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36 www.linuxmagazine.com.br CAPA Asterisk descomplicado VoIP com Asterisk – parte I O sistema telefônico ultrapassado, presente até pouco tempo atrás nas empresas, é prolífico em cobranças: cada novo recurso ativado requer uma nova ativação de serviço, com o preço adicionado ao pagamento mensal. É hora de mudar. É hora de criar sua própria central VoIP. por Stefan Wintermeyer P or que alguém se daria ao tra- balho de programar seu próprio sistema telefônico, quando já existem dezenas de opções à venda no mercado? A resposta: porque não é possível conseguir tudo nas opções do mercado. As opções dis- poníveis costumam ser caras demais para pequenas empresas. Contudo, no Asterisk [1] qualquer um pode implementar os recursos presentes naquela solução de R$ 100 mil, e ainda ajustá-los precisamente às suas próprias necessidades. Somado a aparelhos telefônicos VoIP, o PBX Asterisk não apenas economiza nas chamadas, mas também dispensa uma segunda rede de cabos telefônicos. Tendências na voz sobre IP Até meados de 2006, a proporção de empresas que tiravam proveito do VoIP – completo ou em paralelo com o sistema legado – era inferior a 9%. No final de 2007, a previsão da consultoria Techconsult se concre- tizou, e esse número alcançou 16%. Ela enxerga o VoIP como uma força capaz de causar quebras no gerencia- mento de redes, pois essa tecnologia acrescenta tráfego sensível a atrasos na rede, além de aumentar o próprio volume do tráfego normal de rede – leia-se: VPNs. Além disso, surgem questões como espionagem via VoIP e o temido spam telefônico (spit). E os números atuais, só mostram o vertical crescimento da tecnologia. Na Europa Central, há três cená- rios comuns para o uso do Asterisk: Asterisk como sistema de te- lefonia ISDN: substituindo o antigo sistema telefônico por um novo esquema de telefonia através do computador por meio de placas ISDN e, internamente, por telefones VoIP (figura 1). Asterisk como sistema de VoIP puro: todas as chamadas são via VoIP, tanto internas quanto ex- ternas, e não há mais ISDN. A exigência, no entanto, é uma conexão ininterrupta à Internet (figura 2). Asterisk como proxy: usando o Asterisk como proxy ou gateway entre seu sistema tradicional e o novo sistema ISDN (figura 3). Ele roteia chamadas VoIP via Asterisk para outros locais de forma transparente. Há discus- sões a respeito de custos e de criptografia via Internet. Esta variante também é interessante para a migração gradual para o Asterisk, pois permite que cada departamento da empresa migre para o VoIP em um momento diferente, respeitando as parti- cularidades de cada um. O Asterisk é para o VoIP o que o Apache representa para os webmas- ters: o fim dos dias em que o PBX era uma caixa-preta impenetrável. Qualquer programador pode pôr em prática seus conhecimentos e ajudar o sistema a avançar segundo suas próprias opiniões. Ainda por cima, o Asterisk combina telefonia ISDN, analógica e VoIP. A única desvantagem: ganhar familiaridade com o Asterisk não é fácil. Esta série de artigos se destina justamente a tentar explicar os principais recursos, passo a passo, e expor as vantagens e desvantagens desse software. Olá mundo, alô Asterisk O tipo de telefonia (analógica, ISDN, VoIP) não importa: o artigo começa mostrando como criar uma instalação 100% VoIP. Numa modificação do clás- sico “Hello world” da programação, você instalará um sistema Asterisk e, primeiramente, apenas um, depois dois telefones VoIP SIP (Session Initiation Protocol). Quando um dos telefones chamar o número 1234, o Asterisk se encarregará de reproduzir um som que diz “Hello world”.

Voip Com Asterisk Parte i

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Asterisk descomplicado

VoIP com Asterisk – parte I

O sistema telefônico ultrapassado, presente até pouco tempo atrás nas empresas, é prolífico em cobranças: cada novo recurso ativado requer uma nova ativação de serviço, com o preço adicionado ao pagamento mensal. É hora de mudar. É hora de criar sua própria central VoIP. por Stefan Wintermeyer

Por que alguém se daria ao tra-balho de programar seu próprio sistema telefônico, quando já

existem dezenas de opções à venda no mercado? A resposta: porque não é possível conseguir tudo nas opções do mercado. As opções dis-poníveis costumam ser caras demais para pequenas empresas. Contudo, no Asterisk [1] qualquer um pode implementar os recursos presentes naquela solução de R$ 100 mil, e ainda ajustá-los precisamente às suas próprias necessidades. Somado a aparelhos telefônicos VoIP, o PBX Asterisk não apenas economiza nas chamadas, mas também dispensa uma segunda rede de cabos telefônicos.

