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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE ECONOMIA MBE EM ECOMONIA E GESTÃO DA SUSTENTABILIDADE MONOGRAFIA DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU VOLUNTARIADO EMPRESARIAL COMO FERRAMENTA DE VALORIZAÇÃO INSTITUCIONAL CAROLINA DE CASTRO NUNES ORIENTADOR: Profa. Heloísa Coelho JULHO 2012

Voluntariado Empresarial como Ferramenta de Valorização ... · observaremos o cenário do voluntariado empresarial no Brasil, dando ênfase ao surgimento do Conselho Brasileiro

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE ECONOMIA

MBE EM ECOMONIA E GESTÃO DA SUSTENTABILIDADE MONOGRAFIA DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

VOLUNTARIADO EMPRESARIAL COMO FERRAMENTA DE VALORIZAÇÃO INSTITUCIONAL

CAROLINA DE CASTRO NUNES

ORIENTADOR: Profa. Heloísa Coelho

JULHO 2012

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE ECONOMIA

MBE EM ECOMONIA E GESTÃO DA SUSTENTABILIDADE MONOGRAFIA DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

VOLUNTARIADO EMPRESARIAL COMO FERRAMENTA DE VALORIZAÇÃO INSTITUCIONAL

______________________________________________ CAROLINA DE CASTRO NUNES

ORIENTADOR: Profa. Heloísa Coelho

JULHO 2012

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As opiniões expressas neste trabalho são da exclusiva responsabilidade do autor.

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“Mas o que é importante não muda... A tua força e comunicação não têm idade.

O teu espírito é como qualquer teia de aranha. Atrás de cada linha de chegada, há uma partida.

Atrás de cada conquista, vem um novo desafio. Enquanto estiver vivo, sinta-se vivo.

Se sentir saudades do que fazia, volte a fazê-lo. Não viva de fotografias amareladas...

Continue, quando todos esperam que desista. Não deixe que enferruje o ferro que existe em si.

Faça com que, em vez de pena, tenham respeito por si. Quando não conseguir correr atrás dos anos, marche.

Quando não conseguir marchar, caminhe. Quando não conseguir caminhar, utilize uma bengala.

Mas nunca, nunca se detenha!!!”

Madre Teresa de Calcutá

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AGRADECIMENTOS Ao meu pai e à minha mãe, Que foram responsáveis pelos valores que cultivei ao longo dos anos, que me incentivaram sempre na concretização dos meus estudos, que mais alento me deram para a minha realização profissional e pessoal. À minha irmã, Por todos os momentos que passamos juntas, por me fazer observar a importância do trabalho acadêmico, pelos sorrisos e pelas vitórias que conquistamos… Ao meu namorado Ricardo, Por todas as horas de apoio, compreensão, dedicação e carinho. À Professora Heloísa Coelho, Pelo tempo dispensado, pelas sugestões feitas e pelo constante acompanhamento ao longo do percurso. À Carla Sattler, do Instituto C&A; à Eloá Marques, da Accenture; a Cláudio Viveiros, da Wilson, Sons; à Fernanda Castanheira, da Vale do Rio Doce; à Fabiana Mussato, Bruna Waitman e Fernanda Zanelli, do Itaú-Unibanco; a Marcos Paulo dos Reis, da Telefônica, à Isabella Faggion, da Alcoa, Pela pronta resposta, pelo apoio dispensado e pela disponibilidade. Aos meus amigos, Que sempre me motivaram, mesmo quando as outras atividades do dia a dia ocupavam o tempo necessário para a realização deste trabalho. A todos os meus sinceros agradecimentos.

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RESUMO

Ao abordar o tema Voluntariado Empresarial como Ferramenta de Valorização Institucional, falaremos sobre os benefícios que a prática traz tanto para as empresas, como para os empregados. Apresentaremos a visão das companhias que têm um programa de voluntariado consistente, com o devido estímulo à sua realização – como, por exemplo, a criação de campanhas para fomentar a adesão de funcionários e apoio financeiro aos projetos – e a visão dos empregados, que desenvolvem habilidades específicas com o trabalho. Por meio da pesquisa de diferentes literaturas sobre o surgimento do voluntariado no Brasil, realizaremos uma revisão histórica da prática nas organizações do terceiro setor e nas empresas. Pretendemos mostrar, através do estudo de caso de sete companhias que criaram seu programa de Voluntariado Empresarial, as dificuldades encontradas na implantação do mesmo, os primeiros passos para conquistar a confiança dos funcionários, as atividades desenvolvidas ao longo dos anos, os recursos utilizados para gerir o programa, entre outros detalhes que fazem parte de uma história de sucesso. Se o espírito do voluntariado é o de compartilhar e disseminar as boas práticas cidadãs, aqui vai a receita do bolo. Palavras-chave: Voluntariado Empresarial. Voluntariado. Benefícios. Valorização Institucional.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .................................................................................................... 7 II SURGIMENTO DO VOLUNTARIADO NO BRASIL ................................... 9

2.1 Contextualização histórica ...................................................................... 9 2.2 Voluntariado Empresarial: como surgiu? ............................................. 14

III BENEFÍCIOS DO VOLUNTARIADO EMPRESARIAL NAS EMPRESAS ............................................................................................................................. 17

3.1 Considerações Gerais ............................................................................ 17 3.2 Benefícios para as empresas.................................................................. 19 3.3 Fortalecimento da marca ....................................................................... 21 3.4 Benefícios para os colaboradores .......................................................... 21

IV ‘CASES DE VOLUNTARIADO EMPRESARIAL ..................................... 23 4.1 Accenture .............................................................................................. 23 4.2 Alcoa ..................................................................................................... 25 4.3 Itaú Unibanco ........................................................................................ 31 4.4 Vale do Rio Doce .................................................................................. 37 4.5 Wilson, Sons .......................................................................................... 43 4.6 C & A .................................................................................................... 48 4.7 Telefônica .............................................................................................. 62

4.8 Análise crítica........................................................................................73 CONCLUSÃO ................................................................................................... .75 REFERÊNCIAS ............................................................................................... ...77

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INTRODUÇÃO

O debate do Voluntariado Empresarial tem ganhado cada vez mais espaço nas

empresas. Isso se deve a uma série de fatores que, embora recentes, configuram uma nova

realidade no que diz respeito à atuação social das corporações. É possível observar que este

papel ultrapassa o conceito da existência de uma organização com vistas a apenas gerar lucro

e traz à tona práticas cidadãs e o diálogo com os públicos de interesse1.

As empresas pesquisadas neste trabalho possuem setores estruturados de

Responsabilidade Social, que utilizam o voluntariado empresarial como uma ferramenta

essencial na busca pela sustentabilidade. Portanto, estimular esta prática não deixa de ser uma

vantagem competitiva. Ao apoiar financeiramente projetos de voluntariado, a empresa

estabelece um relacionamento mais próximo do funcionário, além de interagir com o terceiro

setor, que luta em prol de causas sociais, sabendo-se da sua dificuldade histórica de captar

recursos.

Mas como as organizações deram início ao voluntariado empresarial? Como

conscientizaram a alta administração sobre a importância desta prática, a fim de obter os

recursos necessários para sua realização? Qual é a metodologia utilizada por elas? É possível

adequar o mesmo modelo a todas as empresas, sem levar em consideração a especificidade de

cada uma? Quais seriam os principais benefícios desse processo? Seria o programa uma

ferramenta usada para trabalhar a imagem das empresas? Propomos, neste trabalho, analisar

os ‘cases’ de sete companhias que levaram o voluntariado a sério.

Para isso, no Capítulo 2, item 2.1, há uma contextualização histórica do surgimento do

voluntariado empresarial no Brasil, mostrando como se deu o reconhecimento e a visibilidade

desta prática no país, passando pelos movimentos de promoção da cidadania, com destaque

para atuações como a Campanha da Ação da Cidadania Contra a Fome e a Miséria, do

sociólogo Herbert de Souza, o Betinho; a regulamentação do trabalho voluntário; a instituição

1 Também chamados stakeholders ou partes interessadas.

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do dia 5 de dezembro como Dia Internacional do Voluntário e, por último, o lançamento do

primeiro Relatório Sobre o Estado do Voluntariado Mundial, apresentado oficialmente

durante a Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York. Em seguida, no item 1.2,

observaremos o cenário do voluntariado empresarial no Brasil, dando ênfase ao surgimento do

Conselho Brasileiro de Voluntariado Empresarial (CBVE), que tem como objetivo melhorar

as ações já desenvolvidas pelas companhias.

No Capítulo 3, item 3.1, trataremos a questão da confiança social que é a base das

instituições democráticas, segundo Putnam (2003). No item 3.2 e 3.3 abordaremos os

benefícios que a prática do voluntariado traz para as empresas, como, por exemplo, ganho de

imagem, melhoria do clima organizacional, aumento da produtividade e a integração das

equipes. A seguir, no item 3.4, falaremos sobre os benefícios apresentados aos colaboradores,

como o desenvolvimento de habilidades específicas, como liderança e flexibilidade, sem falar

da motivação evidente nas atividades do dia a dia.

O Capítulo 4 deste trabalho trata sobre os ‘cases’ de criação e manutenção do

programa de voluntariado em sete empresas: Accenture, Alcoa, Itaú-Unibanco, Vale do Rio

Doce, Wilson, Sons, C&A e Telefônica. No início de cada tópico, há uma breve introdução

sobre as atividades das companhias, para depois abordar mais especificamente o trabalho

voluntário realizado em cada uma delas. Ao fim, há uma análise crítica dos sete modelos.

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II SURGIMENTO DO VOLUNTARIADO NO BRASIL

2.1 Contextualização histórica

As organizações religiosas tiveram grande influência no desenvolvimento do trabalho

voluntário no Brasil e no mundo. No Brasil, o voluntariado surgiu no século XVI, nas

chamadas “Santas Casas” - seguindo o modelo trazido de Portugal - concentrando suas

atividades na área de saúde. A primeira Santa Casa de Misericórdia (Santa Casa de

Misericórdia de Santos) foi implantada em 1543 e durante muito tempo as mulheres eram

responsáveis por todo o trabalho voluntário. O Estado efetivamente só começou a desenvolver

políticas públicas atuando nas instituições filantrópicas na década de 30 (PROGRAMA DAS

NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO, [2010?]).

Segundo Arantes (1995), entre 1738 e 1930, das 32 instituições de recolhimento para

menores e 22 associações e estabelecimentos de assistência extra-asilar existentes no Rio de

Janeiro, apenas 7 e 3 eram, respectivamente, iniciativas do Estado. Além disso, sempre houve

dificuldade na obtenção e na gestão dos recursos públicos. De acordo com Faleiros (1995), as

crianças abandonadas eram assistidas, através das Irmandades Nossa Senhora de

Misericórdia, por doações voluntárias de particulares, espólios de ricos senhores e de juros.

Os pequenos chegavam às instituições através de sistema de roda - dispositivo cilíndrico no

qual eram enjeitadas as crianças e que rodava do exterior para o interior da casa de

recolhimento – e após um período inicial, que podia variar entre dias, meses e anos, elas eram

entregues para as famílias para serem amamentadas até três anos por amas-de-leite, que em

geral eram pagas pelas administrações municipais.

De acordo com Leite (1991), os meninos poderiam ser aprendizes, caixeiros de loja,

entre outros, e as meninas faziam tarefas domésticas em troca de seu sustento. Seu futuro,

após os sete anos, dependia das famílias que as criavam. Se elas não ficavam nas casas, eram

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devolvidas para as casas de recolhimento, onde eram assistidas por voluntários. Entretanto,

havia altíssimas taxas de mortalidade nesses locais.

Segundo Faleiros (1995), após a independência o governo começa a legislar sobre

órfãos, menores infratores, instituições e cria alguns asilos/escolas. De acordo com Pilotti e

Rizzini (1995), a partir do século XX o movimento médico higienista e a demanda crescente

da construção de uma rede profissionalizante de ensino, separada da assistência aos

desvalidos, fizeram com que as iniciativas do Estado fossem mais consistentes.

A Lei de Declaração de Utilidade Pública foi criada em 1935 e regulou a colaboração

do governo junto às instituições filantrópicas. Neste período, pela própria característica do

governo Vargas, houve uma separação entre o que era entendido como direito social e o que

era visto como filantropia. Em 1938, a criação do Conselho Nacional de Serviço Social

(CNSS), com o objetivo de mais uma vez regularizar a relação do Estado com a assistência

social, marcou uma nova fase do Estado brasileiro. A instituição do CNSS gerou oposição por

parte de algumas organizações, que viram a atitude como um reforço na centralização do

poder. Já em 1942 foi criada a Legião Brasileira de Assistência (LBA), presidida por

primeiras-damas. O Estado criava uma série de incentivos para que a sociedade civil e as

instituições privadas assumissem parte do atendimento às necessidades da população.

Nos anos 70 surgem as primeiras ONGs fomentadas por organizações europeias, com

o intuito de desenvolver o Terceiro Mundo. Com o lançamento, em 1979, do Programa

Nacional de Voluntariado (Pronav), o governo visava arrecadar recursos para os programas da

LBA, através de grupos voluntários no território nacional. Tornava-se cada vez mais claro

para estes movimentos que não adiantava apenas prover as populações carentes com

mantimentos, agasalhos e produtos afins em ações de caridade, mas que, para além deste tipo

de apoio, as pessoas precisavam de atividades que desenvolvessem a sua própria promoção,

ampliando seus horizontes para novas oportunidades.

Em 1985, a Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu o dia 5 de dezembro

como Dia Internacional do Voluntário. Segundo Rocha (2004), nos anos 90, em meio ao

crescimento econômico e à consolidação das ONGs, a fome continuava representando a

necessidade diária de muitas famílias brasileiras – como acontece até hoje, apesar do

significativo avanço no combate à pobreza no Brasil. É neste contexto que o sociólogo

Herbert de Souza, o Betinho, articula o Movimento Ação da Cidadania contra a Fome, a

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Miséria e Pela Vida que, sem ajuda financeira do governo, passa a distribuir toneladas de

alimentos à população carente2.

Em 1995 é criado o Conselho da Comunidade Solidária e um ano depois surge o

Programa Voluntários, com a intenção de promover e qualificar o trabalho voluntário no

Brasil. Ele representa um espaço de diálogo entre o governo e as organizações da sociedade

civil (OSC) e tem a finalidade de promover parcerias, mobilizando recursos em prol do

desenvolvimento social. O Conselho era formado por 21 representantes da sociedade civil; 11

ministros de Estado e a titular da Secretaria-Executiva da Comunidade Solidária3.

Uma das principais ações do Programa é a criação de Centros de Voluntariado em

várias cidades brasileiras, onde se encontram quem quer doar o seu trabalho e quem precisa

de ajuda. Em 1996, com a Fundação Abrinq, o Conselho da Comunidade Solidária, criado em

1995 pela socióloga Ruth Cardoso, lançava o Programa de Estímulo ao Trabalho Voluntário

no Brasil, catalisando o surgimento de núcleos de voluntariado pelo país.

No ano seguinte, nascia em São Paulo (SP) o primeiro Centro de Voluntariado e, no

Rio de Janeiro (RJ), o RioVoluntário. Em 18 de Fevereiro de 1998, a Lei 9.608 regulamenta o

trabalho voluntário e é considerada um avanço para o desenvolvimento da temática no país.

Nela, o conceito de voluntariado é definido, esclarecendo e respaldando a atividade:

Considera-se serviço voluntário, a atividade não remunerada, prestada por pessoa física à entidade pública de qualquer natureza, ou a instituição privada de fins não lucrativos, que tenha objetivos cívicos, culturais, educacionais, científicos, recreativos ou de assistência social, inclusive mutualidade. O serviço voluntário não gera vínculo empregatício, nem obrigação de natureza trabalhista previdenciária ou afim (BRASIL, 1998).

Em outras palavras, voluntários são todos aqueles que doam parte de seu tempo,

trabalho e talento, de maneira espontânea e não remunerada financeiramente, de modo a

atender as causas de interesse coletivo e as próprias expectativas pessoais. Antes da

2AÇÃO Solidária. Disponível em: <http://www.acaovoluntaria.org.br/mostraConteudo.asp?id=111>. Acesso em:

20 nov. 2011, 21:10:10.

3 FACULDADE de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEAUSP). Disponível

em:

<http://www.tecsi.fea.usp.br/eventos/Contecsi2004/BrasilEmFoco/port/polsoc/csolid/conselho/fortsocv/pvol

unt/index.htm>. Acesso em: 14 nov. 2011, 21:10:10.

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regulamentação, voluntários mal intencionados poderiam solicitar judicialmente o pagamento

de remuneração pela qual, supostamente, não tinham direito. O termo de adesão voluntária,

reconhecido legalmente, solucionou esta questão.

Em pesquisa coordenada por Landim e Scalon (2000), dos 19,7 milhões de voluntários

no Brasil no ano 2000, 71% trabalhavam em organizações sem fins lucrativos. Além disso,

levando em consideração as horas trabalhadas voluntariamente, 58% eram realizadas em

igrejas e centros de culto religioso. Ainda de acordo com as pesquisadoras, pré-conceitos

sobre o trabalho voluntário foram superados. Segundo os entrevistados do estudo, o

voluntário não desemprega, já que visa atender à população carente, que só tem acesso aos

serviços prestados por meio da boa ação.

