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'O': " , , deliberada do colonizador ~_l!l1.!listu~tnias..2~I!l(~~iv<:ls 0.~_2..çgqml}ça, as condições em resguardar as formas sociais foram mínimas. Entretanto, ocorreram, ao longo do período colonial, tentativas de recuperar a primitiva organização. No quilornbo de Palmarcs, por exem- plo, houve estruturas familiares, escravos e uma vida social estratificada que buscava recuperar as condições africanas, lembradas pela tradição oral. Talvez essa seja a forma mais visível da resistência africana a escrava- tura. EQ2geral, as rebeliões de africanos ou de afro-descendentes traziam 9 componente de identificação com o passado ou COIUa pOSSIbilidade de retomo à terra de origem.,Não eram ra:osC?scas<:ls_.~.e._,,-!~ge.~sde africa- nos libertos entre a Bahia c a Costa da África, tampouco.a influência.dos acontecimentos africanos no 13ra?il,a'~~el~plo da Rebelião.dos.Malês, Muitos ex-escravos regressaram do Brasil à Africa e, lá, em GaJ.l<l2.. no Toga, em Be~1lne na ~iK~~i~ formaram importantes comunidades de "brasileiros" que, de algum modo, m9~iflc:ªt:ª.tILçerta.~ ..çidª.dcs...d~a comº-Jd:lg.Q.~~J~ºnº_.Noss), ..Agii_e.~.Ànç:xo. As relações entre o Brasil c a África, dessa forma, não se restringiram ao tráfico de escravos, foram mais complexas, e apresentaram trocas afctivas, comerciais, culturais e mesmo ideológicas, que se mantiveram nos séculos de escravidão. Muito ainda há para ser descoberto e compreendido. De qualquer forma, no Brasil, o elemento negro foi uniformizado pela escravidão, embora a sua contribuição para a formação social brasi- leira seja considerável. A presença do negro superou a do índio, não só numericamente, mas por outros fatores que asseguraram a perpetuação étnica - a resistência maior que oferecia diante da presença dos europeus c o contato mais íntimo que teve com os mesmos. Nesse sentido, africa- •nos e seus descendentes atuaram, decisivamente, não só na fecundação ;slo território como na formação do povo brasileiro. 11. Da conquista européia à descolonização 4.1 o início da penetração européia L/fiZ Dario Teixeira Ribeiro t Vt5f.f\1T\ ,~\l)w~.vlo(~ ~~ &., ~, 'r~~: ~XX\l 2.~1. ff> 5t~~~'Ü 4. tvllSSJONÁRJ OS, EXPLOR!\DORFS, SOLDADOS E COMERCT ANTP.S: A Pi\RTTLHi\ E i\ CONQUISTA Dl\ AFRIeA * A INTECR:\Ç!\O DE AFRICA, como um dos pilares fundamentais da econo- mia mcrcantilista da Era Moderna, possibilitou e determinou sua recstru- turação gcopolítica e econômica. Surgiram ou se desenvolveram novos Estados litorâneos, como Ashanti, Benin, N'Gola, entre outros, voltados à e~glJaçiTQ. ..ª_e mão-de-obra para as Américas. Para tal, eles adotaram os principias monopolistas do rnercantilismoc produziram seus «artigos" através da guerra ou do comércio com o interior. Tal atividade propor- cionava rendas que mantinham e enriqueciam os governantes, seus séqüi- tos (aristocratas, funcionários, militares) e os comerciantes locais, além de gerar demanda para gêneros agrícolas e artes anais. A esse novo tipo de - organização econômica, correspondcu uma profunda reorganização de rotas, parceiros e objetivos. Reagindo e respondendo às pressões do Anti- go Regime (Impérios Absolutistas europeus), os africanos mantiveram os europeus encurralados em enclaves litorâneos (feitorias) e controlaram o. pilar fornecedor de escravos até a crise do sistema. O desenvolvimento do capitalismo, no entanto, provocou uma série de transformações que terminaram por romper o sistema e provocar uma revolução originada no pólo central que afetou profundamente todo o mercantilisrno. As chamadas "Revolução Burguesa", "Revolução Atlânti- ca", "Revolução Francesa" e "Revolução Industrial" foram, na realidade, uma revolução sistêrnica, cujos efeitos exigiram e possibilitaram trans-

VISENTINI BREVE HISTÓRIA DA ÁFRICA parte I

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Page 1: VISENTINI  BREVE HISTÓRIA DA ÁFRICA parte I

'O': ", ,

deliberada do colonizador ~_l!l1.!listu~tnias..2~I!l(~~iv<:ls 0.~_2..çgqml}ça,as condições em resguardar as formas sociais foram mínimas.

Entretanto, ocorreram, ao longo do período colonial, tentativas derecuperar a primitiva organização. No quilornbo de Palmarcs, por exem-plo, houve estruturas familiares, escravos e uma vida social estratificadaque buscava recuperar as condições africanas, lembradas pela tradiçãooral. Talvez essa seja a forma mais visível da resistência africana a escrava-tura. EQ2geral, as rebeliões de africanos ou de afro-descendentes traziam9 componente de identificação com o passado ou COIUa pOSSIbilidade deretomo à terra de origem.,Não eram ra:osC?scas<:ls_.~.e._,,-!~ge.~sde africa-nos libertos entre a Bahia c a Costa da África, tampouco.a influência.dosacontecimentos africanos no 13ra?il,a'~~el~plo da Rebelião.dos.Malês,

Muitos ex-escravos regressaram do Brasil à Africa e, lá, em GaJ.l<l2..

no Toga, em Be~1lne na ~iK~~i~ formaram importantes comunidades de"brasileiros" que, de algum modo, m9~iflc:ªt:ª.tILçerta.~ ..çidª.dcs...d~acomº-Jd:lg.Q.~~J~ºnº_.Noss), ..Agii_e.~.Ànç:xo. As relações entre o Brasil c aÁfrica, dessa forma, não se restringiram ao tráfico de escravos, foram

mais complexas, e apresentaram trocas afctivas, comerciais, culturais emesmo ideológicas, que se mantiveram nos séculos de escravidão. Muitoainda há para ser descoberto e compreendido.

De qualquer forma, no Brasil, o elemento negro foi uniformizadopela escravidão, embora a sua contribuição para a formação social brasi-leira seja considerável. A presença do negro superou a do índio, não sónumericamente, mas por outros fatores que asseguraram a perpetuaçãoétnica - a resistência maior que oferecia diante da presença dos europeusc o contato mais íntimo que teve com os mesmos. Nesse sentido, africa-

•nos e seus descendentes atuaram, decisivamente, não só na fecundação;slo território como na formação do povo brasileiro.

11. Da conquista européia à descolonização

4.1 o início da penetração européia

L/fiZ Dario Teixeira Ribeirot

Vt5f.f\1T\ ,~\l)w~.vlo(~ ~~ &., ~,'r~~: ~XX\l 2.~1. ff> 5t~~~'Ü

4. tvllSSJONÁRJ OS, EXPLOR!\DORFS, SOLDADOS E COMERCT ANTP.S:A Pi\RTTLHi\ E i\ CONQUISTA Dl\ AFRIeA

*

A INTECR:\Ç!\O DE AFRICA, como um dos pilares fundamentais da econo-mia mcrcantilista da Era Moderna, possibilitou e determinou sua recstru-turação gcopolítica e econômica. Surgiram ou se desenvolveram novosEstados litorâneos, como Ashanti, Benin, N'Gola, entre outros, voltadosà e~glJaçiTQ. ..ª_e mão-de-obra para as Américas. Para tal, eles adotaram osprincipias monopolistas do rnercantilismoc produziram seus «artigos"através da guerra ou do comércio com o interior. Tal atividade propor-cionava rendas que mantinham e enriqueciam os governantes, seus séqüi-tos (aristocratas, funcionários, militares) e os comerciantes locais, além degerar demanda para gêneros agrícolas e artes anais. A esse novo tipo de -organização econômica, correspondcu uma profunda reorganização derotas, parceiros e objetivos. Reagindo e respondendo às pressões do Anti-go Regime (Impérios Absolutistas europeus), os africanos mantiveram oseuropeus encurralados em enclaves litorâneos (feitorias) e controlaram o .pilar fornecedor de escravos até a crise do sistema.

O desenvolvimento do capitalismo, no entanto, provocou uma sériede transformações que terminaram por romper o sistema e provocar umarevolução originada no pólo central que afetou profundamente todo omercantilisrno. As chamadas "Revolução Burguesa", "Revolução Atlânti-ca", "Revolução Francesa" e "Revolução Industrial" foram, na realidade,uma revolução sistêrnica, cujos efeitos exigiram e possibilitaram trans-

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formações contraditórias em todos os parceiros do "Antigo Regime",reunindo-os em ritmos desiguais em uma nova estrutura.

Transformações materiais, políticas e ideológicas na origem e noresultado dessa revolução intensificaram o tráfico de escravos e a sua con-denação. Os Estados do litoral da África,monopolizadorcs da exportaçãode escravos, descobriram alternativas para sua crise no desenvolvimentoparalelo do chamado "tráfico legal" de matérias-primas e insumos local-mente produzidos. O efeito imediato foi o surgimento de novos tipos deprodutos de comércio livre (óleo de palma, amendoim, algodão, ouro emarfim) e da nova atividade mercantil, ao mesmo tempo que autoridadese traficantes locais introduziam no continente a produção escravista emlarga escala para suprir as lavouras de export'(l.s_~?iP.(e!l!qjioll),caractcrísti-cas do continente americano. ----- ...-.--

O processo transitório gerava instabilidade e transformação emtodo o planeta, provocava tensões internas, disputas pclocol}gQk d~;jre-as de produção e de escoamento, mas mantinha o controle da produçãoe os principais ganhos nas mãos africanas e de seus Estados independen-tes, os quais jogavam com os importadores. A crise e as instabilidadesdas mudanças, acompanhadas pela luta da Inglaterra contra o tráfico deescravos, determinam novo tipo ele ocupação européia no litoral. Eramentão necessárias bases navais para a repressão ao lráficol1.çg~~eiro,áreaspara devolução de ex-escravos e para controle de rota de exportaç~o deprodutos legais (produzidospor escravos no interior africano).

Novos tipos de enclave instalaram-se: missões religiosas, aquartela-rnento e casas comerciais. Os fundamentos c mecanismos de ação erama transcrição materializada da nova ideologia em ascensão - liberalismo- com seu corolário de pressão sobre os cu.St,()~Como conseqüência, ()Estado de origem não devia ou não desejava arcar com os custos. ,\sfo.Q:__tcs locais deviam suprir as despesas públicas. Com esses fatores, surgemos novos elementos que estarão na bas~'d;-;;nquista colonial da ;\f~ica:missionários, exploradores, soldados e principalmente comerciantes.

4.2 A Conferência de Berlim e a partilha da África

as exportações de novos produtos (óleo de palma, amendoim, algodão,ouro e marfim), foi potencializada pela crise econômica (}ue eclodiu nadécada ele 1870. Para os europeus, era necessário abrir o comércio diretopara os produtos,a~ricanos e os manufaturados europeLls. Nesse quadro;',; jtornou-se necessaria l))D!l.J'JJpm~ado. controle d9~çesso a9111.tenor~q,!~ i l

gr~ mª,nºc.iç!..'p~lº?J::'staelos do litoral. Tais Estados vinham, ao longo do '1'(

século XIX, estabelecendo impérios tributários com a subj ugacão dos! \"- J '\

vizinhos menos poderosos e, assim, compensando a repressão ao trá ficoJ'internacional de escravos.

Outro aspecto decorrente do processo foi a internacionalizaçào, nocontinente, da escr<!y'i-ºª9_.1:!!º-ª~r.D.,a,para atender à demanda do comér-cio legítimo dos novos produtos. Essa situação (a utilização ele escravosna.produçào.africana) provocava o aumento da intervenção filantrópica(via.1]lÍ_~~ion~xiº~)_.Ç.dapressãosobre os Estados europeus para intervir,com o estabelecimento de consulados e agentes para firmar acordosdeproibição do tráfico de escravos e de liberalização de mercados, além doestabelecimento de esferas de interesse.

Frente aos tradicionais parceiros nas relações da Europa com o con-tinentc africano - Inglaterra, França e Portugal-, que deslocaram os ou-tros da época mcrcantilista, surgem novos competidores: o rei LeopoldoIl, da Bélgica, e empresários alemães. Se o primeiro pretendia construirum império colonial privado na Africa Central, os segundos desejavamestabelecer esferas de influência no litoral dos territórios com projeção"para o interior, nas áreas não controladas pelas potências tradicionais. "Métodos privados, através de empresas que recebiam apoio estatal e de I·

entidades filantrópicas, foram empregados. Associações aparentementeinternacionais de exploração, além de companhias com carta de direitosemitidos por potências européias, mesclaram-se nessa corrida gerandodesconfiança recíproca e instabilidade. -,

Exploradores e viajantes, agindo por representação ou autonoma-mente, estabeleciam, por onde passavam, tratados e acordos pessoais embenefício de Estados europeus, sob a forma de cessão de soberania oude estabelecimento de esferas monopólicas de proteção. R0.!:ugal tentoufºttalecer, com reconhecimento internacional, seu controle sobre a f07-'

dQrio Congo, sendo barrado pelo governo britânico. Essa situaçào)1f~~na;área de intensa disputa, proporcionou as condições para a convocação :de uma conferência internacional em Berli~n, de novembro de 18~~' a I

1\ intensificação da corrida por esferas de influência no territonoafricano, originada pela disputa entre capitalistas europeus e. Est~iosafricanos como Ashanti, Benin e N'Gola.>..cIlJecontrolavam ferreamente

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:."'. J

Comerciantes europeus

--,,I

Bdtlmkol I

Portugês Baía welvís

Francês I

I~:~ Baixa soberania otcmana I

I'T. x'9Ç1.x x República {l Sul da ârrlca (transversal),~~~:.J dos boers ~ Estado livre de Orange jH Reclamado pelo sultanato de Zanzlbar1------------- ---------

./ Direção do avanço nli.~slonciro

O Principais estados e chefes africanos

~ Roblfs (1862-9 )__ -+ Scbweinfur (1868-81) AlemAes_. _. _ ...•. Nachtigal (1869-74)

~._-_._---

illlllllllITll1••lZLJ

Zona rcdamllda peles rnatabelés

Estado rnahdlsta

1 Ashanti2 Dahomey3 Estados Yoruba4 Uadal5 Darfur6 Bunyero

7 Ankolc8 Ruanda9 Rurundi10 Karagwe11 Mirambo12MlozI

13 jumbe14 Jeres yao15 Bemba16 Barotse17 Barmangwato18 Basuto

=~:.:.~~:.~=~.:~:~:~~~~l(l899.1900)}E:':Ploradores francese

- • - )o Mungo Park (1796_1806)}- - - -Jo. Claperton (1823-5).. __ .. ~ Llvlngstone (1S46-73) Exploradores Ingleses- - - . . •. Stanley............... ,....~ Bestou e Speke (1857-63)

o século XIX e as expedições exploradoras

60

fevereiro de 1885.,_5.eusobjetivos explícitos eram o estabelecimento de;:egra~ para a liberdade comercial e a atuação humanitária no continente.Na conferência, foram estabelecidas regras para a liberdade de comércioe igualdade de condições para os capitais concorrentes. () mundo liberalvencia o protecionismo.

