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ABRiL/13 • Edição 46 • Ano V • Distribuição gratuita Alvo perdido Chacinas recorrentes e número recorde de mortes recolocam o porte de armas em debate no Brasil e nos Estados Unidos É tudo ou nada Dilma adere ao estilo popular para não correr riscos em 2014 De mal a pior Gargalo em hospitais de BH é reflexo da dependência de cidades do entorno

Vox 46

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Revista Vox Objetiva 46

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em debate no Brasil e nos Estados Unidos

É tudoou nadaDilma adere ao estilo popularpara não correr riscos em 2014

de mala piorGargalo em hospitaisde BH é reflexo da dependência de cidades do entorno

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Participar da vida política é direito de todo cidadão. Por isso, a Assembleia facilita o acesso para você chegar à Casa do Povo.

Você pode acompanhar o trabalho dos parlamentares, consultar os projetos e as notícias e apresentar sugestões.

Acesse a Assembleia pela internet, TV ou telefone. Ou venha aqui pessoalmente. Fique à vontade, a Assembleia é a sua Casa.

Acesse: www.almg.gov.brAssista: TV Assembleia – em BH, canal 35 UHFFale: Centro de Atendimento ao Cidadão – (31) 2108 7800Venha: Rua Rodrigues Caldas, nº 30 – Santo Agostinho –Belo Horizonte. Atendimento das 7h30 às 20h.

TodAs As porTAs dA AssembleiAesTão AberTAs pArA Você.

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Bravíssimo!Marcos Pereira

O céu nublado e o risco de chuva não assustaram os apreciadores de música clássica que lotaram a primei-ra apresentação deste ano da tradicional série Concer-tos no Parque. Criada em 1976 e considerada uma das melhores orquestras do Brasil, a Orquestra Sinfônica de Minas Gerais encantou todos que passavam pelo Parque Municipal Américo Renné Giannetti. Alguns ouvintes até arriscaram passos de valsa ao som de Danúbio Azul, de Johann Strauss II.

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Participar da vida política é direito de todo cidadão. Por isso, a Assembleia facilita o acesso para você chegar à Casa do Povo.

Você pode acompanhar o trabalho dos parlamentares, consultar os projetos e as notícias e apresentar sugestões.

Acesse a Assembleia pela internet, TV ou telefone. Ou venha aqui pessoalmente. Fique à vontade, a Assembleia é a sua Casa.

Acesse: www.almg.gov.brAssista: TV Assembleia – em BH, canal 35 UHFFale: Centro de Atendimento ao Cidadão – (31) 2108 7800Venha: Rua Rodrigues Caldas, nº 30 – Santo Agostinho –Belo Horizonte. Atendimento das 7h30 às 20h.

TodAs As porTAs dA AssembleiAesTão AberTAs pArA Você.

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Editorial

Esta edição de Vox Objetiva aborda um mesmo tema polêmico em duas nações diferentes. Nos Estados Unidos, os ataques a escolas e a pessoas inocentes geraram um grande movimento nacional pelo controle da venda de armas. Em quase todos os estados americanos, o cidadão comum pode comprar armas entre as mais modernas e mortíferas, como fuzis de assalto e até metralhadoras. Mesmo com toda a facilidade para a compra das armas, a taxa média de homicídios no país não chega a quatro mortes por grupo de 100 mil habitantes.

No Brasil, o Estatuto do Desarmamento, apontado como uma das principais medidas contra a violência, reduziu a venda de armas em 35% entre 2003 e 2009. Mas o número de homicídios entre os brasileiros chegou a 26,2 assassinatos por grupo de 100 mil habitantes em 2010. Supera mais de seis vezes a taxa americana.

É preciso cuidado na abordagem desses números. Incentivar ou defender o porte indiscriminado de armas é um caminho perigoso para combater a violência no Brasil. Na América do Norte, a presença da Justiça na vida dos cidadãos comuns nem de longe pode ser comparada à situação brasileira. Aqui, menos de três em cada dez homicídios têm culpados identificados e condenados.

A questão passa por reconhecer o fracasso das medidas oficiais de combate à criminalidade. Todos os dias, pelo menos 150 pessoas perdem a vida de forma violenta no Brasil. É preciso deixar claro também que os discursos e as medidas tomadas pelos que ocuparam cargos ligados à Segurança Pública brasileira se restringem apenas a reduzir condenações ou discutir benefícios para a soltura de presos. E essas ações independem da periculosidade ou da análise da capacidade de convívio social e de respeito às leis, quando o meliante está fora do cárcere.

Gastamos pelo menos dez anos e milhares de vidas para perceber que os tais “especialistas em violência”, mantidos por fortunas do dinheiro público, nos levaram a uma relação desigual entre bandidos e trabalhadores. Criminosos estão cada vez mais protegidos. Já o contribuinte, sobrecarregado com os custos da incompetência dos governantes em garantir o direito à segurança.

É tempo de tomarmos consciência de que os discursos e propostas de condescendência com os assassinos não nos fizeram avançar na direção de um país melhor e mais seguro. O tempo para errar ou para improvisar chegou ao fim.

O vazio de um discurso

A Revista Vox é uma publicação mensal da Vox Domini Editora Ltda. Rua Tupis, 204, sala 218, Centro - Belo Horizonte - MG CEP: 30190-060.

“... O povo que conhece o seu Deus se tornará forte e ativo.” (Daniel 11:32)

• EDiTOR E jORnALisTA REsPOnsáVELCarlos Viana

• DiAGRAMAçãO E ARTEFelipe Pereira

• CAPAFelipe Pereira

• REPORTAGEMAndré MartinsLucas Fernandesilson LimaPaulo FilhoThiago Madureira

• CORREsPOnDEnTEsGreice Rodrigues -Estados Unidosilana Rehavia - Reino Unidoisabela Araújo - Portugal

• DiRETORiA COMERCiALsolange Viana

• Anú[email protected](31) 2514-0990

[email protected](31) 2514-0990www.voxobjetiva.com.br

• REVisãOVersão Final

• TiRAGEM 30 mil exemplares

os textos publicados em forma de arti-gos, produzidos por colunistas convida-dos, expressam o pensamento individual e são de responsabilidade dos autores. todos os direitos reservados. os textos publicados na revista Vox objetiva só poderão ser reproduzidos com autoriza-ção dos editores.

CarloS VianaEditor-Chefe

[email protected]

ExpEdiEntE

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Moto. É preciso saber usar. É preciso respeitar.

Tempo derecuperação: 4 anos.

Tempo de conserto: 4 dias.

A imprudência cobra um preço alto. Dê valor à vida.

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artigoS.............................................................................política • Paulo Filho A esculhambação não é para amadores ................................16

iMoBiliÁRio • Kênio Pereira Entenda o ITBI e o IPTU ......................................................21

justiça • Robson sávio Uma cidade mais humana ...................................................29

psicoloGia • Maria Angélica Falci Espelho, espelho meu .........................................................39

MeteoRoloGia • Ruibran dos Reis Mudança de cronograma .....................................................47

cRônica • joanita Gontijo Diagnóstico: Síndrome do Menor Esforço.. ......................... 50

SalUtariS ....................................................................... RECEITA • PALADAR salmão ao mel .................................................................34

VINHOS • Danilo schirmer Acessórios: os amigos do vinho .....................................35

VErbo ......................................ENTREVISTA – MERVAL PEREiRAJornalista acredita que punição dos envolvidos no Mensalão possa coibir novos crimes e reduzir sensação de impunidade

Capa ........................................................................................ INVESTIGAÇÃO • COnTROLE DE ARMAsEUA e Brasil tentam encontrar estratégias para a redução do alarmante número de mortes por armas de fogo. Por aqui, o desarmamento não se refletiu na queda das taxas de violência

podiUM...........................................ESpORTES • MATA-MATAA Libertadores entra em fase decisiva. Quem leva vantagem nas disputas diretas pelo título?

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SUMárioTomas Rangel

stock. xchng

Bruno Cantini

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SalUtariS .................................................saÚDe • FALTA DE LEiTOsRegião Metropolitana infla hospitais em Belo Horizonte e instala o caos na saúde pública da capital

MEtropoliS ..........................................pOlíTICA • ElEIÇÕES 2014Há menos de dois anos para o pleito, o clima é de vale-tudo para a reeleição de Dilma

HorizontES .........................................TuRISmO • MARROCOsUm guia rápido para experiências sensoriais inesquecíveis. Conheça o Marrocos: uma das portas de entrada para o exótico mundo árabe

kUltUr ......................................................... dECORAÇÃO • AzULEjARiAHerança cultural árabe, a azulejaria se aperfeiçoou em Portugal, e no Brasil se transformou em negócio

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Antonio Cruz - ABr Agência Minas

Wagner Okuda Luiza Vilarroel

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Em lançamento de livro que revela os pormenores do maior escândalo político do Brasil, Merval Pereira discute as possibilidades para 2014, reconhece a

superioridade de Dilma, mas avalia o governo como “muito fraco”

“Justiça foi feita”

Em 2005, nuvens escuras tomavam a atmosfera do Palácio do Planalto. Escutas telefônicas e vídeos comprometedores desestabilizavam o primeiro mandato do governo Lula. Nas imagens, políticos do PT e da base aliada aparecem aceitando e oferecendo propina a parlamentares em troca de apoio.

Foi uma minuciosa e demorada investigação da Polícia Federal e uma série de reuniões, depoimentos e denúncias em Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs)até se chegar aos culpados do escândalo político conhecido como “Mensalão”. Sete anos depois vieram as condenações e o desfecho no Supremo Tribunal Federal (STF).

Observador perspicaz da política brasileira, o jornalista Merval Pereira veio a Belo Horizonte na primeira quinzena de abril para lançar Mensalão, o dia a dia do maior julgamento da história política do Brasil. O livro descortina e analisa o escândalo por meio de uma série de artigos publicados no jornal O Globo, entre os dias 2 de agosto e 11 de dezembro de 2012.

Merval Pereira é comentarista da Globo News e da CBN e colunista do jornal O Globo. Ele ocupou diversos cargos nas Organizações Globo, inclusive o de diretor de jornalismo de mídia impressa e de rádio. Merval recebeu o Prêmio Esso de Jornalismo, em 1979, e o Maria Moor Cabot da Universidade de Columbia de excelência jornalística, em 2009.

Em 2011, Merval foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras. Ele assumiu a cadeira número 31, deixada por Moacir Scliar. Além do livro que veio promover, ele é autor de O lulismo no poder e de A segunda guerra, a sucessão de Geisel, obra assinada também pelo jornalista André Gustavo Stumpf.

Na noite de autógrafos do livro na capital mineira, Merval falou com a reportagem da Vox Objetiva. Para ele, Lula sabia das movimentações dentro do partido. O autor considera o julgamento do Mensalão um marco. A certeza da impunidade não pode ser mais vinculada à antes intocável classe política, conforme avalia o jornalista.

Os escândalos foram vazados em momentos oportunos para a oposição, mas nada convenientes para o governo. Esses acontecimentos empobrecem o debate político ou o senhor avalia como positivo o fato de terem vindo à tona, mesmo nas vésperas de eleições?

Empobrece. É claro que se você circunscrever o debate político a essas corrupções eleitorais, bota para baixo o nível político do país. Ao mesmo tempo, o julgamento do Mensalão, por exemplo, pode ser um marco no avanço político nessa questão. Estamos discutindo reforma política. Não creio que vá dar em algo agora. De qualquer maneira, uma coisa precisa ser feita: regulamentar e fiscalizar mais severamente o financiamento de campanha. Eu acho que empresas financiarem candidatos

André Martins

VErbo

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Tomas Rangel

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VErbo

deveria ser uma prática proibida. O financiamento poderia ser apenas de pessoa física e com um limite de doação. Não tem como ter controle total, porque isso existe em todo o lugar do mundo. Mas a Lei poderia ser um pouco mais incisiva e aplicar punições mais severas em quem usar dinheiro fora da regulamentação.

O senhor analisa o maior escândalo político da história do Brasil no seu livro. O Mensalão foi orquestrado pelo PT, mas contou com a participação de alguns personagens do PSDB. No momento em que o escândalo foi denunciado, valia a pena para a oposição correr esse risco? Cedo ou tarde a polêmica bateria à porta dos peessedebistas...

São coisas distintas. Embora a origem seja o mesmo Marcos Valério, o caso do PSDB foi restrito a Minas. A alegação do PSDB mineiro é de que não se tratava de caixa dois como o PT insiste em afirmar. É difícil acreditar que se tratasse de caixa dois, porque havia dinheiro público envolvido. Eu acho que, no fundo, no fundo, as coisas são idênticas, só que a dimensão é outra. A dimensão do PT era nacional, interferindo na ação do Congresso. A do PSDB é uma coisa restrita a Minas e a uma campanha eleitoral. É diferente nesse sentido. Mas do ponto de vista de desvio do dinheiro público, é a mesma coisa e a raiz é a mesma.

O desfecho do julgamento do Mensalão foi satisfa- tório no que diz respeito às penas?

Acho que se fez justiça no julgamento. As provas estavam muito claras. A maior parte das condenações foi de um placar muito largo: 9 a 1, 8 a 2,... era um consenso entre os 11 juízes que dificilmente ocorreria, caso não houvesse provas muito fortes.

Para o Ministro Ayres Brito, o julgamento significou uma “virada cultural de página no país”... O julgamento representa alguma coisa em relação à ideia de impunidade no país?

Ao fim do processo, quando os condenados forem para a cadeia, fica provado que ninguém está acima da Lei. Acho que acontece ainda este ano. Isso é muito importante para a política brasileira. É um marco; é um reinício. Até então, nenhum político era condenado. A partir de agora fica mais difícil ou arriscado roubar dinheiro público em campanha eleitoral. O risco era pequeno. A chance de ninguém ser apanhado nem punido era de quase 100%. Agora não é mais assim... Isso é um avanço.

Por qual motivo o Mensalão não se refletiu de maneira tão danosa para a imagem de Dilma, embora ela seja do PT?

A Dilma não tinha nada a ver com isso. Pelo contrário. Ela assumiu o poder com a queda do Zé Dirceu. Na verdade, ela não tinha esse entrosamento com a direção do partido que era dominado por Dirceu. Então isso salvou a Dilma de um contágio maior com o Mensalão.

O senhor acha que alguém faça frente a ela em 2014?

Não. Eu acho que hoje, neste momento, a Dilma é a grande favorita. Mas a gente tem que esperar para ver como a economia vai evoluir, o que vai acontecer no mundo, como será o controle da inflação e se ela vai conseguir, afinal, botar o país para crescer. A visão otimista do governo é de que o Produto Interno Bruto (PIB) pode até crescer pouco. A crença é de que, com o controle da inflação, a reeleição se encaminha. Mas eu tenho as minhas dúvidas... Se pelo terceiro ano consecutivo o país cresce pouco, talvez não haja condições de manter os programas sociais, sem provocar

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j. Egberto

Merval em lançamento do livro “Mensalão”, no Rio de janeiro .........................................................................................................................

