de

deslumbramento com a exposição do

Centenário da Independência do Brasil e de

curiosidade com o levante do Forte de

Copacabana, devido a uma bomba que

explodiu perto de sua casa. Sua família

transfere-se para a Ilha do Governador, na

praia de Cocotá, nº 109-A, onde o poeta passa

suas férias.

1923

Faz sua primeira comunhão na Matriz da

rua Voluntários da Pátria.

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19

1924

Inicia o Curso Secundário no Colégio Santo

Inácio, na rua São Clemente. Começa a

cantar no coro do colégio, durante a missa de

domingo. Liga-se de grande amizade a seus

colegas Moacyr Veloso Cardoso de Oliveira e

Renato Pompéia da Fonseca Guimarães,

este, sobrinho de Raul Pompéia, com os quais

escreve o "épico" escolar, em dez cantos, de

inspiração camoniana: os acadêmicos. A

partir daí participa sempre das festividades

escolares de encerramento do ano letivo, seja

cantando, seja atuando nas peças infantis.

1927

Conhece e torna-se amigos dos irmãos Paulo

e Haroldo Tapajoz, com os quais começa a

compor. Com eles, e alguns colegas do

Colégio Santo Inácio, forma um pequeno

conjunto musical que atua em festinhas, em

casa de famílias conhecidas.

1928

Compõe, com os irmãos Tapajoz, "Loura ou

morena" e "Canção da noite", que têm grande

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sucesso popular. Por essa época, namora

invariavelmente todas as amigas de sua irmã

Laetitia.

1929

Bacharela-se em Letras, no Santo Inácio.

Sua família muda-se da Ilha do Governador

para a casa contígua àquela onde nasceu, na

rua Lopes Quintas, também já demolida.

1930

Entra para a faculdade de Direito da rua do

Catete, sem vocação especial. Defende tese

sobre a vinda de d. João VI para o Brasil

para ingressar no "Centro Acadêmico de

Estudos Jurídicos e Sociais" (CAJU), onde se

liga de amizade a Otávio de Faria, San

Thiago Dantas, Thiers Martins Moreira,

Antônio Galloti, Gilson Amado, Hélio Viana,

Américo Jacobina Lacombe, Chermont de

Miranda, Almir de Andrade e Plínio Doyle.

1931

Entra para o Centro de Preparação de

Oficiais da Reserva (CPOR).

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1933

Forma-se em Direito e termina o Curso de

Oficial de Reserva. Estimulado por Otávio de

Faria, publica seu primeiro livro, O caminho

para a distância, na Schimidt Editora.

1935

Publica Forma e exegese, com o qual ganha o

prêmio Felipe d’Oliveira.

1936

Publica, em separata, o poema "Ariana, a

mulher". Substitui Prudente de Morais Neto,

como representante do Ministério da

Educação junto à Censura Cinematográfica.

Conhece Manuel Bandeira e Carlos

Drummond de Andrade, dos quais se torna

amigo.

1938

Publica novos poemas e é agraciado com a

primeira bolsa do Conselho Britânico para

estudar língua e literatura inglesas na

Universidade de Oxford (Magdalen College),

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para onde parte em agosto do mesmo ano.

Funciona como assistente do programa

brasileiro da BBC. Conhece, em casa de

Augusto Frederico Schimidt, o poeta e

músico Jayme Ovalle, de quem se torna um

dos maiores amigos.

1939

Casa-se por procuração com Beatriz Azevedo

de Mello. Regressa da Inglaterra em fins do

mesmo ano, devido à eclosão da II Grande

Guerra. Em Lisboa encontra seu amigo

Oswald de Andrade com quem viaja para o

Brasil.

1940

Nasce sua primeira filha, Susana. Passa

longa temporada em São Paulo, onde se liga

de amizade com Mário de Andrade.

1941

Começa a fazer jornalismo em A Manhã,

como crítico cinematográfico e a colaborar no

Suplemento Literário ao lado de Rineiro

Couto, Manuel Bandeira, Cecília Meireles e

Afonso Arinos de Melo Franco, sob a

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orientação de Múcio Leão e Cassiano

Ricardo.

1942

Inicia seu debate sobre cinema silencioso e

cinema sonoro, a favor do primeiro, com

Ribeiro Couto, e em seguida com a maioria

dos escritores brasileiros mais em voga, e do

qual participam Orson Welles e madame

Falconetti. Nasce seu filho Pedro. A convite

do então prefeito Juscelino Kubitschek,

chefia uma caravana de escritores brasileiros

a Belo Horizonte, onde se liga de amizade

com Otto Lara Rezende, Fernando Sabino,

Hélio Pelegrino e Paulo Mendes Campos.

