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Você já se perguntou como será sua morte?
Como ela virá lhe beijar? Será carinhosa? Ou, será
sangrenta?
Alguns escritores amadores quiseram brincar
com a morte. Eles resolveram imaginar esse
momento tão esperado e odiado por todos.
Mergulhe neste mundo arrepiante de dor,
sacrifício, coragem, medo e morte.
No final de cada conto, há um link para mais
textos de cada autor.
“Jesus lhe perguntou: qual o seu nome? Ele lhe respondeu: Meu
nome é legião, porque somos muitos...” Marcos: Cap. 5-9
Minha Morte por:
1. Cris
2. Faby Cristall
3. Malgaxe
4. Mauro Alves
5. J.R Tavares
6. Lady B
7. Lana Fey
8. Maddox
9. Scarlet Pisces
10. João Murillo
11. Dulcie
12. Fernando Calixto Jr
13. Joe Phoenix
14. Julio Dosan
15. Sidney Muniz
16. J.C King
17. Julio A. S. Crisótomo
18. ‡Ånjo Sidéreo‡
Minha Morte por Cris
Eles estão perto, esses malditos me perseguem, não importa para
aonde vou eles estão atrás de mim...
Vivia numa vila aonde todos sabiam da vida de todos. Fui morar lá
devido ao desemprego de papai, tinha que ser num lugar mais barato.
Quando me viam todos diziam:
— Essa ai tem posse de querer ser melhor, nos a dobraremos rapidinho!
Eles me odiaram.
O tempo passou, papai arranjou trabalho, e eu comecei a freqüentar a
escola, até que um dia tudo mudou...
Eu estava chegando a vila quando ouvi D. Margarida fofocando com D.
Maria .
— É hoje, daremos uma lição naquela menina! – O ódio sobressaia na
voz de D. Margarida.
— Mais Margarida – Penalizada D Maria - Ela é só uma criança.
Eu ouvi tudo que as duas pretendiam. Fingiriam um assalto para me
assustar e contratariam dois meninos da vila, tudo seria a noite.
As duas não perceberam que eu ouvi tudo atrás da cerca, não sabiam
que quem iria vingar-se seria eu!
Me antecipei e fui falar com Neco e Andre, falei do plano e ofereci 50
reais a ambos eles toparam.
Fui dar uma volta, quando retornei era noite, próxima ao poste estavam
os dois. D. Margarida estava na janela à espreita. Eles me olharam e um
sorriso maquiavélico brilhou em seus olhos. Começaram a encenação.
— PASSA tudo para cá moça! Se não tu morre! – Disse André
apertando meus braços para trás, me causando dor extrema.
— Moço não me mata, eu não tenho nada- fingi desespero.
Neco chegou próximo ao meu ouvido e sussurrou:
— Isso não faz parte do plano, nos vamos te mata!
Congelei... A voz morreu.
Eles me puxaram e invadiram a casa da velha D. Maria, ao nos ver ela e
D.Margarida começaram a gritar.
Neco se aproximou das dela e disse:
— VAI MORRE VELHA, VOCÊ E ESSA CACHORRA! NÃO
SOMOS QUEM VOCÊS PENSAM!
Nisto os dois se transformaram em cruéis criaturas das trevas.
— Vocês são demônios - Gritei.
— Que excelente visão,minha cara! Pois você e as duas malditas velhas
Serão devoradas de corpo e alma por nós!
Vendo meu fim, o ódio invadiu meu coração, eu iria ter minha ultima
vingança. Olhei friamente a minha inimiga ela estava chorando sem parar.
Não tive dó quando dei sua sentença:
— JÁ QUE VOU MORRER MESMO, QUERO VER ESSAS
VELHAS SEREM MORTAS!
Os demônios riram e partiram para cima das velhas... Elas deram gritos
horrendos, enquanto os dentes adentravam em suas carnes flácidas. Eles as
devoraram, quando terminaram, me olharam e riram mais ainda.
— AGORA VOCÊ É NOSSA, VAMOS LHE DEVORAR E FICAR
COM SUA ALMA SUJA!
Antes de pularem sobre mim, eu ainda disse:
— ANTES DE MORRER TIVE MINHA VINGANÇA!
A ultima coisa que ouvi foram meus ossos se partirem...
Fim.
Minha Morte por Faby Crystall Sonhei que estava em casa, sozinha, acordei depois de uma puta
ressaca. Parei diante do espelho, não gostava nem um pouco da imagem que
lá estava.
Uma balzaquiana, era isso que eu era, na verdade, olhei-me por mais
algum tempo, pensando na minha pobre vida.
Estava entediada, deprimida, cansada. Não conseguia trabalho, fui
abandonada no altar, minha vida estava mergulhada numa perfeita desgraça.
Ouvi novamente aquela voz, aquela voz se tornou minha companheira, já
há alguns dias, começa a me atormentar. A voz me mandava fazer coisas e
eu, tinha muito medo.
Fui tomar banho, lavei meus cabelos, tentando esfriar minha cabeça,
vesti uma roupa confortável, voltei e sentei no sofá, a janela estava aberta
com a cortina balançando na minha frente, cheguei próxima ela e olhei lá
embaixo, eu morava no 13º andar. Um vento gélido tocou minha face, a voz
veio e disse:
— Vá menina, eles te esperam, liberte-se! Salte pra sua liberdade e
viverá por toda eternidade, não tenha medo.
Arrepiei dos pés a cabeça, afastei-me da janela, fui até a gaveta de
remédios, lembrei-me que ainda tinha aquele remédio de tarja preto, que o
psiquiatra me mandou tomar. Tomei logo 7 comprimidos, logo, minha
cabeça começou a rodar, vi asas nascendo nas minhas costas, meus cabelos
estavam soltos e caídos sobre meus ombros, a voz voltou e disse:
— Menina, estou te esperando, venha!
Afastei um pouco, peguei impulso e saltei pela janela, caí para a liberdade,
cometi um SUÍCIDIO!
Acordei assustada, era apenas um sonho, que sonho horrível.
Não, não era sonho, agora que me dei conta que tudo foi real e eu estou
aqui, no VALE DOS SUICIDAS, como a voz me disse, por toda a
eternidade!
FIM
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Minha Morte por Malgaxe
A luz azul clara por entre as brumas povoa o horizonte de uma
imensa paz, este é o lugar dos espíritos e hoje faço parte desta ante-sala da
eternidade, nada se espera estando aqui a não ser reviver momentos ao lado
de quem amou e que vieram antes de nós, ídolos, amigos, e todos aqueles a
quem amamos na terra.
Foi num dia maravilhoso de verão que eu aqui cheguei...
Lembro que depois da sesta do almoço, entediado pelo silencio daquele
domingo, levantei, abri a cortina e lá fora no canil, Faquir, meu velho cão
parecia estar precisando de um passeio reparador, e eu de algo para afastar
o tédio.
Senti-me despertar completamente quando a água fria da torneira
inundou meu rosto, no espelho, olhos cansados da noite anterior, a longa
festa ainda se fazia presente nos traços sonolentos do meu rosto.
Recoloquei a camiseta regata, fui à despensa, revirei algumas gavetas e
achei o que procurava a coleira e a corrente do Faquir, que notando a minha
presença com a corrente, refestelou-se como a sorrir com o rabo.
Como não fosse um cão de grande porte, durante a sua passagem pelo
terreno da minha casa eu o deixava solto, encoleirando-o, porém ao sair na
rua.
Aproximei-me do portão, e chamei-o insistentemente, porque apesar de
ser um cão de idade avançada, era muito brincalhão e cada movimento que
eu fazia era para ele uma proposta de brincadeira.
Aproximou-se, deitei-o, passei a coleira e quando fui engatar a fivela,
escorregou entre minha mão e o portão já aberto e ganhou a rua, num
descuido meu.
Ficou algum tempo ao lado de uma árvore farejando algum outro cão
que havia demarcado território naquela árvore, aproximei-me devagar e por
trás, mas notando a minha presença, correu para o meio da rua, e no ímpeto
de pegá-lo o quanto antes invadi a via de rolamento, senti o impacto.. A
minha consciência foi sumindo aos poucos, e depois um silencio
perturbador mostrou a minha frente um túnel longínquo e sua luz, à medida
que eu voava, ia se tornando cada vez mais forte, e uma paz que eu nunca
havia sentido, tomou-me com alguém que é tomado pela ternura de um
grande amor.
Abriu-se abaixo de mim como que uma janela, então eu vi meu corpo ali
no asfalto, Faquir rodeando nervosamente, depois os homens do resgate,
me colocaram na maca, minha cabeça sangrava muito, olhei ao meu redor e
não podia entender como eu estou ali, e daqui me vendo?
Durante todo o tempo duas forças antagônicas agiam sobre mim, uma
que me pressionava na direção da luz e a outra em direção ao meu corpo
dentro da ambulância...
E no momento em que o médico deu a segunda carga do desfribilador
em meu peito, foi como se eu apagasse como expectador de mim mesmo e
começasse a sentir a presença humana do meu lado, o seu contado e o som
de suas vozes...
Desfibrilador, adrenalina, codeína, luva, bisturi, tudo eu ouvia, no
deslocamento irregular do carro de socorro, pelos solavancos.
Abri um dos olhos, e percebi as suturas em minha cabeça sendo feitas,
nada havia quebrado, e nas laterais a luz do dia passava rápido, um misto
de alívio por estar vivo e decepção por ter deixado tanta paz, na breve
experiência além do corpo.
Já havia certo silencio, eu apenas ouvia o som do oxigênio ligado,
quando o estridente som de pneus em frenagem balançou de um lado e de
outro o veiculo, e um longo vôo até o impacto ensurdecedor no solo, depois
a explosão, e novamente me senti voando para o silencio que se seguiu.
Caí consciente no solo, depois que a porta traseira se abriu e arremessou
a maca para fora da ambulância, assisti ao desespero dos homens, presos
nas ferragens que ardiam em chamas, e por 10 minutos, presenciei a morte
daqueles que tentavam me salvar.
Algumas sombras de árvores já anunciavam à tarde quando ouvi sons de
sirene aproximando-se, e em meio ao cheiro de borracha queimada,
combustível e rala fumaça, vi surgirem dois homens e uma maca, respirei a
salvação, porém não sei por que não me achava no direito de receber esta
dádiva, fui colocado na maca, vislumbrei um pequeno morro e lá em cima
o som de caminhões que passavam.
Lentamente fui levado até o topo, as margens da rodovia, um soldado
posicionou-se no acostamento, depois outro, a viatura em frente, olhei tudo
ao redor, o verde do pequeno morro, os olhos dos socorristas... Depois o
violento estrondo me trouxe a realidade... A viatura foi arremessada sobre
nós, pelo impacto de um caminhão e eu senti como que cortado ao meio,
depois a escuridão...
Novamente ao caminho da luz, eu tinha apenas uma força a me guiar em
direção ao infinito... E aqui estou para contar esta passagem, espero
encontrá-los todos um dia.
FIM
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Minha Morte por Mauro Alves
“O câncer pode te comer a
carne, mas não a alma.” (Faby Crystall)
“Eu posso sentir esse maldito tumor se expandindo dentro do
meu fraco organismo feito uma massa cianótica, consumindo-me
mais e mais por dentro”
Sonhei que estava com câncer. A sensação era a pior que você
possa imaginar. Além do sofrimento psicológico, eu sofria com as
náuseas e perdas de peso, e vomitava poças de sangue diariamente.
E o meu abdome inchava mesmo nos dias em que eu digeria muito
pouco alimento nas refeições.
Quando descobri que estava com câncer, implorei para que o Dr.
Valdecir, o meu médico de confiança, não revelasse nada a minha
família, pois eu já tinha feito vários exames necessários, recebendo
o diagnóstico de que o câncer estomacal já estava em estágio super
avançado me corroendo por dentro. Eu só teria 6 meses de vida...
Mas eu não desisti de viver.
Resolvi então pesquisar a fundo na Internet sobre assuntos
relacionados com lugares ilícitos, que supostamente teriam o poder
alternativo de cura. Essa era a minha última esperança!
Descobri uma localidade velada a poucos minutos de minha
casa. Era uma espécie de tratamento caseiro feito a mão. Resolvi
verificar, até porque, que mal poderia fazer se eu já estava
condenado?
