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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE ESCOLA DE ENGENHARIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO LABORATÓRIO DE TECNOLOGIA, GESTÃO DE NEGÓCIOS E MEIO AMBIENTE MESTRADO EM SISTEMAS DE GESTÃO WAGNER DE ARAUJO REZENDE IDENTIFICANDO PADRÕES DE COMPROMETIMENTO DO PROFISSIONAL EM SITUAÇÃO DE CRISE ECONÔMICA DO MERCADO BRASILEIRO: ESTUDO DE CASO DE UMA EMPRESA DE VAREJO NO ESTADO DO RJ Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Sistemas de Gestão da Universidade Federal Fluminense como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre em Sistemas de Gestão. Área de Concentração: Organizações e Estratégia. Linha de Pesquisa: Gestão Estratégica de Pessoas. Orientadora: Profª Denise Medeiros Ribeiro Salles, D.Sc. Niterói 2016

WAGNER DE ARAUJO REZENDE IDENTIFICANDO PADRÕES DE ... Wagner de Araujo... · situação de crise econômica do mercado brasileiro: estudo de caso de uma empresa de varejo no estado

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

ESCOLA DE ENGENHARIA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO

LABORATÓRIO DE TECNOLOGIA, GESTÃO DE NEGÓCIOS E MEIO AMBIENTE

MESTRADO EM SISTEMAS DE GESTÃO

WAGNER DE ARAUJO REZENDE

IDENTIFICANDO PADRÕES DE COMPROMETIMENTO DO PROFISSIONAL EM

SITUAÇÃO DE CRISE ECONÔMICA DO MERCADO BRASILEIRO: ESTUDO DE

CASO DE UMA EMPRESA DE VAREJO NO ESTADO DO RJ

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em

Sistemas de Gestão da Universidade Federal

Fluminense como requisito parcial para obtenção do

Grau de Mestre em Sistemas de Gestão. Área de

Concentração: Organizações e Estratégia. Linha de

Pesquisa: Gestão Estratégica de Pessoas.

Orientadora:

Profª Denise Medeiros Ribeiro Salles, D.Sc.

Niterói

2016

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Ficha Catalográfica

R 467 Rezende, Wagner de Araújo.

Identificando padrões de comprometimento do profissional em situação de crise econômica do mercado brasileiro: estudo de caso de uma empresa de varejo no estado do Rio de Janeiro / Wagner de Araújo Rezende – 2016.

88 f.

Orientadora: Denise Medeiros Ribeiro Salles. Dissertação (Mestrado em Sistema de Gestão) – Universidade

Federal Fluminense. Escola de Engenharia, 2016. Bibliografia: f. 82-86.

1. Gestão de pessoas. 2. Crise econômica. 3. Empresa varejista. 4.

Comprometimento organizacional. I. Título.

CDD 658.3

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DEDICATÓRIA

À minha avó, eterna amada e cuidadora que é parte constituinte do que me tornei e

estaria orgulhosa de mais uma etapa concluída em minha vida. Saudades eternas.

Aos amigos da vida que me possibilitaram encontros e aprendizados necessários à

experiência que acumulei até hoje, me possibilitando a compreensão de vida e trabalho que

possuo.

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AGRADECIMENTOS

À minha orientadora Denise Medeiros Ribeiro Salles, pela inspiração ao tema, pelo

impulso nos momentos necessários, pelo compartilhar e por todo o apoio durante a orientação.

Ao meu irmão William de Araujo Rezende, por todo o companheirismo de vida,

inclusive durante a dissertação.

Ao meu irmão Daniel Araujo Lemos, a quem me aproximei e, também, quem

compartilhou deste momento da pesquisa.

Aos amigos do Mestrado em Sistemas de Gestão, que fizeram parte desse caminhar e

em especial ao Saulo Santos com quem muito aprendi.

A todos os professores do Mestrado em Sistema de Gestão, que contribuíram por todo

o aprendizado.

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RESUMO

Esta dissertação aborda o comprometimento organizacional em um contexto de crise

econômica atravessada no Brasil. Buscou-se compreender quais os padrões de

comprometimento e níveis de engajamento apresentam os funcionários de uma empresa em

situações de incerteza da manutenção dos próprios vínculos empregatícios em função das

mudanças estruturais e de redução do quadro de pessoal realizadas, internamente, como

decorrência do contexto econômico externo. A pesquisa é caracterizada como um estudo de

caso em uma empresa de varejo de grande porte com sede no Estado do Rio de Janeiro,

objetivando compreender o reconhecimento da instabilidade econômica vivida pelo país; os

reflexos dela sobre as organizações e ameaça aos contratos de trabalho; e, em relação a essa

controvérsia, busca compreender como estão comprometidos seus empregados na visão dos

gestores perante a perspectiva de superação do momento e com os objetivos de negócio.

Também foi possível mapear os fatores de retenção profissional mesmo em ambientes

complexos e o tipo de comprometimento que se destaca nessas circunstâncias. Quanto ao

meio de investigação, além da pesquisa bibliográfica e documental, foi realizada uma

pesquisa de campo, baseada na metodologia do estudo de caso único. Em loco foi possível

compreender as ações de engajamento realizadas pela organização estudada, os resultados da

pesquisa de engajamento realizada com todos os funcionários e, também, foram realizadas

entrevistas com executivos numa amostra de dez gestores das áreas de backoffice e da

atividade fim, operações de loja. As respostas foram analisadas qualitativamente, sendo

criados distintos sistemas de categorização do conteúdo das informações. Os principais

resultados demonstraram o reconhecimento dos executivos quanto ao momento de crise

econômica vivido pelo país e o quanto esse contexto impacta nas ações de redução de

despesas por parte da empresa; a percepção destes acerca do comprometimento de suas

equipes; o que o atual momento exigiu dos gestores e os fatores que os levam a

permanecerem comprometidos na organização mesmo em momentos de instabilidade.

Palavras-chave: comprometimento, engajamento, crise econômica, retenção, gestão de

pessoas.

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ABSTRACT

This dissertation talks about the organizational commitment in a context of economics crisis

in course in Brazil. Tring to understand what kind of standard commitment and engagement

levels are demonstrated by employees of a company in uncertain situations including the

maintenance of their employment contract due to the structure changes and downsizing

actions implemented internally due to the external economic context. The research considered

a case of study in a big size retail company with it’s headquarter in Rio de Janeiro State

aiming to understand if they realize the economic instability current in place in the country

and reflected as a threat to their labor contracts. In this way understand how committed are the

employees in surpass this moment and how committed they are with the business. Was also

possible assess the retaining professional factors even though complex circumstances and the

type of commitment most evident in this kind of circumstance. Regarding the investigation

methods in additional to the bibliographic and documental research a survey in the field based

in the unique case of study was implemented. Was possible to understand in locus the

engagement actions implemented by the studied organization, the results of the engagement

survey administrated to all employees and was also implemented interviews with ten

executives of the backoffice and operations departments. The answers were qualitative

analyzed and different categories were created of the contents information. The main results

showed the awareness of the executives regarding the current moment of economics crisis

faced by the country and how this context impacts in actions of cost reduction by the

company; their perception about their team commitment; what this moment required about

themselves; and the retaining factors that make themselves committed with the organization

even in instable circumstance.

Key-words: commitment, engagement, economics crisis, retaining, people management.

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Contexto econômico-financeiro ...........................................................................................62

Gráfico 2 - Reflexos do contexto externo na organização .................................................................... 63

Gráfico 3 – Mudanças por motivações internas .................................................................................... 64

Gráfico 4 – Ações de engajamento ........................................................................................................ 65

Gráfico 5 – Insegurança em relação ao vínculo empregatício .............................................................. 66

Gráfico 6 – Exigências do novo contexto ..............................................................................................67

Gráfico 7 – Categorias de retenção ....................................................................................................... 68

Gráfico 8 – Fatores inerentes à empresa ............................................................................................... 69

Gráfico 9 – Fatores inerentes ao gestor ..................................................................................................70

Gráfico 10 – Fatores inerentes ao negócio .............................................................................................70

Gráfico 11 – Percepção sobre o comprometimento da equipe .............................................................. 71

Gráfico 12 – Percepção sobre o comprometimento da equipe: gestores de operações de loja .............. 72

Gráfico 13 – Percepção sobre comprometimento da equipe: gestores de backoffice ............................ 72

Gráfico 14 – Tipos de comprometimento ...............................................................................................73

Gráfico 15 – Tipos de comprometimento: gestores de operações de loja ............................................. 77

Gráfico 16 – Tipos de comprometimento: percepção de gestores de backoffice .................................. 77

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Demonstrativo dos sujeitos da pesquisa ...............................................................................38

Tabela 2 – Roteiro de questões para entrevista. .....................................................................................39

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1– Abordagens conceituais e respectivas fontes teóricas sobre o comprometimento

organizacional. .......................................................................................................................................30

Figura 2 – Conceitos de engajamento: diferença entre satisfeito e engajado .........................................47

Figura 3 – Escala de engajamento ..........................................................................................................48

Figura 4 – Resultados gerais de engajamento ........................................................................................49

Figura 5 – Resultado geral da empresa no Brasil ...................................................................................50

Figura 6 – Resultados das questões sobre engajamento .........................................................................50

Figura 7 – Drivers de engajamento ........................................................................................................51

Figura 8 – Driver empowerment ............................................................................................................52

Figura 9 – Driver cultura ........................................................................................................................53

Figura 10 – Driver company potential ...................................................................................................54

Figura 11 – Driver learning and development ........................................................................................55

Figura 12 – Driver coworkers relationships ...........................................................................................56

Figura 13 – Driver Compensation and benefits ......................................................................................56

Figura 14 – Drive Relacionamento com a gerência ...............................................................................57

Figura 15 – Drive department relationship.............................................................................................58

Figura 16 – Driver working environment...............................................................................................59

Figura 17 – Drive Work life balance ......................................................................................................60

Figura 18 – Resultados Brasil por localidade .........................................................................................61

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LISTA DE SIGLAS

GRH Gestão de Recursos Humanos

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

OCG Organizational Commitment Questionnaire

PIB Produto Interno Bruto

PLR Participação nos Lucros e Resultados

RH Recursos Humanos

RJ Rio de Janeiro

SWOT Strengths, Weakness, Opportunities, Threats

TI Tecnologia da Informação

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SUMÁRIO

CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO ............................................................................................. 11

1.1 Contextualização do tema ........................................................................................................... 11

1.2 – SITUAÇÃO PROBLEMA .............................................................................................................. 13

1.3 – OBJETIVOS ................................................................................................................................ 14

1.3.1 Objetivo geral ....................................................................................................................... 14

1.3.2 Objetivos específicos ............................................................................................................ 14

1.4 – DELIMITAÇÃO DA PESQUISA ..................................................................................................... 14

1.5 – RELEVÂNCIA DA PESQUISA ....................................................................................................... 15

1.6. ESTRUTURA DO ESTUDO ............................................................................................................ 16

Capítulo 2 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ....................................................................... 18

2.1 A RELEVÂNCIA DO CAPITAL HUMANO NAS ORGANIZAÇÕES MODERNAS .................................. 18

2.2 O PAPEL ESTRATÉGICO DA GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS ................................................... 19

2.3 A CRISE DE PRODUTIVIDADE NO BRASIL E O DESEMPENHO DO SEGMENTO DO COMÉRCIO .... 23

2.4 O CONTEXTO DE MUDANÇAS NAS ORGANIZAÇÕES E SUA RELAÇÃO COM OS INDIVÍDUOS ...... 25

2.5 O Comprometimento Organizacional .......................................................................................... 28

2.5.1 Visões unidimensionais do comprometimento ................................................................... 31

2.5.2 Visão Multidimensional do comprometimento ................................................................... 32

CAPÍTULO 3 – METODOLOGIA .......................................................................................... 37

3.1 CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA ...................................................................................................... 37

3.2 UNIVERSO E SUJEITOS DA PESQUISA ........................................................................................... 38

3.3 COLETA DE DADOS ....................................................................................................................... 39

3.4 ANÁLISE E TRATAMENTO DOS DADOS ......................................................................................... 41

3.5 LIMITAÇÕES DO MÉTODO ........................................................................................................... 42

CAPÍTULO 4 – O ESTUDO DE CASO .................................................................................. 43

4.1 A EMPRESA .................................................................................................................................. 43

4.2 AÇÕES DA GRH DA EMPRESA VOLTADAS AO COMPROMETIMENTO E ENGAJAMENTO ............. 45

4.2.1 a pesquisa de engajamento ...................................................................................................... 46

CAPÍTULO 5 - ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ......................................... 62

CAPÍTULO 6 – CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES PARA PESQUISAS FUTURAS. 78

REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 82

APÊNDICE .............................................................................................................................. 87

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CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO

1.1 Contextualização do tema

A globalização e o neoliberalismo alteraram, bruscamente, o espaço competitivo das

empresas como afirma Martins (2011), exigindo das organizações visão global e um

planejamento estratégico que possibilite sua lucratividade, crescimento e sobrevivência no

mercado. Com efeito, desde o século XX e, ainda, acirradamente, no século XXI, ocorreram

bruscas transformações, em que grandes empresas nacionais e multinacionais desapareceram,

outras surgiram e se destacaram no mercado em pouco tempo; isto como consequência das

estratégias adotadas por muitas organizações a partir das crises econômicas que se

disseminaram, visto que assumiram operações de fusões e aquisições e, por vezes, join

ventures1como forma de permanecerem competitivas no mercado. De alguma maneira, as

empresas precisaram, rapidamente, se ajustarem para garantirem seu posicionamento. Como

destaca Neri (2005, p.14), “dentro das empresas já não se teorizava sobre o assunto: ou faziam

a mudança ou as concorrentes acabavam fazendo a mudança por ela.”

Nesse contexto, pode-se afirmar que a pós-modernidade é marcada por um cenário de

incertezas. Segundo Vieira (2007, p.34), “a modernidade global é um cenário novo de

transitividade eloquente, e provavelmente assim se manterá por longo tempo. É o pós à

modernidade anterior, fixando uma configuração de incertezas.”

Ainda nessa perspectiva, é importante ressaltar que a Era do Conhecimento trouxe as

pessoas ao protagonismo dos resultados organizacionais, pois “a aplicação do conhecimento

ao trabalho levou a um aumento explosivo da produtividade” (Drucker 2002 p. 26) e, por isso,

elas se tornaram fator-chave e condicional para as organizações e, portanto, elemento

fundamental para a competitividade nesse contexto neoliberal.

Os limites e as repercussões para a produtividade se evidenciaram com a imposição

dos atuais regimes de acumulação, que consomem os componentes subjetivos da

força de trabalho e conferem ao trabalhador o papel de inovador, controlador da

qualidade e dos desperdícios (MARTINS, 2011, p. 136).

1As Join in ventures e outras formas de aliança entre fronteiras são, hoje em dia, instrumentos importantes e

comumente usados para o crescimento. As empresas realizam estas operações por muitas razões. Algumas são

criadas para cortar custos de entrada, outras para eliminar os de saída. Às vezes são estabelecidas com o

objetivo de alavancar oportunidade ou de adquirir conhecimento. Algumas alianças enfocam as economias de

escala, outras as economias de objetivos. (TANURE, 2007, p. 52).

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12

As organizações se deparam, então, com o novo paradigma: realinharem2 a área de

Recursos Humanos ao nível estratégico para que esta possa revisitar suas políticas e práticas

visando um modelo de gestão com pessoas engajadas com os objetivos organizacionais para

que atinjam os resultados e estes traduzam o nível de excelência e competitividade esperados,

gerando valor interno, para os clientes e acionistas. De acordo com Ulrich (1998),

an organization displays the capability of strategic clarity when its strategy focused

on both short and long term goals, creates meaning for those both inside and outside

the company, translates into effective organizational practices, shapes employee

behaviors, and differentiates the firm to customers and investors (p.10).

Sob essa clave de Ulrich, torna-se necessário ao RH tangibilizar a gestão de objetivos

de modo que cada colaborador entenda seu papel na estratégia da empresa e como ele

contribui para os resultados dela. Em contrapartida, espera-se dos funcionários

comprometimento em suas funções e responsabilização pelos seus resultados.

Esse entendimento é reafirmado por Knapik (2008) que ressalta que as pessoas são os

alicerces das organizações por utilizarem suas habilidades, capacidades, conhecimentos e

experiências para alcançarem os resultados organizacionais.

Percebe-se, portanto, que tanto os objetivos estratégicos, quanto a contribuição das

pessoas para atingi-los com base em ações práticas que geram os resultados organizacionais

são temas centrais para as empresas dos tempos atuais.

Isto se deve ao fato de atravessarmos um período de neocolonização na gestão de

pessoas que parte dos seguintes pressupostos: a crença no livre mercado; a visão das pessoas

como empresárias de si mesmas; o entendimento da gestão como meio para a excelência

individual e melhoria coletiva; a utilização de símbolos relacionado ao management tais como

inovação e excelência; e a convicção de que os conhecimentos de gestão permitem a

otimização de processos (WOOD, 2011).

