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Danilo Fernandes Marques Jeferson Luiz Butinhão de Oliveira Ricardo Fernando Lopes Willkison Douglas de Lima Oliveira BIOCIMENTO Trabalho apresentado ao Conselho Regional de Química IV Região como parte dos requisitos exigidos para concorrer ao Prêmio CRQ-IV de 2013. Orientadora: Esp. Erica Gayego Bello Figueiredo Bortolotti Campinas-SP 201

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Danilo Fernandes Marques

Jeferson Luiz Butinhão de Oliveira

Ricardo Fernando Lopes

Willkison Douglas de Lima Oliveira

BIOCIMENTO

Trabalho apresentado ao Conselho Regional de

Química – IV Região como parte dos requisitos

exigidos para concorrer ao Prêmio CRQ-IV de

2013.

Orientadora: Esp. Erica Gayego Bello Figueiredo Bortolotti

Campinas-SP

201

2

Resumo

Com o crescimento no ramo da construção civil e o desenvolvimento socioeconômico, que

vem melhorando a expectativa de vida do brasileiro, surgem dois problemas: o primeiro é o

consumo dos recursos naturais e energia para produção do cimento, o principal produto da

construção civil, e o segundo é o lodo, um resíduo gerado nas estações de tratamento de

esgoto, que vem aumentando devido aos municípios procurarem se adequar a Lei Federal

12.305/2010, que proibirá a disposição de lodo em aterros a partir de 2014. Em contrapartida

o estudo realizado apresenta uma alternativa, dentre várias existentes, que é possível a

redução do uso do cimento nas construções e a diminuição dos impactos ambientais causados

pela disposição final do lodo em aterros sanitários. Na pesquisa foi desenvolvido um produto

resistente para ser utilizado em substituição parcial ao cimento. O produto se originou das

incorporações da baba de cupim, cinzas de lodo e argila, chamado de Biocimento. O

Biocimento apresentou microporosidade quando submetido a 24 horas de submersão em água

e apresentou resistência a 172,36 kg postos sob o corpo de prova. Todos os testes formam

baseados na permacultura, que utiliza técnicas “naturais” para suas construções. A pesquisa

também determinou que nas cinzas de lodo, o teor de Fe3+

, foi de 91,69%, resultado relevante

quando se pensa em entulhos, já que solos inférteis necessitam de alguns minerais para sua

remediação e o ferro é um deles. A pesquisa também mostra que o melhor balanceamento

para a fabricação do biocimento foi de 60% de argila, 35% de baba de cupim e 5% de cinzas

de lodo. Balanceamentos com percentuais maiores de cinzas de lodo não se mostraram

viváveis, pois diminuíram a resistência do material.

PALAVRAS-CHAVE: permacultura; cimento ecológico; biocimento; cinza de lodo;

resíduos.

3

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................. 4

2. PESQUISA BIBLIOGRÁFICA...................................................................................................... 5

3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .................................................................................................13

3.1 RESÍDUOS SÓLIDOS ............................................................................................................13

3.2 PROCESSO DE FABRICAÇÃO DO CIMENTO PORTLAND ..............................................17

3.3 SISTEMA DE TRATAMENTO DE ESGOTO SANITÁRIO ..................................................35

3.4 Argila ......................................................................................................................................60

3.5 Baba de Cupim ........................................................................................................................67

3.6 Permacultura ...........................................................................................................................67

3.7 Adobe .....................................................................................................................................74

3.8 Solo Cimento ..........................................................................................................................80

4. RELEVÂNCIA DO TRABALHO .................................................................................................85

5. HIPÓTESE ...................................................................................................................................85

6. OBJETIVOS .................................................................................................................................85

7. MATERIAIS E MÉTODOS ..........................................................................................................86

8. CUSTOS.......................................................................................................................................94

9. CRONOGRAMA ..........................................................................................................................94

10. RESULTADOS E DISCUSSÕES ...............................................................................................96

11. CONCLUSÕES ........................................................................................................................ 125

12. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................................... 126

4

1. INTRODUÇÃO

A população mundial passou de 7 bilhões em 2011 e a cada ano, esse número vem

aumentando. Essa população está espalhada pelos cinco continentes, onde a minoria pertence

aos chamados países desenvolvidos e a maioria pertence aos países em desenvolvimento ou

subdesenvolvidos. Em decorrência das altas taxas de crescimento populacional, que hoje

somente ocorrem nos países menos desenvolvidos, essa situação de desequilíbrio tende a se

agravar ainda mais [1].

Um casal que tenha cinco filhos, os quais, por sua vez, tenham cinco filhos cada um,

representa, a partir de duas pessoas, uma população familiar de 25 pessoas em duas gerações.

Esse fenômeno vem ocorrendo mundialmente desde meados do século XIX, com a Revolução

Industrial. A partir dessa revolução, a tecnologia proporcionou uma redução da taxa bruta de

mortalidade, responsável pelo aumento da taxa de crescimento populacional anual, apesar de

a taxa de natalidade estar se reduzindo desde aquela época até os dias atuais.

A taxa mundial bruta de natalidade, em 2005, era 2,3 vezes maior que a taxa mundial

bruta de mortalidade. Com essa diferença, seria necessário somente um dia para repor os 200

mil mortos do maremoto de 1970, no Paquistão, quatro dias para repor os 900 mil mortos da

grande cheia de 1987 no Rio Huang, na China, e pouco mais de 12 meses para repor os 75

milhões de mortos vítimas da peste bubônica que assolou a Europa entre 1347 e 1351 [1].

O fato de não se ter levado em conta o meio ambiente nas últimas décadas gerou-se

grandes impactos ambientais, devido à sua exploração, processamento e utilização.

Como resultado do modelo econômico e da sociedade de consumo, tem-se a excessiva

geração de resíduos e poluição. Os efeitos da poluição podem ter caráter localizado, regional

ou global. Os mais conhecidos e perceptíveis são os efeitos locais ou regionais, os quais, em

geral, ocorrem em áreas de grande densidade populacional ou atividade industrial,

correspondendo às aglomerações urbanas em todo o planeta, que floresceram com a

Revolução Industrial.

Diante desses fatos, urge a necessidade do desenvolvimento de tecnologias para um

melhor aproveitamento e uma significativa redução de poluição. Urge a necessidade de

criação de métodos mais eficientes de educação ambiental para essa enorme população.

Impossível? Não. Basta apenas um maior interesse pelas gerações futuras. Basta apenas um

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maior interesse pela sustentabilidade. Um interesse real pelo Planeta Terra e não apenas

interesses políticos e econômicos.

Com esse propósito se desenvolveu esse projeto, onde será apresentada uma

alternativa para a de redução do consumo dos recursos naturais e reaproveitamento de

resíduos. A proposta é a incorporação das cinzas de lodo e da baba de cupim à argila, onde,

acredita-se formar um novo produto resistente, com a possibilidade de substituir ou reduzir o

uso do cimento., que é um material de grande impacto no ambiente.

O projeto visa desenvolver esse biocimento utilizando as técnicas propostas pela

Permacultura, pois são viáveis, apresenta baixo custo e baixo impacto ambiental.

2. PESQUISA BIBLIOGRÁFICA

2.1 USO DE PÓ DE CASCA DE COCO VERDE NO CIMENTO [2]

Entre 80% a 85% do peso bruto do coco verde que é processada em uma indústria de

água de coco representa lixo. Este material é enviado para lixões e aterros sanitários. Esse

problema se agrava principalmente, nos grandes centros urbanos onde esse material é de

difícil descarte, sendo enviado para lixões e aterros sanitários. Apesar de levar entre 8 a 12

anos para se decompor, o desenvolvimento de técnicas de reciclagem para o produto não é

menos importante, principalmente levando em conta que para cada 250 ml de água de coco 1

quilo de resíduo é gerado.

A reciclagem e o aproveitamento de resíduos sólidos como materiais para a construção

civil são de fundamental importância para o controle e minimização dos impactos ambientais.

O objetivo é avaliar preliminarmente a utilização do pó de coco verde em pastas cimentícias.

Com a finalidade de verificar a possibilidade de usar o pó de coco como substituinte de parte

do cimento Portland foram confeccionados corpos de prova nas seguintes proporções: 100%

de cimento, 50% de cimento + 50% de pó de coco, 75% de cimento + 25% de pó de coco e

87,5% de cimento + 12,5% de pó de coco utilizando-se cimento Portland do tipo CPIII_32RS.

Inicialmente misturou-se o cimento e o pó de coco, sendo homogeneizado

manualmente, posteriormente foi adicionada a água de amassamento. Foram preparados seis

corpos de prova para cada uma das misturas. A moldagem foi feita utilizando uma forma

cilíndrica de 10 cm de altura e 5 cm de diâmetro. A relação água/cimento em torno de 0,5 foi

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necessária para garantir a homogeneidade dos compostos durante a mistura em decorrência da

grande quantidade de pó empregada e da sua elevada absorção. Após 24h os corpos de prova

foram desenformados e levados a uma câmara úmida permanecendo por 28 dias.

Medidas da resistência à compressão e a porosidade foram realizados aos 28 dias,

período mais utilizado para trabalhos na área de cimento. O valor da resistência à compressão

para a pasta 100% cimento ficou em torno do valor informado pelo fabricante (32mpa).

Observou-se para as misturas com 50% e 25% de pó de coco uma diminuição da resistência à

compressão em relação à mistura de 100%cimento (branco) sendo a maior perda observada

para a mistura com 50% de pó de coco. Analisando-se a porosidade dos corpos de prova

verifica-se que há um aumento à medida que o teor de pó de coco aumenta na mistura. Esta

porosidade é decorrente da elevada relação água cimento na mistura em virtude do filme de

água que se forma em torno do pó de coco verde. A análise por microscopia eletrônica de

varredura mostrou a presença de uma maior quantidade de poros e a existência de poros de ar

incorporados nos corpos de prova com maiores teores de pó de coco justificando os resultados

encontrados no ensaio de resistência à compressão.

2.2 CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA DISPOSIÇÃO FINAL E

APROVEITAMENTO DA CINZA DE LODO DE ESTAÇÕES DE

TRATAMENTO DE ESGOTOS SANITÁRIOS COMO ADIÇÃO AO

CONCRETO [3]

2.2.1 Introdução

A Engenharia Civil é um ramo de atividade tecnológica que tem um alto volume de

recursos naturais consumidos. Pensando nisso, parece ser também, a mais indicada para

absorver resíduos para seu desenvolvimento. Prova disso é o aproveitamento das escórias

siderúrgicas, das cinzas de termoelétricas, da sílica residual da produção de ferrosilício, das

cinzas de casca de arroz, dos resíduos da produção de solados de calçados, das fibras de sisal

e de coco. Estes materiais têm sido particularmente aproveitados como insumo para a

fabricação de materiais de construção.

O Lodo Sanitário, resíduo de uma estação de tratamento de esgoto, surge como um

potencial insumo para o aproveitamento em fabricação de materiais de construção. Tanto que

já existem estudos realizados quanto ao seu uso na produção de blocos cerâmicos, concretos

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asfálticos e concretos com cimento Portland.

O concreto, por exemplo, tem sido escolhido para receber vários destes resíduos, por

ser um material no qual já são tradicionalmente adicionados escória de alto-forno, cinza

volante, sílica ativa, pós de calcário, entre outros.

Além disso, também dentro da Indústria da Construção, a produção de cimento e de

concreto, devido aos elevados volumes, tem sido um grande consumidor de resíduos,

cumprindo o seu papel de neutralizar materiais que, se ficassem na natureza, seriam nocivos.

A utilização do Lodo Sanitário diretamente esbarra na constituição deste resíduo, que

é basicamente formada por matéria orgânica e água. Porém tem se associado à tendência desta

utilização o fato de que cada vez mais os Lodos vêm sendo incinerados, após serem gerados,

como forma de reduzir seus volumes e gerar energia. O resíduo a ser disposto passa a ser não

mais o Lodo orgânico, mas sim as cinzas obtidas nos processos de incineração.

A busca então é enfocar o aproveitamento, na Indústria da Construção, dos Lodos

gerados na cidade de Porto Alegre, que tem sido uma das alternativas propostas para a

disposição final destes resíduos, principalmente devido ao grande potencial que esta indústria

possui no aproveitamento de subprodutos. Aborda-se, especificamente, uma das

possibilidades de aproveitamento das Cinzas de Lodo Sanitário na Indústria da Construção

Civil: como insumo na produção de concretos. Por fim, analisar os seguintes aspectos: o

concreto como local de disposição final segura das cinzas de Lodo e os efeitos que a adição de

diferentes percentuais de cinzas pode causar no desempenho deste material.

2.2.2 Cinza de lodo de estações de tratamento de esgotos sanitários como adição ao

concreto

No ensaio das cinzas a 550°C mostrou ser um material com baixa reatividade, com

índice de atividade pozolânica de 58%. Isto pode estar associado à temperatura de queima ou

à dimensão das partículas comparadas a outras adições pozolânicas usuais ao cimento.

O uso do lodo de ETE em aterros ou como adubo, pode elevar as concentrações de

metais pesados nos solos, precisando o lodo estar estabilizado/digerido para sua disposição. A

utilização do lodo de ETE na construção civil surgiu da dificuldade que as grandes cidades

passaram a enfrentar em dar um destino final aos lodos gerados.

A solidificação, o encapsulamento e a estabilização de resíduos industriais, utilizados

na produção de cimentos e tijolos, viabilizam o seu uso sem restrições no tijolo, pois os

metais pesados presentes, devido o uso do calor, passaram para forma menos solúvel e foram

fixados nas matrizes, segundo ensaios realizados por Costa e Ferreira (1.986).

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Seu aproveitamento, como insumo, nas indústrias de cimento ou cerâmica, tende a

estabelecer segurança na sua utilização e não impactar o meio ambiente.

Substituições do cimento pelas cinzas do lodo em 20% quando lixiviado, não mostrou

alterações no padrão de potabilidade.

As cinzas adicionais às argilas, na produção de tijolos, numa proporção de até 50%,

tiveram ótimos resultados, porém estudos técnicos - econômicos e ambientais, ainda precisam

ser realizados para que a alternativa seja definitivamente aceita.

2.3 AVALIAÇÃO DAS POTENCIALIDADES DA CINZA DE LODO DE

ESGOTO DA ETE GOIÂNA COMO ADIÇÃO MINERAL NA

PRODUÇÃO DE ARGAMASSA DE CIMENTO PORTLAND[4]

2.3.1 Introdução

O lodo de esgoto, Cinza de Lodo de Esgoto, ambientalmente foi classificada como

resíduo não inerte. Realizaram-se três tipos de dosagens de argamassas onde se variou a

relação água/cimento: 0,40%, 0,60% e 0,80% e os porcentuais de adição de cinza de lodo de

esgoto quanto ao cimento: 5%, 10%, 15% e 20%. Moldaram-se 135 corpos de provas onde foi

avaliado a profundidade de carbonatação, resistência para a compressão e absorção por

imersão e fervura. Foi verificado que com o uso da Cinza de Lodo de Esgoto nos teores de 5%

a 10% em substituição ao cimento na argamassa de concreto, atinge valores próximos às

resistências relativas das argamassas de referência, ou seja, sem adição nenhuma, que pode

ser aproveitado em construções civis. Foram apontados três fatores como significantes para

que possa ser aproveitado esse tipo de resíduo: Relação água/aglomerante, a idade dos corpos

de provas e teores de adição de cinza de lodo de esgoto. A adição de Cinza de Lodo de Esgoto

em até 10% em substituição ao cimento na argamassa é viável, trazendo alguns benefícios

como, ecológicos, técnicos e até podendo ser econômicos.

O gerenciamento do lodo é uma atividade de alto custo e muito complexa, que se for

feita de qualquer jeito, de um modo errado, pode-se comprometer benefícios ambientais e

sanitários esperados.

O termo lodo tem sido utilizado para designar-se os subprodutos sólidos no tratamento

de esgotos. Todos os processos de tratamento biológico geram lodo, sendo necessário o

tratamento e o descarte do mesmo.

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Quanto à classificação do lodo podem ser classificados em até quatro tipos: lodos

primários, lodos biológicos ou secundários, lodos mistos e lodos químicos. Quanto ao seu teor

de umidade, o lodo também é classificado em quatro grupos, sendo eles, o lodo “in natura”, o

parcialmente desidratado, o lodo seco e o lodo incinerado.

O lodo “in natura” é aquele retirado logo após o processo de tratamento de esgoto e

apresenta um teor de umidade em torno de 98%, ou seja, contém uma forma praticamente

liquida, com cerca de 98% a 99% de água.

O lodo parcialmente desidratado é aquele que passa pelo processo de desidratação.

Nesta fase ele contém uma aparência de material seco, mas ainda apresenta um teor de

umidade elevado, entre 30% a 50%.

O lodo seco é formado por mais de 99% de sólidos, o qual somente pode ser obtido

através do processo de secagem artificial feito por estufas.

O lodo incinerado é a cinza resultante do processo de incineração tanto do lodo seco

como do lodo desidratado, que normalmente ocorre nas temperaturas entre 550ºC e 950ºC.

Podendo ser denominada também como Cinza de Lodo.

2.3.2 Lodos de Esgotos como Insumo na Construção Civil

A necessidade de se obter um destino adequado e segura lodo do esgoto, somada a

falta de espaço nos aterros sanitários para a disposição de resíduo e ainda a perspectiva do

crescimento das ETE’s e consequentemente o aumento do lodo de esgoto, com isso

impulsionou vários estudos para a viabilização do uso do lodo de esgoto como insumo na

construção civil.

Estudo vem mostrando que na construção civil há um potencial de incorporar resíduos

de ETE’s em argamassas e concretos na forma de cimento composto, aditivos minerais como

filer, em tijolos e pisos cerâmicos.

Os benefícios do uso de adições minerais no cimento ou em concretos podem ser

divididos em três categorias: benefícios econômicos, benefícios ecológicos e benefícios de

engenharia.

A incorporação do lodo de esgoto em matrizes de concreto pode ser uma forma viável

de destinação fina, pois além de reduzir significantemente os impactos ambientais pela

minimização de quantidade de recursos naturais utilizados, evita a pressão sobre os aterros

sanitários ou o seu lançamento no rio.

10

2.3.3 Utilização do Lodo como Adição Mineral

As adições minerais são de materiais silicosos finalmente moídos, no estado natural ou

como subprodutos, podendo ter reações pozolônicas ou cimentantes. Entretanto, ao pensar-se

no lodo, a hipótese de incineração, além de se tornar parte do processo de estabilização,

permite o uso do resíduo que é a Cinza de Lodo de Esgoto.

2.3.4 Concreto com Adição de Cinza de Lodo

Experiências foram realizadas com o objetivo do uso do lodo “in natura” no concreto,

mas descartaram devido à incompatibilidade química entre os compostos do concreto, suas

reações químicas e a matéria orgânica presente em grande quantidade no resíduo. Já para as

cinzas de lodo, alguns pesquisadores, após terem utilizado o resíduo na produção de tijolos,

realizaram experimentos com a utilização da cinza adicionada ao concreto.