Ao todo, 123 países apoiaram a Organização das Nações Unidas (ONU) na definição

do ano de 2001 como o Ano Internacional do Voluntário. Já é possível observar que a

caridade, o assistencialismo ou a militância política estão sendo superados por um

entendimento de voluntariado como ação cívica engajada com a real transformação de

sociedade. Em setembro de 2000, 191 países assinaram a Declaração do Milênio, considerado

o mais importante compromisso internacional em favor do desenvolvimento e da eliminação

da pobreza e da fome no mundo. Os oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) a

serem alcançados até 2015 tratam do combate à pobreza e à fome, à promoção da educação,

da igualdade de gênero e de políticas de saúde, saneamento, habitação e meio ambiente. Para

atingir esses objetivos, há um conjunto de 18 metas, monitoradas por 48 indicadores.

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Fonte: CENTRO de Informação das Nações Unidas. Disponível em: < http://unicrio.org.br/os-oito-odms>. Acesso em: 05 jan. 2012, 20:15:30.

No Dia Internacional dos Voluntários e no encerramento do 10º Aniversário do Ano

Internacional dos Voluntários (AIV+10) - 5 de dezembro de 2011 - foi lançado o primeiro

Relatório Sobre o Estado do Voluntariado Mundial, apresentado oficialmente durante a

Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York. O documento seguiu recomendações

dos Estados Membros das Nações Unidas em sua análise de progresso de 2010 rumo aos

Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) até 2015 (PROGRAMA DAS NAÇÕES

UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO, 2011b).

No Relatório (2011), a tese central é a de que o voluntariado tem um vasto potencial

para o desenvolvimento humano, noção que inclui a solidariedade, a inclusão social, o

empoderamento, a satisfação de vida e o bem-estar individual e social. Entretanto, ele não é

reconhecido como um recurso poderoso do capital social das nações, mesmo fazendo a

diferença. Sendo assim, o atual modelo de desenvolvimento seria incompleto. De acordo com

a Coordenadora Executiva do Programa de Voluntários das Nações Unidas Flavia Pansieri, no

Relatório Sobre o Estado do Voluntariado Mundial (2011), o voluntariado é “[...] um

componente essencial de qualquer estratégia que reconheça que o progresso não pode ser

medido somente em termos de retorno econômico e que indivíduos são motivados não

somente por interesse próprio” (PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O

DESENVOLVIMENTO, 2011a, p. 6).

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Já Helen Clark, Administradora do Programa das Nações Unidas para o

Desenvolvimento, no Relatório sobre o Estado do Voluntariado no Mundo (2011), acredita

que o voluntariado é uma maneira altamente eficaz de aproveitar as capacidades das pessoas,

em todas as sociedades e em todos os níveis. A importância das conquistas não materiais para

o bem-estar dos indivíduos e de toda a sociedade são consideradas essenciais no relatório,

como a participação, o empoderamento e a cidadania ativa. “Colocar as pessoas como o foco

do desenvolvimento significa fazer com que o progresso seja igualitário e para todos, e as

pessoas passam a ser participantes ativas nas mudanças” (PROGRAMA DAS NAÇÕES

UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO, 2011a, p. 4).

O estudo cita ainda que as pessoas de baixa, média e alta renda são equivalentes no

quesito voluntariado. Suas habilidades são utilizadas para benefício próprio, de suas famílias e

de suas comunidades, reduzindo a exclusão social, frequentemente resultado da pobreza e da

marginalização. É possível observar que o bem-estar dos indivíduos está diretamente ligado às

suas contribuições para as vidas dos outros. Por isso, o voluntariado tem um grande potencial

de fazer a diferença, respondendo a muitas das principais preocupações globais.

A pesquisa da Rede Brasil Voluntário, realizada pelo Ibope Inteligência em 2011,

revelou que um em cada quatro brasileiros com mais de 16 anos já realizou algum trabalho

voluntário. A primeira fase do estudo foi realizada em junho com duas mil pessoas. Em

novembro, apenas 1.550 pessoas - aquelas que realizavam alguma ação voluntária no

momento da entrevista - participaram. No total, das 35 milhões de pessoas, 53% são mulheres

e 47% homens, com uma média de 39 anos, sendo 47% casados e 42% solteiros. A classe C

corresponde a 43%, seguida pela A (40%) e DE (17%). Entre os voluntários, 38% têm Ensino

Médio completo ou Superior incompleto e outros 20% já se graduaram na universidade4.

2.2 Voluntariado Empresarial: como surgiu?

O voluntariado empresarial surgiu na década de 70, nos Estados Unidos, como uma

resposta ao interesse dos empregados com o bem-estar das comunidades no entorno das

4 REDE Brasil Voluntário. Disponível em: <http://www.redebrasilvoluntario.org.br/pesquisa>. Acesso em: 24

jan. 2012, 20:14:15.

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fábricas. No princípio, os funcionários desenvolviam as ações por conta própria, mas depois

as empresas começaram a apoiá-los, já que vislumbraram uma boa alternativa para obter uma

aproximação e melhorar a comunicação com a comunidade, além de agir de forma

responsável5.

É possível notar que, no mundo, em torno dos anos 80, um novo perfil de

empresariado começou a ganhar força, mais engajado em torno das questões sociais. Até os

anos 90, junto à consolidação das organizações não governamentais e do terceiro setor,

surgiram as premiações voltadas para estimular e reconhecer a atuação social das corporações.

Um exemplo é a criação do Prêmio ECO, em 1982. Lançado pela Câmara Americana de

Comércio (AMCHAM), foi pioneiro ao reconhecer empresas que adotavam práticas

socialmente responsáveis em todo o Brasil6.

Ainda na década de 90, surge o Conselho Brasileiro de Voluntariado Empresarial

(CBVE), que tem como objetivo melhorar as ações já desenvolvidas pelas companhias. Por

meio de uma filiação ao Conselho, as empresas podem trocar experiências, a fim de

identificar as modalidades de voluntariado empresarial e formular indicadores de resultados

para cada uma das ações7. O CBVE se propõe a realizar estudos, como a pesquisa sobre o

Perfil do Voluntariado Empresarial Brasileiro, que caracteriza o fenômeno no Brasil,

revelando as tendências desta prática. O primeiro trabalho foi realizado em 2007 e

coordenado pela ONG RioVoluntário, e em 2010 ganhou uma ampliação, utilizando uma

amostragem de 67 empresas.

A pesquisa revelou que 90,6% das empresas que promovem ações sociais estimulam

seus colaboradores a participar dos trabalhos. A maioria delas desenvolve o voluntariado

parcial ou totalmente fora do horário de trabalho (65% e 87,6%, respectivamente). Apenas

12,5% das companhias têm programas nos quais o voluntariado acontece dentro do horário de

5PORTAL do Voluntariado HSBC. Disponível em:

<http://www.portaldovoluntariohsbc.com.br/site/pagina.php?idconteudo=1296>. Acesso em: 16 nov. 2011,

21:15:05. 6 Ao longo das edições, a premiação já mobilizou 2.064 companhias brasileiras e multinacionais.

<http://www.premioeco.com.br/history> 7 CONSELHO Brasileiro de Voluntariado Empresarial. Disponível em: <http://www.cbve.org.br/?cat=10>. Acesso em: 22 dez. 2011, 19:20:15.

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expediente. Além disso, as atividades são realizadas na área da educação (78,1%), com

crianças e adolescentes (82,8%). “Ações como oficinas, aulas, contação de histórias e

prestação de serviços são realizadas por uma parcela mais tímida do voluntariado,

demonstrando que as ações continuadas ainda carecem do engajamento maciço dos

voluntários” (PERFIL..., 2007).

O CBVE trabalha em quatro eixos principais: Troca, Registro e Disseminação de

Boas Práticas; Estudos e Pesquisas; Ações Conjuntas e Emergenciais; Comunicação e

Marketing do Voluntariado Empresarial. Seguem as empresas que faziam parte do Conselho

até janeiro de 2012: Accenture, AES Brasil, Banco Bradesco, Banco Votorantim, Carrefour,

Fundação Itaú Social, Fundação Telefônica, Gerdau, Haztec, Instituto Camargo Corrêa,

Instituto C&A, Instituto Coca-Cola Brasil, Instituto HSBC Solidariedade, Instituto Unibanco,

Instituto Vivo, Itaipu Binacional, Kraft Foods, Light, Metrô-Rio, Petrobras, PwC, Shell,

Souza Cruz, TV Globo, Unimed-Rio, Vale, Wilson, Sons e White Martins.

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III BENEFÍCIOS DO VOLUNTARIADO EMPRESARIAL NAS EMPRESAS

3.1 Considerações Gerais

O voluntariado não surge naturalmente. Ele é mais comum em países onde há políticas

públicas que o promovam e que o reconheçam como ferramenta de enfrentamento às

adversidades, oferecendo, em contrapartida, subsídios e apoio para a sua prática. De acordo

com Campos e Bresolin (2001 apud COELHO, 2000), o trabalho voluntário se deve a duas

razões: primeiro por um impulso altruísta, com o objetivo de apenas fazer o bem e em

segundo lugar por interesses próprios, já que pode ser visto como uma espécie de estágio

formador de bons profissionais, devido às experiências vivenciadas. Entretanto, é possível

observar diversos outros motivos, que se devem à necessidade e ao desejo do indivíduo de

estabelecer vínculos sociais profundos com o outro, ser uma ferramenta de mudança efetiva

na realidade de carência e pobreza em que se encontram algumas pessoas, consolidar atitudes

cidadãs em prol do bem comum, entre outros.

Para pensar o voluntariado numa perspectiva teórica, é importante citar os conceitos

de comunidades cívicas e capital social, definidos por Robert Putnam no final do século XX e

no início deste século. O conceito de comunidades cívicas como “cidadãos atuantes e

imbuídos de espírito público, por relações políticas igualitárias, por uma estrutura social

firmada na confiança e na colaboração” (PUTNAM, 2003, p. 31), refere-se hoje a

características inerentes ao voluntário. Já a formulação de “capital social” substitui, para o

autor, o conceito de comunidade, pois este seria impregnado de individualismo.

A ideia principal da teoria do capital social é que as redes têm valor [...], contatos sociais afetam a produtividade de indivíduos e grupos. Ao passo que o capital físico se refere a objetos físicos e o capital humano refere-se a propriedades dos indivíduos, o capital social refere-se a conexões entre indivíduos – às redes sociais e às normas de reciprocidade e probidade que resultam deles (PUTNAM, 2000, p. 18-19).

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Capital social seria o mesmo que “virtude cívica”. Ou seja, quanto mais relações

sociais uma pessoa tiver, mais capital social ela vai acumular. E quanto maior o número de

conexões, maior o número de oportunidades. De acordo com Heloísa Coelho (2007), o

voluntariado traz a possibilidade de fortalecer os laços, que trazem a sensação de bem estar e

pertencimento, além de aumentar a coesão social entre grupos de distintas origens

socioeconômicas. “Uma sociedade fragmentada, em que diferentes grupos sociais pautam

suas relações na desconfiança, no preconceito, no desrespeito e na violência, perde as

condições funcionais de produzir o bem comum”. (COELHO, 2007).

Putnam (2003) acredita que é a vida social, o contato pessoal, que mantém unidas as

sociedades e não apenas o ativismo político em movimentos sociais, a participação em

associações do terceiro setor, a colaboração em organizações sem fins lucrativos ou o

envolvimento em grupos de ajuda. A tarefa mais importante é a promoção de confiança social

que é a base dessas instituições democráticas.

A grande questão é que a confiança só é possível quando damos “crédito” ao outro,

significando estar exposto a certos riscos. Confiar é considerado um ato de amizade ou amor,

onde as pessoas muitas vezes precisam dar provas de seus sentimentos. Além disso, quanto

mais se conhece alguém e se tem informações positivas a seu respeito, mais fácil fica confiar

nele suas expectativas e problemas. Para que o voluntariado empresarial efetivamente

funcione, é preciso estimular entre os funcionários em primeiro lugar a confiança na empresa;

em segundo lugar, a confiança no trabalho desenvolvido e em terceiro lugar, fornecer

informações sobre as entidades/comunidades que receberão as ações voluntárias, para que os

voluntários saibam que os seus esforços serão destinados a instituições que verdadeiramente

precisem de ajuda.

García Roca (1994) acredita que a ação voluntária deve ter competência, qualidade

técnica e disciplina, o amor em si não é suficiente. Mesmo as iniciativas mais louváveis

podem se perder diante da incapacidade de submetê-las a prazos, avaliações e objetivos. O

voluntário agrega valor à instituição, mas não substitui trabalhadores remunerados, já que

participa apenas quem quer, de acordo com as suas possibilidades. Entretanto, uma vez tendo

assumido o compromisso de trabalhar em favor de uma causa, o voluntário deve cumprir as

regras específicas a ele atribuídas e executar as tarefas de forma responsável. Para que isso

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ocorra, o responsável pelo programa de voluntariado da empresa deve fazer com que o

funcionário se sinta peça importante da engrenagem, de forma a estabelecer um espaço

democrático onde ele possa discutir as ações realizadas e influir nas decisões.

O voluntariado fortalece a sociedade, aumenta a expectativa de justiça e igualdade,

garante os direitos sociais e consequentemente contribui para o crescimento do país. O

processo está em seu início e há diversas formas de atuação, variando de acordo com as

diferentes culturas. Não há práticas de voluntariado empresarial predefinidas e melhores, mas

sim modelos que servem de referência para outras empresas. Isso é o que mostra o “Estudo

sobre voluntariado corporativo de empresas globais – O estado da arte do voluntariado

empresarial” (ALLEN; GALIANO; HAYES, 2011), realizado pela Iave e pelas 47 empresas-

membro dedicadas ao voluntariado empresarial, o GCVC.

3.2 Benefícios para as empresas

De acordo com o consultor em Terceiro Setor, Barnabé Medeiros, em entrevista ao

Portal do Voluntariado HSBC, o voluntariado empresarial trouxe competências de empresa às

ações, como por exemplo, o trabalho em equipe, o planejamento e os conhecimentos

adquiridos no âmbito profissional (PROJETO PORTAL DO VOLUNTARIADO HSBC,

[2010?]).

Para as empresas, ter empregados que se voluntariam é um elemento importante para o diálogo social com as comunidades de seu entorno. Além disso, é um fator de desenvolvimento de recursos humanos, pois a prática do voluntariado desenvolve capacidades que serão importantes também dentro da empresa, como maior facilidade de relacionamento interpessoal e liderança (PROJETO PORTAL DO VOLUNTARIADO HSBC, [2010?]).

Segundo a Presidente do o Conselho Brasileiro de Voluntariado Empresarial CBVE e

Superintendente Executiva do Instituto Unibanco, Wanda Engel, em nota no site do CBVE8,

8 CONSELHO Brasileiro de Voluntariado Empresarial. Disponível em: <http://www.cbve.org.br/?cat=10>. Acesso em: 22 dez. 2011, 19:30:23.

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para medir o impacto que ações de voluntariado empresarial podem alcançar, basta apenas

pensar na capacidade que o voluntariado individual já possui, incluindo planejamento, foco e

sinergia. Com uma marca mais valorizada, funcionários engajados e satisfeitos, além de poder

oportunizar ao colaborador voluntário o desenvolvimento de novas habilidades

empreendedoras, a companhia consegue vislumbrar rapidamente os resultados positivos da

prática.

Mesmo oferecendo subsídios importantes para a sua realização, a companhia não deve

promover o voluntariado de forma explícita na mídia, pois corre o risco de cair no descrédito.

Entretanto, o voluntariado empresarial está ganhando cada vez mais espaço nas publicações.

É o que mostra uma matéria publicada no Estado de São Paulo, onde a jornalista Marcia

Rodrigues (2011) defende que participar de ações sociais é positivo para a empresa, que

utiliza esta ferramenta para se relacionar melhor com a comunidade do entorno de suas

instalações.

Seja para valorizar a sua marca, mostrando a responsabilidade social da companhia, ou até mesmo por afinidade com os projetos sociais, muitos desenvolvidos com organizações não governamentais (ONGs) parceiras ou com a comunidade do entorno, a iniciativa também vem sendo utilizada como uma ferramenta de gestão pelas empresas (RODRIGUES, 2011, p.5).

O ambiente corporativo também sofre mudanças positivas após a realização de

atividades voluntárias, como a melhoria do clima organizacional, o aumento da produtividade

e a integração das equipes. Segundo César Rua, gerente de Comunicação Interna da

Telefônica em REIS (2010), uma das transformações provocadas pelo trabalho voluntário na

empresa foi o rompimento da hierarquia, já que durante a realização das ações todos são

iguais. “Ninguém pergunta de onde você é e, se o faz, é mais para se integrar, como

curiosidade, porque o cargo e a origem não importam” (REIS, 2010, p. 67). A liderança se

organiza pelo conhecimento e não pelo poder e nesse espaço é possível observar o senso de

produção coletiva e a busca de objetivos comuns.

De acordo com o Presidente da Alcoa América Latina & Caribe Franklin Feder, o

programa de voluntariado empresarial promove o exercício da cidadania, o engajamento,

aumenta a motivação, integra os funcionários e familiares e ajuda a melhorar a qualidade de

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vida das comunidades onde a Alcoa atua ou tem negócios. “A empresa vai bem, se a

comunidade vai bem” (ALCOA, 2011).

3.3 Fortalecimento da marca

Ruth Goldberg, da GCA – Consultoria em Responsabilidade Social e Voluntariado –

foi responsável pela implantação do Programa de Voluntariado da Telefônica. No diagnóstico

inicial, foi constatado que a alta administração tinha grande expectativa de que o voluntariado

ajudasse a melhorar a imagem da empresa.

Esse tipo de objetivo [melhorar a imagem da empresa] pode ser incorporado à estratégia dos programas de voluntariado, mas só funciona se for sustentado por uma intenção genuína de incentivar o engajamento social e o fortalecimento da cidadania entre os empregados, o que se traduz em investimentos concretos, constância das ações, seleção criteriosa e coerente dos projetos apoiados, e apoio para a formação e a participação nas atividades (REIS, 2010, p.69).

