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Em 1888, cearenses fugitivos da seca migraram para terras piauienses onde encontraram uma comunidade rica em olhos d’água. Ao chegarem no lugar disseram que aquela terra era uma verdadeira “relíquia” por ser tão rica em água. Com o tempo os posseiros que começaram a morar naquelas terras e não sabiam pronunciar direito chamavam “arrelique”. Assim ficou conhecida a comunidade Canto do Olho D’Água, município de Sigefredo Pacheco. Quem conta essa história é o seu Chico Bezerra, cuja propriedade ele batizou de Arrelique em homenagem à terra que dá tudo o que ele precisa. Nascido na comunidade Baixinha, do município de Campo Maior, seu Chico chegou no Arrelique no dia 10 de agosto de 1966. Lá ele começou morando como agregado. Ele conta que sua vida não foi fácil. No início o dono da terra não permitiu que ele construísse uma casa para morar, porque a terra estaria à venda. Mas o destino, e muito trabalho, fizeram com que seu Chico pudesse comprar a terra de 54 hectares nove anos depois. Para conseguir tudo o que se quer, seu Chico Bezerra aposta na organização popular, pensamento que o fez ingressar no movimento sindical em 1986. Hoje ele faz parte da diretoria do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Sigefredo Pacheco, onde é suplente da Secretaria de Política Agrícola. Por sua persistência e força de vontade, ele é tido como referência na região. Através dessa ligação ele pôde conhecer outras experiências que poderiam ser colocadas em prática na sua propriedade. Atualmente utiliza a terra essencialmente para o sustento da família, embora tenha que comprar outras coisas por fora, as quais ele não cultiva no Arrelique. Foi através do sindicato que ele conheceu o pessoal do Centro Piauiense de Ação Cultural (CEPAC) que o acompanhou até 2007. Nesse tempo seu Chico participou de cursos, congressos, intercâmbios, palestras, além de conhecer outras realidades e histórias de pessoas que desenvolveram atividades que deram certo. Foi num intercâmbio em Ouricuri, Pernambuco, que ele conheceu histórias de grupos que se organizavam em atividades de geração de renda. E ficou impressionado de como eles tinham Piauí Ano 1 | nº 08 | dezembro | 2008 Sigefredo Pacheco - PI Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Vontade e persistência A criatividade de seu Chico Bezerra em transformar o pouco em muito 1 Seu Chico Bezerra e o plantio de melancia consorciado Milho é a principal ração dos animais Projeto Piloto

Vontade e Pesistência: a criatividade de Seu Chico Bezerra em transformar o pouco em muito

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Em 1888, cearenses fugitivos da seca migraram para terras piauienses onde encontraram uma comunidade rica em olhos d’água. Ao chegarem no lugar disseram que aquela terra era uma verdadeira “relíquia” por ser tão rica em água. Com o tempo os posseiros que começaram a morar naquelas terras e não sabiam pronunciar direito chamavam “arrelique”. Assim ficou conhecida a comunidade Canto do Olho D’Água, município de Sigefredo Pacheco.

Quem conta essa história é o seu Chico Bezerra, cuja propriedade ele batizou de Arrelique em homenagem à terra que dá tudo o que ele precisa. Nascido na comunidade Baixinha, do município de Campo Maior, seu Chico chegou no Arrelique no dia 10 de agosto de 1966. Lá ele começou morando como agregado. Ele conta que sua vida não foi fácil. No início o dono da terra não permitiu que ele construísse uma casa para morar, porque a terra estaria à venda. Mas o destino, e muito trabalho, fizeram com que seu Chico pudesse comprar a terra de 54 hectares nove anos depois.

Para conseguir tudo o que se quer, seu Chico Bezerra aposta na organização popular, pensamento que o fez ingressar no movimento sindical em 1986. Hoje ele faz parte da diretoria do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Sigefredo Pacheco, onde é suplente da Secretaria de Política Agrícola. Por sua persistência e força de vontade, ele é tido como referência na região.

Através dessa ligação ele pôde conhecer outras experiências que poderiam ser colocadas em prática na sua propriedade. Atualmente utiliza a terra essencialmente para o sustento da família, embora tenha que comprar outras coisas por fora, as quais ele não cultiva no Arrelique.

