36
VITIVINICULTURA

Vitivinicultura 06 A/F - CCDRA

  • Upload
    others

  • View
    1

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Vitivinicultura 06 A/F - CCDRA

VITIVINICULTURA

Page 2: Vitivinicultura 06 A/F - CCDRA
Page 3: Vitivinicultura 06 A/F - CCDRA

ÍNDICE

pág.

6. VITIVINICULTURA 83

6.1. A Importância Económica do Sector no Contexto Internacional 83– Breve caracterização e Principais Tendências

6.2. Comércio Internacional 87

6.3. A Importância Económica do Sector no País e na Região 93

6.3.1. Dimensão Económica 93

6.3.2. Qualificações dos Recursos Humanos 96

6.4. Caracterização, Diagnóstico e Perspectivas de Evolução do Sector no Alentejo 98

6.4.1. Caracterização e Desafios do Sector 98

6.4.2. Perspectivas Regionais de Evolução do Sector 100

6.5. Análise das Relações Intersectoriais numa Óptica de Cadeia de Valor 101

6.6. A Inovação no Sector: infraestruturas de suporte e identificação 105de necessidades competitivas

6.7. Análise SWOT: Sistematização da situação actual e configuração dos principais 108desafios e linhas de acção

81IICD

Augusto Mateus & Associados, Sociedade de Consultores

Page 4: Vitivinicultura 06 A/F - CCDRA

ÍNDICE DE QUADROS

pág.

Quadro 6-1: Evolução das Superfícies Mundiais de Vinha: Principais Países (1000 Ha) 84

Quadro 6-2: Evolução das Produções Mundiais de Vinho: Os 12 Principais Países Produtores (1000 Hl) 85

Quadro 6-3: Evolução do Consumo Global de Vinho no Mundo (1000 Hl) 86

Quadro 6-4: Os doze principais exportadores mundiais de vinho (1000 Hl) 88

Quadro 6-5: Estrutura das importações portuguesas do sector da vitivinicultura por produtos 90

Quadro 6-6: Estrutura das exportações portuguesas do sector da vitivinicultura por produtos 90

Quadro 6-7: Os principais países de destino dos vinhos alentejanos (Hl) 93

Quadro 6-8: O Peso da vitivinicultura nas NUTS III do Alentejo (% emprego do Sector) 94

Quadro 6-9: Trabalhadores e estabelecimentos do sector da vitivinicultura na região do Alentejo 94

Quadro 6-10: Produção de vinho por região vitivinícola portuguesa (1000 Hl) 95

Quadro 6-11: Comercialização de Vinhos DOC e REGIONAL no mercado nacional: 96

Segmentos de Consumo Imediato e Take Home

Quadro 6-12: Estrutura de habilitações na região do Alentejo e no país 97

Quadro 6-13: Estrutura de qualificações na região do Alentejo e no país 97

Quadro 6-14: Superfície de vinha por região vitivinícola portuguesa (1000 Ha) 98

Quadro 6-15: Sectores Fornecedores e Sectores Clientes da Vitivinicultura 102

Quadro 6-16: O Peso dos Produtos a Montante e dos Ramos a Jusante da Vitivinicultura 104

ÍNDICE DE GRÁFICOS

Gráfico 6-1: Estrutura das exportações portuguesas do sector da vitivinicultura por países de destino 87

Gráfico 6-2: Estrutura das importações portuguesas do sector da vitivinicultura por países de origem 89

Gráfico 6-3: Taxa de cobertura do sector das bebidas e líquidos alcoólicos (1) no país e na região do Alentejo 91

Gráfico 6-4: Importância relativa da estrutura exportadora e importadora do sector das bebidas 92

e líquidos alcoólicos (1) na região do Alentejo

82IICD

Plano Regional de Inovação do Alentejo

Page 5: Vitivinicultura 06 A/F - CCDRA

6. VITIVINICULTURA

6.1. A Importância Económica do Sector no Contexto Internacional – Breve caracterização ePrincipais Tendências

O sector vitivinícola europeu possui uma dimensão mundial, estando a União Europeia (UE) na frentedos principais indicadores, pois para além de primeiro produtor e consumidor mundial de vinho, étambém o maior protagonista no comércio internacional. Segundo os dados mais recentes (2001) de umadas principais fontes estatísticas utilizadas para caracterizar o contexto vitivinícola global, o OfficeInternational de la Vigne et du Vin (OIV), as vinhas da UE representam 45% das superfícies vitícolas doglobo e asseguram 59% da produção mundial de vinho, enquanto o consumo comunitário representa56% do consumo mundial.

A importância económica do sector vitivinícola no seio da UE é bem visível: segundo dados do Eurostat,as vinhas cobrem cerca de 3,6 milhões de hectares, ou seja, 2,6% da Superfície Agrícola Útil (SAU) dacomunidade e os vinhos e mostos representam um pouco mais de 6% da sua Produção Final Agrícola(PFA). Em Portugal, o sector dos vinhos e mostos representa cerca de 17% da sua PFA, sendo o sectormais importante dentro da produção vegetal.

Os principais países vitivinícolas do mundo são a Espanha, a França e a Itália. Os três países, emconjunto, representam cerca de 40% e 85% da vinha mundial e da UE, respectivamente. Em termos deprodução de vinho, a representatividade é da ordem dos 50% e 85% ( Quadro 6-1 e Quadro 6-2 ).

A Espanha, ocupando a primeira posição em superfície de vinha (16% da superfície mundial), asseguracerca de 12% da produção do mundo, atrás da França e da Itália. Estes dois países, cada um com cercade 12% dos vinhedos e 20% da produção de vinho, alternam o primeiro e segundo lugares, consoanteos anos, do ranking mundial em volume de produção. Todos os outros países produtores do globorepresentam, cada um, menos de 10% da produção mundial. A seguir ao trio europeu da frente, surgemdois países do continente americano: os Estados Unidos (7% da produção global), onde a quasetotalidade da sua produção é proveniente da Califórnia, e a Argentina (6%). Quanto a Portugal,representa 3% do vinhedo e da produção mundial de vinho, ocupando a 9ª posição no mundo e a 5ª naUE, em termos de volume de produção.

83IICD

Augusto Mateus & Associados, Sociedade de Consultores

Page 6: Vitivinicultura 06 A/F - CCDRA

QUADRO 6-1:

Evolução das Superfícies Mundiais de Vinha: Principais Países (1000 Ha)

Fonte: Elaborado pela equipa de projecto, com base em dados do OIV

No que concerne ao tipo de vinho, embora as superfícies de vinha consideradas aptas a produzirem“vinho de qualidade” sejam bastante diferentes entre os Estados membros da UE, os denominadosVQPRD’s (Vinhos de Qualidade Produzidos em Região Determinada) representam, em média, entre 40%e 45% da produção anual da comunidade.

Em termos de evolução do potencial produtivo, constata-se uma tendência decrescente a nível global(reduções de 1986 a 2001, de 11% e 13 % em superfície de vinha e produções de vinho,respectivamente), existindo, no entanto, uma certa estabilização nos anos mais recentes. Mas a situaçãovaria consoante os continentes e os países, pois enquanto na Europa e no espaço da UE se regista, parao mesmo horizonte temporal, uma diminuição continuada e mais forte de superfícies e volumes deprodução, nos designados “novos países produtores”, nomeadamente Estados Unidos, Argentina, Chile,Austrália e África do Sul, as superfícies vitícolas e as produções de vinho continuam a aumentarsignificativamente (Quadro 6-1 e Quadro 6-2). Em década e meia os países da União Europeia viramreduzir a sua superfície de vinha em 586 mil hectares, ao passo que os cinco novos países produtores aaumentaram em 191 mil hectares. Importa salientar que actualmente estes cinco “novos produtores”estão entre os doze maiores produtores mundiais de vinho, dos quais fazem parte ainda seis países daUnião Europeia, mais um outro país emergente que também tem vindo a ganhar terreno em termos deprodução, a China.

84IICD

Plano Regional de Inovação do Alentejo

Page 7: Vitivinicultura 06 A/F - CCDRA

QUADRO 6-2:

Evolução das Produções Mundiais de Vinho: Os 12 Principais Países Produtores (1000 Hl)

Fonte: Elaborado pela equipa de projecto, com base em dados do OIV

A consequência final desta dinâmica evolutiva, consubstanciada num decréscimo de superfícies e deproduções, menos acentuado na totalidade do globo que na UE, traduz-se na perda de peso da produçãocomunitária no mundo: de 62% passou, em década e meia, para 59%.

