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OS BRICS NA OMC OS BRICS NA OMC Organizadores Vera Thorstensen Ivan Tiago Machado Oliveira Políticas Comerciais Comparadas de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul

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    Misso do IpeaProduzir, articular e disseminar conhecimento paraaperfeioar as polticas pblicas e contribuir para oplanejamento do desenvolvimento brasileiro.

    9 788578 111540

    ISBN 978-85-7811-154-0

    OS BRICS NA OMCOS BRICS NA OMC

    OrganizadoresVera Thorstensen

    Ivan Tiago Machado Oliveira

    Polticas Comerciais Comparadas deBrasil, Rssia, ndia, China e frica do Sul

  • Governo Federal

    Secretaria de Assuntos Estratgicos da Presidncia da Repblica Ministro Wellington Moreira Franco

    Fundao pbl ica v inculada Secretar ia de Assuntos Estratgicos da Presidncia da Repblica, o Ipea fornece suporte tcnico e institucional s aes governamentais possibilitando a formulao de inmeras polticas pblicas e programas de desenvolvimento brasi leiro e disponibi l iza, para a sociedade, pesquisas e estudos realizados por seus tcnicos.

    PresidenteMarcelo Crtes Neri

    Diretor de Desenvolvimento InstitucionalLuiz Cezar Loureiro de Azeredo

    Diretor de Estudos e Relaes Econmicas e Polticas InternacionaisRenato Coelho Baumann das Neves

    Diretor de Estudos e Polticas do Estado, das Instituies e da DemocraciaAlexandre de vila Gomide

    Diretor de Estudos e PolticasMacroeconmicas, SubstitutoClaudio Roberto Amitrano

    Diretor de Estudos e Polticas Regionais,Urbanas e AmbientaisFrancisco de Assis Costa

    Diretora de Estudos e Polticas Setoriaisde Inovao, Regulao e InfraestruturaFernanda De Negri

    Diretor de Estudos e Polticas SociaisRafael Guerreiro Osorio

    Chefe de GabineteSergei Suarez Dillon Soares

    Assessor-chefe de Imprensa e ComunicaoJoo Cludio Garcia Rodrigues Lima

    Ouvidoria: http://www.ipea.gov.br/ouvidoriaURL: http://www.ipea.gov.br

  • Organizadores Vera Thorstensen

    Ivan Tiago Machado OliveiraBraslia, 2012

  • Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada ipea 2012

    As opinies emitidas nesta publicao so de exclusiva e inteira responsabilidade dos autores, no exprimindo, necessariamente, o ponto de vista do Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada ou da Secretaria de Assuntos Estratgicos da Presidncia da Repblica.

    permitida a reproduo deste texto e dos dados nele contidos, desde que citada a fonte. Reprodues para fins comerciais so proibidas.

    Os BRICS na OMC : polticas comerciais comparadas de Brasil, Rssia, ndia e frica do Sul / organizadores: Vera Thorstensen, Ivan Tiago Machado Oliveira.- Braslia : Ipea, 2012. 470 p. grfs., tabs.

    Inclui bibliografia. ISBN 978-85-7811-154-0

    1. Comrcio Internacional. 2. Poltica de ComrcioInternacional. 3. Organizao Mundial do Comrcio. 4.Anlise Comparativa. 5. Brasil. 6. Rssia. 7. ndia. 8. frica do Sul. I. Thorstensen, Vera Helena. II. Oliveira,Ivan Tiago Machado. III. Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada. CDD 382

  • SUMRIO

    APRESENTAO ........................................................................................9

    SINOPSE ...................................................................................................11

    INTRODUO ..........................................................................................13

    CAPTULO IOS BRICS COMO ATORES NA ORGANIZAO MUNDIAL DO COMRCIO ..........................................................................................17Vera Thorstensen Daniel Ramos Carolina Mller Thiago Nogueira

    CAPTULO IIO PERFIL DOS BRICS NO COMRCIO INTERNACIONAL ...............................29Vera Thorstensen Daniel Ramos Carolina Mller Jos Andr Stucchi Thiago Nogueira Fernanda Bertolaccini

    CAPTULO IIIPERFIL TARIFRIO DOS BRICS .....................................................................37Abro Miguel rabe Neto Fabrzio Sardelli Panzini Frederico Arana Meira Jos Luiz Pimenta Jnior

    CAPTULO IVAGRICULTURA ...........................................................................................99Vera Thorstensen Ivan Tiago Machado Oliveira Daniel Ramos Carolina Mller Fernanda Bertolaccini

  • CAPTULO VBARREIRAS TCNICAS, SANITRIAS E FITOSSANITRIAS ...........................123Vera Thorstensen Daniel Ricardo Castelan Daniel Ramos Carolina Mller

    CAPTULO VIDEFESA COMERCIAL ................................................................................139Vera Thorstensen Daniel Ramos Carolina Mller

    CAPTULO VIISERVIOS ................................................................................................167Vera Thorstensen Ivan Tiago Machado Oliveira Daniel Ricardo Castelan Daniel Ramos Carolina Mller Thiago Nogueira

    CAPTULO VIIIPROPRIEDADE INTELECTUAL ....................................................................193Vera Thorstensen Daniel Ricardo Castelan Daniel Ramos Carolina Mller

    CAPTULO IXINVESTIMENTOS .....................................................................................215Vera ThorstensenDaniel Ricardo CastelanDaniel RamosCarolina MllerJos Andr StucchiThiago Nogueira

  • CAPTULO XACORDOS PLURILATERAIS........................................................................253Vera ThorstensenIvan Tiago Machado OliveiraDaniel RamosCarolina MllerThiago Nogueira

    CAPTULO XI NOVOS TEMAS .........................................................................................301Vera ThorstensenDaniel RamosCarolina MllerThiago Nogueira

    CAPTULO XIIACORDOS PREFERENCIAIS DE COMRCIO ...............................................323Vera ThorstensenBelisa Eleotrio

    CAPTULO XIIIATUAO DOS BICS NO RGO DE SOLUO DE CONTROVRSIAS DA OMC ..................................................................331Abro M. rabe NetoJacqueline Spolador Lopes

    CAPTULO XIVPARTICIPAO DOS BICS NA RODADA DOHA ..........................................399Vera ThorstensenDaniel Ricardo CastelanDaniel RamosCarolina Mller

    OS BRICS NA OMC: SNTESES E CONCLUSES ..................................449

    NOTAS BIOGRFICAS ...........................................................................469

    LISTA DE SIGLAS ...................................................................................471

  • APRESENTAO

    As mudanas pelas quais passa o mundo colocam as economias emergentes em posio de destaque na cena internacional. Entre os emergentes, Brasil, Rssia, ndia, China e frica do Sul (BRICS) destacam-se enquanto economias com expressivas taxas de crescimento e funcionam como importantes polos polticos e econmicos regionais. Responsveis por parte significativa do dinamismo eco-nmico mundial nos ltimos anos, estes pases passaram tambm a ampliar seus espaos de atuao poltica em instituies e fruns internacionais.

    Desde sua formalizao enquanto grupo, em 2009, o BRICS vem atuando com vistas a intensificar as trocas entre suas economias e a identificar agendas e in-teresses comuns que possam dar ao grupo bases para atuao conjunta. No campo econmico, no obstante tenses que emergem da concorrncia entre os emergentes mundo afora, particularmente impulsionada pela integrao da China economia internacional, pode-se encontrar elementos que denotam posies convergentes e cooperativas entre os pases do BRICS. Um exemplo desta convergncia, talvez a primeira iniciativa a reunir quatro dos cinco pases do grupo aps sua criao, a estruturao e consolidao do G20 Agrcola na Rodada Doha da Organizao Mundial do Comrcio (OMC), grupo que simboliza uma mudana estrutural nas negociaes comerciais, derivada de importantes transformaes que vm ocorren-do na economia e na poltica mundial no incio deste sculo.

    Cabe lembrar que o regime multilateral de comrcio tornou-se central s demandas dos pases em desenvolvimento, particularmente aps a institucionali-zao do sistema de soluo de contenciosos ao fim da Rodada Uruguai, o qual re-presenta o principal lcus de negociao poltica da regulao do comrcio global. Os novos agrupamentos negociadores entre pases em desenvolvimento, como o G20 Comercial, encontraram no regime multilateral de comrcio, baseado no consenso e dotado de mecanismos de enforcement mais desenvolvidos, os incen-tivos necessrios para sua formatao. Com a acesso da Rssia OMC, todos os pases do BRICS faro parte do regime multilateral de comrcio, o que pode ampliar o escopo de cooperao entre eles em novas negociaes, bem como a importncia do multilateralismo em suas agendas de poltica comercial.

    Compreender a dinmica da insero comercial dos BRICS e sua atuao na OMC , assim, fundamental para analisar o potencial de cooperao e conflito na agenda econmica do grupo. Neste sentido, o livro Os BRICS na OMC: polticas comerciais comparadas de Brasil, Rssia, ndia, China e frica do Sul busca atualizar o debate sobre a insero comercial internacional destes pases, alm de ajudar a

  • 10 Os BRICS na OMC

    compreender as bases para o lanamento de uma plataforma comum aos BRICS no campo econmico-comercial. Ademais, o livro reflete o resultado exitoso de um projeto de pesquisa que traz sociedade um esforo coletivo de reflexo sobre os desafios da insero internacional do Brasil em um mundo em transformao.

    Marcelo Crtes NeriPresidente do Ipea

  • SINOPSE

    O objetivo deste livro realizar uma anlise comparada das polticas comerciais de cada integrante do BRICS, tendo a Organizao Mundial de Comrcio (OMC) como quadro de referncia. Assim, busca-se examinar a insero de cada um de-les no comrcio internacional, bem como sua participao no regime multilate-ral de comrcio, tanto em seu pilar diplomtico-jurdico, o sistema de soluo de controvrsias, quanto em seu pilar poltico-negociador, as negociaes da Rodada Doha, nas quais se observa um importante exerccio de articulao entre os pases do grupo. O captulo I apresenta os principais momentos do desenvolvimento da interao poltica dos BRICS e revive a histria da participao de Brasil, ndia e frica do Sul no GATT e na OMC, alm de traar as fases de acesso da China e da Rssia organizao. O captulo II traz anlises do perfil do comrcio internacional de cada pas, apresentando a evoluo dos principais indicadores de comrcio desde o incio da dcada de 2000. A partir deste quadro geral, os dez captulos seguintes, do captulo III ao XII, examinam os principais temas de poltica comercial: tarifas de bens agrcolas e no agrcolas; agricultura; barreiras tcnicas, sanitrias e fitos-sanitrias; defesa comercial (antidumping, medidas compensatrias, salvaguardas); servios; propriedade intelectual; investimentos; acordos plurilaterais (tecnologia da informao e compras governamentais); novos temas (temas de Cingapura e meio ambiente); e acordos preferenciais. No captulo XIII, destaca-se a participao de cada pas do BRICS em uma das instncias mais relevantes da OMC, o rgo de Soluo de Controvrsias (OSC), frum de resoluo de conflitos comerciais e de interpretao de importantes conceitos que, devido ao esforo de se concluir a Rodada Uruguai, foram deixados na ambiguidade. O captulo XIV trata da parti-cipao de cada integrante do BRICS na Rodada Doha, examinando suas princi-pais propostas e posies. Analisam-se detalhadamente as primeiras iniciativas de articulao poltica em diferentes temas de negociao, como o G20 Agrcola e o Grupo sobre Acesso ao Mercado de Produtos No Agrcolas (Nama-11). Por fim, no captulo de sntese e concluses, destacam-se os pontos de convergncia e os de divergncia em cada tema de poltica comercial analisado nesta obra, com o obje-tivo de ilustrar as dificuldades enfrentadas para coordenar posies e identificar os temas em que a cooperao poderia ser realizada de forma mais ativa.

    Palavras-chave: BRICS; OMC; poltica comercial; comrcio internacional.