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VErbo

inflação ou gastar mais do que pode. Esses programas são a sustentação do governo. E se o país não crescer, o emprego pleno começa a não ser mantido. As empresas não vão conseguir manter seus empregados, sem ter ao menos uma perspectiva de crescimento. Então acho que tudo isso será visto até o ano que vem. Nós vamos ter uma ideia mais ou menos clara de como as coisas ficam. Mas a Dilma, sem dúvida, é a grande favorita.

Lula não descartou a possibilidade de voltar a disputar a presidência do Brasil. Alguns analistas políticos apontam que a estratégia é outra: ele sair candidato ao governo de São Paulo, em 2016. Com isso, Lula prepara o terreno para Haddad, em 2018, ocupar o Palácio do Planalto a ser deixado por Dilma. Há lucidez nessas conjecturas?

Eu não acredito que o Lula seja candidato a nada. Acho que ele não arriscaria o sucesso político dele numa eleição em que ele pode perder, embora o ex-presidente continue um grande líder político. Mas acho que seria burrice dele se arriscar. Ele já tem o nome marcado na história do país. Ele não precisa ser nada. O Lula manda no governo Dilma e despacha com todo mundo. Na verdade, ele é o “copresidente”. Então acho que ele não precisa disso.

Ao que tudo indica, chegou mesmo a vez de Aécio Neves concorrer à presidência. Foi mais cedo do que se poderia imaginar?

Não. Acho que ele podia ter sido candidato desde 2010. Só acho que é preciso ver as condições de 2014. Em 2010 era mais fácil derrotar a Dilma, embora o Lula estivesse em plena atividade. Em 2014 está difícil derrotar a presidente pela percepção que ele traz; que ele provoca nas pessoas. Não pelo governo. Acho o governo dela muito fraco. Mas acho que a percepção que a gestão de Dilma produz no eleitorado não foi afetada. Então, a questão de fazer um bom governo, na avaliação das pessoas, é mais na

questão do bem-estar, do dinheiro estar mais ou menos dando para todos, de todo mundo estar satisfeito. Acho que isso pode ser interrompido com a inflação alta e o crescimento fraco da economia. Não sei se vai ser interrompido já em 2014. Caso continue nesse ritmo e se o segundo mandato da Dilma acontecer, será difícil.

O PSD de Kassab rejeitou a participação na reforma ministerial de Dilma, mas reconsiderou a decisão. Ao ceder duas secretarias com status de ministério, parece óbvio que ela queria dar agrados... O que o senhor

pensa de negociatas dessa natureza?

Eu acho que a Dilma está tentando manter todo mundo junto e somar. Acho que esse cálculo de minuto de programa eleitoral em televisão é muito prejudicial para a política brasileira, mas é a regra do jogo. E a Dilma está jogando... Todo mundo está esperando até o ano que vem para se definir. Com o governador Eduardo Campos não é diferente.

Ninguém sabe o que vai acontecer, como estará a economia,... Mas se ela melhorar um pouco e a inflação for controlada, as chances

da Dilma juntar todos esses partidos, inclusive o PSD, na mesma coligação, é enorme. Aí fica muito difícil derrotá-la.

Em uma democracia, qual a importância da alternância de poder?

Acho que é fundamental. Mas mais que isso, é essencial existir a possibilidade da alternância de poder. Não é obrigação ter alternância. Com as regras claras, é preciso permitir que haja a alternância, sem favorecer quem está no governo. Às vezes, isso fica um pouco prejudicado no Brasil. Quem está no poder tem muito mais força para fazer campanha, usa a televisão e tem uma máquina “terrível” para usar. Aí o jogo fica desvirtuado.

“A chance de nin-guém ser apanhado

ou punido era de quase 100%. Agora não é mais assim... Isso é um avanço”

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artigoartigo ImOBIlIÁRIOMEtropoliS • pOlíTICA

Em busca da reeleição, a presidente Dilma se transforma, troca ministros e entra em acordo com partidos para reforçar o palanque de 2014

Com 2014 “logo ali” para os políticos, a movimentação pela disputa eleitoral invadiu o calendário e as ações administrativas do governo federal. De quebra, os postulantes ao cargo de presidente da república vão pelo mesmo caminho. A antecipação da eleição é fato consumado, evidente e inevitável.

No tocante à presidente, o efeito 2014 é latente. Há uma Dilma Rousseff diferente em circulação. O estilo de agora até então é desconhecido por todos. Dilma está mais sorridente e afável, passou a escutar mais (pelo menos alguns pesos-pesados do empresariado nacional) e botou o “pé na rua”. Aconselhada ou não

A corrida começou...

A exemplo de Lula, a presidente Dilma adotou um estilo popular e colocou o pé na estrada para inaugurar obras e anunciar investimentos..............................................................................................................................................................................................................................................................

Paulo Filho

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Wilson Dias/ ABr

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Brasil Sabor Ney Matogrosso

MEtropoliS • pOlíTICA

por Lula, o fato é que Dilma começa a se esforçar para adotar o estilo populista do ex-presidente. E como popularidade não se consegue trancada em gabinete, a presidente voltou do descanso de final/início de ano com uma agenda de candidata. Agora as inaugurações e os anúncios de programas oficiais saíram de Brasília. Tudo acontece “in loco”, nos estados – e tome viagens, com ênfase especial para o Nordeste (o Piauí abriu a agenda), apertos de mãos, fotos e abraços com operários e populares.

Em outro campo, o do ambiente político, Dilma e o PT também não se fazem de rogados. Ambos jogam pesado pela reeleição e dão mostras de que o pragmatismo eleitoral é o que vale. A busca pelas alianças não obedece a princípios nem ideológicos nem administrativos. A lógica de que o tempo de propaganda eleitoral conquistado justifica qualquer atitude é a que vale. Vale mais até mesmo do que a de jogar por terra a credibilidade conquistada pela presidente com a incensada “faxina ética” realizada no início de seu governo. Partidos e políticos afastados com a pecha de corruptos estão de volta à gestão federal. E para abrigar o ex-inimigo PSD, de Gilberto Kassab, a presidente criou mais um ministério: o trigésimo nono.

Nos últimos meses, Dilma deu posse a quatro ministros: três são novos titulares e um mudou de pasta. Manoel Dias (PDT-SC) assumiu o Trabalho; Antônio Andrade (PMDB-MG), a pasta da Agricultura; César Borges (PR-BA), o Ministério dos Transportes e o ex-ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos, Moreira Franco (PMDB-RJ) foi remanejado para a Secretaria de Aviação Civil. Com a criação do trigésimo nono ministério, a Secretaria das Micro e Pequenas Empresas, Dilma garante a “vaga” para o PSD. O nome mais cotado para assumir ainda é o do vice-governador de São Paulo, Guilherme Afif Domingos.

No caso dos peemedebistas, a presidente atendeu a reclamações dos aliados em Minas e no Rio e jogou para manutenção da aliança. A abertura de espaço para o PMDB mineiro é um passo para garantir que o partido e o PT disputem unidos o governo de Minas e garantam um palanque forte para a presidente Dilma no estado. O PMDB do Rio de Janeiro reclamava que Moreira Franco ocupava um Ministério “de fachada”, sem peso político nem, muito menos, orçamento.

Já a “devolução” dos ministérios dos Transportes e do Trabalho ao PR e ao PDT é um emblema do que tem de pior na forma de administrar a coisa pública no Brasil. O ex-senador e ex--governador da Bahia, César Borges, é o novo ministro dos Transportes. Filiado ao PR, Borges ocupa agora uma pasta com orçamento de cerca de R$ 21,4 bilhões. A escolha foi articulada pela presidente com o ex-ministro da pasta Alfredo Nascimento, o presidente do PR – o mesmo que Dilma demitiu em 2011. Com o novo ministro, Dilma repõe no governo e no mesmo ministério um partido “banido”, depois de divulgada a existência

de um amplo esquema de corrupção na pasta.

Com o PDT e o ex-ministro Carlos Lupi, presidente da legenda, a encenação se repete. O novo ministro do Trabalho, Manoel Dias, recolocou o grupo político do ex-ministro no comando da pasta. Carlos Lupi deixou o cargo em meio a denúncias de irregularidades. Seu sucessor, Brizola Neto, também do PDT, não conseguiu assegurar o apoio integral das centrais sindicais ao governo nem teve forças para neutralizar a influência de Lupi na legenda. Na época das exonerações, a presidente Dilma fez uma “faxina” que derrubou a cúpula das pastas. Agora, de olho nas eleições de 2014, ela não quer correr riscos e trouxe de volta os afastados do PR e do PDT para evitar que esses grupos possam defender, internamente nas legendas, uma posição de independência em relação ao governo.

Como popularidade não se consegue

trancada em gabi-nete, a presidente

voltou do descanso de final/ início de

ano com uma agen-da de candidata

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MEtropoliS • pOlíTICA

O que chama a atenção é o fato de que, até há poucos meses, na disputa pela prefeitura de São Paulo, Gilberto Kassab, criador e presidente da legenda, representava para o PT o que tem de pior na política nacional. Nesse caso, sem entrar no mérito político da decisão, ficando apenas com o olhar sobre a questão administrativa, vale citar a crítica do empresário Jorge Gerdau, membro do conselho de Desenvolvimento Econômico do governo, o que o coloca numa posição de aliado. Para ele, um gabinete com meia dúzia de pastas estaria de bom tamanho. Com 39 ministérios, “a burrice talvez já tenha chegado ao seu limite”.

Xeque!

A Vox Objetiva conversou com o sociólogo e mestre em Ciências Políticas e Doutor em Ciências Sociais, Rudá Ricci, sobre a “antecipação” da eleição e a movimentação da presidente Dilma Rousseff. Confira trechos da entrevista.

Faltando quase dois anos para a eleição presidencial, o governo Dilma se movimenta e se reorganiza, priorizando a disputa. Nesse caso, a estratégia eleitoral não sobrepõe as necessidades da administração do país?

Em parte. Seria totalmente verdade, caso um governo só pensasse em eleição em ano eleitoral. Mas isso é uma inverdade em função, inclusive, do calendário eleitoral. Temos eleições a cada dois anos no Brasil e que se articulam muito fortemente. O prefeito eleito, que recebeu apoio de um deputado ou governador, terá que retribuir dois anos depois, quando deputados e governadores se candidatam à reeleição ou procuram fazer seu sucessor ou apadrinhado. Essa roda eleitoral gira nos intervalos eleitorais, quando obras e convênios são conquistados, justamente porque não há recursos minimamente suficientes para municípios e a maioria dos governos estaduais.

Em segundo lugar, a disputa entre lulismo e tucanos está virando caso de sobrevivência. O PT sem governo federal, em função da centralização do orçamento público na União, seria pouco e teria pouco a oferecer aos municípios. O PSDB, por seu turno, sem MG e SP, estaria fadado a ser um partido nanico. O embate está levando os dois partidos a mobilizar todos os seus recursos, ano a ano. Isso vem aumentando os custos políticos e eleitorais. A antecipação da campanha eleitoral se deve, do ponto de vista governamental, aos indicadores econômicos que poderiam gerar impacto negativo na população mais carente. Até o momento isso não parece ocorrer.

Está muito claro que a reorganização do governo busca garantir alianças que, mais do que “ganho político”, apenas auferem maior tempo na propaganda eleitoral. Trazendo de volta ao seu governo pessoas que foram afastadas por fraudes e corrupção, a presidente Dilma não corre risco de perder apoio de setores da sociedade que acreditaram na “faxina ética”?

Sim. O problema é que essa parcela social não tem peso político significativo. Um estudo recente de André Singer (ver o livro “Os Sentidos do Lulismo”) revela que o voto popular (de baixa renda) é o que dá suporte ao lulismo, principalmente a partir de 2006. Pesquisas do Ibope, em especial a realizada em 2006 sobre valores e corrupção, indicam que 75% da população brasileira não se interessa por questões éticas e morais no campo político. É possível que não acreditem que essa dimensão possa ser ética (ou porque historicamente não demonstrou nenhuma aptidão ética).

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A presidente na cerimônia de posse dos novos ministros .........................................................................................................................

Valter Campanato/ABr

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Assim a relação com política e governo é utilitarista, cínica e pragmática. Nunca o dístico “rouba, mas faz” teve tanto significado para a maioria dos brasileiros como agora. Sinteticamente é o seguinte: há anos que o PT não se interessa pelo público de classe média. E o segmento social mais envolvido com questões éticas e avaliações morais na conduta política é justamente a classe média.

Essa necessidade imensa de garantir alianças com “qualquer um” não põe uma pitada de dúvida nas pesquisas de popularidade da presidente? Ou seja: as pesquisas têm resultados reais (a avaliação do governo e da presidente é de fato positiva), mas sem “lastro” - a opinião da população pode mudar “sem muito esforço”?

A questão central para o governo é o consumo popular como alicerce para a sua popularidade. Assim os indicadores econômicos de emprego, poder aquisitivo, inflação e crédito, que rebatem diretamente no consumo popular, são indicadores que sugerem tendências de popularidade. Ora, esses indicadores fornecem sinalizações contraditórias sobre tendências (inflação crescente, mas queda nos índices de desemprego e aumento real de salários no último ano; movimentos erráticos da inadimplência, com queda do crescimento de vendas e produção industrial).

A reação do governo está sendo pontual e seletiva, produzindo medidas anticíclicas, como desoneração dos produtos da cesta básica de consumo, diminuição do valor da energia elétrica paga por consumidor e indústria e extensões da redução do IPI no setor automobilístico. Os efeitos econômicos são tímidos, mas o impacto político parece ser muito significativo, segundo dados do Datafolha.

Mesmo com os fatos mais recentes, dentre eles o novo depoimento de Marcos Valério, o ex-presidente Lula ainda é um cabo eleitoral “imbatível”?

Parece que sim, inclusive pela tentativa da oposição de transformar a disputa com o PT em embate pessoal, personalizado. Houve uma tímida reação à gestão

Dilma no início do ano, mas os líderes oposicionistas retornaram a focar Lula como alvo preferencial. Algo deve ter movido a mira oposicionista. O fato é que as pesquisas de opinião confirmam sistematicamente que Lula é mais popular e confiável que a presidente Dilma Rousseff, a despeito de não estar sob os holofotes. Lula, enfim, parece ter conseguido colar sua imagem à das populações mais pobres, deslocando sua identidade com o PT.

Para o professor Rudá Ricci, a popularidade do governo Dilma é creditada ao aumento do poder de compra das classes populares ..........................................................................................................................

André Martins

MEtropoliS • pOlíTICA

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Ligula pellentesque puvinar pellentesque

artigo

CriStiano MorEiraLorem ipsum dolar sit amet

A esculhambação não é para amadores

artigo • pOlíTICA

paUlo filHojornalista e consultor de Comunicação social

[email protected]

A política no Brasil não é para amadores nem para principiantes. Em geral, aqui só sobressaem os pro-fissionais. Mas o termo “profissionais” tem o sen-tido mais pejorativo possível. Esperar que a classe política faça alguma reforma política decente e que signifique progresso é mais do que acreditar em so-nhos; é viver em estado de delírio.

