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Curitiba, junho de 2010 - Ano 14 - número 183 - 2º Ano de Jornalismo manhã PUCPR - [email protected] - www.jornalcomunicare.wordpress.com

Violência

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Diante dos números/dados alarmantes de casos de violência em Curitiba, a turma decidiu abordar o tema mais profundamente, fazendo assim uma cobertura mais ampla sobre o assunto. O resultado você vê na edição 183 do Comunicare.

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Page 1: Violência

Curitiba, junho de 2010 - Ano 14 - número 183 - 2º Ano de Jornalismo manhã PUCPR - [email protected] - www.jornalcomunicare.wordpress.com

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cidadãos sentem a falta de segurança enquanto o dinheiro público sofre com supostos desvios

Violência em Curitiba: reflexo da corrupção?A capital paranaense tornou-se uma das cidades mais violêntas do país, os curitibanos têm o dever de exigir políticas públicas eficientes

opinião02 curitiba, junho de 2010

foi publicado neste ano que a cidade de curitiba é três vezes mais violenta que a de são paulo, em relação ao número de homicí-dios por cada 100 mil habitantes. a divulgação assusta tanto por-que a capital paulista costumava ser aquela cidade onde os índices de criminalidade eram os maiores do país. de repente, a vida de medo e cuidados, que parecia per-tencer só aos paulistas, começou a chegar cada vez mais perto dos curitibanos e o que temos hoje é uma cidade amedrontada, com pouco efetivo policial e carente de soluções. a violência entrou na nossa casa sem bater e as pessoas na rua são o pior inimigo.

foi justamente o cenário de desordem da segurança que mo-tivou a equipe do comunicare a desenvolver essa edição.

ao mesmo tempo em que a população ergue muros forrados

de cercas eletrônicas e câmeras de vigilância, 100 milhões de reais são desviados do estado do paraná, de acordo com as investigações do ministério pú-blico sobre os diários secretos da assembléia. Justamente no ano em que a ausência de segurança parece estar mais próxima dos cidadãos, o dinheiro público se torna vítima de mais uma violên-cia: a corrupção. para alguns, o peculato - ato de roubar para si o que é um bem público - e a falta de segurança demoram a ser per-cebidos como atos relacionados, mas a proximidade de ambos é es-treita. a falta de direcionamento da tributação dos curitibanos faz com que o dinheiro que poderia ser investido em efetivo policial ou educação acabe nos bolsos de quem foi escolhido pelos cidadãos para representar-lhes.

no entanto, a responsabilidade

por toda essa catástrofe não é so-mente das ações cometidas pelos parlamentares, mas também en-contra ressonância na passividade da população. isso ocorre uma vez que sendo, por exemplo, víti-ma de um assalto, a pessoa sente a violência diretamente em sua

rotina. de forma contraditória, quando ela se depara com episó-dios como o dos diários secretos, dificilmente enxerga a relação que há entre a corrupção e a cotidiana carência de segurança.

Carla Comarella

FALA, PROFESSOR

“Os assuntos polêmicos tratados no jornal con-tribuem para a forma-ção cidadã de nossos acadêmicos e futurosdirigentes do país”

Martia Izabel Pires, co-ordenadora do curso de Serviço Social, PUC-PR

FALA, LEITOR

“Eu vim do interior do Paraná porque não tinha trabalho lá. Eu faço parte

dos imigrantes que o jornal mostrou”

Lica, 40, doméstica

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ombudsman: editorias estão deslocadas dentro do Jornal

Desde a capa até a produção das matérias, a edição anterior possui vários erros

a edição 181 tem uma capa entediante, com manchetes va-zias, que nada contam. mas o miolo do jornal - página 7 - é uma agradável surpresa. ali está o suprassumo da edição. a única ressalva é que as reportagens estão deslocadas de editoria. não são matérias de política. o mesmo aconteceu na editoria de comportamento, que a escolha da pauta foi infeliz e as reportagens não dizem nada relevante.

o sírio atleticano dava uma boa história, se a abordagem fos-se bem humorada. o box “cen-

sura” é totalmente desnecessário: ao leitor não interessa a relação entre o repórter e a assessoria de imprensa. o papel do jornalista também é buscar alternativas para concluir o trabalho. a entrevista na página 03 – local privilegiado do jornal – tem vários problemas. o primeiro é o título, que não cha-ma a atenção do leitor. o entrevis-tado poderia ter sido provocado a fazer uma análise da migração atual, a relação com a imagem externa de curitiba e o inchaço da região metropolitana. a aborda-gem foi fraca. a pergunta sobre

um suposto movimento xenófobo de “orgulho curitibano” é vazia e arriscada. o problema da hie-rarquia das reportagens continua. a matéria que valia manchete de capa estava escondida no meio do jornal. outro exemplo: em cultu-ra, as reportagens da página 14 salvam a editoria. deveriam vir antes. e o que faz a manchete de capa na página 16?

Roberta Canetti, Produtora, Rádio CBN

COMENTÁRIO ESPECIAL

Ricardo Kotscho*

Recebi e gostei muito do Comunicare. O jornal está bem equilibrado ao tratar de temas da vida real. É sempre preciso mesclar matérias sobre proble-mas sociais com o lado bom da vida, que também existe. Seria legal se todo número tivesse uma boa entrevista e/ou um perfil de alguém fora da grande mídia.

*Ricardo Kotscho é jornalis-ta e atualmente escreve para o Portal IG e para a revista Brasileiros

Thay

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asci

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Enquanto pessoas de bem buscam proteção atrás dos muros, os la-drões estão á solta. Foto: Laura Sliva (muro) e Gian Andreso (Pessuti). Arte: Thayse Nascimento.

Nossa Capa

EXPEDIENTEJornal Laboratório da Pontifícia Universidade Católica do Paraná

Edição nº 183Junho de 2010

Pontifícia Universidade Católica do Paraná

rua imaculada conceição, n‘ 1.155prado velho, curitiba

Reitor: clemente ivo JuliatoDecano CCJS: roberto linhares da

costaDecano Adjunto do CCJS:

marilena Winters Diretora do Curso de Jornalismo:

monica fort

comunicare

Jornalista responsável: Zanei barcellos drt-118/07/03Projeto Gráfico: marcelo públio

editores

Primeira Página: thayse nascimento

Educação: rubiane KaminskiPolicial: laura sliva

Segurança: flávia de andradePolítica: laura sliva

Geral: taisa echterhoff e talita inaba

Comportamento: bethina perussoloDrogas: idionara bortolossi

Tecnologia: camila machadoEsporte: ricardo tomasiSociedade: camila petry

Cultura: giovanna miqueletto

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CURITIBA - COMUNICARE DISCUTE SEGURANÇA PÚBLICA COM AUTORIDADES E EXPERTS

Violência cresce 53,8% em 2 anosOs R$ 100 milhões desviados da Assembleia poderiam ter sido investidos em melhorias para segurança

política 03Curitiba, junho de 2010

Falta de políticas públicas e de investimentos em segurança são as principais causas da violência que afeta os moradores de Curitiba, se-gundo Hamilton Dal’Lin Neto, um dos coordenadores do Movimento Pró-Paraná. “Ultimamente os investimentos em políticas públi-cas de segurança não ocorreram. Nós temos políticas que fazem somente servir para a eleição de governantes descompromissados com a finança pública”, afirmou o advogado.

As mesmas práticas corrup-tas da década de 80 continuam. “Cor r upção e desvios afetam todas as áreas do Estado. Na medida em que o Est ado t em menos recursos para aplicar nas suas polít icas, cada setor, por menor que seja, sofre, tem menos orçamento”, diz Cláudio Abramo, presidente da ONG Transparência Brasil. O Ministério Público es-tima que foram desviados mais de R$ 100 milhões dos cofres públicos só nos escândalos da As-sembleia Legislativa do Paraná. Se melhor gerenciado, esse di-nheiro poderia servir para investir em setores precários em Curi-tiba, como segurança pública.

“Se economizassem e uti-lizassem esse dinheiro em ou-tros setores, ele seria melhor administrado. Sabemos que no Paraná faltam pelo menos 20 mil policiais militares e 300 mil policiais civis”, declarou José Augusto Araújo de Noronha, presidente da Caixa dos Advo-gados (CAA/PR). Atualmente, há 3.500 policiais militares nas

ruas de Curitiba. Porém, segundo Senio Abdon Dias, procurador do Estado aposentado e advogado da Associação de Policiais Militares, faltam aproximadamente 4 mil policiais para uma segurança pública de qualidade. “Falta contingente, operacionalidade, e também especialização”, relata.

Levando-se em conta que um policial tem custo de aproxima-damente R$ 3.000 por mês para o Estado, os R$ 100 milhões desviados poderiam sustentar em média 2.574 policiais duran-

te um ano, ou seja, quase su-prindo a neces-sidade atual de Curitiba. Carlos Luis Strapazzon, mestre em Di-reito do Estado, calculou que a Assembleia gas-ta R$ 3 milhões e 800 mil por mês, com 1.242 car-gos comissiona-

dos. Em vez de gastar 3 milhões de reais por mês com servidores não concursados, por que não gastar o mesmo valor em mil policiais e proteger a população?

“A falta de serviços públicos é questão de destinação orçamen-tária. Curitiba não é uma cidade segura. Eu me impressiono com o número de casas e edifícios com segurança própria. Falta uma es-trutura do Estado, da polícia, do sistema judiciário”, afirmou Mau-rício Guimarães, conselheiro da Ordem de Advogados do Paraná (OAB). “Os desvios de dinheiro público acarretam custos diretos e indiretos na segurança pública. O que eles estão fazendo para melhorar a sociedade?”, critica Rosane Kolotelo Wendpap, pro-fessora de Direito Econômico da

Universidade Tuiuti. Rosane con-tou que Curitiba empiricamente não é uma cidade segura. Relata que tentou um levantamento sobre os gastos que são conse-quência da crescente violência na capital paranaense, mas fal-taram informações. “A negação do acesso às informações é a negação da democracia”, alerta.

Além da falta de investimen-to, outro fato é apontado: má ad-ministração. “Isso também se dá pela forma de administração da própria Secretaria de Segurança Pública”, afirmou Senio Abdon Dias, procura-dor do Estado a p o s e n t a d o . Senio defendeu um policiamen-to de educação, de prevenção. “ Fo r a o a u -mento do con-tingente e dos investimentos, é necessário criar uma relação de confiança entre a polícia e a sociedade”, completa.

“Temos que parar e questio-nar: qual é a finalidade da ati-vidade? Crimes localizados, de bairro, de fácil identificação não são solucionados. Porque falta verba, falta contingente, falta operacionalidade, falta especia-lização”, critica F.C.S., autori-dade de alta patente da PM que pediu para não ser identificado.

José Lucio Glomb, presidente da OAB do Paraná, apontou, en-tre possíveis soluções, maiores investimentos e aumento dos efetivos, os quais, segundo ele, são os mesmos há muito tempo, independente do aumento da po-pulação. Também defendeu maior capacitação de investigação da polícia e prevenção, não apenas

a repressão. Segundo Hamilton Dal’Lin Neto, um dos coordena-dores do Movimento Pró-Paraná, as atuais políticas públicas visam o aparelhamento da polícia ex-terna, que só aparece, vive nas ruas.“Mas o desenvolvimento de uma política como uma polícia científica, verdadeiramente ativa, que tem o papel de desvendar os os crimes na nossa sociedade, não ocorre”, critica. Hamilton afirma que praticamente 90% dos homi-cídios não são solucionados e a razão disso seria não haver polícia científica eficiente no Paraná.

“Nós temos o Segundo Dis-trito Policial, no Cajuru, talvez uma das piores carceragens do Brasil, aqui em Curitiba. Sim, na cidade padrão”, critica Noronha, presidente d a CAA/PR. Sobre a provável má administ ração

de recursos, dispara: “Aqui no Pa-raná, nós somos um estado de tra-balhadores, de gente honesta, que paga seus impostos. Então defini-tivamente não podemos permitir que nosso dinheiro seja utilizado para fins obscuros”. Ele afirma que, pelo que observou, o caso dos “Diários Secretos” é apenas um fato entre diversos. “Os escân-dalos na Assembleia podem ser só uma ponta de um iceberg. Pelo que tenho observado, acho que a RPC não conseguiu ver muita coisa, conseguiu ver menos de 0,5% do que acontece”, entrega.

