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Viva rei 15

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A geração de filhos de congadeiros, além de manter a tradição da manifestação, contextualiza seu tempo e dá vida a outros grupos na cidade, como os de pagode, mas sem negar as raízes do congo, tecendo, assim, uma rede de inter-relações de contextos, de personagens, com suas práticas sociais, suas atuações naquela localidade...

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ViVa rei, ViVa rainha, ViVa também o seu capitão

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São Paulo 2015

Wagner aparecido da silVa

ViVa rei, ViVa rainha, ViVa também o seu capitão

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Copyright © 2015 by Editora Baraúna SE Ltda

Capa Jacilene Moraes

Diagramação Felippe Scagion

Revisão Priscila Loiola

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

________________________________________________________________S579v

Silva, Wagner Aparecido da Viva rei, viva rainha, viva também o seu capitão/Wagner Aparecido da Silva. - 1. ed. - São Paulo: Baraúna, 2015. il.

ISBN 978-85-437-0261-2

1. Romance brasileiro. I. Título.

15-20178 CDD: 869.93 CDU: 821.134.3(81)-3________________________________________________________________18/02/2015 19/02/2015

Impresso no BrasilPrinted in Brazil

DIREITOS CEDIDOS PARA ESTAEDIÇÃO À EDITORA BARAÚNA www.EditoraBarauna.com.br

Rua da Quitanda, 139 – 3º andarCEP 01012-010 – Centro – São Paulo - SPTel.: 11 3167.4261www.EditoraBarauna.com.br

Todos os direitos reservados.Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio, sem a expressa autorização da Editora e do autor. Caso deseje utilizar esta obra para outros fins, entre em contato com a Editora.

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“Rei de congo veio de Angola, Marinheiro de Guiné,Vossa Senhora de Belém e Jesus Cristo de Nazaré.”

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“Era um, era dois, era cemMil tambores e as vozes do alémMorro velho, senzala, casa cheiaRepinica, rebate, revolteiaE trovão no céu é candeiaEra bumbo, era surdo, era caixaMeia volta e mais volta e meiaPocotó, trem de ferro e uma luzProcissão, chão de flores e JesusBate forte até sangrar a mãoE batendo pelos que se foramE batendo pelos que voltaramOs tambores de Minas soarãoSeus tambores nunca se calaramEra couro batendo e era lataEra um sino com nota exataPé no chão e as cadeiras da mulataE o futuro nas mãos do meninoBatucando por fé e destinoBate roupa em riacho a lavadeiraRitmando de qualquer maneiraE por fim o tambor da musculaturaO tum-tum ancestral do coraçãoQuando chega a febre ninguém seguraBate forte até sangrar a mãoOs tambores de minas soarãoSeus tambores nunca se calaram...”(Milton Nascimento)

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AGRADECIMENTOS

É com imensa satisfação que apresento este livro que é uma reprodução da dissertação de mestrado, resultado final de uma longa trajetória pelo Programa de Pós-Gra-duação em Educação, Arte e História da Cultura, da Uni-versidade Presbiteriana Mackenzie de São Paulo. Inúmeros amigos e amigas, familiares, colegas e professores fizeram parte desta caminhada. E em diferentes momentos foram fundamentais para a superação de obstáculos e para tornar este trabalho ainda mais prazeroso.

Assim, agradeço ao meu pai Expedito Joanes da Silva (in memorian), o maior símbolo de força e o verdadeiro responsável pela base que me sustenta; à Congada Santa Efigênia de Mogi das Cruzes que me apresentou a nossa querida Conselheiro

Lafaiete; ao professor André Bueno, que, com grande sen-sibilidade, apresentou-me a força da Congada na graduação.

Agradeço também a Marcus Vinicius e ao meu amigo

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Fabinho e todos do grupo foliafro de Poá, pelos estudos e o enriquecimento das nossas apresentações folclóricas na nossa região.

Ao pequeno Heitor, meu filho, meu príncipe, pelos momentos de diversão que atribuíram profunda leveza a esta fase. Aos demais membros da família, obrigada pela força, em especial.

Ao meu amigo e orientador, o Prof. Dr. Sérgio Bai-ron, que encorajou os primeiros questionamentos desen-volvidos nesta tese, e à sensibilidade e paciência de uma nova amiga, a professora Márcia Tiburi, por ter transfor-mado nossas reuniões em incríveis ensinamentos e viven-ciar os aspectos mais belos e essenciais do ser humano.

Aos amigos, agradeço, sobretudo, aos professores do Departamento de Educação, Arte e História da Cultura, personagens centrais na minha formação acadêmica, e aos membros da banca examinadora desta tese que, cor-dialmente, aceitaram o convite para participar da mesma.

Ao programa Bolsa Mestrado da Secretaria da Educa-ção, agradeço a concessão da bolsa de estudos nos 2 anos sem a qual a realização deste trabalho não teria sido possível.

E, finalmente, agradeço a carinhosa acolhida realiza-da pelos congadeiros de Conselheiro Lafaiete, à Congada Santa Efigênia, à Congada Nossa Senhora Aparecida, so-bretudo, a essa grande família: dona Zezé, sr. Tião e ao Giovani. Muito obrigado a todos!

