12
114 Introdução A infância é a imagem que se usa para chamar a atenção e elevar no espírito o sentimento de zelar pela inocência. Trindade, 1998. A violência doméstica contra criança e/ ou adolescente tem sido objeto de estudos, pesquisas e reflexões no âmbito das áreas médica e social, pelo fato de serem os profis- sionais dessas áreas os primeiros a terem con- tatos com as vítimas de violência doméstica, seja de natureza sexual, física, psicológica ou de negligência. Somente quando a vítima che- ga ao Hospital ou Centro de Saúde ou, então, por denúncia ao Conselho Tutelar ou Juizado da Infância, é que o serviço de assistência social vai averiguar os fatos no local, a fim de proceder aos encaminhamentos necessários. ESTUDOS Marisa Marques Ribeiro Ademir José Rosso Rosilda Baron Martins Violência doméstica: a realidade velada Resumo Aborda a temática da violência que ocorre no âmbito familiar, a qual, por ocorrer no domínio privado, acaba não merecendo a devida atenção da sociedade. Constata-se que, embora os arranjos familiares tenham mudado com o transcorrer do tempo, a violência familiar continua marcando presença, caracterizada pela ação ou omissão do adulto sobre a criança e/ou adolescente. Assim, discute-se o panorama geral da violência doméstica contra criança e/ou adolescente, o conceito e características dessa forma de violência e as diferentes abordagens do problema. Sugerem-se algumas alternativas no tratamento e encaminhamento das vítimas da violência doméstica. Palavras-chave: violência doméstica; criança; adolescente; ação preventiva. Dada a complexidade e as diferentes manifestações dessa forma de violência e os contextos onde ela acontece serem os mais variados possíveis, a sua identifica- ção e prevenção têm sido dificultadas. Essa dificuldade está no fato de o responsável pela criança e/ou adolescente sentir-se dono da situação e com poder e autorida- de para agir com violência. Tal “direito” a agir dessa maneira pode ter sua origem na cultura patriarcal e/ou adultocêntrica, que “estabelece” o direito de certos adultos sobre aqueles que estão sob sua tutela. Arendt (1994, p. 36) afirma que “o poder corresponde à habilidade humana não ape- nas para agir, mas para agir em concerto. O poder nunca é propriedade de um indi- víduo, pertence a um grupo”. No caso, esse é um grupo culturalmente criado pela sociedade. R. bras. Est. pedag., Brasília, v. 85, n. 209/210/211, p. 114-125, jan./dez. 2004.

Violência doméstica: a realidade velada

  • Upload
    others

  • View
    7

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Violência doméstica: a realidade velada

114

Introdução

A infância é a imagem que se usa parachamar a atenção e elevar no espírito osentimento de zelar pela inocência.

Trindade, 1998.

A violência doméstica contra criança e/ou adolescente tem sido objeto de estudos,pesquisas e reflexões no âmbito das áreasmédica e social, pelo fato de serem os profis-sionais dessas áreas os primeiros a terem con-tatos com as vítimas de violência doméstica,seja de natureza sexual, física, psicológica oude negligência. Somente quando a vítima che-ga ao Hospital ou Centro de Saúde ou, então,por denúncia ao Conselho Tutelar ou Juizadoda Infância, é que o serviço de assistênciasocial vai averiguar os fatos no local, a fim deproceder aos encaminhamentos necessários.

ESTUDOS

Marisa Marques RibeiroAdemir José RossoRosilda Baron Martins

Violência doméstica:a realidade velada

Resumo

Aborda a temática da violência que ocorre no âmbito familiar, a qual, por ocorrer nodomínio privado, acaba não merecendo a devida atenção da sociedade. Constata-se que,embora os arranjos familiares tenham mudado com o transcorrer do tempo, a violênciafamiliar continua marcando presença, caracterizada pela ação ou omissão do adulto sobrea criança e/ou adolescente. Assim, discute-se o panorama geral da violência domésticacontra criança e/ou adolescente, o conceito e características dessa forma de violência e asdiferentes abordagens do problema. Sugerem-se algumas alternativas no tratamento eencaminhamento das vítimas da violência doméstica.

Palavras-chave: violênciadoméstica; criança; adolescente;ação preventiva.

Dada a complexidade e as diferentesmanifestações dessa forma de violência eos contextos onde ela acontece serem osmais variados possíveis, a sua identifica-ção e prevenção têm sido dificultadas. Essadificuldade está no fato de o responsávelpela criança e/ou adolescente sentir-sedono da situação e com poder e autorida-de para agir com violência. Tal “direito” aagir dessa maneira pode ter sua origem nacultura patriarcal e/ou adultocêntrica, que“estabelece” o direito de certos adultossobre aqueles que estão sob sua tutela.Arendt (1994, p. 36) afirma que “o podercorresponde à habilidade humana não ape-nas para agir, mas para agir em concerto.O poder nunca é propriedade de um indi-víduo, pertence a um grupo”. No caso,esse é um grupo culturalmente criado pelasociedade.

R. bras. Est. pedag., Brasília, v. 85, n. 209/210/211, p. 114-125, jan./dez. 2004.

Page 2: Violência doméstica: a realidade velada

115

ESTUDOSA violência doméstica contra crianças

e adolescentes não é uma realidade recenteno Brasil, muito menos nos países do Pri-meiro Mundo.1 Sobre isso, Trindade (apudFreitag, 1998, p. 1) afirma que

A sociedade freqüentemente conclamapara a proteção de nossas crianças e o for-talecimento da saúde familiar. Ao mes-mo tempo, milhares de crianças experi-mentam a violência de maneira regular esuas vidas são irremediavelmente altera-das. Para essas crianças, os locais de vio-lência não são a guerra da periferia dascidades ou o crime que domina as ruas,mas dentro das suas próprias casas.