Ainda no âmbito deste contexto de produção global tendencialmente decrescente, convém referir umadinâmica evolutiva de sinal contrário, decorrente da reclassificação de certos “vinhos de mesa” e dareconversão de superfícies: o aumento gradual da produção dos “vinhos de qualidade”. Este facto éreflexo da evolução do mercado, onde o consumo de vinhos de mesa está a diminuir e o consumo devinhos de qualidade a aumentar.

No que concerne ao consumo, é no continente europeu que se bebe mais vinho: mais de dois terços doconsumo mundial. Só o bloco da UE representa cerca de 56%, sendo seguido, a larga distância, pelaAmérica com 19% do total mundial (ver quadro seguinte). Por países, a França (15%), a Itália (13%) e osEUA (10%), são os maiores consumidores do mundo. Espanha (6%) e Portugal (2%) ocupam,respectivamente, a 6ª e 10ª posições.

A evolução do consumo global, a nível mundial, evidencia uma forte tendência decrescente: em décadae meia diminuiu 5%, ou seja, cerca de 12 milhões de hectolitros. No entanto, nos anos mais recentes atendência é para a estabilização do consumo (ver os três últimos anos do Quadro 6-3). Registe-se quenos últimos quinze anos a África, a Oceânia e, principalmente, a Ásia, tiveram subidas significativas noconsumo.

85IICD

Augusto Mateus & Associados, Sociedade de Consultores

Page 8: Vitivinicultura 06 A/F - CCDRA

QUADRO 6-3:

Evolução do Consumo Global de Vinho no Mundo (1000 Hl)

Fonte: Elaborado pela equipa de projecto, com base em dados do OIV

Em termos de consumo per capita, segundo a mesma fonte estatística, os quatro países latinos - França(57 litros / habitante / ano), Itália (53), Portugal (47) e Espanha (35) - e o Luxemburgo (59) e a Áustria(31), estão, mundialmente, na linha da frente em termos de consumo per capita. Estes países, juntamentecom a Argentina (42 litros), a Suíça (41), o Uruguai (31) e a Hungria (30), formam o grupo dos dezmaiores consumidores de vinho, per capita, do mundo.

Por seu turno, a evolução do consumo per capita, é bastante heterogénea. Os grandes produtoresmundiais apresentam consumos por habitante elevados, mas decrescentes (França, Itália, Espanha,Portugal). Os não produtores têm baixos consumos por habitante, mas com altas taxas de crescimento(países nórdicos, Irlanda, Reino Unido, Holanda...).

Ainda no âmbito da análise da evolução do consumo, será importante referir uma alteração histórica queteve lugar a partir do início da década de oitenta: o vinho, associado tradicionalmente a um “consumoalimentar”, transformou-se gradualmente em “consumo de prazer”. Os consumidores tornaram-se maisexigentes, passando a beber menos quantidade mas muito melhor qualidade. Este fenómeno teve comoconsequência a clivagem do mercado do vinho em dois mercados de tendências divergentes: o mercadodos vinhos de mesa, em regressão, e o mercado dos vinhos de qualidade, em expansão.

Finalmente, importa salientar um outro factor importante que poderá também ter contribuído para adesaceleração da queda do consumo de vinho: a divulgação, nos últimos anos, das conclusões dediversos estudos desenvolvidos por especialistas em nutrição e investigação médica, que demonstram osbenefícios para a saúde do consumo moderado de vinho (protecção contra doenças cardiovasculares oudoenças mentais degenerativas, nomeadamente a Alzheimer ou a Parkinson).

86IICD

Plano Regional de Inovação do Alentejo

Page 9: Vitivinicultura 06 A/F - CCDRA

6.2. Comércio Internacional

Relativamente ao comércio internacional, saliente-se que ele envolve cerca de um quarto da produçãomundial de vinho, tendo-se verificado um incremento significativo nos últimos 15 anos, na decorrênciada crescente liberalização do comércio mundial no âmbito dos acordos da Organização Mundial doComércio (OMC).

Dos doze principais países exportadores, cinco pertencem à UE15, sendo esta responsável por 70% dasexportações e 62% das importações mundiais de vinho. Os três maiores exportadores são a Itália, aFrança e a Espanha, representando quase dois terços das exportações mundiais – ver Quadro 6-4.Portugal é o nono maior exportador mundial com cerca de 3%, tendo como principais clientes a França(responsável por 21,6% do total das exportações nacionais de vinho) e o Reino Unido (que responde por15,2% do total das exportações nacionais do sector) – ver Gráfico 6-1.

No seio da rede de principais relações de exportação nacionais de vinhos assumem também um lugar dedestaque diversos parceiros comunitários designadamente a Bélgica (9,2%), os Países Baixos (8,7%), osEUA (8,3%), a Espanha (6,1%) e a Alemanha (5,5%).

GRÁFICO 6-1:

Estrutura das exportações portuguesas do sector da vitivinicultura por países de destino

Fonte: Elaborado pela equipa de projecto, com base nas Estatísticas de Comércio Internacional, INE, 2000

87IICD

Augusto Mateus & Associados, Sociedade de Consultores

Page 10: Vitivinicultura 06 A/F - CCDRA

Ainda no âmbito dos principais exportadores mundiais, convém chamar a atenção para os desempenhosdos, denominados, “produtores do novo mundo”. Com efeito, as exportações dos Estados Unidos,Argentina, Chile, Austrália e África do Sul, têm registado um crescimento muito superior ao dos outrospaíses exportadores. Enquanto as exportações mundiais cresceram 50% em volume entre 1986 e 2001,no mesmo período os “produtores do novo mundo” cresceram 827%, contra 30% dos paísesexportadores da UE. Como grande parte do acréscimo das exportações desses novos países tem comodestino a UE, os produtores europeus acabam por sofrer duplamente os efeitos concorrenciais: nosmercados externos e no seu próprio território. No computo geral, os cinco “novos produtores”,articulando menores custos de produção com maiores produtividades, passaram, na última década emeia, de uma quota mundial na exportação de 3% para 19%, enquanto os paísesprodutores/exportadores da UE, sujeitos às regras estritas de uma Organização Comum de Mercado doVinho (OCMV), reduziram a sua quota de 78% para 68%.

QUADRO 6-4:

Os doze principais exportadores mundiais de vinho (1000 Hl)

Fonte: Elaborado pela equipa de projecto, com base em dados do OIV

88IICD

Plano Regional de Inovação do Alentejo

Page 11: Vitivinicultura 06 A/F - CCDRA

No que concerne às importações, segundo a mesma fonte estatística, os três primeiros importadoresmundiais também pertencem à União Europeia: Alemanha (11.778 mil hl em 2001), Reino Unido(10.161) e França (5.136). Em conjunto, representam cerca de 40% do volume mundial e as suasimportações têm aumentado. Os Estados Unidos (4.688 mil hl), único país importador dos designadosnovos produtores, surge como 4º importador mundial com cerca de 6%. Portugal não é um paísimportador de relevo, pelo que o seu saldo do comércio externo de vinho se apresenta semprelargamente positivo.

No entanto, a estrutura importadora de Portugal no sector dos vinhos revela um acentuado grau deconcentração geográfica ao nível dos mercados de abastecimento dos fluxos desta natureza, uma vez quea Espanha e o Reino Unido respondem por cerca de 72,2% do total das importações nacionais do sector.Na rede de relações de comércio internacional do sector assumem também pesos consideráveis nasimportações nacionais: a Itália (responsável por cerca de 13,8% das importações nacionais do sector) ea França (8,1%) – ver Gráfico 6-2.

GRÁFICO 6-2:

Estrutura das importações portuguesas do sector da vitivinicultura por países deorigem

Fonte: Elaborado pela equipa de projecto, com base nas Estatísticas de Comércio Internacional, INE, 2000

89IICD

Augusto Mateus & Associados, Sociedade de Consultores

Page 12: Vitivinicultura 06 A/F - CCDRA

Colocando o foco da análise na estrutura das importações portuguesas do sector da vitivinicultura, porprodutos, verifica-se que as principais importações nacionais do sector dizem respeito a aguardentes,licores e outras bebidas espirituosas (46,2%) e a vinhos de uvas frescas (44%). Por seu turno, os fluxosde exportação nacionais do sector concentram-se, na sua esmagadora maioria, em vinhos de uvasfrescas (responsáveis por cerca de 93,4% do total das exportações nacionais do sector) – ver Quadro 6-5e Quadro 6-6.