Tendências na voz sobre IPAté meados de 2006, a proporção de empresas que tiravam proveito do VoIP – completo ou em paralelo com o sistema legado – era inferior a 9%. No final de 2007, a previsão da consultoria Techconsult se concre-tizou, e esse número alcançou 16%. Ela enxerga o VoIP como uma força capaz de causar quebras no gerencia-mento de redes, pois essa tecnologia acrescenta tráfego sensível a atrasos na rede, além de aumentar o próprio volume do tráfego normal de rede

– leia-se: VPNs. Além disso, surgem questões como espionagem via VoIP e o temido spam telefônico (spit). E os números atuais, só mostram o vertical crescimento da tecnologia.

Na Europa Central, há três cená-rios comuns para o uso do Asterisk: Asterisk como sistema de te-

lefonia ISDN: substituindo o antigo sistema telefônico por um novo esquema de telefonia através do computador por meio de placas ISDN e, internamente, por telefones VoIP (figura 1).

Asterisk como sistema de VoIP puro: todas as chamadas são via VoIP, tanto internas quanto ex-ternas, e não há mais ISDN. A exigência, no entanto, é uma conexão ininterrupta à Internet (figura 2).

Asterisk como proxy: usando o Asterisk como proxy ou gateway entre seu sistema tradicional e o novo sistema ISDN (figura 3). Ele roteia chamadas VoIP via Asterisk para outros locais de forma transparente. Há discus-sões a respeito de custos e de criptografia via Internet. Esta variante também é interessante para a migração gradual para o Asterisk, pois permite que cada departamento da empresa migre para o VoIP em um momento

diferente, respeitando as parti-cularidades de cada um.

O Asterisk é para o VoIP o que o Apache representa para os webmas-ters: o fim dos dias em que o PBX era uma caixa-preta impenetrável. Qualquer programador pode pôr em prática seus conhecimentos e ajudar o sistema a avançar segundo suas próprias opiniões. Ainda por cima, o Asterisk combina telefonia ISDN, analógica e VoIP. A única desvantagem: ganhar familiaridade com o Asterisk não é fácil. Esta série de artigos se destina justamente a tentar explicar os principais recursos, passo a passo, e expor as vantagens e desvantagens desse software.

Olá mundo, alô AsteriskO tipo de telefonia (analógica, ISDN, VoIP) não importa: o artigo começa mostrando como criar uma instalação 100% VoIP. Numa modificação do clás-sico “Hello world” da programação, você instalará um sistema Asterisk e, primeiramente, apenas um, depois dois telefones VoIP SIP (Session Initiation Protocol). Quando um dos telefones chamar o número 1234, o Asterisk se encarregará de reproduzir um som que diz “Hello world”.

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InstalaçãoComo acontece com frequência no mundo do Código Aberto, é possível instalar o Asterisk em qualquer siste-ma Linux. A maioria das principais distribuições já oferece até pacotes do Asterisk, o que, inclusive, representa um problema: a criadora do Asterisk, Digium (quadro 1), lançou uma média de uma atualização por mês, impossi-bilitando que as distribuições normais mantivessem seus pacotes atualizados. Por isso, vamos compilar o Asterisk a partir do código-fonte.

Este tutorial é feito em Debian 4.0, mas usuários de Linux experientes não terão dificuldades para transferir as instruções para qualquer distribui-ção moderna. Então, lá vamos nós: procure um hardware confiável para o Asterisk, que não tem grandes ne-cessidades de CPU, contanto que ele só trabalhe com um codec. A cone-xão à Internet e à rede local deve ter pelo menos baixa latência. Quanto ao sistema operacional, uma instalação mínima do Debian 4.0 é suficiente e até recomendável. Todos os comandos a seguir requerem privilégios de root.

O comando a seguir garante que o sistema instalará todas as atuali-zações e, ao reiniciar, terá todos os pacotes mais recentes.

apt-get update && apt-get -y upgrade && shutdown -r now

Para instalar o Asterisk, primei-ro é preciso instalar alguns pacotes através dos comandos:

apt-get -y install build-essential libncurses5-dev

A compilação é feita no diretório /usr/src/, pois alguns plugins que talvez sejam necessários no futuro vão buscar seus fontes justamente neste diretório.