Independente da cultura e sociedade,a infância tem que ser reconhecida comoum valor universal e deve ser protegidacontra quaisquer formas de negligência, cru-eldade e exploração (ONU, apud Seda,2001), pois ela é uma condição concreta deexistência. Como asseveram Azevedo eGuerra (2001), em qualquer parte do mun-do e, enquanto seres políticos, a criança e oadolescente são sujeitos de direitos, neces-sitando de proteção e cuidados de cidadãosespeciais.

Embora a situação da violência famili-ar esteja sempre presente e pouco discuti-da, acreditamos que isso decorre principal-mente do fato de ser a família entendidacomo uma instituição privada2 e o que sepassa no seu interior não dizer respeito àspessoas que não fazem parte dela. Portan-to, é o conjunto de normas, de administra-ção da propriedade patrimonial ou priva-da, dirigida pelo chefe da família, o“despotes”.

O conceito de “privado” apresentadopor Chauí (1999), como acordo entre os se-res humanos e por eles respeitados nos re-lacionamentos, traduz a influência do fatorcultural nas relações sociais nas quais sevê a família como algo à parte da sociedade,ou seja, como algo intocável, delegando-sea responsabilidade para o chefe da família,que representa o poder patriarcal na insti-tuição familiar. Ao contrário dessa práticasocial, o poder deve ser entendido comocapacidade de cuidar e desenvolver, não deinibir, degradar ou destruir.

Com propriedade, Arendt (2000, p. 235)sintetiza esses princípios ao afirmar que

[...] os pais humanos [...] não apenas trouxe-ram seus filhos à vida mediante a concep-ção e o nascimento mas, simultaneamente,

os introduziram em um mundo. Eles assu-mem na educação a responsabilidade, aomesmo tempo, pela vida e desenvolvimen-to da criança, pela continuidade do mundo.

Nessa perspectiva, a essência da edu-cação é a natalidade, o fato de que esses se-res nascem para o mundo. As diferentesformas de violência que ocorrem contra cri-ança e adolescente no espaço “privado” e“sagrado” da família se contrapõem ao sen-tido de cuidar e preservar, passando a serde responsabilidade do Poder Público. As-sim, a ele cabe o dever de intervir para ga-rantir a cidadania através do controle dosdireitos e deveres em jogo nesse âmbito dasrelações humanas, sejam elas nos espaçopúblico ou privado.

Apesar do avanço ocorrido na legisla-ção e na sociedade nas últimas décadas, oqual causou alterações no modo de vida, noscostumes e valores das pessoas, a famílianão recuou na mesma proporção na violên-cia contra crianças e adolescentes. Com oadvento da Constituição Federal de 1988, oBrasil avançou na percepção da infância, soba ótica do Direito Público. Declara-se o di-reito da criança e do adolescente, segundoseu grau de maturidade, para manifestaropiniões, reagir à violência, defender-se, eresponder por seus atos quando maltrata osdemais (Seda, 2001, p. 9). Isso significa quea criança e o adolescente passam a ter o di-reito de serem ouvidos e respeitados.

A violência continua marcando presen-ça tanto pelas ações brutais quanto pela omis-são do adulto. Apesar de tudo, continua oprincípio de ser a família tida como “úterosocial” que acolhe a vida de seres indefesos,protegendo-os e suprindo as suas necessi-dades básicas. Diante disso, abordamos naseqüência do texto discutimos as diferentesabordagens do problema e o seu conceito,assim como algumas características da vio-lência doméstica contra criança e/ou adoles-cente, objetivando fornecer algumas alterna-tivas para prevenção do problema.

Diferentes abordagens doproblema

O fenômeno da violência domésticacontra criança e adolescente insere-se numquadro multicausal que não pode ser com-preendido por análises parciais. Sua inter-pretação e discussão dependem das concep-ções, explícitas ou implícitas, que os quadros

1 Segundo dados da AssociaçãoBrasileira Multiprofissional deProteção a Infância e Adolescên-cia (Abrapia, 1997, p. 5), nosEstados Unidos foramregistrados mais de 1.700.000casos de violência domésticacontra crianças e adolescentes;na França, 50.000 casos; na Itá-lia, 50.000 casos; na Inglaterra,estima-se aproximadamente50.000 casos, na Alemanha,18.000 casos; no Brasil não exis-tem dados oficiais sobre atemática. No Brasil, o que exis-te são dados possibilísticos,reunidos pelo LACRI/USP, pelocurso de Especialização em Vi-olência Doméstica Contra Cri-ança e Adolescente, ver em:www.usp. br/ip/laboratorios/lacri/iceberg.htm.

2 Chauí (1999, p. 409), ao definirprivado, refere-se ao vocábulogrego oikonomia: oikos é a casa/família; nomos é a regra, acordoconvencionado entre os sereshumanos e por eles respeitadosnas relações sociais.

R. bras. Est. pedag., Brasília, v. 85, n. 209/210/211, p. 114-125, jan./dez. 2004.

Page 3: Violência doméstica: a realidade velada

116

teóricos possuem a respeito dos sujeitosenvolvidos e das relações sociais.

