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 RESUMO Introdução: A Vitis vinifera L. é um antioxidante natural extraído das sementes de uva, seus componentes ativos constituem flavonóides e proantocianidinas, que, além de atuarem como seqüestradores de radicais livres, promovem a vasodilatação, inibem fosfolipases, ciclooxigenases e lipoxogenases, bem como reduzem a peroxidação lipídica. Este estudo visou avaliar o efeito renoprotetor da Vitis vinifera sobre a função renal de ratos com lesão renal aguda isquêmica (LRAi). Métodos: Foram utilizados ratos Wistar, machos, adultos, submetidos à isquemia, procedimento que se constituiu no clampeamento bilateral dos pedículos renais por 40 minutos. Os ratos foram distribuídos em grupos que receberam ou não o pré-tratamento com Vitis vinifera (3,0mg/kg, VO, uma vez ao dia, durante cinco dias antes do procedimento cirúrgico). Foram avaliados a função renal, por meio da depuração de creatinina, e o perfil oxidativo, por meio da mensuração de peróxidos urinários, através do método FOX – 2. Resultados: O grupo submetido ao tratamento com Vitis vinifera apresentou melhora significativa da função renal, atenuando a redução da depuração de creatinina e fluxo urinário, além do menor incremento dos níveis de peróxidos urinários. Conclusão: A utilização da Vitis vinifera como agente antioxidante promoveu proteção funcional nos animais com LRA isquêmica, com melhora significativa de função renal e diminuição da excreção de peróxidos urinários, em relação ao grupo controle. Descritores: Lesão renal aguda. Isquemia. Vitis vinifera. Antioxidante. ABSTRACT Introduction: Vitis vinifera L. is an antioxidant agent extracted from grape seeds, and composed of flavonoids and proanthocyanidins. It has been shown to reduce free radicals, induce vasodilation, inhibit phospholipase, cyclooxygenase and lipooxygenase, and reduce the total lipid peroxidation index. The aim of this study was to evaluate the protective renal effect of the Vitis vinifera on renal function in rats with acute renal ischemic injury (ARIi). Methods: Male, adult, Wistar rats underwent renal ischemia for 40 minutes. They were distributed into groups that received or not Vitis vinifera (3.0mg/kg, P.O., once a day, during the 5 days prior to surgery). Renal function was evaluated by creatinine clearance, and the oxidative profile (urinary peroxide) was measured by the FOX – 2 assay. Results: The group submitted to treatment with Vitis vinifera showed a significantly lower degree of renal injury, with almost no reduction in creatinine clearance and in urinary output, along with a reduction in the level of urinary peroxide promoted by the ischemic maneuver. Conclusion: The use of the Vitis vinifera, an antioxidant agent, promoted functional renal protection in the animals with ischemia ARIi. Keywords: Acute renal injury. Ischemia. Vitis vinifera. Antioxidant.  Efeito Protetor da Vitis Vinifera na Lesão  Renal Aguda Isquêmica em Ratos Protective Effect of Vitis V inif era in  Acute Renal Ischemic Injury in Rats  Juliana da Silva Bezerra, Wanessa T eixeira, Maria de Fátima Fernandes V attimo  Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo – EEUSP  Laboratório Experimental de Modelos Animais (LEMA), Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (EEUSP), São Paulo, SP. Artigo Original  Recebido em 06/09/07 / Aprovado em 19/03/08 Endereço para correspondência: Juliana da Silva Bezerra Rua Vito Chiarella 52 05848-180, São Paulo, SP. E-mail: juliana13bezer [email protected]