Paralelamente aos tratados de navegação foi reconhecida a esferade influência da Alemanha sobre os territórios litorâneos conquistadosou ocupados por suas cbartered companies e o Estado livre do Congo, pro-priedade pessoal do rei da Bélgica. Definiam-se, também, a legitimidadee inviolabilidade das esferas dos antigos ocupantes do litoral da Africa -

\ Inglaterra, França e Portugal. A conf.e...rên.Ci.,.l....e..st...a..bel.eceu. ain..d..a as regras'4 para a legitimidade da dominação: a rrova de oCllp?ção definitiva e a dç-c1ill:ru;:à.o_dcssaparlLpossívelcontestação por outras potências européias1 e ass.il~a!tlr.a:sslc::._acordos.Um senão das decisões foi a limitação do rcco-n,Qeçiruento às áreaslitorâneas, o que abriu caminho à corrida pela con-quista do interior e ao estªbçlçcimçntº_çl_ç~1ºY'l~Jr-ºr}teiras gue_a~endi~11aos interesses econômicos aos limites de conhecimento do interior e às------ _ ... _-. .._- .' .•.

j riv~d(lc:!s~intra-curQ12~i~. Ao final da conferência, a história e a política ILafricanas pa~;~;'am a ser definidas pela diplQ~nacia eurQJ2t!a. J

Após a conferência, os beneficiários trataram de impor a sua domi-nação nc~J~~::r~.oEe__ª~._~~modelar geopolítica, social e economicamente o~~_I~~~'!-º2te,transformado em objeto do imperialismo de novo tipo que .surgia na Europa. Para isso, usavam os mesmo argumentos de sua inS~\ jtalação no litoral: fim da escravidão, civilização, cristianizaçâo e abertura .•.ir..doterritório para o comércio internaciQ!pl. Iniciaram-se as guerras deconquista e a dependização econômica do continente às economias in-Jdustriais das potências européias. .

4.3 A evolução da África do Sul no século XIX'

Dentre os povos da Africa, existe uma excepcionalidade e origina-lidade, clue são os brancos sul-africanos. O Cabo da Boa Esperança (oudas Tormentas) ocupava uma posição estratégica para os navegadores eu-ropeus, como ponto de passagem do Oceano Atlântico para o Índico.Em 1652, a Companhia Holandesa das Índias Orientais estabeleceu no

--'.--;

" Sub-capítulo redigido por Paulo G. Fagundcs Viscntini.

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Cabo, um cntreposto destinado a abastecer seus navios de água e ali-mentos. Jan van Rebeeck desembarcoll com cem homens, empregados daCompanhia, os quais, com o tempo, buscaram converter-se em colonos,estabelecendo uma relação tensa com a empresa, que desejava apenasmanter o enrreposto. Naquela época, a região era habitada pelos povosprimitivos Kho isans, enquanto os grupos bantos penetravam, simulta-neamente, pelo nordeste do cJue hoje é a República da Africa do Sul.Os Khoi (pejorativamente chamados de "Hotentotes") eram pastores eos Sans (pejorativam.ente denominados "Bosquímanos") eram caçadores,enquan to os Bantos eram agricultores e pastores semi-nômades.

Ao longo do século XVII, a burguesia compmdora crescia e se antago-nizava com os cjue se assentavam na agro-pecuária. 1\ medida em que osholandeses iam ultrapassando os limites do porto do Cabo, dominavamas terras e exploravam o trabalho dos Khoisans Em meio à tranqüilidadedo século XVIII, foi se formando o grupo boer (camponês em holandês).Esses, movendo-se para o interior com suas carroças e seus rebanhos, vãodeixando de ser europeus e passam a se considerar "africanos", isto é, aconsiderar a África a sua terra. Segundo Kiemet, "essa vida lhcs dava uma

, grande tenacidade, uma resistência silenciosa e um respeito muito fortepor si mesmos. Mas seu isolamento marcou seu caráter ao deixar\,azi~_~u~_it!1aginação e inerte sua inteligência. Tinham também os defeitos ele suasvirtudes. Sua tenacidade podia degenerar em obstinação, seu poder deresistência em barreira à inovação e seu respeito em relação a si mesmosem desconfiança aO estrangeiro e desprezo ao inferior".'

Os colonos holandeses professavam um calvinismo r;ldical e cOl}2ti-ruíam, na Europa, minorias religiosas em meio a católicos ououtros. Pos-teriorrnente, a eles se juntaram no sul da África os Huguenotes, ca-i;ini~!.!lsfranceses perseguidos em sua terra nata). Ao virem para ~ África, rom-piam com as metrópoles enâo se consideravam colonos delas. No Ca18lutavam contra o domínio da Companhia e contra a "barbãri<.~:.neg[,'l".Tornaram-se aJiikaaners e criaram a língua C!fi·ik{/(/Il.r, derivada do idiomaholandês. Assim, ao longo de um século e meio, o entreposto do Cabofoi se tornando uma colônia de povoament,?, <'1ue se expandia na busca de

.\ C. W. de Kiernct. History of South Africa, social and ccollomic, apud. LEFORT, Renê . .1'".

dáji'lm, bi.r/ólúl de tina CI'lsi.r.México: Sigla :'\...\:1, 1977. [Tradução do autor].

6'2

l\~ l/terra para o gado. Os pastores Khoi foram exterminados ou escravizados,-»Jí enquanto os caçadores Sans foram expulsos para o deserto ao norte.r Cada vez mais preocupada, a Companhia proibiu a imigração, e os

colonos buscavam mão-de-obra, forçando os Khoisans a trabalharem paraeles. Os casamentos mistos eram rigorosamente proibidos, mas a mcsti-çage!11 eraintensa, gerandoo gl'Upod,osgnklltls (mestiços, ou colwmiJ).A.?sim, a raçavai se tornando um critério de posição social em relação àpyopúçªa.d.S:.5:'lqs meios de produção (terras e rebanhos). Segundo Lcfort,"(l.e_~ct'.lyidã..Q,Jr!lJ:º da pobreza da colônia, vira sua causa". Em fins do---_ ..._, ....._~._----._---••..... - .... . . '-.século XVIII, a colônia evoluiu sem uma ordem, devido ao declínio daI-Iolan4~s: àJ~~.l?:cia da Companhia Holandesa das Índias Orientais, umquadro que seria alterado pelas rivalidades européias.

Durante a Revolução Francesa, os ingleses ocuparam a estt;?~ég~caColônia do Cabo (1795), para evitar que caísse em mãos inimigas,0D.~~.ª-n-do-a, formalmente, em 1806. A Inglaterra, livre-cambista, não desejavapromover uma colonização com ocupação direta e, sim, formar uma bur-guesia local, concedendo-lhe autonomia quando os vínculos econômicosC~ll1 a metrópole estivessem suficientemente sólidos. Para evitar guerrasdispcndiosas, os ingleses desejavam estabelecer alianças com os chefesnativos e, ao mesmo tempo, que população local se integrasse na eco-nomia colonial. Para tanto, introduziram um imposto em dinheiro sobre' '.cada choça e converteram as cbefenes negras' em administrações econó- .micas monetarizadas,

.l\ burguesia comercial do Cabo enriqueceu e desejava uma produ-ção voltada para a exportação, sobretudo com o vinho, a lã e o açúcar,cultivado, posteriormente, no Natal. Os bocrs, que viviam de uma agro- (),r \P~~~~Ü!lJltriLs.íl~a,.eram preiudicael~s 'pelo novo sistema e necessitavam (

\ .mais terras e mão-de-obra compulsória para fazer frente ao livrc-cambis- . ,imo, pois sua produção não era competitiva. O governo, temendo perder"o controle sobre esse grupo, não permitiu que eles desarticulassem ascbo/Jer1es negras, pois elas também ajudavam a defender as fromeirasinde-.,,-

.; finidas da. colônia. Em 1828, os ingleses promulgaramurna lei de ig~la.!sia- -,d.eJacial, e, em 1833, proibiram a escravidão. Como reação, grande parte

.' dos boers iDjçiº1J_ºJ:.it':'1nd..r;T[\:Js:{183_6.:f~±,4), uma migração em carrot~sr~11'l!<?_a.oplanalto do nOJ:'c.ks~e,rlluíi:ü'se-ri1'dhante a dos pioneiros do oeste

., Forma de organização política intermediária entre a tribo e o Reino.

(,' .:-. /.:/:.. ,.)63

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americano. Os bocrs desejavam fugir da autoridade do governo inglês,buscando conquistar terras e derrotar os chefes ~argos, escrav.:izanAo apopulação negra. Tambémçravaram. combace.s _C.9n,1()s_;-:ul~~~.º~mosgru~pos, estabclecendo-se!1o..~~tal c. nO.5 r~1o!)~~.~ºE~!~~t1~~rg (Montanhasdo Dragão), em 1839. No entanto, essa última região foi ocupada pelosingleses, em 1843.·· ..-----

Nascia, assim, o nacionalismo iI!i1·kClaJler. Em 1842, eles criaram o. Estado Livre de Orange, e, em 1852, a República do Transvaal (depoisRepública Sul-Africana), no planalto do nordeste da atual África do SuLEsses Estados eram baseados numa legislação racista. Os ingleses, sempre

:no seu encalço, concluistaram Orange em 1854, seguindo uma evolução'indcsejada, que onerava os cofres públicos. Ocorreu, então, a descobertade jazidas em diamantes, em 1867 (mesmo ano da construção do Canalde Sucz), e de ouro em 1886, em território dominado pelos boers, Osingleses tentaram isolá-los, estabelecendo os Protetorados da Baslltolân-dia (atual Lesoto), em 1868, Bechuanalânclia (atual Botsuana), em lH85,e da Suaúlândia, em 1894, através dos quais mantinham a autoridade dossoberanos negros e impediam a anexação dessas regiôes e o domínio ele

~as populações pelos boers.Em 1877, os britânicos anexaram o Transvaal, mas os colonos se

revoltaram em 1880-1881, e os expulsaram. Entre 1883 e 1902, o lendárioPaul Kruger foi presidente do Transvaal e a invasão comandada pelo aven-tureiro inglês Cecil Rhodes, em 1895-1896, para derrubá-Io fracassa. Em1882, foram esrabclecidas, ao lado do Transvaal, as pequenas Repúblicasbocrs de Goshcn, Niew Republiek e Stellaland, que os ingleses ocuparamem seguida. 1\ mineração atraía uma impressionante vaga de imigrantes,que criaram a cidade de Joanesburgo, formando um capital minerador.Insatisfeitos, os ingleses desencadearam a guerra anglo-boer (1899-1902),na qual os colonos foram derrotados com grande dificuldade, obrigandoas tropas imperiais a empregar métodos cruéis, como os campos de con-centração. Essa realidade consolidava o nacionalismo boer.

Numa conjuntura em que a África estava sendo partilhada e a com-petição com outras potências crescendo, os ingleses não podiam dar-se aoluxo de permitir a permanência da rivalidade. Em 1910, foi estabelecidoo Dom.ínio da África doSul, baseado na "aliança do ouro com o milho",com autonomia dentro .9oJ:_l!l.Eéri9...EFi!.~.~Lco.Ele era formado pelas pro-víncias do Cabo e Natal (ingl~.s~s) c de Orange c Transvaaltboers), e con-

61\-

Prote, da I .BeChuana-~. .: Pedi Tsongalândia ;;,., Pretória· .. ''. t:1

(.~ . Ratsvaa ,,"

\-1.0' LWo .% ,-",,7'.?)' 'r~azi.r&i{~~~..'....' .... .. .'{g)- -,

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__ -e-, . .: -. :' Sotho :: P~H~r~na zburg" * tal'-, Cabo : ~,,®1(Coloo'ol) N

\ (Colonial) '\ .. MPo";ll~}i"" _.t:h...... _ '. I hemb,1'"''l T

....... .- _ _ ', , Xhosa\ ....\ -.\

Limite de território europeuCapital da colôniaCapital da RepúblicaAfricano ou potlrícn colonialColônia ou capital do RepúblicaBoers em 1800

~·%%/.;·d Grikvaland (!)Oc.;@Or.)-.. Grande Trek

.••• Diamante/':,. Ouro

® Goshen<V Ncw Republik® Stellaland

OceanoAtlântico *•

L'Jl:l!IlJI

QJilldc do_ÇilJLQ

Oceano tndico

o 100 200 KmI

o 100 200 milhas

África do Sul (século XIX)

sagrava Q princípio de SqgregaçàoJdepois de 1948, Jeparaf'ii.oJ_o'?:!JPCll'tlJejd).\O f\}atizJcLand Act, de 1913, concedia aos negros 7,3%. 9~s...r.~Eras (12,7~o~111 1_?3.6), os' q\l~is ~ç:Qfl.s.ti.nlí-ªl11.três quartos da população. O fluxo deescravos de Madagascar para a África Orient~tl,dê-fins' êiõ-seculo XVIII einício de século XIX, fora substituído ao longo desse último século pelaimigração indiana para as lavouras de cana de Natal e P.~Jo.estabelecimen-tQge um fluxo detrãbalhadores~'ft:{2'~~~~~'~'~pecialmente ~;-ç'ambK-~~;;~,pa,ü1.;~~õ1ioas 'doIl:;~~-;aaL EstaSéleêiam:se, assim, 0~fundãíneí1tôs étni-cos da Africa do Sulr;~ist~. --

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5. OS DIFERENTES SISTEfVL\S COLONiAlS:l)OMINAÇAo, EXPLORi\Ç,\O E MODERN1Zi\ç.\O

5.1 A conquista e a ocupação da África

Tendo o Congresso de Berlim estabelecido as regras para a partilhada África e reconhecendo a supremacia das potências européias, cabiarealizar ajustes das fronteiras litorâneas c a incorporação do interior docontinente. Diplomacia e armas modernas seriam utilizadas. A primeira,para as relações entre os europeus; as segundas, para as relações com osafricanos . .A dominação efetiva do continente gerou guerras de conquistatcrritorial e para a submissão dos africanos até as vésperas da Primeira

. Guerra Mundial. Os naturais do continente resistiam à perda de uma so-berania e às transformações econômicas, fiscais e políticas <'1ue,junto coma exploração predatória de recursos naturais e demográficos, impunhama transformação da Africa.

