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Centro Universitário do Planalto Central Apparecido dos Santos - UNICEPLAC Curso de Enfermagem Trabalho de Conclusão de Curso Violência Obstétrica na Perspectiva dos Profissionais da Saúde: Revisão Integrativa Gama-DF 2019

Violência Obstétrica na Perspectiva dos …...Este tipo de violência ocorre por forma de negligência - negar atendimento, privar o direito garantido pela Lei Nº 11.108/2005 da

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Centro Universitário do Planalto Central Apparecido dos Santos - UNICEPLAC

Curso de Enfermagem

Trabalho de Conclusão de Curso

Violência Obstétrica na Perspectiva dos Profissionais da Saúde:

Revisão Integrativa

Gama-DF

2019

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AMANDA CHRISTINA OLIVEIRA AMORIM

STÉFANI SILVA DE OLIVEIRA

Violência Obstétrica na Perspectiva dos Profissionais da Saúde:

Revisão Integrativa

Artigo apresentado como requisito para

conclusão do curso de Bacharelado em

Enfermagem pelo Centro Universitário do

Planalto Central Apparecido dos Santos –

Uniceplac.

Orientadora: Prof(a). Esp. Gabriela da Silva Pires.

Gama-DF

2019

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AMANDA CHRISTINA OLIVEIRA AMORIM

STÉFANI SILVA DE OLIVEIRA

Violência Obstétrica na Perspectiva dos Profissionais da Saúde: Revisão Integrativa

Artigo apresentado como requisito para

conclusão do curso de Bacharelado em

Enfermagem pelo Centro Universitário do

Planalto Central Apparecido dos Santos –

Uniceplac.

Gama, 26 de novembro de 2019.

Banca Examinadora

Prof. Esp. Gabriela da Silva Pires

Orientadora

Prof. Ms. Erlayne Camapum Brandão

Examinadora

Prof. Ms.Vênus Deia Alves de Farias

Examinadora

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Violência Obstétrica na Perspectiva dos Profissionais da Saúde:

Revisão Integrativa

Amanda Christina Oliveira Amorim1

Stéfani Silva de Oliveira2

Resumo:

A temática violência obstétrica ainda é pouco abordada, sendo um problema de saúde pública

que atinge 25% das mulheres no momento do parto, podendo ocorrer antes, durante ou depois

do parto. Objetivo do estudo é verificar a percepção dos profissionais da saúde quanto ao

conceito de violência obstétrica, descrever os tipos de violência e como os profissionais

percebem isso. Para isso foi realizada revisão uma revisão integrativa da literatura de artigos

científicos nacionais publicados no período de 2010 a 2019 nas plataformas LILACS, Bdenf,

MEDLINE e SCIELO. Resultados: profissionais da área de saúde conceituam violência

obstétrica como falta de recursos para a realização de um bom trabalho nos serviços de saúde,

violência institucional, verbal, física, psicologica e/ou moral e a falta de comunicação e

educação em saúde. Este estudo possibilita a conscientização da população sobre o que os

profissionais podem ou não realizar, gerar conhecimento para exigir atendimento adequado e

evidenciar a importância da educação continuada para os profissionais do setor da obstetrícia

quanto à violência obstétrica.

Palavras-chave: Violência. Violência Obstétrica. Parturientes. Parto Humanizado.

Abstract:

The issue of obstetric violence is still little addressed, being a public health problem that

affects 25% of women at the time of childbirth and may occur before, during or after

childbirth. Objective of the study is to verify the perception of health professionals about the

concept of obstetric violence, to describe the types of violence and how professionals perceive

it. For this, an integrative literature review of national scientific articles published from 2010

to 2019 on LILACS, Bdenf, MEDLINE and SCIELO platforms was reviewed. Results: health

professionals conceptualize obstetric violence as lack of resources to perform good work in

health services, institutional, verbal, physical, psychological and / or moral violence and lack

of communication and health education. This study enables the population to become aware

of what professionals can and cannot do, generate knowledge to demand adequate care and

highlight the importance of continuing education for midwifery professionals regarding

obstetric violence.

Keyword: Violence. Obstetric Violence. Parturients. Humanized birth

1Graduanda do Curso Enfermagem, do Centro Universitário do Planalto Central Apparecido dos Santos –

Uniceplac. E-mail: [email protected]. 2 Graduanda do Curso Enfermagem, do Centro Universitário do Planalto Central Apparecido dos Santos –

Uniceplac. E-mail: [email protected].

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INTRODUÇÃO

A violência obstétrica em meio ao século XXI ocorre de forma saliente atingindo 25%

das mulheres. Este tipo de violência ocorre tanto nos hospitais públicos como nos

particulares, tendo uma prevalência no setor público (ZANARDO et al., 2017).