QUADRO 6-5:

Estrutura das importações portuguesas do sector da vitivinicultura por produtos

Fonte: Elaborado pela equipa de projecto, com base nas Estatísticas de Comércio Internacional, INE, 2000

QUADRO 6-6:

Estrutura das exportações portuguesas do sector da vitivinicultura por produtos

Fonte: Elaborado pela equipa de projecto, com base nas Estatísticas de Comércio Internacional, INE, 200090IICD

Plano Regional de Inovação do Alentejo

Page 13: Vitivinicultura 06 A/F - CCDRA

O sector das bebidas e líquidos alcoólicos é largamente excedentário nas suas relações de comérciointernacional, quer ao nível nacional – taxa de cobertura das exportações pelas importações de cerca de159% - quer quando se particulariza a análise para a região do Alentejo – a qual evidencia uma taxa decobertura de cerca de 622%. Deste modo, o sector das bebidas e líquidos alcoólicos assume-se como umsector exportador líquido, contrastando o seu posicionamento, como tal, com os comportamentosdeficitários evidenciados pela região do Alentejo e pelo espaço nacional nas suas estruturas globais decomércio internacional – ver Gráfico 6-3.

GRÁFICO 6-3:

Taxa de cobertura do sector das bebidas e líquidos alcoólicos (1) no país e na região doAlentejo

Fonte: Elaborado pela equipa de projecto, com base nas Estatísticas de Comércio Internacional, INE, 2000

Nota: (1) Por motivos de falta de desagregação estatística dos produtos comercializados ao nível de NUTS II, as taxas de coberturaapresentadas referem-se ao sector das bebidas, líquidos alcoólicos e vinagres

No que concerne à importância relativa da estrutura exportadora e importadora do sector das bebidas edos líquidos alcoólicos, na região do Alentejo, constata-se que o sector é responsável por cerca de 0,5%do total da estrutura exportadora da região e por, apenas, cerca de 0,04% da respectiva estruturaimportadora. Por outro lado, verifica-se que o sector das bebidas e líquidos alcoólicos, na região doAlentejo, representa cerca de 1,2% do total de exportações nacionais no sector (ficando aquém do pesototal da região na estrutura exportadora nacional, cerca de 4,9%) e responde, apenas, por cerca de 0,3%

91IICD

Augusto Mateus & Associados, Sociedade de Consultores

Page 14: Vitivinicultura 06 A/F - CCDRA

do total de importações nacionais do sector (ficando, também, aquém do peso do total da região naestrutura importadora nacional, cerca de 7,1%).

GRÁFICO 6-4:

Importância relativa da estrutura exportadora e importadora do sector das bebidas elíquidos alcoólicos (1) na região do Alentejo

Nota: (1) Por motivos de falta de desagregação estatística dos produtos comercializados ao nível de NUTS II, os pesos relativos acima apresentados referem-se ao sector das bebidas, líquidos alcoólicos e vinagres

Fonte: Elaborado pela equipa de projecto, com base nas Estatísticas de Comércio Internacional, INE, 2000

Na região do Alentejo, os volumes exportados, em progressão, representam, consoante os anos, entre 6%e 10% da produção anual da região. Os vinhos são todos exportados em garrafa, sendo cerca de um terçoVQPRD’s e dois terços Vinhos Regionais. Segundo dados fornecidos pela Comissão Vitivinícola RegionalAlentejana (CVRA), em 2003 exportaram-se 13.066 hl de vinhos com denominação de origem (VQPRD-DOC) e 23.928 hl de Vinhos Regionais. Na sua grande maioria tintos (90%), têm como destinoessencialmente os continentes europeu (44% da exportação regional) e americano (40%), ainda queestejam presentes também em África (11%), Ásia (5%) e Oceânia (0,2%).

Por países de destino, os cinco mais relevantes são EUA, Brasil, Suiça, França e Angola, que, emconjunto, representam cerca de dois terços das exportações alentejanas. De referir também a presençados vinhos alentejanos em mercados atractivos, de consumo per capita baixo mas crescente, comoHolanda, Reino Unido, Noruega, Dinamarca e Japão, com volumes entre 1 e 2% do total exportado.

92IICD

Plano Regional de Inovação do Alentejo

Page 15: Vitivinicultura 06 A/F - CCDRA

QUADRO 6-7:

Os principais países de destino dos vinhos alentejanos (Hl)

Fonte: Elaborado pela equipa de projecto, com base em dados CVRA

6.3. A IMPORTÂNCIA ECONÓMICA DO SECTOR NO PAÍS E NA REGIÃO

6.3.1. Dimensão Económica

No que respeita à composição da superfície agrícola útil, segundo dados do INE, no Alentejo dominamas culturas temporárias (29%), as pastagens permanentes (25%) e os pousios (37%). As culturaspermanentes são representadas por uma reduzida percentagem de área (9%) e dentro deste grupo a vinhatem uma pequena representatividade. De entre as culturas temporárias, destacam-se os cereais queanualmente ocupam cerca de 15% da SAU do Alentejo. A vinha é explorada em mais de 4.000explorações agrícolas, representando cerca de 12% do total das explorações da região e ocupa uma áreade 20.760 hectares, a qual corresponde a 14% da área ocupada pelas culturas permanentes.

93IICD

Augusto Mateus & Associados, Sociedade de Consultores

Page 16: Vitivinicultura 06 A/F - CCDRA

Em termos nacionais, a cultura da vinha no Alentejo tem uma expressão reduzida; não vai além dos 8,6%da área vitícola portuguesa (Quadro 6-8) e representa apenas 1,7% do número de explorações vitícolasnacionais. Estes dois últimos aspectos evidenciam que, no Alentejo, a área média da vinha porexploração (4,9 ha) é superior à média nacional (0,9 ha).

A vitivinicultura está disseminada por quase toda a região alentejana (com excepção do Alentejo Litoral)e, apesar de ter um peso relativamente fraco em termos de número de trabalhadores e deestabelecimentos (Quadro 6-8 e Quadro 6-9), tem uma importância económica primordial. Representapara a grande maioria dos mais de 4.000 viticultores a fonte principal de rendimentos, numa das regiõesmais pobres da União Europeia e em processo de desertificação humana. De referir que nos últimos anos,em alguns casos, se tem revelado como uma cultura alternativa, pois os agricultores alentejanos nãoviticultores, pressionados por um decréscimo de rendimento nos cereais e na pecuária apostaram navitivinicultura. O próprio poder político (Ministério da Agricultura) encorajou tal opção, ao entender quea alternativa mais aceitável a esta quebra de rendimentos seria a vitivinicultura, criando condições paraa transferência de direitos de plantação de vinha de outras regiões para o Alentejo. As condições naturaissão tidas como boas, a organização institucional regional é exemplar e o mercado existe e respondemuito favoravelmente. O resultado foi um crescimento muito acentuado da superfície de vinha, numperíodo de tempo muito curto: em cerca de quatro anos cresceu aproximadamente 54%.

QUADRO 6-8:

O Peso da vitivinicultura nas NUTS III do Alentejo (% emprego do Sector)

Fonte: Elaborado pela equipa de projecto, com base em dados dos Quadros de Pessoal do Ministério do Trabalho 2001

QUADRO 6-9:

Trabalhadores e estabelecimentos do sector da vitivinicultura na região do Alentejo

Fonte: Elaborado pela equipa de projecto, com base nas Estatísticas dos Quadros de Pessoal do Ministério do Trabalho, 2000

94IICD

Plano Regional de Inovação do Alentejo

Page 17: Vitivinicultura 06 A/F - CCDRA

O conjunto de indicadores apresentados são elucidativos da reduzida importância quantitativa destaactividade, comparativamente com outras regiões que apresentam áreas (Quadro 6-14) e produções(Quadro 6-10) muito maiores que as do Alentejo.

QUADRO 6-10:

Produção de vinho por região vitivinícola portuguesa (1000 Hl)

Fonte: Elaborado pela equipa de projecto, com base em dados do IVV

O país está actualmente subdividido em dez regiões vitivinícolas, com importância diferenciada emtermos de quantidade e qualidade de vinho.