Utilizou-se esse resíduo depois de incinerado a 550ºC em substituição parcial do

cimento na produção de concretos. A substituição teve um teor de 5% a 20%. Os resultados

mostraram que ao aumentar o teor de cinza de lodo no concreto, a resistência para a

compressão reduzi-se chegando a 32% em relação à mistura de referencia para a amostra com

20% de cinza. A adição de cinza de lodo reduziu a consistência para teores de adição de 5% e

10% e aumentou de 15% e 20% em relação ao concreto sem adição. Já os tempos de pega,

não foram significativas as diferenças entre o concreto sem adição e os com adição.

Em todas as idades ensaiadas a cinza de lodo promoveu quedas na resistência para a

compressão. Aos 28 dias, a adição de até 10% provocou quedas próximas a 11% na

resistência, o que é aceito para argamassas de concretos produzidas com adição de cinza de

lodo de esgoto. Em teores de adições superiores, as quedas de resistências foram bem

maiores, atingindo-se 33%.

Realizou-se ensaio de resistência para a compressão simples e de Abatimento de

Tronco Cone em concretos com adições de Cinza de Lodos sanitários. As amostras foram

incineradas a uma temperatura de 550ºC. Os pesquisadores ensaiaram dois concretos, dosados

em massa, com relações água/aglomerante de 0,50 e 0,30 variando o teor de adição entre 0% e

20%.

Nos dois experimentos, as tendências foram as mesmas quanto a relação entre as

consistências e o aumento do teor de adições.

Analisou-se diversos percentuais de adições de cinza de lodo de esgoto, substituindo,

11

em massa, 5%, 10%, 15% e 20% do cimento em concretos com diferentes relações

água/aglomerante (a/(c+ad)): 0,50; 0,65; 0,80; 0,95 e 1,10. As amostras de lodo foram

incineradas a uma temperatura de 800ºC.

O pesquisador concluiu que o efeito do teor de adição mostrou-se diferente a cada

relação a/(c+ad). A adição de cinza de lodo de esgoto nos concretos com a a/(c+ad) 0,50;

0,65; 0,80 gerou um efeito redutor relevante na resistência. No concreto com a/(c+ad) = 0,80

este efeito de redução foi mais moderado. Nos concretos de a/(c+ad) 0,95 e 1,10 ocorreu um

aumento de resistência.

De acordo com o autor, acredita-se que esta variação se deve ao fato de que nos

concretos com a menor a/(c+ad), que possui um maior consumo de cimento, a substituição de

um porcentual deste por um material fino, de baixa atividade pozolânica tenha sido decisiva

na queda de suas resistências.

2.3.5 Cimento feito de Lodo com Cal

Desenvolveram uma metodologia para a produção de um cimento feito de uma mistura

com cinza de lodo e cal. O lodo coletado foi parcialmente desidratado em centrifugas e

submetido a uma secagem numa temperatura de 105ºC até que o mesmo apresentasse 95% de

sólidos em sua composição. Após a secagem, as amostras foram trituradas e peneiradas.

O lodo foi misturado com a cal em uma proporção de 1:1 e foi submetido a um

moinho centrifugo. Depois a mistura foi incinerada em um forno elétrico por 4 horas, a uma

temperatura de queima de 1000ºC. Após a incineração o material gerado foi finamente moído

e obteve-se o chamado cimento. A composição química do cimento gerado foi SiO2, CaO,

Al2O3, Fe2O3, K2O, MgO, Na2O, SO3, tendo a mesma composição de um cimento

convencional. Com isso, concluiu-se que é possível produzir cimento a partir da adição de

lodo incinerado com cal, porem é necessário a realização de outros testes, outros ensaios, para

a verificação das propriedades do material ao longo do tempo.

2.3.6 Lodo com Insumo na Produção de Tijolos

A literatura aponta duas alternativas para o uso do lodo como insumo na fabricação de

tijolos e similares. No primeiro adiciona junto aos materiais de produção de tijolos o lodo

parcialmente desidratado, e ao segundo adiciona-se cinza proveniente da incineração do lodo.

2.3.6.1 Tijolos com Lodo Parcialmente Desidratado

12

Fizeram uma produção de tijolos com 15%, 30%, e 50% de lodos avaliados com base

nas normas da American Socieity of Testing Materials (ASTM) nos requisitos de estética,

resistência à compressão simples, absorção de água e ciclos de gelo e degelo. (é o fenômeno

que ocorre em tempos frios. A água congela dentro do concreto fresco, sendo que esse demora

de 6 a 12 meses para atingir o seu ponto máximo de resistência. Esse congelamento e

posterior descongelamento da água vão danificar a estrutura do concerto.).

Foi concluído que a resistência à compressão diminui conforme o aumento do teor de

lodo na mistura. Houve também um acréscimo da absorção de água nas misturas com lodo.

Nos primeiros testes que foram realizados os tijolos apresentaram uma aparência

bastante parecida aos tijolos convencionais, sendo distinguidos destes, antes da queima, pelo

cheiro. Concluiu que com esses experimentos que a adição de lodo parcialmente seco para a

produção de tijolos só é recomendável até limites de 30% em volume.

De acordo com os autores as experiências com o uso do lodo parcialmente desidratado

na fabricação de tijolos foram positivas, no entanto sua implantação definitivamente só

ocorrera após o rompimento de inúmeros fatores, os problemas sociais, quanto ao preconceito

de se utilizar um tijolo fabricado a partir de resíduos de esgoto, ou até mesmo da parte do

fabricante com o manuseio desse material. Outro ponto importante é de parte ambiental e está

ligado ao controle de emissões de gases, devido à queima do lodo. Faltam também estudos

que verifiquem a estabilização ou a fixação segura do resíduo nos matérias cerâmicos.

2.3.6.2 Tijolos com Lodo Incinerado

Foi proposta outra forma de aproveitamento dos resíduos de ETES’s na fabricação de

tijolos, que foi a de utilizar as cinzas do material incinerado ao invés do lodo parcialmente

seco. Estes experimentos consistiram-se da utilização de cinzas, proveniente da incineração de

lodos, a temperaturas de 600ºC, misturadas nas proporções em massa de 10%, 20%, 30%,

40% e 50% na argila.

As resistências para compressão dos tijolos executados tanto com lodo parcialmente

seco como com a cinza, atenderam as normas, porem os tijolos com adição de cinzas,

apresentaram desempenho significativamente melhor. Estas conclusões valeram para outros

aspectos como massa especifica absorção de água e fissuração. Ressalta ainda o fato que o

processo de incineração de lodos produzem um resíduo bem mais higiênico e seco, e bem

mais fácil de ser trabalhado e aceito pelas indústrias como insumo.

Dentre as vantagens relatadas nesse processo citam-se a economia de água, a produção

13

de tijolos mais leves com menores custos de transporte, o melhor rendimento operacional da

fornalha devido ao poder calorífico do lodo e a reutilização da energia térmica.

3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.1 RESÍDUOS SÓLIDOS [5]

Entende-se por resíduos sólidos, qualquer matéria no estado sólido ou semissólido,

que resultam de atividades da comunidade de origem: industrial, doméstica, hospitalar,

comercial, agrícola, de serviços e de varrição. Ficam incluídos nesta definição os lodos

provenientes de sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e

instalações de controle de poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidade

tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpos de água, ou exijam

para isso soluções técnica e economicamente inviáveis em face à melhor tecnologia

disponível. (NBR 10004, ABNT – 1987)

3.1.1 Periculosidade de um resíduo

Característica apresentada por um resíduo, que, em função de suas propriedades

físicas, químicas ou infectocontagiosas, pode apresentar:

a) risco à saúde pública, provocando ou acentuando, de forma significativa, um

aumento de mortalidade ou incidência de doenças; e/ou

b) riscos ao meio ambiente, quando o resíduo é manuseado ou destinado de forma

inadequada.

3.1.2 Classes dos resíduos

Os resíduos estão classificados da seguinte maneira:

a) resíduos classe I – perigosos;

b) Resíduos classe II – não-inertes;

c) Resíduos classe III – inertes.

3.1.2.1 Resíduos classe I – Perigosos

14

São todos os resíduos que apresentam periculosidade ou que possuem as seguintes

características.

3.1.2.1.1. Inflamabilidade

Um resíduo é caracterizado inflamável (código de identificação D001) quando uma

amostra representativa dele, obtida conforme a NBR 10007, apresentar qualquer uma das

seguintes propriedades:

a) ser líquida e ter ponto de fulgor inferior a 60°C, determinado conforme ASTM

D 93, excetuando-se as soluções aquosas com menos de 24% de álcool em

volume;

b) não ser líquida e ser capaz de, sob condições de temperatura e pressão de 25°C

e 0,1 MPa (1 atm), produzir fogo por fricção, absorção de umidade ou por

alterações químicas espontâneas e, quando inflamada, queimar vigorosa e

persistentemente, dificultando a extinção do fogo;

c) ser um oxidante definido como substância que pode liberar oxigênio e, como

resultado, estimular a combustão e aumentar a intensidade do fogo em outro

material.

3.1.2.1.2. Corrosividade

Um resíduo é caracterizado corrosivo (código de identificação D002) quando uma

amostra representativa dele, obtida segundo a NBR 10007, apresentar qualquer uma das

seguintes propriedades:

a) ser aquosa e apresentar pH inferior ou igual a 2, ou superior ou igual a 12,5;

b) ser líquida e corroer o aço (SAE 1020) a uma razão maior que 6,35 mm ao

ano, a uma temperatura de 55°C, de acordo com o método NACE TM-01-69

ou equivalente.

3.1.2.1.3. Reatividade

Um resíduo é caracterizado reativo (código de identificação D003) quando uma

amostra representativa dele, obtida segundo a NBR 10007, apresentar qualquer uma das

seguintes propriedades:

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a) ser normalmente instável e reagir de forma violenta e imediata, sem detonar;

b) reagir violentamente com água;

c) formar misturas potencialmente explosivas com a água;

d) gerar gases, vapores e fumos tóxicos em quantidades suficientes para provocar

danos à saúde ou ao meio ambiente, quando misturados com a água;

e) possuir em sua constituição ânions, cianeto ou sulfeto, que possa, por reação,

liberar gases, vapores ou fumos tóxicos em quantidades suficientes para

colocar em risco a saúde humana ou o meio ambiente;

f) ser capaz de produzir reação explosiva ou detonante sob a ação de forte

estímulo, ação catalítica ou da temperatura em ambientes confinados;

g) ser capaz de produzir, prontamente, reação ou decomposição detonante ou

explosiva a 25ºC e 0,1 MPa (1 atm);

h) ser explosivo, definido como uma substância fabricada para produzir um

resultado prático, através de explosão o de efeito pirotécnico, esteja ou não esta

substância contida em dispositivo preparado para este fim.

3.1.2.1.4. Toxicidade

Um resíduo é caracterizado tóxico quando uma amostra representativa dele, obtida

segundo a NBR 10007, apresentar qualquer uma das propriedades seguintes:

a) possuir quando testada, uma DL50 oral para ratos menor que 50 mg/kg ou CL50

inalação para ratos menor que 2 mg/L ou uma DL50 dérmica para coelhos

menor que 200mg/Kg;

b) quando o extrato obtido desta amostra, segundo a NBR 10005, contiver

qualquer um dos contaminantes em concentrações superiores aos valores

constantes na listagem da Norma. Neste caso, o resíduo será caracterizado

como tóxico TL (teste de lixiviação, com código de identificação D005 a

D029);

c) possuir uma ou mais substâncias constantes na listagem da Norma e apresentar

periculosidade. Para avaliação desta periculosidade, devem ser considerados os

seguintes fatores:

- natureza da toxidez apresentada pelo resíduo;

- concentração do constituinte no resíduo;

16

- potencial que o constituinte, ou qualquer produto tóxico de sua degradação,

tem de migrar do resíduo para o ambiente, sob condições impróprias de

manuseio;

- persistência do constituinte ou de qualquer produto tóxico de sua degradação;

- potencial que o constituinte, ou qualquer produto tóxico de sua degradação,

tem de se degradar em constituintes não perigosos, considerando a velocidade

em que ocorre a degradação;

- extensão em que o constituinte, ou qualquer produto tóxico de sua

degradação, é capaz de bioacumulação nos ecossistemas;

d) ser constituída por restos de embalagens contaminadas com substâncias da

listagem da Norma, com códigos de identificação de 001 a P123;

e) resíduos de derramamento ou produtos fora de especificação de qualquer

substâncias constantes nas listagens da Norma, com códigos de identificação

de P001 a P123 ou 001 a U2460

3.1.2.1.5. Patogenicidade

Um resíduo é caracterizado patogênico (código de identificação D004) quando uma

amostra representativa dele, obtida segundo a NBR 10007, conter microorganismos ou se suas

toxinas forem capazes de produzir doenças.

Não se incluem neste item os resíduos sólidos domésticos e aqueles gerados nas

estações de tratamento de esgotos domésticos.

3.1.2.2. Resíduos classe II – Não-inertes

São aqueles resíduos que não se enquadram nas classificações de resíduos classe I –

perigosos – ou de resíduos classe III – inertes, nos termos desta Norma. Os resíduos classe II

– não-inertes – podem ter propriedades, tais como: combustibilidade, biodegradabilidade ou

solubilidade em água.

3.1.2.3 Resíduos classe III – Inertes

Quaisquer resíduos que, quando amostrados de forma representativa, segundo a NBR

10007, e submetido a um contato estático ou dinâmico com água destilada ou deionizada, à

temperatura ambiente, conforme teste de solubilização, segundo a NBR 10006, não tiverem

nenhum de seus constituintes solubilizados a concentrações superiores aos padrões de

17

potabilidade de água, excetuando-se os padrões de aspecto, cor, turbidez e sabor. Como

exemplo destes materiais, podem-se citar rochas, tijolos, vidros e certos plásticos e borrachas

que não são decompostos prontamente.

3.2 PROCESSO DE FABRICAÇÃO DO CIMENTO PORTLAND [6]

3.2.1 Definição

O cimento pode ser definido como um pó fino, com propriedades aglomerantes,

aglutinantes ou ligantes, que endurece sob a ação de água. Na forma de concreto, torna-se

uma pedra artificial, que pode ganhar formas e volumes, de acordo com as necessidades de

cada obra.

3.2.1.1 Aglomerantes

São materiais ligantes, geralmente pulverulentos e minerais, que misturados com a

água, formam uma pasta, que endurece, fazendo aderir os componentes de uma argamassa ou

concreto.

Dividem-se em dois tipos, aéreos e hidráulicos:

Aglomerantes aéreos: só endurecem ao ar. Ex.: gesso, cal aéreo e cimento

magnesiano;

Aglomerantes hidráulicos: endurecem mesmo sob a água. Ex.: cimento

portland (CP).

3.2.1.2 Argamassa

É uma mistura de um aglomerante com agregado fino e água.

3.2.1.3 Concreto

É uma mistura de cimento, agregado fino, agregado grosso e água.

3.2.1.4 Agregados

Materiais granulosos, que adicionados aos aglomerantes formam a argamassa e o

concreto. Ex.: areia, pedra britada e cascalho.

18

3.2.1.5 Matéria-Prima

Matérias Primas usadas:

Calcário: constitui 90% da matéria-prima para a fabricação do cimento. Apresenta um

teor de CaCO3 de 80 – 85%. A presença de MgO é indesejável. Seu teor é limitado por

normas nacionais e internacionais. As normas brasileiras fixam seu limite máximo em

6,5%. Este óxido, quando entra em contato com a água no concreto ou argamassa, se

hidrata, transforma-se lentamente em hidróxido de magnésio – Mg(OH)2 – e seu

volume cresce. Esta expansão pode criar tensões internas suficientes para provocar

trincas e fissuras.

Gesso: material obtido da desidratação da gipsita (rocha sedimentar de estrutura

cristalina, tendo como constituinte principal o sulfato de cálcio com duas moléculas de

água: CaSO4. 2 H2O), encontrada livre na natureza. É adicionado ao cimento com a

finalidade de retardar a sua “pega” e auxiliar no desenvolvimento da sua resistência.

Cal: Óxido de cálcio. É obtido a partir da decomposição térmica do calcário CaCO3

CaO + CO2. O endurecimento de uma argamassa à base de cal apagada e areia é

devido à eliminação do excesso de água e à transformação do hidróxido de cálcio em

carbonato de cálcio, pela ação do CO2 do ar;

Argilas: são materiais terrosos naturais que, misturados com água adquirem alta

plasticidade. São silicatos complexos contendo alumínio e ferro como cátions

principais e potássio, magnésio, sódio, cálcio, titânio e outros. Na fabricação do

cimento, fornecem os componentes: Al2O3, Fe2O3 e SiO2;

Areia: usada para corrigir o teor de sílica SiO2 da argila;

Minério de ferro: usado para corrigir o teor de óxido de ferro Fe2O3 da argila.

3.2.2 Processamento do cimento

O processo de fabricação de cimento é feito através da exploração das matérias-primas

de uma pedreira, as quais devem conter, em determinadas proporções, Cálcio, Sílica,

Alumínio e Ferro. Normalmente é necessário corrigir um ou dois destes elementos

recorrendo-se a outras pedreiras ou ao mercado.

Ao extrair a pedra, habitualmente através de explosivos, pretende-se obter blocos com

dimensão inferior a 0,5 m3. A matéria extraída é passada por um britador com o propósito de

se obter material cuja dimensão seja inferior a 9 cm. Ao mesmo tempo em que se efetua a

19

redução, procura-se que a mistura dos materiais extraídos se aproxime da composição química

desejada.

A seguir à fase da exploração da pedreira e da britagem do material existe uma

moagem, denominada moagem do cru. A sua função é reduzir as matérias a uma fina

espessura e fazer as correções químicas necessárias à composição pretendida, caso não

tenham ficado finalizadas ao nível da pedreira.

Depois da moagem do cru vem a operação de cozedura, através da qual surge, por

reações químicas complexas, um produto granulado denominado clínquer1. A figura 1 ilustra

o processo da fabricação do cimento:

Figura 1. Fluxograma do processamento do cimento [6].

3.2.2.1 Extração do calcário

É o início da fabricação do cimento. A pedreira é constituída pela matéria-prima,

Calcário. O Calcário contém, essencialmente, cálcio e sílica, além destes elementos, inclui

ainda, alumínio e ferro.

Cada fábrica tem necessidade de correções diferentes em função das pedreiras

existentes. No entanto, há casos, embora raros, em que não é necessário correção. As

correções podem ser efetuadas por resíduos que contenham os elementos necessários, como é

o caso da areia contaminada, utilizada em decapagens, na correção da sílica.

1 Bolas ou nódulos muito duros = cimento não moído.

20

O arranque da pedra é feito com explosivos, sendo necessário abrir furos, com a

perfuratriz, onde são introduzidas as cargas explosivas. Estas são controladas pela medição

das vibrações no solo provocadas pelas explosões.

3.2.2.2 Britagem

Após a explosão, as máquinas removem as rochas de calcário (1 m a 1,5 m), que são

levadas até o britador primário. O britador de martelos tem o objetivo de reduzir, para menos

de 90 mm, a matéria extraída da pedreira, sendo preparada para o transporte ao depósito do

britador.

3.2.2.3 Transporte do material britado

O material britado é normalmente transportado para a fábrica por telas de borracha,

sendo armazenado em silos verticais ou armazéns horizontais. Normalmente as telas possuem

detectores de metais que as fazem parar para que os mesmos possam ser retirados. Estes

metais, que podem ser peças das máquinas da pedreira, a prosseguirem nos circuitos,

provocariam danos nos moinhos de cru.