Entrei em meu Parati caindo aos pedaços e tomei rumo a este
lugar que mais tarde eu o julgaria como asqueroso. Quando
cheguei, encostei o automóvel ao meio fio. Saí do carro, descendo
uns vinte lances de escadas encontradas nos fundos de um beco sujo
e fétido. Lá embaixo, deparei-me com um repartimento de espera.
Uma velha chamada Valquíria veio atender-me. Era uma velha
de rosto enrugado cheirando a incenso, de pele branca feito
mármore. Usava um vestido avelhantado azul mirtilo e estava
coberta de argolas pelo corpo. Seus dentes eram roídos e
amarelecidos. Será que ela tinha mesmo o poder da cura?
Valquíria me levou em direção a um corredor esdrúxulo cheio de
quadros arcaicos, das quais muitos tinham a face retorcida do
Diabo. Tive a sensação de que, enquanto percorria aquele corredor
atrás de Valquíria, os olhos dos quadros rolavam na minha direção
como se tivessem me vigiando...
Paramos, enfim, em frente a uma abertura na parede de cimento,
com descida em degraus. Um homem alto e desengonçado, muito
parecido com Jeffry Hyman, nos aguardava lá embaixo.
Quando dei por mim, eu estava em um calabouço subterrâneo
cheio de candelabros acesos. A velha chamada Valquíria colocou-
me deitado em um leito esculpido de pedra, muito desconfortável.
Perguntei a ela o que significava tudo aquilo, visto que Valquíria
ainda nem sabia o tipo da doença que me corroia. Ela nada
respondeu.
O homem alto e desengonçado era o filho de Valquíria. Era uma
espécie de acólito dela. Ele entregou um bisturi elétrico preso num
cabo nas mãos dela... me fazendo imaginar o que Valquíria iria
fazer com aquilo... Abrir-me? Deus me livre e guarde!!
Valquíria fez sinal para que eu ficasse calado, depois ela enfiou
uma agulha em meu pescoço, e eu logo soube que era algum tipo de
injeção. Dois minutos depois, os meus músculos ficaram rígidos e
eu não consegui mais me mover. Era como se eu estivesse sofrendo
de catalepsia!
A velha foi rápida com o bisturi elétrico, estranhamente sem
causar qualquer sintoma de dor. No começo, pensei: ―Ela
certamente me deu uma boa dose de anestesia antes de fazer um
pequeno corte em minha barriga, para que possa retirar o tumor sem
que eu sofra horrores...‖ Mas, um tempo depois, quando eu
consegui erguer um pouco a cabeça pra diante, vi um profundo
corte cirúrgico em forma de um T se estendendo de meu pescoço
até o umbigo!
Urrei de agonia.
— Não se mova maricas! — Valquíria ironizou. Após ter
terminado de usar o bisturi elétrico, ela enfiou as mãos por dentro
do corte em meu peito e afastou as minhas costelas para os lados, da
mesma maneira em que uma pessoa afasta uma cortina para fazer o
sol entrar, fazendo esguichar um grande aqüífero de meu sangue.
Não resisti, morrendo logo em seguida.
Eu tinha passado para o outro lado. Agora eu me tornara um
espírito.
Ao invés de me ajudar, a filha da puta me matou!
O meu plasma espiritual começou a levitar enquanto irradiava
luz ao lado da cama pedregosa, próximo ao meu corpo retalhado. Vi
Valquíria dilacerar ainda mais a carne de meu corpo liberto,
deixando a vista os órgãos internos. Angustiado, tentei gritar para
que ela parasse, mas lembrei que eu agora era um fantasma.
Valquíria remexeu em minhas entranhas e, minuto depois, ela
levantou as mãos e, junto com as suas mãos, veio um horrífico
tumor sangrento...
Era o câncer.
Então o pior aconteceu: Valquíria pegou aquele horrífico tumor
sangrento e o pôs inteiramente na boca!
Valquíria não era curandeira. Valquíria era uma canibal.
E foi assim que ela e o filho ao lado dela se serviram de tudo
dentro de mim, a começar por aquele tumor, depois o coração, o
estômago, fígado, baço, vesícula, rins... Tudo isso junto a um molho
de sangue para dar aquele tempero especial, até não sobrar mais
nada dentro de meu corpo liberto.
Foi dessa maneira que eu morri. Procurei aquele lugar na
esperança de que me curassem do câncer, mas acabei sendo o
banquete de um insólito canibalismo orgânico.
FIM
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Minha Morte por J.R Tavares
Sonhei que tinha 40 anos de idade e estava sozinho em minha enorme
mansão. Eu estava sentado no sofá, jogando vídeo game. No jogo, levei um
gol e fiquei irritado. Arremessei o joystick na tela de LCD de 46 polegadas
da TV. Não tinha problema algum em quebrar minhas coisas, não
importava o preço que custasse, eu era milionário mesmo, amanhã eu
compraria uma televisão nova.
Depois que a tela da TV se encheu de rachaduras e o controle do vídeo
game caiu sem produzir o mínimo ruído, bem em cima do meu tapete
Persa, eu levantei do sofá. Caminhei até a cozinha, reparando na beleza da
minha casa: as paredes eram todas enfeitadas com quadros belíssimos; no
corredor entre a sala e a cozinha havia uma estante cheia de livros – todos
de minha autoria. Eu havia me tornado um escritor renomado e o mais rico
da história da literatura mundial, desbancando aquela Britânica que eu
sempre admirei.
Cheguei à cozinha, abri o armário e de lá tirei uma colher de ouro
maciço, fui à geladeira e peguei uma tigela de brigadeiro. Comecei a
comer. Nesse momento o interfone tocou. Atendi:
— Sr. Tavares, o senhor tem visita.
— Quem é? – Perguntei
— Ele diz que se chama Lúcio.
— Mande-o entrar – Respondi.
Meu velho amigo Lúcio. Eu sabia que mais cedo ou mais tarde ele
viria. Sua chegada era inevitável. Fui até a porta da sala e a abri. Lá
encontrava-se um homem vestido com um terno preto; ele era louro e tinha
o cabelo preso em um rabo de cavalo; tinha olhos verdes e exibia um belo
sorriso.
— Porque você sempre usa esse nome? – Perguntei, abrindo caminho
para que ele entrasse.
— Porque parece com o meu nome verdadeiro – Respondeu ele,
passando pela porta -,que você sabe qual é.
— Lúcifer – conclui.
Há 20 anos eu havia vendido minha alma ao Diabo, e agora, Lúcifer
em pessoa viera cobrar a dívida. Que honra!
— Diga-me, Príncipe das Trevas, o que o traz aqui? – Perguntei, já
sabendo a resposta.
— Vim buscar o que me pertence.
— Então vamos logo com isso.
O Diabo olhou-me nos olhos e perguntou de que maneira eu gostaria
de morrer, eu respondi que queria a maneira menos dolorosa. Ele riu e
colocou os dedos em volta do me pescoço. Começou a apertar, me
sufocando. Eu fazia força, tentando respirar. Em vão. Minha vista começou
a escurecer. Então, eu apaguei.
Essa foi minha morte, morri asfixiado pelo próprio Demônio. Agora eu
estou no inferno, sento torturado e tendo minha alma retaliada, mas só até
que me façam a proposta...
FIM
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Minha Morte por Lady B
Os dias, as semanas, os meses se passavam e nada mudava... Sempre a
mesma angústia presente, sempre as mesmas decepções, as mesmas
insatisfações... Decidi, um dia pensando na minha vidinha sem graça, que
tudo mudaria no dia do meu aniversário... O de 25 anos... Um ato
emblemático para uma data emblemática.
E chegou. Vinte de março de dois mil e dez. Naquele dia, como em
todos os outros, ao despertar, Ela me acompanhava. Aquela companheira
que já não me deixava há um bom tempo: A Tristeza Profunda. Me
levantei, tomei um banho, vesti as roupas negras que costumo portar, e me
encaminhei à cozinha já esperando os votos de ―parabéns‖ que eu tanto
repudiava. Não havia o que comemorar. Minha mãe foi a primeira. Depois
veio meu pai, e em seguida o telefone começou a tocar. Tudo tão
exaustivo....
Finalmente, a hora que eu tanto aguardava chegou. Minha amiga noite
caiu sobre a cidade, a luz da lua banhando o mar. Encaminhei-me ao meu
quarto, vesti meu vestido mais lindo, negro, como todos os outros, fiz uma
bonita maquiagem, coloquei meu melhor perfume, e peguei em meu guarda
roupas a caixa que continha o que eu havia reunido para concretizar minha
tão sonhada mudança de vida... Deixei a carta que estava dentro da caixa
em minha cama, sobre o travesseiro. A afaguei como se afaga a mão de
uma pessoa querida, e nesse momento, uma lágrima rolou por meu rosto.
Munida da caixa, fui para o banheiro. Abaixei a tampa do sanitário, sentei-
me e, refletindo sobre tudo que vinha acontecendo comigo, não conseguia
desgrudar os olhos da caixa que estava em meu colo.
Nos últimos tempos, parecia que tudo havia virado de cabeça pra baixo.
Não conseguia me satisfazer com nada. Meus relacionamentos amorosos
não davam certo, as brigas com minha tão querida mãe eram constantes,
não conseguia resgatar a espiritualidade e paz dentro de mim, o trabalho
que antes me agradava tanto, já não mais me preenchia... Nada mais fazia
sentido. Lágrimas começaram a brotar como uma enxurrada de meus olhos.
Mas estava decidido. Eu já não podia mais conviver com aquela dor
constante, aquela angústia, aquela inquietação que não me deixava.
Devagar, abri a bela tampa decorada da caixinha. Olhei para o seu
conteúdo, e inspirei profundamente. Sorri ao ver que naquela pequena
caixa estava contida a resolução de meu problemas. Peguei o frágil objeto,
o observei bem, e dei uma nova inspirada pra criar coragem. Fechei os
olhos e aproximei aquela lâmina de meu pulso esquerdo. A ardência
sentida no princípio, foi substituída por uma certa dormência. Eu pego a
lâmina com a mão esquerda já sangrenta, e repito o procedimento do lado
direito.
Conforme o sangue vai se esvaindo pelos cortes, junto com minha
patética vida, fico repensando nos bons momentos que tive... Lembrei de
viagens com meus pais, do dia em que ganhei minha tão querida
cachorrinha. A tontura e o embaçado em minha vista iam aumentando, e
um profundo sentimento de paz tomou conta de mim. Aos poucos fui
perdendo a consciência, certa de que agora a Tristeza Profunda, minha
companheira nos últimos anos, não estaria mais ali. Numa confusão branca,
apaguei. De repente, o branco tornou-se negro.
No intervalo que não me pareceu mais do que uma fração de segundo, o
negro foi tornando-se branco novamente, e senti como um tremendo dum
puxão nos pés. Me senti como se estivesse sendo arrancada de algum
buraco. No que consegui abrir meus olhos, me vi diante do meu corpo
desfalecido, ensangüentado. Compreendi que eu tinha conseguido. Estava
morta. Um ser todo vestido de preto, com uma espécie de fogo que não o
queimava ao redor de si, apareceu de súbito ao meu lado. Ele me diz:
— Bem vinda ao mundo dos Espíritos, Lady B. Serei seu guia em sua
nova condição, já que você optou por colocar fim em sua vida.
— Você é um anjo? – indaguei, inocente.
— Hahahaha. Digamos que um dia eu fui... Agora venha...
E partimos juntos para as entranhas da Terra, onde o príncipe das trevas
me aguardava, já que eu agora era o espírito de uma suicida.
FIM
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Minha Morte por Lana Fey
“Nestes últimos anos a população de vários países vêm sofrendo com
ataques biológicos, um exemplo claro são os Estados Unidos da America,
mas este fato não havia chegado ao Brasil, porém há alguns meses estamos
sendo seriamente ameaçados...”
— Notícia ruim às 05:30h da matina, não! 05:30h! Caramba tô
atrasada!
Tive um dia cansativo e estressante. Na rua achei caído no chão um anel
lindo com uma pedra vermelha. Guardei na bolsa. Em 15 minutos já estava
dentro do ônibus, lembrei do anel. O peguei e fiquei a admirá-lo.
Experimentei, não coube em nenhum de meus dedos. Vi que na lateral do
anel havia um minúsculo botão. Apertei. A tampinha que tinha a pedra em
cima se abriu. De dentro dele subiu um pozinho. Espirrei. A senhor que
estava do meu lado também espirrou. Ouvi outras pessoas espirrando.
