Do lixo ao luxo: implantao da coleta seletiva solidria atravs da sensibilizao da comunidade escolar

Wellington Israel Vicente11EscolaEstadual Manuel Severiano,Municpio de Riachuelo/RN wivisrael@hotmail.comResumoO presente artigo visa divulgar o projeto de pesquisa-ao Do lixo ao luxo: implantao da coleta seletiva de resduos slidos atravs da sensibilizao da comunidade escolar, desenvolvido durante o segundo semestre do ano de 2014 por meio da implantao de um projeto de educao ambiental, no qual que se trabalhou o destino e o tratamento adequado dos resduos slidos, o incentivo ao consumo consciente e seu descarte adequado por meio da implantao da coleta seletiva, junto aos estudantes das turmas de 9. ano do turno vespertino e do corpo docente e administrativo da Escola Estadual Manoel Severiano, situada na zona urbana no Municpio de Riachuelo/RN. Inicialmente, foi desenvolvido e aplicado um instrumento aberto numa amostragem de 24 alunos, para saber a percepo do alunado quanto temtica Resduos Slidos. Depois, foram ministradas aulas e oficinas em conjunto com a professora de Geografia das turmas e no contraturno. Paralelamente, foi realizado um trabalho com o corpo docente e administrativo da escola. Na sequncia, foram implantados os coletores para separao dos resduos slidos na rea comum da escola e lanado o desafio para as turmas participarem da campanha para a coleta de resduos potencialmente reciclveis. Para a efetivao deste objetivo, realizou-se a eleio de para compor o grupo Guardies da Educao Ambiental, que reuniu vinte alunos voluntrios para as atividades de multiplicao e conservao dos coletores. O material recolhido foi caracterizado pela quantificao por tipo, a cada dois dias, pelo perodo de um ms. Aps o perodo do projeto, o material foi destinado para reutilizao no mbito da prpria escola e o restante doado para artess e catadores locais.Palavras-Chave: Educao Ambiental. Interveno interdisciplinar. Responsabilidade Social. Coleta Seletiva.AbstractThis paper aims to present the action research project Do lixo ao luxo: implantao da coleta seletiva de resduos slidos atravs da sensibilizao da comunidade escolar, developed during 2014s second semester through an environmental education project. The project was carried out with the participation of students from two 9th year classes in the evening period and the teaching and administrative staff from Escola Estadual Manoel Severiano, located in the urban zone of Riachuelo (RN). It has dealt with the destination and adequate treatment for solid waste, the encouragement of conscious consumption and proper disposal of waste by means of selective collection. An open instrument was initially developed and applied to a sample of 24 students in order to grasp their perception about the issue of Solid Waste. Lessons and workshops were given with the support of Geography teacher in the after/before school time. In parallel, a workshop was made for schools teaching and administrative staff. The next step consisted at installing collectors in order to separate solid waste in schools common area and challenging both classes to take part in the campaign for the collection of potentially recyclable waste. To achieve that goal, an election for the group of Guardies da Educao Ambiental (Guardians of Environmental Education) was organized to assemble twenty voluntary students in order to multiply and preserve garbage collectors. The material collected was characterized by two-daily type-oriented quantification during one month. After the period of the project, the material was allocated for reuse within the school itself and its remains donated to artisans and local garbage collectors.Key Words: Environmental Education. Interdisciplinary Intervention. Social Responsibility. Selective Collection. 1. INTRODUOToda e qualquer atividade humana interage com o meio ambiente, modificando-o positiva ou negativamente. O objetivo da educao ambiental diminuir o impacto negativo da ao humana no meio em que se insere, com toda a sociedade e seus atores assumindo a responsabilidade individual e coletiva para manuteno e conservao ambiental, visando o uso sustentvel dos recursos e do espao pela atual e pelas futuras geraes ao estabelecer uma relao de interdependncia e diversidade entre o homem e o meio.Na sociedade capitalista, a ideia de desenvolvimento se baseia na produo e consumo crescentes atravs da interveno macia na natureza e na explorao do trabalho, sustentado pela diferena de classes, na permanncia da pobreza, da degradao humana e ambiental. O nosso modo de produo nos aliena do resultado de nossas aes, ao separar o homem da natureza e o homem do seu trabalho, o que resulta na no participao da quase totalidade dos indivduos na construo de seu futuro e na eroso dos valores tradicionais (FERNANDES; MATTOS, 2008; SILVA, 2010; ALMEIDA, 2010). Assim sendo, a questo ambiental em torno dos resduos slidos tem razes profundas, pautadas em nosso modo de produo e nas relaes desiguais e desfavorveis ao meio ambiente, assim como explica Carvalho (2004, p.163): Uma retrospectiva histrica mostra-nos quanto tem sido difcil estabelecer um pacto de convivncia pacfica entre os seres humanos, o ambiente e os interesses dos diferentes grupos sociais sobre o direito e acesso aos bens e recursos ambientais e sobre suas formas de uso. [...] essa convivncia tem sido marcada pelo domnio de uma racionalidade instrumental e utilitria, em detrimento de uma postura de reciprocidade ante a natureza enquanto alteridade a ser respeitada atendendo-a no s como as formaes florestais, os mananciais e outros ecossistemas remanescentes, por exemplo, mas tambm como a base natural dos ambientes da vida social, ou seja, a base natural de nosso dia-a-dia.