Inicia, com seus amigos Rubem Braga e

Moacyr Werneck de Castro, a roda literária

do Café Vermelhinho, à qual se misturam a

maioria dos jovens arquitetos e artistas

plásticos da época, como Oscar Niemeyer,

Carlos Leão, Afonso Reidy, Jorge Moreira,

José Reis, Alfredo Ceschiatti, Santa Rosa,

Pancetti, Augusto Rodrigues, Djanira, Bruno

Giorgi. Freqüenta, nessa época, as

domingueiras em casa de Aníbal Machado.

Conhece e se torna amigo da escritora

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Argentina Maria Rosa Oliver, através da

qual conhece Gabriela Mistral. Faz uma

extensa viagem ao Nordeste do Brasil

acompanhando o escritor americano Waldo

Frank, a qual muda radicalmente sua visão

política, tornando-se um antifacista convicto.

Na estada em Recife, conhece o poeta João

Cabral de Melo Neto, de quem se tornaria,

depois, grande amigo.

1943

Publica suas Cinco elegias, em edição

mandada fazer por Manuel Bandeira, Aníbal

Machado e Otávio de Faria. Ingressa, por

concurso, na carreira diplomática.

1944

Dirige o Suplemento Literário de O Jornal,

onde lança, entre outros, Oscar Niemeyer,

Pedro Nava, Marcelo Garcia, francisco de Sá

Pires, Carlos Leão e Lúcio Rangel, em

colunas assinadas, e publica desenhos de

artistas plásticos até então pouco conhecidos,

como Carlos Scliar, Athos Bulcão, Alfredo

Ceschiatti, Eros (Martim) Gonçalves, Arpad

Czenes e Maria Helena Vieira da Silva.

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1945

Colabora em vários jornais e revistas, como

articulista e crítico de cinema. Faz amizade

com o poeta Pablo Neruda. Sofre um grave

desastre de avião na viagem inaugural do

hidro Leonel de Marnier, perto da cidade de

Rocha, no Uruguai. Em sua companhia estão

Aníbal Machado e Moacir Werneck de

Castro. Faz crônicas diárias para o jornal

Diretrizes.

1946

Parte para Los Angeles, como vice-cônsul, em

seu primeiro posto diplomático. Ali

permanece por cinco anos sem voltar ao

Brasil. Publica em edição de luxo, ilustrada

por Carlos Leão, seu livro, Poemas, sonetos e

baladas.

1947

Em Los angeles, estuda cinema com Orson

Welles e Gregg Toland. Lança, com Alex

Viany, a revista Film.

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1949

João Cabral de Melo Neto tira, em sua

prensa mensal, em Barcelona, uma edição de

cinqüenta exemplares de seu poema "Pátria

minha".

1950

Viagem ao México para visitar seu amigo

Pablo Neruda, gravemente enfermo. Ali

conhece o pintor David Siqueiros e

reencontra seu grande amigo, o pintor Di

Cavalcanti. Morre seu pai. Retorno ao brasil.

1951

Casa-se pela segunda vez com Lila Maria

Esquerdo e Bôscoli. Começa a colaborar no

jornal Última Hora, a convite de Samuel

Wainer, como cronista diário e

posteriormente crítico de cinema.

1952

Visita, fotografa e filma, com seus primos,

Humberto e José Francheschi, as cidades

mineiras que compõe o roteiro do

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Aleijadinho, com vistas à realização de um

filme sobre a vida do escultor que lhe for a

encomendado pelo diretor Alberto

Cavalcanti. É nomeado delegado junto ao

festival de Punta Del Leste, fazendo

paralelamente sua cobertura para o Última

Hora. Parte logo depois para a Europa,

encarregado de estudar a organização dos

festivais de cinema de Cannes, Berlim,

Locarno e Veneza, no sentido da realização

dos Festival de Cinema de São Paulo, dentro

das comemorações do IV Centenário da

cidade. Em Paris, conhece seu tradutor

francês, Jean Georges Rueff, com quem

trabalha, em Estrasburgo, na tradução de

suas Cinco elegias.

1953

Nasce sua filha Georgiana. Colabora no

tablóide semanário Flan, de Última Hora,

sob direção de Joel Silveira. Aparece a edição

francesa das Cinq élégies, em edição de

Pierre Seghers. Liga-se de amizade com o

poéta cubano Nicolás Guillén. Compõe seu

primeiro samba, música e letra, "Quando tú

passas por mim". Faz crônicas diárias para o

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jornal A Vanguarda, a convite de Joel

Silveira. Parte para Paris como segundo

secretário de Embaixada.

1954

Sai a primeira edição de sua Antologia

Poética. A revista Anhembi publica sua peça

Orfeu da Conceição, premiada no concurso de

teatro do IV Centenário do Estado de São

Paulo.

1955

Compões em Paris uma série de canções de

câmara com o maestro Cláudio Santoro.

Começa a trabalhar para o produtor Sasha

Gordine, no roteiro do filme Orfeu Negro. No

fim do ano vem com ele ao Brasil, por uma

curta estada, para conseguir financiamento

para a produção da película, o que não

consegue, regressando em fins de dezembro a

Paris.

1956

Volta ao Brasil em gozo de licença-prêmio.

