7/26/2019 Vontades

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Ultimamente tem sido por ltimo a minha vontade. Quasesempre, parece que o disco arranhou e no se tem mais nada o quefazer. Sei l, sei l, desculpa esfarrapada para qualquer situao que

possamos estar e que no queremos saber as respostas. Mas, afinal,

todos querem aluma resposta independente de qual ela se!a, "bvioque ninu#m vai querer uma m resposta como um $%& ou um'()*+. -heamos a um ponto crucial da vida de todo ser humano,o talvez.

*ou apresentar para vocs esse ser lindo e maravilhoso chamadoincerteza, que adora essa roupa de talvez. -remos quase que piamenteque a vida # composta por uma dualidade entre as coisas, o bom, o

ruim, o mal, o bem, a felicidade, a aleria, entretanto e/iste o talvezque destr"i com essa dualidade linda e maravilhosa que o -osmoscriou. 'udo pode ser nada assim como ao contrrio no !oo do talvez.Se um dia quiser escapar de alu#m inconveniente chame o talvez queele vai te a!udar. (final, nada to bom como criar pontos deinterroao na cabea das pessoas, ainda mais naquelas das quais noostamos.

*oltando ao in0cio, ultimamente tem sido por ltimo minha

vontade. (ntes, no anteposto do verbo ao substantivo, e depoisposposto e finalizado, todavia, por#m, nada que tenho como vontadese realiza. 'riste. Mas talvez. -ansei, palavra cansada ! de ser usada.( aleria ! deve estar cansada de sorrir, a tristeza de chorar, a inve!ade inve!ar, na minha opinio a nica palavra que no cansa de ser #sonhar.

Queria ser uma palavra, para ter toda essa comple/idade e todos

os sinificados, para parecer uma orao ou um mantra. (s palavrastem poder, aora eu como ser, como carbono sou s" mais um sobre aface da 'erra, mas como palavra sou alfa e 1mea, sou princ0pio e fim,sou.

2 3ia que os pei/es flutuam que eu direi que as estrelas nobrilham, se apaam como uma me que canta para seu filho.

2 Mas o talvez no # como as estrelas4

2 $o, o talvez # repelente de inconvenientes. ( certeza destr"i aincerteza. 5bvio4 $em sempre.

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2 6ai, ento quer dizer que quando os pei/es nadam, sereproduzem, comem, eles esto apaando estrelas e criando palavras4

2 7esponderia meu filho que a inf8ncia # terra molhada depois

da chuva, e os pei/es as otas que a molha, e as estrelas as que secamo barro formado. Quando as coisas se metamorfosearam em palavrastudo foi pro vento, para propaar a mudana. & ser ! no # ser. 9desapalavreado.

&s olhos mare!aram, pai olhou o cho, peou um raveto evirou. 6or ltimo minha vontade. $o disse4 (inda no descobri se

pei/es conseuem apaar estrelas.

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'udo comea com uma ritaria. 'remi. $o sei escrever a noser dizer alma. Minha voz se perdeu num funil. (s vibra:es pararam.(s vibra:es das cordas vocais. Morri.

Morri numa constelao de -entauro. 3e (ndr1meda. -ruzouno -ruzeiro do Sul. + foi2se perder na via lctea. 'udo. +ssa # a

beleza do infinito, ter um fim inalcanvel, todo feito por sub!eo ededuo.

(ora que tremi, posso parar de respirar, quando rito, mudo eufico, surdo me elevo, ceo de sobriedade sou. *iro um pequeno

boneco de vodu, no ritarei mais a no ser o rito de liberdade paraespalhar aquilo que est preso em mim.

2 Quero ser palavra; Mas no palavra de rito. Quero ser como apalavra reticncias, sempre em frente, # o infinito em forma de ponto.

2 *oc ! # palavra filho. 'oda carne que aqui reside ! foi numpassado palavra, de aluma forma ou de outra. Sabe a terra4 +la #me, porque quando 3eus a fez a iniciou com a palavra que ainda noe/istia e que comeou a e/istir, a palavra amor, respeito, a palavrame.

3ei/ei meus pensamentos sa0rem pela culatra. +stou vaamentelembrando o motivo dessas linhas.