Por muito tempo, considerou-se os refugos e materiais j descartados como lixo e eram descartados sem o menor cuidado com o ambiente. Com as sucessivas crises do petrleo e da finitude das matrias-primas, o conceito de lixo, definido por Dias (2007, p.57) como o que no presta, no serve para nada, deu lugar cultura dos resduos slidos: matria-prima a ser reaproveitada (DIAS, 2007, p.57).Muitos resduos passaram a ser transformados em outras matrias-primas e subprodutos para outros processos, retirando assim o preconceito de que os resduos slidos so nocivos. Para que haja esse reaproveitamento adequado dos resduos slidos, se faz necessrio a coleta seletiva, que trata da separao entre os diversos tipos de resduos para facilitar seu correto descarte, transformao e reutilizao.O descarte inadequado de lixo uma problemtica bastante atual. Uma pessoa chega a produzir 1 kg de resduo por dia no mundo, algo em torno de 1,3 bilhes de toneladas/ano, enquanto no Brasil so produzidos em torno de 1,0 a 1,5 kg/hab/dia (aproximadamente 115 milhes de toneladas/ano), de modo que a coleta seletiva e a reutilizao por parte dos indivduos so essenciais para se diminuir o impacto ambiental produzido por nossa sociedade (JACOBI e BESEN, 2011; DIAS, 2007). Com o acelerado processo de urbanizao e crescimento das cidades, a partir da Revoluo Industrial (do sculo XIX em diante) contriburam com mudanas no ambiente alteraes ambientais fsicas e biolgicas, interferindo nos ecossistemas em todo o planeta devido ao uso intensivo de recursos naturais. Hoje, mais de 80% da populao brasileira vive em cidades (MUCELIN E BELLINI, 2008).Segundo Luiz Antnio Ferreira e Carlos Alberto dos Anjos (2001), o acmulo de lixo em reas urbanas gera um impacto negativo no ambiente, ao facilitar, com exposio dos resduos a cu aberto em terrenos baldios, a proliferao de doenas, contaminao de fontes dgua e lenis freticos e da fauna e flora circundante.Segundo Mucelin e Bellini (2008), apenas 33% dos 5507 municpios brasileiros coletam a totalidade dos resduos produzidos. No Rio Grande do Norte, de acordo com os dados da SEMARH (Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hdricos, 2014), apenas 7,8% dos resduos produzidos so direcionados a aterros, sendo 1,8% aterros controlados e 6% para aterros sanitrios.

Apenas 80% do municpio de Riachuelo coberto pela coleta domiciliar (SEMARH, 2014), no possuindo ainda aterro sanitrio, sendo os resduos produzidos no municpio enviados sem qualquer separao a um terreno baldio localizado no Distrito de Carnaba, cedido pela Prefeitura Municipal, a 6 km da sede do Municpio, conforme figura a seguir.

Foto 1. Montagem de imagens feitas no lixo de Riachuelo. Fonte: Acervo do autor, 2015.

Carvalho (2004, p. 158) afirma a esse respeito:Seja no mbito da escola formal, seja na organizao comunitria, a Educao Ambiental pretende provocar processos de mudanas sociais e culturais que visam obter do conjunto da sociedade tanto a sensibilizao crise ambiental e urgncia em mudar os padres de uso dos bens ambientais quanto o reconhecimento dessa situao e a tomada de decises a seu respeito caracterizando o que poderamos chamar de um movimento que busca produzir novo ponto de equilbrio, nova relao de reciprocidade, entre as necessidades sociais e ambientais.

Tomando a escola como sendo o lugar de formao, pensamos que a gesto educacional tem papel importante no que diz respeito a preparar os indivduos para lidar com a problemtica de forma que venha amenizar alguns problemas ambientais. Diante dessa problemtica, surge a ideia de sensibilizar a comunidade escolar por meio da Educao Ambiental.