Para baixar e descompactam o código-fonte do Asterisk (quadro 2), execute os comandos a seguir.

wget http://downloads.digium.com/pub/asterisk/asterisk-1.4-current.tar.gz

tar xvzf asterisk-1.4-current.tar.gz

Como o nome varia conforme a versão mais recente do software, lembre-se do diretório mostrado – que

neste artigo, é “asterisk-1.4.10.1”. Em seguida, entre no diretório com cd.

O Asterisk 1.4 é a primeira versão que usa o configure para preparar a compilação, através dos comandos ./configure && make && make install. Você irá instalar uma versão mínima do Asterisk, adequada para o início deste tutorial. Depois, vamos com-

Figura 1 Neste cenário, um PC com Asterisk e uma placa ISDN substituiu o sistema telefônico antigo. Internamente, usa-se telefonia VoIP.

Figura 2 Asterisk como sistema VoIP puro. Internamente e externamente, usa-se somente telefonia sobre IP.

AsteriskPSTN

Asterisk Internet

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CAPA | VoIP com Asterisk

pilar outros módulos. Para ter uma instalação básica funcional, digite ainda make samples para colocar no diretório /etc/asterisk/ alguns ar-quivos básicos de configuração. Em futuras atualizações do Asterisk, você pode repetir todos os passos anterio-res, mas deixe de fora o make samples.

Arquivos de configuraçãoAo verificar o diretório /etc/aste-risk, nota-se mais de 60 arquivos de configuração, de adsi.conf a zapata.conf. Mas não se aflija: até profissio-nais Asterisk só costumam trabalhar com alguns poucos arquivos. Pior

ainda: os diferentes arquivos não têm uma gramática unificada, e por vezes cada um aceita um conjunto diferente de grafias para as palavras chave. Em último caso, experimente cada uma das grafias.

O parser do Asterisk não funciona da forma normal, com análise léxica e posteriormente sintática para gerar os tokens. Por esse motivo, o OpenPBX [2], um projeto derivado do Asterisk, adotou um formato único (.plist) para seus arquivos de configuração.

Os dois primeiros arquivos mais importantes a editar são o sip.conf (configuração SIP para todos os dis-positivos) e o extensions.conf (o plano de discagem). Em ambos há tantos exemplos que qualquer iniciante se perde no meio de tantas informa-ções. Portanto, apague ambos com:

rm -f /etc/asterisk/sip.conf && rm -f /etc/asterisk/extensions.*

O segundo comando apaga, além do extensions.conf, o arquivo exten-sions.ael, que traz os planos de dis-cagem no novo formato.

Figura 3 Asterisk funcionando como proxy ou gateway entre dois aparelhos tradicionais e a rede ISDN. O novo servidor roteia chamadas exter-nas com mais facilidade.

Quadro 1: O Asterisk conquistou Roma

Telefone foi feito para telefonar, isso é verdade. Porém, nos últimos dez a 15 anos, as infraestruturas telefônicas foram atualizadas. Isso permite que os clientes de uma empresa, ao receber uma mensagem, possam telefonar de volta para quem deixou a mensagem. O sistema telefônico então liga para o Caller-id da pessoa. Muitos veem isso como um des-perdício de recursos, mas, para a empresa telefônica, é uma forma de economizar dois ou três minutos de ligação que seriam gastos após o fim da mensagem, até o receptor da mensagem ouvir o número originário da mensagem, anotá-lo num papel, desligar o telefone e ligar para esse número.

Dois minutos em milhares de ligações por mês. Isso econo-miza custos consideráveis. O mesmo se aplica a sistemas de resposta automática como os dos trens. Hoje, os tele-fones não apenas falam, mas misturam a isso requintes de conforto, como o reconhecimento de voz. E mais e mais sistemas assim se tornam parte das infraestruturas de TI.

Reações exotérmicasAlgumas empresas unem seus departamentos de telefonia e TI. No entanto, isso leva, com frequência, a atritos, pois

dificilmente dois departamentos poderiam ser mais di-ferentes. Montar um PBX com alguns cabos, fios e um ferro de solda. Por outro lado, as pessoas programa-ram sistemas telefônicos incapazes de telefonar uns para os outros.

Enfim, chegou uma empresa americana com um software de Código Aberto para revolucionar o velho mundo. A em-presa se chama Digium, e o software é o Asterisk. Mark Spencer o criou há alguns anos por necessidade pesso-al – ele não tinha o dinheiro necessário para comprar um novo sistema telefônico – uma pena, mas assim surgiu o Asterisk. Inicialmente, ele programou em C o plano de dis-cagem para conectar os telefones analógicos.