  • INTRODUO

    Diante das grandes incertezas que cercam o cenrio poltico e econmico atual, o papel dos pases emergentes tem sido foco de crescente interesse acadmico. O desenrolar da crise financeira do final da dcada de 2000, que colocou em questo o papel de liderana dos Estados Unidos e da Unio Europeia como porta-vozes dos avanos polticos e incentivadores do crescimento econmico, despertou o interesse pelos pases emergentes, que conseguiram sair da crise e se transformaram em importantes motores do crescimento mundial.

    No incio da dcada passada, Brasil, Rssia, ndia e China, com grandes mercados internos e economias em crescimento, destacaram-se. Uma sigla de oportuna ressonncia fontica BRIC foi ento formada com suas iniciais como elemento de divulgao de um portflio de investimentos de risco. Em virtude da estabilidade do quadro poltico que apresentavam e do continuado crescimento econmico, j no meio da dcada de 2000, surgiu a oportunida-de de explorar a possibilidade de atuao conjunta destes pases nos princi-pais fruns internacionais da governana global. A ideia original era criar um grupo de articulao poltica como contraponto aos grandes atores interna-cionais Estados Unidos e Unio Europeia. Os primeiros encontros datam de 2008, e a formalizao do grupo como uma nova voz no cenrio interna-cional deu-se em 2009, com a Cpula de Chefes de Estado e de Governo, em Ecaterimburgo, na Rssia. Em 2011, foi formalizada a entrada da frica do Sul, completando-se o acrnimo BRICS. A partir de 2008, os encontros entre ministros de diferentes reas e altos oficiais dos governos multiplicaram--se, dando substncia a uma ampla agenda internacional que incluiu no s o G20 Financeiro, mas tambm os demais fruns internacionais relacionados ao comrcio e ao meio ambiente.

    Com isso, intensificou-se a pesquisa acadmica sobre a evoluo das rela-es desses cinco pases nos principais fruns polticos e econmicos interna-cionais, ao longo dos anos de adensamento de suas relaes. Algumas questes relevantes comearam a ser levantadas, entre elas: como os pases do BRICS, que muitas vezes defenderam posies diversas, passaram a coordenar propostas sobre temas que refletem diferentes realidades e interesses? Na agenda interna-cional, quais reas permitem uma articulao entre os membros do BRICS, e em quais pontos tal articulao parece improvvel? Ser possvel a coordenao financeira, uma vez que os cinco pases apresentam necessidades e prticas diver-sas? Afinal, o BRICS apenas uma pea de propaganda ou j pode ser conside-rado um relevante agrupamento internacional?

  • 14 Os BRICS na OMC

    Um dos fruns de maior relevncia na esfera multilateral, o qual oferece uma ampla margem para pesquisa sobre o papel dos integrantes do BRICS como atores internacionais, a Organizao Mundial do Comrcio (OMC). O tema das polticas comerciais, quando dissecado pelos seus instrumentos de ao, apre-senta um quadro interessante de exame da participao de cada elemento do BRICS enquanto atores na OMC. Alm disso, a evoluo das negociaes da Rodada Doha permite a anlise de um exemplo importante na histria destes pases, por se desenrolar ao longo de seus processos de consolidao da articulao poltica como novos atores no cenrio internacional. Enquanto o mundo pensava o BRICS ainda como portflio de investimentos de risco, quatro de seus inte-grantes j iniciavam um intenso exerccio de articulao de interesses na complexa arena do comrcio internacional.

    O objeto deste livro realizar a anlise comparada das polticas comer-ciais de cada integrante do BRICS, tendo a OMC como quadro de referncia. Assim, busca-se examinar a insero de cada um deles no comrcio internacio-nal, bem como sua participao no regime multilateral de comrcio, tanto em seu pilar diplomtico-jurdico, o sistema de soluo de controvrsias, quanto em seu pilar poltico-negociador, as negociaes da Rodada Doha, quando se observa um importante exerccio de articulao entre os pases do grupo no quadro do regime multilateral de comrcio.

    Todo livro tem uma histria e a deste se inicia com o lanamento, pela Diretoria de Estudos e Relaes Econmicas Internacionais (Dinte) do Ipea, do Projeto de Regulao do Comrcio Global, que tem como uma de suas linhas de pesquisa a anlise comparada das polticas comerciais dos pases do BRICS. Como resultado preliminar do projeto, foram publicados textos para discusso e notas tcnicas, disponveis no site do Ipea, que refletiram o caminho analtico e de pesquisa do grupo de pesquisadores envolvidos. A conjugao de interesses do instituto, tambm responsvel pela coordenao da participao brasileira no seminrio de think tanks dos pases do BRICS, e aqueles do Centro do Comrcio Global e Investimento da Escola de Economia de So Paulo da Fundao Getulio Vargas (CCGI-FGV), resultou numa profcua cooperao, que ampliou a agen-da de pesquisa, dando maior flego ao projeto, a fim de permitir a organizao deste livro. Trata-se, pois, de uma obra coletiva que contou com a dedicao e o trabalho de pesquisadores vinculados ao Ipea e ao CCGI-FGV, os quais dividem com os organizadores a autoria e a responsabilidade sobre as anlises desenvolvi-das nesta obra. Ficam aqui agradecimentos a: Abro rabe Neto, Daniel Ricardo Castelan, Daniel Ramos, Carolina Mller, Jos Andr Stucchi, Thiago Noguei-ra, Fernanda Bertolaccini, Fabrzio Sardelli Panzini, Frederico Arana Meira, Jos Luiz Pimenta Jnior, Jacqueline Spolador Lopes e Belisa Eleotrio.

  • 15Introduo

    Nos captulos que se seguem, ser apresentada uma sntese das polticas co-merciais de cada um dos pases do BRICS, suas semelhanas e contrastes, bem como os papis que vm desempenhando como atores na OMC, por meio dos perfis de utilizao dos principais instrumentos do comrcio. Esta anlise fornece-r indcios das reas nas quais os interesses dos integrantes do BRICS so conver-gentes e nas quais so divergentes, proporcionando um panorama da cooperao possvel entre o agrupamento no comrcio multilateral. O intuito demonstrar que, mesmo com grandes diferenas comerciais e polticas, h espao para articu-lao estratgica em prol de interesses comuns, identificveis por meio da anlise detalhada do perfil de suas polticas comerciais comparadas.

    No captulo I, apresentam-se os principais momentos do desenvolvimento da interao poltica dos BRICS. Revive-se a histria da participao de Brasil, ndia e frica do Sul no Acordo Geral sobre Tarifas e Comrcio (GATT) e na OMC, e traam-se as fases de acesso da China e da Rssia organizao.

    O captulo II traz anlises do perfil do comrcio internacional de cada pas, apresentando a evoluo dos principais indicadores de comrcio desde o incio da dcada de 2000. A partir deste quadro geral, cada um dos principais instrumentos de poltica examinado em dez captulos, do captulo III ou XII, que tratam de tarifas de bens agrcolas e no agrcolas; agricultura; barreiras tcnicas, sanitrias e fitossanitrias; defesa comercial (antidumping, medidas compensatrias, salva-guardas); servios; propriedade intelectual; investimentos; acordos plurilaterais (tecnologia da informao e compras governamentais); novos temas (temas de Cingapura e meio ambiente); e acordos preferenciais.

    No captulo XIII, destaca-se a participao de cada um dos pases do BRICS em uma das instncias mais relevantes da OMC, o rgo de Soluo de Contro-vrsias (OSC), frum no s de resoluo de conflitos comerciais, mas de inter-pretao de importantes conceitos que foram deixados na ambiguidade, como resultado do esforo de se concluir a Rodada Uruguai.

    O captulo XIV apresenta a participao de cada um dos integrantes do BRICS na Rodada Doha, examinando suas principais propostas e posies na rodada. Pode-se analisar, com detalhes, as primeiras iniciativas de articulao po-ltica em diferentes temas de negociao, como os abordados no G20 Agrcola e no grupo Acesso ao Mercado de Produtos No Agrcolas (Nama-11).

    Por fim, no captulo de sntese e concluses, os organizadores e autores desta-cam elementos de interesse comum e os pontos divergentes em cada tema de poltica comercial analisado nesta obra, com o objetivo de ilustrar, alm das dificuldades enfrentadas para coordenar posies, alguns aspectos nos quais a cooperao poderia ser realizada de forma mais ativa.

  • 16 Os BRICS na OMC

    Os pesquisadores que participaram deste projeto esperam que a leitura das pginas que se seguem desperte o interesse dos leitores para a agenda de poltica comercial, em geral, e para o BRICS, em particular, ampliando o conhecimento no s do exerccio de articulao poltica do grupo, mas tambm da fascinante rea de regulao do comrcio internacional.

    Boa leitura!

    Vera ThorstensenIvan Tiago Machado Oliveira

    Organizadores

  • CAPTULO I

    OS BRICS COMO ATORES NA ORGANIZAO MUNDIAL DO COMRCIO

    Vera ThorstensenDaniel Ramos

    Carolina MllerThiago Nogueira

    1 A EVOLUO DA ARTICULAO POLTICA DOS BRICS

    O termo BRIC foi cunhado, com evidente sucesso, por Jim ONeill (2001), economista, vinculado ao Banco Goldman Sachs, com o objetivo de chamar a ateno de investidores sobre as possveis transformaes da economia global. Em seu artigo, o referido autor estabeleceu algumas comparaes entre Brasil, Rssia, ndia e China e as economias do chamado grupo dos sete (G7) for-mado por Estados Unidos, Canad, Reino Unido, Frana, Itlia, Alemanha e Japo. Muito embora a Rssia tenha sido includa na sigla BRIC, esta j era comumente convidada para o G7, passando a integr-lo oficialmente, tornando este o grupo dos oito (G8).

    Inicialmente, a avaliao trazia projees sobre o crescimento de Brasil, Rssia, ndia e China at 2050.1 A perspectiva era que os pases do BRIC, nesta data, passa-riam a ser as principais economias do mundo. Previa-se que, em 2018,2 a soma dos produtos internos brutos (PIBs) destes pases seria superior ao PIB norte-americano. Assim, em 2050, a China seria a principal economia do mundo, seguida por Estados Unidos, ndia, Japo e Brasil.3

    O interesse despertado pela sigla BRIC, em grande parte motivado pelo cres-cimento econmico desses pases, incentivou seus governos a transform-la em grupo de articulao poltica que trata dos grandes desafios da governana global. O primeiro encontro para discutir tal possibilidade ocorreu em 23 de setembro de 2006, por ocasio da LXI Sesso da Assembleia-Geral da Organizao das Naes Unidas (ONU), quando os integrantes do bloco econmico BRIC reuniram-se informalmente. O objetivo foi trocar opinies sobre a possvel criao de um foro de discusses que se estabeleceria por conferncias a partir de 2008.

    1. Ver Lawson e Purushothamal (2003, p. 2). 2. Op. cit., p. 2-3.3. Op. cit., p. 2.

  • 18 Os BRICS na OMC

    O primeiro encontro formal de ministros das relaes exteriores do BRIC ocorreu em 16 de maio de 2008, na Reunio Ministerial de Ecaterimburgo na Rssia. A declarao conjunta estabeleceu as bases do pensamento comum destes pases e os alicerces de uma agenda de articulao poltica. Em primeiro lugar, evocou-se a primazia do estado de direito e da diplomacia multilateral, com prota-gonismo para a ONU.4 Por sua vez, China e Rssia reconheceram e apoiaram que Brasil e ndia tivessem papel de maior relevo na ONU,5 reforando as pretenses de Brasil e ndia tornarem-se membros permanentes do Conselho de Segurana da ONU (CSNU).