3.2.2.4 Pré-homogeneização

Os silos são depósitos que, além da função de armazenagem, têm o papel de

homogeneizar o material, quer à entrada, quer à saída do mesmo. Há depósitos que

conseguem manter a relação entre o desvio padrão da composição química dos materiais à

entrada e à saída seja de 10.

A máquina de extração é um pente que ao cortar o monte transversalmente provoca a

queda e a mistura dos materiais das várias camadas, homogeneizando-os. São determinados

os teores de cálcio, silício, ferro e alumínio da amostra de calcário, que é empilhado no pátio

de Pré-Homo.

3.2.2.5 Fabricação do cru ou farinha

21

É a mistura do calcário e argila (material rico em sílica, ferro e alumínio, elementos

essenciais à qualidade do produto final) em um moinho, onde resulta num material, de

granulometria muito fina, que é a farinha ou cru, que são estocados em silos.

Os ventiladores da moagem de cru aspiram o ar exterior através do forno. Este ar, após

o arrefecimento a 100º C, é passado pelo interior do moinho, arrastando o material finamente

moído, para o filtro, onde se faz a separação do material da corrente gasosa. Em seguida o

material é encaminhado para o silo e a corrente gasosa para a chaminé. No interior do moinho

há também um separador, cuja função é fazer retornar ao prato de moagem do moinho o

material que ainda não tem a granulometria desejada.

Os silos de armazenagem do material moído e farinha crua também têm a função de

homogeneização, muito importante na poupança de combustível e na qualidade do clínquer.

Várias camadas de material se formam ao serem depositadas no centro do topo do silo.

A extração por várias vias no fundo do silo e de forma programada provoca uma

homogeneização do material que se extrai. Cada silo possui um fator de homogeneização que

vai ser determinante para a qualidade do produto à saída do forno, que é o clínquer.

3.2.2.6 Fabricação do clinquer do Cimento Portland

Antes de tudo deve ser lembrado que não se deve imaginar a formação dos

componentes C2S e C3S por um processo de fusão. Deve ser usado um processo de difusão

entre as partes sólidas.

Para facilitar esse processo, os componentes básicos da mistura devem ser

introduzidos no forno já finamente moídos (ф <80 μm). À medida que os componentes da

mistura avançam dentro do forno, a temperatura é maior e começam a ocorrer transformações

químicas e mineralógicas.

Finalmente quando toda a cal CaO e toda a sílica SiO2 tiverem sido transformadas em

C2S e C3S , na zona de clinquerização, é necessário resfriar rapidamente o clínquer para

manter o C2S e o C3S em suas formas altamente reativas.

É necessário “congelar” o estado de alta energia do C2S e do C3S. Se for feito um

resfriamento lento o C3S se transforma “de volta” em C2S e esse C2S se estabiliza em um

estado de baixa energia, tornando-se pouco reativo. Os componentes básicos da mistura são o

calcário, a argila, quartzo β e Fe2O3.

22

A “clinquerização” ocorre com uma perda acentuada de massa dos componentes da

mistura inicial. Essa perda de massa é devida à perda de CO2 do calcário CaCO2 e da H2O da

argila. Para produzir 1,00 tonelada de clinquer deve-se introduzir no forno 1,50 toneladas de

mistura inicial.

Segundo Aïtcin, as reações e transformações que ocorrem dentro do forno são:

A primeira transformação ocorre entre 500°C e 600°C. É a perda de água da

argila.

A segunda transformação ocorre a 565°C, e tem poucas consequências, e

corresponde à transformação do quartzo β (low quartz) em quartzo α ( high

quartz).

A transformação seguinte começa a 700°C e termina a 900°C, é a

descarbonatação do calcário. CaCO3CaO CO2 (gás)

Na temperatura de 700°C e seguintes, os primeiros grupos CaO liberados são

muito ativos e começam a se combinar com Al2O3 para produzir C12A7.

Na temperatura de 700°C e seguintes, os primeiros grupos CaO liberados são

muito ativos e começam a se combinar também com alguns dos íons Fe3+ e com Al

3+

para formar C2 (A.F)

Na temperatura de 700°C começa a se formar a belita C2S.

Na temperatura de 900°C:

todo o calcário CaCO3 já está descarbonatado CO2 ↑ ;

algum alumínio A =Al2O3 já reagiu com a cal C = CaO para

formar C12A7;

alguma cal CaO já reagiu com Al3+

e Fe3+

para formar C2 (

A,F) ;

alguma cal CaO já reagiu com a sílica e formou a belita C2S.

Na temperatura de 900°C existe ainda muita cal CaO não combinada e

alguma sílica SiO2 na forma de quartzo.

Acima de 900°C, aparecem os primeiros cristais de C3A e C4AF.

Acima de 900°C, o quartzo α se transforma em cristobalita (uma variedade

mineral da sílica SiO2, estável à alta temperatura ).

A 1100°C a cristobalita funde e isso acelera sua combinação com a cal CaO.

23

A 1200°C não existe mais nenhuma sílica livre.

A 1250°C começam a se formar os primeiros cristais de C3S (alita). Esses

cristais se formam através da reação do excesso de cal livre CaO com os cristais de

Belita já formados.

A 1300°C a mistura de C3A e C4AF começa a fundir .

A 1325°C C4AF desaparece.

A 1400°C C3A desaparece.

Durante esse período o material da fusão “Cálcio Ferro Alumínio” age como

um catalisador da transformação da Belita em Alita pela facilitação da difusão dos

íons de Ca2+

nos cristais de Belita C2S.

Acima de 1425°C, praticamente, não existe mais cal em excesso.

Após a formação do clínquer é necessário resfriá-lo rapidamente para

“congelar” o C3S e o C2S no seu estado de grande reatividade. Dependendo da

velocidade do resfriamento do clínquer, a fase intersticial terá tempo ou não para

cristalizar. A observação ao microscópio das fases intersticiais do cimento dá uma

informação sobre a velocidade de resfriamento do clínquer do cimento.

Cada uma dessas reações se dá em um local do forno.

Figura 2: Clínquer [6].

3.2.2.7 Moagem do cimento

O material ao sair do forno passa por uma grelha e vai sendo resfriado, isso permite o

término da reação química do clínquer. O clínquer é armazenado em um silo e transportado

por correias até as moegas.

24

O produto cimento é obtido através da moagem da mistura de clínquer, produto saído

do forno, gesso, materiais alternativos como o calcário, cinzas volantes das centrais térmicas e

escórias da siderurgia, e ainda por outros materiais com propriedades hidráulicas ou

pozolanas. O tipo de cimento determina a composição da mistura, sendo, quase sempre, o

clínquer maioritário.

A mistura é moída pelo moinho e é transportada pelo elevador que introduz o cimento

no separador. Há dois circuitos de ar, um pelo interior do moinho e outro pelo interior do

separador. Os dois circuitos são independentes e constituídos por um ventilador e um filtro de

despoeiramento.

O material que é introduzido no separador rege-se por dois processos diferentes, ou

seja, se o cimento ficar com a finura desejada segue para o filtro de despoeiramento e para os

silos, constituindo o produto final, mas se o cimento ainda não tiver a finura desejada, volta

ao moinho para nova moagem e segue o circuito já descrito.

3.2.2.8 Tipos e controle de qualidade do cimento

O tipo I é normalmente constituído por clínquer e gesso, enquanto que o tipo II já pode

ter outro constituinte, embora numa proporção pequena (até 25%). Os tipos III e IV poderão

ter mais do que um constituinte, além do clínquer e gesso, e em percentagens maiores (podem

ir até 50%).

O número que aparece na designação é a classe de resistência do cimento. É medida

pela força em Mega Pascais, necessária para partir um corpo de prova feito em cimento, com

dimensões normalizadas.

Os parâmetros mostrados na figura são os utilizados para controlar a fabricação e a

qualidade do cimento.

3.2.2.9 Embalagem

O cimento, após a moagem, é colocado nos silos, sob a forma de granel. A jusante dos

silos, o cimento pode ser embalado em sacos de 25, 35, 40 ou 50 kg. Os sacos podem ser

agrupados em paletes de madeira ou em embalagens plásticas. Cada um destes produtos pode

ter constituições que variam entre 35 e 50 sacos.

25

3.2.3 Corpo de Prova [7]

Medida expressa em milímetros, utilizada como referência, sendo empregadas a

dimensão do diâmetro no caso de corpos-de-prova cilíndricos e a dimensão da menor aresta

para os corpos-de-prova prismáticos, para realização de ensaios.

Devem ser confeccionados em aço ou outro material não absorvente e quimicamente

inerte com os componentes constituintes do concreto. Não devem sofrer deformações durante

a moldagem dos corpos-de-prova e devem ter as superfícies internas lisas e sem defeitos.

Os moldes cilíndricos e os prismáticos devem possuir dispositivos de fixação às

respectivas placas da base. Devem atender às espessuras e tolerâncias fixadas na NBR 5738.

Deve ser feita vedação das juntas com mistura de cera virgem e óleo mineral para

evitar vazamentos. Após a montagem, os moldes devem ser untados internamente com uma

fina camada de óleo mineral.

3.2.3.1 Amostragem

A amostra destinada à moldagem de corpos-de-prova deve ser retirada de acordo com

NBR 5750 e com o processo de produção do concreto utilizado.

Devem ser anotados:

a) data;

b) hora de adição da água de amassamento;

c) local de aplicação do concreto.

Os moldes devem ser colocados sobre uma base nivelada, livre de choques e

vibrações. Os corpos-de-prova devem ser moldados em local próximo àquele em que serão

armazenados nas primeiras 24h.

O concreto deve ser colocado no molde, com o emprego de concha, em camadas de

alturas aproximadamente Iguais. Antes do adensamento de cada camada, o concreto deve ser

uniformemente distribuído dentro da fôrma. A última camada deve sobrepassar ligeiramente o

topo do molde, para facilitar o respaldo. A moldagem dos corpos-de-prova não deve sofrer

interrupções.

Após a moldagem, os corpos-de-prova devem ser imediatamente cobertos com

material não reativo e não absorvente, com a finalidade de evitar a perda de água do concreto

e protegê-lo da ação das intempéries.

26

3.2.3.2 Dimensões dos corpos-de-prova

Cilíndricos

A dimensão básica escolhida deve ser: 100 mm, 150 mm, 250 mm ou 450 mm, de

forma que obedeça à seguinte relação:

d ≥ 3D

Onde:

d = dimensão básica

D = dimensão máxima característica do agregado, determinado conforme a NBR

7211.

Os corpos-de-prova cilíndricos devem ter diâmetro igual a d e altura igual a 2d.

Prismáticos

Devem ter seção quadrada de aresta igual à dimensão básica d e comprimento igual ou

superior a 3d + 50 mm, de forma que obedeçam à relação de 3.2.3.9.1.

3.2.3.3 Moldagem dos corpos-de-prova

Adensamento manual

No adensamento de cada camada devem ser aplicados golpes de socamento,

uniformemente distribuídos em toda a seção transversal do molde. No adensamento de cada

camada, a haste de socamento não deve penetrar na camada já adensada. Se a haste de

socamento criar vazios na massa do concreto, deve-se bater levemente na face externa do

molde até o fechamento deste. Quando o abatimento do tronco de cone for superior a 180

mm, a moldagem deve ser feita com a metade das camadas indicadas.

Adensamento vibratório

Colocar todo o concreto de cada camada antes de iniciar a vibração. A vibração deve

ser aplicada, em cada camada, apenas o tempo necessário para permitir o adensamento

27

conveniente do concreto no molde. Esse tempo é considerado suficiente, no instante em que o

concreto apresente superfície relativamente plana e brilhante.

Quando empregado vibrador de imersão, deixar a ponta deste penetrar

aproximadamente 25 mm na camada imediatamente inferior.

Durante o adensamento, o vibrador de imersão não deve encostar-se às laterais e no

fundo do molde, devendo ser retirado lenta e cuidadosamente do concreto. Após a vibração de

cada camada, bater nas laterais do molde, de modo a eliminar as bolhas de ar e eventuais

vazios criados pelo vibrador.

No caso de corpo-de-prova cilíndrico, de dimensão básica igual a 100 mm ou 150 mm,

o vibrador de imersão deve ser inserido ao longo do eixo do molde. No caso de corpo-de-

prova prismático de dimensão básica igual a 150 mm, o vibrador de imersão deve ser inserido

perpendicularmente à superfície do concreto, em três pontos equidistantes ao longo do eixo

maior do molde.

A vibração deve ser procedida inicialmente no ponto central e posteriormente em cada

um dos pontos extremos, que devem distar um quarto do comprimento do molde em relação

às extremidades deste.

Desforma

Os corpos-de-prova devem permanecer nas formas, nas condições de cura inicial,

durante o tempo a seguir definido, desde que as condições de endurecimento do concreto

permitam a desforma sem causar danos ao corpo-de-prova:

a) 24 h, para corpos-de-prova cilíndricos;

b) 48 h, para corpos-de-prova prismáticos.

3.2.3.4 Cura final

Até o início do ensaio, os corpos-de-prova devem ser conservados imersos em água

saturada de cal ou permanecer em câmara úmida que apresente, no mínimo, 95% de umidade

relativa do ar, atingindo toda a sua superfície livre, ou ficar enterrados em areia

completamente saturada de água. Em qualquer dos casos, a temperatura deve ser de (23 ±

2)°C até o instante do ensaio, conforme a NBR 9479.

3.2.4 Conceitos de Testes

28

3.2.4.1 Resistência Mecânica [8]

As propriedades mecânicas dos materiais são verificadas pela execução de

experimentos de laboratório cuidadosamente programados, que reproduzem o mais fielmente

possível as condições de serviço. Dentre os fatores a serem considerados incluem-se a

natureza da carga aplicada e a duração da sua aplicação, bem como as condições ambientais.

A carga pode ser de tração, compressiva, ou de cisalhamento, e a sua magnitude pode ser

constante ao longo do tempo ou então flutuar continuamente.

Desse modo as propriedades são muito importantes nas estruturas dos materiais, e elas

são alvo da atenção e estudo de vários grupos de pessoas. Isso pode ser obtido mediante

técnicas experimentais de ensaio e/ou através de análises teóricas matemáticas de tensão. Isso

envolve necessariamente uma compreensão das relações entre microestrutura dos materiais e

suas propriedades mecânicas.

As principais propriedades mecânicas dos materiais:

resistência à tração;

elasticidade;

ductilidade;

fluência;

fadiga;

dureza;

tenacidade entre outras.

3.2.4.1.1 Conceitos de tensão e deformação

Se uma carga é estática ou se ela se altera de uma maneira relativamente lenta ao

longo do tempo e é aplicada uniformemente sobre uma seção reta ou superfície de um

membro, o comportamento mecânico pode ser verificado mediante um simples ensaio de

tensão-deformação.

Existem três maneiras principais segundo uma carga pode ser aplicada: tração,

compressão e cisalhamento.

3.2.4.1.2 Ensaio de tração

29

Um dos ensaios mecânicos de tensão-deformação mais comuns é executado sobre

tração. O ensaio de tração pode ser usado para avaliar diversas propriedades mecânicas dos

materiais que são importantes em projetos.

Uma amostra é deformada, geralmente até sua fratura, mediante uma carga de tração

gradativamente crescente, que é aplicada uniaxialmente ao longo do eixo mais comprido de

um corpo de prova. Normalmente a seção reta é circular, porém corpos de prova retangulares

também são usados.

Durante os ensaios, a deformação fica confinada a região central, mais estreita do

corpo de prova, que possui uma seção reta uniforme ao longo do seu comprimento. O corpo

de prova é preso pelas suas extremidades nas garras de fixação do dispositivo de testes.

A máquina de ensaios de tração alonga o corpo de prova a uma taxa constante, e

também mede contínua e simultaneamente a carga e os alongamentos resultantes.

Tipicamente, um ensaio de tensão-deformação leva vários minutos para ser executado e é

destrutivo, isto é, até a ruptura do corpo de prova.

3.2.4.1.3 Resistência à fratura

A resistência à fratura de um material é determinada pela tenacidade. A tenacidade é

um termo mecânico que é usado em vários contextos: livremente falando, ela representa uma

medida da habilidade de um material em absorver energia até sua fratura.

Para uma situação estática (pequena taxa de deformação), a tenacidade pode ser

determinada a partir dos resultados de um ensaio tensão-deformação. Ela é a área sob a curva

até o ponto de fratura. As unidades de tenacidade são: energia por unidade de volume do

material.

Para que um material seja tenaz, ele deve apresentar tanto resistência como

ductibilidade (materiais dúcteis têm a propriedades de que quando estão sob a ação de uma

força, podem estirar-se sem romper-se, transformando-se num fio). Exemplos de materiais

dúcteis são o ouro, o cobre e o alumínio. Por outro lado, um material frágil é um material que

não pode se deformar muito. Com deformações relativamente baixas o material já se rompe.

Um exemplo de material frágil é o vidro. Frequentemente materiais dúcteis são mais tenazes

que materiais frágeis.

3.2.4.1.4 Dureza

30

Outra propriedade mecânica que é importante considerar é a dureza, que é uma medida

da resistência de um material a uma deformação plástica localizada (por exemplo, uma

pequena impressão ou risco).

Os primeiros ensaios de dureza eram baseados em minerais naturais, com uma escala

construída unicamente em função da habilidade de um material em riscar outro mais macio.

Técnicas quantitativas para a determinação da dureza foram desenvolvidas ao longo dos anos,

nas quais um pequeno penetrador é forçado contra a superfície de um material a ser testado,

sob condições controladas de carga e taxa de aplicação.

Faz-se a medida da profundidade ou do tamanho da impressão resultante, a qual, por

uma vez, é relacionada a um número índice de dureza: quanto mais macio o material, maior e

mais profunda é a impressão e menor é o número índice de dureza.

As durezas medidas são apenas relativas (ao invés de absolutas), e deve-se tomar

cuidado ao se comparar valores determinados segundo técnicas diferentes.

Os ensaios de dureza são realizados com mais frequência do que qualquer outro ensaio

mecânico por diversas razões:

simples e barato;

não-destrutivo;

pode-se estimar outras propriedades a partir da dureza do material.

3.2.4.1.5 Resistência ao cisalhamento e à torção

Obviamente, os metais podem experimentar deformação plástica sob a influência da

aplicação de cargas cisalhantes e torcionais. O comportamento tensão-deformação resultante é

semelhante a componente de tração. Sob a influência de cargas relativamente baixas, também

apresentará deformação plástica (variando de acordo com o material), e terá um ponto de

ruptura respectivo a tensão de ruptura.

3.2.4.1.6 Resistência ao choque e ao impacto

Choque ou impacto é um esforço de natureza dinâmica. O comportamento dos

materiais sob ação de cargas dinâmicas é diferente de quando está sujeito às cargas estáticas.

A capacidade de um determinado material de absorver energia do impacto está ligada à sua

tenacidade, que por sua vez está relacionada com a sua resistência e ductilidade.

31

O ensaio de resistência ao choque dá informações da capacidade do material absorver

e dissipar essa energia. Como resultado do ensaio de choque obtém-se a energia absorvida

pelo material até sua fratura, caracterizando assim o comportamento dúctil ou frágil.