Na maioria das vezes, as mudanças no escopo da legislação eleitoral e nas regras que regulam o sis-tema político brasileiro ocorrem por puro casuísmo. As alterações são feitas em benefício dos que com-põem e usufruem do status quo da política. Oligar-quias, coronéis e populistas de várias linhagens e modelos estão aí há décadas para comprovar isso.

Mais recentemente, uma mostra desse casuísmo velhaco veio à tona. Os partidos políticos brasi-leiros funcionam como balcões de negócios. Disso todos sabem. E existe uma facilidade muito grande para a criação desse tipo de ‘comércio’ no país. A criação do PSD pelo ex-prefeito de São Paulo con-tou com a ajuda e o favorecimento do governo. A nova legenda retalhou e enfraqueceu ainda mais a oposição. O PSD migrou para as hostes governis-tas ávido por mandatos e pela adesão ao governo federal.

Mas quando um partido é criado a partir da fusão de dois – como o caso do PPS com o PMN – para dar su-porte a uma candidatura de oposição, a bancada go-vernista na Câmara tenta uma manobra oportunista

para impedir o surgimento da legenda. O projeto que limita direitos para os novos partidos entrou em tramitação na Câmara com pedido de urgência.

O caso da presidência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara e o pastor Feliciano também se enquadra no “profissionalismo” da esculhamba-ção. O passado, o currículo e as posições do pas-tor eram conhecidos, mas nenhuma das lideranças partidárias se importou com isso. Interesses e ne-gociações internas na Câmara sobrepuseram a im-portância dos Direitos Humanos na casa. Aí, o que era apenas mais um achincalhe dos deputados com a sociedade, virou uma aberração.

As manifestações contrárias à sua presença na Comissão de Direitos Humanos (CDH) fizeram o Pastor Feliciano gostar do espaço que ele passou a ocupar na mídia. Então ele não se faz de roga-do a dizer absurdos para além das suas opiniões conhecidas sobre alguns temas afetos à Comissão que preside. Sem o mínimo senso de ridículo, Fe-liciano citou nomes e creditou a morte de algu-mas pessoas à intervenção direta de Deus. A ou-tros, ele acusou abertamente de pactuarem com o demônio. Ainda na posição de porta-voz de Deus e da Bíblia, o pastor amaldiçoou uma raça inteira de humanos. Se seus fiéis ou seguidores são muitos, não se pode dizer. Mas o rebanho dos que lhe dão ouvidos é constituído por pessoas que, antes de serem evangélicos e religiosos, são verdadeiros ignorantes.

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Atentado de Boston

O jovem russo Dzhokhar Tsarnaev, um dos acusados de orquestrar o atentado à bomba na maratona de Boston, pode ser sentenciado à morte, caso seja considerado culpado. O FBI tem interrogado o rapaz sem que ele saiba dos direitos que tem, como o de ter um advogado e permanecer em silêncio nessa fase das investigações. O departamento de Justiça dos EUA sustenta a medida em uma decisão da Suprema Corte de 1984, que permite que promotores usem declarações feitas por um detido antes de informá--lo sobre os próprios direitos, caso o contraventor esteja envolvido em um evento que represente uma ameaça à segurança pública. Grupos defensores dos Direitos Humanos criticam a medida.

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Mineiro de consideração

No dia 15 de abril, o ex-presidente Lula recebeu da Assembleia Legislativa do Estado o título de cidadão honorário de Minas Gerais. A solicitação foi feita pelo deputado Rogério Correia (PT), que relembrou o crescimento econômico experimentado pelo Estado no período do governo do petista. Ovacionado pelo público no salão nobre da ALMG, Lula agradeceu a honraria. Em pronunciamento, o ex-presidente citou mineiros importantes para a consolidação da democracia no Brasil, como a presidente Dilma Rousseff e o falecido amigo José Alencar.

Mais etanol

A gasolina vai ficar mais barata a partir de 1º de maio. Isso, porque o percentual de etanol do combustível vai passar de 20% para 25%. O governo também deve aliviar a carga tributária do produto. Uma compensação vai reduzir em até R$ 0,12 o valor do litro da gasolina. Fica como se tivesse isentado o produtor do PIS e da Cofins. Mas a redução não garante uma queda no preço do etanol para o consumidor. Com a desoneração, o governo deixará de arrecadar cerca de R$ 970 milhões em impostos ao longo do ano.

Extraterrestre

A Agência Espacial Americana (Nasa) anunciou a descoberta de dois planetas mais habitáveis, depois da Terra. Detectados pelo telescópio Kepler, eles foram batizados de Kepler-62e e Kepler-62f. Os dois planetas têm diâmetros uma vez e meia maiores que o da Terra, seriam rochosos ou compostos em sua maioria de gelo e, devido às condições atmosféricas locais, teriam água líquida em parte de suas superfícies.

notaS

Marcelo Casal jr - ABr

Guilherme Dardanha - ALMG

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Indústria dui, acio commodo ligula pellentesque pulvinar pellentesque

pulvinar acio commodo

O setor imobiliário vai bem, obrigado. Mas está sujeito às oscilações do mercado. Uma pesquisa da Confedera-ção Nacional da Indústria (CNI) e outros três indicadores de avaliação de desempenho indicam tendência de que-da na oferta de empregos no setor. O quadro significa fator de crise na área, de acordo com os especialistas.

Na contramão desses indicadores, a Associação Brasi-leira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat) registra um crescimento de 5,4% das vendas em janeiro deste ano em relação a dezembro passado. No mesmo período comparado, as vendas dos materiais básicos su-biram 5,1%. Nesse item houve uma queda de 1% em relação aos 12 meses anteriores.

Os indicadores da sondagem da CNI variam de 0 a 100, e valores menores que 50 indicam atividade desaquecida e queda no emprego. De acordo com a pesquisa, nos últi-mos sete meses houve redução na oferta de empregos, na construção civil. Em janeiro, a retração foi maior ainda do que em dezembro de 2012, quando foi constatada a queda de 46,1 para 45,8 pontos, respectivamente, no índice do número de trabalhadores ocupados.

Em janeiro, o nível de atividade no setor caiu para 45,6 pontos. O indicador ficou abaixo do normal para o mês, cuja média é de 46,4 pontos. Outros dois indicadores que são analisados pela sondagem da indústria da construção da CNI – novos empreendimentos e serviços e compras de insumos e matérias-primas – registraram quedas.

O levantamento foi feito entre os dias 1º e 18 de fevereiro em 440 empresas da construção civil de todo o país. Foram

Crescimento com cautelaReflexo da crise econômica mundial, a queda nas vendas de imóveis em Belo

Horizonte assusta, mas não por muito tempo. Especialistas consideram o mo-mento bom para o setor imobiliário e com tendência de melhora

Ilson Lima

MEtropoliS • ECONOmIA

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abordadas 154 empresas de pequeno porte, 192 médias e 94 de grande porte. Mas apesar do desempenho negativo, as perspectivas dos empresários para os próximos seis me-ses são positivas, ainda que esse otimismo seja menor do que o registrado em fevereiro de 2012, conforme ressalta a CNI.

nãO Há CRisE

“Não acredito em crise nos próximos anos no setor imobiliário. A demanda da população de baixa e média rendas atendida pelos planos governamentais é um dos principais motivos”, opina Kênio Pereira. O especialista é presidente da Comissão de Direito Imobiliário da OAB--MG, conselheiro da Câmara do Mercado Imobiliário de Minas Gerais (CMI/MG) e do Sindicato do Mercado Imobiliário de MG (Secovi-MG).

Para Kênio, os imóveis vão continuar a ser negociados num ritmo normal e sem sobressaltos. Está prevista uma valorização mais tímida, com maior disposição dos vendedores para negociar os imóveis com valores mais expressivos. “O governo federal vai continuar a estimular o setor. A construção civil tem ampla margem para triplicar, ou seja, superar mais de 12% do PIB. O desempenho é um bom sinal diante do grande potencial de geração de empregos e tributos”, avalia.

Com quase 30 anos de vivência na área, o diretor da Netimóveis, Antônio Xavier, faz coro com o advogado. “Vivemos uma retração de demanda reprimida durante décadas no país. Entre 2008 e 2011 houve um período de grande oferta e facilidade no acesso ao crédito. Depois aconteceu o chamado boom no setor. Mas não há crise nem possibilidade real de isso acontecer no Brasil, no momento”, declara.

O temor de que o setor imobiliário esteja em crise ou venha a ser atingido por ela é fruto de um desconhecimento da realidade, conforme declara Kênio Pereira. “A sensação de recessão consiste numa falta de conhecimento do setor. Entre 2007 e 2011 foi registrada uma grande movimentação no setor imobiliário. Imóveis eram vendidos em apenas 30 dias. Foi uma anomalia”, explica.

Para Kênio, o mercado imobiliário se movimenta devagar,

mas sempre de forma previsível. “Todos os movimentos nesse grande e denso mercado são lentos. A história comprova. Não há grupos econômicos nem construtoras que afetem o mercado significativamente em curto prazo”, frisa.

As especulações sobre uma possível recessão no mercado imobiliário surgiram em 2012. Depois do período de expansão, houve uma acomodação no setor. Mas especialistas consideram o movimento natural nesse mercado. O setor imobiliário brasileiro permanece com baixa liquidez. A situação representa segurança, pois não há grandes mudanças da noite para o dia.

“É normal a demora de seis a oito meses para vender um imóvel. Isso, com a taxa Selic tendo caído para 7,25% - a menor da história do país. As ações das empresas de maior destaque no Ibovespa (Petrobras e Vale) estão cada vez caindo mais”, analisa o conselheiro da CMI/MG e do Secovi-MG.

“Nesse cenário de alto risco, há um receio de aplicar na Bolsa de Valores. A redução do volume de lançamentos está em torno de 30%. Com isso, dificilmente o valor dos imóveis vai cair de forma expressiva. A falta de atratividade do setor financeiro e do mercado de ações demonstra a falta de alternativas lucrativas para aplicar, exceto no setor imobiliário”, completa Pereira.

Antônio Xavier vê um ponto positivo nesse reequilíbrio do mercado imobiliário, após a euforia que atingiu o setor nos três anos do boom. “Empresas que abriram, acreditando que iriam faturar alto e montaram seus negócios na onda, estão fechando as portas agora. Elas não suportaram esse período da calmaria”, ressalta. O lado bom é que esses reveses limpam o mercado, segundo afirma o empresário. “Só permanecem as empresas que se adequaram à realidade e às mudanças incorporadas ao setor”, ensina.

MoMEnto propíCio

O momento é bom para comprar imóveis. Instituições financeiras, como a Caixa Econômica Federal (CEF), o Banco do Brasil, o Santander e o Itaú oferecem financiamentos com juros mais baixos, fomentando

MEtropoliS • ECONOmIA

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MEtropoliS • ECONOmIA

o setor. A avaliação vem da Câmara e do Sindicato do Mercado Imobiliário de Minas (CMI/Secovi) com a autoridade de uma entidade que representa 700 empresas de administração de imóveis e de condomínios, corretagem, incorporação e loteamento.

“Os preços dos imóveis estão estáveis e, em alguns bairros, até menores. Para completar, construtoras e imobiliárias oferecem vantagens para fechamento de um bom negócio”, aponta a entidade em sua página na internet.

O que garante a vitalidade do mercado imobiliário é o crescimento da economia nos últimos anos, conforme justificam os especialistas. A situação é favorável mesmo que no ano passado tenha havido uma derrapada no PIB nacional. “A crise no mercado mundial e o crescimento da economia brasileira trouxeram novos investidores para o país, na esperança de alta lucratividade e segurança”, diz Kênio Pereira.

Na perspectiva de crescimento econômico e com um déficit habitacional de 5 milhões de moradias, investir em imóveis no Brasil passou a ser extremamente atraente. No período de expansão desse mercado, vários fatores favoreceram a alta dos preços dos imóveis, como a postura do governo federal de reduzir as exigências para a aprovação do crédito imobiliário e a ampliação o prazo-limite para financiamento de 20 para 30 anos. O estímulo à construção civil é uma estratégia social do governo federal. O setor é o maior gerador de empregos, tem um custo muito menor que o da indústria e viabiliza a redução do déficit habitacional.

ContraCorrEntE

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Cidades, como Belo Horizonte, vão continuar a receber investimen-tos, tendo em vista a aproximação da Copa do Mundo de 2014 ..........................................................................................................................

Arquivo - PBH

Mesmo diante das perspectivas de crescimento apontadas por analistas, o mercado imobiliário de Belo Horizonte começa a dar sinais de “estafa”. A queda de quase 20% nas vendas de apartamentos novos no primeiro bimestre de 2013 ilustra o fato. Enquanto 793 unidades foram comercializadas na cidade em janeiro e fevereiro de 2012, este ano, o número de vendas no mesmo período analisado foi de 637 unidades. A diferença indica uma retração de 19,67%. Este é o terceiro ano consecutivo de queda. Em comparação com 2010, o recuo chega a 41%. Os dados fazem parte da pesquisa “Construção e Comercialização” elaborada pelo Instituto de Pesquisas Econômicas, Administrativas e Contábeis da UFMG (Ipead/UFMG) em parceria com o Sinduscon-MG.

O aumento dos preços começa a se refletir no poder de compra do belo-horizontino. De acordo com o índice Fipe-Zap, que acompanha a expansão e a retração dos preços do setor, os imóveis registraram uma valorização de 78% em quatro anos (de abril de 2009 a fevereiro de 2013).

As sucessivas retrações de vendas de imóveis se devem ao desaquecimento econômico brasileiro registrado em 2012. Com a crise, o país cresceu apenas 0,9% no ano passado. A expectativa é de que o mercado recobre o fôlego com a gradual recuperação da economia brasileira.

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Ligula pellentesque puvinar pellentesque

CriStiano MorEiraLorem ipsum dolar sit amet

Entenda o ITBI e o IPTU

kênio pErEiraPresidente da Comissão de Direito

imbiliário da OAB-MG [email protected]

O município arbitra o valor de avaliação do imó-vel que está sendo adquirido para que o comprador pague o Imposto sobre Transmissão de Bens Imóveis por Ato Oneroso “intervivos” (ITBI). A comprovação de pagamento do ITBI é requerida para o Cartório de Notas lavrar a escritura pública de compra e venda. Depois essa escritura deve ser levada ao Cartório de Registro de Imóveis para efetivar a transferência da propriedade. Muitos comprado-res se surpreendem com a ava-liação feita pela prefeitura. É que o preço avaliado chega a superar o dobro do preço de venda que consta na guia do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU).

Em alguns casos, o comprador acaba tendo de pagar um valor muito alto de ITBI. A avalia-ção se baseia no preço atual de venda, denominado valor venal. Cada município tem a liberdade de estipular a sua alíquota. Belo Horizonte definiu o percentual de 2,5% sobre o preço do imóvel. Se a pessoa compra um apartamento por R$ 500 mil, mas a prefeitura avalia em R$ 600 mil, o comprador tem de pagar R$ 15 mil de ITBI (2,5% de R$ 600 mil). Poucos sabem que o comprador tem o direito de pedir a revisão do valor.