É preciso brigar pela ética na gestão dos recursos públicos.Cláudio Abramo enfatiza: “Sem pressão, a situação não muda”.

Apesar de vítima, governador Pessuti afirma que Curitiba é segura

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Laura Sliva

“Curitiba ainda é uma cidade segura se comparada a outras capitais”, afirmou o governador Orlando Pessuti ao Comunicare. Porém, quando recém empossado como governador do Paraná, sua casa em Curitiba sofreu uma tentativa de assalto, que culminou na morte do criminoso. Ou seja, Pessuti só ficou em segurança por ter a Polícia Militar como guarda pessoal. Se até a casa do governador é quase invadida, como fica a situação do simples cidadão? O que está deixando a violência bater na porta do curitibano?

Falta de políticas públicas e de investimentos no setor são con-sequências da má administração e de desvio de dinheiro. Conforme dados da Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp) a violên-cia cresceu 53,8% nos últimos dois anos em Curitiba. Levantamento estatístico do Crimes em Curitiba apontou que, apenas em maio de 2010, ocorreram 123 mortes violentas, uma média de quatro mortes por dia, sendo que 108 foram causadas por arma de fogo. Curitiba tem proporcionalmente 3 vezes mais homicídios que São Paulo. Atenção: falta o dobro de policiais nas ruas de Curitiba. Os estimados R$ 100 milhões desviados na Assembleia Legislativa poderiam ser investidos

“Acho que a RPC conseguiu ver

apenas 0,5% do que acontece”

R$ 100 milhões poderiam

sustentar 2.574 policiais a mais

“Os desvios de dinheiro público acarretam custos

diretos e indiretos na segurança pública. O que eles estão

fazendo para melhorar a sociedade?”

Rosane Kolotelo Wendpap, professora de Direito Econômico e Direito Internacional da Tuiuti

“Ultimamente os investimentos em

políticas públicas de segurança não ocorreram”

Hamilton Dal’Lin Neto, um dos coordenadores do Movimento Pró-

Paraná

“Sem pressão, a situação não muda”

Cláudio Abramo, presidente da ONG Transparência Brasil

“Eu me pergunto por que servidores sem concurso têm o direito de gastar 3 milhões do nosso dinheiro por mês. Tem

gente com cargo de comissão só para atender telefone”

Professor Carlos Luis Strapazzon

“A falta de serviços públicosé questão de destinação

orçamentária. Curitiba não é uma cidade segura”

Maurício Guimarães, conselheiro da Ordem dos Advogados do Paraná

“Faltam policiais nas ruas, fazendo o policiamento

preventivo, além de um treinamento mais direciona-do à segurança pública”

Senio Abdon Dias, procurador do Estado aposentado

“Como é que tem gente que rouba milhares, de milhares de

pessoas e não sente nada?”

José Augusto de Araújo Noronha, presidente da Caixa dos Advogados

-PR

“Crimes localizados, de bairro, de fácil identificação

não são solucionados”

F.C.S. autoridade de alta patente da PM

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Moradores do jardiM das aMéricas se orGanizaraM para diMinuir a violência

Câmeras em rua de Curitiba geram polêmica O uso de equipamentos de segurança e monitoramento em vias públicas aumenta a proteção ou é invasão de privacidade?

tecnologia04 curitiba, junho de 2010

Placa na Rua Prof. Paulo d’Assumpção alerta sobre o monitoramento

Angélica MujahedCamila MachadoJúlia Magalhães

Paola Possato

Bárbara Gomes, 20 anos, estudante

“As câmeras ajudaram muito. Os roubos diminuíram”

José Luis Silva,45 anos, corretor de imóveis

“É um instrumento excelente para o monitoramento”

Rosângela Marília, 46 anos, babá

“Acredito que esse tipo de proteção chame o ladrão”

Nathanael Malafaia, 65 anos, aposentado

“As câmeras não são a melhor saída”

o que voCê PeNSA SoBRe AS

CâMeRAS?

o bairro jardim das américas vem sofrendo com a falta de segu-rança. um grupo de moradores instalou câmeras em circuito-fechado e placas, alertando sobre o monitoramento, na rua professor paulo d assumpção, entre a rua eliezer disaro Frangueiro e rua Fr. Francisco Montalverne.

segundo Mercis aniceto, juíza de direito e habitante da quadra monitorada, a situação estava caó-tica e os assaltos eram frequentes. “a vigilância começou há menos de um ano. Quando algo estranho é percebido nas imagens, que são transmitidas para o interior das residências participantes, fazemos uma algazarra através de apitos, para avisarmos uns aos outros”.

a discussão gira, portanto, em torno do uso demasiado e indevido dos equipamentos de seguran-ça, interferindo na liberdade e privacidade dos transeuntes. para danilo doneda, advogado especialista em proteção de dados e privacidade, o uso dos equipa-mentos se justi-ficaria em casos específicos, como riscos à seguran-ça extremamente relevantes e reco-nhecidos por au-toridade pública; fosse expressa-mente autorizado e supervisionado pelo poder públi-co; transparente, com a clara indi-cação de quem realiza a vigilância; além do cidadão monitorado ter o direito ao acesso das imagens e saber quanto tempo elas ficam armazenadas.

de acordo com a legislação, doneda explica que é limitada em relação ao uso de imagem, porém qualquer intervenção em local público deve obedecer a atos administrativos específicos. No

caso das placas - que indicam: “rua monitorada por câmeras” - a colocação deve partir do estado. sobre as câmeras, não há legisla-ção específica no Brasil, entretan-to “por sua utilidade presumida ser a de proporcionar maior segurança pública, somente o estado as possa instalar e administrar”.

rodrigo Firmino, doutor em planejamento urbano e regional e autor do livro vigilância e visibili-dade: espaço, tecnologia e identifi-cação, acredita que o direito de se proteger deve existir, “desde que não invada o que é de todos”.

as câmeras diminuíram o nú-mero de assaltos, porém eles ainda são frequentes. a tecnologia em favor da segurança existe, mas não resolve os problemas. “nunca nos sentimos totalmente protegidos, o medo sempre existe”, conclui Mercis. os moradores reclamam ainda da falta de policiamento, principalmente durante a noite, e da má iluminação das ruas.

enquanto o estado, pr inci-pal responsável por providências em defesa da po-pulação não se manifesta, todos estão sujeitos a vivenciar situa-ções violentas. infelizmente, os moradores do jar-dim das améri-cas continuarão

a ver seu bairro retratado com as seguintes manchetes: “ladrões amarram vítimas durante assalto”, “pM troca tiros com bandidos”, “Garoto morre em tentativa de assalto”...

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Rodrigo Firmino, urbanista Danilo Doneda, advogado

Dicas de segurançaeM CASA

- Dificulte a vida dos marginais, trancando bem a janela e, se pos-sível, usando alarme. É bom colocar o máximo de recursos possíveis, principalmente à noite ou quando a casa esti-ver vazia.- Ao viajar, peça a al-guém de conf iança que recolha a corres-pondência. Solicite ao vizinho que acione a polícia caso note al-gum suspeito obser-vando ou adentrando na casa.

CoNDoMÍNIoS

- Moradores de edifício devem solicitar aos em-pregados do condomí-nio que não comentem com ninguém quais famílias estejam viajan-do, quais apartamentos estão vazios ou quais os hábitos e horários dos moradores.- Não abra a porta para pessoas que se apre-sentam oferecendo serviços não solici-tados (encanadores, eletricista etc.). É útil o uso do interfone. Caso não o tenha, use a janela para certificar-se da real intenção do sujeito;- quando for sair ou chegar em casa, fique atento com suspeitos nas proximidades. Des-confiado, dê a volta no quarteirão e chame a Polícia Militar.

FoNTe: CoNSeG

“nunca estamos protegidos,

o medo sempreexiste”

Existe limite “se o estado é responsável pela segurança há meios de pres-sioná-lo, além da possibilidade de se contratar empresas particulares para o serviço. existe um limite que deve ser respeitado: seguran-ça sim, mas sem invadir o senso comum. pessoas menos atentas as questões de espaços urbanos po-dem nem perceber a presença das câmeras, porém, eu me sinto constrangido. como a legislação é limitada, há a preocupação com o uso das imagens. enquanto ci-dadãos temos a responsabilidade de cuidar do que é de todos. por que alguns tem direito ao monito-ramento e outros não? Qualquer um pode tomar qualquer atitude para se proteger?”

(CM)

Privacidade “o cidadão não pode esperar que a sua passagem por via públi-ca seja anônima. por outro lado, deve ter garantias de que isto não lhe cause danos potenciais à sua imagem ou privacidade pela utili-zação abusiva de técnicas de mo-nitoramento. é um balanceamen-to delicado, mas minha opinião é a de que o sistema, da forma que está disposto na citada rua, per-mite a um cidadão privado, que é dono da casa e do sistema de monitoramento, capturar livre-mente e a seu bel-prazer as ima-gens que julgue necessárias, sem que esteja legalmente vinculado à finalidade de segurança pública à qual estaria o Estado se fizesse o mesmo, gerando o risco do abuso da imagem para o cidadão que é filmado”. (CM)

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INVESTIGADOR AFIRMA QUE SE AS PESSOAS SOUBESSEM A REAL SITUAÇÃO NÃO SAIRIAM DE CASA

Falta de investimentos governamentais prejudicam a segurança

Letícia Costa

POLÍCIA MILITAR NÃO TEM ARMAMENTO ADEQUADO PARA COMBATER CRIMINALIDADE

Mario Luiz Costa Jr

Segurança do cidadão curi-tibano entra em cheque com a realidade violenta avassaladora: os números apontam que Polícia Militar não está preparada para atender a população. Falta de treinamento, armamento e con-tingente são parte da realidade policial, junto com o despreparo para lidar com a criminalidade.

O efetivo da Polícia Militar do Estado do Paraná corresponde a 18.724 mil, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública. Em Curitiba estão aproximada-mente 3.500 mil destes policiais para uma população de 1.817.434 milhões de habitantes (Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba - IPPUC). Uma vez que o ideal, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), para cada grupo de 250 habitantes é de 1 policial, a capital paranaense deveria ter 7.269 mil policiais. Outro dado alarmante é que parte dos PMs está à disposição de outros órgãos, em trabalhos como segu-rança, motorista. Isso chega a ser

superior a quantidade de policiais civis, sendo que estes representam em média 2 mil funcionários.

Soldados de primeira classe da PM do Paraná recebem em média R$ 837 durante o período de treinamento, que dura 4 meses. Após a conclusão do treinamento, o salário chega ao patamar de R$ 1.818,13. Depois de formados, os policiais recebem duas armas ponto quarenta e treinamentos esporádicos. Já soldados de abor-dagem ostensiva como das Rondas

Ostensivas de Natureza Especial (RONE) e dos Comandos e Ope-rações Especiais (COE) recebem, além destes armamentos, mais três armas longas. Porém, RONE e COE compreendem a menor fatia do comando de policiais.

Dados do Ministério da Jus-tiça e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em pesquisa realizada em 2001 apontam que 57,1% dos policiais concluíram o Ensino Médio, 34,1% possuem o Fundamental

e apenas 8,6% possuem Ensino Superior. Isto mostra que há pouco interesse por parte do governo na qualificação dos profissionais que atendem a população.

Para um soldado conseguir se elevar de cargo, é necessário que ele passe por provas de resistên-cia e de injúrias, que vão desde afogamentos, socos nos estômago e tapas na cara. Isso quando não saem do treinamento direto para o hospital. Muitos desistem antes mesmo de chegar ao final. A reali-dade do último curso de formação para o COE explicita isso: de 57 inscritos, sobraram apenas 4. Mes-mo formados, após a promoção de cargo não há alteração salarial.