Vitis Vinifera

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  • RESUMOIntroduo: A Vitis vinifera L. um antioxidante natural extrado das sementes de uva, seus componentes ativos constituem flavonides eproantocianidinas, que, alm de atuarem como seqestradores de radicais livres, promovem a vasodilatao, inibem fosfolipases, ciclooxigenases elipoxogenases, bem como reduzem a peroxidao lipdica. Este estudo visou avaliar o efeito renoprotetor da Vitis vinifera sobre a funo renal de ratoscom leso renal aguda isqumica (LRAi). Mtodos: Foram utilizados ratos Wistar, machos, adultos, submetidos isquemia, procedimento que se constituiuno clampeamento bilateral dos pedculos renais por 40 minutos. Os ratos foram distribudos em grupos que receberam ou no o pr-tratamento com Vitisvinifera (3,0mg/kg, VO, uma vez ao dia, durante cinco dias antes do procedimento cirrgico). Foram avaliados a funo renal, por meio da depurao decreatinina, e o perfil oxidativo, por meio da mensurao de perxidos urinrios, atravs do mtodo FOX 2. Resultados: O grupo submetido ao tratamentocom Vitis vinifera apresentou melhora significativa da funo renal, atenuando a reduo da depurao de creatinina e fluxo urinrio, alm do menorincremento dos nveis de perxidos urinrios. Concluso: A utilizao da Vitis vinifera como agente antioxidante promoveu proteo funcional nos animaiscom LRA isqumica, com melhora significativa de funo renal e diminuio da excreo de perxidos urinrios, em relao ao grupo controle.

    Descritores: Leso renal aguda. Isquemia. Vitis vinifera. Antioxidante.

    ABSTRACTIntroduction: Vitis vinifera L. is an antioxidant agent extracted from grape seeds, and composed of flavonoids and proanthocyanidins. It has been shownto reduce free radicals, induce vasodilation, inhibit phospholipase, cyclooxygenase and lipooxygenase, and reduce the total lipid peroxidation index. Theaim of this study was to evaluate the protective renal effect of the Vitis vinifera on renal function in rats with acute renal ischemic injury (ARIi). Methods:Male, adult, Wistar rats underwent renal ischemia for 40 minutes. They were distributed into groups that received or not Vitis vinifera (3.0mg/kg, P.O., oncea day, during the 5 days prior to surgery). Renal function was evaluated by creatinine clearance, and the oxidative profile (urinary peroxide) was measuredby the FOX 2 assay. Results: The group submitted to treatment with Vitis vinifera showed a significantly lower degree of renal injury, with almost noreduction in creatinine clearance and in urinary output, along with a reduction in the level of urinary peroxide promoted by the ischemic maneuver.Conclusion: The use of the Vitis vinifera, an antioxidant agent, promoted functional renal protection in the animals with ischemia ARIi.

    Keywords: Acute renal injury. Ischemia. Vitis vinifera. Antioxidant.

    Efeito Protetor da Vitis Vinifera na Leso Renal Aguda Isqumica em Ratos

    Protective Effect of Vitis Vinifera in Acute Renal Ischemic Injury in Rats

    Juliana da Silva Bezerra, Wanessa Teixeira, Maria de Ftima Fernandes VattimoEscola de Enfermagem da Universidade de So Paulo EEUSPLaboratrio Experimental de Modelos Animais (LEMA), Escola de Enfermagem da Universidade de So Paulo(EEUSP), So Paulo, SP.

    Artigo Original

    Recebido em 06/09/07 / Aprovado em 19/03/08

    Endereo para correspondncia:

    Juliana da Silva BezerraRua Vito Chiarella 5205848-180, So Paulo, SP.E-mail: [email protected]

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    INTRODUO

    Fitoterpicos so medicamentos originados departes de plantas cujos princpios ativos no foram puri-ficados, podendo ser utilizados na forma de tinturas, extra-to seco em cpsulas, xaropes, elixires, entre outras. Estalinha de medicamentos demonstra ser a grande tendnciamundial no tratamento de diversas doenas, tendo hojeum interesse crescente na rea de pesquisas cientficas1.Entre os diversos fitoterpicos, este estudo deu destaqueao extrato de semente de uva da Vitis vinifera.

    O uso de agentes antioxidantes naturais contidosna dieta e em bebidas como o vinho tem merecido desta-que por suas propriedades antioxidantes. Evidncias recen-tes comprovaram as propriedades antioxidantes dos com-postos fenlicos presentes em produtos derivados da uva(Vitis vinifera), especialmente no vinho tinto2. O extrato desemente de uva obtido a partir das sementes da Vitisvinifera L.. Estudos mostram que seu potencial antioxi-dante melhor que o da vitamina E3. A semente de uvacontm uma grande quantidade de proantocianidinas ecatequinas, que so flavonodes (digmeros polifenlicosderivados de flavan-3-is e flavan-3,4-diis), responsveispelo carter polifenlico com propriedades antioxidantes.Os outros componentes ativos presentes no extrato de uvaincluem os cidos graxos essenciais e tocofenis4.