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a violência é o uso da força

física ou poder, em ameaça ou na prática, contra si próprio, ou outra pessoa ou contra um

grupo ou comunidade que resulte em sofrimento, morte, danos psicológicos, desenvolvimento

prejudicado ou privado (SILVA et al., 2015).

Para a OMS, a violência contra a mulher é um problema de saúde pública por sua

proporção e gravidade das sequelas físicas e emocionais que produz. Entre os tipos de

violência contra a mulher, está a violência obstétrica, um problema presente nas práticas da

atenção destinadas à mulher no parto, que engloba questões sociais, econômicas, de gênero,

raça e institucionais. Configurada pela imposição de intervenções danosas à integridade física

e emocional das mulheres nas instituições em que são atendidas, bem como o desrespeito a

sua independência, como quando o profissional obstetra transforma o processo fisiológico do

parto em um evento medicamentoso (SILVA et al., 2015).

Este tipo de violência ocorre por forma de negligência - negar atendimento, privar o

direito garantido pela Lei Nº 11.108/2005 da mulher obter um acompanhante na hora do

parto; violência física - práticas de intervenções desnecessárias como o uso da lavagem

intestinal, ocitocina, episiotomia, prescrever jejum, assim submetendo a gestante a uma

aceleração do parto; violência verbal - comentários ofensivos: “na hora de fazer não dói”,

“deixa de reclamar”; violência psicológica - ação verbal ou comportamental onde inferioriza a

mulher. A violência obstétrica é qualquer ato dos profissionais da saúde de intervenção no

processo fisiológico do parto.

O conceito de parto humanizado é fazer com que os profissionais da saúde

desempenhem o seu papel sem tirar o poder de escolha da parturiente, é deixar o mais natural

possível, dando poder de escolha a essa mulher. Geralmente o parto é objeto de medo e

tensões, seguindo a ordem natural das coisas, obedecendo ao ritmo e às necessidades

específicas do corpo de cada parturiente, os profissionais de saúde devem interferir o mínimo

possível no processo do nascimento da criança, sendo sua função: estar presente nesse

momento para acalmar a parturiente, ajudar no que for necessário, com massagens, sanado

dúvidas e verificando se o parto está seguindo seu curso de forma correta, as intervenções

serão feitas somente se necessário (SILVA et al., 2015).

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Vale ressaltar que o ambiente hospitalar também é importante para um melhor

acolhimento a essa parturiente, pois um local mais acolhedor e acessível para realização de

práticas corretas ao parto humanizado oferece um apoio emocional a parturiente e a família,

facilitando assim o laço afetivo entre mãe e filho, diminuindo casos de depressão pós-parto

(SOUZA et al., 2018).

Em relação às intervenções realizadas durante o trabalho de parto, uma pesquisa

realizada através do Projeto Nascer no Brasil, no qual compreendeu os anos de 2011 e 2012,

revelou que em mais de 70% das mulheres foi realizada punção venosa, cerca de 40%

receberam ocitocina e realizaram aminiotomia (ruptura da membrana que envolve o feto) para

aceleração do parto e 30% receberam analgesia raqui/peridural. Já em relação às intervenções

realizadas durante o parto, a posição de litotomia (deitada com a face para cima e joelhos

flexionados) foi utilizada em 92% dos casos, a manobra de Kristeller (aplicação de pressão na

parte superior do útero) teve uma ocorrência de 37% e a episiotomia (corte na região do

períneo) ocorreu em 56% dos partos. Esse número de intervenções foi considerado excessivo

e não encontra respaldo científico em estudos internacionais. Além disso, muitas dessas

práticas são associadas a risco de complicações, são dolorosas e seu uso é considerado

desnecessário, como é o caso da episiotomia (ZANARDO et al., 2017).

Este trabalho tem como objetivo analisar a percepção dos profissionais de saúde sobre

o conceito de violência obstétrica. Visto que na busca da literatura não se encontra muitas

bibliografias acerca desse tema específico.

REVISÃO DA LITERATURA

Por se tratar de um tema abrangente a violência possui várias definições, portanto

segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) é definida como o uso da força física ou do

poder real ou em ameaça ou na prática, contra si próprio ou contra outra pessoa e ainda contra

um grupo ou uma comunidade, que resulte ou tenha qualquer possibilidade de resultar em

lesão, morte ou dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação (SILVA et al.,

2015).

A violência possui uma relação direta com a forma como a sociedade constrói seus

valores, normas de condutas e seus serviços prestados. Neste contexto o fenômeno social está

enraizado pelas estruturas sociais, econômicas, culturais e políticas, portanto pode ser

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representada pelas ações de indivíduos ou grupos, podendo causar danos irreversíveis

(COLOSSI, 2012).