O valor do IPTU não é considerado para esse cálculo, porque geralmente está defasado. Em Belo Horizon-te, a última atualização do mapa de valores ocor-reu em 2010. Por isso, é comum a avaliação do ITBI

ser sempre superior à que consta como valor venal na guia do IPTU. O ITBI se baseia numa situação de mercado e no banco de dados do município, formado por pesquisas rotineiras. O cálculo é baseado no valor real apurado pelos imóveis anunciados para venda no mercado e nas transações concluídas recentemente. O fisco sempre procura arrecadar o máximo possível. Então a referência para cobrança é o maior valor en-

tre o declarado pelo comprador e o arbitrado pelo município.

rEClaMar para rEdUzir o Valor

Há casos em que o municí-pio exagera na definição do valor. A análise coletiva dos imóveis pode acarretar ava-liações equivocadas. Em Belo Horizonte há 897 zonas ho-mogêneas. O critério conside-ra a divisão da capital mineira em porções geográficas. Cada região tem uma variação de valor. Portanto, é importante o comprador analisar se a ava-liação superou 20% do preço de mercado. Nesse caso, é viá-

vel fazer o Processo de Revisão.

O contribuinte pode pagar o ITBI para liberar o financiamento. Depois ele tem 30 dias para entrar com um Processo de Restituição. O prazo é con-tado a partir da data de lançamento da guia no sistema da prefeitura. Se o processo for deferido, a devolução do valor em excesso ocorre no prazo médio de 90 dias.

“É comum a avaliação do ITBI

ser sempre superior à que

consta como valor venal na guia do

IPTU”

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artigo • ImOBIlIÁRIO

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Entre a cruz e a espadaObama tenta influenciar senado americano a votar restrições ao porte e à ven-

da de armas de fogo. Ao mesmo tempo, o presidente procura não se indispor com a poderosa indústria de armamento dos EUA

Todos os dias, 33 pessoas são assassinadas, vítimas de dis-paros de armas de fogo nos Estados Unidos. Nos últimos três anos foram mais de 47 mil mortes. Recorrentes e acima da média são os casos de fuzilamentos em massa. Nos últimos 30 anos foram 60. No mais recente e um dos mais impactantes, 20 crianças e seis adultos foram mortos em uma escola, no es-tado de Connecticut, em dezembro passado (veja box).

Estatísticas como essa colocam a terceira nação mais populosa do globo na primeira colocação no ranking da violência armada no mundo. Quando compara-dos com países desenvolvidos, os EUA são, de longe, o país recordista nos índices de criminalidade. Ou-tra categoria em que o país leva grande “vantagem” sobre o resto do mundo é do número de armas por

Greice Rodrigues

MEtropoliS • CApA

A pressão do presidente americano Barack Obama sobre o Congresso surtiu efeito. Além de “apertar” a fiscalização na venda de armas, os americanos vão discutir outras mudanças em breve ..............................................................................................................................................................................................................................................................

Arquivo/ ABr

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habitante. De cada dez americanos, nove têm arma de fogo.

No país onde ter uma arma é um direito constitu-cional, comprar pistolas, rifles e revólveres é tão sim-ples como ir ao supermercado comprar leite, arroz ou pão. Aliás, essas armas dividem espaço com alimen-tos em lojas, como a popular rede de supermercados Walmart, uma das maiores revendedoras de armas de fogo do país. Em todos os EUA, o número de estabe-lecimentos autorizados pelo governo para comercia-lizar armas é nove vezes maior do que o total de lojas da rede McDonald’s – a maior rede de fast food da América. São 129 mil contra 14 mil, respectivamente.

Mas os limites desse direito começam a ser questio-nados. O debate sobre as leis que permitem o uso de armas de fogo no país tem aumentado. Esse cresci-mento da discussão foi verificado desde o massacre na escola em Connecticut. A chacina que chocou o país e o mundo chacoalhou a sociedade americana e os governantes, colocando em xeque esse “privilégio”.

A cultura das armas que impera no país é justifica-da pela seguinte teoria: quanto mais armas nas mãos dos cidadãos, mais segura a sociedade fica. Diante dos últimos acontecimentos, a discussão sobre restrições ao uso de armas de fogo vem ganhando espaço com adeptos que querem leis mais rígidas.

O debate entrou na agenda do presidente Obama como prioridade. O governante criou um pacote de medidas e convocou a população para pressionar o Congresso a votar o assunto. É um desafio, porque boa parte dos congressistas, republicanos e até com-panheiros do próprio partido de Obama, é contrária a qualquer alteração nas leis.

Pela frente, Obama ainda tem o agressivo lobby lide-rado pela poderosa National Rifle Association. Diante da possibilidade de restrição às armas, a entidade tem incentivado seus 4 milhões de associados a pressio-nar os congressistas a não votarem as mudanças. O embate está apenas começando, mas Obama prome-te empenho. “Nenhuma lei nem um conjunto de leis pode manter nossas crianças completamente seguras. Mas se há alguma coisa que podemos fazer, se pode-

mos salvar pelo menos uma vida, temos a obrigação de tentar”, afirmou.

Há pouco tempo, porém, o presidente Obama aplau-diu a primeira vitória. Ele conseguiu o apoio do Senado para uma de suas propostas. Sob os olha-res aflitos dos familiares das vítimas de Connecticuit e as caras de reprovação de lobistas e grupos pró--armas, os legisladores votaram o acordo que torna obrigatória a verificação de antecedentes criminais e da condição psiquiátrica de todos os compradores de armas. A medida não especifica o local da venda: em feiras, lojas autorizadas ou internet. Essa verificação é feita apenas quando a arma é adquirida em lojas licenciadas pelo governo. O acordo bipartidário uniu republicanos, democratas e independentes e foi um revés para os defensores do direito ao porte de arma que ameaçavam bloquear a votação. “O trabalho duro começa agora”, disse o líder do Senado, o democrata Harry Leidi.

Nas próximas semanas, a comissão deve debater a parte mais controversa do plano criado por Obama: a proibição de vendas de armas de estilo militar, como a usada pelo atirador na chacina da escola, em Con-necticut, e a restrição de vendas de munição. Os gru-pos pró-armas se opõem fortemente a essas propos-tas. Deputados republicanos têm demonstrado pouco interesse em mudar as regras da lei. Eles temem que essas restrições ressuscitem a lei de controle de armas criada em 1994 e que expirou uma década depois. É com esses argumentos que eles prometem lutar contra qualquer legislação que venha a infringir a Segunda Emenda – lei criada em 1791, que garante a todo ci-dadão americano o direito de possuir armas. Por isso, na avaliação dos analistas, é pouco provável que es-sas medidas ganhem a maioria do Senado.

Para o senador republicano Charles Grassley, o projeto apresentado pelo presidente Obama repre-senta a maior proposta de proibição de armas da história do país e viola o direito constitucional ao porte. Grassley entende que a exigência adicional de verificação de antecedentes de cidadãos cum-pridores da lei teria impacto limitado sobre a se-gurança pública. “Fuzilamentos em massa vão continuar a ocorrer, mesmo com a checagem de

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antecedentes”, disse ele. “Os criminosos vão continuar a roubar armas”.

Em resposta, o senador democrata Richard Blumen-thal questionou o colega se não teria havido menos vítimas no massacre na escola em Newtown, se o ati-rador não tivesse em suas mãos um poderoso rifle mi-litar semiautomático e de alta capacidade. “A tragédia de Newtown nos mostrou como a proibição de armas, como a usada pelo atirador, teria salvado vidas”, disse Blumenthal, que representa o estado de Connecticut. Cada uma das 20 crianças mortas foi atingida por, pelo menos, 11 tiros.

As primeiras medidas aprovadas vão reduzir as chances de criminosos, pessoas com problemas men-tais ou usuários de drogas de ter acesso a armas. Na prática, quando a arma é adquirida em lojas autori-zadas, a consulta é feita no ato da compra. Mas essa checagem não existe, quando as vendas acontecem entre particulares, em feiras ou em websites. Sem fis-calização, é possível comprar qualquer tipo de arma e se manter em um quase total anonimato. Só no ano

passado, 6,6 milhões de armas foram comercializadas nesse mercado privado. O número representa 40% das vendas de armas de fogo no país.

Além da redução dos índices de violência, o governo es-pera ter controle sobre o número de armas que circulam pelo país. Os únicos dados são os obtidos pelo serviço de checagem de antecedentes feitos pelo FBI. Mas essa conta-gem deixa de fora as vendas feitas no mercado “paralelo”. O número de verificações de antecedentes feitas desde 1998 dá conta de mais de 160 milhões de consultas realizadas. Só em 2012 foram mais de 16,8 milhões. Considerando que cada americano possui, em média, duas armas em casa, as autoridades estimam que mais de 300 milhões de armas estejam em circulação no país. O arsenal é suficiente para abastecer as forças armadas de boa parte do planeta.

O fato é que, amparada pela lei que assegura o direito de todo ci-dadão a portar armas, essa indústria continua a prosperar nos Es-tados Unidos. Analistas da Ibis World, uma empresa de pesquisa americana, afirmam que a recessão e a eleição do presidente Oba-ma foram fatores que impulsionaram o crescimento desse setor. A crescente taxa de criminalidade durante a crise que assolou o país e o medo de novas leis de controle de armas provocaram um tipo de paranoia coletiva e uma consequente corrida às lojas de armas.

Nos primeiros três anos da administração Obama, o FBI fez cerca de 50 milhões de verificações de antecedentes para compras de armas - quase o dobro das checagens feitas no primeiro mandato de George W. Bush. Desde 2007, a indústria das armas vem crescendo num ritmo de 5,7% ao ano. Só em 2012, mais de 6 milhões de armas foram fabricadas. Quase a totalidade, 95%, foi vendida dentro do próprio país. Dados da Mundial Ibis também revelam que a indústria deve acumular US$ 11,7 bilhões em vendas e cerca de US$ 990 milhões de lucros este ano.

Com tanta gente armada, fica mais fácil entender os ín-dices que colocam o país na liderança das mortes por arma de fogo nos EUA, em relação aos dos países desenvolvi-dos. O apelo da Casa Branca para uma versão mais forte da proibição de armas de assalto, de limites na vendas de munições e de melhorias nos registros e na veri-ficação de antecedentes faz sentido não só por reduzir a letalidade de fuzilamentos em massa nos EUA, mas por poder salvar vidas em toda a América.

Após massacre na escola de newtown, executado pelo jovem Adan Lanza (foto) em dezembro de 2012, a sociedade americana voltou a colocar em debate o porte legal de armas ......................................................................................................................

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relembre os massacres que deixaram os Estados Unidos e o mundo de luto

abril de 1999 - dois estudantes ma-tam 12 colegas e um professor na Columbine High school em Little-ton, Colorado. Depois os assassinos se matam;

Julho de 1999 - um comerciante da bolsa de valores, em Atlanta, Geór-gia, mata 12 pessoas, incluindo sua esposa e dois filhos. Em seguida, ele tira a própria vida;

Tragédia anunciada

outubro de 2002 - uma série de ti-roteios ocorre em Washington DC, deixando dez mortos;

abril de 2007 - o estudante seung--Hui Cho mata a tiros 32 pessoas e fere 15 na Universidade Virginia Tech, em Blacksburg, Virginia. Em seguida, ele se mata;

dezembro de 2007 – um jovem de 20 anos mata nove pessoas e fere cinco em um shopping center em Omaha, nebraska.

dezembro 2008 - um homem vesti-do de Papai noel abre fogo contra a família na noite de natal em Covina, Califórnia: oito mortos;

abril de 2009 - um homem mata a tiros 13 pessoas em um centro cívi-co em Binghamton, nova York;

novembro de 2009 - psicólogo do exército americano, o major nidal Hasan, abre fogo em uma base mi-litar em Fort Hood, Texas, deixando 13 mortos e 42 feridos;

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Cerca de 50 mil brasileiros são vítimas de homicídios dolosos anualmente. A maior parte dos crimes é co-metida com armas de fogo. Conforme o mais recen-te mapa da violência divulgado oficialmente, 38,89 mil cidadãos foram assassinados a bala em 2010. Isso corresponde a mais de 106 mortes por dia resultante dessa modalidade de crime.

O Brasil está entre os 12 países mais populosos do mundo. A posição é parecida, quando o assunto é o maior número de homicídios por armas de fogo. As informações são do estudo divulgado pelo Cen-tro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos (Cebe-la). O Mapa da Violência de 2013, “Mortes Matadas por Armas de Fogo”, foi coordenado por Julio Jacobo

No topo e na miraEstudos revelam que o Brasil é um dos países mais violentos do mundo.

O desarmamento da população não tem se refletido claramente na queda das taxas de mortes por armas de fogo

Ilson Lima

Arquivo/ ABr

Exército destrói armas de fogo apreendidas ou entregues espontaneamente pela população do Centro-Oeste ..............................................................................................................................................................................................................................................................

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Waiselfisz.

Numa lista de cem países, a Organização Mundial de Saúde (OMS) coloca o Brasil entre os dez com maiores índices de ocorrências envolvendo mortes por armas de fogo. A estatística só confirma a situ-ação crítica do país na área de segurança. “A taxa de 20,4 óbitos provocados por arma de fogo para cada 100 mil habitantes, coloca o Brasil na 8ª po-sição entre os analisados. O país é o 9º colocado”, segundo o levantamento do Cebela.

Outro dado que demonstra o estágio de violência a que chegou a sociedade brasileira é revelado por um dos maiores estudiosos do assunto. “Somos o segundo país mais violento do mundo, consideran-do-se os números absolutos referentes aos crimes letais intencionais”, afirma o antropólogo e escritor Luiz Eduardo Soares, ex-secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro e ex-secretário nacional de Segurança Pública no segundo mandato do go-verno Lula.

MarCadoS para MorrEr

Para tornar a realidade mais nua, fria e crua, o mapa da violência traz números ainda mais estar-recedores. Mais de 58% dos homicídios com arma de fogo registrados apenas em 2010, ou 22,7 mil dos 38,9 mil, tiveram como vítimas jovens entre 15 e 19 anos de idade. Segundo o estudo, a enorme concentração nessa faixa etária teve seu ápice entre os rapazes de 21 anos de idade, quando os óbitos por arma de fogo atingiram a impressionante marca de 56,4 mortes por 100 mil jovens nessa idade.

São os crimes mais violentos que ficam impunes no Brasil. Soares utiliza uma pesquisa da professo-ra Luciana Boiteux para explicar a impunidade às avessas que existe no Brasil.

“O foco do encarceramento, nos últimos seis anos, são jovens pobres do sexo masculino, de baixa es-colaridade, frequentemente negros, capturados em flagrante e condenados à privação de liberdade por negociarem substâncias ilícitas sem o uso de arma ou a prática de ato violento e sem vínculo com or-

ganização criminosa”, polemiza.