Fechei a tampinha e o guardei.
Cheguei em casa me sentindo estranha. Liguei a TV, sentei no sofá e fui
escorregando até ficar deitada. Minha cabeça estava latejando, senti meus
olhos pesarem...
Acordei sobressaltada. A TV chiava. Me sentei. Tentei levantar, porém
fiquei tonta cai sentada. Respirei fundo. Notei que o portão do quintal
estava aberto. Levantei com calma. Não estava mais tonta. Caminhei
devagar e desconfiada até o portão, então a vi. Uma mulher vestida de
cigana na outra calçada. Tinha a pele morena, seus cabelos eram
extremamente negros, assim como os seus olhos. Usava uma saia longa e
uma blusa curta, com os ombros caídos, ambas vermelhas.
Ela fez um gesto com a mão me chamando. Me entregou um anel com
uma pedra vermelha e disse:
— Corra ele está atrás de você – fiquei olhando para ela com dúvida.
Ouvi um ruído. Olhei na direção do barulho e pude ver pela parede da casa
da esquina uma sombra enorme. Gelei. Corri... Não olhei para trás, mas
sabia que ele estava em meu encalço.
Vi uma casa aberta com uma movimentação de pessoas, parecia ser uma
festa. Não pensei duas vezes, entrei na casa. O lugar estava cheio. Fui
abrindo caminho com dificuldade. Só queria me esconder. Senti meu corpo
arrepiar, ele estava perto. Entrei no banheiro. Lá encontrei uma amiga que
estava com seu bebê de 6 meses.
— Oi Lana. Não sabia que tinha sido convidada. Você não gosta de
festas – estava muito nervosa, vi que tinha uma outra porta no banheiro.
— Oi Bruna. Na verdade eu não fui convidada. Olha depois agente
conversa, eu preciso ir - disse já me retirando, porém ela entrou na minha
frente e ―jogou‖ o bebê no meu colo.
— Lana, será que você não poderia ficar com ela um pouco. Preciso
fazer uma coisa.
— Olha Bruna, de verdade, não vai dar – Ele já estava na casa. Tentei
entregar a criança mais ela saiu do banheiro. A luz começou a piscar. Não
podia ir atrás dela. Sai pela segunda porta. Surpresa! Neve!? E... Cabanas!?
Não havia tempo para pensar em como cabanas e neve foi aparecer ali.
Com a Fernanda no colo continuei a correr. Parei por cansaço. Todos os
meus músculos estavam latejando. Abracei forte a menina e chorei.
Senti um ar quente em minhas costas. O medo me paralisou, também
não tinha mais forças para correr. Fiquei alguns minutos encolhida com os
olhos fechados e apertando a criança. Nada acontecia, mas sabia que ele
ainda estava ali, tomei coragem, abri meus olhos e me virei. A única coisa
que vi foi uma foice vindo em minha direção e cortando o meu pescoço.
Apesar de minha cabeça estar no chão vi meu corpo ainda segurando o
corpo da pequena. A cabeça dela também foi separada do corpinho.
Não sei o que aconteceu naquele dia, mas hoje vejo que estou presa por
algum motivo, pois ele continua se repetindo. Decidi que desta vez vai ser
diferente. Estou sentada no sofá. Sei que a mulher está lá fora me
esperando para entregar o anel. O anel... Acordei me sentindo arder em
febre. Vi as horas e não havia se passado nem 10 minutos. Na TV passava
um noticiário onde o repórter falava de uma epidemia. Me levantei meio
cambaleante e fui até a cozinha tomar água. Não consegui beber. Segui
para o banheiro, ao me olhar no espelho minha aparência era horrível.
Minha pela estava num tom pálido esverdeado, passei a mão pelos meus
cabelos e com facilidade veio um tufo em minhas mãos, meus olhos... Fui
lançada para trás como se alguém tivesse me empurrado e me debati no
chão com fortes convulsões. Apaguei. Quando voltei tudo estava estranho,
tentei falar, porém de mim só saiu sons desconexos.
―O que está acontecendo comigo?‖ me perguntei chorando ―preciso de
ajuda‖
Sai de casa andando trôpega e avistei um grupo de pessoas, quando me
notaram apontaram para mim, cheguei mais perto, pude ver o horror e
medo nos olhos de uma das mulheres. ―Me ajudem, por favor‖ –
GRRRRRR –
No meu ultimo vestígio de sanidade ouvi quando gritaram:
— Ela está infectada – ―Como assim? Eu infectada? Do que estão
falando?‖
— Doug atire nela.
Bam-bam-bam.
És o meu fim!
“Quando uma pessoa morre e sua alma permanece presa dentro de um
corpo apodrecido, esta se deteriora até deixar de existir”
FIM
Acesse Minha Pagina Click Aqui.
Minha Morte por Maddox “Já faz algum tempo que fiz a passagem, não sei precisar muito bem
porque aqui as coisas são um pouco diferentes. Gostaria de contar o que
nos aguarda depois do que chamamos de “morte”, mas infelizmente não
posso, existem regras e o pouco que posso dizer é que morri, mas ainda
existo...”
— Pela forma que eu levava minha vida, sempre tive duas certezas: eu
iria morrer jovem e não seria numa cama.......... (eu estava certo).
Nunca tive muita noção do perigo e logo me identifiquei com esportes
radicais, fiz de tudo um pouco: pára-quedismo, alpinismo, asa-delta, bung
jump, surf, rafting e mergulho. Quanto mais o tempo passava, mais eu ia
ficando viciado em adrenalina. Aos 37 anos eu já tinha uma coleção
considerável de troféus pelo corpo: cicatrizes, ombro direito deslocado,
pinos na perna direita e havia perdido o dedo mínimo de uma mão que teve
que ser amputado devido a um congelamento irreversível durante uma
escalada.
Eu já tinha uma bagagem respeitável como mergulhador quando fui para
Nassau nas Bahamas realizar um antigo desejo: mergulho com tubarões.
Cheguei para passar uma temporada, mas bastou o primeiro mergulho para
que eu decidisse viver ali para o resto dos meus dias. Para minha família eu
disse que foi o cenário paradisíaco, mas o que me seduziu foi que aquele
era o estilo de vida que eu sempre havia buscado.
Logo arrumei emprego como instrutor numa operadora de mergulho,
não foi difícil, pois não tem muita concorrência neste meio profissional.
Esta modalidade do mergulho é considerada de alto risco e somente
mergulhadores avançados podem participar mesmo habilitados tem que
passar por um teste prático e assinar um termo de responsabilidade
isentando a empresa e os instrutores em caso de óbito.
Era uma tarde como outra qualquer. Preparamos a lancha e fomos para
mar aberto com um grupo de oito mergulhadores como clientes, sendo duas
mulheres. Um deles me preocupou desde o início, seu nome era Rick e
fazia o tipo falastrão, apesar de ter capacitação parecia pouco qualificado.
Durante o percurso, como Dive Master (mergulhador líder), passei as
instruções que deviam ser seguidas à risca por eles:
— Pessoal, prestem muita atenção nas orientações porque qualquer
acidente pode ser fatal. Iremos mergulhar numa profundidade de 30 metros,
seremos 04 instrutores, nossa formação será um na frente, um atrás e dois
nas laterais. Vocês devem descer em duplas no meio do grupo, mantenham
os braços sempre cruzados em frente ao corpo e não façam movimentos
bruscos, ao chegar ao fundo vocês devem ficar de joelhos um ao lado do
outro formando um grande círculo. Alguma dúvida até aqui?
— Porque precisamos ficar com os braços cruzados? – perguntou uma
das mulheres.
— Para evitar movimentos bruscos e não sermos confundidos com uma
tartaruga ou leão marinho que são alimentos potenciais dos tubarões.
— Mais alguma dúvida? – face ao silêncio continuei as orientações.
— Todos os instrutores possuem bastões com descargas elétricas para
afugentar os tubarões em caso de alguma situação de risco, quando
estivermos no fundo um de nós irá alimentá-los e eles ficarão agitados.
Alguns poderão esbarrar em vocês, isso é normal, mantenham a posição e
em hipótese alguma tentem espantá-los com os braços, este erro pode ser
fatal. A espécie mais comum por aqui é o tubarão-tigre e alguns chegam a
medir seis metros de comprimento.
— E tubarão-branco?
— É raro, mas pode aparecer algum. Caso isto aconteça subiremos
imediatamente, pois este tubarão é imprevisível e extremamente agressivo.
Para finalizar, se alguém for atacado se afastem do mergulhador e subam
rapidamente, pois a situação ficará muito grave.
Começamos a descida com seis mergulhadores, dois haviam desistido e
baixas era uma coisa normal após as instruções finais. Eu vinha na
retaguarda e no início tudo ocorreu normalmente, chegamos no fundo e os
mergulhadores ficaram na posição correta, meu colega Bob havia ficado
encarregado de alimentar os tubarões e no centro do circulo começou a tirar
pedaços de peixe do bolsão que carregava. Em segundos os tubarões se
aproximaram, nadando em circulo e abocanhando a refeição fácil que Bob
oferecia. Mark, Tony e eu ficamos posicionados um pouco acima dos
mergulhadores acompanhando com atenção e com os bastões em prontidão.
Em menos de cinco minutos já havia mais de trinta tubarões-tigre
aglomerados ao redor dos mergulhadores, eles estavam indo bem, com
exceção de Rick – o falastrão – que movimentava a cabeça para os lados
freneticamente numa clara demonstração de que estava prestes a entrar em
pânico. Pressentindo que aquilo representava um perigo iminente, fiz sinal
para que iniciássemos a subida. Bob começou a se afastar dos
mergulhadores para atrair os tubarões, mas neste exato momento um
grande tubarão galha-branca esbarrou nas costas de Rick, foi o suficiente
para iniciar o inferno.
Tudo aconteceu muito rápido, Rick entrou em pânico e começou a agitar
freneticamente os braços à medida que começava a subir se debatendo,
num movimento involuntário acabou retirando o próprio regulador da boca
ficando sem receber ar do cilindro. A situação era dramática e o risco de
ataque iminente, Bob continuou a se afastar para atrair os tubarões. Mark
estava perto do atrapalhado mergulhador e chegou em seguida em seu
socorro, aproximando-se por trás conseguiu colocar o regulador em sua
boca, mas não foi rápido o suficiente para imobilizar seus braços. Um
tubarão-tigre de uns quatro metros atacou e em segundos arrancou um dos
braços de Rick. O sangue na água deixou os tubarões em um verdadeiro
frenesi e em instantes Mark e Rick foram feitos em pedaços. Bob foi
atacado em seguida, pois estava no meio de mais de dez tubarões.
Não havia mais nada a fazer por eles e Tony e eu iniciamos a subida
tentando proteger os cinco mergulhadores restantes, sabíamos que restava
pouco tempo e apesar de sabermos dos riscos de uma embolia por uma
subida muito rápida, não tínhamos outra opção e incitamos os
mergulhadores a nadar freneticamente em direção a superfície. A maior
parte dos tubarões ainda estava envolta do banquete macabro alguns metros
mais abaixo e conseguimos afugentar com nossos bastões alguns animais
menores que investiram.
Nossa sorte desapareceu quando os mergulhadores começaram a ficar
separados, agora não havia razão, somente o instinto de sobrevivência
prevalecia e logo os mais lentos começaram a ficar para trás tornando nossa
proteção a todos praticamente impossível. Tony viu que uma mulher estava
muito afastada e freou sua subida para escoltá-la, eu estava mais acima e
tentava proteger os que estavam no meio e os mais próximos a superfície
ficaram entregues a própria sorte.
Dois mergulhadores emergiram e conseguiram subir na lancha em
segurança, eu continuava minha luta para trazer dois mergulhadores até que
dois galha-branca atacaram, um eu consegui afugentar, mas o outro levou a
mulher entre os dentes. O terceiro mergulhador aproveitou o momento e
conseguiu subir, vendo que ele estava em segurança voltei minha atenção
para Tony e a segunda mulher. Eles estavam subindo com Tony
praticamente a rebocando, foi neste momento que o vi: provavelmente
atraído pela grande quantidade de sangue na água, vindo das profundezas
no encalço de Tony estava um gigantesco tubarão-branco de mais de oito
metros, mesmo que Tony o visse não haveria o que fazer.
