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visão estraté ica Opiniões o meio ambiente dnâtureza Imediatamente, após confirmar que escreveria este texto, fiz uma rápida busca na intemet para sentir como a socieda- de definia meio ambiente. Constatei, além das disparidades nas respostas, uma grande adjetivação do termo: meio am- biente abiótico, meio ambiente biótico, meio ambiente artifi- cial, meio ambiente cultural, enfim, "meio ambiente de toda natureza". Comum, somente a conotação antropocêntrica que, a meu ver, explica o fato de a proteção juridica assegu- rada à natureza se assentar no bem-estar e sobrevivência da espécie humana. Esse tipo de visão sobre o meio ambiente tem feito com que ele seja considerado valioso quando gera benefícios econômicos e desprezível quando não há tal possibilidade; pior, ainda, é que, nesse caso, opta-se pelos "pseudobene- fícios" advindos de sua destruição. Isso tem gerado uma acentuada degradação ambiental, que só não é maior graças aos movimentos sociais, iniciando-se com a Cúpula de Meio Ambiente, realizada pela ONU em Estocolmo, em 1972, na qual os governos reconheceram, pela primeira vez, a neces- sidade de tratar a poluição provocada pelas atividades huma- nas. Mesmo assim, acumulamos graves problemas de emis- sões de gases de efeito estufa (GEE) na área urbana, devido a indústrias e automóveis, e na área rural, pelas mudanças no uso da terra e suas consequências: desmatamento, uso de agrotóxicos e degradação de solos por mau manejo. Esperava-se que, em 1987, vendo a imagem do buraco da camada de ozônio, a sociedade percebesse que o sistema de utilização dos recursos naturais incluído em nosso mo- delo de desenvolvimento não era sustentável. Mas não. Na década de 1990, a crise ecológica agravou-se, originando a Rio-92, que gerou importantes produtos: Agenda 21, Con- venção da Diversidade Biológica, Convenção sobre Mudan- ça do Clima, e Convenção do Combate a Desertificação. Em 2000, na Cúpula do Milênio, chefes de Estado dos países-membros da ONU criaram as oito metas do milênio para o desenvolvimento, a serem cumpridas até 2015, e, no- vamente, os efeitos estão abaixo do esperado. Continuamos a receber relatórios com dados alarmantes sobre aquecimen- to global, diminuição da biodiversidade, aumento do nível do mar e, até mesmo, refugiados ambientais. 18 Certo é que o mundo está submetido a níveis de emissões de GEE elevadíssimos, em razão da queima de combustí- veis fósseis (66%), das mudanças de uso da terra (14%,) da agropecuária (20%). No Brasil, inversamente, as emissões vêm principalmente do desmatamento (70 a 75% de nossas emissões), seguido da agropecuária e da queima de combus- tíveis fósseis. Resta-nos, portanto, o caminho do desenvolvimento sus- tentável, que poderá nos garantir qualidade de vida, hoje, e o repasse de um ambiente saudável e pleno de recursos naturais, para as gerações futuras. Esse é o caminho a ser seguido pela sociedade. Felizmente, a maioria das empre- sas vinculadas às plantações florestais comerciais mostra-se sintonizada com essa nova dimensão do desenvolvimento. De outro modo, na exploração de florestas naturais, ape- sar dos esforços do Governo Federal com inúmeros Progra- mas (Concessões Florestais para Manejo Sustentável, Dis- tritos Florestais Sustentáveis, Plano Nacional de Silvicultura com Espécies Nativas e Sistemas Agroflorestais - Pensaf, Proambiente e Pronaf Florestal) e de alguns bons empresá- nos, vemos o avesso. Autoridades governamentais relatam fatos gravíssimos em relação à derrubada e queima das florestas naturais, à extração ilegal de madeira (aproximadamente 80%) e ao desperdício da mesma (70% em alguns casos). Além disso, a pecuarização da Amazônia aumenta, ainda mais, a questão dos GEE. Preocupa-me, também, a falta de infraestrutura e de conhecimentos tecnológicos, que poderá fazer com que os programas governamentais não gerem produtos de alto valor agregado, a partir de nossas florestas servindo, apenas, para geração de toras ou produtos não madeireiros de baixo valor agregado. Com base nesse quadro, agradam-me as conceituações que consideram o meio ambiente como tudo que está ao re- dor de um organismo e que tem interação com o mesmo - às vezes esse organismo é o homem. Nesse caso, podemos con- siderar como meio ambiente "o conjunto de fatores bióticos e abióticos que nos cercam e nos influenciam e que devem ser utilizados, considerando, além do sentido ecológico, os sentidos jurídico, filosófico e social".

visão estraté Opiniões omeioambiente dnâturezaainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/137002/1/...Esse é o caminho a ser seguido pela sociedade. Felizmente, a maioria das

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visão estraté ica Opiniões

o meio ambiente dnâtureza

Imediatamente, após confirmar que escreveria este texto,fiz uma rápida busca na intemet para sentir como a socieda-de definia meio ambiente. Constatei, além das disparidadesnas respostas, uma grande adjetivação do termo: meio am-biente abiótico, meio ambiente biótico, meio ambiente artifi-cial, meio ambiente cultural, enfim, "meio ambiente de todanatureza". Comum, somente a conotação antropocêntricaque, a meu ver, explica o fato de a proteção juridica assegu-rada à natureza se assentar no bem-estar e sobrevivência daespécie humana.