O custo de cada preso submetido a esse método considerado por Soares como irracional e injusto é de RS 1,5 mil por mês. Para o escritor, essa estrutu-ra só serve para tornar os jovens piores. “A situação os empurra para uma carreira marginal. Gastamos muito para armar uma bomba-relógio contra a se-gurança pública”, ressalta.

propaganda EnganoSa

A violência no país tem crescido assustadora-mente nas últimas décadas. E a modalidade de crime com maior incidência são os homicídios com armas de fogo. A constatação foi feita com base em estatísticas oficiais e de entidades li-gadas à área de segurança pública. Contudo, os dados desses levantamentos não condizem com as informações repassadas pelo governo.

Considerando o ano de 2010, pode-se afirmar que os números de mortes não batem. Morreram no Brasil muito mais vítimas cotidianas do que é noticiado pela mídia. A quantidade de mortes supera as das maiores chacinas do país ou o saldo dos maiores e mais cruéis atentados nos enfren-tamentos na Palestina e no Iraque.

Há cinco anos, a Suíça publicou um relatório sobre o Peso Mundial da Violência Armada. O trabalho apresenta um quadro com 62 confli-tos armados no mundo, registrados entre 2004 e 2007. Os 12 maiores conflitos vitimaram 169,57 mil pessoas nos quatro anos. No mesmo período, 147,37 mil pessoas foram vítimas de homicídio por arma de fogo no Brasil. E o país não vive situações de disputas territoriais, movimentos emancipatórios, guerras civis nem enfrentamen-tos religiosos, raciais ou étnicos.

De acordo com o relatório, esses números não podem ser atribuídos às dimensões continentais nem à grande população do Brasil. Países com número de habitantes semelhante ou bem supe-rior ao brasileiro, como China e Índia, apresen-tam taxas de homicídio inferiores.

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MEtropoliS • CApA

intErESSES podEroSoS

A segurança pública no Brasil esbarra também nos poderosos interesses econômicos industrial-militar que existem por trás da questão. Os lobbies desses grupos no Congresso Nacional e sobre os governos são muito fortes. Isso impede encaminhamentos práticos, visando o desarmamento da população. As armas de fogo cor-respondem a mais de 70% dos homicídios no país.

Para o coordenador do Controle de Armas Viva Rio, Antônio Rangel, a venda de armas caiu 35% no país como um todo, e o aumento dos homicídios ocorreu em apenas algumas regiões, contrariando as estatísticas ofi-ciais. De acordo com ele, o Ipea fez uma pesquisa recente sobre o assunto baseada em dados do IBGE. O resultado apontou a queda na compra de armas e o número maior de homicídios nos municípios com mais armas. Foram ouvidas 48 mil famílias brasileiras.

O pesquisador e cientista social Luiz Felipe Zilli tem uma posição diferente da de Rangel. Estudioso da área, Zilli avalia que a redução no ritmo de venda das armas de fogo no Brasil é um indicador que deve ser comemo-rado, mas com ressalvas. “Isso ainda não anula o imen-so estoque de armas de fogo em poder dos brasileiros. Mais do que isso: o número de armas de fogo em poder da população civil, por si só, não é necessariamente um preditor de taxas de homicídios. Na Suíça, grande parte da população tem armas de fogo, e o país tem um dos menores índices de homicídios do mundo”, rebate.

Estima-se que haja 15,2 milhões de armas de fogo em circulação no Brasil. As registradas somam 6,8 milhões e as sem registro, 8,5 milhões. Cerca de 3,8 milhões de armas estão nas mãos de criminosos.

aS SolUçõES

Há entre os especialistas, entretanto, um amplo consen-so sobre a necessidade de haver uma reforma profunda no sistema de segurança brasileiro. Para Luiz Eduardo Soares, a raiz dos problemas está na arquitetura institu-cional da segurança pública. “A Constituição concentra praticamente todo o poder nas polícias estaduais, orde-nadas de acordo com o modelo que fratura o ciclo de trabalho. O desenho incompatível desse modelo com as

funções atribuídas condena as instituições à ingoverna-bilidade e à mútua hostilidade (divisão entre as polícias, principalmente a Civil e Militar)”, aponta.

De modo geral, as falhas parecem ser as mesmas de praticamente todas as políticas públicas de segurança vigentes no Brasil, conforme entende Fernando Zilli. “A área de segurança pública no Brasil foi uma das que me-nos avançaram nas últimas décadas em termos de pro-dução, organização e difusão de informações. Os bancos de dados dos órgãos de segurança ainda são extrema-mente precários e pouco transparentes. No meu ponto de vista, a questão da qualificação da informação ainda é o grande empecilho para avanços mais consistentes nas políticas de segurança pública no Brasil”, alega.

O coordenador da ONG Viva Rio lembra do treina-mento e da remuneração deficitários para os policiais. Para ele, seria necessária também maior fiscalização. “O policial que está nas ruas será sempre tentado a aceitar as ofertas do criminoso para não fazer o que deve ser feito. Se não há controle, a possibilidade de corrupção e cumplicidade aumenta muito”, analisa Rangel.

Divulgação/ Viva Rio

Rangel ressalta uma pesquisa divulgada pelo ipea, que aponta a queda nas vendas de armas e o aumento do número de homicí-dios por armas de fogo em municípios fortemente armados ......................................................................................................................

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artigo • juSTIÇA

robSon SáVio rEiS SoUza Filósofo e cientista social

[email protected]

Uma cidade mais humana

O que é mais importante numa cidade? O mo-biliário urbano? Os sistemas de transporte, sa-neamento, energia elétrica? A gestão pública eficiente? Certamente tudo isso contribui para a qualidade de vida nas cidades. Mas, certamente, o mais importante na cidade são as pessoas, a civilidade en-tre os cidadãos, as interações humanas que se realizam nos espaços urbanos com respeito e solidariedade.

Ora, garantir a dignidade humana, o respeito e a prote-ção aos direitos individuais e coletivos, a presença de dife-rentes culturas, modos e esti-los de vida é o grande desafio para os gestores e para todos aqueles que estudam, plane-jam e administram as cidades. É também, óbvio, um dever de todo cidadão.

Infelizmente, observamos que nas cidades, aos poucos, criam-se guetos que incluem parte dos cidadãos (os shopping centers, os condomínios fechados) e outros que excluem (as favelas, as áreas periféricas...). É um desafio possibilitar novos modelos, espaços e condições de vida e civilidade numa sociedade individualista e consumista em que os interesses privados e os direitos individuais sobrepõem o que é público e coletivo.

Uma verdadeira política pública na perspectiva dos direitos humanos trabalha numa lógica inversa à certa tendência segregadora. Atua para a inclusão de todos os indivíduos no espaço urbano, garantindo que a dignidade, o respeito à alteridade e às diferentes

formas de manifestação da cul-tura na cidade sejam respeitados garantidos e valorizados.

Uma demanda urgente que se coloca diante do drama da ex-clusão social nas cidades se refere à possibilidade de estruturação de políticas públicas que con-sigam reverter as várias formas de segregação e exclusão social para viabilizar a construção de uma comunidade com requisitos mínimos de civilidade em seus padrões societários. Devem ser políticas que promovam a dimi-nuição das desigualdades sociais e econômicas e que levem em consideração os valores éticos de

solidariedade, democracia, liberdade e justiça.

Num contexto no qual o individualismo, a into-lerância, a ampliação de enclaves fortificados e de certa incapacidade do poder público de ampliar as políticas sociais inclusivas, fica cada vez mais im-perativo o papel dos movimentos sociais, das igre-jas e do voluntariado na construção de uma cultura de paz; na luta por uma cidadania ativa, visando à promoção da justiça e da equidade.

“É um desafio

possibilitar novos

modelos, espaços e

condições de vida

e civilidade numa

sociedade individualista

e consumista”

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SalUtariS • SAÚdE

O tratamento da mãe de João Marcelo Siqueira atra-vessa uma década e, com o passar do tempo, aumenta a angústia. Há 11 anos, o jornalista e analista de redes sociais acompanha a luta da mãe, Helena Aparecida do Espírito Santo, de 46 anos. Helena foi diagnostica-da com câncer na mama. O tumor afetou quatro vezes a mesma região em um período de seis anos. E faz dois anos que a neoplasia atingiu a coluna e chegou ao pulmão. Recentemente outro tumor foi descober-to. Apareceu no cérebro. Depois de interná-la para a

cirurgia na cabeça, começou a batalha. Siqueira e sua mãe foram à caça de um leito. A previsível escassez de vagas foi agravada pelo surto de dengue no estado. Ocorre que Helena é conveniada da Unimed. “Minha mãe ocupou uma vaga no CTI durante dias. Esse lugar deveria estar ocupado por outra pessoa”, lamenta o analista de redes sociais.

Dados do Sistema Único de Saúde (SUS) e da Secre-taria Municipal de Saúde revelam a existência de

Escassez de leitos na Região Metropolitana de Belo Horizonte leva milhares de pessoas dos sistemas público e privado de saúde a aguardarem por

tempo indeterminado uma vaga em busca de internação

Sem direito a atendimento

Lucas Alvarenga

A Região Metropolitana de Belo Horizonte tem déficit de 4 mil leitos..............................................................................................................................................................................................................................................................

Fhemig

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quase 2,5 mil leitos disponíveis para internação na capital mineira. Mas a situação se inverte na Região Metropolitana. Para atender à população da Grande BH, seriam necessários mais 3,957 mil leitos. Fal-tam 1,917 mil leitos na rede pública e 2,04 mil na particular. Como deu para perceber no caso de He-lena, até usuários de planos de saúde sofrem com a demora. A espera pode ultrapassar cinco horas em pronto-atendimentos (PAs). A baixa imunida-de provocada pelas sessões de quimioterapia requer uma internação em área isolada. Mas a internação pré-operatória para Helena passar pela cirurgia no cérebro foi em um espaço dividido com 14 pacien-tes. Helena ficou exposta a uma série de riscos de infecção hospitalar.

A situação de Helena se repete fora da Grande BH. Cerca de 6,3 mil pacientes do interior do estado buscam vaga na rede ambulatorial belo--horizontina para tratamentos de alta comple-xidade e de serviços de urgência e emergência. A Organização Mundial de Saúde (OMS) reco-menda uma taxa de ocupação média dos hospi-tais de 75% a 85%. Mas o número chega a 96% na capital. Com a saturação nos PAs, sobram pacientes à espera de um leito. “A dengue só precipitou o copo que estava na beirada. Cria-ram toda uma estrutura emergencial para que os médicos agissem diante do surto da doença. E por que não fizeram isso antes? Porque saúde é prioridade só no discurso”, assevera o pedia-tra, anestesiologista e presidente do Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais (CRM/MG), João Batista Soares.

Nos últimos 20 anos, 14 hospitais fecharam em Belo Horizonte. O aumento na venda de convênios pelas operadoras de planos de saúde contribuiu para a redução da taxa de leitos por mil habitantes estabelecida pela OMS. A Uni-med está entre essas operadoras. A cooperativa de médicos detém 63% do mercado. A precarie-dade do sistema de saúde leva as pessoas a pro-curar outros locais em busca de atendimento e leitos. Mas esse movimento apenas transfere o problema. As Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs) ficam sobrecarregadas, acumulando ca-

sos básicos e intermediários. Por isso, o Gover-no Federal implantou o programa Rede 100% SUS. É uma proposta feita para que alguns hospitais atendam exclusivamente ao sistema público. Em compensação, o Governo faria um reajuste de mais de 100% na tabela. “Uma con-sulta passou de R$ 2,70 para R$ 5,40. Ainda é ruim, mas foi um primeiro passo”, salienta o cirurgião-geral e presidente da Associação de Hospitais de Minas Gerais (AHMG), Reginaldo Teófanes de Araújo.

O presidente do CRM/MG defende uma melhor remuneração aos médicos, sobretudo os que atuam em urgência e emergência: clínicos, pe-diatras, obstetras e cirurgiões-gerais. “É preci-so restabelecer a relação médico – paciente. O convívio anda desgastado, muito em função da escassa estrutura que temos para dispor”. Soa-res e Araújo apoiam um investimento primá-rio e regionalizado. A ideia é cada cidade de uma microrregião atender a uma especialidade. A cidade-referência ficaria com os casos gra-ves. “Muitas vezes, o paciente precisa fazer um exame. Quando ele não consegue nos postos, vai para os PAs. Assim o usuário acaba desvir-tuando a verdadeira função dos PAs”, observa o presidente do AHMG. “Em média, os hospitais da capital têm 50 anos, salvo exceções. A Lei de Uso e Ocupação do Solo deveria criar prer-rogativas para que esses equipamentos pudes-sem ser ampliados”, sugere Araújo.

oCUpaçÃo Urbana

No centro da discussão sobre a escassez de leitos em Belo Horizonte está uma estrutura abandonada há três anos: o antigo Instituto Hilton Rocha. O espaço foi adquirido em leilão pela Oncomed, em 2009. O grupo pretende revitalizar a área e implantar 220 leitos para atender 1,2 mil pacientes por mês. A medida tornaria o hospital uma referência de prevenção, diagnóstico e tratamento do câncer em Minas. O aproveitamento da estrutura viabilizaria a inauguração do hospital para 2014, com a manutenção da oftalmologia e a in-clusão da cardiologia entre as especialidades – um pedido dos moradores da região.

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SalUtariS • SAÚdE

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A Associação dos Moradores do Bairro Mangabeiras (AMBM) representou os autores de uma série de apontamentos para a obra. Para a entidade, a reforma fere a lei federal que tombou a encosta da Serra do Curral em 1960. Contudo, o próprio Instituto do Patri-mônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) deu parecer favorável às propostas, reconhe-cendo que reduzem o impacto paisagístico na região. O Conselho Deliberativo do Pa-trimônio Cultural de Belo Horizonte (CDPC--BH) também aprovou o projeto do arquiteto Flávio Carsalade, ex-presidente do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG). Dentre as mu-danças estão o diálogo estético e formal do hospital com a Serra, a expansão horizontal pelos 28 mil m², eliminando os puxadinhos, a correção das cicatrizes no solo, o reúso da água, a captação de energia solar e a recupe-ração da flora.

Em maio está prevista a tramitação do projeto de lei municipal de incentivo à construção e expansão de hospitais. O diretor executivo da Oncomed e presidente do Conselho Superior da Sociedade Brasileira de Cancerologia, Roberto Porto Fonseca, aguarda o resultado dessa ses-são da Câmara Municipal. O projeto propõe a alteração no texto da Lei de Uso e Ocupação do Solo para modificar o coeficiente de apro-veitamento construtivo de áreas não preservadas. Em contrapartida, a instituição beneficiada pre-cisa exercer atividades hospitalares por 50 anos e 50% da estrutura deve estar voltada para leitos de internação. Fonseca espera a aprovação da am-pliação pelo legislativo e de uma emenda que ele-va o coeficiente na região de um para cinco. “Caso seja aprovada, vamos construir um estaciona-

SalUtariS • SAÚdE

O antigo prédio do instituto Hilton Rocha foi adquirido pela Oncomed. O grupo vai oferecer 220 leitos, beneficiando cerca de 1,2 mil pacientes por mês............................................................................................................