Ou seja, os ganhos de imagem são inegáveis, mas isso só é efetivo e duradouro quando

a companhia realiza programas sociais com o objetivo principal de fortalecer a cidadania. Só

desta forma o empregado legitima a iniciativa e ajuda a construir a força da marca. Outro fator

importante para a relação empresa/empregado é a confiança depositada pelos funcionários na

companhia. Por isso, é essencial que o investimento seja transparente e realmente direcionado

à instituição beneficiada em cada ação. Isso faz com que o colaborador sinta que está, de fato,

fazendo a diferença.

3.4 Benefícios para os colaboradores

A presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH), Leyla do

Nascimento, em entrevista à Rodrigues (2011) acredita que o funcionário que atua no grupo

de voluntariado de sua empresa é capaz de liderar uma equipe, identificar falhas no

gerenciamento das ações e também elaborar projetos, a fim de conseguir parcerias para

levantar fundos. Estes fatores proporcionam ao profissional características importantes que o

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mundo corporativo busca nos empregados, como liderança e flexibilidade, sem falar da

motivação evidente nas atividades do dia a dia.

O sócio da Pricewaterhouse-Coopers João César Lima também acredita que ser

voluntário não é hoje uma exigência do mercado, mas agrega valor. “Ser voluntário [...]

demonstra, por exemplo, facilidade de trabalhar em equipe e controle para enfrentar desafios.

Qualidades de peso observadas pelas empresas na hora da contratação” (RODRIGUES, 2011,

p. 5).

Já o gerente Roberto Howes Dias, funcionário da C&A, acha que os programas de

voluntariado são oportunidades reais de crescimento para o empregado. “Tenho convicção de

que o voluntário desenvolve características de liderança, aprimora sua capacidade de

planejamento e de comunicação e muda atitudes pessoais, muitas vezes descobrindo talentos e

habilidades adormecidas” (VOLUNTARIADO ..., 2011). A coordenadora do Voluntariado da

Vale Fernanda Castanheiras concorda: “Para a empresa há um inegável ganho de imagem e

para os funcionários há um retorno no desenvolvimento de competências, já que eles

desenvolvem habilidades importantes, sem falar da melhoria do clima organizacional9”

(CASTANHEIRAS, 2012).

Regina Silvestre, da gerência de Clima e Engajamento da área de Recursos Humanos

da Telefônica acredita que todos os lados saem ganhando em ações voluntárias: “Ganha a

empresa como instituição, ganha o RH pelo desenvolvimento de capital humano, e ganha o

empregado, que vê seu trabalho voluntário somado ao aporte da empresa a serviço da

melhoria da sociedade” (REIS, 2010, p. 63)

O grande dilema é conseguir transformar o voluntariado empresarial em algo

permanente, sem cair no aspecto assistencialista que permeia o tema desde o seu surgimento.

É inegável que populações em risco precisem ser socorridas em determinados momentos, seja

por catástrofes naturais ou guerras, mas o caminho para um programa de sucesso é capacitar

as pessoas para que elas se tornem agentes multiplicadores e transformadores de suas

comunidades.

9 Entrevista concedida à autora em 10 jan. 2012.

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IV ‘CASES DE VOLUNTARIADO EMPRESARIAL

O voluntariado empresarial pode obter resultados significativos se realizado com os

ingredientes certos. De acordo com Heloísa Coelho, diretora executiva do Riovoluntário e

Secretária Executiva do Conselho Brasileiro de Voluntariado Empresarial (CBVE), as

seguintes ferramentas fazem do voluntariado um programa estratégico dentro da companhia:

O responsável pelo programa de voluntariado deve ter comunicação online com os voluntários; a companhia deve delimitar uma equipe responsável pelo programa dentro da empresa; o trabalho voluntário deve ser reconhecido por meio de prêmios ou pela divulgação das atividades realizadas nos veículos de comunicação interna; o voluntariado deve ser realizado nas comunidades do entorno da empresa, agregando, desta forma, valor para as ações; a empresa comprometida com o voluntariado deveria possibilitar a realização das atividades dentro do horário de trabalho; é importante que os resultados sejam avaliados; deve haver um comitê gestor de voluntariado com representantes de diversas áreas da empresa; é preponderante que exista um orçamento anual para a área e que os voluntários sejam capacitados para realizar as atividades propostas. (COELHO, 2012).

4.1 Accenture

4.1.1 Sobre a empresa

A Accenture é uma empresa de consultoria de gestão, serviços de tecnologia e

outsourcing (mão de obra terceirizada, subcontratação de serviços). É responsável por ajudar

seus clientes a se tornarem empresas ou governos de alto nível de performance. Ao todo, são

236 mil profissionais, de diversas especialidades, atendendo a todos os setores da atividade

econômica em mais de 120 países. No ano fiscal encerrado em 31 de agosto de 2011, a

Accenture gerou receitas líquidas de 25,5 bilhões de dólares. A estratégia da companhia é

identificar novos negócios e tendências tecnológicas e desenvolver soluções para ajudar

clientes ao redor do mundo a conquistar novos mercados, aumentar receitas em mercados já

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existentes, melhorar a performance operacional e fornecer produtos e serviços de forma mais

efetiva e eficiente10.

Entre os valores que norteiam a empresa encontram-se a preocupação com um futuro

melhor, os melhores profissionais, a criação de valor para o cliente, uma rede global de

relacionamentos, o respeito ao indivíduo e a integridade. No Brasil desde 1983, cerca de sete

mil colaboradores atendem organizações de todos os ramos com escritórios em São Paulo,

Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte e Vitória, e um centro de soluções tecnológicas em

Alphaville. Além disso, a Accenture conta tem um Centro de Serviços Compartilhados em

Curitiba, onde são criadas funções de back-office compartilháveis para os clientes.

4.1.2 Voluntariado Accenture

De acordo com a Coordenadora do Comitê de Voluntariado da Accenture, Eloá

Marques (2011), a empresa decidiu implementar o programa de voluntariado empresarial

atendendo a uma demanda dos colaboradores que já tinham iniciativas individuais e sentiam a

necessidade de uma ação robusta gerenciada pela empresa. Segundo ela, o objetivo do

programa de voluntariado é estimular o envolvimento dos colaboradores em projetos sociais

estabelecidos, contribuindo para a melhoria dos resultados. “Qualquer pessoa pode ser

voluntária, independentemente do tempo que disponibiliza e do que sabe fazer. O importante

é se comprometer e acreditar que por meio de pequenas ações, é possível transformar a

sociedade” (MARQUES, 2011) 11.

Para dar início ao comitê de forma mais organizada, foi necessário monitorar as

iniciativas que já existiam e estimular a participação dos colegas para aderir e criar novas

alternativas de trabalho voluntário. Foi definida também uma Semana Nacional de

Voluntariado, que acontece no mês de abril, em 10 dias corridos - dois finais de semana e seis

dias úteis. Neste período, grupos de colaboradores e agregados (familiares, amigos,

10 ACCENTURE. Disponível em: <http://www.accenture.com/br-pt/company/Pages/index.aspx>. Acesso em 04 dez. 2011, 19:35:40.

11 Entrevista concedida à autora em 02. dez. 2011.

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fornecedores, parceiros e clientes) atuam como voluntários em projetos sociais. De acordo

com Marques (2011), esta é a oportunidade que a Accenture encontrou de oferecer uma

experiência enriquecedora aos seus colaboradores, que guarda ainda uma importância

estratégica no diálogo da companhia com as comunidades em que atua e demais públicos de

interesse.

Para os funcionários novos e também durante a semana em abril é exibido um curso de

apresentação da empresa, com informações sobre o voluntariado, para aumentar a adesão às

iniciativas. O escopo das atividades desenvolvidas é escolhido pelo próprio voluntário, ou

seja, ele tem liberdade para decidir. Existe um comitê que organiza as ações, estimulando e

apoiando os funcionários. As oportunidades são inscritas em uma base para que todos

conheçam e se interessem. O voluntário pode trabalhar durante o expediente de trabalho,

entretanto, precisa combinar com a chefia para compensar as horas utilizadas.

4.2 Alcoa

4.2.1 Sobre a empresa

A Alcoa é a empresa responsável por ter criado a atual indústria de alumínio há cerca

de 120 anos nos Estados Unidos. É a principal produtora de alumínio primário e

industrializado e a maior mineradora de bauxita e refinadora de alumina do mundo. O

alumínio está presente em carros, aviões, embalagens, materiais de construção, transporte

comercial, produtos eletrônicos e industriais. Entre eles, estão os produtos laminados,

forjados, rodas Alcoa®, sistemas de fixação e construção, fundição e pelo processo de cera

perdida, além de outros metais leves, como superligas de níquel e titânio12.

Até o momento, quase 75% do alumínio já produzido ainda está em uso produtivo. Em

2010, a Alcoa anunciou uma meta interna de atingir uma taxa de reciclagem global de 90%

12 ALCOA. Disponível em: http://www.alcoa.com/brazil/pt/home.asp>. Acesso em 05 dez. 2011, 19:42:40.

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até 2030, e definiu várias abordagens possíveis para ajudar a aumentar a taxa de reciclagem.

A Alcoa emprega aproximadamente 59 mil pessoas em mais de 200 locais em 31 países. No

Brasil, são cerca de 3.500 empregados e um faturamento de 2,8 bilhões de reais em 2010.

A Alcoa foi selecionada pelo Guia Exame de Sustentabilidade 2011 como uma das 21

empresas modelo em Responsabilidade Corporativa do Brasil, pois adota critérios ambientais

na seleção de fornecedores e observa se eles, na prática, fazem mais do que o mínimo exigido

por lei. Além disso, possui mecanismo de monitoramento e verificação de conformidade legal

para garantir que não haja operações sem as devidas licenças ambientais. Com relação aos

fornecedores de bens e serviços, utiliza critérios sociais para qualificar, selecionar e monitorar

cada um deles. Esses critérios incluem a não utilização de trabalho infantil ou forçado, o

combate à discriminação e o incentivo à contratação de fornecedores locais (O DIALOGO...,

2011, p.138).

Ainda de acordo com a Revista (2011), 3,8 milhões de reais foram doados pela

empresa em 2010 para 75 projetos comunitários em 39 municípios do país. Entre suas

principais conquistas sustentáveis, está o reaproveitamento de 95% dos resíduos industriais da

mina de bauxita de Juriti, transformados em adubo, material de construção, entre outros.

Houve também uma redução de 25% do volume de resíduos enviados para aterros nas

unidades de São Luís (MA) e Poços de Caldas (MG).

A taxa de dias de trabalho perdidos por acidente da Alcoa é de 1/10, o que

corresponde à média em ambientes de trabalho de fabricação nos EUA. A sustentabilidade é

parte integrante das práticas operacionais e dos projetos e engenharia de produtos. A Alcoa

participa do Índice Dow Jones de Sustentabilidade por dez anos consecutivos.

4.2.2 Voluntariado Alcoa

Em 1952, foi criada a Alcoa Foundation com o objetivo de alocar recursos para

projetos comunitários em suas unidades de negócios. Esses recursos eram prioritariamente

vinculados a programas onde houvesse a participação efetiva dos funcionários e seus

familiares. Em 1990, no Brasil, o Instituto Alcoa foi criado com o objetivo de melhorar a

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qualidade de vida nas comunidades, financiando projetos e envolvendo seus funcionários em

ações comunitárias13.

No início das atividades de Relações Comunitárias no Brasil, os funcionários

promoviam iniciativas por meio de grupos que realizavam ações em diversas instituições, sem

o apoio financeiro da companhia. Quando a Alcoa Foundation lançou os programas BRAVO!,

em 2002, e ACTION, reconheceu as iniciativas que já existiam e estimulou ainda mais o

engajamento e a participação.

4.2.3 Sensibilização de funcionários

Os voluntários são sensibilizados por meio de campanhas de incentivo e,

principalmente, pelo exemplo e apoio das lideranças da companhia. A Alcoa tem vários

programas de voluntariado, o que facilita o engajamento. Os funcionários interessados

buscam informações com os Representantes de Relações Comunitárias de cada unidade, sobre

como podem contribuir. Estes representantes são mediadores do relacionamento do Instituto

Alcoa com os voluntários e as comunidades e recebem apoio e formação para o exercício

deste papel.

Há um sistema online com as informações de todas as instituições parceiras de cada

localidade, quais atividades estão disponíveis e os voluntários que atuam em cada instituição.

Não há um treinamento específico para os voluntários, mas os mesmos participam de

palestras e discussões sobre o trabalho voluntário. As entidades escolhidas são selecionadas a

partir de um contato prévio da instituição com o Representante de Relações Comunitárias,

funcionários e/ou Instituto Alcoa. A partir daí, é realizada uma visita para conhecer melhor o

trabalho da instituição e é feita a análise de alguns documentos (estatuto, por exemplo), para

então consolidar a parceria. Para projetos financiados pelo Instituto Alcoa e Alcoa

Foundation, a instituição deve apresentar uma lista de documentos que comprovem a sua

idoneidade, além de ter foco de atuação, que esteja alinhado com o plano estratégico da

13 ALCOA. Disponível em: <http://www.alcoa.com/brazil/pt/custom_page/institutoalcoa/community_alcoa_foundation.asp>. Acesso em 16 jan. 2012, 12:02:50.

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companhia. Os voluntários podem participar de uma série de programas de voluntariado com

foco prioritário em educação, saúde, meio ambiente, segurança, trabalho e renda, como os

descritos a seguir:

- ACTION: são quatro horas de trabalho voluntário, de no mínimo 10 funcionários da Alcoa e

seus familiares. Acontece durante os finais de semanas e são prestados serviços a uma

entidade sem fins lucrativos. Cumprida a tarefa, a Alcoa envia à instituição um cheque no

valor de US$ 3.000, doados pela Alcoa Foundation. Em 2010, foram realizados 47 ACTIONs

no Brasil, distribuídos em oito cidades, somando doações de US$138.000,00.

- BRAVO!: é um programa mundial de estímulo e reconhecimento aos esforços dos

voluntários. Cada funcionário deve concluir, durante o ano, 50 horas de trabalho voluntário

fora do seu horário de trabalho. Ao concluir o total de horas, o funcionário recebe US$ 250

para destinar à instituição em que atua. Em 2010, o programa rendeu um total de mais de 135

mil horas de voluntariado no Brasil, somando US$ 675,5 mil doados para 385 instituições. No

país, 51% dos funcionários (dois mil setecentos e dois voluntários) completaram as 50 horas

de trabalho voluntário, fora do horário de trabalho. As localidades que se destacaram em

ações voluntárias integradas ao programa BRAVO! foram: Tubarão (SC), pelo terceiro ano

consecutivo, com 72% de participação dos funcionários, seguida por Poços de Caldas (MG),

com 68% e São Luis (MA), com 64%.

Fonte: ALCOA. Disponível em: < http://www.alcoa.com/brazil/pt/custom_page/institutoalcoa/community_bravo.asp>. Acesso em 16 jan. 2012, 14:02:50.

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BRAVO!Brasil: trata-se de um programa que reconhece nacionalmente os esforços dos

estagiários voluntários da Alcoa e suas subsidiárias. O tempo dedicado às instituições é

analisado e o benefício financeiro é destinado às instituições para as quais os estagiários

transferem energia, conhecimento, aptidões, talentos e carinho. Cada estagiário que completar

no mínimo 40 horas de dedicação voluntária, na mesma instituição, durante suas horas de

lazer, a entidades voltadas ao benefício da comunidade, receberá do Instituto Alcoa uma

doação de R$ 275,00 para entregar à instituição. O estagiário poderá realizar somente um

BRAVO!Brasil por ano. Em 2010, o programa registrou a participação de 58 estagiários,

2.320 horas de trabalho voluntário e R$ 15.950 mil em contribuições para instituições.

Fonte: ALCOA. Disponível em: < http://www.alcoa.com/brazil/pt/custom_page/institutoalcoa/community_bravobrasil.asp>. Acesso em 16 jan. 2012, 13:02:50.

- Mês Mundial de Serviços Comunitários (acontece anualmente): durante o mês de outubro,

os funcionários realizam diversas atividades em prol das comunidades onde estão localizados.

Durante esse mês há a entrega de variadas contribuições e visitas dos voluntários às

instituições beneficentes, assim como ações de integração e recreação. Todas as atividades

são realizadas dentro do horário de trabalho. A edição de 2010 contou com a participação

recorde de 29 mil funcionários, com cerca de 1.000 eventos próximos às comunidades onde a

Alcoa atua. Foram estabelecidas parcerias com mais de três mil ONGs em 24 países,

proporcionando diversas atividades: distribuição de refeições, plantio de árvores,

fortalecimento da infraestrutura local e auxílio à alfabetização infantil. No Brasil foram

realizados 128 eventos com a participação de 4.670 pessoas, 106 lideranças e mais de doze

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mil pessoas das comunidades, representantes de instituições, fornecedores, representantes do

governo e membros da mídia, beneficiando 128 instituições em todo o país.

- Semanas Verdes: realizadas de 21 de abril a 21 de julho em todas as localidades da Alcoa no

mundo, têm o objetivo de incentivar iniciativas ambientais focadas em Reduzir, Reciclar e

Revitalizar, inspirando o engajamento de funcionários e da comunidade. No ano de 2010,

foram realizados mais de 138 eventos em 20 países, mais de 25.000 horas de trabalho

voluntário, 495 instituições beneficiadas e mais de 8.900 voluntários participantes. No Brasil

foram realizados 59 eventos entre ACTIONs, ações comunitárias e palestras, foram plantadas

5.400 árvores, 121 instituições atendidas e mais de 2.600 voluntários participantes, o que

corresponde a 47% dos funcionários no país.