Os profetas imperiais visavam a explorar economicamente o conti-nente e a adaptá-lo à nova divisão internacional do trabalho como regiãoperiférica e subordinada. A riqueza produzida com o atendimento da de-manda de minerais, matérias-primas e gêneros tropicais da nova socieda-de fabril, monopolista e urbanizada devia ser acumulada na metrópolegarantir lucro, custo de produção além de reservas que possibilitassema liberdade de ação e produção das potências imperialistas. Para isso, eranecessário submeter territórios e populações, reorganizar a produção, osistema de propriedade e obrigar a população ao trabalho orientado pe-los novos objetivos e volumes de produtos. I:~ssc imenso pr<?~~(i~Ldeexpropriaçãoda economia, do tempo,. da cultura e das concliçõe.s-ºgY~(laoriginou rebeliões e resistências, principalmente nas sociedades semorga-

.Ulização estatal. A anulação da soberania e a subordinação das sociedades. organizadas sob formas estatais foram efetivadas através deguerras dec-º-!:l9...ui.s~a.A superioridade em armamentos e meios de locomoção pro-porcionada pela nova tecnologia foi a garantia da vitória na repressão àsresistências e nas guerras.

Ao passo que a violência física esimbólica marcaram as relaçõesde conquista, as diferenças entre as potências eram resolvidas entre osdiplomatas através de mapas incompletos e falhos. Resultou disso o es-tabelecimento de fronteiras em linhas retas que reuniam, em. umauqida-de administrativa, povos diferentes e até inimigos e dividiam co~é;'~~s

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~tnicQ;:lingiií~ticos com uma longa história de unidade. Somente quandoos projetos expansionistas se enfrentaram, por razões geopolíticas, ocaso do controle do alto Nilo, em Fachada, 1898 - houve a possibi-lidade de enfretamento entre as potências colonialistas, não mais porprojeções ele esferas de influência, mas pelo domínio territorial efetivoatravés da ação dos Estados, ao invés de concessionários com amplospoderes para assinar acordos e estabelecer esferas de interesse - aspectodo passado recente.

5.2 Os impérios e as formas de dominação

A domillllft/O ideo/~~icCl

\,1"

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Já durante a conquista foram sendo implantados os sistemas de do-minação colonial que tinham como característica básica a transferênciada soberania para a metrópole e seus funcionários. Os africanos eramtransformados em objeto da administração e sujeitos a leis, regulamentose normas subordinadoras. Surgia aí a característica política básica do im-perialismo colonial: o uso de meios de domínio e controle formais c dire-tos exercidos pela e em nome da metrópole. r\ justificativa que legitimavaesse processo era fornecida por um conjunto de ideologias imperialistasclue PLed.iç<ly:'-\ma superioridade ~ o direito de dominação dos europeus~a s'=!J~çÜQJ::i!:!adçea naturalidade da subordinação e da exploração dosaft)çan~·

;\.s ideologias colonialistas podiam assumir a forma de doutrinasfilantrópicas, pragmático-utilitaristas, racistas ou social-darwinistas. As.filantrÓí)i~as justificavam a dominação como uma necessidade pa·~; pro-mover a çiyj.lj~::l.ç}j:9,eºus:ar celiminar os "costumes bárbaros" que carac-terizavam as sociedades africanas. As pragrnatico-utilitaristas explicavamessa dominação pelos benefícios (jue ela trazia para as economias metro-P9litao.as Ç..ngra..!l.s. populaçôes s'tiç.it~s, além de pela necessidade de acessoa mercados, matérias-primas e trabalho sempre esquivo, mas fundamentalpara a sobrevivência e expansão da sociedade industrial-capitalista. Osracistas defendiam a existência de diferenças naturais e hierarquias en-tre as capacidades das raças e que, portanto, era conseqüência lógica asraças superiores dominarem e se beneficiarem da exploração das raçasinferiores. Entre as racistas.jis doutrinas do "destino manifesto. e d_o.J~r-dodo homem branco'tincorporavam um princípio de revelaçãodivinae

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Page 7: VISENTINI  BREVE HISTÓRIA DA ÁFRICA parte I

ge dever de conquista e de dominação como destino pré-deterJI1j~~'l51~~irrecorrível. Os social-darwinistas transpunham para as relações huma-nas e sociais os princípios da lutapela sobrevivência das~§pésjç2~.j..lmavisão .da. dominação dos mais fracos pelos mais fortes como .resultadodas relaçõesna natureza de na sociedade. Essa visão que se reivindicavacientífica e positiva não deixava outra solução que não a de seguir o cursoda natureza e eliminar as sociedades mais fracas, minar e tirar benefíciosdas populações derrotadas na luta pela natureza, o', .' 0'0 ~'--'-"'-"

1\s ideologias podiam ser de cunho materialista ou idealista e no dis-curso "teórico" emergiam de forma pura, mas, na realidade e na prática,combinavam diferentes aspectos e tinham uma base que era material. Ofundamento dessas idéias era constituído pelapercepção da~lJ12eriori-dade tecnológica e do desenvolvimento que a causava e dele tirava pro-veito. Como esse desenvolvimento era fruto do capitalismo, que, no seuconjunto econômico, político e cultural, atingia a maturidade na Europa,ge_Q1.lZiacse _de forma etno e eurocêntrica a causa disto e os .direitosdaírecorrentes.

.r\ característica fundamental dos sistemas de dominação era aapropriação da soberania.dos Estados, ou das sociedades africanas, porparte dos colonialistas, e a su_bQrdinação do território às autoridadesmetropolitanas e seus representantes. A partir das normas definidaspelo Congresso de Berlim e do processo de expansão européia, foramdesenvolvidas diferentes formas de dominação que correspondiam aosmecanismos de aquisição territorial, às tradições políticas metropolita-nas e aos objetivos específicos de cada conquista. Desse complexo decondicionantes, e num processo de experimentação, terminaram por serinstituídos os dois modelos cLís_sicº§. de controle e de exploEaSão -Slaspopulações autci"ctones.

1\ teoria terminou por caracterizar a dominação colonial em duasformas ideais e diferentes que na prática ao nível local interpenetra-vam-se - ~~1i?5ão,.9ir~~~_.eado~ninação indi):ç.t.il· Tais formas defi-niam muito mais os mecanismos de cstruturação imperial e de gover-no provincial do que as relações locais com a população subordinada,Originalmente, foram tentadas experiências privatistas - a exceção doImpério francês. Nessa experiência, a soberania sobre o território eratransferida a empresas (as cbattered compai!), companhias de carta oualvará) que assumiam os direitos e os deveres da dominação e eram

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\; resguardadas pela diplomacia e poder militar metropolitanos. As con-})tradições dos interesses, o objetivo de lucro e a fragilidade dos recur-{sos acabaram por levar à substituição desses pelo poder do Estado(-metropolitano.

Couerno direto) indireto e protetorados

Quando o Estado metropolitano organiza o seu império sob a for-'ma de governo direto não institui organismos intermediários na provín-cia. O representante da autoridade imperial governa com plenos poderesexecutivos e legislativos e deve, no caso francês, subordinar-se às deter-minações emanadas do Parlamento de Paris. Os representantes locais ~ãocoP~tit.IJi.dü.s..oP-QLf~l~lcionários coloniais e as relações com a populaçãosão cstabclccidas atra\Tés de chefes nativos (substituídos conforme osil~t~~~s'ses°dZ:'-~~t;-biTi;,;oção)~;;-;;-sfl)Ún'âCiosem funcionário. Todos os ad-!l1it2i0traciru:cs_12Q~JILPQ_dçreS9iscrici~'á;:io~~-;\C;:)IOr;ú:; ou protetora-do não possui organismos intern~ediin(;~"clc legislação ou de aconselha- I

mento. A administração organizada em forma de árvore é hierarquizada, I

e os representantes metropolitanos cumprem funções administrativas,)policiais e judiciárias,\

No caso do governo indireto, a autoridade colonial possui pode- \rcs dominantes, mas são desenvolvidos na província do império orga-nismos intermediários para aconselhar, e posteriormente, legisla~. Taisccíi1s'elhos envolviam, ao longo do período, uma série de organismosdesignados. Quando havia eleições, sempre a maioria era constituídaE5~~Jun~i.~1:áEios ~~()lonos. Neste caso, a relação direta com a popu- \'lação dava-se 'l.!:ravés de chefes nativos subsidiados pelo império, que IP~oE.~'l..t:~,eciª111comalgUl1iu:!ir.çjtQs, tradicionais: No entanto, o dcsrcs- )00

peito às determinações da autoridade leva à sua substituição por ele-mentos mais dóceis.

Se a realidade concreta signinca a dominação e a exploração, doponto de vista formal existem duas formas de dominação: ',!.colônTa e op~~Jgr:1do. . O" o~ "o.~ - ,0.0 .~-

j\5 colônias eram constituídas por áreas conquistacl_'l.~.e~()_rga~1iza-das conforrneo clirÇclÇQ"cl.s~g}}CJ}}~~;a população era administrada peloimpério e a metrópole podia realizar estruturações e reestruturações ter-ritoriais ao seu bcl-prazcr, º-'~Cóçiig-º_do Indigenato" estabelecia a posi-ção das pessoas, seus deveres e as penalidades a que estavam submetidas

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o,

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caso dcscumprissern os regJJt4IDer).tQ§.,0 controle era feito por autorida-des da metrópole e por forças militares e policiais coloniais constituídaspor oficiais europeus c tropas nativas. Havia o cuidado de acantonar

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tropa§ .c1c:;.çtni~s diferentesàs qan:giªº QÇ1J12ª-9ilQ)J .•QççQ.ill>tituir r~ºp~s_com escravos.ou ~~.:~.~çJ;.ª~:Q.~~LQ9is:..Aexploração dessa situação foi umimportante instrumento para a conquis ta inicial e para a posterior manu-tenção da dominação.

Os protetorados foram constituídos através de acordos formais comEstados africanos pré-existentes. Causas eram múltiplas e iam desde aameaça da conquista, por parte dos europeus, até opções da política regio-nal (impedir a conquista ou a ameaça por parte de outra potência européia,consolidar ou estabilizar o poder local ou ainda expandir seu território)por parte dos africanos. Os protetorados apresentavam restrições às açõesarbitrárias das metrópoles e teoricamente mantinham suas estruturas polí-ticas, sociais e econômicas. A dominação realizava-se através de residentese conselheiros que atuavam nas instituições nativas e terminavam assumin-do a função de verdadeiros governantes. Outra característica dos acordosde protetorado era a traD.~~.~cia da sob.ç!!l:tli.an_fl"-xel~çõç~.ili.plomáticasp~r~oimpérioprotetor, a.s;.;~~Qç~~..das f~rçasmilitares próprias e a mo-nopolização das relações p~!a_::l1c.~r.~e.?le.Como oprôtetor;;a-o nào per-dia a totalidade de sua soberania, a população não era subordinada a umcódigo do ind!get1:~t?,.m.:~s.~_1!l0der!1izaçõe.s· determinadas ..p.~l~i~,gentcsimperiais através 9ÇlS sQ,~,t;~,~n..~~J?S~~.Essa aparente situação idílica era,no entanto, subordinada à realidade da dominação: a tentativa de romperos acordos podia levar à conquista militar e à transformação em colônia

:ou a substituição das autoridades locais por elementos dóceis e dispostos:a atender as exigências dos protetores, A permanência no status de pro-itetorado dependia da permanente subordinação e adequação da área aosIdesígnios do domínio metropolitano. Os ingleses caracterizavam o prote-

/ torado como uma situação de "governo dual" e aplicaram-no na maioria( . _ .._-leias áreas de seu império africano.

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Na realidade, fosse colônia ou protetorado, o elemento fundamentalda dominação era a expropriaçãoda __§9_~~!fl!lia e a a9mil1istl:a.Ç.ào da 1:2.0-pulação. .A subordinação da população e do território a uma autoridadedireta ou indireta emanava da metrópole com o objetivo de implantar aeconomia de mercado, a propriedade privada e de explorar os rec~r~~s da_;~g;i~'~tn'benefício dos senhC;;~s~êrolmp'êrío.··· ."-

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70

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I3RITÁNJCOSSern LeOI

CosIa do Ouro

Ilhas e enclevcs

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* Espanhóis

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Os impérios coloniais (1914)

71

Page 9: VISENTINI  BREVE HISTÓRIA DA ÁFRICA parte I

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5.3 O processo elemodernização da exploração

o COJl!úco tia terra e os impostos

j\ conquista e a dominação da .África levaram à sua moderniza-ção. Essa foi seletiva em conseqüência das necessidades da divisão detrabalho e da in tegração subordinada da economia africana à economiametropolitana. Como a fU:~ç'ãôcconômica das colônias era, segundoos teóricos coloniais, levarembenefícios às !1).t:tr.9l?0)ese sera ..utofinan-ciadas, era necessário prepará-Ias para cumprir tais funçôes..A primeiramudança era a assimilação e a intcgraçào dos territórios à economiacapitalista industrial. Para tal, c~a.!!.e:.c:..e~~~ri()çti~_a.n!".9J)riedacle privadada terra e implantar o trabalho assalariado. Dessa forma, os territóriose suas populações seriam transformados em fornçccdores.de.icsumosagrícolas c minerais e em consumidores de produtos manufaturados. i\Africa se transformava em uma área de produção de ·~-àloresde t~·;~a,abandonando o predomínio da produção de valores de uso para con-sumo próprio.

Foram utilizados vários processos para modernização da nova áreados impérios coloniais. A primeira prática moderuizadora foi a expro-priação das terras consideradas vagas - áreas em pousio, florestas, regiõesabandonadas por suas populações, áreas "públicas" de Estados derrota-dos, terras comunitárias, que passaram à propriedade do Estado metro-politano. Tais terras foram concedidas a empresas metropolitanas a fimde implantar plantations - imensas áreas voltadas à monocultura de expor-tação - para a exploração madeireira ou mineral ou para colonos tlue setransformaram em latifundiários. Os naturais da terra eramconfinadosem reservas de área restrita e em terras de baixa qualidade ou, se perma-neciam nas terras redistribuídas, deviam prestar serviços, pagar rendas esubmeter-se a cultivos obrigatórios. -

Além de perder as terras, os africanos foram submetidos a impostosmonctáric:s para financiar o custo da colônia e para obrigá-Ias. abuscartra~10.9_~..!!.~~0riadoe ou dedicarem-se a produzir o que era der12a~~!adopelos mercados metropolitanos. Com variações locais, os impostos devi-

• dos erã~;:;~·cãptação·i~:Cjipalpara adultos do sexo masculino e o imposto: sobre a residência ("palho.t~"), que aumentava conforme o número de; peças que a casa possuía. Como os africanos eram submetidos à legislação'- administrativa ~.ir:!l.9i!~plên~iapodia acarretar trabalhos forçados.