    H evidncias que demonstram a capacidade des-ses componentes polifenlicos de evitar a oxidao da lipo-protena de baixa densidade (LDL)5 e inibir a agregaoplaquetria6, que se caracterizam como fatores de riscopara coronariopatias; alm de possurem efeito antiinfla-matrio7, reduzirem a presso arterial, inibindo a enzima deconverso da angiotensina8,9 e at mesmo de bloquearema expanso de formaes tumorais como o melanoma10-13,

    A Leso Renal Aguda (LRA) se caracteriza poruma reduo abrupta da funo renal definida poraumento absoluto da creatinina srica de pelo menos0,3mg/dL, elevao de 50% (at 1,5 vez) do valor basalou reduo do fluxo urinrio, documentado como oligriaou menor de 0,5mL/kg por hora por mais de seis horas14.O mecanismo de isquemia-reperfuso a etiologia maiscomumente relacionada leso renal15.

    Na isquemia, um dos eventos mais precoces areduo dos nveis intracelulares de ATP, que compro-mete preferencialmente pores do nfron que possuemalta taxa de reabsoro tubular com gasto de energia,como o tbulo proximal e a ala ascendente espessa deHenle. A depleo de ATP desencadeia uma srie deeventos, incluindo desestruturao do citoesqueleto,perda da polaridade celular e interao clula-clula,produo de espcies reativas de oxignio, alteraes dopH intracelular, podendo culminar com morte celular15,16.

    Enquanto perdura a hipxia, o estoque de ATP daclula rapidamente consumido, gerando quantidadesenormes de adenosina e de seu principal metablito, ahipoxantina. A metabolizao da hipoxantina s podeocorrer em condies aerbicas. Portanto, a hipoxantinaacumula-se na clula at que a oxigenao da mesma sejarestabelecida. Quando isso finalmente acontece, todo oestoque de hipoxantina rapidamente transformado emxantina e cido rico, que o catablito final. Essa reaogera tambm superxido e hidroxila, radicais livres comgrande potencial citotxico. Em condies normais, essescompostos so formados em quantidade pequena, o sufi-ciente para que a clula evite facilmente a elevao deseus nveis atravs de enzimas que os removem.

    Nas condies de reperfuso, no entanto, oacmulo de hipoxantina leva formao de grandes quan-tidades radicais livres, tambm chamados de espciesreativas de oxignio (EROs) que, embora existam duranteum intervalo de tempo extremamente curto, tm efeitostxicos devastadores17. A peroxidao lipdica, a oxida-o das protenas celulares e a leso dos cidos nuclicosso alguns desses efeitos causados pelas EROs14 quecontribuem para o dano celular funcional e a necrose. Aesse mecanismo d-se o nome de estresse oxidativo, lesooxidativa ou desequilbrio do mecanismo redox15,18.

    Estudos experimentais com ratos demonstraramque a administrao de agentes antioxidantes temconferido proteo frente leso pela reduo dos ndicesde estresse oxidativo19-21.

    Assim sendo, este estudo visou avaliar a aoantioxidante da Vitis vinifera como estratgia de proteoda funo renal em animais com LRAi.

    OBJETIVOS

    Avaliar o efeito da Vitis vinifera sobre a funorenal (FR) de ratos com Leso Renal Aguda isqumica.

    Avaliar o efeito da Vitis vinifera sobre a excreode perxidos urinrios de ratos com Leso Renal Agudaisqumica.

    MATERIAIS

    Foram utilizados ratos de raa Wistar, adultos, machos,pesando entre 250-315 gramas (peso prvio ao procedimentocirrgico), distribudos nos seguintes grupos:

    Grupo 1 : grupo Sham (controle) - animais submetidos alaparotomia e cirurgia semelhante ao grupo isquemia, semclampeamento do pedculo renal. Esses animais no receberamnenhuma droga ou veculo da droga utilizado nos grupostratados.

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    Grupo 2 : grupo isquemia - animais que foramsubmetidos a isquemia renal por 40 minutos, atravs doclampeamento do pedculo renal.

    Grupo 3 : grupo isquemia + Vitis vinifera- animais queforam submetidos isquemia renal por 40 minutos, atravs doclampeamento do pedculo renal + administrao de Vitisvinifera (Vittis; Herbarium Laboratrio Botnico Ltda);3,0mg/kg, via oral por gavagem, uma vez ao dia, durante cincodias antes da cirurgia.