A conduta agressiva pode advir de umcontexto em que interagem os fatores indi-viduais, familiares e ambientais. Para quehaja vítima, é preciso que esses fatores te-nham contribuído para a manifestação damesma; ela não surge sem uma causa ouisoladamente. Existem fatores que predis-põem o adulto a tornar-se um agressor e acriança, sua vítima. Para encontrarmos aspossíveis causas dessa predisposição, háque se considerar tanto o contexto de pro-dução das vítimas da violência domésticaquanto o dos seus agressores.

As discussões teóricas podem enfatizarora um, ora outro elemento do contextogerador da violência. Assim, a abordagemdenominada interpessoal está centrada naanálise do comportamento do adulto/indi-víduo; já uma abordagem socioeconômicadestaca os elementos do contexto. Uma ter-ceira abordagem, a sociointeracionista, pro-cura ver esses fatores como interligados einterdependentes, não isolados.

No enfoque interpessoal, a vitimizaçãotem sua origem no poder do adulto queaprisiona a vontade e o desejo da criança,submetendo-os à sua vontade. Age dessaforma, a fim de coagi-la a satisfazer os inte-resses, as expectativas ou, mesmo, as suaspaixões (Azevedo, Guerra, 2000, p. 35). Éimportante considerar que esse adulto nãoé um sujeito solto no espaço, mas que estáinserido num determinado contexto. Logo,não se constitui espontaneamente umagressor. Segundo a autora citada, pais quemaltratam seus filhos geralmente forammaltratados na infância.

A violência manifesta-se, segundo essaconcepção, pela imposição do adulto sobrea criança e/ou adolescente em situações, nasquais, a vítima da violência é sempre o in-divíduo que reagiu de alguma forma, con-trariando a vontade do adulto. Para que sejacorrigido, de maneira que não repita a ação,esse indivíduo precisa ser punido pelaimposição da autoridade “superior”.

Tanto na violência física quanto na se-xual, é bem evidente a postura do adulto, oqual, para justificar-se, coloca a criança e/ou adolescente na situação de agressor enão de vítima. Entre os fatores interpessoais,encontramos a questão do temperamento,do sexo, da condição biológica e cognitiva,para justificar as agressões do adulto. Masesses elementos não são capazes de expli-car toda a violência cometida contra a

infância e a adolescência. Explicam apenasparte dela.

No âmago dessa posição está a concep-ção do adulto de que a criança não pensa,não tem sentimentos. Por conseguinte, re-produzir suas idéias, ordens e desejos, mes-mo que seja pela força, é uma situação justi-ficável. Não se considera que a criança e oadolescente são sujeitos com opiniões pró-prias e que estão interagindo em ambientesque influenciam seu comportamento. Alémdo mais, eles possuem seu livre arbítrio re-agindo, muitas vezes, de maneira contráriaàquela que o adulto “responsável” por elesgostaria que reagissem.

Saffiotti (2000, p. 20) corrobora essaafirmação, ao dizer que

Nas relações entre adultos e crianças sãoos primeiros que ditam as regras. Dessasorte, segundo essa pedagogia da violên-cia que domina a sociedade brasileira,criança que não obedece o adulto, não ape-nas pode, mas deve ser espancada. E não éde pequeno que se torce o pepino? Não hácombinatória capaz de tirar a criança daúltima posição da escala do poder.

A criança vítima da violência domésti-ca não é tratada como sujeito pleno e tantosua ação quanto sua reação são restringidaspelo medo e por ameaças. Só lhe resta per-manecer calada frente ao poderdisciplinador/repressor do adulto. Ela con-tará o fato a alguém, quando perceber queesse comportamento do adulto não é nor-mal e sentir que esse alguém lhe inspira aconfiança e a segurança que não tem nosseus adultos agressores. Daí a importânciados profissionais que trabalham com essaclientela, principalmente os educadores,auxiliarem essa criança ou adolescente me-diante a denúncia. Somente através da co-municação do fato aos órgãos competentesé que poderemos quebrar esse ciclo da vio-lência. Na medida em que a sociedade nãodefende a criança indefesa do agressor poromissão, ela coloca-se também comoagressora. Está na co-responsabilidade so-cial o princípio da defesa e proteção à in-fância maltratada.

A identificação do fenômeno da violên-cia doméstica se dá em toda a sociedade,independente do nível de formação e da si-tuação econômica da família. Ballone (2001,p. 9-10) enfatiza a importância do meio noqual os pais são, na maioria das vezes, mo-delos e educadores. Portanto, as respostasimpróprias dos pais que refletem

R. bras. Est. pedag., Brasília, v. 85, n. 209/210/211, p. 114-125, jan./dez. 2004.

Page 4: Violência doméstica: a realidade velada

117

comportamentos inadequados têm implica-ções no desenvolvimento e na manutençãode condutas agressivas dos filhos. Nessaforma de pensar, o adulto agressor de hojefoi uma criança agredida no passado.

Como determinantes do enfoqueinterpessoal da violência doméstica desta-cam-se: a cultura patriarcal e adultocêntrica,ou seja, o poder do homem e do adultosobre a mulher e a criança; a falta ou a difi-culdade de diálogo no relacionamento en-tre pais e filhos; o pacto do silêncio firma-do entre os membros da mesma família, poisa evidência da violência doméstica causaum desmoronamento da instituição e doseu caráter privado e sagrado e a aceitaçãode castigos físicos como parte da educaçãofamiliar (Azevedo, Guerra, 2000).