O novo paradigma da gestão de pessoas parte da necessidade das empresas se

tornarem mais competitivas e, para isso, precisam de um planejamento estratégico bem

definido e um modelo de gestão de pessoas coerente com o mesmo, capaz de traduzir os

objetivos em metas e ações práticas disseminadas em toda a empresa. É preciso buscar coesão

interna coletiva e individual para que todos entendam seu papel dentro da organização e como

ele está alinhado aos objetivos de negócio.

Ocorre que a fórmula não é tão simples, pois o cenário é turbulento. Isto porque as

organizações, cada vez mais pressionadas por intensas mudanças em escala mundial,

2 Tanure (2007) utiliza o termo realinhamento sob uma perspectiva teórica que sustenta a função da área de

recursos humanos como parceiro de mudanças, ou seja, adequando a teoria da contingência entre uma

organização e seu ambiente competitivo.

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encontram-se em um processo de transformação e revisão de sua estrutura, de suas formas de

organização do trabalho e, em especial, das formas de gerenciar as relações sociais em seu

interior, como aponta Bastos (2002).

Para além disso, ações de reestruturação e redução de custos, que impactam na ameaça

aos empregos, são acirradas em situações de crise econômica de mercado, uma vez que as

organizações precisam tomar medidas imediatas para se ajustarem ao contexto opressor do

paradigma econômico.

Desde o fim de 2014, o Brasil vem sofrendo efeitos práticos que sinalizam uma crise

econômica. Sejam decorrentes da crise mundial iniciada em 2008, sejam por motivos da

conjuntura interna político-econômica. Tal fato é constatado no elevado desemprego vivido

pelo país, na redução do consumo e na perda de faturamento das organizações. Os índices que

sustentam tal reconhecimento são apresentados no item 2.3.

É à luz desse cenário que se pretende discutir o valor do capital humano para as

organizações e como os funcionários estão comprometidos de modo a contribuírem para a

superação da crise em sua organização, consequente dos fatores externos da crise econômica,

com o engajamento necessário.

1.2 – SITUAÇÃO PROBLEMA

Mas sob uma perspetiva de incertezas de seus próprios empregos em função da crise

econômica, como estão, efetivamente, comprometidos os profissionais com os objetivos e

resultados da empresa? Qual o tipo de comprometimento se destaca em situações de

incertezas como esta?

Tais questões revelam-se atuais e relevantes e é na tentativa de responder a essas que

este estudo pretende contribuir com as práticas de Recursos Humanos, para que elas possam

promover e incentivar, e, principalmente, compreender o comprometimento interno,

objetivando impulsionar a competitividade organizacional por meio das pessoas.

Pretende-se investigar, em situações de crise, que tipo de comprometimento se destaca

e os fatores que o levam a tal demonstração nas empresas à luz das teorias de Meyer e Allen;

Mowday, Steers e Porter, Rego e Bastos.

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14

1.3 – OBJETIVOS

1.3.1 Objetivo geral

Identificar como se manifesta o comprometimento dos empregados em cargos

executivos e suas percepções acerca do engajamento de suas equipes em uma empresa do

setor de varejo, em circunstância na qual os vínculos empregatícios estão ameaçados pela

instabilidade organizacional decorrente da atual crise econômica no Brasil.

1.3.2 Objetivos específicos

Os objetivos específicos visam orientar o atendimento ao objetivo geral e foram

definidos como:

analisar a compreensão dos sujeitos da pesquisa sobre a existência de uma crise

econômica atualmente em curso no Brasil;

identificar se, para os executivos, a atual crise econômica ameaça seus vínculos

empregatícios;

explicar como se comprometem e se engajam seus funcionários com os objetivos

organizacionais em momentos de incerteza;

mapear os fatores que levam os profissionais ao engajamento com a organização, mesmo

em condições adversas;

verificar qual tipo de comprometimento prevalece em situações de crise, com base nas

teorias de Meyer, Allen, Steers, Porter, Rego e Bastos.

1.4 – DELIMITAÇÃO DA PESQUISA

A presente pesquisa se deu por meio de estudo de caso único de uma empresa de

grande porte do ramo de varejo no estado do Rio de Janeiro. Realizou-se uma pesquisa

qualitativa, por meio de análise e interpretação do contexto no qual se desenrola o fenômeno

estudado, bem como das entrevistas realizadas com os gestores.

A escolha da empresa do estudo de caso único se deu pelo interesse do pesquisador em

aprofundar o tema na organização em que trabalha sob a óptica acadêmica complementando a

vivência corporativa.

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15

No tocante à delimitação teórica, poderiam ser estudadas, também, a satisfação e a

motivação dos funcionários em ambientes de incerteza, mas o objeto de estudo foi delimitado

ao comprometimento e engajamento à luz das teorias de Meyer e Allen; Mowday, Steers e

Porter, Rego e Bastos.

1.5 – RELEVÂNCIA DA PESQUISA

Empresas já incorporaram, em suas práticas, os fundamentos da Gestão de Recursos

Humanos, em especial um modelo de RH parceiro estratégico (EVANS, PUCIK, TANURE,

2007). No entanto, mesmo com uma atuação estratégica da GRH, percebe-se que, em

situações de crise ou instabilidade, é possível identificar num mesmo contexto organizacional,

diferentes níveis de contribuição dos funcionários. É possível reconhecer aqueles,

efetivamente, comprometidos e engajados frente ao momento de crise e aqueles que agem

com menor comprometimento, com isenção, apatia ou sem o senso de urgência que o

momento de instabilidade, nova ordem, exige.

Tais aspectos tornam-se relevantes uma vez que cada profissional exerce um papel

fundamental para o desempenho da organização, e, portanto, ratifica-se o entendimento de

que pessoas comprometidas e focadas em resultados são a engrenagem para a superação do

momento de crise a partir do atingimento dos resultados organizacionais (KNAPIK, 2008).

Mas é preciso considerar que, da mesma maneira, que as empresas requerem

profissionais comprometidos, em circunstâncias de crise, ela adota ações duras como a

redução de seu quadro de funcionários, o que acaba por gerar mais incertezas e receio por

parte das pessoas, as mesmas que uma vez comprometidas representam o alicerce para o

atingimento dos objetivos de negócio.

Os paradoxos desse processo sugerem, assim, que elevado comprometimento não é

um subproduto natural dos novos modelos organizacionais. Há forças que atuam

para fragilizá-lo pela diminuição da segurança, pela redução de perspectivas de

crescimento e pela transitoriedade de vínculos empregatícios. (BASTOS, 2002, p.

32).

Pretende-se, portanto, compreender os aspectos relacionados ao comprometimento

demonstrado por aqueles que, em situações de crise, ratificam seu engajamento e,

efetivamente, colaboram para a superação da situação-problema. Mesmo que o ambiente

organizacional demonstre evidências claras de instabilidade, seja por uma ação de reestrutura,

revisão da força de trabalho, processos e pessoas, ou seja, diminuindo o nível de segurança

dos profissionais, é possível identificar elevado comprometimento em parte das equipes.

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Apesar do vasto material acadêmico sobre comprometimento, alguns contextualizados

em contextos de mudança (Bastos e Borges-Andrade, 2002; Hercovitch e Meyer, 2002; Fedor,

Caldwell e Herold, 2006; Elias, 2009; Nafei, 2014), outros o correlacionando ao desempenho

organizacional (Morais, 2004; Garcia, 2007; Castro, Neto e Ferreira, 2015), ou, ainda, o

analisando sob o viés clássico de sua relação com a própria organização (Borges-Andrade,

Afanasieff e Silva, 1989; Porter, Steers e Mowday, 2005; Luz, Paula e Oliveira, 2015; Maia e

Bastos, 2015; Meireles, Lemos e Balassiano, 2015); não foi possível identificar estudos que o

compreendessem em um contexto de crise econômica, tampouco que tenham buscado

entender se prevalece algum tipo de comprometimento em situações explícitas da

vulnerabilidade dos laços empregatícios.

Nessa ótica, o estudo espera subsidiar aspectos que poderão nortear a GRH na revisão

de seus subsistemas de modo a obter maior índice de engajamento de seus colaboradores

mesmo em momentos de instabilidade, já parte da nova realidade.

Sob a perspectiva social, pretende-se, ainda, contribuir com aqueles que atuam ou

atuarão no âmbito organizacional de modo a buscarem ocupar o papel de sujeitos

protagonistas de suas carreiras e da empregabilidade e não vítimas das circunstâncias.

1.6. ESTRUTURA DO ESTUDO

O presente trabalho se divide em seis capítulos. No primeiro capítulo, é apresentada a

contextualização do tema, em que, a partir de uma breve introdução, será possível observar a

justificativa deste estudo, sua relevância e atualidade, a formulação da situação-problema, os

objetivos, a delimitação e estruturação do estudo.

No segundo capítulo, é apresentado o referencial teórico que norteou a pesquisa. É

abordado o tema do valor do capital humano nas organizações modernas, o papel estratégico

da área de recursos humanos, a crise produtiva no Brasil, o contexto de mudanças nas

organizações, assim como a vasta teoria sobre comprometimento e engajamento

organizacional, em especial, os três tipos de comprometimento na visão multidimensional,

buscando-se relacioná-lo às circunstâncias de crise e mudanças que impactam as

organizações.

O terceiro capítulo apresenta a metodologia utilizada para o desenvolvimento da

pesquisa e sua justificativa, os meios utilizados para a obtenção dos resultados, a definição do

método de pesquisa, o instrumento de pesquisa, o critério usado para coleta e tratamento dos

dados e as limitações do método.

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17

No quarto capítulo, apresenta-se o estudo de caso, com as descrições gerais da

organização e o mapeamento das ações de engajamento realizadas pela a empresa.

O quinto capítulo é dedicado à análise e à apresentação dos resultados.

E, no sexto capítulo, são apresentadas as conclusões do estudo realizado e

recomendações para futuras pesquisas.

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18

Capítulo 2 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 A RELEVÂNCIA DO CAPITAL HUMANO NAS ORGANIZAÇÕES MODERNAS

A época de transformações radicais e abrangentes como a vivenciada no novo milênio

é consequência da transição de uma era industrial para uma baseada no conhecimento, o que

aumenta o grau de indefinições e incertezas para indivíduos e organizações.

Segundo Drucker (2002), o conhecimento, na atualidade, tornou-se o recurso básico

tanto para os indivíduos quanto para a economia, porém ele só é produtivo quando

relacionado a uma atividade. É por isso que a sociedade do conhecimento é, também, a

sociedade de organizações, cujo objetivo é a integração do conhecimento especializado em

uma atividade comum. A terra, a mão de obra e o capital, tradicionais fatores de produção,

passam a ser secundários frente ao conhecimento especializado aplicado a uma atividade. Isso

porque todos eles podem ser obtidos se houver conhecimento. Afinal, as organizações do

século XXI, precisarão se desestabilizar para manterem a competitividade; adotarem o

aprimoramento contínuo em tudo o que fazem; aprenderem a explorar seu conhecimento e

levarem as gerações futuras de lideranças aos seus próprios fatores de sucesso; e, ainda, terão

de aprender a inovar.

É nessa perspectiva que os profissionais da sociedade atual são entendidos, pois seus

conhecimentos se tornam ativos das organizações modernas e, portanto, as pessoas passam a

ser fator-chave de competitividade. “O trabalhador de conhecimento é o único “fator de

produção” por meio do qual as sociedades e as economias altamente desenvolvidas de hoje

(…) se tornam e permanecem competitivas (DRUCKER, 2002, p. 57).”

O protagonismo do capital humano nas organizações modernas, também, é salientado

por Vergara e Davel (2010), justificando que as pessoas se tornaram verdadeiras vantagens

competitivas para as organizações por combinarem emoção e razão, subjetividade com

objetividade quando desempenham suas tarefas, se relacionam e decidem.

As pessoas são os alicerces da organização porque utilizam suas competências por

meio de habilidades, conhecimentos e experiências para alcançarem os resultados esperados

pela organização. “Pessoas comprometidas, focadas em resultados, capacitadas, resistentes à

pressão e com habilidades de relacionamento são alicerces e a engrenagem que conferem à

organização uma vantagem competitiva nesse contexto (Knapik 2008, p.48).”

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19

Ainda nessa perspectiva, observa-se que as pessoas ganham protagonismo nas

organizações por serem detentoras de competências. E estas não são, apenas, conhecimentos

ou habilidades, são conhecimentos e habilidades em ação. Para Fleury e Fleury (2004), a

combinação das competências individuais deve resultar no desenvolvimento de competências

organizacionais alinhadas à estratégia organizacional.

Mas, se por um lado, as pessoas e suas competências são fatores-chave para a

excelência organizacional, por outro, essa relevância das pessoas na sociedade organizacional

acaba, também, por gerar conflitos. Segundo Drucker (2001), a controvérsia está no fato de as

pessoas buscarem a estabilidade e, portanto, evitarem a mudança, enquanto as organizações

modernas visam à desestabilização, pois precisam estar organizadas para mudar aquilo ao que

estão acostumadas em função das alterações contínuas de mercado, tecnologia, economia,

dentre outros.

Uma das questões centrais da sociedade de organizações é, justamente, a relação entre

os indivíduos e a organização e as responsabilidades de cada um com o outro; a necessidade

de estabilidade e continuidade por parte das pessoas e a necessidade que as empresas possuem

de desestabilizar o status quo por contingências externas e internas. O antagonismo presente

nessas relações precisa ser considerado para se entender os desafios da gestão, visto que,

segundo Ulrich (1998), na nova economia, empresas de sucesso serão aquelas que,

rapidamente, transformam a estratégia em ação, que gerenciam os processos de maneira

inteligente e eficiente, que maximizam a contribuição e comprometimento de seus

funcionários.

2.2 O PAPEL ESTRATÉGICO DA GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS

Para Beker, Huselid e Ulrich (2001), atingir a excelência organizacional é o principal

papel do RH. Isso significa que, se o foco da estratégia corporativa é apresentar vantagem

competitiva sustentável, o do RH deve ser, igualmente, estratégico e tangível, ou seja,

consistir em maximizar a contribuição da área e de todas as pessoas para o mesmo objetivo,

gerando valor para os acionistas.

Para os autores, o fundamento do papel da GRH está em sua função, no sistema e no

comportamento dos empregados. No que se refere à função do RH, seu papel estratégico está

em proporcionar um corpo gerencial que compreenda e seja capaz de implementar a

estratégia; quanto ao sistema, significa dispor de políticas e práticas de alto desempenho

alinhadas à estratégia de negócios; e, no que se refere ao comportamento dos empregados, sua

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20

missão está em dispor de profissionais com competências, motivações e comportamentos

correlatos à estratégia da organização.

Para Fleury e Fleury (2004), a GRH assume um papel importante no desenvolvimento

da estratégia da organização, na medida em que é responsável por atrair, manter e desenvolver

as competências necessárias à realização dos objetivos organizacionais. Para isso, é

fundamental que ela explicite e coordene a relação entre as competências organizacionais e as

individuais.

Segundo Ulrich et al. (2013), para que a função do RH seja estratégica, a GRH precisa

agregar valor ao negócio a partir de seus objetivos. E, para isso, precisaria demonstrar as

seguintes intenções em sua atuação: ter profissionais mais estudiosos nas questões humanas e

organizacionais, de modo a ter uma agenda de talentos que provenha profissionais melhores

que os da concorrência; e no que se refere às questões organizacionais, que defina como as

pessoas trabalham, como pensam e como se comportam juntas para criarem as competências

competitivas; contribuir para o aumento da receita, pois nenhuma ação adotada por uma

empresa é importante se não gerar valor; entregar os resultados de forma consistente e

previsível, investindo em competências centrais e criando competências organizacionais como

colaboração, velocidade, responsabilidade, liderança e aprendizado. Em suma, para ser

estratégico, o RH deveria se enxergar e ser visto como uma fonte fundamental de vantagem

competitiva, criando práticas que apoiem essa visão.

Ser um RH estratégico é atuar como parceiro dos executivos para que estes tenham as

condições de pertinência da GRH para atingirem os objetivos de negócio, garantindo que as

práticas da estrutura organizacional estejam na mesma direção da estratégia. É participar da

estratégia de negócio e não exatamente defini-la, mas mediar, ativamente, as discussões de

como a organização será definida para suportar e atingir os objetivos estratégicos. Para isso,

tem como funções principais: a definição da arquitetura organizacional, ou seja, o modo como

a empresa executa seu negócio; deve ser responsável pela “auditoria organizacional”3; deve

assumir os debates de melhores práticas nos processos de gestão em busca do estado da arte; e

direcionar esforços na definição de prioridades de seus processos visando àqueles que são

cruciais e mais alinhados à estratégia de negócio (ULRICH, 1998, p.34).

Para Knapik (2008), a área de recursos humanos vem participando do planejamento

estratégico porque os talentos das pessoas passaram a ser um diferencial competitivo. Assim,

3 Ulrich (1998, p.34) se utiliza desse termo para mapear os aspectos organizacionais que requerem melhorias

imediatas, para identificar o que precisa ser mudado para a boa execução da estratégia.