As consequências das violências podem causar efeitos intensos e devastadores muitas

vezes irreparáveis como o fato da pessoa abusada ter maior risco de ser uma abusadora no

futuro. Por todos esses destaques é impreterível interromper o ciclo da violência para que não

ocorra um dano maior na vida emocional, sexual e reprodutiva das vítimas.

Segundo Guedes (2015) a violência contra a mulher é qualquer meio de coagir, de

submeter outrem a seu domínio, sendo uma violação dos direitos essenciais do ser humano,

onde a dominação que o sujeito exerce sobre a mulher estabelece uma dificuldade para que

ela consiga sair desta situação em que se encontra. Desta forma a violência consiste em

qualquer ato violento baseado no gênero, que decorra, ou tenha probabilidade de ocasionar,

em dano físico, sexual, psicológico ou sofrimento para a mulher, envolvendo a ameaça de

praticar tais atos, a coerção ou privação arbitrária da liberdade em ambiente público ou

privado.

No Brasil, a violência contra mulher é tida como um dos problemas prioritários a ser

combatidos pela saúde pública, visto que as consequências na vida das mulheres que sofreram

ou sofrem algum tipo de violência são caracterizadas de várias formas, podendo causar

enorme sofrimento, assim impactando no cotidiano das vítimas, como pânico, desvalorização

pessoal, desespero, sensação de abandono e distúrbio do estresse pós-traumático (DEPT), bem

como deixando marcas nas famílias e afetando várias gerações.

CORLETO (2010) e SCHNEIDER (2010) afirmam que com isso impede que as

mulheres produzam suas potencialidades, limitando o crescimento econômico e

comprometendo o seu desenvolvimento e no relato sobre a violência, as mulheres falam que,

para elas, não há sociedade civilizada considerando que socialmente falando faz-se uma “vista

grossa” para esses abusos.

Segundo Silva et al. (2013) toda mulher tem direito ao respeito e a dignidade,

igualdade, liberdade de associação, liberdade de professar a religião e as próprias crenças, isto

é descrito no código penal na Lei 11.340/2006, conhecido como Lei Maria da Penha, que visa

a não violação dos direitos da mulher. Este tipo de violência então sucede como um crime

específico e possíveis mudanças na forma de punição aos agressores foram proporcionados.

Dessa forma conforme a lei, a violência pode ser classificada como física, sexual, psicológica,

moral ou patrimonial.

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A violência obstétrica para a organização mundial da saúde (OMS) é um problema de

saúde pública, por sua proporção e magnitude das sequelas orgânicas e emocionais que

acarreta. A violência citada se configura através da imposição de intervenções danosas à

integridade física e psicológica das mulheres nas instituições e por profissionais pelos quais

são atendidas, bem como o desrespeito a sua autonomia, que ocorre quando o profissional

obstetra impõe o uso de medicações transformando o processo fisiológico do parto em um

evento medicalizado para acelerar o processo de expulsão do feto (SILVA et al., 2015).

Este termo foi utilizado pela primeira vez no meio acadêmico pelo Dr. Rogério Pérez

D’Gregorio, presidente da Sociedade de Obstetrícia e Ginecologia da Venezuela.

Com relação aos estudos Pulhez (2013) e Andrade (2014) violência obstétrica é

qualquer ato praticado por profissionais da saúde no que se refere ao corpo e aos processos

reprodutivos das mulheres manifestados através de uma atenção desumanizada, abuso de

ações intervencionistas, medicalização e a transformação patológica dos processos de

parturição fisiológicos.

Segundo Biscegli et al. (2015), o trabalho de parto, mesmo sendo um estado

fisiológico, pode e são persuadidos por muitos fatores, como o estado psicológico, fatores

ambientais e valores culturais como os antecedentes da mulher. Contudo, muitas mulheres são

vítimas de violência no parto, portanto transformando um acontecimento tão único e

satisfatório em um momento traumático, acarretando danos não só para a mãe e o bebê, como

também para toda a estrutura familiar.

O parto é um momento único e inesquecível na vida da mulher, quando o cuidado

despendido pelos profissionais deveria ser singular e pautado no protagonismo da

mulher, tornando-o mais natural e humano possível. Distintamente de outros

acontecimentos que necessitam de cuidados hospitalares, o processo de parturição é

fisiológico, normal, necessitando, na maioria das vezes, apenas de apoio,

acolhimento, atenção e humanização (ANDRADE, 2014, p.3).

De acordo com as evidências científicas e as indicações da OMS atualmente os recém-

nascidos nascem em hospital, por meio de diversos procedimentos invasivos, subsequentes de

alegações que são necessários para assegurar a saúde da mulher e da criança, argumentação

essa que não se afirmar (SANTOS, SOUZA, 2015; BARBOZA, MOTA, 2016).