Nasce sua terceira filha, Luciana. Colabora

no quinzenário Para Todos a convite de seu

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amigo Jorge amado, em cujo primeiro

número publica o poema "O operário em

construção". Paralelamente aos trabalhos da

produção do filme Orfeu Negro, tem o ensejo

de encenar sua peça Orfeu da Conceição, no

Teatro Municipal, que aparece também em

edição comemorativa de luxo, ilustrada por

Carlos Scliar. Convida Antônio Carlos Jobim

para fazer a música do espetáculo, iniciando

com ele a parceria que, logo depois, com a

inclusão do cantor e violonista João Gilberto,

daria início ao movimento de renovação da

música popular brasileira que se

convencionou chamar de bossa nova. Retorna

ao poste, em Paris, no fim do ano.

1957

É transferido da Embaixada em Paris para a

Delegação do Brasil junto à UNESCO. No

fim do ano é removido para Montevidéu,

regressando, em trânsito, ao Brasil. Publica

a primeira edição de seu Livro de Sonetos,

em edição de Livros de Portugal.

1958

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Sofre um grave acidente de automóvel. Casa-

se com Maria Lúcia Proença. Parte para

Montevidéu. Sai o LP Canção do Amor

Demais, de músicas suas com Antônio Carlos

Jobim, cantadas por Elizete Cardoso. No

disco ouve-se, pela primeira vez, a batida da

bossa novas, no violão de João Gilberto, que

acompanha acantora em algumas faixas,

entre as quais o samba "Chega de Saudade",

considerado o marco inicial do movimento.

1959

Sai o Lp Por Toda Minha Vida, de canções

suas com Jobim, pela cantora Lenita Bruno.

O filme Orfeu negro ganha a Palme d’Or do

Festival de Cannes e o Oscar, de Hollywood,

como melhor filme estrangeiro do ano.

Aparece o seu livro Novos poemas II. Casa-se

sua filha Susana.

1960

Retorna à Secretria do Estado das Relações

Exteriores. Em novembro, nasce seu neto,

Paulo. Sai a segunda edição de sua Antologia

Poética, pela Editora de Autor; a edição

popular da peça Orfeu da Conceição, pela

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livraria São José e Recette de Femme et

autres poèmes, tradução de Jean-Georges

Rueff, em edição Seghers, na coleção Autour

du Monde.

1961

Começa a compor com Carlos Lira e

Pixinguinha. Aparece Orfeu Negro, em

tradução italiana de P.A. Jannini, pela

Nuova Academia Editrice, de Milão.

1962

Começa a compor com Baden Powell, dando

inicio à série de afro-sambas, entre os quais,

"Berimbau" e "Canto de Ossanha". Compõe,

com música de Carlos Lyra, as canções de

sua comédia-musicada Pobre menina rica.

Em agosto, faz seu primeiroshow, de larga

repercussão, comAntônio Carlos Jobim e

João Gilbert,na boate AuBom Gourmet, que

daria início aos chamados pocket-shows, e

onde foram lançados pela primeira vez

grandes sucessos internacionais como

"Garota de Ipanema" e o "Samba da bênção"

Show com Carlos Lyra,na mesma boate,

paraapresentar Pobre menina rica e onde é

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lançada a cantora Nara Leão. Compõe com

Ari Barroso as últimas canções do grande

compositor popular, entre as quais "Rancho

das namoradas". Aparece a primeira edição

de Para viver um grande amor, pela Editora

do Autor, livro de crônicas e poemas. Grava,

como cantor, seu disco com a atriz e cantora

Odete Lara.

1963

Começa a compor com Edu Lobo. Casa-se

com Nelita Abreu Rocha e parte em posto

para Paris, na delegação do Brasil junto a

UNESCO.

1964

Regressa de Paris e colabora com crônicas

semanais para a revista Fatos e Fotos,

assinando paralelamente crônicas sobre

música popular para o Diário Carioca.

Começa a compor com Francis Hime. Faz

show de grande sucesso com o compositor e

cantor Dorival Caymmi, na boate Zum-Zum,

onde lança o Quarteto em Cy. Do show é feito

um LP.

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1965

Sai Cordélia e o peregrino, em edição do

Serviço de Documentação do Ministério da

Educação e Cultura. Ganha o primeiro e o

segundo lugares do I Festival de Música

Popular de São Paulo, da TV Record, em

canções de parceria com Edu Lobo e Baden

Powell. Parte para Paris e St.Maxime para

escrevero roteiro do filme Arrastão,

indispondo-se, subseqüentemente, com seu

diretor, e retirando suas músicas do filme.

De Paris voa para Los Angeles a fim de

encontrar-se com seu parceiro Antônio Carlos

Jobim. Muda-se de Copacabana para o

Jardim Botânico, à rua Diamantina, nº20.

Começa a trabalhar com o diretor Leon

Hirszman, do Cinema Novo, no roteiro do

filme Garota de Ipanema. Volta ao show com

Caymmi, na boate Zum-Zum.