Esse tipo de visão sobre o meio ambiente tem feito comque ele seja considerado valioso quando gera benefícioseconômicos e desprezível quando não há tal possibilidade;pior, ainda, é que, nesse caso, opta-se pelos "pseudobene-fícios" advindos de sua destruição. Isso tem gerado umaacentuada degradação ambiental, que só não é maior graçasaos movimentos sociais, iniciando-se com a Cúpula de MeioAmbiente, realizada pela ONU em Estocolmo, em 1972, naqual os governos reconheceram, pela primeira vez, a neces-sidade de tratar a poluição provocada pelas atividades huma-nas. Mesmo assim, acumulamos graves problemas de emis-sões de gases de efeito estufa (GEE) na área urbana, devidoa indústrias e automóveis, e na área rural, pelas mudançasno uso da terra e suas consequências: desmatamento, uso deagrotóxicos e degradação de solos por mau manejo.

Esperava-se que, em 1987, vendo a imagem do buracoda camada de ozônio, a sociedade percebesse que o sistemade utilização dos recursos naturais incluído em nosso mo-delo de desenvolvimento não era sustentável. Mas não. Nadécada de 1990, a crise ecológica agravou-se, originando aRio-92, que gerou importantes produtos: Agenda 21, Con-venção da Diversidade Biológica, Convenção sobre Mudan-ça do Clima, e Convenção do Combate a Desertificação.

Em 2000, na Cúpula do Milênio, chefes de Estado dospaíses-membros da ONU criaram as oito metas do milêniopara o desenvolvimento, a serem cumpridas até 2015, e, no-vamente, os efeitos estão abaixo do esperado. Continuamosa receber relatórios com dados alarmantes sobre aquecimen-to global, diminuição da biodiversidade, aumento do níveldo mar e, até mesmo, refugiados ambientais.

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Certo é que o mundo está submetido a níveis de emissõesde GEE elevadíssimos, em razão da queima de combustí-veis fósseis (66%), das mudanças de uso da terra (14%,) daagropecuária (20%). No Brasil, inversamente, as emissõesvêm principalmente do desmatamento (70 a 75% de nossasemissões), seguido da agropecuária e da queima de combus-tíveis fósseis.

Resta-nos, portanto, o caminho do desenvolvimento sus-tentável, que poderá nos garantir qualidade de vida, hoje,e o repasse de um ambiente saudável e pleno de recursosnaturais, para as gerações futuras. Esse é o caminho a serseguido pela sociedade. Felizmente, a maioria das empre-sas vinculadas às plantações florestais comerciais mostra-sesintonizada com essa nova dimensão do desenvolvimento.

De outro modo, na exploração de florestas naturais, ape-sar dos esforços do Governo Federal com inúmeros Progra-mas (Concessões Florestais para Manejo Sustentável, Dis-tritos Florestais Sustentáveis, Plano Nacional de Silviculturacom Espécies Nativas e Sistemas Agroflorestais - Pensaf,Proambiente e Pronaf Florestal) e de alguns bons empresá-nos, vemos o avesso.

Autoridades governamentais relatam fatos gravíssimosem relação à derrubada e queima das florestas naturais, àextração ilegal de madeira (aproximadamente 80%) e aodesperdício da mesma (70% em alguns casos). Além disso,apecuarização da Amazônia aumenta, ainda mais, a questãodos GEE. Preocupa-me, também, a falta de infraestrutura ede conhecimentos tecnológicos, que poderá fazer com queos programas governamentais não gerem produtos de altovalor agregado, a partir de nossas florestas servindo, apenas,para geração de toras ou produtos não madeireiros de baixovalor agregado.

Com base nesse quadro, agradam-me as conceituaçõesque consideram o meio ambiente como tudo que está ao re-dor de um organismo e que tem interação com o mesmo - àsvezes esse organismo é o homem. Nesse caso, podemos con-siderar como meio ambiente "o conjunto de fatores bióticose abióticos que nos cercam e nos influenciam e que devemser utilizados, considerando, além do sentido ecológico, ossentidos jurídico, filosófico e social".