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21

seu enfoque passa ao nível estratégico atuando juntamente aos colaboradores e demais

departamentos em direção aos objetivos organizacionais.

Numa análise sobre a gestão de recursos humanos no período de 1980 a 2010, Wood,

Toneli e Cooke (2011) salientaram três importantes mudanças para a área como demonstradas

a seguir.

A primeira foi a migração de um posicionamento operacional para um mais

estratégico, em que a GRH buscou alinhar suas práticas aos objetivos organizacionais. Como

marco dessa etapa, temos a estrutura de um RH descentralizado, exercendo um papel de

consultor interno e com atuação de linha, buscando, assim, atender às demandas de negócio

de modo mais ativo e dinâmico.

A segunda grande mudança foi a adoção de novos modelos e ferramentas gerenciais

em seus processos. A utilização de headhunters e ferramentas de assessment passaram a ser

práticas comuns, assim como a implementação de modelos matriciais de avaliação de

desempenho, criação de universidades corporativas e inclusão de processos de coaching e

mentoring. Com a incorporação desses termos e outros em inglês à linguagem corporativa,

percebeu-se a transferência das práticas e modelos de GRH dos Estados Unidos para o Brasil,

seja por influência das empresas multinacionais aqui presentes, seja por ações da indústria do

management (consultorias, editoras de livros, revistas de negócio, dentre outras).

A terceira mudança está relacionada à adoção de uma nova retórica. Além de

solidificar os novos processos incorporados, a GRH passou a adotar um novo discurso,

caracterizado pela presença de valores relacionados à excelência e à promoção dos princípios

de adaptabilidade, inovação e competitividade. E com isso passou a buscar a promoção de

comportamentos e valores sintonizados com o contexto de negócio.

O que se pode observar é que a GRH iniciou sua atuação estratégica por imposição do

mercado, buscando garantir a competitividade global e com o objetivo e a necessidade

imposta pelo novo ambiente de mudanças de favorecer a flexibilidade e adaptabilidade das

pessoas à mudança, de acordo com Vergara e Davel (2010).

Da mesma maneira que as pessoas ganham relevância no desempenho das

organizações, a área de recursos humanos é revisitada para que exerça um papel consistente e

relacionado às estratégias de negócio. Segundo Tanure, Evans e Cançado (2010), existem

controvérsias sobre a contribuição da GRH para a performance das empresas.

Tais controvérsias são baseadas no questionamento se as práticas de GRH deveriam

ser universais ou relativistas (EVANS, PUCIK, e BARSOUX, 2006). Ou seja, deveriam ser

similares ou adequadas às características de cada país, tamanho do negócio e da organização?

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22

Com base na análise dessas duas abordagens nomeadas como convergente e divergente,

Tanure (2005) propõe uma terceira abordagem denominada divergência convergente, mais

adequada à gestão das empresas globalizadas. Segundo a autora, as diferenças entre países,

são refletidas nas organizações. Apesar da necessidade de valores comuns entre as

subsidiárias ou unidades de uma organização, as práticas da GRH têm de se adaptar à

realidade local, às características peculiares de cada empresa. Já outras dimensões, como

estratégia ou estrutura organizacional, não sofreriam impactos significativos do ambiente

cultural no qual a empresa está localizada.

Independentemente de onde a empresa se localize, alguns desafios são comuns a

todas, como a aplicação de princípios de boa governança corporativa, a redução de

custos, o desenho das estruturas organizacionais e algumas outras questões que

visam a garantir condições básicas de competitividade. (TANURE, EVANS e

CANÇADO, 2010, p.597).

Evans, Pusik e Barsoux (2006) concluíram, a partir de pesquisas realizadas em

diversas empresas, que a relação entre a GRH e o desempenho organizacional pode ser

avaliada com base em três facetas que traduzem a atuação do RH:

a) A do construtor, que define e constrói as funções da área de modo consistente e alinhada

aos objetivos organizacionais; A estratégia empresarial é suportada por políticas e práticas de

GRH.

b) A do parceiro de mudanças que busca o realinhamento da organização com a estratégia e

aspectos do ambiente externo; O enfoque está em realizar as mudanças necessárias para

atingir os objetivos organizacionais. Essa face é, também, denominada de gestão estratégica

de RH;

c) A do navegador, que auxilia a organização a gerenciar as contradições e paradoxos

inerentes ao cenário globalizado. O RH foca no desenvolvimento das capacidades da

organização e das pessoas, de modo que ambas possam superar e prosperar num ambiente de

mudança constante.

Tanure, Evans e Cançado (2010) acrescentam ainda uma quarta face decorrente de

estudos direcionados à realidade brasileira e a denominam de executor, em que a GRH tem

foco nos processos tradicionais da área, muitas vezes não interligados e sem ênfase nos

resultados. Ela seria uma etapa anterior a face do RH construtor.

Em pesquisa realizada por esses autores em empresas brasileiras, identificou-se que a

GRH, ainda, não desempenha um papel estratégico.

A GRH pode ser classificada predominantemente como executora, seguida da face

de construtora. Em empresas multinacionais, ocorre o predomínio da face do

construtor, apesar de a face parceiro de mudança já se apresentar com certa

expressividade. Portanto pode-se concluir que a GRH no Brasil não pode ser

considerada estratégica, da forma como muitas pesquisas tentam demonstrar. Em

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empresas menos influenciadas pela gestão estrangeira, a face do executor ainda

prevalece. Isso parece indicar que a GRH no Brasil ainda precisa construir seu

próprio caminho, a sua forma de gerenciar pessoas, buscando um jeito brasileiro de

operar GRH. (TANURE, EVANS & CANÇADO, 2010, p. 610).

Essa constatação acaba por dificultar uma GRH que contribua, efetivamente, para a

competitividade das organizações e para o engajamento de seus profissionais, de modo a atuar

como parceira da mudança e, assim, apoiar no atingimento dos objetivos organizacionais,

principalmente num cenário de crise econômica como o atualmente vivenciado no Brasil.

2.3 A CRISE DE PRODUTIVIDADE NO BRASIL E O DESEMPENHO DO SEGMENTO

DO COMÉRCIO

Os debates sobre a produtividade da economia brasileira eram, até então, restritos, mas

têm se disseminado, rapidamente, no ambiente acadêmico e entre os formuladores de políticas

na atualidade. A discussão retorna ao foco num momento em que a sustentabilidade das taxas

de crescimento e do processo de redução das desigualdades sociais estão comprometidos, uma

vez que o PIB brasileiro começa a reduzir-se no período pós-crise financeira de 2008,

segundo De Negri e Cavalcante (2014).

Os autores, também, concluíram que o ambiente de negócios do Brasil permaneceu

estagnado entre 2003 e 2014 após análise dos principais indicadores em um momento em que

a maioria dos países apresentou melhorias significativas nos seus ambientes de negócio.

É fato que a maior parte dos diferenciais de produtividade do Brasil e dos demais

países é explicado por fatores intrassetoriais e, portanto, sugerem que as razões para essa

baixa produtividade sejam estruturais e não conjecturais. As hipóteses levantadas para a

superação da atual situação do país estão relacionadas: ao ganho de produtividade com base

na tecnologia em processos e inovação de produto; à educação e à qualificação de mão de

obra, ao ambiente de negócios ou qualidade das instituições brasileiras no que se refere à

burocracia.

Na pesquisa realizada por De Negri e Cavalcante (2014), é possível observar que um

conjunto de hipóteses explicariam os baixos níveis de crescimento da produtividade brasileira

ao longo das últimas décadas, envolvendo fatores externos e internos às organizações.

Dentre os fatores externos, pode-se citar: a infraestrutura de transportes que é um

gargalo para o aumento da produtividade em diversos setores; a infraestrutura de

telecomunicação, relacionada à baixa velocidade de acesso à internet e excesso de uso das

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redes de telefonia; e os baixos níveis de incentivo à concorrência em algumas áreas, o que

acaba se traduzindo em pouco incentivo à modernização e aumento da produtividade.

No que tange aos fatores internos os autores destacam: a qualificação da mão de obra

que apresenta decrescente produtividade aliada a baixos investimentos em treinamento

realizados pelas empresas; e o baixo investimento em pesquisa e desenvolvimento no Brasil e

as reduzidas economias de escala existentes em alguns setores.

Mation (in De Negri e Cavalcante, 2014) destaca que a produtividade constitui um

componente fundamental do crescimento econômico e que consiste no efeito combinado das

tecnologias e da qualidade dos insumos, como capital e trabalho, adotados no processo

produtivo, mas que depende do marco regulatório e dos procedimentos aos quais as

organizações e trabalhadores estão submetidos, ou seja, do ambiente de negócio. E, em sua

análise, identificou que a melhoria do ambiente de negócios ocorreu em várias regiões do

mundo, estando concentrada nos países mais pobres. Entretanto, o Brasil destoa desse quadro

de convergência positiva no contexto de negócios, evidenciando a estagnação da

produtividade brasileira.

Complementando essa perspectiva, Miguez e Moraes (in De Negri e Cavalcante,

2014) ressaltam que frente a um quadro de mudança na dinâmica da economia mundial nas

últimas décadas, principalmente em decorrência da ascensão da China e outros países

asiáticos, e à especialização de países desenvolvidos em serviços de alto valor agregado, a

economia brasileira se vê diante de uma competição mundial muito acirrada, evidenciando a

alta relevância das questões relacionadas a produtividade para que seja possível o aumento da

competitividade no ambiente dos negócios no Brasil.

A despeito do cenário global, o Brasil sinaliza atravessar um momento de recessão e

crise econômica, já refletindo no aumento do desemprego, na queda de faturamento em

diferentes setores, na taxa do PIB e em diversos outros indicadores. Dado o objetivo de

presente estudo, será destacado, somente, o índice de desocupação e dados do setor de varejo.

Segundo dados do IBGE (2016), o comércio varejista registrou na relação março de

2016 e março de 2015, para o volume de vendas, uma variação de -7,9%, com -9,4% para a

taxa acumulada no ano e de -9,6% em doze meses. A redução do volume de vendas foi

decorrente, entre outros fatores, do menor ritmo da atividade econômica, redução da oferta de

crédito e da restrição orçamentária das famílias, diante da diminuição real da massa de

salários.

Essa redução de faturamento é a média do setor, mas, em muitas empresas, a redução é

ainda superior e, em um contexto como este, uma das primeiras medidas adotadas pelas

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25

organizações é a redução dos postos de trabalho, de modo a ajustar seu quadro de pessoal

frente ao novo cenário econômico, e, de alguma maneira, reduzir as consequências da perda

de faturamento com a redução de seus custos. O que já se reflete na taxa de desemprego.

Ainda segundo o IBGE (2016), no 1º trimestre de 2016, a taxa de desocupação, no

Brasil, foi estimada em 10,9%. Essa estimativa apresentou aumento de 1,9 ponto percentual

na comparação com o 4º trimestre de 2015 (9,0%) e alta de 3 pontos percentuais frente ao 1º

trimestre de 2015 (7,9%).

Apesar de pouco material acadêmico disponível, devido à recente instauração da crise

econômica, já há claras sinalizações do quanto o atual momento está levando as empresas a

reduzirem seus custos, sua estrutura e seus quadros de pessoal. Tal afirmativa é abordada em

mais detalhes no estudo de caso.

2.4 O CONTEXTO DE MUDANÇAS NAS ORGANIZAÇÕES E SUA RELAÇÃO COM OS

INDIVÍDUOS

Viver sob a constante ameaça das mudanças é o paradigma da pós-modernidade, e,

quanto a isso, os indivíduos não podem escapar.A grande crise econômica mostrou

que forças irracionais e imensuráveis também regem a sociedade dos tempos de paz:

a súbita ameaça de desemprego permanente, de ser descartado no momento de

ingressar no mercado de trabalho ou mesmo antes de começar a trabalhar. Contra

essas forças, o indivíduo se vê indefeso, isolado e pulverizado como se lutasse

contra máquinas de guerra. Ele não pode prever quando o desemprego surgirá e

porquê; ele não pode combatê-lo, nem mesmo fugir dele (DRUCKER, 2001, p.30).

Ainda na década de 1990, já havia sinalizações de que o universo das organizações

passaria a lidar com mudanças constantes, em função da competitividade global, do rápido

avanço tecnológico e das consequentes reengenharias da época e ainda atuais, para que as

empresas adaptassem suas estruturas de modo a responderem, rapidamente, ao contexto.

Segundo Scheible (2013), o cenário de mudança, que, há anos caracteriza o ambiente em que

se inserem as organizações, traz repercussões aos vínculos das pessoas no trabalho.

A mudança organizacional encontra-se na vanguarda acadêmica e do ambiente

gerencial, segundo Pettigrew, Woodman e Cameron, (2001). E o que se percebe de fato é que

muitas organizações lidam com a necessidade de mudança organizacional regularmente nos

tempos atuais. Ela pode ser definida como “qualquer transformação de natureza estrutural,

estratégica, cultural, tecnológica, humana ou de qualquer outro componente, capaz de gerar

impacto em partes ou no conjunto da organização (WOOD, CURADO e CAMPOS, 1994, p.

64).”

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26

Ainda segundo esses autores, a mudança pode ser relacionada a qualquer característica

da organização, como sua estrutura, funções ou tarefas (mudança estrutural); ao mercado alvo

(mudança estratégica); aos valores, modelo de gestão e liderança (mudanças culturais); aos

processos e métodos de trabalho (mudança tecnológica); e quanto à relação da organização

com o ambiente externo em resposta às mudanças nele ocorrias (reativa) ou em antecipação

baseada em expectativas (voluntária).

No que se refere à sua origem, as mudanças podem emergir por questões da própria

organização ou do ambiente. As situações mais capazes de provocar a mudança são: crises,

novas oportunidades ou novas diretrizes internas ou externas como apontado por Herzog

(1991).

Segundo Meyer e Allen (1997), como resposta ao contexto dessas constantes

mudanças, muita ênfase tem sido dada em termos de busca de eficiência e redução de custos

por parte das empresas para que permaneçam competitivas. Em consequência disso,

profissionais têm sido aconselhados a não serem tão ligados a uma organização e sim a

buscarem manter sua empregabilidade em caso de uma eventual demissão.

O que se percebe é que o contexto atual, afetado com a pressão gerada pela

necessidade de inovação, e a constante mudança, como forma de sobrevivência para as

empresas, alteraram os contratos psicológicos entre elas e seus trabalhadores, pois a garantia

do emprego não mais pode ser argumentada para estimular o comprometimento do indivíduo

como sinalizado por Scheible (2013).

O termo contrato psicológico está relacionado a uma crença independente dos termos

efetivamente e mutuamente acordados num contrato de trabalho. A questão-chave desse

conceito inclui a crença de que uma promessa foi feita e uma contrapartida oferecida em

troca, ligando as partes a obrigações conjuntas conforme defendido por Rousseau (1989).

Assim, o contexto atual, incapaz de atender ao esperado pelos empregados em seus

contratos psicológicos, sinaliza danos ao relacionamento entre organização e indivíduos.

Pois, subjacente a um contrato psicológico, está a confiança, consequente da crença de que as

colaborações serão recíprocas, mas que, na prática, essa expectativa não é, plenamente,

atendida.

Como apontado por Cacciamali & Brito (2002), as mudanças que estão ocorrendo nas

relações de trabalho possuem diferentes origens características do ambiente contemporâneo

do mercado de trabalho. Sob a ótica econômica, destacam os seguintes elementos: imposição

de diminuir custos e a necessidade de buscar elevados níveis de competitividade; o avanço

tecnológico; e a perda de poder de barganha sindical diante do cenário econômico recessivo.

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É nesse contexto que retomando Meyer e Allen (1997) o comprometimento

organizacional se faz importante sob a argumentação de que as empresas não acabam, mas se

tornam mais enxutas, porém, com uma estrutura que requer profissionais com mais

responsabilidades e que se tornam essenciais para a organização. Os pesquisadores entendem

que, mesmo em circunstâncias de maiores incertezas ou temporárias e de menor duração, o

comprometimento, ainda, é relevante, visto que seu oposto consiste na alienação ou em seu

direcionamento a outras frentes tais como trabalho voluntariado, hobby, outro segmento de

trabalho, mudança de carreira, dentre outros. Concluem, portanto, que, mesmo sob essas

circunstâncias, o comprometimento e a maneira pela qual ele é demonstrado são importantes

na atualidade assim como em tempos anteriores às constantes mudanças.

Borges-Andrade & Pilati (2001) trazem uma contribuição relevante com seus estudos

sobre o comprometimento e sua relação com a percepção de imagem organizacional. Tal

estudo, realizado em várias regiões do Brasil, identificou, com base em procedimentos

psicométricos, dois fatores ou imagens percebidas pelos empregados sobre as organizações.

O primeiro fator foi denominado “organização dinâmica e com visão estratégica”.