    Reconheceram que a soluo para a fome, para as doenas e para a susten-tabilidade da economia global deveria passar por um sistema econmico global justo.6 Manifestaram apoio aos esforos polticos e diplomticos para a resoluo pacfica de disputas no mbito das relaes internacionais, condenando todas as formas de terrorismo e recomendando a adoo e o cumprimento das decises da ONU em matria de combate ao terrorismo.7

    Entenderam, ainda, que a segurana energtica, o desenvolvimento socio-econmico e a proteo ambiental estariam interligados. Finalmente afirmaram que a cooperao Sul-Sul elemento importante dos esforos internacionais no campo do desenvolvimento8 e mantiveram a iniciativa de continuar cooperando com o G8 e com os demais parceiros tradicionais de dilogo.9

    Em junho de 2009, os integrantes do BRIC divulgaram a Declarao Con-junta sobre Segurana Alimentar Global. Este documento no apresenta compro-missos, mas introduz algumas bases de entendimento sobre o tema. O primeiro aspecto relevante seria a troca de experincias em tecnologia de biocombustveis para garantir uma produo sustentvel, em conformidade com os trs pilares do desenvolvimento sustentvel: social, econmico e ambiental. Alm disso, a produo de biocombustvel deveria ser trabalhada de forma a atingir e manter a segurana alimentar global. Por fim, alm de incentivar cooperaes tcnicas e de inovao, os integrantes do BRIC manifestaram apoio ao fornecimento de meios tecnolgicos e financeiros para equipar pases em desenvolvimento a im-plementar medidas para minimizar as consequncias das mudanas climticas em matria de segurana alimentar.10

    4. Ver Brasil (2008, 2o).5. Op. cit., 3o.6. Op. cit., 4o.7. Op. cit., 6o.8. Op. cit., 10.9. Op. cit., 11.10. Ver Brasil (2009a, p. 2).

  • 19Os BRICS como Atores na Organizao Mundial do Comrcio

    A I Cpula dos Chefes de Estado e de Governo dos BRIC ocorreu novamen-te em Ecaterimburgo, em 16 de junho de 2009, quando os integrantes do grupo reiteraram os pontos acordados no encontro dos ministros. Dando um passo alm, foi determinado que a cpula do grupo dos vinte (G20) deveria ter papel central para lidar com a crise financeira,11 apelando para que todos os pases aplicassem as decises da referida cpula, alcanada em 2 de abril de 2009, em Londres.12

    Os integrantes do BRIC ainda reiteraram o apoio de medidas internacio-nais j em curso, como a Agenda 21 e as metas de desenvolvimento do milnio da ONU. Reconheceram o papel importante do comrcio internacional e dos investimentos estrangeiros diretos para a recuperao econmica mundial13 e, por fim, estabeleceram que a arquitetura financeira e econmica deveria basear-se em

    tomada de decises e processo de implementao democrticos e transparentes nas organizaes financeiras internacionais; base legal slida; compatibilidade de atividades de instituies regulatrias nacionais efetivas e rgos internacionais de definio de padres; e fortalecimento de gerenciamento de risco e de prticas de superviso (Brasil, 2009b, 4o).

    Em 26 de maro de 2010, os ministros de Agricultura dos integrantes dos BRIC assinaram, em Moscou, uma declarao conjunta que estabeleceu eixos de atuao para prosseguir com as iniciativas internacionais em matria de segurana alimentar e para garantir a produo de gros, o aumento do padro de vida, e o desenvolvimento de reas rurais. Foram estabelecidos quatro eixos de atuao, conforme destacado a seguir.

    1) Criao de um sistema de informao dos integrantes dos BRIC em agricultura.

    2) Desenvolvimento de uma estratgia geral para garantir o acesso a alimentos da populao mais vulnervel.

    3) Reduo das consequncias negativas da mudana climtica na rea de segurana alimentar e a adaptao da atividade da agricultura para as mudanas climticas.

    4) Melhoramento da cooperao e da inovao em tecnologias de agricultura.14

    A II Cpula dos Chefes de Estado e de Governo reuniu-se em 15 de abril de 2010, em Braslia. A Declarao Conjunta dos BRIC ressaltou os valores e as bases dos documentos anteriores, exaltando tambm a contribuio financeira do BRIC ao Fundo Monetrio Internacional (FMI), reforando o pedido de au-mento de quotas destes pases e de suas participaes na escolha dos dirigentes do

    11. Ver Brasil (2009b, 1o).12. Op. cit., 2o.13. Op. cit., 6o 7o.14. Ver Brasil (2010b, p. 1-2).

  • 20 Os BRICS na OMC

    FMI e do Banco Mundial.15 O 14 da Declarao Conjunta dos BRIC estabelece alguns pontos em relao ao comrcio internacional.

    Ressaltamos a importncia do sistema de comrcio multilateral, consubstanciado na Organizao Mundial do Comrcio, para proporcionar um dilogo aberto, estvel, equitativo e no discriminatrio para o ambiente do comrcio inter-nacional. Neste contexto, ns nos comprometemos a instar todos os Estados a resistir a todas as formas de protecionismo comercial e a lutar contra restries disfaradas ao comrcio. Concordamos na necessidade de uma soluo global e equilibrada das negociaes comerciais multilaterais da Rodada Doha, de forma a que se cumpra o seu mandato como rodada do desenvolvimento, com base nos progressos j realizados, inclusive no que diz respeito questo das modalida-des. Tomamos nota e apoiamos fortemente a candidatura de adeso da Rssia OMC (Brasil, 2010a, 14).

    Os integrantes do BRIC adotam discurso contrrio ao protecionismo co-mercial e s barreiras no tarifrias praticadas por diversos pases, principalmente por pases desenvolvidos. Por fim, reforaram a necessidade de cooperao tcnica em vrios setores, j abordados nas declaraes anteriores.

    Por ocasio da cpula, os integrantes do BRIC assinaram um memorando de cooperao entre o Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social (BNDES), o China Development Bank Corporation (CDB), o Export-Import Bank of India (Exim Bank) e o State Corporation Bank for Development and Foreign Economic Affairs (Vnesheconombank).16

    O Artigo 1o do memorando determina seus objetivos, conforme listados a seguir.

    1) O desenvolvimento da cooperao de longo prazo entre as partes para facilitar e apoiar as transaes transfronteirias e os projetos de comum interesse.

    2) O fortalecimento e a melhora das relaes comerciais e econmicas entre os integrantes do BRIC e suas empresas.

    3) O estabelecimento de uma estrutura para financiar e oferecer servios bancrios a projetos de investimento que possam ser benficos para as partes e que possam acelerar o desenvolvimento econmico das partes.

    4) O estudo da viabilidade de estabelecer uma entidade financeira in-terbancria entre as artes para facilitar o cumprimento dos demais objetivos do memorando.

    15. Ver Brasil (2010a, 9o 11).16. Ver India (2010).

  • 21Os BRICS como Atores na Organizao Mundial do Comrcio

    A reunio da IV Cpula dos Chefes de Estado e de Governo ocorreu em Sanya, na China, em 14 de abril de 2011, e marcou a adeso da frica do Sul ao grupo.17 Na Declarao da Cpula dos BRICS, os integrantes expuseram a viso de que o mundo passava por transformaes e de que as relaes entre os Esta-dos seriam multipolares, catalisadas pela globalizao econmica e pela crescente interdependncia dos pases. Neste sentido, exortaram a participao simultnea dos integrantes do grupo no CSNU como oportunidade para estreitar o dilogo em matria de paz e segurana internacionais, em especial na concertao para o caso da Lbia, em que os pases diziam buscar uma soluo comum.18

    O documento, em seu 9o, destacou a afirmao dos integrantes do BRICS de que a independncia, a soberania, a unidade e a integridade territorial de cada nao devem ser respeitadas (Brasil, 2011a, 9o).

    A declarao trouxe novos elementos e reafirmou os itens abordados em outros documentos, exaltando o papel de destaque dos pases emergentes na crise econmica global, o papel do G20 (financeiro) e a reformulao do sistema fi-nanceiro internacional.19

    Em matria de energia, os integrantes do BRICS reafirmaram o interesse co-mum em desenvolver energias limpas e incentivar a cooperao tcnica no setor. Ainda, afirmaram que a matriz nuclear deveria ser expandida no grupo e que se deveria buscar meios seguros de produzir energia nuclear.20

    Anexo declarao, os pases estabeleceram um plano de ao para reforar os programas de cooperao j existentes: reunies entre os representantes de organi-zaes internacionais das misses desses pases; encontro de peritos em agricultura; encontro de chefes de instituies nacionais de estatsticas; discusso sobre a possibi-lidade de assinatura de protocolo de cooperao entre agncias responsveis pela po-ltica da concorrncia; cooperao financeira entre os bancos de desenvolvimento dos BRICS; protocolo de inteno entre as Cortes Supremas dos BRICS; lanamento da publicao conjunta de estatsticas dos BRICS; entre outros. Estabeleceram tambm novas reas de cooperao: encontro de cidades irms e governos locais dos BRICS; reunio de ministros da sade; fomento de pesquisas comuns sobre questes econ-micas e comerciais; entre outros. Foram definidas, ainda, novas propostas: cooperao no campo cultural; cooperao esportiva; cooperao no domnio da economia verde; reunio de altos funcionrios para promover a cooperao cientfica, tecnolgica e de inovao no mbito dos BRICS; e estabelecer o grupo BRICS-Unesco, na Organiza-o das Naes Unidas para a Educao, a Cincia e a Cultura (Unesco).21

    17. Ver Brasil (2011a, 1o).18. Ver Brasil (2011a, 7o e 9o).19. Op. cit., 15.20. Op. cit., 18.21. Op. cit., p. 10-12.

  • 22 Os BRICS na OMC

    Em declarao conjunta, por ocasio da escolha do novo diretor-geral do FMI, em 24 de maio de 2011, os BRICS apresentaram insatisfao quanto ao mtodo de escolha do diretor. Seus membros mostraram-se insatisfeitos especialmente por acre-ditarem que um cargo de tamanha importncia e em contexto de crise financeira deveria ser ocupado por indivduos que tivessem no apenas capacitao tcnica, mas tambm que estivessem comprometidos com as mudanas necessrias do sistema financeiro internacional, inclusive em relao participao de todos os membros de maneira justa e adequada.22

    O encontro de ministros da Sade, ocorrido em 11 de julho de 2011, pro-duziu a Declarao de Beijing, em que os ministros dos integrantes do BRICS expressaram o desejo de estreitar os laos de cooperao no setor da sade, entre os demais, estabelecendo um grupo de trabalho tcnico para discutir propostas especficas, incluindo a rede de cooperao tecnolgica dos BRICS.23

    Em 24 de novembro de 2011, os BRICS elaboraram o Comunicado Con-junto sobre a situao no Oriente Mdio e no norte da frica, reconhecendo a legitimidade do povo da regio por maiores direitos polticos e sociais.24 A resoluo da crise na Sria, de acordo com os vice-ministros de Relaes Exteriores dos BRICS, passaria necessariamente por negociaes pacficas ur-gentes, com a participao de todas as partes envolvidas. Por fim, entre ou-tros assuntos, os BRICS reafirmaram o apoio Palestina para ingressar como membro efetivo da ONU.25

    Em relao ao comrcio, os BRICS elaboraram a importante Declarao de Ministros de Relaes Exteriores e de Comrcio, por ocasio da VIII Conferncia Ministerial da Organizao Mundial do Comrcio (OMC). Em 14 de dezem-bro de 2011, os BRICS destacaram o seu compromisso com o regime comercial da OMC e com a Agenda de Desenvolvimento de Doha, ressaltando a necessi-dade de reforar as bases do sistema multilateral de comrcio, estabelecendo a necessidade premente de aperfeioar suas regras e sua estrutura [OMC], de modo a dar conta, em particular, das preocupaes e interesses dos pases em desenvolvimento.26

    Os integrantes do BRICS tambm reforam a necessidade de a OMC coibir as prticas protecionistas e fizeram referncia cooperao com as economias do Cotton-4,27 comprometendo-se a mant-la e a intensific-la. Parabenizaram a

    22. Ver FMI (IMF, 2011, 5o).23. Ver Brasil (2011b, 16-18 e 21-23).24. Ver Brasil (2011c, p. 1).25. Idem, ibidem.26. Ver Brasil (2011d, p. 1).27. Op. cit., p. 2.