Já o enfoque social, segundo a autora,é caracterizado pela violência estrutural,uma vez que a dominação de classes e asdesigualdades sociais estão cada vez maispresentes numa sociedade de classes,marcada pelo desemprego e consumo dedrogas, na qual os direitos humanos ele-mentares – direito à vida, à educação, à saú-de, à alimentação, à moradia – não são res-peitados. Assim, a violência estrutural re-produz-se nos espaços e nas relações fami-liares. Essa visão traz contribuições impor-tantes para a discussão; todavia, tal como aabordagem centrada nas relaçõesinterpessoais, não abarca a totalidade daproblemática.

O que ocorre no sistema capitalista éque milhões de crianças são abandonadas,estão sem escolas, tornam-se usuárias dedrogas e se prostituem para conseguirem omínimo de satisfação que a vida possa lhesoferecer. Essa é a violência estrutural.3 Men-donça (2002) considera que essa é uma rea-lidade que não pode fugir aos nossos olhos,uma vez que a violência social se manifestatambém através da negligência, tanto dosórgãos responsáveis pelas políticas públi-cas sociais quanto da sociedade, que nãocobra dos poderes constituídos ações rápi-das e eficazes para reverter esse quadro. Oresultado disso acaba sendo sempre maissevero e gerando mais violência para os ci-dadãos pobres.

A esse respeito Azevedo e Guerra(2000, p. 34) acrescentam:

É através da dinâmica institucional quese fabrica, quase sempre, o delinqüentejuvenil. A instituição, ao invés de recupe-rar, perverte; ao invés de reintegrar e

ressocializar, exclui e marginaliza; ao in-vés de proteger, estigmatiza. Isto configu-ra a perversidade institucional, por pro-duzir o efeito contrário ao proposto [...].

Num enfoque sociointeracionista, estãoenvolvidos na violência os fatores indivi-duais e sociais de uma sociedade politica-mente marcada pela corrupção e descréditode seus cidadãos. Quando falamos da vio-lência doméstica que envolve crianças e/ouadolescentes e sua relação com o ambienteescolar, temos que ter clareza de que essesseres estão em fase de desenvolvimento eprecisam de atenção e cuidados que nemsempre os educadores percebem.

A abordagem sociointeracionista forta-lece a noção de que o indivíduo aprende nainteração com o outro, enfatizando ainteração entre parceiros e reforçando a idéiade que a família tem um papel importantena formação da criança, e a escola poderá,dependendo dos procedimentos que utili-za, reforçar ou não a forma de práticaeducativa dos pais.

As crianças não são natural e esponta-neamente violentas, mas vão incorporandoe interagindo com a violênciainstitucionalizada que se enraíza nos lares eretorna para a sociedade no futuro. Assim,a educação cidadã, viabilizada por meio deuma prática dialógica, precisa concretizar-se para o rompimento desse ciclo daviolência.

A interação, cuja necessidade é perce-bida desde o nascimento, possibilita ao ho-mem inteirar-se com o mundo, através deoutras pessoas mais experientes de seu meiosocial.4 Assim, em relação à educação e àfamília, podem abrir-se perspectivas parauma redefinição do papel da escola e do tra-balho pedagógico. A educação implica, nãoapenas o desenvolvimento dos potenciaisindividuais, mas a expressão histórica e ocrescimento da cultura humana da qual ohomem procede.

Nesse sentido, Santos (2002, p. 198)enfatiza:

De que adianta cumprir o horário e as for-malidades do cargo se as crianças que es-tão presas na escuridão, relegadas a ummundo de pesadelos, estão fazendo na es-cola um pedido de socorro? Como conti-nuar agindo do mesmo modo, relacionan-do-se com as crianças, que vivem num cli-ma de violência, e com seus pais, manten-do os mesmos objetivos de trabalho, amesma maneira de enfocar os conteúdos

3 Existem hoje, no Brasil, 23 mi-lhões de brasileiros em extremapobreza (Mendonça, 2002).

4 Vygotsky (1991, p. 62-65), aoreferir-se à interação, asseveraque a natureza humana precisade uma natureza social, o quejustifica a necessidade de a cri-ança espelhar-se naqueles que acercam, através do processosociointerativo.

R. bras. Est. pedag., Brasília, v. 85, n. 209/210/211, p. 114-125, jan./dez. 2004.

Page 5: Violência doméstica: a realidade velada

118

e a mesma forma de avaliá-las? Se os ru-ídos que evidenciaram as relações comqualidade de violência estão sendo igno-rados na escola, o que significa que a edu-cação para cada um de nós? Para quem epara que estamos ensinando? Qual tipode escola estamos trabalhando para cons-truir, uma vez que as crianças estão sen-do apenas escutadas, mas não ouvidas?

Essa concepção teórica destaca a impor-tância do trabalho educativo como promo-tor de mudanças de comportamento dosadultos em relação às crianças, dentro e forados lares. Dos adultos espera-se a constru-ção de uma nova ética humanitária, baseadano respeito às diferenças individuais e à li-berdade de expressão de todo o ser huma-no, principalmente das crianças e dos ado-lescentes que se encontram em formação.

Costa (1999, p. 6) reforça essa questãoao colocar a criança e o adolescente comoprioridade absoluta, como uma exigênciaética inadiável.

Por ela se reconhece o valor intrínseco e ovalor projetivo das novas gerações. O va-lor intrínseco reside no reconhecimentode que, em qualquer etapa do seu desen-volvimento, a criança e o adolescente sãoseres humanos na acepção mais plena dotermo. O valor projetivo por sua vez, evo-ca o fato de que cada criança e cada ado-lescente é um portador do futuro da suafamília, do seu povo e da sua humanida-de, ou seja, é dele que depende a continu-ação da linha da vida na espécie humana.A prioridade absoluta às novas gerações,como se vê, é uma exigência éticaimpostergável no marco da construção deuma vida digna para todos, ou seja, dosdireitos humanos.

