14
WFNEWS Informativo - William Freire Advogados Associados - Ano I - Edição 02 - Dezembro de 2013 O direito ao crédito de ICMS sobre energia elétrica no beneficiamento mineral. Página 3 Nova Lei Florestal de Minas Gerais se ajusta ao Código Florestal Brasileiro. Página 5 A prescrição nas ações de ressarcimento pela prática de lavra ilegal. Página 7 Comentários sobre a regulamentação pelo ICMBio da compensação para a supressão de cavidades naturais de relevância alta. Página 9 A não incidência do ITR sobre as áreas de pesquisa e lavra mineral: recente decisão do TRF da 1ª Região. Página 11 A questionável legalidade do Termo de Compromisso proposto pelo DNPM como condicionante à outorga dos Alvarás de Pesquisa. Página 12

WFNEWS - williamfreire.com.br · Comentários sobre a regulamentação pelo ICMBio da compensação para a supressão de cavidades naturais de relevância alta. Página 9 A não incidência

Embed Size (px)

Citation preview

WFNEWS

Informativo - William Freire Advogados Associados - Ano I - Edição 02 - Dezembro de 2013

O direito ao crédito de ICMS sobre energia elétrica no beneficiamento mineral. Página 3

Nova Lei Florestal de Minas Gerais se ajusta ao Código Florestal Brasileiro. Página 5

A prescrição nas ações de ressarcimento pela prática de lavra ilegal. Página 7

Comentários sobre a regulamentação pelo ICMBio da compensação para a supressão de cavidades naturais de relevância alta. Página 9

A não incidência do ITR sobre as áreas de pesquisa e lavra mineral: recente decisão do TRF da 1ª Região. Página 11

A questionável legalidade do Termo de Compromisso proposto pelo DNPM como condicionante à outorga dos Alvarás de Pesquisa. Página 12

22

33

O DIREITO AO CRÉDITO DE ICMS SOBRE ENERGIA ELÉTRICA NO BENEFICIAMENTO MINERALEm setembro de 2013, o Estado de Minas Gerais editou a polêmica Instrução Normativa nº 3, que, dentre outros assuntos, vedou o aproveitamento de crédito de ICMS sobre a aquisição de energia elétrica empregada no beneficiamento mineral (exceção feita apenas aos produtos exportados, na sua proporção).

O relevante impacto desta norma para as mineradoras foi severamente agravado por se ter atribuído a ela efeitos retroativos (em virtude do seu suposto caráter interpretativo). Com isso, o Fisco Estadual teria base legal para estornar os créditos sobre energia elétrica escriturados nos últimos cinco anos.

A Lei Kandir (LC nº 87/96), alterada pela LC nº 102/2000, dispõe ser permitido o aproveitamento de crédito de ICMS na aquisição de energia elétrica, quando consumida em processo de industrialização ou na proporção das exportações. Daí que o fundamento utilizado pelo Estado de Minas Gerais para introduzir a vedação ao crédito sobre energia elétrica no beneficiamento mineral tenha sido uma equivocada conceituação de produto primário, incluindo-se neste conceito produtos minerais que tenham sido submetidos a processos de beneficiamento. É que, segundo a IN nº 3, o que caracterizaria um produto primário seria a sua não inclusão no campo de incidência do IPI, condição esta que seria verificada tão somente pela notação “NT” na TIPI.

Em 13 de novembro, foi editada a IN nº 4, que revogou a IN nº 3, alterando de forma substancial as suas disposições, inclusive com efeitos retroativos. Em sua parte introdutória, foi expressamente revogado o conceito de produto primário utilizado pela IN nº 3, qual seja, todo produto com notação “NT” na TIPI. Isso sob o correto fundamento de que haveria produtos minerais industrializados, em relação aos quais o IPI não incidiria em virtude da imunidade prevista no art. 155, §3º da CR/88 (imunidade sobre operação com minerais).

Diante disso, o art. 2º da nova Instrução Normativa determinou ser vedado o aproveitamento do crédito de ICMS “Nas atividades de [...] extração mineral e nas atividades a elas complementares não caracterizadas como industriais”, salvo na produção destinada ao exterior. Considerando que a IN nº 4 não trouxe o conceito de produto primário – como fizera a IN nº 3 –, o direito ao crédito de ICMS sobre energia elétrica depende da interpretação da expressão “não caracterizadas como industriais”, acima destacada.