  • 23Os BRICS como Atores na Organizao Mundial do Comrcio

    Rssia por sua acesso OMC, indicando ser um passo fundamental para fazer da OMC ainda mais representativa e legtima e fortalecer ainda mais o sistema multilateral de comrcio.28 Finalmente, os integrantes do BRICS reafirmaram sua disposio para concluir a Rodada Doha com base nas minutas de modali-dades dos textos de dezembro de 2008, considerando-os como um equilbrio delicado das concesses mtuas alcanadas durante os ltimos dez anos.29

    A IV Cpula de Chefes de Estado e de Governo est prevista para maro de 2012 em Nova Delhi, na ndia.30

    2 DA ARTICULAO POLTICA AO COMO NOVOS ATORES INTERNACIONAIS

    A sntese das atividades dos integrantes do BRICS bem demonstra que a articulao poltica vem-se acelerando e tambm se transformando em aes concretas em reas especficas de atuao. Como se pode constatar a partir da longa lista de encontros j realizados exposta nos sites oficiais dos BRICS , a evoluo da agenda dos BRICS vem multiplicando encontros de ministros de diferentes reas e de altos fun-cionrios de governo, o que mostra que tal articulao vem-se espalhando por di-versas reas alm da poltica, como comrcio, finanas, agricultura, sade e cultura.

    Ao longo desse processo de articulao poltica entre parceiros que, at pouco tempo, raramente se posicionavam em conjunto, os resultados so expressivos. Com o enfraquecimento dos papis de liderana econmica dos Estados Unidos e da Unio Europeia, que foram seriamente abalados com a crise financeira e eco-nmica de 2008, os integrantes do BRICS tornaram-se participantes importantes nos encontros internacionais nos quais se discutem formas de superar a crise atual.

    A novidade do cenrio internacional a voz coordenada de cinco pases emer-gentes, com claro objetivo de serem chamados a participar nos foros de deciso das principais organizaes internacionais e se fazerem ouvir na busca de solues dos grandes problemas atuais. O principal objetivo deste novo ator do cenrio interna-cional fortalecer uma nova formulao da governana global.

    Diante da heterogeneidade econmica dos pases do BRICS, a anlise comparada das polticas de comrcio internacional de seus integrantes, tendo a OMC como quadro de referncia, pode converter-se em exerccio relevante para a identificao de reas nas quais a cooperao econmica possvel e de reas em que a divergncia de interesses alerta para os pontos de cooperao improv-vel no campo do comrcio internacional.

    28. Idem, ibidem.29. Idem, ibidem.30. Ver Brasil [s.d.].

  • 24 Os BRICS na OMC

    3 O PAPEL DO ACORDO GERAL DE TARIFAS E COMRCIO E DA OMC NA POLTICA COMERCIAL DOS BRICS

    Para os cinco integrantes do BRICS Brasil, Rssia, ndia, China e frica do Sul , o comrcio internacional tem representado prioridades diferentes em seus modelos de crescimento. Para a China, por trs dcadas, o comrcio internacional tem sido ele-mento central da poltica econmica baseada em um capitalismo com forte presena do Estado. A China priorizou exportaes de bens via empresas estatais e estrangeiras, e liberalizou importaes. Apenas no incio de 2011, sinalizou que pretendia dar maior relevncia para o crescimento de seu mercado interno. Para o Brasil, a ndia e a frica do Sul, a prioridade foi o desenvolvimento do mercado interno, via expanso da demanda e do controle da inflao, sendo o comrcio internacional elemento menos importante. ndia e frica do Sul mantinham suas economias fechadas, e somente a partir dos anos 1990 passaram a abrir suas atividades, dando maior peso ao comrcio internacional. A ndia deu prioridade para as exportaes de servios, mas, ainda hoje, apresenta nvel elevado de proteo, principalmente na rea agrcola. O Brasil optou por um modelo de desenvolvimento interno, mas, desde o final da dcada de 1980, o pas abriu sua economia. Mais recentemente, vem transformando sua agricultura em um grande polo exportador. Para a Rssia, em fase de transio de uma economia planejada para outra de mercado, o comrcio passou a represen-tar a forma mais rpida de reduzir a dependncia de atividades ligadas a produtos energticos, como petrleo e gs. Da seu interesse em entrar para a OMC, visando diversificar seu comrcio internacional e dinamizar sua economia.

    A participao dos cinco pases na OMC tambm revela diferentes nveis de prioridade.

    Brasil, ndia e frica do Sul foram trs das 23 partes contratantes do antigo Acordo Geral de Tarifas e Comrcio (General Agreement on Tariffs and Trade GATT), que entrou em vigor em 1948. A China tambm era uma das partes contratantes do GATT, mas, com a Revoluo de 1949, o governo de Taiwan decidiu unilateralmente se retirar do acordo. Em 1986, o governo da Repblica Popular da China solicitou o status de parte contratante. Um grupo de trabalho foi criado em 1987 e, por quatorze anos, a acesso da China foi negociada. Esta participou como observadora da Rodada Uruguai e assinou a Ata Final de Mar-raqueche, em 1994, mas seu status de membro da OMC no foi reconhecido. As negociaes para a acesso da China e do Taip Chins prosseguiram e foram concludas em novembro de 2001, no momento em que se lanou uma nova ro-dada de negociaes da OMC: a Rodada Doha. A Rssia, depois de quase duas dcadas de negociao, finalmente concluiu seu processo de acesso OMC em dezembro de 2011. Aguarda-se a retificao do acordo pela Duma para o primeiro semestre de 2012.

  • 25Os BRICS como Atores na Organizao Mundial do Comrcio

    Por serem exemplos histricos de economias planificadas, a entrada de China e Rssia na OMC vem despertando a ateno crescente dos estudiosos sobre as razes econmicas e polticas que justificaram os longos e complexos processos de acesso organizao e os balanos dos custos e benefcios estima-dos para tais decises.

    A entrada da China na OMC foi antecedida por profundo processo de ajuste de sua economia. Tal processo representou importante deciso poltica do governo chins de reinserir o pas na arena do comrcio mundial e poder, assim, transformar o comrcio em eixo propulsor de seu desenvolvimento. A acesso foi consequncia, de um lado, da opo do governo chins em adaptar um modelo econmico baseado nos princpios socialistas de econo-mia planejada a um modelo de economia de mercado, designado por econo-mia socialista de mercado, bem como estabilizar as relaes comerciais com os demais pases. De outro lado, significou a vontade poltica dos membros da OMC de integrarem este pas ao seio da organizao, que tem por objetivo bsico a liberalizao do comrcio por meio de negociao de regras e super-viso de sua aplicao. Desta forma, os interesses foram satisfeitos dos dois lados: a China, ao transformar o comrcio internacional em ponto central da sua poltica de crescimento, necessitava da garantia de que suas exportaes no seriam discriminadas, segundo as regras da OMC; e os demais membros da OMC, atrados pelo vasto mercado chins, em fase de abertura, conside-ravam que as regras existentes seriam garantia de que a invaso dos produtos chineses poderia ser controlada.

    O objetivo era e ainda utilizar as regras da OMC para evitar medidas discriminatrias contra as exportaes chinesas. Os custos da acesso exigidos da China foram altos, mas seu desempenho nos ltimos anos mais que compensou o processo de ajuste.

    A Rssia, por sua vez, junto a outros pases do bloco comunista, no aderiu ao GATT em 1948. Apenas em 1993, com o fim da Unio Sovitica, a Rssia solicitou status de parte contratante ao GATT. As negociaes se estenderam at novembro de 2011, quando, finalmente, foi obtido um acordo entre Rssia e Ge-rgia, que se opunha a acesso russa desde a guerra entre os dois pases em 2008. Em dezembro de 2011, a Conferncia Ministerial da OMC aprovou a acesso da Rssia organizao. Aguarda-se, ainda, sua ratificao.

    Brasil, ndia e frica do Sul, por j estarem presentes nas discusses iniciais da criao do GATT, por terem participado de todas as suas rodadas de negociao e, finalmente, por estarem presentes na negociao sobre a criao da OMC, acabaram assumindo papel de liderana no mbito dos pases em desenvolvimento.

  • 26 Os BRICS na OMC

    4 CONCLUSES

    A atuao desses pases na OMC vem apresentando especificidades prprias e reflete prioridades de suas polticas de comrcio internacional, bem como identi-ficam interesses que defendem na arena internacional. Algumas destas prioridades podem ser identificadas por meio da anlise da evoluo das atividades ligadas a tal poltica como a utilizao de instrumentos comerciais, principalmente, nas reas tarifrias, de bens agrcolas e no agrcolas, de barreiras tcnicas, de defesa comercial para bens, nas reas de servios e de propriedade intelectual, em relao aos acordos plurilaterais e novos temas e, finalmente, nos contenciosos comerciais.

    REFERNCIAS

    BRASIL. Ministrio das Relaes Exteriores. BRICS foreign ministers meeting. Yecaterinburg, 16 May 2008. (Joint Communiqu Nota no 245). Disponvel em: . Acesso em: 20 jan. 2012.

    ______.______. BRICS joint statement on global food security. Yecaterinburg, 16 June 2009a. Disponvel em: . Acesso em: 20 jan. 2012.

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    ______.______. Declarao conjunta: II Cpula de Chefes de Estado e de Governo (BRIC). Braslia, 15 abr. 2010a. Disponvel em: . Acesso em: 20 jan. 2012.

    ______.______. Moscow declaration of BRIC Agriculture ministers. Yecaterinburg, 25 mar. 2010b. Disponvel em: . Acesso em: 20 jan. 2012.

    ______.______. BRICS Encontro de lderes: Declarao de Sanya. Sanya, Hainan, 14 abr. 2011a. Disponvel em: . Acesso em: 20 jan. 2012.

  • 27Os BRICS como Atores na Organizao Mundial do Comrcio

    ______.______. BRICS Health ministers meeting, Beijing Declaration. Beijin, 11 July 2011b. Disponvel em: .

    ______.______. Comunicado conjunto por ocasio da reunio de vice-mi-nistros de Relaes Exteriores do BRICS sobre a situao no Oriente Mdio e no norte da frica. Moscou, 24 nov. 2011c. (Nota no 459). Disponvel em: . Acesso em: 20 jan. 2012.

    ______.______. Declarao de ministros de Comrcio do BRICS. Genebra, 14 dez. 2011d. (Nota no 489). Disponvel em: . Acesso em: 20 jan. 2012.

    ______.______. Eventos no mbito dos BRICS: de 2006 a 2012. Braslia, [s.d.]. Disponvel em: . Acesso em: 20 jan. 2012.

    IMF INTERNATIONAL MONETARY FUND. Statement by the IMF executive directors representing Brazil, Russia, India, China, and South Africa on the selection process for appointing an IMF managing director. Washington, 24 May 2011. (Press Release no 11/195). Disponvel em: .

    INDIA. Press Information Bureau. Memorandum on cooperation among BNDES, China Development Bank Corporation, Export-Import Bank of India and State Corporation Bank for Development and Foreign Economic Affairs. Nova Deli, 15 Apr. 2010.

    LAWSON, S.; PURUSHOTHAMAL, R. Dreaming with BRICS: the path to 2050. CEO confidential, n. 12, p. 2-3, Oct. 2003.

    ONEILL, J. Building better global economic BRICs. Global economics paper, n. 66, 30 Nov. 2001.