1966

São feitos documentários sobre o poeta pelas

televisões americana, alemã, italiana e

francesa, sendo que os dois últimos

realizados pelos diretores Gianni Amico e

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Pierre Kast. Aparece seu livro de crônicas

Para uma menina com uma flor pela Editora

do Autor. Seu "Samba da bênção", de

parceria com Baden Powell, é incluída, em

versão de compositor e ator Pierre Barouh,

no filme Un homme… une femme, vencedor

do Festival de Cannes do mesmo ano.

Participa do jurí do mesmo festival.

1967

Aparecem, pela Editora Sabiá, a 6ª edição de

sua Antologia poética e a 2ª do seu Livro de

sonetos (aumentada). É posto à disposição do

governo deMinas Gerais no sentido de

estudar a realização anual de um Festival de

Arte em Ouro Preto, cidade à qual faz

freqüentes viagens. Faz parte do jurí do

Festival de Música Jovem, na Bahia. Estréia

do filme Garota de Ipanema.

1968

Falece sua mãe no dia 25 de fevereiro.

Aparece a primeira edição de sua Obra

poética, pela Companhia José Aguilar

Editora. Poemas traduzidos para o italiano

por Ungaretti.

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1969

É exonerado do Itamaraty. Casa-se com

Cristina Gurjão.

1970

Casa-se com a atriz baiana Gesse Gessy.

Nasce Maria, sua quarta filha. Início da

parceria com Toquinho.

1971

Muda-se para a Bahia. Viagem para Itália.

1972

Retorna à Itália com Toquinho onde gravam

o LP Per vivere un grande amore.

1973

Publica "A Pablo Neruda".

1974

Trabalha no roteiro, não concretizado, do

filme Polichinelo.

1975

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Excursiona pela Europa. Grava, com

Toquinho, dois discos na Itália.

1976

Escreve as letras de "Deus lhe pague", em

parceria com Edu Lobo. Casa-se com Marta

Rodrihues Santamaria.

1977

Grava um LP em Paris, com Toquinho. Show

com Tom, Toquinho e Miúcha, no Canecão.

1978

Excursiona pela Europa com Toquinho.

Casa-se com Gilda de Queirós Mattoso, que

conhecera em Paris.

1979

Leitura de poemas no Sindicato dos

Metalúrgicos de São Bernardo, a convite do

líder sindical Luís Inácio da Silva. Voltando

de viagem à Europa, sofre um derrame

cerebral no avião. Perdem-se, na ocasião, os

originais de Roteiro lírico e sentimental da

Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro.

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37

1980

É operado a 17 de abril, para a instalação de

um dreno cerebral. Morre, na manhão de 9 de

julho, de edema pulmonar, em sua casa, na

Gávea, em companhia de Toquinho e de sua

última mulher. Extraviam-se os originais de

seu livro O dever e o haver.

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41

Obras obra artística de Vinicius de Moraes se

inicia no início da década de 1930,

quando o poeta lançou o livro "O

Caminho para a Distância". A partir de então,

Vinicius caminharia pelos campos

da literatura, música e teatro.

Livros:

“O caminho para a distância” (Rio de Janeiro . Schmidt Editora .1933)

“Forma e exegese” (Rio de Janeiro . Pongetti .1935)

“Ariana, a mulher” (Rio de Janeiro . Pongetti . 1936)

“Novos poemas” (Rio de Janeiro . José Olympio .1938)

“Cinco elegias” (Rio de Janeiro . Pongetti .1943)

“Poemas, sonetos e baladas” (São Paulo . Gaveta .1946)

“Pátria minha”

A

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42

(Barcelona . O Livro Inconsútil .1949)

“Antologia poética” (Rio de Janeiro . (2ª ed. aumentada, Rio de Janeiro:

Editora do Autor, 1960); Editora A Noite .1954)

“Livro de sonetos” (Rio de Janeiro . (2ª ed. aumentada, Rio de Janeiro:

Sabiá, 1967); Livros de Portugal .1957)

“Novos poemas (II)” (Rio de Janeiro . São José .1959)

“Para viver um grande amor (crônicas e

poemas)” (Rio de Janeiro . Editora do Autor .1962)

“O mergulhador” (Rio de Janeiro . (2ª. Edição, Rio de Janeiro: Editora

Argumento Ltda, 2003); Atelier de Arte .1968)

“A arca de Noé; poemas infantis” (Rio de Janeiro . (2ª ed. aumentada, São Paulo:

Companhia das Letras, 2003); Sabiá .1970)

“Poesia completa e prosa (org. Alexei

Bueno)” (Rio de Janeiro . Nova Aguilar .1998)

“Poemas esparsos” (São Paulo . Companhia das Letras .2008)

“Nova antologia poética” (São Paulo . Companhia das Letras .2008)

“Poemas, sonetos e baladas / Pátria

minha”

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(São Paulo . Companhia das Letras .2008)