Para Silva et al. (2015), a humanização é necessária para que o parto deixe de ser

objeto de medo e tensões e siga a ordem natural dos eventos, obedecendo às necessidades

específicas do corpo de cada mulher em trabalho de parto, e os profissionais de saúde devem

intervir o mínimo possível no processo do nascer.

Para proteger as parturientes deste tipo de violência foram criadas a Portaria

Ministerial 569, de 2000, que institui o Programa de Humanização no Pré-natal e Nascimento,

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no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), e a Portaria 1.067, de 2005, que institui a

Política Nacional de Atenção Obstétrica e Neonatal, no âmbito do SUS, além da Lei 11.108,

de 2005, que garante à mulher parturiente o direito à presença de acompanhante durante o

trabalho de parto, parto e pós-parto imediato, no âmbito do SUS.

Apesar disso, essas regulamentações não têm sido suficientes no Brasil para garantir

os direitos das mulheres, desta forma foram criadas 4 propostas apresentadas ao Senado

Federal objetivando ampliar melhoria nas condições de atendimento as mulheres parturientes.

1) Projeto de Lei nº 8, de 2013, incluir a obrigatoriedade de obediência às diretrizes e

orientações técnicas e o oferecimento de condições que possibilitem a ocorrência do parto

humanizado nos estabelecimentos de saúde do SUS; 2) Projeto de Lei, n° 75, de 2012,

estabelecer a assistência à saúde integral, promovida pelo Poder Público, à presa gestante,

bem como vedar a utilização de algemas em mulheres em trabalho de parto; 3) Projeto de Lei

7.633, de 2014, humanização da assistência à mulher e ao neonato durante o ciclo gravídico-

puerperal, atendendo a reivindicações de coletivos de mulheres para transformar as normas

ministeriais em Lei Federal, garantindo assim maior eficácia no seu cumprimento e 4) Projeto

de lei n.º 8.219, de 2017, violência obstétrica praticada por médicos e profissionais de saúde

contra mulheres em trabalho de parto ou no pós-parto.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Trata-se de uma revisão integrativa que emerge como uma metodologia, que inclui a

análise de pesquisas relevantes possibilitando uma tomada de decisão, proporciona a síntese

do conhecimento de um determinado assunto e a incorporação da aplicabilidade de resultados

de estudos significativos na prática, além do mais aponta lacunas do conhecimento que

precisam ser preenchidas com a realização de novos estudos (SOUZA, SILVA, CARVALHO,

2010).

Para elaboração do artigo adotou-se o percurso metodológico baseado nas seis fases

norteadoras para elaboração de revisão integrativa: elaboração da questão norteadora,

estabelecimento dos critérios de inclusão e exclusão e a busca na literatura, definição das

informações a serem extraídas em cada estudo, avaliação dos estudos incluídos, interpretação

dos resultados e apresentação da revisão (MENDES, SILVEIRA, GALVÃO, 2008; SOUZA,

SILVA, CARVALHO, 2010).

A questão norteadora do estudo foi: Qual a percepção dos profissionais de saúde sobre

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o que é violência obstétrica?

Foi realizado levantamento na literatura nas bases de dados disponíveis na Biblioteca

Virtual em Saúde: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS),

USA National Library of Medicine (MEDLINE/PubMed), Base de Dados de Enfermagem

(Bdenf) e na biblioteca eletrônica Scientific Eletronic Library Online (SciELO).

Foram incluídos artigos completos disponíveis eletronicamente no idioma português;

publicados no período de 2010 a 2019, cujo título, resumo e descritores apresentassem a

temática para responder à questão norteadora desse estudo e que se encontrassem online

gratuitamente na forma completa. Posteriormente, foram excluídas as teses, dissertações e

monografias, livros, formações duplicadas, cartas ao editor e editoriais, resumos e descritores

que não correspondia a tematica e que não divergiam a questão norteadora ou que tivesse

qualidade metodológica insatisfatória.

Os artigos foram levantados no mês de agosto a novembro de 2019 para tal, foram

utilizados os seguintes Descritores em Ciências da Saúde (DeCs): Violência”, “Violência

Obstétrica”, “Parturientes”, “Parto Humanizado”. Com a escolha dos artigos as informações

foram extraídas, compondo as seguintes variáveis: título do artigo, ano de publicação, país,

base de dados, título do periódico, objetivo e delineamento do estudo, resumo e conclusão.

Tabela 1 - Base de dados citadas.

BASE DE DADOS TOTAL = 194 %

LILACS 57 29,38

MEDLINE 29 14,95

BDENF 39 20,10

SCIELO 69 35,57

Fonte: elaborado pelas autoras com base em dados bibliográficos, 2019.