  • CAPTULO II

    O PERFIL DOS BRICS NO COMRCIO INTERNACIONALVera Thorstensen

    Daniel RamosCarolina Mller

    Jos Andr StucchiThiago Nogueira

    Fernanda Bertolaccini

    O incio da dcada atual marca uma alterao profunda no cenrio do comrcio internacional. Segundo dados da Organizao Mundial do Comrcio (OMC [s.d.]a), o ano de 2009 foi um marco, quando a China, apresentando exporta-es de US$ 1,2 trilho, passa a ser o lder mundial das exportaes de bens, des-locando a Alemanha (US$ 1,1 trilho) e os Estados Unidos (US$ 1,0 trilho), que, tradicionalmente, figuravam nas primeiras posies das exportaes. Em 2010, as exportaes chinesas chegaram a US$ 1,6 trilho. Nas importa-es, os Estados Unidos ainda lideraram o comrcio internacional atingindo US$ 2 trilhes, em 2010, enquanto China e Alemanha apresentavam US$ 1,4 trilho e US$ 1 trilho, respectivamente. Em 2000, a China exportava US$ 250 bilhes e importava US$ 225 bilhes, ocupando o 7o e o 8o lugar da classifica-o da OMC. Em dez anos, a China multiplicou por 6,4 suas exportaes e por 6,2 suas importaes.

    A Rssia tambm figurou entre os principais exportadores mundiais, ocu-pando a 12a posio, em 2010, sendo que se espera um aumento significativo de seu comrcio internacional aps sua acesso OMC, em dezembro de 2011. Em 2010, a Rssia alcanou US$ 400 bilhes em exportaes, evoluindo em rela-o aos US$ 106 bilhes apresentados 2000. Em relao s importaes, atingiu a marca de US$ 249 bilhes, avanando em relao aos US$ 45 bilhes alcanados em 2000. Em dez anos, a Rssia multiplicou suas exportaes em 3,8 vezes, e suas importaes, em 5,3 vezes.

    A ndia vem apresentando um desenvolvimento significativo em seu comrcio internacional. Em 2010, exportou US$ 220 bilhes em bens, representando uma evoluo em relao aos US$ 42 bilhes de 2000; e importou US$ 327 bilhes, em contraste com os US$ 52 bilhes alcanados em 2000. Em dez anos, a ndia multiplicou por 5,2 suas exportaes e, por 6,2, suas importaes.

  • 30 Os BRICS na OMC

    O Brasil, em 2010, apresentou exportaes de US$ 202 bilhes, evoluin-do em comparao aos US$ 55 bilhes exportados em 2000. As importaes de 2010 foram de US$ 191 bilhes, contra US$ 59 bilhes em 2000. Em dez anos, o Brasil multiplicou suas exportaes em 3,7 vezes, e suas importaes, em 3,2 vezes.

    Por sua vez, a frica do Sul, em 2010, exportou US$ 82 bilhes, apre-sentando uma evoluo em relao aos US$ 30 bilhes de 2000; em relao s importaes, alcanou US$ 94 bilhes, contra os US$ 30 bilhes importados em 2000. Em dez anos, a frica do Sul multiplicou suas importaes em 2,7 vezes, e suas importaes, em 3,1 vezes (OMC, [s.d.]a).

    Em termos de participao no comrcio global, nas exportaes, de 2000 a 2010, considerando-se a Unio Europeia em conjunto e o comrcio extra-Unio Europeia, a China passou de 5o lugar, com 5% das exportaes totais, para 2o lugar, com 13,3% das exportaes totais. A Rssia passou do 11o lugar, com 2,1% do total de exportaes, para o 7o lugar, com 3,4% do total. A ndia passou do 20o lugar, com 0,9 do total das exportaes, para 14o, com 1,8% do total. O Brasil passou de 19o lugar, com 1,1% do total para 16o, ou 1,7% do total. A frica do Sul, por sua vez, passou do 27o lugar, com 0,6% do total, para o 24o lugar, com 0,7% do total.

    Na rea de servios, segundo dados da OMC, os resultados tambm so expres-sivos para o perodo 2000 a 2010. A China cresceu, passando de US$ 30 bilhes para US$ 170 bilhes; a ndia, de US$ 18 bilhes para US$ 110 bilhes. A Rssia tambm cresceu, saindo dos US$ 10 bilhes e atingindo US$ 44 bilhes. O Brasil passou de US$ 9 bilhes para US$ 30 bilhes. E a frica do Sul cresceu de US$ 5 bilhes para US$ 14 bilhes. Ou seja, em dez anos, a China cresceu 5,6 vezes, a ndia, 6,1 vezes, a Rssia, 4,4, o Brasil, 3,3 e a frica do Sul, 2,8 vezes.

    Em termos de participao nas exportaes globais de servios, de 2000 a 2010, e considerando-se cada membro da Unio Europeia, a China passou do 12o lugar, com 2,1% das exportaes totais, para 4o lugar, com 4,6% das exportaes totais. A ndia passou do 22o lugar, com 1,2% do total das exportaes, para o 10o lugar, com 3% do total. A Rssia passou do 31o lugar, com 0,7% do total, para o 23o lugar, com 1,2%. O Brasil passou do 33o lugar, com 0,6% do total, para o 31o, com 0,8%. E a frica do Sul, que estava em 38o lugar, em 2000, com 0,3% do total, passou para o 43o lugar, em 2010, com 0,4% do total de exportaes. Ou seja, China e ndia vm crescendo na rea, a Rssia apresentou um crescimento um pouco menos significa-tivo, o Brasil permanece no mesmo patamar, e a frica do Sul perdeu importncia relativa na rea (OMC, 2000; 2011).

    As tabelas de 1 a 5 permitem uma viso mais completa do desempenho de cada um dos integrantes do BRICS com relao ao comrcio internacional

  • 31O Perfil dos BRICS no Comrcio Internacional

    de bens e servios, detalhando: totais de exportaes e importaes, taxas de cres-cimento, diviso do comrcio por setores e principais parceiros.

    TABELA 1Desempenho com relao ao comrcio internacional de bens e servios Brasil (2010)

    Indicadores bsicos

    PIB (US$ milhes) 2.087.890

    PIB (US$ PPC) 2.169.180

    Balana de pagamentos (US$ milhes) - 47.365

    Comrcio per capita (US$ milhes) 2008-2010 2.189

    Participao do comrcio no PIB (%) 2008-2010 23,8

    Exportaes de mercadorias F.O.B. (US$ milhes) Importao de mercadorias C.I.F. (US$ milhes)

    Total 201.915 Total 191.491

    Participao no total de exportaes do pas Participao no total de importaes do pas

    Por principais produtos Por principais produtos

    Agrcolas 34,0 Agrcolas 5,9

    Combustveis e minrios 27,9 Combustveis e minrios 19,9

    Manufaturas 35,2 Manufaturas 74,1

    Por principal destinao Por principal origem

    Unio Europeia 21,8 Unio Europeia 21,2

    China 15,6 Estados Unidos 15,1

    Estados Unidos 9,8 China 14,2

    Argentina 9,4 Argentina 8,0

    Japo 3,6 Coreia 4,7

    Exportaes de servios (US$ milhes) Importao de servios (US$ milhes)

    Total 30.294 Total 59.745

    Participao no total de exportaes do pas Participao no total de importaes do pas

    Por principal tipo Por principal tipo

    Transporte 16,3 Transporte 19,0

    Viagem 19,5 Viagem 27,5

    Outros servios comerciais 64,2 Outros servios comerciais 53,5

    Fonte: Trade profiles, do Statistics Database da OMC (OMC, [s.d.]b).

  • 32 Os BRICS na OMC

    TABELA 2 Desempenho com relao ao comrcio internacional de bens e servios ndia (2010)

    Indicadores bsicos

    PIB (US$ milhes) 1.729.010

    PIB (US$ PPC) 4.198.609

    Balana de Pagamentos (US$ milhes) - 51.781

    Comrcio per capita (US$ milhes) 2008-2010 595

    Participao do comrcio no PIB (%) 2008-2010 47,7

    Exportaes de mercadorias F.O.B. (US$ milhes) Importao de mercadorias C.I.F. (US$ milhes)

    Total 219.959 Total 327.230

    Participao no total de exportaes do pas Participao no total de importaes do pas

    Por principais produtos Por principais produtos

    Agrcolas 10,7 Agrcolas 5,4

    Combustveis e minrios 25,4 Combustveis e minrios 38,8

    Manufaturas 63,9 Manufaturas 44,5

    Por principal destinao Por principal origem

    Unio Europeia 20,5 Unio Europeia 14,4

    Emirados rabes Unidos 14,4 China 11,5

    Estados Unidos 10,8 Emirados rabes Unidos 7,4

    China 5,9 Estados Unidos 6,0

    Hong Kong 4,0 Arbia Saudita 5,4

    Exportaes de servios (US$ milhes) Importao de servios (US$ milhes)

    Total 123.277 Total 116.140

    Participao no total de exportaes do pas Participao no total de importaes do pas

    Por principal tipo Por principal tipo

    Transporte 10,7 Transporte 40,0

    Viagem 11,5 Viagem 9,2

    Outros servios comerciais 77,8 Outros servios comerciais 50,9

    Fonte: Trade profiles, do Statistics Database da OMC (OMC, [s.d.]b).

    TABELA 3Desempenho com relao ao comrcio internacional de bens e servios China (2010)

    Indicadores bsicos

    PIB (US$ milhes) 5.878.629

    PIB (US$ PPC) 10.084.764

    Balana de Pagamentos (US$ milhes) 305.370

    Comrcio per capita (US$ milhes) 2008-2010 2.135

    Participao do comrcio no PIB (%) 2008-2010 55,4

    (Continua)

  • 33O Perfil dos BRICS no Comrcio Internacional

    Indicadores bsicos

    Exportaes de mercadorias F.O.B. (US$ milhes) Importao de mercadorias C.I.F. (US$ milhes)

    Total 1.577.824 Total 1.395.099

    Participao no total de exportaes do pas Participao no total de importaes do pas

    Por principais produtos Por principais produtos

    Agrcolas 3,3 Agrcolas 7,8

    Combustveis e minrios 3,0 Combustveis e minrios 26,7

    Manufaturas 3,6 Manufaturas 64,1

    Por principal destinao Por principal origem

    Unio Europeia 19,7 Japo 12,6

    Estados Unidos 8,0 Unio Europeia 12,0

    Hong Kong 13,8 Coreia 9,9

    Japo 7,7 Taiwan 8,3

    Coreia 4,4 China 7,6

    Exportaes de servios (US$ milhes) Importao de servios (US$ milhes)

    Total 170.248 Total 192.174

    Participao no total de exportaes do pas Participao no total de importaes do pas

    Por principal tipo Por principal tipo

    Transporte 20,1 Transporte 32,9

    Viagem 26,9 Viagem 28,6

    Outros servios comerciais 53,0 Outros servios comerciais 38,5

    Fonte: Trade profiles, do Statistics Database da OMC (OMC, [s.d.]b).

    TABELA 4Desempenho com relao ao comrcio internacional de bens e servios frica do Sul (2010)

    Indicadores bsicos

    PIB (US$ milhes) 363.704

    PIB (US$ PPC) 524.198

    Balana de Pagamentos (US$ milhes) - 9.987

    Comrcio per capita (US$ milhes) 2008-2010 3.805

    Participao do comrcio no PIB (%) 2008-2010 61,1

    Exportaes de mercadorias F.O.B. (US$ milhes) Importao de mercadorias C.I.F. (US$ milhes)

    Total 81.821 Total 94.040

    Participao no total de exportaes do pas Participao no total de importaes do pas

    Por principais produtos Por principais produtos

    Agrcolas 9,6 Agrcolas 6,8

    Combustveis e minrios 37,3 Combustveis e minrios 21,8

    Manufaturas 40,1 Manufaturas 70,2

    (Continuao)

    (Continua)

  • 34 Os BRICS na OMC

    Indicadores bsicos

    Por principal destinao Por principal origem

    Unio Europeia 26,1 Unio Europeia 32,1

    China 11,4 China 14,3

    Estados Unidos 9,9 Estados Unidos 7,3

    Japo 9,0 Japo 5,3

    ndia 4,2 Arbia Saudita 4,0

    Exportaes de servios (US$ milhes) Importao de servios (US$ milhes)

    Total 13.617 Total 18.023

    Participao no total de exportaes do pas Participao no total de importaes do pas

    Por principal tipo Por principal tipo

    Transporte 11,9 Transporte 39,3

    Viagem 66,7 Viagem 31,0

    Outros servios comerciais 21,4 Outros servios comerciais 29,6

    Fonte: Trade profiles, do Statistics Database da OMC (OMC, [s.d.]b).