- Programa de Apoio a Projetos Locais: acontece em todas as localidades e se dá por meio do

financiamento de projetos de organizações locais, em busca de uma melhor qualidade de vida

para a comunidade. Voluntários ajudam a acompanhar o desenvolvimento desses projetos.

- Miniempresa: é um programa de educação que proporciona aos estudantes experiências de

negócios na organização e operação de uma empresa. Em 15 jornadas semanais, um grupo

com 25 alunos do ensino médio escolhem um produto a ser comercializado, levantam o

capital necessário para iniciar um empreendimento com a venda de ações, organizam a

administração, compram matéria-prima, produzem e vendem os produtos confeccionados.

Esses alunos são orientados por um grupo de voluntários que devem transmitir conhecimentos

na área de finanças, recursos humanos, produção e marketing dentro do horário de trabalho.

O Instituto Alcoa é responsável pelas diretrizes e apoio das ações de voluntariado em

todo Brasil, mas em cada localidade existe um RC (representante de Relações Comunitárias),

que conta com apoio de representantes de diversas áreas e formam a ELRC (Equipe Líder de

Relações Comunitárias). A ELRC ajuda na organização das atividades e engajamento dos

funcionários.

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Fonte: FAGGION, Isabella. Alcoa: voluntariado corporativo [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por <[email protected]> em 20 dez. 2011. Entrevista concedida à Carolina de Castro Nunes.

4.3 Itaú Unibanco

4.3.1 Sobre a empresa

Por meio de uma fusão entre os dois bancos, o Itaú e o Unibanco criaram em 2008 um

dos maiores bancos do mundo, com patrimônio líquido de R$ 60,9 bilhões e ativos totais de

R$ 755,1 bilhões em 2010. O valor de mercado de R$ 179,6 bilhões em bolsas de valores

coloca a empresa entre as dez maiores instituições financeiras do mundo, segundo a agência

internacional de notícias Bloomberg. O banco está presente em mais de 1.000 municípios

brasileiros, além de agências e escritórios em 19 países e dois territórios (Cayman e Hong

Kong) (ITAÚ, [2012?]).

Entre os benefícios que vieram desta integração, estão presentes a expansão da oferta

de crédito e a ampliação da gama de produtos e serviços. O processo de união entre as

instituições foi liderado pelo Comitê Superior de Integração, que teve como metas assegurar

uma transição tranqüila e transparente, garantir a continuidade dos negócios e discutir novas

oportunidades. O comitê supervisionou as atividades de 19 frentes de trabalho, criadas em

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novembro de 2008 para mapear processos e identificar as melhores práticas de cada

instituição. Os resultados obtidos por esses grupos de trabalho subsidiaram a construção de

um novo modelo de negócios para cada uma das diversas áreas de atuação.

A Bolsa de Valores de São Paulo, a Bolsa de Comércio de Buenos Aires e a Bolsa de

Valores de Nova Iorque negociam ações da instituição, por meio de certificados de depósito

de ações. O Itaú Unibanco foi eleito o banco mais sustentável do mundo, segundo o jornal

Financial Times e pela International Finance Corporation (IFC), além de ser considerada a

marca mais valiosa do Brasil, de acordo com a consultoria Interbrand. Em 2008, o Unibanco

aderiu ao Pacto Global, iniciativa da Organização das Nações Unidas (ONU).

4.3.2 Instituto Unibanco

Criado em 1982, o Instituto Unibanco é integralmente mantido por um fundo

endowment14, instituído exclusivamente para financiar suas atividades, o que lhe proporciona

independência de aportes adicionais. Atualmente, tem 93 empregados e tem como missão

contribuir para o desenvolvimento de jovens em situação de vulnerabilidade, concebendo,

validando e disseminando tecnologias e metodologias sociais que contribuam para aumentar a

efetividade das políticas e práticas vigentes nas escolas públicas de Ensino Médio.

Entre os objetivos estratégicos estão incentivar e apoiar a formulação de políticas

públicas integradas voltadas à juventude; identificar, produzir e disseminar conhecimentos

sob a forma de informações, estudos e tecnologias sociais; garantir padrões de eficiência,

eficácia e efetividade para a obtenção de resultados e capitalizar os recursos e a força do

voluntariado empresarial para a potencialização de resultados.

14 O Endowment proporciona um fluxo financeiro mensal para a entidade beneficiada, pois é uma forma de investimento que canaliza para atividades sociais as riquezas geradas na economia. O patrimônio permanece investido e protegido, gerando frutos para atender as necessidades presentes e futuras. Disponível em: <http://fundosocial.com.br>. Acesso em 15 dez. 2011, 19:15:45.

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4.3.3 Fundação Itaú

A Fundação Itaú Social tem como atividades centrais a formulação, implantação e

disseminação de metodologias voltadas à melhoria de políticas públicas na área educacional e

à avaliação de projetos sociais. Constituída em 2000, a Fundação atua em todo o Brasil em

parceria com as três esferas de governo (federal, estadual e municipal), com o setor privado e

com organizações da sociedade civil. Além das alianças externas, a Fundação Itaú Social

também conta com o apoio de áreas de negócio do Banco. Diversos departamentos do Itaú

fornecem apoio técnico para a viabilização dos programas sociais. A rede de agências e as

lojas também têm importante papel na disseminação dos programas, o que estimula a

aproximação com as comunidades locais.

O conjunto de ações e programas que a Fundação desenvolve e apoia tem como foco a

educação integral, o desenvolvimento da capacidade de leitura e competências de escrita, a

ampliação das oportunidades de inserção social da juventude e a disseminação da cultura de

avaliação econômica de projetos sociais. São parceiros na área educacional, por exemplo, o

Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), a União Nacional dos Dirigentes

Municipais de Educação (Undime) e o Canal Futura. O Centro de Estudos e Pesquisas em

Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec) realiza a coordenação técnica de diversos

projetos15.

4.3.4 Voluntariado Itaú-Unibanco

De acordo com a Coordenadora do Voluntariado do Instituto Unibanco Fabiana

Mussato, a partir da fusão das empresas, as ações de voluntariado do Instituto Unibanco

(origem Unibanco) e da Fundação Itaú Social (Itaú) foram concentradas no Programa Itaú

Voluntários (MUSSATO, 2011)16. Ele concentra as atividades das duas instituições para

atender ao interesse dos colaboradores de se engajar em projetos sociais, bem como para

15 FUNDAÇÃO Itaú Social. Disponível em: <http://www.fundacaoitausocial.org.br>. Acesso em 15 dez. 2011, 19:15:45. 16 Entrevista concedida à autora em 20 dez. 2011, 20:15:30.

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estimular essa prática. O envolvimento dos funcionários do Itaú Unibanco em projetos e ações

sociais contribui para que, no âmbito individual, a visão de sustentabilidade do banco também

possa ser transferida para iniciativas práticas.

Os interessados podem apoiar projetos da Fundação Itaú Social, do Instituto Unibanco

e de parceiros, além de participar dos projetos desenvolvidos por outros colaboradores. O

programa conta ainda com o Portal Voluntários Itaú Unibanco, ferramenta com mais de 5,5

mil usuários e média mensal de 32 mil page views (8 mil visitantes únicos), que promove a

integração e a troca de experiências entre colaboradores de todo o país. O orçamento do

Instituto Unibanco para voluntariado é de R$2.679.000,00 e o da Fundação Itaú é de

aproximadamente R$3.000.000,00, somando R$5.679.000,00.

Em 2011, entre as ações corporativas estruturadas, estão as oficinas de Uso Consciente

do Dinheiro e Uso Seguro da Internet, além de grandes programas como o Estudar Vale a

Pena, Vantagens de Permanecer na Escola e o Mentoria Jovem. As ações de voluntariado

possibilitam ao profissional a prática de atividades solidárias de acordo com suas habilidades

e disponibilidade de tempo.

Programas de voluntariado empresarial atendem a expectativas dos próprios colaboradores/funcionários e configuram situações em que todos ganham. Os resultados dos projetos são reforçados com a contribuição do voluntariado e as instituições beneficiadas sentem-se seguras com o respaldo das empresas envolvidas – que, por sua vez, são beneficiadas pelas competências e habilidades adquiridas pelo time ao longo dessa prática. (MUSSATO, 2011, p. 2).

Em 2011, consolidando uma tendência adotada nos últimos anos, o Instituto Unibanco

concentrou o foco de suas ações de voluntariado em metodologias de concepção própria e

diretamente ligadas aos projetos ‘Jovem de Futuro’ e ‘Entre Jovens’. As ações são

estruturadas e aperfeiçoadas na prática, desenvolvidas em conjunto por equipes próprias e

consultores especializados, que incluem a preparação e capacitação dos voluntários, além de

orientação e acompanhamento permanentes.

Na Fundação Itaú Social, os voluntários podem apoiar programas como o Jovens

Urbanos, ministrando oficinas de Ingresso ao Mercado de Trabalho ou Consumo Consciente;

no Prêmio Itaú Unicef, sendo capacitados para atuar em comissões de análise; na Olimpíada

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da Língua Portuguesa, trocando correspondências com as crianças semifinalistas; e no Itaú

Solidário, atuando em um dos 29 comitês em todo o país. Segundo a analista de voluntariado

empresarial Bruna Domingues Waitman (2011), a Fundação Itaú Social busca estimular, por

meio de suporte e formação, um voluntariado cada vez menos filantrópico.

Queremos que as nossas ações sejam cada vez mais customizadas para o desenvolvimento de competências. Fizemos um mutirão com os trainees em 2011, onde eles tinham que ‘realizar o sonho’ de uma comunidade. Nesse caso especificamente, eles construíram uma praça em apenas dois dias. (WAITMAN, 2011) 17.

4.3.5 Planejamento e Sensibilização

Todas as ações do ‘Programa Voluntários Itaú Unibanco’ são previamente planejadas

e definidas em um calendário anual. Dessa forma, há meses específicos de lançamento e

participação dos voluntários. Toda a divulgação é feita pelos canais internos de comunicação

da empresa, com apoio da área de Endomarketing (e-mails, portais, elemídias, etc.). A cada

ação lançada, os voluntários devem fazer sua inscrição e escolher uma data de capacitação nos

polos mais próximos à sua área de trabalho (as datas são previamente informadas nas

comunicações de lançamento da ação). Com relação ao local de atuação dos voluntários, o

Instituto Unibanco somente desenvolve as ações em escolas públicas do Ensino Médio (já

parceiras do Instituto), que acordam as datas de atuação e o tipo de ação realizada. No caso da

Fundação Itaú Social os voluntários também atuam em escolas parceiras e outras

organizações sociais.

Sobre o banco de dados de voluntários, o programa aproveita os já atuantes para serem

multiplicadores, reforçando a participação dos colegas de trabalho que ainda não atuam. No

Instituto Unibanco são desenvolvidas duas ações estruturadas e específicas:

17 Entrevista concedida à autora em 20 dez. 2011.

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- Estudar Vale a Pena: lançada no segundo semestre de 2010 em escolas do projeto Jovem de

Futuro, essa ação voluntária é parte de uma nova tecnologia de combate ao abandono escolar,

em forma de campanha de incentivo à permanência no Ensino Médio. Após uma capacitação

prévia e com o acompanhamento do Instituto, o voluntário assume a responsabilidade de atuar

como condutor (ou “aplicador”) de atividades lúdicas e criativas em três encontros com

alunos do Ensino Médio de escolas públicas parceiras do Instituto. Essas atividades se

organizam como jogos ou como exercícios de reflexão e de planejamento pessoal. Além de

despertar curiosidade e interesse, favorecendo a adesão dos alunos, a presença do voluntário

materializa para eles um modelo de realização pessoal e profissional que proporciona

inspiração para a realização das atividades.

- Mentoria Jovem: destinada somente a escolas participantes do projeto Jovem de Futuro, o

Mentoria Jovem constitui uma ação de longo prazo, na qual o voluntário assume o papel de

mentor de um ou dois estudantes do Ensino Médio. Ao longo de um ano, cabe ao voluntário

compartilhar com ele um pouco de sua experiência pessoal e profissional e de sua percepção

sobre o mundo do trabalho, além de sugerir leituras e atividades que o ajudem a ampliar seus

horizontes culturais e a desenvolver potencialidades. Nesse relacionamento, que se dá

principalmente por telefone e e-mail e também por meio de encontros presenciais, o mentor

tem como objetivos específicos evidenciar para o jovem participante a importância de

permanecer na escola e orientá-lo a estabelecer um projeto de vida em busca de melhores

perspectivas para o futuro. Antes do início do projeto, os voluntários são capacitados e todo

mentor conta com orientação permanente da equipe da Assessoria de Voluntariado, além de

receber um cronograma e um guia com sugestões de temas e atividades que ajudam a manter

a objetividade e o foco do relacionamento de mentoria.

De acordo com Mussato (2011), nas ações do Instituto não há comitês, porém há um

estímulo de participação ativa dos voluntários: “Por exemplo, a cada final de atuação fazemos

grupos focais com os voluntários atuantes para que nos informem como foram as ações

desenvolvidas e nos deem retorno sobre processos de melhorias” (MUSSATO, 2011, p. 4). As

ações de voluntariado do Instituto Unibanco são coordenadas pela área de Assessoria de

Voluntariado, própria do Instituto.

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Para participar das ações da Fundação Itaú Social, de acordo com Waitman (2011), os

voluntários são divididos em três segmentos: ações corporativas, núcleos de ação social e rede

de oportunidades. Os núcleos são divididos em dois: a rede de atendimento e a administração

central. Na rede de atendimentos - agências e plataformas, que tem contato direto com o

cliente - foram criados grupos de colaboradores voluntários em 2008. Hoje há 15 núcleos de

ação social em 16 municípios. Já na administração central, concentrada em São Paulo, os

grupos são divididos por diretorias. O trabalho começou em 2011 e houve um encontro de

representantes das áreas para trocar experiências e dar início às atividades.

A capacitação dos voluntários dos núcleos de ação, com duração aproximada de 4

horas, é realizada pela equipe que coordena os programas da Fundação Itaú Social. Antes da

visita ao município, os funcionários recebem um comunicado sobre a data da formação e

quem estiver interessado pode participar. “É fundamental que as adesões sejam espontâneas”

(WAITMAN, 2010). No Itaú Unibanco, por enquanto, o funcionário não pode atuar como

voluntário dentro do horário de expediente. As ações são realizadas no contraturno de

trabalho ou aos sábados.

Sobre os benefícios que o voluntariado traz à empresa e aos colaboradores, Waitman

(2011) acredita que os voluntários aprendem a lidar com as adversidades e desenvolvem

espírito de equipe e liderança.

4.4 Vale do Rio Doce

4.4.1 Sobre a empresa

A Vale é a segunda maior mineradora do mundo e a maior empresa privada da

América Latina. Com sede no Brasil e atuação em 38 países, a empresa emprega atualmente

mais de 126 mil pessoas, entre profissionais próprios e terceirizados. É o maior produtor

mundial de minério de ferro e o segundo maior produtor de níquel, além da produção de

cobre, carvão, manganês, ferro-ligas, fertilizantes, cobalto e metais do grupo da platina. A

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empresa atua também no setor de Logística, Siderurgia e Energia e negocia ações nas bolsas

de São Paulo, Nova York, Hong Kong, Paris e Madrid.

A Vale foi criada pelo governo brasileiro em 1942. Em 1997 tornou-se uma

companhia privada, apostando na diversificação de seu portfólio de produtos18.

4.4.2 Fundação Vale

A instituição foi criada com o objetivo de promover o desenvolvimento a partir da

união de recursos e conhecimento de governos, setor privado e sociedade civil. Com essa

união, são gerados nos territórios resultados sociais estruturantes e sustentáveis no curto,

médio e longo prazos. A Fundação se propõe a conhecer a realidade de cada região onde atua.

Para isso, realiza diagnósticos socioeconômicos, que reúnem dados urbano-ambientais,

sociais, culturais, econômicas e demográficas de cada região. O objetivo é identificar suas

necessidades e potencialidades, com um planejamento integrado com as prefeituras,

estabelecendo objetivos comuns e a potencialização dos investimentos sociais19.

4.4.3 Metodologia

Fortalecimento da Gestão Pública - apoio às prefeituras no fortalecimento de sua

capacidade administrativa, tendo como referência indicadores de mortalidade infantil ou o

Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB).

Apoio à Infraestrutura - a Fundação atua ao lado das prefeituras na elaboração e

organização de projetos, viabilizando a captação de recursos disponíveis no governo e

agências de fomento internacionais, entre outros. Para execução das obras, a Fundação apoia

18 VALE. Disponível em: <http://www.vale.com.br/pt-br/o-que-fazemos/paginas/default.aspx>. Acesso em 04 jan. 2012, 19:16:14. 19 FUNDAÇÃO VALE. Disponível em: <http://www.fundacaovale.org/pt-br/Paginas/default.aspx>. Acesso em 05 jan. 2012, 21:21:00.

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os municípios na gestão do processo – licitação, implantação das obras, prestação de contas e

gestão do sistema.

Desenvolvimento Humano e Econômico - desenvolve ações que visam contribuir para

o desenvolvimento integrado e sustentável das comunidades.

4.4.4 Voluntariado Vale

O Programa Voluntários Vale foi criado em 2004 e, desde então, existe uma Política

de Voluntariado, onde estão definidos os princípios e o tipo de apoio com o qual o grupo pode

contar. Para facilitar a coordenação das atividades voluntárias e estimular o debate, o

programa conta com comitês formados por representantes de grupos de ação e de áreas da

empresa nas localidades onde estão inseridos. Também são os integrantes desses comitês que

compõem o comitê estratégico, um espaço de planejamento de ações e representação regional

do voluntariado, criado em 2010. O voluntariado fica diretamente ligado à diretoria de

Responsabilidade Social Corporativa e sempre é realizado fora do horário de trabalho.