Com finalidade de melhor compreensão foi realizado a seguir o ornograma do

processo de seleção, detalhando o quantitativo de artigos encontrados nas bases de dados

determinados, sendo assim demonstrado quantos foram excluidos após leitura do titulo,

selecionados para leitura do resumo, excluídos após leitura do resumo, selecionados para

leitura na íntegra, tendo, ao final, quantos foram incluídos na revisão integrativa.

Organograma 1 - Processo de seleção dos artigos

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Artigos encontrados nas

bases de dados: 194

Excluido após leitura

do titulo: 141

Selecionados para

leitura do resumo: 53

Excluidos após leitura

do resumo: 21

Selecionados para

leitura na íntegra: 32

Excluidos após leitura

na integra: 25

Incluídos na revisão

integrativa: 7

APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

A revisão da literatura foi realizada utilizando mecanismos de buscas da internet

descrevendo os ano/país de publicação, os autores, as bases de dados, os objetivos do estudo,

revista de sua publicação, Qualis/Capes, como delineamento a violência obstétrica

encontrados em cada artigo e após minuciosa triagem respeitando os critérios de inclusão e

exclusão, foram destacados 7 estudos, os quais estão descritos na tabela a seguir.

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Tabela 2 - Apresentação da síntese dos estudos apresentados na Revisão Integrativa 2013-2019

AUTORES, ANO E

ESTADO BRASILEIRO

OBJETIVOS BASE DE DADOS

REVISTA

QUALIS/CAPES

RESULTADOS

Aguiar, Oliveira, Scraiber

(2013)

SP

Discutir a violência

institucional em maternidades

sob a ótica de profissionais de

saúde.

MEDLIN/ SCIELO

Revista Caderno Saúde Pública

B1

Falta de recursos dos serviços de saúde;

Problema estrutural;

Violência Institucional, verbal, física e/ou moral;

Falta de comunicação e educação em saúde.

Souza

et al. (2016)

PR

Realizar revisão integrativa da

literatura sobre os fatores

associados à ocorrência de

violência obstétrica

institucional e apresentar as

principais evidências

encontradas nos artigos

selecionados.

LILACS

Revista Ciências e Medicina

B3

Violência física;

Problema estrutural;

Falta de recursos dos serviços de saúde.

Cardoso et al. (2017)

PE

Avaliar os saberes e práticas

sobre violência obstétrica na

percepção dos profissionais da

saúde

BDENF

Revista de Enfermagem UFPE

B2

Violência institucional, verbal, física, psicológica

e/ou moral;

Falta de comunicação e educação em saude.

Leal et al. (2018)

BA

Conhecer a percepção de

enfermeiras obstétricas acerca

da violência obstétrica.

LILACS

Revista Cogitar e Enfermagem

B1

Violência física, verbal, psicológica e/ou moral;

Falta de educação em saúde.

Menezes et al. (2019)

MG

Compreender a percepção de

residentes em Enfermagem

Obstétrica sobre violência

obstétrica em uma

maternidade referência do

município de Belo Horizonte.

SCIELO

Revista Inteface

B1

Violência física, verbal, psicológica e ou/moral;

Falta de recursos dos serviços de saúde;

Falta de preparo profissional e institucional.

Sens e Stamm (2019a)

SP

Avaliar a percepção de

médicos que prestam

assistência ao parto em uma

maternidade pública

humanizada no sul do Brasil a

respeito desta temática.

SCIELO

Revista Inteface

B1

Violência física, verbal, psicológica e/ou moral;

Falta de autopercepção dos profissionais;

Falta de recursos dos serviços de saúde;

Falta de comunicação e educação em saúde.

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AUTORES, ANO E

ESTADO BRASILEIRO

OBJETIVOS BASE DE DADOS

REVISTA

QUALIS/CAPES

RESULTADOS

Sens e Stamm (2019b)

SC

Identificar a percepção dos

obstetras que prestam

assistência ao parto em uma

maternidade humanizada do

sul do Brasil.

SCIELO

Revista Inteface

B1

Falta de comunicação e educação em saúde;

Violência institucional;

Falta de recursos dos serviços de saúde.

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DISCUSSÃO

A apresentação dos resultados conforme tabela 3 e discussão dos resultados foram

realizadas por meio de análise sistemática de três categorias encontradas, sendo elas: falta de

comunicação e educação em saúde; violência verbal e/ou psicológica e/ou moral; falta de

recursos dos serviços de saúde com as porcentagens de cada resultado de acordo com a tabela

abaixo.

Tabela 3 – Porcentagem de resultados encontrados

CATEGORIAS ENCONTRADAS PORCENTAGEM DOS RESULTADOS

Falta de comunicação e educação em saúde 36,38%

Violência verbal e/ou psicológica e/ou moral 31,18%

Falta de recursos nos serviços de saúde 31,18%

Falta de comunicação e educação em saúde

A partir da leitura dos estudos, ficou evidenciada como fator predominante com

36,38% a falta de comunicação e educação em saúde. Os profissionais deveriam estar

atualizados, mas os estudos mostram que os profissionais não se comunicam entre si e não

buscam mais conhecimentos sobre suas áreas, não se adaptam às mudanças e isto se reflete no

trabalho de cada profissional.