Em relação à resistência ao impacto:

Materiais Polímeros: São frágeis às baixas temperaturas porque a rotação dos

átomos na molécula requer energia térmica. A maioria dos polímeros apresenta

transição dúctil-frágil que é, geralmente, abaixo da ambiente.

Materiais CFC: Permanecem dúcteis (não apresenta transição dúctil-frágil)

porque nesta estrutura há muitos planos de escorregamento disponíveis.

Exemplo: alumínio e suas ligas e cobre e suas ligas

Materiais HC: São frágeis porque nesta estrutura há poucos planos de

escorregamento disponíveis. Alguns materiais HC apresentam transição dúctil-

frágil. Exemplo: zinco.

3.2.4.1.7 Fadiga

É o efeito observado em estruturas com estado de tensões bem abaixo da tensão de

ruptura quando se pode desenvolver um acúmulo do dano com cargas cíclicas continuadas

conduzindo a uma falha do componente ou estrutura.

Todos dos materiais são anisotrópicos2 e não homogêneos. Metais de engenharia são

compostos por agregados de pequenos grãos de cristal. Dentro de cada grão a estrutura

também é anisotrópica devido aos planos do cristal e se a fronteira do grão é fechada, a

orientação destes planos muda.

Estas não homogeneidades existem não somente pela estrutura de grãos, mas também

por causa de inclusões de outros materiais. Como resultado da não homogeneidade tem-se

uma distribuição de tensões não uniforme. Regiões da microestrutura onde os níveis de tensão

são altos normalmente são os pontos onde o dano de fatiga se inicia.

Para metais dúcteis de engenharia, grãos de cristal que possuem uma orientação

desfavorável relativa ao carregamento aplicado desenvolvem primeiro 'slip bands' (são regiões

onde há intensa deformação devido ao movimento entre os planos do cristal).

2 Um material é anisotrópico quando suas propriedades mecânicas são diferentes em diferentes direções.

Em geral, as propriedades mecânicas dos materiais anisotrópicos não são simétricas em relação a qualquer plano

ou eixo. Os materiais ortotrópicos podem também ser chamados de anisotrópicos [8].

32

Materiais com alguma limitação de ductibilidade como são os metais de alta

resistência, o dano microestrutural é menos espalhado tendendo a ser concentrado nos defeitos

no material. Uma pequena trinca desenvolve-se a partir de uma lacuna, inclusão, 'slip band',

contorno do grão. Esta trinca cresce então num plano geralmente normal à tensão de tração

até causar uma falha, algumas vezes juntando-se com outras trincas durante o processo.

Assim, o processo em materiais com ductibilidade limitada é caracterizada pela

propagação de poucos efeitos, em contraste com danos intensificados mais espalhados que

ocorrem em materiais altamente dúcteis.

Em materiais de fibra composta, a fadiga é geralmente caracterizada pelo crescimento

de trincas e de laminações espalhadas desenvolvendo acima de uma relativa área.

Quando a falha é dominada pelo crescimento da trinca, a fratura resultante, quando vista

macroscopicamente, geralmente exibe uma superfície polida próximo à área em que se

originou.

Superfícies rugosas normalmente indicam um crescimento mais rápido da trinca.

Linhas curvas concêntricas à origem da trinca são frequentemente vistas e marcam o

progresso da trinca em vários estágios. Após a trinca ter caminhado um determinado

comprimento a falha poderá ser dúctil (envolvendo grandes deslocamentos) ou frágil

(pequenos deslocamentos).

3.2.4.2 Lixiviação [9]

A classificação dos resíduos é baseada normalmente na avaliação do comportamento

deste em contato com um solvente. Assim, a lixiviação é o procedimento mais utilizado para

analisar a potencialidade de transferência de matéria para o meio natural.

Os ensaios de lixiviação são utilizados para determinar ou avaliar a estabilidade

química dos resíduos, quando em contato com soluções aquosas, permitindo assim verificar o

grau de imobilização de contaminantes.

Encontram-se disponíveis diversos ensaios de lixiviação, mas nenhum deles é capaz de

reproduzir, isoladamente, todas as condições variáveis que se observam na natureza.

Os ensaios de lixiviação são utilizados tanto para fins científicos, quando se pretende

determinar o comportamento de uma substância face a fenômenos físico-químicos que

ocorrem durante uma percolação, como para caracterizar a periculosidade de um resíduo,

visando o controle de resíduos sólidos perigosos. Assim, o ensaio procura reproduzir em

33

laboratório os fenômenos de arraste, diluição e de dessorsão que ocorrem pela passagem de

água através de um resíduo, quando disposto no meio ambiente.

Tal ensaio pode representar vários anos do fenômeno natural de lixiviação. O teste de

lixiviação é empregado na classificação de resíduos sólidos desde que os mesmos não estejam

perfeitamente caracterizados como resíduos perigosos, segundo as normas adotadas.

O processo de lixiviação é fundamental para o entendimento de como avaliar a

periculosidade do resíduo. Se as águas superficiais ou subterrâneas entram em contato com

um material, cada um de seus constituintes se dissolve a uma taxa finita. Igualmente, muitos

resíduos ditos impermeáveis como argilas, concreto, tijolos e vidro de qualquer natureza

podem ser dissolvidos, pois não existe nada que seja totalmente insolúvel.

Se os resíduos submetidos ao Teste de lixiviação, conforme Norma Brasileira NBR

10.005 – “Lixiviação de Resíduos – Procedimentos”, apresentarem teores de poluentes no

extrato lixiviado em concentração superior aos padrões constantes da Listagem 7 – Limite

Máximo no Extrato obtido no Teste de Lixiviação – são classificados como perigosos. Assim

sendo, o teste de lixiviação se aplica somente àqueles resíduos que apresentam entre seus

constituintes um ou mais dos elementos e substâncias constante na listagem nº 7 da NBR

10.004.

A lixiviabilidade é usualmente avaliada em função da concentração dos contaminantes

encontrados no lixiviado. A concentração do contaminante, padrão primário de avaliação de

qualidade da água, é frequentemente utilizada como padrão para o teste de lixiviação.

Na avaliação da lixiviabilidade do material, é feita uma comparação entre a

concentração do contaminante no lixiviado e no resíduo bruto. Estes valores indicam a porção

de resíduo liberada para o meio. Se o tempo de duração do ensaio é conhecido, então é

possível determinar-se a taxa de lixiviação do resíduo.

O ensaio de lixiviação sofre interferência da temperatura, do tipo de solução lixiviante,

da relação resíduo/lixiviante, do número de extrações, da superfície específica do resíduo e do

grau de agitação utilizado no ensaio.

Atualmente uma variada gama de testes de lixiviação é empregada para prever o

impacto ambiental causado pela disposição de uma matriz contendo resíduo. A escolha entre

vários tipos de testes de lixiviação é feita conjuntamente entre o órgão ambiental responsável

e o gerador.

3.2.4.3 Solubilização [10]

34

3.2.4.3.1 Conceito

Procedimento para obtenção de extrato solubilizado de resíduos sólidos, visando

diferenciar os resíduos classificados na ABNT NBR 10004 como classe II A - não inertes – e

classe II B – inertes. Não se aplica a resíduos no estado líquido.

3.2.4.3.2 Requisitos

3.2.4.3.2.1 Aparelhagem

Como aparelhagem deve-se utilizar:

a) agitador que possa evitar a estratificação da amostra por ocasião da agitação;

submeter todas as partículas da amostra ao contato com a água e garantir a agitação

homogênea durante o seu período de funcionamento;

b) aparelho de filtração que permita a separação de todas as partículas de

diâmetro igual ou superior a 0,45µm;

c) estufa de circulação de ar forçado e exaustão ou estufa a vácuo;

d) medidor de pH;

e) balança com resolução de ± 0,01 g.

3.2.4.3.2.2 Reagentes e materiais

Como reagente e materiais devem-se utilizar:

a) água destilada e/ou deionizada, isenta de orgânicos;

b) frasco de 1 500 mL;

c) membrana filtrante com 0,45 µm de porosidade;

d) filme de PVC;

e) peneira com abertura de 9,5 mm.

3.2.4.3.2.3 Amostragem de campo

A amostragem deve ser procedida conforme ABNT NBR 10007.

35

3.2.4.3.3 Procedimento

Deve-se proceder como descrito abaixo:

Secar a amostra a temperatura de até 42°C, utilizando uma estufa com circulação

forçada de ar e exaustão ou estufa a vácuo, e determinar a percentagem de umidade.

Colocar uma amostra representativa de 250 g (base seca) do resíduo em frasco de 1

500 mL (NOTA 1: A operação deve ser realizada em duplicata. NOTA 2: Pode-se utilizar o resíduo

não seco, desde que ele represente 250 g de material seco; para isto, fazer a compensação de massa e

volume. NOTA 3: Se a amostra passar em peneira de malha 9,5 mm, ela estará pronta para a etapa de

extração; caso contrário, ela deve ser triturada).

Adicionar 1 000 mL de água destilada, deionizada e isenta de orgânicos, se a amostra

foi submetida ao processo de secagem, e agitar a amostra em baixa velocidade, por 5

minutos, ou proceder de acordo com o item abaixo:

Adicionar o volume necessário de água destilada, deionizada e isenta de orgânicos

para completar 1 000 mL, se a amostra não foi submetida ao processo de secagem, e

agitar a amostra em baixa velocidade,por 5 min.

Cobrir o frasco com filme de PVC e deixar em repouso por 7 dias, em temperatura até

25°C.

Filtrar a solução com aparelho de filtração guarnecido com membrana filtrante com

0,45 µm de porosidade.

Definir o filtrado obtido como sendo o extrato solubilizado.

Determinar o pH após a obtenção do extrato solubilizado.

Retirar alíquotas e preservá-las de acordo com os parâmetros a analisar, conforme

estabelecido no Standard methods for the examination of water and wastewater ou

USEPA - SW 846 - Test methods for evaluating solid waste; Physical/Chemical

methods (NOTA: No caso de análise de metais, deve ser feita a acidificação numa pequena alíquota.

Caso ocorra a precipitação, não proceder à acidificação no restante da amostra. Utilizar parte do extrato

não acidificado e analisar imediatamente).

Analisar os parâmetros do extrato solubilizado de acordo com as metodologias

descritas no Standardmethods for the examination of water and wastewater ou USEPA

- SW 846 - Test methods for evaluatingsolid waste; Physical/Chemical methods.

3.3 SISTEMA DE TRATAMENTO DE ESGOTO SANITÁRIO [11]

36

3.3.1 CONCEITOS

3.3.1.1. ÁGUA

A água é formada por moléculas que contém dois átomos de hidrogênio (H) e um

átomo de oxigênio (O). A mesma possui diversas propriedades, principalmente a de ser um

ótimo solvente e um transportador de partículas. É inodora, incolor, e pode ser encontrada em

três estados físicos da matéria: líquido, sólido ou gasoso.

Desta forma, a água, pode se movimentar formando um ciclo, chamado ciclo

hidrológico, atingindo a altura de 15 km acima do solo e uma profundidade de cerca de 5 km.

O calor derrete em pequena escala a água das geleiras, que junto com a água das

chuvas, escoam pela superfície da terra até as águas de superfície, ou se infiltram pelo solo,

até os reservatórios subterrâneos.

Estes acúmulos de água superficial evaporam e junto com a transposição dos vegetais

se transformam em nuvens, que por fim precipitam-se como chuva, renovando o ciclo. Esta

renovação não é apenas quantitativa, mas também qualitativa, pois o processo purifica a água

de suas impurezas e devolve-a depurada.

De acordo com a CETESB (dezembro de 2008), o planeta contém um volume

constante de 1,5 bilhões de Km³ de água, mas o simples fato de a água ser constante no

planeta, e em abundância, não condiz com o fato de ser infinita, já que este volume de água

está distribuído da seguinte forma:

97,5% - oceano;

1,9% - geleiras;

0,6% - água doce - 97% água subterrânea;

- 3% água superficial.

É possível que exista apenas 0,018% de água doce em locais de fácil acesso para

consumo. E mais de 55% de água doce no planeta já estão sendo utilizados. Estima-se que do

total de água doce disponível no planeta, de 10% a 12% estejam em território brasileiro, sendo

o país mais rico em termos quantitativos.

Porém, destes 12%, 68% estão concentrados na região Norte, 7% na região Sul, 6% na

região Sudeste e apenas 3% na região Nordeste. Mostrando a desigualdade de disponibilidade

de água no país.

37

A água é simplesmente responsável pela existência da vida no planeta, ela está

presente nos corpos e, apresenta diversas funções e usos (ver tabela 1).

Tabela 1. Finalidades e Tipos de usos da água [11].

Finalidade Tipo de Uso Uso Consultivo1 Requisitos de Qualidade

Abastecimento urbano

Abastecimento

doméstico, industrial,

comercial, público e

dessedentação2 de

animais.

Baixo (de 10%), sem

contar as perdas nas

redes.

Altos ou médios,

influindo no custo do

tratamento

Abastecimento industrial

Sanitário, de processo,

incorporação ao produto,

refrigeração de vapor.

Médio (de 20%),

variando com o tipo de

uso e de indústrias.

Médios, variando com o

tipo de uso.

Irrigação

Irrigação artificial de

culturas agrícolas

segundo diversos

métodos.

Alto (90%)

Médios, depende do tipo

de cultura.

Aquicultura e Pesca

Estações de piscicultura e

outras; comércio de

espécies de peixes.

Baixo (de 10%)

Altos, nas águas

correntes, lagos ou

reservatórios artificiais.

Geração hidrelétrica Acionamento de turbinas

hidráulicas

Perdas por evaporação Baixos

Navegação fluvial

Manutenção de calados3

mínimos e eclusas4

Não há

Baixos

Recreação, lazer e

harmonia paisagística.

Esportes aquáticos e lazer

contemplativo

Não há

Altos, especialmente

recreação com contato

direto.

Assimilação de esgotos

Diluição, autodepuração5

e transporte de esgotos

urbanos e industriais.

Não há

Não há

Usos de preservação

Vazões para assegurar o

equilíbrio ecológico

Não há

Não há

(1) Uso Consultivo: parte da água captada retorna ao curso d’água.

(1’) Uso não Consultivo: toda água captada retorna ao curso d’água.

(2) Dessedentação de animais: saciar a sede dos animais.

(3) Calados mínimos: distância vertical entre a superfície da água e a parte mais baixa da quilha do navio medida quando este

estiver na condição de deslocamento mínimo.

(4) Eclusas: funcionam como degraus para as embarcações se adequarem ao nível do rio nos portos.

38

(5) Autodepuração: processo bioquímico de corpo d’água em absorver novas substâncias.

Alguns desses usos como o abastecimento doméstico, necessitam de uma maior

qualidade da água, necessitando de um tratamento prévio. Já outras diluições e despejos não

necessitam de uma água com tanta qualidade.

Em decorrência da água circular pela Terra, utiliza-se a mesma fonte de água para

diversos fins, mesmo que em pontos diferentes. Ou seja, muitas vezes, do mesmo rio onde as

pessoas se banham, lavam suas roupas, se abastecem de água, há despejos de águas

residuárias.

3.3.1.2 Poluição das Águas

A poluição, segundo a Lei 6938/81 (Política Nacional do Meio Ambiente), é: a

degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente:

a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população;

b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;

c) afetem desfavoravelmente a biota;

d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente;

e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais

estabelecidos.

Ou seja, a poluição das águas é a adição de demais substâncias ou de formas de

energia em sua composição, que direta ou indiretamente altere as suas características naturais,

prejudicando os seus usos.

3.3.1.2.1 Autodepuração

Autodepuração é a capacidade que um corpo d’água tem em restabelecer seu

equilíbrio naturalmente após o despejo de poluentes.

Ou seja, o rio convive num total equilíbrio com suas espécies, sem a interferência de

poluentes. Porém, ele é capaz de receber uma carga de despejos orgânicos, que através do

oxigênio existente no corpo d’água, as bactérias e demais microorganismos estabilizam essa

matéria ao longo do seu curso, convertendo-se em produtos mineralizados inertes.

Mas essa capacidade é limitada, pois depende da disponibilidade de oxigênio existente

no rio, que é muito inferior ao volume de esgoto gerado pela população.

39

3.3.1.2.2 Fontes de Poluição

O lançamento de poluição pode ser considerado de duas formas: pontual, ou difusa.

Poluição Pontual: poluição concentrada em um mesmo ponto (ex: esgoto sem

tratamento levado por uma tubulação para um ponto do rio);

Poluição Difusa: poluição descentralizada, distribuída ao longo do corpo

receptor (ex: escoamento natural do solo para um corpo d’água, contendo

agrotóxicos).

As fontes de poluição3, nada mais são que, o produto final do uso da água, como:

esgotos domésticos;

esgotos industriais;

dissolução de vegetação e minerais;

floração aquática;

escoamento superficial;

escoamento e infiltração de aterro sanitário.

3.3.1.3 Esgoto

Esgoto, também conhecido como águas residuárias ou servidas, é o termo usado para

os despejos provenientes dos usos das águas, tais como doméstico, comercial, industrial,

agrícola, entre outros. Ele é composto de água, substâncias e microorganismos com

características conforme a sua procedência, denominadas poluentes.

3.3.1.3.1 Esgoto Doméstico

O esgoto doméstico é uma parcela muito significativa do esgoto sanitário. Provêm

principalmente, de residências, edificações públicas e comerciais que concentram aparelhos

sanitários, lavanderias e cozinhas.

Apesar de variar em função dos costumes e condições socioeconômicas das

populações, o esgoto doméstico tem características bem definidas, sendo rico em matéria

orgânica, resultante do uso pelo homem em função dos seus hábitos higiênicos e de suas

necessidades fisiológicas. Ou seja, ele é composto basicamente de: água de banho, urina,

fezes, restos de comida, sabão, detergentes, gordura e águas de lavagem, formando uma

3 Como é de interesse desse projeto, será abordado apenas da fonte de poluição por esgotos.

40

grande biomassa, ou seja, uma associação de seres vivos.

Todo esgoto sanitário se compõe basicamente de 99,9% de água e apenas 0,1% de

sólidos. Porém, a água em si, nada mais é que um meio de transporte das inúmeras

substâncias orgânicas e inorgânicas e microorganismos eliminados pelo homem diariamente.

Os sólidos representam qualitativamente o esgoto. Sendo o último composto de 70%

de sólidos orgânicos (proteínas, carboidratos, gorduras e outros) e 30% de sólidos inorgânicos

(areia, sais, e metais), além dos materiais indevidos lançados na rede de esgotamento

sanitário, como estopas, plásticos, madeiras, materiais de higiene, além de outros objetos que

não fazem parte do conceito de esgoto, mas são constantes em sua composição, devido à má

conduta dos homens em destinar os resíduos sólidos.

3.3.1.3.2 Esgoto Industrial

Os esgotos industriais são extremamente diversificados, provêm de qualquer utilização

para fins industriais e adquirem características próprias em função do processo industrial

empregado.

Ele é gerado pelo uso das águas nos processos de incorporação, lavagem, ou mesmo

para funcionamento dos equipamentos e dos descartes.

Mas sua composição pode vir a ser extremamente química (composta por óleos e

graxas, além de metais como cádmio, chumbo, mercúrio, níquel, zinco, cromo, arsênio,

alumínio, bário, entre outros, podendo ainda possuir uma pequena concentração de matéria

orgânica). Neste caso é necessário que se adote um tratamento diferenciado, com o

tratamento químico.