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Devemos reconhecer clue os tributos foram a evolução de meca-nismos predatórios utilizados nos primeiros tempos (principalmente noCongo) e que obrigavam a produção e a entrega gratuita dos insumos(látex, cera, marfim e alimentos) em volumes arbitrários e sob ameaçade brutais torturas ou de execução dos (lue não produziam o exigido. A I

conseqüência do trabalho para o pagarnenro dos tributos era a redução ; ,do tempo para a produção de subsistência. Junto com a escassez de terras, i"o pagamento de tributos tornava os africanos consumidores de artigos)-'cé5fj"j~:rcJ~ris.

Paralelamente aos dois mecanismos anteriormente apresentados, ou-tras formas, unificadas sob o nome de trabalho obrigatório, eram utilizadaspara explorar a mão-de-obra africana) que podia ser convocada para traba-lhar de serviços do interesse da colônia. Nessa situação, enquadravam-se osserviços de construção de portos, de estradas (ferrovias ou rodovias) ou dehabitação para os funcionários. O transporte de equipamentos e produtos. ,coloniais também podia exigir trabalho obrigatório, I\OS africanos que não' ;viam benefício em plantar o que era demandado pela economia metropoli-tana, podia ser cxigida outra forma de trabalho, como o cultivo obrigatóriode certas plantações em terras públicas e em benefício da economia mctro-politana. i\ inadimplência tributária ou a resistência ao trabalho obrigatóriolevavam a penalidades sob a forma de trabalho obrigatório. Finalmente, asautoridades podiam repartir administrativamente a população para traba-lhar para os grandes latifundiários ou concessionários. Em várias regiões,tornou-se habitual a migração forçada ou voluntária de "trabalhadores con-tratados" para outras áreas da África, ou aré mais distantes, para pagar osimpostos, fugir das brutais condições de trabalho e do empobrecimento ou,simplesmente, para conseguir recursos para sobreviver.

A debilitação da saúde da população, pela redução da alimentação epelo empobrecimento dietético, foi elemento responsável pela difusão dedoenças que anteriormente eram tcrritorialmente restritas (como a doen-ça do sono e a malária) e que terminavam assumindo caráter epidêmico ...

A produção e osprodu/os

() continente foi explorado, e suas riquezas pilhadas através deformas variadas que iam da primitiva pilb.flgç.!:lldos recursos disponíveisaté a mineração .moderna passando pelas plantations e pela economia~_:'tráfico". A forma mais simples de exploração era a pilhagem que,

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como () próprio nome designa, significava atividades predatórias da na-tureza como a coleta de látex, de cera, a extração de madeira e a caçaindiscriminada de elefantes. Como era uma atividade altamente desrru-tiva, rapidamente esgotaram-se as reservas e a população das áreas ondeacontecia,

A pla!liatirm era uma atividade realizada por empresas ou colonosque recebiam imensas áreas territoriais a fim de produzir gêneros ali-mentícios e matérias-primas necessárias às populações e às indústriasmetropolitanas. Tais empreendimentos englobavam a produção agrí-cola, a elaboração primária, () tr8nsporte e a comercialização mOl1opo-lista de seus produtos. Eram beneficiadas com subsídios, juros baixos,mercados garantidos c reservados, além de preços administradçsfa-voráveis aos seus rendimentos e com fretes abaixo do custo do trans-porte. Esses empreendimentos eram beneficiados pela mão-de-obrabarata oriunda do trabalho obrigatório e dos camponeses em buscade salário para pagar os impostos monetários impostos pela adminis-tração colonial.

Outra atividade que beneficiava a economia metropolitana e erafonte de exploração dos africanos foi o tráfico. Essa era uma atividadeatravés da qual os frutos da produção autônoma dos camponeses eratrocada por produtos europeus através de agentes locais, estrangeiros ounativos, das empresas mercantes metropolitanas. Tais produtos eram reu-nidos em armazéns distribuídos ao longo das rotas e enviados aos portospara exportação à metrópole sob a forma original ou após sofrerem umbcncficiarnento primário. O preço de compra era sempre baixo e o preçodos produtos industriais ofertados era superior ao do mercado. As redesde tráfico envolviam imensos territórios e uma variedade de produtosque podiam ser fruto dos camponeses autônomos. Muitas vezes, esses

. produtos concorriam com os das plantations, demonstrando a capacidade, iniciativa e de adaptação dos africanos. A cera, o algodão, a cola, o amen-

doim, o óleo de palma, o sisal e alguns frutos da caça, como as peles eo marfim, ou do garimpo de ouro e de pedras preciosas constituíam oproduto de tal comércio.

Durante o período colonial, a principal atividade foi a exploração, mineral por grandes empresas que contavam com toda a proteção me-L tropolitana .. Além de receberem a concessão de jazidas contavam com

a criação de r~~~s ferroviáriasatéosporros ..çl~...~XQQ~:t.~s:~o,Foram essas

atividades e a estrutura de transportes C]ue receberam investimentos ma-ciços, aponaram tccnologias e equipamentos modernos para a economiacolonial. A mão-ele-obra era dividida em um setor restrito especializadoe bem remunerado, constituído por europeus, e um amplo setor sem es-.pecialização e com baixa remuneração, constituído por africanos. Esses;eram atraídos pela vantagem comparativa dos salários em relação aos das!p/(.{//!a!ioll., ou ao valor pago pelos produtos no "tráfico". A construção das; \vias férreas para atender às necessidades das mineradoras acabava por in- '\cluir e beneficiar territórios e populações clueas m.argcavam na moderna)economia capitalist~.

Construçào de irfra-estnauras, edNcafllo (! saúde

A exploração da África, que foi iniciada através das bacias dosrios, avançou pelo interior e, rapidamente, passou a exigir a constru-ção de infra-estruturas mais complexas. Era necessário construir fer-rovias, rodovias e portos para () crescente escoamento dos produtosexportados. Esses complexos integrados ligavam o interior aos melho-res litorais para atracar os grandes cargueiros a vapor, criando novasrotas e integrando economicamente populações até então dispersas.Nos entroncamentos, nas estações e nos porros surgiam novas cidadesbeneficiando os proprietários do solo. O crescimento das atividades detransporte e de manutenção criou um setor moderno, onde o trabalhoassalariado e com conhecimentos técnicos progressivamente se expan-dia para os africanos. O crescimento do comércio varejista, a serviçodas concessionárias ou por conta própria permitia o surgimento deuma nova classe social - a burguesia nativa - que se aventurava emnovas atividades.

A maior complexidade da economia colonial passou progres-sivamente a necessitar de um grande número de trabalhadores es-pecializados e de funcionários nativos e especializados, o que levouà implantação de sistemas edueativos de formação geral e de traba-lhadores. Embora atingissem um número restrito de jovens, essessistemas formaram as elites que constituiriam os movimentos nacio-nalistas e difundiram as idéias modernas de auto-governo e de sobe-rania oriundas das metrópoles . .As ttopas coloniais foram obrigadasa formar, entre os africanos, o seu setor de comando básico e seus \soldados, qualificando-os nas modernas tecnologias militares. Educa-)

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dores, operários, técnicos e militares de um novo tipo se constituíramjunto aos religiosos nativos - todos eles educados para a sociedademoderna - e formavam uma elite de novo tipo onde a capacitação eo mérito contavam.

O deslocamento de população, o trabalho extenuante para a maioriae a subnutrição acabaram por difundir doenças africanas ou importadasque assumiam o caráter de epidemias mortais ou de males crônicos, redu-zindo a capacidade de trabalho e a produtividade. Essa situação colocavaem risco a sobrevivência dos impérios e a função das colônias de fornecerutilidades as metrópoles servir de mercados para a exportação de artigosindustriais, fornecer soldados aos seus exércitos e emprego rentável aoseu excesso de capitais. Nesse quadro, a preservação da saúde e o sanea-mento passaram a ser de importância vital. Foram construídas redes deatendimento médico que, embora precárias, prestaram serviços à saúdedos africanos. As doenças tropicaispassaram a ser pesquisadas, e o Esta-do assumiu, diretamente ou através de missionários, os cuidados com asaúde geral, através de dispensários, vacinações e a formação de auxiliaresc de enfermeiros.

o q1fe foi ti 11/odernz''?f1{clO

A modernização foi, em linhas gerais, a incorporação do continen-te africano e de sua população ~ªi.yi::;ão internacional do trabalho espe-

:cializada do capit~~~:!l~~}!1_çLl!~Sl'ial,com o corolário da transformação daprodução de 'Z~lorcs clc.._f!ÇlSJl, a implantação do trabalho disciplinado es.l:lb.?rcl~n~9.º.'paraproduzir mercadorias e a pr9Iet8J!za.çãQde um.ç;;u.R~.C,;sinato autêJn.QrD.9.Outro aspecto foi a i.ntrod~lSª2.ª,~.!~E.riedade privada,normalmente em benefício dos europeus ou de suas empresa:-·····_-

A construção de infra-cstrutura, a educação e o desenvolvimento dasaúde foram mais conseqüências das necessidades de exploração do queobjetivos humanitários e primários dos colonizadores. O aspecto maismarcante da modernização foi negativo, com a implantação de mono-culturas e de atividades mineradoras dependentes de mercados externose dos ciclos econômicos determinados pela concorrência internacional epelas crises econômicas.

76

1":1'

I'.lJ\r1Pl';RlOS EUROPEUS NA AI'RICA:

INÍCIO DO StCULO )L'X

Britânico: 9 milhões km2 30 vezes maior que a metrópoleAproximadamente 50 milhões hab.

5,5 hab. km2

Francês: 9 milhões km2 17 vezes maior (lue a metrópoleAproximndamcntc 40 milhões hab.

4,4 hab. km2

Alemão: quase 3 milhões km2 5 vezes maior que a metrópole10-15 milhões hab,

3-5 hab. km2

It-aliano: 1,6 milhão kl112 5,3 vezes maior lJUC a metrópole1,3 milhão hab.

0,81 hab. kl112

Belga: 2,3 milhões kl112 100 vezes maior l]lle a metrópole20 milhões hab.

8,7 hab, km2

Português: 2,3l11ilhôes km2 2,5 vezes maior yue a metrópole8-9 milhões hab.

3,5 - 4,1 hab. kl112

I·(spanhol: 400 mil km2 Aproximadamente l rnilhão hab.2,5 hab, km2

,,.•

ic

5.4 A evolução da África do Sul no século XX5

Na formulação de seus intelectuais e na exploração dos políticos, ahistória do Apartheid tem início ROUCO antes de 1948. No entanto, a da se-g~~ção antecede essa data em ;;;t-;-;:-;~ão sãop--;ucos os analistas q~ielocalizam suas raízes n(J·seculõX1X'~Ã ideologia da superioridade bran-ca e da discriminação ra~~àrera lJiDã'exigência do sistema de exploraçãoagrár.0_~qll~ sed~cliS:Eglll,9§~A:,q/f!1.l!;r,pois praticavam u~na agric~ltura ')atrasada e pouco lucrativa em comparação com a cultura extensiva que aburguesia inglesa desenvolvia nas províncias do Cabo e Natal. O pragma-'

S Sub-capítulo redigido por i\nalúcia Danilevicz Pereira

77

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tismo mercantil dos britânicos considerava a escravidão como um obstá-culo à formação de um mercado consumidor, mas não deixava de estabe-lecer barreiras rígidas para a ascensão social e econômica dos negros.

Exemplos da postura inglesa são o Q~e~C? .Ç..:'11edem,de 1809, quetornou obrigatório um con trato de trabalho que previa severas puniçõespara o trabalhador que resolvesse mudar de emprego, e o lvIa.rter anil ele/'-uan! Ad, dé:18~~)o qual, junto com decretos posteriores, qualificava comocrime a' rescisão do contrato de trabalho. Por volta de 1850, os inglesescomeçaram. a contratar negros de Moçambique, Lesoto e Botsuana, as-sim como indianos e chineses (esses trabalhadores não podiam levar suasfamílias, recebiam apenas uma parte do salário e eram obrigados a voltara suas regiôes se perdessem o emprego). A discriminação racial e os con-tratos de trabalho nas províncias dominadas pela Inglaterra tinham comoobjetivo (Qrçílra.rJ;;d\tç.ª9.dÇ.L.?ahh:io ..º-º~.JraQ~lb;l00fSi.~Eanc_(),?, mediantea utilização de mão-de-obra negra, quase gratuita.

., '. . '.' " ....~.-Ao iniciar a exploração das minas de ouro e diamantes, os grandes

capitalistas europeus tiveram que recorrer aOS operários brancos com al-guma especialização e preparo intelectual. Essas pessoas, na maioria cx-fazendeiros boers que haviam perdido tO,ll() o seu c_a.pit;tLlB-,gJ,!çrr~ulí;1899-1902, e também europeus atraídos pela corrida do ouro, faziam exi-gências ereivindicaçães trabalhistas, pois conheciam o funcionamento docapitalismo industrial britânico. Os ingleses manipularam habilmente essasituação, prometendo vantagens aos trabalhadores brancos desde que setornassem cúmplices na exploração de mão-de-obra negra. r\ (()!o.!ll)?Clf(Barreira de Cor), de 1898, foi plenamente instaurada no setor mineiro etambém nos núcleos urbinos de maioria britânica. -- ..---.-.-.-''--

..... / '., .." ..~Com a aprovação da Cº-ºstit:uiçã.o.da. Uniào Sul-Africana (federação

, das províncias do C~~~~)_~!.l~1.L"D!Jl.!1g.e"ç_l}at1svaill), a população negra.Ioi privada 9.9._ direito a<?.Y9tQ..çj.~ol?ri~.cJ~çk.çl.!::._tt::r._r.~.0..par,t;ir ,li~ 191Q,c quando. 9. país tornou-se independente da Coroa Britânica, jur1tatPe.Qte'com a Austrália e o Cana~'l, várias leis segregacionistas foram implgnen-tadas, Entre elª.~>.oJ{qtjve I.,a!?oJf1:Ac/~,dcJ9U, estendeu aos trabalhadoresurbanos o sistema de submissão vigente nas fazendas, dividindo a Africado Sul em duas partes - 7% do território nacional foram deixados aosnegros, c!ue representavamjô'zc da população (bantustôes), e 93iYadas

,.melhores terras foram entregues aos brancos que corresp~ndiam. a '10%<Ia população. ' '

Nas reservas negras, predominava a agricultura de subsistência c,nas demais áreas, <1 exploração capitalista intensiva da terra. Nessa lógica,o segundo setor passou a viver à custa do primeiro, que era visto comouma reserva permanente de mão-ele-obra. Em 1923, o Native Urh!1.1.Adlimitou drasticamente a possibilidade dos negros instalarem-se em clci',{-dcs consideradas redutos dos brancos. Trabalhadores negros passarama ser considerados assalariados, e seus movimentos ficaram sujeitos aocontrole total através de medidas policiais e proibição de casamentos, en-tre outros impedimentos. Ainda, o f\!âtlliC A/jàit:r .Aa coroou o complexoestabelecimento de uma legislação scgregacionista, regulando o sistemade exploração do trabalho negro.