A prática da humanização na formação de profissionais de saúde é importante para a

prevenção e diminuição no índice de ocorrências de violência obstétrica, pois possibilita o

acolhimento, a escuta da gestante e o protagonismo da mulher no parto. Humanização vai

além da formação em saúde, necessita de sua efetivação na relação com o outro, no olhar, no

colocar-se no lugar do outro, que muitas vezes passa despercebido. Humanizar compreende a

necessidade de uma atitude ética e solidária por parte dos trabalhadores de saúde e a

organização da instituição, de modo a criar um ambiente acolhedor e, também, romper com o

isolamento normalmente imposto à mulher (SOUZA, 2016).

Segundo Busanello et al. (2011) a utilização do termo humanizar, vinculado à

assistência a parturientes, tem como premissa melhorar as condições do atendimento à

mulher, à família e ao recém-nascido mediante a reivindicação de ações que visam à

autonomia, à liberdade de escolha, à equidade, à não violência de gênero e ao resgate da

atenção obstétrica integrada, qualificada e humanizada. O despreparo dos profissionais da

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saúde para a atenção humanizada no processo de parturição é destacado como importante

desafio enfrentado. De acordo com os estudos a falta de conhecimento acerca dos preceitos

que englobam a humanização do parto e do nascimento está vinculada, principalmente, à

ausência dessa temática na formação acadêmica dos profissionais da saúde.

Relato de uma parturiente:

“Deveria ter uma educação entre os profissionais, mostrar pra eles qual a forma de

um bom atendimento. Tem que ser ensinado como tratar as pacientes quando for

normal ou cesária (MAYRON, 2018) ”.

A realização da episiotomia é muito utilizada pelos residentes em obstetrícia, para a

fim de obter experiência, e assim acabam realizando sem necessidade. Assim ficou entendido

que o conhecimento nesse caso deveria ser ensinado desde a graduação, deveria ser mais

valorizado a humanização do parto tanto na graduação de enfermagem como na de medicina,

e ensinar a fazer somente em casos realmente necessários, em vez de banalizarem o

ato (CARDOSO, 2017).

A Organização Mundial da Saúde e o Ministério da Saúde contraindicam o uso

rotineiro da episiotomia que é uma incisão cirúrgica na região do períneo, realizada no

momento da expulsão do concepto. Os benefícios, descritos na literatura, incluem a prevenção

do trauma perineal grave e das lesões desnecessárias do pólo cefálico do recém- nascido

(RN), melhoria da futura função sexual e ainda facilitação do reparo, pois substitui uma

laceração irregular por uma incisão limpa e regular. Dentre os riscos e prejuízos estão a perda

sanguínea, prolapso, retocele, cistocele, incontinência urinária, dispareunia, piora da função

sexual e aumento dos índices de infecção. Soma-se a isso o fato de que a episiotomia não

previne lacerações graves, de terceiro e quarto graus (SALGE, 2012).

O Ministério da Saúde em 2003 retrabalhou os conceitos, práticas e condutas na

assistência ao parto e lançou o manual Parto, Aborto e Puerpério: Assistência Humanizada à

Saúde, tomando por base as recomendações da OMS em 1996, o manual redefiniu as ações

que devem ser implementadas no parto e nascimento. O material considera a episiotomia

prática no parto normal claramente prejudicial ou ineficaz e que deve ser eliminada. Contudo

MS define Violência Institucional como aquela exercida pelos próprios serviços públicos, por

ação ou omissão. Pode incluir desde a dimensão mais ampla da falta de acesso à saúde, até a

má qualidade dos serviços. Abrange abusos cometidos em virtude das relações de poder

desiguais entre usuários e profissionais dentro das instituições.

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Relato de uma parturiente:

“O médico só disse assim: ‘eu vou dar um cortezinho aqui pro neném nascer logo, ai

foi e cortou e fez também uma forcinha na minha barriga com a mão (MAYRON,

2018)”.

Os estudos de Aguiar, Oliveira e Scraiber (2013) revelaram que alguns profissionais

revelaram uma imagem das usuárias do serviço público como ignorantes, com dificuldades de

compreensão do que é dito e com uma sexualidade difícil de ser controlada (por terem muitos

filhos e ainda muito jovens). Essa agressividade das pacientes com os profissionais é vista

como violência institucional pelos próprios profissionais.