O esgoto proveniente de uso de banheiros e cozinhas de uma indústria é classificado

como esgoto doméstico, devendo ser lançado em rede apropriada, sendo o mesmo separado de

efluente industrial.

3.3.1.3.3 Característica do Esgoto

O esgoto é formado pela adição de substâncias à água. Estas substâncias possuem

características físicas, químicas e biológicas.

3.3.1.3.3.1 Características físicas

As características físicas dos poluentes dividem-se em sólidos e gases;

a) Sólidos

41

Sólido é qualquer matéria consolidada presente nas águas. Nem sempre estes sólidos

são visíveis, portanto os sólidos são classificados pelo seu tamanho:

Sólidos dissolvidos: são os sólidos capazes de passar por um papel de filtro de

tamanho especificado;

Sólidos em suspensão: são os sólidos retidos pelo papel de filtro.

e forma química:

O sólido elevado a uma temperatura de (550ºC), a fração orgânica é volatilizada,

permanecendo após combustão, apenas a fração inorgânica. Os sólidos voláteis representam,

portando uma estimativa da matéria orgânica nos sólidos, ao passo que os sólidos não

voláteis (fixos e inertes) representam a matéria inorgânica ou mineral.

b) Gases

O gás é o conteúdo da fase gasosa, no qual a matéria tem forma e volume variáveis.

Nos gases, as moléculas se movem livremente e com grande velocidade. A força de coesão

(aproximação) é mínima e a de repulsão (afastamento) é enorme. Portanto os gases são muito

variáveis nas águas, mas são mais predominantes e tóxicos nos esgotos.

Os principais gases formados nas reações do tratamento de esgoto são: o Nitrogênio

(N2), o gás carbônico (CO2), o metano (CH4), o gás sulfídrico (H2S), o Oxigênio (O2) e o

Hidrogênio (H2) conforme Tabela 2.

Tabela 2. Teores Máximos [11].

Componentes Teores Limites Valor Mediano

CH4 54 – 77% 67%

CO2 14 – 34% 30%

N2 0 – 9% 3%

H2 0 – 11% 3%

O2 0 – 2% 0,4%

H2S 0,004 – 0,9% 0,01%

O gás metano caracteriza-se, por ser combustível e inflamável, requerendo, portanto,

cuidados com riscos de explosão. Já o gás sulfídrico tem como principal característica, o mau

odor, que pode gerar sérios problemas, se o mesmo acumular-se em locais fechados.

42

Grande parte do enxofre encontrado no esgoto transforma-se em H2S, através de

processos biológicos, porém a turbulência apresenta grande influência na dissolução do

líquido.

O excesso de H2S nos tratamentos biológicos pode causar: a inibição do processo;

aceleramento da degradação dos equipamentos; corrosão da estrutura e aumento no consumo

de oxigênio.

H2S + 2O2 → H2SO4 (ácido sulfúrico);

Esta reação é causada pelas bactérias Thiobacillus, dentro de um processo biológico.

3.3.1.3.3.2 Características químicas

A matéria inorgânica contida nos esgotos é formada, principalmente, pela presença de

areia e de substâncias minerais dissolvidas e água.

Cerca de 70% dos sólidos no esgoto são de origem orgânica. São compostos que

possuem carbono em sua constituição, juntamente com hidrogênio, e algumas vezes com

nitrogênio. As principais substâncias orgânicas presentes no esgoto são:

Compostos de proteínas (40 a 60%) – produtoras de nitrogênio e contêm C,

H, N, O, e as vezes P, S, e Fe. Constituinte de organismo animal e vegetal. O

gás sulfídrico presente nos esgotos é proveniente do enxofre fornecido pelas

proteínas;

Carboidratos (25 a 50%) – contêm C, H e O. São as primeiras substâncias a

serem destruídas pelas bactérias, com produção de ácidos orgânicos,

representando maior acidez em esgoto velho. Os principais são os açucares, o

amido, a celulose e a fibra de madeira;

Gorduras e óleos (10%) – a matéria graxa é vinda de produtos alimentícios,

limpeza, e em casos de despejos industriais derivados de petróleo, e neste caso

altamente indesejável. Os óleos se concentram nas tubulações causando

entupimentos, odores e escumas e podendo inibir a vida biológica;

Surfactantes, fenóis, etc – os surfactantes formam uma espuma muito estável

e difícil de ser quebrada; fenóis são originados por despejos industriais que

causam gosto característico na água.

3.3.1.3.3.3 Características biológicas

43

Os seres vivos são formados por um elevado grau de organização de átomos nas

moléculas e destas entre si, com a capacidade de agir sobre o meio, de maneira a transformar

substâncias estranhas à sua natureza em substâncias constituintes à sua estrutura.

A classificação dos seres vivos é bem inconstante, mas recentemente os seres vivos de

maior interesse no tratamento de esgoto são os classificados em quatro grandes reinos:

animal, vegetal, protista e monera. Porém, estes não são suficientes para classificar todas as

diferenças dos seres vivos. Assim, serão citado também, as principais formas de diferenciação

dos seres vivos de interesse do esgoto, para visualizá-los mais facilmente.

a) Classificação quanto às formas de alimentação

Todos os seres vivos, para que possam desempenhar as suas funções de

crescimento, locomoção, reprodução, e outras, necessitam de energia, carbono e

nutrientes (N, P, S, K, Ca, Mg...)

Em termos de fonte de carbono temos:

Heterotróficos: organismos que necessitam de substâncias altamente

complexa na sua dieta, como matéria orgânica;

Autotróficos: organismos que sintetizam seu próprio alimento, ou seja,

sintetizam moléculas de elevada estrutura, a partir de moléculas de

baixa energia, ex: gás carbônico (CO2);

Em termos de fonte de energia, temos os seres:

Fototróficos: organismos que utilizam a luz para transformar

substâncias de estrutura simples, em compostos orgânicos, sendo assim,

denominados fotossintetizantes;

Quimiotróficos: organismos que se nutrem através de reações

químicas, não necessitando obrigatoriamente de energia solar;

b) Classificação segundo a respiração

A respiração é fonte de energia, para que os animais possam realizar

movimentos e outras reações.

Aeróbia: utilizam apenas do oxigênio livre na sua respiração;

Anaeróbia: utilizam o sulfato ou o dióxido de carbono como aceptores

de elétron, não podendo obter energia através da respiração aeróbia;

44

Facultativa: a respiração pode ser aeróbia, anaeróbia ou em condições

de zona anóxica (ausência de OD, – oxigênio dissolvido – mas

presença de nitratos).

c) Classificação por estrutura celular:

Unicelular: organismo formado por uma única célula. No entanto,

muitos seres unicelulares se agrupam frequentemente em colônias, em

que cada célula mantém a sua individualidade;

Multicelular (pluricelular): organismo ou estrutura de um organismo

formado por mais do que uma célula. No entanto há vários níveis de

diferenciação entre as células destes organismos. Há seres vivos

multicelulares em que praticamente não há diferenciação entre as

células, e outros com estrutura muito mais complexa, com o corpo,

diferenciado em tecidos e órgãos com funções específicas.

d) Classificação por locomoção:

Móvel: organismos que possuem características físicas para

locomoção, como pernas, patas, asas, flagelos, etc;

Imóvel: organismos que não possuem características físicas para

locomoção.

e) Classificação por Reinos:

Reino animal: multicelular com diferenciação celular, heterotróficos,

móveis e aeróbios. Ex: animais domésticos, aves, insetos, anelídeos

(minhocas), helmintos (vermes)...

Reino vegetal: multicelular com diferenciação celular, autotróficos,

fototróficos e imóveis. Ex: ervas, arbustros...

Reino protista: os protistas são unicelulares, sem diferenciação

celular, heterotróficos, fototróficos e móveis. Ex: protozoários;

Reino monera: os moneras são unicelulares, sem diferenciação

celular, porém, podem se organizar em colônias, autotróficos ou

heterotróficos e móveis. Ex: bactérias.

Portanto os reinos de maior relevância no esgoto são os protistas e moneras, onde se

classificam os microorganismos de maior importância para o tratamento, tais como:

45

Bactérias: as bactérias inseridas no Reino Monera são os mais importantes organismos

presentes no tratamento de esgoto, pois além de ser o principal responsável pela estabilização

da matéria orgânica, está presente também nos processos de nitrificação (conversão da amônia

a nitrito, e nitrito a nitrato), e da determinação (conversão do nitrato a nitrogênio gasoso). As

bactérias possuem diversos formatos como descritos abaixo:cocos, diplococos, esporos

bacterianos, estreptococos, estafilococos, bactéria flagelada, espirilos, bacilos e vibriões.

Figura 3: Morfologia das bactérias [11].

Protozoários: são essenciais ao tratamento biológico para manutenção do equilíbrio entre os

diversos grupos, pois atuam no consumo de matéria orgânica, bactérias livres, e participam na

formação de flocos. Devido a suas características estruturais, e de locomoção os protozoários

podem ser divididos em diversos grupos, dentre os principais: as amebas, flagelados e

ciliados.

Figura 4: Morfologia dos protozoários [11].

3.3.1.4 Tratamento

46

Primeiramente se faz necessário conhecer algumas nomenclaturas utilizadas nos

processos de tratamento:

Afluente/Esgoto bruto: vazão de esgoto que chega à ETE ou a algum ponto de

tratamento da ETE;

Efluente/Esgoto tratado: vazão que sai da ETE ou de algum ponto de

tratamento da ETE.

3.3.1.4.1 Parâmetros de qualidade do esgoto

Para se conhecer a existência ou ausência dos poluentes no esgoto, utiliza parâmetros

de qualidade. Estes são instrumentos padronizados que possuem uma faixa de concentração

aceitável estipulada e realizados em análises laboratoriais.

Assim pode-se quantificar a existência dos poluentes e microorganismos existentes na

amostra e avaliar, considerando-se esses indicadores, a qualidade da amostra. Porém, apesar

de ter-se uma faixa de aceitação, o esgoto é muito variável e possui muitas particularidades,

assim, para cada caso, valores fora do padrão devem ser julgados isoladamente, conhecendo

as influências para a ocasião.

Abaixo seguem os principais parâmetros utilizados para caracterização do esgoto:

pH (Potencial Hidrogênico): a medida do pH é a concentração hidrogênica

(de hidrogênio) das águas. O pH indica se o efluente é ácido (pH < 7), neutro

(pH = 7) ou básico (pH > 7);

OD (Oxigênio Dissolvido): é a concentração de oxigênio dissolvido na água;

Alcalinidade: em geral, quanto maior o valor da alcalinidade, maior será a

capacidade de água residuária manter seu pH próximo do neutro;

DBO (Demanda Bioquímica de Oxigênio): a DBO expressa a quantidade de

oxigênio utilizada, por microoganismos aeróbios, para oxidar biologicamente a

matéria orgânica;

DQO (Demanda Química de Oxigênio): a DQO expressa a quantidade de

oxigênio utilizada para oxidar quimicamente a matéria orgânica;

SS (Sólidos Sedimentáveis): a análise de SS permite determinar o volume

ocupado pelos sólidos após sedimentação em cone Imhoff, por uma hora;

47

ST (Sólidos Totais) e SST (Sólidos Suspensos Totais): Sólidos Totais é o

termo empregado para material que permanece em cadinho após evaporação da

água da amostra e sua subsequente secagem em estufa, a 105°C. Sólidos

Suspensos Totais constituem-se da fração dos ST que fica retida em um filtro;

SFT (Sólidos Fixos Totais) e SSF (Sólidos Suspensos Fixos): Sólidos Fixos

Totais é o termo empregado para a fração de ST após incineração em mufla a

55°C. Nessas condições, toda matéria orgânica é transformada em CO2 e água,

restando, no cadinho, apenas os sólidos inorgânicos. O SSF é o termo

empregado para a fração de SFT filtrada em membrana, após calcinação a

550°C. O SSF mede aproximadamente a quantidade de areia presente.

SVT (Sólidos Voláteis Totais) e SSV ( Sólidos Suspensos Voláteis): Sólidos

Voláteis Totais é o termo empregado para a fração de ST que se perde após a

calcinação em mufla a 550°C. O SSV corresponde à fração de SST, que se

perde após calcinação em mufla a 550°C. Para lodos biológicos a concentração

de SSV é relacionada à quantidade de biomassa presente. Para lodos primários,

a concentração de SSV, é relacionada ao conteúdo de matéria orgânica morta

presente.

Nitrogênio: o nitrogênio apresenta-se principalmente como nitrogênio

orgânico, nitrogênio amoniacal, nitrito e nitrato. O nitrogênio orgânico ocorre

em esgotos sanitários, principalmente devido à presença de proteínas ou seus

produtos de degradação, como polipeptídios e aminoácidos. A degradação

desses compostos e de ureia gera nitrogênio amoniacal. O nitrogênio

amoniacal pode estar presente também nos esgotos industriais que utilizam sais

de amônia ou ureia. As formas oxidadas de nitrogênio (nitritos e nitratos)

podem estar presentes em efluentes de sistemas de tratamento aeróbios, ou nas

águas residuárias industriais. A presença excessiva de nitrogênio causa

eutrofização dos corpos d’água, que é a proliferação de algas.

Fósforo: o fósforo encontra-se presente em águas residuárias, principalmente

como ortofosfato e polifosfato, bem como na forma de fósforo orgânico. A

presença excessiva de fósforo causa a eutrofização dos corpos d’água;

Sulfatos: o íon sulfato é um dos principais ânions presentes em águas naturais.

Em ambiente anaeróbio, os sulfatos geram sulfetos que são responsáveis por

problemas de corrosão, pela emissão de odor desagradável e que, dependendo

48

da concentração, podem causar inibição a determinados processos biológicos

como a metanogênese;

Óleos e Graxas: o termo óleos e graxas aplica-se a grande variedade de

substâncias orgânicas que são extraídas das soluções ou suspensões aquosas

por hexano. Hidrocarbonetos, ésteres, óleos, gorduras, ceras e ácidos orgânicos

de cadeias longas, são os principais materiais que são dissolvidos por esses

solventes.

3.3.1.5 Reações

As principais reações ocorridas no processo de tratamento de esgoto estão descritas

abaixo:

Oxidação: a oxidação implica na perda de um ou mais elétrons (e-) da

substância oxidada, ou seja, na oxidação, a substância cede cargas negativas.

Essa reação é realizada através de reações bioquímicas com a ajuda do agente

oxidante denominado aceptor de elétrons;

Redução: a redução, ao contrário da oxidação, implica no ganho de elétrons

(e-) da substância reduzida, ou seja, a substância recebe cargas negativas. Essa

reação é realizada através do agente redutor, denominado doador de elétrons;

Resumindo, o agente oxidante sofre redução e o agente redutor sofre oxidação;

Fermentações: a fermentação compreende reações químicas por

transformações produzidas na natureza, através de microorganismos, podendo

ser alcoólica, láctea, butírica e fórmica.

Nitrificação: é um processo químico-biológico da conversão de amônia a

nitrito pela ação conjunta de bactérias autótrofas quimiossintetizantes

nitrificantes. E de nitrito a nitrato pela ação das bactérias autótrofas

quimiossintetizantes;

Desnitrificação: é o fenômeno de transformação de nitratos e outras

substâncias em gás nitrogênio (N2) à forma mais estável do nitrogênio, pela

ação de bactérias desnitrificantes, heterotróficas facultativas, que utilizam o

nitrato como receptor de elétrons, necessitando de algum material orgânico

para operar como doador de elétrons, em condições anóxicas. O

enriquecimento e isolamento dessas bactérias são possíveis pela utilização de

49

meios sintéticos, contendo nitrato de potássio ou contendo alguma substância

orgânica como o etanol e o metanol;

Dessulfatação: se houver presença de sulfatos, sulfitos e mesmo enxofre

elementar na água residuária, por ação de bactérias sulfo-redutoras, os

compostos intermediários passam a ser utilizados por estas, alterando rotas

metabólicas no digestor anaeróbio. Assim ,as bactérias sulfo-redutoras passam

a competir com as bactérias fermentativas, acetogênicas e metanogênicas pelos

substratos disponíveis. Então, uma parte da carga poluidora orgânica se

transforma em carga poluidora na forma de sulfetos (inorgânica), o que pode

inviabilizar os tratamentos anaeróbios;

Acidogênese: por ações de bactérias fermentativas acidogênicas os compostos

oriundos da fase de hidrólise são convertidos em diversos compostos mais

simples;

Acetogênese: as bactérias acetogênicas são responsáveis pela oxidação dos

produtos gerados na fase acidogênica em substratos apropriado para as

bactérias metanogênicas;

Metanogênese: é a etapa final no processo de degradação da matéria orgânica,

onde o dióxido de carbono é convertido a metano por ação de bactérias

metanogênicas (hidrogenotrófica). Ou a acetato é convertido a metano

(acetotrófica).

3.3.1.6 Pré Tratamento

3.3.1.6.1 Posto de recebimento de efluentes (PRE)

O posto de recebimento de efluentes é uma unidade de recebimento do efluente

proveniente de fossas sépticas residenciais ou comerciais.

As fossas sépticas são unidades de tratamento primário de esgoto doméstico, nas quais

são feitas a separação e transformação da matéria sólida contida no esgoto, em tanques

enterrados, através do processo biológico.

Elas são necessárias às moradias que ainda não possuem rede coletora de esgoto, pois

evitam o lançamento de dejetos humanos diretamente em rios, lagos, nascentes ou mesmo na

superfície do solo, contaminando o meio ambiente e provocando doenças.

50

3.3.1.6.2 Elevatórias

As elevatórias não fazem parte do tratamento de esgoto, mas antecedem o mesmo. A

maioria dos lançamentos de esgoto existentes em bacias de esgotamento destinam-se às partes

mais baixas da região, próximas a rios, córregos, lagos, nascentes, ou mares. Neste caso, para

que não haja a contaminação destes locais faz-se necessário captar esses esgotos e encaminhá-

los ao tratamento mais próximo existente. Mediante isso, instala-se nestes locais, Estações

Elevatórias de Esgoto para que através de bombas de recalque, os esgotos sejam

encaminhados ao ponto mais alto, de onde irá escoar por gravidade até a próxima EEE ou

ETE.

3.3.1.7 Processos de tratamento de esgoto

3.3.1.7.1 Processo de tratamento

O processo de tratamento de esgoto pode ocorrer de três formas: em processos físicos,

químicos ou biológicos.

3.3.1.7.1.1 Processos físicos

São os processos em que há predominância dos fenômenos físicos de um sistema ou

dispositivo de tratamento. Esses fenômenos caracterizam-se principalmente dos processos de

remoção de substâncias fisicamente separáveis dos líquidos, ou que não se encontram

dissolvidas. Ex: gradeamento, filtração, centrifugação.

3.3.1.7.1.2 Processos químicos

São métodos de tratamento nos quais a remoção ou conversão de poluentes ocorrem

pela adição de produtos químicos, geralmente são utilizados para otimizar os processos

físicos. Ex: precipitação, coagulação, desinfecção.

3.3.1.7.1.3 Processos biológicos

São métodos de tratamento nos quais, a remoção de poluentes ocorre por meio de

atividade biológica, ou seja, dependem da ação dos microorganismos presentes, os quais

através de fenômenos da respiração e nutrição transformam os componentes mais complexos

51

em compostos mais simples. Ex: remoção de matéria orgânica carbonácea, nitrificação,

desnitirificação.