Conforme Rainho e Feital (2002):Se a escola pretende estar em consonncia com as demandas atuais da sociedade necessrio, segundo os PCNs, que trate de questes que interferem na vida diria dos alunos, contribuindo para a formao do cidado participativo, plenamente reconhecimento e consciente de seu papel na sociedade.

Nesse contexto, a Educao Ambiental vem sendo incorporada como uma prtica inovadora em diferentes mbitos. Neste sentido, destaca-se tanto sua internalizao como objeto de polticas pblicas de educao e de meio ambiente em mbito nacional, em resposta s novas demandas geradas pela transio ambiental do meio rural para o urbano, como mediao educativa por um amplo conjunto de prticas de desenvolvimento social. A Educao Ambiental a ferramenta pedaggica que proporciona sensibilidade na comunidade alvo das aes ambientais, que influem diretamente na qualidade de vida, visto que a qualidade do ambiente onde o indivduo se insere tem impacto nos determinantes de sade e doena, com exposio a txicos e vetores, e na percepo da vida e vivncia no meio social em que vive (LIMA, 2007; PEREIRA, TEIXEIRA e SANTOS, 2012).Uma vez identificada a entrada da Educao Ambiental como parte dos processos de transio ambiental e suas inmeras interfaces com diferentes campos de ao da extenso, cabe abrir um debate sobre o equacionamento do lixo, modalidades desta prtica educativa, suas orientaes pedaggicas e suas consequncias como mediao apropriada para o projeto de mudana social e ambiental decorrente dessa mediao. Em primeiro lugar, caberia perguntar: existe uma educao ambiental ou vrias? Ser que todos os que esto fazendo educao ambiental comungam de princpios pedaggicos e de um iderio ambiental comum? A observao destas prticas facilmente mostraria um universo extremamente heterogneo no qual, para alm de um primeiro consenso em torno da valorizao da natureza como um bem, h uma grande variao das intencionalidades socioeducativas, metodologias pedaggicas e compreenses acerca do que seja a mudana ambienta desejada. Neste sentido, Educao Ambiental um conceito bastante generalista, abarcando vrias correntes em disputa. O problema dos conceitos vagos que acabam sustentando certos equvocos e, neste caso, o principal deles supor uma convergncia tanto da viso de mundo quanto das opes pedaggicas que informam o variado conjunto de prticas que se denominam de educao ambiental. O conceito de Educao Ambiental foi incorporado legislao nacional com a Poltica Nacional de Educao Ambiental (BRASIL, 1999). No texto da lei (art. 1), o legislador afirma: Entendem-se por educao ambiental os processos por meio dos quais o indivduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competncias voltadas para a conservao do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade.Considera-se que a Educao Ambiental um processo de aprendizagem permanente, baseado no respeito a todas as formas de vida, porque a educao afirma valores, aes e conduta do homem no caso, sustentabilidade e respeito natureza (valores), administrao dos recursos, como gua, e destinao dos resduos (aes) , que contribuem para a transformao humana e social e para a preservao ecolgica.Como a Educao Ambiental pressupe uma transformao por meio da sensibilizao social, por meio do reconhecimento de que os recursos naturais so finitos e da responsabilidade individual e coletiva com o ambiente em que se insere, a participao direta da comunidade escolar fortalece os objetivos do desenvolvimento sustentvel. Para Isabel Carvalho (2004, p. 154; grifo meu): A Educao Ambiental uma proposta educativa que nasce em um momento histrico de alta complexidade. Faz parte de uma tentativa de responder aos sinais de falncia de todo um modo de vida, o qual j no sustenta as promessas de felicidade, afluncia, progresso e desenvolvimento. A modernidade ocidental, do qual somos filhos, apostou todas as suas fichas em uma razo cientfica, objetificadora e no otimismo tecnolgico correspondente. Do mesmo modo, fez-nos crer que o bem viver residia no imperativo da acumulao material baseada nos circuitos de trabalho, produo e consumo, dos quais parcelas cada fez maiores da populao do planeta esto dramaticamente excludas ou, dito de outra forma, includa em posies de absoluta inferioridade e desigualdade.