O soldado Stive (nome fictí-cio), hoje integrante do COE, des-taca que há uma mudança signifi-cativa no armamento, reciclagens, treinamentos e testes físicos. Ele passou quatro meses no Policia-mento Ostensivo Volante (Projeto POVO). ”O armamento não é condizente com a criminalidade, quase não se tem treinamentos”, relata. O soldado ainda ressalta

que é tarefa quase impossível combater o crime cotidiano com a estrutura defasada. Sobre a sua promoção relata: “O armamento é melhor e tenho mais instrução técnica”.

Segundo dados da Secreta-ria de Estado e da Previdência (SEAP), os proventos para todos os policias representam 51 mi-lhões para os cofres públicos por mês. O custo médio para o estado do Paraná é de R$ 300 reais cada e estão distribuídos em 13 distri-tos policiais, distribuídos por 75 bairros.

O governo propôs reestrutu-ração da polícia e adequação dos salários, que irão de R$ 2.289,57 a R$ 3.434, 36. Prevê a inclusão de 1.600 PMs e 500 Policiais Civis, para o segundo semestre. Mesmo com esforços das autoridades públicas no primeiro trimestre o aumento da violência em Curitiba aumentou 50%, apontando para a ainda presente deficiência no combate à criminalidade.

O investigador da Polícia Civil de Curitiba, Daniel Côrtes, há 25 anos na profissão, enxerga as divergências que revelam a realidade da segurança pública em Curitiba. Ele afirma que, se as pessoas soubessem realmente como está a situação, ninguém sairia de casa. Isso reafirma que a Curitiba desejada não é a cidade obtida pela sociedade. Segundo o investigador, a criminalidade cresce também porque não há investimento por parte do gover-no em áreas como treinamento policial e educação.

Além disso, a falta de poli-ciais nas ruas e ausência de quei-xas contra crimes pequenos em delegacias não ajuda. “As pessoas não registram justamente porque a polícia não vai prender o ban-dido”, declarou Côrtes. Em sua opinião, o que faltaria é vontade política. “O governo tem o Poder Legislativo e Judiciário. Mas o

Legislativo não cobra e o Judiciá-rio não faz cumprir”, critica.

Antes do trabalho nas ruas os integrantes das forças da Policia Civil passam por uma preparação intensiva, tanto mental, quanto física. O treinamento da Polícia Civil, por exemplo, tem duração de 4 meses, com aulas de segunda à sexta-feira, das oito da manhã às dez da noite. Além de ensina-mentos teóricos, como da área jurídica brasileira, também fazem parte os ensinamentos físicos, que exigem muita disposição por parte do policial.

Dentre as práticas físicas há manuseamento de armas de fogo, defesa pessoal, saúde física e operação policial (abordagem de veículos e pessoas, algemamento, arrombamentos etc).“Tem que estar sempre preparado, o treina-mento é constante”, afirmou Paulo César Januário, 41 anos, instrutor de tiro da Escola da Polícia Civil

desde 2006 e policial há 19 anos. O objetivo do treinamento

é preparar o profissional para situações futuras, em que sua função será prestar um serviço à população. “Você se torna policial porque quer prestar um serviço à sociedade, ser algo a mais”, disse Luis Vicente Soares de Quadros, 41 anos, investigador de polícia.

No entanto, a resultante que vemos nas ruas não é exatamente essa. A cada dia a criminalidade cresce na capital e, sem dúvida, quem leva a pior é a população, que não é protegida pela polícia.

O Centro de Operações Po-liciais Especiais (COPE) é uma das instituições mais importantes da Polícia Civil. Com 78 policiais

na unidade atualmente, é o único com permissão para o uso de fuzil e treinamento eficiente junto ao exército. Sua função é realizar operações especiais depois que o fato ocorre, trabalhando na in-vestigação, que é seu ponto forte. É preciso rigidez e sangue-frio para se submeter aos riscos que envolvem a profissão.“Se você ouvir alguém dizer que não fica nervoso é porque essa pessoa é louca”, afirmou Luis Vicente.

A proporção de cidadãos por policiais é quase o dobro da reco-mendada pela ONU (Organização das Nações Unidas). Então, se o treinamento policial é tão eficaz e satisfatório, por que não há policiais suficientes nas ruas e nas escolas de polícia? Este é um dos fatores principais: a falta de “mão-de-obra”, já que existem as viaturas, mas ninguém quem as dirija.

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Apesar de treinamento, policiais não estão presentes nas ruas

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policial 05Curitiba, junho de 2010

Número de policiais deveria ser 50% maior Realidade precária: salário defasado, falta de treinamento, de condicionamento e apenas 34% dos policiais com ensino fundamental completo

Page 6: Violência

Para cada emPresa regular três são irregulares e número de vigilantes suPera o de Policiais

Procura por segurança privada aumenta O aumento da criminalidade em Curitiba faz com que as pessoas recorram a profissionais de segurança privada para sua proteção

segurança06 curitiba, junho de 2010

a procura por serviços de segurança privada vem aumen-tando em torno de 8% ao ano em curitiba. isso se deve principal-mente ao acréscimo de pequenos furtos e da criminalidade. o setor de segurança privada emprega um contingente de cerca de 22 mil pessoas na capital. segundo sandro maurício smaniotto, presidente do sindicato das em-presas de segurança Privada, 43 anos, existe procura por seguran-ça para residências, mas a maioria é das empresas.

smaniotto alerta para o pe-rigo de contratar empresas de segurança clandestinas, alegando que além do provável despreparo é possível que os funcionários dessas empresas ilegais tenham antecedentes criminais. “contra-tando empresas ilegais as pessoas põe em risco seus bens e sua própria segurança”, afirma Sma-niotto. É necessário ao contratar uma empresa exigir o alvará de

Funcionamento e o Certificado de segurança devidamente renova-do. A legislação define que toda empresa que exercer a prestação de serviços de vigilância deverá possuir a autorização de Funcio-namento, documento expedido pela Polícia Federal, que permite a empresa explorar este ramo de atividade.

segundo João soares, presi-dente do sindicato de vigilantes de curitiba e região, para cada empresa legalizada existem três irregulares e o número de vigilan-tes na capital paranaense excede o de policiais. “existem situações que a Pm não consegue suprir, como a própria vigilância de esta-belecimentos, mas o aumento da criminalidade é tanta que as pes-soas não confiam mais apenas na segurança policial”, diz soares.

uma empresa com dois vigi-lantes trabalhando oito horas fica cerca de r$ 8 mil, uma quantidade alta para a realidade brasileira, já

que a segurança é um benefício assegurado pela constituição.

segundo um soldado da elite militar de curitiba, que prefe-riu não se identificar, a falta de preparo físico, psicológico e má remuneração dos policiais apenas agravam a situação do aumento da criminalidade. com um salá-

rio insuficiente, integrantes da polícia são forçados a fazerem os “bicos”, o que contribui com o aumento da segurança ilegal, falta de policiamento e um trabalho não eficiente.

ele conta que costuma fazer serviços de segurança privada, o que apesar de ilegal é o que

proporciona a maior parte de sua renda. “Faço escolta para bancos, segurança de pessoas influentes como políticos ou empresários”. Ele afirma que o motivo de fazer tais serviços é sua insatisfação salarial. ele diz que enquanto em Brasília um soldado de seu status ganha em torno de r$ 5.500, em curitiba o mesmo ganha r$ 2.200. “não quero que sejam liberados os bicos, mas sim que o salário melhore”. apesar de o soldado fazer serviços de segurança privada ele acredita ser necessária uma reflexão sobre o assunto, pois enquanto uma parte da sociedade, com condições financeiras superiores, pode usu-fruir do sossego que a segurança privada proporciona a maior parte, apesar de pagar impostos, vive refém da criminalidade.

grosseria Policial e aBuso da autoridade são as atitudes mais aPontadas Pela PoPulação

Pesquisa revela que população não confia na polícia de Curitibasegundo uma pesquisa feita

pelo comunicare, aproximada-mente 62% da população curi-tibana não confia nos policiais. os motivos apontados foram a grosseria e falta de educação na abordagem, tanto em blitz como no dia a dia. cerca de 51% dos entrevistados disseram já ter sido vítima ou ter presenciado falta de educação e abuso da autoridade por parte dos policiais. o levanta-mento foi feito no dia 20 de maio de 2010 na Praça carlos gomes, rua Xv de novembro e Praça santos de andrade.

arthur Whembller,19 anos, estudante, conta sobre sua expe-riência de ser preso por causa de um protesto estudantil. Whem-bller destaca a brutalidade da polícia. “na delegacia os policias apertavam os meus ferimentos, alguns dias antes eu tinha sofrido um acidente de moto e insultavam a mim, a minha família e me da-vam tapas na cara”. o estudante acredita que falta estrutura psi-

cológica para a polícia lidar com a pressão. “Falta treinamento, falta condicionamento físico e efetivo. eles não sabem abordar os diferentes tipos de classe”. o estudante também aponta o modo errôneo da abordagem usado pelas autoridades: “eles sacam a pistola e gritam “mão na cabeça”. se você não abrir a perna eles a chutam. normalmente atrás de drogas, mas alguns, eu acho, só por ‘esporte’”.

compartilha da mesma opi-nião o empresário carlos eduardo gomes, 39 anos: “É um medo com fundamento, há tanta corrupção dentro das delegacias que não se sabe quem é o bandido e quem é o mocinho”. Para gomes um treinamento e uma assistência psicológica aos policiais seria fundamental para reduzir o nú-mero de incidentes que envolvem a falta de “tato” da polícia. além do porte de armamento de fogo, os policiais também utilizam armas de efeito moral, como o spray de

Elizabeth BannwartJéssica CamillePriscila Cancela

Duran Sodré(EB)(JC)

pimenta e a bala de borracha, geralmente usados para conter grandes grupos. ana aparecida Peixoto, 21 anos, estudante, já foi vítima dessas armas em uma manifestação: “eu não tinha nada a ver com a manifestação e quando vi estava no chão com um monte de gente passando por cima de mim, com os olhos e boca ardendo. a polícia não está nem aí para quem é culpado ou não, eles querem mesmo é bater”. a estudante acredita que se as ações da polícia militar e civil não tiverem uma fiscalização maior da população e do estado os abusos só vão aumentar. “o poder costuma subir na cabeça das pessoas, é o que acontece com muitos policiais”, conclui ana, que considera a impru-dência da polícia como um dos fatores que mais contribui para o aumento da criminalidade.

Empresas de segurança privada legais e ilegais no Brasil (%)

01020304050607080

Ilegais Legais

LegaisIlegais

*Comunicare Pesquisas.

Fonte: Sindicato dos Vigilantes de Curitiba e região.

Você confia na polícia?

Sim - 35,8% Não - 64,2%

Você já sofreu brutalidade policial?

