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Visão ecossistêmica do Homicídio Maria Cecília de Souza Minayo [email protected]

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Visão ecossistêmica do Homicídio

Maria Cecília de Souza [email protected]

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Resumo da pesquisa

• Publicada na Revista Ciência & Saúde Coletiva, v.17 (12): 3269-3278 , 2012

• Autoras; Maria Cecília de Souza Minayo e Patrícia Constantino

Visão Ecossistêmica do homicídio

Como acessar: www.scielo.org ou www.cienciaesaudecoletiva.com.br

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O que é um ecossistema• ECOSSISTEMA é um espaço sociogeográfico

“arbitrariamente” definido com estruturas e elementos em permanente interação que está:– cercado por um ambiente externo que ao mesmo tempo

se diferencia dele e reconhece sua especificidade. – Acoplado a um sistema psíquico cuja organização tem

regras próprias, mas é afetado pelos dispositivos do núcleo principal e o afeta, recursivamente.

Existe uma relação dinâmica entre essas três esferas, no entanto, elas não se dissolvem umas nas outras: interagem e se potencializam

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Teorias sobre violência: desorganização social

• A mais antiga é a chamada Teoria da Desorganização, desenvolvida por autores como Thomas e Znanieki2.

• Esses pesquisadores consideravam que o rápido crescimento econômico e populacional e o intenso movimento de migração propiciaram desintegração e desorganização das forças sociais tradicionais, criando ambiente ideal para aumento da criminalidade.

• A tese da Teoria da Desorganização é que a participação em atividades comunitárias desenvolve nas pessoas um senso de pertencimento que, por sua vez, reforça a coesão social e coíbe crimes e delinquências.

• A desorganização social, ao contrário, ocorre quando uma comunidade é incapaz de realizar objetivos comuns e resolver seus problemas como pobreza, deterioração territorial, excessiva mobilidade residencial, heterogeneidade étnica e fracos laços de comunicação.

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Teoria ecossistêmica

• Valoriza a história local, sua economia e organização social, a cultura, e a construção da subjetividade e da participação social.

• Do ponto de vista da violência e criminalidade trabalha com os conceitos de "capital social", "eficácia coletiva" e "efeitos de reciprocidade“.

• Esses conceitos têm uma polaridade binária: podem ser utilizados para explicar tanto a presença como a ausência da solidariedade e da interação social.

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Definição de Conceitos• “Capital social": posse de recursos intangíveis,

produzidos nas relações entre as pessoas e que facilitam a ação social em benefício mútuo.

• “Eficácia simbólica“ habilidade para agir desenvolvida pela comunidade, por meio da confiança mútua e solidariedade entre os cidadãos , criando redes efetivas de controle e de coesão social

• “Efeito de reciprocidade“ influência ou das relações saudáveis ou do ambiente de criminalidade na subjetividade dos moradores de forma recursiva.

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Análise situacional: estudo de caso

• Pesquisas em quatro localidades, duas na Argentina e duas no Brasil sobre homicídios.

• Escolha dos lugares: (1) municípios com mais de 100.000 habitantes, excluindo-se as capitais;

• Dois em cada país: um com elevadas taxas e tendência de crescimento pelo menos nos últimos três anos; outro com baixas taxas e tendência de queda;

• Escolha precedida de análise preliminar dos óbitos por homicídios e causas externas nas capitais, regiões metropolitanas e municípios do Brasil e províncias e municípios da Argentina no período 1980 a 2007.

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Que ecossistemas foram escolhidosno Brasil

• Para representar o grupo com elevadas taxas de homicídio e aumento nos últimos três anos, foi selecionado o município de Paulista, em Pernambuco com 55,1/100.000 habitantes. SERÁ DADA ÊNFASE NESSE CASO

• Para o grupo com queda das taxas de homicídios (3,5/100.000) e melhora da qualidade da informação nos últimos três anos foi selecionado o município de Jaraguá do Sul em Santa Catarina

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Em que consistiu o estudo de caso (análise situacional)

• O estudo dos casos, além das informações epidemiológicas descritivas e das informações históricas, econômicas e sociais, deu ênfase aos aspectos discursivos dos entrevistados a respeito do problema do homicídio na localidade: – gestores de segurança pública, de assistência social,

conselheiros tutelares (no Brasil), policiais, líderes comunitários, professores de ensino fundamental e de ensino médio, profissionais de saúde que atuam em atenção básica, estudantes, jovens religiosos, jovens em conflito com a lei e familiares de jovens.