O presente artigo tem como objetivo apresentar e discutir a pesquisa-ao realizada na Escola Estadual Manoel Severiano, no Municpio de Riachuelo/RN, por meio do uso da Educao Ambiental enquanto prtica pedaggica, visando a modificao dos hbitos com base na sustentabilidade, com enfoque primordial no descarte apropriado dos resduos e na implantao de um programa de coleta seletiva solidria na Escola Estadual Manoel Severiano.A pesquisa-ao que deu origem a este artigo foi desenvolvida no segundo semestre de 2014, com vistas a promover a sensibilizao dos alunos do 9. Ano (turmas A e B) e o corpo docente e administrativo da Escola Estadual Manoel Severiano sobre a temtica dos resduos slidos no ambiente escolar, por meio do levantamento dos conhecimentos prvios dos alunos sobre a temtica. Aps o levantamento inicial, foi realizada a interveno educativa, sob a forma de palestras e oficinas sobre a reutilizao e separao de materiais e o impacto ambiental dos resduos, com o apoio da docente da disciplina de Geografia. A principal motivao desta pesquisa-ao foi, por meio da sensibilizao do alunado sobre a temtica, fazer com que nossos educandos pudessem: 1. identificar com mais eficcia os materiais reciclveis; 2. torn-los multiplicadores, principalmente o grupo de 20 alunos participantes mais ativos do projeto, incentivando a prtica da coleta seletiva no ambiente domstico dos alunos; 3. entender a relao entre o material descartado e a problemtica ambiental em relao ao seu destino; 4. realizar ao social, ao destinar os resduos para artess e catadores, estimulando a gerao de renda na cidade.Por fim, o projeto conseguiu introduzir na referida escola a coleta seletiva solidria, com o apoio dos servidores e alunos, obtendo os resduos potencialmente reciclveis, oriundos dos materiais utilizados nos servios de manuteno e produo dos alimentos e destinando a catadores e s artess da cidade.

2. METODOLOGIAA Escola Estadual Manoel Severiano encontra-se localizada na Av. Getlio Vargas, s/n, na sede do Municpio de Riachuelo/RN. A escola est geograficamente situada em uma parte nobre da cidade, de fcil acesso na zona urbana tem hoje em seu quadro efetivo o nmero de 51funcionrios e 745 alunos, 162 (21,75%) da zona rural e 683 (78,25%) da zona urbana, funcionando durante os trs turnos (matutino, vespertino e noturno), atendendo Ensino Fundamental (do 1 ao 9 Ano) e Mdio.Primeiramente, foi feita uma breve apresentao do projeto, com a exibio de uma coletnea de vdeos intitulada Vdeos de coleta seletiva do Lixo[footnoteRef:1] com durao total de aproximadamente 16 minutos e composta de quatro vdeos: Lixo destino correto e coleta seletiva (1), Reciclagem Muito Bom!!!(2), Coleta Seletiva (3) e Coleta Seletiva do Lixo (4), em que fomos apresentados a destinao correta do lixo (resduos slidos) e a importncia da coleta seletiva (1), quais as mudanas possveis na nossa rotina para o reuso correto dos resduos (2), o significado das cores dos coletores de lixo e o tempo de decomposio dos diferentes materiais (3) e como se d o equacionamento dos materiais que podem ser ou no ser reciclveis (4). [1: Disponvel em: . Acesso em: 06 jun. 2015]

Em seguida, foi aplicado s turmas um instrumento aberto, elaborado pelo autor, com cinco questes discursivas, tendo sido extrada uma amostra de 24 (vinte e quatro) questionrios (representando 70% do alunado), a fim de levantar os conhecimentos prvios dos alunos sobre a temtica de resduos slidos. Para fins de anlise, as respostas foram agrupadas em categorias, conforme o mtodo de anlise de contedo de Laurence Bardin (FARAGO e FOFONCA, 2012).Durante o segundo semestre do ano de 2014, foi realizado um projeto de interveno com base nos dados obtidos com o corpo discente das referidas turmas. A proposta era vincular ao ensino da disciplina de Geografia a temtica de resduos slidos e os problemas causados ao meio ambiente e ao homem, sendo feitas as atividades pedaggicas, durante o terceiro bimestre letivo entre julho e setembro de 2014, entrando como parte do planejamento bimestral para obteno de nota, o que estimulou bastante a participao do alunado.O primeiro passo foi apresentar o projeto direo e coordenao pedaggica do turno vespertino, incluindo a vinculao da participao dos alunos nota da disciplina de Geografia, o uso do contraturno (matutino e noturno) para as oficinas com o alunado e o recolhimento dos resduos produzidos nas atividades administrativas e de apoio. Aps a reunio, a direo repassou as informaes discutidas aos funcionrios do turno. Por meio de conversas informais com os servidores de apoio administrativos, da higienizao e da cozinha , foi reforada a importncia do projeto, buscando apoio para coleta de materiais potencialmente reciclveis.Foi elaborada uma sequncia didtica a ser aplicada com as turmas, em parceria com a professora titular da disciplina de Geografia da escola, a Prof. Rosenilda Fernandes Pereira, constando as atividades a ser executadas: primeiramente, uma sequncia de duas palestras sobre sustentabilidade, e questes ambientais no sculo XXI, respectivamente, com os palestrantes convidados Damio Medeiros (ambientalista) e Jorge Martiniano (tcnico agrcola), e com a apresentao dos vdeos O futuro que queremos[footnoteRef:2], pelo primeiro palestrante, e Sustentabilidade Ambiental e Coleta Seletiva[footnoteRef:3], pelo segundo palestrante. [2: Disponvel em: . Acesso em: 06 jun. 2015.] [3: Disponvel em: . Acesso em: 06 jun. 2015.]