Foi através do sindicato que ele conheceu o pessoal do Centro Piauiense de Ação Cultural (CEPAC) que o acompanhou até 2007. Nesse tempo seu Chico participou de cursos, congressos, intercâmbios, palestras, além de conhecer outras realidades e histórias de pessoas que desenvolveram atividades que deram certo.

Foi num intercâmbio em Ouricuri, Pernambuco, que ele conheceu histórias de grupos que se organizavam em atividades de geração de renda. E ficou impressionado de como eles tinham

Piauí

Ano 1 | nº 08 | dezembro | 2008Sigefredo Pacheco - PI

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Vontade e persistênciaA criatividade de seu Chico Bezerra em

transformar o pouco em muito

1

Seu Chico Bezerra e o plantio de melancia consorciado

Milho é a principal ração dos animais

Projeto Piloto

conseguido até montar uma pequena indústria de beneficiamento de frutas. Conhecendo essa realidade ele conversou com o pessoal do CEPAC para que eles fizessem um diagnóstico em cima dos 27 moradores da comunidade, do qual surgiu o projeto de quintais produtivos que teve apoio do Ministério do Desenvolvimento Agrário.

O projeto tinha o objetivo de iniciar 10 quintais produtivos no Arrelique, cercando um hectare em cada quintal. Mas seu Chico já tinha o cercado então usou o projeto para reforma e ampliação da área. Ele conta que o projeto construiu além do cercado das galinhas, plantio de frutíferas e hortaliças e construção de cisternas. Projeto que garantiria subsistência e renda extra para as famílias além do armazenamento de água para os dias mais secos do ano. Entretanto, seu Chico lamenta que o único da comunidade que seguiu com os ensinamentos foi ele. Os outros moradores abandonaram o cultivo assim que o CEPAC deixou de atuar na região, como se o sonho de produzir tivesse ido embora junto com a entidade.

Hoje ele possui na sua propriedade vários tipos de culturas como hortaliças, legumes, frutas, milho, feijão, mandioca, um grande plantio de melancia, criação de galinhas, ovinos e abelhas. Além de se dedicar a outras atividades como a fabricação sabão, detergente e perfumes. Controle que é feito na ponta do lápis. Ele anota tudo em um caderno, desde os gastos e os rendimentos, até a média de chuvas que cai. A média de chuvas é feita com o auxílio de um pluviômetro.

Seu Chico começou criando a galinha pé duro, mas depois trocou pela caipirão e hoje elas chegam a pesar três quilos em 90 dias. Ele vende o caipirão abatido a sete reais o quilo e, viva, custa seis reais o quilo. Para que o crescimento e a engorda sejam rápidos, a ração dada às galinhas é à base de leucena e milho triturados.

Para o plantio da melancia, do feijão e do milho ele aposta no plantio consorciado e com rotação de culturas. A rotação é feita em seis áreas onde a melancia é plantada no verão e o milho e o feijão no inverno. A melancia é plantada a cada ano em uma área diferente e se conserva a vegetação natural para que as pragas ataquem o mato e não os pés de melancia.

Muito criativo, seu Chico pensou também no sistema de irrigação que abrangesse toda a propriedade. Essa irrigação é feita através de um poço que alimenta um reservatório de onde essa água sai para ser distribuída para toda a plantação através de mangueiras. Além de irrigar a plantação, essa água sustenta também as 32 ovelhas que ele tem na propriedade.

Além disso tudo, ele mantém uma criação de abelhas que lhe garante de 300 a 400 litros de mel por ano. O beneficiamento do mel é feito através de centrífuga e mesa desoperculadora que a comunidade já adquiriu através da associação de moradores, cujo presidente é o seu Chico. Eles conseguiram também uma casa de farinha de uso coletivo.

Seu Chico quer mais. Através da organização coletiva, ele planeja a aquisição de uma indústria comunitária para o beneficiamento de frutas na fabricação de polpas e doces. E espera conseguir aumentar o galpão das galinhas para aumentar a criação, cujo trato é mais leve que os outros animais.

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Caipirão chega a pesar 3,5 quilos em três meses

www.asabrasil.org.br

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O PROJETO PILOTO DO P1+2 ESTÁ SENDO DESENVOLVIDO COM OS SEGUINTES APOIOS:

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e Combate à Fome

Secretaria de Segurança Alimentar

e Nutricional

CENTRO REGIONAL DE ASSESSORIA E CAPACITAÇÃO