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Edição nº 1 As Consequências das Variáveis Pré-Analíticas no Laboratório Clínico vermelhas, índices hematimétricos anormais e redução do resultado de hematócrito. Microcoágulos também impactam na aspiração da probe e entupimento, levando a abertura de chamados e inatividade do equipamento, que atrasa o processamento das amostras e reporte de resultados. Volume insuciente de amostra Todos os tubos de coleta devem ser preenchidos com o volume adequado, para garantir a correta proporção entre o sangue e o aditivo presente no tubo. Por exemplo, se um tubo de heparina de 5mL é preenchido com 3 mL de sangue, a concentração de heparina pode erroneamente elevar e potencialmente interferir em algumas análises bioquímicas. Adicionalmente, um pequeno volume de sangue no tubo de EDTA pode causar resultados incorretos para paratormônio intacto devido a quelação do cofactor do magnésio em alguns ensaios. O volume insuciente de amostra também é problemático, pois os testes solicitados pelo médico podem não ser concluídos. Este fato certamente irá requerer a realização de uma nova coleta e atraso dos resultados, que podem aumentar o tempo de permanência do paciente no hospital ou demora em iniciar o tratamento adequado. O erro pré-analítico que é detectado pelo laboratório pode gerar recoleta das amostras e aumento o tempo de reporte dos resultados. Quando os erros não são detectados pelo laboratório, porém os resultados já foram reportados ao médico, podem afetar negativamente o diagnóstico e/ou o tratamento. É importante notar que a correta solicitação dos testes, assim como a interpretação dos resultados analíticos, terão inuência nos desfechos clínicos. Como demonstrado, há consideráveis evidências a respeito do impacto clínico das variáveis pré-analíticas. Contudo, em relação ao impacto nanceiro, não há evidências quanticáveis que ilustrem claramente o impacto destas variáveis sobre o laboratório e o hospital e, posteriormente, no atendimento ao paciente. Como podemos prevenir ou reduzir os erros? Uma vez que a maioria dos erros que ocorrem no laboratório são resultados de variáveis pré-analíticas, para reduzir a incidência destes erros é necessário avaliar as práticas laboratoriais atuais para identicar a raiz do problema. Com o estabelecimento de melhores práticas para a coleta de sangue, capacitação técnica adequada e periódica, será possível obter grandes benefícios para a melhoria da qualidade das amostras de sangue. Melhorar a qualidade de amostras de sangue na fase de pré-analítica é a chave para a prevenção ou redução de erros. Referências 1. GREEN, Sol F.. The cost of poor blood specimen quality and errors in preanalytical processes. Clinical Biochemistry, [s.l.], v. 46, n. 13-14, p.1175-1179, set. 2013. Elsevier BV. DOI: 10.1016/j.clinbiochem.2013.06.001. Disponível em: <http://api.elsevier.com/content/article/PII:S0009912013002786?httpAccept=text/xml>. Acesso em: 21 ago. 2015. 2. LIPPI, Giuseppe et al. Preanalytical quality improvement: in quality we trust. Clinical Chemistry And Laboratory Medicine,[s.l.], v. 51, n. 1, p.229-241, 1 jan. 2013. Walter de Gruyter GmbH. DOI: 10.1515/cclm-2012-0597. Disponível em: <http://www.researchgate.net/publication/232277262>. Acesso em: 21 ago. 2015. Por: Lívia Sachi Gazarini, Biomédica, Coordenação Cientíca - BD Life Sciences, Preanalytical Systems. A responsabilidade laboratorial no cuidado centralizado ao paciente, é um assunto que está em grande evidência. Os testes laboratoriais fornecem informações essenciais a serem utilizadas pelos médicos, sendo que 60 70% das decisões médicas são baseadas no diagnóstico laboratorial. A fase pré-analítica, atualmente responsável por 75% dos erros laboratoriais, é excepcionalmente importante no processo diagnóstico, sendo que a maior parte das variáveis e fatores pré-analíticos podem ser controlados pelo ebotomista. O ebotomista, também conhecido como coletador ou coletor, tem grande contribuição para a fase pré-analítica, uma vez que o processo de obtenção de amostras é dependente da sua habilidade, conhecimento técnico e correta realização do procedimento de coleta de sangue. Os causadores mais frequentes dos erros pré-analíticos são hemólise, identicação incorreta do paciente, amostras com volume insuciente e amostras coaguladas. Cada uma destas variáveis têm o potencial de afetar negativamente a qualidade dos resultados dos testes laboratoriais. Estudos demonstram que 26% das variáveis citadas podem resultar em investigações desnecessárias ou tratamentos inadequados. Hemólise A presença de hemólise contabiliza 40-70% das amostras inadequadas enviadas ao laboratório. A vigorosa homogeneização das amostras, transporte por tubos pneumáticos, ou pela força aplicada ao transferir o sangue de uma seringa para um tubo, pode provocar a ruptura das células sanguíneas e isto irá gerar hemólise. Até mesmo um baixo grau de hemólise pode inuenciar o resultado de alguns testes (p.ex. desidrogenase láctica, CK- mb, potássio, aspartato aminotransferase, alanine aminotransferase) por elevar falsamente os valores, podendo não fornecer uma fotograa el da condição clínica do paciente. Identicação incorreta do paciente Erros na identicação do paciente podem atrasar o diagnóstico, aumentar o número de testes para o laboratório, ou ainda inuenciar o tratamento inapropriado do paciente pela prescrição do medicamento incorreto. Estes erros ainda podem ser fatais, particularmente se resultar em uma reação transfusional hemolítica aguda. Um estudo da literatura reporta que 40-50% das morbidades em transfusão sanguínea foram resultado de erros na identicação do paciente ou do hemocomponente. Amostras coaguladas As amostras que são impropriamente homogeneizadas podem formar coágulos e por isto a análise para contagem celular ca inviabilizada. Os coágulos podem gerar pseudoleucopenia, redução da contagem de células BD 360º - Boletim BD Life Sciences Preanalytical Systems, Edição 1, 2015. Publicação: Outubro/ 2015 Todos os ângulos do Pré-analítico