Até a Primeira Guerra Mundial, os interesses econômicos dos bran-cos eram baseados l~a.complementação da mineração com a agriculru-r3...)~l1.~.i\~a. Com a rccessão do mundo capitalista no pós-guerra, houveuma significativa queda nas taxas de lucratividadc das minas, obrigando asgrandes companhias a contratarem trabalhadores negros. Esse fato aca-bou por provocar o embate racial entre os trabalhadores assalariados. Agcç.\~c..dcRand, em J.~22,Joi duramentereprimida pelo governo. A maio-ria dos grevistas era formada por brancos pobres, descendentes dos boersque haviam perdido suas terras e <-lue encontravam dificuldades de acessoà nascente estrutura industrial do país, tornando-se, assim, alvo fácildal~agand:1..!1.!.1Si9nªlista de e:-:.ttct!l:~=iliE~g.

Esses nacionalistas, v..Q!lçedu.r.es.nas eleições de 1.924, juntamenteC0111seus aliados do Partido Trabalhista, representantes da burguesia na-cional urbana, promoveram o rompimento com a política liberal implc-mcnrada pelos defensores dos grandes monopólios mineiros e impuserammedidas protecionistas. O objetivo era o de tentar neutralizar a evasão doslucros das companhias mineiras sediadas no exterior e utilizar os recursos ,.d~agr:i~ultura. brancapara iniciar um processo de industrialização interna _ca.Pª-2..d~' satisfazer aos interesses dos trabalhadores de origem européia. .

O surgimento de um capitalismo de Estado, promovido pelos na-cionalistas, permitiu ao país vm rápido,çJç.~ç.1n;~Q~o. Foram criadas .sid.~-1:1.1rgias,estradas de ferro e centrais elétricas em um momento classificadopor muitos como "milagre econômico". Entretanto, ao final da década·de 1920, uma nova crise foi anunciada com a queda do preço do ouro nomercado internacional, colocando em risco também a aliança entre na- . 1cionalistas e trabalhistas. A direita nacionalista, para sobreviver no poder, ,;

79 79

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abandonou a aliança com o Partido Trabalhista e apoiou-se no outrorarechaçado capital estrangeiro. Nessa direção, os q.fiikaaner.r continuavamcontrolando o poder e mantinham o sistema de segregação racial. j\ re-conciliação com a elite pró-britânica, embora permitisse a ampliação doslucros "estrangeiros", garantiu <1 organização interna em relação ao sis-tema segregacionista. Todavia, () novo surto industrial, que resultou no

. aumento do número de negros empregados no setor, reabriu o debate\ entre nacionalistas e pró-britânicos,i Ao discurso nacionalista aji-ikilal7er somaram-se elementos fascistasI manifestos, por exemplo, na s~ciedade secreta Afrikcltl1lcl' Bond (Irrnan-

~

ade Aji-ikâaner). A rcccssão no pós-Segunda Guerra Mundial repetiu ofenômeno, quando os brancos pobres, ameaçados pelo desemprego ele-varam seu racismo com o Jlo,-~CIII Ceuaar Kaflér, Koelie, KOlJluni.rIJItIJ (Cuidado001 os n,~(.QS-,_Ç~2nLQs...iu.d.iaJ.lQU_ÇQmo comunismo).

De qualquer forma, foi a partir de 1948 que, efetivamente, () .Apar-theid foi implantado. Era uma resposta à situação criada com o boom eco-

.'. nórnico do período da Segunda Guerra Mundial, que levara centenas de7. milhares de negros a estabelecer-se nas cidades, para suprir as demandas

de mão-de-obra. Com a redução do crescimento após 1945, os operáriosbrancos desejavam monopolizar os empregos e a elite optc,)u.I?(:.r.':_r~triba~..

-Iizar" os negrQU![J;?an9~:paí a lógica do .Apartbeid.----_._-~, , ...,.".-- ..-.._.-,,-.~. '-Com os nacionalistas novamente no poder de forma "indepen-

dente", a União Sul-Africana entrou em uma fase muito mais complexa,quando foram produzidas mudanças políticas, econômicas e sociais queforjaram um país, de certa forma, na "contramão da História". O que ca-racterizou o novo período foi a dissociação.cntrc poder político c .l2Qdereconômico; a população de origem inglesa manteve o poder econômico,

;!enquanto os qfiikaaner.r passaram a deter o poder politico. Assim, a ins-H titucionalização do Apartbeid tornou-se um dos pilares do novo surto de\i desenvolvimento.

A percepção do novo governo em relação à política externa do país,diante da sua posição geoestratégica e da extensão da Guerra Fria paracenários secundários, foi a de identificar-se como um "Baí~ europeuesta-belecido na ~\Jrica~',f, preciso levar em conta que a elite branca mantinhavínculos tradicionais com a Europa Ocidental e posteriormente com osEstados Unidos, Geograficamente, o país encontra-se na confluência derotas maritimas e possui, em seu subsolo, riquezas minerais importantes

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Os impérios coloniais (1925)

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pata o desenvolvimento econômico moderno que o Ocidente necessita eque faz da União um bastião do chamado "mundo livre".

1\ União Sul-Africana explorou essa circunstância com propósitosde ordem política, econômica e de segurança. No contexto domésti-co, os nacionalistas tinham como objetivo a conquista total do poder,com a consolidação da independência do país e com a substituição daanglonlia predominante por uma cultura que promovesse os valores afri-kaaners. No plano econômico, esforçaram-se em promover e introduziro capital c:frikaemer no coração da economia - o setor de tpineraçEo -ainda reduto do capital de origem inglesa e dos investidores externos.O Estado passou a ter expressiva participação na economia, permitindoa expansão da inclústria_~csl,.ll)stj~'::llçlLº-sk.iflli='Q~!~es nos setores si-derúrgico, químico, de minerais processados, energético, e, mais tarde,de armamentos. Esta industrialização por substituição de importaçõesrepresentava uma forma de contornaLose1])pargº_s._~.~.Ç..Q~-.intcma-

.. cionais que o país sofria.\ _.. _._,0_'_

6. NECR1TUDF':, Pi\N-AFRTCANTS1V[()F, DES[O] DN 1:;',\(,:1\0

6.1 A Negritude

A negritude é um movimento cultural e literário com fortes implica-ções ideológicas e políticas. Surgiu entre os descendentes de escravos dasAntilhas francesas, de onde atingiu os estudantes das colônias africanasem Paris, tendo como ponto central a recuperação da identidade e dahumanidade. Seu aspecto positivo está ligado à restauração da dignida-de do homem negro. Sua radicalidade é abstrata e anti-histórica desde omomento em que passa a defender não o desenvolvimento dos africanos,mas a necessidade da manutenção das estruturas e da cultura pré-moder-na da África Negra de forma intocada. Iniciou-se como uma busca pelasraizes e pela identidade e humanidade, na época de suas origens; depois,com o poeta Aimé Césaire, transformou-se num racismo às avessas a par-tir de Se2:1gl1or- o patriarcadajndependênciado.$enfgal.

Politicamente, o único ponto positivo na Africa foi o apoio militanteàs independências e à criação de uma entidade política ç:()l1tj11~~.tal.Marca-da por um profundo conservadorismo termina por ser um instrumento de

8'2

imobilização, de manutenção do .rlal1lsq/lo e de confirmação da teoria racis-.!~dascliferençasgenéticas, q~~ explicaria uma personalidade africana.

O movimento que expressa a crítica da aculturação pelas elites as-similadas africano-francófonas não contribuiu para o desenvolvimento

\ \continental. Apenas garantiu o direito dessas elites e o espaço e a posição~!que o colonialismo negava-lhes após a assimilação, assim, foi um instru-i mento fracassado de coesão nacional.

No continente americano e na Africa do Sul, onde os africanos e-seus descendentes foram colocados em uma posição de inferioridade"natural" e absoluta, é outro o contexto, e a Negritude torna-se um ins-trumento para a conquista da cidadania e a igualdade de direitos. Pode,110entanto, ser usada de forma contrária se os pressupostos da persona-lidade africana, definidos por Senghor como o predomínio do sensorial,clll sel1gmento, dos reflexos naturais, forem usados como instrumento doetnocentrismo dominante.

(~ preciso entender a Negritude como uma reação cultural ao escra-vismo e à dominação colonial- com suas perversões - e mantê-Ia nessenível, para ~vitar que a espccificidade africana seja reconhecida como re-sultado de uma determinação biológica, uma teoria cara aos racistas.

"I,

6.2 O Pan-Africanisrno

Assim como a Negritude, o Pan-africanismo nasceu fora da Afri-ca. Originado entre descendentes. de escravos das colônias inglesas. doCaribe e dos Estados Unidos, é um movimento político c social surgidona passagem para o século Xx. Inicialmente voltado para a promoçãosºciaL~...p~l~g.s:~_-ªos n~g!:Q~,Q.aracista-0mérica, voltou-se para a defesad~Lçjç,sçDlQiJi;;;(tç}iQ=~do pJ;ogrt:sso político-s().ci~ da África. Nunca, noentanto, foi homogêneo ou monolítico. O principal organizador foi osocjéJlog() "afro-arnericano" W E. B. Dubois que marcou, inicialmente,o movimento com característica-;~~~os()lTdariedade, união, promoçãosocial ecultural, que ao longodo rempoJoratn,sepolitizal1,do. ..

Dubois organizou os quatro primeiros congressos Pan-africanos :(1219, 1921,192} na Europa e 1927 no~nl}j\), qndea rcpresentaç:~oafriCílJ1Lfoi rninoritáfi.a .. Na década de .1230, o movimento não reali-zou c()ngressos, mas manteve sua militância na oposição à conquistadaEtiópia pelo fascismo italiano. Sob inspiração de Dubois, realizou-

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se o V Congresso Pan-africano,~r11JY1.S, (Manches ter, Grã-Brctanha),cqmsigpifiç.íttiva e destaçadapar ricipação de. deleg~cl9s_(tfri.çgn.qs. Essecongresso sinalizou a politização do m(:}\ril-r:~?t?.~.9cstacou de~aclosq!lçJQ.rCl!!1.irnp9!:J~ntes nadescoloni7~ç~() ..a.f!i.~~n.:aJ~kr.uf!1a~, d~~a!!c~,e Kenyata, do Quênia). Além da reativação do movimento, esse passouà reivindicação política da descolonização para o anti-imperialismo e oanti-colonialismo, definindo-se abertári1~nte socialista (I1.1as"1;·ãocomu-nista). Foram acordadas as necessidades deumpl:ograma de ação paraa independência e a criação de uma organização para atuar pela inde-pendência da A.frica colonial - considerada pró-condição para a futuraunificação continental.

Reconhecendo a existência de uma unidade cultural africana, o mo-vimento ras~ou a manifestar-se em todos os planos. No aspecto cultural,a promoção da identidade africana, que o aproxima da negritude francó-fona. No campo político, na organização de congressos, conferências euniões que culminaram com a criação da Organização de Unidade Afri-cana COUA) em_!~dd~~~!\J~~~~,.t:.tiópia, no ano g,ç,J 2(;) , e na militânciapela descolonização. No plano econômico, na procura de soluçôes paraos problemas comuns do continente c o progresso, que exigiam coo-peração para superar o atraso tccnológico e os interesses particLll~r~~!:!1s.No campo diplomátic():c; I'l;U1-africanismo atuou contra o cóléltÍ-iaÍi..s.mo,a.balcanização continental e () envolvimcnto na Guerra Fria. Socialmente,bÚS~(;~~-~'I~~'~)~~~~ç~;'d,~-;;1ulh;' a&·i~;;·~~--~··~·d·esenvol\'imênto de políticas;educacionais esanjtª1;jaS. 1\ partir do Congresso de Manchcstcr, o movi-mento não só mudou seu eixo geográfico e político, em direção à África,como também amadureceu um projeto global.

De rnarcantc influência na dcscolonizaçâo, o Pnn-africanismo so-freu, no entanto, problemas internos relacionados às diferentes correntesde seus componentes. Isso é expresso nas derrotas frente à Negritude -que excluiu o norte da África, considerado Árabe - e na necessidade deaceitar os conservadores na constituição da OU1\. Outro problema foi oconfronto que impediu uma política unitária em relação à velocidade emecanismos da descolonização e à unificação africana. Os interesses queemergiam com as independências passaram a pesar mais com a criação deum novo status qtlo. É manifesta essa situação pela esterilização da iniciati-va pela unidade lançada na I Conferência de Estados Africanos Indepen-dentes, realizada em 1958, por iniciativa de Nkrumah, em Gana.

94

...•.

Mesmo com os problemas e de liciências surgidos com a institucio- -nalização, o Pan-africanismo mantém seus objetivos originais: promoçãoc desenvolvimento dos africanos, luta contra o imperialismo (foi rnarcan-te sua atuação político-diplomática contra o colonialismo português e o.Apartbeid sul-africano), pelo desenvolvimento da consciência e da unidadeafricanas e pelo progresso social. De 1957 até meados da década de 1960(antes da criação da OUA), patrocinou e organizou congressos com vá-rios objetivos - políticos, diplomáticos, de promoção cultural e social -,além de impulsionar !.l_criaç.ª~)_.<i~.~~·g<:t~Lzaçªesrepresentativas - trabalha-dores.:..~~!::]'5?~!~s.~~_-=-q~(;~~1n~Ç.~.t~9iamos limites das fronteiras.

6.3 O processo da descolonização

A expansão colonial européia na Africa dividiu o continente entrequatro potências: _G1.A:Bretanl,a, França, Bélgica e Portugal. Essas potên-cias coloniais diferiam em níveisde desenvolvimento, riqueza eriecessi-dade.s. Tal situação determinou diferenças secundárias, porque as colôniaseram predominantemente de exploração c não de povoamento. Deter-minou também uma reorgani;,:ação da geografia política africana, voltadapara o mercado metropolitano, unindo e separando áreas e economias,sociedades c povos. Tal rcorientação geoeconômica manifestou-se pelacriação de novas "regiões" na África, regiões CjUC entravam em contradi-ção CO!1,a tradicional ordenação continental cxternalizando sua econo-mia e criando novas realidades sociais c políticas.