“O caminho para a distância” (São Paulo . Companhia das Letras .2008)

Teatro:

Ano Nome Observações Editora

1956 Orfeu da Conceição com Tom Jobim Odeon

1963

Vinicius e Odette

Lara

com Odette

Lara e Baden

Powell

Elenco

1965

De Vinicius e Baden

especialmente para

Ciro Monteiro

com Baden Powell Elenco

1965

Vinicius e Caymmi no

Zum Zum

com Dorival

Caymmi Elenco

1966 Os Afro-sambas com Baden Powell Elencos

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45

Ano Nome Observações Editora

1971

Vinicius + Bethânia +

Toquinho - En La

Fusa

com Maria

Bethânia e

Toquinho

Inter

Records

1972 Marilia e Vinicius

com Marilia

Medalha RGE

1972

Vinicius canta: Nossa

Filha Gabriela com Toquinho Polydor

1972

São Demais Os

Perigos Dessa Vida com Toquinho RGE

1973

O Bem-Amado (trilha

sonora) Som Livre

1974 Vinicius & Toquinho com Toquinho Philips

Page 52: Vinicius Moraes

46

Ano Nome Observações Editora

1974

Saravá Vinicius! -

Vinicius de Moraes

en São Paulo con

Quarteto em Cy y

Toquinho

com Quarteto em

Cy e Toquinho Mercury

1975 Vinicius e Toquinho com Toquinho Philips

1975 O Poeta e o Violão com Toquinho RGE

1976 Deus lhe pague com Edu Lobo EMI

1977 Antologia Poética Philips

1977

Tom, Vinicius,

Toquinho e Miúcha -

Gravado ao vivo no

Canecâo

com Tom Jobim,

Toquinho e Miúcha Som Livre

Page 53: Vinicius Moraes

47

Ano Nome Observações Editora

1979

10 anos de Toquinho

e Vinicius com Toquinho Philips

1980 Um pouco de ilusão com Toquinho Ariola

1980 Testamento... RGE

1980 A Arca de Noé com Toquinho Universal

1981 A Arca de Noé 2 com Toquinho Polygram

1991

Poeta, moça e violão

- Vinicius, Clara e

Toquinho

com Clara Nunes e

Toquinho

Collector's

Editora

LTDA

2006 Vinicius & Amigos com vários artistas

Seleções

Reader’s

Diges

Page 55: Vinicius Moraes

49

17. Rosa de Hiroshima

18. Eu Sei Que Vou Te Amar

19. Andam Dizendo

20. O Poeta Aprendiz

Page 56: Vinicius Moraes

50

Page 57: Vinicius Moraes

51

Poemas Soneto do amigo

Enfim, depois de tanto erro passado

Tantas retaliações, tanto perigo

Eis que ressurge noutro o velho amigo

Nunca perdido, sempre reencontrado.

É bom sentá-lo novamente ao lado

Com olhos que contêm o olhar antigo

Sempre comigo um pouco atribulado

E como sempre singular comigo.

Um bicho igual a mim, simples e humano

Sabendo se mover e comover

E a disfarçar com o meu próprio engano.

O amigo: um ser que a vida não explica

Que só se vai ao ver outro nascer

E o espelho de minha alma multiplica...

Page 58: Vinicius Moraes

52

Pela luz dos olhos teus

Quando a luz dos olhos meus

E a luz dos olhos teus

Resolvem se encontrar

Ai que bom que isso é meu Deus

Que frio que me dá o encontro desse olhar

Mas se a luz dos olhos teus

Resiste aos olhos meus só p'ra me provocar

Meu amor, juro por Deus me sinto incendiar

Meu amor, juro por Deus

Que a luz dos olhos meus já não pode esperar

Quero a luz dos olhos meus

Na luz dos olhos teus sem mais lará-lará

Pela luz dos olhos teus

Eu acho meu amor que só se pode achar

Que a luz dos olhos meus precisa se casar.

Page 59: Vinicius Moraes

53

Soneto da separação

De repente do riso fez-se o pranto

Silencioso e branco como a bruma

E das bocas unidas fez-se a espuma

E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento

Que dos olhos desfez a última chama

E da paixão fez-se o pressentimento

E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente

Fez-se de triste o que se fez amante

E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante

Fez-se da vida uma aventura errante

De repente, não mais que de repente.

Page 60: Vinicius Moraes

54

Poética

De manhã escureço

De dia tardo

De tarde anoiteço

De noite ardo.

A oeste a morte

Contra quem vivo

Do sul cativo

O este é meu norte.

Outros que contem

Passo por passo:

Eu morro ontem

Nasço amanhã

Ando onde há espaço:

– Meu tempo é quando.