Dessa forma, deve-se interpretar a nova Instrução Normativa no sentido de que, sendo beneficiamento uma atividade industrial, nos termos da legislação do IPI, a energia empregada na produção do minério beneficiado enseja direito a crédito do ICMS. Porém, este ponto deve gerar dúvidas por parte do Estado, que deverá se

4

pronunciar sobre o assunto em sede de Consultas de Contribuintes ou, eventualmente, outro ato normativo.

Eventual interpretação por parte do Estado de Minas Gerais acerca da IN nº 4 que mantenha a restrição ao crédito de ICMS introduzida pela IN nº 3 será ilegal, passível de questionamento tanto na esfera judicial como na administrativa – já que o direito ao crédito decorre da própria IN nº 4, se interpretada corretamente.

Em primeiro lugar, o STJ possui o entendimento de que o conceito de “industrialização”, para fins de crédito de ICMS sobre energia elétrica, deve ser identificado no art. 46, parágrafo único, do CTN e no Regulamento do IPI (Decreto nº 7.212/2010). Esta posição foi verificada no julgamento do Recurso Especial nº 1.117.139/RJ, de 18.02.2010, sob o rito dos recursos repetitivos: “O parágrafo único, do artigo 46, do CTN, ao versar sobre o IPI, considera industrializado o produto que tenha sido submetido a qualquer operação que lhe modifique a natureza ou a finalidade, ou o aperfeiçoe para o consumo”.

Nesse contexto, sendo beneficiamento a operação industrial que importa “modificar, aperfeiçoar ou, de qualquer forma, alterar o funcionamento, a utilização, o acabamento ou a aparência do produto”, nos termos do art. 4º, II do RIPI e não havendo nenhuma restrição a esse conceito, no que tange ao beneficiamento mineral (art. 5º do RIPI), resta nítido que essa operação é industrial e, assim sendo, permite o aproveitamento de crédito de ICMS sobre a energia elétrica nele empregada.

A orientação acima foi, inclusive, reproduzida no Regulamento do ICMS de Minas Gerais (Decreto nº 43.080/2002), conforme dispõe o seu art. 222, II, b.

Em segundo lugar, o Conselho de Contribuintes de Minas Gerais tradicionalmente admite o aproveitamento de créditos de ICMS no processo produtivo da mineração – tal como descrito na IN nº 1/2001 (cuja revogação foi operada pela IN nº 2/2013, não sem controvérsia, dado o efeito retroativo das IN’s nos 3 e 4, que sucederam a IN nº 2).

É o que se vê, por exemplo, no acórdão de nº 3.784/11/CE: “a entrada de energia elétrica no estabelecimento somente gera direito a créditos de ICMS se for consumida no processo

produtivo da mineração (no processo de industrialização), isto é: no desmonte, na movimentação de material entre o desmonte e o beneficiamento, no beneficiamento,

na movimentação de material entre o beneficiamento e a estocagem e na própria estocagem”. O mesmo se verifica nos acórdãos n nos 4.020/13/CE, 19.368/09/3ª

e 18.374/07/1ª. Em todos estes casos, o próprio Fisco admitiu o crédito sobre a aquisição de energia elétrica empregada no processo produtivo (desde a

extração até a estocagem), glosando os créditos relativos à energia que teria sido utilizada fora do processo produtivo, sendo este o objeto das

discussões administrativas encontradas no Conselho de Contribuintes.

Por tais razões, os contribuintes mineiros possuem sólidos fundamentos para questionar eventual interpretação restritiva

por parte do Estado de Minas Gerais, no que tange ao aproveitamento de créditos de ICMS sobre a aquisição

de energia elétrica.

Paulo Honório de Castro Júnior

5

NOVA LEI FLORESTAL DE MINAS GERAIS SE AJUSTA AO CÓDIGO FLORESTAL BRASILEIROA Lei Florestal do Estado de Minas Gerais, que dispõe acerca das políticas florestal e de proteção à biodiversidade no Estado, foi editada em 16/10/2013. A Lei nº 20.922/2013 revoga a Lei Estadual nº 14.309/2002, adequando a política florestal estadual à nacional, estabelecida pelo novo Código Florestal Brasileiro, a qual não vinha sendo aplicada em Minas Gerais.

