89
Comportamento Humano no Trabalho Florianópolis 2010 Andréa Martins Andujar Fátima Regina Teixeira

Web Comportamento Humano No Trabalho

Embed Size (px)

Citation preview

  • Comportamento Humano no Trabalho

    Florianpolis2010

    Andra Martins AndujarFtima Regina Teixeira

  • Comportamento Humano no Trabalho

    Andra Martins AndujarFtima Regina Teixeira

    Curso Superior de Tecnologia em Gesto Pblica

    Florianpolis2010

    2a edio - revista e atualizada1a reimpresso

  • A577c Andujar, Andra Martins Comportamento humano no trabalho / Andra Martins Andujar ; Ftima Regina Teixeira. 2. ed. rev. e atual. Florianpolis : Publicaes do IF-SC, 2010. 89 p. : il. ; 27,9 cm. Inclui Bibliografia. ISBN: 978-85-62798-35-1 1. Comportamento humano. 2. Motivao e percepo humana. 3. Comportamento humano contexto organizacional. I. Teixeira, Ftima Regina. II. Ttulo.

    CDD: 658.3

    Sistema de Bibliotecas Integradas do IF-SCBiblioteca Dr. Herclio Luz Campus FlorianpolisCatalogado por: Augiza Karla Boso CRB 14/1092

    Elaine Santos da Silva CRB 14/1182

    1a reimpresso - 2011

    Copyright 2010, Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia de Santa Catarina / IF-SC. Todos os direitos reservados.A responsabilidade pelo contedo desta obra do(s) respectivo(s) autor(es). O contedo desta obra foi licenciado temporria e gratuitamente para utilizao no mbito do Sistema Universidade Aberta do Bra-sil, atravs do IF-SC. O leitor compromete-se a utilizar o contedo desta obra para aprendizado pessoal. A reproduo e distribuio ficaro limitadas ao mbito interno dos cursos. O contedo desta obra poder ser citado em trabalhos acadmicos e/ou profissionais, desde que com a correta identificao da fonte. A cpia total ou parcial desta obra sem autorizao expressa do(s) autor(es) ou com intuito de lucro constitui crime contra a propriedade intelectual, com sanes previstas no Cdigo Penal, artigo 184, Pargrafos 1o ao 3o, sem prejuzo das sanes cabveis espcie.

  • InSTITuTo FedeRAl deeduCAo, CInCIA e TeCnoloGIASAnTA CATArInA

    Ficha tcnica

    Organizao Andra Martins Andujar

    Ftima Regina Teixeira

    Comisso Editorial Paulo Roberto Weigmann

    Dalton Luiz Lemos II

    Coordenador do Curso Superior de Felipe Cantrio Soares

    Tecnologia em Gesto Pblica

    Coordenao de Produo Ana Paula Lckman

    Produo e Design Instrucional Edson Burg

    Capa, Projeto Grfico, Editorao Eletrnica Lucio Santos Baggio

    Editorao Eletrnica Angelita Corra

    reviso Gramatical Alcides Vieira de Almeida

    Imagens Stock.XCHNG

    Material produzido com recursos do Programa Universidade Aberta do Brasil (UAB)

  • Sumrio

    09 Apresentao

    11 cones e legendas

    13 unidade 1 Bases do comportamento humano

    15 1.1 Comportamento humano e seus condicionantes

    18 1.2 Personalidade e caractersticas do temperamento

    35 unidade 2 A natureza da motivao humana

    37 2.1 Origens da motivao humana

    38 2.2 Conceituando motivao

    40 2.3 A dinmica motivacional

    47 unidade 3 A percepo humana

    49 3.1 O estudo da percepo

    51 3.2 Caractersticas da percepo

    71 unidade 4 As emoes e o contexto organizacional

    73 4.1 A compreenso das emoes e o seu gerenciamento

    82 Consideraes finais

    83 referncias

    89 Sobre as autoras

  • Comportamento Humano no Trabalho - 9

    Prezado estudante,

    Esta unidade curricular vai proporcionar-lhe resposta para questes

    do tipo:

    Como formada a personalidade das pessoas? Quais os condicionan-

    tes explicativos do comportamento humano? Por que os indivduos exer-

    cem diferentes nveis de esforos em diferentes atividades? Como se pode

    explicar que duas pessoas possam olhar para a mesma coisa e perceb-la

    de forma diferente?

    Essas questes proclamam um desafio: compreender o ser humano e

    os fatores que influenciam o seu comportamento; ou, ainda: compreender o

    comportamento humano e sua influncia nos resultados organizacionais.

    Sem a pretenso de esgotar o tema, mas com a pretenso de fornecer-

    lhe subsdios, os conhecimentos e as reflexes aqui apresentados vislum-

    bram um (re)pensar e, em decorrncia, um novo olhar sobre aspectos do

    comportamento humano.

    desejvel que os elementos tericos aqui abordados sirvam de

    trampolim para um competente diagnstico das questes interpessoais nos

    ambientes organizacionais.

    Bom aproveitamento!

    Prof Andra Martins Andujar

    Apresentao

  • 10 - Curso Superior de Tecnologia em Gesto Pblica

  • Comportamento Humano no Trabalho - 11

    cones e legendas

    GlossrioA presena deste cone representa a explicao de um termo utilizado durante o

    texto da unidade.

    lembre-seA presena deste cone ao lado do texto indicar que naquele trecho demarcado

    deve ser enfatizada a compreenso do estudante.

    Saiba maisO professor colocar este item na coluna de indexao sempre que sugerir ao

    estudante um texto complementar ou acrescentar uma informao importante

    sobre o assunto que faz parte da unidade.

    link de hipertextoSe no texto da unidade aparecer uma palavra grifada em cor, acompanhada do cone da seta, no espao lateral da pgina, ser apresentado um contedo especfico relativo expresso

    destacada.

    destaqueparalelo

    destaque de texto

    A presena do retngulo com fundo colorido indicar trechos im-

    portantes do texto, destacados para maior fixao do contedo.

    O texto apresentado neste

    tipo de box pode conter

    qualquer tipo de informao

    relevante e pode vir ou no

    acompanhado por um dos

    cones ao lado.

    Assim, dessa forma, sero

    apresentados os conte-

    dos relacionados palavra

    destacada.

    Para refletirQuando o autor desejar que o estudante responda a um questionamento ou realize

    uma atividade de aproximao do contexto no qual vive ou participa.

  • 1unidade

    Bases do comportamento humano

  • 14 - Curso Superior de Tecnologia em Gesto Pblica

    Ao final desta unidade, voc entender o que significa perso-nalidade, conhecer as suas dimenses, suas caractersticas e as principais teorias associadas ao seu estudo, e, ainda, conscientizar-se- de que as diferenas individuais influen-ciam significativamente no contexto organizacional.

    Competncias

  • Comportamento Humano no Trabalho - 15

    1 Bases do comportamento humano

    1.1 Comportamento humano e seus condicionantes

    O interesse sobre o comportamento das pessoas no ambiente de

    trabalho remonta ao cenrio das teorias da administrao: a administrao

    cientfica, tendo como base a concepo do homo economicus, postulava

    que o comportamento das pessoas era motivado apenas pela recompen-

    sa salarial e material do trabalho. Essa viso mudou com a experincia de

    Hawthorne, desenvolvida por Elton Mayo e sua equipe.

    As descobertas-chave dos estudos de Hawthorne foram as seguintes

    (DUBrIn, 2006; CHIAVEnATO, 2004):

    O comportamento das pessoas no ambiente de trabalho conse-

    quncia no apenas de fatores econmicos, mas tambm de fatores

    psicolgicos, pois os trabalhadores so dotados de sentimentos,

    emoes, desejos e temores.

    Lidar com os problemas humanos complicado e desafiador.

    Quanto maior a integrao social no grupo de trabalho, tanto maior

    a disposio de produzir.

    Problemas pessoais podem influenciar fortemente a produtividade

    do empregado.

    As pessoas so motivadas pela necessidade de reconhecimento, de

    aprovao social e participao nas atividades dos grupos sociais

    nos quais convivem.

    Comunicao eficaz com os empregados fator indispensvel para

    o sucesso administrativo.

    O comportamento das pessoas influenciado pelas atitudes e nor-

    mas informais existentes nos grupos dos quais participam.

    Georges Elton Mayo

    (1880 - 1949): Socilogo

    australiano, um dos funda-

    dores e principais expoentes

    da sociologia industrial dos

    EUA. Formou-se em Me-

    dicina na Universidade de

    Adelaide, trabalhou na frica

    e lecionou na Universidade

    de Queensland. Ainda na

    Austrlia, estudou as socieda-

    des aborgines, que o tornam

    sensvel s mltiplas dimen-

    ses da natureza humana.

    Durante a Primeira Guerra

    Mundial, trabalhou na anlise

    psicolgica de soldados em

    estado de choque.

    Fonte: http://pt.wikipedia.

    org/wiki/Elton_Mayo (2008)

  • 16 - Curso Superior de Tecnologia em Gesto Pblica

    O movimento das relaes Humanas enraza-se, ento, na crena de

    que trabalhadores satisfeitos seriam trabalhadores mais produtivos. Desse

    modo, o desafio para os gerentes era reconhecer as necessidades dos

    trabalhadores e a influncia que os grupos de trabalho podem ter sobre a

    produtividade individual e organizacional.

    A Abordagem Comportamental, tambm conhecida como Teoria

    Behaviorista, representa um desdobramento da Teoria das Relaes

    Humanas e concebe o comportamento como a maneira pela qual um

    indivduo age ou reage em suas interaes. A respeito da natureza e das

    caractersticas do ser humano, devem-se levar em considerao, segundo

    essa teoria que (CHIAVEnATO, 2004):

    o homem um animal social dotado de necessidades: o homem

    desenvolve relacionamentos cooperativos e interdependentes que

    o levam a viver em grupos;

    o ser humano dotado de um sistema psquico: processos afetivos,

    emocionais e de raciocnio formam a personalidade de cada pessoa e seu

    modo de perceber e de posicionar-se frente s vrias situaes da vida;

    o homem tem capacidade de articular a linguagem com o

    raciocnio abstrato: o homem tem capacidade de abstrao da

    realidade e de comunicao com as outras pessoas;

    o ser humano dotado de aptido para aprender: aprender

    um fenmeno de transformao que permite ao homem adaptar-se

    s mudanas que ocorrem no ambiente. Por meio da aprendizagem

    adquirem-se novas formas de conduta que se entrelaam com os

    comportamentos inatos;

    o comportamento humano orientado para objetivos: sub-

    jacente a todo comportamento, existe sempre um impulso, um

    desejo, uma necessidade, uma tendncia, expresses que servem

    para designar os motivos do comportamento;

    o homem caracteriza-se por um padro dual de comportamen-

    to: o ser humano coopera e compete.

    na dcada de 1970, reafirmando a importncia do enfoque humanista

    na organizao, surge a Teoria Contingencial que encoraja os gerentes a

  • Comportamento Humano no Trabalho - 17

    prestarem ateno s diferenas individuais e situacionais, as quais interferem

    no desempenho das tarefas.