Nele predominam percepções que envolvem principalmente conteúdos relativos a

aceitar desafios, transformar ameaças em oportunidades, ir além das fronteiras e

demonstrar pró-atividade. Outros aspectos importantes sugerem a busca de

adaptação ao meio ambiente e de transformação de estruturas, a operação em

ambientes complexos e variáveis e a procura de flexibilidade (BORGES-

ANDRADE E PILATI 2001, p.91).

O segundo fator foi chamado de “organização politiqueira e exploradora”, em que

predominam: o uso de meios para manter ou alcançar o poder e a existência de conflitos,

dissimulação, individualismo, isolamento e competição.

Ambas as imagens de organização coexistem na atualidade marcada pela crise,

instabilidade e em constante mudança. Mas o que o estudo confirmou por essas imagens,

também existentes no Brasil, é o que já havia sido, preliminarmente, identificado por Bastos

(1994): organizações com modelos que se aproximam do que é nomeado como inovador

(organização dinâmica e com visão estratégica) tendem a ter membros mais comprometidos.

Bastos & Borges-Andrade (2002) abordam a diversidade de caminhos experimentados

pelas organizações com o objetivo de se ajustarem à nova lógica mercadológica e aos

conturbados cenários de instabilidade. Os autores destacam que o processo de mudança é

heterogêneo, inclusive, nas consequências para os trabalhadores. Diversos modelos e

programas foram utilizados pelas empresas na busca de maior flexibilidade organizacional

em substituição ao modelo burocrático oriundo do paradigma taylorista-fordista.

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28

Os autores, também, buscaram entender, num contexto de profundas alterações

estruturais e culturais nas organizações, qual o impacto dessas mudanças de nível macro no

comprometimento dos indivíduos com o trabalho (nível micro) e evidenciaram que empresas

burocráticas revelaram padrões mais frágeis de comprometimento de seus empregados do

que as organizações inovadoras (que buscam se adequar rapidamente e responder às

circunstâncias de instabilidade, visando à competitividade), apesar de não se apresentarem

padrões de comprometimento de forma homogênea.

No entanto, toda mudança pode fracassar se houver resistência por parte daqueles que

irão fazê-la acontecer: as pessoas. E o que é comumente enfrentado pelas organizações é a

resistência às mudanças. Segundo Guest (1997), o comprometimento organizacional resultará

na disposição de aceitar justamente a própria mudança organizacional.

Segundo pesquisa bibliográfica realizada por Nafei (2014), alguns estudos

demonstram que as atitudes em relação às mudanças organizacionais podem ser influenciadas

pelo comprometimento organizacional e que este, dentro de um contexto de mudança, é um

indicador fundamental. Ocorre que o novo contexto gerado pelas mudanças é percebido pelos

indivíduos como improvável de satisfazer suas aspirações, rompendo o vínculo estabelecido

anteriormente com a organização. Portanto, o pressuposto é que a resistência à mudança tem

uma relação negativa direta com o comprometimento. Ou seja, quanto maior a resistência à

mudança menor será o comprometimento.

É à luz dessa instabilidade no nível macro-econômico-social, de suas consequências

nas organizações por precisarem readequar suas estratégias e modelos ocasionando a

mudança, e o entendimento prévio da resistência das pessoas ao incerto, que o presente

estudo pretende compreender o comprometimento organizacional do indivíduo.

2.5 O Comprometimento Organizacional

O estudo sobre comprometimento ganha notoriedade mundial a partir da pesquisa de

Mowday, Steers e Porter (1979). No Brasil, os estudos sobre comprometimento

organizacional passam a ganhar evidência nos anos 1990 a partir de publicações de Bastos

(1993).

Na revisão literária realizada, segundo Allen & Meyer (1990), ficou evidenciado que,

na psicologia organizacional, o construto de comprometimento tem sido conceituado e

mensurado de diferentes maneiras. Mesmo se tratando do vínculo com a organização, há

pouco consenso a respeito da sua definição.

Mowday, Steers e Porter (1982) relacionam dez diferentes conceituações oriundas de

pesquisas realizadas. Na figura 1, Bastos sintetiza as principais abordagens acerca do

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29

comprometimento. Todas oriunda de diferentes ciências como a Sociologia, a Teoria

Organizacional e Psicologia Social.

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30

Figura 1- abordagens conceituais e respectivas fontes teóricas sobre o comprometimento

organizacional

Fonte: BASTOS, 1993, p. 54

Festinger

Buchanan

(1974)

Mowday

Steers

&Porter

(1982)

Azjen&

Fishbein

(1975)

Halaby

(1966)

Burawoy

(1983)

Alluto

Hrebenia&

Allonso

(1973)

March&

Simon

(1958)

Weiner

&Vardi

(1982)

Operacionalização

(Constructos)

Enfoque

Marcos

importantes

Disciplina

(fontes

teóricas)

Meyer

&Allen

1984

Becker

(1960) Kanter

(1968)

Ritzer &Trice

(1969) Edwards

(1979)

Weber Barnard

(1938)

Etizioni

(1961) Lewin

(1947)

Salansik

(1977)

Teorias Organizacionais Psicologia Social

Side-beats

Instrumental

cumulativo

“Afetivo” “Normativo” “Comportamental”

“A força relativa

da identificação e

envolvimento

com

uma organização

particular.”

Forte crença e

aceitação dos

objetivos e

valores.

Desejo de

esforçar

-se pela

organização.

Forte desejo de

permanecer como

membro.

“Totalidade de

pressões

normativas

Internalizadas

pelo indivíduo

para que se

comporte

congruenteme

nte com os

objetivos e

interesses da

organização.”

Sociologia

Autoridade no

contexto de

trabalho

“Interesse em

continuar no

emprego atual

por perceber a

legitimidade da

relação de

autoridade

subordinação.”

O papel de

subordinação

envolve códigos

normativos

sobre modos

corretos de

dominação.

Um estado de ser

em que as ações

determinam

crenças que

sustentam a

atividade

e seu próprio

envolvimento

“Um estado de

ser para que as

ações

determinem

crenças que

sustentam a

atividade e seu

próprio

Medidas do

julgamento do

indivíduo a cerca

da probabilidade

de deixar a

organização por outro

emprego e sob que

condições.

ESCALAS DE ATITUDE – normalmente

Formato likert (itens positivos e negativos sobre

o conteúdo teórico mensurado).

Uso comuns de análise setoriais para validação do

construto.

Escala mais usada: OCQ (Organizational

Commitment Qustionnaire) – Mowday e col.

Tempo na

organização

Desempenho

Comportamentos

extra-papéis

“Tendência de se

engajar em linhas

consistentes de

atividades devido

aos custos

associados a agir

de forma

diferente.”

“mecanismo

psicossocial que

envolveside-

beats, trocas

ivestimentos

que afetam o

raio de ação

posterior.

Page 33: WAGNER DE ARAUJO REZENDE IDENTIFICANDO PADRÕES DE ... Wagner de Araujo... · situação de crise econômica do mercado brasileiro: estudo de caso de uma empresa de varejo no estado

31

2.5.1 Visões unidimensionais do comprometimento

Os estudos iniciais sobre comprometimento apresentam diversas definições com

origens em diferentes disciplinas que estudam o comprometimento. Assim, o constructo é

compreendido sob uma visão unidimensional, conforme apontado por Bastos (1993) e

sintetizado a seguir:

a) O enfoque Afetivo

Este enfoque é originado nos estudos de Etzioni que enfatizou o envolvimento moral

entre indivíduo e organização usado pelas empresas para obter obediência de seus

funcionários. Ainda nesse construto, Buchanan enfatizou a relação de identificação dos

empregados com os valores organizacionais segundo Bastos (1993).

A perspectiva analítica presente no trabalho de Mowday, Porter e Steers, enfoca o

rótulo afetivo do processo de identificação do indivíduo com a organização, quando

compartilha dos valores e se envolve com os papéis organizacionais. As dimensões utilizadas

pelos autores para a definição do construto destacam: o sentimento de lealdade; o desejo de

permanecer; e de se empenhar em prol da organização. Trata-se de um envolvimento afetivo,

em que o indivíduo, numa relação ativa, procura dar algo de si próprio para a organização

conforme apontaram Rodrigues e Bastos (2010).

Nessa perspectiva, o comprometimento tem sido mensurado na escala de atitudes

desenvolvida por Mowday e colaboradores por meio de um questionário com elevada

confiabilidade e atestado com escalas psicométricas adequadas. No Brasil, a escala foi

validada por Borges-Andrade, Asanasief e Silva apud Morais (2004).

b) O Enfoque Instrumental

Como segunda vertente, o enfoque instrumental se apoia nos estudos de Becker (1960)

em que o comprometimento é compreendido como função das recompensas e dos custos

associados com a condição de pertencer à organização. Ou seja, o indivíduo preconiza os

inúmeros investimentos feitos por ele ao longo de sua permanência na organização que

tornam custosa sua saída. “Aqui também se encontram os incentivos oferecidos pelas

organizações que acabam por influenciar na permanência dos seus empregados” (BASTOS,

1993, p. 56).

c) O Enfoque sociológico

Segundo Bastos (1993), nessa terceira abordagem, o vínculo do trabalhador com a

organização é entendido por meio das relações de autoridade exercidas pelo empregador e a

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32

subordinação dos indivíduos. Assim, o vínculo não está relacionado ao afeto ou ao dinheiro,

mas à legitimidade da relação de poder e governança sobre o indivíduo.

d) O Enfoque normativo

Nos estudos sobre esse quarto enfoque, estão compreendidos os conceitos de sistema

cultural e motivacional na determinação dos comportamentos humanos na organização.

Assim, os valores partilhados pela organização exercem pressões normativas sobre os

indivíduos associadas a um sistema de recompensas para influenciar e reger o

comportamento humano.

Sob essa ótica, segundo Bastos (1993), “o construto comprometimento é

conceitualizado como o conjunto de pressões normativas internalizadas pelo indivíduo para

que se comporte congruentemente com os objetivos e interesses da organização” (p. 58).

e) O Enfoque comportamental

Essa última abordagem destacada por Bastos (1993) é originada na Psicologia Social,

em que o comprometimento dos indivíduos deve-se à consistência entre seus

comportamentos e suas atitudes. Surge daí um vínculo comportamental e psicológico do

indivíduo com a organização a partir do autorreforço do próprio indivíduo. Nessa perspectiva

a pressão é realizada pela própria pessoa, em função da responsabilização decorrente da

volição (percepção de que a ação foi desempenhada por livre escolha e consequente

responsabilização), da reversibilidade (consciência de que o comportamento não deve ser

revertido ou assumirá as consequências que a reversão poderia trazer) e do caráter explícito

do ato (percepção de que pessoas com vínculo afetivo observam seu comportamento e

esperam congruência e consistência nas atitudes).

2.5.2 Visão Multidimensional do comprometimento

Apesar de já existir o entendimento consensual de que o comprometimento é um

constructo multidimensional, não há convergência acerca das referidas dimensões segundo

Rego (2002).

Estudos realizados pelos professores canadenses Allen e Meyer (1990) fortaleceram o

entendimento sobre comprometimento numa visão pautada em três componentes:

a) O afetivo (Affective commitment), em que há congruência entre os valores organizacionais

e os do indivíduo, numa relação identificatória que o leva a permanecer na empresa

porque quer;

Page 35: WAGNER DE ARAUJO REZENDE IDENTIFICANDO PADRÕES DE ... Wagner de Araujo... · situação de crise econômica do mercado brasileiro: estudo de caso de uma empresa de varejo no estado

33

b) O comprometimento instrumental/cumulativo (continuance commitment), relacionado à

permanência por uma questão acomodativa associada aos custos envolvidos caso ele

deixe a organização, onde a continuidade no trabalho se dá porque se precisa;

c) O comprometimento normativo (normative commitment), em que o indivíduo percebe

alguma obrigatoriedade em permanecer na empresa, ou seja, ele permanece no emprego

porque se sente obrigado.

Os clássicos estudos realizados por Allen e Meyer (1990) evidenciaram que os

componentes do comprometimento afetivo, instrumental e normativo são teórica e

empiricamente inseparáveis, e que cada componente corresponde a um ou dois conceitos

encontrados na literatura disponível, mas que representam formas distintas de ligação dos

indivíduos com a organização.

Relevante ainda ressaltar que Meyer e Allen (1997) afirmam que os antecedentes de

cada faceta são distintos. Como exemplo citam que a percepção de justiça promove o

comprometimento afetivo e, em menor grau, o normativo, mas não o instrumental. Os autores

ainda sugerem ser possível encontrar, no mesmo indivíduo, níveis diversificados de

comprometimento, como forte necessidade de permanecer na empresa (instrumental), baixo

desejo (afetivo) e baixa obrigação (normativo).

Da mesma forma que os antecedentes, as consequências de cada faceta são, também,

distintas segundo as pesquisas realizadas por Allen e Meyer (1997), visto que o

comprometimento afetivo leva à menor intenção de deixar a organização, ao menor abandono

efetivo e a índices de absenteísmo mais baixos, sendo em menor grau no comprometimento

normativo e não apresentado de maneira clara no instrumental.

Rego (2002) afirma que, de uma maneira geral, pode-se concluir que a vontade dos

profissionais de contribuírem para os objetivos organizacionais tende a ser influenciada pela

natureza do laço psicológico que os liga à organização. E, por esse motivo, é mais esperado

que exerçam mais esforços de desempenho quando desejam pertencer à organização (afetivo)

do que quando possuem necessidade (instrumental) ou se sentem obrigados por si próprios

(normativo).

Vale lembrar que a existência de subjetividade nas relações contratuais é relevante no

contexto relacional empresa/indivíduo, pois a subjetividade dos contratos na perspectiva de

cada uma das partes implica que todos eles, escritos ou não, são psicológicos e, portanto, sob

a óptica de quem vê, conforme salientado por Macneil (1985).

Um aspecto relevante acerca do comprometimento multidimensional refere-se ao fato

de que existe uma clara separação entre as dimensões que representam um vínculo ativo e um

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34

passivo. O viés ativo seria expresso por meio do engajamento, do empenho extra, do afeto e

identificação com a organização. Já o passivo estaria relacionado à permanência e à relação

de troca com a organização, em que se enquadra o comprometimento instrumental.

Algumas definições de comprometimento formaram a categoria “obrigação”, uma

vez que o indivíduo pode se sentir em obrigação com a organização em função de

um vínculo afetivo (ativo), ou se sentir obrigado a cumprir certos procedimentos e

regras de trabalho como forma de manter o emprego ou status alcançado (passivo)

(RODRIGUES E BASTOS, 2010, p.133).

É nessa perspectiva que as organizações do século XXI se interessam pelo tema

comprometimento, ou seja, não só sob o entendimento da intenção que o indivíduo possui de

permanecer na empresa, mas sim sob sua contribuição ativa para o atingimento dos objetivos

desta, o que normalmente denomina-se engajamento, conforme apontado por Medeiros apud

Rodrigues e Bastos (2010).

Outros estudos, também, indicam que os trabalhadores apresentam, como aspecto

central do comprometimento, o engajamento com a organização.

Segundo Schaufeli et all (2002), o engajamento pode ser entendido como um construto

motivacional, como um estado mental de satisfação positiva relacionada ao trabalho e

caracterizada pelo vigor, dedicação e absorção.

O vigor estaria relacionado aos altos níveis de energia e resiliência no trabalho mesmo

em face de dificuldades; a dedicação seria caracterizada pela sensação de significado,

entusiasmo, orgulho e desafio; e a absorção estaria relacionada à total concentração e

profundo envolvimento, tendo, inclusive, dificuldade em separar-se do trabalho.

O conceito de absorção traz como contraponto desta pesquisa a preocupação quanto ao

elevado índice de comprometimento. Segundo Randall (1987) níveis exagerados de

comprometimento podem gerar dependência e uma elevada autocobrança por parte do

indivíduo além do sentimento de não estar sendo correspondido, o que pode trazer o

sentimento de ser objeto da empresa e isso afetar, negativamente, o desempenho da

organização e a saúde do próprio indivíduo.

De toda forma, o comprometimento ativo é o alvo necessário a uma organização

competitiva. E é sob essa perspectiva que ele, relacionado ao enfoque afetivo e, em menor

grau, ao normativo, está relacionado ao engajamento organizacional.

Recorrendo à Kahn (1990), é possível definir o engajamento pessoal como “the

simultaneous employment and expression of a person's "preferred self" in task behaviors that

promote connections to work and to others, personal presence (physical, cognitive, and

emotional), and active, full role performances (p.700).”

Page 37: WAGNER DE ARAUJO REZENDE IDENTIFICANDO PADRÕES DE ... Wagner de Araujo... · situação de crise econômica do mercado brasileiro: estudo de caso de uma empresa de varejo no estado

35

Essa conexão expressada de maneira ativa, pró-ativa e interessada (fisicamente,

cognitivamente e emocionalmente) acaba por traduzir o entendimento e percepção dos

gestores, equipe e, portanto, a própria organização, do vislumbrado engajamento.