A nova política florestal e de biodiversidade teve seus objetivos ampliados, abrangendo, entre outros, o desenvolvimento de estratégias de efetivação da conservação da biodiversidade, como o pagamento por serviços ambientais e utilização de sistemas agroflorestais; e o fomento à formação de corredores ecológicos.

Alterações relevantes foram percebidas na delimitação das áreas de preservação permanente (APP), com a exclusão da limitação sobre as faixas marginais de cursos d’água efêmeros, mantendo-se a disposição da lei anterior, no que tange aos cursos d’água naturais perenes e intermitentes. Foi igualmente excluída a proteção conferida às áreas no entorno de nascentes intermitentes. Quanto aos reservatórios artificiais, estes terão suas faixas de APP definidas no licenciamento ambiental, e não mais de acordo com as faixas preestabelecidas pela lei anterior.

66

Quanto ao regime de proteção das APPs, o novo Código Estadual exige expressamente a manutenção de vegetação de APP pelo proprietário da área, possuidor ou ocupante a qualquer título, sendo este pessoa jurídica, de direito público ou privado. Ademais, a lei determina a recomposição de vegetação situada em APP que tenha sido suprimida, ressalvados os casos autorizados pelo órgão ambiental competente. A obrigação de recomposição de APP é transmitida ao sucessor, caso haja transferência de domínio ou da posse do imóvel rural, situação que já havia sido pacificada pelos Tribunais do país.

As normas acerca de Reserva Legal (RL) também foram objeto de alterações. No que tange ao parcelamento de imóvel rural, por qualquer motivo, a fixação de Reserva Legal levará em consideração a área do imóvel anterior ao parcelamento, e não mais será parcelada na proporção do desmembramento da área total, como no regime ora revogado. O registro de reserva legal foi adequado ao estabelecido pelo Código Florestal Nacional, devendo esta ser registrada no órgão ambiental competente, por meio de inscrição da propriedade ou posse rural no CAR.

Alteração interessante foi a previsão de que a ausência de registro da Reserva Legal não constitui óbice para realização de pesquisa mineral sem guia de utilização, quando o detentor da autorização de pesquisa não for proprietário da área, sem prejuízo da obrigação de recuperação da área degradada. A situação alterada pela norma constituía entrave significativo na realização de pesquisas minerais, quando estas precisavam ser licenciadas pelo órgão ambiental.

As modificações introduzidas pela edição da Lei nº 20.922/2013 visam solucionar os impasses ocasionados pela publicação do Novo Código Florestal Brasileiro, buscando compatibilizar o regime estadual com o nacional, vez que este não vinha sendo aplicado em Minas Gerais, em decorrência da incompatibilidade da Lei Estadual nº 14.309/2002 com a política nacional.

Marcelo Azevedo e Luísa Santos Sette Câmara Moreira

77

A PRESCRIÇÃO NAS AÇÕES DE RESSARCIMENTO PELA PRÁTICA DE LAVRA ILEGALA prática da lavra ilegal origina consequências em diversos níveis e gera a responsabilização nos campos civil, penal e administrativo.

Nos últimos cinco anos, houve um crescimento substancial do número de ações civis públicas ajuizadas pela União com o objetivo de responsabilizar civilmente os mineradores que praticam atividade de lavra sem o respectivo título autorizativo. Uma das discussões mais relevantes neste tipo de ação refere-se à ocorrência ou não da prescrição.

A Advocacia Geral da União defende a tese da imprescritibilidade das ações de ressarcimento ao erário. A fundamentação para esta interpretação encontraria amparo no art. 37, §5° da Constituição. Para a AGU, toda e qualquer ação de ressarcimento de danos causados ao erário estaria sujeita à imprescritibilidade.

A interpretação sistemática da Constituição, bem como a interpretação literal do disposto no art. 37, §5°, conduzem a um entendimento contrário ao da União, fazendo-nos crer que se deve aplicar a prescrição nestes casos.

Nossa Constituição é reconhecidamente calcada no princípio da segurança jurídica. Para garantir esta segurança, é preciso que as relações jurídicas sejam estáveis, ou seja, é inviável, como defende a União, permitir que as pretensões indenizatórias sejam cobradas judicialmente sem limites temporais.