46 48 50 52

Sim

Não

Não - 48,6%Sim - 51,4%

Page 7: Violência

Curitiba, junho de 2010

“O absurdO, a injustiça, passam a ser nOrmais e aCeitáveis”, revelOu a pedadOga rOssana flOrianOAssédio moral no trabalho é realidade nas grandes empresas

O acosso laboral, mais co-nhecido como assédio moral no trabalho, é uma forma de violência que tem crescido na realidade em-presarial de Curitiba. a pedagoga e analista de sistemas rossana floriano, 50 anos, sentiu na pele o sofrimento causado pelo acosso.

depois de superar essa fase de sua vida, escreveu o livro “acosso laboral nas organizações – uma “realidade velada”. através do livro, rossana concretizou sua

Ana Carolina Weber(JY)

mOradOres se preOCupam mais COm segurança dO Que COnfOrtO

Medo da violência aumenta procura por apartamentosCriminalidade faz construtoras adotarem novos conceitos de moradia

a venda de imóveis em pré-dios ou condomínios fechados é o que tem sustentado a economia do ramo imobiliário de Curitiba nos últimos quatro anos. É o que afirma o corretor imobiliário Hélio makishi, garantindo que nunca vendeu tantos apartamentos como agora. assustados com os altos índices de assalto e violência, os curitibanos estão procurando mais segurança nesses modelos de construção.

até mesmo os que gostam de casas estão mudando sua rotina e aderindo à nova tendência. “eu não gosto de viver em um apartamento. me sinto sem liber-dade, mas é a solução”, revelou a aposentada iná brunetti, que há três anos trocou sua casa por um apartamento. antes da mudança, iná e o filho foram rendidos e assaltados no portão de casa vol-

tando de um jantar.Curitiba possui bairros toma-

dos por prédios, como o Cristo rei e juvevê, onde os apartamentos representam mais de 80% dos imó-veis residenciais. mas há locais em que os prédios não agradam. são lourenço e Xaxim são exemplos, já que os edifícios não chegam a atingir nem 5% dos domicílios. a falta de popularidade dos prédios nessas áreas não impede a nova tendência. É o que comentou o consultor de vendas imobiliárias luis fernando brenner: “esses bairros são vilas cheias de condo-mínios fechados. e se algum deles ainda não é, com certezacserá em breve.”

segundo brenner, garagens, porteiros 24h e circuitos internos de monitoração são as primeiras preocupações de quem procura um imóvel na capital. esses requi-

Jéssica Yared

Bet

hina

Per

usso

lo

volta por cima, dividindo sua experiência. Hoje, seu livro é referência para o tema que quase não é conhecido pela sociedade.

segundo rossana, o acosso laboral acontece em cinco etapas: o enredamento, que se dá a partir do desconforto percebido pelo funcionário. a concepção de que passou a ser perseguido pelo su-perior. a manifestação de doenças como as de pele e depressão. O domínio público, em que todos já

sabem o que está acontecendo e, por fim, a exclusão, quando o acos-sado pede demissão ou é demitido.

a pedagoga revelou que em sua experiência a empresa era culpada, o que favorecia o acosso. um ambiente de trabalho com uma gestão ruim em conjunto a uma pessoa com princípios “defi-cientes” acaba sendo terreno fértil para a violência. “O absurdo, a injustiça, passam a ser normais e aceitáveis”, contou rossana.

O funcionário assediado sente-se sozinho o tempo todo, pois colegas e amigos não têm coragem de ajudar. O medo de se prejudicar ou até de se tornar a próxima ví-tima acanha a todos. a psicóloga Cláudia balvedi, 42, especialista em terapia cognitiva comporta-mental garante: as pessoas tendem a sofrer o assédio em silêncio, por medo de se expor e de ter crédito em sua queixa, já que em geral são assediadas por um superior.

Adolescente sofre assal to na f rente de casa e é baleada

“se for para sair um pouquinho de casa eu já olho para todos os la-dos”, revelou Suzy Valéria Serafim de Souza, mãe de Crystal Serafim de souza, 16 anos, que foi atingida na cabeça por uma bala numa troca de tiros na frente de casa. a menina, que sobreviveu graças a uma fivela que adornava a cabeça, convive com o medo na rotina da família.

no último 31 de março, terça-feira, por volta do meio-dia, Crystal e sua mãe foram ao banco retirar uma grande quantia em dinheiro. temendo assaltos, constantes nas redondezas do bairro alto, pedi-ram a um policial amigo da família que as acompanhasse. um moto-queiro e outro homem seguiram o carro. ao retornarem para casa, começou o conflito. O policial e os bandidos trocaram tiros, enquanto mãe e filha permaneciam no carro. “O policial escorregou no barro

Crystal, ao lado da mãe, sobreviveu graças à flor que usava no cabelobem na hora em que deu um tiro. O tiro acabou acertando o pára-brisa do carro e a minha cabeça”, contou Crystal. A bala atingiu a flor que ela usava no cabelo, amenizando os efeitos do disparo.

Crystal sofreu paralisia com-pleta no lado direito do corpo e sua rápida recuperação impressionou os médicos. menos de dois meses depois da tentativa de assalto, ela já movimenta o braço direito e a perna, mesmo que com limitações. não teve a memória ou fala afeta-das e já voltou para a escola.

Quanto aos bandidos, Crystal pediu ao pai para parar de procurá-los, temendo que eles voltassem a aterrorizar a família. foi ela também que tranquilizou o poli-cial, pois ele ficou extremamente abalado com o ocorrido.

a única saída, conforme ros-sana, é a prevenção. através de gravações de conversas, e-mails e qualquer tipo de prova para a acusação. uma vez dentro da rea-lidade da perseguição, o acossado é aconselhado a fazer tratamento psicoterápico para auxiliar na reestruturação. mas, segundo a Cláudia, a vergonha leva o funcio-nário a não procurar ajuda.

sitos tomam a frente do conforto e até do custo-benefício. O metro quadrado de apartamentos e resi-dências em condomínios fechados é mais caro do que os de casas. “O preço baixo até motiva alguns clientes a escolherem casas, mas quando somam o que vão gastar em cercas elétricas, sistemas de monitoração e outros artigos de segurança, desistem. É o preço da segurança e tranquilidade”, comentou ruth dalcuchi, gerente comercial de vendas imobiliá-rias.

O crescimento de prédios e condomínios fechados foi trazi-do de são paulo e é recente em Curitiba. apenas 24,8% dos do-micílios são apartamentos, mas esse fenômeno vem crescendo rapidamente. a capital, que era conhecida por cidade grande com cara de pequena, começa a ser tomada por edifícios. preocupadas com isso, as construtoras aderiram a um novo conceito. apartamen-tos com pequenos ambientes ao ar livre e prédios com serviço de cinema, lavanderia, academia e playground vêm aparecendo para que o cliente não precise sair de casa e enfrentar a violência. “É o espaço e a liberdade de uma casa, com toda a segurança e co-modidade de um apartamento”, comentou ruth.

famÍlia COnvive COm O medO apÓs assaltO

Bethina PerussoloCamila Matta

07comportamento

Page 8: Violência

CONSUMO E TRÁFICO DE ENTORPECENTES SÃO MOTIVADORES DE AGRESSÕES CONTRA A MULHER, DO AUMENTO NOS HOMICÍDIOS COM ARMAS DE FOGO E DA PARTICIPAÇÃO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM CRIMES GRAVES

Curitiba e a criminalidade: envolvimento com drogas resulta em vários tipos de violênciaDiversos projetos são desenvolvidos na capital paranaense, tanto para prevenção quanto para o combate de ações violentas, mas ainda falta um maior acompanhamento das vítimas e investimento nas áreas de apoio, que não são prioridade

geral08 Curitiba, junho de 2010

Em vista do aumento da criminalidade em Curitiba (34 homicídios a cada 100 mil habitantes), o Comunicare levantou quatro dos crimes mais frequentes na cidade: o tráfi co de drogas, violência contra mulher, agressões utilizando armas de fogo e crimes cometidos por menores.

Entre os profi ssionais entrevistados está o representante da Secretaria Antidrogas de Curitiba, Antônio Moreira, que afi rma: “to-dos os níveis sociais usam drogas, sem exce-ção”. Isso se dá pelos mais diversos motivos, seja por fatores emocionais, companhias ou falta de informação. O especialista em Segu-rança Pública, afi rma que Curitiba e Região Metropolitana são até mais violentas que São Paulo e Rio de Janeiro, de acordo com os números de ocorrência por habitante; e explica que o auxílio das polícias Militar, Federal e outros tipos de patrulha são de suma importância nas ações combativas.

Moreira contou que a Secretaria promo-ve projetos em diversos locais da capital e do estado, tais como: “Papo Legal”, “Caravana do Bem” e “Cão Amigo”. Contando com, aproximadamente, 300 jovens por região, o projeto “Bola Cheia” é realizado durante o período da noite, onde professores de Educa-ção Física promovem jogos de futebol com o intuito de afastar as crianças e adolescentes do contato com as drogas. Índices mostram que no horário em que os menores praticam esportes, o tráfi co diminui, mas isso é só o começo. Além desses projetos, a S.A.M. investiga as denúncias anônimas enviadas para seu site ou pelo disk denúncia.

Já na área de violência contra as mu-lheres curitibanas, a presidente do Conselho Municipal da Condição Feminina, Elizabeth Maria de Aguiar, alega que muitas mulheres não denunciam casos de violência por falta de apoio e que uma possível melhora nos lo-cais de amparo poderia gerar uma maior con-fi ança nas vítimas na hora de prestar queixa. Os casos mais comuns são de agressão física e sexual, havendo também ocorrências de violência psicológica, moral e patrimonial (considerados crimes graves, mas não re-conhecidos como tal). A falta de números conclusivos gera difi culdades para os órgãos responsáveis, tanto no atendimento das ví-timas quanto na punição dos agressores. Em função dessa necessidade de informa-ções sobre o assunto, o Conselho resolveu realizar uma pesquisa onde as vítimas e/ou pessoas que conheçam alguém nessa situa-ção possam preencher um formulário para participar dessa coleta de dados, que existe a cerca de um ano e meio. De acordo com a Coordenadora de Projetos do CMCF, Magali

de Macedo, Curitiba será, possivelmente, a primeira cidade do Brasil a realizar uma pes-quisa analisando esse tema caso a caso.

O órgão possui também o apoio da Se-cretaria Antidrogas, para que em casos de violência contra mulher, que estejam rela-cionados a entorpecentes, seja possível to-mar uma medida imediata contra o agressor.

Ligado a esses fatores está o crescente número de pessoas que morreram por armas de fogo em Curitiba. Em 2009 foram conta-bilizadas mais de 300 mortes por esse tipo de agressão. O advogado criminal, Pedro Octávio Oliveira, comenta que na maioria dos casos em que trabalha, seus clientes cos-tumam utilizar as armas de fogo. Esse uso ocorre porque os criminosos acreditam que o armamento “ajuda na hora de abordar as pessoas, dando um motivo para que elas não reajam e cedam ao assalto”. O acesso às ar-mas está cada vez mais banalizado, uma vez que elas se tornam abundantes no mercado (legal ou contrabandeado). E esses itens chegam cada vez mais cedo às mãos dos jo-vens, na maioria dos casos, por intermédio do tráfi co.

Esse é apenas um dos motivos para crianças e adolescentes, entre 12 e 18 anos, se envolverem com a criminalidade. A dele-gada Nilcéia Ferraro da Silva, explica que o trabalho realizado na Delegacia do Ado-lescente precisa ser visto com a devida im-portância, pois ela não lida com homicídios, furtos e roubos de forma isolada, ela é uma clínica geral. Por tratar de jovens, ela é a de-legacia do futuro. Nela, todo tipo de punição tem caráter pedagógico, buscando a reinser-ção do menor nos âmbitos escolar, familiar e social, o que é complicado tendo em vista que 80% estão em situação de miséria.

Mas, apesar dos métodos de reeduca-ção serem bem estruturados, os índices não mentem, o número de prisões nessa faixa etária está quase três vezes maior. Nilcéia critica a falta de interesse com a delegacia por parte das autoridades, dizendo que so-fre com o número baixo de policiais e com as viaturas que não se encontram em bom estado, nem se enquadram no padrão das ou-tras DPs; e admite que é preciso que os poli-ciais dessa área tenham um melhor preparo para trabalhar com casos, por exemplo, de roubos famélicos (movidos pela fome) que exigem uma abordagem delicada. (leia mais na pág.10)

Amanda WalzlIsadora Lago

Renan RderdeTaisa Echterhoff

Índices de violência em Curitiba

Antônio Moreira – Secreta-ria Antidrogas “O trafi cante é um comerciante. Ele quer demonstrar poder, e se ele for adolescente, ele mata por uma pessoa ficar devendo

Realidade - Os homicídios dolosos na Capital saltaram de 156 casos no primeiro trimestre de 2009 para 240 no mesmo período em 2010. Sendo que, 80% dos homicídios são por causa do tráfi co de drogas.

Cam

ila Olenik

Pedro Octávio - Advogado Criminal “Várias das pessoas que defendo em tribunal com posse de arma de fogo assu-mem que conseguiram o instru-mento por meios ilícitos, muitas vezes ligados com o tráfi co.”