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RESUMO

O Congado é, sem dúvida, uma das principais mani-festações populares e religiosas da cidade de Conselheiro Lafaiete e de toda Minas Gerais, pois apresenta caracterís-ticas próprias influenciadas pelo folclore local. As músicas, as danças, as cantorias, as missas e os divertimentos profa-nos constituem as principais atrações desse folguedo.

Ao acompanhar os festejos, desde 1999, foi possível observar as modificações e transformações ocorridas nessa manifestação. Os símbolos dão as formas e dimensão religio-sa à essa manifestação popular. A coroação de Rei, Rainha e suas cortes desfilam com toda devoção aos santos católicos.

É na forma devocional da tradição familiar que podemos buscar possíveis explicações quanto à sua ori-gem, seu imaginário, sua memória e oralidade, para per-manência dessa cultura. A nossa fonte para beber dessa manifestação é uma família, pessoas que trabalham para a continuidade dessa tradição.

Palavras-chaves: Congado, família, rei, rainha e capitão.

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Sumário

Introdução - A família do congado . . . . . . . . . . . . . . 13

1º CAPíTULO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21A família do congado em Conselheiro lafaiete-mg

1.1 No tempo do cativeiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 211.2 Congada e cativeiro como categoria de análise . . 251.3 O congado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 261.4 Congada e micro-história . . . . . . . . . . . . . . . . . . 281.5 Congada e religiosidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 301.6 Aparição da santa branca . . . . . . . . . . . . . . . . . . 321.7 São benedito o santo do cativeiro . . . . . . . . . . . . 351.8 Irmandades do Rosário em minas . . . . . . . . . . . . 37

2º CAPíTULO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43Imaginário e o congado

2.1 Imaginário coletivo Imaginário social . . . . . . . . . 432.2 Partindo do macro para o micro . . . . . . . . . . . . . 45

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2.3 Bairro são joão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 472.4 O campo mítico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49E simbólico da congada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 492.5 A ressignificação mítica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52E simbólica dos personagens . . . . . . . . . . . . . . . . . . 522.6 Reinado simbólico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 552.7 A indumentária simbólica . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57

3º CAPíTULO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77Identidade negra

3.1 Identidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77Epílogo - A imagem fala por si só . . . . . . . . . . . . . . 101Referências bibliográficas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103

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INTRODUÇÃOA FAMÍLIA DO CONGADO

Como pensar na organização do núcleo familiar da dona Zezé, na localidade em que este se situa (na cida-de de Conselheiro Lafaiete)? É com esta pergunta que devemos iniciar esta tentativa de interpretação sobre o fenômeno do Congado.

Deve-se pensar na contribuição familiar nessas lo-calidades, discutir o lugar da tradição no imaginário das pessoas e como elas estabelecem uma comunicação entre o passado e o presente. Uma forma de estabelecer co-municação entre o passado e o presente numa sociedade local parte das tradições populares e suas vivências, por meio de todo aparato

que essas envolvem. Essas manifestações servem para contextualizar o passado fazendo do presente o tes-temunho de um tempo que é preciso se redescobrir.

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Uma análise do núcleo familiar da dona Zezé talvez possibilite perceber como as famílias compreendem seu passado e o apresentam no futuro ao local onde vivem.

Para um pesquisador, as manifestações de vida laten-te, representados numa apresentação popular, são indícios de um tempo passado que se busca compreender e pode contribuir para uma representação de uma realidade a ser reconstruída. Tal imagem de representação de uma Con-gada, aparentemente desvinculada de um contexto local, traz em si um sentido secreto a ser percebido e decifrado.

A família em questão, além de ter um papel muito importante nessa manifestação local, remete-nos à im-portância da micro-história, quando buscamos explica-ções dos aspectos considerados menores em um contexto local, para quem sabe a partir daí encontrar a verdadeira essência da manifestação em si.

Ao pensar no núcleo familiar da dona Zezé, buscarei compreender o universo das tradições populares, crian-do passos que me permitam pensar em analisar como se dá esse testemunho das tradições populares, por meio do mundo dos Congados e suas representações. Pensar nas Congadas exige uma crítica externa das condições de sua produção, e outra relativa ao seu contexto.

A Congada traz em si várias linguagens. Ela se com-põe de um texto imagético, um texto vocabular, um texto teatral. Tem, portanto, códigos. Penso que esta pesquisa não esgotaria nenhum deles, cuja compreensão se buscará pela análise do contexto da localidade de Conselheiro Lafaiete.

A Congada está relacionada à comunicação de todas essas linguagens, tendo sua própria significação construí-da por fatores de produção no momento em que acontece

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e nos momentos em que se preparam, por exemplo, seus chapéus, sua fitas, seus adornos, sua espada, seus tambo-res, seus santos e santuários, suas ervas santas para ben-zer, junto com todas as suas crenças, acrescentando ainda a polissemia desse evento e as ambiguidades do evento, surgindo de todo esse universo social e imaginário.

Como contradição, posso destacar o fato da mani-festação, no momento da sua apresentação, comunicar-se também com sua localidade, de maneira imediata. Logo que essa apresentação termina, tal manifestação perma-nece presente no universo imaginário das pessoas que vi-vem naquela localidade, presentes também em suas vidas cotidianas, porque ali está sua história e sua origem.

MEUS PERSONAGENS

DONA ZEZE – A RAINHA

Maria José de Paula Rocha, vice-Raina dos conga-deiros de Minas Gerais, Rainha que, aos sons dos tam-