Foto 2. Palestra do tcnico agrcola Jorge Martiniano. Fonte: Acervo do autor, 2015.Alm disso, durante as aulas da disciplina de Geografia, foram exibidos outros dois vdeos de mesmo tema, Gente Limpa Vdeo Coleta Seletiva[footnoteRef:4] e Coleta Seletiva[footnoteRef:5], que tratam da coleta seletiva em ambiente escolar como atitudes de poder simblico, haja vista que s existe a coleta seletiva de fato em 443 cidades brasileiras (8% do total), abrindo a possibilidade de mudarmos o conceito de lixo para resduos slidos e assim, por meio da arte, efetivarmos os 5Rs ( reciclar, reutilizar, reduzir, repensar e recusar), e efetivarmos a coleta seletiva dos resduos, materiais como metais, papeis, plsticos e orgnicos, como leo de cozinha. [4: Disponvel em: . Acesso em: 06 jun. 2015.] [5: Disponvel em: . Acesso em: 06 jun. 2015.]

Tambm foi lanado o desafio para as turmas participarem da campanha para a coleta de resduos potencialmente reciclveis e para deposio desses resduos nos recipientes destinados para essa finalidade. Em seguida, deu-se a escolha democrtica entre o corpo discente para os membros dos Guardies da Educao Ambiental, nome dado ao grupo misto de 20 alunos, sendo dez de cada uma das turmas trabalhadas, para executar trabalho voluntrio com relao ao equacionamento de resduos slidos na escola, servindo de multiplicadores entre os alunos e ajudando a manter a coleta seletiva ativa, mesmo no contraturno das aulas.Para a coleta do material, foram etiquetados, para fins de identificao, primeiramente caixas de papelo e posteriormente baldes, em atividade conjunta aos alunos, para fazer a coleta seletiva na escola.

Foto 3. Alunas etiquetando os recipientes da coleta seletiva. Fonte: Acervo do autor, 2015.

Foto 4. Alunas etiquetando os recipientes da coleta seletiva. Fonte: Acervo do autor, 2015.

O material recolhido foi caracterizado pela quantificao por tipo, a cada dois dias, pelo perodo de um ms. Aps esse tempo, parte do material foi destinada para reutilizao no mbito da prpria escola e o restante, doado para artess locais e catadores.

3. RESULTADOSOs resultados mostraram que 62,50% do alunado entrevistado so do gnero feminino, e os demais 37,50 do gnero masculino, sendo que 58,33% da turma do 9 ano A, e os 41,67% restantes do 9 ano B. Quanto questo O que voc entende por lixo?, a percepo, j verificada por Dias (2006), de que o conceito de lixo est relacionado a materiais refugos j descartados e sem utilidade, foi confirmada por 75% dos alunos. Cerca de 12,50% diz no jogar lixo nas ruas, a mesma proporo que relacionou lixo ao meio ambiente. Tambm foi verificado que 25% ligam o conceito de lixo reciclagem e aproximadamente 20% dos alunos citaram que existem muitos tipos de lixo.

Grfico 1. Percepo acerca do conceito de lixo

Quando questionados sobre o que se entende por coleta seletiva, aproximadamente metade consegue relacionar com a separao de material, enquanto 30% dos alunos associam a catadores de resduos slidos. Convm enfatizar que 16,7% conseguem relacionar a coleta seletiva reutilizao e apenas 12,5% relacionaram ao meio ambiente.