Realidade - Em 2009, foram registrados 632 homí-cidios só na capital, sendo mais de 300 efetuados com armas de fogo

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CONSUMO E TRÁFICO DE ENTORPECENTES SÃO MOTIVADORES DE AGRESSÕES CONTRA A MULHER, DO AUMENTO NOS HOMICÍDIOS COM ARMAS DE FOGO E DA PARTICIPAÇÃO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM CRIMES GRAVES

Curitiba e a criminalidade: envolvimento com drogas resulta em vários tipos de violênciaDiversos projetos são desenvolvidos na capital paranaense, tanto para prevenção quanto para o combate de ações violentas, mas ainda falta um maior acompanhamento das vítimas e investimento nas áreas de apoio, que não são prioridade

geral 09Curitiba, junho de 2010

Você acha Curitiba segura?

“Não. Curitiba cresceu mui-to e o número de policiais

continua pequeno.”Elliete Pegoraro, 50, apo-

sentada

“Relativamente, mas ainda faltam investimen-tos em educação, instru-ção, princípios morais.”

Hália de Souza, 72, sexóloga

“Não. Curitiba tornou-se uma cidade violenta

principalmente pela falta de oportunidades.”

Giovani Mendes, 44, administrador

“Não, pois no perío-do da noite tem pouca segurança e ilumina-ção fora do centro.” Mariana Musse, 21,

estagiária

“Sim, Curitiba é exemplo apesar de ser uma cidade

em desenvolvimento.” Valtencir de Sou-

za, 33, zelador

“Sim, me sinto segura no geral, mas existem regiões

que não frequento.”Keila de Freitas, 17, estu-

dante

“Sim, porque só vou ao trabalho no período da

manhã e da tarde, não saio à noite.”

Rafael Ferreira, 27, téc. informática

“Não, porque onde eu moro, à noite não podemos

mais sair nas ruas.”Francielly Gomes, 24,

recepcionista

Índices de violência em Curitiba

Nilcéia Ferraro da Silva - Delegacia do Adolescente “A D.A. precisa ser vista com a devida importância. Ela é uma clínica geral, é a dele-gacia do futuro.”

Realidade - As punições são feitas levando em conta a índole, a origem social e a gravidade do crime, podendo chegar a no máximo 3 anos. O que não signifi ca que “não deu em nada”, pois em Curitiba esse processo tem caráter pedagógico e não de simples reclusão.

Elizabeth Aguiar - Conselho Municipal da Condição Fe-minina “Elas possuem uma relação de amor e ódio com o companheiro, esperando que eles mudem algum dia.”

Realidade - A cada quinze segundos uma mulher é agredida no Brasil. Se multiplicarmos esse valor por quatro anos, chegaremos quase ao dobro da população feminina do Paraná. E Curitiba não foge à essa regra.

Am

anda Burda

Talita Inaba

Diane C

ursino

Page 10: Violência

feita acareação, com comprovações de materialidade e uma seguinte defesa. As penas são expedidas pelo delegado, promotor ou juiz, de acordo com a gravidade. Podem ser pedidas reparações de dano, aplica-ção de medida sócio-educativa, pro-cesso de semi-liberdade ou culminar na internação, mínimo de 6 meses e máximo 3 anos.

Famílias de vítimas de assassi-nato se indignam, por exemplo. em relação às penas. Como pode passar apenas três anos preso alguém que tirou a vida de outra pessoa? Ora, isso é o que a legislação permite, só cabe às delegacias executar e recu-perar o infrator, reintegrando-o à so-ciedade. A adolescência é uma fase de transição, na qual o caráter não está totalmente formado, logo não se pode julgar o menor como bom ou mal. Segundo a delegada Nilcéia Ferraro da Silva, os profissionais levam em conta a índole, a origem do jovem e a gravidade do crime para formular uma sentença justa.

Uma vez sentenciado, o trans-gressor é enviado para o Cense

“O adolescente não comete mais atos (ilegais) que criminosos adultos; ele não é o maior praticante, mas sim a maior vítima: da polícia, das drogas, da própria família, do mercado de trabalho e até da escra-vização infantil”. É assim que Lucia-no Souza, diretor da Unidade Cense Curitiba (núcleo de tratamento de menores localizado na Delegacia do Adolescente) mostra que a violência envolvendo menores é estrutural. Segundo ele, é preciso sair do senso comum de achar que jovens são os maiores delinquentes do país.

Quando chega uma ocorrência a essa delegacia, o primeiro passo é a identificação do menor. Caso a infração cometida não tenha sido grave, o responsável é chamado e assina um termo de responsabi-lidade garantindo a apresentação judicial quando for chamado, além de mostrar a matrícula escolar do jovem. Se houver apreensão, em 24 horas ouvem-se as partes, verifica-se o dano contra pessoa ou patrimônio. O adolescente é internado proviso-riamente até 45 dias, para que seja

O USO DE CRACK É O PRINCIPAL MOTIVO DOS FURTOS E ROUBOS COMETIDOS POR MENORES NA CAPITAL

Maioria dos infratores são negros de classe baixa90% dos jovens detidos são do sexo masculino e geralmente provém de famílias desestruturadas com pais ausentes ou violentos

geral10 Curitiba, junho de 2010

A sede da Delegacia do Ado-lescente de Curitiba, no Tarumã, conta atualmente com 90 internos, sendo que sua capacidade é para até 100 infratores. Dentre os quase mil jovens detidos em todo estado, 115 estão na Unidade São Francisco em Piraquara, 23 em Fazenda Rio Grande e 13 na Unidade Joana Richa (para meninas) em Curitiba.

Dentre os cri-mes cometidos, 90% caracteri-zam-se por furtos simples e roubos, aliados ao susten-to do uso de dro-gas, e nos outros 10% estão crimes mais graves como homicídios – que têm aumentado, entre eles parricídios e matricídios (assassinato de pais e mães), além do latrocínio (roubo seguido de morte) – envolvimento com tráfico e abuso sexual, de acordo com o do

Datasus (Departamento de Infor-mática do Sistema Único de Saúde).

No perfil curitibano de 2009, 90% dos apreendidos eram do sexo masculino, maioria negros de classe baixa, segundo o Cense (Centro de Socioeducação de Curtiba). A enti-dade faz parte do Centro Integrado de Atendimento ao Adolescente Infrator (CIAADI). O Centro Inte-

grado une vários órgãos públicos, com a função de agilizar e tornar mais eficiente o atendimento de crianças e adoles-centes infratores. As medidas sócio-educativas, visam a reinserção destes jovens na socieda-

de e a prevenção de mais crimes. O desemprego, a desorgani-

zação familiar, o tráfico, a falta de educação de qualidade e até mesmo de lazer, levam os jovens

a abandonar seus lares. “Temos visto bastante o problema familiar das mães, que acabam se casando de novo, e os filhos do casamento anterior não têm uma boa relação com o padrasto, são maltratados e acabam indo para as ruas”, afirma Maria Roseli Guiessman, juíza da Vara de Infância e Juventude.

A desestruturação familiar faz com que esses meninos fiquem nas ruas e sejam presas fáceis do tráfi-co, porque não há uma referência familiar, um pai. “Essa figura do pai ausente ou, quando presente, muito agressivo, um modelo negativo, é um dos motivos para que os meni-nos entrem para a vida do crime”, explica o psicólogo Kirchner.

Além da desestruturação fa-miliar, outro ponto que contribui para o aumento da criminalidade entre os jovens é o uso e tráfico de entorpecentes. Tem sido notada uma preferência pelo crack, que dá lugar aos antigos solventes, como a cola de sapateiro, que eram mais

utilizadas por jovens em condição de miserabilidade para enganar a fome.

O crack é o maior inimigo. “O desespero pelas drogas já faz esses meninos cometerem coisas muito piores”, relata a delegada Aline Manzatto. Durante a detenção, os garotos recebem auxílio para lidar com a dependência toxicológica

Em episódios de reincidência, caso o jovem volte à criminalidade, abre-se um novo processo. Existe um sistema de acompanhamento do egresso com auxílio de bolsa, mas acaba existindo um sequestro social, pois o jovem é maltratado pela sociedade, pela família que não mudou e ainda é violenta, por frequentar os mesmos círculos so-ciais, por falta de empregabilidade do ex-detento e até pelo preconceito nas escolas.

METODOLOGIA PEDAGÓGICA TENTA REINSERIR JOVEM NA SOCIEDADE

Delegacia do Adolescente mostra como trata infrator(Centro de Sócio Educação) . A única privação aplicada é sobre o direito à liberdade, já alimentação, educação ou saúde, devem ser man-tidos para que o jovem tenha um tra-tamento humano durante o período de reclusão. Também são garantidas visitas, pois a base familiar é de suma importância para a reestru-turação do jovem. Como 30% dos casos provém do interior e litoral, a D.A. garante que parentes venham até o distrito, ofertando até duas pas-sagens para os pais ou responsáveis. O jovem deve estar o mais próximo da família possível, mas como o adolescente não pode ser detido por mais de 48 horas em delegacias de sua cidade, são relocados de acordo com as vagas disponíveis no distrito mais próximo.

A escolarização é feita pelo Proeduse, no mesmo formato do Ensino de Jovens e Adultos. Existe uma grande disparidade idade-série, por isso há no máximo 8 alunos por turma. Eles recebem aulas normais do currículo de ensino fundamental, além de artes, terapia ocupacional, e

Tempo de detenção pode variar de seis

meses a três anos

Isadora LagoLaura Sliva

Taisa Echterhoff

Isadora LagoTaisa Echterhoff

Procedimento pós-crime

Num procedimento de adolescente apreendi-do são produzidos em média 40 documentos, dentre deles:

• Ouvir policiais, 2ª teste-munha e vítima

• Autoexibiçãoeapreen-são

• Auto de avaliação /ConstataçãodeSubs-tância Entorpecente

• Autodeentregadosob-jetos para as vítimas

• Fotografiadosobjetosapreendidos / vítimalesionada

• Encaminhamento doadolescente ao SAS

• Encaminhamento davítima de abuso sexual ao setor de psicologia jurídica

• Encaminhamento doadolescente ao Institu-to de IdentificaçãodoParanáparaconfecçãodo RG (caso não pos-sua)

• Concluído o proces-sode investigaçãonaDA, o adolescente será apresentado ao Minis-tério Público para ser ouvido de modo infor-mal

• NasequênciaoMinis-tério Público encami-nha o adolescente a presençadoJuizparadefinição damedidasócio-educativa – art. 112 a 125 do ECA

um trabalho de reestruturação voca-bular com professores de português (devido à grande coloquialidade e ao número de gírias e palavrões). Trabalha-se como lidar com autori-dade, imposição de limites, tratando com respeito e exigindo respeito.

Tanto na atuação policial quanto no tratamento dentro do sistema carcerário dos adolescentes pode haver atos de contenção física ou uso de algemas – amparados por legis-lação, e geralmente restritos a casos de rebeliões, por exemplo. Luciano afirma que caso houvesse qualquer tipo de abuso, a Polícia Civil estaria causando um desserviço, ao praticar a chamada violência estrutural, que só pode ser combatida com qualifi-cação do profissional. Ele também explica que as atuais melhorias são dadas pois, entre os 18 diretores dos Cense do Paraná, nenhum provém de cargo político, mas são cargos técnicos, onde a formação é decisiva para o cumprimento da gestão.

Page 11: Violência

OS PRINCIPAIS DESTINOS DAS DROGAS SÃO TAMBÉM OS BAIRROS COM O MAIOR ÍNDICE DE HOMICÍDIOS EM CURITIBA

Consumo de crack aumenta na capitalApreensão de crack em Curitiba até abril de 2010 pela Divisão Estadual de Narcóticos já ultrapassa total de 2009

drogas 11Curitiba, junho de 2010

Do início do ano até agora, já fo-ram apreendidos mais de 1,3 milhão de pedras de crack no Paraná. Desse todo, a Polícia Civil é responsável pelo confisco de 24 quilos da droga, ou seja, 120 mil pedras, pouco menos do que o total do ano passado, que chegou a 29 quilos. Na capital, os principais destinos da droga são os bairros Ube-raba, Boqueirão, Tatuquara e Cajuru, lugares com os maiores índices de homicídios na cidade.

Feito a partir da mistura da pasta base (resto da cocaína), que diversos produtos químicos, o crack se apre-senta na forma de pedras e causa dependência facilmente. Quando fumado, ele atinge o cérebro de 5 a 10 segundos, provocando efeitos de intensa euforia, excitação, insônia, sensação de poder, desorientação, instabilidade emocional, mania de perseguição e fissura.