Segundo Salanova (2005), o engajamento está relacionado a resultados positivos tais

como a satisfação com o trabalho, baixos índices de absenteísmo e rotatividade; e alto

comprometimento organizacional e performance. Contudo, o que espera-se para além desses

indicadores é o resultado da atitude engajada, ou seja, o atingimento dos objetivos.

Quando usado no jargão corporativo, o conceito de comprometimento tem sua

amplitude reduzida, significando, apenas, engajamento e aderência, eliminando o conteúdo de

conotação negativa, como defendido por Balassiano e Salles (2012).

Entretanto, Porter, Steers e Mowday (2005) concluem que algumas das possíveis

consequências do comprometimento organizacional, na prática, não assumem as dimensões

instituídas na literatura. Ao contrário, revelam uma baixa correlação com a performance

individual, uma correlação moderada com o absenteísmo e uma correlação negativa com a

rotatividade de pessoal. Os autores entendem que a natureza intrínseca ao comprometimento é

composta por elementos mais profundos do que aquelas atitudes de lealdade com as

organizações e definem comprometimento como a força relativa da identificação do indivíduo

com uma organização particular. Esta definição enfatiza uma relação ativa entre o trabalhador

e a organização, em que os primeiros estariam propensos a contribuírem fortemente para

melhorar o bem-estar organizacional.

Borges-Andrade e Pillati (2001) destacam que várias questões da atualidade podem

implicar em mudanças nos padrões de comprometimento, dentre elas: a autogestão das

carreiras; a ameaça da terceirização e redução de pessoal entendidos como quebra de contrato

psicológico; a organização do trabalho com equipes autônomas; e o enfraquecimento do papel

dos sindicatos.

Ainda nessa clave, Balassiano e Salles (2012) acrescentam os movimentos no sentido

de redução da força de trabalho imposta por ações de downsizing, reengenharia e

aposentadoria voluntária antecipada, que afetam, fortemente, a relação entre indivíduos e

organizações, criando um ambiente cercado pela incerteza e desconfiança.

Nesse cenário de incerteza dos indivíduos frente às constantes mudanças

organizacionais, é preciso compreender o quanto eles se comprometem com a organização

para que esta se mantenha competitiva, atingindo seus objetivos por meio das pessoas. Por

essa razão, as empresas estão cada vez mais preocupadas com os impactos das mudanças

organizacionais na resposta dos indivíduos à mudança em si e sua relação com a organização.

Page 38: WAGNER DE ARAUJO REZENDE IDENTIFICANDO PADRÕES DE ... Wagner de Araujo... · situação de crise econômica do mercado brasileiro: estudo de caso de uma empresa de varejo no estado

36

Fedor, Caldwell e Herold (2006) evidenciaram que, em relação aos possíveis aspectos

que a mudança organizacional possa afetar o comprometimento, a literatura sobre justiça

organizacional aponta como influenciar as reações dos indivíduos aos eventos de mudança.

Nessa perspectiva, o modo como a mudança é conduzida e o quê seus resultados

representarão constituem duas dimensões importantes em relação à obtenção do

comprometimento das pessoas com a mudança e em qualquer reavaliação do

comprometimento organizacional.

Algumas pesquisas foram realizadas sobre a reação dos indivíduos às mudanças em si

e o quanto eles estão preparados para mudar. Os resultados demonstraram em comum que as

pessoas são orientadas por hábito e, portanto, apresentam resistência à mudança (WANBERG

E BANAS, 2000; ARMENAKIS, HARRIS E MOSSHOLDER, 1993).

Alguns estudos pesquisaram, simultaneamente, a reação e comprometimento com a

mudança e com a organização demonstrando que, em relação às reações, à mudança

organizacional, o comprometimento aparece mais como consequente do que como

antecedente da resistência à mudança. Identificaram, ainda, que os empregados que percebem

a mudança como justa, necessária e benéfica para si mesmos e para a organização tendem a

ser mais comprometidos (HERCOVITCH E MEYER, 2002).

Entretanto, este estudo tem objetivo distinto das pesquisas já realizadas, pois ele

pretende focar o comprometimento com a organização em um contexto de mudança, em que

o cenário externo, ainda, é incerto e fazer a mudança interna significa responder em curto

prazo à baixa demanda de mercado em função de uma crise econômica que afeta diretamente

o negócio.

Assim, a pesquisa estará sustentada no entendimento do quão as pessoas estão

comprometidas numa circunstância em que seus empregos estão ameaçados, mas suas

atitudes “ativas” e comprometidas são cruciais para atingir os objetivos organizacionais e,

ainda, para a manutenção de seus contratos de trabalho.

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37

CAPÍTULO 3 – METODOLOGIA

3.1 CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA

A pesquisa pode ser caracterizada como um estudo de caso de caráter qualitativo,

tendo em vista a necessidade de aprofundar o fenômeno a ser estudado, em uma área em que

há pouco conhecimento acumulado e sistematizado e pela necessidade de buscar resolver

problemas concretos com finalidade prática, conforme apontado por Vergara (2014).

A escolha desse tipo de estudo se deu porque a pesquisa foi aplicada em uma empresa

do segmento varejista que, na atualidade, está inserida no contexto tanto de mudança

derivada de um novo modelo de gestão e de novas diretrizes internas quanto, e

principalmente, de um cenário econômico brasileiro incerto e de recessão que requer da

empresa medidas de redução de despesas que inclui revisão de estrutura e diminuição do

quadro de pessoal, dentre outras. Assim, buscou-se entender como se comprometem os

funcionários em um ambiente instável onde seus próprios empregos são ameaçados, mas por

um outro lado, a organização precisa do engajamento da força de trabalho para atingir os

resultados esperados e superar os obstáculos de curto prazo, quais sejam: aumento de receita

e redução de despesas.

Além disso, pretendeu-se, ainda, contribuir com a GRH da organização, a partir dos

insumos que o estudo proporcionou, para a adequação de suas diretrizes e práticas a esse

novo cenário.

Quanto ao meio de investigação, além da pesquisa bibliográfica e documental, foi

realizada pesquisa de campo, baseada na metodologia do estudo de caso. Segundo Yin

(2005), o estudo de caso é uma investigação empírica que investiga um fenômeno

contemporâneo inserido no contexto real especialmente quando os limites entre o fenômeno e

o contexto não estão claramente definidos. Isto porque se pretendeu investigar o

comprometimento em condições contextuais específicas, quais foram: em uma empresa de

varejo do Estado do Rio de Janeiro, inserida num momento de mudanças internas motivadas

por questões internas e externas, em um cenário econômico em crise.

Apesar dos estudos de casos múltiplos estarem demonstrando resultados mais robustos

como defendido por Godoi (2010), optou-se pela realização de um estudo de caso único.

Buscando respaldo em Flick 2004 apud Godoi (2010), “sempre se parte de um caso único

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38

que deve ser examinado em profundidade, de forma consistente, antes que se empreendam

análises comparativas (p. 29).”

Segundo Vergara (2014), a metodologia do estudo de caso se aplica a uma ou poucas

unidades, sendo essas uma pessoa, família, empresa, órgão público, comunidade ou

sociedade. Possui, ainda, um caráter de profundidade e riqueza de detalhes, podendo ou não

ser realizado em campo; e utiliza métodos diferenciados na coleta de dados.

3.2 UNIVERSO E SUJEITOS DA PESQUISA

Segundo Vergara (2014), o universo refere-se ao conjunto de elementos que possuem

as características que serão objeto de estudo. Assim, o universo aqui pesquisado contemplou

os funcionários de uma empresa do segmento de varejo sediada no estado do Rio de Janeiro,

com um total de aproximadamente 600 empregados atuantes no estado, tanto em sua sede

central quanto nas lojas, local de sua atividade fim como varejista.

A empresa possui, em sua sede central, todos os departamentos que suportam sua

operação de varejo, tais como: área comercial, marketing, compras e logística; além das áreas

presentes em empresas de variados segmentos, tais como: RH, TI e Financeiro. Essas áreas

assim como os sujeitos de pesquisa pertencentes a elas foram denominadas como de

backoffice. Em relação à atividade fim, foram sujeitos da pesquisa os gestores de operações

de lojas. Em ambos os grupos, quais sejam: o de backoffice e o de operações de lojas, foram

considerados os executivos com no mínimo doze meses de empresa, assumindo-se esse

período como o mínimo necessário para que o profissional compreenda a cultura da empresa,

seus objetivos, modelo de gestão e expectativa que a organização possui quanto ao papel do

gestor.

Em relação aos sujeitos da pesquisa, estes foram escolhidos pelo critério de

representatividade e de acessibilidade, sendo definidos representativos das lojas os seus

gerentes numa amostra de cinco e da sede central os gestores pertencentes aos departamentos

de back-office, num quantitativo de cinco, totalizando 10 gestores para a amostragem,

demonstrados conforme o quadro abaixo:

Tabela 1 - Demonstrativo dos sujeitos da pesquisa

Nível Hierárquico Loja Sede Central Total

Gestor (coordenador, gerente ou diretor) 05 05 10

Fonte: o autor.

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39

3.3 COLETA DE DADOS

Segundo Yin (2005), a coleta de dados no estudo de caso pode ser feita por meio de

seis fontes de evidência: documentos, registros em arquivos, entrevistas, observação direta,

observação participante e artefatos físicos.

No que tange à observação participante, entende-se que o pesquisador está engajado

no contexto pesquisado, sendo um ator interativo, conforme Vergara (2014). Isto porque o

autor convive, profissionalmente, com os gestores, participando, de forma interativa, de

diversos momentos em que os gestores precisam demonstrar resultados de seus trabalhos.

Esse estudo privilegiou aplicação de entrevistas semiestruturadas, observação

participante, análise de documentos e registros disponíveis. As entrevistas foram

semiestruturadas e realizadas com profissionais da empresa pesquisada em caráter de

anonimato, identificando-se somente se o gestor é da área de backoffic ou das operações de

lojas.

Segundo Godoi (2010), a entrevista semiestruturada tem o objetivo de compreender os

significados que os entrevistados atribuem às questões relativas ao tema investigado. Esse

tipo de entrevista é adequado quando se pretende compreender as elaborações que o

entrevistado utiliza para fundamentar suas opiniões e crenças num tema complexo.

Importante ressaltar que o roteiro da entrevista foi baseado na teoria sobre o

comprometimento de Borges-Andrade e Pilati (2001), pois buscou-se compreender se as

questões de crise implicaram nos padrões de comprometimento, sendo este compreendido na

visão multidimensional, ou seja, afetivo, normativo e instrumental. O roteiro, também, foi

desenvolvido com base no Organizational Commitment Questionnaire (OCQ) elaborado por

Mowday, Steers e Porter (1979), que se tornou o mais largamente utilizado nas pesquisas em

todo o mundo, traduzido e validado para o Brasil por Borges-Andrade, Afanasieff e Silva

(1989). Foi inspirado, ainda, nos questionários aplicados por Garcia (2007) e Morais (2004).

As questões presentes no roteiro das entrevistas foram definidas com base nos

aspectos teóricos e objetivos de estudo demonstrados na Tabela 2.

Tabela 2 – Roteiro de questões para entrevista.

Questão Objetivo Autor

1) Compreender se o profissional reconhece a atual

crise econômica vivida no Brasil.

O autor

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40

2) Entender se o profissional percebe que a atual crise

afeta sua organização e reconhece que a empresa

adota medidas de redução de despesas.

Meyer e Allen; Cacciamali e

Brito.

3) Identificar se o profissional percebe que a empresa,

além da crise econômica, passou por recente

mudança no modelo de gestão.

Herzog

4) Identificar, por meio dos exemplos, se o gestor

participou de forma ativa e comprometida para a

superação do atual momento.

Evans, Pusik, Barsoux;

Tanure.

5) Verificar se, em situações de crise, os vínculos

empregatícios são ameaçados.

Rousseau; Scheible

6) Identificar se houve proatividade e engajamento do

profissional diante do contexto de crise e ainda o

tipo de comprometimento apresentado na crise.

Borges-Andrade e Pillati;

Meyer e Allen; Rego.

7) Identificar o tipo de comprometimento

organizacional do profissional.

Meyer e Allen.

8) Verificar se existem profissionais que se

comprometem mais que outros em situações de

crise vivida pela organização.

O Autor com base nas teorias

de Mayer e Allen; Porter,

Steers e Mowday.

Fonte: o autor.

O roteiro foi utilizado em uma entrevista teste com um sujeito da pesquisa, tendo sido

possível identificar e atender aos objetivos deste estudo.

A observação foi de caráter participante. Isto porque ela permite compreender

aparências, eventos e comportamentos (YIN, 2005), considerando-se a circunstância do

pesquisador trabalhar na empresa pesquisada.

Os documentos e registros foram considerados por darem evidências a questões oriundas de

outras fontes, como entrevistas e observações.

Essas fontes foram escolhidas com o objetivo de buscar o máximo de profundidade na

questão da pesquisa, considerando-se que todas possuem pontos fortes e fracos, como destaca

Yin (2005).

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41

3.4 ANÁLISE E TRATAMENTO DOS DADOS

Inicialmente foi realizada uma análise qualitativa das entrevistas, com o objetivo de se

identificar a autopercepção do contexto vivido, receios e do comprometimento frente ao

momento visando identificar os elementos de compreensão do cenário de crise econômica, do

impacto do mesmo sobre a ameaça ao próprio emprego, e de como reagiu o entrevistado em

termos de comprometimento com a organização. Buscou-se, também, identificar a postura de

engajamento, diante de um momento de mudança, com a organização e com os objetivos de

negócio na busca de superação da crise e ainda se a GRH agiu de modo a engajar os

profissionais na compreensão de como podem contribuir com o atingimento dos resultados

esperados.

Tal análise se deu respaldada nas teorias sobre o quanto as circunstâncias de crise

podem alterar o comprometimento organizacional, principalmente em função das medidas

tomadas pela organização, pelo ponto de vista dos empregados simbolizarem quebra de

contratos psicológicos (BORGES-ANDRADE E PILLATI, 2001; FEDOR, CALDWELL E

HEROLD, 2006; BALASSIANO E SALLES, 2012; RODRIGUES E BASTOS, 2010).

Para o tratamento dos dados, foi utilizada a abordagem qualitativa de análise do

conteúdo. A análise de conteúdo enquanto método torna-se um conjunto de técnicas de

análise das comunicações que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do

conteúdo das mensagens. Assim, a análise de resultados foi baseada na inferência e

interpretação. Sendo inferência a técnica de tratamento orientada por polos de comunicação

(emissor da mensagem, receptor, mensagem e canal) e a consequente interpretação,

buscando-se a leitura profunda das comunicações, para além do conteúdo aparente, seja sobre

os documentos ou das mensagens transmitidas nas entrevistas, como defendido por Bardin

(2008).

Pretendeu-se, ainda, por meio da caracterização de cada discurso coletado,

desenvolver a síntese destes para auxiliar a realização de inferências. Para isso, foi utilizada a

técnica da categorização, que, segundo Bardin (2008), significa o desmembramento do texto

em categorias, de acordo com agrupamentos lógicos.

Foi adotado um programa de análise de conteúdo chamado Atlas/Ti, considerando-se

que a utilização de softwares como apoio à análise de material empírico em pesquisas

qualitativas auxilia em termos de ganho de eficiência na manipulação de dados qualitativos.

Isto porque, segundo Gogoi, Bandeira de Melo e Silva (2010), o Atlas/ti apresenta os

seguintes princípios que norteiam os procedimentos de análise pelo pesquisador: visualização:

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42

apoia o gerenciamento da complexidade do processo de análise, mantendo o contato do

usuário com os dados; integração: a base de dados e todos os elementos construídos na análise

são integrados em um único projeto; casualidade: promove os insights casualmente, ou seja,

sem a busca propositada; exploração: a interação entre os diferentes elementos constitutivos

do programa proporciona a descoberta. De modo geral, esse software permite que o

pesquisador abstraia interpretações sobre os dados e delas construa hipóteses explanatórias

que devem ser validadas empiricamente.

3.5 LIMITAÇÕES DO MÉTODO

As maiores críticas às pesquisas qualitativas estão relacionadas à falta de

procedimentos rigorosos para fazer a correlação dos achados, sendo cada observação única e

dependente do objeto, do investigador e do participante. Segundo Vergara (2014), todo

método possui limitações. Assim, as limitações deste estudo foram identificadas pelos

seguintes aspectos:

a) Por ser um método qualitativo, sua aplicação se restringe à empresa estudada, e,

portanto, seus resultados não permitem generalização;

b) sendo uma pesquisa qualitativa, as análises foram de caráter subjetivo, decorrentes

das interpretações do autor e suas correlações;

c) como o contexto econômico vivido no Brasil considera o recorte do período de

2015 a 2016, não se encontrou material acadêmico-científico vasto que

confirmasse os achados do pesquisador;

d) o pesquisador é gestor de recursos humanos da empresa estudada, podendo este

fato ter influenciado nas respostas oferecidas pelos demais gestores entrevistados,

apesar dos cuidados adotados.