Grfico 2: Percepo acerca da coleta seletiva

Quando perguntados ao alunado se eles fazem coleta seletiva no prprio domiclio, 33% dos alunos responderam que o fazem, ao mesmo tempo em que 20% afirmam que s jogam o lixo fora. Apenas cerca de 9% citam que no h coleta seletiva, enquanto os demais alunos no citam, o que condiz com dados oficiais. Outro dado interessante foi que um em cada seis alunos afirma fazer a separao do lixo orgnico para horta domstica e aproximadamente 20% usam para artesanatos, muitos deles confeccionados pelos prprios pais, ou fazem doao a parentes, amigos e vizinhos.

Grfico 3: coleta seletiva domstica

Ao serem questionados sobre a importncia dada coleta seletiva, aproximadamente 30% responderam que faz bem e 29,17% associaram o tema gerao de renda, enquanto 4% afirmaram que coleta seletiva colocar o lixo em seu devido lugar; 8,33% dos alunos conseguem relacionar coleta seletiva com reciclar e reutilizar para coisas novas. Ao mesmo tempo, 20,83% citaram a categoria meio ambiente/natureza de forma genrica e 25% correlaciona a coleta seletiva com a poluio visvel como lixo nas ruas, bueiros etc.

Grfico 4: Importncia da coleta seletiva para os alunos

4. DISCUSSOEm 2010, na Escola Estadual Manoel Severiano j foram executados projetos de curta durao com a temtica, mas no houve continuidade. No ano de 2014, a escola era contemplada pelo programa Mais Educao e, com a introduo do projeto abordado neste trabalho, recebeu verba federal para introduo do Projeto COM-VIDA. O presente projeto teve acolhimento por parte do corpo docente, haja vista que temtica e a metodologia ativa eram, at ento, pouco exploradas naquela escola. A partir das prticas propostas, ao enfatizarmos o processo-aprendizagem, realizamos as atividades com o corpo docente, discente e comunidade escolar, seguindo a sequncia didtica proposta, conseguindo ampla adeso de todos os envolvidos.O alunado demonstrou curiosidade e interesse pelos temas abordados no projeto, tendo participao de 90 alunos das turmas de 9. ano nas atividades, mesmo quando realizadas no contraturno. Com a participao ativa do alunado, o projeto foi concludo dentro do prazo estipulado (julho a setembro de 2014) e teve continuidade da participao dos alunos, mesmo aps o perodo de vinculao com nota. O projeto foi bem acolhido por toda comunidade escolar, o que pode ser constatado ao verificarmos a melhoria na limpeza do espao/ambiente escolar e a permanncia dos coletores.Segundo relato da professora da disciplina de Geografia responsvel pela turma, houve melhoria na assimilao e participao do alunado, refletida na melhoria das notas do bimestre seguinte ao projeto, conforme grfico abaixo.

Grfico 5: Comportamento das notas dos alunos (Fonte: Dirios de classe)*seta indica perodo de implantao do projeto

Ao fim do perodo letivo, foram doados os materiais coletados para as artess da cidade, que fizeram confeco de trabalhos artesanais. Os materiais que no puderam ser aproveitados para produo de artesanato foram doados para catadores autnomos. Assim foi concluda a parte social do projeto.

Foto 4. Artesanatos produzidos com o material doado pelo projeto. Fonte: Acervo do autor, 2015.

Foto 5. Artesanatos produzidos com o material doado pelo projeto. Fonte: Acervo do autor, 2015.

importante ressaltar que o trabalho iniciado por este projeto est tendo continuidade. A coleta seletiva dos resduos slidos produzidos na escola est sendo mantida pelos funcionrios de apoio e os alunos do grupo Guardies da Educao Ambiental, mantido mesmo aps o encerramento do projeto, e o material coletado continua sendo destinado s artess locais, para confeces de suas artes, o restante entregue a catadores do Municpio.

Foto 6. Montagem feita com o trabalho dos catadores no lixo de Riachuelo. Fonte: Acervo do autor, 2015.

Com relao aos resultados obtidos neste trabalho, no que tange investigao como o alunado na comunidade escolar, a maioria deles considera que os temas abordados e explanados so importantes para a sua formao e seu cotidiano em sociedade, e que deveriam ser inseridos mais contedos ambientais, a serem ministrados pelo corpo docente. Verificou-se no incio do projeto tambm que a maioria deles ainda tem uma viso errnea sobre os resduos slidos, ao associa tal tema a sujeira, coisa sem valor, sem utilidade alguma, confirmando a percepo de Dias (2006), de que o conceito de lixo est relacionado a materiais de refugo j descartados e sem utilidade. Da a importncia na nfase a Educao Ambiental nas escolas, pois parte desse alunado ainda associa tal temtica ao meio ambiente, embora de forma muito geral, muitos relacionam a natureza e muitos reduzem as questes ambientais apenas ao campo da ecologia e da biologia, no identificando claramente a sua inter-relao com os aspectos sociais, histricos, tecnolgicos e ticos.O trabalho de pesquisa-ao teve como mrito o reconhecimento dos alunos que a escola no o nico lugar onde acontece o aprendizado e no obrigatoriamente nela que se inicia e se encerra a aula. Usando o dilogo como fonte fundamental do aprendizado terico e vivencial dos alunos no ambiente escolar e social, questionando e respeitando seu habitat, o projeto fez que eles repensassem os seus conceitos e elaborem seus prprios enunciados e propostas, associando-a ao desenvolvida.