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( nota tilintou na taa de vinho sobre a mesa. 3errubei.3esastrado4 'alvez. 'udo depende de um ponto ou vista de alum

ponto. (cho, acho no, quase certeza de que todos ! ouviram isso. (semente que nasce e no ermina # a palavra que nasce e no tem

efeito. ( palavra sem efeito no e/iste. (lumas causamestranhamento, outras causam medo, outras causam incndio e outrascriam pei/es, mas tem alumas que s" 3eus pode ter, pois ele #essncia, vital, ele # subst8ncia importante para o equil0brio douniverso. Se no fosse por essas palavras seriamos o que4 Seresdesalmados vaando em luar nenhum sem forma4 +/atamente isso.

+nto romanceou. -hoveu sobre a terra e ela molhou.

>erminou. -resceu. 3evaneou. Morreu. $um ponto formado por maisdois pontos. Morreu acabando, morreu indo...

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&s parrafos comeam com espao. 6ois elas representamvazio.

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Molhou2se pontos sobre o cho branco do papel, sobre as linhas.3esabou baterias porque a poluio converteu neblina em fumaa. ?fui. $o quero ser. (doro parado/os criados com as palavras dotalvez. *oltando e voltando e voltando, ultimamente minha vontadetem sido a ltima.

6alavras repetidas so inevitveis, ainda mais para escrever. Maso que eu quero4 )iberdade4 Mas para que4 'odos a procuram, equando acham constroem pris:es e a prende num eterno ciclo.

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psicod#lico e realidade # intan0vel ao ponto de inorar toda equalquer ao no mundo real # que cheamos ao fim da humanidade.

2 3eus disse apenas ha!a. + ha!eu.

2 $o filho. 3eus disse ha!a e houve. (ssim como disse chova echoveu. (ssim como disse bom e a bondade nasceu. 3eus criou o maltamb#m, caso contrrio no estar0amos aqui.

Mas, porque escrevo essas palavras quando sei que um meninode cinco anos morre a cada esquina v0tima de aluma violncia, ouuma mulher morre sem saber o que # poesia. Quando um !ovem pretoe perif#rico # enquadrado na esquina de sua casa e criminalizado

indevidamente4 6orque escrevo4 6ara salv2las que no #. Queria serpalavra para salvar, para libertar. ( palavra liberta quando prosseuidade ao na realidade, mas quando no, se torna todavia e morre nodoravante, pois assim constru0mos a palavra desiualdade.

2 )embro de certo dia. (s palavras me abandonaram. $o haviasentido para paz. $o e/iste sentido para paz na verdade. $a verdades" e/iste omiss:es absolutas.

2 Sempre h verdade nas palavras, mas nas pessoas elasassumem formas desproporcionais e infantis. )embro de certo dia emque no e/istia mais uerra.

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& meio # o mist#rio de todas as coisas, mesmo que aluns no oconsiderem assim. -onvido voc a pensar comio, como meu pai fez.3epois de revolver um pouco a terra, me chamou e partimos. 6araonde4 +u no sei, pois caminhamos at# ho!e. +le alea que estamosindo para frente, e a frente, mas para onde4 @ndaava para ele vriasvezes. 6ai apenas repousava seus olhos nos meus, me/ia um pouco oslbios, tentava falar, suas cordas vocais ! fracas, suas ruas saltadasna testa, um silncio de universo pairava entre n"s e aqueles pontos deinterroao, para onde vamos4

+nto, quando menos esperei, descobri que o meio # como o talvez,por#m, com suas particularidades, nas quais s" uma # vis0vel, a norepelncia de inconvenientes. & meio # o meio e ponto. ? o talvez #sempre a incerteza do sim ou do no. -aminhamos sempre em frente,

porque vivemos o meio e no o talvez.

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foram esquecidos por no corresponderem aos seus iuais, ouo orito dos maus e percebo o silncio dos bons. $a vitrola aquela frase,na rua um palavro, quem toma banho de "dio e/ala o aroma da mortedisse o poeta da iualdade perif#rica.

$o e/iste e no e/iste. 6aramos no meio da estrada do meio, ecomo se ocorresse um pequeno deja vu vivemos um novo comeo demundo. ), no meio dessa estrada havia uma rvore, uma rvore alta,com o tronco to rosso que no era poss0vel en/erar acircunferncia completa. +ra frondosa, no sei se havia frutos, uma

pequena nevoa a recobria dando um ar sombrio.

