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80 nação sociedade econ ômica, e não a absorção desta última pelo Esta- do " . A anarqu ia positiva, pregada por Proudhon, procura, atr avés da erradi- cação da re lação de autoridade, inst i- tuir relações tot a lm ente novas entre indiv(duos e agrupamentos. Caracte- riza-se, antes de mais nada, pel a nega- ção de toda autoridade e, em parti- cular, pela negação do Estado. Proudhon reve la-se um críti co da b urocracia, e toda sua teorização visa a estabelecer a autonomia da soci e- dade , entendida como poder lat ent e e possibilidade reai de se organizar e de governar a si mesma. A soci ed aàe autogestionária, em Proudh on, é a orga ni ca mente aut ônoma, constitu (da de gr upos autônomos se aut o-ad minist ra ndo, onde ex iste co- ordenação, mas não hierarqu ização. Segundo a análise do autor, na teo- ria autogest ionár ia de Proudhon, a política torna -se governo do próprio po vo e desaparece a apropriação eco- nômica e polít ic a, característica do sistema bu rocrático. A aut ogestão surge, então, como a negação da bu- rocracia e de sua heterogestão. " As- sim, conclui o autor, a criação de uma sociedade autogestionária não é uma utopia, qu e não se tr ata de u ma impossibi_ lidade. Trata-se, isto sim, de algo que incomoda profunda- mente os detento res do poder. Em uma sociedade autogestionária não há lugar para burocratas. A proposta autogestionária traz a incerteza para um mundo onde quase todos buscam a certeza .. . Enquanto as id eologias do poder proc uram ocul ta r as múlti· pias alienações do homem mode rno, I a proposta autogestionária surge co- mo uma denúncia, como possibi li- dade real e radical de transformação social. Nesta possi bi lidade essua grande dificuldade de operacionali- zação, já que a razão que a sustenta é · o contrário da razão do poder ." O Ana Rosa Bulo Vieira Revista de Administração de Empresas Werther Jr., Will iam B. & Davis, Ke ith. Personnel management and human resources . McGraw- Hill, 1 981 . 508p. Re correndo às idéias bási cas da Esco- la de Relações Humanas, de que as pessoas consti tuem o e leme nto co- mum a todas as organizações, os au- t or es abordam a administração de re- cursos humanos dent ro da s tendê n- cias mais atuais que se observam nos países ditos industr iali zado s. Vão mais longe, é verdade, quan- do afirmam que os desafi os à socieda- de deste fi m de século serão vencidos através da "nossa mais criativa inv en- ção: as organ izaçõ es" . Neste aspecto, seguem de perto Ma x Weber quando ·desenvolve suas idéias ce ntr ais de bu- rocracia, este tipo id eal ao qua l ape- nas as grandes organizações se asse- melham. A obra é ma is propriamente uma receita de co mo aplicar a administra- ção de pessoal aos recursos huma nos da organização. Os ingredientes da re- ceita visam, pois, a at ender aos obje-. tivos da área especializada de pessoal: socia l, organizacional, funcional e in- dividual, ou sejam, os objetivos que orientam as atividades do dia-a-<tia do admini st rador de pessoal, ag indo co- mo um departamento de serviço, através de suas á.reas que prestam as - sistência aos empregados, aos admi· nistradores (chefes) e à organização. Não deixam eles de lembrar que· o homem de pessoal não tem autor ida- de de linha ( que é típ ica dos gerentes de Departame ntos operacionais), "meramente aconselha ndo aos ho- mens de li nha que são, em última ins- t ân ci a, os responsáve is pelo desempe- nho dos empregados" . Co mo um Óígão composto de at i- vidades inte rdepende nt es, a adminis- tração de pessoal é tr atada como um sistema, cada subsistema afetando os dema is, "o que per mite reconhecer as relações entre as part es". As mudan- ças organizacion ai s são o resultâdo de desafios amb ientais, externos à o rga - ni zação, e qu e se originam de infl uên - cias sociais, t ecno lógicas, econôm icas e p olítico-legal. Neste aspecto, enga· os autores nas fileiras dos que formam a linha avançac;a da "filoso- fia de ambiente" nos EUA nestes úl- timo s anos. Não vai aqui qualquer exagero, po is as pressões que a admi- nistração de pessoal vem sofrendo · nestes últill}OS três ; ustr os não pode m ser desprezadas: d racial, preconceitos os mai s diver sos , cont ra indiv íd uos ou contra grupos minori- · tários, enco ntram no estât uto dos di- reitos hu mano s uma bar re ira intra ns- pon fvel nos EUA. As agênc ias gover- namentais inte rferem em tod os os as· pectos d e ad min is t ração d e pessoa!, desde o recruta me nto à d ispe ns a (f i rings ou lay-offs). A intervenção g;overnament al não é tão recente, po- rém. A permissão para si ndicalizar-se, ·o sa rio m (n imo, a jornada de traba- lh o etc. têm sido tratados pelo l eg is- lador americano há mais de cinco dé- cadas. Numa democraci a política, os efeitos de li berdade e igualdade obviamente chegariam à empresa: ho- mens e mulheres, maiores e men o res, os ve lho s, os ali enígenas, os menos dotados , para citar alguns exemplos, ·to dos encontr am hoje estat ut os onde se amparam con tra a discriminação e arbítrio. Os autores abordam tais le is com amplos comentários, chegando ao palpitante tema: "qualidade de vi- da no t rabalho", e os fatores que a afetam: supervísão, ... condições de tra- balho, salários, beneHcios e delinea- mento do trabalho.* Este último fator -delineamento do trabalho - é exposto com muita clareza, não só quanto às metas visa- ·das como aos problemas enfrentados.

