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23 de junho de 2014 I éPOCA I 91 ornar a compra cada vez mais fácil é uma obsessão de Jeff Bezos, fundador da Amazon. Princi- palmente, é claro, quando o vendedor é ele. Uma das marcas da loja virtual cria- da por Bezos é o botão que permite a compra com um clique, pesadelo dos consumidores compulsivos. Aparelhos como o leitor digital Kindle e o tablet Kindle Fire também seguem essa filoso- fia. Enquanto outros lançam tablets e celulares para lucrar com a venda desses aparelhos, Bezos os enxerga como novas maneiras de acessar sua loja. Eles têm sistemas desenhados para guardar os dados de cartão de crédito e dar acesso imediato ao conteúdo e aos produtos vendidos pela Amazon. Um segundo de Capaz de reconhecer produtos e vendê-los na hora, o novo celular da Amazon transforma o mundo numa vitrine Viu, fotografou, clicou e comprou T Danilo Venticinque e Felipe Germano fraqueza e você já abriu a carteira. O celular Fire Phone, anunciado pela Amazon na última quarta-feira, é seu passo mais recente e ousado no esforço para tornar irresistível a compra por im- pulso. Lançado por US$ 649 nos Estados Unidos (US$ 199 para clientes da AT&T), o telefone parece não ser muito diferente de outros aparelhos similares. Suas vantagens tecnológicas – uma tela que dá a sensação de 3D sem o uso de óculos e o armazenamento ilimitado de fotos nos servidores da Amazon – difi- cilmente empolgariam o consumidor comum. O grande trunfo é um botão na lateral do telefone. Ele ativa a Firefly, fer- ramenta que permite escanear qualquer objeto, mesmo sem códigos de barras, dar informações precisas sobre ele... e oferecê-lo para compra no site da Ama- zon. Durante a apresentação do celular, Bezos usou a ferramenta para comprar jogos de videogame, livros, DVDs e até uma caixa de cereais. Não é o primeiro flerte de Bezos com esse tipo de tecnologia. Em 2010, ele lançou um aplicativo que lia códigos de barra de um produto e mostrava seu preço na Amazon. Uma promoção incentivava clientes a entrar em lojas, escanear produtos e comprá-los na Amazon. Varejistas protestaram. Não gostaram de ver seus estabelecimentos transformados em vitrines para um concorrente. Com a Firefly, a ousadia é ainda maior. Não é preciso estar s DESTRUIçãO CRIADORA VENDEDOR Jeff Bezos, fundador da Amazon, e o Fire Phone. Ele quer facilitar ainda mais o acesso à loja virtual Foto: Mike Kane/Bloomberg via Getty Image

Viu, fotografou, clicou e comprou

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Matéria sobre o firephone, o celular da Amazon, e como a empresa está mudando o jeito de se pensar no comércio.

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23 de junho de 2014 I época I 91

ornar a compra cada vez maisfácil é uma obsessão de Jeff Bezos,fundador da Amazon. Princi-

palmente, é claro, quando o vendedor éele. Uma das marcas da loja virtual cria-da por Bezos é o botão que permite acompra com um clique, pesadelo dosconsumidores compulsivos. Aparelhoscomo o leitor digital Kindle e o tabletKindle Fire também seguem essa filoso-fia. Enquanto outros lançam tablets ecelulares para lucrar com a venda dessesaparelhos, Bezos os enxerga como novasmaneiras de acessar sua loja. Eles têmsistemas desenhados para guardar osdados de cartão de crédito e dar acessoimediato ao conteúdo e aos produtosvendidos pela Amazon. Um segundo de

Capaz de reconhecer produtos e vendê-los na hora,o novo celular da Amazon transforma o mundo numa vitrine

Viu, fotografou,clicou e comprou

TDanilo Venticinque e Felipe Germano

fraqueza e você já abriu a carteira.O celular Fire Phone, anunciado pela

Amazon na última quarta-feira, é seupasso mais recente e ousado no esforçopara tornar irresistível a compra por im-pulso. Lançado por US$ 649 nos EstadosUnidos (US$ 199 para clientes daAT&T), o telefone parece não ser muitodiferente de outros aparelhos similares.Suas vantagens tecnológicas – uma telaque dá a sensação de 3D sem o uso deóculos e o armazenamento ilimitado defotos nos servidores da Amazon – difi-cilmente empolgariam o consumidorcomum. O grande trunfo é um botão nalateral do telefone. Ele ativa a Firefly, fer-ramenta que permite escanear qualquerobjeto, mesmo sem códigos de barras,

dar informações precisas sobre ele... eoferecê-lo para compra no site da Ama-zon. Durante a apresentação do celular,Bezos usou a ferramenta para comprarjogos de videogame, livros, DVDs e atéuma caixa de cereais.

Não é o primeiro flerte de Bezos comesse tipo de tecnologia. Em 2010, elelançou um aplicativo que lia códigosde barra de um produto e mostravaseu preço na Amazon. Uma promoçãoincentivava clientes a entrar em lojas,escanear produtos e comprá-los naAmazon. Varejistas protestaram. Nãogostaram de ver seus estabelecimentostransformados em vitrines para umconcorrente. Com a Firefly, a ousadiaé ainda maior. Não é preciso estar s

destruição criadora

vendedorJeff Bezos,

fundador daamazon, e o Fire

Phone. ele querfacilitar ainda

mais o acesso àloja virtual

Foto: Mike Kane/Bloomberg via Getty Image

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nem perto de uma loja ou supermer-cado. O mundo se transforma numagrande vitrine: basta apontar o celularpara um objeto e comprá-lo. Com ape-nas um clique, evidentemente.