Segundo Silvio Vaz, diretor presidente da Fundação Vale, todas as pessoas nascem com

talentos a serem desenvolvidos, mas é preciso construir as oportunidades para que essas

potencialidades floresçam nas comunidades (PROGRAMA VOLUNTÁRIOS VALE, 2010) 20.

A transformação se faz em conjunto com a comunidade, em uma relação de mão dupla, onde os avanços alcançados se sustentam no decorrer do tempo. Com base nessa premissa, o Programa Voluntários Vale interage com as localidades em que está presente. Atuamos em frentes diversas, sempre com o objetivo de disponibilizar os talentos existentes dentro da empresa para potencializar os talentos presentes dentro da comunidade, criando um círculo virtuoso e compartilhado, em que a construção do futuro é feita de maneira sustentável e conjunta, despertando a cidadania presente em todos os envolvidos nas ações que são realizadas (PROGRAMA VOLUNTÁRIOS VALE , 2010, p. 5)

21.

20 PROGRAMA Voluntários Vale. Relatório 2010. Rio de Janeiro: [s.n.], 2010. 64 p. 21 PROGRAMA Voluntários Vale. Relatório 2010. Rio de Janeiro: [s.n.], 2010. 64 p.

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No Brasil, o Programa Voluntários Vale está presente em 40 cidades em nove estados:

Bahia, Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Piauí, Rio de

Janeiro e Sergipe. A iniciativa também existe no Peru, em Moçambique e na Austrália.

Independentemente de onde estejam esses voluntários, o portal www.voluntariosvale.org.br

permite que eles troquem experiências, planejem e divulguem suas ações. Atualmente, o

portal conta com mais de cinco mil pessoas cadastradas, revelando o potencial de mobilização

existente dentro e fora da Vale. Os voluntários definem, planejam e executam suas ações,

através de parcerias, contando sempre com o apoio do Comitê e da gestão do programa. Entre

as atividades desenvolvidas estão: promoção da qualificação profissional e atividades

esportivas; interação com bibliotecas e escolas; construção e reformas de casas; apoio a

instituições sociais, como creches, asilos e hospitais; socorro a vítimas de catástrofes;

organização de rodas de leitura para crianças; incentivo à doação de sangue; atuação na

preservação do meio ambiente, entre outras.

A empresa se responsabiliza por fornecer suporte no processo de formação dos

comitês e no desenvolvimento das ações voluntárias; realiza ações corporativas, dando a

oportunidade a todos os empregados de participar do programa; disponibiliza o portal;

reconhece as ações voluntárias organizadas pelos comitês por meio de um prêmio anual;

oferece seguro para os voluntários durante suas atividades, cobrindo riscos pessoais, materiais

e de terceiros e disponibiliza os veículos de comunicação internos para divulgação das ações.

De acordo com a coordenadora do Programa de Voluntariado Fernanda Castanheira, o

voluntariado e a comunicação interna trabalham em parceria o tempo todo. “Sem essa

cumplicidade, o voluntariado não dá certo, pois precisamos divulgar as nossas ações, a fim de

captar o maior número possível de voluntários, sem falar do reconhecimento que

proporcionamos por estes meios” (CASTANHEIRA, 2012) 22.

Segundo o Relatório Anual de Voluntariado da Vale (2010), o número de voluntários

foi ampliado em mais de 60% de janeiro a dezembro de 2010, quando o ambiente do

programa na internet contabilizou 5.395 acessos. A aproximação do programa com áreas

estratégicas como Comunicação, Recursos Humanos e Segurança Institucional permitiu essa

ampliação junto ao público interno – um dos principais objetivos do planejamento para o ano.

22 Entrevista concedida à autora em 04 jan. 2012.

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“O que você faz bem FAZ bem para alguém” foi o mote da campanha que se espalhou e

ocupou os andares dos prédios administrativos e toda a estrutura de comunicação interna da

Vale.

4.4.5 Encontros com os Comitês

Ao longo dos anos, encontros são promovidos com os voluntários que integram os

Comitês, ampliando informações sobre o Programa Voluntários Vale e criando, assim, um

ambiente colaborativo de trabalho. Os encontros têm como pauta a identificação das diversas

frentes de investimento que a Fundação realiza e a ampliação da visibilidade das ações, para

que a cada ano haja um número maior de voluntários. Uma inovação do Programa em 2010

foi a criação dos Comitês Estratégicos, instância que passou a reunir representantes dos

grupos de cada região para a definição conjunta das estratégias e linhas do Programa

Voluntários Vale. Como exemplo, os grupos do Pará, de Minas Gerais e do Nordeste,

passaram a integrar um único Comitê Estratégico.

4.4.6 Encontro Nacional de Voluntários Vale

Todos os representantes dos Comitês Voluntários Vale atuantes no Brasil têm a

oportunidade de compartilhar as ações que desenvolveram no decorrer do ano, seus resultados

e o aprendizado obtido.

4.4.7 Prêmio “Ações Verde-Amarelas”

No decorrer do ano, centenas de ações foram desenvolvidas pelos voluntários nas suas

comunidades, atuando em temas como meio ambiente, educação, assistência, saúde e cultura,

beneficiando crianças, jovens e idosos. O prêmio “Ações Verde-amarelas” é uma ferramenta

para ampliar a visibilidade das ações que apresentam amplos resultados e que podem ser

replicadas em outras localidades.

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4.4.8 Dia V

O Dia V (Dia do Voluntário) foi criado pela Federação das Indústrias do Estado de

Minas Gerais (FIEMG) em 2001 e em 2004 o Programa Voluntários Vale passou a integrar a

iniciativa, ampliando-a para outros sete estados em que a Vale atua. O evento reúne

voluntários da empresa, seus familiares, amigos e vizinhos, além de diversos interessados em

participar de ações como distribuição de alimentos, plantio de árvores, pintura e reforma de

escolas, atendimentos de saúde e atividades de cultura, lazer e esporte. É quando várias

pessoas são sensibilizadas pelo mote da solidariedade e acabam se engajando em atividades

voluntárias. É realizado anualmente sempre no primeiro domingo de dezembro.

4.4.9 Ação institucional Engenheiros na Escola

Primeira ação institucional desenvolvida pela Fundação Vale, o projeto Engenheiros

na Escola é fruto de uma parceria entre dois programas da Fundação: o Voluntários Vale e o

Ação Educação. Desenvolvida no Maranhão, a iniciativa foi responsável pela mobilização de

161 engenheiros, arquitetos e técnicos em edificações da Vale e empresas parceiras para

trabalhar voluntariamente em escolas de três cidades do Maranhão: Anajatuba, Santa Rita e

Cidelândia. O empenho desses profissionais – metade do grupo foi formado por empregados

da Vale e outra metade por profissionais da Odebrecht, Progen, Logos e Ductor – e a ação

institucional da Fundação Vale beneficiaram diretamente 12 mil alunos de 132 escolas da

região. O projeto já está sendo preparado para outros estados em que a Vale atua.

O objetivo do Engenheiros na Escola é contribuir com a gestão pública na captação de

recursos para a melhoria da qualidade da educação. Assim, os voluntários mobilizados foram

responsáveis pela elaboração do Levantamento da Situação Escolar (LSE), requisitado pelo

Ministério da Educação como condição básica para pleitear verbas do Fundo Nacional de

Desenvolvimento da Educação (FNDE). Sem o LSE, realizado em 2010, as escolas dos

municípios não teriam a oportunidade de receber em 2011 os recursos necessários para a

melhoria de suas edificações. Executada em finais de semana e contando com voluntários de

diversas empresas – além de familiares e amigos –, toda a operação do projeto piloto no

Maranhão foi bastante complexa. Além disso, todos os voluntários foram capacitados pela

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ONG Comunidade Educativa e obtiveram uma ampla compreensão do LSE e dos formulários

específicos elaborados pelo MEC para fazer esse levantamento.

Com o Engenheiros na Escola, o programa de voluntariado empresarial da Vale

mobilizou o conhecimento existente dentro da empresa e buscou ampliar o entendimento

desses profissionais sobre a realidade da educação brasileira. Os voluntários demonstraram

grande vontade em desenvolver ações que permitam exercer a solidariedade utilizando a sua

formação técnica como principal elemento.

Os voluntários ficaram super agradecidos à Vale por terem tido a oportunidade de fazer um trabalho voluntário com o que eles realmente sabem. Tem muita gente querendo ajudar, mas tem dificuldade de lidar com crianças ou não gosta de se vestir de palhaço, por exemplo. Temos fila de espera para participação neste programa

(CASTANHEIRA, 2012) 23

.

4.4.10 Indicadores Voluntários Vale

Segundo o Relatório (2010), mais de 200 ações sociais foram realizadas por

Voluntários Vale em 2010. Foram dedicadas 30 mil horas de trabalho voluntário a projetos de

assistência, construção e reforma de moradias, cultura, educação, ação emergencial, esporte e

lazer, meio ambiente, qualidade de vida, saúde e empreendedorismo. Desenvolvidas por 28

comitês espalhados pelo Brasil, essas iniciativas beneficiaram moradores das comunidades

onde a Vale está inserida, revelando a capacidade de mobilização do nosso voluntariado. As

ações do Dia V não estão consideradas nesses indicadores.

4.5 Wilson, Sons

4.5.1 Sobre a empresa

23 Entrevista concedida à autora em 04 jan. 2012.

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A Wilson, Sons Limited (“Wilson Sons” ou “Company”) foi fundada em Salvador, na

Bahia, em 1837 pelos irmãos escoceses Edward e Fleetwood Pellew Wilson e atuava

principalmente em serviços de navegação e comércio de carvão combustível para navios. A

empresa chegou a construir o primeiro dique seco no Brasil, em 1869, mas com o passar dos

anos, as construções foram substituídas por serviços de estiva, rebocagem, reparos navais e

comércio em geral. A companhia possui filiais em toda a costa brasileira e é uma das

empresas privadas mais antigas do país. De acordo com Saboia (2010), os Wilson foram

preponderantes na modernização das condições materiais de vida dos brasileiros: “Com sua

privilegiada visão e agudo tino comercial, Edward Pellew Wilson transformou-se em peça

importante na engrenagem que levou o nosso país a se modernizar, ainda numa era bem

anterior à primeira onda de industrialização” (SABOIA, 2010, p. 13).

Em sua primeira fase, a empresa, além da navegação, importava e exportava produtos

de primeira necessidade. Quando o Brasil se tornou autossuficiente em alguns setores, a

companhia voltou seu foco para a área de navegação. Enquanto o carvão era o principal

combustível utilizado no mundo, a Wilson, Sons liderava sua produção e comercialização

para os navios e as indústrias. Quando o carvão foi substituído pelo petróleo, a empresa

encerrou as atividades com este material. Com a compra das Salinas em Areia Branca, no Rio

Grande do Norte, a companhia expandiu seus negócios. Já em 1959 as atividades foram ainda

mais diversificadas. Hoje a Wilson, Sons atua em rebocagem, operação portuária, logística

integrada, agenciamento marítimo, construção naval e offshore com 6.300 funcionários em

seus quadros. Em novembro de 2009, a empresa aderiu ao Pacto Global da Organização das

Nações Unidas (ONU) 24.

Terminais Portuários: a Wilson, Sons é a terceira maior operadora de terminais de

contêiner do Brasil, operando dois dos principais terminais, situados nos portos de Rio

Grande do Sul e da Bahia, sob concessões outorgadas pelas autoridades portuárias pelo prazo

de 25 anos, podendo obter renovação. Os serviços prestados em seus terminais consistem

principalmente no carregamento e descarregamento das embarcações e na armazenagem de

carga. A Companhia, através de sua subsidiária Brasco, também opera terminais de apoio

24 WILSON, Sons. Disponível em: <http://www.wilsonsons.com.br/nossahistoria/index.html>. Acesso em 05 jan. 2012, 18:52:34.

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logístico integrado para a indústria de óleo e gás. Atualmente, a empresa possui bases de

apoio em Niterói e em Guaxindiba, no Rio de Janeiro; São Luís, no Maranhão e em Vitória,

no Espírito Santo.

Rebocagem: é o principal operador de serviços de rebocagem na costa brasileira,

atuando nos principais portos do País com uma frota de mais de 70 rebocadores, a maior na

América do Sul. Com base em controles internos, a Wilson Sons acredita que detém

participação de cerca de 50% no mercado brasileiro de rebocagem, que consiste no apoio a

manobras, atracação e desatracação de navios nos portos. A companhia presta ainda serviços

complementares, como suporte a operações de salvatagem, apoio à indústria de óleo e gás,

suporte a construção de plataformas e outras operações especiais que envolvem combate a

incêndio em alto mar, desencalhe de embarcações e rebocagem oceânica.

Logística: a Wilson, Sons oferece soluções integradas e customizadas de cadeia de

suprimentos, para sua base de clientes nacionais e multinacionais que operam no Brasil. O

segmento de logística concentra-se em três áreas principais: logística industrial, armazenagem

e distribuição e transporte multimodal (marítimo e ferroviário).

Agenciamento Marítimo: a companhia é a mais antiga e a principal agência marítima

independente brasileira. A Wilson, Sons presta serviços de agenciamento a armadores nos

principais portos do País e é a única agência marítima independente com cobertura nacional,

com mais de 20 escritórios.

Offshore: através da joint venture Wilson, Sons Ultratug Offshore, da qual a Wilson,

Sons detém 50%, a companhia opera embarcações que prestam serviços de apoio marítimo à

exploração e produção de petróleo e gás. As embarcações do tipo PSV transportam

equipamentos, lama de perfuração, tubos, cimento, alimentos e outros materiais, no trajeto

entre a plataforma offshore e os terminais portuários. Atualmente, a Wilson, Sons opera

embarcações PSV nos termos de contratos de longo prazo com a Petrobras e terá um total de

14 embarcações desse tipo até o final de 2012.

Estaleiros: a companhia possui e opera seu próprio estaleiro no Guarujá, em São

Paulo. O estaleiro é responsável pela construção e manutenção de suas embarcações, o que

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lhe permite atender às restrições regulatórias no mercado de apoio portuário brasileiro,

representando uma importante vantagem competitiva. Dois projetos adicionais de estaleiro

estão em andamento: o primeiro será a expansão do estaleiro no Guarujá, que dobrará a

capacidade existente hoje; e o segundo será instalado em Rio Grande (RS).

4.5.2 Voluntariado Wilson, Sons

Observando a iniciativa de alguns dos seus funcionários com o engajamento no

trabalho voluntário e com a evolução de um processo de maior envolvimento do grupo com a

sociedade, a Wilson, Sons criou o Programa de Voluntariado Empresarial “Criando Laços”. O

programa visa estimular ações dirigidas a instituições e projetos sociais que atendam a

diferentes públicos e que estejam atreladas às estratégias de negócios do grupo. De acordo

com o coordenador de voluntariado da empresa Cláudio Viveiros, o programa faz parte da

agenda de sustentabilidade da empresa:

Ele estimula nos voluntários competências requeridas por recursos humanos como liderança, trabalho em equipe e o empreendedorismo. Além disso, possibilita a aproximação com as comunidades do entorno do negócio. Ter o voluntariado como uma ação de relacionamento é fundamental (VIVEIROS, 2012)

25.

4.5.3 Metodologia

Segundo Viveiros (2012), a metodologia utilizada foi à construtivista. “Formamos um

time multidisciplinar na matriz e com o apoio do Riovoluntário elaboramos a nossa política,

que foi aprovada pelo presidente. Programamos um piloto no Rio e depois replicamos em Rio

Grande, Paranaguá, Santo Andre e Salvador” 26. O time multidisciplinar deu origem ao

comitê gestor e nas localidades foram constituídos os Grupos de Trabalho – GT’s. Em 2011

houve uma replicação para Santos/Guarujá e Vitória.

25 Entrevista concedida à autora em 10 jan. 2012. 26 Entrevista concedida à autora em 10 jan. 2012.

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Foram realizados encontros de sensibilização, com a presença de 90% do efetivo da

matriz e depois disso veio a capacitação. Para o comitê e para os grupos de trabalho houve

palestras de liderança e planejamento, com um material audiovisual especialmente preparado

para isso. Segundo Viveiros (2012), cada GT tem uma pequena verba de R$4.000 e

autonomia quanto ao seu uso. As ações são previamente informadas ao comitê gestor e cada

uma vem acompanhada de um relatório de realização. Não existe um banco de voluntários e

as atividades são direcionadas para as comunidades do entorno das operações. As entidades

beneficiadas recebem visitas dos voluntários, que checam as condições, necessidades e a

idoneidade de cada uma delas.

4.5.4 Projetos e Campanhas

Os voluntários devem apresentar projetos com justificativa, objetivos, resultados

esperados, recursos e investimentos, metodologia, avaliação e cronograma de atividades. Já as

campanhas podem ser de doação, sensibilização ou mobilização, sendo de responsabilidade

do comitê gestor - caso envolvam toda a empresa - e dos grupos de trabalho – em caso de

campanhas locais ou regionais. Em todos os casos, as campanhas observam as diretrizes e

políticas contidas no programa. Algumas atendem questões emergenciais, como catástrofes

naturais e/ou identificação de alguma necessidade urgente nas instituições onde os voluntários

do grupo estiverem atuando. Em qualquer um dos casos, as campanhas de doação deverão ser

organizadas respeitando os seguintes critérios:

• A definição do objeto das campanhas deverá ter orientação para resultados que gerem

melhorias efetivas para as instituições e/ou públicos beneficiados;

• A lista de itens doados deverá contar com a prévia participação e acordo das

instituições a serem beneficiadas pela campanha;

• Para a promoção das campanhas, é necessário apresentar aos potenciais participantes a

instituição a ser beneficiada, com destaque para o público por ela atendido;

• Divulgação do endereço da instituição para os potenciais doadores que poderão

realizar visitas e fazer contato;

• Prestação de contas para os doadores e públicos envolvidos através da apresentação

dos resultados obtidos com a campanha.