    MTODOSTodos os grupos tiveram livre acesso gua e rao

    padronizada e permaneceram em condies trmicas adequadas.Os animais foram anestesiados com soluo de hidrato

    de cloral (Merck Damstadt, Alemanha) a 10% (0,1mL/kg),intraperitoneal. Os animais do grupo isquemia foram subme-tidos isquemia renal por meio de clampeamento bilateral dopedculo renal por 40 minutos, utilizando clamps (MediconInstrumente Tuttlingen, Alemanha) vasculares no traum-ticos. Decorrido este tempo, os clamps foram retirados, ocorren-do a reperfuso renal espontnea. Por fim, foi realizada a suturada inciso. Os animais do grupo SHAM foram submetidos aomesmo procedimento, porm sem o clampeamento, apenasmanipulao delicada do pedculo renal.

    Ao trmino da cirurgia, os animais foram devolvidos gaiola coletiva, onde permaneceram por 24 horas pararecuperao do ato cirrgico. Em seguida, os animais foramcolocados em gaiola metablica para coleta de urina de 24 horaspara posterior verificao da depurao de creatinina e coleta deamostra urinria para mensurao de perxidos urinrios.

    Aps o perodo de 24 horas, os ratos foram retirados dagaiola da metablica, anestesiados com hidrato de Cloral,conforme descrito anteriormente, e foi realizada nova lapara-tomia para coleta de amostra sangunea por puno da aortaabdominal para posterior mensurao da creatinina srica.

    Ao final do experimento, os animais foram sacrificadosde acordo com as recomendaes para utilizao de animaispara fins cientficos.

    Os animais dos grupos foram submetidos a anlise defuno renal por depurao de creatinina (Clcr ) como descritopela frmula abaixo:

    Clcr = creatinina urinria (mg/dL) x fluxo urinrio (mL/min)creatinina plasmtica (mg/dL)

    Os resultados foram apresentados como valoresajustados por 100g de peso corporal dos animais conformeclassicamente aplicado nesses modelos.

    A mensurao da creatinina plasmtica e urinria foirealizada pelo mtodo de Jaff22.

    O mtodo ferro - xylenol orange verso 2 (FOX-2),foiutilizado para mensurar a excreo de perxido urinrio . Para100l da amostra urinria fresca, foram acrescentados 900l dasoluo FOX-2 [90mL de metanol (Carlos Erba SP, Brasil) e10mL de gua bidestilada, 100M Xylenol Orange (Xylenolorange Sigma; St Louis, USA), 4mM BHT (BHT ButylatedHydroxytoline Sigma; St Louis, USA), 25mM da soluo decido sulfrico (Sigma; St Louis, USA) e 250M de sulfatoferroso de amnio (Vetec Qumica RJ, Brasil)].

    A leitura foi realizada por espectrofotometria(BECKMAN, USA) em absorbncia de 560nm (coeficiente deextino de 4,3 x 104 M-1 cm-1)23,24.

    Os valores foram estabilizados por grama de creatininaurinria e expressos por nmol de perxidos/grama decreatinina25,26.

    ANLISE DE DADOS

    A tcnica de anlise empregada foi o GLMunivariado (modelo linear generalizado/univariado).Quando o nvel de significncia na tabela A nova foi0,05, concluiu-se que o efeito de pelo menos um dosgrupos era diferente dos outros. Para se verificar quaisgrupos diferiam entre si ou no, empregaram-se os testesmltiplos de comparao 2 a 2 de Bonferroni ajustado. Op-descritivo levou em considerao o nmero decomparaes do modelo. O programa de estatstica paraanlise dos dados foi o SPSS (Statistical Package for theSocial Sciences) for Windows verso 16.

    LOCAL DE COLETA DE DADOS

    Os experimentos foram desenvolvidos noLaboratrio de Pesquisa Experimental com ModelosAnimais (LEMA) da Escola de Enfermagem daUniversidade de So Paulo EEUSP.

    Tabela 1. Parmetros globais, de funo renal e de excreo de perxidos urinrios dos grupos SHAM, Isquemia e Isquemia tratadacom Vitis vinfera (Isquemia+ Vitis). Resultados esto expressos como mdia desvio padro (X DP).