    Portanto, compreender as diferenas individuais ajuda a explicar o

    comportamento humano. no obstante, as influncias ambientais tambm

    so importantes e da deriva a equao:

    C = f (P x A), onde:

    C representa comportamento;

    P representa pessoa; e

    A representa o ambiente.

    O comportamento de uma pessoa se d em funo de dois fatores: a realidade externa e a sua reali-dade interna. Por realidade externa entende-se o ambiente onde a pessoa se encontra. Isso quer dizer que nossos comportamentos no so inde-pendentes do ambiente onde nos encontramos; ao contrrio, so bastante influenciados por ele. O ambiente nos fornece uma srie de estmulos e gatilhos. Por realidade interna entende-se tudo o que no podemos perceber pelos sentidos e s sa-bemos quando se transforma em comportamento. a parte invisvel, mas que influencia diretamente o comportamento (WANDERLEY, 1998).

    Esses fatores subjetivos que fazem parte do mundo interno de cada ser dizem respeito percepo, ex-pectativas, sentimentos, emoes, desejos, valores, conhecimentos, experincias, pressupostos que cada um tem sobre si mesmo, sobre o outro e sobre

    o contexto, modelos mentais e necessidades que, em conjunto, determinam a forma de cada pessoa perceber, pensar, sentir e agir nos contextos em que esto inseridas (LEMOS, 2002).

    Modelos mentais: so

    imagens, pressupostos e

    histrias que trazemos em

    nossas mentes, acerca de

    ns mesmos, de outras

    pessoas, de instituies e

    de todos os aspectos do

    mundo. Diferenas entre

    modelos mentais explicam

    por que duas pessoas po-

    dem observar o mesmo

    acontecimento e descrev-

    lo de forma diferente; elas

    esto prestando ateno

    a detalhes diferentes. Os

    modelos mentais tambm

    determinam a nossa forma

    de agir.

  • 18 - Curso Superior de Tecnologia em Gesto Pblica

    Compreender que o comportamento determinado por fatores inter-

    nos do mundo subjetivo de cada pessoa e que sofre influncia do ambiente

    remete a uma reflexo: alm da importncia que deve ser dada ao compor-

    tamento expresso, deve-se compreender que motivos o impulsiona.

    1.2 Personalidade e caractersticas do temperamento

    A palavra personalidade deriva-se do latim persona, que significa

    mscara (usada no teatro), aquilo que parecemos aos outros. A aparncia

    externa. Mas, no s isso que queremos dizer quando nos reportamos

    personalidade de uma pessoa.

    A personalidade refere-se marca da pessoa, quilo que a identifica. Inclui aspectos intelectuais, afetivos, impulsivos, volitivos, fisiolgicos e morfolgicos; uma forma de responder aos estmulos e s circunstncias da vida com um selo peculiar que d como resultado o comportamento (CORBELLA apud SOTO, 2002).

    A personalidade nada mais do que a organizao dinmica dos traos

    no interior do eu, formados a partir dos genes particulares que herdamos,

    das existncias singulares que suportamos e das percepes individuais que

    temos do mundo, capazes de tornar cada indivduo nico em sua maneira

    de ser e de desempenhar o seu papel social (BALLOnE, 2003).

    As principais dimenses da personalidade so:

    dimenso fsica: refere-se constituio individual resultante da

    herana gentica e das foras do meio;

    dimenso do carter: compreende o conjunto de caractersticas que

    se fazem necessrias para a pessoa adaptar-se ao meio em que vive. So

    traos de carter a honradez, a honestidade, a sinceridade, dentre outros,

    resultantes do meio e da cultura em que o indivduo est inserido;

    dimenso subjetiva: corresponde aos interesses, aos ideais, aos

    desejos e aspiraes, como tambm inteligncia e s aptides

    especficas. Inclui o mundo subjetivo e ntimo de cada pessoa;

    Volitivos: que provm da

    volio, ou seja, ao de

    escolher ou decidir. Capa-

    cidade baseada na conduta

    consciente, de se decidir por

    certa orientao ou certo

    tipo de conduta em funo

    de motivaes. Fonte: Hou-

    aiss (2001).

    Carter: origina-se do gre-

    go charakter, que significa

    sinal, marca. Corresponde

    aos aspetos gravados no

    psiquismo do indivduo.

    Portanto, conhecer o carter

    de um indivduo significa

    conhecer a forma como a

    pessoa se mostra e se revela,

    por meio de suas atitudes e

    de seu padro consistente

    de respostas para as vrias

    situaes da vida.

  • Comportamento Humano no Trabalho - 19

    dimenso do temperamento: corresponde s predisposies inatas,

    decorrentes da estrutura do sistema nervoso e das glndulas de secreo

    interna, expressas pelas atitudes tomadas diante das situaes da vida.

    o temperamento o jeito de ser de cada um - que faz com que em

    dada ocasio as pessoas reajam de modos diferentes.

    Voc sabia que muito difcil encontrar um indivduo que tenha um

    temperamento padro, ou seja, nico? normalmente, as pessoas tm

    temperamentos misturados, contudo existe um tipo predominante.

    Segundo Hipcrates, mdico e filsofo grego, existem quatro tipos

    de temperamentos: colrico, sanguneo, melanclico e fleumtico. Vejamos

    cada um deles:

    Colrico: excita-se imediatamente e com veemncia a qualquer acon-

    tecimento. reage violentamente e a impresso gravada em seu ps-

    quico permanece por longo tempo. uma personalidade combativa.

    Manifestam-se nele a aspirao e grandeza, o herosmo e a perfeio.

    Despreza o comum e resoluto em seus empreendimentos. Encontra

    prazer em superar obstculos, pois as dificuldades s fazem aumentar

    a vontade de vencer. Faz tudo com rapidez, aplicao e ordem; fala

    rpido e no aguenta ficar sem fazer nada. Tem inteligncia penetrante

    e raciocnio seguro. dado a grandes paixes e no tolera a covardia

    ou qualquer espcie de inferioridade. talhado para ser lder. Seu

    desejo mandar organizar e dirigir grandes movimentos populares.

    Tem estima de si mesmo e de suas qualidades pessoais. Justifica e

    julga dignas de aprovao as prprias falhas. Acha que est sempre

    com a razo, no gosta de que o contradigam e quer ter sempre a

    ltima palavra. ambicioso e autoritrio e rejeita o auxlio dos outros.

    Empenha-se em diminuir e perseguir os que se atravessam em seu

    caminho. Sente-se ferido profundamente quando envergonhado ou

    humilhado. Tem tambm como ponto fraco a ira. Por vezes, conduzi-

    do ao furor e ao dio. Pode fazer recriminao injusta e interpretar mal

    as intenes do outro. Jamais esquece as ofensas. Permanece, muitas

    Temperamento: a palavra

    tem sua origem no latim

    temperamentum que sig-

    nifica medida. Representa a

    peculiaridade e intensidade

    individual dos afetos psqui-

    cos e da estrutura dominan-

    te de humor e motivao

    (VOLPI, 2008).

  • 20 - Curso Superior de Tecnologia em Gesto Pblica

    vezes, indiferente diante dos que sofrem e no vacila em espezinhar

    a felicidade alheia.

    Sanguneo: impressiona-se rapidamente e sua reao instantnea.

    A superficialidade uma das suas caractersticas mais marcantes, por

    isso suas impresses no duram muito tempo. A vida do sanguneo

    se resume quase que exclusivamente aos sentidos. no tem facilida-

    de para estudos, nem poder de concentrao. , antes de qualquer

    coisa, inconstante: das lgrimas passa ao riso com a maior facilidade.

    O mesmo ocorre com suas opinies. Por qualquer motivo abandona

    seus propsitos. Sua afetividade aflorada, por isso muito inclinado

    dedicao ao prximo. Os interesses do sanguneo fixam-se de pre-

    ferncia nos objetivos exteriores. D ateno elegncia no vestir,

    ordem na casa e polidez no trato. Fala com vivacidade e facilidade,

    gosta de ver e ouvir e emitir opinies em todos os assuntos. otimista,

    no liga muito para as dificuldades e confia no sucesso. Consola-se

    facilmente quando fracassa. Gosta de pregar peas e julga que to-

    dos tm que suportar suas brincadeiras. Procura afastar-se do que

    pode entristec-lo e no dado a grandes paixes. A vaidade um

    defeito capital. Gosta muito de exibir-se, narcisista. nada o faz mais

    feliz do que receber elogios. o sanguneo, muito inclinado inveja

    e ao cime. Procura sempre as companhias que mais o promovam.

    Aborrece-lhe tudo o que exige esforo e gozar a vida seu lema.

    Melanclico: os acontecimentos exteriores no impressionam

    muito um indivduo de temperamento melanclico. Ama a solido

    e gosta de trancar-se dentro de si e fugir do barulho do mundo.

    no inclinado a observar pessoas, nem a saudar os amigos na rua.

    Considera o mundo e seus acontecimentos de modo

    pessimista. A saudade uma disposio constante de

    seu estado de esprito. reservado e tem pouco poder

    de comunicao, mas considera-se feliz quando encon-

    tra algum que o saiba ouvir e compreend-lo. Gosta

    de adiar as decises por temer o fracasso. o homem

    das oportunidades perdidas. desanimado e abdica

    facilmente das dificuldades. Tem como pontos fortes

  • Comportamento Humano no Trabalho - 21

    a afetividade e a reflexo. Sempre volta a considerar o passado e

    busca a explicao dos fatos at as ltimas causas. Seu corao

    est sempre cheio de afetos e desejos indefinveis, contudo no os

    deixa transparecer.

    Fleumtico: se impressiona pouco e reage pouco ou nada. Se

    alguma impresso fica, de pouca durao. Tem forte dose de

    afetividade, mas no gosta de demonstr-la. o temperamento da

    lentido. Seu desinteresse pelas coisas que acontecem ao seu redor

    quase completo. Trabalha morosamente, mas com assiduidade e

    constncia. no se perturba, nem se irrita com facilidade. no se

    preocupa em organizar sua vida, nem em organizar suas atividades.

    Pode ser levado a excessos na comida e na bebida, pois sua vontade

    fraca. no entanto, geralmente permanece tranquilo e discreto

    em seu canto. dotado de inteligncia com propenso anlise,

    reflexo e crtica. Gosta de trabalhos cientficos que exigem pa-

    cincia e longas investigaes. Sua memria bem desenvolvida.

    A sensibilidade lenta e mesmo tendo bom corao, faltam-lhe

    entusiasmo e coragem para expandir-se. Evita mudanas repentinas

    e facilmente pode tornar-se um tipo egosta. no raro, comporta-se

    como adolescente, embora seja adulto.

    O temperamento biologicamente determinado, no aprendido, nem

    pode ser educado; apenas pode ser abrandado em sua maneira de ser.