Apesar das mudanças de concepçõesque implicaram um trato diferente à infân-cia e adolescência brasileira, e dos avançosque ocorreram nessa área nas últimas déca-das, principalmente a partir das conquis-tas legais internacionais, como as Conven-ções e Declarações dos Direitos Humanos eda Criança e nacionais, como a Constitui-ção Federal, o Estatuto da Criança e doAdolescente, a Lei Orgânica da AssistênciaSocial, a Lei das Diretrizes e Bases da Edu-cação Nacional, entre outras, ainda há muitoque caminhar para que a infância seja vistacomo prioridade absoluta neste país.

Em pleno século 21, encontramos ain-da vítimas marcadas por uma sociedadecada vez mais violenta. Realizam-se grandes

manifestações em prol da paz mundial edescuida-se no olhar à família, que podeestar promovendo uma guerra permanentee covarde contra inocentes e indefesos. Nessesentido, para a análise desses conflitos, ne-cessitamos compreender a violência domés-tica inserida no contexto das relações soci-ais, individuais e históricas. Azevedo eGuerra (2001, p. 12) a definem como

[...] todo ato ou omissão praticado por pais,parentes ou responsáveis contra criançae/ou adolescente que sendo capaz de cau-sar dano físico, sexual e/ou psicológico avítima, implica de um lado, numa trans-gressão do poder/dever de proteção do adul-to e, de outro, numa coisificação da infân-cia, isto é, numa negação do direito quecriança e adolescente têm de ser tratadoscomo sujeitos e pessoas em condição pe-culiar de desenvolvimento.

Podemos inferir que esse conceito temuma abordagem sociopsicointeracionista, poisdecorre da interação entre o indivíduo e asociedade em um processo no qual o indivi-dual integra e incorpora o social. Isso signifi-ca reconhecer que, se é verdade que o abuso-vitimização doméstico de crianças e adoles-centes depende, sobretudo, de um padrãode relacionamento interpessoal familiar, essepadrão tem uma gênese, que foi construídahistoricamente em um contexto de interaçõessociais. Os indivíduos, ao praticarem tal abu-so, revelam as marcas de sua história pesso-al no contexto da história socioeconômica-política e cultural de uma dada sociedade(Azevedo, Guerra, 2001, p. 23).

Em 1997, a Abrapia elaborou uma listade fatores a serem observados, os quais es-tão associados aos agressores. A sua identi-ficação poderá auxiliar na prevenção da vi-olência doméstica:

– pais que maltratam seus filhos mui-tas vezes foram maltratados nainfância;

– a mãe é o agressor mais freqüente deabuso físico e negligência;

– o pai causa lesões mais graves, quan-do agressor;

– imaturidade emocional;– uso de álcool e/ou outras drogas;– isolamento da família da sociedade;– fanatismo religioso;– problemas psiquiátricos e/ou psico-

lógicos;– envolvimento criminal;– temperamento violento;

R. bras. Est. pedag., Brasília, v. 85, n. 209/210/211, p. 114-125, jan./dez. 2004.

Page 6: Violência doméstica: a realidade velada

119

– exigências e cobranças exageradas;– graves dificuldades socioeconômicas;– famílias cujas necessidades básicas

não são atendidas pelo Estado.

Pelas situações que denotam violência,podemos inferir que ela pode manifestar-sede diferentes formas: física, sexual, psico-lógica e por negligência/abandono.5

A violência física caracteriza-se pelo usoda força ou atos praticados pelos pais ouresponsáveis, com o objetivo claro ou nãode ferir, deixando ou não marcas evidentes.São comuns murros, tapas, agressões comdiversos objetos e queimaduras por objetosou líquidos quentes. Podemos acrescentarnesse tipo de violência, a síndrome do bebêsacudido, a qual refere-se a lesões de gravi-dades variáveis que ocorrem, quando umacriança, geralmente um recém-nascido, é se-vera ou violentamente sacudida, podendo,por conseqüência, ocorrer cegueira ou lesõesoftalmológicas, atraso no desenvolvimento,convulsões, lesões na espinha, lesões cere-brais e até levar à morte.

Bueno (2000, p. 107) acrescenta:

[...] castiga-se a criança para educá-la; casti-ga-se porque ela não agiu direito (segundonossos padrões); castiga-se para dominá-laou por inúmeras outras causas. [...] Dois cri-térios usados para avaliar a intensidade dosmaus-tratos pela maioria dos autores são aseveridade dos ferimentos e a freqüênciadas ocorrências, que ajudarão o médico nadeterminação clínica dos mesmos. Ninguémchega a um consultório declarando ter es-pancado ou maltratado seu filho. Mas, a for-ma de um pai reagir em relação a seu filho,os tipos de ferimentos apresentados, o modocomo a criança é cuidada, o modo como elareage ao exame ou à presença de algum “pa-rente”, estes fatores, isolados e relacionadosentre si, podem dar-nos pistas para descon-fiar. Em sua maioria os casos de maus-tratosdevem ser suspeitados.

No entanto, conforme Abrapia (1997),a cada 20 casos de violência ocorridos, ape-nas um é registrado nos órgãos competen-tes. Um dos problemas enfrentados está noscasos mais leves, que não apresentam evi-dências de violência.

No Quadro 1, apresentamos algumaspistas identificadoras da violência física.6

5 Para ler mais, ver: Pascolat, 1999.6 Ressaltamos que não basta a apre-

sentação de uma pista para iden-tificar a agressão, é preciso obser-var o conjunto de indicadores.