    Grupo P (g) U (mL/min) Clcr/100g Perxidos Urinrios(mL/min) (nmol/g creatinina)

    SHAM (n=5) 268 34 0,014 0,008 0,55 0,14 5,6 0,7Isquemia (n=8) 314 33* 0,004 0,001* 0,22 0,07* 13,5 0,8*

    Isquemia+Vitis (n=11) 281 18** 0,014 0,004** 0,48 0,10** 6,89 1,6**Sendo P: peso corporal; U: fluxo urinrio; Clcr: clearance de creatinina/100g.*p< 0,05 vs SHAM, ** p< 0,05 vs Isquemia.

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    RESULTADOS

    Os resultados demonstram que, quanto ao pesocorporal, os grupos apresentaram diferenas entre si,porm, esse fato no pode ser atribudo ao procedimentode clampeamento ou tratamento institudo, j que osanimais iniciaram os protocolos com pesos j diferentes.

    Conforme descrito anteriormente, na relaopeso/idade, os animais do grupo SHAM deveriam ter umamdia de 57 a 67 dias de vida, enquanto que o grupoIsquemia seria de animais com 68 a 73 dias e, no grupoIsquemia+Vitis, os ratos teriam em torno de 62-67 dias devida. Considera-se essa variao de idade entre os animaisirrelevante para efeito de comparao funcional renalentre os grupos, uma vez que, em modelos de ratos velhos,a idade mnima seria de aproximadamente 550 dias27.

    Por outro lado, todos os animais apresentavampadro de normalidade de funo renal antes do incio dosestudos. Os estudos de triagem funcional de todos osanimais constam de diversas dosagens bioqumicas. Entreessas, ressalta-se que a mdia da uria plasmtica dacolnia de ratos utilizada neste estudo era de 23,8mg/d.

    Os resultados demonstraram que o procedimentocirrgico do grupo SHAM (sem clampeamento renal) nodeterminou comprometimento da funo renal dessesanimais quando comparados com o grupo controle destelaboratrio19,28 (depurao de creatinina = 0,55 vs.0,60mL/min). Esse dado confirma que o grupo SHAMpde ser utilizado como controle para este estudo.

    Adicionalmente, j foi demonstrado por estudosanteriores que ratos da linhagem Wistar apresentammaturidade funcional renal a partir de peso corporal de150g, que corresponde idade de 35 a 40 dias. A partirdaquele momento, e, no estudo apresentado, a anlise foiimplementada at o peso corporal de 350g, no cons-tatando diferenas significativas nas taxas de filtrao pornfron nico ou na filtrao total com clculo incluindoos nfrons justamedulares. No estudo ora apresentado,pode-se considerar que os grupos SHAM, Isquemia eIsquemia+Vitis, a despeito da diferena estatstica nosvalores de peso, no mostraram diferena basal de funoque pudesse comprometer a interpretao dos dados defuno a seguir apresentados29.

    Os animais isqumicos apresentaram reduo dafuno renal quando comparados ao grupo SHAM (0,22 0,07 vs 0,55 0,14). A reduo significativa de fluxourinrio nesse grupo confirmou o episdio de LRAisqumica oligrica (p< 0,05).

    Quanto excreo de perxidos, usados como mar-cadores de peroxidao neste estudo, observou-se que ogrupo Isquemia, quando comparado ao grupo SHAM, apre-sentou elevao nesse parmetro (13,5 0,8 vs. 5,6 0,7).

    Por outro lado, o tratamento com Vitis vinifera aosanimais que posteriormente foram submetidos a isquemiarenal promoveu melhora significativa na funo renal,acompanhada de normalizao do fluxo urinrio (p< 0,05).Esses achados parecem ter respaldo na reduo do com-ponente oxidativo, uma vez que o tratamento com o antio-xidante no grupo isqumico determinou diminuio naexcreo de perxidos urinrios (6,89 1,6 vs. 13,5 0,8).

    DISCUSSO

    A necessidade da realizao de estudos com autilizao de fitoterpicos, como a Vitis vinfera, naLRAi, com o objetivo de propor intervenes teraputicaspara prevenir ou acelerar o restabelecimento do pacientecom LRAi, pode ser promissora, uma vez que a lesorenal aguda, apesar do enorme avano tecnolgico experi-mentado nas ltimas dcadas, no apresentou mudanasignificativa na taxa de mortalidade, permanecendo aoredor de 50%17.