Spencer não imaginava que o Asterisk seria tão adota-do. No entanto, conheceu gradativamente outros usuá-rios e fabricantes de placas analógicas, e então nomeou sua criação de Asterisk, o que deu à Digium sua reputa-ção atual. Hoje, 120 pessoas ganham a vida na Digium em Huntsville, Alabama, chamada de forma humorosa de Silicotton Valley.

Asterisk PSTNPABXTradicional

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Seção generalPara registrar um telefone SIP no Asterisk, é preciso adicioná-lo ao arquivo /etc/asterisk/sip.conf. No caso mais simples, isso se assemelha ao exibido na listagem 1. O arquivo sip.conf é dividido em seções, cujos nomes aparecem entre colchetes. No começo da listagem, na linha 2, a porta SIP é definida com seu valor padrão, 5060.

Onde: bindaddr = 0.0.0.0 sig-nifica que o Asterisk escutará em todos os endereços IP da máqui-na. Quem desejar algo diferente deve especificar nesse campo o(s) endereço(s) IP nos quais o servidor deve escutar. O contexto (context) indicado na linha 4 é um padrão para capturar todas as outras chamadas, caso você se esqueça de definir, no futuro, o contexto de algum tele-fone. Os valores são herdados de cima para baixo.

Depois de general, as seções tra-zem os usuários SIP. Como mostra a listagem 1, o nome de cada usuário vem entre colchetes. O parâmetro type = friend permite que o telefone receba e efetue ligações por meio do Asterisk. A senha em secret= é definida em texto puro e também é transferida assim, de forma fácil para sniffers, como espera o protocolo SIP. E o parâmetro host=dynamic significa que o telefone SIP pode se registrar com qualquer IP.

Sem plano de discagem não funcionaPara o telefone utilizar o Asterisk, é preciso existir um plano de discagem mínimo no arquivo /etc/asterisk/extensions.conf:

[outros][meus-telefones]exten => 1234,1,Answer()exten => 1234,2,Playback(hello-world)

exten => 1234,3,Hangup()

Após salvar os dois arquivos, rei-nicie o Asterisk com o comando asterisk -vvvc:

Asterisk 1.4.2, Copyright (C) 1999 - 2005 Digium.

Written by Mark Spencer <[email protected]>

==================================[ Booting...Nov 20 18:59:28 NOTICE[14937]:cdr.c:1185 do_reload: CDR

simple logging enabled...................................Asterisk Ready.

O Asterisk emite diversas mensa-gens com WARNING e NOTICE (quadro 3) e é preciso um pouco de tempo para perceber quais são importantes e quais apenas enchem os logs. É quase como se os desenvolvedores do Asterisk tivessem propositalmen-te imposto uma barreira de adoção alta para os iniciantes.

Conectar telefones SIPAinda não temos um primeiro tele-fone SIP. É prático e recomendável usar um telefone SIP físico, que pode ser encontrado em qualquer loja

Quadro 2: Velho e novo

Após um bom tempo, finalmente a versão 1.4 do Asterisk finalmente é consi-derada estável e é recomendada pelo fabricante Digium. Os comandos usa-dos neste artigo são válidos para a versão 1.4 e podem não funcionar em ver-sões anteriores. Contudo, não atualize sua versão 1.2 caso ela já esteja em uso e funcionando a contento. A máxima “em time que está ganhando não se mexe!” também se aplica, de certa forma, a infraestrutura de TI.

Existem dois métodos para programar um plano de discagem: o antigo e o novo, com AEL. O método clássico lembra a linguagem de programação Basic, enquanto o AEL é como uma linguagem de programação moderna, embora com algumas restrições. Como o Asterisk 1.4 traduz internamente todos os planos AEL para o formato antigo, atualmente o AEL não oferece nenhuma vantagem.

Como o método clássico é o padrão do Asterisk 1.4, assim será também neste artigo. No futuro, vamos abordar o AEL que está por vir.

Quadro 3: Níveis verbose e debug

O Asterisk usa múltiplos níveis de depuração e verbose. Os de depuração não são apenas para desenvolvedores. O nível de depuração pode ser defi-nido tanto ao iniciar o Asterisk, com a opção v, ou na linha de comando do próprio Asterisk, com o comando core set verbose 3. Ao digitar asterisk -vvvc, o programa é iniciado no nível verbose 3. Os níveis 3 a 5 são os me-lhores para análise e depuração de planos de discagem. Em sistemas de produção, é sempre melhor optar por core set verbose 0 para não encher os logs desnecessariamente.