Portanto, pode-se inferir de toda a bibliografia citada que a falta de educação em saúde

leva o profissional de saúde a cometer violência obstétrica, também fica evidenciado que os

programas de humanização e manuais do Ministério da Saúde precisam ser integrados na

assistência à gestante. A partir disso, comprova-se que os resultados desta revisão estão de

acordo com a literatura vigente, considerando que os profissionais identificam as violências

obstétricas como sendo decorrentes da falta de atualização, exceto pela divergência entre o

que se preconiza sobre comunicação com a gestante e o que se evidencia na prática.

Violência verbal e/ou psicológica e/ou moral

Os estudos apontaram 31,81% identificando violência obstétrica a violência verbal,

física e moral, por exemplo: humilhar, xingar, coagir, constranger, ofender mulher e família,

fazer piadas ou comentários desrespeitosos sobre seu corpo, raça ou situação socioeconômica,

estão tão presente no cotidiano dos profissionais e das parturientes, que já se tornou um

hábito, e os profissionais que não cometem a violência, não tem coragem de chamar a atenção

dos que cometem, preferem se calar (SOUZA, 2016).

Relato de uma parturiente:

“O povo que estava na sala só ficava me mandando botar força, mas o neném não

saia ai eu acho que era o médico ele subiu em cima da minha barriga e botou força

pra o neném sair quase morro de tanto ele botar força e o outro que estava na minha

frente pegou e me cortou sem me dizer nada, mesmo com dor eu senti o corte ardia

muito (MAYRON, 2018)” .

Os estudos de Aguiar (2013) apontam que parturientes chegam ao centro obstétrico

com medo, evidenciando violência sofrida em partos anteriores, ou porque ouviram relatos de

quem sofreu violência obstétrica por meio dos profissionais, e todos os profissionais que

mostram saber disso, revelando que as parturientes já chegam com uma postura defensiva ao

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serviço de saúde apresentando receio em engravidar devido o pavor de ter a possibilidade de

passar pela mesma experiência, que a impede de viver tranquila.

“Se eu gritar a enfermeira judia de mim” (Aguiar, 2013).

As parturientes que não se submetem à obediência que lhes é esperada e à aceitação da

dor do parto como algo natural é tratada pela maioria dos profissionais com uma conduta

“mais ríspida”, ameaças e “aumentar a voz” como formas de coagir a paciente a “colaborar”.

Essas ações, tidas como necessárias, são consideradas como legítimas no exercício da

autoridade profissional pela maioria dos entrevistados, que acreditam ser um preço que deva

ser pago pela mãe (MENEZES, 2019).

Relato de uma parturiente:

“Falta de Respeito com mulheres e com seu bebê, falta de humanismo, pois a mulher

já se encontra em uma situação dolorosa, precisando houver palavras de conforto e

na maioria das vezes encontram totalmente ao contrário, Ofensas verbais, um grande

descaso, são proibidas até de expressar suas emoções, escutam piadas como na hora

de fazer não fez esse escândalo, entre outros (SILVA, 2017) ”.

Averigua que os tipos de violências obstétricas comumente praticadas são: violência

verbal, administração de medicamentos de maneira desnecessária, abuso de ações

intervencionistas, medicalização e a transformação patológica dos processos de parturição

fisiológicos, a coação, ameaças, julgamentos (SEN, STAMM, 2019).

Considerando todo este panorama, pode-se confirmar o que é encontrado nesta

revisão, não só pelo relato do próprio profissional que identifica sua conduta violenta e,

portanto, identifica o que é a violência obstétrica na sua perspectiva, como pelo relato das

parturientes que sofrem ou já sofreram este tipo de violência e a identificam dentro do serviço

de saúde onde este profissional se encontra.

Falta de recursos dos serviços de saúde

A sobrecarga de demandas, as condições estruturais e a precariedade de recursos

materiais e humanos foram apontadas pelos entrevistados como dificuldades enfrentadas

cotidianamente com achados de 31,81% dos resultados. As consequências dessas dificuldades

vão desde a falta de anestesistas de plantão para realização de analgesias de parto até a

proibição de acompanhantes homens na sala de pré-parto, sob a alegação de falta de espaço

físico que garanta a privacidade para as demais parturientes (AGUIAR, 2013).

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A qualidade dos serviços de saúde e do cuidado em saúde depende de uma articulação

complexa do processo de trabalho da equipe multidisciplinar com as condições de

infraestrutura, dos serviços e do sistema de saúde, tendo a gestão um papel importante nesta

articulação. A falta de estrutura adequada pode comprometer a qualidade da atenção nos mais

diversos serviços, inclusive naqueles do cuidado obstétrico e neonatal, corroborando o

resultado encontrado nesta revisão (MAGLUTA, 2009).