() domínio colonial clássico na Africa durou aproximadamente7..~an~;té-inpo suficiente para o amadurecimento de sua incorporaçãona economia mundial, das economias capitalistas monopolistas e para aemergência de um movimento ernancipacionista bastante problemático.Nesse período, os impérios coloniais submeteram ou cooptaram tanto ..~.~resistências tradicionais como as "modernizantes", ordenaram o conti-nente e mudaram seu perfil. O auge da dominação e rcordenação deu-seno períodoentre-guerras comrnarcada participação da crise econômicad~.~929 e a pos·terioí:-recessàÇl. .

Um dos maiores impérios coloniais - o francês - agrupou suas dife-rentes áreas em blocos CQm sede regional e unidade administrativa, embo-era p~:)Uçointegrados econôrnica.e politicamente, d~vid~ à ~c;t~;;rua ~s~.<:rvoltada pi\r~ a metrópole, à artificialidade política dos territórios coloniais

as

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e à incap acidade de criar uma nova identidade. Esses blocos regionais, queatendiam às necessidades adrllillistrativas e 'de controle e à exigüidade derecursos para as colônias de exploração, não suportqr8.n1)l§ çQlúr'âClícoese demandas da descolonização política. Foram desintegrados provocandoa "balcanização" do continente,. .

O império português, dada a dispersão de suas colônias, nào criouunidades do tipo acima, Cada colônia manteve-se diretamente subordina-da à metrópole. O Império belga, constituído pelo Congo e lJe:!as ex-co-lônias alemãs de Ruanda e Burundi, possuindo continuidade geográfica,era unificado. Já o pragmático Império britânico, com colônias dispersasna África Ocidental e agrupadas na Oriental, apresentava variados me-canismos de dominação. Essas variedades administrativas cios impérioscoloniais, a inserção das colônias na economia mundial e a existência ounão de colonos e interesses no local determinaram a variedade de mode-los de descolonização. Esses abarcaram da pura e simples retirada até aguerra de libertação.

i\ longo prazo, a descolonização não conseguiu alca!1.ç».L51JXa..o.s-formação social e o desenvolvimento autocentrado. Nesse sentido, elafoi apenas política e esteve sempre pressiol1acla pela Guerra Fria c pelanova forma assumida pelo Imperialismo, o neoc()loniªJis.E!;1o.;\ subordi-nação à economia mundial e a seus ciclos persistiu, sendoaêompanhae!apelas pressões elos órgãos internacionais e pelas ajudas - econômica,militar, ete.

1\0 final da Segunda Guerra Mundial, a situação crítica das metró-poles européias e sua necessidade de riquezas coloniais entrou em. contra-dições com osideais dos soci,aI-democratas que chcgaram ;l()r9çlç~_em1945. Isso levantou o problema elaevolução dos Impérios. Por outro lado,certos grupos empresariais já haviam alcançado um nível de deseElvolvi-mento que podia prescindir da subordinação direta à metrópole. 1\ solu-ção era apresentada através de um longo c quase secular processo evoluti-1'0 de emancipação. Frente a tal projeto, clarificaram-se vários elementosde oposição: a ascensão dos EUA e da URSS como potências rnWJcliais_eanticolonialistas, as reivindicações africanas de emancipação e os interes-ses econônlÍc()sqill'.9llergentes multinacionais norte-americanas - obsta-culizados pelas políticas dos impérios coloniais. Tais fatores são det.e..t:.nlÍ-

t.1!fll1re~.I1o~processos de descolonizaçào. Na África, onde os colonizadosr e suas reivindicações são pr-º~'lgon!gas preponderantes, deve-se agregar

o papel ~as decisões da Ç0lferê.nc~~_I2C\!l.ª~t.~gc das Guerras anticolo-niais da Asia como elementos-chave da dcscolonização.-----------_.,.,---------~..__ .,-- .. - - ..._,---- ._", -,-"'. -."- -_ ... ,.... ,,' ,

Embora o auge da descolonização da Africa tenha acontecido na1~~.~(:I~gç._L25Qp~ra.fLc!eJ96D, a reivindicação pacífica ouviolenta pela independência iniciou-se no imediato pÓS~Kllctta. Ela seaprofundou c radicalizou com as tentativas metropolitanas que buscaramcriar mecanismos de autonomizanação lenta e controlada. Isso favoreciaa~-fu;:-ç~'-intêr~~s ~rcaicas e a perrnanencia das colôni'as subordinadasà metrópole. Foi o caso dos pragmáticos se!/ gOlJCrJJ!?Jellt britânicos e daUnião Franc e5,9,bem como a da criação das áreas da Libra Esterlina e do12~1l.~0.No entanto, a dinâmica interna das colônias e a situação interna-cional atropelaram os projetos gradualistas.

96 87

6.4 A descolonização da África francesa

() Império francês da Africa Negra era constituído por duas unida-des: a Africa Ocidental Francesa c a Africa Equatorial Francesa. Da suadissolução, surgiu um grupo de países com níveis diferentes de desenvol-vimento e de incorporação à economia mundial, com projetos e proble-mas distintos. No processo ernancipatório, persistira uma tensão dialéticaentre as proposições metropolitanas, por um lado, e as aspirações dife-renciadas dos africanos, por outro. Ao final da Segunda Guerra Mundial,e por mais ele uma década, a França tenta, no quadro de sua política deassimilação e baseada na indivisibilidade da república, criar mecanismosque mantivessem o .rtattl.r qtto. Isso levou a uma diferenciação interna dasregiões pertencentes às unidades coloniais. Esse processo acompanhou acspccificação das economias e elas reivindicações particularistas - étnico-cu!turaÍs-é--é-cül1ojYl1cas- impossibilitando a construção de grandes Esta-dos nacíol1ais e de economias fortes e integradas.

.'o papel desempenhado pelas colônias francesas na África na Segun-da Guerra Mundial possibilita uma evolução mínima da situação colonial.No início de 1944, os administradores coloniais que aderiram aos aliados-----~~--,_.-.-- .....•.._... ----._ .._.-. -- , .. ,-,-. . ... '.--'-'-----"'"

reuniram-se 11<l._Confcl'ênciad~Brª~z.~yiUe, que planejou linhas gerais dereformas admiri:i~trativâs~Â-c'2;ri-stIt~içãofrancesa de 1946 instaurou o sis-t~~';-~"~leitor<llde d~pl~'cCTégi-;;--e-n1ãl;t~~;~-adireção. administrativa daséõ151~~~.s~I2-_~_~n,:~.c<?gt~()lce~ropeu. frustraram-se asperspectivas de in-te~ração e de autonomia. Na Africa, uma minoria de políticos, partidários

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das transformações .nas colônias.que haviam participado da_ÇQ!!~~l:lintee~-~a~;~- que resultou na criação ~:aYl}i_ào,Francesa, E::ESi~~~l1S_\J'1JJ.J1flpela autonomia lOC;IC'-----------------~_...--------

No mesmo mês da promulgação da constituição, c, de certa forma,nos marcos da União Francesa, reúne-se o Congresso de Barnako. Deleresulta a criação do ~P,\ (Unijio <iQliJ:m~D.s.-"ifrka.L1.Q0. É um partidoligado ao Partido Ç912!L~Ei~}ii:-~~.ês, mas legalista, que apóia a autono-mia interná nos marcos constitucionais. Tendo como lideres Houphouct-Boigny, da Costa do Marfim, e Sékou Touré, da Guiné, abrange, com suasseções, o conjunto do território colonial. Paralelamente, em 1948, SedarSenghor cria, no Senegal, o I3DS (B/oc De!l1ocrafiqtfe SCll~gCl/Cli.f)nacionalista.Dessas agrupaçõcs, surgem as tendências que marcarão o futuro das co-lônias francesas.

Em 1950,_;t_~ecçã() da Costa do Marfim cl9y'D_~"--ap'~º~_i!:T~l::-se_~logr\lpoÇfç IvíiúcrancÍ~~-Pariã-mento Fra;lcês e romp;-com o p'~,!,.Distin-guindo-se da linha guineana de S. Touré, colabora na criação da Loi-Cadrc(Lei Marco) de junho de 1956. Essa institui ~ africanização administrativa,a ampliação dos direitos eleitorais e norrnatiza a desccntralizaçào aJ,n.1Í~nistrativa. Seu desdobramento lógico seria a "1~:'_ç1~? colônias:j\ autonomização regional - caminho para a balcanização - é contestadapor Senghor (do Senegal), partidário da Federação. Abre, no entanto, ca-minho para as tendências centrífugas e para o nacionalismo tcrritorial nos

_agrupamentos de colônias.

No ano de 1957, o Congressq,dGJ)ª-kar reúne as lideranças africanas,; que, vitoriosas nas eleições determinadas pela Lei-Marco, mostram-se in-

I dcpendenristas. Essa unidade é rompida pelos diferentes posicionarncn--:,_tosrelativos à Federação e pelo fortalecimento dos partidos territoriais. ()

RDA, que começara a ser implodido por Boigny em 1950, recebe o golpede misericórdia com a real independência do Partido Democrático daGuiné de S. Toure. O protagonismo metropolitano, sua política visando amanter as colônias subordinadas e as contradições da França, levam pro-

---..gressivamente, e de forma rápida, as colônias para a independência.

0jo.c.ap.qçidaç\~ dQJQ2Q.éri~manter-se na, Indochina (il19.~n-dênó}çle,1.US.4~..e as dificuldades de conter o nacionalismo ~.~~de libertação da Argélia levam ao golpe de 1258, De Gaulle suº~'ytui aQuarta República, desmoralizada e em 'IrângãlT59.~. A constituição, do

: mesmo ano, que cria a Qui~l.~a~~J~,~'?,~ca, substitui a União Francesa por

ee

..,.

uma Comunidade Francesa. embora apresentada sob a forma fcdcralisra,propõc para a Africa colonial a manutençào da situação de subordina-ção à metrópole. A autonomia i11terna seria limitada pelo protagonismometropolitano. Pior ainda, a constituição transformava os territórios emEstados Comunitários. O resultado previsível seria a efetiva consolidaçãoda balcanização iniciada poucos anos ames. A. divisão entre as liderançasafricanas possibilitou que De Gaulle apostasse no tudo ou nada, propon-do um refercndu»). O voto negativo possibilitaria a imediata concessão daindependência. A dificuldade em estabelecer uma federação, por causa dodesenvolvimento dos nacionalismos territoriais e dos projetos políticose econômicos dos diferentes partidos africanos, significava (ll1e a rcçlJ2.ano referendo abriria caminho para a fragmentaçào da colônia. A inde-PcndG;~i;;11;';~'~_Úa~;era possibilitada pelo~ artigos :i8 '~.86 J;' cõnstituiç~?gaullisrad« 195._8.

No referendm», arenas a Guiné (dirigida por Sckou Tourc) vota mas-sivarncnre pelo não. Os outros 12 "Estados" coloniais votam pela comu-nidadc. () resultado foi a emancipação dessa colônia em outubro de 1958,que adere ao "socialismo africano", do qual será um dos impulsionadores.,\ adesão das outras colônias à Comunidade Francesa desgasta-se rapida-mente por causa do centralismo metropolitano e do exemplo da Guiné.Em 1259, reúne-se outra Conferência em Bamako. Nessa, o Senegal e oSudão Francês (Mali, Niger c Alto Volta) forma~ a Federação .Q9ht:1d,~c:. solis:i!:a a)n(kpendência para 1%O~Tal federação dura poucos meses,resultando na.constiruição do Sencgal.c.LhMa_lijndcr::>Ç.mknt~s. () Se-negal constitui em 1~2, juntamente com a Gâmbia, a Confederação daS~~g~J1.:.1~~~,cJ~letambém nà?vint,ía. . '-

Aberto o caminho para a independência e a balcanização, essas se-guem seus rumos. Em 1960, as quatro colônias restantes da Africa Oci-dental Francesa organizam uma aliança que alcança a soberania no mes-mo ano. () Daorné, o Niger, o Alto Volta e a Costa do Marfim tornam-serepúblicas independentes.

No mesmo ano de 1960, a África Equatorial Francesa divide-se empaíses independentes. Surgem as Repúblicas do Chade, Centro-Africana,do Congo (Brazzaville) e o Gabão, O Império francês na África não existemais. Os novos países surgidos da divisão administrativa colonial do pós-guerra são uma realidade. Também o é a pobreza, a fragmentação e o blo-queio da possibilidade de uma 1\frica Francófona integrada sob a forma

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federada ou unitária. Esse objetivo foi frustrado pela ação metropolitanae pelos diferentes níveis de desenvolvimento de cada região colonial. Es-ses níveis, a intensidade de integração na economia capitalista mundial e asobrevivência de cristalizadas formas sociais arcaicas geraram países quesó poderiam unificar-se sob fortes governos reformistas.

Madaga.scar, mais do que uma ilha do litoral africano colonizada pelosfranceses, é urna ilha-continente, ponto de cruzamento étnico-cultural e derelações econômicas entre a Africa c a Asia insular e com uma civilizaçãohíbrida fruto desse cruzamento. Essa imensa ilha no Oceano Índico pos-sui originalíssimas flora e fauna e é povoada por malaio-polinésios no lestee por bantos africanos no oeste. Os anglo-americanos haviam-na ocupadoem 1942 e, no ano seguinte, entregue aos Franceses Livres de De Gaulle.Ela recebeu o status de auto-governo em 1946, mas a França não reco-nheceu a oposição nacionalista, o Movimento Democrático da RenovaçãoMalgaxe (MDRM), que coordenou um levante geral em 1947.1\ repressãomassiva dos franceses causou 80 mil mortes, mas, em 1958, ela se tornoumembro da Comunidade Francesa. Em 1960, tornou-se independente soba presidência de Philibert Tsiranana, líder do Partido Social-Democrata,que manteve um regime parlamentarista.e neocolonial.

As antigas colônias alemãs tuteladas pela França eram territórios sob"mandato" da Sociedade das Nações e, posteriormente, da ONU, consti-tuídos pelo Togo e por parte dos Camarões. Como os organismos interna-cionais impunham características específicas, a independência desses nãose deu com a destruição do Império francês. O Togo torna-se independen-te em 1960, depois da autonomia alcançada em 1955; o Camarôcs alcançaa independência no mesmo ano. No ano seguinte, funde-se com a parteatribuída, como mandato, à Grã-Bretanha, constituindo uma unidade polí-tica tcrritorialmcntc demarcada pelo império alemão destruido em 1918.

A descolonizaçào com a balcanizaçâo tornou-se um empecilho parao desenvolvimento integrado. Como resultado disso, tanto a Negritudequanto o Pan-Africanismo, que seriam as bases da moderna África, ter-minaram por tornar-se discursos mobilizadores e objetivos a longo prazo.O trabalho imediato era construir o Estado, inseri-lo na política interna-cional e resolver os pesados déficits gerados pelo colonialismo. A tendên-cia para a unificação africana e para uma política internacional integradaficou subordinada às singularidades de cada país. Nesse quadro, a Françamanteve sua preponderância e a direção da região através da Área elo

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....,.