Listagem 1: Arquivo sip.conf

01 [general]02 port = 506003 bindaddr = 0.0.0.004 context = outros05 06 [2000]07 type=friend08 context=meus-telefones09 secret=123410 host=dynamic11 12 [2001]13 type=friend14 context=meus-telefones15 secret=123416 host=dynamic

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especilizada. Além disso, múltiplos softphones instalados em um mesmo computador podem ter problemas com portas. Se você não tiver um telefone SIP físico, ao menos use apenas um softphone por compu-tador (quadro 4).

Os parâmetros de configuração para o telefone SIP são preenchidos no arquivo sip.conf (listagem 1) nas linhas 6 a 10:

User: 2000 Password: 1234

SIP-Registrar: Endereço IP do seu servidor Asterisk

SIP-Proxy: Endereço IP do seu servidor Asterisk

Após iniciar o telefone, é possível usar a opção -vvvc no Asterisk para visualizar o ocorrido:

*CLI> -- Registered SIP ‘2000’ at 87.143.3.144 port 5060

expires 120 -- Unregistered SIP ‘2000’

Agora é a hora de discar o número 1234. O Asterisk vai reproduzir o som hello-world. O próximo passo lógico é configurar um segundo telefone. Isso ocorre de forma semelhante ao primeiro telefone em sip.conf (linhas 12 a 16). O segundo telefone recebe o usuário 2001 e o restante dos parâ-metros iguais aos do usuário 2000.

Na linha de comando do Asterisk, é possível recarregar as informações do sip.conf com o comando sip re-load (quadro 5). Depois disso, ligue novamente o segundo telefone e veja o que o Asterisk exibe na linha de comando. Após o segundo telefone ser registrado no servidor, ambos já podem telefonar para 1234 para ouvir a mensagem hello-world.

Na linha de comando do Asterisk, funciona o já conhecido recurso de auto-completar presente no shell. É possível, por exemplo, digitar sip show e pressionar a tecla [Tab] duas vezes para exibir todas as possibilidades.

Planos de discagem e extensõesNosso exemplo do Hello world ain-da não inclui a possibilidade de os telefones 2000 e 2001 ligarem um para o outro. O Asterisk não possui nenhum tipo de plano de discagem padrão que permita chamadas, sem qualquer configuração, entre seus telefones. As informações que já inserimos no plano de discagem

Quadro 5: Reload e restart

Com module reload, pode-se carregar qualquer módulo. Para reler o arquivo sip.conf, use o comando sip reload. Para ler um novo plano de discagem, use dial-plan reload. Se o reload não surtir o efeito desejado – os motivos para isso even-tualmente podem ocorrer e só podem ser explicados pela natureza esotérica do Asterisk –, é preciso reiniciar o Asterisk inteiro com o comando restart now.

Com isso, o Asterisk finaliza qualquer ligação que ele esteja gerenciando. Para evitar isso, prefira restart gracefully, que impede novas chamadas. O Aste-risk aguarda o fim de todas as chamadas que já estejam em andamento. Se isso ainda for extremo demais, use restart when convenient, para reiniciar o Asterisk na primeira oportunidade em que não houver nenhuma chamada em andamen-to (sem rejeitar novas chamadas). Claro que isso pode significar que o Asterisk só conseguirá reiniciar à noite, ou quando cessarem as atividades da empresa.

Listagem 2: Arquivo extensions.conf

01 [outros]02 03 [meus-telefones]04 exten => 1234,1,Answer()05 exten => 1234,2,Playback(hello-world)06 exten => 1234,3,Hangup()07 08 exten => 2000,1,Dial(SIP/2000)09 exten => 2001,1,Dial(SIP/2001)

Quadro 4: Telefones: software ou hardware

Com VoIP, é possível optar entre softphones, isto é, programas de telefonia, e telefones físicos, muitas vezes semelhantes a telefones analógicos ou ISDN tradicionais [3]. Softphones têm a vantagem da gratuidade, mas requerem pelo menos um microfone ou um headset. Twinkle [4], Linphone [5] e Ekiga [6] são as opções no Linux.