3.3.1.7.2 Nível de Tratamento

O tratamento de esgotos se classifica em quatro níveis de processo para a remoção de

poluentes:

Nível Preliminar: remoção de sólidos grosseiros, areia e gordura;

Nível Primário: remoção de sólidos em suspensão, sólidos sedimentáveis, e

DBO em suspensão;

Nível Secundário: remoção da matéria orgânica, ou remoção da matéria

carbonácea (DBO em suspensão ou solúvel);

Nível Terciário: remoção de nutrientes (fósforo e nitrogênio), organismos

patogênicos, metais pesados, sólidos inorgânicos dissolvidos, e sólidos em

suspensão remanescentes.

3.3.1.7.2.1 Tratamento preliminar

O tratamento preliminar é realizado por processos físicos. Destina-se à preparação das

águas de esgoto para uma disposição ou tratamento subsequente.

As unidades preliminares podem compreender: gradeamento, caixa de gordura, caixa

de areia e tanque de equalização.

3.3.1.7.2.1.1 Gradeamento grosseiro e fino

O gradeamento realiza a remoção dos resíduos grosseiros (sólidos de espessura maior

que 1 cm que são lançados indevidamente, ou incorporados no esgoto por arraste como,

pedras, tecidos, plásticos, animais mortos e outros materiais) e resíduos finos (resíduos de

espessuras menores, em mm, como cabelo, plásticos picados, e outros) em suspensão ou

flutuantes.

Deve ser a primeira unidade de tratamento de uma estação, pois possui a finalidade de

remover parcialmente a carga poluidora, contribuindo para melhorar o desempenho das

unidades subsequentes, proteger dispositivos de transporte como bombas, tubulações,

raspadores, removedores e aeradores.

3.3.1.7.2.1.2 Medidor de vazão

52

Geralmente é instalado na entrada e saída da ETE. É de grande importância ter esse

controle para gerenciar o processo de tratamento de um ETE. É constituído de uma calha

padronizada (calha Parshall).

As calhas são projetadas conforme o volume de esgoto a ser recebido, portanto, podem

conter diversos tamanhos.

A medição é feita através de um medidor de nível ultrassônico ou manualmente com

uma régua, uma vez que a lâmina líquida aferida em cm é convertida em unidade de vazão

(L/s, m3/h), a partir de uma tabela já calculada levando em consideração as dimensões da

calha.

3.3.1.7.2.1.3 Caixa de gordura

A caixa de gordura é um sistema que permite a separação de substâncias flutuantes, ou

seja, partículas que não se misturam com a água, mas que têm peso específico menor,

tendendo a flutuar na superfície contida nos esgotos, nomeados como gordura (óleos, graxas,

gorduras de alimentos, ceras, lubrificantes...) a fim de evitar entupimentos nas tubulações e

obstruções nos demais processos do tratamento e tubulações.

3.3.1.7.2.1.4 Poço de sucção

O poço de sucção é adotado como um poço de “armazenamento temporário” do

esgoto. Deve ser projetado para acumular a vazão máxima afluente à ETE sem riscos de

transbordo ou retorno do afluente.

Ele acumula o esgoto até atingir um volume adequado para ser recalcado por um

conjunto de bombas de recalque que são acionadas através de boias de nível ou sensor

ultrassônico.

3.3.1.7.2.1.5 Caixa de areia

A areia contida nos esgotos é, em sua maioria, constituída de material mineral, tais

como: areia, pedrisco, salite e cascalho. O material retido contém ainda quantidade de matéria

orgânica tais como: vegetais (grãos de café, de feijão, frutas e verduras), gordura, casca de

ovos e pedaços de ossos e penas de aves.

A contenção da areia minimiza os efeitos adversos no sistema como desgaste por atrito

ou entupimento dos equipamentos, tubulações, canalizações, tanques e etc. Além de não

comprometer o processo de tratamento nas demais fases de ETE.

A velocidade do escoamento do afluente nesta caixa deve ser controlada em torno de

53

0,30 m/s. Valores maiores podem causar arraste, e valores menores podem ocasionar

sedimentação da matéria orgânica presente.

3.3.1.7.2.1.6 Tanque de equalização

O tanque de equalização é usualmente indicado, para tratamento de efluentes

industriais que possuem características muito irregulares. Ele possui a função de regularizar o

pH, a vazão de entrada na estação, as cargas de poluentes, ou seja, homogeneizar o esgoto.

Ele possuiu aeradores ou flutuantes que vão homogeneizar o esgota, a fim de não permitir que

os sólidos se sedimentem no tanque, provocando maus odores.

3.3.1.7.2.2 Tratamento primário

No tratamento primário, como no preliminar, predominam os processos físicos.

3.3.1.7.2.2.1 Fossas sépticas

As fossas sépticas são unidades de tratamento primário de esgoto doméstico na qual é

realizada a separação da matéria sólida contida no esgoto. É uma maneira simples e barata de

disposição dos esgotos indicada, sobretudo, para uma baixa vazão de esgoto. Nelas, os sólidos

com o decorrer do tempo vão se depositando no fundo, formando um lodo primário. O

efluente verte para a saída da fossa com remoção parcial dos sólidos em suspensão.

3.3.1.7.2.3 Tratamento secundário

O principal objetivo do tratamento secundário é a remoção de matéria orgânica,

apresentada nas formas de DBO (solúvel e em suspensão). Os processos com aplicação de

tecnologia possibilitam acelerar os mecanismos de degradação que ocorrem naturalmente na

natureza. Assim a decomposição dos poluentes ocorre de forma controlada e em tempos

menores.

A bactéria assimila a matéria orgânica e assim remove a carga poluidora do efluente.

Uma vez assimilada a matéria orgânica muda de nome: passa a ser chamada de lodo. Nesta

etapa predomina o processo biológico através das reações bioquímicas, realizadas por

microorganismos (bactérias, protozoários, fungos e outros).

De uma maneira simplificada pode-se entender o funcionamento dos microorganismos

no tratamento de esgoto da seguinte forma: quando a quantidade de alimento para uma

determinada população de bactérias for abundante, estas vão se reproduzir, aumentando a

população, até o ponto que comece a faltar alimento. Neste momento, caso não haja outro

54

meio de alimentação, as bactérias vão se alimentando cada vez menos, até que morram.

Algumas podem inclusive, na falte de alimento, se alimentar de outras (canibalismo),

principalmente no caso de fome.

A população não deve ser nem muito jovem nem muito velha. Pois cada fase apresenta

suas desvantagens, portanto, a população deve crescer de acordo com a quantidade de

alimento disponível, tornando o meio equilibrado, sem falta e nem excessos de alimento.

Devido as alterações das características do esgoto, as bactérias sofrem o processo de

adaptação com o novo alimento, podendo reduzir a quantidade do lodo até ela se adaptar com

o novo alimento. Por isso ocorre a recirculação de lodo, que vai proporcionar um equilíbrio

nessa redução.

3.3.1.7.2.3.1 Lagoa de Estabilização

São lagoas construídas para finalidade do tratamento de águas residuáris. As lagoas de

estabilização são grandes tanques escavados no solo, nos quais os esgotos fluem

continuamente e são tratados por processos biológicos naturais através da decomposição da

matéria orgânica pelas bactérias. Conforme o processo biológico que nelas ocorrem, as lagoas

são classificadas como se segue:

Lagoa Aerada Facultativa: o afluente entra continuamente em uma extremidade da lagoa e

sai continuamente na extremidade oposta. O líquido permanece na lagoa por ordem de 5 a 10

dias. A matéria orgânica suspensa tende a sedimentar, sendo convertida anaerobicamente por

bactérias no fundo da lagoa. Já a DBO solúvel permanece na massa líquida sofrendo

decomposição aeróbia. O oxigênio requerido pelas bactérias aeróbias é fornecido por

aeradores instalados na lagoa;

Lagoa Aerada de Mistura Completa + Lagoa de Decantação: a energia introduzida por

unidade de volume da lagoa é elevada, o que faz com que os sólidos (principalmente

biomassa) permaneçam dispersos no meio líquido. A decorrente maior concentração de

bactérias no meio líquido aumenta a eficiência do sistema de remoção de DBO, o que permite

que a lagoa tenha um volume inferior ao de uma lagoa aerada facultativa. No entanto, o

efluente contém elevados teores de sólidos (bactérias), que necessitam ser removidos antes do

lançamento no corpo receptor. A lagoa de decantação a jusante é essencial para a eficiência

do sistema e proporciona condições para essa remoção.

3.3.1.7.2.3.2 Sistemas Anaeróbios

55

A digestão anaeróbia é um processo fermentativo que além da remoção de matéria

orgânica, gera subproduto como formação de biogás. De uma forma simplificada, o processo

anaeróbio acorre em quatro etapas. Na primeira, a matéria orgânica complexa é transformada

em compostos mais simples como ácidos graxos, aminoácidos e açucares, pela ação dos

microorganismos hidrolíticos. Na segunda, as bactérias acidogênicas transformam os ácidos e

açucares em compostos mais simples como ácidos graxos de cadeia curta, ácido acético. Na

terceira, estes produtos são transformados, principalmente, em ácido acético, H2 e CO2, pela

ação das bactérias acetogênicas. Por fim, na última etapa, os microorganismos metanogênicos

transformam esses substratos em CH4 e CO2.

3.3.1.7.2.3.2.1 Reator anaeróbio de fluxo ascendente (RAFA)

A matéria orgânica contida no esgoto a ser tratado é convertida, anaerobicamente, por

bactérias dispersas no reator. O fluxo do líquido é ascendente. O reator promove o contato dos

microorganismos com o substrato. No fundo do reator ocorre a sedimentação dos sólidos,

permitindo a saída do efluente clarificado e o retorno dos sólidos (biomassa) ao sistema,

aumentando a sua concentração no reator.

A produção do lodo é baixa, e o lodo já sai adensado e estabilizado. Porém, o

clarificado necessita de um tratamento posterior para maior eficiência de remoção da matéria

orgânica como os sistemas que serão citados abaixo:

Filtros anaeróbios, lodos ativados convencional, reatores aeróbios com

biofilme e o tratamento físico-químico.

Na parte superior do reator são formados e coletados os gases como o metano e o gás

sulfídrico.

3.3.1.7.2.3.3 Sistemas aeróbios

3.3.1.7.2.3.3.1 Lodos ativados convencional

A etapa biológica compreende duas unidades: o tanque de aeração e o decantador

secundário. O tanque de aeração funciona basicamente com os mesmos princípios de uma

lagoa aerada de mistura completa, seguida por um decantador. A concentração de oxigênio

dissolvido no tanque é concebida por aeradores mecânicos, submersos, flutuantes ou ar

difuso. A remoção de DBO e realizada pela decomposição da matéria orgânica.

No decantador, os sólidos sedimentáveis ainda contém grande quantidade de bactérias

56

ativas, e portanto retornam para o tanque de aeração, elevando a concentração de biomassa no

reator. Assim como a biomassa permanece mais tempo no sistema de que o liquido, garante

uma elevada eficiência na remoção de DBO.

3.3.1.7.2.3.3.2 Lodos ativados intermitentes (batelada)

A operação do sistema é intermitente. Assim, no mesmo tanque acorrem, em fases

diferentes, as etapas de enchimento/aeração (aeradores ligados) e sedimentação (aeradores

desligados). Quando os aeradores estão desligados, inicia-se o período de decantação, quando

os sólidos sedimentam, para que na fase seguinte, denominada esvaziamento, ocorra a retirada

do efluente (sobrenadante). Ao se religar os aeradores, os sólidos sedimentados retornam a

massa líquida, o que dispensa o sistema de recirculação de lodo.

3.3.1.7.2.3.4 Reatores aeróbios com biofilme

3.3.1.7.2.3.4.1 Filtro biológico percolador de alta taxa

O filtro possui ao contrário do nome a função de fornecer suporte para a formação da

película bacteriana. Ele consiste, basicamente, de um tanque preenchido com material de alta

permeabilidade, tal como pedras, ripas ou material plástico, sobre o qual os esgotos são

aplicados sob a forma de gotas ou jatos, geralmente por distribuidores rotativos.

Após a aplicação, os esgotos percolam em direção aos drenos de fundo. Esta

percolação permite o crescimento bacteriano na superfície da pedra ou material de

enchimento, na forma de uma película fixa denominada biofilem. O esgoto passa sobre o

biofilme, promovendo o contato entre os microorganismos e o material orgânico.

Os filtros biológicos são sistemas aeróbios, pois o ar circula nos espaços vazios entre o

material permeável, fornecendo o oxigênio para a respiração dos microorganismos. A

ventilação é usualmente natural. O sistema de alta taxa possui uma alta quantidade de carga

orgânica, por unidade de volume de leito, necessitando de baixo requisito de área.

3.3.1.7.2.3.5 Biofiltro aerado submerso

A principal função dos biofiltros aerados submersos é a remoção de compostos

orgânicos e nitrogênio na forma solúvel, contribuindo para uma eficiência global de remoção

de DBO5 superior a 90%.

O BAS possui uma dinâmica muito parecida com filtro biológico percolador, porém

57

ele é constituído por um tanque preenchido com um material poroso, através do qual o esgoto

e ar fluem permanentemente. Este meio poroso é mantido submerso caracterizando o processo

como trifásico:

Fase sólida: constituída pelo meio suporte e pelas colônias de microorganismos

que nele se desenvolvem, sob a forma de um filme biológico (biofilme);

Fase líquida: composta pelo líquido em permanente escoamento através do

meio poroso;

Fase gasosa: formada pela aeração artificial e, em reduzida escala, pelos gases

subprodutos da atividade biológica.

3.3.1.7.2.6 Tratamento físico-químico

3.3.1.7.2.6.1 Flotador

A flotação é usada para separar partículas suspensas da fase líquida. Este processo

ocorre em duas etapas: floculação e flotação, e pode ser antecedido pela coagulação.

A coagulação é a adição de produtos químicos (geralmente cloreto férrico ou sulfato

de alumínio) para acelerar o processo de floculação.

A floculação é a união de partículas que formam um floco de materiais suspensos.

Uma a uma as partículas vão se ajustando, através da força de atração e repulsão.

Já formado esses flocos, em outra unidade, é injetado bolhas de ar através de

sopradores. Essas bolhas de ar entram em colisão com os flocos das partículas se aderindo a

elas. Com a densidade do ar estes flocos se tornam mais leves que o meio líquido e são

arrastados para a superfície. Na superfície do tanque essas partículas separadas do líquido são

de fácil remoção de raspadores ou mesmo coletores.

3.3.1.7.2.4 Tratamento terciário

3.3.1.7.2.4.1 Desinfecção

A desinfecção do esgoto é realizada na etapa final do processo, ela não visa a

eliminação, mas busca inativar seletivamente espécies de organismos vivos infecciosos, ou

seja, organismos patogênicos (bactérias, vírus, protozoários e helmintos). Ela atua de três

formas nos organismos:

58

Destruição ou danificação da parede celular, do citoplasma ou do núcleo

celular, impedindo que desenvolvam suas funções elementares;

Alteração de importantes compostos envolvidos no catabolismo4, tais como

enzimas e seus substratos, alterando o balanço de energia na célula;

Alteração nos processos de síntese e crescimento celular, mediante a alteração

de funções, tais como a síntese de proteínas, de ácidos nucleicos e ecoenzimas.

A desinfecção pode ser feita por métodos artificiais:

Cloração;

Radiação ultravioleta;

Ozonização;

Membranas.

3.3.1.7.2.4.2 Remoção de nutrientes

A remoção de nutrientes é realizada quando há necessidade de um alto grau de

qualidade no tratamento. Estes nutrientes são o nitrogênio (N) e o fósforo (P).

A remoção biológica de nutrientes em zonas anaeróbias e anóxicas, dentro dos

sistemas de:

Lodos ativados: nitrificação + desnitrificação (zonas anóxicas). Desfosfatação

(zonas aeróbias e anaeróbias);

Reatores aeróbios com biofilme: nitrificação (baixa cargas, compatíveis com a

reprodução mais lenta das bactérias nitrificantes) + desnitrificação (zonas

anóxicas). Desfosfatação (zonas aeróbias e anaeróbias);

Outra alternativa é a adoção de processos químicos.

Processos físico-químicos: volatilização da amônia livre (elevação do pH +

transferência de gases). Adição de coagulantes ou alcalinizantes para

precipitação do fósforo solúvel; filtração ou flotação terciária para fósforo nos

sólidos em suspensão; e a combinação de ambos.

3.3.1.7.2.3 Subprodutos gerados pelo tratamento

Gás

4 Catabolismo é a quebra de substâncias complexas em outras mais simples [11].

59

Os gases produzidos nas ETE’s que utilizam reatores anaeróbios são o gás sulfídrico

(H2S) e o gás metano (CH4). O gás sulfídrico é tratado quimicamente em lavadores de gases,

por oxidação por hipoclorito de sódio ou por ozonização. Já o gás metano é enviado para os

queimadores , e em contato com a ar, ocorre a explosão do gás, inibindo a sua atividade

tóxica.

Lodo

O lodo é o resultado da remoção e concentração da matéria orgânica contida no

esgoto. A quantidade e a natureza do lodo dependem das características do esgoto e do

processo de tratamento empregado. Na fase primária do tratamento, o lodo é constituído pelos

sólidos em suspensão removidos do esgoto bruto, e na fase secundária o lodo é composto,

principalmente, pelos microorganismos (biomassa) que se reproduziram graças à matéria

orgânica do próprio efluente. O tratamento do lodo tem por objetivo, basicamente, a redução

de volume e do teor de matéria orgânica (estabilização), considerando a disposição final do

resíduo. O tratamento de lodo deve seguir os seguintes passos:

- Adensamento do lodo: trata-se de aumentar o teor de sólidos do lodo, que pode ser feito

por adensamento, por gravidade e por flotação. Tem como principal objetivo, a diminuição do

volume de lodo, reduzindo-se o porte das unidades de secagem de lodo existentes;

- Estabilização do lodo: a estabilização do lodo pode ser realizada pela digestão anaeróbia ou

pela digestão aeróbia. E objetiva a remoção de sólidos voláteis do lodo;

- Desidratação do lodo: tem a finalidade de reduzir ainda mais o volume de lodo a ser

transportado até o local de disposição final. É realizado por centrifugação ou leitos de

secagem. Após o tratamento o lodo precisa ser disposto. A disposição final do lodo pode ser

feita em aterros sanitários, juntamente com os resíduos sólidos urbanos. Mas vale salientar

que os lodos são ricos em matéria orgânica, nitrogênio, fósforo e micro nutrientes. Existe,

portanto, a alternativa de seu aproveitamento agrícola – aplicação direta no solo, em áreas de

reflorestamento e produção de composto orgânico, e outras aplicações em estudos.

3.4 ARGILA [12]

3.4.1 Conceito

60

O termo, argila, permite vários conceitos subjetivos e interpretativos, tornando-o, de

certa forma, indefinível e com vários sentidos. Os vários conceitos de argila são função da

formação profissional, técnica ou científica dos que por ela se interessam (agrônomos,

ceramistas, engenheiros civis, geólogos, mineralogistas, pedólogos, petrólogos, químicos,

sedementólogos, etc.), quer seja pela sua gênese, quer seja pelas suas propriedades, que ainda

pelas suas aplicações.