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43

CAPÍTULO 4 – O ESTUDO DE CASO

4.1 A EMPRESA

A empresa estudada é uma multinacional do ramo de varejo presente mundialmente

em aeroportos, portos, navios cruzeiros e grandes centros. No Brasil ela está presente,

prioritariamente, em aeroportos, tendo em seu portfólio produtos importados e nacionais de

diversas categorias, tais como perfumes e cosméticos, bebidas, comestíveis, moda e

acessórios, souvenires, eletrônicos, publicações e produtos de conveniência para quem está

em viagem. Sua sede fica na cidade do Rio de Janeiro e as lojas nos principais aeroportos do

Brasil. Possui mais de dois mil e trezentos funcionários, sendo cerca de 600 lotados no RJ.

A estratégia da empresa é voltada para o crescimento com rentabilidade, com base na

operação de lojas próprias no segmento de varejo de viagem a nível global, com

diversificação geográfica, de setores e de canais. Sua missão é definida como: sustentar nossa

posição mundial da mais sólida e especialista parceira de varejo de viagem com poder de

entrega incomparável. Seus valores são: Solidez: performar com solidez e excelência em tudo

o que fazemos; Entrega: Executar nossa missão para atingir performance financeira sólida por

meio da excelência operacional; Global: gerar valor por meio do poder de alcance global

incomparável; Foco: ser focada como especialista em varejo com atenção centrada nos

clientes.

Nos últimos dois anos, adquiriu duas empresas do mesmo ramo, tornando-se empresa

líder mundial em seu segmento. Vem passando, desde então, por um processo de revisão de

estrutura na escala global e consequentemente nos países em que atua. Especificamente no

Brasil, as principais mudanças internas foram: alteração do principal executivo no país

(alteração no modelo de gestão, o que impacta na mudança de cultura), implementação de

novo sistema integrado de gestão (mudança de processos e sistema) e revisão de estrutura

decorrente de alinhamento a estrutura global e/ou sinergias decorrentes da integração das

novas empresas.

Em decorrência da mudança no modelo de gestão, pode se destacar a implementação

de uma nova estratégia sustentada num Programa de Excelência, em que os pilares deste

definiram as prioridades para que a empresa no Brasil atinja seus objetivos de negócio no

curto e médio prazo. Todos os funcionários participam do Programa de Participação nos

Lucros e Resultados (PLR) cujas as metas estão atreladas a contribuição de cada um com o

programa de excelência e, portanto, aos objetivos de negócio.

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Já em relação às mudanças implementadas em função do contexto externo, é possível

destacar um plano de eficiência que é um pilar do Programa de Excelência que visa a redução

de despesas e/ou aumento de receita divulgado a toda a organização, com metas, plano de

ação, prazos e responsáveis. Uma das ações desse plano inerente à GRH inclui a revisão de

estrutura de modo a buscar um modelo mais eficiente e com menor impacto no nível de

serviço à operação. Tal reestrutura reduziu, nos últimos dois anos, mais de dois dígitos

percentuais no efetivo da empresa e nos custos de pessoal.

Vale ressaltar que a empresa é impactada, diretamente, pelo poder de compra do

brasileiro, importante consumidor de seu negócio, e pelo câmbio, visto que o preço dos

produtos é taxado em dólar que aumentou em média 41% em 2015 e 57% em 2016 frente à

média de 2014. Importante destacar que 2014 já foi o maior valor médio do dólar desde 2010

conforme demostrado na Tabela 3.

Tabela 3 – Valor histórico do dólar em Reais (R$)

Valor do DÓLAR em Reais (R$)

2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2015 vs 2014 2016 vs 2014

Janeiro 1,778 1,675 1,791 2,031 2,382 2,638 4,054 11% 70%

Fevereiro 1,842 1,668 1,718 1,973 2,384 2,817 3,978 18% 67%

Março 1,786 1,659 1,795 1,983 2,326 3,14 3,694 35% 59%

Abril 1,757 1,586 1,855 2,002 2,233 3,044 3,551 36% 59%

Maio 1,813 1,614 1,986 2,035 2,221 3,064 3,549 38% 60%

Junho 1,807 1,587 2,049 2,173 2,236 3,111 3,418 39% 53%

Julho 1,77 1,564 2,029 2,252 2,225 3,224 3,278 45% 47%

Agosto 1,76 1,597 2,029 2,342 2,268 3,515 3,208 55% 41%

Setembro 1,719 1,75 2,028 2,27 2,333 3,896 67%

Outubro 1,684 1,773 2,029 2,189 2,448 3,876 58%

Novembro 1,713 1,791 2,067 2,297 2,538 3,778 49%

Dezembro 1,695 1,837 2,08 2,345 2,644 3,869 46%

Média 1,760 1,675 1,955 2,158 2,353 3,331 3,591 41% 57%

Fonte: IEGV – Tabela adaptada pelo o autor.

A Tabela 3 demonstra a variação histórica do dólar frente ao real nos últimos seis anos,

exemplificando que o impacto da crise econômico-financeira do Brasil trouxe consequências

no poder aquisitivo e/ou comportamento de compra do brasileiro de produtos importados ou

valorados na moeda estrangeira durante o período da crise deflagrada.

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4.2 AÇÕES DA GRH DA EMPRESA VOLTADAS AO COMPROMETIMENTO E

ENGAJAMENTO

Ademais dos processos inerentes à GRH, observou-se em particular as seguintes

iniciativas da área para um modelo de gestão estratégico e/ou com vistas a buscar o

comprometimento e engajamento de seus funcionários:

a) Recrutamento & Seleção: o departamento dispõe de um book de seleção estruturado

por função para seleção de profissionais de loja contendo de forma padronizada os

instrumentos usados para o processo seletivo por cargo contendo testes gerais,

específicos, dinâmicas e roteiro de entrevista por competência alinhado ao modelo de

gestão por competências esperados para o desempenho das funções. Também possui

uma política de recrutamento interno que democratiza o processo seletivo para os

funcionários de acordo com as oportunidades internas divulgadas a cada oportunidade.

A empresa possui, ainda, um plano de carreira para as lojas apresentado aos

funcionários e respeitado regularmente a cada posição aberta. Os gestores das

operações de lojas são formados internamente por meio de um programa de

treinamento com duração de 6 meses a dois anos, assumindo após esse período a

gerência de uma das lojas em todo o Brasil.

b) Treinamento e Desenvolvimento: a empresa dispõe de uma Academia de Vendas com

programas de treinamento para cada função em loja. São cursos desenvolvidos

globalmente e localmente, ministrados por funcionários devidamente capacitados. Os

treinamentos são relacionados a conhecimento de produtos, atendimento e vendas,

procedimentos, sistemas, comportamentais e de gestão. Os cursos são ministrados em

sala de aula e alguns na própria loja. Dentre eles destaca-se o curso de feedback dado a

todos os gestores de modo a disseminar a cultura do feedback pontual sobre atitudes e

desempenho do funcionário de acordo com as expectativas da empresa de forma

continuada a despeito das avaliações semestrais formais de desempenho.

c) Avaliação de Desempenho: a organização possui um sistema formal de avaliação de

desempenho global, alinhado aos valores da companhia e objetivos de negócio, uma

vez que é composto competências e metas. No Brasil a avaliação final de 2015 teve

98% dos funcionários elegíveis avaliados.

d) Remuneração: é adotado um modelo de remuneração para vendedores e lideranças de

loja com parte fixa e variável. A variável é composta de acordo com o atingimento de

metas relacionadas aos objetivos mensais de cada loja, reconhecendo assim os

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resultados individuais obtidos por cada funcionário. Além disso, todos os funcionários

são elegíveis a um programa de participação nos lucros e resultados onde é possível

atingir anualmente de um a quatro salários4 de PLR de acordo com o atingimento das

metas corporativas e individuais, reconhecimento assim o resultado de todos e de cada

um.

e) Comunicação Interna: a empresa comunica assuntos relevantes de maneira semanal

e/ou por necessidade tais como: missão, visão, valores, estratégias, metas, programa

de excelência, campanhas, atualizações de negócio e notícias inerentes por meio dos

seguintes canais: comunicado interno por email, jornal mural impresso em todas as

lojas e departamentos da sede central, reuniões mensais com a alta gestão para

disseminação às equipes e encontros formais com o executivo principal em caso de

fatos relevantes.

4.2.1 a pesquisa de engajamento

No que se refere ao comprometimento e ao engajamento de maneira mais específica, a

empresa realiza uma pesquisa de engajamento anual iniciada em 2015, definida,

globalmente, com a participação de cada país. Esta pesquisa é realizada por meio de um

questionário online, aplicado com apoio de uma empresa especializada no tema e adaptada

aos objetivos da empresa estudada. Com base nos resultados, a GRH define um plano de

ação que é validado pela alta direção e comunicado aos gestores e todos os funcionários.

A pesquisa utilizada pela empresa parte dos conceitos demonstrados nas figuras 2 e 3.

4 O múltiplo de salários varia de acordo com os cargos e funções ocupados.

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Figura 2 - Conceitos de engajamento: diferença entre satisfeito e engajado

Fonte: material interno da empresa.

A Figura 2 demonstra, resumidamente, a diferença entre satisfação e engajamento.

Enquanto a primeira avalia o quanto os funcionários estão confortáveis e contentes de

modo geral quando suas necessidades são atendidas pela organização, a segunda identifica

o quanto os funcionários estão engajados e altamente envolvidos com o trabalho e a

empresa. Em visão geral, a satisfação é uma via de mão única da empresa para os

funcionários e o engajamento uma via de mão dupla, em que há retorno não só com a

função exercida, mas com o engajamento ao realizá-la.

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Figura 3 - Escala de engajamento

Fonte: material interno da empresa.

A Figura 3 explica as escalas de pontuação das respostas para classificá-las como

engajados, quase engajados, indiferentes e desengajados.

A última pesquisa realizada entre novembro de 2015 e março de 2016 obteve os

seguintes resultados:

Média de respostas entre 5.01 e 6.00

Média de respostas entre 4.51 e 5.00

Média de respostas entre 4.01 e 4.50

Média de respostas menores que 4.00

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Figura 4 - Resultados gerais de engajamento

Fonte: material interno da empresa.

Os resultados gerais da empresa são apresentados na Figura 4 e revelam o

benchmarking da consultoria: que contempla resultados das pesquisas de engajamento de

empresas dos setores de serviços, indústrias, construção, varejo, produtos de consumo,

energia, saúde, órgãos governamentais e educacionais; a média da empresa no mundo, na

América latina (Latam) e no Brasil.

Em relação a esse resultado, é possível observar que o Brasil apresentou um índice de

engajamento superior ao do benchmarking global, ao da empresa em escala mundial e

muito similar ao da América Latina.

Vale destacar que a pesquisa realizada teve 65% de funcionários respondentes.

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Figura 5 - Resultado geral da empresa no Brasil

Fonte: material interno da empresa.

A Figura 5 demonstra, especificamente, o resultado da pesquisa aplicada no Brasil e

sua comparação com o benchmarking da consultoria, obtendo o país resultados bem

superiores ao benchmark.

Figura 6 - Resultados das questões sobre engajamento

Fonte: material interno da empresa.

A Figura 6 demonstra o índice de respostas para as perguntas específicas sobre

engajamento, em que é possível identificar que 95% dos funcionários responderam

+19,2pp -2,3pp -6,9pp -11,8pp

>59% = Alta Performance

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reconhecer que sua contribuição é importante para o sucesso da organização; 94% deles

dizem oferecer ajuda aos demais colegas de trabalho com frequência (colaboração); 93%

dos mesmos dizem estar comprometidos com a organização; que 89% dos empregados a

despeito de tudo gostam de trabalhar na empresa e mesmo índice afirma terem orgulho do

trabalho que fazem; que 88%, independentemente de tudo, gostam do seu trabalho; 75%

afirmam fazer parte de uma equipe com um objetivo compartilhado; e que 67% disseram

ter colaborado com recomendações para melhorias organizacionais. Todas essas questões

obtiveram índices de respostas superiores ao benchmark, sendo esses elevados índices de

respostas de maneira geral. O único resultado abaixo do benchmark refere-se a estarem

continuamente motivados a irem trabalhar (58%). De modo geral, o resultado sobre as

perguntas de engajamento demonstra que a empresa possui alta performance de

engajamento.

Figura 7 - Drivers de engajamento

Fonte: material interno da empresa.

Já a Figura 7 demonstra os drivers5 de engajamento. É possível observar que a maioria

é acima da média global e, também, apresenta um índice de alta performance. Os três que

encontram-se abaixo de 59% são ainda dentro da média mundial de performance.

5 Equivalem a fatores impulsionadores do engajamento definidos pela consultoria com base em

pesquisas e estudos realizados em escala global.

>59% = Alta Performance

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Figura 8 - Driver empowerment

Fonte: material interno da empresa.

A Figura 8 demonstra os resultados das respostas sobre as perguntas de empowerment

dos funcionários. É possível observar que nos aspectos de gestão os índices demonstram

alta performance de engajamento, seja para a compreensão que os funcionários possuem

sobre a expectativa que a empresa possui sobre seu trabalho (87%), sobre a oportunidade

de demonstrarem seus talentos no trabalho (63%) e de quando oferecem sugestões para

melhorar algo estas são levadas a sério (61%). A única questão que demonstrou

performance média, próxima à baixa, refere-se à disponibilidade de ferramentas

necessárias para realizarem um bom trabalho (42%).

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Figura 9 - Driver cultura

Fonte: material interno da empresa.

No drive cultura demonstrado na figura 9, é possível identificar alta performance na

identificação dos funcionários com a cultura organizacional (84%), também superior ao

benchmark; média performance no espírito colaborativo da empresa (57%) e, ainda, acima

do benchmark; e média performance no clima amigável da empresa (54%), único abaixo

do benchmark.

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Figura 10 - Driver company potential

Fonte: material interno da empresa.

Observa-se, com base na figura 10, que o único índice de respostas de alta

performance está relacionado a acreditação na estratégia geral do negócio (77%), e para as

perguntas sobre o encorajamento à inovação (59%) e o comprometimento dos funcionários

em fazerem um trabalho de alta qualidade (51%) se apresentam na média do benchmark. Já as

respostas sobre a qualidade percebida dos profissionais da empresa apresentaram um índice

de baixa performance (38%).

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Figura 11 - Driver learning and development

Fonte: material interno da empresa.

A Figura 11 demonstra o drive relacionado a aprendizado e desenvolvimento. É

possível identificar que nas respostas sobre a oportunidade de carreira na empresa 71% dos

funcionários reconheceram possibilidades de desenvolvimento profissional; 70% disseram ser

encorajados a impulsionar atividades de desenvolvimento de carreira; e, em relação aos

treinamentos que apoiam um melhor desempenho no trabalho, 61% afirmaram terem

recebido. Todos esses índices representam alta performance de engajamento. Já em relação ao

recebimento em quantidade adequada de treinamentos nos últimos doze meses, a empresa

apresentou média performance, próxima à baixa, considerando que apenas 41% dos

funcionários responderam afirmativamente a essa questão.

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Figura 12 - Driver coworkers relationships

Fonte: material interno da empresa.

Já no drive relações com os colegas de trabalho demonstrado na figura 12, os índices

constatam que 74% gostam das pessoas com que trabalham e que 63% relatam acreditar que

seus colegas ajudarão nas atividades. Ambos de alta performance. Já a questão relativa à

preocupação dos colegas, quanto a suas vidas pessoais, o resultado se apresentou na média

performance (55%).

Figura 13 - Driver Compensation and benefits

Fonte: Material interno da empresa.

Fonte: material interno da empresa.

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57

Já em relação ao driver de remuneração e benefícios, os resultados apresentaram

média performance, 49% e 57% respectivamente, ambos acima do benchmark.

Figura 14 - Drive Relacionamento com a gerência

Fonte: material interno da empresa.

No driver relacionado à gestão, as repostas demonstraram alta performance de

engajamento em todas as perguntas. 71% responderam confiar no gestor; 68% afirmaram

receber apoio gerencial para o atingimento de melhores resultados; 62% de respostas

afirmativas de que a gerência os mantém informados sobre as decisões que afetam seus

trabalhos; e 61% de afirmativas de que recebem feedback de alta qualidade do gestor.

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Figura 15 - Drive department relationship

Fonte: material interno da empresa.

Quanto ao driver relacionamento entre os departamentos, os resultados demonstraram

alta performance apenas para a questão de bom relacionamento com os funcionários de outra

área, com 88% de afirmativas; já a questão relacionada ao reconhecimento de outros

departamentos pelas contribuições de seu próprio departamento apenas 57% concordaram;

Em relação ao trabalho em conjunto entre os departamentos para obterem o trabalho realizado

o resultado foi de média performance, com 50% de concordância com tal afirmativa.

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Figura 16 - Driver working environment

Fonte: material interno da empresa.

Já em relação ao driver de ambiente de trabalho, a empresa obteve alta performance

nas três perguntas relacionadas, quais sejam: não me sinto discriminado pela organização por

questões de raça, gênero, sexo, orientação sexual, religião ou etnia (88%); sinto-me

fisicamente protegido no trabalho (86%); e não sofro assédio moral no trabalho (73%).