Já a violência sexual é o abuso de po-der, no qual se usa a criança e/ou o adoles-cente para gratificação sexual de um adulto,sendo induzidos ou forçados a práticas se-xuais com ou sem violência física. Existemalguns conceitos sobre o abuso sexual como:

– estupro: quando na situação ocorrepenetração vaginal com uso de vio-lência ou ameaça grave;

– atentado violento ao pudor: quan-do obriga alguém a praticar atos li-bidinosos, sem penetração vaginal,utilizando violência ou graveameaça;

– incesto: ocorre em qualquer relação decaráter sexual entre um adulto e umacriança/adolescente, entre adolescen-te e uma criança ou entre adolescen-tes quando existem laços familiares,

Quadro 1 – Pistas identificadoras da violência física

R. bras. Est. pedag., Brasília, v. 85, n. 209/210/211, p. 114-125, jan./dez. 2004.

Page 7: Violência doméstica: a realidade velada

120

diretos ou não, ou uma relação deresponsabilidade.

– assédio sexual: quando ocorre umaproposta de contato sexual, quandoé utilizada a posição de poder do agen-te sobre a vítima, que é chantageada eameaçada pelo agressor.

Vittiello (2000, p. 123) corrobora comessas colocações e complementa que

Esse “silêncio” era ainda maior quando oprocesso de vitimização ocorria dentro doâmbito familiar. De fato, o horror social aoincesto é tão intenso que estudar esse as-pecto do comportamento humano é algoque nos incomoda e aflige. O conceito dolar e da família como refúgios são

intocáveis, onde cada ser humano con-segue proteção contra o mundo exterior,adverso e hostil, é algo que nos é muitograto cultivar. De alguns anos para cá,entretanto, o véu vem sendo levantado,principalmente por conta da ação dosmovimentos feministas, visto ser a mu-lher a vítima mais comum. E o que temsido constatado é estarrecedor, não ape-nas na freqüência de tais práticas mastambém, em termos das conseqüênciasbiopsicossociais. Descortinamos, alémdisso, cenas de extrema violência no re-lacionamento intrafamiliar, que vem de-monstrando não ser tão doce como sequeria crer o nosso “lar, doce lar”.

Seguem pistas para identificação daviolência sexual.

Em apenas 40% dos casos de violên-cia sexual existem evidências físicas do abu-so (Abrapia, 1997, p. 12). Muitos casos queenvolvem membros da família não são re-velados. A evidência das violências física esexual nas famílias provoca um desmoro-namento na instituição de seu caráterprivado e sagrado.

Quadro 2 – Pistas identificadoras da violência sexual

A violência psicológica refere-se à re-jeição, depreciação, discriminação, desres-peito da criança e/ou adolescente. As puni-ções exageradas são formas comuns dessetipo de agressão, que não deixa marcas visí-veis, mas marca por toda vida.

Dentre as pistas para identificação daviolência psicológica, podem ser destacadas:

R. bras. Est. pedag., Brasília, v. 85, n. 209/210/211, p. 114-125, jan./dez. 2004.

Page 8: Violência doméstica: a realidade velada

121

A negligência se configura quandoos pais ou responsáveis falham, porexemplo, em termos de alimentar, de ves-tir adequadamente seus filhos, quandotal falha não é resultado de condições de

Quadro 3 – Pistas identificadoras da violência psicológica

vida que extrapolam seu controle. Entreas modalidades dessa negligência podemser citadas a médica (incluindo a dentária),a educacional, a higiênica, a física e a desupervisão.

As diferentes formas de manifestaçõesda violência doméstica – agressão física, se-xual, psicológica e negligência – estão en-tranhadas na vida das famílias e no contex-to social e sequer são identificadas pelaspessoas, sejam pelo fato do desconhecimen-to da prática da violência ou simplesmentepela omissão frente à situação.

Apesar dos avanços do Estatuto da Cri-ança e do Adolescente, o qual veio sepultara idéia de “coisificação” do público infanto-juvenil, que teve a mão estendida aos mé-todos mais violentos de educação, o gran-de desafio nesses 14 anos tem sido colocá-lo em prática. Sendo um fenômenomultifacetário, é reflexo, inclusive, das ins-tituições sociais que não estão conseguin-do trabalhar suas funções. Assim, o forta-lecimento emocional e profissional da fa-mília é um dos principais caminhos paraevitar a violência tão sofrida e tornar-se opasse livre para o ingresso no mundo das

Quadro 4 – Pistas identificadoras da negligência

drogas, cuja dependência induz aos atosinfracionais.

Dessa forma, a falta de estrutura dasfamílias, do próprio Conselho, das dificul-dades de atuação dos integrantes dos pro-gramas contra a violência, há recuperação,há luz no fim do túnel. Mas, é importanteter condições adequadas para que eles pos-sam ser trabalhados. Cabe à sociedade e aoEstado tratá-las com dignidade. Temos quecomeçar com cada um cumprindo seu papel.Não bastam intenções.

Considerações finais

A violência doméstica contra criança e/ou adolescente é uma dura realidade, muitopresente na sociedade. Contudo, a maioriados casos não chega a ser notificada aos ór-gãos competentes, pelo fato de as pessoasnão quererem se envolver em um assunto

R. bras. Est. pedag., Brasília, v. 85, n. 209/210/211, p. 114-125, jan./dez. 2004.

Page 9: Violência doméstica: a realidade velada

122

familiar, privado, dificultando assim o tra-balho de atendimento à vítima.