De fato, o termo argila representa para um ceramista, um material natural que quando

misturado com água se converte numa pasta plástica, para um sedimentologista, representa

um termo granulométrico que abrange todos os sedimentos em que dominam as partículas

com diâmetro esférico equivalente inferior a 2 mícron, para um petrologista, é uma rocha,

para um mineralogista, é um mineral ou mistura de minerais argilosos que apresentam

estrutura essencialmente filitosa e granulometria muito fina e, finalmente, para um leigo, uma

argila ou barro, é um material natural onde, quando úmido, a bota escorrega.

Todavia, o conceito de argila, que reúne aceitação mais geral, considera a argila como

sendo um produto natural, terroso, constituído por componentes de grão muito fino, entre os

quais se destacam, por serem fundamentais, os minerais argilosos. Este produto natural

desenvolve, quase sempre, plasticidade em meio úmido e endurece depois de seco e, mais

ainda, depois e cozido.

3.4.2 Grupos de Argilas

Em um mineral argiloso os elementos mais frequentes (oxigênio, silício, alumínio,

ferro, magnésio, potássio e sódio), no estado iônico, assemelham-se a esferas que se arranjam

em modelos estruturais tridimensionais. Os arranjos fazem-se segundo sete modelos

diferentes, pelo que é considerado igual número de grupos sistemáticos nos minerais argilosos

cristalinos, a saber: grupo da caulinite, grupo da ilite, grupo da montmorilonite, grupo da

clorite, grupo da vermiculite, grupo dos interestratificados e grupo da paligorsquite e sepiolite.

Cada grupo compreende várias espécies, cujo número se deve em particular à

substituição atômica isomórfica muito comum nos minerais argilosos.

3.4.3 Gênese dos minerais argilosos

Minerais como o quartzo, feldspatos, micas, anfíbolas e piroxenas, constituintes das

rochas silicatadas da crosta terrestre, quando expostos à atmosfera tornam-se instáveis. A

água que penetra nos poros, clivagens e microfraturas desses minerais dissolve os seus

61

constituintes. A reorganização destes constituintes em solução, com participação de água,

oxigênio, dióxido de carbono e íons dissolvidos permite a formação de minerais argilosos e,

que consequentemente, de argilas que ficarão em equilíbrio nas condições atmosféricas.

Os materiais que servem de base à formação dos minerais argilosos podem ser

minerais não argilosos, minerais argilosos pré-existentes, suspensões coloidais e íons em

solução aquosa. Estes materiais estão na origem dos três processos formadores das argilas, os

quais se podem classificar em neoformação, herança e transformação.

3.4.4 Propriedades gerais das argilas

3.4.4.1 Granulometria

As argilas são materiais geológicos finamente divididos. Os minerais argilosos, seus

constituintes têm cristais de pequeníssimas dimensões, em regra com diâmetro esférico

equivalente inferior a 2 mícron.

A granulometria é uma das características mais importantes dos minerais argilosos e

que domina muitas das suas propriedades. Na cerâmica estão dependentes da dimensão, da

distribuição e da forma do grão, propriedades tais como a plasticidade das pastas, a

permeabilidade e a resistência em verde e em seco dos corpos cerâmicos.

Nos sistemas granulares dispersos, o termo argila, como outros, silte, areia ou seixo, é

um conceito com significado puramente granulométrico. A argila compreende, pois, as

partículas de dimensões inferiores a 2 mícron, enquanto que por exemplo o silte compreende

as partículas de dimensões situadas entre 2 mícron e 20 mícron e a areia as partículas que se

situam entre 20 mícron e 2 mm.

3.4.4.2 Superfície específica

As argilas possuem elevada superfície específica, muito importante em certos usos

industriais em que a interação sólido – fluído depende diretamente da superfície específica do

sólido: cerâmica, catálise, branqueamento de óleos, etc. A superfície específica de uma argila

é definida como a (área da superfície externa) + (a área da superfície interna das partículas

constituintes), por unidade de massa, expressa em m²/g.

A superfície específica exprime o teor em fração argilosa ou o teor relativo de finos,

médios e grossos bem como o grau de dispersão/agregação das partículas constituintes de

argila. Todavia, o valor da superfície específica não oferece uma representação ou imagem da

dispersão dimensional do grão, uma vez que argilas com superfície específica igual ou

62

semelhante podem proporcionar comportamentos muito distintos face a determinadas

propriedades tecnológicas.

3.4.4.3 Troca ou permuta de íons

Os minerais argilosos possuem a propriedade de trocar íons fixados na superfícies

exterior dos seus cristais, nos espaços inter-camadas estruturais ou localizados noutros

espaços interiores mas acessíveis por outros íons existentes em soluções aquosas envolventes.

A capacidade de troca iônica que um mineral argiloso ou argila pode adsorver e trocar é uma

propriedade que resulta do desequilíbrio das suas carga elétricas. Este desequilíbrio deve-se a

substituições isomórficas, as quais influenciam fortemente determinadas propriedades físico-

químicas e tecnológicas.

A troca de íons é um processo estequiométrico segundo o qual cada íon adsorvido pelo

mineral argiloso, provoca a libertação de um íon anteriormente.

3.4.4.4 Viscosidade

O modo como sistema argila/água flui sob a ação de uma força tem muita importância

na indústria cerâmica. A moldagem ou formação dos corpos cerâmicos através de processos

variados (extrusão, prensagem por via seca ou úmida, trabalho e alambugem) requer bons

conhecimentos das propriedades reológicas da pasta ou barbotina.

A viscosidade de um fluído traduz a resistência que ele oferece à fluência. No sistema

argila/água o comportamento reológico assemelha-se ao de um fluído constituído por um

número infinito de moléculas lamelares que, quando em movimento, deslizam umas sobre as

outras. A viscosidade não é mais do que a medida da fricção interna das suas moléculas e a

fluidez é o inverso da viscosidade.

A viscosidade de qualquer suspensão de argila sofre modificações, geralmente

aumentando continuamente e irreversivelmente com o tempo, se não lhe for adicionada água.

A este efeito denomina-se envelhecimento duma suspensão, o qual pode ser acelerado se for

executado trabalho sobre ela utilizando, por exemplo, a ação de um agitador mecânico ou de

um agitador ultrassônico.

A modificação irreversível da viscosidade é devida à desagregação progressiva dos

agregados de partículas de argila e à clivagem dos cristais individuais dos minerais argilosos

por ação da água, fazendo aumentar os contatos entre partículas aumentando,

consequentemente, a viscosidade.

Algumas suspensões de argila, se deixadas em repouso durante algum tempo,

63

evidenciam um espessamento, tornando-se mais viscosas. Porém, se depois forem sujeitas a

vigorosa agitação, tornam-se novamente fluídas, para voltarem ao estado inicial. Esta

propriedade reversível, dependente do tempo de repouso, é denominada tixotropia.

3.4.4.5 Plasticidade

Plasticidade de uma argila é a propriedade que se manifesta na mudança de forma sem

rotura de uma massa feita com argila e água por aplicação de uma força exterior e pela

retenção da forma quando a força é removida ou reduzida abaixo de um certo valor

correspondente à chamada tensão de cedência. O termo trabalhabilidade usa-se também, por

vezes, como sinônimo de plasticidade.

O grau de deformação de uma pasta de argila, até ela entrar em rotura, aumenta

progressivamente até determinado valor em função do conteúdo em água. A água, em

quantidade adequada, funciona como lubrificante que facilita o deslizamento das partículas

umas sobre as outras sempre que uma tensão superficial é aplicada.

Os principais fatores que afetam a plasticidade são a mineralogia, granulometria,

forma dos cristais, carga elétrica dos cristais e o estado de desfloculação da argila.

3.4.4.6 Endurecimento após secagem ou cozedura

Durante a secagem dos corpos cerâmicos (a temperatura próxima dos 110°C) ocorrem

contrações de volume. Estas contrações podem ser boas, permitindo a separação do corpo

cerâmico do molde de gesso, ou inconvenientes do ponto de vista tecnológico, provocando o

fendilhamento do corpo caso a contração seja muito rápida ou não uniforme. Os corpos

cerâmicos secos adquirem certa resistência mecânica que permite a sua manipulação no

decurso do processo de fabricação. A resistência mecânica é maior ou menor em função de

parâmetros como sejam a forma e espessura do corpo cerâmico, tipo e teor de argila, bem

como finura e forma das partículas.

Durante a cozedura os componentes minerais que constituem o corpo cerâmico, para

determinadas temperaturas sofrem modificações estruturais ocasionando retrações ou

expansões volumétricas do corpo. As estruturas muitas vezes colapsam e, para temperaturas

relativamente elevadas, podem desenvolver-se as chamadas fases de alta temperatura e as

fases vítreas. Por isso, a cozedura proporciona aumento notável da resistência mecânica dos

corpos cerâmicos.

3.4.4.7 Classificação das argilas

64

A complexidade e a variabilidade das argilas deve-se à variação qualitativa e

quantitativa dos minerais argilosos que as constituem, à variação da distribuição dimensional

das partículas minerais que as formam e às suas características texturais. Estes fatores

dificultam a classificação das argilas, conduzindo à ideia de que não existem duas argilas

iguais.

Contudo, existem duas classificações, frequentemente usadas, que têm em conta, quer

o modo de formação, quer a composição e usos industriais das argilas. Por um lado, temos

uma classificação genética, que tem em conta a relação entre os processos de formação das

argilas e o seu modo de ocorrência e, por outro, temos a classificação industrial ou

tecnológica, que tem em consideração as características e propriedades específicas das argilas

e as suas aplicações industriais.

3.4.4.7.1 Caulino

O caulino é uma argilas constituída essencialmente por caulinite que coze branco ou

quase branco e que é muito refratária. O termo caulino deriva da expressão chinesa Kao Ling,

nome dado a uma colina da China central perto da qual se explorava este material para a

fabricação de porcelana.

A formação dos caulinos resulta da alteração meteórica das rochas ricas em feldspatos

e micas, pelo que os depósitos com interesse econômico podem ser do tipo residual,

localizados próximo da fonte que lhes deu origem, ou do tipo sedimentar, localizados fora da

fonte de alimentação.

A rocha caulinizada ou caulino bruto, pode ter teores em caulinite inferiores a 20%.

Além da caulinite, participam também na sua composição quartzo, feldspatos, micas e muitos

outros minerais acessórios. Tendo em vista as aplicações industriais desta matéria prima,

torna-se imprescindível proceder à sua beneficiação, de forma enriquecê-la para valores entre

80-90% de caulinite.

3.4.4.7.2 Fire Clay – Argilas refratárias

As fire clays são argilas sedimentares de refrataridade superior a 1500°C e que

queimam com cor castanho claro. O termo refere-se não só à resistência piroscópica ou

refrataridade, mas também ao modo de jazida. De fato, estas argilas ocorrem sob ou

intercaladas entre camadas de carvão sendo, por vezes, denominadas de underclay.

65

As fire clays são constituídas essencialmente por caulinite associada a quantidades

variáveis de quartzo, mica, diquite, ilite, montmorilonite, interestratificados ilite-

montmorilonite e matéria orgânica.

Existem outras argilas ainda mais refratárias que as fire clays – as refractory clays –

que compreendem a flint Clay e a semifint clay. Estas argilas são mais cauliníticas e mais

aluminosas, contendo hidróxidos de alumínio como a gibsite e a boemite.

3.4.4.7.3 Bentonite

A bentonite é uma argila residual proveniente da alteração de cinzas ou tufos

vulcânicos ácidos, de granulometria muitíssimo fina que, geralmente, aumenta de volume de

modo substancial em meio aquoso, cor variada e baixa refratatidade.

A bentonite é um designação genética e comercial atribuída a uma argila rica em

minerais do grupo da montmorilonite. O nome foi, pela primeira vez, atribuído a uma

ocorrência desta argila localizada em Forte Benton no Estado de Wyoming, EUA, que pelas

suas características reológicas especiais, começou por ser usada como lama de sondagem nos

furos de pesquisas e produção de petróleo.

Existem duas variedades de bentonite, uma expansiva e outra não expansiva, diferindo

esta da primeira por apresentar interestratificados ilite-montmorilonite. A bentonite expansiva

apresenta, ainda, quando imersa em água, grande tixotropia, podendo mesmo aumentar até

vinte vezes o volume da argila seca.

Existem argilas montmoriloníticas sedimentares ou residuais não relacionadas com

cinzas ou tufos vulcânicos que, quando devidamente tratadas, produzem argilas com

especificações industriais semelhantes às verdadeiras bentonites.

3.4.4.7.4 Ball Clay – Argilas em bola

As Ball clays são argilas muito plásticas, com granulometria muito fina (onde

dominam as partículas com diâmetro esférico equivalente inferior a 1 mícron), com apreciável

poder ligante, com refrataridade inferior à do caulino e que evidenciam cor marfim ou creme

claro após cozedura. O termo que lhes deu o nome teve origem na plasticidade extremamente

elevada destas argilas que permitem que, nas explorações a céu aberto, fossem cortadas em

cubos que eram rolados por gravidade, para a base das explorações, adquirindo formas

arredondadas.

As Ball clays são compostas basicamente pro caulinite, associada a hidromica e

quartzo finamente divididos, clorite, montmorilonite, interestratificados ilite-montmorilonite e

66

matéria orgânica. São sempre argilas sedimentares com características específicas para cada

depósito e dentro dos quais são vulgares as variações de qualidade.

3.4.4.7.5 Argilas fibrosas

As argilas fibrosas são constituídas, basicamente, por minerais argilosos fibrosos do

grupo da paligorsquite e sepiolite, umas vezes ricas em paligorsquite outras vezes ricas em

sepiolite. A atapulgite é a designação comercial de uma argila fibrosa constituída à base

paligorsquite. O seu nome deriva dos importantes depósitos que ocorrem em formações

miosénicas na área de Quicy-Attapulgus no sul da Geórgia e a Norte da Flórida.

Estas argilas são caracterizadas por desenvolver alta viscosidade nas suspensões ou

dispersões aquosas em que participam. Devido ao hábito muito alongado das partículas dos

minerais fibrosos, elas não floculam facilmente.

3.4.4.7.6 Fuller`s earth – Terra fuller

A fuller earth é uma argila predominantemente montmorilonítica, que apresenta

interestratificados ilite-montmorilonite e clorite-montmorilonite, paligorsquite ou sepiolite,

com alto poder absorvente e em que o cátion de troca é geralmente o magnésio.

O termo tem um significado histórico referindo-se a qualquer argila que tinha a

capacidade de absorver óleos, gorduras ou corantes e que podia ser utilizada na limpeza de

roupas de lã.

Por vezes a fuller earth montmorilonítica não se distingue mineralógica e

geologicamente da bentonite não expansiva. No entanto, uma bentonite não expansiva não

produz qualquer clarificação de óleos, a não ser depois de tratada, ao contrário da fuller earth.

3.4.4.7.7 Argila comum

É a argila mais abundante na natureza, sendo utilizada na fabricação de produtos

cerâmicos de menor valor comercial. Ocorre em depósitos sedimentares, geralmente de idades

recente na história geológica e de origens diversas: glaciar, eólica, fluvial ou marinha.

A argila comum compreende dois tipos principais de argilas, determinados pela sua

utilização industrial: argila para olaria e argila para tijolo.

A argila para a olaria é utilizada particularmente em cerâmica ornamental de terracota,

é plástica e pode ser moldada facilmente no torno de oleiro. De cores variadas, na sua

composição podem entrar quartzo, feldspatos, micas, óxidos e hidróxidos de ferro, pirite e

67

carbonatos. Após queima proporciona corpos cerâmicos de cor variada, dependendo dos

minerais presentes portadores de ferro, titânio e manganês e da atmosfera que preside à

queima. Na queima verifica-se uma região de vitrificação pouco ampla entre 1150-1330ºC.

A argila para tijolo é uma argila grosseira possuindo quantidades apreciáveis de silte e

areia e cores variadas. O teor em fração argilosa é baixo, mas suficiente para permitir o

desenvolvimento da plasticidade necessária à moldagem dos corpos cerâmicos. A plasticidade

cresce, obviamente, com a razão minerais argilosos/minerais não argilosos. Este tipo de argila

é utilizada na cerâmica estrutural na fabricação de materiais de construção aplicados em

Engenharia Civil, nomeadamente, tijolo maciço e tijolo furado, telha e pavimentos. Na sua

composição, para além dos minerais argilosos, participam quartzo, micas, fragmentos de

rocha, carbonatos em grão ou concreções, sulfatos, sulfuretos, óxidos e hidróxidos de ferro e

matéria carbonácea.

3.5 BABA DE CUPIM [13]

3.5.1 Conceito

Os cupins têm a capacidade de produzir enzimas, popularmente chamada “baba”, e

uni-las aos pequenos grãos de terra retirados do local para construir um grande complexo de

túneis e caminhos.

Os montículos são feitos de argila cimentada com as próprias fezes e saliva. Esses

materiais produzem uma pasta duríssima e rígida.

Esta baba, além da característica colante é também um excelente acabamento de

proteção às chuvas, onde sua dureza pode trazer uma maior resistência e uma permeabilidade

necessária, garantindo a condição adesiva e uma liga que não desagregue frente à umidade.

3.6 PERMACULTURA [14]

3.6.1 Conceito

Permacultura é um conceito prático que pode ser aplicado tanto na cidade como

no campo e em áreas de vida silvestre. Seus princípios estimulam a criação de ambientes

68

equilibradamente produtivos, ricos em alimentos, energia, abrigos e outras necessidades

materiais e não materiais, o que inclui infraestrutura social e econômica.

O conceito foi desenvolvido nos anos 70 por Bill Mollison e David Holmgren

tendo sido incluído nos currículos escolares desde 1981 O termo Permacultura originou-

se da fusão de dois conceitos, “agricultura e permanente”.

Inicialmente a Permacultura dedicou esforços no planejamento de ecossistemas

agrícolas produtivos no sentido de permitir estabilidade, diversidade e flexibilidade aos

mesmos, à semelhança dos ecossistemas naturais. Pouco a pouco o conceito foi sendo

ampliado e aplicado a todos os ramos da atividade humana bem como à construção de

uma sociedade planetária alternativa.

O planejamento em Permacultura é desenvolvido através da cuidadosa observação

dos padrões naturais e das características de cada lugar em particular, o que permite uma

gradual implementação de métodos ótimos para integrar instalações humanas com os

sistemas naturais de produção de energia como florestas, plantas comestíveis, aquicultura,

animais silvestres e domésticos, dentre outros.

A Permacultura promove o aproveitamento de todos os recursos (energias)

utilizando a maior quantidade possível de funções em cada uma dos elementos de uma

dada paisagem, com seus múltiplos usos no tempo e no espaço. O excesso ou descarte

produzidos por plantas, animais e atividades humanas são criteriosamente utilizados para

beneficiarem outros elementos do sistema.

As plantações (roçado, jardim, pomar, floresta) são cultivadas de modo que haja

um perfeito aproveitamento da água e do sol. São utilizadas associações particulares de

árvores, perenes e não perenes, arbustos e ervas rasteiras que se nutrem e se protegem

mutuamente. São construídas pequenas lagoas e outros elementos para melhor

aproveitamento da grande diversidade de atividade biológica em interação nos

ecossistemas.