Para garantir esta estabilidade e segurança jurídica, o ordenamento estabeleceu como regra a prescrição. Somente em casos excepcionais e expressos na legislação é que se admite a imprescritibilidade. Para fins exemplificativos, são casos de imprescritibilidade expressos na Constituição o crime de racismo e a ação de grupos armados contra a ordem constitucional. Ou seja, situações que o constituinte estabeleceu como de altíssima gravidade. Certamente não é esse o caso das ações pecuniárias de ressarcimento ao erário.

8

Voltando ao citado art. 37, §5º, este não prevê expressamente a imprescritibilidade. Por sua leitura, o que se pode entender é que as ações de ressarcimento ao erário não estariam sujeitas ao prazo prescricional estabelecido na Lei de Improbidade Administrativa. Se não há previsão expressa de imprescritibilidade, não pode o operador do Direito simplesmente aplicar uma interpretação extensiva, sob pena de incorrer em desrespeito ao princípio constitucional da segurança jurídica.

Se inexiste na legislação pátria uma norma que estabeleça o prazo prescricional das ações de ressarcimento ao erário, a sua definição pode se dar por meio de duas teses atualmente defendidas pela doutrina.

A primeira aplica a prescrição estabelecida no Código Civil para as ações de ressarcimento por enriquecimento ilícito. Segundo o art. 206, § 3°, IV do Código Civil, este tipo de pretensão prescreve em três anos. Sua utilização se justifica na medida em que a pretensão da União possuiria típica natureza cível e, como não existe norma especial que regule a matéria, o prazo prescricional contra a Administração seria o estabelecido no Código Civil.

A segunda tese é aplicável caso se entenda não ser possível a incidência do Código Civil. Diante da ausência de norma estabelecendo o prazo prescricional, estaríamos diante de clara situação de lacuna normativa que dever ser preenchida com a utilização da analogia.

A doutrina tem se utilizado do Decreto 20.910/1932 ou da Lei 4.717/65 para suprir a lacuna existente. A aplicação do Decreto 20.910/32 se justifica pela aplicação analógica do mesmo prazo (cinco anos) que o ente público aproveita quando figura no polo passivo das demandas ajuizadas pelo administrado. Quanto à incidência da prescrição quinquenal da Lei 4.717/65 (Lei da Ação Popular), mostra-se razoável sua aplicação na medida em que a ação popular, bem como a ação civil pública, prestam-se à tutela dos interesses difusos.

Corroborando a tese da aplicação analógica da Lei 4.717/65, foi prolatada recentemente uma decisão aplicando a prescrição de cinco anos estabelecida neste diploma legal para as ações que buscam o ressarcimento do erário, em virtude da prática de lavra ilegal. Esta decisão foi proferida pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região, quando do julgamento da Apelação nº 5011508-06.2010.404.7000/

PR.

Nos termos do voto do Relator, Desembargador Fernando Quadros da Silva, abalizado pelos argumentos utilizados pelo Juízo de primeiro grau ao proferir a sentença, a prescrição

quinquenal é, de fato, aplicável às pretensões indenizatórias decorrentes de usurpação do patrimônio mineral, valendo-se de uma interpretação restritiva do art. 37, §5º da

Constituição, e da aplicação analógica do prazo quinquenal previsto no art. 21 da Lei nº 4.717/65.

Nesta esteira, o próprio Superior Tribunal de Justiça já se posicionou, em sede dos Embargos de Divergência em Recurso Especial nº 662.844/SP, para

admitir a aplicação do prazo prescricional quinquenal nas pretensões de ressarcimento ao erário não decorrentes de atos de improbidade

administrativa, firmando, também, um importante precedente contrário à tese da imprescritibilidade, defendida pela União.

Tiago de Mattos e André Dequech de Carvalho

9

COMENTÁRIOS SOBRE A REGULAMENTAÇÃO PELO ICMBIO DA COMPENSAÇÃO PARA A SUPRESSÃO DE CAVIDADES NATURAIS DE RELEVÂNCIA ALTADe acordo com o Decreto Federal nº. 99.556/1990, alterado pelo Decreto Federal nº. 6.640/2008, as cavidades naturais classificadas como de relevância alta poderão sofrer impactos irreversíveis, desde que o empreendedor adote, no processo de licenciamento ambiental, medidas e ações para assegurar, em caráter permanente, a preservação de duas cavidades naturais subterrâneas de relevância alta, com atributos similares à cavidade que sofrerá o impacto.