Page 61: Vinicius Moraes

55

A Felicidade

Tristeza não tem fim

Felicidade sim

A felicidade é como a pluma

Que o vento vai levando pelo ar

Voa tão leve

Mas tem a vida breve

Precisa que haja vento sem parar

A felicidade do pobre parece

A grande ilusão do carnaval

A gente trabalha o ano inteiro

Por um momento de sonho

Pra fazer a fantasia

De rei ou de pirata ou jardineira

Pra tudo se acabar na quarta-feira

Tristeza não tem fim

Felicidade sim

A felicidade é como a gota

De orvalho numa pétala de flor

Brilha tranqüila

Depois de leve oscila

Page 62: Vinicius Moraes

56

E cai como uma lágrima de amor

A felicidade é uma coisa boa

E tão delicada também

Tem flores e amores

De todas as cores

Tem ninhos de passarinhos

Tudo de bom ela tem

E é por ela ser assim tão delicada

Que eu trato dela sempre muito bem

Tristeza não tem fim

Felicidade sim

A minha felicidade está sonhando

Nos olhos da minha namorada

É como esta noite, passando, passando

Em busca da madrugada

Falem baixo, por favor

Pra que ela acorde alegre com o dia

Oferecendo beijos de amor

Page 63: Vinicius Moraes

57

O verbo no infinito

Ser criado, gerar-se, transformar

O amor em carne e a carne em amor; nascer

Respirar, e chorar, e adormecer

E se nutrir para poder chorar

Para poder nutrir-se; e despertar

Um dia à luz e ver, ao mundo e ouvir

E começar a amar e então sorrir

E então sorrir para poder chorar.

E crescer, e saber, e ser, e haver

E perder, e sofrer, e ter horror

De ser e amar, e se sentir maldito

E esquecer de tudo ao vir um novo amor

E viver esse amor até morrer

E ir conjugar o verbo no infinito...

Page 64: Vinicius Moraes

58

Eu não existo sem você

Eu sei e você sabe, já que a vida quis assim

Que nada nesse mundo levará você de mim

Eu sei e você sabe que a distância não existe

Que todo grande amor

Só é bem grande se for triste

Por isso, meu amor

Não tenha medo de sofrer

Que todos os caminhos

Me encaminham pra você

Assim como o oceano

Só é belo com luar

Assim como a canção

Só tem razão se se cantar

Assim como uma nuvem

Só acontece se chover

Assim como o poeta

Só é grande se sofrer

Assim como viver

Sem ter amor não é viver

Não há você sem mim

Eu não existo sem você

Page 65: Vinicius Moraes

59

Soneto de Fidelidade

De tudo ao meu amor serei atento

Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto

Que mesmo em face do maior encanto

Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento

E em seu louvor hei de espalhar meu canto

E rir meu riso e derramar meu pranto

Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure

Quem sabe a morte, angústia de quem vive

Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):

Que não seja imortal, posto que é chama

Mas que seja infinito enquanto dure.

Page 66: Vinicius Moraes

60

Tomara

Que você volte depressa

Que você não se despeça

Nunca mais do meu carinho

E chore, se arrependa

E pense muito

Que é melhor se sofrer junto

Que viver feliz sozinho

Tomara

Que a tristeza te convença

Que a saudade não compensa

E que a ausência não dá paz

E o verdadeiro amor de quem se ama

Tece a mesma antiga trama

Que não se desfaz

E a coisa mais divina

Que há no mundo

É viver cada segundo

Como nunca mais...

Page 67: Vinicius Moraes

61

Soneto do Amor Total

Amo-te tanto, meu amor ... não cante

O humano coração com mais verdade ...

Amo-te como amigo e como amante

Numa sempre diversa realidade.

Amo-te afim, de um calmo amor prestante

E te amo além, presente na saudade.

Amo-te, enfim, com grande liberdade

Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente

De um amor sem mistério e sem virtude

Com um desejo maciço e permanente.

E de te amar assim, muito e amiúde

É que um dia em teu corpo de repente

Hei de morrer de amar mais do que pude.

Page 68: Vinicius Moraes

62

Ternura

Eu te peço perdão por te amar de repente

Embora o meu amor

seja uma velha canção nos teus ouvidos

Das horas que passei à sombra dos teus

gestos

Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos

Das noites que vivi acalentando

Pela graça indizível

dos teus passos eternamente fugindo

Trago a doçura

dos que aceitam melancolicamente.

E posso te dizer

que o grande afeto que te deixo

Não traz o exaspero das lágrimas

nem a fascinação das promessas

Nem as misteriosas palavras

dos véus da alma...

É um sossego, uma unção,

um transbordamento de carícias

E só te pede que te repouses quieta,

muito quieta

E deixes que as mãos cálidas da noite

encontrem sem fatalidade

o olhar estático da aurora.