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Projetos financiados pela empresa: os projetos de voluntariado empresarial podem

estar ligados aos projetos sociais, culturais e/ou ambientais já desenvolvidos, ou aqueles que

venham a ser desenvolvidos pela empresa, não sendo esta uma obrigatoriedade. É importante

que haja compatibilização das ações, para otimizar os resultados. Existe na empresa uma área

de Comunicação & Sustentabilidade, mas a coordenação do voluntariado não é ligada a esta

área. O comitê escolhe quem será o representante, que pode ser de qualquer setor. O

funcionário não pode fazer o trabalho prático dentro do horário de expediente, mas o

planejamento da ação sim.

4.6 C & A

4.6.1 Sobre a empresa

A C&A foi fundada em 1841 na cidade de Sneek, na Holanda, pelos irmãos Clemens e

August, cuja união das iniciais de seus nomes resultou na marca C&A. Em 1976 foi

inaugurada a primeira loja no Brasil, no Shopping Ibirapuera, em São Paulo. A filosofia de

trabalho é vender o melhor da moda por preços justos. A C&A possui 1, 4 mil unidades em 19

países da Europa, América Latina e Ásia. A maior rede de varejo do país tem 178 lojas em 60

cidades, somando 17 mil funcionários. Desde 1996 a companhia conta com um Código de

Conduta no Fornecimento de Mercadorias, cuja aceitação em contrato é obrigatória e válida

em todo o mundo. Em 2006, criou um sistema de auditoria independente em sua rede de

fornecimento, por meio da Organização de Serviço para Gestão de Auditorias de

Conformidade (SOCAM), que tem como objetivo coibir qualquer tipo de mão de obra

irregular e buscar a melhoria contínua das condições de trabalho na sua cadeia produtiva

(RELATÓRIO..., 2009).

De acordo com o Relatório (2009, p.50), a SOCAM monitora os seus fornecedores e

subcontratados por meio de visitas periódicas, sem aviso prévio, orientando e apoiando,

quando necessário, na melhoria das condições de trabalho, através de planos de ação. Mais de

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oito mil vistorias foram realizadas desde 2006. A C&A é a primeira empresa do varejo têxtil a

assinar o Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo no Brasil, uma iniciativa que

tem como objetivo implementar ferramentas para que o setor empresarial não comercialize

produtos de fornecedores que usaram ou usam trabalho escravo.

4.6.2 Instituto C&A

O Instituto C&A, fundado em 5 de agosto de 1991, tem como foco promover e

qualificar o processo de educação de crianças e adolescentes no Brasil. Ele oferece apoio

técnico e financeiro a programas e projetos sociais realizados por outras instituições também

dedicadas à educação de crianças e adolescentes. As ações devem estar situadas em cidades

ou regiões metropolitanas onde a empresa C&A possui operações. Os programas do Instituto

C&A estão organizados em torno de três áreas de investimento:

• Área de mobilização social, com o programa Voluntariado;

• Área de Educação, Arte e Cultura, com os programas Prazer em Ler, Educação

Infantil e Educação Integral, neste integrando o Núcleo de Cultura e Arte;

• Área Desenvolvimento Institucional e Comunitário, com os programas

Desenvolvimento Institucional e Comunitário e Redes e Alianças27.

4.6.3 Voluntariado C&A

Com o Instituto C&A, o voluntariado se formalizou como um programa, com ações

sistemáticas e previamente planejadas. Ao longo dos anos de sua implementação, o programa

passou por distintos momentos e ciclos, até chegar ao modelo atual. Segundo a proposta

técnica do programa (2010), os motivos que justificam a criação e manutenção de um

programa de voluntariado passam pelos benefícios que esse tipo de programa propicia à

sociedade, pelas expectativas do grupo de acionistas em relação à função social da empresa,

27 INSTITUTO C&A. Disponível em: <http://www.institutocea.org.br/quem-somos/Default.aspx>. Acesso em: 30 dez. 2011, 10:20:15.

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pelas possibilidades de desenvolvimento pessoal e profissional por parte dos voluntários e

pelas contribuições positivas que a dinâmica do voluntariado empresarial oferece às

organizações. O programa Voluntariado tem na educação de crianças e adolescentes uma das

formas em que a participação social dos funcionários C&A se efetiva.

Fonte: INSTITUTO C&A. Área mobilização social: programa voluntariado: proposta técnica: resumo executivo. São Paulo: [s.n.], 2010. 11 p.

De acordo com a gerente da área de Mobilização Social do Instituto C&A, Carla

Andrea Sattler (2011), o Programa de Voluntariado não tem como objetivo trazer benefícios

para a empresa, ele atende uma diretriz institucional de dar oportunidade de participação

social aos funcionários da C&A, nas comunidades onde a empresa está presente. Com

atividades preferencialmente dentro do horário de trabalho dos funcionários, o programa é

executado, sobretudo, a partir das lojas, onde atuam 98,3% das equipes de voluntários, bem

como nos centros de distribuição da C&A em Barueri (SP) e no Rio de Janeiro (RJ) e no

escritório central da empresa, situado também em Barueri. O investimento realizado em 2010

foi de aproximadamente 1,5 milhões e há duas pessoas dedicadas exclusivamente ao

voluntariado na companhia.

Temos uma convicção muito forte que se traduz em “uma marca a serviço de uma causa e não uma causa a serviço de uma marca”. Sabemos, e nossas pesquisas apontam, que a ação voluntária traz benefícios para a empresa, mas para nós estes resultados são secundários. Os resultados mais importantes estão ao encontro da corresponsabilidade pela vida de nossa comunidade que se traduzem na oportunidade de os indivíduos estarem participando destes assuntos e também na mobilização por uma causa, em nosso caso, a educação de crianças e adolescentes (SATTLER, 2011)28.

28Entrevista concedida à autora em 28 de novembro de 2011.

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Na visão dos acionistas, o voluntariado traz os valores, as crenças e as prioridades da

comunidade para perto da empresa, além de ser um portador das crenças e dos valores da

C&A. Na visão do Instituto C&A, o voluntário é um cidadão que disponibiliza

voluntariamente tempo e competências em uma ação cívica de corresponsabilidade pelo bem

comum. Nesta mesma vertente, a participação social voluntária dos funcionários da empresa

C&A em programas e projetos de instituições parceiras, preferencialmente em horário de

trabalho, constitui-se em uma diretriz estatutária.

O programa Voluntariado responde a duas diretrizes institucionais: envolver os

funcionários da C&A nas ações do Instituto C&A e assegurar visibilidade do investimento

social privado, sem usar o Instituto C&A como marketing da empresa C&A. As diretrizes

operacionais do Instituto C&A relacionadas ao programa são:

- garantir que as ações do Instituto C&A se realizem por meio de parcerias e alianças;

- comunicar a causa do Instituto C&A, a saber, a educação de crianças e adolescentes;

- garantir que as ações do Instituto C&A contribuam para a realização do direito de crianças e

adolescentes à educação;

- desenvolver ações do Instituto C&A em todas as cidades em que exista uma unidade C&A.

Na avaliação de resultados realizada em 2011 pelo Instituto de Desenvolvimento

Educacional, Cultural e de Ação Comunitária - IDECA, a maior porcentagem de voluntários

entrevistados (42,4%) entende o programa Voluntariado como um caminho para o

crescimento pessoal, o desenvolvimento de talentos positivos para a vida do funcionário, a

descoberta de líderes, entre outros aspectos29. Segundo depoimentos de gerentes e de outras

lideranças da C&A, a experiência do Instituto C&A comprova, também, que voluntários

desenvolvem habilidades pessoais, como maior sensibilidade, compreensão sobre seu papel

no mundo, senso de prioridade, desenvolvimento de capacidades que não são utilizadas no

trabalho formal, além de se demonstrarem mais satisfeitos com o emprego.

29 VOLUNTARIADO: um convite à participação social. 1. ed. Barueri, SP : Instituto C&A, 2011. Disponível em: <http://www.institutocea.org.br/como-atuamos/area-atuacao/Default.aspx?id=11>. Acesso em 11 jan. 2012.

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4.6.4 Área de abrangência

No Brasil, onde há uma unidade C&A há também um grupo de voluntários ligado ao

programa Voluntariado. Desse modo, a área de abrangência do programa encontra-se

intimamente relacionada à expansão geográfica das unidades de negócio da empresa.

Fonte: INSTITUTO C&A. Área mobilização social: programa voluntariado: proposta técnica: resumo executivo. São Paulo: [s.n.], 2010. 11 p.

4.6.5 Público do programa

De acordo com a proposta técnica do programa (2010), o perfil do público atendido é

diferenciado, abrangendo gerentes, supervisores e funcionários dedicados à operação nas

lojas. A maioria das funções operacionais é ocupada por jovens (idade média de 26 anos),

muitos deles vivendo a experiência de seu primeiro emprego (85% do quadro de

funcionários). Desse modo, as estratégias de mobilização são diversas e orientadas para as

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especificidades dos grupos voluntários. Em julho de 2011, o programa envolvia todas as

quase 200 lojas da C&A, mobilizando mais de 5,6 mil voluntários30.

Fonte: INSTITUTO C&A. Área mobilização social: programa voluntariado: proposta técnica: resumo executivo.

São Paulo: [s.n.], 2010. 11 p.

O programa Voluntariado tem quatro estratégias operacionais:

1) Criar ações em articulação com outros programas do Instituto C&A;

2) Promover a descentralização da tomada de decisões e do controle sobre as ações do

programa;

3) Implantar uma plataforma tecnológica para a gestão operacional do programa;

4) Promover a articulação dos voluntários ligados ao programa com organizações.

4.6.6 Ações do programa Voluntariado

4.6.6.1 Na comunidade

• Literatrupe: a ideia é que cada unidade da C&A, tal como uma trupe, relacione-se

mais profundamente com a sua comunidade, levando literatura e brincadeiras a

instituições de educação infantil. No Literatrupe os voluntários não se envolvem com a

formação de professores, mas trabalham junto com instituições que atendem a crianças

30 VOLUNTARIADO: um convite à participação social. 1. ed. Barueri, SP : Instituto C&A, 2011. Disponível em: <http://www.institutocea.org.br/como-atuamos/area-atuacao/Default.aspx?id=11>. Acesso em 11 jan. 2012.

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de até seis anos, para realizar uma atividade autônoma, porém integrada às práticas

educativas existentes na organização. Os voluntários não são educadores, mas

cidadãos capazes de contribuir com a educação ao compreender e valorizar a

importância que práticas como o brincar, a narração de histórias e a produção de arte

têm para o pleno desenvolvimento infantil.

• Cartografia: a Cartografia é uma metodologia de mapeamento da comunidade que

permite a identificação da instituição que receberá o trabalho voluntário, o

conhecimento do contexto em que o trabalho será desenvolvido – espaço, demandas e

potencialidades – e também a articulação com possíveis parceiros locais para

contribuir na ação. Didaticamente, a primeira atividade do grupo ao implementar a

Cartografia é identificar a instituição social em que será feito o trabalho voluntário. O

mapeamento da comunidade realizado durante o processo revela ao grupo de

voluntários as demandas reais da comunidade, a pertinência e a relevância da proposta

de atuação imaginada. A Cartografia ocorre de modo concomitante e complementar ao

projeto Literatrupe. Porém é uma atividade aberta e, da forma como foi proposta,

contínua. Pode ser executada de acordo com as possibilidades do grupo e não constitui

um produto acabado, na medida em que pode ser a qualquer tempo retomado,

aprofundado e modificado, conforme mude o contexto ao qual se reporta.

• Projeto Bazar: no bazar são vendidas roupas doadas pela C&A – peças de mostruário

ou sobras de coleções. As lojas da C&A tradicionalmente já realizavam doações a

instituições sociais, para dar um destino aos excedentes. Em determinado momento, a

unidade C&A no centro da capital paulista teve a ideia de criar um bazar dentro de

uma das organizações em que o trabalho voluntário era desenvolvido, como forma de

geração de renda. O sucesso dos bazares realizados em São Paulo levou à

disseminação da estratégia. Mais recentemente, a prática permite aos voluntários a

obtenção de recursos para as organizações parceiras, além de mobilizar habilidades

específicas dos voluntários. O envolvimento dos funcionários cria um vínculo novo

com a instituição parceira, levando habilidades e competências típicas da atuação

profissional na C&A, como a experiência de precificar roupas, dispor produtos,

utilizar diferentes equipamentos, como araras e manequins.

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• Programa Gestão para Entidades da Sociedade Civil (Gesc): seu objetivo é promover a

melhoria da qualidade da gestão de organizações não governamentais por meio de

aulas ministradas por funcionários da C&A. O programa é exemplo de uma

modalidade voluntária que foi introduzida para dar oportunidade de participação a

outro perfil de funcionário, situado em um escalão mais elevado da hierarquia da

empresa. A exemplo do projeto Bazar, esse modelo também se enquadra no que se

denomina “skill-based”, abrindo ao voluntário a chance de investir seu conhecimento

para produzir benefícios mais permanentes na realidade de uma organização social.

• Intercâmbio Comunitário: o Instituto C&A planeja criar oportunidades, com o apoio

da C&A, para que funcionários da empresa possam realizar serviços voluntários, ao

mesmo tempo em que vivenciam a cultura de comunidades mais distantes de seu local

de trabalho. Para participar, os interessados se inscrevem e passam por uma seleção.

Fonte: INSTITUTO C&A. Voluntariado: um convite à participação social / [reportagem e redação Paulo de Camargo]. -- 1. ed. -- Barueri, SP : 2011. 168 p.

4.6.6.2 Atividades internas

• Café com Letras: o objetivo é promover discussões sobre participação social e ação

voluntaria, por meio de textos literários. A atividade é realizada em um encontro

mensal, nas dependências de cada unidade C&A.

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• Estação de Leitura: a estação de leitura é uma pequena biblioteca instalada dentro de

cada loja da C&A, com acervo disponível para consulta, empréstimo e utilização

durante as ações voluntárias.

4.6.6.3 Ações de incentivo a iniciativas voluntárias próprias

O Instituto C&A cria espaços, investe recursos e possui estratégias de reconhecimento

para que os grupos voluntários mais experientes possam criar novas formas de realizar a ação

voluntária nas comunidades.

4.6.6.4 Ações de integração e articulação entre funcionários

O portal dos voluntários é uma rede social que permite, por via eletrônica, a interação,

cooperação e a troca de experiências entre os voluntários. Nesse portal, os voluntários

encontram espaço para postar relatos das ações realizadas na comunidade e em suas unidades,

contam com uma biblioteca que concentra os materiais de apoio do programa e têm acesso a

conteúdos como entrevistas, artigos, livros, etc. No portal também estão reproduzidas as

estruturas de ações externas e internas do programa, bem como a estrutura de comitês

articuladores e todas suas instâncias. Esse ambiente permite também que haja um registro

constantemente atualizado das ações, como em um Álbum de Memórias, no qual se inscreve

também a história dos grupos de voluntários de uma unidade.

4.6.7 Organização dos comitês

Os comitês articuladores são grupos representativos do voluntariado C&A. Eles estão

estruturados da seguinte forma: comitê nacional, comitês regionais e comitês locais e

unidades. O comitê nacional é formado por conselheiros do Instituto C&A – gerentes da C&A

que representam as diversas regiões comerciais da empresa. Este comitê é uma instancia de

mobilização e suporte interno às ações da organização.

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Fonte: INSTITUTO C&A. Voluntariado: um convite à participação social / [reportagem e redação Paulo de

Camargo]. -- 1. ed. -- Barueri, SP : 2011. 121 p.

4.6.7.1 Estrutura do Comitê Regional

Fonte: INSTITUTO C&A. Área mobilização social: programa voluntariado: proposta técnica: resumo executivo. São Paulo: [s.n.], 2010. 11 p.

Os comitês regionais são grupos voluntários que representam as regiões comerciais da

C&A. Eles têm o conselheiro do Instituto C&A da região como o responsável pelo núcleo do

comitê e como estrutura mínima há a participação de gerentes representantes de cada praça,

supervisores e funcionários.

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4.6.7.2 Estrutura do Comitê Local

Os comitês locais são grupos que representam praças ou sub-regiões em que a C&A

possui operações comerciais. Eles funcionam como o elo entre os comitês regionais e as

unidades. Essa estrutura é facultativa, já que somente se justifica em praças que tenham um

grande número de unidades.

Fonte: INSTITUTO C&A. Área mobilização social: programa voluntariado: proposta técnica: resumo executivo. São Paulo: [s.n.], 2010. 11 p.

Denominamos “unidades” de negocio da C&A no Brasil, são compostas por lojas,

centros de distribuição e escritório central. Também são espaços de articulação dos grupos

voluntários em seu ambiente de trabalho.

4.6.7.3 Formação por meio de comitês

Os conteúdos trabalhados pelo Instituto C&A nos comitês nacionais e regionais

podem ser multiplicados para os comitês locais e unidades com grande otimização de

esforços, conforme a figura abaixo:

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Fonte: INSTITUTO C&A. Área mobilização social: programa voluntariado: proposta técnica: resumo executivo. São Paulo: [s.n.], 2010. 11 p.