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Paulista e Jaraguá• Paulista tem o dobro da população de Jaraguá do Sul:

(300.466 habitantes e 143.123 respectivamente). • Jaraguá: índice de Gini (0,38), o IDH (0,855) e PIB, 2.979.318

bilhões de reais (para 2008), percentual de pobres (5,1) e taxa de analfabetismo (1,2) seis X menor que em Paulista.

• Paulista 92008) PIB, 1.612.924 bilhões, apesar de ter o dobro da população; Índice de Gini, 0,55; IDH, 0,799; percentual de pobres, 30,4%; e taxa de analfabetismo, 6,0.

• Indicadores de infraestrutura, de educação e de saúde não discrepam tanto. Ambos: muitos equipamentos públicos.

• Taxas de homicídio ajustadas para os últimos três anos são 15 vezes mais elevadas em Paulista (55.1/100.000) quando comparadas a Jaraguá do Sul (3.5/100.000 habitantes).

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Paulista

• Crescimento acelerado da população;• Instabilidade econômica;• Altas taxas de desemprego;• Elevados percentuais de população pobre (+30%)• Índice elevado de desigualdade, • Muito subemprego• Deterioração da renda dos trabalhadores formais.

A pesquisa qualitativa mostra com mais intensidade os elementos internos e externos dessa diferenciação.

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Visão Qualitativa do Problema

Em seu conjunto, os entrevistados de Paulista percebem e citam o alto risco de morrerem assassinados no município e esse problema foi referido de modo um tanto fatalista: o caminho é esse, deixe-se morrer, eu sou já uma defunta em potencial (familiar de um jovem) – como algo que marca a identidade local, por sua vez repercutida pela mídia “todo mundo aqui vive com medo”.

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Explicação para o clima de derrota frente à criminalidade

• As explicações variam, embora todos os entrevistados citem:

• em primeiro lugar e, como determinante, a presença das drogas – sobretudo do crack – e o papel dos traficantes no aliciamento de jovens, acertos de contas entre usuários e vendedores.

• Outra associação com a criminalidade, citada por assistentes sociais e educadores, é a família desestruturada, cujas figuras de referência são fracas ou moralmente negativas: pais e parentes ausentes ou envolvidos com a criminalidade ou prostituição, o que os torna incapazes de impor limites morais aos filhos: o abandono dentro da própria residência, da própria família é um fator forte demais (Secretária de Assistência Social).

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Explicação: densidade populacional crescente, pobreza, informalidade

• Densidade populacional crescente ( (de 57.000 ha. na década de 1970 a mais de 300.000 hoje).

• Enorme proporção de pessoas pobres, fruto de períodos econômicos falidos (1º. longo ciclo da cana de açúcar e depois, decadência da indústria têxtil) e atualmente, intensa especulação imobiliária.

• Segundo jovens, líderes comunitários e moradores antigos, cronificaram-se: o desemprego, o subemprego, a informalidade nas moradias, no uso da infraestrutura urbana e o pouco apreço à educação formal.

• Os altos percentuais de pobres (30,4%) e desempregados, segundo as autoridades ouvidas, levam à pouca circulação financeira: “as condições financeiras da população são baixas e prejudicam sua acessibilidade às oportunidades de emprego e educação. Esse conjunto de fatores influencia os jovens a entrem na criminalidade (chefe gabinete Prefeito).

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Os homicídio vêm sendo abordados por vários setores

• Mas a hegemonia das ações está dentro da concepção de segurança pública enquanto policiamento: aumento do efetivo de policiais, aumento e melhoria dos equipamentos de inteligência e integração da gestão.

• Existem alguns programas para jovens como "Agentes da Paz", de policiamento preventivo, e "Pacto pela Vida“ de promoção da saúde.

• Há muitos outros projetos governamentais vigentes no município, como cursos profissionalizantes, atividades de lazer, expansão da Estratégia Saúde da Família e programa Bolsa Família para os moradores mais necessitados.

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Qual o resultado das intervenções?No caso dos jovens e pobres

• Os moradores consideram difícil conseguir resultados, pois as vítimas de homicídios – geralmente jovens e adultos pobres – não pertencem a um grupo específico onde se pudesse fazer uma focalização.

• Suas condições socioeconômicas, como também de educação, são semelhantes às dos outros moradores.

• Alguns jovens disseram (g.focal) “é muita gente pobre, sem condições, baixa qualidade do ensino e grande evasão escolar,” embora como em todo o país, o acesso à educação fundamental seja universal.

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Resultados das Intervenções: a questão do lazer

• O acesso ao lazer como valor importante para qualquer comunidade foi assinalado pelos jovens e pelos policiais de Paulista como associado ao aumento dos homicídios.

• Discotecas, praças e eventos comemorativos são palcos de disputas de "galeras" e de acertos de contas entre facções criminosas rivais. “A maioria dos homicídios é cometida em situações em que os jovens saem para discotecas e também para usar drogas” (estudante).