Page 69: Vinicius Moraes

63

Amor em paz

Eu amei

Eu amei, ai de mim, muito mais

Do que devia amar

E chorei

Ao sentir que iria sofrer

E me desesperar

Foi então

Que da minha infinita tristeza

Aconteceu você

Encontrei em você a razão de viver

E de amar em paz

E não sofrer mais

Nunca mais

Porque o amor é a coisa mais triste

Quando se desfaz

Page 70: Vinicius Moraes

64

Chega de Saudade

Vai, minha tristeza, e diz a ela

Que sem ela não pode ser

Diz-lhe, numa prece, que ela regresse

Porque eu não posso mais sofrer

Chega de saudade, a realidade é que sem ela

Não há paz, não há beleza

É só tristeza e a melancolia

Que não sai de mim, não sai de mim, não sai

Mas, se ela voltar, se ela voltar

Que coisa linda, que coisa louca

Pois há menos peixinhos a nadar no mar

Do que os beijinhos que eu darei na sua boca

Dentro dos meus braços

Os abraços hão de ser milhões de abraços

Apertado assim, colado assim, calado assim

Abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim

Que é pra acabar com esse negócio de viver

longe de mim

Não quero mais esse negócio de você viver

assim

Vamos deixar desse negócio de você viver

sem mim

Page 71: Vinicius Moraes

65

Ai de quem ama

Quanta tristeza

Há nesta vida

Só incerteza

Só despedida

Amar é triste

O que é que existe?

O amor

Ama, canta

Sofre tanta

Tanta saudade

Do seu carinho

Quanta saudade

Amar sozinho

Ai de quem ama

Vive dizendo

Adeus, adeus

Page 72: Vinicius Moraes

66

Soneto a quatro-mãos

Tudo de amor que existe em mim foi dado

Tudo que fala em mim de amor foi dito

Do nada em mim o amor fez o infinito

Que por muito tornou-me escravizado.

Tão pródigo de amor fiquei coitado

Tão fácil para amar fiquei proscrito

Cada voto que fiz ergueu-se em grito

Contra o meu próprio dar demasiado.

Tenho dado de amor mais que coubesse

Nesse meu pobre coração humano

Desse eterno amor meu antes não desse.

Pois se por tanto dar me fiz engano

Melhor fora que desse e recebesse

Para viver da vida o amor sem dano.

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67

Amor

Vamos brincar, amor? vamos jogar peteca

Vamos atrapalhar os outros, amor, vamos

sair correndo

Vamos subir no elevador, vamos sofrer

calmamente e sem precipitação?

Vamos sofrer, amor? males da alma, perigos

Dores de má fama íntimas como as chagas de

Cristo

Vamos, amor? vamos tomar porre de absinto

Vamos tomar porre de coisa bem esquisita,

vamos

Fingir que hoje é domingo, vamos ver

O afogado na praia, vamos correr atrás do

batalhão?

Vamos, amor, tomar thé na Cavé com

Page 74: Vinicius Moraes

68

madame de Sevignée

Vamos roubar laranja, falar nome, vamos

inventar

Vamos criar beijo novo, carinho novo, vamos

visitar N. S. do Parto?

Vamos, amor? vamos nos persuadir

imensamente dos acontecimentos

Vamos fazer neném dormir, botar ele no

urinol

Vamos, amor?

Porque excessivamente grave é a Vida.

Page 75: Vinicius Moraes

69

Dialética

É claro que a vida é boa

E a alegria, a única indizível emoção

É claro que te acho linda

Em ti bendigo o amor das coisas simples

É claro que te amo

E tenho tudo para ser feliz

Mas acontece que eu sou triste...

Page 76: Vinicius Moraes

70

Como dizia o poeta

Quem já passou por essa vida e não viveu

Pode ser mais, mas sabe menos do que eu

Porque a vida só se dá pra quem se deu

Pra quem amou, pra quem chorou, pra quem

sofreu

Ah, quem nunca curtiu uma paixão nunca

vai ter nada, não

Não há mal pior do que a descrença

Mesmo o amor que não compensa é melhor

que a solidão

Abre os teus braços, meu irmão, deixa cair

Pra que somar se a gente pode dividir

Eu francamente já não quero nem saber

De quem não vai porque tem medo de sofrer

Ai de quem não rasga o coração, esse não vai

ter perdão

Quem nunca curtiu uma paixão, nunca vai

ter nada, não

Page 77: Vinicius Moraes

71

Minha namorada

Se você quer ser minha namorada

Ai, que linda namorada

Você poderia ser

Se quiser ser somente minha

Exactamente essa coisinha

Essa coisa toda minha

Que ninguém mais pode ser

Você tem que me fazer um juramento

De só ter um pensamento

Ser só minha até morrer

E também de não perder esse jeitinho

De falar devagarzinho

Essas histórias de você

E de repente me fazer muito carinho

E chorar bem de mansinho

Sem ninguém saber porquê

Page 78: Vinicius Moraes

72

E se mais do que minha namorada

Você quer ser minha amada

Minha amada, mas amada pra valer

Aquela amada pelo amor predestinada

Sem a qual a vida é nada

Sem a qual se quer morrer

Você tem que vir comigo

Em meu caminho

E talvez o meu caminho

Seja triste pra você

Os seus olhos têm que ser só dos meus olhos

E os seus braços o meu ninho

No silêncio de depois

E você tem que ser a estrela derradeira

Minha amiga e companheira

No infinito de nós dois.