    O carter o conjunto de reaes e hbitos de comportamento

    que vo sendo adquiridos ao longo da vida e que especificam o modo

    individual de cada pessoa.

    Strelau e Angleitner (apud VOLPI, 2008) elencam algumas caracters-

    ticas que diferenciam o temperamento da personalidade. Veja:

    1. O temperamento inato e faz parte da personalidade que produto

    tambm do ambiente social.

    2. Caractersticas do temperamento podem ser identificadas desde

    cedo, na infncia; ao passo que a personalidade moldada durante

    os perodos do desenvolvimento infantil.

  • 22 - Curso Superior de Tecnologia em Gesto Pblica

    3. Diferenas individuais com caractersticas temperamentais como

    ansiedade, extroverso e introverso tambm so observadas em ani-

    mais; ao passo que personalidade prerrogativa de seres humanos.

    1.2.1 Caractersticas da personalidadeno estudo da personalidade, trs caractersticas distintas so de impor-

    tncia central (SCHIFFMAn; KAnUK, 2000): a personalidade reflete diferenas

    individuais; constante e duradoura e evolui. Veja:

    a personalidade reflete diferenas individuais: a personalidade

    uma varivel individual que permite identificar o indivduo como

    ser nico e distinto. Determina os seus modelos de comportamen-

    to, incluem as interaes dos estados de nimo, atitudes, motivos

    e mtodos, de modo que cada pessoa responde de forma distinta

    s mesmas situaes.

    a personalidade constante e duradoura: em situaes variadas,

    por meio de diferentes formas comportamentais, encontram-se

    subjacentes uma ou mais tendncias pessoais peculiares, atravs

    das quais a pessoa reconhecida.

    a personalidade evolui: a personalidade desenvolve-se e diferen-

    cia-se sem alterar essencialmente a singularidade de seu ser.

    1.2.2 Teorias da personalidadeExistem mltiplas correntes de pensamento que realam determinados as-

    pectos concretos da personalidade e que buscam a explicao do comportamento

    humano. Tais correntes ou abordagens sob alguns aspectos se convergem e, em

    outros, podem ser conflitantes, mas todas elas servem como ponto de partida para

    o avano da investigao cientfica. Trataremos aqui de algumas delas.

    o enfoque PsicanalticoA psicanlise foi o primeiro enfoque formal do estudo da personalida-

    de. Cabe a Sigmund Freud o mrito de ter estabelecido as bases cientficas

    dessa compreenso.

    Segundo Freud, a personalidade est dividida em trs nveis: cons-

    ciente, inconsciente e pr-consciente:

    S i g m u n d

    Freud (1856-

    1939) nasceu

    em Freiberg,

    na Moravia.

    considerado o pai da psica-

    nlise, mtodo de tratamen-

    to psquico e de investigao

    dos processos mentais in-

    conscientes. Estudou me-

    dicina na Universidade de

    Viena e se especializou em

    neurologia. Seus estudos

    foram os pioneiros acerca

    do inconsciente humano e

    das motivaes do compor-

    tamento. O pensamento de

    Freud est principalmente

    em trs obras: Interpretao

    dos Sonhos, Psicopatologia

    da Vida Cotidiana e Trs

    Ensaios Sobre a Teoria da

    Sexualidade.

    Fonte: SCHULTZ & SCHULTZ

    (2002).

  • Comportamento Humano no Trabalho - 23

    Consciente: somente uma pequena parte da mente e inclui tudo

    do que estamos cientes num dado momento.

    Inconsciente: onde se encontram os impulsos primitivos que

    influenciam o comportamento e dos quais no se tem conscincia

    e, tambm, um grupo de ideias, carregadas emocionalmente, que

    uma vez foram conscientes, mas em vista de seus aspectos intole-

    rveis foram expulsas da conscincia para um plano mais profundo,

    de onde no podero vir tona voluntariamente.

    Pr-Consciente: relaciona-se aos contedos que podem facilmente

    chegar memria.

    Fazendo-se uso da visualizao da imagem de um iceberg, pode-se

    explicar a estrutura da personalidade da seguinte forma:

    Consciente:Contato com o mundo exterior

    EGOPrincpio de realidade.Processo secundrio

    IDPrincpio do Prazer.Processo primrio

    SUPEREGOImperativos Morais.

    Pr-Consciente:Material um pouco abaixo da superfcie da conscincia

    Inconsciente:Material difcil de recuperar; bem abaixo da superfcie da conscincia

    Figura 1: Nveis e estruturas da personalidade.Fonte: Schultz & Schultz (2002, p. 49)

    O Id contm tudo o que herdado. refere-se aos instintos, impulsos

    e desejos inconscientes. Esses impulsos so movidos pelo princpio

    do prazer, que busca e exige satisfao imediata. O id como o

    reservatrio de energia de toda a personalidade, sendo a estrutura

    original, bsica e central do ser humano.

    Instintos: so presses

    que dirigem um organismo

    para determinados fins par-

    ticulares.

  • 24 - Curso Superior de Tecnologia em Gesto Pblica

    O Ego o controle consciente do indivduo. Tenta equilibrar as neces-

    sidades impulsivas do id e as restries scioculturais do superego.

    Opera de acordo com o princpio da realidade, pois determina os

    momentos, lugares e objetos adequados e socialmente aceitos para

    a satisfao das necessidades da pessoa. O Ego , portanto, o aspecto

    racional da personalidade, pois percebe e manipula o ambiente de

    modo prtico e realista. O Ego tem, ainda, por funo a criao dos

    mecanismos de defesa. So eles: projeo, identificao, formao

    reativa, racionalizao, regresso, negao, deslocamento e outros:

    Projeo: o ato de atribuir a outra pessoa, animal ou objeto as qua-

    lidades, sentimentos ou intenes que se originam em si prprio.

    Identificao: a associao real ou imaginria com algum.

    Formao reativa: significa comportamento contrrio ao verda-

    deiro, por motivo de culpa. Trata-se de uma inverso clara e, em

    geral, inconsciente do verdadeiro desejo.

    Racionalizao: a redefinio de uma situao frustrante por

    meio da inveno de razes plausveis para justificar determinada

    atitude ou determinado comportamento.

    Regresso: um retorno a um nvel de desenvolvimento anterior

    ou a um modo de expresso mais simples ou mais infantil. um

    modo de aliviar a ansiedade escapando do pensamento realstico

    para comportamentos que reduzem a ansiedade.

    Negao: consiste no bloqueio de certas percepes do mundo

    externo, ou seja, o indivduo frente a determinadas situaes

    intolerveis da realidade externa, inconscientemente, nega sua

    existncia para proteger-se do sofrimento.

    Deslocamento: atravs desse mecanismo, um impulso ou sen-

    timento inconscientemente deslocado de um objeto original

    para um objeto substituto.

    Voc sabia que todos esses mecanismos podem ser encontrados

    em indivduos saudveis? no entanto, a presena excessiva desses me-

    canismos , via de regra, indicao de possveis sintomas neurticos.

    Mecanismos de defesa:

    so operaes psquicas

    inconscientes, empregadas

    pelo Ego para se livrar da

    angstia; uma espcie de

    sinal de alarme que informa

    ao Ego sobre a existncia de

    um conflito interno.

  • Comportamento Humano no Trabalho - 25

    O Superego o aspecto moral da personalidade: a introjeo dos

    valores e padres dos pais e da sociedade. Desenvolve-se a partir do

    Ego e atua como um juiz ou censor sobre as atividades e pensamen-

    tos do Ego; o depsito dos cdigos morais, modelos de conduta e

    dos parmetros que constituem as inibies da personalidade.

    A meta fundamental da personalidade manter e recuperar, quan-

    do perdido, um nvel aceitvel de equilbrio dinmico que maximiza

    o prazer e minimiza o desprazer. A energia que usada para acionar

    o sistema nasce no Id, que de natureza primitiva, instintiva. O ego,

    emergindo do Id, existe para lidar realisticamente com as pulses b-

    sicas do Id e tambm age como mediador entre as foras que operam

    no Id e no Superego e as exigncias da realidade externa. O Superego,

    emergindo do Ego, atua como um freio moral ou fora contrria aos

    interesses prticos do Ego. Ele fixa uma srie de normas que definem

    e limitam a flexibilidade deste ltimo (BALLOnE, 2003).

    o enfoque neopsicanaltico da PersonalidadeFreud centralizou a formao da personalidade infncia, sendo

    esta determinante na constituio do sujeito, deixando marcas que,

    profundas ou no, afetam o carter do indivduo e, consequentemente,

    as decises tomadas na fase adulta. Os neopsicanalistas, no entanto,

    destacam a importncia das relaes sociais para a formao e o de-

    senvolvimento da personalidade. Enfatizam que se deve considerar a

    vasta influncia do ambiente interpessoal que envolve o indivduo e

    que, durante toda a vida, molda a estrutura do carter. Os tericos ne-

    ofreudianos mais conhecidos so: Carl Jung, Alfred Adler, Erich Fromm,

    Henry Murray e Karen Horney.

    Carl Gustav Jung A ideia de introverso e extroverso: Jung descobriu que cada

    indivduo pode ser caracterizado como sendo orientado para seu

    interior ou para o seu exterior, sendo que a energia dos intro-

    vertidos se dirige em direo a seu mundo interno, enquanto a

    Carl Gustav Jung (1875

    - 1961): foi um dos maiores

    estudiosos da vida interior

    do homem e tomou a si

    mesmo como matria prima

    de suas descobertas suas

    experincias e suas emoes

    esto descritas no livro Me-

    mrias, Sonhos e Reflexes.

    Fonte: http://educacao.uol.

    com.br/biografias/

  • 26 - Curso Superior de Tecnologia em Gesto Pblica

    energia dos extrovertidos mais focalizada no mundo externo.

    nas palavras de Jung (apud rICCO, 2004, p. 27):

    Falamos de extroverso sempre que o indivduo volta seu interesse todo para o mundo externo, para o objeto, e lhe confere importncia e valores extraordinrios. No caso contrrio, quando o ho-mem se torna o centro de seu prprio interesse e aparece como nico a seus olhos, quando o mun-do objetivo fica praticamente na sombra e pouca ateno recebe, temos, ento, a introverso.

    A personalidade formada por sistemas e estruturas que

    podem influenciar uns aos outros: na viso de Jung, a psique

    ou personalidade total composta pelo ego (aspecto conscien-

    te da personalidade, responsvel pela execuo das atividades

    normais da vida), inconsciente pessoal ( o reservatrio de ma-

    terial que j foi consciente, mas foi esquecido ou reprimido) e

    inconsciente coletivo (nvel mais profundo da personalidade,

    que contm o acmulo de experincias herdadas de espcies

    humanas).

    Alfred Adler O homem como um todo, uma unidade funcional, reagindo

    ao seu meio: Adler procurou compreender cada pessoa como

    uma totalidade integrada num sistema social - cada ser humano

    uma entidade nica, indivisvel, coerente e unificada que tem

    sempre de ser considerada em relao ao contexto do qual

    parte integrante.