Werther Jr., William B. Davis, Keith. Personnel … · Cann Erickson .Publi cidade Ltda. (sob a direção de Vera Aldrighi). ... TV, contraria o crivo severo sob o qual elas julgam

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nação "à sociedade econômica, e não a absorção desta últ ima pelo Esta­do" . A anarqu ia positiva, pregada por Proudhon, procura, através da errad i­cação da re lação de autoridade, inst i­tuir relações tota lmente novas entre indiv(duos e agrupamentos. Caracte­riza-se, antes de mais nada, pel a nega­ção de toda autoridade e, em parti­cular, pela negação d o Estado.

Proudhon reve la-se um crítico da burocracia, e toda sua teorização visa a estabelecer a autonomia da socie­dade, entendida como poder latente e possibilidade reai de se o rganizar e de governar a si mesma. A sociedaàe autogestionária, em Proudhon, é a soc i~ade organicamente autônoma, constitu (da de grupos autônomos se auto-ad minist rando, onde existe co­ordenação, mas não hiera rqu ização.

Segundo a análise do autor, na teo­ria autogest ionária de Proudhon, a política torna-se governo do próprio povo e desaparece a apropriação eco­nômica e polít ica, característica do sistema burocrático . A autogestão surge, então, como a negação da bu­rocracia e de sua heterogestão. "As­sim, conclu i o autor, a criação de uma sociedade autogest ionária não é uma utopia, já que não se trata de uma impossibi_lidade. Trata-se, isto sim, de algo que incomoda profunda­mente os detentores do poder. Em uma sociedade autogestionária não há lugar para burocratas. A proposta autogestionária traz a incerteza para um mundo onde quase todos buscam a certeza .. . Enquanto as ideologias do poder procuram ocu ltar as múlti · pias alienações do homem moderno,

I •

a proposta autogestionária surge co-mo uma denúncia , como possibi li­dade real e rad ical de transformação social. Nesta possi bi lidade está sua grande dificuldade de operacionali ­zação, já que a razão que a sustenta é · o contrário da razão do poder." O

Ana Rosa Bulcão Vieira

Revista de Administração de Empresas

Werther Jr., Will iam B. & Davis, Keith. Personnel management and human resources . McGraw­Hi ll, 1981 . 508p.

Recorrendo às idéias básicas da Esco­la de Relações Humanas, de que as pessoas constituem o elemento co­mum a todas as organizações, os au­tores abordam a administração de re­cursos humanos dentro das t endên­cias mais at uais que se observam nos países ditos industriali zados.

Vão mais lo nge, é verdade, quan­do afirmam que os desafios à socieda­de deste fi m de século serão vencidos através da "nossa mais criativa inven­ção: as organizações" . Neste aspecto , seguem de perto Max Weber quando

· desenvo lve suas idéias centrais de bu­rocracia, este tipo ideal ao qua l ape­nas as grandes o rganizações se asse­melham.