Page 79: Vinicius Moraes

73

A Anuciação

Virgem! filha minha

De onde vens assim

Tão suja de terra

Cheirando a jasmim

A saia com mancha

De flor carmesim

E os brincos da orelha

Fazendo tlintlin?

Minha mãe querida

Venho do jardim

Onde a olhar o céu

Fui, adormeci.

Quando despertei

Cheirava a jasmim

Que um anjo esfolhava

Por cima de mim...

Page 80: Vinicius Moraes

74

A ausente

Amiga, infinitamente amiga

Em algum lugar teu coração bate por mim

Em algum lugar teus olhos se fecham à idéia

dos meus.

Em algum lugar tuas mãos se crispam, teus

seios

Se enchem de leite, tu desfaleces e caminhas

Como que cega ao meu encontro...

Amiga, última doçura

A tranqüilidade suavizou a minha pele

E os meus cabelos. Só meu ventre

Te espera, cheio de raízes e de sombras.

Page 81: Vinicius Moraes

75

Vem, amiga

Minha nudez é absoluta

Meus olhos são espelhos para o teu desejo

E meu peito é tábua de suplícios

Vem. Meus músculos estão doces para os

teus dentes

E áspera é minha barba. Vem mergulhar em

mim

Como no mar, vem nadar em mim como no

mar

Vem te afogar em mim, amiga minha

Em mim como no mar...

Page 82: Vinicius Moraes

76

A Berlim

Vós os vereis surgir da aurora mansa

Firmes na marcha e uníssonos no brado

Os heróicos demônios da vingança

Que vos perseguem desde Stalingrado.

As mãos queimadas do fuzil candente

As vestes podres de granizo e lama

Vós os vereis surgir subitamente

Aos heróicos prosélitos do Drama.

De início mancha tateante e informe

Crescendo às sombras da manhã exangue

Logo o vereis se erguer, o Russo enorme

Sob um sol rubro como um punho em sangue.

E ao seu avanço há de ruir a Porta

De Brandemburgo, e hão de calar os cães

E então hás de escutar, Cidade Morta

O silêncio das vozes alemãs.

Page 83: Vinicius Moraes

77

A cidade antiga

Houve tempo em que a cidade tinha pêlo na

axila

E em que os parques usavam cinto de

castidade

As gaivotas do Pharoux não contavam em

absoluto

Com a posterior invenção dos kamikazes

De resto, a metrópole era inexpugnável

Com Joãozinho da Lapa e Ataliba de Lara.

Houve tempo em que se dizia: LU-GO-LI-NA

U, loura; O, morena; I, ruiva; A, mulata!

Vogais! tônico para o cabelo da poesia

Já escrevi, certa vez, vossa triste balada

Entre os minuetos sutis do comércio

imediato

As portadoras de êxtase e de permanganato!

Houve um tempo em que um morro era

apenas um morro

E não um camelô de colete brilhante

Piscando intermitente o grito de socorro

Da livre concorrência: um pequeno gigante

Page 84: Vinicius Moraes

78

Que nunca se curvava, ou somente nos dias

Em que o Melo Maluco praticava acrobacias.

Houve tempo em que se exclamava: Asfalto!

Em que se comentava: Verso livre! com

receio...

Em que, para se mostrar, alguém dizia alto:

"Então às seis, sob a marquise do Passeio..."

Em que se ia ver a bem-amada sepulcral

Decompor o espectro de um sorvete na

Paschoal

Houve tempo em que o amor era melancolia

E a tuberculose se chamava consumpção

De geométrico na cidade só existia

A palamenta dos ioles, de manhã...

Mas em compensação, que abundância de

tudo!

Água, sonhos, marfim, nádegas, pão, veludo!

Houve tempo em que apareceu diante do

espelho

A flapper cheia de it, a esfuziante miss

A boca em coração, a saia acima do joelho

Sempre a tremelicar os ombros e os quadris

Nos shimmies: a mulher moderna... Ó

Page 85: Vinicius Moraes

79

Nancy! Ó Nita!

Que vos transformastes em dízima infinita...

Houve tempo... e em verdade eu vos digo:

havia tempo

Tempo para a peteca e tempo para o soneto

Tempo para trabalhar e para dar tempo ao

tempo

Tempo para envelhecer sem ficar obsoleto...

Eis por que, para que volte o tempo, e o

sonho, e a rima

Eu fiz, de humor irônico, esta poesia acima.

Page 86: Vinicius Moraes

80

Paisagem

Subi a alta colina

Para encontrar a tarde

Entre os rios cativos

A sombra sepultava o silêncio.

Assim entrei no pensamento

Da morte minha amiga

Ao pé da grande montanha

Do outro lado do poente.

Como tudo nesse momento

Me pareceu plácido e sem memória

Foi quando de repente uma menina

De vermelho surgiu no vale correndo,

correndo…

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