    A busca pela perfeio: o principal motivo para o compor-

    tamento humano uma busca pela perfeio, mas que pode

    tornar-se uma busca por superioridade como compensao

    para sentimentos de inferioridade. A opinio do indivduo so-

    bre si prprio e sobre o mundo influencia todo o seu processo

    psicolgico.

    Inconsciente coletivo:

    um conjunto de sentimen-

    tos, pensamentos e lem-

    branas compartilhados por

    toda a humanidade; no se

    desenvolve individualmente,

    ele herdado e passa de ge-

    rao a gerao. Por exem-

    plo, o medo de cobras pode

    ser transmitido por meio das

    geraes anteriores, criando

    uma predisposio para que

    uma pessoa tema cobras,

    mesmo sem ter tido uma

    experincia pessoal prvia

    que lhe causasse tal medo.

    Fonte: Schultz & Schultz,

    (2002).

    Alfred Adler (1870 - 1937):

    aluno e colaborador de

    Sigmund Freud, Adler o

    fundador da psicologia do

    desenvolvimento indivi-

    dual, exposta na sua obra

    Teoria e Prtica da Psicologia

    Individual (1912). Fonte:

    http://educacao.uol.com.br/

    biografias/

  • Comportamento Humano no Trabalho - 27

    Erich Fromm O dilema humano: liberdade versus isolamento: Fromm prope

    a tese de que o homem, paralelamente liberdade material

    que tem conquistado atravs da histria, tem se isolado cada

    vez mais de seus semelhantes, na busca por espao e por su-

    cesso material. E, em paradoxo, a mesma liberdade material

    torna-se uma condio que assusta, e da qual tende a escapar,

    maquiando-a em situaes de posse e de poder, ou de submis-

    so passiva s autoridades e/ou de conformao sociedade,

    o que lhe daria a iluso de TEr algo ou de PErTEnCEr a algo

    que lhe permita sentir-se menos solitrio (FrOMM, 1989).

    Henry Murray A motivao do comportamento: de acordo com Murray, a

    motivao tem dois componentes essenciais: o impulso, que

    se refere ao processo interno que incita uma pessoa ao, e o

    motivo, que gera o comportamento e termina quando atingido

    o objetivo que a pessoa tinha em vista. O objetivo visado a

    recompensa que sacia o incitamento interno do indivduo. A mo-

    tivao, portanto, relaciona-se intimamente com a personalidade

    do indivduo e com o seu desenvolvimento mental, emocional,

    profissional e social. Constitui-se no impulso interno que levar

    o indivduo a canalizar esforos para satisfazer um desejo, uma

    necessidade, uma meta estabelecida.

    Karen Horney Comportamentos e atitudes dos indivduos: Horney susten-

    tou que o desenvolvimento da personalidade resulta da intera-

    o de foras biolgicas e psicossociais que so singulares para

    cada pessoa e props que os indivduos fossem classificados

    em trs grupos de personalidade:

    Personalidade submissa: a pessoa exibe atitudes e comporta-

    mentos que refletem um desejo de caminhar em direo s outras

    pessoas, uma necessidade intensa de afeto, amor e aprovao.

    Erich Pinchas Fromm

    (1900 - 1980): influenciado

    por Freud e Marx, consi-

    derado um dos principais

    expoentes do movimento

    psicanalista do Sculo XX.

    Dono de uma carreira con-

    troversa e polmica, ele

    estudou principalmente a

    influncia da sociedade e da

    cultura no indivduo. Fonte:

    http://educacao.uol.com.br/

    biografias/

    Henr y Murray (1893

    - 1988) psiclogo norte-

    americano. Foi professor

    de Psicologia na Universi-

    dade de Harvard nos EUA.

    Em 1928, passou a dirigir

    a clnica psicolgica dessa

    instituio, dedicando-se

    ao estudo da personalidade.

    Nas suas pesquisas recorre

    a vrios mtodos: clnico,

    experimental, histrico e

    psicanaltico. Foi um dos

    fundadores do Instituto de

    Psicanlise de Boston. O de-

    senvolvimento das suas pes-

    quisas sobre a personalidade

    levou-o ao estabelecimento

    de uma teoria que denomi-

    nou personalogia.

  • 28 - Curso Superior de Tecnologia em Gesto Pblica

    Personalidade agressiva: a pessoa apresenta atitudes e compor-

    tamentos associados tendncia de ir contra as outras pessoas:

    movidas a superar os outros, julgam tudo em termos de benefcios

    que recebero do relacionamento com os demais.

    Personalidade desprendida: a pessoa apresenta atitudes e

    comportamentos que esto associados tendncia de afastar-

    se das pessoas como uma necessidade intensa de privacidade,

    mantendo distncia emocional.

    o enfoque dos TraosA Teoria dos Traos representa um afastamento das medidas qua-

    litativas que tipificam os movimentos freudianos e neofreudianos. Sua

    orientao quantitativa ou emprica; enfoca a medio da personalidade

    em termos de caractersticas psicolgicas especficas, denominadas traos.

    a predominncia de alguns traos e a atenuao de outros que acabam

    por constituir a personalidade de cada um.

    Como expoentes dessa teoria, tm-se os autores Gordon Allport,

    raymond Cattell e Hans Eysenck. Veja o que pensam:

    Gordon AllportDe acordo com Allport, cada pessoa tem certo nmero de tra-

    os especficos, como a agressividade e a simpatia, que constituem e

    predominam em sua personalidade. A estes, ele denominou de traos

    centrais. Os traos menos importantes e menos notados em uma pes-

    soa so chamados de traos secundrios. Os traos que se referem a

    caractersticas dominantes que orientam a maioria das atividades da

    pessoa so considerados traos cardinais.

    Raymond Cattell Para Cattell, somente quando se conhecem os traos de algum que

    se pode predizer como esse algum se comportar numa dada situao. Des-

    se modo, para que se entenda plenamente uma pessoa, preciso descrever,

    em termos precisos, o padro de traos que a definem como um indivduo.

    O autor props, dentre outros, os seguintes traos de personalidade:

    Karen Horney (1885-

    1952) mdica psicanalistam

    enfatizou a preeminncia de

    influncias sociais e culturais

    sobre o desenvolvimento

    psicossexual, focalizou sua

    ateno sobre as psicologias

    divergentes de homens e

    mulheres e explorou as vicis-

    situdes dos relacionamentos

    maritais. Fonte: http://www.

    psiquiatriageral.com.br/psi-

    coterapia/karen.html

    Traos: so os elementos

    individuais, mas comuns a

    diferentes pessoas.

    Gordon Allport (1897-

    1967): Psiclogo americano.

    Dentre seus diversos experi-

    mentos, destaca-se o estudo

    da psicologia humana com

    base nos estudos das escritas

    pessoais e das criaes arts-

    ticas dos indivduos. Fonte:

    http://www.netsaber.com.

    br/biografias/

  • Comportamento Humano no Trabalho - 29

    traos comuns: traos que, em algum grau, todas as pessoas

    possuem;

    traos singulares: traos que uma ou poucas pessoas possuem;

    traos de habilidade: descrevem a destreza ou capacidade de atuar

    para o alcance de objetivos;

    traos de temperamento: descrevem o estilo geral e o tom emo-

    cional do comportamento em resposta ao ambiente;

    traos dinmicos: foras que impulsionam o comportamento e

    fundamentam as motivaes pessoais;

    traos constitucionais: elementos que tm origens em condies

    biolgicas;

    traos moldados: provenientes do ambiente.

    Hans Eysenck O psiclogo Hans Eysenck sugeriu que as dimenses da personalidade

    seriam trs:

    extroverso: referindo-se s experincias emocionais positivas

    e sociais;

    neurotismo: referindo-se s experincias emocionais negativas; e

    psicotismo: referindo-se ao controle dos impulsos emocionais. Por

    isso, seu modelo ficou conhecido como P-E-N.

    o enfoque HumansticoAs caractersticas da personalidade avaliadas no enfoque humanstico

    dizem respeito no apenas ao modo como a pessoa se apresenta no mundo,

    conforme vimos em relao aos traos; mas maneira como a pessoa sente

    o mundo e se relaciona com ele. Dois autores se destacam nessa abordagem:

    Carl rogers e Abraham Maslow. Veja:

    Carl Rogers Carl rogers parte do pressuposto de que as pessoas usam sua expe-

    rincia para se definirem. Os principais conceitos da teoria da personalidade

    rogeriana so: o organismo, o campo fenomenolgico, o self e o ego:

    Raymond Cattell (1905

    - 1998): Psiclogo norte-ame-

    ricano. Trabalhou nas Univer-

    sidades de Columbia, Clark e

    Harvard. Em 1944 tornou-se

    investigador na Universidade

    de Illinois. Retomou a teoria

    de Allport sobre a personali-

    dade, definindo-a como uma

    estrutura de traos. Elaborou

    um teste, designado por 16

    PF (Personality Factors), que

    tem por objetivo avaliar e dis-

    tinguir os indivduos segundo

    os fatores de personalidade.

    Fonte: http://www.infopedia.

    pt/$raymond-cattell

    Hans Eysenck (1916 - 1997):

    psiclogo alemo. Abandonou

    o seu pas em 1936 para fugir

    do Nazismo, fixando-se na In-

    glaterra. Debruou-se sobre o

    estudo da personalidade, apre-

    sentando uma concepo en-

    quadrada no modelo da teoria

    dos traos de Allport. Identifica

    quatro dimenses da persona-

    lidade: introverso-extroverso

    e estabilidade-instabilidade.

    Fonte: http://www.infopedia.

    pt/$hans-eysenck

    Carl Ranson Rogers (1902

    1987): psicoterapeuta norte-

    americano, criador do mtodo

    no-diretivo em psicologia. Em

    seus ensinamentos, enfatizava

    os aspectos pessoais do relacio-

    namento entre psicoterapeuta

    e o paciente e defendia que a

    este coubesse os rumos e a

    durao do tratamento. Fonte:

    http://www.dec.ufcg.edu.br/

    biografias/CarlRaRo.html

  • 30 - Curso Superior de Tecnologia em Gesto Pblica

    Organismo: o indivduo na sua totalidade (Psique + Biolgico).

    Campo Fenomenolgico: todas as experincias do indivduo tanto

    conscientes como inconscientes.

    Self: consiste no conjunto de percepes conscientes de valores

    do eu .

    Ego: acessvel conscincia. Consiste nas percepes das carac-

    tersticas e relaes individuais.