• A saída dos presos em datas comemorativas também é citada como facilitadora de criminalidade: “quando liberam os presos em regime semiaberto e em datas comemorativas o número de crimes e a sensação de insegurança aumentam. [...] Há muito homicídio na saída dos presídios” (Policiais).

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Pouca força das Igrejas, Violência intrafamiliar

• Alguns jovens se referem aos efeitos positivos dos encontros de lazer e de convivência protegidos pelos ambientes religiosos.

• Nas famílias, foi particularmente ressaltado o peso negativo da violência física e psicológica, da exploração infantil e do abandono (mesmo com pais presentes) como facilitadores da criminalidade: “A família errada, mãe cachaceira, pai cachaceiro, filho drogado é filho solto na rua, pode ter 10 anos, aí chega [alguém] e diz: vamos matar!” (estudante).

• As mortes ocorrem entre envolvidos com drogas , com baixa escolaridade, mas também em brigas em bares, de casais, por ciúmes, abuso sexual de mulheres e estupro.

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Fala síntese de um líder comunitário de Paulista

• “A gente tem notado que é um sistema [...] de ausência de ações e de consequência de ações que têm contribuído para essa situação”.

• Essa é uma sábia síntese sistêmica e que encontra respaldo nos estudos de localidades com elevadas taxas de criminalidade.

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O que a situação de Paulista mostra

• A situação de Paulista poderia ser considerada exemplar da história, da complexidade dos processos sociais e subjetivos que atuam nas ocorrências de homicídios: – não são apenas os indicadores demográficos,

econômicos, sociais, de saúde, de educação e de ambiente que, per se, explicam o acirramento e a persistência da violência.

– Para compreendê-los, é preciso entrar também na história, na cultura e nas representações locais onde não só os costumes se reproduzem, mas também as crenças e as identificações os corroboram.

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O ecossistema de Jaraguá do Sul• O clima de tranquilidade do município é explicado pelos

moradores por vários fatores: • a qualidade de vida, a grande oferta de empregos formais,

o policiamento ostensivo, a confiança nas instituições, as bases familiares sólidas, a religião, a cultura do trabalho e o espírito empresarial: aqui o pessoal trabalha muito e não tem tempo para pensar nisso [cometer homicídio]. Tem muito emprego e não trabalha quem não quer (jovem).

• Nas entrevistas, as autoridades chamaram atenção para os investimentos que fazem em educação e saúde e também atribuem um papel importante à cultura local, voltada para o progresso material.

• Muitas pessoas ouvidas se referiram com diferentes palavras à “cultura de um povo trabalhador, pacífico, não armamentista e pouco afeito a festas e concentrações” (citação de uma educadora).

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O sistema complexo de Jaraguá do Sul que funciona

• Aqui também funciona um sistema complexo de ações e interações em que causas e consequências se potencializam, mas ao contrário de Paulista, fazem crescer a efetividade do respeito à vida dos cidadãos: existe uma presença forte dos elementos externos (empresas e dinâmica socioeconômica) que se acopla à cultura local e influencia positivamente o sistema social e a socialização dos indivíduos.

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Ênfase em cinco elementos centrais do sistema social e subjetivo

• a questão da comunicação, • a cultura e a histórica local, • a influência do ambiente externo, • a formação da subjetividade • e o papel das intervenções sociais.

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Comunicação• Em Paulista ressalta-se a dispersão de esforços. Nessa

localidade não faltam propostas a favor da consolidação de uma cultura de paz.

• As narrativas empíricas até sugerem que nelas existam mais programas socioeducativos e de segurança pública que em Jaraguá.

• Mas, a existência de laços sociais e de capital social não explicam, per se, a capacidade de enfrentamento da criminalidade e dos homicídios: são elementos necessários, mas não suficientes.

• Há pouca eficácia coletiva ou seja, de redes de comunicação capazes de promover o controle social e a coesão entre os moradores.

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Importância da História e Cultura Localnas reprodução de valores

• O tipo de relação da comunidade com o crime ou com a delinquência é um fenômeno de longa duração, em que entram em jogo processos sociais e econômicos, a forma como se deu o crescimento da sociedade local e a distribuição de poder.

• Em Paulista ressaltam-se ciclos de riqueza, decadência e informalidade. As desigualdades sociais são históricas e persistentes e as altas taxas de criminalidade são corroboradas por várias subculturas informais que competem entre si e as aceitam.

• Esse conjunto de fatores diminui a eficácia coletiva para enfrentar os problemas, cria um sentimento de desistência e de impotência frente à criminalidade e o homicídio é visto como uma fatalidade inevitável.