Volume insuciente de amostra Variáveis Pré-Analíticas · processamento das amostras e reporte de resultados. Volume insuciente de amostra Todos os tubos de coleta devem ser preenchidos

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Edição nº 1

As Consequências das Variáveis Pré-Analíticasno Laboratório Clínico

vermelhas, índices hematimétricos anormais e redução do resultado de hematócrito. Microcoágulos também impactam na aspiração da probe e entupimento, levando a abertura de chamados e inatividade do equipamento, que atrasa o processamento das amostras e reporte de resultados.

Volume insu�ciente de amostra Todos os tubos de coleta devem ser preenchidos com o volume adequado, para garantir a correta

proporção entre o sangue e o

aditivo presente no tubo. Por exemplo, se um tubo de heparina de 5mL é preenchido com 3 mL de sangue, a concentração de heparina pode erroneamente elevar e potencialmente interferir em algumas análises bioquímicas. Adicionalmente, um pequeno volume de sangue no tubo de EDTA pode causar resultados incorretos para paratormônio intacto devido a quelação do cofactor do magnésio em alguns ensaios. O volume insu�ciente de amostra também é problemático, pois os testes solicitados pelo médico podem não ser concluídos. Este fato certamente irá requerer a realização de uma nova coleta e atraso dos resultados, que podem aumentar o tempo de permanência do paciente no hospital ou demora em iniciar o tratamento adequado. O erro pré-analítico que é detectado pelo laboratório pode gerar recoleta das amostras e aumento o tempo de reporte dos resultados. Quando os erros não são detectados pelo laboratório, porém os resultados já foram reportados ao médico, podem afetar negativamente o diagnóstico e/ou o tratamento. É importante notar que a correta solicitação dos testes, assim como a interpretação dos resultados analíticos, terão in�uência nos desfechos clínicos. Como demonstrado, há consideráveis evidências a respeito do impacto clínico das variáveis pré-analíticas. Contudo, em relação ao impacto �nanceiro, não há evidências quanti�cáveis que ilustrem claramente o impacto destas variáveis sobre o laboratório e o hospital e, posteriormente, no atendimento ao paciente. Como podemos prevenir ou reduzir os erros? Uma vez que a maioria dos erros que ocorrem no laboratório são resultados de variáveis pré-analíticas, para reduzir a incidência destes erros é necessário avaliar as práticas laboratoriais atuais para identi�car a raiz do problema. Com o estabelecimento de melhores práticas para a coleta de sangue, capacitação técnica adequada e periódica, será possível obter grandes benefícios para a melhoria da qualidade das amostras de sangue. Melhorar a qualidade de amostras de sangue na fase de pré-analítica é a chave para a prevenção ou redução de erros.

Referências1. GREEN, Sol F.. The cost of poor blood specimen quality and errors in preanalytical processes. Clinical Biochemistry, [s.l.], v. 46, n. 13-14, p.1175-1179, set. 2013. Elsevier BV. DOI: 10.1016/j.clinbiochem.2013.06.001. Disponível em: <http://api.elsevier.com/content/article/PII:S0009912013002786?httpAccept=text/xml>. Acesso em: 21 ago. 2015.