Mediante os estudos constata-se que o profissional admite ter cometido violência

obstétrica, porém sugere que a culpa de tal problema é devido ao sistema de saúde. Sem os

recursos necessários não tem como realizar um trabalho de excelência (SOUZA, 2016).

Boas condições de estrutura são consideradas pré-condição favorável à melhoria da

qualidade do cuidado e das práticas profissionais, possibilitando que no cotidiano dos

serviços, as melhores práticas apoiadas em evidências científicas sejam sempre utilizadas em

benefício dos pacientes. Estas estão ligadas à estruturação do sistema de saúde, são mais

dependentes das decisões dos gestores, mas também são influenciadas pelas ações da equipe

de atenção, quando demandam condições adequadas de estrutura (MAGLUTA, 2009).

Concluindo, a estrutura é vista como violenta a partir do momento que não oferece

insumos para que os profissionais consigam trabalhar de forma otimizada, e, considerando

isso, justifica o achado do resultado em que os profissionais identificam a falta de estrutura

como violência obstétrica.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir desta revisão, pode-se concluir que os profissionais de saúde identificam a

violência obstétrica como sendo: falta de educação em saúde e comunicação, violência física,

verbal, psicológica e/ou moral e a falta de recursos nos serviços de saúde. A partir disso os

profissionais reconhecem a prática da violência obstétrica no processo de formação acadêmica

e suas consequências para a mulher.

Para mais, evidenciou-se que a escassez dessa temática na formação acadêmica dos

profissionais da saúde é considerado um dos problemas principais, sendo que o conhecimento

deveria ser ensinado desde a graduação não só sobre procedimentos, mas também sobre boas

maneiras no trato com o paciente. Além disso os próprios profissionais relatam que tais ações

de violência obstétrica são tidas como necessárias, sendo assim consideradas como legítimas

no exercício da autoridade profissional e culpabiliza o sistema de saúde que não possibilita

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um trabalho de excelência.

A pesquisa em si proporcionou um intermédio positivo na formação, uma vez que

criou um espaço de reflexão e visibilidade sobre a perspectiva dos profissionais e

compreensão sobre os tipos de violência que ocorrem durante toda a gestação das

parturientes. Por se tratar de um tema pouco abordado a construção do trabalho teve suas

limitações como a falta de artigos atualizados, a falta de pesquisa sobre a perspectiva do

assunto abordado e evidenciou a necessidade iminente para pesquisa de campo, com a

finalidade de construir trabalhos baseados em evidencias cientificas e que sejam acessíveis

para um largo escopo de profissionais de saúde, independente do momento ou da formação.

Diante do exposto acima, é imprescindível que a equipe de saúde esteja preparada

cientificamente para planejar, elaborar e implementar técnicas e estratégicas e adotar medidas

de prevenção com a finalidade de evitar a violência obstétrica, assim favorecendo a mulher,

os seus direitos e um parto seguro e humanizado.

A violência obstétrica ainda é considerada um desafio constante para a equipe de

saúde é um fator considerado muito relevante à educação continuada, para que de forma

precoce possa evitar danos irreversiveis as parturientes. Lembrando que os cuidados e

prevenção utilizados de forma adequada garantem ao profissional prestar uma assistência

humanizada e de qualidade, pautando sempre no bom senso e bem-estar da parturiente, isso

reduz as causas que predispõem como a depressão pós parto, o medo e a um procedimento

mais invasivo, com isso utilizando métodos que reduz o período do parto e complicações

futuras. Com isso e necessario a elaboração e atualização do tema para estes profissionais

obter a percepcão do ato cometido, e oferecer um serviço de qualidade e respeito para as

parturientes em um momento tão esperado por elas e também para a atuação do profissional

de saúde.

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Agradecimentos

A Deus por ter nos dado saúde e força para superar as dificuldades.

Às nossas mães que nunca nos deixaram desistir e sempre confiaram em nossa

capacidade. Sem elas nós jamais conseguiríamos concluir o curso, pois elas nos ajudaram em

tudo para que possamos estudar e nos incentivando a realizar nossos sonhos. Estendo nossos

agradecimentos aos nossos pais, Patrick e Guilherme que estiveram sempre presentes em

nossas caminhadas.

A esta Universidade, seu corpo docente, principalmente a professora Glaucia que nos

fez apaixonar pela obstetrícia. Movida por esse amor que escolhemos esse tema para o

trabalho de conclusão do curso. Sempre gostamos de professores exigentes, que transmitem

conhecimento com responsabilidade, estes, levamos no coração, cito como exemplo a

professora Angelita que é a nossa preferida.

Agradecemos aos nossos melhores amigos Taiane e Dábyne, Louize e Caio que

sempre nos apoiaram e ouviram nossas lamentações e alegrias.

Enfim, agradeço a todas as pessoas que fizeram parte dessa etapa decisiva em nossas

vidas.