A obra é mais propriamente uma receita de como aplicar a ad ministra­ção de pessoal aos recursos humanos da organização. Os ingredientes d a re­ceita visam, pois, a atender aos obje-. t i vos da área especiali zada de pessoal: socia l, organizacional, fu ncional e in­divid ual, ou sejam, os ob jetivos que orientam as atividades do dia-a-<tia do administrador de pessoal, agindo co­mo um departamento de serviço, através de suas á.reas que prestam as­sistência aos empregados, aos admi· nistradores (chefes) e à organização. Não deixam eles de lembrar que· o homem de pessoal não tem autor ida-

de de linha (que é típica d os gerentes de Departamentos operacionais), " meramente aconselhando aos ho­mens de li nha que são , em última ins­t ância, os responsáveis pelo desempe­nho dos empregados".

Como um Óígão composto de at i­vidades interdependentes, a ad minis­tração de pessoal é tratada como um sistema, cada subsistema afetando os demais, "o que permite reconhecer as relações entre as partes". As mudan­ças organizacionai s são o resultâdo de desafios ambientais, ext ernos à o rga­nização, e que se originam de infl uên ­cias sociais, t ecnológicas, econômicas e político-legal. Neste aspecto, enga· jam~se os autores nas fileiras dos que formam a linha avançac;a da "filoso­fia de ambiente" nos EUA nestes úl­t imos anos. Não vai aqui qualquer exagero, po is as p ressões que a admi­nistração de pessoal vem sofrendo

· nestes últill}OS três ; ustros não podem ser desprezadas: d i~~riminação racial, preconceitos os mai s diversos, cont ra indiv íd uos ou contra grupos minori- · tários, encont ram no estâtuto dos di­re itos humanos uma barre ira intrans­pon fvel nos EUA. As agênc ias gover­namentais interferem em todos os as· pectos de ad min ist ração de pessoa!, desde o recrutamento à d ispensa (f i rings ou lay-offs). A intervenção g;overnamental não é tão recente, po­rém . A permissão para si ndicalizar-se,

·o sa lário m (n imo, a jornada de traba­lho etc. têm sido tratados pelo legis­lado r americano há mais de c inco dé­cadas.

Numa democracia política, os efeitos de li berdade e igualdade obviamente chegariam à empresa: ho­mens e mulheres, maiores e menores, os velhos, os alienígenas, os menos dot ados, para citar algu ns exem plos, ·todos encontram hoje estat ut os onde se amparam contra a discriminação e arbítrio. Os autores abordam t ais le is com am plos coment ários, chegando ao palpitante tema : "qualidade de vi­da no t rabalho", e os fatores que a afetam: supervísão, ... condições de tra­balho, salários, beneHcios e delinea­mento do trabalho. *

Este último fator -delineamento do trabalho - é exposto com muita clareza, não só quanto às metas visa­

·das como aos problemas enfrentados.

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Entre estes, os aspectos organizacio­nal, ambiental e comportamental são tratados, sugerindo resultados satisfa­tórios q uando abordados de maneira adequad a. O mesmo ocorre , na obra, com o "enriquecimento do tra­bal ho" .**

F inalmente, o processo de ad mi­nistração de pessoál é t ratado , parti n­do de levantamento d e dados para a análise e aval iação de cargos, planeja­mento de pessoal , recrutamento e se­leção. A abo rdagem destas áreas faz­se cuidadosamente, inova ndo em cer­tos aspectos da área de especializa­ção. Desenvo lvimento o rgan izacional

, é tratado como uma est ratégia que faz uso do processo de grupo, visando à aceitação de mudança p lanejada, al­terando crenças, atitudes·, va lores, es­

trutu ras e práticas, adapt ando a orga­nização à muda nça. In iciar uma nova ordem de co isas é crucial, mas a ela a orga nização não está imune, assim como não pode fugir à aval iação d e desempenho, que os autores conside­ram um conceito central na adminis­tração eficiente_ Embo ra não se li be­re das tradicionais abordagens q ue outros auto res fazem da avaliação de desempenho, a obra se estende o suf i­ci ente para que o leito r compreenda bem as técnicas recomendadas, enca­mi nhando-o a criticar certas posi ções assumidas por Werther e Davis ao co­mentarem as implicações da avalia­ção .