Tudo aconteceu em segundos, mas na minha mente era como se o tempo
tivesse parado, eu sabia que eles não iriam conseguir. Tinha que fazer uma
escolha era eu ou eles, ou partia em direção ao barco enquanto eram
devorados me dando o tempo necessário para escapar ou fazia o
movimento contrário lhes dando a vantagem que precisavam.
Até hoje não sei o que me motivou a escolher ir de encontro ao tubarão,
pode ter sido culpa por ser o maior responsável por aquelas vidas que
foram perdidas, talvez a matemática pura e simples de achar que duas vidas
valem mais do que uma, mas no fundo eu acho que foi meu instinto e
minha alma indomável que me lançaram na minha derradeira aventura.
Estiquei o braço usando o bastão como se fosse uma lança e nadei com
todas as minhas forças em direção ao fundo do imenso oceano que por
muitos anos foi a minha casa, Tony lançou um sorriso quando me viu indo
em sua direção, ao passar por ele nossos olhares se cruzaram e em silêncio
seu sorriso se transformou em uma triste resignação de agradecimento ao
ver o que eu faria. Nadei com mais força ainda em direção ao mestre dos
oceanos com a certeza da minha morte certa, e em meu intimo só pedi para
ter um último lampejo de coragem para conseguir encarar minha morte
com os olhos abertos...
Aquele foi o ataque de tubarões com o maior número de vítimas em
uma única vez. Dez mergulhadores entraram no mar naquela tarde, apenas
quatro retornaram e seis ficaram para sempre no mar. Eu fui um dos que
ficaram.
FIM
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Minha Morte por Scarlet Pisces
Acordei em mais uma daquelas noite sem sonho algum para me
entreter, engraçado que as vezes pessoas como eu, não sonham, mas para
que sonhar? Por que existe o sonho? Parei de tentar descobrir a razão do
sonho senão iria me atrasar para o trabalho.
Levantei e fiz como todos os dias, tomei um banho, comi meu iogurte
com granola sentada a mesa, enquanto assistia o noticiário que falava de
um tal serial killer que era canibal, foi engraçada a reportagem, porém, não
dei atenção. Fui ao meu quarto me trocar, coloquei um vestido vermelho
balone curto, acima do joelho, sentia-me muito bem com a vestimenta, e
como teria uma reunião importante, quis exagerar no visual.
A rotina do meu trabalho fora a mesma, a reunião havia sido muito
interessante para mim, afinal, foi anunciada a minha promoção como
Editora Chefe. Tudo estava perfeito. Caso melhorasse, estragaria. Tinha
uma vida razoável... Tive dinheiro, um trabalho que me realizava, e é claro,
o meu amor que sempre me acompanhou e me deu força durante quase toda
minha vida.
Comecei a perceber como eu estava pensativa durante esse dia e como
havia pensado na minha vida. Dizem que as pessoas pensam muito quando
estão próximas de morrer, mas como nunca fui muito disso resolvi não
pensar na morte que estava mesmo por vir.
Sai do trabalho, feliz da vida, entrei na minha linda captiva azul marinho
liguei o player, deixei em um som ambiente, logo em seguida liguei para o
meu amor, contei à ele sobre a promoção, e desliguei rapidamente.
Quando passava por uma rua próximo a minha casa, o pneu do meu
carro furou e tive que descer para olhar, senti uma leve sensação de estar
sendo um vigiada, então, como eu não sabia trocar o bendito pneu, liguei
pro seguro vir buscar o carro, acabei indo a pé, afinal estava apenas a 3
quadras da minha casa.
Resolvi cortar caminho por um beco, foi ai que tudo mudou, e tudo que
me lembro é de ter entrado no beco e dado uns 3 passos, algo veio por trás
de mim, de repente, me agarrou com um lenço molhado, era algum tipo de
álcool, não sei, me fez desmaiar.
Acordei muito assustada e com muito frio, quando abri os olhos percebi
que estava em uma banheira cheia de gelo, tinha um pouco de sangue
misturado com o gelo, fiquei muito assustada, pois estava sem roupa,
completamente molhada e com uma dor insuportável em todo meu corpo,
estava tudo dormente e eu estava congelando.
Tentei levantar, mas pra meu horror e desespero, não conseguia mover
as pernas, tentei forçar o corpo até cair no chão, foi ai que gritei com uma
dor mais insuportável ainda na minha barriga, foi quando olhei havia sido
cortada e estava costurada com algum tipo de cordão de nylon, fiquei
apavorada e tudo o que lembrei foi de meu pensamento sobre a morte de
hoje cedo, tentei gritar, pedir ajuda e tudo o que me apareceu foi um
homem com uma roupa verde e um avental de cozinha branco, cheio de
sangue, ele se aproximou de mim e me pego do chão e eu sobre o efeito do
gelo meu corpo estava dormente, não pude nem ao menos gritar. Ele me
colocou numa mesa parecida com a do hospital quando somos examinados.
Pedi pra ele por favor parar, ofereci a ele dinheiro, mas ele apenas
observava e acariciava a costura mal feita em minha barriga. O ―maníaco‖
então começou a abrir o corte e enfiar a mão dentro de mim, eu gritava de
tanta dor que sentia, parecia que ele estava arrancando tudo o que tinha
dentro de minhas entranhas, foi ai que comecei a ficar tonta e mais fraca,
senti que a morte estava se aproximando,foi então que vi ele arrancando
minhas tripas e as comendo, e eu apavorada e chorando por ver o meu fim,
por assistir a minha própria morte, não resistindo mais, senti o amargo
gosto da morte me consumir e então fechei meus olhos pela ultima vez.
FIM
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Minha Morte por João Murillo
Sonhei que estava em meu Honda Civic Turbo 95 dirigindo a cem por
hora. No CD Player tocava uma musica do Guns N´ Roses. Acelerei mais,
queria ver até quanto meu possante conseguia correr, afinal, estava em um
retão. Cheguei a cento e vinte, que maravilha. A sensação de liberdade era
ótima, toda a minha atenção estava no asfalto a minha frente, a direção
chega a ficar mais leve. Apertei mais o pé no pedal da direita, cento e
cinqüenta. Uma nova música começa ―Speed King‖ do Deep Purple, era
exatamente como eu estava me sentindo, o rei da velocidade. Fiz uma
curva suave para a direita, estou a cento e sessenta por hora. Nossa senhora,
aquilo é bom demais. Continuei assim por algum tempo.
De repente, na minha frente apareceu um corpo cinza cruzando a
estrada. Ainda consegui gritar:
— Meu Deus!
Tentei frear, mas em vão. Bati em um jumento a cento e sessenta por
hora, ele girou por cima do capô do carro, suas patas ficaram presas quando
ele quebrou pedaços do pára-brisa em um coice. Perdi o controle do carro.
O animal começou a se debater em cima do capô, deve ter quebrado uma
perna ou algum osso, suas patas passam a poucos centímetros de mim.
Ainda tento controlar o carro, mas não tenho mais o que fazer. O barulho
de pneus queimando na pista é ensurdecedor. Finalmente, levo um coice no
ombro, outro no peito e um no queixo que me fez apagar por um ou dois
segundos. Acordei quando o carro começou a capotar. O animal no capô e
despedaçado. Ainda tenho chance de ver o pára-brisa todo manchado de
sangue, fezes e tripas, antes dele estourar em mil pedaçinhos de vidro. Não
sei quantas capotagens aconteceram, pois levei fortes pancadas da direção
no peito e depois bati com a cabeça no teto do carro várias vezes.
Acordei em uma cama estreita, o ambiente branco me inspira paz. Tento
falar, mas alguma coisa em minha garganta me proíbe. Aquela coisa me da
uma sensação de que logo vou vomitar. Olho para o lado e vejo uma serie
de tubos e máquinas ligadas a mim. Flashes de memória começam a
aparecer. Vejo o velocímetro do meu carro a cento e quarenta por hora.
Depois tudo fica branco, novamente, outro flash. Agora estou sendo
retirado por bombeiros dos destroços do carro.
Uma dor forte em meu queixo me desconcentra por algum tempo, o
pouco que posso mover minha língua me revela que perdi alguns dentes.
Uma enfermeira aparece do nada e diz:
— Hora de voltar a dormir.
Quando tento falar alguma coisa, noto que não consigo nem sequer
articular palavras. Ela aplica um medicamento no meu soro e poucos
segundos depois eu estou dormindo.
Acordo com uma dor sufocante no meu peito. Tento gritar, mas o
máximo que consigo é dar um gemido alto o suficiente para que duas
enfermeiras venham me socorrer. Elas aplicam outro medicamento,
fazendo com que a dor alivie em poucos minutos. Uma delas me diz:
— Meu amigo, em cinco horas será horário da visita da UTI. Procure
descansar, para que quando seus familiares vierem lhe ver, você esteja
direitinho.
Apenas faço um gesto positivo com a cabeça. Não tenho nada para fazer
nessas cinco horas, não consigo nem sequer me movimentar. Nesse tempo
que me separava de minhas visitas, fiquei pensando se alguém viria me ver,
nossa será que a minha noiva viria? Será que minha mãe viria? Algum tio
ou primo?Alguém?
Cinco horas depois, enquanto eu tirava um leve cochilo, fui despertado
por uma mão que apertava a minha delicadamente, abro os olhos e vejo a
figura de minha mãe. Ela me diz:
— Olá, meu filho?
Lágrimas escorrem de nossos olhos, mas ela rapidamente enxuga as delas,
afinal, ela deve ter recebido instruções para não chorar dentro da UTI, pois
isso seria ruim para o paciente e para o ambiente dos demais enfermos. Ela
conversou um pouco sobre assuntos sem importância, a única coisa que me
disse que eu fiquei muito surpreso foi que já se haviam passado três dias
desde o acidente, eu passara três dias em coma total. Ela se despediu e saiu.
O aperto que senti em meu peito, deve ter sido o mesmo que ela sentiu,
pois éramos muito ligados. Pouco depois vi a figura de meu velho pai com
seus cabelos brancos, eles me fizeram pensar que eu não iria alcançar honra
da idade. Meu pai olhou para mim, depois ficou olhando para os monitores.
Pela segunda vez na minha vida, eu o vi chorar, mas depois de alguns
soluços ele se animou e falou comigo sobre futebol, nosso time havia
ganhado a última partida, de dois a zero. Disse que não sabia mais o que
falar para mim, assim como eu não sabia o que dizer para ele quando ia
visitá-lo no hospital há dez anos, ele me desejou boa sorte e saiu.
Finalmente, vejo meu amor chegar, ela diferentemente de meus pais não
vem chorando, minha noiva chega com um sorriso no rosto e diz:
— Oi, meu Pindobinha.
Aquele apelido carinhoso, me fez chorar. Deu-me um beijo demorado
na minha testa e ficou debruçada sobre a lateral da cama olhando para mim,
uma lagrima escorreu de seus olhos, mas um sorriso me fez ganhar o dia.
Ela conversou muito comigo, na verdade foi um monólogo, pois só ela
falava, me contou sobre o que aconteceu nesses três dias e como a nossa
família tinha sido pega de surpresa. A enfermeira veio dizer que o horário
da visita havia acabado. Reuni toda minhas forças e consegui gemer
baixinho:
— Amo você.
***
Quando acordei, aquela dor estava voltando. Senti um gosto de sangue
na boca. Parecia que ria vomitar, pois não conseguia nem sequer respirar,
também não conseguia vomitar. Uma enfermeira correu para tentar me
ajudar, ela gritou para um médico vir me socorrer. Estava começando a
perder os sentidos, estava sem ar, ainda pude ouvir uma voz masculina
dizer:
— Ele esta se afogando no próprio vômito! Rápido! Temos que tirar o
tubo da garganta dele!
Mas, era tarde demais. Tudo escureceu, não sentia mais nenhuma dor.
Só tinha paz e silêncio. E um enorme desconhecido diante de mim.
FIM
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Minha Morte por Dulcie
Alguém se aproximou e pousou a mão em meu ombro.
Quase não consigo respirar mas aspiro um perfume antigo e escuto:
— Oi meu amor ...
A melodia de sua voz caminha pela escuridão do quarto frio
e enche meu coração de gosto enquanto tateio sua mão e toco
seus dedos longos para sentir o arrepio da despedida.
Minha mente se distrai e passeia bem perto do muro do cemitério.