    TABELA 5Desempenho com relao ao comrcio internacional de bens e servios Rssia (2010)

    Indicadores bsicos

    PIB (US$ milhes) 1.479.819

    PIB (US$ PPC) 2.812.383

    Balana de Pagamentos (US$ milhes) 71.129

    Comrcio per capita (US$ milhes) 2008-2010 5.279

    Participao do comrcio no PIB (%) 2008-2010 51,5

    Exportaes de mercadorias F.O.B. (US$ milhes) Importao de mercadorias C.I.F. (US$ milhes)

    Total 400.132 Total 248.73

    Participao no total de exportaes do pas Participao no total de importaes do pas

    Por principais produtos Por principais produtos

    Agrcolas 5,2 Agrcolas 14,8

    Combustveis e minrios 70,4 Combustveis e minrios 5,3

    Manufaturas 20,2 Manufaturas 75,7

    Por principal destinao Por principal origem

    Unio Europeia 52,2 Unio Europeia 38,3

    Ucrnia 5,8 China 15,7

    Turquia 5,1 Ucrnia 5,6

    China 5,1 Estados Unidos 4,5

    Belarus 4,5 Japo 4,1

    Destinao no especificada 1,8 Origem no especificada 8,0

    Exportaes de servios (US$ milhes) Importao de servios (US$ milhes)

    Total 43.961 Total 70.223

    (Continuao)

    (Continua)

  • 35O Perfil dos BRICS no Comrcio Internacional

    Participao no total de exportaes do pas Participao no total de importaes do pas

    Por principal tipo Por principal tipo

    Transporte 33,9 Transporte 17,1

    Viagem 20,4 Viagem 37,8

    Outros servios comerciais 45,6 Outros servios comerciais 45,2

    Fonte: Trade profiles, do Statistics Database da OMC (OMC, [s.d.]b).

    REFERNCIAS

    OMC ORGANIZAO MUNDIAL DO COMRCIO. Statistics database. Time series. Genebra, [s.d.]a. Disponvel em: .

    ______. Statistics database. Trade profiles. Genebra, [s.d.]b. Disponvel em: .

    ______. World Trade in 2000 Overview. Genebra, 2000. Disponvel em: .

    ______. World Trade 2010. Prospects for 2011. Genebra, 2011. Disponvel em: .

    (Continuao)

  • CAPTULO III

    PERFIL TARIFRIO DOS BRICSAbro Miguel rabe Neto

    Fabrzio Sardelli Panzini Frederico Arana Meira

    Jos Luiz Pimenta Jnior

    1 INTRODUO

    Em cerca de 300 a.C., Kautilya, o estadista e filsofo indiano, escreveu o clssico tratado poltico denominado Arthashastra (Satapathy, 1999, p. 449-451). A obra compreende 150 captulos, reunidos em quinze livros, acerca da economia, pros-peridade material e riqueza. Tendo sido primeiro-ministro do rei Chandragupta, Kautilya descreveu em sua obra o funcionamento do sistema de tributao da produo e do comrcio exterior da poca, incluindo um sofisticado sistema de tarifas de importao, utilizado por vrios estados do subcontinente indiano, que representa a primeira poltica tarifria conhecida.

    Segundo Kautilya, o comrcio exterior era controlado pelo Estado, e o oficial de fronteira situado em uma estrada era responsvel pela arrecadao da tarifa, cha-mada vartani. O pagamento representava garantia de livre passagem at a cidade localizada no interior, sendo reconhecida por carimbo e registro de identificao. A vartani possua a seguinte estrutura de custo:1 i) uma pana e um quarto para um carregamento de carroa; ii) uma pana para um de mula; iii) meia pana para um de bfalo; iv) um quarto de pana para um de pequeno animal; e v) uma masaka para um de ombro. Uma estrutura semelhante era cobrada para as mercadorias transportadas por barco.

    As tarifas descritas por Kautilya tambm apresentavam relao com o sis-tema moderno de poltica tarifria: a criao de isenes para determinadas importaes. Entre as mercadorias beneficiadas, encontravam-se: i) os bens destinados ao casamento; ii) presentes de casamento acompanhados pela noiva; iii) mercadorias consideradas presentes; iv) bens necessrios para o sacrifcio ou a cerimnia de nascimento; e v) bens utilizados em diversos rituais, como o de adorao aos deuses.

    1. Pana e masaka eram as moedas da poca, cunhadas, respectivamente, da prata e do cobre. Uma masaka represen-tava 1/16 de uma pana.

  • 38 Os BRICS na OMC

    Desde as primeiras experincias, a adoo de tarifas de importao con-solidou-se como o instrumento mais simples da poltica comercial de um pas. A tarifa funciona como tributo aplicado no momento da entrada de um produto no territrio do pas importador. Diante da facilidade de arrecadar, historica-mente, a poltica tarifria teve relevncia como importante fonte de recursos dos governos. No obstante, com a liberalizao do comrcio internacional e a ampliao das trocas entre os pases, a utilizao de tarifas passou a desempenhar o papel de controle das importaes. Neste sentido, a forma mais simples de um pas proteger ou liberalizar seu mercado por meio da elevao ou da reduo das tarifas de importao.

    A tarifa de importao pode ser cobrada de duas formas principais: ad valorem ou especfica. A tarifa ad valorem 2 mais comum aplicada com base em percentual fixo sobre o valor do produto importado. Por sua vez, a tarifa especfica3 cobrada em montante fixo de acordo com o peso ou a quantidade da mercadoria. Alguns pases ainda se utilizam de combinao4 entre os dois tipos de tarifas para um mes-mo produto.

    Do ponto de vista do Acordo Geral sobre Tarifas e Comrcio (GATT), duas restries principais aplicam-se s tarifas de importao determinadas pelos pases: i) a obrigatoriedade da no discriminao; e ii) o limite consolidado por cada membro para a elevao das alquotas. A no discriminao foi definida pelo Artigo I do GATT, que consolidou o princpio da nao mais favorecida (NMF). Segundo este princpio, as tarifas de importao de um pas devero ser aplicadas de forma equnime para as importaes provenientes de todos os membros, com base no tratamento mais favorvel disponvel. As principais ex-cees ao princpio NMF so os acordos regionais de comrcio previstos no artigo XXIV do GATT e os sistemas preferenciais de comrcio em favor de pases em desenvolvimento previstos na Clusula de Habilitao de 1979.

    O limite consolidado por cada membro para a elevao das alquotas de im-portao definido pelo Artigo II do GATT, que trata das listas de concesses dos pases. Segundo este artigo, os membros da Organizao Mundial do Comrcio (OMC, em ingls, World Trade Organization WTO) devero conceder trata-mento no menos favorvel ao comrcio com outras partes que aquele consolidado na lista de concesses anexa ao GATT.

    2. Tarifa ad valorem uma tarifa sob a forma de porcentagem do valor do bem importado. Por exemplo, tarifa ad valorem de 10% sob o valor importado aplicada pelo Brasil para certo produto. Supondo uma importao em US$ 500 mil, o recolhimento do tributo seria de US$ 50 mil.3. A tarifa especfica expressa em nmeros ou em quantidades especficas por produto, como unidade monetria por quilograma, litro, entre outras medidas. Como exemplo, os Estados Unidos aplicam tarifa especfica de US$ 0,45 por galo importado de etanol.4. As tarifas mistas ou compostas incorporam simultaneamente elementos de tarifa especfica e ad valorem. Como exemplo, a frica do Sul aplicava, at 2003, tarifa de 325c/kg ou 39% para alguns produtos hortcolas.

  • 39Perfil Tarifrio dos BRICS

    Ademais, os Artigos III e XI do GATT conferem importncia tarifa de impor-tao como instrumento para a diferenciao dos produtos domsticos em relao aos importados. O Artigo III, que define o princpio do tratamento nacional, prev que os impostos ou as taxas internas de um pas devem incidir de forma no menos fa-vorvel a um produto importado que o tratamento concedido a um bem domstico. Por sua vez, o Artigo XI determina a proibio do uso de outras restries ou proibi-es a importaes ou exportaes que no sejam na forma de tarifas, impostos ou outras taxas. Desta forma, segundo as regras multilaterais de comrcio, a tarifa de importao apresenta atributo determinante para a poltica econmica de um pas, uma vez que se caracteriza como o nico instrumento disponvel para favorecer a produo interna frente concorrncia de bens importados no mercado domstico.

    Este captulo tem como objetivo analisar a poltica tarifria dos pases do BRICS (composto por Brasil, Rssia, ndia, China e frica do Sul). Neste aspecto, a poltica tarifria ser compreendida no apenas como a adoo de tarifas de im-portao ou exportao, mas tambm o uso de outras medidas de controle do co-mrcio exterior, incluindo-se cotas, licenciamento e proibies. Ademais, para cada pas, o texto apresentar: i) breve histrico da poltica tarifria, com destaque para o processo de abertura dos pases no final do sculo XX; ii) as principais medidas relacionadas s importaes; e iii) as principais medidas relacionadas s exportaes. As concluses apresentaro breve comparao entre os cinco pases.

    2 BRASIL

    2.1 Histrico da poltica tarifria

    2.1.1 Abertura comercial

    No perodo 1930-1960, as polticas relacionadas substituio de importao do-minaram a agenda econmica do Brasil (Cardoso, 2009, p. 5). Alm do inves-timento estatal em alguns setores, a poltica industrial contou com o amplo uso de instrumentos comerciais, como licenciamento de importao, tarifas, cotas e proibies de importao. A poltica governamental, associada aos capitais privados nacional e internacional, induziu ao estabelecimento de segmentos da indstria voltados para o mercado interno, com destaque para o automotivo e o siderrgico.

    A poltica de substituio das importaes, no contexto de diversas crises cambiais, levou a poltica comercial a priorizar a entrada no Brasil apenas de bens sem similar nacional, principalmente os bens de capital (BKs), ou com eventual excesso de demanda (op. cit., p. 6). At o final da dcada de 1980, a poltica comercial era caracterizada pela mesma estrutura tarifria definida em 1957, associada a um amplo nmero de barreiras s importaes e existncia de regimes especiais para a reduo ou a iseno das tarifas. As medidas de proteo

  • 40 Os BRICS na OMC

    do mercado domstico permitiram o desenvolvimento de amplo e diversificado parque produtivo, mas sem incentivos para a integrao competitiva nos merca-dos mundiais (Kume, Piani e Souza, 2003, p. 9).

    A partir de 1988, iniciou-se o processo de liberalizao comercial no Brasil, por meio de trs programas de reduo tarifria, nos perodos 1988-1989 e 1991-1993 e em 1994, seguidos de pequeno retrocesso no perodo 1995-1998, quando a crise mexicana prejudicou o financiamento dos dficits comerciais (op. cit., p. 10). Na primeira fase (1988-1989), foram realizadas duas reformas tarifrias, que elimi-naram redundncias das tarifas nominais, porm sem impacto relevante nas impor-taes. Na segunda fase (1991-1993), as barreiras no tarifrias (BNTs) e os regimes especiais de tributao foram eliminados, seguidos de reduo gradual nas tarifas de importao. A terceira etapa (1994) esteve relacionada implantao do Plano Real e ao objetivo prioritrio de conteno dos altos ndices de inflao.

    As trs reformas tiveram como resultado a reduo da tarifa aplicada mdia no Brasil para apenas 10,5%, em 1995, seguida de nova elevao para 21,7% em 1998.