Franco, ela Francofonia e da ação de suas tropas no sustento de governosque perdem sua base nacional de sustentação,

6.5 A descolonização da África britânica

() Império colonial britânico na Africa apresentava-se divididos emgrupos: as dispersas colônias da África Ocidental, as colônias estratégi-cas da j\frica Oriental e as colônias da Africa Central. Embora tenhamsido incorporadas em momentos e por razões diferentes, basicamentepossuíam as mesmas estruturas do imperialismo britânico, fundadas naadministração indireta. Com exceção da Africa Ocidental, existiam fortesconcentrações de ricas minorias brancas, beneficiarias da expropriaçãodas terras nativas, e grupos maiores ele imigrantes asiáticos. Essas con-dições geraram as situações diferenciadas de emancipação política e osproblemas enfrentados pela descolonização.

/l ./ljiirll OádcJ/!i1! 1m/tinir'"

As fragmentadas colônias da Africa Ocidental foram as primeirasa alcançar a independência. Após a Segunda Guerra Mundial, frente aoq':'~S~i1U.C11tº_dQJ}ªçilll}Blismo eao fato de que inexistiarn colonos bran-cos, os britânicos implcrncntararn políticas de unificação - unitária oufederal - em cada colônia. Objctivavam uma longa e lenta transição aosistema de participaçàonaComunidade Britânica . .A crise econômica e asdi/Sl'çJlças internas de desenvolvimento aceleraram a concessão de inde-pendência antes que a situação avançasse para insurreições. Entre 1951(início da experiência de autogoverno autônomo) c 1965~ todas essas co-lônias alcançaram adcscolonização sob a forma republicana.

A CÇ22!~-ºuro alcançou a independência em 1957. 1\ primeira colô-nia ele exploração que obteve a soberania trocou o nome para Gana (antigoe poderoso império centro-africano anterior à conquista da África). Desde1~ia.zluta.p.QUr~ç.'lJ?sl,'i çm~~~sU?açào..Em 1947, Nkrumah assu-me a liderança pelaindependência, greves e manifestações de massa resul-tam em sua prisão. Nas eleições de 1951, Nkrumah (que se encontrava naprisão) e seu partido Conieniion J'>eopl?rPar(y - o Cpp - alcançam vitória. Suadesignação p_ara prgnçÍfQ~111:i[list1:'odo regime colonial autônomo frutificacOl~~_a.e.1a_90raçã()dellma nova constituição e o pedido de independênciatotal, que foi alcançada em 1957. No ano de 1960, Gana torna-se uma repú-

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,x.blica. Desde 1957 até a queda de Nkrumah (em1966), o paísparriciparáan-vamcnte do movimento terceiro-rnundisra. Destacar-se-a, outrossirn, pelaconstrução do Pan-africanisrno e pela luta de emancipação das colôniasafricanas. () governo, de características socializantcs, procurou desenvolvero pais para escapar do neocolonialismo - nova forma de depe.n<lêQcia esubordinação imperialista- teorizadopor Nkrumahç:m.?~!:1.J:'1moso 11\r1'O

çp/P?!j!:!!iJ!JI()I..e.~C/p(/ JlIPC!7~~r..d.o..~l?.Pf'dali.rl~.qjpª,-~~J}:~~.ç?_~d0_Lênin).

Em 1960, a Nigéria tornou-se independente sem haver solucionadoas contradições resultantes da associação, pelo] mpério britânico, de trêsregiões com s;s.t.rut:l.11;<J,!;> •. J:ÇQ1.1 QJ1)jas,.ctnias e. culturas difcx_ençi..ª~1ase an til-

gônicas, politicamente unificadas c cristalizadas pelo império britânico. ()trágico resultado foi a º.!".1~:ra de ~j.<li~aAS.:L.2C2.:L~J270, i\ Nigéria indc-pendeu te foi Q resultado mais .negativo.da políticabritânjca.de administra-ção imperial indireta c de agrupamento territorialílni6.s:1al.

j\ constituição de 1954, outorgada para fazer frente ao nacionalismoemergente pós-Segunda Guerra Mundial, criou um governo local autôno-mo sobre bases federais. Cada região manteve suas estruturas próprias esubordinou-se ao controle central da capital, em Lagos, ;\ unidade polí-tica era frágil e espelhava as desigualdades de desenvolvimento econômi-co, político, social e cultural regionais. No entanto, o governo autônomoconquistou a independênciaem 1960 e proclamou. at;,çpÍLQlü~í1, e1:n.1.2..G.3.A persistência das contradições e da artiíicialidadc da Nigéria impediramque a exploração petrolífera possibilitasse o desenvolvimento do pais maispopuloso do continente, i\. impossibilidade de unificar o país - herançado colonialismo e da independência - manteve 8S três regiões (Hauça,feudal e muçulmana '10 nortç; Ioruba, camponesa e animista ao oeste;~. Ibo, campOt:1es.ª>.me}:Ç:'1ºg~·ae cristã ao leste) em permanente conflitopolítico pelo controle do poder federal.

Em 1961, ,!.pecluena colônia de Serra Leoa - constituída para rc,-ceber os escravos resgatados do tráfico clandestino - recebeu sua inde-pendência. Em 1965, Gâmbia - um cnclave ao longo do rio Gârnbia -,insignificante colônia, foi o último país da Africa Ocidentalbritâniça aalcançar a independêncja.

do Egito e do Canal de Sucz e, principalmente, dominar o Oceano Índi-co, garantindo a sua maior e principal colônia: a Índia, Secundariamente,foi determinada pelos projetos dos imperialistas instalados na África doSul: a construção da ferrovia Cabo-Cairo, que ligaria o sul da África aoMediterrâneo. A ocupação dos territórios foi realizada num quadro elerivalidade com a Alemanha imperial antes da Primeira Guerra Mundial.Como mejcut~ ..g9tninação, utilizaram-se os mecanismos elaaçlrl101fl.isJJ;;.a-<;io in<Jiretu.Q!!.9j!:imuz:iç~2.·C sq.~réyiyênci;ídas sociedades tradici9nais.Economicamente, mantiveram a exploração dos produtos tradicionais e .a exploração de poucas matérias-primas. Destoou desse quadro a ocu- .;'pação dos férteis e saudáveis planaltos do Quênia por poderosos colo- rnos brancos. Es tes instalaram grandes fazendas agrícolas e de criação ' '\de gado. O resultado foi a concentração de uma minoria metropolitana \c européia poderosa e contrária ao desligamento da região em relação àmetrópole. Nas outras áreas da Africa Oriental, colonos brancos eraminsignificantes, embora houvesse comunidades ele imigrantes asiáticos.ligados aos serviços,

í\ independência da Índia e a nacionalização do Canal de Sucz porNasscr tornaram a Somália (britânica e italiana), área de ocupação es-tratégica no Chifre da África, desnecessária. Tal situação permitiu que acolônia fosse a primeira da região a dcscolonizar-sc, em 1960. () novoEstado assumiu a forma de república. Extremamente pobre e com parteda população nômade, terminou por envolver-se nos conflitos da região,gerados pela Segunda Guerra Fria, e sofrer uma virtual desagregação nadécada de 1990, ._-

Ao final da. Segunda Guerra MLl~1~i~1!..ecom ~ vitória do PartidoTrabalhista1 a Grã-Bretanha reconhece a necessidade de terminar com asC5iíÔ~1~·~:-F~~1;~o6(;·stã:-0xíl.aFederação cl~ Africa qriental clue centralizariaVganela, Quênia e Tanganica. i\ Federação ela África Oriental evoluiria,g~'adu~ime[~tc:p~u:a o autogovcrno e para a soberania dentro da Comu-nidade Britânica com uma estrutura multirracialista de representaçãodesproporcional. A incapacidade britânica de integrar as economias e deestabelecer bases políticas democráticas PQ_sSil:;>.i.liJ9l,lr~~Ç"t~O,por parte doReino de Buganda (protetorado em Uganda), elos colonos brancos doQuênia e da população africana de Tanganica, que ficaria brutalmentesub-reprcsentada no legislativo (um elcit<?r~E.~!!C?"se7ia igual a4~.Q"~a-t.ivos africanos), A composição proposta pelos britânicos fracassou, e as--_._ ...----- ... , .. , .. _"., ..•.... ,..

A Aflica Orienial britânica

1\ conquista e a colonização da Africa Oriental pelos britânicosobedeceu, basicamente, a objetivos estratégicos, Assegurar a estabilidade_---o __..._...._.____ ...

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colônias alcançaram independência de forma individual e com estruturasdiferenciadas, em momentos diversos.

Da possível Federação, a primeira região a tornar-se independentefoi Tanganica em dezembro de 196.1. Antiga colônia alemã, passou àsmãos britânicas com o mandato da Sociedade das Nações após a Primei-ra Guerra Mundial. Tanganica possuía expressivas minorias árabe e asiá-tica que foram subsumidas pela maioria organizad<UlQ.IANU·(Tt/lzganicaAfrita» Naaonal UnioJ/). Esse partido nacionalista, criado em 1954 ror.lulius Nyerere, conquista a independência em dezembro de 1961 e trans-forma, em 1962, o país em urna república socializante. Em abril de 1964,_surge a República Federalda Tanzânia, resultante.dafusão de Ian.g!lnicacom Z~n7.ibª-r, que fora um protetorado britânico situado no litoral daAfrica, Ocidental, Dirigido por uma dinastia muçulmana originária deOmã (na Península Arábica), era voltado, inicialmente, para o tráfico deescravos, e, posteriormente, para a produção de cravo e especiarias. Nadissolução do Império britânico, parte da área continental de Zanzibarfoi cedida ao Quênia. Em dezembro de 1963, transformou-se em mo-narquia independente, quc foi derrubada um mês depois pelo movimen-to popular local (constituído basicamente pela maioria africana, excluídada participação política).

Outro Estado que surgiu da desagregação do Império britânico e daimpossibilidade de criar uma Federação da Ati:ica Oriental subordinadaà Comunidade Britânica foi Uganda. Constituído de vários reinos locais,dos quais o mais rico e poderoso era o autocrático de Buganda, é frutoda administração indireta inglesa e da artificialidadc dos protetorados no

quadro do colonialismo como sistema. Ugand'Lem.aáre,unais populosac.rica, da Af!:iqQriçnsal bFitâl)iS~. Suaeconomia estava baseada na pro-priedadeçarnponesa e na produção para ..export.aç,~Q:)\ "~ãl-ílitc'n-ç~o-cacristalização do sistema político interno pelo sistema de administraçãoindireta fortaleceu o Kabaka (rei) de U ganda e seu conselho. O KabakaMutcsa TIl, formado em Oxford, usa sua posição para minar a consti-tuição da federação - por medo da preponderância política da minoriabranca do Quenia no sistema eleitoral multirracial e o perigo da maiorianegra nas outras regiões. Sua intransigência e suas reivindicações deter-minaram Cjue Uganda fosse transformado num estado independente soba forma federal rnonárquica, de características singulares - democráticanos outros reinos e autocr:á.tica,~11!J1~lg<ln9a. A vitória eleitoral da UPC

(Congresso do Povo de Uganda), dirigi da por Nilton Oborc, em 1%1,abriu caminho para a independência, alcançada em outubro de 1962. ()progresso independentista e uniíicador atingiu o ponto culminante emfevereiro de 1966, quando a monarquia foi substituída por uma repúblicapresidida por Obote. Surgia aí o Estado unificador de uma rica sociedadeagrícola de camponeses e granjeiros africanos. - ..

O terceiro Estado surgido do fracassado projeto da Federação daAfrica Oriental foi o Qll.~D.m. Seu processo de independização foi contur-bado, envolvendo "operações policiais" que foram uma verdadeira guerrainglesa contra a maioria kikuio, antigos donos das melhores terras agrí-colas do território. Nos planaltos do Quênia, instalou-se uma vigorosa erica minoria de grandes proprietários ingleses. Sua expansão baseava-sena apropriação das terras dos nativos. Essa minoria, através de um Con-selho, apoiava e manejava a administração colonial. () empobrecimentoe a espoliação levaram QS .kjk.lll9. à reação sob a forma de ações terroris-tas a partir de 1949, contra os colonos e seus nativos, sob a direção doQlo.YimentO,"JVIa_u-:rvl~l1".Em conseqüência, abateu-se sobre os africanosuma violenta e generalizada repressão - as operações policiais -, com ainstalação de campos deprisioneiros, controle da população, prisão demociçLill-.iQ~comºJomo Kenyatta, dirigente da KAU (União Africana 'doQuênia). t\ impossibilidade da implantação do multirracialismo - formapolítica em <-1uea minoria branca teria o mesmo número de representantes(Iue a maioria nativa - e da Federação da Africa Oriental- por resistênciado Reino de Buganda - obrigou a evolução para uma solução negociada.Em 1960, constituiu-se o KADU (União Democrática Africana do Qu-ênia), vitorioso nas eleições de 1961. Instituiu-se um autogoverno sob adireção de Kcnyatta, posto em liberdade, e de Tom Mboya, dirigente doKADU Em 1%.1, foi alcançada a independência e, no ano seguinte, opaís tornou-se uma república com o governo moderado e ocidentalist:ade Kcnyatta.