Maria Cristina Venâncio, Poli-cial Civil, psicóloga e coordenadora do Cape (Centro Antitóxicos de Prevenção e Educação), afirma que

a quantidade de usuários de crack vem aumentando. “O que nós vemos bastante pelos noticiários e até mesmo pelas pessoas que nos procuram é o crack. Nós o chamamos de câncer do mundo, já que ele está destruindo muitas famílias”, ressalta Maria. Ela diz ainda que quando o dependente químico faz uso da droga, sente-se

onipotente e encara qualquer situação, depois, quando quer dinheiro para comprá-la, torna-se muito agressivo.

A violência também está dire-tamente relacionada com as drogas. Ainda não existe um mapeamento do crime para ter informações precisas em relação à quantidade de assassi-natos cometidos pelo tráfico, mas a

delegada da Denarc, Ana Paula Cunha Carvalho, estima que cerca de 80% dos homicídios que ocorrem em Curi-tiba e região metropolitana são em decorrência das drogas. Até o dia 28 de abril deste ano, foram apreendidos pela Divisão Estadual de Narcóticos, em Curitiba 15 quilos de maconha, 59 quilos de crack e 4 quilos de cocaína, o que demonstra o crescimento da venda de crack em relação às outras drogas e também ao ano passado.

Em 2001 a região sul do Brasil possuía o maior índice de pessoas que já usaram crack uma vez na vida. Daquele ano para 2005, o índice subiu de 0,5% para 1,1%, segundo pesquisa realizada pelo Obid (Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas).

Alessandro Xavier*, 34 anos, foi usuário de crack por 8 anos. “Comecei com 13 anos cheirando benzina, aos 15 já conhecia a maconha e aos 18 fumava diariamente, então, aos 23, experimentei um Cabral, mistura de maconha com crack. No começo eu

usava apenas aos fins de semana e algum tempo depois já estava usando diariamente”. Ele ainda conta que teve amigos e amigas que foram assassina-dos por dívidas com traficantes. “No tráfico você pode morrer por R$ 5,00, o fato não é a dívida e sim a palavra.” Como muitos usuários de crack, Alessandro também furtava objetos de familiares para obter a droga e acabou cometendo outros atos ilícitos. “Eu trafiquei maconha por muito tempo e busquei muito crack para conhe-cidos em troca de algumas pedras”, comenta ele.

Há quase três anos Alessandro está de livre das drogas, “de cara-lim-pa, como é chamado por ex-usuários, mas ele sabe que a dependência não tem cura e sim tratamento. Por isso, freqüenta regularmente o grupo de Narcóticos Anônimos e evita pessoas, lugares e hábitos que possam levá-lo a recaída. (*Nome fictício)

Maria Cristina (esq.) e Ana Paula (dir.) concordam: o crack está dominando

Rub

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liana

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CIDADE LIDERA RANKING DAS CAPITAIS COM MAIS JOVENS QUE JÁ CONSUMIRAM ALGUM TIPO DE SUBSTÂNCIA ILÍCITA

Juventude de Curitiba é cadavez mais tragada pelas drogas

Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (Pense), 8,7 % dos estudantes até 15 anos usam drogas ilícitas. O dado é assustador, não pela porcentagem em si, mas pela idade dos adolescentes. O estudo divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Ge-ografia e Estatística), em janeiro deste ano, torna-se ainda mais preocupante quando coloca Curitiba, com 13,2%, no topo da lista das capitais com mais jovens que já consumiram algum tipo de substância ilícita, independente se tenham se tornado usuários.

Mas a dúvida que fica no ar é: como evitar um aumento desses números? A solução aparece de diferentes maneiras. Através de um policiamento maior nas ruas, de uma evolução no sistema de combate ao tráfico organizado ou de uma maior rigorosidade na pena a quem se opõe a lei. A Polícia Federal apreendeu 132 mil comprimidos de ecstasy em 2009, o que representa um crescimento de

2.500% em relação ao índice de nove anos antes, quando o número chegou a 5 mil. No mesmo período, a cocaína teve um crescimento de 500% e o crack, 3.000%. Porém, não há como garantir que o problema esteja sendo resolvido, uma vez que, tendo sua droga apreendida, o usuário passa a ingerir outro tipo de substância.

Para o Cebrid (Centro Brasileiro de Informações), a causa do problema está na ausência de perspectiva de muitos jovens. A falta de senso de cidadania confunde e ilude muitos deles, assim as drogas surgem como um “cano de escape”. O crack, capaz de levar uma pessoa a ter cirrose com apenas uma usada, é o principal exemplo disso. Segundo o centro de pesquisas, a causa do seu uso está na carência de alternativas, como lazer e cultura.

O coordenador de combate an-tidrogas, Jônatas Davis de Paula, concorda com o Cebrid ao afirmar que

a solução está em combater o uso de drogas através da prevenção. “A única maneira de acabar com as drogas sem o uso da violência é com um trabalho de educação que deve ser iniciado muito cedo na vida das crianças”, concluiu o coordenador, que organiza eventos com esse fim.

Assim, prezando por uma juven-tude mais consciente de sua posição na sociedade, seria possível evitar muito da hipocrisia existente hoje na classe média/alta. A Secretaria Anti-drogas de Curitiba diz que “não existe uso inocente e nem ‘não sabia’, já que só existe tráfico porque tem quem compre”. O órgão afirma ainda que “muitos jovens sabem que financiam o tráfico ao adquirir uma droga, mas mesmo assim o fazem. Porém, quando dobram numa esquina e são assalta-dos, criticam o sistema e culpam o governo”.

Juliana HemiliRubens Moreira

Guilherme MelloIdionara Bortolossi

Em outubro do ano passado, Curitiba sediou um fato que pa-recia isolado. Traficantes instituíram um toque de recolher às 22 horas. O aviso foi claro: todos que estivessem fora de sua casa na Vila Audi seriam baleados. O motivo para isso? O assassinato do sobrinho de um dos traficantes do grupo “Nerdão”. Quando chegou a hora determinada, os bandidos passaram atirando em quem estava na rua. O resultado foram oito mortos e dois feridos. Cinco deles tinham entre 15 e 25 anos. Jovens que estavam começando sua vida, mas os que mataram a sangue-frio, eram tão novos quanto. Os responsáveis têm idades entre 18 e 25 anos. Tudo parece muito diferente e raro de acontecer. Mas os toques de recolher são comuns na região. Quando eles estipulam um horário, os alunos das escolas próximas noite saem mais cedo da aula, mesmo que o professor não libere, eles não ficam na sala. Segundo moradores, todos sabiam desse toque dias antes do acontecimento, mas por medo dos traficantes, calaram-se. A diferença dessa chacina com as outras que já ocorreram na vila foi a sua abrangência e a falta de controle dos assassinos. Tudo indica que a chacina estava programada para acontecer de uma determinada forma, mas os bandidos perderam o controle da situação, mataram quem queriam, mas também quem não era para morrer. Segundo informações dos moradores, o incidente deixou o chefe da quadrilha morto. A situação dentro da Vila Audi é compli-cada. Jovens de 16 anos assumiram o comando do narcotráfico dentro da favela e, por serem muito novos, demonstram seu po-der através de assassinatos sem grande motivação. Além disso, depois do episódio, roubos e outros crimes menores que não aconteciam dentro da comunidade se tornaram comuns. “Eles estão vivendo sem regra alguma, não respeitam nem mesmo as leis deles”, enfatizou um morador. (IB)

Chacina na Vila Audi

Page 12: Violência

educação12 Curitiba, junho de 2010

Falar com propriedade de determinado assunto exige pesquisa e inserção no âmbito que se propõe discutir. Pensando nisso, a editoria de Educação do COMUNICARE se propôs a acompanhar um dia inteiro em uma escola com sérios problemas de violência em Curitiba, porém a ideia teve que ser abolida. Após falar com todas as instâncias possíveis para requerer autorização para fazermos a reportagem, obtivemos a seguinte ex-plicação - dada por uma funcionária que pediu para não ser identificada por questões de manutenção de seu emprego – “Você tem que pedir autorização para a SEED (Secretaria de Estado de Educação), mas é certeza absoluta que você não vai conseguir, porque estamos em ano eleitoral, e por serem todos cargos políticos, sejam os direto-res, os responsáveis pela Secretaria ou nós mesmos, perigamos perder nossos empregos, eles vão proto-colar seu pedido, mas vai demorar muito tempo, sem contar com a burocracia, que é proposital”. Real-mente a autorzação não foi concedida. Portanto, mudamos as reportagens e ainda assim conseguimos materiais, que levantam profundas discus-sões sobre como a escola, a comunidade e a sociedade está estruturada. Vale ressaltar que as en-trevistas que contém nesta página, bem como o nome das escolas que abriram as portas, serão mantidas em sigilo, por razões já explicadas. Fica o questionamen-to da editoria: será essa simples proibição já, não é uma forma de violência? Professores que querem se pronunciar e demonstrar como é a situação real, são boicotados por ameaças e chantagens políticas. As re-alidades serão escondidas somente porque estamos em ano eleitoral?

Um dia de cãoPOUCAS VIATURAS DA PATRULHA ESCOLAR DIFICULTAM O COMBATE À INSEGURANÇA

Dificuldade no controle da violênciaAtividades e programas voltados para jovens contribuem para diminuir os índices da violência na escola

A Patrulha Escolar Comunitá-ria, responsável pelo policiamento das escolas estaduais de Curitiba, apesar do bom funcionamento de seu programa de atuação, apre-senta hoje dificuldade em atender ao grande número de instituições escolares. Cerca de 20 escolas de diferentes bairros da capital apon-tam a quantidade de patrulheiros e viaturas disponíveis para o tra-balho como o principal problema enfrentado.

O programa de atuação da patrulha é inicialmente preven-tivo. São aplicadas dinâmicas e palestras aos pais, professores, fun-cionários e alunos de cada escola, para alertar e proteger os mesmos, sobre as diversas situações de risco. Além disso, são realizadas visitas as escolas e monitoramente de suas atividades. Dependendo da gravidade da situação, em al-gumas ocasiões são necessárias atitudes de repressão por parte dos patrulheiros, porém estes afir-mam que são raros tais casos e o objetivo da patrulha é justamente impedir que uma situação chegue a este nível. “São raros os casos que necessitam de medidas repressi-vas, acho que não representam nem 5% das situações, o trabalho é prio-ritariamente pre-ventivo”, comenta um patrulheiro.

Seg u ndo as escolas, a realiza-ção das atividades é de grande importância. Além de trazer melhorias ao ambiente escolar e aos próprios alunos, o tra-balho diminui consideravelmente a sensação de insegurança dentro das instituições. Porém, quando chamados, nem sempre a patrulha consegue atender a todas regiões.

Para a pedagoga e vice-diretora de um colégio localizado no bairro Uberaba, o serviço da patrulha é ineficiente, mas não por incom-petência dos policiais. Ela contou que recentemente houve dois casos envolvendo drogas na instituição: “em um deles, um aluno tinha escondido drogas no tênis e um de

nossos funcionários viu. Ligamos para a Patrulha Escolar e mantive-mos o menino sob observação para que ele não se livrasse do pacote até que a viatura chegasse. Quando

ele viu a viatura engoliu o pacoti-nho. Os policiais que nos atende-ram foram de um profissionalismo fora de sério. A situação foi intei-ramente resolvida pela patrulha, os pais do menino foram chamados

e ele foi transferido”. A pedago-ga acrescentou que em algumas ocasiões a patrulha não conseguiu chegar a tempo e a escola teve de resolver o problema sem auxílio, todavia, ela atribui tal ineficiência ao número precário de viaturas.