Divulgação/ O

ncomed

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mento no subsolo, diminuindo o impacto do trân-sito no local. Sem sirenes nem serviço de pronto--atendimento e, mesmo com funcionamento 24 horas, vamos garantir a segurança e a manutenção do sossego na região”, enfatiza o executivo.

Em 2011, a Associação questionou o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) sobre a legali-dade da pretensão da Oncomed. O MP consultou órgãos de proteção ao patrimônio e meio am-biente e, no dia 30 de janeiro do ano passado, indeferiu o pedido de abertura de inquérito feito pela AMBM. A decisão considerou que as intervenções não devem causar danos ao bem cultural. A Associação apelou, mas a de-cisão foi mantida em 31 de maio de 2012. Para o presidente da Associação, Marcelo Marinho, o hospital não deveria ocupar uma área de preservação. “O hospital seria bem--vindo próximo de pessoas carentes”. Fonse-ca discorda. “Visamos promover a saúde do ser humano. É doloroso ouvir que hospital é para perifer ia” , rebate .

intErnEt CoMo aliada

Consternadas com a escassez de le i tos na capital mineira , c inco pessoas lançaram no

facebook a campanha de Apoio à Ampliação dos Hospitais de Belo Horizonte. O jorna-lista João Marcelo Siqueira compõe o gru-po. No dia 6 de abri l , centenas de pessoas recebiam os primeiros convites de adesão à página. O mote da campanha é a revital i-zação do antigo Inst i tuto Hil ton Rocha. A página recebeu 1,2 mil adesões em uma se-mana. “Assim que conclamamos a sociedade a se engajar, mandamos uma carta para os vereadores . Muitos desconheciam a questão que envolve a Oncomed e a escassez de le i-tos . A part ir desse contato, os integrantes do legis lat ivo municipal passaram a apoiar a causa”, informa Siqueira .

O anal ista de redes sociais ut i l iza suas habi l idades para disseminar a proposta do grupo e fazer da página um fórum de dis-cussão sobre a saúde no estado. “Dentre os administradores do grupo, há uma pessoa que perdeu o pai há dois meses . O paciente também tinha câncer. Na busca por um tra-tamento, e les não encontraram um espaço adequado. Outro paciente pegou herpes e não resist iu” , lamenta o jornal ista . “Que-remos mais le i tos; precisamos de mais essa estrutura”, reforça.

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rede pública

Oferta Demanda Déficit

rede privada

8,057 mil leitos 9,974 mil leitos 19,22%

31,86%6,405 mil leitos4,365 mil leitos

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SalUtariS • RECEITA

inGREDiEnTEs:

220 g de salmão80 ml de molho de mel150 g de purê de batataLascas de maçã fatiadas em meia-lua

MODO DE PREPARO:

Grelhe o salmão ao ponto e leve ao forno se necessário. Com o auxílio de um aro, enforme o purê em forma cilín-drica sobre uma cama de lascas de maçã. Regue o molho de mel sobre o peixe.

Salmão ao MelPetrônio Amaral

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Analógico ou digital?

Texto de Tati BarrosFotos de Luiza Villarroel

Pode acreditar: o outono mal começou, mas já é hora de pensar no verão 2014. E para apresentar as tendências para a próxima temporada, o Expominas voltou a receber o Minas Trend. Com o novo calendário da moda brasileira, o evento perdeu a característica de preview, mas mostrou novamente a força do seu salão de negócios – um dos maiores do país.

O tema desta edição foi “Analógico ou Digital?”. A ideia é abordar os processos da moda e mostrar a diversidade produtiva. A análise vai dos bordados feitos a mão até os mais modernos recursos tecnológicos usados na produção da moda. Em seu desfile de abertura, o MW contou com 40 looks de marcas mineiras participantes do salão de negócios. Os modelos coloridos sobressaíram, revelando a proposta desta edição.

Como as datas da semana de moda foram antecipadas, algumas grifes não tiveram como se programar e o line-up dos desfiles do MW foi reduzido. Mas Victor Dzenk, Rogério Lima, Vivaz, Patrícia Motta e Gig garantiram o glamour nas passarelas e apresentaram coleções que mostram o porquê de a moda mineira ser prestigiada em todo o país.

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Falar em moda mineira remete a luxuosos bordados que compõem os vestidos de moda festa produzidos entre as montanhas de Minas. E a Vivaz reforça essa fama. A marca sempre apresenta belos modelos que se tornam sonhos de consumo de quem tem um evento inesquecível.

Nesta edição do Minas Trend, a grife desfilou uma coleção que conversa com o tema da semana de moda: “Logout”. A coleção percorre os mundos real e digital. Para representar o primeiro universo, o bordado feito a mão e a transparência valorizam a silhueta feminina. Já o virtual ficou por conta dos recortes gráficos e geométricos e dos desenhos bordados com canutilhos, inspirados nas placas de computadores. Os detalhes valorizaram os belíssimos modelos e iluminaram a passarela. A cartela de cores veio bem suave, com a hegemonia de tons de nude.

O destaque da coleção ficou por conta do shape coluna, com caimento perfeito. A tendência top cropped também marcou presença e é a cara do verão! A Vivaz optou por diferentes tipos de tecidos, como o crepe, georgete, devore de seda e o tule, que aparece em locais estratégicos, conferindo maior sensualidade ao look.

O luxuoso “logout” da Vivaz

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A estilista homenageou as mulheres em sua coleção 2014 intitulada “Preciosas”. Com referência nos anos 50, Patrícia desfilou um verão ao estilo ladylike muito característico da década e que reforça a delicadeza feminina. Vestidos românticos, com saias rodadas e cinturas bem-marcadas, predominaram na passarela.

Mas Patrícia também estampou o futuro nas suas peças. Ela mostrou uma coleção variada e contem-porânea, apostando em tecidos, como pítons,seda e chamois. O grande destaque ficou por conta do trabalho de tie-dye no couro presente em diversas peças. A coleção é uma bela aposta para a tempora-da. As peças recortadas a laser com desenhos de borboletas exalam feminilidade.

A cartela de cores brinca com essa ideia de que todas as mulheres são preciosas. Assim a coleção traz a turmalina paraíba, esmeralda, agatha e safira, além do metalizado em ouro rosé. Uma verdadeira joia!

E quem encerrou o desfile foi a top Fernanda Motta (que não é parente da estilista!), com um vestido tomara que caia de microfranjas douradas. Um luxo!

A coleção “Preciosa” de Patrícia Motta

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Quando pensamos em beber um vinho, várias perguntas nos vêm à mente: onde bebê-lo? Qual a temperatura ideal de armazenagem para o consumo? Como deixar o vinho no “ponto certo” para apreciá-lo? Se não consumir a gar-rafa inteira, como devo armazenar o restante para que não haja perda significativa de qua-lidade?

Esse exercício mental serve para observar-mos a importância dos acessórios no mundo do vinho. Costumo dizer que não existem regras para o consumo do vinho, mas sugestões. E es-sas sugestões são determinantes para extrair ao máximo a qualidade e o prazer de beber um vinho. Para facilitar na escolha dos acessórios, listei alguns deles:

Taças: de forma geral, as taças mais altas e bojudas são para os vinhos tintos. Para os brancos, o ideal são taças mais baixas e com o bojo menor. Já para os licorosos, tanto a taça quanto o bojo são menores do que os do branco. Por fim, para os espumantes, a taça ideal é comprida e fina.

Abridores: existem vários modelos no mercado. Muitos são futuristas e exóticos, servindo até como peça de decoração. Alguns são práticos, mas outros nem tanto na hora de abrir. Para não ter erro, os abridores de dois estágios são os mais indicados.

Adegas climatizadas: importante para a con-servação ideal dos vinhos. Se a sua coleção de vinhos tem uma média de R$ 200 por garrafa, vale a pena investir em equipamentos com boa performance de refrigeração. Se não for o caso,

as adegas com climatização eletrônica são sa-tisfatórias para a armazenagem das garrafas.

Decanter e aerador: indicados para vinhos de “guarda”, ou seja, vinhos de safras antigas. Normalmente esses vinhos são mais alcoólicos e suas qualidades estão “adormecidas” em gar-rafas. A função do Decanter é oxigenar o vi-nho, volatizando o álcool excessivo e despren-dendo os aromas e sabores ali guardados. Já a proposta do aerador é a mesma do Decanter, porém de forma mais rápida.

Bombas de extração de ar (vácuo) e tampas: são opções interessantes, mas não tão eficientes. O vinho pode ganhar uma sobrevida de até 48 horas (no caso da bomba de extração), mas a qualidade original não será mais a mesma.

salutaris • VINHOS

Acessórios: os amigos do vinho

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podium • ESPORTES

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Hora de decisãoA maior competição de futebol das Américas chega à fase decisiva, colocan-do grandes clubes frente a frente. Atlético e São Paulo e Corinthians e Boca

são destaques

Thiago Madureira

As oitavas de final da Copa Libertadores deste ano prometem muita emoção. Todos os seis clubes brasileiros avançaram. Um feito inédito. Provando a competitividade desta fase, dos 16 classificados, oito já levantaram a taça da competição.

O clássico entre Atlético e São Paulo e o confronto de gigantes entre Boca Juniors e Corinthians são os duelos mais esperados. Os outros brasileiros também não terão vida fácil. Bicampeão da América, o Grêmio enfrenta o segundo melhor time da primeira fase: o Independente Santa Fé (BOL). Em busca do título inédito, Fluminense pega o Emelec (EQU). Por sua vez, o Palmeiras encara o Tijuana (MEX), uma das sensações da primeira fase. Confira a prévia dos duelos pelas oitavas de final da Copa Libertadores:

atlético x são paulo

O Atlético foi dono da melhor campanha da primeira fase, conquistando 15 dos 18 pontos possíveis. Por outro lado, o São Paulo oscilou demais e só alcançou a classificação às oitavas com vitória sobre o próprio Atlético, por 2 a 0, na última partida. Mesmo colocando frente a frente o primeiro geral contra o último, o confronto é projetado como um dos mais equilibrados.

Apesar da irregularidade da primeira fase, o São Paulo tem tradição na competição. O tricolor é tricampeão e costuma crescer em momentos de decisão. O time sofreu com problemas de vestiário (desentendimento entre o técnico Ney Franco e alguns líderes da equipe, como o zagueiro Lúcio), mas superou as adversidades. Para o segundo jogo contra o Galo, no Independência, o time paulista conta com a volta do atacante Luis Fabiano.

O atacante pegou um gancho de quatro jogos, após ser expulso na partida contra o Arsenal, por ofensas ao árbitro.

O Atlético encantou a América com um futebol vistoso e eficiente. Ao lado do Olímpia, foi o time com melhor desempenho ofensivo: 16 gols. Com a chegada de Tardelli e outros reforços, Cuca teve peças para montar um time ainda mais competitivo. Como não poderia ser diferente, o destaque é o craque Ronaldinho Gaúcho, autor de três gols e de quatro assistências.

Bruno Cantini

O Atlético enfrenta o poderoso e experiente São Paulo. A força do ataque e da torcida são as apostas do alvinegro para avançar para a próxima fase .....................................................................................................................................

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podium • ESPORTES

Boca Juniors x corinthians

O Boca Juniors é um dos clubes mais tradicionais e vitoriosos da América. Com 30 títulos argentinos, seis da Copa Libertadores e três mundiais, o time xeneizes conquistou o respeito internacional. Contudo, não vive uma fase boa. O técnico Carlos Bianchi, que assumiu o comando no início do ano, ainda não conseguiu armar uma equipe equilibrada. Mesmo sem a confiança do histórico campeão de outrora, a camisa azul e ouro pode pesar no momento de decisão.

Atual campeão da Libertadores, o Corinthians segue com um time ajustado, assim como no ano passado. A diretoria manteve a base e foi ousada no mercado: trouxe Guerrero (ex-Hamburgo), Pato (ex-Milan) e Renato Augusto (Bayer Leverkusen). É dono da melhor defesa da competição, tendo sofrido apenas dois gols. O duelo colocará frente a frente os finalistas da última edição e dois dos clubes mais populares do continente. tiJuana x palmeiras

Desconhecido, o Tijuana surpreendeu. No grupo do Corinthians, o time mexicano alcançou o mesmo número de pontos dos brasileiros (13, ficou atrás no saldo de gols). Com autoridade, ainda bateu o Timão em casa, na cidade homônima que se localiza próximo a San Diego, na divisa entre o México e os Estados Unidos. A principal figura do Tijuana é o equatoriano Fidel. Ele é uma das promessas do time que estreia na competição internacional.

O ano não começou nada promissor para o Palmeiras, que perdeu o atacante Barcos, ídolo do clube. Embora a expectativa não fosse grande para a Libertadores, uma vez que o grande objetivo é voltar à primeira divisão do Campeonato Brasileiro, os comandados de Gilson Kleina fizeram o suficiente para se classificar. No mata-mata, o alviverde pode se valer da tradição e experiência internacional (são 15 participações na Copa Libertadores) para derrotar a boa equipe mexicana.

newell’s old Boys x Vélez

O clássico argentino entre Newell’s e Vélez será um dos enfrentamentos mais parelhos das oitavas. Em ambos

os times, destacam-se os treinadores. “O Vélez tem um trabalho muito consistente com o Gareca (treinador e ex-jogador). Já venceu três Campeonatos Argentinos desde 2009, quando assumiu o cargo. Já o Newell’s está em boas mãos. Martino assumiu ano passado, faz ótima campanha no Campeonato Argentino, na Copa da Argentina e vai bem na Libertadores. São grandes times, com comandantes à sua altura”, analisa Nahuel Trasmonte, jornalista do diário argentino Olé.

Conhecido por ser o maior time do interior da Argentina e o clube do coração do craque Messi, o Newell’s teve campanha irregular na fase de grupos. Max Rodrigues, Sccoco e Heinze são as principais peças do time que é um dos líderes do Campeonato Argentino. O clube de Rosário chegou em duas finais de Libertadores (1988 e 1992), mas não levou nenhuma.

Grêmio x independiente santa Fé

O Grêmio contratou um batalhão de jogadores para a disputa da Libertadores. Mesmo com tantas peças, Luxemburgo sofreu para montar o time. Muitos não renderam o esperado e, por isso, o Tricolor Gaúcho se classificou como segundo pior segundo colocado. Mas o bicampeão da Libertadores ainda pode crescer muito durante a competição.

Por sua vez, o Independiente Santa Fé, sem a mesma tradição internacional do Grêmio, busca o primeiro título fora de seus limites. A melhor campanha internacional foi um vice da Conmebol, em 1996.

real Garcilaso x nacional

Sem um título de expressão na sua galeria de troféus, o Real Garcilaso pode ser considerado uma das grandes surpresas das oitavas. O clube de Cusco foi fundado em 2009 e disputa a primeira Libertadores. “Acreditamos que o Garcilaso tenha cumprido seu objetivo, que era se colocar entre os melhores. Agora o nível da competição vai aumentado consideravelmente”, avalia o repórter Pablo Sanches, do El Diario del Cusco.