O Alentejo é a 6ª região vitivinícola nacional em termos quantitativos, representando cerca de 9% daprodução nacional de vinho. No entanto é líder de mercado nos segmentos de vinhos de qualidade(VQPRD e Vinho Regional), segundo dados recentemente apresentados pelo estudo de mercadoefectuado pela ACNielsen, intitulado “Índice Nielsen – Vinhos de Qualidade”1. A posição de líder foireforçada de 2002 para 2003, tanto na categoria de vinhos DOC como na categoria de vinhos Regionais(Quadro 6-11).

1 Estudo solicitado pela Associação Nacional das Denominações de Origem Vitivinícolas (ANDOVI)

95IICD

Augusto Mateus & Associados, Sociedade de Consultores

Page 18: Vitivinicultura 06 A/F - CCDRA

QUADRO 6-11:

Comercialização de Vinhos DOC e REGIONAL no mercado nacional:

Segmentos de Consumo Imediato e Take Home

Fonte: Painel ACNielsen – Índice Nielsen – Vinhos de Qualidade, 2004

Em suma, os vinhos do Alentejo mantêm a liderança do mercado nacional, bastante acima de qualqueroutra região, com uma quota global próxima dos 46%, sendo de longe o vinho preferido dos portuguesese o único que, no computo das duas categorias, cresceu 5,5 p.p., enquanto os vinhos de todas as outrasregiões vitivinícolas decresceram de 2002 para 2003. Este facto reforça a constatação de que a“dimensão” económica do sector vitivinícola alentejano advém da sua supremacia qualitativa, geradorade quotas de mercado crescentes e de valor acrescentado significativo para a região.

6.3.2. Qualificações dos Recursos Humanos

Os indicadores constantes no Quadro 6-12 e Quadro 6-13 permitem constatar a debilidade do potencialdos recursos humanos do Alentejo, tanto em termos de estrutura produtiva global como do próprio sectorvitivinícola: níveis de escolaridade piores que os do país, com especial relevância para os níveissuperiores, nomeadamente “ensino secundário” e “ensino superior”.

96IICD

Plano Regional de Inovação do Alentejo

Page 19: Vitivinicultura 06 A/F - CCDRA

QUADRO 6-12:

Estrutura de habilitações na região do Alentejo e no país

Fonte: Elaborado pela equipa de projecto, com base nas Estatísticas dos Quadros de Pessoal do Ministério do Trabalho, 2000

Se cruzarmos estes indicadores com a estrutura de qualificações profissionais, o panorama não melhora:a estrutura produtiva global do Alentejo apresenta um peso inferior, relativamente às médias nacionais,nos estratos sócio-profissionais mais qualificados, nomeadamente “quadros médios e superiores” (13,6%no Alentejo contra 15,4% no país) e “profissionais qualificados e altamente qualificados” (40,7% contra46,5%). A situação dos mesmos estratos sócio-profissionais para o sector vitivinícola é sensivelmente piore o estrato de “profissionais não qualificados e semiqualificados” apresenta um peso consideravelmentesuperior, ou seja, cerca de 80% na região contra 60% no país.

QUADRO 6-13:

Estrutura de qualificações na região do Alentejo e no país

Fonte: Elaborado pela equipa de projecto, com base nas Estatísticas dos Quadros de Pessoal do Ministério do Trabalho, 2000

97IICD

Augusto Mateus & Associados, Sociedade de Consultores

Page 20: Vitivinicultura 06 A/F - CCDRA

6.4. CARACTERIZAÇÃO, DIAGNÓSTICO E PERSPECTIVAS DE EVOLUÇÃO DOSECTOR NO ALENTEJO

6.4.1. Caracterização e Desafios do Sector

No Alentejo existiam oito zonas vitivinícolas regulamentadas para a produção de VQPRD’s:

As cinco mais antigas (Portalegre, Borba, Redondo, Reguengos e Vidigueira), criadas em 1988(Dec.Lei 349/88), estavam qualificadas como «DOC»;

As três mais recentes (Évora, Granja/Amareleja e Moura), criadas em 1991 (Portaria 943/91),estavam qualificadas como «IPR».

Por iniciativa da CVRA e em conformidade com as expectativas dos vitivinicultores alentejanos e arealidade do mercado, as oito zonas foram oficialmente (Dec.Lei-265/98) consideradas sub-regiões denuma única região demarcada, a «DOC Alentejo». Assim, actualmente todos os VQPRD’s alentejanos sãocomercializados com a menção «DOC Alentejo», podendo utilizar, em complemento, o nome da sub-região de origem.

Na região Alentejo, a superfície de vinha cresceu acentuadamente nos últimos anos (54%), representandoos seus 20.760 hectares cerca de 9% do vinhedo nacional. Para a produção de VQPRD estão adstritoscerca de 43% dos hectares.

QUADRO 6-14:

Superfície de vinha por região vitivinícola portuguesa (1000 Ha)

Fonte: Elaborado pela equipa de projecto, com base em dados do IVV

98IICD

Plano Regional de Inovação do Alentejo

Page 21: Vitivinicultura 06 A/F - CCDRA

Com uma produção a rondar os 600 mil hectolitros, conforme referido neste relatório (Quadro 6-10), oAlentejo representa cerca de 9% do total nacional. O vinho “VQPRD” produzido pela primeira vez em1989 e que, na altura, representava cerca de 20% da produção regional, representa hoje cerca de 48%.A categoria “Vinho Regional Alentejano” representa, por sua vez, cerca de 50%, pelo que a categoria demais baixa qualidade, o “Vinho de Mesa” tem um peso residual (2%).

O conjunto de indicadores apresentados é elucidativo da fraca importância quantitativa desta actividade,comparativamente com outras regiões do país, que possuem áreas e produções muito superiores. Noentanto, convém reforçar que não é o factor quantitativo que dá notoriedade aos vinhos do Alentejo, massim a imagem de qualidade que lhe está associada e é reconhecida. Ainda que seja difícil medir aimagem de qualidade de um vinho, parece levantar poucas reticências que se utilize, para o efeito, doisindicadores: o reconhecimento pelo consumidor, traduzido num índice de preferências, e oreconhecimento pelo mundo institucional vitivinícola, traduzido nas classificações de colheitas feitasanualmente pela Câmara de provadores do IVV e nos prémios ganhos em concursos oficiais, quer nopaís, quer no estrangeiro. Quanto ao primeiro indicador, ele revela que os vinhos do Alentejo lideram aspreferências dos consumidores (cf. painel Nielsen, 2004). No que concerne ao segundo indicador, eletem revelado alguma supremacia qualitativa da classificação, ao longo do tempo, das colheitas doAlentejo sobre as de outras regiões vitivinícolas (com pontuações globais e médias nitidamentesuperiores), com resultados de relevo em concursos nacionais e internacionais, onde frequentemente osvinhos alentejanos surgem nas primeiras posições.

Esta preocupação com a qualidade foi incutida desde início (anos sessenta) pelas adegas cooperativasregionais. Posteriormente, os produtores privados, estimulados pelo êxito da produção cooperativa,empenharam-se também em melhorar a qualidade dos vinhos. A partir de 1992, a produção de «Vinhode Mesa» indiferenciado quase desaparece e as categorias de vinho certificado, «VQPRD» e «VinhoRegional», passaram a representar mais de 95% do vinho produzido na região.

O Alentejo é considerado unanimemente na vitivinicultura como uma das regiões que melhor se soubereestruturar e modernizar desde a adesão do país à CEE, sendo esse êxito atribuído ao funcionamentointegrado das instituições, que souberam incentivar e conduzir uma dinâmica de investimentos, onde areestruturação e plantação de novas vinhas, a par da construção de modernas adegas, potenciaram aqualidade e a produção de vinhos melhor adaptados aos padrões de consumo.

Em complemento da produção vinícola, foi ainda desenvolvida a vertente do enoturismo, nomeadamenteatravés da criação, já na segunda metade da década de noventa, da Rota dos Vinhos do Alentejo. Estainiciativa, actualmente com três percursos definidos (rota de S. Mamede, rota Histórica e rota doGuadiana), procurando aproveitar as potencialidades turísticas oferecidas pela região, ao mesmo tempoque dá uma perspectiva da realidade cultural e patrimonial existente, possibilita um conhecimento maisamplo da temática vitivinícola a visitantes nacionais e estrangeiros, potenciando o conhecimento e,consequentemente, a compra de vinhos.