Os professores de um colégio do Bairro Novo concordam: “di-ficilmente conseguimos ser aten-didos, porque são poucas viaturas e os policiais têm que atender as escolas de acordo com a urgência das situações, mas nas vezes em que vi a atuação da patrulha ela foi boa”, afirmou um dos educadores. Alguns alunos de um colégio no

bairro Xaxim não falam sobre o trabalho dos policiais, mas confir-mam que o número de viaturas é muito baixo. Eles acrescentam que esse fator faz com que a patrulha não garanta segurança, pois a impedem de fazer rondas periódicas e passar tempo su-ficiente nas escolas para evitar proble-mas ou resolvê-los.

No Pinheirinho, não são só os alunos de uma instituição estadual que se sen-tem inseguros, seus pais e professores também têm medo da violência que ocorre dentro do colégio. A orien-tadora dessa escola disse que há um descaso muito grande por parte do governo quanto à segurança. Para ela, os policiais da patrulha não são despreparados, mas são em pqueno número, é qeu talvez seja impossível para eles resolverem to-dos os problemas que ocorrem em diversos lugares ao mesmo tempo. A mãe de um aluno reitera que as pessoas criticam muito o trabalho da polícia, mas não param para pensar que os policiais precisam de infra-estrutura para desempenhar

bem seu papel. Segundo o diretor de uma outra instituição estadual, situada na Vila Guaíra, são so-mente dois policiais para gerenciar cerca de 30 escolas na região.

A Polícia Militar do Para-ná, entretanto, p r e fe r iu n ã o fornecer infor-mações quanto ao número de viaturas dispo-níveis. A tenente do batalhão da Patrulha Esco-lar Comunitária, Denise Marília Silva, explicou

que “a principal dificuldade hoje é a demanda de serviços e a quan-tidade de escolas que necessitam de policiamento”. Denise destaca agressões, brigas e participação de gangues como as ocorrências mais frequentes. “Há dias em que o trabalho é bem complicado, re-cebemos chamadas de mais de um colégio ao mesmo tempo, tentamos sempre priorizar o que é muito urgente”, contou um policial res-ponsável por uma das viaturas.

Talitha MaximoAna Carolina Machado

“Tentamos sempre priorizar

o que é muito urgente”

Rubiane Kaminski

São dois policiais para cerca de 30 escolas na região

Policiais da Patrulha Escolar Comunitária deslocam-se todos os dias para o monitoramente das escolas

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esporte 13Curitiba, Junho de 2010

atitudes dos torCedores fazem das ruas no entorno dos estádios verdadeiras “terras sem leis”

Vizinhos de estádios reclamam da violênciaAgressões físicas competem com outros crimes na porta das residências, como o uso de drogas e a depredação do espaço público

as formas de violência praticadas no entorno dos estádios curitibanos são as mais variadas. além das agressões físicas, os moradores reclamam de diversas atitudes promovidas pelas tor-cidas em dia de jogo. as ruas adjacentes se tornam espaços “sem controle, sem lei”, como reclama o morador vizinho ao estádio atleticano inácio scláin, 42 anos, apontando para as inúmeras pi-chações em seu muro. edgar Graciano, 33 anos, também sofre quando há jogos na arena. além de se queixar sobre o abuso de drogas pelas torcidas na frente de sua casa, o morador começou a pres-tar atenção nas cores do time visitante, uma vez que já sofreu provocações por estar “trajando verde e branco”.

A violência não fica restrita somen-te nas localidades próximas ao estádio atleticano. o morador do bairro água verde, Célio donizete Correia, de 32 anos, diz já ter procurado a polícia para prestar queixa sobre os abusos praticados pela torcida em dias de jogo no Couto Pereira. “eles mexem com velhinhas e até com crianças de colo. Às vezes sai do controle, acabam pichando uma casa ou mesmo fazendo xixi ali perto do estádio, onde a polícia não está vendo. a minha casa já foi depredada duas vezes em dias de clás-sico”. morador próximo ao estádio do Paraná Clube, Carlos alberto albini Belegare, 26 anos, comenta sobre as dificuldades de sair de casa. “Em dia de jogo, não tem como eu sair sem passar no meio da torcida. Já aconteceu de um vândalo jogar uma pedra em meu carro

sem motivo algum”. TorcidasPara o vice-presidente da torcida

atleticana “fanáticos” Juliano suk, de 38 anos, a população não deve genera-lizar os torcedores enquanto vândalos.

“nós temos um estatuto com tudo pré-estabelecido. os que descumprem são colocados para fora. não toleramos práticas agressivas”. Porém, o próprio suk destaca o quanto “é complicado controlar a grande quantidade de asso-ciados ou de pessoas que somente com-pram a camiseta da torcida e cometem crimes”.

Já para fer-nando santana, 19 anos, membro da torcida ligada ao Pa-raná Clube “fúria independente”, os problemas das organizadas são muito mais evidentes. “não vou generalizar porque eu vou ser injusto, mas tem gente que usa droga sim, e de vários tipos, aí ficam mais violentos. Não há controle pela torcida, pelos clubes ou pela polícia. o que existe é um diálogo com a Pm e com torcidas rivais, mas que não chega no ouvido de todos.”

Estadosegundo o coronel da Polícia mi-

litar do Paraná, roberson luiz Bonda-ruk, 47 anos, o estado é somente parte do problema. “o policiamento ostensi-

vo não é a solução, mas uma forma de remediar os crimes praticados. a solu-ção não repousa na polícia. Para aca-bar com a violência nos estádios, ações estruturais devem ser tomadas”. Para Bondaruk, além de programas visando à conscientização

dos torcedores, uma nova legislação deveria ser feita para cobrar dos clubes suas responsabilidades. “aquilo que ocorre no entorno dos estádios, como pichações e depredações, fazem parte de um problema crônico que extrapola a ação policial. os clubes deveriam ser responsabilizados pelo que acontece no entorno, pois é por causa dos seus

eventos que ocorrem os delitos”.o policial também destaca a im-

portância do planejamento urbano enquanto fator crucial no controle dos crimes cometidos em dias de jogo. “a estrutura do ambiente pode favorecer tanto a segurança quanto a violência. Com algumas ressalvas, a arena é o único estádio favorável para a seguran-ça, por seu planejamento. o desenho do entorno complica nossa ação, como é o caso do Couto Pereira, com casas e ruas estreitas em volta. tudo o que a estrutura do estádio não colabora, nós temos que suprir com policiamento”. Como aponta Hermes Piyerl, 41 anos, diretor da Comissão de segurança de Edificações e Imóveis (Cosedi), a últi-ma vistoria nos estádios curitibanos foi realizada a mais de dois anos. nela, se concluiu a falta de estrutura dos times para lidar com grandes multidões. além deste problema, o tenente ivan Baranoski, de 36 anos, membro do Corpo de Bombeiros, aponta outro agravante: “nesta vistoria, até os ex-tintores de incêndio do Couto Pereira estavam vazios”.

Especialistaso urbanista e professor Carlos

Hardt, 56 anos, aponta que “coisas simples podem ser feitas para melhorar projetos inadequados de estádios, como a questão da iluminação. Por exemplo, a luz na praça em frente ao atlético é muito precária. tem que evidenciar ao torcedor os mecanismos de controle, não só com uma iluminação adequada, mas também com postos de polícia em lugares estratégicos”. segundo Hardt, o problema é social, mas o urbanismo pode contribuir “aliviando os sintomas”.

Para o professor de história da ufPr Carlos ribeiro, 59 anos, que estuda o esporte e suas implicações sociais, o futebol gera um alto grau de envolvimento por seus torcedores graças a seu caráter competitivo. “exis-te uma grande força passional pela disputa. isto, aliado com uma série de desajustes sociais, faz com que alguns torcedores encontrem no futebol seu único momento de valorização, o que pode resultar em práticas violentas”.

Torcedores paranistas fecham rua residencial próxima ao estádio a caminho do jogo

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Elian WoidelloRichard Junior

Rogerio Rodrigues

“Já aconteceu de um vândalo jogar uma pedra sem motivo algum”

Torcidas combatem a violência Frente aos conhecidos combates que ocorrem quan-do times da Capital se enfrentam, as diretorias das torcidas organizadas – vistas como principais responsáveis pelo van-dalismo em dias de jogo – começam a tomar atitudes visando diminuir a violência em torno dos estádios. Juliano Suk, 38 anos, advogado, vice-presidente da Torcida Organizada Os Fanáticos, se reuni periodicamente com a Polícia Militar para alertar ‘’os pontos fracos e regiões mais problemáticas’’. Suk diz ainda que enquanto ‘’não houver uma punição severa aos vândalos, tudo continuará igual’’. Atualmente, a TOF acompanha algumas torcidas de adversários para evitar que torcedores mal intencionados comecem brigas. ‘’Só a nossa presença inibe a ação destes elementos. Fazemos isto nos terminais também’’. Para o Co-ronel da PM, Roberson Luiz Bondaruk, 47 anos, a boa vontade das torcidas é algo bom, mas faz ressalvas. ‘’Eles colocam a culpa em membros que não são da torcida, mas a violência é incitada dentro de suas sedes. Nestes casos, O jogo se transforma em um pretexto para se cometer crimes”. (RT)

Encontro de torcedores atleticanos em terminal de ônibus: palco frequente de brigas

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Camila PetryFrancielle Ferrari

sociedade14 Curitiba, junho de 2010

CiClo da violênCia: 60% dos pedófilos sofreram abuso sexual quando Crianças

Pedofilia ainda é considerada uma doença sem cura os crimes de pedofilia não

revelam somente a situação en-frentada por milhares de crianças, como também mostram a carência de serviços para o tratamento das vítimas e reabilitação dos agressores. além disso, de acordo com a psicóloga e Consultora em psicologia Jurídica maria Cristina neiva de Carvalho, cerca de 60% das crianças agredidas viram agressores, no processo chamado “Ciclo da violência”. “o que ten-tamos fazer é quebrar esse ciclo, mas não há recursos suficientes na saúde pública.”, afirma a psicóloga.

ela também coloca que é preci-so discriminar os casos de violência sexual. “A pedofilia é uma doença, com pouca regeneração. Hoje, não existem tratamentos efetivos para ela”. para estabelecer essa diferença, são feitas avaliações psicológicas do agressor para de-finir o problema. Se o abusador for

realmente pedófilo ele deve ser mo-nitorado constantemente, apesar de nunca deixar de ter esse desvio de conduta. em outros casos o agres-sor não é doente, mas foi reprimido sexualmente durante toda sua vida – seja cultural, social ou religiosa-mente – e desenvolve perversões para suprir suas necessidades.

a criança abusada recebe trata-

Capital Conta Com delegaCia, promotor e Juiz espeCífiCos

Curitiba julga crimes de abuso infantilmais rapidamente que o resto do BrasilCasos de violência sexual infantil são investigados e julgados em até 6 meses

Crimes de violência sexual contra crianças e adolescentes são punidos mais rapidamente em Curitiba do que no resto do país: em até seis meses. esse é o dado apresentado pela Co-missão de direitos Humanos do senado federal, divulgado em novembro de 2009. ainda assim, as denúncias não diminuíram. segundo a Central de notícias dos direitos da infância e da adolescência (Ciranda), no ano passado foram recebidas 1.085 denúncias no paraná, contra 1.226 em 2008 e 1.184 em 2007.

de acordo com o conselheiro tutelar amaro Hygino, antes coordenador paroquial da pas-toral da Criança, o diferencial de Curitiba não é uma estrutura que falta às outras capitais, e sim um sistema judiciário mais rápido e dinâmico. para ele, porém, o aumento das punições não irá diminuir o número de casos. pelo contrário, isso tende a encorajar a população a denun-ciar. “não existem mais crimes, e sim mais denúncias. mas a população ainda tem medo e ver-gonha de se expor”, diz Hygino.

em Curitiba e região me-tropolitana, em 80% dos casos os abusadores são próximos da criança. nesse cenário, a mãe pode duvidar ou acobertar o fa-miliar. a criança violentada acaba se tornando agressiva, deprimida ou sexualmente precoce, e cabe principalmente à escola perceber as mudanças de comportamento. ainda assim, estima-se que, para cada crime exposto, outros vinte permaneçam omissos.