Nenhum barulho
Nenhum ruído
Quem será que inventou o cemitério?
Esse autor pensou no secreto desejo do morto, esse personagem
sem vida, sem escolhas mas talvez com uma vontade expressa em
sombra de se entranhar na terra, para legitimar o próprio corpo.
Corpo
Carne e osso
Arruma tuas malas, vamos nos separar
não sei se sentirei tua falta, nada te devo.
Apago
Um vento seco faz a curva e me leva agarrada
ao seu colarinho entranhada de flores.
Onde estão seus dedos?
Seu perfume evaporou amor.
Uma espécie está em suspensão.
Flutuo acima do monte da quietude
numa posição espiritual.
Onde meus versos giram aprendendo agora a transformar-me em nuvem
para chuviscar florais e perfumar o ar que nos uniu amor.
Finalmente pertenço a um ciclo - sem - fim ...
— A Deus amor.
FIM
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Minha Morte por Fernando Calixto Jr
Estava em meu carro, uma Hilux preta de quatro portas, um sonho de
infância enfim realizado. Do meu lado esta a minha esposa Luciana, estava
linda como sempre, no banco de trás esta a minha princesa, minha filha
Letícia.
Eu estava com os meus exatos 36 anos de idade, olhei pelo espelho do
carro o quanto o tempo mudou meu aspecto físico, poucos cabelos
grisalhos já faziam parte das curtas mechas que antes eram castanhas,
algumas rugas já se faziam presentes.
Estranhei estar com a barba feita, coisa que quase não fazia, mas agora
fazia parte da minha rotina, pois um representante da Microsoft não podia
andar com sua estética mal apresentada.
Olhei para o meu lado direiro e notei o quanto o tempo foi generoso
com meu amor, parece que ele lhe fez bem, a beleza de seus olhos estava
mais viva do que antes, seu sorriso de nada mudou. Estava presa ao celular,
tratava de negócios da sua empresa de corretores de imóveis, mas ao notar
que a olhava, lançou-me um beijo no ar, isso me fez perceber o quanto meu
casamento era feliz.
Olhei para Letícia no banco de trás, Linda como a mãe, pele morena
clara, longos cabelos lisos, a mim somente puxou os olhos verdes e cabelos
castanhos. Estava com seus 8 anos de idade, desde cedo já estava envolvida
com o mundo da tecnologia, brincava tranquilamente com um protótico de
um lap top inteligente que era ativado por comando de voz, o desenvolvi
especialmente para crianças, ela parecia adorar os computadores tanto
quanto eu.
Eu estava indo para o trabalho, levava Letícia para a escola pois ficava
no caminho, minha esposa pegou uma carona comigo pois seu conversível
vermelho estava com ruídos estranhos, e como já estava atrasada para uma
reunião decidiu ir comigo.
O atraso me fez cortar caminho, logo á frente avistei uma pequena
ponte feita de concreto, um pouco abandonada, alguns cabos ainda a
sustentavam. Estava indo á 60 Km/h, não queria correr demais pois não
estava só, e não queria correr risco algum.
Ao chegar ao meio da ponte, um dos meus pneus traseiros estoura, me
fazendo perder totalmente o controle da direção. Meu carro dá um breve
giro na lateral da ponte, fazendo com que alguns dos cabos se rompam, por
sorte alguns cabos impedem a nossa queda.
Pelo retrovisor vejo um outro veiculo que vinha logo atrás de mim, em
seguida sinto um forte empurrão na traseira do carro. Sou empurrado para
frente, fazendo com que os cabos que me sustentavam também se rompam
e assim me lançando rio adentro, próximo á margem.
Rapidamente a água invade o interior do meu carro, desesperado,
consigo destravar o sinto que me prendia ao banco, logo destravo o de
Luciana também, e por milagre consigo a por para fora. O carro lentamente
vai indo ao fundo do rio, meu amor chora aos prantos gritando que Letícia
ainda se encontra no banco de trás.
Em um único pulo me jogo ao rio, penso no pior, mas vejo que Letícia
ainda batia no vidro da janela. Consigo entrar pela janela do motorista pela
qual consegui sair e também retirar Luciana.
Adentro no veiculo, observo que o sinto prendia Letícia, tento de todas
as formas abri-lo, mas é em vão, lembro-me do pequeno espelho que
Luciana usava para retocar a maquiagem momentos antes. Consigo quebrar
o espelho com a mão, mas ganho um corte que logo se mistura com a água
que já se aproximava ao topo do teto do carro, ignoro o ferimento e agarro
com força o maior pedaço que permaneceu e com ele consigo cortar o
cinto.
Agarro Letícia e tento a por para fora do veiculo, mas algo me impede
de chegar até a janela que entrei, um maldito cinto enroscou-se em meu
pescoço e meu corpo. Consigo dar um ultimo suspiro com o pouco ar que
atrasa a água de inundar por completo meu carro, indico Letícia até a janela
aberta, e ao por as suas mãozinhas para fora é logo puxada por sua mãe.
A essa altura meu carro já estava submerso, procuro pelo pedaço de
vidro que agora pouco salvou minha filha, mas que infelizmente se perdeu
em meio ao desespero. Olho pelo pára-brisa e vejo meus dois anjos aos
gritos e lagrimas.
Tento respirar mas é em vão, meu peito dói, e a agonia que sinto é
insuportável, a sensação de tentar respirar e não poder é indescritível.
Ainda tento me libertar do maldito cinto, mas isso faz com que o corte que
tenho na minha mão sangre ainda mais, fazendo a água em minha volta
tingir-se de vermelho.
Tento gritar mas isso faz com que meus pulmões se esvaziem do pouco
ar que me resta. Estico meu braço direito em direção de Luciana e Letícia,
vejo que elas fazem o mesmo do outro lado do pára-brisa.
Sinto meus pulmões encherem-se de água, a imagem das duas vai
ficando fraca, e mais fraca. Lentamente vou perdendo meus sentidos, já não
sinto minhas mãos, em seguida meu corpo inteiro, agora somente a pouca
visão das duas abraçadas e chorando em desespero.
Finalmente sinto que meu carro chegou ao fundo do rio, ainda consigo
ver a luz do sol que clareava a superfície, ate que finalmente as luzes se
apagam e show da vida se encerra.
―Essa foi minha morte, morri afogado para salvar aquilo que eu tinha
de mais precioso nessa vida. Não pensei duas vezes antes de arriscar e
perder a minha vida pelas pessoas que amo.”
FIM Acesse Minha Pagina – Click Aqui.
Minha Morte por Joe Phoenix
Sonhei que estava no apartamento de meu tio, aparentemente
sozinho.Era de noite, e era estranho não haver ninguém lá.Eu estava me
sentindo estranho, cansado, mas não estava doente.E não sabia porque
estava ali.
Decido ligar a TV, para ter alguma companhia.Eu nunca gosto de ficar
sozinho a noite, é quando coisas terríveis acontecem.
Não encontro o controle, então vou liga-la manualmente, mas ela
simplesmente não liga.A tomada estava ligada, não sabia o que estava
errado.Talvez a TV estivesse queimada.
Tento sair do apartamento, mas a porta estava trancada.Meu tio sempre
levava a chave quando saia.Eu teria que espera-lo voltar, e, quando ele sai
assim de repente, geralmente para beber, ele só volta muito tarde.Sem TV,
eu não tinha absolutamente nada pra fazer.
Me deito no sofá, de onde eu havia acordado, e começo a pensar em
coisas, várias coisas, como por exemplo, o que há após a morte.É um
mistério total, muitas pessoas dizem coisas totalmente diferentes, no que
podemos acreditar?
Ao pensar demais, acabei ficando mais cansado.Então eu fecho meus
olhos e lentamente caio no sono...
Acordo sentindo aquela sensação ruim, um calor infernal.Ao olhar ao
redor, percebo o apartamento completamente em chamas.Fico desesperado.
Eu ouvia gritos desesperados do lado de fora.Aparentemente o prédio
todo estava pegando fogo.Tudo por causa de um vizinho, que esqueceu um
cigarro aceso.É, cigarros sempre foram uma desgraça.
A porta estava trancada, e repleta de chamas.Eu não sabia o que fazer.O
fogo estava se arrastando, e consumindo o apartamento rapidamente.Se eu
não fizesse nada, morreria queimado.Mas é um saco morrer queimado,
nunca pensei que acabaria assim.Então, vou até a janela e a abro.Eu estava
no sexto andar, então teria de tomar muito cuidado.
Sigo para o parapeito estreito, e olho as pessoas, correndo para fora do
prédio, gritando desesperadas.Lá longe vejo o caminhão dos bombeiros
chegando e penso, \"Estou salvo!\"
Mas então, uma fumaça negra e densa cobre minha face, me fazendo
engasgar e perder o controle de mim mesmo.Quase a mesma sensação de
quando alguém solta aquele bafo de cigarro na sua cara.Então,
infelizmente, acabo caindo.
Caio de costas, sentindo aquele vento pesado da noite fluindo em meu
corpo.A sensação de estar voando.O momento fica lento, como se cada
segundo fossem minutos.Ouço gritos abafados de pessoas, e, reconheço
rapidamente a voz de meu tio.Enquanto caia lentamente, tive tempo de
pensar em minha vida.Minha breve vida.Todos os planos, e sonhos, todas
as preciosas pessoas que pude conhecer e todos aqueles com quem já tive
desentendimentos, tudo parecia só um sonho distante.
Penso que acabou.Sentimento, Situações alegres e tristes, seria o fim de
tudo.Sinto meu corpo pesado batendo brutalmente em algum objeto que
não pude ver, girando meu corpo e me fazendo ir diretamente de cabeça ao
chão.Ao chocar contra o solo, tudo que sinto é uma grande explosão, e
minha visão fica branca.Um branco claro, celestial.Eu estava perdido em
algum lugar estranho, mas reconhecível para todos.
Uma voz me diz para seguir em frente.Começo a caminhar, com uma
grande expectativa para desvendar o grande mistério.Continuo seguindo na
estrada solitária, enquanto a luz ofuscante engolia minha alma...
FIM
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Minha Morte por Julio Dosan
— Você é muito dramático, Julio – Disse Eli enquanto abria o vinho.
Não, eu não era. Eles estavam lá fora, esperando meu tombo, esperando
minha queda para rirem de mim... Queriam ir até meu funeral, sorrir de
frente a minha face morta e depois de meu enterro, urinar em meu tumulo!
— Não sou dramático, meu amor... Só acho que talvez eu deva... Me
entregar.
Ela me serviu a taça de vinho, encheu a dela e bebeu uma generosa
golada antes de me dizer:
— Se entregar? E quanto a mim? O que será da minha vida sem você?
Eu na verdade não estava pensando em nada daquilo. Só queria que tudo
acabasse logo:
— Cedo ou tarde eles me pegam, e quando o acontecer, faram o pior...
Antes que eu terminasse, Eli pegou a bolsa e saiu, enxugando as
lagrimas que escorriam de sua face. Pensei em me levantar da cadeira e
impedir sua partida... Mas não o fiz... Tive uma escolha, e se ela voltasse,
fatalmente eu amoleceria e não me cumpriria...
Caminhei só pelas ruas tão conhecidas de Maceió. Um estranho me
aguardava, impaciente e trajado em roupas largas. Moda. Moda o caralho!
— Ai, tu é o tal Julio?
— Sim. Trouxe o que pedi? O livro?
— Trouxe os quinhetinhos?
Arranquei o montante do bolso. O sujeito contou em minha frente e me
entregou o livro velho. Correu dali para a escuridão de seus dias.
Me voltei ao livro. Abri e o contemplei:
— É este!
Tal qual se pedia no livro, ajeitei o bode, o punhal, as velas negras e a
garrafa de cristal. Dilacerei meu peito com o punhal, criando nele o portal
citado no livro, evoquei o Anjo Negro desenhado nas paginas velhas e
bradei as palavras pedidas, antes de arrancar o sangue de meu pulso e
deixá-lo escorrer dentro da garrafa de cristal... Senti uma presença nefasta
pairar e pousar sobre o bode. Este me olhava ofegante. Levei as mãos até o
portal dilacerado em meu peito e bradei:
— Depois do fim, quero ficar um pouco mais!
— Ficara mais... Mas tem que prometer que quando voltar, não voltará
sozinho.
— Eu... Prometo!