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Figura 17 - Drive Work life balance

Fonte: material interno da empresa.

No último driver sobre equilíbrio entre vida pessoal e profissional, o resultado

demonstrou que 85% dos funcionários afirmaram serem aptos a manterem um equilíbrio entre

vida profissional e pessoal; e 67% afirmaram terem o nível de stress no trabalho de forma

gerenciável.

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Figura 18 - Resultados Brasil por localidade

Fonte: Material interno da empresa.

A Figura 18 demonstra os resultados por localidade. Como o foco da pesquisa está no

estado do Rio de Janeiro, vale destacar que o engajamento dos funcionários das operações de

loja foi superior ao dos empregados das áreas de backoffice, apresentando 72% de

funcionários engajados nas lojas e 64% na sede central.

A partir de entrevista com o gestor de recursos humanos, foi possível identificar que um

plano de ação foi elaborado pelo departamento, apresentado a Alta Direção e após validado,

será comunicado a todos da empresa de modo a apresentar os resultados gerais e a proposta

corporativa para atuar nas prioridades de melhoria para o engajamento no decorrer do

próximo ano.

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CAPÍTULO 5 - ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

As entrevistas foram realizadas entre os meses de agosto e setembro de 2016, conforme a

amostragem definida na metodologia de pesquisa, sendo cinco gestores das áreas de suporte

e/ou backoffice e cinco da área de atividade fim, operações de lojas, totalizando dez sujeitos.

Todas as perguntas constantes no roteiro da entrevista semiestruturada foram respondidas

com tranquilidade e de forma direta por todos os entrevistados. Não houve objeção a

responder qualquer um dos assuntos abordados, nem foi apresentado receio, desconforto ou

desconhecimento por parte dos gestores sobre qualquer um dos temas. Assim, com base nas

entrevistas, foram possíveis as seguintes constatações que são apresentadas por categorias:

Reconhecimento da crise econômica no Brasil

Cem por cento (100%) dos gestores entrevistados reconheceram que o país atravessa um

período de dificuldade econômico-financeira. Os termos utilizados por eles para descreverem

sua percepção a respeito do contexto econômico foram: crise, complexo, instável, de recessão

e inflação, difícil, complicado, dentre outros, conforme demonstrado no Gráfico 1.

Gráfico 1 - Contexto econômico-financeiro

Fonte: o autor.

As respostas a primeira questão permitiram confirmar que, na percepção dos gestores, de

forma unânime, o Brasil enfrenta de fato um período de crise econômica deflagrada em 2015

e recorrente em 2016. A palavra crise, inclusive, foi a mais utilizada por eles.

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Impactos da crise econômica na organização

100% (cem por cento) dos gestores afirmaram, ainda, que o contexto externo afetou sua

empresa em termos de reflexo no resultado financeiro, tendo a mesma adotado medidas de

redução de custos. As palavras e expressões mais utilizadas para descrever como o contexto

externo afetou a organização foram: estrutura, custos, demissões, poder de compra dentre

outras conforme demonstrado no Gráfico 2.

Gráfico 2 - Reflexos do contexto externo na organização

Fonte: o autor.

De acordo com as respostas, foi possível constatar que o atual contexto externo afetou,

diretamente, a empresa em sua geração de receitas, sendo este um ponto pacífico entre todos

os entrevistados. Seja pela desvalorização da moeda brasileira, seja pela diminuição do poder

de compra do consumidor, seja pela redução das viagens dos brasileiros, ou pelos demais

motivos apresentados pelos gestores, todos eles refletiram na diminuição das vendas exigindo

por parte da empresa ações de redução de custos, como as narradas pelos entrevistados:

reestrutura organizacional, redução do quadro, busca de sinergias, dentre outras.

Mudanças internas independentes do contexto externo

No que se refere à compreensão de mudanças internas independentemente do contexto

externo, foi possível identificar que 70% (sessenta por cento) reconheceram que a empresa

sofreu alteração do principal executivo, confirmando a mudança do modelo de gestão; 20%

(vinte por cento) relacionaram as mudanças internas como decorrentes da reestruturação

global; 20% (vinte por cento) mencionaram a mudança do sistema de gestão e 10% (dez por

cento) não conseguiram perceber nenhuma das alterações internas desconectadas do contexto

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econômico externo, conforme gráfico 3. Vale ressaltar que, a título de validação estatística,

um mesmo gestor pode mencionar mais de um fator de mudança interna.

Gráfico 3 – Mudanças por motivações internas

Fonte: o autor.

O Gráfico 3 apresenta as alterações motivadas por questões internas, demonstrando que a

empresa, também, sofreu mudanças internas a despeito do contexto externo na visão da quase

unanimidade dos gestores.

Engajamento dos executivos

Em relação ao engajamento dos gestores para contribuírem de forma ativa com os

objetivos da empresa e apoiá-la na superação do atual momento de crise, observou-se que

100% afirmaram contribuir diretamente com os objetivos de negócio e superação do

momento. Dentre as expressões mais utilizadas, foi possível agrupá-las da seguinte forma:

melhorar resultados, propor alternativas, sobrecarga, comprar a ideia, revisar processos, rever

estrutura, dentre outras conforme demonstrado no Gráfico 4.

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Gráfico 4 – Ações de engajamento

Fonte: o autor.

Com base nas respostas dos gestores entrevistados foi possível identificar que,

independentemente da forma com que contribuíram ou foram chamados à participarem, há um

reconhecimento geral dos entrevistados de que algo a mais foi exigido deles em comparação

com momentos anteriores. Observou-se que foram convocados a saírem de uma zona de

conforto para proporem alternativas que visassem ao aumento de receita ou à redução de

despesas. Tal circunstância exigiu deles atitudes diferenciadas em seu modelo de gestão, seja

na forma de trabalhar, no que focar ou na quantidade de esforço adicional dispensado ao

trabalho.

Ameaça aos vínculos empregatícios

Quanto à ameaça ao vínculo empregatício próprio, foi possível identificar que 4

(quatro) dos gestores afirmaram reconhecerem que o momento gera incerteza, mas a maioria

dos que responderam afirmativamente fizeram ressalvas e complementações de que tal

sentimento é presente naqueles que não se sentem contribuintes, de que a incerteza é inerente

ao negócio, ou a vida, ou ao mercado de trabalho em geral, ou que ela é mais evidente em

situações de crise. 6 (seis) dos entrevistados afirmaram não sentirem-se inseguros em relação

ao seu trabalho, complementando entenderem sua contribuição para os objetivos de negócio.

Em relação aos que responderam negativamente, a maioria adicionou que, apesar de não

sentir incerteza em relação a si próprio, percebe que parte da equipe se sente insegura.

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Gráfico 5 – Insegurança em relação ao vínculo empregatício

Fonte: o autor.

Nessa questão observou-se, de modo qualitativo, que há um reconhecimento pela

maioria de que a incerteza existe para os que não se sentem contribuintes com os objetivos de

negócio ou não encaram os desafios como oportunidade e necessidade de superação.

Exigências do novo contexto

No tocante ao que o momento atual exigiu de diferente dos gestores, observou-se que

todos afirmaram alterações na rotina, na forma de trabalhar e se dedicarem, tendo destaque

para: propor soluções, melhorar ou aumentar a produtividade, saber ouvir, dedicação,

adaptação, dentre outras conforme demonstrado no Gráfico 6.

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Gráfico 6 – Exigências do novo contexto

Fonte: o autor.

A respeito desse tema, identificou-se que os gestores se sentiram exigidos, ou em

termos de maior dedicação (aumento de trabalho, mais tempo, mais esforço pessoal, mais

produtivo etc.), ou em relação a novas competências (propor soluções, aprofundar análises,

olhar o todo, nova forma de lidar com pessoas, entre outros).

Em síntese, foi possível analisar que os gestores reconheceram um contexto

econômico-financeiro em crise que afetou, diretamente o faturamento da empresa, fazendo

com que esta adotasse medidas de redução de despesas e aumento de receita. No tocante à

redução de custos, as ações mais mencionadas foram relacionadas à reestruturação

organizacional com redução do quadro de pessoal, exigindo dos gestores e suas equipes maior

produtividade, eficiência, dedicação de horas adicionais ao trabalho ou maior otimização das

mesmas. O comprometimento adicional em consequência do atual momento instável

economicamente foi percebido por meio dos discursos de que suas contribuições se deram

com proposição de soluções para os objetivos de superação da crise, busca de maior

produtividade e com maior dedicação.

Fatores de retenção

Foi verificado que os fatores que levam os gestores a permanecerem na empresa estão

relacionados a: gostar do varejo, no investimento da empresa em suas carreiras, no

reconhecimento da empresa pelo trabalho realizado, pelo fato da empresa ser dinâmica, exigir

superação e aprendizado constante, certeza de se sentir contribuinte para o processo de

mudança, de que o trabalho é importante para o negócio, agregar para a vida dos clientes,

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perspectiva de crescimento, o ambiente de trabalho, a empresa ser justa, entregar um trabalho

de valor e ter autonomia.

Para maior compreensão a respeito dos fatores de retenção, estes foram divididos em

três categorias, sendo elas: fatores inerentes à empresa, fatores inerentes ao negócio e fatores

inerentes ao gestor conforme demonstrado no gráfico 7. Assim, foi possível identificar que

60% dos fatores citados pelos gestores são inerentes à organização, 27% dos fatores

relacionados ao negócio e 13% dos motivadores ligados a motivos pessoais, individuais, ou

seja dos próprios gestores. É possível concluir a relevância dos fatores diretamente ligados à

organização e suas práticas sobre a retenção dos profissionais.

Gráfico 7 – Categorias de retenção

Fonte: o autor.

Fatores Inerentes à empresa

Com relação aos fatores inerentes à empresa, foi possível mapear aqueles considerados

pelos gestores como motivadores de sua permanência na empresa conforme apresentado no

gráfico 7. Sendo o reconhecimento pelo trabalho realizado o com maior incidência de

menção, com dez ocorrências. O reconhecimento mencionado pelos entrevistados não foi de

cunho financeiro, mas sim aquele conferido por meio do feedback conferido pela alta direção

a cada desafio superado, trabalho relevante realizado ou ação implementada. Outro fator com

expressiva menção (seis) foi a transparência, em que há o reconhecimento de que as

informações sobre a empresa, seus resultados, motivadores de programas, decisões e diversas

ações são claramente comunicadas e compartilhadas com o grupo gerencial. A autonomia foi

citada por cinco dos gestores como elemento de retenção. Também foram ressaltados fatores

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como gostar da atividade exercida (citada por três), aprendizado (dois), pelo fato da empresa

ser dinâmica (dois), justa (um) e sólida (um) ou ainda investir nos funcionários (um).

Vale ressaltar para efeitos estatísticos, que um gestor podia atribuir mais de um fator de

retenção.

Gráfico 8 – Fatores inerentes à empresa

Fonte: o autor.

Fatores inerentes aos gestores

Já os fatores inerentes aos gestores demonstrados no Gráfico 9, o mais citado foi o

valor que o mesmo percebe sobre seu próprio trabalho (três), seguido pelo comodismo (dois),

felicidade (um) e não ter tantas opções (um).

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70

Gráfico 9 – Fatores inerentes ao gestor

Fonte: o autor.

Fatores inerentes ao negócio

Os fatores relacionados ao negócio foram mencionados por todos os entrevistados. A

categorização foi feita considerando-se as palavras utilizadas pelos gestores. Dez

mencionaram varejo, três travel retail e o ramo de atividade (um), conforme o gráfico 10.

Gráfico 10 – Fatores inerentes ao negócio

Fonte: o autor.

Percepção sobre o comprometimento da equipe

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71

Em relação à percepção dos gestores sobre o comprometimento de suas equipes, foi

possível identificar que 5 afirmaram que a equipe está totalmente comprometida ou

comprometida e 5 afirmaram que parte da equipe está comprometida e parte não, ou que uns

estão mais comprometidos do que outros, conforme demonstrado no Gráfico 11. Ao analisar

tal percepção por área de gestão, observa-se que os gestores de operações de loja percebem

suas equipes mais comprometidas (6) do que os gestores de backoffice (4), conforme

demonstrados nos Gráficos 12 e 13. Tal resultado é similar a pesquisa de engajamento

aplicada a todos os níveis de funcionários, em que o engajamento nas operações de loja (72%)

é superior ao engajamento nas áreas de suporte (64%).

Gráfico 11 – Percepção sobre o comprometimento da equipe

Fonte: o autor.

Na segregação entre as áreas de atividade meio e as de atividade-fim, observou-se que

6 gestores de loja afirmaram que suas equipes estão comprometidas e 4 que estão,

parcialmente, comprometidas, conforme demonstrado no Gráfico 12.

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Gráfico 12 – Percepção sobre o comprometimento da equipe: gestores de operações de loja

Fonte: o autor.

Já em relação às áreas de backoffice, ocorre o inverso, 4 afirmaram que suas equipes

estão comprometidas e 6 responderam estarem em parte, conforme demonstrado no Gráfico

13. Quando perguntados sobre o comprometimento de seus superiores, todos afirmaram que

eles estão preocupados e altamente comprometidos em reverter o atual momento e apoiar os

objetivos de negócio.

Gráfico 13 – Percepção sobre comprometimento da equipe: gestores de backoffice

Fonte: o autor.

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73

Tipos de comprometimento

Com base na interpretação das respostas durante toda a entrevista, foi possível identificar

que o comprometimento que mais se destacou entre os gestores foi o normativo, apresentado

em 6, seguido, igualmente, pelo afetivo em 2 e o cumulativo/instrumental, também, em 2,

conforme apresentado no Gráfico 14.

Gráfico 14 – Tipos de comprometimento

Fonte: o autor.

As entrevistas permitiram tal conclusão por parte do autor pelas seguintes razões:

a) Comprometimento Normativo

Todos os gestores que foram classificados com o comprometimento normativo mais

evidente, deixaram claro em suas falas que tiveram atitudes proativas e engajadas por

perceberem a importância de sua contribuição para o negócio e/ou superação da crise; alguns

ainda responderam que atuaram dessa forma em razão da função que ocupam; ou por

sentirem-se desafiados constantemente; e, ainda, por responderem permanecerem na empresa

por perceberem que, ainda, possuem missões, ciclos ou desafios a cumprir. Todas as respostas

estavam relacionadas a um sentido de cumprimento de missão, pressão normativa

autoimposta para agir de forma congruente aos objetivos da organização, ou obrigação

exigida por si próprio conforme definido à luz da teoria de Allen e Meyer (1990). As respostas

desses gestores não foram correlacionadas de modo significativo a um sentimento pelas

pessoas da empresa, ou pelos valores da empresa ou por falta de outras oportunidades:

aspectos estes mais fortes nos outros estilos de comprometimento. No entanto, também foi

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possível perceber elementos do comprometimento afetivo presente nesses executivos, porém

menos enfatizados no decorrer da entrevista. Conforme a teoria e Allen e Meyer (1997), em

relação à visão multidimensional, é possível identificar a presença de ambos os tipos de

comprometimento em um indivíduo, porém seria necessária aplicação de um instrumento

técnico (QOC) com suas medidas e escalas validadas para obter maior precisão. Cabe, ainda,

reforçar que “a cultura organizacional pode atuar diretamente no sentido de produzir membros

"comprometidos", exercendo uma influência estável e de longo prazo sobre o comportamento

no trabalho (Bastos 1993, p. 58).” Assim, elementos culturais da organização por mais que

possam denotar o comprometimento afetivo, também são relacionados ao normativo pois o

afetam diretamente, visto que:

quanto mais forte o comprometimento, maior a predisposição do indivíduo

guiar as suas ações por padrões internalizados, mais do que considerações

racionais acerca das consequências dessas ações. Assim, indivíduos

comprometidos apresentam certos comportamentos não porque eles

calculam que, em os apresentando, obterão benefícios pessoais, mas porque

eles acreditam que é certo e moral fazê-lo (Weiner e Vardi in Bastos, 1993, p.

58).

As falas específicas que levaram a essa classificação podem ser resumidas conforme

abaixo:

Gestor normativo 1: “Eu acho que é justamente a certeza que eu recebi do top management de

ser contribuinte pra este processo de mudança. É a gente ter a certeza de que o meu

trabalho, ele é entendido como uma coisa importante, e relevante para o atingimento das

metas e dos resultados que a companhia precisa. Então é, o senso de pertencer. Porque eu

tenho hoje uma, um senso de pertencimento muito grande e de contribuição muito grande.

Que é o que mais me estimula, estimula pessoalmente falando.”

Gestor normativo 2: “Dentro do que tá no meu escopo, dentro do que eu enxergo, eu vejo que

ainda tá, tem muita coisa que a empresa, ela, ela... a todo momento que eu vejo, tem coisas

pra acontecer. Você, eu não vejo a empresa parada, eu vejo que a empresa é uma empresa

dinâmica, com movimento, né? Então ela, eu acho que esse movimento, ele mostra o

seguinte: existe possibilidades, têm coisas que vão acontecer e eu acho que é você tá ali

aberta e pronta é, tentar se preparar da melhor forma pra, pra talvez aproveitar algum

desse movimento, né?”