A empreitada ambiciosa de Bezospoderá enfrentar algumas dificuldadestecnológicas. Já há no mercado outrosprogramas que tentam reconhecer pro-dutos com base em imagens. Por nãoestar vinculados a um gigante do vare-jo como a Amazon, o lançamento delesnão fez tanto barulho quanto o Firefly.A falta de popularidade ajuda a escon-der ineficiências. A maioria falha comfrequência. Na loja de aplicativos doiTunes (da Apple), a página do Digi-marc, um dos aplicativos do gênero, étomada por avaliações negativas. Aqueixa dos usuários é sempre a mesma.Eles tentam escanear várias coisas e oaplicativo não funciona. Embora tenhaevoluído nos últimos anos, a busca porimagens ainda precisa superar barreirasaté conseguir mostrar resultados con-fiáveis com consistência.

A demonstração do Fire Phone feitapor Bezos não deixa claro se a Amazonconseguiu vencer essas dificuldades tec-nológicas. Todos os produtos escaneadosno lançamento têm embalagens facil-mente reconhecíveis. Identificar umacaixa de um jogo é muito mais fácil doque reconhecer uma roupa no corpo dealguém ou um objeto fora da embala-gem. Fatores como poeira, chuva ou ilu-minação ruim, ausentes na demonstra-ção, também podem ser complicadores.

O verdadeiro tamanho da mudançaprovocada pelo Fire Phone nos hábitosde consumo só será percebido no dia 25de julho, quando o celular começará aser vendido nos Estados Unidos (a Ama-zon não dá informações sobre a possívelvenda do aparelho no Brasil). Mesmo seo Firefly não cumprir todas as suas pro-messas logo no início, a entrada da Ama-zon nesse mercado revela que a empresaleva a sério a busca pela tecnologia ne-cessária para transformar o mundonuma vitrine. Entrar no mercado desmartphones apenas para lucrar com avenda dos aparelhos não seria coerentecom os passos anteriores da Amazon.“Ganhamos dinheiro quando usam nos-sos aparelhos, não quando os compram”,diz Bezos. Prepare a carteira. u

Gustavocerbasi

Gustavo cerbasi é consultorfinanceiro e escritor. Escreva para eleem maisdinheiro.com.br.Twitter: @gcerbasi.

Não é horapara apostas

correlação entre as pesquisaseleitorais e o comportamento

dos mercados financeiros já é bas-tante evidente. Deixa claro o descon-tentamento de investidores com acontinuidade do atual governo e dásinais de que o jogo poderá virar seas eleições trouxerem mudanças.

Aqueles que, há alguns meses, de-sistiram de investir na renda variá-vel já começam a demonstrar maiorpropensão para voltar. Isso se devetanto à resposta positiva das Bolsasdiante da tendência de queda dosvotos em Dilma quanto ao históricopositivo que começa a se formar nastabelas de rentabilidade dos inves-timentos mais agressivos.

A recomendação, no entanto, écautela. O que parece ser oportunida-de deve ser tratado com cuidado ereflexão, principalmente por investi-dores menos experientes.As ameaçasnascem quando se formam verdadesuniversais, como a ideia de que a mu-dança de governo é certeza de ganhos.Isso cria o efeito manada, em quemuitos começam a seguir as escolhasdos outros. A tendência é que o mer-cado passe a ser comprador e puxe ospreços acima do que deveriam.

Na sequência, basta um fatoadverso às expectativas, como umapequena inversão nas tendênciaseleitorais, para que o mercado reajae tire, com força, parte ou a totalida-de dos ganhos irreais que ocorreram.A reação dos mercados às notícias érápida. O investidor mediano difi-cilmente pode acompanhar e reagir

na mesma velocidade. Quando aperda ocorre, há pouco tempo parareação, e surge o risco de uma gran-de frustração a amargar.

O cenário de investimentos con-tinua duvidoso, turbulento e tende aoscilações. Nesse cenário, faz sentidoatentar mais à renda variável, desdeque seja com critérios, seletividade eescolhas feitas sob orientação. Osbaixos preços tornam convidativoinvestir em ações de empresas quedependem menos da continuidadedo governo ou da estabilidade cam-bial. Ou para investir em imóveis oufundos imobiliários concentradosem regiões que se beneficiam deobras de infraestrutura ou outrasmelhorias – mesmo sabendo da ex-pectativa por uma queda de preçospós-Copa. Só que o risco por trásdessa avaliação não deixa clara a van-tagem de abrir mão do ganho certoque a renda fixa vem oferecendo.

Invista em risco, mas invista pou-co. O momento é de se manter comliquidez, com dinheiro acessível parausá-lo quando os ganhos forem evi-dentes. Quem compra ativos de riscoantes da confirmação da tendênciade recuperação de preços paga maisbarato. Mas esse barato sai caroquando se deixa de ganhar um bome seguro rendimento. O ano estámais para ganho certo do que paraapostas duvidosas. u

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