Com o aumento de denúncias, o investimento área também cresceu. em 2004, foi criado no paraná o nucria, uma delegacia que atende às crianças agredidas por adultos. ela funciona em parceria com a vara de Crimes Contra a Criança e o adolescente, e investiga atualmente de mais de 2.500 casos, em diferentes estágios de desenvolvimento.

antes, delitos contra a infân-cia eram atendidos nos próprios distritos, como ainda acontece

na região metropolitana e em cidades do interior. “nós temos uma boa estrutura aqui, com uma promotoria e um juiz específicos para esses casos. mas é difícil comparar com o resto do brasil, as situações são muito diferen-tes”, diz luís augusto dias de souza, superintendente do nucria.

no entanto, continua havendo falhas na hora de auxiliar as víti-mas. em Curitiba, só existe um Centro de referência especiali-zado de assistência social (Creas) destinado a crianças e adolescen-

tes violentados, localizado no Cristo rei. segundo o conselheiro Hygino, a procura é grande, e não há profissionais suficientes. “No Creas, leva cerca de dez dias para marcar a primeira consulta. se for urgente, talvez três ou quatro dias, mas nunca em menos. depois, a manutenção do paciente é mensal”, explica. apesar disso, não existem projetos para criar outro Creas voltado para a violência sexual.

Camila Toppel

Menino vive no Lar Moisés, e aguarda o fim do processo de adoção

Hospital do Idoso deveria ter sido entregue em 2008

governo não fará parte deste proJeto

o projeto para a construção do Hospital do idoso zilda arns neu-mann foi feito pela secretaria de saúde, em parceria com o governo estadual do paraná, em 2006. a obra, que deveria ter sido concluída em 2008, continua inacabada e, de acordo com a superintendência da secretaria municipal de saúde, houve pouco interesse do estado em continuar participando. agora, o projeto continua com a ajuda do ministério da saúde, estiman-do-se o gasto de r$ 36 milhões.

tereza Kindra, responsável pela obra, diz que o prédio deve ser termi-nado ainda em 2010, e que a previsão para instalação dos equipamentos é até 2011. segundo tereza, o hos-pital visa ser “referência da pessoa idosa, na formação profissional e para cuidadores”. Conforme dados do ibge, o número de idosos na capital corresponde a 10,4% da po-pulação e o número tende a crescer.

por enquanto, a capital não possui um centro de atendimento especiali-zado ao idoso, que já existe em diver-sas capitais do país. para Jeane olivei-ra, coordenadora de proteção social

especial de média complexidade da fundação de ação social, o serviço que supre essa necessidade é o apoio à vítima através do número 156. o serviço encaminha o idoso agredido para uma casa de saúde e, de lá, para uma casa de apoio. no ano passado, foram atendidos 968 idosos. o prin-cipal motivo da agressão era o en-volvimento do agressor com drogas.

para o geriatra rodolfo alves pedrão, com mestrado em negligên-cia e maus-tratos contra o idoso, o principal motivo é a sobrecarga do cuidador, por ter que acompanhar o quadro de estagnação do idoso. segundo ele, 30% dos cuidadores têm depressão. “o que falta é o apoio intelectual para as famílias de baixa renda e a opção de encaminhamento a casas de repouso”, relata o geriatra.

para pedrão, falta informação por parte da população. para tânia go-mes, psicóloga do asilo são vicente, “as pessoas sabem que existem mui-tos casos de violência contra o idoso, mas não tem coragem de comentar”.

mento psicológico, que pode durar anos - até a vítima aprender a lidar com o ocorrido. a idade mais vul-nerável é até os três anos, fase em que o corpo e o psicológico do bebê ainda estão em desenvolvimento. nesse cenário, a criança absorve o trauma como parte de sua forma-ção, tornando mais difícil superá-lo.

a criança retirada da famí-

lia é transferida para um abri-go, onde recebe apoio e orien-tação para entender a situação.

João ricardo rocha, coorde-nador do lar moisés, explica que a criança considera a sua situação normal e é comum ela acreditar que adulto agressor estava agindo corretamente. muitas vezes, ela se sente culpada pela violência que sofreu. o tratamento gira em torno de “tirar a culpa” da crian-ça e mostrar outras realidades e vivências. ela passa a ser respon-sabilidade da vara de infância e vai para a adoção. Rocha afirma que não existe preconceito por parte dos adotantes em relação a crianças violentadas. os futuros pais são informados do caso ape-nas até onde ele possa interferir no desenvolvimento da criança.

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Marcela Lorenzoni

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Fonte: Cecovi - Centro de Combate à Violência Infantil

Page 15: Violência

cultura 15Curitiba, junho de 2010

Bandas de hip hop, roCk e funk tentam Conquistar o espaço musiCal e perdem a fama de violentas

Ritmo forte nem sempre gera violênciaOs músicos diversificam seus trabalhos para que as pessoas os conheçam melhor e percam o preconceito

Grupos musicais com ritmos fortes dizem que ao contrário do que muitas pessoas pensam, as músicas com letras pesadas no geral não causam violência e nem estimulam confusões entre o público. isso quebra preconceitos e julgamentos, como por exem-plo, quando é dito que o rock e o funk são formas de estimular a violência. muitas vezes as letras são de certa forma violentas, mas a atitude do público e dos artistas não.

um dos estilos musicais que mais tem fama de violento é o rock, por sua batida mais forte e pesada e pelas letras terem certa agressividade. João oginski, 35 anos da banda de rock mortais, diz que o rock já foi rotulado como música de protesto e marginali-zado em outras épocas, mas que hoje não é mais assim. “acho que existem tantos estilos de música que são usados como formas de expressar alguma indignação, revolta, que não tem mais como ligar somente o rock a está tarefa”, comenta. a respeito das músicas, o vocalista marcelo Garcia, 35 anos, acredita que cada música tem a sua peculiaridade e cada letra tem a sua mensagem. “Cada pessoa interpreta a música de um jeito diferente. para um cara que é violento a música ‘atirei o pau no gato’ é trilha sonora para panca-daria. para outro mais consciente pode ser motivo de reflexão”, fala o cantor. a banda que já parou um show por causa da fúria da plateia, acha que a violência se dá muito mais por causa do sexo e das drogas, do que pelo próprio rock´n roll.

ricardo pires conhecido como Cabes, 24 anos, começou com o rap em 1999 como uma brincadeira entre amigos e hoje é um dos maiores rappers de Curiti-ba. Cabes acredita que a sociedade ainda possui muito preconceito em relação à cultura hip hop, principalmente por relacionarem-na à pessoas de má índole. mas em seus shows, é raro se ver uma briga ou discussão, até porque, a maioria do público vai com o in-tuito de curtir o show e prestigiar o artista. pode-se dizer que o rap

estimula a violência, quando mal interpretado pelas pessoas. “uma pessoa sem condição ouve o rap e não tem base para entender aquilo e acaba distorcendo a música. os rappers não querem incitar a violência, só mostrar a realidade. minha idéia é fazer rap de auto-estima, mostrar o que passsei e

sofri”, conta o artista que possui em todas as suas composições, letras reflexivas como forma de protesto e desabafo.

para o funkeiro Jurandir dos santos, 29 anos, que faz parte do grupo mc Jura e as Causadoras do funk, o preconceito e os julga-mentos acontecem, pois determi-

nadas músicas do funk têm algu-mas letras com duplo sentido (no caso por exemplo de adultério), sendo esse o motivo que às vezes acaba gerando violência; mas que tudo não passa de uma brincadei-ra. o grupo nunca teve problemas nos shows com brigas e não con-sideram suas músicas violentas. “o nosso estilo é mais ‘light’, não fala de violência. nosso ritmo é envolvente e contagiante. existem sim algumas músicas que falam da realidade, mas não é para incitar a violência”, comenta o cantor que garante que o funk hoje atinge todas as classes sociais.

independentemente do estilo musical, os artistas procuram na maioria de suas composiçôes, relatar suas experiências mas sem incentivar atos violentos. o obje-tivo é fazer com que o público vá aos shows e prestigie o artista.

a maioria das pessoas Já presenCiou Confusão em Baladas

Álcool em excesso provoca brigas e confusões em muitos locais da cidade

a cada dez pessoas em Curitiba, sete já presenciaram ou sabem de uma briga ou discussão ocorrida em baladas ou barzinhos. o motivo principal continua sendo a ingestão de álcool de forma inadequada, que gera provocações, xingamentos e brigas que podem levar até a morte, como foi o caso do garçom rodrigo alves 29 anos, que foi baleado por um cliente bêbado de uma dance-teria do bairro Batel em novembro de 2009.

felipe Boaventura 20 anos, conta que se já envolveu em uma briga de boate, mas que nem sabia o motivo exato. “quando eu vi que meus amigos estavam brigando, eu peguei uma garrafa e comecei a jogar em quem vinha bater neles. só depois descobri o motivo da briga”, conta o estudante.

Gustavo listing, 23 anos, saiu para se divertir com seus amigos e acabou sendo vítima de uma briga que deixou em seu rosto várias cica-

trizes. “era garrafa para todo lado. fiquei com muito medo”, conta.

por um lado, a violência em casas noturnas afasta algumas pessoas, como Julio forte, 28 anos que afirma não gostar de ambientes fechados, fumaça e bêbados, por isso prefere lugares mais tranquilos: “nada melhor que um churrasco em casa, um futebolzinho, cinema, ar puro. existem opções melhores que balada, mas cada um faz sua escolha e com isso suas consequências”, co-menta. por outro, há quem não ligue para as brigas e confusões ocorridas nas danceterias. alessandra lira, 19 anos, não dispensaria uma balada apenas pelo fato de poder ocorrer uma briga. “violência sempre acon-tece. eu mesma já presenciei muitas brigas, mas não parei de ir a festas por causa disso. Claro que se isso aumentar, é melhor escolher outros programas”, diz.

na opinião dos empresários, a maioria das brigas é provocada

pelos próprios frequentadores, já que há clientes que chegam bêbados e dispostos a arrumar confusão com todo mundo.

os lugares mais violentos se-gundo os entrevistados são: hangar, empório são francisco, Chinasky e victoria villa.

Giovanna MiquelettoJuliano Oliveira

Larissa MatosMarisol Munari

Integrantes da banda Mortais

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“na vida há os que devoram e os que são devorados”. esse é o lema principal que envolve o primeiro longa-metragem do diretor curitibano marcos Jorge.

O filme Estômago, filmado durante 5 semanas em Curiti-ba e são paulo, conta a história do presidiário raimundo, um cozinheiro nato que conquista o respeito de todos através de seus incríveis dotes culinários.

alessandro Yamada, assis-tente de direção de arte, conta que apesar de ter várias cenas de violência, o filme mostra apenas a realidade dentro de uma cadeia e das cozinhas de restaurantes. o tema não foi o principal destaque do longa: “a violência é colocada como um fator secundário. a culi-nária, o poder e o sexo que estão em primeiro plano”, afirmou. O filme procura mostrar que as pes-soas são igualmente más e igual-mente boas. “pessoas que são víti-mas da violência também causam violência”, fala Yamada a res-peito das cenas mais “pesadas”.

O filme foi inspirado no conto “presos pelo estômago”, de lusa silvestre, que assi-na, junto com o diretor marcos Jorge, o argumento do filme.

Como grande parte da trama se passa dentro de uma cela de cadeia (montada dentro do pre-sídio do ahú), luiz mendes Jr., que entrou na prisão aos 19 anos, semi-analfabeto, e saiu 30 anos depois, como escritor e cronista, atuou como consultor de vida e comportamento no presídio. marcos Jorge conta que a partici-pação e a ajuda do ex-presidiário serviu para dar mais realismo ao filme: “No presídio, não foram semanas fáceis, pois algo, lá den-tro, deixava sempre claro para nós que estávamos trabalhando, que aquele era um lugar de sofri-mento. para garantir o realismo total, chamamos o luís men-des, para ajudar-nos em todos os setores.” comentou o diretor.

estômago, uma produ-ção de r$ 2 milhões, fez um enorme sucesso dentro e fora do Brasil e conta com deze-nas de prêmios e indicações.

Filme sobre ex-presidiário retrata

violência social

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Gustavo: balada deixou cicatrizes

Cabes: Famoso rapper curitibano

Page 16: Violência

geral16 Curitiba, junho de 2010

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