Gestor normativo 3: “Eu acho que é o seguinte… é… independente da crise, a crise vem pra

gerar mais desafios pra gente, né? Então a gente tem que mostrar que quando a… economia,

a política tá lindo, maravilhoso é fácil você endireitar o negócio. Eu acho que quando você

tá numa crise, aí você realmente mostra quem você é e o que você pode oferecer e

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contribuir pra ajudar a empresa é… a… a… a superar esse… essa… essa crise, né? (...)

Então, o meu superior ele demonstra pra mim, né… é… a preocupação, é… a

importância da… da dedicação, né?

Gestor normativo 4: “O que me faz querer trabalhar nessa empresa? Eu acho que é

precisamente isso… essa questão de todos os dias ter que superar alguma coisa, ou todos

os dias ter… ham… algo novo pra… tanto pra aprender, tanto pra implementar, como

pra… pra definir, enfim. Quando nós estamos numa crise, seja ela do que for, ham… tem

certos, certos trabalhos que são muitos seguros que você tem todos os dias a mesma rotina, e

tem outros que todo o dia você tem que se reinventar. Porque se você continuar sendo a

mesma pessoa todos os dias, a tua empresa ou o teu negócio não vai… não vai superar a

crise.”

Gestor normativo 5: “Eu gosto muito da atividade que eu desempenho, do papel que eu

desempenho (...) … hoje eu me sinto valorizada aqui dentro do trabalho que eu… que eu

faço. Eu vejo valor no trabalho que eu entrego (...) Mas assim, eu aqui, hoje, eu me sinto

num processo de desenvolvimento profissional, é… intelectual, assim, de crescimento da

minha carreira, de possibilidade de desenvolvimento, é… que isso me faz permanecer. Eu

não completei um ciclo, eu não sei se eu vou completar. Mas assim, hoje eu vejo que eu

ainda tenho muita coisa pra aprender, tem um ciclo que eu ainda não fechei.”

Gestor normativo 6: “Ah sim, é pelo trabalho. As pessoas, eu acho que elas são

consequência. É... em todo lugar que você vai trabalhar, você vai trabalhar com pessoas boas,

pessoas ruins, pessoas mal-humoradas, pessoas alegres, pessoas que você tem mais afinidade

e que não tem. Agora… a forma como a empresa te vê e te reconhece, não é em qualquer

lugar, cara. (...) Ou seja, o comprometimento a gente fica brigando pra ver quem sai mais

tarde do escritório, né. Pow, se eu trabalhar legal, se eu fizer um bom trabalho, eu tenho

certeza que vão ver, vão me reconhecer.”

b) Comprometimento afetivo

Os dois gestores classificados com o comprometimento afetivo deixaram evidentes em

suas respostas que se comprometem e permanecem na empresa por se identificarem

emocionalmente com seus valores, com o seu propósito; utilizaram adjetivos emocionais e

motivações pessoais relacionadas a paixão pelo propósito da empresa ou pelo carinho que

possui pelas pessoas que nela trabalham. Afinal, “a perspectiva analítica consolidada no

clássico trabalho de Mowday, Porter e Steers, enfatiza a natureza afetiva do processo de

identificação do indivíduo com os objetivos e valores da organização (Bastos, 1993, p. 54)”.

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Gestor afetivo 1: “Então, considera que, o que me motiva a continuar na empresa foi o

que, o que eu vi quando eu cheguei aqui. Esse aqui é um ambiente de trabalho é, bem leve

é, indiferente dos problemas é, com características até familiares, né? As pessoas se

conhecem, as pessoas trabalham aqui há bastante tempo, as pessoas gostam da empresa,

elas se sentem confortáveis umas com as outras e eu acho que a empresa cuida bem dos

funcionários. Assim ela, ela é, ela é justa e ela procura, dentro das limitações, desenvolver o

potencial de cada um, né? Eu acho que o ambiente de trabalho é que eu encontrei nos

primeiros meses que eu cheguei.”

Gestor afetivo 2: “Olha, eu vou te dizer, pra mim, o que que é o principal. Por que que

eu acordo todo dia? É, eu gosto de trabalhar com alguma coisa que possa trazer

felicidade, tá? É, e melhorar a vida das pessoas de alguma maneira. Aí assim, é... primeira

coisa: os nossos clientes. O encantamento que as pessoas têm ao entrar dentro duma,

duma loja nossa. Aquela sensação, né?”

C) Comprometimento calculativo/instrumental

Os dois gestores que apresentaram tal comprometimento evidenciaram, claramente,

que permanecem na empresa e se engajam por ela por já terem uma história construída; pela

empresa conhecer seus trabalhos e que sair dela significaria ter que construir tudo de novo; ou

ainda reconhecer que o mercado não está em condições favoráveis para se buscar uma nova

oportunidade na cidade em que já vive. Demonstrando, portanto, acomodação. Alley e Meyer

(1990), relacionam este tipo de comprometimento com o comodismo e não com o afeto ou

auto-normação, podendo ser percebido mais claramente nas transcrições de falas abaixo:

Gestor calculativo 1: “(...) hipótese: você sai e vai pra outra empresa, você vai ter

que primeiro entender a outra empresa. Aí você vai ter que ganhar o seu espaço pra

depois você começar a fazer as coisas do seu jeito, se o seu jeito for o jeito que a empresa

topar, certo? Ah, na @ (nome da empresa) eu não preciso isso. Então, ah, mas isso pode

parecer um pouco de, de comodismo. Hã, sim. É um comodismo ah, ah, eu poder ser do jeito

que eu sou.”

Gestor calculativo 2: “(...) Tô num setor que eu gosto muito, ah, na, na, na minha

cidade, é, é que, que também é uma grande vantagem e que não tem tantas opções assim,

ah, por tá já há bastante tempo aqui na empresa (...)”

Analisando por área, observou-se que dentre os gestores de operações de loja o

normativo se destaca em 4 deles e o instrumental em 1, enquanto nas áreas de atividade meio

(backoffice), o normativo se apresentou em 2, o afetivo também em 2 e o cumulativo em 1,

conforme demonstrado nos Gráficos 15 e 16.

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Gráfico 15 – Tipos de comprometimento: gestores de operações de loja

Fonte: o autor.

Gráfico 16 – Tipos de comprometimento: percepção de gestores de backoffice

Fonte: o autor.

A correlação que pode ser feita é que, na pesquisa de engajamento realizada pela a

empresa, as lojas obtiveram maior resultado (72%) do que no back-office (64%) e dentre os

gestores entrevistados, os de loja em sua grande maioria demonstraram o comprometimento

normativo (4) mais frequente, enquanto os gestores de backoffice foram classificados de

forma mais distribuída entre a prevalência dos tipos de comprometimento.

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CAPÍTULO 6 – CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES PARA PESQUISAS

FUTURAS

Dentre os objetivos propostos neste trabalho, de modo geral é possível afirmar que

foram plenamente atingidos. A pesquisa realizada indicou que mesmo num contexto de

instabilidade econômica que afetou diretamente a organização estudada, os executivos da

amostra demonstraram atitudes engajadas de comprometimento e perceberam diferentes

formas de comprometimento em suas equipes.

Quanto ao objetivo de analisar a compreensão dos sujeitos da pesquisa sobre a

existência de uma crise econômica atualmente em curso no país, foi possível identificar que

todos os gestores da amostra reconheceram que o Brasil atravessa um recente período de crise

econômica e que os efeitos desse contexto impactam diretamente o faturamento da

organização estudada do setor de varejo, tendo sido crise a palavra mais recorrente em todas

as entrevistas.

Para mitigar os impactos externos, foi possível concluir que dentre as diversas ações

tomadas pela a empresa, a mais citada pelos gestores entrevistados foi a reestruturação

organizacional com redução de quadro, confirmando que há vulnerabilidade explícita dos

vínculos empregatícios reconhecida pelos executivos e pelas equipes de acordo com suas

percepções. No caso estudado, a reestrutura se deu tanto por motivos externos quanto

internos. Conforme previsto na vanguarda acadêmica, segundo Pettigrew, Woodman e

Cameron (2001), e corporativa dos tempos atuais, as organizações lidam com a necessidade

constante de mudança e a esse fato cabe aos profissionais reconhecerem tal realidade e

reagirem a ela de forma proativa e comprometida para minimizar as possibilidades da perda

do emprego.

Ainda sobre essa ameaça aos contratos de trabalho, foi possível constatar que a

maioria dos gestores compreenderam tal fragilidade, mas, ao mesmo tempo, não se sentiram

ameaçados por perceberem sua contribuição como relevante para o atingimento dos objetivos

de negócio. Parte dos gestores estenderam a mesma visão às suas equipes, enfatizando que

perceberam que aqueles que sabem o valor de seu trabalho para a empresa e estão mais

comprometidos com o que fazem, sentem pouca insegurança quanto à perda do contrato de

trabalho.

Quanto ao entendimento de como se dá o comprometimento frente a momentos de

incerteza, o que foi percebido, de acordo com o estudo, de forma mais marcante, foram

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atitudes engajadas e ativas, seja na busca e proposição de alternativas e soluções que

contribuam para os objetivos de negócio e a superação do atual momento, seja revendo os

processos, ou mesmo buscando o resultado em si: o “fazer acontecer”. Vale ressaltar que o

índice de maior performance obtido na pesquisa de engajamento realizada com todos os

colaboradores foi relacionado ao entendimento de que suas contribuições são importantes para

o sucesso da organização (95%), conforme demonstrado na Figura 6. Cabe, ainda, destacar

que a maior parte dos gestores afirmaram terem envolvido suas equipes na discussão e busca

de alternativas que melhorassem os resultados do negócio, denotando que o papel das

lideranças no incentivo ao comprometimento de suas equipes é importante na ativação do

engajamento.

Ainda nessa clave, cabe destacar que com o estudo de caso foi possível concluir que a

empresa é dinâmica e possui visão estratégica, considerando-se as ações tomadas por esta

para se adaptar, rapidamente, ao contexto de mercado e o modelo de gestão implementado. E

que, de modo geral, tanto seus executivos quanto os demais funcionários estão

comprometidos conforme demonstrado nos resultados da pesquisa de engajamento, onde a

empresa teve índices de alta performance e acima do benchmark. Isso acaba por corroborar

com o entendimento de Borges-Andrade e Pillati (2001), que afirmam que organizações

dinâmicas e com visão estratégica tendem a ter equipes mais comprometidas.

A presente dissertação, também, se propôs a mapear os fatores que que levam os

profissionais ao engajamento mesmo em momentos de crise e mudanças; e sobre isso foi

possível concluir que a GRH atua de forma estratégica, atuando como parceiro da mudança

como destacado por Evans, Pusik e Barsoux (2006). Isto porque possui mecanismos e práticas

voltadas ao incentivo do engajamento de seus funcionários conforme demonstrado no estudo

de caso.

No presente estudo, isso foi percebido por meio dos resultados da pesquisa de

engajamento realizada pela a empresa, em que foi possível avaliar como estão comprometidos

os empregados de acordo com cada driver de engajamento e, ainda, confirmado na análise das

entrevistas quando foi constatado que os fatores de retenção com maior menção foram os

relacionados à empresa com 60% de pontuação (e não aos gestores ou ao negócio), conforme

demonstrado no Gráfico 7. Ali foi possível concluir a relevância dos fatores diretamente

ligados à organização e suas práticas sobre a retenção dos profissionais. Tendo maior peso os

fatores inerentes à empresa na retenção de seus funcionários, cabe a GRH conceber e

fortalecer programas e políticas claramente difundidas para que sejam reconhecidas pelos

empregados e consequentemente contribuir para a retenção de pessoas.

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Ainda nessa clave, cabe ressaltar que a GRH tem papel fundamental na construção e

na implementação dos fatores de retenção inerentes à empresa, visto que os que apresentaram

maior incidência foram: reconhecimento, transparência, autonomia, aprendizado, empresa

dinâmica, justa e sólida, conforme demonstrado no Gráfico 8. Todos esses elementos podem

ser definidos ou influenciados pela GRH juntamente à organização desde que em linha com o

modelo de gestão da empresa. O plano de ação realizado pelo RH com base nos resultados da

pesquisa de engajamento precisa contemplar ações que reforcem esses valores considerados

relevantes pelos executivos para a retenção profissional. A esse respeito, também foi possível

notar que as ações de investimento em treinamento da GRH foram consideradas relevantes na

retenção dos executivos, tendo em vista que o fator de maior menção foi reconhecimento

através de feedback e também aprendizado e investimento nos funcionários.

Por último, esse estudo, também, procurou verificar qual tipo de comprometimento

mais se destaca nos executivos em circunstâncias de crise numa organização e a esse respeito

foi possível concluir que com base na visão multidimensional de Meyer, Allen e Steers,

Porters, Rego e Bastos, o normativo prevaleceu entre gestores sujeitos da pesquisa. Tal fato

encontra-se apresentado nos Gráficos 14, 15 e 16.

A pesquisa identificou uma prevalência da postura ativa do fazer acontecer para buscar

os resultados porque houve o reconhecimento dos gestores de que podiam contribuir

efetivamente para os mesmos. E indicou, ainda, que há um sentido maior de obrigação no

grupo executivo do que de emoção ou de acomodação em contextos de instabilidade e

mudança no ambiente organizacional decorrentes de uma crise econômica externa a empresa,

mas que a afeta diretamente.

Vale ressaltar que tal compreensão foi exclusiva ao ambiente estudado,

recomendando-se novas pesquisas e estudos de casos múltiplos para que seja possível ampliar

o objeto desta pesquisa e as recomendações à GRH de outras organizações.

Cabe destacar, ainda, que a atuação estratégica da GRH é fator-chave para fortalecer o

comprometimento organizacional e que o RH da empresa estudada apesar de demonstrar-se

parceiro da mudança ainda não implementou o plano de ação com base na pesquisa de

engajamento para que seja possível avaliar o impacto destas no índice de comprometimento

das equipes nas futuras pesquisas de engajamento.

Em razão dos resultados encontrados sobre o comprometimento das equipes serem

percepções dos gestores e resultados gerais da pesquisa de engajamento, recomenda-se uma

pesquisa ampliada contemplando todos os níveis profissionais e com uso do QOC. Ênfase

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pode ser dada, também, no entendimento dos fatores de retenção para que a GRH avalie se

suas práticas estão aderentes a estes.

Por fim, a pesquisa permitiu ainda, uma reflexão se os gestores e demais funcionários

demonstraram comprometimento em razão de uma postura defensiva, consciente o não, para a

preservação de seus empregos. Isto porque uma vez inseridos num modelo capitalista,

poderiam estar dispostos ao engajamento a todo o custo. Caberia em pesquisas futuras avaliar

ainda as consequências do elevado comprometimento na saúde física, psíquica, emocional e

social daqueles que assim reagiram.

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APÊNDICE

Roteiro da entrevista semiestruturada

Abertura: Estou realizando uma pesquisa para minha dissertação de mestrado sobre as

influências do contexto externo nas organizações e nos funcionários. Você concorda em me

conceder uma entrevista onde garanto seu anonimato? Também garanto que a entrevista visa

atender unicamente objetivos do mestrado e em nada utilizarei nas atribuições da minha

função na empresa. Você me permite a gravação da entrevista para facilitar o momento de

análise, sabendo que não a publicarei?

1) Como você percebe o atual contexto econômico-financeiro do Brasil?

2) Esse contexto externo afeta sua empresa? Se sim, como?

3) O contexto interno da sua empresa sofreu alguma mudança independentemente do

contexto externo?

4) Você é chamado formalmente a contribuir com ações que apoiem os objetivos de

negócio e a superação do atual momento da empresa? Se sim, como? Exigiu algo

diferenciado de você? Se sim o quê?

5) A atual realidade vivida na empresa lhe gera algum tipo de incerteza no seu trabalho?

Se sim, poderia descrever qual?

6) No último ano, você agiu de forma diferente na sua rotina de trabalho? Se sim, o que

mudou e o que isso exigiu de você?

7) O que te faz querer trabalhar nessa empresa? Quais os fatores que te fazem ter essa

relação mesmo em um contexto adverso?

8) Como você vê o comportamento e comprometimento das pessoas da sua equipe em

relação ao momento da empresa e seus objetivos? E de seus superiores?

Notas para o entrevistador:

a) Durante a entrevista, buscar relacionar o que o entrevistado falou sobre o contexto de

crise, ambiente de incertezas (perguntas 1 a 5) e o seu desejo de permanecer na

empresa (perguntas 6 e 7).

b) Buscar compreender se o respondente pretende permanecer na empresa, o que o faz ter

vontade de permanecer e se isso mudou no último ano em função do ambiente externo

e interno (perguntas 6 e 7).

c) Verificar se há identificação afetiva, se acha que tem missão a cumprir ou se a vida

está estruturada e não pretende mudar isto (pergunta 7).