    A LRAi provocada pela isquemia, por meio doclampeamento do pedculo renal por 40 minutos, visou,neste estudo, reconstruir a cadeia fisiopatolgica da LRAirenal em ratos. Os dados obtidos caracterizaram a ocor-rncia de LRAi do tipo oligrica, ou seja, com reduo dofluxo urinrio.

    O estresse oxidativo, resultante do mecanismoisquemia-reperfuso, contribui para danos celulares efuncionais observados aps a instalao da sndrome,principalmente pela produo intensificada de EROs15,17.Uma das principais enzimas envolvidas na formao deEROs a xantina-oxidase, ativada com o influxo declcio decorrente da disfuno de membrana e comdepleo de ATP durante a isquemia15.

    Os flavonides do vinho representam um grupo deplantas fenlicas que tem merecido destaque por suaspropriedades antioxidantes, que, alm de seqestrar radi-cais livres, modulam atividades enzimticas em prol dainibio da peroxidao lipdica, presente em vrios pro-cessos patolgicos, como em questo a doena renal 28,30.Estudos demonstraram que alguns flavonides (querce-tina e resveratol) so capazes de inibir a atividade daxantina-oxidase, diminuindo assim o dano oxidativo31-33.

    Para confirmar a gerao de EROs na leso isqu-mica, so utilizados alguns marcadores de leso celular.Neste estudo, os perxidos urinrios foram analisados pormeio do mtodo FOX - 2. A administrao de Vitis vinifera,previamente isquemia, resultou na diminuio signi-ficativa dos nveis de perxidos, determinando tambmmelhora na funo renal, considerando-se a depurao de creatinina como marcador biolgico. Resultados

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    semelhantes foram encontrados em estudos realizados emratos com LRAi por rabdomilise34.

    Acredita-se que este efeito renoprotetor do grupotratado possa estar relacionado ao bloqueio da cascata deformao de EROs, seja ele pela inibio da xantina-oxidase ou atravs do seqestro de radicais livres, peloscompostos polifenlicos presentes no extrato de sementede uva, ou ainda, pela atuao nessas duas vias.

    Recentemente, foi demonstrado que o bioflavoni-de proantocianidina usado em modelo de leso renal porglicerol, tambm extrado das sementes de uvas, melho-rou significativamente a histologia renal, com reduo dovolume tubular e dos restos celulares tubulares. Observou-se tambm a recuperao da funo renal e foi sugeridoque a melhora histofuncional poderia ser atribuda aorelaxamento vascular determinado pela proantocianidina.Contudo, naqueles dados, no foi realizado mensuraode peroxidao lipdica35.

    Por outro lado, em modelo de isquemia, seme-lhana do que foi reproduzido neste estudo, constatou-seo efeito renoprotetor das proantocianidas. Demonstrou-seque o pr tratamento com uma mistura de bioflavonidesem ratos submetidos a isquemia renal bilateral protegeu afuno com elevao da depurao de creatinina ereduo da creatinina plasmtica. Observou-se aindamelhora histolgica caracterizada por reduo da necrosetubular na faixa externa da medula externa36.

    Em sntese, os resultados apresentados neste estudorealaram o efeito protetor da Vitis vinifera na funo renalde ratos submetidos ao modelo de isquemia renal porclampeamento de 40 minutos. Esse achado foi comple-mentado com a reduo de perxidos urinrios, o que podevalidar a hiptese de que o fitoterpico empregado nesteestudo teve efeito antioxidante e que essa foi uma das viasde leso no modelo reproduzido. Outros estudos quediscutam maiores detalhes a respeito do perfil oxidativoaps o tratamento com a Vitis e que mecanismosintracelulares esto envolvidos nessa proteo certamentetraro mais clareza aos dados apresentados neste estudo,assim como tambm histologia das leses renais.

    CONCLUSES

    O modelo de clampeamento utilizado promoveuepisdio de LRAi oligrica, tendo o mecanismo oxidativocomo um dos ramos fisiopatolgicos.

    A utilizao da Vitis vinifera como agente antio-xidante demonstrou efeito de proteo funcional nos ani-mais com LRAi, atenuando de forma significativa a reduoda funo renal, alm de ter induzido menor incrementodo nvel de perxidos urinrios daqueles animais.

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