O bode possuído me sorriu, lhe ungi com a garrafa de cristal,
derramando por sobre sua cabeça meu próprio sangue... De súbito, senti
uma tontura me dominar... Desmaiei.
Acordei naquele quarto imundo com uma dor de cabeça absurda. O
bode estava morto, todo estrinchado, como se o Anjo Negro tivesse
escolhido o modo mais cruel de se sair de dentro dele. Meu celular
começou a vibrar. Era ela, Eli.
— Amor – Disse eu preocupado – Você esta bem?
— Sim... Quero ir pra casa...
Eu também queria. Alias, precisava. Pegamos o primeiro vôo de volta
pra casa, eu estava apreensivo, mais certo do que fazer. Eu liguei para o
Torres, ele se fez de surpreso, mas adorou a idéia. Liguei para todos os
outros, insanos e selvagens... Os malditos egoístas que me odiavam e que
queriam me ver morto! Eles teriam seu desejo realizado... Talvez eu
também teria o meu...
Ela sorriu e me abraçou... Em lagrimas me perguntou antes do avião
descer:
— Tem certeza de que realmente quer se entregar, meu amor?
— Tenho – Respondi seguro – Mas acabara tudo bem... Me espere para
o jantar... Certamente eu irei.
Fomos pra casa. Tomei um banho e vesti meu melhor terno. Me
preparei para ir a casa do Torres... Eli me beijou e disse ainda chorosa:
— Espero não ser a ultima vez...
— Não será, meu amor... Eu te prometo que não será...
Não será!
Dirigi até a casa de Torres... Seus dois capangas me revistaram e nada
encontraram... Adentrei na grande e bela casa, todos eles estavam sentados
em volta de uma grande mesa, bebendo e sorrindo, tal qual eu pedi. Entrei e
fui convidado a sentar junto deles, ao lado de Torres. Torres me serviu uma
taça de vinho e disse:
— Sei que você gosta, Julio. Este em especial é da safra de 82... Ano
em que você nasceu! Que jeito bom de se terminar tudo, não?
Os outros seis riram do comentário negro, eu apreciei um gole do
vinho. Estava do meu agrado. Levantei a taça ao alto e bradei:
— Um brinde a tão sonhada vingança! Que hoje finalmente será
alcançada!
Eles riram e brindaram comigo.
Após a refeição, Torres levou o braço a minha volta e disse:
— Sabes que não sairá vivo daqui, não é Dosan?
Eu sorri e afirmei que sabia... Eles se levantaram ansiosos pela
sobremesa, ao lado deles, caminhei calmo até os fundos do quintal e recebi
o primeiro soco na boca, dado por Maurício, o mais sanguinário de todos...
Eles se divertiam me surrando... Quando eu já estava fora de mim, me
deitaram em uma mesa...
Torres se aproximou com um grande facão, usado para destrinchar
carnes, e me indagou:
— Uma ultima palavra, Julio!
— Sacrifício – Disse eu já fora de mim...
Eles sorriram, Torres ansioso olhou para todos e apertou a grande faca
contra meu peito.
A faca adentrava em minha carne me rasgando selvagemente... Correu
em meu coração, arregalei os olhos e sorri, sentindo a morte finalmente me
abraçar... Eles comemoravam desgraçadamente, Maurício em extrema
alegria, arrancou a grande faca e lambeu meu sangue, rindo como um
lunático... Dançaram em volta de meu cadáver fresco e abriram
champanhe, comemorando o feito fácil e tão bem sucedido.
A noite caia e eles ainda comemoravam... Avistei o portal em meu peito
e adentrei novamente em meu corpo... Meus olhos se abriram e eu sorri...
Eles já estavam bêbados, nem notaram quando me levantei... Peguei a faca
que Maurício arrancou de mim e fui até eles... Atingi fatalmente um por
um... Até chegar em Torres...
Torres arregalou os olhos... Não queria acreditar em tudo aquilo. Mas
era fato.
— Uma ultima palavra, Torres!
— Me perdoe!
Não perdoei... Cortei-lhe a garganta e senti seu sangue quente esguichar
em minha face morta... Me voltei a Maurício, que agonizava no chão...
Levei a faca até seu peito, arranquei seu coração e o devorei, ouvindo seu
ultimo suspiro... Os dois capangas vieram disparando tiros contra mim... Eu
sorri indo em direção a eles... As balas batiam em minha carne inútil e lá
ficavam... Quando cheguei perto dos malditos, eles ainda estavam com
esperanças de me verem cair, segurei o pescoço dos dois, um em cada mão,
e os esganei até sentir o ultimo sobro de vida vazar de seus corpos...
Fui até o quarto de Torres... Arranquei minhas roupas sujas e tomei um
banho... Vesti um de seus belos ternos, arranquei flores de seu jardim e
dirigi até a casa do meu amor...
Eli me aguardava com um belo jantar... Ao me ver, sorriu chorosa e
comemorou, me abraçando:
— Você conseguiu! Conseguiu meu amorzinho!!!
A mim não importava mais nada, olhei para a mesa bem montada... A
tontura me veio... Eu teria que voltar ao mundo dos mortos, e conforme
prometido ao Anjo Negro, não voltaria sozinho... Ainda abraçado com meu
amor, alcancei uma faca na mesa e a apertei em meu punho... A cravei em
suas costas e a apertei forte em meus braços... Até sentir seu ultimo suspiro,
que se foi junto com o meu...
FIM
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Minha Morte Por Sidney Muniz
Chamo-me Sidney Muniz, tenho vinte e sete anos, tenho esta idade há
quase dez anos. Estive vagando pelo vale da morte, um deserto de larvas,
mergulhei em um oásis de sangue podre, o cheiro aqui é horrível, vermes
por toda parte, baratas horrendas e nojentas por todo meu corpo, elas
andam sobre mim, ratos gordos e pegajosos me perseguem, são centenas
deles, cobras de duas cabeças fazem buracos na areia negra debaixo de
meus pés descalços que afundam nesta lama que fede a animal morto,
urubus e corvos voam por toda parte, seus olhares me perseguindo.
Bem, aí talvez você se pergunte então como eu escrevi este texto. Não
sou eu, ou melhor não é o meu corpo, nem meus dedos e sim os de uma
bela menina de doze anos de idade a qual acabo de visitar
inesperadamente. Não me apossei dela por acaso. Ela é de uma família de
videntes, um hospedeiro ideal para uma alma como a minha. Já fazia tempo
que não sentia o calor de um corpo humano, e esta é a primeira que possuo,
não sei bem como aconteceu, mas de repente ela estava ali rezando a algum
de seus deuses obscuros, e em outro momento eu me senti atraído, puxado
como um metal que encontra um imã e é forçado a se conectar a ele. A
força de atração foi algo inexplicável, e por fim aqui estou. O que vim
fazer? Bem é muito simples. Eu vim contar a minha morte. E assim quem
sabe alguém que ler esta história encontre uma solução para minha alma e
após isso eu possa sair deste lugar mórbido e cruel. Ainda sinto lesmas
subindo em minhas pernas, sangue-sugas grudados em meu corpo, mas não
sinto dor, é pior que isso, uma sensação que se repete o tempo todo, como
se eu estivesse definhando, eu sou um lixo podre vagando pelo inferno, ou
por algo próximo a isto. Eu não mereci isto mas eu fui amaldiçoado. Como
isto aconteceu? Como eu morri? Bem melhor contar logo antes que eu
perca esta conexão. Os pais dela já estão procurando um modo de me tirar
de seu corpo. Eu agora estou no quarto dela, trancado, mas eles foram
buscar ajuda.
Mas bem, tudo aconteceu a dez anos. Eu estava dando uma volta pela
rua do bairro, quando passei próximo a um beco e ouvi gritos. Aproximei-
me ainda mais e ouvi um pedido de socorro. Naquele momento pensei em
ir embora, mas bem eu não o fiz. Era o grito de uma mulher. Adentrei
naquele beco escuro. Ela ainda gritava. Eu ia devagar para tentar
surpreender quem quer que fosse. Catei um pedaço de cano de ferro no
chão. Mais a frente já podia ver a silhueta dos dois. Ela era uma mulher
bonita por sinal. Morena, cerca de 1,75 de altura, corpo sensual, ela estava
com a cara na parede tentando se desvencilhar dele, ele rasgava suas roupas
a chamando de cadela, dizia que ela iria o pagar, enquanto ela o pedia pra
solta-la.
— Solte-me! Solte-me seu canalha!
— Você é minha, sua vadia!
Eu me aproximei com o cano de ferro na mão e gritei com o cretino.
— Largue-a imbecil! Quando ele olhou para mim vi que ele era gordo
e senti seu odor, ele parecia um gigante, deveria ser um mendigo, seus
dentes estragados e um de seus olhos era furado.
— O que você faz aqui seu merdinha?
— Solte-a! Já disse! Ele sorriu pra mim, com aquela boca horrorosa e
fétida.
— Quer me pegar é seu babaca? Então vem me pegar. Ele disse
jogando – a contra mim. Eu não tinha outra escolha e parti para cima dele.
Mas algo estranho aconteceu. De repente alguém me acertou por trás e eu
caí no chão. Minha cabeça sangrando, mas eu estava consciente. Tentei me
levantar, mas não conseguia. Senti algo sobre meu rosto, era o salto de uma
sandália vermelha.
— Coitadinho! Tão corajoso e tão burro! Ela ria de mim. Aquela
maldita prostituta.
— Vamos levá-lo. Pegue o saco preto. Eu estava meio tonto, sem
forças. Eles então me colocaram dentro de um enorme saco de lixo e me
jogaram no porta malas de um carro que estava na esquina do beco.
Naquela hora senti que me espetaram algo, era uma agulha. Não tive forças
para lutar. Ligaram o veículo e eu apenas o senti se movimentando. Por fim
desmaiei.
Acordei ainda dentro do saco preto e me preparava para jogar os pés
contra aquele gordo e tentar fugir. Mas eu não estava mais no porta-malas,
chutei o ar. O saco se rasgou e eu recuperado saí de dentro dele e assim
estava livre ou era o que pensava. Quando me levantei ouvi o barulho de
cachorros latindo, muitos cachorros. Olhei ao meu redor e vi que estava
numa espécie de arena no meio do nada. Mato por todo o lado, parecia ser
uma fazenda, eu estava dentro de um cercado de tela, uma lona de circo
cobria todo o cercado, placas na tela escritas ―Cerca eletrificada‖, cadeiras
esparramadas do lado de fora, pessoas sentadas, em sua maioria vestiam-se
de terno e gravata. Eu estava ali, mas não estava sozinho, havia mais um
homem, deveria ter 40 anos, era negro e forte, quase dois metros de altura.
Estava tão assustado quanto eu.
— O que é isso? Ele perguntou.
— Não sei! De repente uma voz invadiu aquele lugar.
— Boa noite Sidney e Raul... Sei o quanto estão confusos, mas estão
participando de algo inovador, uma competição, vocês devem lutar pelas
suas vidas. Aquele que viver será livre. Sejam bem vindos ao circo ―Arena
sangrenta‖, ninguém ainda saiu vivo daqui e vocês tem a chance de serem
os primeiros.
— Você está louco! Disse o negro. E como sabe nossos nomes?
— É muito simples, estavam em suas carteiras de identidades.
— Maldito! Eu disse. Solte-nos seu cretino!
— Vou soltar sim. Soltem os cães! Disse a voz.
De repente quatro pitbulls entraram na arena. Eles rosnavam feito
loucos, Raul olhava assustado para os lados, nunca havia visto um homem
daquele tamanho com tanto medo.
— E agora o que fazemos? Ele me perguntou.
— Eu não sei! Olhava ao meu redor procurando algo para me
defender. Os cães avançaram. Vinham devagar rosnando e babando. Do
lado de fora os cretinos pareciam torcer para que morrêssemos ali.
Raul com medo saiu correndo.
— Não faça isso! Eu disse. Mas era tarde demais. Os cães atacaram.
Eles avançaram para cima dele de uma forma insana. Mas ele era muito
rápido, o problema é que logo acabaria o cercado.
Pensei que estava a salvo por aquele momento, mas não, eu estava na
mesma enrascada. Um dos cães veio em minha direção. Eu fui correr e caí.