As conseqüências da violência domés-tica se dão em vários planos da vida pesso-al e com mais evidência no ambiente esco-lar por constituir-se o primeiro espaço deatuação pública das crianças, as quais pas-sam, no mínimo, quatro horas diárias nes-sa instituição com seus educadores. As di-ferentes formas de violência manifestam-sepor meio de indisciplina, revoltas, agres-sões aos colegas e professores, perda deconfiança, baixo rendimento escolar, apa-tia, entre outros fatores, dificultando oaprendizado e a construção de atitudes so-ciáveis e solidárias.

Para reverter a situação da violênciadoméstica contra crianças e adolescentes, énecessário romper o silêncio e debater o as-sunto. Como os meios educacionais aindaexercem grande influência e são respeita-dos pelas famílias ou responsáveis pelascrianças e jovens, possuem um papel es-pecial na prevenção e acompanhamento dasvítimas e seus familiares. É no contextoescolar que se manifestam os problemasoriundos de uma educação punitiva, aca-bando assim com alguns mitos como o dainfância má, da família perfeita, da impor-tância do “psicotapa”, ou da violência comoprática educativa.

A observação constante do professornas mudanças de comportamento dos alu-nos e em atividades por eles realizadas, comoa produção de textos, desenhos, e outrasque podem manifestar tensões, medos eangústias, contribui para a identificação desituações de vitimização da criança e/ouadolescente no contexto familiar ou em tor-no dele.

É importante trazer as discussões so-bre a violência para dentro da escola, ondeos educadores deparam-se constantementecom situações como as expostas, a fim deque eles considerem a realidade de vida dascrianças e possam orientar os pais ou res-ponsáveis, caso isso se torne necessário.Atenção especial deverá ser dada a crian-ças em situações de risco, sobretudo as quevivem com famílias em situaçõessocioeconômicas precárias. Isso não signi-fica que crianças de situações econômicasfavorecidas estão livres desse problema.

É preciso trabalhar com concepções queproponham modelos educativos coerentescom a atual legislação e teorias pedagógi-cas, como a visão interacionista, propostapelos modelos construtivistas que coloca a

problemática na dinâmica das relações soci-ais. Nessa concepção, o educador procuraperceber a criança na sua relação com omundo, em especial com os elementos doambiente que a cerca: família, ambiente pri-vado, escola, sociedade.

A “Doutrina de Proteção Integral”, pre-vista no Estatuto da Criança e do Adoles-cente, explicita que “os direitos inerentes atodas as crianças e adolescentes possuemcaracterísticas específicas devido a peculia-res condições de pessoas em vias de desen-volvimento em que se encontram e que aspolíticas básicas voltadas para a juventudedevem agir de forma integrada entre família,sociedade e Estado” (Pereira, 1996, p. 25).

Entre os principais mecanismos de exe-cução das políticas em relação à criança e aoadolescente, os municípios contam com osConselhos Municipais de Direito da Crian-ça e/ou Adolescente, que se destinam à for-mulação, gestão e fiscalização de programasrelacionados a crianças e/ou adolescentes, eos Conselhos Tutelares, que atuam quandoocorre a violação dos direitos previstos noEstatuto da Criança e do Adolescente, jun-tamente com o Ministério Público e o Juizda Infância e Adolescência.

A alternativa de criar em cada municí-pio um Centro de Referência especializadoe multiprofissional, capaz de responder pelamaioria dos serviços como atendimento psi-cológico, médico, proteção social, advoca-cia e outros que se fizerem necessários parao atendimento às vítimas, com a vantagemde atuar de forma centralizada e organica-mente articulada, pode representar uma al-ternativa econômica e eficaz, sem contar quesua manutenção pode ser feita em regimede parceria com o Poder Público e a Socie-dade Civil (Azevedo, Guerra, 2001, p. 18).

A alternativa existente nos municípiossão os Conselhos Tutelares, cujo trabalhovisa à proteção dos direitos violados, sendonecessário que as instituições educativasatuem como parceiros desse órgão. EnfatizaVolpi (1999, p. 36):

Uma comunicação aberta e permanenteentre a escola e o Conselho Tutelar podesignificar a antecipação de intervençãodiante de situações que podem agravar-see transformar-se em ocorrências trágicaspara o desenvolvimento da criança ou doadolescente.

Os professores possuem esse poderpela facilidade de acesso à legislação, pelo

R. bras. Est. pedag., Brasília, v. 85, n. 209/210/211, p. 114-125, jan./dez. 2004.

Page 10: Violência doméstica: a realidade velada

123

contato com os alunos e seus familiares,pelas capacitações que lhes são proporcio-nadas, as quais constituem formas de auxi-liar o profissional a desmistificar algunsconceitos que foram construídos de umaeducação castradora e autoritária. É preci-so, pois, que eles se conscientizem de quea omissão quanto a casos de violência ostornam cúmplices ou agressores passivos.

No entanto, a intervenção dos profes-sores não é uma tarefa fácil: requer cora-gem, sensibilidade, habilidade e alguns co-nhecimentos específicos. Quando a violência

ocorre dentro da família, significa que os paisou responsáveis não estão conseguindo cuidarde suas crianças e protegê-las. Nesses casos, aintervenção dos profissionais que trabalhamcom a violência doméstica é de extremanecessidade.

O Estatuto da Criança e do Adolescentecoloca que é dever da família, da sociedadee do Estado assegurar os direitos da criançae/ou adolescente com absoluta prioridade.Como educadores, temos um compromissodiante da violência. Façamos, portanto, onosso papel ou parte do que nos cabe!