O Nacional quer reviver o passado. O clube tricampeão da Libertadores busca, na experiência de Recoba e Loko Abreu (mesmo muitas vezes na condição de reservas),

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podium • ESPORTES

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voltar a ser protagonista. O clube de Montevidéu é um dos mais tradicionais da América do Sul: participou da Libertadores em 40 oportunidades e foi campeão uruguaio 44 vezes.

olímpia x tiGre

Tricampeão da Libertadores, o Olímpia fez uma grande primeira fase. O único time paraguaio a se classificar venceu quatro vezes, empatou uma e perdeu outra. Com 37 participações na competição, tem como destaque o atacante Bareiro, com quatro gols, e Juan Salgueiro, com três gols e três assistências.

Já o Tigre é o atual vice-campeão da Copa Sul-Americana - perdeu a final para o São Paulo. Os argentinos fizeram campanha irregular na primeira fase e só se classificaram na partida final. Leguizamón, autor de dois gols, e Rubén

Botta, com quatro gols e duas assistências, são os jogadores mais perigosos.

emelec x Fluminense

O Emelec tem 22 participações na Libertadores, mas as semifinais de 1995 foi o mais longe que conseguiu chegar. Nesta edição, fez 10 pontos no grupo 4 e terminou em segundo, atrás do Vélez. Fez cinco gols e levou cinco.

Com a recuperação de Fred, Deco e Thiago Neves, o Fluminense é franco favorito no confronto. O atual campeão brasileiro liderou o Grupo 8, com 11 pontos. O Tricolor, no entanto, perde com a falta do Engenhão, estádio em que jogou nos últimos anos. Agora deve mandar seus jogos em São Januário.

Apesar de ter se classificado como um dos piores da primeira fase, o Grêmio deve surpreender com um forte elenco montado por Luxa .............................................................................................................................................................................................................................................................

Grêmio/ Flickr

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artiGo • PSICOLOGIA

maria anGélica FalciPsicóloga clínica e especialista em Sáude Mental

[email protected]

Espelho, espelho meuVivemos numa cultura lipofóbica (medo de engordar). Muitas pessoas estão desenvolvendo o que é chamado de dismorfofobia. Nesse distúrbio, o que o paciente pensa e sente a respeito de sua aparência não é compartilhado pela opinião geral. Ele não enxerga que é normal e tende a in-sistir na ideia de que é fisicamente disforme, inadequado. Assim ele re-siste fortemente a qualquer interven-ção ou elogio.

Esse distúrbio começa geralmente na adolescência à medida que ocorrem as mudanças corporais e emocionais. O deslocamento para a vida adulta precisa ser saudável para que a pes-soa não tenha esses sintomas que crescem assustadoramente.

É muito difícil tratar a dismorfofobia. O paciente resiste a aceitar que tem o problema. Em geral, ele usa a jus-tificativa de que é vaidoso e, numa fachada, passa a se considerar muito zeloso com a imagem. No entanto, o distúrbio é fonte de intenso sofrimento, angústia e solidão.

O tratamento é feito com psicoterapia longa e muito tra-balhosa. Muitas vezes é necessário o uso de medicamentos para tentar obter o ajuste dos sentimentos depressivos que acompanham o quadro.

O maior prejuízo é a autodepreciação. E o quadro pode evoluir para a autodestruição. De forma consciente ou não, a pessoa tende a criar riscos para si: ingere medicamen-tos por conta própria, passa por consecutivas intervenções

cirúrgicas, inicia uma malhação contínua e excessiva (vi-gorexia), desenvolve aversão total ao alimento (anorexia) ou elimina o alimento recém-ingerido na ideia de se sentir melhor fisicamente e em paz com o espelho (bulimia). Esses problemas geram até mesmo risco de morte.

Essa grave distorção que o paciente tem da própria imagem pode levar à falência dos contatos sociais, com sérios prejuízos familiares, profissio-nais e afetivos. O campo do prazer pode passar a inexistir, tornar-se uma obsessão até que a forma ou a aparência do corpo se torne comple-tamente “bizarra”.

A cultura lipofóbica contribui forte-mente para a distorção da imagem corporal. Gera gordos que se sentem magros e magros que se veem como gordos. A relação com o corpo pode ser considerada um dos maiores problemas atuais. “A baixa autoes-tima também é um grande fator de

risco para o desenvolvimento de uma vulnerabilidade para com os aspectos socioculturais” (Myers, 1998).

Observe o seu comportamento. Procure conversar a respeito e a compreender melhor os sintomas da dismorfofobia. Não deixe que esse desconforto se agrave em sua vida. Existe tratamento, e o sofri-mento pode ser amparado, quando aceito em sua raiz de desdobramento. O afeto envolvido nessas questões da autoimagem é relevante para que a pessoa consiga evoluir.

“A grave distorção que

o paciente tem da pró-

pria imagem pode levar

à falência dos contatos

sociais, com sérios

prejuízos familiares,

profissionais e afetivos”

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Talvez a expressão “experiência antropológica” seja mais adequada do que a palavra “viagem”, quando se trata de definir uma visita ao Reino do Marrocos. Por causa de sua localização geográfica – Norte da África, a apenas 14 quilômetros do ponto mais ao sul da Espanha e muito próximo dos Emirados Árabes –, o Marrocos é um país de misturas gastronômicas, linguísticas, culturais e religiosas.

É um país de extremos, onde se encontram a opulên-cia das mesquitas e dos palácios reais ao lado de arte-sãos e vendedores ambulantes. Tudo tem um detalhe que salta aos olhos: as pinturas nas mãos das mulhe-

res, os arabescos e as cúpulas das construções, os in-finitos panos coloridos pendurados por todos os lados ou os encantadores de serpentes. De fato, o Marrocos é cenário de filmes de fantasia. Causa a expectativa de encontrar um tapete voador ou uma lâmpada mágica a qualquer momento. Por lá não é possível fixar os olhos em apenas um detalhe. O país é figurativamente dividido em quatro cores: Marraquexe, a cidade ver-melha, capital do turismo; Casablanca, a cidade bran-ca, capital econômica; Fez, a cidade amarela, capital cultural e Rabat, a cidade laranja, capital política. As cores do Marrocos predominam em suas arquiteturas e nas capitais.

Para lá de MarraquexeDe encher os olhos e a boca, o Marrocos proporciona múltiplas experiências sensoriais.

As cores, os sabores e a fé do mundo árabe ficam a um “pulo” da Europa

HORIZONTES • TURISMO

Isabela Araújo

Lua Naia

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As aventuras turísticas geralmente começam em Marraquexe, que recebe cerca de 9 milhões de visitan-tes todos os anos. Na fachada do aeroporto, a escrita em berbere enche os olhos de quem desembarca por lá. Ao lado do francês e do espanhol, o berbere – de origem árabe – é uma das línguas oficiais do Marrocos.

Mesmo com toda a beleza, os índices de violência no Marrocos são muito altos. Os turistas estão entre as principais vítimas. As mulheres devem tomar al-guns cuidados especiais. Não é recomendável transitar sozinhas pelas cidades, nem iniciar uma conversa, caso alguém ofereça ajuda com malas ou informações locais. Pegar táxis, só se forem regularizados.

Uma questão importante para quem pretende conhecer terras marroquinas é o transporte. O meio de locomoção mais viável nas cidades são mesmo os táxis. Os grandes são veículos sedãs, mais espaçosos e, geralmente, com ar-condicionado. Já os pe-quenos, veículos hatch, são a me-lhor opção para quem quer eco-nomizar. Como nenhum deles usa taxímetro, o valor da corrida deve ser combinado sempre antes de entrar no veículo. Para transitar entre as cidades, a melhor opção são os trens. As estações são de fácil acesso nos centros urbanos e é possível comprar os bilhetes na hora e a preços acessíveis.

Toda movimentação no país exala história. O que acontece na Jemaa El-Fna é tradição há vários sé-culos. O espaço recebe estrangeiros desde as trocas comerciais de camelos das caravanas subsaarianas.

Próximo dali está o palácio Bahia, uma das edifi-cações mais impressionantes da cidade. Com uma construção que teve início em 1859, o local tem 8 mil metros quadrados entre jardins e pátios internos. Um balneário, uma horta, uma mesquita e inúmeras câmaras, salas e quartos adornados com detalhes dou-

rados, azulejos coloridos e pedras preciosas completam o cenário. Antiga posse do sultão Ahmed bem Moussa, o palácio passou a ser um bem do governo marroquino, após a morte de Moussa, em 1900.

Na capital turística há também o Jardim Majorelle, com um colorido intenso que segue fielmente a es-sência marroquina. O espaço abriga plantas das mais variadas espécies, ao lado de lagos e edificações no estilo Art Déco. Desenhado pelo pintor francês Jac-ques Majorelle, o local pertence ao estilista Yves Saint Laurent e está aberto ao público todos os dias.

Uma vez no Marrocos, é certo deixar se levar por cores, cheiros e sabores do país, principalmente quando o assunto é gastronomia. Com uma infini-dade de especiarias, pães, semen-tes, óleos e molhos, cada prato que se experimenta no local é uma diferente e agradável surpre-sa ao paladar. Em Marraquexe, a cabeça de cordeiro e a tangine de frango agradam até os gostos mais exigentes.

Para quem deseja conhecer mais profundamente os costu-mes e a vida do povo marro-quino, o ideal é pegar um trem em direção à Fez, a capital cul-tural. Com um fluxo de turistas

bem menos intenso do que o de Marraquexe, na cidade amarela é possível acompanhar de perto a produção de tecidos em tradicionais teares, a fabricação de pães em enormes fornos distribuí-dos pela cidade, a constante compra e venda de animais e o tingimento de peças de couro nos coloridos curtumes.

O ideal é se hospedar perto de uma das entradas da Medina – parte mais antiga das cidades do Mar-rocos, sempre cercada por muros. Assim o visi-tante evita deslocamentos com táxis e a passagem por locais desconhecidos. É importante lembrar que, nas cidades menores, a população é menos

“O Marrocos é um país

de extremos, onde se

encontram a opulência

das mesquitas e dos

palácios reais ao lado de

artesãos e vendedores

ambulantes”

HORIZONTES • TURISMO

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acostumada com turistas, o que exige alguns cui-dados para que não haja choques de culturas. Burca – usar ou não?

A religião predominante no país é o Islamismo. Em-bora não sejam fundamentalistas, recomenda-se que mulheres cubram os ombros e os pés e não usem de-cotes. No caso do uso de saias, é melhor que sejam pelo menos a um palmo abaixo dos joelhos. Quando em locais sagrados, como mesquitas e mausoléus, é preciso tirar os sapatos e recomenda-se que homens e mulheres cubram as cabeças com um pano, como sinal de respeito à religião local.

Nas cidades mais tradicionais não é comum que mulheres estejam nas ruas depois das 22h, mesmo não havendo proibição nesse sentido. Portanto, a melhor opção é encerrar as atividades antes desse horário e seguir para o hotel para reservar energias para o dia seguinte.

casaBlanca

As inúmeras facetas do país se revelam também na capital econômica, Casablanca. A cidade tem 6 milhões de habitantes e atrações que mesclam tradições milenares com uma moderna vida urba-na. Casablanca foi palco do clássico homônimo

do cinema interpretado por Humpfrey Bogart e Ingrid Bergman. A cidade oferece muitas opções para os turistas que não abrem mão da vida no-turna. Ao longo do litoral, bares, pubs e boates se alternam e são os locais mais agitados da noite em qualquer dia da semana.

Voltando-se para o aspecto tradicional, em Casa-blanca está a edificação mais expressiva do Marro-cos: a Mesquita Hassan II – o segundo maior tem-plo do mundo. O monumento só fica atrás de Meca.

Inaugurada em 1993, a mesquita foi um presen-te do povo marroquino e de alguns políticos ára-bes ao rei Hassan II. “Presente”, porque o custo de 5,494 milhões de dirhams marroquinos (cerca de meio milhão de euros) foi coberto por doações desses políticos e da própria população.

A mesquita é uma das poucas no mundo que abrem visitação ao público não muçulmano. Metade da cons-trução sobre o mar conta com as últimas tecnologias de resistência sísmica, teto que se abre automaticamen-te, assoalho aquecido, portas elétricas, estacionamen-to subterrâneo, escola de Alcorão, biblioteca, jardins, salas de conferência e casas de banho. Mais de 10 mil artesãos ajudaram na construção de Hassan II. Eles tra-balharam com mármore, granito, madeira, estuque e bronze na edificação.

HORIZONTES • TURISMO

O típico cucuz marroquino e os lenços e pachiminas de uma variedade inimaginável de cores..............................................................................................................................................................................................................................................................

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Lua Naia Lua Naia

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HORIZONTES • TURISMO

A magnitude do lugar retrata uma capacidade incrível do povo marroquino: criar e construir coisas extraordi-nariamente belas mesmo em meio a tantas dificuldades enfrentadas pela população.

Belezas naturais

O Marrocos também oferece paisagens deslumbrantes a seus visitantes, como era de esperar. É possível escolher entre praias, cachoeiras e desertos. A maioria dos ho-téis e dos pacotes turísticos para o país oferece passeios pelos destinos naturais. É importante que os visitantes não aceitem fazer as viagens oferecidas por comercian-tes ambulantes nem por desconhecidos. O recomendável é viajar sempre em grupo e acompanhado por um guia com experiência comprovada.

Os principais destinos naturais oferecidos são o deserto do Saara, cuja beleza dispensa descrições, com suas dunas de cerca de cinco quilômetros de largura e até 22 quilômetros de comprimento, e as cascatas de Ouzoud, com quedas d’água de mais de 100 metros e lagos que permitem mergulhos.

Depois de tudo isso, ir embora do Marrocos é se despedir de um mundo mágico, de paisagens incríveis, pratos com sabores que não se encontram em outro lugar, de cores que alegram até os dias mais cinzas, espalhadas por tecidos, es-culturas, enfeites, vitrais e azulejos e de pessoas simpáticas, acolhedoras e alegres. Em muitos aspectos, os marroqui-nos lembram o povo brasileiro. Voltar do Marrocos é levar na bagagem uma experiência intensa em todos os bons sentidos.

Rabat é a cidade laranja, sede política do Marrocos. Ela foi fundada em 1150 pelo sultão Abd al-Mu’min .............................................................................................................................................................................................................................................................

Wagner Okuda

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discreto charmeOriginária de Portugal, a azulejaria adquiriu características próprias no

Brasil. Complexo arquitetônico da Pampulha é considerado marco cultural

André Martins

Acostumada às pompas europeias, a Família Real portuguesa passou a se ver protagonista de em uma história de cenário caótico. Em 1808, o Rio de Janeiro era motivo de vergonha e escândalo. A cidade era feia, suja e de clima hostil. Não era de se “admirar” que animais e esgotos corressem livremente pelas ruas, dividindo-as com negros e brancos.

Cartas cruzavam o Atlântico e em pouquíssimo tempo começou a se espalhar pela Europa a “fama” da nova “casa” da Família Real portuguesa. Para reaver parte da dignidade da Coroa, a colônia passou por mudanças estruturais. O Rio de Janeiro, bem como outras cidades costeiras, ganhou condições sanitárias básicas e algumas construções

“O Adamastor” (1933), painel de Jorge Colaço, ilustra a saga dos navegadores portugueses no mar ameaçador e cheio de mistérios..............................................................................................................................................................................................................................................................