Ele pulou encima de mim. Foi quando por reflexo encontrei uma pedra no
chão, grande o suficiente para mata-lo, e também o suficiente para que eu a
segurasse em minha mão. Quando ele pulou na minha jugular eu o acertei
na cabeça e ouvi um ganido, um ultimo ganido daquele animal feroz que
caiu sem vida, sua cabeça ensangüentada. Catei outra pedra e parei mo
meio da arena.
Lá estava Raul, os cães o cercaram, ele só tinha a cerca elétrica ou as
presas daqueles cães assassinos. O que ele podia fazer? O que eu podia
fazer? Algo estúpido o suficiente é claro. Assobiei bem alto. Os cães se
viraram para mim. Catei outra pedra. E assobiei de novo. Os animais foram
ainda mais estúpidos que eu e avançaram em minha direção.
— Droga! Pensei. Estou morto.
Eles vinham tão rápido que a poeira se levantava por suas patas. Joguei
uma das pedras tentando acertar algum deles. Mas foi em vão. O cão
desviou tão rápido da pedra que meu medo só aumentou. O que fiz? Corri!
Agora eu era o alvo.
Foi quando vi um cão caindo rolando na terra, Raul havia o acertado na
pata. Ele gania desesperado. Mas ainda restavam dois. Pensei em atirar
minha pedra. Mas preferi não arriscar, ela já havia me salvo uma vez.
Continuei a correr. Eles se aproximando. Raul logo atrás. Mas eles me
queriam. Suas bocas salivavam por meu sangue. Por fim lá estava eu como
Raul, preso entre os cães e aquela maldita cerca. Os cães diminuíram e me
cercaram, um a esquerda e o outro a direita. Estavam á um metro de mim,
eu a um passo da cerca. Agora eu morro...pensei. Um deles pulou em
minha direção. Fechei meus olhos, e de repente aquele barulho, um ganido
horrível, Raul havia chegado e enquanto o cachorro pulava ele o pegou pela
pata traseira e o jogou contra a tela.
— Quer cachorro quente? Ele perguntou. Mas o outro cachorro
avançou faminto em minha direção. Abri meus olhos e o acertei bem no
olho. Ele caiu ganindo. Estava louco. Ainda assim queria me pegar.
Rosnava feito um demônio. Dei outra pedrada em sua cabeça e seu sangue
respingou em meu rosto. Ele estava morto.
— Cachorro assado, você quer dizer. Disse a Raul.
— Obrigado Sidney! Você me salvou lá atrás.
— Tudo bem! Estamos kits!
— Parabéns! Estupendo realmente. Mas vamos ver como se saem
agora.
— O que poderia ser pior que isso? Perguntei?
— Melhor não perguntar! Disse Raul. E ele tinha razão, lá estava a
fera, era algo surreal. Um leão entrava na arena. Um enorme leão seguido
de um homem, um domador.
— Que continue o show! Disse a voz. Nunca tive tanto medo em
minha vida. Que chance teríamos contra um leão? Pensei.
— Que droga! Disse Raul. Estamos mortos.
Os olhos dos espectadores estavam acesos, loucos para ver sangue.
Eles queriam nossa morte.
— Maldito! O leão atacou. Suas garras ferozes partiram em nossa
direção. O domador atrás dele.
— Corra Raul! E ele correu. Mas como competir com um leão. Suas
garras penetraram na pele da perna esquerda de Raul, o sangue escorrendo.
Ele iria continuar até matá-lo, arrancar seu couro fora. Era minha vez.
Joguei a pedra no animal. O domador tentou conte-lo mas agora ele me
queria. Era questão de honra. Partiu pra cima de mim. O domador sempre
se escondendo atrás dele. Um chicote em sua mão. Foi quando percebi. O
leão só atacaria com suas ordens. Tínhamos que pegar o chicote. Gritei pra
Raul.
— O domador! Ele obedece ao domador! Eu estava frente a frente com
o animal. Raul se levantou, sua perna sangrando, mas ele era muito forte e
por sorte o leão apenas o acertara um vez. O domador, é claro ouviu o meu
grito. Mas ele também não era imune ao leão. O leão temia aquele chicote.
Quantas vezes ele deve ter apanhado para aprender a teme-lo.O domador
virou-se para Raul o chicote em sua mão, Raul olhava para ele.
— Não tente isso! Raul disse. Não gosto de me sentir um escravo.
O domador lançou o chicote sobre Raul, que por milagre ou talvez por
mera sorte segurou o chicote em suas mãos.
— Venha cá Indiana Jones! Disse Raul que deu um puxão no chicote,
trazendo consigo o domador. Ele o olhou nos olhos.
— Eu disse pra que não fizesse isso! Ele deu um soco no domador e o
mesmo caiu desmaiado, tamanha a força de Raul. Eu nunca havia visto
alguém cair daquela maneira somente com um soco.
O leão agora estava parado a minha frente. Ele parecia um gato atrás de
um rato, esperando meu movimento para que me atacasse. Eu estava inerte.
Não sei se pelo medo ou por já ter visto diversas reportagens sobre animais
selvagens, onde sempre alertavam para que não corresse, pois assim apenas
daria o primeiro passo para que eles iniciassem uma caçada. Mas o leão
não esperou por muito tempo. Mesmo eu quieto, talvez por eu ter o
acertado a pedra, ele me atacou. Seus dentes cravaram em meu braço
esquerdo. Eu senti uma dor indescritível. Não sei como não desmaiei
naquela hora. Foi quando o chicote o acertou, Ele me largou imediatamente
e se virou para Raul. Raul estava com o chicote na mão. Imponente.
Mancando. Sangrando. O animal olhou para sua perna. Ele deu outra
chicotada. O leão abriu a boca em sua direção. Mas não arriscou. O medo
do chicote era algo muito maior que sua sede de sangue.
— Guie ele até a jaula! Eu o disse.
— É claro! Disse Raul.
— E assim ele usou o chicote o guiando até a jaula. Haviam dois
homens com metralhadoras na porta da jaula. Assim que o leão entrou. Os
homens fecharam a jaula.
— Excelente mais uma vez. Incrível mesmo! Agora me pergunto!
Quanta força vocês ainda tem? Até quando vão lutar? Hora dos
palhaços!Disse aquela voz.
— O quê? Entraram dois palhaços um era baixo, e o outro era enorme,
ainda mais alto que Raul, porém gordo. O menor carregava dois facões em
sua mão enquanto o outro duas espadas daquelas de mágico.
— Afinal que circo é este? Disse Raul.
— Não sei! Mas estes palhaços não estão aqui pra brincadeira.
Meu braço ardia em dor. Raul sangrava e manquitolava. Não daria
conta daquele gigante que entrara na arena. Eles vinham rindo em nossa
direção. Girando espadas e facões, eram o prenuncio de nossa morte. O
mais baixo veio em minha direção, Raul é claro ficou com o Gigante.
— Maldição! Nunca pensei em morrer assim.
O mais baixo correu até mim e me atacou com o facão. Mesmo sem
forças lancei meu braço esquerdo a frente, ele acertou meus punhos e eu
soltei um grito. Um enorme grito de dor. O facão estava tão amolado que
atravessou minha mão. O sangue jorrava de meu braço. E num surto o
ataquei.
O gigante ia em direção a Raul que se protegia como podia com o
chicote. Em um golpe certeiro o gigante partiu o chicote ao meio com uma
de suas espadas. Ele avançou contra Raul.
— Hora de morrer negro!
Em meu surto não me pergunte como, derrubei o menor no chão, um
de seus facões caiu ao lado de minha mão que havia se separado de meu
braço. Com minha mão direita o apertei o pescoço. Ele dando golpes em
meu ombro e costas com o facão. De repente ele havia parado de respirar.
Eu estava fora de mim. Foi quando o grito de Raul me despertou. Minhas
costas cortadas, minha mão decepada, a adrenalina era tanta que naquele
momento algo em meu cérebro bloqueou aquela dor. Peguei o facão com
minha mão direita e parti pra cima do gigante que havia cravado a espada
na barriga de Raul.
— Maldito! Eu disse o apunhalando pelas costas. O facão atravessou
suas costas e o sangue escorreu de sua boca, ele ainda deu dois passos em
minha direção. Foi aí que o reconheci, era o homem do beco. Por fim caiu
de barriga no chão. Raul ainda respirava. Mas não resistiria por muito
tempo.
— Fique calmo amigo. Eu disse. Mas de que adiantava. Já havíamos
sobrevivido tempo demais. Foi quando a voz se manifestou novamente.
— Parabéns Sidney! Espetacular realmente. Ele entrava com uma capa
vermelha de mágico. Era a coisa mais horrenda que eu já havia visto. Você
venceu! Apenas o último ato e estará livre. Mate o Raul!
— O que você é? Eu disse.
— Sou um mágico! Sou mágico... sou sombrio... sou um demônio... ele
gargalhava enquanto falava. Seus dentes eram maiores que os do próprio
leão, eram pontiagudos, ele era magro, não havia pele, apenas carne e
ossos, os órgãos pulsando em seu corpo estranhamente, orelhas estranhas e
peludas, olhos vermelhos maquiavélicos, e em sua mãos viscosas haviam
dedos compridos e unhas que mais pareciam-se a garras. Quando ele falava
a sua saliva pastosa prendia-se a seus dentes, tinha uma vós rouca e grossa
ao mesmo tempo, era assustadoramente nojento.
— De onde você veio?
— Eu vim do inferno é claro. E é pra onde você vai se não mata-lo!
— Eu? Mas por que?
— Por que vai matar este homem, ou irá vagar pela eternidade pelo
vale da morte. E não pense que isso é melhor que o inferno. Ele ria
enquanto falava. Todo meu corpo doía, o sangue fugindo por minhas veias.
O que eu fiz para merecer isso?
— Vai mata-lo ou escolhe o outro caminho? Olhei ao redor e vi todas
aquelas criaturas de terno e gravata. Demônios! Era um circo do inferno.
Levantei-me. Arranquei o facão do corpo do gigante e olhei para Raul.
Desculpe-me amigo. Adeus! E corri em direção ao monstro, ele abriu
raivosamente sua boca e duas enormes asas de morcego surgiram de trás de
seus ombros,ele vinha de encontro a mim. Foi quando por um simples
segundo pude o ver em sua forma humana, uma mulher, maldita prostituta.
Ele cravou seus dentes em meu pescoço e arrancou parte de minha carne.
Eu caí de joelhos no chão, sangue escorrendo pelo meu peito, ofegante,
minha força se esvaindo. Ainda escutei Raul dizendo...
— Sidney, não!
Naquele momento era como se uma maldição tomasse conta de mim. E
assim estou pagando por ter matado um demônio. Foi a última coisa que vi.
Ele soltando meu pescoço já sem forças, suas garras segurando o cabo do
facão e puxando-o de sua barriga. O sangue jorrando... sangue podre, o
mesmo daquele deserto, seus últimos suspiros, de – repente toda aquela
arena não existia e os demônios sumiram. Ele se desintegrou com uma
explosão de sangue, suas partículas pelo chão, carne podre esparramada.
Raul se levantou, estava inexplicavelmente curado. Eu venci, mas ele foi
quem viveu. Naquele momento fechei meus olhos e morri, tragado pela ira
do demônio. Este é o fim de minha vida e o começo de minha morte.
Agora tenho que sair deste corpo pois há um homem aqui, está rezando,
evocando espíritos que ele desconhece, monstros que podem o perseguir,
que podem o matar, demônios começaram a chegar... Meu Deus não
consigo sair dela... O que faço? E o pior os demônios agora se apossaram
dele e também dos pais dela. Malditos! Eles me querem! São filhos dele!
Querem vingança!
Mas eu os matarei! Um a um!
FIM
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Minha Morte por J.C KING “Nunca imaginei como seria a minha morte. Pra falar a verdade, tenho
medo da morte. Já passei por situações em que minha vida ficou por um
triz. Mas nada se compara a morte certa. Acho que dormir e não acordar
mais deve ser uma boa maneira de se morrer. As vezes no entanto tenho
medo de dormir e não acordar mais. Uma boa descrição da minha
provável morte seria algo como...”
ME ENCONTRO DEITADO...
OLHOS PRA CIMA...
ELES ESTÃO PESADOS...
SONO DA MORTE SE APROXIMA...
FAZ FRIO E SINTO MEDO...
MINHA RESPIRAÇÃO ESTÁ ACELERADA...
MEU CORAÇÃO BATE MAIS FORTE...