Referências bibliográficas

ARENDT, H. Entre o passado e o futuro. 5. ed. São Paulo: Perspectiva, 2000.

______. Sobre a violência. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1994.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA MULTIPROFISSIONAL DE PROTEÇÃO A INFÂNCIA EADOLESCÊNCIA (Abrapia). Maus tratos contra crianças e adolescentes: proteção e pre-venção. 2. ed. Rio de Janeiro, 1997.

AZEVEDO, M. A.; GUERRA, V. Contribuições e prevenção da violência doméstica contracrianças e adolescentes. Disponível em: <http://www.usp. br/ip/laboratórios/lacri>.

______. Crianças vitimizadas: a síndrome do pequeno poder. 2. ed. São Paulo: Iglu, 2000.

______. Infância e violência doméstica. São Paulo: USP; Lacri, 2001. v. 1 e v. 2, módulos:1 A/B - 2 A/B e 3 A/B - 6 A/B.

______. Mania de bater. São Paulo: Iglu, 2001.

BALLONE, G. J. Violência e agressão, da criança, do adolescente e do jovem. Disponívelem: <http://sites.uol.com.br/gballone/infantil/conduta2.html>. Acessado em: 2001.

BRASIL. Estatuto da criança e do adolescente. São Paulo: Saraiva, 2000.

BUENO, A. R. Vitimização física: identificando o fenômeno. In: AZEVEDO, M. A.; GUER-RA, V. (Org.). Crianças vitimizadas: a síndrome do pequeno poder. 2. ed. São Paulo: Iglu,2000.

CHAUÍ, M. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 1999.

COSTA, A. C. G. da. A educação como direito. Belo Horizonte: Modus Faciendi, 1999.

DESLANDES, S. F. Prevenir a violência: um desafio para os profissionais de saúde. In:VIOLÊNCIA doméstica contra crianças e adolescentes. Florianópolis, 1994. Apostila docurso de capacitação para conselheiros tutelares e de direitos de Santa Catarina.

FOUCAULT, M. Vigiar e punir. 5. ed. Petrópolis: Vozes, 1987.

R. bras. Est. pedag., Brasília, v. 85, n. 209/210/211, p. 114-125, jan./dez. 2004.

Page 11: Violência doméstica: a realidade velada

124

MENDONÇA, R. O paradoxo da miséria. Veja, São Paulo, n. 3, p. 82-93, jan. 2002.

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração universal dos direitos da criança.1959.

PASCOLAT, G. Violência no lar contra a criança. Educar em Revista, Curitiba, n. 15, p.115-124, 1999.

PEREIRA, T. da S. Direito da criança e do adolescente: uma proposta interdisciplinar. Riode Janeiro: Renovar, 1996.

SAFFIOTTI, H. A síndrome do pequeno poder. In: AZEVEDO, M. A.; GUERRA, V. (Org.).Crianças vitimizadas: a síndrome do pequeno poder. 2. ed. São Paulo: Iglu, 2000.

SANTOS, S. D. M. dos. Sinais dos tempos: marcas da violência na escola. São Paulo:Autores Associados, 2002.

SEDA, Edson. A criança e o cidadão estadista. Rio de Janeiro: Edição Adês, 2001.

SETUBAL, M. A. Escola como espaço de encontros entre políticas nacionais e locais.Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n. 102, p. 121-133, nov. 1997.

TRINDADE FILHO, A. et al. Abuso sexual na infância. In: CONGRESSO BRASILEIRODE MEDICINA LEGAL, 15., Salvador. [Anais...]. Salvador, set. 1998.

VITIELLO, N. Vitimização sexual: conseqüências orgânicas. In: AZEVEDO, M. A.; GUER-RA, V. (Org.). Crianças vitimizadas: a síndrome do pequeno poder. 2. ed. São Paulo: Iglu,2000.

VOLPI, M. O Conselho Tutelar e a Escola. In: O DIREITO é aprender. Brasília, 1999.

VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1991.

Marisa Marques Ribeiro, mestre em Educação pela Universidade Estadual de PontaGrossa (UEPG), é professora do Instituto Superior de Educação Sant‘Ana.

Ademir José Rosso, doutor em Educação pela Universidade Federal de Santa Catarina(UFSC), é professor do Mestrado em Educação da Universidade Estadual de Ponta Grossa(UEPG), PR.

Rosilda Baron Martins, doutora em Educação pela Faculdade de Educação da Univer-sidade Estadual de Campinas (Unicamp), São Paulo, é coordenadora do Núcleo de Pes-quisa e Pós-Graduação das Faculdades Integradas do Centro de Ensino Superior dos Cam-pos Gerais (Cescage), Paraná.

Abstract

This text studies household violence, which by the fact that it occurs inside familyenvironment, it does not receive adequate attention from the society. Although familyarrangements have been changed along time, family violence continues, characterized byadults omission and also evidenced by their actions against children or youths. It discusses

Domestic violence: the veiled reality

R. bras. Est. pedag., Brasília, v. 85, n. 209/210/211, p. 114-125, jan./dez. 2004.

Page 12: Violência doméstica: a realidade velada

125

the general view of the household violence against children; its conception and characteristics;the different approaches of the problem and suggests some alternatives to treat and helpvictims from this kind of violence.

Keywords: household violence; children; youths; prevention; school.

Recebido em 19 de novembro de 2003.Aprovado em 16 de março de 2004.

R. bras. Est. pedag., Brasília, v. 85, n. 209/210/211, p. 114-125, jan./dez. 2004.