No Alentejo, o sector cooperativo e a maioria dos agentes privados organizaram as suas actividadessegundo uma lógica de integração vertical, desde a produção de uva até à distribuição, permitindo-lhes

99IICD

Augusto Mateus & Associados, Sociedade de Consultores

Page 22: Vitivinicultura 06 A/F - CCDRA

um melhor controlo técnico, uma maior protecção do “know how” e um maior domínio sobre os ganhosde produtividade ao longo de toda a fileira, para daí retirarem os benefícios correspondentes.

Do exposto e se atendermos à lógica do modelo das cinco forças competitivas de Porter, pode-se inferirque o sector vitivinícola do Alentejo é atractivo. A favor tem a fraca pressão de fornecedores (forteintegração a montante) e clientes (grande atomicidade), assim como a existência de grandes barreiras àentrada. A atractividade é ainda favorecida pelo consumo crescente de vinhos de qualidade. A seudesfavor, tem a pressão dos produtos substitutos (cerveja, água mineral, refrigerantes, vinhos leves) e aforte competição intra-sectorial (sector muito fragmentado e com elevadas barreiras à saída).

Por fim será importante referir que existe uma lógica de cluster verticalizada no sector vitivinícola doAlentejo, pois a maioria das empresas integra grande parte das actividades que constituem a fileira,nomeadamente explorações vitícolas, produção de vinho e distribuição, o mesmo não se poderá dizerem relação a uma óptica horizontal de cluster regional, pois a maioria das empresas vitivinícolasdesenvolvem relações com as outras indústrias de apoio (máquinas e equipamentos, tipografia, design,vidro, rolhas...), mas estas estão normalmente sedeadas fora da região.

6.4.2. Perspectivas Regionais de Evolução do Sector

Apesar da vitivinicultura alentejana ter apresentado um crescimento exponencial nos últimos anos, querem termos de superfícies de vinha, quer de produções de vinho, quer de novos produtores, será de preverque o crescimento continuará, pois, por um lado a região continua aberta à transferência de plantaçõesde outras regiões e, por outro, algumas das vinhas novas iniciarão a sua fase de produção. No entanto,perspectiva-se uma desaceleração gradual desse crescimento até à estabilização da área total de vinhana ordem dos 23.000 hectares.

A competição entre os agentes económicos do sector será cada vez mais intensa pela conquista de quotasde mercado. Será importante não esquecer que estamos perante um sector tradicional, em plena fase dematuridade, onde ganhar mercado é cada vez mais difícil. Apesar dos produtores alentejanos se teremposicionado no segmento certo, ou seja no segmento de vinhos de qualidade, cujo consumo aindaapresenta uma ligeira tendência crescente, será de salientar que o mercado interno já tem pouca margemde progressão.

Neste contexto, a aposta acrescida em mercados externos bem focalizados (com consumos per capitacrescentes) e na inovação em todas as suas vertentes (produção, marketing, rótulos, embalagem,promoção, processos de gestão), serão os grandes factores críticos de sucesso do sector. A par de tudoisto, será de prever a continuidade de um controlo de qualidade cada vez mais rigoroso da parte do“edifício” institucional. Será ainda de prever que, por precaução, os produtores atenuem o desequilíbrioactualmente existente, em termos produtivos, entre o vinho tinto e o vinho branco, para estaremminimamente preparados para reagir a eventuais mudanças nos hábitos ou modas de consumo,actualmente favoráveis aos vinhos tintos.

100IICD

Plano Regional de Inovação do Alentejo

Page 23: Vitivinicultura 06 A/F - CCDRA

6.5. Análise das Relações Intersectoriais numa Óptica de Cadeia de Valor

O estudo das relações intersectoriais da Vitivinicultura implica, à semelhança do que é feito nas outraspartes sectoriais integrantes do estudo, a análise, assente no QRE, das compras efectuadas por umdeterminado ramo económico relativamente a outras actividades. No entanto, a Vitivinicultura possuicaracterísticas cuja arrumação no léxico da Classificação da Actividades Económicas (CAE) implica acontemplação de três actividades CAE a 5 dígitos – 01132 (viticultura), 15931 (produção de vinhoscomuns e licorosos) e 15932 (produção de vinhos espumantes e espumosos) – as quais, por seu turno,encontram estreita ligação com dois ramos económicos do QRE – o Ramo 01 (agricultura, produçãoanimal, caça e actividades dos serviços relacionados) e o Ramo 15 (indústrias alimentares e das bebidas).A utilização de qualquer um destes ramos para o estudo das relações inter-sectoriais da Vitiviniculturaimplica um rigor metodológico de abordagem sob pena de se extrapolarem conclusões que se verificama um nível mais agregado mas que podem não se verificar ao nível mais específico. Por tudo isto,entendemos não repetir o estudo das compras e vendas do Ramo 01, já que o mesmo já foi efectuadoaquando do estudo da agricultura, e proceder a uma análise orientada para Ramo 15, mas cujo enfoqueincide apenas nos aspectos que se consideram relevantes para a actividade vitivinícola, mais uma vezcom a preocupação de não repetir a análise realizada para as indústrias agro-alimentares.

Assim sendo, o estudo das relações de cadeia de valor que a Vitivinicultura (considerada, para efeito destaanálise, como uma proxy ao Ramo 15 - indústrias alimentares e das bebidas) estabelece a montante da suaactividade com outros sectores (fornecedores), permite aferir a existência de uma intensidade relacionalmuito acentuada com tipos de produtos que constituem matérias primas para a sua actividade, como aclasse de produtos 0113012 (outras uvas, frescas), que representam 2,5% das compras do Ramo 15.

Nesta análise das relações a montante da Vitivinicultura, torna-se ainda possível aquilatar o pesoimportante que os fornecimentos intermédios e os serviços de suporte empresarial detêm enquantosectores fornecedores, ao representarem, respectivamente, 7,1% e 6,7% das compras do Ramo 15.Destacam-se, nos inputs intermédios, sobretudo, o vidro de embalagem e cristalaria (CAE 2613),destinado ao engarrafamento das produções vitivinícolas, os artigos de papel e cartão (212) e asembalagens de matérias plásticas (2522), relacionadas com o acondicionamento, embalagem erotulagem das garrafas de vinho. Nos serviços de suporte empresariais, por seu turno, distinguem-se apublicidade (744) e os serviços jurídicos, contabilísticos, de auditoria, de consultoria fiscal, de estudosde mercado (741), estando a primeira associada a tentativas de conquista de consumidores e de criaçãode imagens de marca e os segundos a estratégias de acompanhamento do mercado.

A Vitivinicultura revela também um intenso nível de relações intra-sectoriais, a montante, cujo conteúdose reveste de produtos como 1583 (açúcar) e 1593124 (mostos). A jusante, as relações intra-sectoriaisrevelam um grau acentuado de interdependência sectorial, com Vitivinicultura (considerada como proxydo Ramo 15) a registar um peso de 46,4% nas vendas do próprio sector.

No que concerne às actividades situadas a jusante Vitivinicultura, verifica-se que um dos principaissectores clientes desta actividade é o ramo 55 (alojamento e restauração), canal de escoamento e via decomercialização acentuada dos vinhos produzidos, ao representar 21,4% das vendas do Ramo 15.

101IICD

Augusto Mateus & Associados, Sociedade de Consultores

Page 24: Vitivinicultura 06 A/F - CCDRA

QUADRO 6-15:

Sectores Fornecedores e Sectores Clientes da Vitivinicultura

Fonte: Augusto Mateus & Associados, com base em dados do QRE.

102IICD

Plano Regional de Inovação do Alentejo

Page 25: Vitivinicultura 06 A/F - CCDRA

Considerando como objecto de análise os produtos que, de acordo com as relações identificadas peloQRE, se situam a montante da Vitivinicultura, constata-se que nenhuma das actividades mencionadascomo estando relacionada com este sector - 0113012 (outras uvas, frescas), 1583 (açúcar), 1593124(mostos), 2613 (vidro de embalagem e cristalaria), 212 (artigos de papel e cartão), 2522 (embalagens dematérias plásticas), 744 (publicidade) e 741 (serviços jurídicos, contabilísticos, de auditoria, deconsultoria fiscal, de estudos de mercado) - cumpre simultaneamente os três critérios definidos –especialização, relevância regional e relevância nacional – em qualquer das regiões NUTS III doAlentejo. Mais, nenhuma destas regiões apresenta, sequer, especialização produtiva nas actividades1583, 212, 2613 e 741 e, relativamente às restantes, verifica-se que o Alto Alentejo é especializado emembalagens de matérias plásticas (2522) e em publicidade (744), enquanto o Alentejo Central éespecializado em mostos (1593124), outras uvas, frescas, (0113012) e publicidade (744).