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Efeito de reciprocidade• Existe um efeito de reciprocidade entre o comportamento

do sistema social e os sujeitos: boas escolas, acesso a empregos, ambiente limpo, saudável e seguro geram convivência pacífica e cidadã e as pessoas tendem a buscar locais assim para viver.

• E vice-versa: medo e insegurança geram déficit de coesão e de participação na vida comunitária, reduzem a vontade das pessoas de se engajarem no controle social formal ou informal e cria-se uma espécie de cinismo em relação às normas legais.

• Nesse vácuo de controle social, os delinquentes costumam assumir o poder e usar sanções cruéis aos que os desrespeitam, criando assim uma subcultura do crime temida por uns e ambicionada por outros, sobretudo alguns jovens.

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E a influência do ambiente externo?

• Os efeitos de políticas macroeconômicas e macrossociais influenciam as taxas de criminalidade e de informalidade em localidades violentas.

• Existe evidência empírica de que a desindustrialização e o desinvestimento (como no caso de Paulista) redundam em aumento no número de desempregados e de pobres, em instabilidade demográfica, em incremento de residências precárias e não legalizadas e em ocupações informais.

• Nesses municípios, como num círculo vicioso, fogem as oportunidades econômicas e de turismo e cresce o isolamento territorial e social dos moradores.

• Mas não apenas os empreendimentos econômicos se afugentam, também o poder público ainda que investe em programas sociais , o faz de forma descoordenada, e com pouco empenho para que as coisas deem certo.

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E o papel das intervenções: o “programa Fica Vivo” MG

• Um dos casos de maior sucesso hoje é o "Programa Fica Vivo" de Minas Gerais, que visa a reduzir os homicídios em áreas onde sua concentração seja alta, combinando ações preventivas que incluem participação comunitária e suporte social para solução das questões locais e tem foco nos jovens. E ações repressivas que visam a dar resposta rápida do sistema policial e judicial para aumentar a apreensão de armas e prisão dos delinquentes.

• Avaliação de impacto indica que o Programa reduziu a criminalidade e os homicídios em todas as seis áreas onde foi implementado.

• Mas a adesão e os resultados são diferenciados. A coesão interna da sociedade local e à capilarização diferenciada do programa entre os moradores reforça a ideia de que a reorganização e a transformação social são caminhos de possibilidades e nunca uma certeza.

• Nas localidades com mais tempo de existência do programa os resultados tendem a ser melhores.O que ressalta o papel da reprodução cultural.

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O papel das intervenções: o caso de São Paulo

• Na cidade de São Paulo, as taxas de homicídio caíram de 56,4 em 1996 para 14,9 em 200816. Embora sejam necessárias cautelas quanto aos fatores explicativos para a queda, alguns elementos devem ser ressaltados: o declínio das taxas de homicídio ocorreu em todas regiões da cidade e em todos os grupos sociodemográficos, mas a queda foi mais relevante nas áreas com maior grau de exclusão social e nos grupos considerados de maior risco: homens jovens de 15 a 24 anos.

• Esse declínio nos locais de maior vulnerabilidade resultou na redução de outras iniquidades, por mais investimentos sociais e econômicos, de educação, de saúde, de segurança pública, de desarmamento da população e de integração dos moradores nas áreas de exclusão extrema.

• Foi o caso de Jardim Ângela, por exemplo, uma favela com cerca de 300.000 habitantes da periferia de São Paulo que já foi considerada pela ONU a localidade mais violenta do mundo (117 homicídios por 100.000 habitantes em 1996) e que nesse período teve uma queda de 73,3% nas taxas.

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As UPP no Rio de Janeiro• O "Programa de Polícia Pacificadora" (UPP) da cidade do Rio de

Janeiro vem acompanhado de uma política abrangente denominada "UPP Social".

• Essa ação vem sendo responsável pela diminuição acentuada nas taxas de homicídio que em 2000 eram de 51,0 e em 2010 baixaram para 26,2 por 100.000 habitantes, uma queda de 46,9%.

• Nas regiões com UPP, os homicídios tiveram queda de até 77%. • A UPP Social reúne esforços das esferas municipal, estadual e

federal e também de empresários, das áreas públicas de educação, saúde e ambiente e da sociedade civil.

• Projetos e programas são planejados para cada território (já ocupado por UPP), sempre a partir das demandas da comunidade que atuam junto com as forças externas que se unem a ela, de forma comunicativa e interativa.

• No caso do Rio de Janeiro, não se pode esquecer também, a influência de importantes fatores macroeconômicos que fizeram aumentar os empregos formais e diminuir a informalidade em todos os seus aspectos.