No parágrafo 3º de seu artigo 4º, o Decreto possibilita a adoção de outras medidas compensatórias, caso não existam, na área do empreendimento, outras cavidades representativas.

Com o intuito de regulamentar o procedimento de compensação alternativa, prevista no §3º, o ICMBio editou a Instrução Normativa nº 30, de 19 de setembro de 2012.

As alternativas previstas na norma são definidas em ordem de prioridade e são enumeradas taxativamente no artigo 4º:

I - Criação de Reserva Particular do Patrimônio Natural, em área de propriedade do empreendedor, que tenha como objetivo principal a proteção do patrimônio espeleológico;

II - Criação de unidade de conservação de proteção integral com o objetivo

1010

principal de proteger o patrimônio espeleológico, incluindo a elaboração dos estudos necessários, bem como a aquisição e a doação ao Instituto Chico Mendes das propriedades localizadas na área proposta para a unidade;

III - Regularização fundiária e demarcação de áreas de ocorrência do patrimônio espeleológico em unidades de conservação.

O §4º do artigo 4º da Instrução Normativa nº 30/2012 estabeleceu que “as propostas de compensação espeleológica deverão estabelecer comparação entre as cavernas impactadas e aquelas a serem preservadas em caráter permanente, assim como apresentar o ganho ambiental da proposta para a proteção do patrimônio espeleológico e biodiversidade associada”.

Dessa forma, diante da inexistência de ganho ambiental, ou na impossibilidade fática de cumprimento da primeira proposta (criação de RPPN), possibilitar-se-á a efetivação da segunda hipótese (financiar a criação de UCPI), bem como diante da inviabilidade das duas hipóteses, possibilitar-se-á a efetivação da terceira (financiar a regularização fundiária de UC existente).

A alteração desta ordem de prioridade é de competência do ICMBio, observado o caso concreto e a melhor forma de proteger o patrimônio espeleológico.

Para a inversão da ordem de prioridade, caberá ao empreendedor demonstrar ao ICMBio que a modalidade de compensação subsequente é mais protetiva ao patrimônio espeleológico que a antecedente. De qualquer forma, caberá ao ICMBio a definição de qual proposta pode ser considerada mais protetiva.

A Instrução Normativa nº 30/2012 não estabeleceu critérios concretos para que o ICMBio aprove a inversão da ordem de prioridade, o que resultará, na maioria dos casos, limitar a compensação à criação de RPPN com o fim de preservar o patrimônio espeleológico pelo empreendedor. Apesar de a norma definir que os critérios de compensação serão definidos em comum acordo, a não concordância com os termos apresentados pelo ICMBio poderá levar à rejeição da proposta de compensação.

O regulamento, também, não definiu critérios para se avaliar a dimensão ou amplitude de cada proposta de compensação apresentada. Por exemplo, não se apresentaram critérios para definir a extensão de eventual RPPN a ser criada, ou valor máximo de financiamento de medidas protetivas ao patrimônio espeleológico.

Ainda que critérios mais precisos venham a ser definidos, poderiam ser adotados, de lege ferenda, critérios que conjuguem, adicionalmente, o porte do empreendimento ou capacidade financeira do empreendedor, de modo a se permitir maior efetividade na proteção ambiental e segurança aos empreendedores.

Portanto, se, por um lado, é louvável que as formas de compensação tenham sido previamente definidas, evitando a adoção de compensações sociais que desvirtuam a necessidade de proteção ambiental, por outro, a regulamentação carece de objetivos mais claros sobre a equivalência entre o impacto causado e a compensação a ser adotada.

Marcelo Azevedo e Júlia Nogueira Saldanha

1111

A NÃO INCIDÊNCIA DO ITR SOBRE AS ÁREAS DE PESQUISA E LAVRA MINERAL: RECENTE DECISÃO DO TRF DA 1ª REGIÃOConsiderando que as atividades de pesquisa e lavra mineral ocorrem, preponderantemente, em áreas rurais, isso as sujeitaria, em tese, à incidência do Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural (“ITR”). Entretanto, há fundamentos jurídicos para afirmar que as áreas rurais destinadas à mineração sejam excluídas do cálculo do imposto, por serem legalmente qualificadas como inaproveitáveis para atividade rural.