O capítulo sob re motivação e sa­t isfação no trabalho, bastante estru­tu rado, oferece leitura oport una dos mais at ualizados modelos de motiva­ção e d e modificaÇão de comporta­mento. Os cap (tulos referent es a sa lá­rios, incentivos, benefícios, higiene e segurança, si nd ica li smo, contrat os co­letivos e est atut os afins , estão mais de acordo com as leis e praxes ameri­canas, não oferece ndo vivência das práticas de nossos em presários_ O

Ary Ribeiro de Carvalho

* N. do T . À falta de mel hor te rmo no vernáculo, optamos per "delineamento" para job desígn .

** N. do T. Enrichment dos autores.

Departamento de Pesquisas Me Cann Erickson .Pub licidade Ltda. (sob a direção de Vera Aldrighi). Profissão : prendas do­mésticas, um estudo sobre do­nas-de-casa. São Paulo, 1980. 120p.

No dom (nio da pesquisa de mercado tend e-se recentemente a associar d is- . posições pessoais de co nsumo a m u­d anças ma is gerais na condição de vi ­da dos(as) consumidores(as ). O es­

tudo da Me Cann entra nessa linha . Sabend o que a mulher é aind a o

pri nci pal gerente de compras do do­mi cílio, a pesq uisa levantou a quan- · tas anda o desempenho desse papel e de seus correlatos ~ nessa época de · abalo sério na servidão femini na den­tro de casa. E, sem ultrapassar a t axa . de franqueza assimi lável pelo seu pú­b lico de leitores executivos, o relató­rio mostra que, nas principais classes de consumo urbanas, a mulher anda bastante cheia do velho modelo de subserviência evocado na expressão "dona-de-casa". Nesse sentido, é ' meio cômico que o título escolh ido para essa edição seja a negação mais frontal de uma das conclusões mais significativas, q ue está à página 7:

1

"As expressões 'dona-de-casa' ou 'prendas domésticas' provocam ver­

d~deira revolta. Sugerem um atestado de incapacidade profissional, de des­preparo para a vida fora de casa, à mulher que se dedica exclusivamente a um monót ono trabalho caseiro e

charges, como a da página 24, que mostra uma mulher "robotizada", ou totalmente induzida pela mídia de TV, contraria o crivo severo sob o qual elas julgam a publicidade, segun­do consta do próprio texto. Esses in­dícios sugerem que no preparo da edição operaram preconceitos mais arraigados.

A Me Cann ouviu 1.080 mulheres casadas , d as classes A, 8 e. C de São Paulo e do Rio de J aneiro, falarem de como orga nizam e como encaram a atividade doméstica , e do que pen­sam acerca de uma série de itens rela­tivos à moral dominante, do lugar da mulher nessa moral, e outros tantos parâmetros que permitem situá-las numa escala de "modernidade" de comportamento. Do ângulo comer­cial , a impo rtânc ia dessa escala está na suposição de q ue não se pode ava­liar o potencial e as características do mercado, de uma série de bens de uso pessoa l e domést ico, sem associá-los às mudanças na d ivisão do trabalho de gestão do dom icílio e às demais transformações que desembocam na autono mização da mulher.

Mas não se infira da insatisfação da mulher casada , .despontada em q ueixas insistent es quanto à mo noto­nia e à desvalorização do t rabalho do­méstico , um estado avançado de libe­ração fem ini na. A autonomia e a in­dependência comumente afirmadas nas questões de opinião acerca do que a mulher deve ser desmentem-se b rutalmente - para consolo dos apo­ca lípticos - quando rebatidas à vida concreta que elas levam. Assim, é assombrosa a parcela das mul heres q ue ainda se confessam proibidas por

. seus maridos de: sair com amigos sem ele (70%), usar roupas " ext rava-·· gantes" (59%}, fum ar( !) (45%) e até mesmo- pasme o leitor- de estudar (18%). Aliás, fal tou perguntar se elas acatam tais proibições, para melhor regul ar o n ível de emancipação em curso . sso certamente tem a ver com o fato de que apenas 14% das mulhe­res dividem com o marido as despesas d.e manutenção da casa, nas demais ele assegurando soberanamente o to­t al da receita e o seu reinadozinho

que carece de informações, de cont a- particular. tos, de interesses , enfim de desenvol- F icamos sabendo que as mulheres vimento pessoal." E mesmo algu mas são amplamente favoráveis ao traba-

Resenha bibliográfica

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