Se o objetivo é substituir completamente a telefonia tradicional, telefones VoIP físicos com conexões Ethernet ou wi-fi são comprovadamente a solu-ção mais conveniente, principalmente com as recentes quedas nos preços – às vezes inferiores a 80 dólares. Contudo, certifique-se de que o hardware suporte o protocolo SIP. Muitos telefones VoIP no mercado funcionam ape-nas com o Skype, proprietário.

A configuração automática dos telefones SIP varia bastante de um fabricante para o outro. Diversos aparelhos oferecem uma interface web que permite selecionar não somente o número SIP, como também a conexão de rede. Os parâmetros de rede incluem configuração manual e automática (por DHCP). Alguns disposi-tivos são até capazes de receber suas configurações via BOOTP – quase uma necessidade caso seja preciso instalar dezenas ou centenas de aparelhos. Antes de adquirir os telefones, informe-se melhor a respeito da sua infraestrutura de TI.

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ainda não contemplam esse tipo de chamada.

Para usar o telefone 2000 para cha-mar o 2001 e vice-versa, é preciso usar o plano de discagem extensions.conf exibido na listagem 2. Em seguida, leia o novo plano de discagem na linha de comando do Asterisk com dial-plan reload, para permitir que ambos liguem para o número 1234 e também entre si. No jargão do Asterisk, essas regras são chamadas de “extensões”. No plano de discagem acima, as ex-tensões são 1234, 2000 e 2001.

As extensões determinam cada cha-mada no sistema telefônico, e podem consistir em qualquer número de li-nhas. Todas as linhas seguem o padrão:

exten => Número_chamado,Prioridade,Aplicação

A primeira prioridade (primeiro passo do programa) é sempre a 1. As seguintes acrescentam 1 a seus nú-meros. Por isso, as extensões:

exten => 1234,1,Answer()exten => 1234,3,Playback(hello-world)

exten => 1234,4,Hangup()

não funcionam. O Asterisk conse-guiria atender a ligação por causa da primeira linha, que usa a aplicação Answer. Porém, ao procurar a instru-ção com a segunda prioridade, não encontraria nada e desligaria após um tempo de timeout. Se isso for complicado demais para você, prefira usar sempre a prioridade n. Com ela, a extensão 1234 ficaria assim:

exten => 1234,1,Answer()exten => 1234,n,Playback(hello-world)

exten => 1234,n,Hangup()

A lista de aplicações do Asterisk é longa e depende dos módulos inclu-ídos. A tabela 1 descreve as aplica-ções usadas neste artigo. O comando

core show applications na linha de comando produz uma lista de todas as aplicações disponíveis atualmente. Com help <aplicação>, o programa exibe um texto de ajuda. Por exem-plo, help answer produz o resultado:

Usage: console answer

Answers an incoming call on the console (OSS) channel.

Na próxima edição da Linux Ma-gazine, vamos falar sobre padrões de planos de discagem, dispositivos SIP e muito mais.

Até lá! n

Gostou do artigo?Queremos ouvir sua opinião. Fale conosco em [email protected]

Este artigo no nosso site: http://lnm.com.br/article/4299

Mais informações

[1] Asterisk: http://www.asterisk.org/

[2] OpenPBX: http://wiki.openpbx.org/

[3] Lista de softphones e aparelhos SIP: http://www.voip-info.org/wiki-VOIP+Phones/

[4] Twinkle: http://www.twinklephone.com/

[5] Linphone: http://www.linphone.org/

[6] Ekiga: http://www.ekiga.org/

Sobre o autorStefan Wintermeyer é o autor do Livro do Asterisk, da editora Addisson Wesley e primeiro DCAP (Digium Certified Asterisk Professional) alemão. Ele auxilia clientes, por meio da Amooma GmbH (http://www.amooma.de), a implementar soluções com Asterisk.

Tabela 1: Aplicações usadas

Aplicação Descrição

Answer() Abre um canal de recepção.

Hangup() Fecha um canal de comunicação.

Playback (arquivo) Reproduz o arquivo informado. Atenção: Não insira nenhum sufixo ao arquivo, como WAV ou GSM. O Asterisk já os insere automaticamente.

Dial (SIP/usuário,tempo)

Chama o usuário SIP durante o número de segundos especificado.

NoOp (texto) Exibe, nos níveis de “verbose” a partir de 3 (“set core verbose 3”), o texto informado.

VoiceMail (caixa, usuário)

Oferece ao originador da chamada a possibilidade de deixar uma mensagem na caixa de mensagens do destinatário.

VoiceMailMain (caixa)

Oferece ao usuário a possibilidade de verificar suas mensagens de voz.