Esse entendimento foi recentemente acolhido pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região, ao julgar a Apelação Cível nº 0022324-29.1999.4.01.3500: “os imóveis em tela são insuscetíveis de incidência do ITR, enquanto estiverem, em sua completude, sendo utilizados para produção mineral” (5ª Turma Suplementar, e-DJF1 p.324, de 23/10/2013).

Como se sabe, o ITR é calculado mediante a multiplicação do Valor da Terra Nua Tributável (“VTNt”), por uma alíquota determinada a partir do Grau de Utilização do Imóvel (“GU”). O VTNt é o resultado da multiplicação do Valor da Terra Nua pelo quociente entre a Área Tributável e a Área Total do imóvel. Já o GU é a relação percentual entre a Área Aproveitável do imóvel e a Área Efetivamente Utilizada.

Ocorre que as áreas afetadas a projetos de mineração são legalmente qualificadas como inaproveitáveis, razão pela qual não há a incidência do ITR nessa hipótese.

O artigo 8º do Decreto-lei nº 57/66 estabelece que, “para fins de cadastramento e lançamento do ITR, a área destinada à exploração mineral em um imóvel rural, será considerada como inaproveitável”. Já a Lei nº 8.629/1993 dispõe, em seu artigo 10, III, que “consideram-se inaproveitáveis as áreas sob efetiva exploração mineral”. E, de acordo com o artigo 10, §1º, IV, da Lei nº 9.393/96 considera-se “área aproveitável, a que for possível de exploração agrícola, pecuária, granjeira, aquícola ou florestal”.

Ou seja, em uma área rural 100% dedicada às atividades de pesquisa e/ou lavra mineral – área esta inaproveitável – não haverá Grau de Utilização do imóvel, impedindo a incidência do ITR.

O Conselho Administrativo de Recursos Fiscais – CARF, em algumas oportunidades, posicionou-se nesse sentido, ao analisar a questão. O Conselheiro Zenaldo Loibman, em 11/11/2007 (acórdãos nos 303-34.668 e 303-34.669), afirmou que a área de atividade mineral não é considerada no cálculo do Grau de Utilização, por ser inaproveitável: “É cediço que a área utilizada em mineração de superfície [...] pode e deve ser considerada inaproveitável no que tange às atividades rurais e por isso deve ser excluída do cálculo do grau de utilização da propriedade rural, e, portanto, tal área não sofre incidência do ITR” – (grifou-se).

O mesmo entendimento já havia sido manifestado pelo CARF no acórdão nº 303-33.596, em 18/10/2006: “a área utilizada em mineração de superfície deve ser considerada imprestável e passível de exclusão da base de cálculo do ITR”.

Ante o exposto, há subsídios na jurisprudência administrativa e relevante precedente do TRF da 1ª Região, para afirmar que as áreas destinadas à pesquisa e lavra mineral são legalmente qualificadas como inaproveitáveis, o que implica a inexistência de alíquota (Grau de Utilização) do ITR e, por consequência, a não incidência do imposto.

Paulo Honório de Castro Júnior e Pedro Lucas Debelli Marques

A QUESTIONÁVEL LEGALIDADE DO TERMO DE COMPROMISSO PROPOSTO PELO DNPM COMO CONDICIONANTE À OUTORGA DOS ALVARÁS DE PESQUISA

A partir de novembro de 2011, o Ministério de Minas e Energia e o Departamento Nacional de Produção Mineral suspenderam, informal e discricionariamente, a outorga de novos

direitos minerários. A outorga de Autorizações de Pesquisa, embora recentemente retomada pelo DNPM em casos excepcionais, foi condicionada à assinatura de um

Termo de Compromisso.

Apesar de aparentemente apenas repetir as regras que regulam as atividades de pesquisa, o Termo de Compromisso proposto pelo DNPM extrapola a

legislação, estabelecendo obrigações até então inexistentes.

As seguintes obrigações foram repetidas: (I) o minerador deve iniciar as atividades de pesquisa sessenta dias após publicação

do Alvará ou obtenção de decisão judicial para imissão na posse da superfície; (II) o minerador não pode interromper

as atividades de pesquisa por mais de três meses consecutivos ou cento e vinte acumulados e não

12

consecutivos; (III) a transferência de direitos minerários deve ser precedida de anuência do DNPM.