No que se refere aos ramos, que segundo o QRE, se situam a jusante da Vitivinicultura, é possível aferirque apenas o ramo 01 (agricultura, produção animal, caça e actividades dos serviços relacionados)cumpre os três critérios nas quatro NUTS III do Alentejo. Saliente-se, igualmente que o ramo 55(alojamento e restauração) cumpre os três critérios, no Alentejo Litoral, Alto e Baixo Alentejo.

Em suma, é possível concluir que a cadeia de valor vitivinícola apresenta uma presença no Alentejovincadamente orientada para o cultivo de uva e para a fabricação de mostos, ainda que muito localizadano Alentejo Central, para além da evidência de algumas actividades de publicidade. Ou seja, denota-seuma acentuada ausência de actividades directamente relacionadas com o engarrafamento e embalagemdo vinho, ou ainda, de actividades de maior valor acrescentado, relacionadas com fornecedores deequipamento, serviços de consultoria e estudos de mercado, entre outras. No fundo, tal como se referiuanteriormente, verifica-se para a Vitivinicultura alentejana a necessidade de ganhar massa crítica, não sóem termos de produção mas, principalmente, em termos de aglomeração de actividade inter-relacionadas, que possam beneficiar de economias de aglomeração e lógicas de clusterização.

103IICD

Augusto Mateus & Associados, Sociedade de Consultores

Page 26: Vitivinicultura 06 A/F - CCDRA

QUADRO 6-16:

O Peso dos Produtos a Montante e dos Ramos a Jusante da Vitivinicultura

Fonte: Augusto Mateus & Associados, com base em dados do QRE.

104IICD

Plano Regional de Inovação do Alentejo

Page 27: Vitivinicultura 06 A/F - CCDRA

6.6. A Inovação no Sector: infraestruturas de suporte e identificação de necessidades competitivas

O sector vitivinícola português conta com um importante suporte institucional. De entre as instituiçõesnele envolvidas destacam-se o Instituto da Vinha e do Vinho (IVV), as Comissões Vitivinícolas Regionais(CVR), a Associação Nacional de Denominações de Origem Vitivinícolas (ANDOVI), o ICEP-Investimentos, Comércio e Turismo de Portugal, a Viniportugal, as Direcções Regionais de Agricultura(DRA), o Instituto de Fomento e Apoio ao Desenvolvimento da Agricultura Portuguesa (IFADAP) e oInstituto do Vinho do Porto (IVP), este último vocacionado exclusivamente para a coordenação,fiscalização e certificação da Denominação de Origem Vinho do Porto.

No Alentejo, o sector conta com um conjunto de instituições regionais fortemente empenhadas nodesenvolvimento da sua vitivinicultura. De salientar a acção da ATEVA nas áreas da formaçãoprofissional, experimentação, assistência técnica e promoção; da CVRA na classificação deencepamentos, certificação dos vinhos e acções de marketing; da Confraria dos Enófilos do Alentejo,fundada em 1991, na valorização e divulgação dos vinhos; da Associação dos Jovens Enófilos do Alentejo(AJEA), constituída em 1995, na dinamização de futuras gerações de profissionais e sensibilização aonível do consumo; da DRAA na disponibilização de meios humanos; da Universidade de Évora naformação, investigação e transferência tecnológica; e da Comissão de Coordenação e DesenvolvimentoRegional do Alentejo (CCDRA) que, apesar de não estar directamente vocacionada para apoiaragricultores, quer do ponto de vista técnico quer do ponto de vista económico, tem sido efectivamenteum parceiro muito colaborante no desenvolvimento do sector vitivinícola regional. De entre outrasiniciativas, importa assinalar a sua participação activa na organização de eventos de natureza técnico-científica (simpósios de vitivinicultura) e o seu contributo para a implementação da Rota dos Vinhos doAlentejo. Acresce ainda que a CCDRA, em conjunto com a CVRA e a ATEVA, foi representante, durantealguns anos, do sector vitivinícola português na Assembleia das Regiões Europeias Vitícolas (AREV).

Importa ainda sublinhar a acção conjunta desenvolvida por todas estas instituições, no sentido dasimplificação de processos, funcionalidade organizacional e promoção dos vinhos alentejanos. Estadinâmica tem sido liderada por duas instituições: a CVRA e a ATEVA, tendo a primeira sido reconhecida,em 1997, a nível nacional, com a atribuição do prémio da melhor organização vitivinícola do país e asegunda continuar a ser apontada, unanimemente, como uma referência da vitivinicultura nacional.

No novo contexto competitivo, a informação e as tecnologias a ela associadas são considerados recursosestratégicos, que alimentam o conhecimento e criam condições para a inovação. Possuir bons sistemasde informação, uma comunicação eficaz e desenvolver redes de parcerias, são referenciais capazes deestimular a criatividade e a inovação. Estas são dimensões fundamentais para assegurar vantagenscompetitivas num mundo caracterizado por índices de competitividade e de mobilidade crescentes. Seráimportante sublinhar que este quadro referencial é válido para todos os sectores de actividade, quer setratem de sectores emergentes ou de sectores tradicionais, como é o caso do sector vitivinícola alentejano.

O sucesso competitivo advém da inovação constante, pois esta constitui um dos principais ingredientespara a obtenção de vantagens competitivas sustentáveis. Em termos estratégicos, a inovação pode ser

105IICD

Augusto Mateus & Associados, Sociedade de Consultores

Page 28: Vitivinicultura 06 A/F - CCDRA

definida no mais amplo sentido, incluindo não só novas tecnologias, como também novos métodos defazer as coisas, podendo exprimir-se através de novos produtos, novos processos de produção, novasembalagens de marketing ou novas formas de gestão: pode, desta forma, envolver qualquer actividadeda cadeia de valor.

O sector vitivinícola é aparentemente muito pouco inovador. A história, o conservadorismo, ainsuficiência de investimentos em algumas áreas, a regulamentação de produtos e mercados, o conteúdocultural, social e simbólico do vinho, explicam essa situação. É característica deste sector umacontradição permanente entre tradição e inovação, pois se os grandes vinhos estão normalmenteassociados a uma forte tradição, imperativos de mercado apelam à inovação, ou à resposta a novospadrões de consumo e a novas formas de acesso a mercados.

A inovação neste sector tem-se centrado, essencialmente, nos aspectos produtivos: mecanização davindima, tratamentos fitossanitários, selecção de clones, termovinificação, controlos analíticos emlaboratórios, constituem exemplos de progresso técnico, que têm consubstanciado o melhoramento dosprocessos de elaboração dos vinhos. No que concerne às empresas alentejanas, o desempenho inovadornão foge muito destes parâmetros universais: importante dinâmica inovadora nos aspectos técnico-produtivos, mas dificuldades ao nível do lançamento de produtos inovadores e nos processos comerciais(limitando-se à introdução de algumas marcas novas). Nestes domínios, em concreto, há necessidade demelhorar o design de rótulos e garrafas, focalizar mercados, ganhar massa crítica através de parcerias nacomercialização, operacionalizar as relações entre instituições sectoriais nacionais e empresas e maiorenvolvimento destas em projectos de I&D.

A dinâmica alentejana inovadora na produção deve-se a acções conjuntas de diversas entidades,nomeadamente, a Universidade de Évora, o Instituto Superior de Agronomia, a ATEVA e a CVRA. Estasentidades continuam a trabalhar em projectos de investigação orientados para a pesquisa de clones queoptimizem a produção de uva, para a selecção das castas regionais de maior valor enológico, para ainvestigação de leveduras nativas do Alentejo por forma a optimizar as fermentações a curto prazo, parao desenvolvimento da rega gota a gota e para o combate a pragas.