    Abraham MaslowAutor da Teoria da Hierarquia das necessidades, Maslow, referiu que

    as necessidades humanas esto organizadas e dispostas em nveis, numa

    hierarquia de importncia e de influncia, em cuja base esto as necessidades

    mais baixas e, no topo, as necessidades mais elevadas. Atendidas as neces-

    sidades da base (fisiolgicas, de segurana e sociais), os indivduos partem

    para as necessidades mais elevadas (status e auto-realizao).

    o enfoque CognitivoO Enfoque Cognitivo enfatiza que o desenvolvimento cognitivo

    resulta numa capacidade crescente de adquirir e usar o conhecimento

    sobre o mundo. Prope que o indivduo, por meio de sua histria, e, com

    base em experincias relevantes desde a infncia, desenvolve um sistema

    de esquemas que influencia a forma de comportamento. George Kelly se

    destaca nessa abordagem:

    A teoria da personalidade proposta por Kelly diz que a aprendizagem

    ocorre pela reorganizao do campo cognitivo, que permite a compreenso

    de um problema e a sua soluo, estruturando as partes e percebendo-o

    como um todo.

    Para ele, o ser humano capaz de interpretar comportamentos

    e eventos e fazer uso dessa compreenso para orientar o seu compor-

    tamento e prever o comportamento dos outros. Cada indivduo cria,

    portanto, um sistema de constructos, que se referem maneira singular

    de ver a vida, uma hiptese intelectual elaborada para explicar e inter-

    pretar a realidade.

    O eu ou o autoconceito

    constitudo por um conjun-

    to de crenas a respeito de

    si, comportamentos tpicos

    e qualidades nicas que

    o ser humano possui. Diz

    respeito conscincia que

    o indivduo tem do mundo

    e de si prprio.

    Esquemas: so estruturas

    cognitivas que codificam,

    avaliam e interpretam, im-

    pondo um padro de per-

    cepo da realidade, numa

    espcie de filtro cognitivo.

    Fonte: Beck (1997)

  • Comportamento Humano no Trabalho - 31

    o enfoque Comportamentalna abordagem comportamental, no se encontra referncia

    a impulsos, motivaes, necessidades ou mecanismos de defesa,

    processos mencionados pela maioria dos tericos da personalidade.

    Para os estudiosos dessa teoria, a personalidade um acmulo de

    respostas aprendidas por meio de estmulos, padres de comporta-

    mento observveis e manipulveis de maneira objetiva (SCHULTZ;

    SCHULTZ, 2002).

    Esse enfoque define a aprendizagem como a associao entre um

    estmulo (acontecimento externo ao indivduo) e a resposta (um ato de

    comportamento exibido pelo indivduo) e est representado aqui pelo

    trabalho de B.F. Skinner.

    Para Skinner, o comportamento dos indivduos pode ser mode-

    lado por meio da administrao de reforos positivos e negativos. Um

    reforador, conforme o autor, qualquer coisa que fortalea a resposta

    desejada. Eis alguns conceitos-chave da abordagem skinneriana:

    Comportamento Respondente: respostas produzidas ou

    originadas a partir de estmulos ambientais. Depende do refor-

    amento e est diretamente relacionado a um estmulo fsico.

    Ex: dilatao e contrao da pupila dos olhos em contato com

    a mudana da iluminao.

    Comportamento Operante: comportamento emitido espon-

    taneamente que atua sobre o ambiente e modifica-o. Ex: dirigir

    um carro.

    Reforo positivo: todo estmulo que, quando est presente,

    aumenta a probabilidade de se produzir uma conduta. Ex: elogio

    de um chefe.

    Reforo negativo: todo estmulo aversivo que, ao ser retirado, au-

    menta a probabilidade de se produzir a conduta. Ex: colocar a mo

    no ouvido, tapando-o, para eliminar um determinado rudo.

    Extino: quando um estmulo que previamente reforava a

    conduta deixa de atuar.

    Reforamento: ato de

    fortalecer uma resposta com

    adio de uma recompensa,

    aumentando a probabilida-

    de de que a resposta seja

    repetida. Fonte: Schultz &

    Schultz (2002).

    Burrhus Frederic Skin-

    ner (1904-1990), nasceu em

    Susquehanna, Pensilvnia.

    Graduou-se em Psicologia e

    sua obra a expresso mais

    clebre do behaviorismo,

    corrente que dominou o

    pensamento e a prtica da

    psicologia, em escolas e con-

    sultrios, at os anos 1950. O

    behaviorismo restringe seu

    estudo ao comportamento

    (behavior, em ingls), tomado

    como princpio que s poss-

    vel teorizar e agir sobre o que

    cientificamente observvel.

    Fonte: http://www.centrore-

    feducacional.com.br).

  • 32 - Curso Superior de Tecnologia em Gesto Pblica

    O psiclogo B.F. Skinner postula que o comportamento ao qual

    se seguem consequncias satisfatrias, tende a ser repetido, enquanto

    que o comportamento de consequncias insatisfatrias tende a no se

    repetir (MEGGInSOn, 1998, p. 361).

  • Comportamento Humano no Trabalho - 33

    Sntese

    Ao longo dessa primeira unidade, voc estudou que o comporta-

    mento de uma pessoa decorre de dois fatores: a realidade externa e a sua

    realidade interna.

    A personalidade faz parte da realidade interna do indivduo e pode

    ser descrita como o conjunto de caractersticas inatas e adquiridas que di-

    ferencia um indivduo do outro e que determina a forma de reao diante

    das vrias situaes da vida.

    As teorias da personalidade constituem tentativas de descrever e

    explicar o modo como os indivduos se distinguem na sua personalidade e

    no seu comportamento.

    A psicanlise um corpo terico explicativo da estrutura psquica do

    indivduo.

    Os neopsicanalistas destacam a importncia das relaes sociais para

    a formao e o desenvolvimento da personalidade.

    Os behavioristas ou comportamentalistas enfatizam a ao do meio

    e dos processos de aprendizagem no comportamento, minimizando as

    variveis internas e pessoais. Tornando claro que essa teoria argumenta

    que o comportamento pode ser influenciado ou dirigido da maneira que o

    ambiente (organizao) deseja.

    A perspectiva humanista concentra sua ateno na pessoa inteira,

    numa tentativa de evitar concepes comportamentalistas que reduzissem

    a experincia humana a termos mecnicos, desprezando a essncia da hu-

    manidade e da experincia.

    A teoria dos traos postula que os indivduos possuem traos psico-

    lgicos inatos. Portanto, vislumbra a personalidade como o resultado das

    caractersticas internas que so baseadas na gentica.

  • 34 - Curso Superior de Tecnologia em Gesto Pblica

    A abordagem cognitiva da personalidade focaliza-se exclusivamente

    em atividades mentais conscientes.

    Agora, voc vai aprender as principais teorias da motivao humana.

    Bons estudos!

  • 2unidade

    A natureza da motivao humana

  • 36 - Curso Superior de Tecnologia em Gesto Pblica

    Ao concluir o estudo desta unidade, voc ser capaz de entender a influncia da motivao no comportamento das pessoas; compreender a origem dos estudos do tema, entender o que motivao e como ocorre o processo motivacional, alm de conhecer as principais teorias da motivao no trabalho.

    Competncias

  • Comportamento Humano no Trabalho - 37

    2.1 origens da motivao humanaOs primeiros estudos sobre motivao encontram respaldo dentro

    do ambiente organizacional, em funo do interesse em torno dos aspectos

    que levariam ao aumento da produtividade humana.

    O modelo tradicional da motivao est associado a Frederick Taylor

    e Escola de Administrao Cientfica; esta Escola sustentava que os tra-

    balhadores eram essencialmente preguiosos e que a administrao deveria

    faz-los executar suas tarefas da maneira mais eficiente possvel, sendo as

    recompensas financeiras a nica forma de motivao.

    Em 1924, Elton Mayo e outros pesquisadores verificaram que os

    contatos sociais que os empregados tinham no trabalho tambm eram

    importantes, e que a monotonia e a repetio das tarefas consistiam em

    fatores de diminuio da motivao (STOnEr, 1985).

    Em 1943, Abraham Maslow desenvolveu uma teoria da motivao

    fundamentada numa hierarquia de necessidades que influenciam o com-

    portamento humano.

    Em 1957, McGregor procurou demonstrar que o trabalho no um

    mal necessrio e pode ser to agradvel quanto um jogo, bastando para

    isso que o desafio e a satisfao sejam estimulados (MCGrEGOr, 1992).

    Em 1959, Frederick Herzberg procurou identificar os fatores que

    geravam satisfao e os fatores que geravam insatisfao no trabalho.

    Mais adiante, em 1961, David McClelland, psiclogo social ameri-

    cano, verificou que a necessidade de realizao estava associada ao grau de

    motivao das pessoas para executar tarefas.

    Victor H. Vroom, em 1964, tambm desenvolveu estudos sobre

    a motivao, baseando-se na observao de que o processo motiva-

    cional no depende apenas dos objetivos individuais, mas tambm do

    2 A natureza da motivao humana

    Fr e d e r i c k Wi n s l o w

    Taylor (1856 - 1915): foi

    o fundador da moderna

    administrao de empre-

    sas. Criou, em 1881, um

    mtodo para aumentar a

    produtividade, baseado na

    racionalizao: o processo

    de produo passaria a ser

    subdividido em pequenos

    segmentos, o que eliminaria

    todo o tipo de movimentos

    suprfluos, poupando tem-

    po e acelerando o ritmo.

    Fonte: http://educacao.uol.

    com.br/biografias/

    McGregor (1906 - 1964):

    psiclogo social norte-ame-

    ricano. Tornou-se famoso por

    ter estabelecido dois tipos

    de relao entre os gestores

    e os seus trabalhadores, de-

    nominadas de teorias X e Y.

    O tipo X parte do princpio

    de que os trabalhadores so

    naturalmente preguiosos ou

    no gostam de trabalhar. Na

    teoria Y, a ideia exatamente

    a oposta, e baseia-se na pre-

    missa de que as pessoas que-

    rem e gostam de trabalhar e

    assumem conscientemente

    as suas responsabilidades e

    obrigaes laborais.

    Fonte: http://www.infope-

    dia.pt/$Douglas%20Mc-

    Gregor

  • 38 - Curso Superior de Tecnologia em Gesto Pblica

    contexto de trabalho em que o indivduo est inserido.

    na dcada de 1970, Hackman e Oldham sinalizam a necessidade de

    se considerar fatores de mediao no trabalho que impactam na relao

    motivao e desempenho no trabalho: o significado que o trabalho realizado

    possui para quem o realiza, o sistema de recompensas e punies vigente

    nas organizaes, o estilo gerencial e a qualidade do ambiente psicossocial

    do trabalho e a convergncia entre os valores pessoais e organizacionais.

    Cada terico com sua prpria abordagem d mais nfase a determi-

    nados fatores que outros, com o intuito de explicar os motivos pelos quais

    as pessoas agem.

    necessrio se faz salientar que os estudos sobre a motivao no

    se esgotam. H tempo a motivao vem sendo um dos tpicos de grande

    importncia no estudo do comportamento humano.

    2.2 Conceituando motivaoO que determina o comportamento humano? Por que os indivduos

    exercem diferentes nveis de esforos em diferentes atividades? Por que

    algumas pessoas parecem estar mais motivadas do que outras?

    Essas so algumas das questes que tm merecido destaque por parte

    de pesquisadores do comportamento.