    TABELA 1Evoluo da tarifa aplicada mdia efetiva de produtos manufaturados, minrios e metais (1989-2009)(Em %)

    Minrios e metais QumicosMquinas e equipamentos

    de transporteOutros manufaturados Total

    1989 14,3 30,9 46,2 39,8 35,7

    1990 7,1 19,2 38,1 29,8 27,3

    1991 5,6 15,6 32,5 25,1 23,2

    1992 3,3 14,4 29,6 20,0 20,3

    1993 1,0 11,1 21,6 14,8 16,4

    1994 2,3 6,5 22,2 14,6 16,1

    1995 4,2 6,0 12,2 11,8 10,5

    1996 4,6 8,3 26,6 17,6 19,9

    1997 4,7 9,1 27,5 15,7 20,7

    1998 7,9 11,8 27,3 18,0 21,7

    1999 6,7 8,2 16,4 13,2 13,5

    2000 7,5 11,9 18,9 17,0 16,5

    2001 6,9 10,8 17,1 16,3 15,1

    2002 5,8 9,4 15,7 15,7 13,7

    2003 5,9 9,4 13,2 15,0 12,2

    2004 3,1 4,9 9,5 12,0 8,4

    2005 2,3 4,4 8,8 12,0 8,1

    2006 0,4 4,6 7,9 11,8 7,3

    2007 0,4 4,6 9,4 12,1 8,0

    2008 0,5 4,1 9,6 13,2 8,5

    2009 0,7 4,7 9,6 14,5 9,4

    Fonte: World Bank ([s.d.]). Obs.: mdia ponderada pelo comrcio. A metodologia de classificao setorial encontra-se disponvel no apndice A.

  • 41Perfil Tarifrio dos BRICS

    2.1.2 Mercosul

    Em 1991, Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai assinaram o Tratado de Assuno, que definiu a constituio do Mercado Comum do Sul (Mercosul). O principal objetivo deste tratado foi a integrao dos membros por meio da livre circulao de bens, servios e fatores produtivos, incluindo-se o estabelecimento da Tarifa Externa Comum (TEC) e poltica comercial comum. Em seguida, em 1994, foi aprovado o Protocolo de Ouro Preto, que estabeleceu a estrutura institucional do Mercosul e tornou operacional os instrumentos da poltica comercial comum.

    Segundo o Tratado de Assuno, a criao da TEC deveria pautar-se pelo objetivo de fomentar a competitividade externa dos Estados partes.5 Ademais, segundo o Ministrio do Desenvolvimento, Indstria e Comrcio Exterior (MDIC),6 a definio dos nveis tarifrios foi baseada nos seguintes critrios: i) pequeno nmero de alquotas; ii) baixa disperso; iii) maior homogeneidade pos-svel das taxas de promoo efetiva (exportaes) e proteo efetiva (importao); e iv) nvel de agregao para o qual seriam definidas as alquotas de seis dgitos.

    Concomitante concluso da Rodada Uruguai e ao estabelecimento da OMC, o Brasil iniciou, em setembro de 1994, a adoo da TEC do Mercosul. Apesar de a adoo desta tarifa ter de ocorrer apenas em janeiro de 1995, o Brasil decidiu antecipar sua entrada em vigor com o objetivo de contribuir para os esfor-os de reduo da inflao (Kume, Piani e Souza, 2003, p. 16). A adoo da TEC ocorreu de forma imperfeita, tendo-se em vista a criao de regimes de exceo entre os membros do bloco, alguns de carter temporrio e outros, permanentes.7 No obstante, significou maior estabilidade da poltica tarifria do Brasil, uma vez que as alteraes passaram a depender da aprovao dos demais membros do Mercosul8 (Argentina, Paraguai e Uruguai).

    Em 2000, tendo-se em vista a importncia da manuteno da estrutura da TEC nos acordos com terceiros pases, os membros do Mercosul decidiram pela adoo da Deciso no 32/2000 do Conselho do Mercado Comum (CMC), acerca das negociaes comerciais conjuntas. Entre outros aspectos, tal deciso previu, em seu Artigo 2o, que

    os Estados Partes no podero assinar novos acordos preferenciais ou acordar no-vas preferncias comerciais em acordos vigentes no marco da Associao Latino-Americana de Integrao (Aladi), que no tenham sido negociados pelo Mercosul (CMC, 2000).

    5. Ver Artigo 5 do Tratado de Assuno.6. Disponvel em: . Acesso em: 27 nov. 2011.7. As excees TEC sero tratadas na seo 2.2.2.8. Exceto no caso da chamada Lista de Exceo Nacional do Mercosul, prevista inicialmente para durar apenas cinco anos, porm com vigncia estendida at 31 de dezembro de 2015.

  • 42 Os BRICS na OMC

    Essa definio contribuiu para o fortalecimento da poltica comercial co-mum; entretanto, dificultou a celebrao de acordos bilaterais de comrcio pelo Mercosul.

    Em 2004, outra deciso conjunta do Mercosul (CMC, 2004) estabeleceu as bases para um aspecto fundamental da consolidao da unio aduaneira: a eliminao da dupla cobrana da TEC. Nas atuais circunstncias, sem a imple-mentao desta proposta, a importao proveniente de um parceiro externo ao Mercosul obrigada a arrecadar a tarifa em cada movimentao interna entre pases do bloco em vez de realizar o pagamento apenas na aduana inicial de entrada da mercadoria. Com efeito, h desincentivo para a realizao de impor-taes que objetivam reexportao para os outros membros do bloco, com ou sem agregao de valor. Entre outros aspectos, a adoo da medida depende do desenvolvimento de sistema conjunto de controle das importaes, o que tem impactado no adiamento de sua implementao. Segundo a Deciso no 56/2010 do CMC, o prazo para a concluso de todas as etapas 1o de janeiro de 2019.

    2.1.3 Impactos da crise financeira

    Segundo a OMC (WTO, 2011c), desde o incio da crise financeira mundial, em outubro de 2008, at o mesmo ms de 2011, o Brasil estabeleceu 78 medidas relacionadas ao comrcio excetuando-se as ligadas defesa comercial. Destas, 37 foram de iniciativa liberalizante e apenas quinze contriburam para restringir o comrcio. Apenas no ano seguinte ao incio da crise, em 2009, o pas aplicou mais medidas restritivas que liberalizantes.

    TABELA 2Medidas relacionadas ao comrcio (2009-2011)

    2009 2010 20111 Total

    Liberalizantes 3 22 12 37

    Restritivas 4 7 5 16

    Outras 6 7 12 27

    Fonte: WTO (2011c). Nota:1 Dados relativos at outubro.Obs.: a metodologia de classificao das medidas relacionadas ao comrcio encontra-se disponvel no apndice B.

    Todas as medidas liberalizantes mencionadas estiveram relacionadas reduo, permanente ou temporria, das alquotas de importao. Os setores mais afetados foram os de BKs e bens de informtica e telecomunicaes (BITs), respectivamente, com dez e nove medidas. Outros setores afetados incluem o qumico, o farmacutico, o de papis, o de ao e o de autopeas. Ademais, dezesseis medidas tiveram carter permanente, enquanto 21 foram de natureza temporria.

  • 43Perfil Tarifrio dos BRICS

    Entre as medidas restritivas, nove foram de carter temporrio, e seis, de carter permanente. Os setores impactados incluem o txtil, o de brinquedos, o qumico, o de laticnios e o de BKs. Apenas duas medidas no envolveram a alterao de tarifas de importao. A primeira foi o estabelecimento de regra, em agosto de 2011, permitindo a concesso de margens de preferncia de at 25% para produtos nacionais em compras governamentais. A segunda foi a elevao do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de automveis e a concesso de desconto deste tributo para as montadoras que cumprem uma srie de requisitos de nacionalizao informaes adicionais na seo 2.2.5, adiante. Esta medida, anunciada em setembro de 2011, teve como efeito principal frear as importaes de veculos de origem asitica.

    2.2 Importaes

    2.2.1 Tarifas de importao

    No documento World Tariff Profiles 2010 (WTO, ITC e UNCTAD, 2010, p. 48), produzido pela OMC, o Brasil apresenta a totalidade de suas linhas tarifrias consolidadas, assim como todas as concesses j implementadas. Ressalta-se, ainda, o fato de o Brasil exibir todas as suas linhas tarifrias cobra-das sob a forma ad valorem.

    TABELA 3Perfil tarifrio do Brasil (2010)(Em %)

    Consolidada Aplicada

    Mdia tarifria 31,4 13,6

    Tarifa mxima 55,0 35,0

    Tarifas no ad valorem 0,0 0,0

    Tarifas zero 1,0 5,3

    Fonte: WTO, International Trade Centre (ITC) e United Nations Conference on Trade and Development UNCTAD (2010, p. 48).

    Do total do universo de linhas tarifrias, o Brasil consolidou o valor de co-brana mdia de 31,4%; no entanto, aplica valor mdio de 17,8 pontos percentuais (p.p.) inferior a este nmero, de 13,6%. A tarifa mxima consolidada a um bem pelo pas atinge 55%, mas o Brasil aplica alquota de importao mxima de 35%.

    Produtos agrcolas

    O hiato entre o valor consolidado das tarifas brasileiras e o efetivamente aplica-do pelo Brasil mais elevado e evidente no setor de produtos agrcolas. Assim, h para este grupo de produtos maior espao para uso do instrumento tarifrio como poltica comercial, caso exista demanda por proteo do setor. Embora a

  • 44 Os BRICS na OMC

    tarifa mxima de importao consolidada para este setor seja de 55%, valor que estabelece o teto do pas, a mdia de tarifa aplicada de 10,2% ou seja, inferior mdia aplicada para o total das linhas tarifrias.

    A anlise dos subsetores agrcolas permite obter viso mais ampla da estratgia tarifria brasileira. Dos dez subsetores que compem o setor agrcola, metade exibe tarifa de importao inferior mdia, com destaque para o algodo, cujo grupo de bens apresenta menor tarifa aplicada (6,4%). Neste caso, vale notar que a alquota con-solidada deste subsetor justamente a tarifa mxima do setor agrcola ou seja, 55%.

    Por sua vez, os produtos contidos nos subsetores bebidas e tabaco, acares e lcteos so aqueles cuja mdia tarifria das linhas mais elevada, com 17,2%, 16,5% e 15,1%, respectivamente. Ainda que sejam mais altas, a mdia tarifria destes subsetores no mostra desvio muito grande em relao mdia agregada do setor. Este dado fornece indcios de que, ao menos do ponto de vista da aplicao mdia do instrumento tarifrio, o pas no aplica barreiras com picos relevantes.

    Produtos no agrcolas

    No setor de bens no agrcolas, ainda que com menor margem de manobra em relao aos bens agrcolas, a diferena entre o valor tarifrio mdio consolidado e aplicado tambm relevante, de 16,6 p.p. Da mesma forma que para os bens agrcolas, h considervel espao para a elevao das tarifas aplicadas pelo pas.

    Entretanto, o valor mximo consolidado pelo Brasil na OMC para o conjunto de bens no agrcolas inferior ao observado para os bens agrcolas (35% contra 55%, respectivamente). Mas, no tocante aplicao, os bens no agrcolas atingem o valor mximo de 35% da tarifa consolidada em alguns subsetores.

    Os subsetores txtil, de vesturio, de equipamentos de transporte e de cal-ados e couro exibem tarifa consolidada muito prxima ao teto, entre 33,1% e 35%. Destes, o setor de vesturio o que aplica a mais elevada tarifa, cujo valor o mesmo consolidado (35%). O txtil, com 22,5% de tarifa mdia aplicada, os equipamentos de transporte, com 18,1%, e o setor de couro e calados, com 15,7%, compem o grupo de subsetores mais protegidos em termos de tarifa.

    relevante lembrar que, muito embora a mdia de tarifa aplicada desses subsetores mencionados como mais protegidos ainda apresente diferencial em relao mdia consolidada, muitas linhas tarifrias nestes setores j atingiram o teto, caso de algumas linhas tarifrias dos setores txtil, caladista e automotivo.