No que concerne às características do tecido empresarial produtor de vinho alentejano, segundo estudosrecentes2 , a sua composição é reveladora de uma grande diversidade de estatutos jurídicos: 6 adegascooperativas, 2 fundações e cerca de uma quarentena de empresas privadas de diferentes formasjurídicas. Os mesmos estudos permitiram identificar ainda as seguintes características específicas:

2 António de Sousa (2000), «Estratégias empresariais em contexto dinâmico: lógicas de reorganização das empresasvitivinícolas do Alentejo e da Estremadura face à evolução do Mercado Comum Europeu», Tese de Doutoramento,Universidade de Évora.Isabel Valente (2004), «Estratégia Empresarial: contribuição para a análise estratégica das cooperativas vitivinícolas doAlentejo, em contexto de globalização de mercados», Tese de Mestrado (em execução), Universidade de Évora.Rui Ribeiro (2004), «Dinâmicas de internacionalização empresarial, um factor estratégico na construção do futuro:abordagem às empresas vitivinícolas do Alentejo», Tese de Mestrado (em execução), Universidade de Évora.

106IICD

Plano Regional de Inovação do Alentejo

Page 29: Vitivinicultura 06 A/F - CCDRA

A dimensão das empresas é bastante heterogénea pois o seu efectivo de pessoal (com debilidadesem termos de qualificação profissional, cf. Secção 6.3.2 deste trabalho) varia entre 4 e 100empregados e o volume de negócios entre 100 mil euros e 20 milhões de euros. Estes parâmetrosenquadram todas as empresas na categoria de PME, com as pequenas empresas e microempresasa predominarem.

O perfil organizacional das empresas do Alentejo é fortemente vincado pela importância dodirigente de topo e pela interpenetração do sistema de gestão. O dirigente ocupa-se a fundo dequase todos os domínios e centraliza as decisões, tanto de índole estratégica como operacional,delegando muito pouco. De formação e experiência essencialmente técnicas, o dirigentesobrevaloriza tradicionalmente a função produtiva, embora nos anos mais recentes se verifique umapreocupação acrescida pelos assuntos comerciais. A sua dinâmica inovadora, centrando-se,essencialmente, nos aspectos técnico-produtivos, revela-se algo débil, pois nos últimos seis anoscerca de 34% das empresas não inovaram e 38% limitaram-se a lançar um único produto novo.

No que concerne aos recursos informacionais, há que salientar a debilidade generalizada dossistemas de informação existentes e respectivas tecnologias de suporte (SI/TI): o SI/TI é composto,essencialmente, por instrumentos de natureza contabilístico-financeira. Modelos de apoio àdecisão, bases de dados sobre a concorrência, “tableau de bord” e sistema EDI (Electronic DataInterchange) são ferramentas inexistentes na esmagadora maioria das empresas. A informatizaçãorestringe-se, normalmente, ao sector administrativo.

Quanto aos recursos técnico-produtivos, há a salientar uma dinâmica generalizada demodernização das tecnologias de produção, com volumosos investimentos. A esmagadora maioriadas empresas possui adega e vinha própria, sendo portanto fortemente integradas a montante.Algumas já introduziram a vindima mecânica.

O perfil dos recursos comerciais e de investigação e desenvolvimento, é caracterizado pelainexistência de um verdadeiro plano de “marketing-mix”. Apesar de algumas melhorias ao nível daabordagem comercial, ainda é notório o enraizamento de um certo espírito negligente: a secçãocomercial não está convenientemente delimitada em muitas empresas. As actividades publicitáriase promocionais evoluem positivamente, ainda que se mantenham em níveis consideradosinsuficientes em grande parte das empresas. Os mercados externos de cada empresa sãodiversificados, constatando-se uma interessante presença nos mercados em desenvolvimento. Osinvestimentos directos em I&D, assim como a integração de empresas em projectos dessa natureza,são exemplos muito raros, traduzindo-se tal facto numa fraca dinâmica inovadora.

Em suma, estes traços característicos deixam transparecer uma fase de transição entre a óptica“produto” (onde a produção é o centro das atenções) e a óptica “vendas” (onde os circuitos dedistribuição e as políticas de comunicação e divulgação começam a ganhar espaço). A óptica“marketing”, onde o mercado e o cliente são o centro das atenções, está ainda pouco desenvolvida emgrande parte das empresas.

107IICD

Augusto Mateus & Associados, Sociedade de Consultores

Page 30: Vitivinicultura 06 A/F - CCDRA

No que diz respeito à vertente estratégica da gestão empresarial, os estudos atrás referidos tambémpermitiram identificar que os traços característicos do processo estratégico da generalidade das empresasdo Alentejo se centram no curto prazo (fraco grau de antecipação) e na experiência e intuição dos seusdirigentes de topo (fraca formalização) ou em instrumentos contabilísticos clássicos e, menosfrequentemente, em modelos de análise estratégica mais sofisticada (forte formalização). Este processotem ainda subjacente uma postura estratégica conservadora face ao risco.

Esta forma de conceber e de implementar estratégias, muito comum nas pequenas e microempresas, nãoé alheia às características dos recursos humanos, organizacionais e informacionais existentes ediagnosticadas nas empresas da região: a influência determinante do dirigente de topo (larga experiênciae centralização de decisões), a preponderância do informal e a natureza contabilístico-financeira dosSI/TI. Constata-se, assim, uma certa coerência entre o processo estratégico utilizado pela generalidadedas empresas, as características dos seus recursos e a sua dinâmica inovadora.

Importa, ainda, salientar que os resultados das análises efectuadas deixaram transparecer que tanto ascaracterísticas da dinâmica inovadora (fraca e centrada, essencialmente, nos aspectos técnico-produtivos), como da ambição estratégica (elevada) ou da qualidade (forte), constituem traços comuns deuma cultura empresarial específica, fortemente enraizada no Alentejo.

6.7. Análise SWOT do Sector: Sistematização da situação actual e configuração dos principais desafios

Depois de efectuado o diagnóstico do sector vitivinícola do Alentejo, importa identificar quais os factores quesão realmente importantes para a inovação, não só de produto mas também de processos, para se poder actuarsobre eles. A inovação não se decreta, mas podem, efectivamente, ser criadas condições para que ela aconteça.

Nesta secção do relatório pretendem-se identificar as potencialidades do sector vitivinícola alentejano,face aos desafios a superar, fazendo algumas recomendações ao nível de acções concretas a empreender.Para o efeito é desenvolvida a designada metodologia SWOT que, articulando um conjunto de diversasoportunidades e ameaças detectadas na envolvente do sector, com as capacidades do tecido empresarial(pontos fortes e fracos para inovar), sugere algumas acções estratégicas inovadoras capazes de reforçar acompetitividade do sector vitivinícola alentejano num contexto de globalização de mercados.

Tendo em conta a realidade vitivinícola alentejana, sintetizam-se na seguinte matriz SWOT3, asprincipais forças e fraquezas das empresas, assim como as oportunidades e ameaças do meio quepermitem identificar linhas de actuação estratégica para fazer face aos principais desafios e, assim,potenciarem a competitividade e a inovação no sector:

3 A matriz SWOT do sector foi construída obedecendo aos seguintes passos metodológicos:1- Identificação por parte da equipa de projecto de factores que constituem forças, fraquezas, oportunidades e ameaças

do sector na região;2- Apresentação dos factores identificados aos membros da sessão temática no Workshop realizado em 15 de Novembro de 2004;3- Registo de eventuais sugestões sobre os factores apresentados (com possibilidade de introduzir alterações e propor

eventuais correcções);4- Ponderação da importância relativa dos diversos factores;5- Análise e tratamento final, por parte da equipa de projecto, dos factores que integram as forças, fraquezas, oportunidades

e ameaças do sector na região do Alentejo.

108IICD

Plano Regional de Inovação do Alentejo

Page 31: Vitivinicultura 06 A/F - CCDRA

109IICD

Augusto Mateus & Associados, Sociedade de Consultores

Page 32: Vitivinicultura 06 A/F - CCDRA

Tendo em conta esta síntese e o facto de uma organização para desenvolver a sua capacidade de inovarnecessitar de recursos adequados, de fluidez de processos, de empreendedorismo, de envolvimento emactividades de I&D e de capacidade de experimentação e exploração face ao risco, identificamos deseguida aqueles que consideramos serem os desafios do sector, no Alentejo, realmente importantes paraa inovação, não só de produto mas também de processos e que inspiram algumas linhas de acçãoestratégica para o futuro.