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kulTuR • dEcORAÇãO

que faziam lembrar as do Velho Continente. Nesse período, chega de Portugal um importante elemento de decoração muito tradicional nas terras de além--mar: o azulejo.

Com as peças, o objetivo ia além de simplesmente obter a beleza das construções e o frescor que o azulejo podia proporcionar, como bem descobriram os brasileiros. Não havia uma concepção artística estruturada por trás do hábito de revestir a fachada das casas. Mais que qualquer coisa, isso era considerado um dos maiores sinônimos de poder.

O período áureo da azulejaria no Brasil, entretanto, dura pouco. Com a implantação da República, a arte é condenada ao ostracismo. Havia um desejo de romper, em todos os aspectos, com os laços de dominação colonial. Então as cidades brasileiras passam a ser varridas por uma arquitetura e decoração que pinçava elementos de diversos movimentos artísticos.

Só na década de 40 que arquitetos como Oscar Niemeymer resgatam os azulejos em alguns projetos. É nesse momento que se estrutura uma azulejaria genuinamente brasileira e ocorre a integração entre a arte e a arquitetura. Os desenhos se tornam mais abstratos e geométricos. “Não era preciso contar mais uma história. O importante era essa integração”, revela o artista azulejar Alexandre Mancini.

A construção dos painéis do edifício Gustavo de Capanema, no Rio de Janeiro, é um marco para a azulejaria brasileira. Desenhados por Cândido Portinari e executados por Athos Bulcão, os painéis apresentam a “simplificação de composição” do artista brasileiro, como ressalta Mancini. Em seguida, Portinari realiza nova experiência em Belo Horizonte.

O painel da Igrejinha da Pampulha e o Edifício Niemeymer, com azulejos de Athos Bulcão, são os grandes representantes da técnica na capital mineira. No caso do Iate Clube, da Casa do Baile e do Museu da Pampulha, o mesmo tipo de azulejo utilizado foi o elemento responsável por conferir unidade ao complexo de arte.

história

A origem do azulejo data da Antiguidade e remonta à região do Império Bizantino. A palavra azulejo vem do árabe azzelij (pequena pedra polida). Os primeiros painéis pouco lembram a azulejaria contemporânea, parecendo-se mais com os mosaicos da cultura deco-rativa islâmica.

O azulejo chega à Europa por intermédio dos mouros – árabes que ocupam parte de Portugal e Espanha a partir do século VIII. Derrotados em guerras de recon-quista, grande parte deles é expulsa do continente, mi-grando para o norte africano. Os muçulmanos saem, os costumes, no entanto, permanecem enraizados.

As constantes trocas comerciais entre povos fazem confluir a azulejaria árabe e o porcelanato chinês e ibé-rico. A partir desse momento, instala-se na Espanha uma rudimentar “indústria” de peças de revestimento.

Em visita ao país vizinho, no ano de 1498, o rei por-tuguês D. Manuel I se impressionou com a azulejaria de cidades, como Sevilha e Saragoça. O interesse foi tamanho que o monarca fez a primeira encomenda de azulejos que entraria em Portugal por volta de 1503, vindo a adornar parte do Palácio Nacional de Sintra.

Em terras lusitanas, o azulejo se firma como uma for-ma de expressão artística. É também na Terrinha que as pequenas placas ganham padronização de tama-nho e se desvinculam do utilitarismo com que eram produzidas e empregadas na Espanha.

Grande parte das pinturas aplicadas nos azulejos por-tugueses representavam feitos heroicos em tons de amarelo e principalmente azul. Mais que uma arte, a azulejaria portuguesa cumpre função equivalente à dos livros que contam a história do primeiro estado nacional a se consolidar no mundo.

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Os esforços daquela geração de arquitetos, entretanto, não foram suficientes para que o azulejo conseguisse recobrar a importância histórica. Mesmo que não completamente esquecida em projetos arquitetônicos da década de 60 em diante, hoje é muito comum a azulejaria ser confundida ou associada de maneira simplista à indústria de materiais de revestimento.

“renascimento”

Na última década, Alexandre Mancini despontou como um dos brasileiros que tentam reerguer essa arte, evidenciando em seus projetos que a azulejaria está longe de ser o que se ouve por aí: “coisa de banheiro e cozinha”.

Há oito anos na área, Mancini é referência em azulejaria brasileira e tem obras espalhadas pelo Brasil e exterior. Os desenhos projetados por ele “conversam” com o Concretismo. Não há nada representativo e figurativo com os painéis portugueses. As cartelas são, na maioria das vezes, compostas por figuras geométricas que, unidas a cores marcantes, compõem ambientes de forma discreta e elegante.

“Eu gosto de pensar em uma arte que não pede muito para si. Ela está ali, mas não precisa ficar sendo vista todo dia. Ela integra um espaço e faz parte do ambiente. Às vezes eu vejo uma obra que é tão forte que você não enxerga o prédio nem a rua em que ela está”, explica.

A maioria do trabalho chega a Mancini por meio de arquitetos que, “numa troca de gentilezas”, cedem o espaço para que ele possa criar. Não é nada simples. O ofício exige inspiração e análise. “Às vezes o cliente gosta de um desenho meu e eu me recuso a fazer. Sou sincero. Digo que não vai ficar legal, que vai queimar a obra e o espaço”, revela. “Nunca pensei em desenhar ou criar um painel com a simples função de adorno. Eu sempre quis mostrar uma expressão plástica, um tipo de relação entre espectador e obra, que mexa de alguma forma com a percepção do público”, arremata.

Cada obra do artista é única. Quase todas obedecem à lógica modular proposta por Athos Bulcão – a maior referência de Mancini. Para cada projeto, ele usa até quatro azulejos diferentes que permitem montagens diversas a partir de regras simples.

O processo de gravação dos desenhos nas peças, que são compradas prontas, é semi-industrial. O próprio Alexandre é quem se ocupa de realizar esse trabalho em seu ateliê, na Pampulha. O processo é demorado. Depois da impressão de peça por peça, vem a fornada.

Por serem trabalhos únicos, feitos sob encomenda e, em algum grau, “manuais”, não se pode dizer que saiam baratos. O valor das obras é definido de acordo com algumas variáveis. O tamanho da área de aplicação é a principal delas.

O painel da Igrejinha da Pampulha é uma das primeiras obras em que podem ser observadas características da azulejaria brasileira ....................................................................................................................

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artiGo

Mudança de cronograma

O dia da Páscoa cristã, data-símbolo da ressurreição de Cristo, é o primeiro domingo depois da lua cheia que ocorre após o início da primavera no hemisfério Norte. Este ano, a estação das flores no território acima do Equador começou às 8h02 do dia 20 de março.

Sendo assim, a ressurreição de Cristo aconteceu no dia mais lindo do ano: num domingo de primavera e com lua cheia. A quarta-feira de cinzas acontece 46 dias antes da Páscoa, e o Corpus Christi, 60 dias depois. Essas festas da Igreja são chamadas “móveis”, porque dependem de eventos as-tronômicos. Como a primeira lua cheia pós-início de pri-mavera ocorreu no dia 27 de março, o domingo de Páscoa deste ano caiu no dia 31. Em 2014, a Páscoa será no dia 20 de abril, e o Corpus Christi, no dia 19 de junho.

Como a Páscoa é uma data marcada em função dos mo-vimentos da Terra e da Lua e que foi pensada em função dos povos do hemisfério Norte, deixo aqui a sugestão para o Papa Francisco I – primeiro papa do hemisfério Sul – de ajudar a economia dos países em desenvolvimento, como o Brasil. Por exemplo: neste ano, a primavera no hemisfério Sul vai começar no dia 22 de setembro e a primeira lua cheia será no dia 19 de setembro. Então, por aqui, o do-mingo de Páscoa deveria acontecer no dia 22 de setembro.

Isto parece ser desnecessário, mas vale lembrar que as coisas no Brasil só começam depois do carnaval. Se a festa acontecesse nos meses de agosto e setembro, os empresários, governos e os próprios trabalhadores iriam agradecer muito essa mudança de data. As férias dos

trabalhadores normalmente são marcadas entre as festas de Natal e o mês de janeiro. Com o carnaval aconte-cendo em fevereiro, muitos deixam de viajar ou acabam gastando o que não podem e acumulando dívidas para o ano.

Fica a dica para o novo papa: mudança de data não é nenhum pecado. Caso haja muita dificuldade de mu-dança por causa da resistência dos irmãos do hemisfério Norte, o pontífice poderia, pelo menos, permitir que nós, do hemisfério Sul, comemoremos a ressurreição na data astronomicamente mais correta.

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Professor da PUC [email protected]

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O talentoso compositor e cantor Nando Reis vem a Belo Horizonte para a comemoração dos dez anos da churrascaria Boi Lourdes. Nando é responsável pela composição de diversas músicas que se consagraram na voz de Cássia Eller, do Skank, Jota Quest e Cidade Negra. A festa de aniversário da Boi Lourdes é open bar e acontece no Mix Garden. Os ingressos estão sendo vendidos em vários pontos da cidade. O valor do segundo lote é de R$ 130,00 o ingresso feminino e de R$ 150,00 o masculino.

Local: Mix GardenData: 30 de abrilOutras informações no site mixgarden.com.brNando Reis

O espetáculo Corteo, da companhia circence mais famosa do globo, o Cirque du Soleil, desembarcou no fim de março em terras brasileiras. Visto por quase 7 milhões de pessoas em todo o mundo, o show é um desfile alegre e festivo idealizado por um palhaço sonhador. Corteo está em cartaz em São Paulo e passa por mais cinco capitais brasileiras até a metade de 2014. Os ingressos de Brasília já estão sendo vendidos, embora o local do evento ainda não tenha sido definido. A companhia deve se apresentar na capital mineira em setembro. cirque du Soleil

A diversão da molecada está garantida em maio. O Disney on Ice traz mais de 50 personagens Disney, entre os clássicos e os contemporâneos, em um divertido show sobre o gelo. Surpresas a perder de vista, figurinos vibrantes e alegres e números de patinação que prometem impressionar toda a família poderão ser vivenciados na curta temporada, no Rio de Janeiro. Depois, o show segue para São Paulo, onde acontece entre os dias 16 e 26 de maio, no Ginásio do Ibirapuera.

Local: Ginásio do MaracanãzinhoPeríodo: 9 a 12 de maioOutras informações no site t4f.com.br

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Divulgação/ Nando Reis

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Não é à toa que o Brasil Sabor detém o posto de maior festival gastronômico do planeta. O evento acontece nos 26 estados brasileiros e no Distrito Federal. Em Minas Gerais, 20 cidades participam do festival. A gigantesca dimensão territorial do Brasil é simbolizada nos diferentes pratos elaborados com ingredientes peculiares de cada região. No site do festival é possível consultar a lista de participantes e os horários de funcionamento dos estabelecimentos. A realização do Brasil Sabor é da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel).

Local: bares e restaurantes de Belo HorizontePeríodo: 2 a 19 de maioOutras informações no site brasilsabor.com.br

Dono de uma voz singular e de um corpo que sempre funcionou como um instrumento de quebra de paradigmas, Ney Matogrosso se apresenta no Grande Teatro do Palácio das Artes entre os dias 10 e 12 de maio. O show Atento aos Sinais marca os 40 anos de carreira de um dos mais importantes, inventivos e referenciais cantores brasileiros, confluindo canções clássicas e contemporâneas. O repertório de Matogrosso inclui músicas de Paulinho da Viola, Caetano Veloso, Itamar Assumpção, entre outros. Os ingressos variam de R$ 80,00 a R$ 200,00 (inteira).

Local: Grande Teatro do Palácio das ArtesPeríodo: 10 a 12 de maioOutras informações no site palaciodasartes.com.br

Divulgação/ Brasil Sabor

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diagnóstico: Síndrome do Menor Esforço

crÔnica

Joanita GontiJoJornalista e autora do blog tresoumais.blogspot.com

[email protected]

Estava com alguns amigos no bar, quando ouvi a piada contada na mesa ao lado:

- Antigamente, na sala de parto, os médicos perguntavam para as mães que acabavam de ter um bebê: “- Ele já tem pediatra?”. Agora a pergunta é outra: “- E então: seu filho já tem um psiquiatra?”

Todos caíram na gargalhada. Eu, que não tinha bebido a ponto de achar tanta graça, fui para casa pensando sobre o assunto. Havia boas doses de realidade naquela história. A humanidade está doente da alma.

Que fatos produziram essa geração de corações deprimidos, atormentados e inquietos? Aumento da poluição? Consumo generalizado de alimentos com agrotóxicos? Hábitos tecnológicos cada vez mais absorventes? Escassez de tempo?... Não acredito nas explicações científicas para esse fenômeno. Ouso afirmar que a insanidade coletiva tem muito a ver com as enormes divergências entre como fomos educados e a forma como criamos nossos filhos.

Sobram exemplos dessa disparidade. E antes que alguém me crucifique, vou logo avisando que não estou generalizando. Vou confessar meus pecados de mãe para elucidar os fatos. Quando eu era criança, meus pais até me ajudavam a fazer pesquisas e trabalhos escolares mais elaborados. Mas eles não se dispunham a me pegar pela mão e insistir uma dúzia de vezes para que eu cumprisse o horário estabelecido para as tarefas de casa. Pois eu protagonizo essa cena quase todos os dias e conheço uma “penca” de crianças que tomam

remédios de tarja preta para tratar a indisciplina, diagnosticada como Distúrbio de Déficit de Atenção

Ainda na minha infância, certa vez cheguei em casa com alguns arranhões. Eu tinha brigado com uma colega que sempre fazia chacota e arranjava apelidos inspirados na minha pouca altura. Uma conversa franca, abraços apertados e elogios foram a estratégia dos meus pais para me fazer sorrir novamente e encarar o dia seguinte na escola. Numa situação parecida passada com meu filho, eu me descabelei preocupada com a possibilidade de os insultos abalarem a autoestima dele. Cheguei a ir à escola reclamar do “pequeno delinquente” que ameaçava “meu anjo”.

Uma paixão não correspondida e o fracasso no primeiro vestibular me fizeram chorar muitos dias sem sair do quarto. Não cumpria os compromissos sociais nem os deveres de estudante. Meus pais não pensaram em depressão... Mas quando aconteceu com um dos meus filhos, rotulei de doença. Eu poderia ter interpretado o problema como “falta de compromisso”.

É natural a gente proteger nossas crias das tristezas, frustrações e daqueles rigores que desgastaram nossa autoconfiança. Por isso, deixamos de impor limites, relevamos, facilitamos e... erramos! Nossos filhos estão doentes, sim, mas o diagnóstico mais provável é a Síndrome do Menor Esforço. Em longo prazo, essa enfermidade produz adultos inseguros, infelizes e até arrogantes. Tem tratamento, mas dá muito mais trabalho do que ir à farmácia comprar remédios.

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