5. CONSIDERAES FINAISCada escola tem autonomia para procurar novas trilhas, novos cominhos, seja na escolha de meios mais adequados sua realidade seja na forma de abord-los. Depois do trabalho realizado, vem a pergunta: algo mudou? Pode-se dizer que sim, ocorreram mudanas de comportamento, atitudes e percepo das questes abordadas neste trabalho, em toda comunidade escolar, a partir da sensibilizao acerca da produo de resduos slidos produzidos na escola e, por extenso, no seu entorno. Acreditamos estar no caminho que vem sendo trabalhado neste projeto, no que tange ao desenvolvimento da Educao Ambiental na Escola Estadual Manoel Severiano, o que nos trouxe significativos avanos e contribui com as experincias inovadoras, mais fica ainda a sensao de que a estrada longa, cheias de dificuldades o que requer muito mais organizao, pesquisa, investigao, perseverana e ousadia.Os contedos ambientais para o sculo XXI incluem-se dentre os temas contemporneos que exigem uma abordagem interdisciplinar, ao contemplar uma nova articulao das conexes entre as cincias naturais, sociais e exatas. Neste sentido, fica evidente a importncia do papel da Educao Ambiental no despertar da implantao e sensibilizao para o exerccio pleno da formao e cidadania de todos os autores envolvidos no projeto.A atitude e comprometimento dos alunos e a integrao com a comunidade fizeram toda diferena no sucesso do projeto, ao fazer uma abordagem holstica da nossa realidade local, levando a comunidade escolar e, em especial, os alunos a reconhecer e compreender a relao entre seu cotidiano pessoal e a questo ambiental, com o alcance muito mais amplo.Partindo desse pressuposto, com a ideia da responsabilidade social, este projeto, ao trabalhar o mal equacionamento do lixo, implantou a coleta seletiva solidria como forma de diminuir os danos ambientais. Importante ressaltar que parte dos funcionrios e o grupo Guardies da Educao Ambiental deram continuidade ao projeto na Escola Estadual Manoel Severiano, fazendo a coleta e a separao dos resduos slidos reciclveis e os encaminhando s artess e aos catadores locais.Resta a ns, dentro dessa cadeia, fazer nossa parte para que esta iniciativa d o pontap inicial numa mudana cultural, contribuindo para a conquista de um mundo mais sustentvel.

REFERNCIAS

ALMEIDA, Antnio Cavalcante. Os clssicos da sociologia: uma anlise dos conceitos de alienao, anomia e racionalizao em Durkheim, Marx e Weber. Revista In Pauta, n. 310, 18 de Agosto de 2010. Disponvel em: . Acesso em: 09/04/2015.

BRASIL. Lei n. 9.795, de 27 de abril de 1999.Institui a Poltica Nacional de Educao Ambiental. Disponvel em: . Acesso em: 09/04/2015.

______. MINISTRIO DA EDUCAO E CULTURA. SECRETARIA DA EDUCAO FUNDAMENTAL. Parmetros Curriculares Nacionais:Histria e Geografia (volume 5). Braslia: Ministrio da Educao/Secretaria da Educao Fundamental, 1997.

CAMPOS, Lucimara Santos et al. Sade e Segurana nas Centrais de Triagem de Resduos Slidos conveniadas com o Municpio de So Paulo. CIISC - Artigos do Encontro Nacional Conhecimento e Tecnologia: Incluso Socioeconmica de Catadores de Materiais Reciclveis. Disponvel: . Acesso: 27/05/2015

CARVALHO, Isabel Cristina de Moura. Educao Ambiental: a formao do sujeito ecolgico. So Paulo: Cortez, 2004. 256p. (Docncia em formao).

COSERN. Programa de Meio Ambiente em parceria com o IDEMA e o sistema FIERN/SENAI. Abril/2007-Dois a.

DIAS, Genebaldo Freire. Educao Ambiental. So Paulo: Gaia, 2006. 119p.