Assim, no caso do sector vitivinícola alentejano, o potencial de inovação dependerá da capacidade queo meio empresarial revelar na gestão de cinco grandes desafios que se colocam ao sector:

Os comportamentos dos consumidores: transferência de um consumo alimentar para um consumode prazer, de um consumo regular para um consumo ocasional e preferência pela qualidade. Taldesafio implica defender, ou até melhorar, a relação qualidade/preço existente e gerirconvenientemente o aumento exponencial da produção, apertando o controlo de qualidade,tentando exercer também algum controlo sobre os preços na restauração e defendendo a tipicidadedos vinhos;

O aumento do poder negocial e financeiro da grande distribuição. O que implica ganhar massacrítica ao nível da comercialização, quebrando o espírito individualista existente e fomentando oespírito de unidade colectiva;

A diminuição das medidas externas de suporte (no âmbito da nova OCMV);

As novas repartições de valor acrescentado (resultantes da multiplicação e sofisticação deactividades em torno da indústria do vinho);

A defesa do ambiente: contribuição da viticultura para a dinamização de espaços diversificados depaisagens naturais harmoniosas. Este desafio, entre outras iniciativas, sugere a criação deenquadramento legal para comercializar as rotas dos vinhos como produto turístico.

A dinamização do desempenho inovador impõe a necessária implementação de dinâmicas específicasque abarcam, essencialmente, três vertentes: a humana/organizacional (relacionada com os executivosde topo e posturas de gestão), a tecnológica (relacionada particularmente com os sistemas e tecnologiasde informação e com técnicas especializadas de apoio à produção) e a comercial (envolvendo acomunicação e a distribuição no mercado interno e nos mercados de exportação).

No que diz respeito à vertente humana e organizacional, sugere-se:

Um forte investimento na qualificação dos recursos humanos e dinâmicas de mudançaorganizacional, no sentido dos executivos de topo imprimirem posturas de gestão maisempreendedoras (gestão da mudança e da inovação, com maior envolvimento em actividades deI&D), com reflexo directo no processo de formulação das estratégias empresariais;

110IICD

Plano Regional de Inovação do Alentejo

Page 33: Vitivinicultura 06 A/F - CCDRA

O desenvolvimento de redes integradas de entidades do sector vitivinícola e de outros sectores(gastronomia, turismo rural...).

Também se recomendam melhoramentos significativos nos sistemas de informação e tecnologias:

Investir no “stock de inteligência”, designadamente através da aposta em sistemas e tecnologias deinformação como forma de responder ao contexto dinâmico imposto pela envolvente competitiva.Dito de outra maneira, as empresas devem melhorar a sua capacidade de tratamento deinformação porque isso constitui, nos tempos actuais, um elemento fundamental para a melhoriade processos, para a gestão estratégica e, consequentemente, para a dinamização da inovaçãoempresarial. Em suma, a modernização dos SI/TI deve ser encarada pelos empresários como uminvestimento, pelo menos tão necessário e importante, como aquele que é feito ao nível doprocesso produtivo e do marketing.

Criar um Centro Tecnológico que abarque todas as actividades da cadeia de valor do vinho emtermos de I&D, à semelhança dos existentes noutros sectores de actividade.

Relativamente à vertente comercial, são recomendáveis maiores investimentos, uma vez que uma boagestão desta vertente é indispensável para que a realidade técnica conseguida se transforme em potencialestratégico e depois em performance económica e inovadora. Assim, sugere-se em concreto na vertentecomercial, o desenvolvimento de acções em três grandes áreas – a comunicação (campanhaspublicitárias e de promoção focalizadas), a distribuição e a dinâmica exportadora:

a. Reforçar a comunicação, no Alentejo, pressupõe a definição de políticas comerciais de suporte aoscircuitos de qualidade. A imagem de qualidade dos vinhos, resultado de um esforço técnico delongo prazo, deve ser, no curto prazo, reforçada por acções publicitárias e promocionais bemdirigidas, que incluam argumentos originais em função da história, do terreno e das particularidadesda região: factores que têm ganho importância no mercado do vinho e que constituem os elementoscaracterísticos de uma categoria de produtos que têm vindo a conquistar a preferência dosconsumidores em todo o mundo, os produtos típicos. De entre os possíveis processos de abordar oconsumidor e de o conquistar para o consumo, destacam-se alguns que as empresas podem e devemutilizar com mais afinco:

As relações públicas, na medida em que podem veicular informação (sobre feiras, prémios,campanhas anti-alcoólicas, qualidade...) e favorecem a formação de uma opinião favorável;

As publicações e filmes próprios das empresas, a organização de visitas às adegas(desenvolvimento do enoturismo), a informação em congressos, exposições e provas de vinhos,constituem exemplos de formas de comunicação que potencializam o “word of mouth”, comgrande probabilidade de êxito e que as empresas podem explorar melhor;

A introdução de novos designs, mais atractivos e apelativos para o consumidor, nomeadamenteao nível das garrafas e dos rótulos: estes dois elementos devem conjugar equilibradamente

111IICD

Augusto Mateus & Associados, Sociedade de Consultores

Page 34: Vitivinicultura 06 A/F - CCDRA

originalidade, bom gosto e, naturalmente, vinhos de qualidade. Importa não esquecer que oconsumidor actual prefere qualidade, boa apresentação e informação, devendo este últimoaspecto ser satisfeito através de contra-rótulos com informações concretas quanto à zona deproveniência, castas utilizadas, condições e período máximo de armazenagem na garrafeira,tipos de pratos com que devem ser servidos e temperatura ideal de consumo.

Em suma, trata-se de instaurar uma dinâmica de desenvolvimento baseada na componente comercial(óptica de marketing) em empresas que até aqui têm privilegiado a componente técnico-produtiva (ópticade produto).

b. Reorganizar as redes de distribuição, no intuito de dotar as empresas alentejanas de processos maiseficientes, o que pressupõe:

Por um lado, aumentar a integração a jusante para reduzir os circuitos, na tentativa de seconseguir uma maior aproximação ao consumidor final;

Por outro lado, deve ser dada maior atenção às formas de comércio ditas “modernas” (grandedistribuição), procurando a venda directa às grandes centrais de compra e às cadeias de restaurantes;

Incentivar a prática de vinho a copo nos restaurantes e bares: prática que infelizmente ainda temuma certa carga negativa em Portugal, verificando-se, contudo, que é uma prática corrente empaíses como a Inglaterra, França, Itália e Estados Unidos. Com efeito, é frequente nestes paísesencontrar restaurantes que servem vinho de grande qualidade a copo, dispondo para esse efeitode tecnologia apropriada a fim de manter a frescura do vinho na garrafa, depois de esta ter sidoaberta, ou então assegurando uma rotação de garrafas que impeça ser servido ao cliente um copode vinho “morto”.

c. Progressão nos mercados externos, nomeadamente através da criação de associações de produtorespara, por exemplo, promoverem, em comum, os seus produtos, para criarem consórcios deexportação, ou mesmo para desenvolverem estratégias mais ofensivas que passam peloestabelecimento de alianças, fusões e aquisições em mercados externos. Basta ver como algumasempresas, sobretudo francesas, se estão a posicionar nos novos mercados, com a compra deempresas produtoras locais que, inevitavelmente, farão chegar os seus produtos ao mercadoeuropeu. No Brasil, no Chile, na Argentina, na Bulgária, na Roménia ou na Hungria, produtoreseuropeus estão a criar condições para poderem continuar a competir nos mercados de origem comas mesmas armas que os seus concorrentes. Ou seja, a globalização da economia está a chegar aomercado do vinho, com a mesma agressividade que nos têxteis, na electrónica ou no calçado.

Em suma, ser inovador e competitivo no contexto actual do sector vitivinícola alentejano implica que, apar de se continuar a apostar na qualidade produtiva, se invista fortemente no melhoramento de todosestes domínios referenciados. São eles os novos referenciais, potenciadores de competitividade, dedesenvolvimento económico e de inovação.

112IICD

Plano Regional de Inovação do Alentejo

Page 35: Vitivinicultura 06 A/F - CCDRA

113IICD

Augusto Mateus & Associados, Sociedade de Consultores

Page 36: Vitivinicultura 06 A/F - CCDRA