2. LIPPI, Giuseppe et al. Preanalytical quality improvement: in quality we trust. Clinical Chemistry And Laboratory Medicine,[s.l.], v. 51, n. 1, p.229-241, 1 jan. 2013. Walter de Gruyter GmbH. DOI: 10.1515/cclm-2012-0597. Disponível em: <http://www.researchgate.net/publication/232277262>. Acesso em: 21 ago. 2015.

Por: Lívia Sachi Gazarini, Biomédica, Coordenação Cientí�ca - BD Life Sciences, Preanalytical Systems.

A responsabilidade laboratorial no cuidado centralizado ao paciente, é um assunto que está em grande evidência. Os testes laboratoriais fornecem informações essenciais a serem utilizadas pelos médicos, sendo que 60 � 70% das decisões médicas são baseadas no diagnóstico laboratorial. A fase pré-analítica, atualmente responsável por 75% dos erros laboratoriais, é excepcionalmente importante no processo diagnóstico, sendo que a maior parte das variáveis e fatores pré-analíticos podem ser controlados pelo �ebotomista. O �ebotomista, também conhecido como coletador ou coletor, tem grande contribuição para a fase pré-analítica, uma vez que o processo de obtenção de amostras é dependente da sua habilidade, conhecimento técnico e correta realização do procedimento de coleta de sangue. Os causadores mais frequentes dos erros pré-analíticos são hemólise, identi�cação incorreta do paciente, amostras com volume insu�ciente e amostras coaguladas. Cada uma destas variáveis têm o potencial de afetar negativamente a qualidade dos resultados dos testes laboratoriais. Estudos demonstram que 26% das variáveis citadas podem resultar em investigações desnecessárias ou tratamentos inadequados.

Hemólise A presença de hemólise contabiliza 40-70% das amostras inadequadas enviadas ao laboratório. A vigorosa homogeneização das amostras, transporte por tubos pneumáticos, ou pela força aplicada ao transferir o sangue de uma seringa para um tubo, pode provocar a ruptura das células sanguíneas e isto irá gerar hemólise. Até mesmo um baixo grau de hemólise pode in�uenciar o resultado de alguns testes (p.ex. desidrogenase láctica, CK-mb, potássio, aspartato aminotransferase, alanine aminotransferase) por elevar falsamente os valores, podendo não fornecer uma �fotogra�a �el� da condição clínica do paciente.

Identi�cação incorreta do paciente Erros na identi�cação do paciente podem atrasar o diagnóstico, aumentar o número de testes para o laboratório, ou ainda in�uenciar o tratamento inapropriado do paciente pela prescrição do medicamento incorreto. Estes erros ainda podem ser fatais, particularmente se resultar em uma reação transfusional hemolítica aguda. Um estudo da literatura reporta que 40-50% das morbidades em transfusão sanguínea foram resultado de erros na identi�cação do paciente ou do hemocomponente.

Amostras coaguladas As amostras que são impropriamente homogeneizadas podem formar coágulos e por isto a análise para contagem celular �ca inviabilizada. Os coágulos podem gerar pseudoleucopenia, redução da contagem de células

BD 360º - Boletim BD Life Sciences � Preanalytical Systems, Edição 1, 2015.

Publicação: Outubro/ 2015

Todos os ângulos do Pré-analítico

Nota do ConsultorPor: Emílio Soares, Biomédico, Consultor Educacional - BD Life Sciences, Preanalytical Systems.

Por que quando libero o torniquete, tenho a impressão que o sangue para de �uir?A aplicação do torniquete é realizada para auxiliar na visualização e palpação da veia, pois interrompe parcialmente e momentaneamente o �uxo sanguíneo, di�cultando assim o retorno venoso, isto provoca a concentração de sangue no membro, dilatando os vasos.

De acordo com a literatura, o torniquete pode ser mantido aplicado no local de coleta por no máximo 1 minuto, sendo que deve ser afrouxado logo após a punção, assim que iniciar a aspiração do primeiro tubo.

Frequentemente recebemos relatos dos �ebotomistas sobre a �perda� da veia, a interrupção da aspiração ou redução do �uxo após a retirada do torniquete. Isto se dá pelo fato de que quando o torniquete é a f ro u x a d o, a ve i a q u e a n te s e s t av a c a l i b ro s a d e v i d o a hemoconcentração, volta ao seu calibre normal e a musculatura que estava sendo sustentada pelo torniquete também relaxa, possibilitando a obstrução do bisel pelo contato da agulha com a parede da veia.

Para minimizar este efeito, sugerimos:· Realizar, delicadamente, o movimento de rotação no holder (adaptador

de agulha), promovendo assim a liberação do contato do bisel da agulha da parede da veia.