FARAGO, Ctia Cilene; FOFONCA, Eduardo. A anlise de contedo na perspectiva de Bardin: do rigor metodolgico descoberta de um caminho de significaes. Linguasagem, So Carlos (SP), n. 18, jan.-jun. 2012. Disponvel em: . Acesso em: 27/05/2015.

FERNANDES, Piedade Maria Ingls; MATTOS, Gabriel Gonalves. O funcionamento da sociedade capitalista na concepo de mile Durkheim e Karl Marx. Revista Cientfica Eletrnica de Psicologia, Gara,/SP, Ano VI Nmero 10 Maio de 2008. Disponvel em: . Acesso em: 09/04/2015.

GUADAGNIN, Mrio Ricardo; BARBOSA, Manuela Santos. Implantao porta a porta da coleta seletiva solidria em seis bairros da cidade de Cricima - Santa Catarina . In: SIMPSIO INTERNACIONAL DE QUALIDADE AMBIENTAL. 6., 2008. Porto Alegre. Anais do Simpsio Internacional de Qualidade Ambiental. Porto Alegre: ABES, 2008. Disponvel: < http://repositorio.unesc.net/handle/1/1377>. Acesso: 27/05/2015

LIMA, Ana Maria Martins. Conceitos de meio ambiente. Disponvel em: . Acesso em 23 de maio de 2014.

MARQUES, Maria Agriclia de Arajo. Uma proposta para implantao da coleta seletiva solidria no frum Affonso Campos luz da Lei de n 9.293/2010. Trabalho de Concluso de Curso (Especializao em Planejamento e Gesto Pblica) Universidade Estadual da Paraba, Centro de Cincias Sociais Aplicadas, 2014. [Monografia]. Disponvel: . Acesso: 27/05/2015

MARTINS BAEDER, Angela; PONTUSCHKA, Ndia Nacib A coleta seletiva em um projeto de pesquisa participativa. Revista Geogrfica de Amrica Central,Vol. 2, N. 47, 2011. Disponvel: . Acesso: 27/05/2015

MUCELIN, Carlos Alberto; BELLINI, Marta. Lixo e impactos ambientais perceptveis no ecossistema urbano.Sociedade & Natureza, Uberlndia, v. 20, n. 1, jun. 2008, p. 111-124. Disponvel em: . Acesso em: 18 abr. 2015.

NASCIMENTO, Rosana Oliveira et al. Coleta seletiva solidria: uma experincia desenvolvida no campus de pesquisa do Museu Paraense Emlio Goeldi (MPEG), Belm-PA. Rev. Elet. em Gesto, Educao e Tecnologia Ambiental, v(10), n 10, p. 2233-2250, JAN-ABR, 2013. Disponvel: < http://cascavel.cpd.ufsm.br/revistas/ojs-2.2.2/index.php/reget/article/view/7889/pdf>. Acesso: 27/05/2015

PEREIRA, rico Felden; TEIXEIRA, Clarissa Stefani; SANTOS, Anderlei dos. Qualidade de vida: abordagens, conceitos e avaliao. Revista Brasileira de Educao Fsica e Esporte, So Paulo, v.26, n.2, p.241-50, abr./jun. 2012. Disponvel em: . Acesso em: 09/04/2015.

PERSICH, Juliana Carla; SILVEIRA, Djalma Dias da. Gerenciamento de resduos slidos a importncia da Educao Ambiental no processo de implantao da coleta seletiva do lixo caso de Iju/RS. Revista Eletrnica em Gesto, Educao e Tecnologia Ambiental, v. 4, n. 4, 2011. Disponvel: . Acesso: 27/05/2015.

RAINHO, J.M.; FEITAL, R. O meio pela metade. Publicado em: 26/06/2002. Disponvel em: .Acesso em: 27/05/2015.

SILVA, Jos Carlos da.Educao, trabalho e emancipao em Durkheim e Marx. Revista Linhas. Florianpolis, v. 11, n. 01, p. 169 180, jul. /dez. 2010. Disponvel em: . Acesso em: 09/04/2015.

VALLE, Cyro Eyer do. Qualidade ambiental: ISO 14000. 6. Ed. So Paulo: Senac So Paulo, 2006. 200p.

VIEIRA, Rhaissa Calixto et al.. A experincia da coleta seletiva solidria: o caso do campus regional de RESENDE Universidade do Estado do Rio de Janeiro.Interagir: Pensando a Extenso, n. 15, Jan-Dez/2010. Disponvel: < https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/interagir/article/view/2598>. Acesso: 27/05/2015