O Termo de Compromisso, por outro lado, inovou ao:

a. Condicionar a validade do Alvará de Pesquisa à irrestrita obediência ao Plano de Pesquisa aprovado pelo DNPM e, em especial, ao seu cronograma e previsão de desembolsos financeiros1.

b. Determinar que qualquer alteração das especificações e metas do Plano de Pesquisa deverá ser submetida à aprovação do DNPM que, estando de acordo, determinará a retificação do Alvará2.

c. Desvirtuar a figura do “abandono formal da pesquisa” para, como consequência, permitir a automática caducidade de qualquer Alvará de Pesquisa que não houver respeitado os prazos atualmente determinados pelo artigo 29 do Código de Mineração3.

d. Exigir uma concordância prévia ao prazo estabelecido no Alvará, não deixando claro de que forma e quais requisitos deverão ser observados pelo minerador para, se for o caso, requerer a renovação do prazo do Alvará de Pesquisa4.

Além de inovar, o Termo de Compromisso ainda condicionou a validade do Alvará de Pesquisa à obediência das novas regras que serão aplicadas após a eventual publicação do novo Marco Regulatório.

Entendemos que o Termo de Compromisso, por constituir uma norma regulamentar de Direito Minerário, de natureza infralegal, não pode criar direitos, obrigações, deveres e restrições que a legislação mineral não previu.

Registramos, ainda, que independentemente da abrangência da nova legislação, as regras básicas que disciplinam a aquisição, manutenção e perda (caducidade ou nulidade) dos Alvarás de Pesquisa, por fazerem parte do núcleo essencial do Direito Minerário, não poderão ser posteriormente suprimidas ou alteradas pelo Poder Concedente.

Conclui-se, portanto, que a legalidade do Termo de Compromisso, recentemente proposto pelo DNPM, é questionável, (I) seja por trazer obrigações não previstas na legislação mineral ou (II) por condicionar a validade do Alvará de Pesquisa às regras do novo Marco Regulatório da Mineração, abrindo margem para discussão de sua validade e eficácia perante o Poder Judiciário.

Tiago de Mattos e Bruno Freire Maia Rodrigues Costa

1 As regras atuais não autorizam a caducidade do Alvará de Pesquisa por desobediência, ainda que parcial, ao Plano de Pesquisa aprovado pelo DNPM.

2 Ao proceder assim, o DNPM dá interpretação extensiva ao artigo 24 do Código de Mineração e, como consequência, abre brecha para que a autarquia questione eventuais mudanças na execução da pesquisa, que são rotineiras neste tipo de trabalho.

3 O abandono formal, conforme reiteradamente afirmado pela Procuradoria Jurídica em exercício no DNPM e MME, somente poderá ser reconhecido se restar caracterizada a definitiva intenção de abandonar a área por parte do minerador. Além disso, a caducidade do Alvará de Pesquisa, tal como determinado pelo artigo 65, “b” do Código de Mineração, somente poderá ser decretada depois que o minerador for advertido e multado pelo descumprimento das regras estabelecidas pelo artigo 29, I e II do mesmo dispositivo legal.

4 As regras que atualmente disciplinam a renovação do prazo de qualquer Alvará de Pesquisa estão previstas no artigo 22, III do Código de Mineração, bastando que o minerador (I) requeira a prorrogação sessenta dias antes de expirar o prazo da autorização vigente e (II) instrua o pedido com um relatório dos trabalhos efetuados e uma justificativa para prosseguir com as atividades exploratórias.

13

COLABORARAM NESTA EDIÇÃO:André Dequech de Carvalho

Bruno Freire Maia Rodrigues Costa Júlia Nogueira Saldanha

Luísa Santos Sette Câmara Moreira Marcelo Azevedo

Patrícia Mendanha Dias Paulo Honório de Castro Júnior

Pedro Lucas Debelli Marques Tiago de Mattos

William Freire

BELO HORIZONTE - MG

Rua Paraíba, 476 4º andar

Edifício Monthélie Savassi CEP 30130-140

Tel: (31) 3261 7747 Fax: (31) 3261 6745

BRASÍLIA - DF

SCN-Q2 Bloco A 5º andar

Ed. Corporate Financial Center CEP 70712-900

Tel: (61) 3329 6099 Fax: (61) 3329 6199

WILLIAM FREIRE ADVOGADOS ASSOCIADOS