    O comportamento de um indivduo, como vimos, implica um dispn-

    dio de energia que lhe vem do organismo. Esta energia o que impulsiona

    o indivduo a agir de determinada maneira. Ela pode ter origem nas neces-

    sidades sentidas pelo ser humano. Estas necessidades, consideradas como

    tenses internas, orientam o comportamento para um objetivo determinado.

    Para alcanar esse objetivo, algum movimento deve ser realizado. Portanto, as

    pessoas so motivadas ou movidas pela satisfao de suas necessidades.

    Birch e Veroff (apud BErGAMInI, 1982) referem-se ao estudo da mo-

    tivao como busca da explicao de um dos mais intrincados mistrios da

    existncia humana: a dinmica que conduz ao. Segundo os autores, a

    motivao do homem envolve uma dinmica cuja origem e processamento

    se fazem dentro da prpria vida psquica.

    Chaves (1992), em consonncia, menciona que a motivao tem sido com-

    preendida como um estado interno que d incio e direo ao comportamento.

    J. Richard Hackman

    (1942): professor de psico-

    logia de Harvard, realiza pes-

    quisas sobre diversos temas

    na rea de psicologia social

    e organizacional, incluindo

    dinmica de grupos e per-

    formance e comportamento

    individual, bem como o estu-

    do da auto-gesto de grupos

    e organizaes. Fonte: http://

    www.people.fas.harvard.

    edu/~hackman/ Greg

    R. Oldham: professor de

    administrao empresarial na

    Universidade de Illinois, tem

    escrito sobre temas relacio-

    nados com a concepo de

    trabalho em ambientes or-

    ganizacionais. Ele e Hackman

    desenvolveram a metodolo-

    gia do Job Diagnostic Survey

    (JDS), tambm conhecida

    por Teoria Motivacional das

    Caractersticas do Trabalho.

    Essa Teoria relata que a moti-

    vao do funcionrio con-

    sequncia da existncia de

    significado em seu trabalho.

    Fonte: http://www.business.

    uiuc.edu/facultyprofile/Bio.

    aspx?ID=89

  • Comportamento Humano no Trabalho - 39

    Gooch e Mcdowell (apud BErGAMInI, 1993, p.38) evidenciam a mo-

    tivao como:

    (...) uma fora que se encontra no interior de cada pessoa e que pode estar l igada a um desejo. Uma pessoa no pode jamais motivar outra, o que ela pode fazer estimular a outra. A probabilidade de que uma pessoa siga uma orientao de ao desejvel est diretamente ligada fora de um desejo.

    De acordo com Murray (1986), a motivao tem dois componentes

    essenciais: o impulso, que se refere ao processo interno que incita uma

    pessoa ao, e o motivo , que gera o comportamento e termina ao

    ser atingido o objetivo a ser alcanado pela pessoa. O objetivo visado a

    recompensa que sacia o incitamento interno do indivduo.

    Com base nas deferncias feitas acerca da motivao, pode-se argu-

    mentar que a motivao nasce de necessidades intrnsecas que impelem

    o indivduo ao.

    Pode-se, ento, entender a motivao como uma energia, uma

    tenso, uma fora ou um impulso que interior a cada indivduo e

    leva-o a agir espontaneamente para alcanar determinado objetivo.

    Assim, no possvel motivar uma pessoa, o que possvel criar um

    ambiente compatvel com os objetivos da pessoa, um ambiente no

    qual a pessoa se sinta motivada (BUEnO, 2008).

    2.3 A dinmica motivacionalTodo indivduo possui um estado de carncia interna

    que necessita suprir, e que s possvel atravs da

    busca do fator de satisfao. Encontrado o fator

    de satisfao e satisfeita a neces-

    sidade, esta deixa de atuar

    como agente motivador

    do comportamento e o ser

    O motivo a mola propul-

    sora responsvel pelo incio

    e manuteno de qualquer

    atividade executada pelo

    ser humano; considerado

    como uma caracterstica

    comum do ser humano,

    apresentando variaes situ-

    acional, de nvel e pessoal,

    isto , varia de situao para

    situao em uma mesma

    pessoa, de intensidade e de

    pessoa para pessoa, em uma

    mesma situao. Cada mo-

    tivo apresentar uma fora

    distinta, devido diferena

    de personalidade existente

    entre cada indivduo Fonte:

    Moreno et al. (2003).

  • 40 - Curso Superior de Tecnologia em Gesto Pblica

    humano busca outra necessidade a ser suprida que passa, ento, a ocupar

    a linha de frente.

    Para ilustrar o exposto, eis um exemplo de como se processa a neces-

    sidade de alimento: a fome rompe o equilbrio do organismo e desenvolve

    um estado de insatisfao, o qual move o organismo procura de alimento (

    procura de satisfao). O encontro da satisfao reduz as tenses e estabelece

    o equilbrio, ocorrendo a extino da necessidade: o organismo alimentado

    no sente mais a necessidade de comer (Figura 2).

    Processo Motivacional

    Carncia interna

    Fator de satisfao

    Satisfeita a necessidade

    Busca outra necessidade

    Figura 2: Esquema do processo motivacional

    2.3.1 A teoria das necessidades humanasAbraham Maslow, psiclogo americano, pioneiro no desenvolvimento

    da teoria das necessidades, em sua obra intitulada Motivation and Personality,

    concluiu que o ser humano traz dentro de si cinco categorias hierarquizadas

    de necessidades (Figura 3):

    Necessidades fisiolgicas: dizem respeito a questes como ali-

    mentao, moradia, vesturio, sexo, repouso, dentre outras.

    Necessidades de segurana: esto relacionadas proteo contra

    perigo ou privao.

    Necessidades sociais: referem-se aos relacionamentos afetivos e

    incluso em grupos.

    Abraham Maslow (1908 -

    1970): psiclogo americano,

    conhecido pela proposta da

    hierarquia de necessidades

    de Maslow. Foi um pensador

    surpreendentemente origi-

    nal, pois a maioria dos psi-

    clogos antes dele estavam

    mais preocupados com a do-

    ena e com a anormalidade.

    Maslow queria saber o que

    constitua a sade mental

    positiva. Dentre as inmeras

    teorias de motivao huma-

    na apresentadas ao longo

    dos tempos, a pirmide ou

    hierarquia das necessidades

    de Maslow continua ainda

    hoje a suscitar o interesse

    de todos. Concretamente

    na rea da gesto das orga-

    nizaes, ela um ponto de

    referncia para os gestores

    que pretendem estimular os

    seus empregados.

    Fonte: http://www.centro-

    atl.pt/edigest/edicoes99/

    ed_dez/ed62man-bi.html

  • Comportamento Humano no Trabalho - 41

    Necessidades de estima: incluem a autoestima e o reconhecimento

    por parte dos outros.

    Necessidades de autorrealizao: implica nos desejos de auto-

    desenvolvimento e autoconhecimento.

    Auto-realizao

    Estima

    Amor e Integrao

    Segurana

    Fisiolgica

    Necessidade de autorrealizao

    Necessidade de estima

    Necessidades sociais

    Necessidades de segurana

    Necessidades fisiolgicas

    Ord

    em m

    ais a

    lta

    Sequncia de Satisfao

    Ord

    em m

    ais b

    aixa

    Figura 3: Pirmide de Maslow

    Com relao ao trabalho, por exemplo, a necessidade de segurana

    satisfeita com empregos estveis, seguros de vida, aposentadoria; a neces-

    sidade de autoestima satisfeita por meio de avaliao do trabalho pelos

    outros; a necessidade de autorrealizao satisfeita com atividades que

    permitam desenvolver potencialidades. Contudo, uma pessoa que est h

    dois dias sem comer, necessitando de dinheiro, exigir do trabalho apenas a

    remunerao lquida, por meio da qual conseguir satisfazer sua necessidade

    bsica, fisiolgica, de alimentao.

    Maslow evidenciou que uma vez satisfeita determinada necessidade,

    esta j no mais controla a conduta da pessoa e surge uma nova em seu

    lugar. A satisfao das necessidades nunca termina, pois a cada momento

    existe uma necessidade emergente.

    Maslow buscou compreender o homem dentro de uma percepo

    multidimensional, considerando a existncia de diversas necessidades, numa

    inter-relao dinmica, desde as mais bsicas at as mais complexas.

  • 42 - Curso Superior de Tecnologia em Gesto Pblica

    Mas ento, como fazer para tornar o empregado mais satisfeito com

    o trabalho e consigo mesmo?

    A empresa deve fornecer ao empregado oportunidade para a satis-

    fao de suas necessidades. As tarefas devem permitir autonomia ao em-

    pregado, possibilitando-lhe utilizar de suas habilidades e dar vazo s suas

    potencialidades. Os gestores precisam atentar para fatores como ambiente

    de trabalho, relaes interpessoais, programas de treinamento e de desen-

    volvimento, dentre outros, para criar condies favorveis satisfao das

    carncias da sua equipe de trabalho. Devem desenvolver uma cultura na

    qual a confiana, o dilogo e a criatividade sejam valorizados, e possibilitar

    uma abertura para a emisso de sugestes e opinies.

    De acordo com Hackman e Oldham (apud FIOrELLI, 2004), o indivduo

    motiva-se para o trabalho quando cinco fatores concorrem promovendo o enrique-

    cimento das tarefas e conduzindo a estados psicolgicos desejveis e favorveis:

    o desempenho no cargo exige aplicao de diferentes habilida-

    des pessoais;

    o resultado final da atividade permite reconhec-lo como um pro-

    duto pessoal a uma identificao entre criao e criador;

    o produto final exerce impacto nas outras pessoas;

    existe um grau de liberdade para decidir sobre programaes e

    procedimentos do trabalho;

    o profissional recebe avaliao sobre sua eficcia na realizao da

    atividade.

    Caudron (1997 apud nOVAES, 2007), aps discutir amplamente com

    os gestores das organizaes estudadas e especialistas no assunto, props

    uma lista de tcnicas que podem ser aplicadas para conquistar a motivao

    dos empregados:

    oferecer informaes necessrias para a realizao de um bom

    trabalho;

    solicitar ideias aos mesmos e envolv-los em decises sobre suas

    funes;

    reconhecer publicamente um trabalho bem feito;

    promover reunies destinadas a comemorar o sucesso da equipe;

    delegar tarefas interessantes para executar;

  • Comportamento Humano no Trabalho - 43

    verificar se o indivduo dispe das ferramentas necessrias para

    realizar o melhor trabalho;

    reconhecer as necessidades pessoais de cada um;

    utilizar o desempenho como base para promoes;

    adotar uma poltica abrangente de promoo;

    estimular o sentido de comunidade;

    dar uma razo financeira para serem excelentes;

    reconhecer as diferenas individuais: no tratar a todos como se

    fossem iguais, pois possuem necessidades diferentes;

    fazer com que as recompensas sejam percebidas como justas: vin-

    cular as recompensas s experincias, habilidades, responsabilidades

    e esforos apresentados;

    definir objetivos e fornecer feedback: traar objetivos especficos,

    desafiantes e que possa ser monitorveis; e

    estimular a participao nas decises: permitir e at mesmo encorajar

    a participao da equipe nas decises que a afeta, como a fixao

    de objetivos ou a definio dos procedimentos no trabalho.