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2 &s vazios so apreciados quando seuidos de palavra. +ssaterra # desacordada, desapalavreada, sem sinta/e.

2 +ssa terra, # a uerra filho. 'odos os e/tremismos. ( terra #

sem palavra quando dei/a 3eus, porque ele # essncia.2 $em sempre o vazio sinifica paz.

2 6az, # inveno do homem. 'udo o que # constitu0do depalavra e vento procura equil0brio e no paz. 6az # palavracomercializada.

Sobre o dinheiro que reia todos, acordei de uma realidade, masno pude sair. $o apenas a paz virou produto, como a alma. (

palavra capital virou sinificado para a palavra amor. $a verdade,todas as palavras e pessoas, alis se eu no me enano, at# a vida e amorte tem alum valor. 6essoas diro que no, mas sempre ser assim,a no ser que o verbo tome luar na ao e vire revoluo.

+u, olhando meu pai no topo daquela pedra pensava se valeria apena continuar aquele escalar de estrelas na pedra rande, descemos, opai e eu. ( terra estava molhada.

2 *oc viu chuvear pai42 $o, eu vi larime!ar de infantidades. ( pedra que subimos era

recheada de estrelas, assim como as crianas so recheadas de sonhos,cada estrela na pedra # uma inf8ncia perdida. & c#u sem estrelas, aterra vazia, e aora o cho molhado, inf8ncias perdidas, apenas restachoro.

+noli em seco e continuamos a andar. + por ltimo

ultimamente tem sido a minha vontade.

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( mesma perunta, a mesma resposta, os mesmos sinais, os diasvo se repetindo lentamente, copiando os detalhes, os instantes, at#mesmo os mesmos sorrisos e as mesmas pessoas, as mesmassitua:es, vivemos num ciclo interminvel de mesmices, a samsara

parece que nunca se finda, pois no conseuimos ver o fim.

'rao a trao nessa repetio formamos uma nova fiura,eom#trica e por muitas vezes assim#trica. 6aramos, respiramos,contamos os copos e os corpos, as moedas e os pap#is, as pedras e osciarros, as roupas e as pessoas e tentamos caminhar em frente. (maior dificuldade do ser # perdoar, uns acreditam que o ser humanono perdoa, que # biol"ico no perdoar, que apenas descartamosaquele sentimento, mas que nunca esquecemos. Se nunca esquecemos,

porque perdo indaa as pessoas. ? outras confiam no perdo, no s"

confiam, mas contam que perdoar # a melhor coisa a se fazer, nouardar nada, apenas erar, vida, como a Me $atureza, como a luz,como o vento. >erar vida # perdoar, # acreditar que as pessoas podemmudar, mesmo que as situa:es as impedem de realizar o suficiente.(s pessoas no so ms como diz o poeta, elas esto perdidas.

3iante das palavras de beno, de orao, meu pai e eudecidimos pear o 1nibus que passara na estrada. '0nhamos nosesquecido como viemos parar ali, no meio do nada. (qui cheo numa

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parte em que posso dizer e utilizar o talvez, mesmo que isso doaminha alma. 'alvez, possamos descobrir o que aconteceu a n"s.

$o banco do 1nibus, meu pai respirava e mantinha o silncio de

Universo. Suas ruas delimitava cada decepo que tinha, da vida, dasmulheres, dos homens, dos animais, da morte. +le a esperava, mas elano. *ivia como uma mmia que ansiosamente auardava (nbis eseu !ulamento.

*ivemos e temos que conviver com as decep:es todos os dias,as decep:es de acordar cedo e lavar o rosto, a decepo de que temque ter mais um dia feliz, a decepo que seu tempo vai ser asto comalo que voc no quer, a decepo da falsidade, do transporte, da

comida, do imenso samsara, a decepo de no se encontrar equil0briodentro e fora da alma.

(ssim, a nica coisa a se fazer # respirar fundo. +necessariamente quando respiramos fundo temos que fechar os olhos.&s olhos so a porta da alma, os visores do mundo, os olhos so bonsquando se en/era no apenas com a presena da luz, mas tamb#m

pela presena da razo