Dessa forma, as tentativas inglesas de permanecer como árbitro naregião e de manter a supremacia branca no quadro da Federação multirra-cial desfizeram-se. A unidade político-econômica projetada foi desmante-lada, e cada área seguiu um caminho próprio. Embora os países indepcn-'dentes permanecessem na Comunidade Britânica, alcançaram a soberania;política plena e territoriaiizararn-se conforme seus estágios diferenciados,'de desenvolvime~~;;histórias-~lê);-;i~is e pré-~o-io·~i~i~. - "

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A /l;itá, Cemra!britânica

NaAJrica Central, o domínio britânico instalou-se a partir de gru-pos imperialistas liderados por Cecil R110dcs e instalados na Africa doSul. Além do controle de regiões ricas em minerais, eram motivados peladisputa com os bocrs, pelo projeto da ferrovia Cabo-Cairo e pelo expan-sionismo colonial. Afinal, Rhodcs teria afirmado, em Londres, que, sepudesse, anexaria as estrelas. As reservas minerais, a fertilidade do soloe as reservas de mão-de-obra africana possibilitaram o entrelaçamentodas lt~la.s.13c~9.é~ias- a do sulfatualZimbábue), agríc:ola, c a dº._~~,~ne(atual Zâmbia), mincradora, com Niassa (atual Malaui), ric~._ç!n...E!~~O-de-obra. Em 1953, as três áreas for~1~~J~0_<:r~s:h1:~~org~.~1j~.adª",_~om aa~~tóno!nia goyernamental e U11l~L assen::d?lçiª.i~slcral multi.EHl.9.,'lLç.ºm oesmagador predomínio C.le/? bJ:gnq)$,t~i~'lli.. •..o Ú~tç~:l'1ª_P.g:rniJja a per-manência britânica na área (como árbitro e protetor) e garar1.ܪiL~ll.pre-macia dos C01Ó110SIJr8,l:Ç.os,Essa sitúaçio-i~rõvocou a intensificação dosmovimentos nacionalistas africanos em Niassa e na Rodésia do Norte.Acreditavam eles, e com razâo, que seria reproduzido o sistema da racistaAfrica do Sul. No final dos anos 1950, a intransigência dos colonos e onacionalismo africano levaram à deterioração da situação. Em 1959, foiestabelecido o estado de emergência na Federação. Se, na Rodésia doSul, o grande número de colonos brancos CJue controlavam o governoautônomo efetivou uma verdadeira caça e submissão do africano, na Ro-désia do Norte o Partido Nacional Unido ela Independência (PNUI) e,em Niassa, o Partido do Congresso do Malaui (PCM) consolidaram-see incrcmentararn a luta pelo fim da Federação e pela independência dosafricanos. Em 1963, a Federação - que embora fosse um projeto razoá-vel para o desenvolvimento regional - foi dissolvida. Seus déficirs foramo racismo e a supremacia dos colonos e a incapacidade de integrar as trêsáreas em uma unidade, A evolução autônoma levou a independênciasdiferenciadas e conflituosas,

Com a diferença de meses, o processo cvolutivo de Niassa e da Ro-désia do Norte alcançou, inicialmente, governos autônomos africanos e,posteriormente, a independência. Niassa, governada pelo PCIVr - dirigi-do pelo médico africano H. Banda desde as eleições de 1961, tornou-seindependente em 1964 . Em 1966, o Malaui - nome que adotou com aindependência - tornou-se uma república. Estado com governo conser-vador, manteve laços com a racista África do Sul. A Rodcsia do Norte

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tornou-se a República da 7.âmbia em outubro de 1964, presidida pelolíder do PNUI, Kcnncrh Kaunda. Esse dirigia um governo autônomodos nacionalistas africanos desde o processo eleitoral de 1962, quandoos partidários da supremacia branca e os interesses mirieradores foramreduzidos à sua rcprcsentatividade. O governo de Zârnbia, para fugirda pressão racista do sul e do estrangulamento de sua economia mine-radora, estabeleceu intensos vínculos econômicos com a afro-socialistaTanzânia.

Na Rodésia do Sul, o poder político dos brancos, baseado no grandenúmero de colonos c no incipiente processo de industrialização, controlouferreamente o poder e manteve os africanos (a maioria) em um .r/C/1m deinferioridade absoluta. A repressão aos movimentos nacionalistas levou-osà guerrilha. Dadas as pressôcs internacionais, principalmente africanas einglesas, o governo branco proclamou a independência de forma unilate-ral em 1965, Contava com a conivência e o apoio de Portugal e da racistaRepública Sul-Africana. O governo da Frente Rodesiana, com Ian Smi-th na direção, terminou por proclamar a república em 1970, após haverabandonado a Comunidade Britânica quatro anos antes, O fim do impérioportuguês, em meados da década de 1970, tornou a situação sul-rodcsianainsustentável. .r\ guerrilha africana (única solução para a intransigência ra-cista) transformou o campo de prisioneiros em um campo de batalha, nm1979, a República da Rodésia, a Z.r\PU (União Popular Africana do Zirn-bábuc) e a ZANU (União Nacional Africana do Zimbábue) estabelecem() Acordo de Londres, buscando uma solução pacífica para a consagra-ção da derrota dos racistas. Foram, então, realizadas eleições, nas quais aFrente Patriótica (aliança da ZANU e da Zt\PU) alcançou ampla maioria,Como resultado da vitória nacionalista no campo de batalha c nas urnas,a independência é reconhecidaem L98p, assumindoa .Eresic:lên~ia ~ob~!;tMURabç,dp.Z!.\NY..:.

Os protetorados britânicos no sul da África, cnclaves territoriaisna Africa do Sul- exceção de l3echuanalândia -, são independentizaclosna década de 1960. Bechuanalândia torna-se, em 1966, a Repúb_4c:~Lde13otsuana. No mesmo ano, foi instituído o Reino do Lcsotç (o prote-rorado de Basutolândia). A_SJ."''lZilândi~ t~~;}ou~se.uma.m()Pilt9uia inde-p_~.ndet1te_~!'nJ2\&Tanto o Lesoto quanto a Suazilândia tornaram-sereservas ...de mão-de-obra para a Africa do Spl, já que estão cncravadosem seu território,

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----------------Norte da ).frltl

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~ "Ou'''a Branco" da Árel" Au."al

li'l F.dera,l. Rodlsla· Nla"allndl' (1953·63)

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A descolonização e seus conflitos (1945-75)

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Ilhas••. Comere

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Uo Km 1500, ,

milhas 1000

Socolrl

6.6 A descolonização dos impérios secundários

Por impérios coloniais secundários na Africa subsaariana - ou Ne-gra - entendemos o belga, o espanhol e o português. Sua posição é dernar-cada pelo lugar que as metrópoles ocuparam no concerto das potênciasimperialistas coloniais, independentemente da extensão tcrritorial das co-lônias e da amplitude temporal de dominação e exploração da Africa. Seexcetuarmos a curta permanência alemã, temos, nesse tópico, o impériocolonial de menor duração - caso do belga - ao lado dos colonialismos demais longa duração - caso do português e do espanhol. Ao contrário dosbritânicos e dos franceses, esses colonialismos secundários n.ã.o_~:.r~~~~I2[0.S,LIp'ª,Ç,~Q_em criar elites locais. Por mais insignificantes gue fossem,r),-ªº.~e,p~~9S:~lp~r.~!1:'l_~!!l..S:1~S~.nyolver~l<:rn~,I~.t.0~,~~..~~:~ow)\'.ern? e nemel~,~ssirniLªL~_ç:jy!~z.~ç.~C?rl},e!rQl?9Jjtª!)a,qs colonizadores g~ p~r,te .~leles."

Marcados por um patcrnalismo _çl~"inflLI.ªr:::ciil,g9sta, acreditavam sereternos senhores das porções de população c terras africanas, Significati-vamente, foram os processos mais traumáticos de descolonização e comos efeitos mais críticos. Isso tanto pela rápida retirada dos belgas comopela encarniçada resistência dos portugueses e dos espanhóis. Do pontode vista histórico, esses colonialisrnos apresentam significativa importân-cia. A~xpansão dos interesses do Rei Lcopoldo 9!l Bélgica esteve na base

" ---:-------. .... ..------ ",,, -- ," " ' " L . 'da rar@1a9,o ,~on6i1eriteafricano e de sua ocupaçao 'colonial sob a forma

_ç~1lis.ta._Já os portugueses foram os primeiros a implantar o dominioeuropeu na J\fric<l. ~u~2ª-,1~i<lDaSlu.a!1~hd()ç~clo das grandes.nav<::gaç6es.

Scycbctle

l\hurlrhao o

ReuniMO

o Congo belga

J () rico território colonial dos belgas não era constituído apenaspelo Congo. Após a Primeira Guerra Mundial, aquela metrópole recebeucomo fideicomisso o Mandato da Sociedade das Nações para as colôniasalemãs de ~ur_Ltndi.ç._c!t:"I3:Q<<l,D~la- no coração do continente. Tal man-dato foi revalidado pela ONU após a Segunda Guerra Mundial. ComoBurundi e Ruanda faziam fronteira com o Congo, o império colonialformava um bloco colonial. As potencialidades agrícolas, de matérias-primas vegetais e minerais, eram exploradas por monopólios metropoli-tanos. O paternalismo submetia as populações ao atraso e à inferioridadecuidadosamente man tidos.

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SC) na década de 1950 os belgas começaram a pensar na possibilidadede uma emancipação a longo pra/:o. Nada fizeram de concreto, no entan-to, pam resolver os déjicits existentes. Nesse quadro, surgem os primeirosmovimentos nacionalistas do Congo. Enquanto o primeiro movimentoteria uma base étnica - conhecido como /\.131\KO, sob a direção dejose-ph Kasavubu - conquista vitória nas eleições municipais de 1957, outropartido s-\..{~:gidoem 1958 - J\.'lNC (Movimento Nacional Congolês) - éfundado por Patrice I:~lill~L~~2'OMNC era um movÍt~1C:r1t9J.}!1itá!.ioepretendia um Congo centralizado. einte,rémi.c:..Q. Paralelamente, surgem,com forte implantação na rica província mineradora do sul, tend~0:~i~sfcderalistas com o apoio da Union Miniére du Haut Karanga - um mo-nopólio minerador - esob aliderança de JvIoisés.td1ol]1_Q~~~Rapidall1ente,instalou-se a tensão política interna e com a metrópole.

Em 1959, t\ Bélgica muda radicalmente de posição; seria importanteexplorar os fatores da conjuntura: çJ,lcrra.FÚa, riqueza mineralzpciacipal-mente urânio), reflexos da ConferênciadeBandung (.c1l1J..255}_c~Ç!,1-

.volvimento do nacionalismo no continente africano. No início de 196.LJ,'.... ,'.' ,," ,., ... ' .... ,~.- •.... -foi convocada uma Confçr.ênçi.ª,,,Ç.m.,l}p.lXelas, que determinou a indepen-dência para junho do l11C.s.f12QJl!1Q;t\póS a realização de eleições, o Congoalcança a independência sob a.nre~idência de Kas~y'~1.~.!:!,tendo L~~1~1tlp1b~_como primoiro-minisrro..A rápida deserção belga abriu espaço para con-frontos e conflitos. Q.? ..cfeircs.do paremalismo colonial e da diktc.nçade desenvolvin'!~Qt_º_rçgi91lalafLor.aJ:i;\m. Nenhuma negociação. in~erna ~penhumildi~puta~rbitrada preparara campo para a aceleradaretirada.

O efeito imediato foi o endurecimento do conflito entre unitários(Lumurnba) e fcderalistas (Kasavubu e Tchombé), o (lue levou à guer-ra civil e étnica (de bases regionais) e à secessão de Katanga em 1%0.Tratava-se de impedir que o MNC impusesse o modelo político c na-cional em prejuízo dos interesses locais e particulares. Com o apoio daUnion Miniére, o uso de mercenários e de tropas belgas (para evacuaros europeus), Tchombe iniciou uma das mais sangrentas guerras civis. Odiscutido apoio militar da ONU, ao pedido de Lumumba não impediusua destituição, prisão e morte (196 1) nas mãos dos katangeses .. A ONUimpediu a fragmentação do Congo, permanecendo até 1964. Em 1963, aintegridade territorial foi restaurada, Katanga foi reincorporada, e o chefeda secessão, Tcbombe, nomeado primeiro-ministro. Em 1965, Mobutudeu um golpe de estado, centralizou o poder, organizou uma nova consti-

tuição (1966), criando uma ditadura pessoal sustentada por partido único.\1\D~Sde o golpe .até sua derrubada Moburu foi apoiado e sustentado pelos), palses ocidentais.

100 101

&IClllda e B/lnmdi

Nos dois Mandatos belgas, a população dividia-se em dois grupos'étnico-sociais de características feudais. O poder local - reinos feudais _ )da época da conquista permaneceu. O dominio e a exploração coloniaissobrepuseram-se às estruturas don1Ínadãs-·p~los·tutsis (pastores, aristoc~~a-tas cguerrciro.s·) gueêx'I;Toravãm-õs'hutus"(campones~s~ O colonialismocristalizou essas estruturas, e.de certa forma, politizou-as, As etnias-classcorganizaram-se em partidos com propostas e bases diferentes.

Em 1960, a Bélgica e a ONU começaram a preparar a dcscoloni-zação. Entre 1959 e 1961, em Ruanda, oconfliro entre a maioria (hutu)~pLlbl~~~'!:"!:...~...'}..JrÜQQ_rj~_Jtll,.ç~i)~l112naNLJista pcrrneou o processo de ins-talação do aurogovcrno em 1960. Os hutus não só derrotaram os tutsis,destruindo a monarquia, como seu partido ganhou as eleiçôcs, 12m julhode 1962, a independência c a república foram proclamadas. No mesmo'ano, um Tratado de Amizade c Cooperação transpôs o país para a esfera -e

de influência fran~r:s~ A h.i.stória .ind.c.renuentc de Ruanda tem sido a Je. \ ')um permanente conflito 1~ºlítico, ..e:,~?...Etd mascarado pela idéia de lut~. \étnica e 111tcrtribal. ,-- .. p., 0"0 _,"

No Burundi, a independência estabeleceu ~ soberania da monarquiarutsi em 19G2, após um ar:o de autonomia interna. .A monarquia social eetnicamente Ligada à minoria da população não'impediu confrontos se-melhantes aos de Ruanda. Em 1%6, foi proclamada uma república sob,dQ!.1!_~~~.i~.ttlt~ie com partido único. Daí em diante sua história não difereda de Ruandà~"-'-- .-----.--.- ..

o Império espanhol

Embora a Espanha possuísse, na Africa, as colônias de Ifni, do SaaraOcidental e da Guiné Equatorial, apenas a última pertencente à Africasubsaariann, Constituída do território Rio Muni e as Ilhas de FernandoPÓ, Anabon, Corisco e Elobeyes, a Guiné Equatorial era a menor colôniaeuropéia, um cnclave territorial, e tornou-se menor país continentfll)qqç-p~l~~ente na Africa.Em 1958, a colônia foi transformada em província,

Page 24: VISENTINI  BREVE HISTÓRIA DA ÁFRICA parte I

Norte espanholda ÁfrlcoI

Mad:.,in

--------Ilha. doiVerde

o Ascenslen

Sta. Helena •

_ Francês

; Ingês

~Árabe

o Português

l'i.::l:!ll Espanhol

e:lAfrikaans o Km 1500, ,

Zonas lingüísticas não-africanas

10'2

5o.cotra

Seyche'les

Maurttfus•••. o

Reunlio

1

desenvolveram-se vários movimentos nacionalistas e, em 1963, passoupara o estatuto de autonomia interna. O crescimento do nacionalismolevou a um acordo descolonizador na Conferência de Mª.dri en1t~~1Qú1e

J968 .• realizada entre os nacionalistas é os espanhÓis·.·To·r~~se indepen-dente em 1968. O governo independente do presidente Macías transfor-mou-se em repressiva ditadura pessoal e provocou o empobrecimento eemigração. Em 1979, Macias foi deposto por um golpe.

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