    2.3.2 A teoria dos dois fatores de HerzbergFrederick Herzberg, psiclogo, consultor e professor universitrio america-

    no, como base de sua teoria, afirma que o comportamento humano no trabalho

    orientado por dois grupos de fatores: os higinicos e os motivacionais.

    Fatores higinicos: so aqueles que so necessrios para evitar a

    insatisfao no ambiente de trabalho. So eles: o salrio, os benefcios

    sociais, o tipo de chefia ou superviso que as pessoas recebem de

    seus superiores, as condies fsicas e ambientais de trabalho, as

    polticas e as diretrizes da organizao, o clima organizacional, os

    regulamentos internos, dentre outros. So fatores de contexto e se

    situam no ambiente externo que cercam o indivduo.

    Fatores motivacionais: esto relacionados com o contedo do

    cargo e com a natureza das tarefas que o indivduo desempenha na

    organizao. Envolvem os sentimentos de crescimento individual, de

    reconhecimento profissional e as necessidades de autorrealizao. So,

    portanto, fatores intrnsecos, ou seja, inerentes prpria pessoa.

    Frederick Herzberg (1923

    - 2000): autor da Teoria dos

    dois Fatores, que trata da

    motivao e da satisfao

    das pessoas. Segundo essa

    Teoria, quando a satisfa-

    o no cargo relacionada

    s atividades desafiadoras

    e estimulantes do cargo

    denominada de fatores

    motivadores. J, quando

    a satisfao do cargo est

    relacionada ao ambiente,

    superviso, aos colegas e

    ao contexto geral do cargo,

    enriquecimento do cargo

    (ampliar as responsabili-

    dades), denominada de

    fatores higinicos. Fonte:

    Wikipdia (2008).

  • 44 - Curso Superior de Tecnologia em Gesto Pblica

    Para Herzberg, a nica forma de fazer com que o indivduo sinta von-

    tade prpria de realizar determinada tarefa proporcionando-lhe satisfao

    no trabalho. Em outros termos, a motivao acontece apenas por meio dos

    fatores motivadores. O caminho apontado por Herzberg para a motivao

    o enriquecimento da tarefa. Por enriquecimento da tarefa entende-se um

    deliberado aumento da responsabilidade, da amplitude e do desafio do

    trabalho (HErSEY & BLAnCHArD apud BUEnO, 2008, p.15).

    2.3.3 A teoria contingencial de VroomVictor H. Vroom (1964) desenvolveu um modelo contingencial de

    motivao, baseando-se na observao de que o processo motivacional

    no depende apenas dos objetivos individuais, mas tambm do contexto

    de trabalho em que o indivduo est inserido.

    Para Vroom, h trs foras bsicas que atuam dentro do indivduo e

    que influenciam o seu nvel de desempenho (BUEnO, 2008): a expectao,

    a instrumentalidade e a valncia. Veja:

    Expectao: a soma entre as expectativas do indivduo, ou seja,

    seus objetivos individuais e a percepo que tem de si mesmo, de

    sua capacidade para atingir estes objetivos. Esses dois aspectos

    determinam os esforos que cada um est pronto a fazer numa situ-

    ao de trabalho. Por exemplo: se uma pessoa tem como objetivo a

    promoo de cargo e sabe que para conseguir isso precisa aumentar

    a produtividade de seu setor, mas julga-se incapaz de conseguir tal

    proeza, sua motivao para o trabalho ser fraca.

    Instrumentalidade: a soma das recompensas que o indiv-

    duo pode conseguir em troca de seu desempenho. um fator

    subjetivo que varia de acordo com a pessoa. Para muitos, pode

    significar a autonomia, a possibilidade de iniciativa e de expanso

    da criatividade.

    Valncia: o valor real que o indivduo d Instrumentalidade

    percebida. no basta que o indivduo perceba as recompensas

    que pode alcanar por meio de seu desempenho. preciso que

    tais recompensas tenham um valor real para ele, que satisfaam as

    suas expectativas. O sistema de recompensas vigente pode no ter

    Victor H. Vroom (1932):

    professor reconhecido em

    trabalhos sobre anlise psi-

    colgica de comportamento

    nas organizaes. Suas prin-

    cipais contribuies incluem

    textos sobre motivao no

    local de trabalho, lideran-

    a e tomada de deciso.

    Fonte: http://findarticles.

    com/p/articles/mi_go2851/

    is_200203/ai_n6807025

  • Comportamento Humano no Trabalho - 45

    nenhuma importncia para uma dada pessoa, que no se sentir

    motivada, e, ao contrrio, ter muita importncia para outra pessoa,

    a qual ter uma motivao forte.

    na concepo de Vromm, os trs aspectos citados influenciam a

    motivao das pessoas no trabalho. Se um dos elementos estiver ausente,

    a motivao torna-se fraca. Caso todos eles estejam presentes, a motivao

    torna-se alta.

    A Teoria de Vroom levanta uma questo at ento indita: preciso

    que o trabalhador sinta-se capaz de atingir os objetivos pessoais traados

    para que se sinta motivado. Essa suposio acaba por atrelar a motivao

    competncia (BUEnO, 2008).

    As teorias de motivao tm levado a vrias estratgias efetivas para

    tentar explicar o comportamento dos empregados; no entanto, existe

    a necessidade de entender melhor como implementar os princpios,

    incluindo vantagens e desvantagens das diversas prticas (nOVAES,

    2007). O estudo da motivao no pode ser encarado de forma simplis-

    ta. Os fatores que interferem no processo motivacional do indivduo no

    podem de modo algum ser generalizados. Cada um tem sua prpria

    histria de vida, suas experincias, suas carncias, sua personalidade e

    objetivos nicos e suas motivaes decorrem da singular combinao

    desses ingredientes (CHrISTY, 2008).

    sabido que no se consegue motivar algum, tendo-se em vista

    que a motivao nasce no interior de cada pessoa. Contudo, possvel

    , segundo Bergamini (1993), manter pessoas motivadas quando se

    conhece as suas necessidades e se lhes oferece fatores de satisfao

    para tais necessidades. O desconhecimento desse aspecto poder levar

    desmotivao das pessoas. Portanto, a grande preocupao da admi-

    nistrao no deve ser em adotar estratgias que motivem as pessoas,

    mas acima de tudo, oferecer um ambiente de trabalho no qual a pessoa

    mantenha o seu tnus motivacional (MACIEL & S, 2007).

  • 46 - Curso Superior de Tecnologia em Gesto Pblica

    Sntese

    na unidade 2, foram apresentadas algumas noes sobre o estudo da

    motivao humana. Essas noes contemplam o conceito de motivao, as

    origens dos estudos sobre o tema, o processo motivacional e as teorias da

    motivao relacionadas ao ambiente de trabalho.

    A palavra motivao vem do latim movere, que significa mover. ,

    portanto, aquilo que suscetvel de mover o indivduo, de lev-lo a agir para

    alcanar algo e de lhe produzir um comportamento orientado.

    A teoria das necessidades parte do princpio de que os motivos do

    comportamento humano residem no prprio indivduo: a motivao para

    agir e se comportar deriva de foras que existem dentro do indivduo.

    Herzberg (1959) desenvolveu a teoria dos dois fatores da motivao,

    que identifica fatores diferentes como sendo fundamentais na satisfao no

    trabalho, chamados de Fatores de Higiene e Fatores de Motivao.

    O modelo de motivao desenvolvido por Vroom (1964) tenta ex-

    plicar os determinantes das atitudes e dos comportamentos no local de

    trabalho.

    O grande desafio das organizaes est na necessidade de compre-

    ender a dinmica dos processos internos que movem as pessoas.

    na prxima unidade, veremos a percepo e sua importncia no

    ambiente de trabalho. Vamos adiante!

  • 3unidade

    A percepo humana

  • 48 - Curso Superior de Tecnologia em Gesto Pblica

    Ao final do estudo desta unidade, voc ter uma viso geral do que percepo, sua importncia na tomada de deciso, os fatores que influenciam no processo de percepo e por que ocorrem as distores perceptivas. Tambm vai compre-ender a importncia do uso do instrumento de feedback e conhecer como fazer uso desse instrumento para a aquisio de comportamentos mais assertivos dentro da organizao em que atua.

    Competncias

  • Comportamento Humano no Trabalho - 49

    3.1 o estudo da percepo

    Diante da complexidade da percepo humana, pretende-se,

    nesta unidade, indicar alguns conceitos e variveis que interferem

    em todo o processo perceptivo. Sendo assim, voc vai estudar o que

    percepo e como ocorre o processo de captao e interpretao

    dos estmulos ambientais. Vai entender o que seletividade percep-

    tiva e qual a relao que h entre percepo e tomada de deciso. A

    percepo tem carter subjetivo e, portanto, est sujeita a erros e pode

    ser distorcida. no contexto organizacional, a percepo e as possveis

    distores so elementos importantes, pois afetam significativamen-

    te o relacionamento interpessoal. Desse modo, fundamental que

    voc estude e entenda os fatores que determinam a captao de um

    estmulo e a sua interpretao.

    no se esquea de que o propsito bsico da leitura o de desen-

    volver pensamentos, juntar novas ideias compreenso que se tem

    sobre um dado assunto e dar novos ngulos ao raciocnio. Aprender

    no um processo passivo!

    Percepo o processo de interpretao de estmulos do ambiente.

    um processo abrangente, pois implica na capacidade de selecionar, organi-

    zar, armazenar e recuperar informaes (WAGnEr III & HOLLEnBECK, 2000);

    envolve o sistema nervoso central: o crebro deve ser capaz de receber o

    estmulo por meio dos rgos dos sentidos: viso, audio, tato, olfato e

    paladar e em seguida process-lo.

    3 A percepo humana

  • 50 - Curso Superior de Tecnologia em Gesto Pblica

    De acordo com Mowen e Minor (2003), a percepo um processo por

    meio do qual os indivduos so expostos s informaes, prestam ateno

    nelas e as compreendem.

    Para Gade (1998), a percepo definida como sensaes acrescidas de

    significados. Atravs dos processos perceptivos os conhecimentos sensoriais

    so agregados ao que j existe retido de experincias anteriores para se obter

    significado. resulta, assim, em decodificar estmulos e, portanto, relacionar

    componentes sensoriais externos com componentes significativos internos.

    Dubois (1999) considera que a percepo rege as relaes entre o

    indivduo e o meio em que est inserido, oferecendo grande impacto sobre

    o seu comportamento.

    no raro se verifica a dificuldade de um mesmo estmulo ser percebido

    de modo semelhante por duas pessoas.

    Como se pode explicar que duas pessoas possam olhar para a mesma

    coisa e perceb-la de forma diferente?