ESTOU ASSUSTADO E NÃO QUERO DORMIR...
LUTO CONTRA O SONO,MAS ELE ESTÁ ME VENCENDO...
OLHOS PESADOS...
SONO DA MORTE...
CORAÇÃO ACELERA...
BATE MAIS FORTE...
DE REPENTE PARA...
TUDO ACABA...
FIM
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Minha Morte por Júlio A. S.Crisóstomo
Acordei sufocado, angustiado... Tentava respirar, porém meus pulmões
pareciam fechados. Meu Deus! Eu abria a boca na tentativa desesperada de
um sopro, de um vestígio de ar. Instantes de uma agonia intensa, mas que
aos poucos fora se aliviando e, enfim, respirei profundamente. Um medo
inquietante da morte me tomara naquele momento. Percebi o quando ela
poderia ser cruel.
Devido à asfixia, nem percebi onde eu havia acordado. Olhei tudo em
volta. Um ambiente inóspito... Sombrio... Aterrador... Era noite e eu estava
no meio de um vale árido e podre, completamente rodeado por montanhas,
estas tão secas quanto o chão rachado em que eu pisava. À minha frente,
uma imensa fenda aberta, um rio estéril, onde a única água era uma poça de
lama. A podridão que tanto incomodava meu olfato provinha de lá.
Eu não sabia em que direção seguir, não sabia sequer como tinha ido
parar ali. Eu tinha sede, meus lábios estavam lascados de tanta sede. E por
mais que eu hesitasse, o único lugar onde eu poderia matar minha secura
era justamente o lugar que mais me provocava asco. Desci até a lama e,
mesmo não agüentando o odor fétido, ajoelhei-me às margens e saciei
minha sede. Enquanto fazia isso, por um segundo, levantei minha vista e
minha ânsia de vômito tornara-se insustentável: cadáveres mutilados e em
decomposição emergiam da lama.
— Meu Deus! – Levei as mãos à cabeça em desespero, ao passo que
expelia toda a água imunda que ingeri.
Fiquei completamente atordoado, tentando entender o que diabos eu
estava fazendo naquele deserto medonho. Foi então que me dei conta.
— Estou morto. – Pensei em voz alta e chorando.
Eu realmente estava morto. Tive um câncer que já havia tomado conta
de quase todo o meu corpo. Os médicos deram-me seis meses de vida. Mas,
como eu poderia já ter morrido?! Não fazia uma semana que eu recebera a
notícia. Não era justo eu ter morrido tão rápido.
Após entender que eu havia morrido, passei a me questionar por que
teria eu ido parar naquele inferno. Afinal, sempre procurei ser justo, era
bom com meu próximo e todas essas coisas de ―bom samaritano‖. Sem
pensar, amaldiçoei a Deus por eu estar ali.
Comecei a vagar pelas sombras daquele vale, buscando uma luz ou uma
alma perdida que pudesse me encontrar. Pensamentos de desgraça me
tomavam e eu tinha uma vontade imensa de morrer. Mas isso já havia
acontecido. Eu tinha ódio de mim mesmo e não entendia por quê.
Fome e sede... Dia após dia, vagando pelas trevas, sem um rumo... O
mal da minha fome e da minha sede é que elas não podiam me matar,
doíam em mim, corroíam minhas entranhas, mas não podiam me matar. Eu
amaldiçoava aquele lugar e as pessoas que viveram comigo na terra, porque
eu achava que elas eram culpadas pela minha desgraça.
Certo dia, nem sei como, consegui chegar ao topo da montanha mais
alta daquele lugar. De lá se via o abismo, negro e sem fundo, eu queria me
atirar, mas um medo mundano ainda me tomava. Mesmo já estando morto
a uma eternidade, eu tremi diante do abismo. Então, caí prostrado ao chão,
em prantos, angustiado.
— Meu Deus, me perdoa, mas me diz por quê! Por que eu vim parar
neste inferno? Por que eu não mereço estar em paz?
E por um instante, uma tranquilidade infinita me tomou. Minha fome e
minha sede se foram. Eu levantei a cabeça e estava novamente à beira do
rio, mas ele não estava mais seco. Era caudaloso e cheio de vida.
Olhando ao longe, também às margens do rio, avistei uma árvore.
Linda, frondosa. Mas, havia algo de estranho nela.
— O que é aquilo pendurando no galho?
Aproximei-me para averiguar. Foi então que entendi tudo. A visão da
minha morte veio a mim.
Eu estava amargurado. Com ódio do mundo e de Deus. O câncer estava
me matando aos poucos. Estava me castigando com uma dor insuportável.
Eu não aguentaria mais seis meses daquilo.
Alguns dias após receber a má notícia, eu saí de casa e dirigi sem rumo,
completamente desnorteado. Acabei jogando o carro num precipício, mas
eu saí ileso. Eu queria desistir de fazer a loucura, mas uma voz insistente,
provocante, incitante... Ela não me deixava parar. Eu tinha que por um fim
a tudo, a todo aquele suplício. Peguei uma corda que havia no porta-malas
e segui caminhando mata adentro. Andei por horas até avistar o rio, até
encontrar a árvore.
Durante alguns minutos fiquei ajoelhado, olhando aquelas folhagens,
deixando a tal voz me dar forças. Levantei-me, fiz um laço na corda e
amarrei-a no galho mais alto da árvore. De cima dele, pus o laço no
pescoço... Fechei os olhos... E pulei.
Meu pescoço não quebrara com queda e eu sufoquei. Sufoquei por
minutos infindos, pendurado naquela corda. Meu peito formigava e meu
pescoço doía violentamente, era a angústia da morte sem ar. Eu tentava
respirar, buscar fôlego de onde não vinha, era inútil. Eu estava morrendo...
Agonizando... Olhando meus pés balançarem sobre o chão árido daquele
vale tenebroso.
FIM
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Minha Morte por ‡Ånjo Sidéreo‡
“Gota a gota, o sangue despedia-se de meu abdômen.
A negrura em meus olhos, podia ser sentida de meu flácido e desdenhoso
coração...”
―Acordei estonteante e pálido, naquele frio dia de inverno.‖ A noite
havia sido maravilhosa; muito sangue, festa, música e poesia. Era o ―Sarau
dos Lobos‖, assim como chamávamos nossos encontros às vésperas de lua
cheia (era a última noite de lua crescente).
Nossa matilha era unida e bem organizada. Uma vez por ano reuníamos
para as comemorações de nossos ancestrais e a fusão com outros covens.
Mas algo surreal aconteceu naquela noite.
Duas horas antes
A paisagem era belíssima.
O manto veludíneo e negrume da noite, guarnecia à floresta fechada a
qual todos nós idolatrávamos. A lua crescente dava seu último adeus sobre
nossos festejos em idolatria aos antigos.
A cada arranhada em nossas vítimas, mais nossos aduncos afiavam-se.
Estávamos, logicamente, em nossa forma humana, pois, o cheio luar ainda
pairaria pela próxima noite, mas mesmo assim, possuíamos uma estupenda
força além do comum. Ah, quão saboroso era dissecar um humano envolto
em sua ira, barbárie, rancor, violência e ganância com mias próprias mãos.
A cada fincada em seus pescoços virgens e delicados, uma taça era
colocada para que cada um saboreasse da devota bebida.
Adorávamos recitar nossas poesias sobre aqueles corpos fenecidos e
esquartejados por nossa gana iracunda. Jogávamos o ―Jogo do sangue‖:
aquele que conseguisse encher uma taça em um menor número tempo com
o sangue de sua vítima, venceria o jogo e ganharia somente a cabeça de
cada defunto ali presente, fora o corpo inteiro de sua própria vítima.
Com os respingos do líquido carmesim sobre a terra, uivávamos à
senhora Lua, ainda crescente, em completa devoção e apetite.
Aguardávamos ansiosos pelo momento de virar o dia e cair o arrebol, para
assim, nos transformarmos na figura dantesca que éramos: Licantropos.
Mas algo deu errado.
Uma de nossas vítimas, diante de toda aquela algazarra, havia fugido e o
momento também havia fugido de nosso controle.
Tal vítima era um louco, insano e doente serial killer, o qual havíamos
roubado da polícia ao ser transferido para um presídio de segurança
máxima! Procuramos noite afora, floresta adentro, mas, nada além de
trapos e alguns animaizinhos mortos.
Depois de muito caminhar senti uma forte pancada em minha nuca.
Meus amigos já estavam ébrios e jazidos pela mata. Senti um tétrico
arrepio, meus olhos esbugalharam-se em ira, mas não tinha forças o
suficiente, pois, o dia quase raiava. Caí e por ali fiquei.
Acordei estonteante e pálido, naquele frio dia de inverno. Estava em
uma espécie de cabana antiga, infestada de aranhas, figuras retorcidas,
cabeças humanas dentro de vidros, experiências in vitrum, peles humanas
fixadas pelas paredes e eu, permanecia totalmente acorrentado e inerte
sobre uma maca de aço, nem um pouco confortável.
Meu olhar, um tanto quanto turvo, observava meu algoz de costas.
Ouvia sua respiração, sentia seu cheiro fétido de humano asqueroso, ouvia
sua mente e seu assobio tenebroso.
Ele virou-se e com uma colher de pau em uma de suas mãos caminhou
em minha direção. Ao meu lado, outros instrumentos demonstravam que
ele não estava ali por brincadeira.
— Ah, meu lobinho querido, como se sente deitado nesta maca? Está
confortável, está?
— Vamos, mate-me logo, verme nojento! – revidei com todo o ódio
daquela raça asquerosa.
— Acalme-se minha fera! – ironizou-me, agraciando meus cabelos com
sua voz fina e envelhecida.
Ele era uma figura um tanto quanto grotesca. ―Ahã, olha eu, o sujo
falando do mau lavado‖ (sorri mentalmente).
Ah, mas aquela colher de pau em uma de suas mãos, não negava o que
ele poderia fazer comigo.
— Sabe, meu querido lobinho! – novamente ironizou-me.- O corte de
uma lâmina é assaz dolorido e de difícil cicatrização. Um corte apenas e
um humano comum deveria tomar uma injeção anti-tetânica, passar por
uma cirurgia, dentre outras coisas mais. Mas, como você é um ser
sobrenatural e que apenas uma bala de prata o mataria; se assim estivesse
em sua forma de ―lobo‖, darei a você uma escolha simples.
— E qual é a escolha, velho! – revidei tentando me soltar das correntes.
— Queres uma morte a queimar sua pele tal qual uma lâmina afiada e
vir a agonizar até o seu fenecer ou...
De repente, mal terminou sua frase e enfiou a colher de pau lentamente
em meu abdômen, cavocando-a sem piedade! Ah, aquilo doía...ah, como
doía! A parte côncava da colher parecia travar na entrada de meu abdômen,
fazendo com que, aos poucos, o sangue esvaísse e as entranhas
começassem a dar sinal de vida.
— Hum, lobinho, como dói, não é mesmo? E de colher dói ainda mais!!
Ah, como é bom sentir a dor que vocês passam a nós humanos, quando nos
fazem sofrer em seus ritos medíocres.
Eu resfolegava sem parar. O sabor do sangue era regurgitado variadas
vezes.
O velho, não satisfeito, tratou de ajudar-me ainda mais, no quesito: dor!
Tal qual um canibal dissimulado, puxou lentamente nacos de minhas
entranhas, colocou em sua boca e deu início a uma sucção terrivelmente
dolorosa para meu ser lupino. A medida em que sugava, outros de meus
órgãos internos, remexiam-se e caminhavam para o topo de meu ventre.
Estômago, fígado e baço; insistiam em deslizar barriga afora.
Levantou-se de meu corpo e com um bisturi, apontou ao meu mamilo
direito e aos poucos, lancetou-o ardilosamente, não contente, com o mesmo
instrumento rilhou, vagarosamente o meu tendão de Aquiles, para que eu
não saísse realmente daquela posição. A dor era aterradora.
Foi quando sem mais forças, lânguido e entregue á morte, a besta
humana sacou um martelo e um prego, mirou em um de meus olhos e
perfurou toda a profundidade de meu globo ocular com extrema violência e
ardor.
“Gota a gota meu sangue despedia-se de meu abdômen.
A negrura em meus olhos, podia ser sentida de meu flácido e desdenhoso
coração.
E assim, findava-se a saga do Licantropo devorador da escória fétida
da raça humana.”
FIM
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