4.6.8 Liderança

A estrutura dos comitês contempla também o envolvimento das lideranças da empresa,

como diretores, gerentes e supervisores. O envolvimento das lideranças da C&A define, em

grande medida, o envolvimento dos funcionários no voluntariado, principalmente aqueles que

têm como premissa o exercício da ação voluntária durante o horário de trabalho. Isso

acontece, em parte, porque cabe ao líder (gerente ou supervisor) moderar o planejamento, de

forma a garantir as saídas dos voluntários para o trabalho em campo e mostrar aos demais

funcionários que essa é uma política da empresa, que deve ser institucionalmente valorizada.

Trata-se de uma função que transcende à decisão do gerente de ser voluntário ou não. Como

líder interno, ele deve viabilizar uma estratégia corporativa apoiada pelos acionistas da

empresa, neste caso o programa Voluntariado. Como líderes motivadores e criativos, também

os gerentes, supervisores e outras lideranças são decisivos para o programa.

Outra estratégia relevante voltada às lideranças a ser destacada do calendário do

Instituto C&A é o Dia de Mobilização Nacional, ocasião em todos os gerentes são convidados

a conhecer o trabalho realizado pelos voluntários de sua unidade na organização social

parceira. Essa atividade acontece em outubro e tem o objetivo de aproximar os gerentes das

instituições sociais em que ocorre o trabalho voluntário. As lideranças programam uma visita,

realizam atividades de integração e discutem com a organização parceira as conquistas e

desafios do trabalho voluntário realizado ao longo do ano.

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4.6.9 Capacitação

Desde as primeiras configurações do programa Voluntariado, as formações não se

reduzem ao “como fazer”. A tentativa de responder ao “por que fazer” e ao “o que fazer” é

continuamente recolocada não apenas para os grupos de voluntários como um todo, mas

também de maneira particularizada para seus diferentes conjuntos – as lideranças, as equipes

de voluntários, os novos funcionários e outros já experientes. Por isso, a modelagem do

programa Voluntariado que começou a ser implantada em 2009 manteve padrões

consolidados e criou outras formas de capacitação, incluindo materiais de apoio, cursos e

oficinas, como também intercâmbios. Do ponto de vista dos materiais utilizados, os

voluntários contam com vídeos e textos. É o caso dos instrumentos de suporte às atividades

do projeto Literatrupe. Todos recebem, também, o Guia do Voluntário, que tem o formato de

uma agenda comum e traz, ao longo do texto, informações sobre o programa, conceitos, dicas

de leitura, reflexões e um calendário de atividades planejadas para o ano. O instrumento

sugere pautas e dá suporte, por exemplo, às discussões de mobilização interna que acontecem

mensalmente dentro das unidades da C&A – os encontros Café com Letras.

Os Encontros de Formação de Comitês abordam diretamente aspectos vitais do

trabalho voluntário e cumprem a função de mobilizar lideranças, formar as equipes

voluntárias em suas distintas demandas e prepará-las para a ação. Os encontros representam

uma das estratégias de formação, mas não a única. Os voluntários desfrutam, também, de

oportunidades de formações eventuais ao realizar atividades nas organizações sociais

parceiras. É preciso ter em conta que garantir formação a mais de cinco mil voluntários

dispersos em todas as regiões do país é um desafio árduo, especialmente se for levado em

conta que se trata de um público que se renova periodicamente.

A principal oportunidade de formação via intercâmbio está vinculada ao Prêmio

Voluntários Instituto C&A. As equipes vencedoras ganham o direito de realizar viagens para

conhecer o trabalho de colegas de outros Estados, inclusive visitando as instituições parceiras

locais. As equipes anfitriãs se esmeram para oferecer uma programação rica aos visitantes,

mesclando à visita ao projeto, momentos descontraídos como rodas de conversa com crianças

e programações culturais.

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4.6.10 Encontro Nacional de Voluntários

O ponto culminante das ações de mobilização e reconhecimento do programa

Voluntariado do Instituto C&A é o Encontro Nacional de Voluntários. Realizado em geral no

mês de outubro, o evento reúne representantes de todas as unidades da C&A, entre

voluntários do Instituto C&A e lideranças da empresa. O encontro conjuga múltiplos

objetivos, como o de celebrar o trabalho voluntário, abrir espaço de reconhecimento público,

ampliar a formação ao se debruçar sobre um tema de interesse do voluntariado e promover a

integração dos voluntários de unidades diversas.

4.6.11 Comunicação

Todas as ações de mobilização e formação do programa Voluntariado são suportadas

por um sistema de comunicação que vem sendo construído ao longo do tempo, com vistas a

identificar os diversos públicos, prover as informações essenciais do programa, mobilizar e

criar unidade. O jornal Ação & Participação foi, ao longo dos primeiros 20 anos da história do

Instituto C&A, a ferramenta de comunicação mais consistente do programa Voluntariado. Seu

maior mérito foi registrar desde o início a mobilização e as ações do programa Voluntariado,

compondo uma parte significativa do acervo histórico do Instituto C&A. A partir de 2009, tal

função vem sendo assumida pelo site do Instituto C&A (www.institutocea.org.br), que conta

com uma produção de notícias sobre a vida institucional da ordem de 20 matérias por mês, e

pelo Portal dos Voluntários, com notas e posts de blogs de autoria dos próprios voluntários.

Com no máximo 12 páginas, o jornal Ação & Participação padeceu, sobretudo, da

incapacidade de noticiar todas as ações do voluntariado e da restrição de tiragem, medida

típica de quem se preocupa com gastos de impressão e também com a sustentabilidade. Mas

outras ferramentas surgiram, como boletins em plataforma web, enquanto o mural do Instituto

C&A, produzido pelos voluntários das unidades, foi institucionalizado, ganhando um suporte

padronizado e espaço para a veiculação de notícias elaboradas pelo voluntariado. Para a

interlocução com os executivos do escritório central da C&A em Barueri, foi criado o mural

Vitrine, um pequeno outdoor renovado quinzenalmente, cuja função é sensibilizar os leitores

para a causa da educação de crianças e adolescentes e para a participação social.

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Na mídia online há o boletim Entre Nós, destinado aos conselheiros, e o Cenário

Social, para gerentes da C&A. A agenda de comunicados encaminhados às unidades da C&A

segue um cronograma de ações voluntárias ao longo do ano. A criação do Portal dos

Voluntários do Instituto C&A em 2009 permitiu, por via eletrônica, a interação, cooperação e

troca de experiências entre os voluntários.

4.6.12 Orçamento

Fonte: INSTITUTO C&A. Voluntariado: um convite à participação social / [reportagem e redação Paulo de

Camargo]. -- 1. ed. -- Barueri, SP : 2011. 179 p.

4.7 Telefônica

4.7.1 Sobre a empresa

O Grupo Telefônica é um dos três maiores conglomerados de telecomunicações do

mundo, com mais de 264 milhões de acessos nos 25 países em que está presente. Ao todo,

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gera empreso para 255 mil profissionais. O Brasil participa com 14,8% da receita do Grupo

(R$ 23,2 bilhões de receita líquida em 2009) e tem 84.355 contratados diretos e mais de 49

mil indiretos. No final de 2009, possuía mais de 67 milhões de clientes31.

Após a fundação da Telecomunicações Brasileiras S.A. (Telebrás) em 1972, a

companhia, através de suas subsidiárias, adquiriu quase todas as empresas telefônicas do

Brasil, tornando-se monopólio na prestação deste tipo de serviço. Em maio de 1998, o

Sistema Telebras foi reestruturado para formar doze novas companhias holdings. Em julho de

1998, o Governo Federal privatizou o Sistema Telebras, vendendo substancialmente todas as

suas ações ao setor privado. A partir daí, a Telefônica começou a sua história, adquirindo

outras empresas e ampliando sua gama de atuação. Hoje as empresas do Grupo Telefônica no

Brasil são: Telefônica SP, Atento, A.Telecom, Terra, TGestiona, TESB, Telefônica

Internacional Wholesale Services (TIWS) e VIVO.

O Grupo possui uma área de Responsabilidade Social, que é compreendida como uma

ferramenta de geração de valor para a companhia, que a permite construir relações

sustentáveis com seus públicos de relacionamento. Para atingir esse objetivo, a estratégia está

orientada em três linhas de atuação: gestão eficaz de riscos com impacto direto na reputação,

gestão das oportunidades, buscando maximizar os impactos positivos da operação para

promover o desenvolvimento das sociedades onde opera e compromisso com as partes

interessadas (ou engajamento dos stakeholders), por meio da comunicação e do diálogo com

os públicos de relacionamento.

4.7.2 Meio Ambiente

As linhas básicas de atuação da companhia para o meio ambiente são:

• Mudanças Climáticas: os novos serviços proporcionados pelas Tecnologias da

Informação e da Comunicação (TIC) representam a redução de impacto ambiental,

31TELEFÔNICA. Disponível em: < http://telefonica.mediagroup.com.br/pt/Empresa/Perfil.aspx>. Acesso em: 10 jan. 2012, 19:40:25.

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resultando em redução de emissões em outros setores. O grupo criou o Escritório de

Mudanças Climáticas, que busca reduzir o consumo de energia e de emissões de gases

de efeito estufa das empresas, além de estimular o desenvolvimento de serviços que

proporcionem mais eficiência a clientes e outros setores. Desde 2007 a Telesp realiza

o cálculo das emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE), baseado no Greenhouse Gas

Protocol, IPCC e na norma ambiental 14064.

• Sistema de Gestão Ambiental Global: o grupo estabelece os requisitos mínimos de

gestão para todas as suas empresas, como melhoria contínua, a partir do cumprimento

das leis em vigor e do controle da pegada ecológica da Telefônica (indicador que

mostra o quanto de recursos naturais estão sendo utilizados pelo grupo), a fim de

diminuir os impactos no entorno.

4.7.3 Fundação Telefônica

Criada em 1998, é o braço de investimento social nos países em que atua: Brasil,

Espanha, Argentina, Chile, Colômbia, México, Peru e Venezuela. No Brasil desde março de

1999 a Fundação Telefônica já desenvolveu centenas de projetos sociais. Tem como missão

estimular o desenvolvimento social a partir da educação e da defesa dos direitos das crianças e

dos adolescentes. Entre os programas desenvolvidos pela Fundação Telefônica estão o Pró-

Menino; que apoia projetos de Combate ao Trabalho Infantil e também de atendimento a

adolescentes que infringiram a lei e cumprem medidas socioeducativas em meio aberto; e o

EducaRede, que se propõe a aprimorar a qualidade da educação pública por meio da inclusão

digital, contando com um portal (www.educarede.org.br) aberto e gratuito, criado para alunos

e professores do ensino público fundamental e médio. A Fundação também coordena o

programa Voluntários Telefônica32.

32TELEFÔNICA. Disponível em: <http://telefonica.mediagroup.com.br/pt/Responsabilidade_Ambiental/Responsabilidade_Socioambiental.aspx>. Acesso em: 10 jan. 2012, 20:30:15.

Page 66: Voluntariado Empresarial como Ferramenta de Valorização ... · observaremos o cenário do voluntariado empresarial no Brasil, dando ênfase ao surgimento do Conselho Brasileiro

65

4.7.4 Voluntariado Telefônica

O Programa Voluntários Telefônica envolve mais de 25 mil empregados em 19 países

onde a empresa atua. O objetivo é favorecer o engajamento dos empregados em ações sociais.

No Brasil, com cerca de seis milhões de reais em investimentos, há cerca de mil empregados

capacitados, mais de um milhão de reais em dinheiro arrecadado em campanhas e mais de 17

mil pessoas diretamente beneficiadas – isso sem mensurar os beneficiados em campanhas de

atenção a emergências e o público de organizações apoiadas no Concurso de Projetos, por

exemplo (REIS, 2010). Há duas pessoas dedicadas diretamente à atividade: um coordenador e

uma analista. De acordo com o presidente do Grupo Telefônica no Brasil Antonio Carlos

Valente (REIS, 2010), investir num programa de voluntariado significa apostar no

desenvolvimento do capital humano do Grupo Telefônica.

É notória a influência positiva que ações desse tipo promovem no dia a dia dos empregados, gerando um sentimento muito positivo de pertencimento, além de uma grande carga motivacional. Isto, sem contar os benefícios para o aprendizado do trabalho em equipe, do enfrentamento a desafios e do exercício da criatividade, só para citar alguns exemplos. É com orgulho, portanto, que afirmamos que o programa Voluntários Telefônica já faz parte de nossa cultura empresarial (REIS, 2010, p. 3).

Em 2010, ao completar cinco anos no Brasil, o Programa Voluntários Telefônica

somava cerca de 4.500 empregados cadastrados, entre os quais aproximadamente 1.600 se

dedicavam a pelo menos uma ação solidária por ano. A forma de gestão varia de um lugar

para o outro, mas há pelo menos três grandes linhas estratégicas. A primeira promove a maior

quantidade possível de oportunidades de voluntariado para os empregados, por meio da

Fundação Telefônica, onde ela está implantada, ou em parceria com outras organizações. A

segunda fortalece a rede de voluntários, por meio do incentivo à troca de experiências entre

eles, e também dá visibilidade às atividades que desenvolvem, além de abordar o apoio

financeiro a ações voluntárias que os empregados se dedicam. A terceira orienta que o

Programa Voluntários seja um aliado da área de Recursos Humanos, promovendo o

pertencimento e o desenvolvimento de competências dos empregados.

Antes do início do programa, a Fundação, a Comunicação e o RH fizeram um

diagnóstico para saber se os empregados gostariam de fazer ações voluntárias organizadas

pela empresa e o resultado foi muito positivo. A partir daí, a Telefônica Empresas realizou a

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primeira edição da campanha de arrecadação chamada ‘Medida Legal’, uma gincana de

arrecadação de leite em pó para organizações que atendiam crianças. Os funcionários levaram

doações pessoalmente às instituições, o que estimulou o contato e a sensibilização. No ano

seguinte, o Concurso de Projetos convidou os empregados que já eram voluntários a

apresentar propostas para melhoria da atuação das organizações em que trabalhavam. Houve

12 inscritos e seis propostas foram aprovadas, recebendo cada uma 10 mil reais para sua

execução e duas vagas na capacitação correspondente. As campanhas do Agasalho e de Natal

continuaram a ser realizadas na dinâmica anterior, mas ganharam o apoio do Programa

Voluntários.

Em 2005, em seu segundo ano, a campanha Incentivo Criança envolveu a Telefônica

Empresas, TGestiona, Telefônica SP, Terra e Fundação Telefônica. Houve maior arrecadação

de dinheiro, além de aprendizados importantes, como a identificação do perfil executivo como

o mais interessado em participar deste tipo de programa, por conta do benefício fiscal – eles

foram responsáveis por 74% do valor arrecadado. Em 2006, com o piloto aprovado, era a hora

de expandi-lo para toda a empresa. Mas para isso, era necessário convencer a alta gestão da

companhia sobre os benefícios do programa e fazer com que a iniciativa fosse abraçada pelos

empregados. As ações iniciais, envolvendo todo o grupo, tiveram para a diretoria um caráter

de experimentação e a decisão definitiva de apoio ao programa só veio mesmo depois da

realização do primeiro Dia dos Voluntários.

De acordo com Reis (2010), o voluntariado atingiu um orçamento de cerca de 1,2

milhão de reais, além das mais de 20 mil horas dedicadas pelos empregados, que são liberadas

pela empresa, no ano de 2010. O programa tem uma secretaria executiva, instalada na

Fundação Telefônica que, desde 2008, mantém um profissional com dedicação exclusiva.

Além do comitê executivo, formado por representantes das áreas de Recursos Humanos,

Comunicação Interna e da Fundação Telefônica, a Fundação mantém o comitê de voluntários,

com suas reuniões e atividades regulares para a gestão das ações.

Para Gabriella Bighetti, gerente da Fundação Telefônica, a iniciativa se tornou tão

valiosa para o empregado como um plano de saúde ou um seguro de vida. “Desistir da ação,

depois de cinco anos de mobilização intensa, seria como informar a mais da metade dos

empregados do grupo que eles estão perdendo um benefício adquirido, o benefício de estar em

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uma empresa que incentiva a prática da cidadania” (Idem, 2010, p. 30). Hoje, o programa faz

parte das informações dadas aos novos contratados nas atividades de integração ao trabalho.

Já Françoise Trapenard, diretora-executiva de Recursos Humanos da Telefônica em 2010, que

em 2012 chegou à presidência da Fundação Telefônica, acredita que a empresa ganhou muito

com o voluntariado. “Orgulho, lealdade, brilho no olho. Essa possibilidade de chegar à sua

casa e partilhar o que você fez com a ajuda da empresa, ter esse brilho no olho e emocionar a

sua família. Isso é um vínculo muito profundo” (REIS, 2010, p. 31).

4.7.5 Concurso de Projetos

O concurso premia e apoia empregados que já são voluntários fora da empresa,

mantendo ou prestando serviços para organizações da sociedade civil. Os projetos são

inscritos por equipes de duas a sete pessoas e as propostas atendem às necessidades das

instituições. O programa tem uma consultoria contratada, que faz um primeiro ranking com

notas para cada projeto apresentado, mas o resultado é discutido e somente é aprovado após a

chegada de um consenso entre os membros. Cada iniciativa selecionada recebe 10 mil reais

pagos em duas parcelas: a primeira no começo da capacitação do voluntário e a segunda ao

final dela - são realizados em duas sextas-feiras e dois sábados, ou seja, dois dias de trabalho

liberados pela empresa e dois dias livres do empregado.

No primeiro momento, os participantes aprendem a preparar e executar um projeto

social. Depois, eles devem reformular o projeto apresentado de acordo com o aprendizado.