· Com o auxílio da mão que está livre, massageie a região onde estava aplicado o torniquete.

Evite movimentos de �pesca�, pois aumentam a possibilidade de hematomas.

Caso nenhuma dessas sugestões promovam o sucesso da aspiração, sugerímos uma nova punção.

Referência: CLSI, GP41-A6 Procedures for the Collection of Diagnostic Blood Specimens by Venipuncture; Approved Standard - Sixth Edition. 2007.

Edição 1 – Outubro 2015

Dicas de ProcedimentoPor: Beatriz Vedovato, Enfermeira, Consultora Educacional - BD Life Sciences, Preanalytical Systems.

Você sabia que quando não aguardamos o álcool secar antes da punção venosa, podemos hemolisar a amostra de sangue? Antes da coleta de sangue, é necessário realizar a antissepsia do local da punção, utilizando o álcool etílico ou isopropílico a 70%, por um movimento circular do centro para a periferia.O álcool 70% é uma substância antisséptica com características microbicidas que, em contato com o sangue pode realizar a lise das hemácias, levando à hemólise do material colhido.Para evitar esta situação, é necessário aguardar o álcool secar por 30 segundos para realizar a punção.

Dica: enquanto o álcool seca, você pode conectar a agulha ao adaptador e organizar os tubos na ordem que devem ser coletados. A ação antisséptica do álcool ocorre enquando o mesmo evapora. Por isso não devemos tocar, abanar ou enxugar o local. Este simples cuidado irá evitar a ocorrência de hemólise, além de evitar a sensação de ardor para o paciente.

Antissepsia: conjunto de medidas empregadas com a �nalidade de destruir ou inibir o crescimento de

m i c ro rg a n i s m o s e x i s te n te s n a s camadas super�ciais (microbiota

t r a n s i t ó r i a ) e p r o f u n d a s (microbiota residente) da pele e

de mucosas, pela aplicação de a g e n t e s g e r m i c i d a s , c l a s s i � c a d o s c o m o antissépticos.

Referência: http://www.anvisa.gov.br/servicosaude/co

ntrole/controle_alcool.pdf. Acesso em 26.08.2015.

BD 360º - Boletim BD Life Sciences � Preanalytical Systems, Edição 1, 2015.

28º Congresso WASPaLM Acontecerá entre 18 a 21 de Novembro de 2015, o 28º Congresso WASPaLM da Associação Mundial das Sociedades de Patologia e Medicina Laboratorial e o 45º Congresso Nacional Mexicano, em Cancun, Quintana Roo, Mexico.

Entre as diversas atividades cientí�cas, o Comitê Cientí�co Latino-americano � LASC, abordará o tema O papel dos indicadores de qualidade na gestão da fase de pré-analíticas e lançará a 6ª edição do Notas Pré-analíticas, que se trata de uma publicação cientí�ca anual que visa melhorarias nas práticas laboratoriais da região da América Latina.

Caso de Sucesso

Depoimento da Dayene Costa, Enfermeira Coordenadora da equipe de Coleta e Gleydson Temponi Costa, Farmacêutico-

Bioquímico do Hospital Regional de Betim, sobre

a coleta de Gasometria:

Dayene e Gleydson relatam que antes de utilizarem as Seringas BD para a Coleta de Gasometria, preparavam as seringas de injeção com heparina de sódio líquida. Perceberam que esta metodologia gerava alguns desa�os pré-analíticos em sua instituição, como amostras coaguladas e diluídas. Ao começarem a utilizar as seringas BD A-line, que possuem em seu interior a Heparina de Lítio balanceada com Cálcio, os índices de recoleta reduziram e notou-se melhoria dos resultados dos exames. "Anteriormente manuseávamos heparina sódica para preparar a seringa para coleta de gasometria, o que ocasionava a coagulação ou diluição da amostra pela falta de precisão do volume de heparina na seringa. Após começarmos a utilizar a seringa heparinizada BD, as recoletas por problemas gerados no preparo das seringas, foram reduzidas e a equipe técnica do laboratório observou melhor reprodutibilidade de resultados das amostras processadas. Outro ponto observado pela equipe, é em relação a segurança no transporte das amostras devido ao dispositivo de vedação da seringa BD".

Dayene Costa, Enfermeira Coordenadora da equipe

de Coleta, Hospital Regional de Betim.

Destaques da

Saúde

Emílio Soares, Consultor Educacional

BD Life Sciences, Preanalytical Systems.

Todos os ângulos do Pré-analítico

Aguardar o álcool secar por 30 segundos para realizar a punção.