    Sete dos doze subsetores no agrcolas exibem tarifa mdia inferior ao mesmo valor agregado para o setor. As linhas tarifrias contidas no petrleo, por exemplo, apresentam a menor mdia do setor, de apenas 0,2%, e contribui para isto o fato de que grande parcela das tarifas zero aplicadas pelo Brasil est concentrada em bens deste subsetor, fato que remonta aos problemas de dependncias externa do passado.

  • 45Perfil Tarifrio dos BRICS

    Outros subsetores relevantes e com alquotas mdias baixas so o qumico, o de peixes e derivados, o de minerais e metais e o de madeira e papel. Entre estes, o qumico e o de madeira e papel so os que exibem as tarifas mdias consolidadas mais baixas do setor de bens no agrcolas, de 21,1% e 28,4%, respectivamente ou seja, possuem menor espao para eventuais decises de elevaes tarifrias.

    As mquinas eltricas e no eltricas , setores importantes para a balana comercial e a produo industrial do pas, com tarifa mdia de importao de 12,7% e 14,2%, contam, ainda, do ponto de vista da mdia tarifria, com razo-vel espao para elevaes da tarifa, cujo teto estabelecido junto OMC est em 32,2% e 31,9%, respectivamente.

    TABELA 4Tarifas de importao por grupos de produtos (2010)(Em %)

    SetoresTarifa consolidada Tarifa aplicada

    Mdia Mxima Consolidada Mdia Mxima

    Bens agrcolas

    Produtos de origem animal 37,8 55 100 8,9 16

    Lcteos 48,8 55 100 15,1 16

    Frutas, vegetais e plantas 34,1 55 100 9,7 14

    Caf e ch 34,1 35 100 13,3 20

    Cereais e preparaes 42,9 55 100 11,8 20

    leos e sementes oleaginosas 34,7 35 100 8,0 12

    Acar e confeitaria 34,4 35 100 16,5 20

    Bebidas e tabaco 37,7 55 100 17,2 20

    Algodo 55,0 55 100 6,4 8

    Outros produtos agrcolas 28,9 55 100 7,6 14

    Bens no agrcolas

    Peixe e derivados 33,6 35 100 10,0 16

    Minerais e metais 32,9 35 100 10,1 20

    Petrleo 35,0 35 100 0,2 6

    Qumicos 21,1 35 100 8,3 18

    Madeira, papel etc. 28,4 35 100 10,7 18

    Txtil 34,8 35 100 22,5 35

    Vesturio 35,0 35 100 35,0 35

    Calados, couro etc. 34,6 35 100 15,7 35

    Mquinas no eltricas 32,4 35 100 12,5 20

    Mquinas eltricas 31,9 35 100 14,2 20

    Equipamentos de transporte 33,1 35 100 18,1 35

    Manufaturas no especificadas 33,0 35 100 15,3 20

    Fonte: WTO, ITC e UNCTAD (2010, p. 48).

  • 46 Os BRICS na OMC

    Tarifas preferenciais

    O Brasil, no mbito do Mercosul, possui acordos preferenciais de comrcio com Israel (firmado em 2010), o Egito (consolidado em 2010 e ainda sem vigncia), a Unio Aduaneira da frica Austral Sacu (assinado em 2008 e ainda sem vi-gncia) e a ndia (consolidado em 2005 e em vigor desde 2009). No mbito da Aladi, o Brasil firmou dezesseis acordos de complementao econmica (ACEs).

    TABELA 5Perfil das tarifas preferenciais do Brasil (2010)

    Preferencial Aplicada

    Mdia tarifria (%) 2,4 13,6

    Universo coberto 2.787 4.558

    Fonte: World Bank ([s.d.]).

    No que se refere distribuio de suas tarifas preferenciais, o Brasil, em 2010, de acordo com a base de dados World Integrated Trade Solution (WITS) (World Bank, [s.d.]), aplica mdia tarifria preferencial de 2,3%, para total de 2.787 produtos, que corresponde a 61% do universo tarifrio total.

    Em relao distribuio tarifria por pas, nota-se predominncia de naes da Amrica Latina, em virtude dos ACEs firmados no mbito da Aladi. Tarifas mais elevadas so aplicadas ao Mxico (ACE 53 e 55), Cuba (ACE 62) e ao Peru (ACE 59), enquanto as mais baixas so aplicadas aos pases do Mercosul (ACE 18).

    2.2.2 Excees TEC do Mercosul

    Apesar de o conceito de mercado comum pressupor a existncia de unio aduaneira, incluindo-se o livro trnsito de mercadorias e o estabelecimento da Tarifa Externa Comum, diversas excees possibilitam a aplicao de alquotas de importao di-ferenciadas entre os membros do Mercosul. As excees TEC so objeto de cons-tante esforo de convergncia desde a criao do bloco; entretanto, as diferenas nas estruturas produtivas e de comrcio exterior tornam pouco viveis a completa eliminao destes regimes. A seguir, sero apresentadas as principais excees do Brasil TEC do Mercosul.

    Perfuraes da tarifa consolidada na OMC

    De modo diferente do caso da Unio Europeia, que consolidou seus compromissos de reduo tarifria de forma unificada perante a OMC, os quatro membros do Mercosul possuem listas individuais. As listas de concesses, conforme definido pelo Artigo II do GATT, estabelecem o limite mximo para a aplicao da tarifa de importao. O Brasil possui 123 produtos9 (cdigos tarifrios da Nomenclatura

    9. Disponvel em: . Acesso em: 27 nov. 2011.

  • 47Perfil Tarifrio dos BRICS

    Comum do Mercosul NCM) cujas alquotas consolidadas perante a OMC so inferiores ao estabelecido pela TEC. Nestes casos, em funo do compromisso mul-tilateral, o Brasil aplica para as importaes a alquota inferior consolidada.

    Lista de exceo TEC

    No momento de criao da TEC, diante da dificuldade de obter a convergncia da tarifa de importao aplicada pelos quatro membros do Mercosul, decidiu-se pelo estabelecimento de listas de excees por pas. Tais listas deveriam durar apenas cinco anos (CMC, 1994); entretanto, o prazo foi estendido diversas vezes, conforme o ltimo cronograma aprovado (CMC, 2010b), detalhado a seguir:

    Argentina: at cem cdigos da NCM, at 31 de dezembro de 2015;

    Brasil: at cem cdigos da NCM, at 31 de dezembro de 2015;

    Paraguai: at 649 cdigos da NCM, at 31 de dezembro de 2019; e

    Uruguai: at 225 cdigos da NCM, at 31 de dezembro de 2017.

    As alteraes das listas de excees TEC devem ocorrer apenas a cada seis meses e esto limitadas a 20% dos cdigos em cada modificao. Os pases podem ainda utilizar-se das listas de excees, com vistas a elevar ou reduzir a alquota aplicada em relao TEC.

    Aes pontuais no mbito tarifrio por razes de desequilbrios derivados da conjuntura econmica internacional

    Em dezembro de 2011, os membros do Mercosul acordaram pela Deciso do CMC no 39, acerca das Aes Pontuais no mbito Tarifrio por Razes de Desequilbrios Comerciais Derivados da Conjuntura Econmica Internacional. Segundo esta de-ciso, os membros do bloco podero elevar a TEC para cem produtos por doze meses, renovveis por igual perodo, at 31 de dezembro de 2014. A deciso teve como partida proposta do Brasil de ampliao da lista de excees, tendo-se em vista o aumento das importaes em diversos setores.

    Bens de capital e bens de informtica e telecomunicaes

    Durante a formao do Mercosul, o acesso a BKs e BITs foi considerado estrat-gico para o desenvolvimento econmico dos pases do bloco. Ademais, tendo-se em vista a diferena na estrutura produtiva dos quatro membros, decidiu-se pelo estabelecimento de regimes especiais e temporrios para a convergncia da TEC.

    No caso de BKs, o cronograma inicial previa, para a Argentina e o Brasil, a convergncia linear e automtica em direo a uma tarifa comum de 14% em 1o de janeiro de 2001 (CMC, 1994). Paraguai e Uruguai beneficiaram-se de prazo mais estendido, at 1o de janeiro de 2006. Para os BITs, o cronograma

  • 48 Os BRICS na OMC

    inicial previu a convergncia linear e automtica em direo a uma tarifa m-xima comum de 16% em 1o de janeiro de 2006 (op. cit.).

    As listas de produtos includos no universo de BKs e BITs envolvem, respectivamente, 1.204 e 391 cdigos tarifrios.10 Como no caso das listas de excees TEC, os regimes especiais para a importao destes bens foram pror-rogados, sendo o seguinte o ltimo cronograma aprovado para a convergncia (CMC, 2010a):

    Argentina: BKs at 31 de dezembro de 2012, e BITs at 31 de dezembro de 2015;

    Brasil: BKs at 31 de dezembro de 2012, e BITs at 31 de dezembro de 2015;

    Paraguai: BKs e BITs at 31 de dezembro de 2019; e

    Uruguai: BKs at 31 de dezembro de 2019, e BITs at 31 de dezembro de 2018.

    No Brasil, os regimes de BKs e BITs objetivam promover a modernizao do parque industrial e da infraestrutura de servios por meio da reduo temporria das tarifas de importao dos bens sem produo nacional.11 Para tornar operacionais os regimes, o pas estabeleceu mecanismo ex-tarifrio, no qual as partes interessadas podem solicitar a reduo da alquota para 2% por perodo de dois anos. A concesso pode ser realizada tanto para bens finais quanto para partes e peas.

    Redues temporrias por questes de desabastecimento

    Em virtude da possvel ocorrncia de situaes de desequilbrio na oferta e na demanda de um produto, ocasionando o desabastecimento de um membro, o Mercosul estabeleceu m ecanismo para reduo temporria da TEC. Cada pas do bloco pode manter nmero limitado de produtos nesta condio, sujeitos a cotas e prazos definidos, desde que no afetem o comrcio intraMercosul e a competiti-vidade relativa da regio. No momento, o Brasil mantm 22 produtos12 (cdigos tarifrios da NCM) com redues das tarifas em funo de desabastecimento.

    2.2.3 Restries quantitativas

    Atualmente, o Brasil aplica restries quantitativas em duas circunstncias con-sideradas excepcionais. Em primeiro lugar, o pas mantm salvaguarda (produto coco seco, sem casca, at mesmo ralado, classificado no item 0801.11.10) cuja aplicao prev cotas de importao.

    10. Disponvel em: . Acesso em: 27 nov. 2011.11. Disponvel em: . Acesso em: 27 nov. 2011.12. Disponvel em: . Acesso em: 27 nov. 2011.

  • 49Perfil Tarifrio dos BRICS

    Ademais, como mencionado anteriormente na seo 2.2.2, em casos de de-sabastecimento no Mercosul, os membros do bloco so autorizados a reduzir a TEC de forma temporria, mediante a aplicao de cotas tarifrias.

    2.2.4 Licenciamento de importao

    O Brasil utiliza mecanismos de licenciamento automtico e no automtico para uma srie de produtos. Segundo o Ministrio do Desenvolvimento, Indstria e Co-mrcio Exterior (MDIC) (Brasil, 2011a), esto sujeitos ao licenciamento autom-tico produtos beneficiados pelo regime de drawback e conjunto adicional de 139 produtos13 (cdigos tarifrios da NCM em oito dgitos) relacionados ao Tratamento Administrativo do Sistema Integrado de Comrcio Exterior (Siscomex).

    Por sua vez, o licenciamento no automtico (Brasil, 2011b) aplica-se a diver-sas importaes, incluindo: i) cotas tarifria e no tarifria; ii) benefcios da Zona Franca de Manaus e das reas de livre comrcio; iii) medidas de defesa comercial; iv) indcio de fraude; v) 3.339 produtos14 relacionados ao Siscomex; e outras.

    2.2.5.Tributos internos

    Em condies normais, o Brasil aplica para os produtos importados tributos idn-ticos