    A percepo uma interpretao singular da situao. Quando um

    indivduo olha para um objeto e tenta interpret-lo, a interpretao forte-

    mente influenciada pelas suas caractersticas pessoais. Desse modo, o que

    algum percebe pode ser a representao da sua realidade.

    Por exemplo, observando a Figura 4, o que voc v? Uma jovem ou

    uma velha?

    Figura 4: Velha ou moaFonte: Limongi-Frana (2006)

    A ateno uma funo

    cognitiva resultante da se-

    leo e manuteno de um

    foco em detrimento de ou-

    tros, ou seja, dirigimos nossa

    ateno para o estmulo

    que julgamos ser importan-

    te num dado momento. A

    ateno pode ser subdivi-

    dida em: ateno seletiva,

    que quando o indivduo

    escolhe um estmulo ao qual

    prestar ateno, por exem-

    plo, ler um livro ao invs de

    assistir televiso, mesmo

    que esta esteja ligada e faa

    rudos ao fundo; e ateno

    dividida, que se caracteriza

    pela capacidade do indi-

    vduo em prestar ateno

    em mais de um estmulo ao

    mesmo tempo, por exemplo,

    conversar enquanto dirige

    um veculo, trabalhar no

    computador enquanto aten-

    de ao telefone. Fonte: http://

    www.plenamente.com.br

    Sensao: o processo

    de captao dos estmulos

    ambientais pelas nossas

    clulas sensoriais (neur-

    nios sensitivos) e sua sub-

    sequente transformao

    em impulso nervoso.

  • Comportamento Humano no Trabalho - 51

    Veja mais um exemplo:

    Figura 5: Vaso ou dois perfis.Fonte: Zinker (2007)

    na Figura 5, voc ora v um vaso, ora v dois perfis de rostos. no

    instante em que voc v o vaso, este se torna figura (elemento principal). O

    fundo passa a ser os dois rostos, pois no so o foco da sua ateno.

    Assim acontece com os nossos comportamentos. neste instante, ao

    ler este texto, ele a figura; os outros eventos como sede, rudos, msica,

    passam a ser o fundo.

    nas organizaes, a percepo afeta substancialmente o comporta-

    mento das pessoas. Por esse motivo, o entendimento da percepo de

    extrema relevncia para a criao de um clima organizacional saudvel.

    3.2 Caractersticas da percepo

    importante que voc entenda que a percepo deriva do somatrio

    de variveis prprias e exclusivas do ser humano, como sua histria de

    vida, sua personalidade, suas motivaes, valores, atitudes e habilidades.

    Portanto, cada pessoa tem sua imagem do mundo. Essa imagem base-

    ada na sua percepo da realidade e no na realidade em si.

    A percepo composta das seguintes caractersticas (KArSAKLIAn,

    2000):

    A percepo subjetiva: h discrepncia entre o estmulo emitido

    pelo ambiente e aquele recebido pelo indivduo ( o chamado vis

    perceptual).

    O indivduo tem tendncia

    a organizar as suas percep-

    es segundo dois planos:

    o da figura, elemento central

    que capta a maior parte da

    ateno e o fundo, pouco

    diferenciado e vago. A figura

    tudo aquilo que emerge

    do fundo e o diferencia. O

    fundo se apresenta como

    uma realidade contnua,

    que circunda a figura e lhe

    impe limites. Uma figura,

    embora destacada do fundo,

    mantm-se ligada a ele e

    recebe dele sua origem e

    explicao. Na determina-

    o da relao figura-fundo

    influem alguns fatores como

    tamanho, localizao, inten-

    sidade, contraste, profundi-

    dade, cor, dentre outros.

  • 52 - Curso Superior de Tecnologia em Gesto Pblica

    A percepo seletiva: a conscincia constituda pelos poucos

    estmulos que podem ser focados a cada momento. Para que algum

    se torne consciente de algo, antes tem que perceb-lo, e para fazer

    isso o crebro ter que ordenar as sensaes que o corpo recebe,

    priorizando umas e descartando outras.

    A percepo simplificadora: a pessoa no consegue perceber todas

    as unidades de informaes que compem os estmulos percebidos.

    A percepo limitada no tempo: uma informao percebida

    conservada pelo indivduo somente durante certo lapso de tempo,

    bastante curto, a menos que durante esse perodo seja desencade-

    ado um processo de memorizao.

    A percepo cumulativa: uma impresso a soma de diversas

    percepes. A impresso global formada a partir da observao

    de diversos aspectos.

    3.2.1 Compreenso do processo perceptivoOs seres humanos captam os estmulos do mundo mediante as sen-

    saes, isto , fluxos de informao por meio de cada um dos cinco sentidos.

    Mas nem tudo o que se sente percebido, existe um processo perceptivo

    mediante o qual o indivduo seleciona, organiza e interpreta os estmulos,

    com o fim de adapt-los melhor aos seus nveis de compreenso. Vejamos

    o esquema apresentado na Figura 6:

  • Comportamento Humano no Trabalho - 53

    Exposio AtenoInterpretao (significado)

    Receptores sensoriais

    Ouvidos

    Olhos

    Nariz

    Boca

    Pele

    Estmulos sensoriais

    Sons

    Imagens

    Odores

    Gostos

    Texturas

    Figura 6: Esquema do processo perceptivo.Fonte: Solomon (2002)

    Michael Solomon (2002, p. 57) postula que a exposio seletiva

    acontece no momento em que o estmulo percebido pelos receptores

    sensoriais de uma pessoa (viso, olfato, audio, tato e paladar).O indiv-

    duo seleciona e classifica quais as mensagens que quer receber e quais

    as que no quer receber, sendo que algumas delas no so percebidas

    devido ao grande nmero de informaes a que o indivduo est exposto

    no seu cotidiano.

    O passo seguinte do processo de percepo a ateno seletiva.

    Segundo Engel et al. (2000, p. 313), nem todos os estmulos que ativam

    nossos receptores sensoriais durante o estgio de exposio recebero

    processamento adicional. Alguns estmulos sero descartados pela falta

    de capacidade que o indivduo tem de processar todos os estmulos em

    determinado momento, no passando para o estgio de ateno seletiva.

    Mesmo que uma pessoa veja, oua, sinta ou toque algo, ela poder no ter

    interesse em dedicar ateno ao processamento desse estmulo (EnGEL et

    al, 2000 apud VOrMITTAG et al, 2008).

    A interpretao a ltima fase do processo perceptivo e permite orga-

    nizar e dar um significado aos estmulos recebidos. A forma de interpretar os

  • 54 - Curso Superior de Tecnologia em Gesto Pblica

    estmulos pode variar medida que se enriquece a experincia do indivduo

    ou variam os seus interesses.

    Fatores que influenciam no processo perceptivo

    A percepo depende no apenas de estmulos fsicos, mas tam-

    bm da relao desses estmulos com o ambiente e das condies

    internas da pessoa. Veja:

    As pessoas podem apresentar diferentes percepes devido:

    A seletividade perceptiva: da variedade de estmulos que o am-

    biente oferece, apenas uma parte prende a ateno da pessoa que

    observa. Assim sendo, a incapacidade de ver o todo pode levar a jul-

    gamentos distorcidos a respeito de quem est sendo observado.

    As caractersticas do indivduo que percebe: reconhecer que um

    cirurgio plstico est mais propenso a perceber um nariz imperfeito do

    que um encanador, no seria surpresa. Tambm no seria de surpreender

    se um chefe que inseguro percebesse os esforos de um subordinado

    para fazer um excelente trabalho como uma ameaa posio que ocupa

    na organizao. Esses so alguns exemplos de como fatores relaciona-

    dos ao observador influenciam o que ele percebe. O observador se v

    condicionado por caractersticas como idade, sexo, religio, ocupao,

    experincia, expectativas, temores, desejos, dentre outras.

    O sistema conceitual por meio de indcios indiretos: as percep-

    es tambm se do por meio de indcios que o observador obtm

    por intermdio de terceiros, seja por meio de boatos, de cartas de

    recomendao, de atestados, dentre outros.

    As defesas perceptuais: so os filtros que bloqueiam aquilo que no

    queremos ver/ouvir/sentir, deixando passar apenas o que queremos.

    Seria, por assim dizer, um bloqueio na conscientizao de estmulos

    emocionalmente perturbadores.

    A natureza da relao interpessoal: a relao superior-subor-

    dinado, mdico-paciente, professor-aluno, pai-filho, induz a uma

    percepo seletiva, podendo prejudicar a percepo do outro.

  • Comportamento Humano no Trabalho - 55

    A primeira impresso: a primeira impresso o contato inicial entre

    pessoas, o qual determina o relacionamento entre elas. Est condi-

    cionada a um conjunto de fatores: influncias passadas, expectativas,

    crenas, valores, contexto, dentre outros. A primeira impresso

    sempre uma hiptese, havendo necessidade de confirm-la com

    a busca de novos elementos. Formar uma primeira impresso sig-

    nifica organizar a informao disponvel a respeito de uma pessoa,

    geralmente pouca. Quando a primeira impresso positiva, haver

    uma tendncia a estabelecer relacionamentos de empatia ou de

    aproximao. Do contrrio, haver uma tendncia ao afastamento,

    dificultando o relacionamento interpessoal.

    Os preconceitos e os esteretipos: o indivduo pode introjetar e

    aceitar valores sem reviso, dando origem a preconceitos e estereti-

    pos, os quais no correspondem realidade objetiva. O preconceito

    o conceito antecipado; uma opinio formada sem reflexo; uma

    atitude discriminatria. Em funo dele, tratamos algumas pessoas

    como se fossem menores, inferiores, incompletas. O esteretipo

    o comportamento rgido, que no muda e que dificulta o entendi-

    mento do outro.

    O efeito de halo: quando acreditamos que uma pessoa no possa

    ter um comportamento distinto daquele com o qual a batizamos.

    Desse modo, se com uma determinada pessoa tivemos uma experi-

    ncia desagradvel, acabamos crendo que esta no tem qualidades.

    Ao contrrio, ao termos uma impresso favorvel de algum, julga-

    mos ser esta pessoa incapaz de ter traos indesejveis. O efeito de

    halo, portanto, resulta da tendncia para generalizar o significado

    (gostar/no gostar; bom/mal; competente/incompetente) de um

    trao da pessoa para todos os demais traos dessa mesma pessoa.

    A projeo: a tendncia de atribuir as suas prprias caractersticas

    a outras pessoas ou objetos. As pessoas que se utilizam desse meca-

    nismo de defesa, tendem a perceber o outro de acordo com o que

    elas prprias so e no conforme os outros so realmente.

    A distoro perceptiva: a percepo pode ser distorcida por

    processos ilusrios. A iluso pode ser entendida como um engano

  • 56 - Curso Superior de Tecnologia em Gesto Pblica

    nas funes dos rgos dos sentidos, levando a uma percepo

    distorcida da realidade. O indivduo, algumas vezes, depara-se com

    estmulos no meio ambiente (captados pelos cinco sentidos