Nos dois últimos dias aprendem sobre sustentabilidade e como encontrar parceiros e, ao final,

apresentam um relatório. Esse material é utilizado na avaliação dos projetos premiados e

outro ranking é apresentado ao comitê. Três deles recebem um bônus de 10 mil reais cada, em

reconhecimento aos resultados alcançados. De 2005 a 2010, foram 51 organizações

beneficiadas e cerca de 500 mil reais investidos em projetos dos voluntários (REIS, 2010, p.

55).

4.7.6 Capacitação

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A capacitação hoje faz parte de todas as ações do Programa Voluntários. Inicialmente,

houve ciclos de palestras sobre Voluntariado e Responsabilidade Social Corporativa, mas a

adesão não foi significativa. Desde então, a proposta das palestras permaneceu, mas foi

vinculada a temas destacados na agenda da sociedade, como por exemplo, na Semana do

Meio Ambiente. Além disso, os membros do comitê de voluntários participam de cursos,

palestras e congressos regularmente. Desde 2009 a associação ‘Viva e Deixe Viver’ realiza

oficinas de formação na Telefônica, formando voluntários para contar histórias em hospitais

infantis. As palestras acontecem em horário de expediente regular, nos auditórios dos vários

prédios da empresa.

4.7.7 Campanhas

O calendário do Programa Voluntários Telefônica tem três campanhas fixas: a de

Doação de Sangue, o Dia Semear e a Campanha de Natal. A Gincana do Agasalho também é

fixa, mas é gerida pelo Programa ComViver, da área de Recursos Humanos, com apoio de

mobilização do voluntariado. O Programa Voluntários organiza também as campanhas de

Atenção a Emergências e dá apoio a outras iniciativas dos empregados. Nesses casos, a coleta

de dinheiro é mais rápida e efetiva. Quando há uma arrecadação coletiva, como contrapartida

da empresa o Programa Voluntários oferece uma conta bancária específica para as doações e,

ao final, faz a destinação diretamente a alguma organização de intervenção direta na situação.

Geralmente, a empresa contribui com um real para cada real doado pelos voluntários. Entre as

principais ações já realizadas estão a ajuda aos desabrigados do terremoto do Peru, em 2007 e

a ajuda aos desabrigados das chuvas no Rio de Janeiro, em 2010.

Por meio do Programa Incentivo Criança, os empregados podem doar para os Fundos

Municipais dos Direitos da Criança e do Adolescente e ajudar, a cada ano, um projeto

indicado por um Conselho Municipal e recomendado pela Fundação Telefônica. Desde 2005,

as doações que envolvem contrapartidas da empresa somam mais de 750 mil reais.

4.7.8 Comitê de Voluntários

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Segundo Reis (2010), o Comitê foi essencial na criação e na evolução do programa e

tem como objetivo auxiliar a coordenação geral na escolha das atividades, na operação das

ações e na mobilização de voluntários. No piloto já havia uma pequena estrutura, apenas com

funcionários da Telefônica Empresas (hoje, Segmento Empresas), mas em 2006 houve a

incorporação de representantes das várias empresas do grupo. Hoje há uma subdivisão interna

do comitê, entre as pessoas que estão vinculadas à coordenação das atividades e outras, que

preferem dar apoio às primeiras. No começo as reuniões eram quinzenais, porque havia

muitos temas para definir e alinhar, mas a partir de 2009 os encontros passaram a ser mensais,

com pauta pré-definida a partir de um planejamento anual compartilhado. Além de terem

acesso às ofertas de capacitação, a cada ano são convidados a participar de cursos externos

sobre terceiro setor, investimento social privado, entre outros.

Os empregados que participam do comitê são também voluntários, dedicando um

tempo expressivo às atividades do programa, também em suas horas livres. Nesse equilíbrio,

falta ainda aperfeiçoar a relação com os gestores para que eles facilitem o trabalho dos

empregados que fazem parte desse grupo. Já houve casos de voluntários que abandonaram o

trabalho porque não conseguiam participar das reuniões ou se dedicar aos projetos.

A formação atual do comitê tem 26 membros, incluindo representantes de cidades do

interior de São Paulo e de outros estados. Fora da capital, eles também estabelecem comitês

locais. A gestão local deve ser feita pelos empregados de cada cidade.

4.7.9 O papel do gestor

O Programa Voluntários Telefônica realiza suas atividades dentro do horário de

trabalho, mas muitos ainda têm dificuldade de negociar com seus chefes para conseguir esse

espaço. A comunicação do programa busca favorecer essa relação, dirigindo algumas

mensagens para as lideranças. Para Mariano De Beer, diretor-geral da Telefônica SP, o

envolvimento dos executivos faz parte do processo de amadurecimento e aprendizagem do

Programa Voluntários. “[...] Um programa de voluntariado corporativo os provoca [os

gestores] a pensar a partir de uma nova lógica, fortalecendo o potencial da empresa e de seus

empregados como agentes de transformação [...]” (REIS, 2010, p. 82).

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4.7.10 O site Voluntários Telefônica

O espaço serve para dar informações do programa aos voluntários, desde as

oportunidades de capacitação, inscrição de voluntários para projetos específicos, divulgação

da agenda das atividades, realização de pesquisas, além de mostrar o trabalho que a

Telefônica desenvolve para o público externo. Segundo Gabriella Bighetti, gerente da

Fundação Telefônica, o site, assim como o Programa Voluntários em si, foi amadurecendo ao

longo dos anos. “Sempre foi claro para nós que, em uma empresa deste tamanho, não seria

possível gerir processos de inscrição por meio de fichas ou por telefone” (Idem, 2010, p. 84).

Ao se cadastrar no programa, por meio do site, o empregado responde a algumas perguntas

que orientam o direcionamento das ações. Os participantes das atividades também respondem

a pequenos questionários de avaliação sobre o que vivenciaram. Alguns indicadores são

observados, como a faixa etária que tem preferência por determinado programa, a parcela que

tem medo de doar sangue, entre outras informações. A ideia é que, a partir do momento em

que se cadastram, todos os voluntários da Telefônica recebam pelo menos uma formação em

voluntariado e/ou cidadania, que favoreça e qualifique ainda mais a sua atuação.

4.7.11 A importância da comunicação

É inegável que a comunicação tem um papel fundamental no voluntariado empresarial.

Ela mobiliza os empregados, informa sobre as ações, motiva os funcionários divulgando os

resultados alcançados, reconhece aqueles que participaram das atividades, entre outros temas.

Segundo Lucila Ballarino, coordenadora internacional do Programa Voluntários, a estratégia

de comunicação do programa no Brasil é um caso de sucesso. “A integração da comunicação

do programa à estratégia geral de comunicação da empresa é um diferencial brasileiro, que

torna a proposta atrativa para os empregados” (Idem, 2010, p.88). A Comunicação Interna faz

parte da coordenação geral do programa, pois é fundamental que a área conheça de perto as

aspirações dos voluntários, propondo alternativas para uma ação social consistente. Por isso,

há uma pessoa da Comunicação exclusivamente focada em voluntariado.

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O ‘Bom dia, Telefônica’, informativo interno da empresa, publica notícias sobre as

ações voluntárias pelo menos uma vez por semana e durante boa parte do ano, a proteção de

tela dos computadores exibe imagens do Dia dos Voluntários em toda a rede corporativa. De

acordo com o diretor de Comunicação Corporativa Emanuel Neri, o Programa Voluntários

Telefônica é uma das prioridades da sua área. “A comunicação está comprometida para que,

permanentemente, os valores e a cultura do voluntariado sejam transmitidos dentro da

empresa” (REIS, 2010, p.89).

4.7.12 Solidariedade nas Férias

A iniciativa começou em 2005 e hoje envolve os 19 países onde a empresa opera. Os

empregados doam seu período de férias para realizar três semanas de trabalhos voluntários em

organizações que combatem o trabalho infantil na América Latina e já são parceiras da

Fundação Telefônica no Programa Pró-Menino. Durante esse período, eles participam de

atividades que vão desde reformas nas instituições acolhedoras até encontros com as crianças

para recreação, exposições e partilha de conhecimentos. A Telefônica cobre todas as despesas

de transporte, hospedagem e alimentação dos voluntários durante a atividade. Os participantes

são selecionados por sua experiência anterior com trabalho social e recebem treinamento e

orientações sobre as atividades que vão desenvolver.

4.7.13 Dia dos Voluntários

O Programa Voluntários leva os empregados, anualmente, para um dia de reformas e

benfeitorias em instituições que atendem crianças e adolescentes em várias cidades do Brasil.

Segundo Reis (2010), entre 2006 e 2010 houve 29 instituições reformadas e mais de 8.000

crianças e adolescentes diretamente beneficiados. Em primeiro lugar, é definida a instituição

que vai receber as benfeitorias, que elabora uma lista com todas as suas necessidades. A partir

daí, começa o alinhamento entre orçamento, viabilidade técnica e de prazo, e capacidade de

absorção da mão-de-obra dos voluntários. Meses antes ao Dia dos Voluntários, há uma série

de reformas estruturais, construção, serviços que requerem conhecimentos e equipamentos

especializados, como os elétricos e hidráulicos, por exemplo, que devem ser feitos. Equipes

são formadas entre os membros do comitê de voluntários para acompanhar o andamento da

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obra e os veículos internos divulgam a instituição beneficiada, o bairro onde ela fica e as

ações realizadas com as crianças e adolescentes no local.

Um mês antes do Dia dos Voluntários, os empregados escolhem as atividades em que

querem trabalhar ao fazer sua inscrição pelo site. Depois de inscritos, os voluntários recebem

um manual de instruções com todas as indicações sobre o que vai acontecer nesse dia. Ao

desembarcar dos ônibus, os empregados se dirigem para o ponto de encontro das tarefas em

que estão inscritos. De lá, partem com seus líderes de equipe para o início do trabalho. Um

sistema de som faz a animação dos voluntários e também avisa quando tarefas foram

concluídas ou quando há necessidade de reforços em alguma atividade. Os times que

concluem seus trabalhos costumam se deslocar para as áreas onde a demanda é maior.

4.7.14 Investimento e estrutura

Segundo Reis (2010), o Dia dos Voluntários é o projeto mais caro entre os realizados

pelo Programa Voluntários Telefônica, com investimento anual de 650 mil reais. Além do

valor investido pela empresa, áreas inteiras se mobilizam para arrecadar brinquedos, livros e

outros materiais para oferecer à instituição beneficiada. As equipes procuram envolver

parceiros para complementar verbas ou oferecer serviços.

Para dar início ao Dia dos Voluntários foi preciso, em primeiro lugar, convencer a alta

direção da empresa, que discutiu se ação seria realizada em um dia de expediente ou durante o

final de semana. Após muitas reuniões, foi definido que, ao realizar a ação em um dia de

trabalho, a empresa também daria a sua contribuição e confirmaria o seu compromisso com a

prática do voluntariado. Ao tomar conhecimento da movimentação em São Paulo,

empregados de outras unidades ficaram interessados em realizar ações semelhantes. A

coordenação do Programa Voluntários pediu que cada cidade formasse seu próprio comitê

para organizar a atividade e que a realizasse em uma data posterior ao evento na capital

paulista. Em 2006, o Dia dos Voluntários aconteceu na capital São Paulo em agosto e, em

dezembro, com alguns ajustes, em outras seis cidades.

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4.8 Análise Crítica

Levando em consideração os requisitos fundamentais para a existência de um

programa de voluntariado de sucesso já citados por Heloísa Coelho no presente trabalho (p.

23) é possível fazer uma análise do voluntariado de cada uma das empresas.

Requisitos fundamentais Accenture Alcoa

Itaú Unibanco Vale

Wilson, Sons C & A Telefônica

Possui comunicação online com os voluntários Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Equipe responsável pelo voluntariado (nº de pessoas envolvidas diretamente) 2 pessoas

Sim. Não informado 8 pessoas 4 pessoas 6 pessoas

2 pessoas 2 pessoas

Reconhecimento dos voluntários (prêmio, divulgação das atividades nos veículos de comunicação interna) Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Voluntariado realizado nas comunidades do entorno da companhia Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim

Voluntariado dentro do horário de trabalho

Somente em datas específicas, mas o funcionário precisa compensar

Somente em datas específicas

A capacitação sim, mas o voluntariado não Não Não Sim Sim

Avaliação de resultados Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim

Comitê Gestor com representantes de diversas áreas da empresa Sim Sim Não Sim Sim Sim Sim

Orçamento anual para a área

Sim. Não informado

Sim. Não informado

Sim. R$5,679 milhões

Sim. Não informado

Sim. R$70 mil

R$1,536 milhões

Sim. R$1,2 milhões

Capacitação dos voluntários Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim

Fonte: Elaboração própria com base na análise de dados.

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Todas as empresas analisadas possuem comunicação online com os voluntários, seja

por meio de e-mail corporativo ou pelo portal de voluntariado, permitindo, desta forma, a

troca de experiências entre os colaboradores e a sugestão de novas ações, além da análise das

atividades já realizadas. As ações são divulgadas por todas as empresas nos veículos de

comunicação interna. Algumas também possuem um prêmio de reconhecimento dos

voluntários mais atuantes, realizado, majoritariamente, no final de cada ano. A totalidade das

companhias analisadas realizam suas ações no entorno de suas instalações, fortalecendo o

vínculo entre o funcionário e as comunidades próximas.

A quantidade de pessoas envolvidas diretamente com o voluntariado varia de acordo

com as empresas. Algumas possuem uma estrutura composta por de gerentes, analistas,

trainees e estagiários. Outras têm um número reduzido de funcionários trabalhando

especificamente com o voluntariado e buscam formar comitês locais nas cidades que possuem

colaboradores voluntários.

Há uma avaliação dos resultados obtidos por campanha ou ação na maior parte das

empresas, entretanto, é complexo fazer uma análise mais abrangente, já que os benefícios

obtidos são, em sua maior parte, intangíveis, mas as companhias pretendem avançar neste

quesito. Grande parte das empresas possui comitê gestor com representantes de diversas

áreas, mas outras companhias preferem formar grupos de voluntários por áreas na realização

de algumas atividades.

O orçamento anual de voluntariado varia muito de empresa para empresa.

Obviamente, as que possuem mais recursos são as que têm o voluntariado mais atuante. Com

relação à capacitação dos voluntários, a maioria investe em palestras, cursos de formação,

entre outras ações.

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CONCLUSÃO

O Voluntariado Empresarial traz inúmeros benefícios às empresas que têm uma

política concreta de apoio financeiro e institucional à prática. Visando agregar valor ao

voluntariado, as companhias buscam incentivar iniciativas voltadas aos projetos sociais já

patrocinados pelas mesmas, por meio da atuação de Fundações e Institutos já criados para este

fim. O voluntariado pode ser uma oportunidade estratégica para as corporações,

principalmente em termos de ganhos de imagem e na manutenção de um bom relacionamento

com os públicos de interesse, como o público interno – funcionários - e as comunidades do

entorno das instalações, que normalmente são impactadas pelas atividades operacionais das

empresas.

São inúmeros os benefícios citados pelas companhias, como a melhoria do clima

organizacional; a aproximação e a integração das equipes; o desenvolvimento de habilidades

dos funcionários, como liderança, orgulho e confiança na empresa, desenvoltura no trabalho

em grupo, segurança na realização das ações, entre outros. Entretanto, é possível observar que

as companhias que mais investem – através de recursos financeiros ou pela oportunidade de

realizar o voluntariado dentro do expediente de trabalho – são as que mais obtêm resultados

positivos. Ao promoverem a atividade voluntária, as empresas atuam com responsabilidade

social, contribuindo para a inserção e melhoria da qualidade de vida das pessoas, que têm a

possibilidade de realizar uma ação cidadã, em paralelo com o trabalho.

Viabilizar o contato dos funcionários com realidades diferentes às suas, muitas vezes

com a pobreza e a carência que populações em risco social se encontram, faz com que o

indivíduo dê mais valor ao que possui e se sinta estimulado na realização de suas atividades.

Sendo este o papel da empresa, a mesma respalda sua atuação como uma companhia aberta ao

diálogo, preocupada em atender as demandas das comunidades presentes em sua área de

influência, agindo com ética e transparência.

Como vimos neste trabalho, a partir do Voluntariado Empresarial como oportunidade,

todas as partes saem ganhando: é uma prova de que parcerias bem feitas podem gerar

benefícios para todos. Além disso, em algumas companhias, as áreas de Recursos Humanos e

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Comunicação Interna trabalham em parceria com a Responsabilidade Social na gestão do

programa. Em primeiro lugar, porque o voluntariado é visto como estratégia de gestão de

pessoas; em segundo lugar, porque sem a Comunicação não há grande adesão dos

funcionários e, em terceiro lugar, porque as atividades voluntárias muitas vezes são realizadas

em projetos sociais que a empresa já patrocina, a fim de agregar valor à mesma.

Sem dúvida a capacitação precisa estar alinhada às ações, já que muitas vezes o

voluntário desenvolve atividades que nunca realizou antes. Entretanto, algumas empresas

preferem desenvolver projetos que requerem habilidades técnicas específicas, onde o

profissional pode atuar no que ele já conhece. Desta forma, é possível obter bons resultados.

Para planejar estrategicamente esta logística, as companhias possuem profissionais que atuam,

em alguns casos – onde o programa de voluntariado é mais robusto – exclusivamente neste

setor.

Concluímos, finalmente, que, por estimular a solidariedade e pelos ganhos diversos

que a prática traz, o voluntariado empresarial é um componente estratégico para as empresas,

mas que não pode ser uma prática isolada dentro da organização. É preciso que esteja

alinhada com a política de Responsabilidade Social, em consonância com as áreas de

Recursos Humanos e a Comunicação Interna.

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REFERÊNCIAS

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