O desenvolvimento do planejamento requer flexibilidade e uma sequencia

apropriada para que possam introduzir mudanças à medida que, a experiência e a

observação, o indicarem. Criar um ambiente apropriado à Permacultura é um processo

longo e gradual, mas também podem ser utilizadas técnicas de aceleração.

A Permacultura adota técnicas e princípios da Ecologia, tecnologias apropriadas,

agricultura sustentável associadas à sabedoria de anciões, indígenas e populações

tradicionais, mas, está baseada principalmente na observação direta da natureza do lugar.

69

Os fundamentos éticos da Permacultura repousam sobre o cuidar do Planeta Terra,

fortalecendo sua capacidade de manutenção de todas as formas de vida, atuais e futuras.

Isto inclui a possibilidade humana de acesso a recursos e provisões sem desperdícios ou

acúmulos além de suas necessidades. Observando a regra geral da natureza na qual

espécies cooperativas e associação de espécies produzem comunidades saudáveis, os

participantes da Permacultura reforçam a cooperação e valorizam a contribuição única de

cada pessoa na comunidade.

A concepção política da Permacultura é crescente desde o surgimento da

consciência de uma eminente crise ecológica gerando a visão de um futuro próximo onde

pessoas e comunidades tentam libertar-se de um sistema decadente, usando as terras no

entorno de suas casas para prover suas necessidades básicas.

Os ativistas permacultores geram espaços de máxima produtividade e de mínimo

desperdício. Trabalham para assentar bases para o surgimento gradual de cooperativas,

comunidades ou vilas autossuficientes como modelos para uma sociedade planetária

alternativa. Quanto mais produtivas as áreas dos assentamentos humanos, mais factível

será a proteção das florestas e outras áreas silvestres tão necessárias à saúde do Planeta

Terra.

3.6.2 Princípios da Permacultura

3.6.2.1 Princípios éticos

3.6.2.1.1 Cuidar da Terra

Significa cuidar de todas as coisas, vivas e não vivas: solos, espécies e suas variedades,

atmosfera, florestas, microhabitats, animais e águas. Isto implica na realização de atividades

inofensivas e reabilitadoras, conservação ativa e uso ético e moderado de seus recursos. Todas

as ações que forem tomadas devem ser de tal maneira que os ecossistemas permaneçam

substancialmente intactos e capazes de funcionar saudavelmente.

Gaia, a Terra, é um sistema complexo, interdependente e em processo de evolução.

Gaia está fora do entendimento completo do ser humano. A única alternativa é tratá-la

com respeito e admiração.

3.6.2.1.2 Cuidar das pessoas

70

Estimula a ajuda mútua entre as pessoas e a comunidade. As necessidades básicas de

alimento, abrigo, educação, trabalho satisfatório, contato humano e convivência são

levadas em conta. O cuidado com as pessoas é importante, já que apesar de ser uma

pequena parte dos sistemas totais de vida. Para prover as necessidades básicas não é

necessário executar práticas destrutivas em grande escala contra a terra.

3.6.2.1.3 Distribuição equitativa dos recursos

O ser humano precisa dispor de tempo, dinheiro e energia excedentes para alcançar

os objetivos necessários aos cuidados com as pessoas e com a terra. Depois de haver

cuidado das necessidades básicas e planejado os sistemas, buscando usar o melhor de suas

habilidades, pode-se estender suas influências e energias para ajudar outras pessoas a

entenderem este enfoque.

Para considerar a distribuição equitativa dos recursos, urge um limite nas

necessidades, na população e no consumo, que terá de atender dois conceitos importantes,

a capacidade de carga e o caminho ecológico.

3.6.2.2 Princípios de ações

3.6.2.2.1 Funções Múltiplas

Esta ideia consiste em assegurar que o que está incluído em um sistema tenha o

maior número de funções possíveis, isto simplesmente aumenta a eficiência. Por exemplo,

construindo um depósito em um jardim para armazenar ferramentas, pode-se usar o seu

teto para captação de água que irá para um tanque de armazenamento ou poderia servir de

sustentação para plantas trepadeiras. Poderia servir como barreira de separação para

diferentes partes do jardim e poderia esconder uma vista desagradável, entre outras

funções.

3.6.2.2.2 Diversidade

A estabilidade dinâmica dos ecossistemas é a baseada na diversidade de espécies e

nas múltiplas interações existentes. Os planejamentos devem tratar de incorporar e

construir a mais ampla variedade e diversidade possíveis. Grandes áreas de monocultivo

71

são facilmente invadidas por pragas e ervas indesejáveis. Em um cultivo ou jardim com o

maior número possível de espécies, nem as pragas, nem as ervas indesejáveis têm a

oportunidade de criar um estado desbalanceado suficiente para causar danos.

Usam-se variedades de plantas e espécies para criar uma rica rede de interações

e uma eclética mistura de associações entre todos os elementos do desenho.

3.6.2.2.3 Reciclagem de Energia

A energia que provêm do SOL e seu fluxo através dos ecossistemas são a base da

vida no PLANETA, segundo os princípios da Ecologia. Os organismos que mantém sua

porção desta energia por maior tempo possível e que usam essa energia de forma mais

eficiente são os que provavelmente irão sobreviver e prosperar.

Em termos de desenho, isto quer dizer que se necessita criar ciclos de energia

eficientes, densos e efetivos dentro de cada parte do sistema e em todas as partes

possíveis.

Um bom exemplo de reciclagem de energia é a compostagem. A energia presente

dentro dos desperdícios alimentícios, pastos podados e outros restos orgânicos, com a

ajuda de bactérias e fungos podem ser outra vez convertidos em nutrientes que as plantas

poderão reutilizar para produzir novos alimentos.

3.6.2.2.4 Padrões Naturais

Com um pouco de atenção, a observação dos sistemas naturais revelará padrões e

planos complexos. Não se encontram linhas retas ou quadros perfeitos. Usa-se os padrões

da natureza como inspiração em trabalhos de desenho. Quando se realiza planos para uma

propriedade, impõem-se padrões sobre a paisagem. Necessita assegurar que os padrões

selecionados sejam tão belos e funcionais como os que a natureza usa. Muitas ideias da

Permacultura têm sido inspiradas em tais observações.

3.6.2.2.5 Localização Relativa

Cada árvore, cada planta, cada estrutura tenderá para uma área onde será

especialmente benéfica. Plantar uma árvore de abacate em um lugar que está úmido e

molhado provavelmente matará a árvore (as raízes apodrecem). Igualmente, não tem

72

sentido plantar, como sistema de quebra-vento, uma planta quebradiça como, por

exemplo, Acacia decurrens5.

Este princípio requer pensamentos sobre as necessidades de cada elemento

(botânica, horticultura, no caso das plantas) e também nas interações que vão se suceder

por causa da colocação deles.

3.6.2.2.6 Recursos Biológicos

A natureza é muito eficiente e tem desenvolvido métodos para manejar quase todas

as funções. Sempre que possível, deve-se usar sistemas naturais para fazer o trabalho.

Trocar materiais químicos feitos por seres humanos para combater problemas de pragas,

por sistema planejado com patos e/ou galinhas permitindo-lhes que andem na horta

(controlando sua permanência) e permitindo-lhes que comam os insetos e pragas em vez

de fumigar com pesticidas. Mesmo porque algumas pragas podem desenvolver imunidade

rapidamente contra os mais modernos e caros pesticidas, mas nenhuma praga pode

desenvolver imunidade contra o ser comida por uma galinha.

Pode-se escavar a terra para fazer um cultivo de hortaliça em um jardim, ou apenas

alimentar a terra e assegurar que se tenha uma grande população de minhocas as quais

farão o trabalho de arear a terra e o fazem melhor que uma enxada ou pá.

3.6.2.2.7 Planejando com os Declives

Tirar vantagem da situação, como usar pendentes ou diferenças de altura, para fazer

fluir a água e outros fluídos como ar frio para baixo. Colocando um grupo de tanques de

armazenagem sobre o teto da casa, pode-se regar a horta sem ter que comprar uma

bomba.

3.6.2.2.8 Uso das Bordas

Em Ecologia se constata que as bordas(limites) entre diferentes ecossistemas sempre

são mais produtivas do que cada ecossistema o é individualmente, posto que a área de

5 É uma árvore ornamental, cujo fruto em forma de vagem torcida, possui sementes pretas. Ela pode

crescer até seis metros e também possui quatro metros de diâmetro na sua copa, cujas folhas são pequenas e

lineares. É muito conhecida pelos seus lindos cachos amarelo-claros de flores [14].

73

borda possa manter espécies de dois ou mais ecossistemas como também espécies únicas

em uma área de borda que represente a mescla dos ecossistemas vizinhos.

Uma linha sinuosa (para quebra-vento, por exemplo) é mais larga que uma linha reta

ainda que conectem os mesmos pontos – têm mais borda e esta linha pode ser plantada

com mais espécies úteis – e em si é mais efetiva como quebra-vento.

Existem vários estilos de bordas. Deve-se usá-las o máximo possível. O desenho de

tanque em formato de roda cria uma boa borda água/jardim.

3.6.2.2.9 Zonas

O conceito de zonas trata do manejo (economia) de energia. Colocar mais próximo

do centro de atividades as coisas que requerem muita atenção (energia) especialmente na

forma de atividade humana. No geral isto quer dizer, próximo da residência.

Um jardim de cultivo de verduras e ervas como acelga para cortar frequentemente

(que se visita na média de duas vezes ao dia) deve estar mais perto possível da porta ou

área atrás da casa ou próximo da cozinha. Uma área de árvores cultivadas para uso da

lenha pode estar localizada mais longe da casa.

Em muitos livros de permacultura, este conceito de Zonas se divide com

designações de: Zona 1 – O jardim de cultivo e hortaliças, localizada perto da casa. Zona

2 – Horto, galinheiro, medianamente distante da casa. Zona 5 – Área de bosques silvestres

ou de cultivo, bosque natural, área de caça e outros recursos, mais distanciada da casa.

O ponto importante aqui é que há vários níveis de intensidade no uso de energia no

manejo do ambiente.

3.6.2.2.10 Múltiplos Elementos

Elementos múltiplos são como uma espécies de apólice de seguro. Trata-se de

pensar sobre as funções e serviços que se quer e encontrar todas as maneiras possíveis

para realizá-las. Por exemplo, a água é sumamente importante para qualquer atividade

humana, assim é que sua captação deve ser de grande prioridade.

A função de captação de água pode realizar-se com sistemas estabelecidos no teto da

casa (tanques de captação) que através de canos de descida chegam a seu destino ou por

74

um sistema de Swales6. Para extrair água da terra ela é bombeada de poços e/ou de rios. O

tratamento de águas negras também é uma forma de colher (economizar) água.

Uma represa pode ser multifuncional porque pode conter peixes, pode conter plantas

de ambiente aquático, pode ser usada como sitio de relaxamento e diversão, e também

pode servir de proteção contra incêndios (por exemplo, se a represa é colocada no setor de

incêndios sobre a principal direção de ventos intensos e secos).

A represa pode ter um entre outros tantos elementos. Assim pode ser usada também

na proteção contra incêndios – outros elementos para controlar incêndios podem ser

montículos de terra, uma área de pastagem totalmente usada, uma estrada ampla, ou um

plantio denso de vegetação resistente ao fogo, entre outros.

3.6.2.2.11 Setores

Este trata do conceito que se diz respeito à energia que flui através de um sistema.

Este fluxo ocorre geralmente a partir de direções específicas. São estas direções que

definem os setores. A cobertura das construções deve levar em consideração estes dados.

3.6.2.2.12 Sucessão Natural

Os Sistemas Naturais constantemente estão em evolução e desenvolvimento até à

maturação. Os desenhos necessitam de planejamento para o futuro, para permitir que esta

expansão natural ocorra. Isto pode se levar a cabo simplesmente na maneira de plantar

uma árvore frutífera para permitir espaço onde possa se desenvolver e crescer até ser uma

árvore grande.

No princípio a árvore se encontra muito sozinha, rodeada por muito espaço, porém

através dos anos, ela utilizará esse mesmo espaço ao madurar como árvore frondosa e

frutífera.

6 Escavações sobre as curvas de nível topográfico[14].

75

A tendência dos sistemas em evoluir através da sequencia, ervas, pioneiras,

secundárias e clímax, pode ser explorada de outra maneira. Primeiro, incluir plantas úteis

em cada nível. Em vez de permitir que uma área seja coberta por ervas invasoras,

geralmente de folhas grandes, plantar ervas úteis ou fixadoras de nitrogênio como plantas

de cobertura. Pioneiras podem ser plantas como a banana, o mamão, entre outras.

Finalmente, o estrato clímax pode ser constituído por árvores de grande porte e frutíferas,

ou ótimas para o aproveitamento da madeira, ou uma leguminosa também de grande porte

como o jacarandá.

3.7 ADOBE [15]

3.7.1 Conceito

O tijolo de adobe é argila retirada do subsolo e cozido no sol, dispensando a queima de

carvão que necessita de muita energia e produz grande quantidade de CO2. O em-

preendimento construído com este material apresenta muitas qualidades, como bom

comportamento termo acústico e são 100% recicláveis ou reutilizáveis.

O adobe é uma técnica antiga que pode ser encontrada em diversas áreas do mundo,

sendo uma das primeiras soluções para construção de abrigo, encontradas pelo homem. A

palavra adobe pode ter sido originada do árabe “atob”, que significa pasta grudenta. Acredita-

se que chegou à Europa através do norte da África.

3.7.2 Correção do solo

A correção do solo é uma etapa muito comum, que procura obter uma composição

com melhor coesão, reduzir a porosidade do adobe e melhorar sua resistência. Para tanto, após

o conhecimento da composição, é necessário alterar a porcentagem de cada componente

(areia, argila, silte e água). Solos com grande porcentagem de compostos orgânicos não são

recomendáveis para a construção, pois sua decomposição pode causar falhas no material.

Também é possível acrescentar aditivos com a finalidade de impermeabilizar o

produto final. Os aditivos mais comuns são: fibras vegetais, cimento, cal e betume. Outras

formas de correção também são aplicadas.

3.7.2.1 Estabilização por Aditivos

76

Onde se adiciona cimento portland (formando o solo-cimento) ou a cal virgem ou

hidratada ou uma mistura de cal e cimento ou, ainda, uma mistura de cal com cinzas.

3.7.2.2 Estabilização por armação

Consiste em agregar ao barro um material de coesão (fibra ou grãos), que permite

assegurar, pelo atrito com as partículas de argila, uma maior firmeza ao material. Esse

material funciona como a armadura de aço no concreto armado. Segundo Bardou & Arzouma

(1979), a resistência do material é reduzida, entretanto, se ganha em estabilidade e

durabilidade. Não há limitações para os materiais que podem ser utilizados, dependendo

apenas da disponibilidade local.

3.7.2.3 Estabilização por impermeabilização

Consiste em envolver as partículas de argila uma camada impermeabilizante. O

material mais conhecido utilizado para este fim é o asfalto (betume), além de outros materiais

como o óleo de coco, algumas seivas oleaginosas, látex e azeite de oliva.

3.7.2.4 Estabilização por tratamento químico

Os compostos químicos variam de acordo com a própria composição da argila.

Portanto, nesse caso, é preciso uma análise química da mesma. O cal pode funcionar como

estabilizador químico, agindo com os silicatos e aluminatos da terra. Outros elementos de

baixo custo podem ser utilizados, como a soda cáustica e a urina de gado.

3.7.3 Composição do solo

Os materiais utilizados na fabricação de tijolo de adobe são facilmente encontrados:

água, solo (areia, argila ou silte) e fibras orgânicas ou inorgânicas. A composição ideal do

material é de 54% a 75% de areia e de 25% a 43% de ligantes, sendo 10% a 25% de silte ou

15% a 18% de argila (McHenry, 1984). A areia grossa é o agregado, que dá a resistência, a

areia fina preenche os vazios e o silt e a argila grudam os ingredientes. Solos com mais areia

são mais fortes, porém mais suscetíveis à erosão por chuvas.

Para conhecer a composição do solo, é possível fazer um teste simples: mistura-se o

77

solo coletado à água em um recipiente de vidro. Com a decantação da argila no fundo é

possível ver a porcentagem desta.

Os principais ensaios a serem realizados para verificação do solo utilizado na

fabricação de adobe (Farias, 2002) são:

teor de umidade natural do solo e da massa específica aparente do solo em

estado solto.

determinação da concentração de nutrientes e metais no solo.

determinação da distribuição granulométrica.

determinação do limite de liquidez e limite de plasticidade ou, ensaios de

consistência.

determinação do limite de contração.

3.7.4 Traços ou Mistura

O traço de 20% significa que o volume de biomassa é de 20% do volume do solo e é

calculado pela seguinte equação:

Tv= (Vm/Vs)x100%

Tv: traço em volume

Vm: volume da biomassa picada, à umidade Uhm (unidade de volume)

Vs: volume do solo, à umidade natural (unidade em volume)

Como a massa contida na unidade de volume pode variar de acordo com a umidade,

Faria (2002) utiliza também o traço para massa, sob a seguinte equação:

Tm= (P ap fib seca / P ap solo seco) x Tv

Tm: traço em massa (%)

P ap fib seca: massa específica aparente da fibra vegetal seca (g/cm³)

P ap solo seco: massa específica aparente do solo seco (g/cm³)

Tv: traço em volume (%).

3.7.5 Processo de Fabricação

A princípio, qualquer área que tenha um clima que ofereça períodos de uma ou mais

semanas sem chuva será adequada para o manufaturamento e o uso do tijolo de adobe.

78

O processo de manufatura pode ser, mecanizada ou não, dependendo apenas da

disponibilidade de equipamentos e da necessidade de produção em escala, consistindo

basicamente das seguintes etapas:

Peneiramento: com uma peneira grossa de 4 mm realiza-se o peneiramento da

terra seca.

Amassamento e descanso: é necessário que se amasse o barro (mistura de solo,

biomassa e água) e o deixe em repouso por 48 horas (para melhor homogeneização

da umidade e absorção pela biomassa). Após este repouso, antes da moldagem dos

tijolos, deve ser amassado vigorosamente novamente, para se evitar que as lâminas

de argila se ordenem segundo atrações elétricas, o que acarretaria redução na

resistência mecânica dos tijolos. A umidade do barro é determinada conforme a

trabalhabilidade do material.

Moldagem: as formas, geralmente de madeira são preenchidas pelo barro. Com

uma espátula retira-se o excesso criando uma superfície acabada.

Secagem em área descoberta: a primeira secagem ocorre sob sol em área

descoberta. Esse período deve ser suficiente para que os tijolos percam o excesso

de umidade, ganhem resistência, ocorram as retrações iniciais, que são as mais

expressivas. Esta etapa leva de 2 a 3 dias e, no inverno, várias semanas, segundo

McHenry (1984).

Secagem em área coberta: a segunda secagem ocorre de forma protegida das

intempéries para que não absorva umidade. Esta fase pode durar em torno de, pelo

menos, 30 dias, período em que os tijolos atingem o equilíbrio higroscópico.

Os tijolos devem ser virados com frequência para que a secagem seja homogênea,

evitando retrações diferenciais e deformação dos tijolos.

Quanto mais fino e menor o adobe, mais rápida é a cura. Por se tratar de um processo

físico, a velocidade de perda de água, é determinada pela temperatura, umidade, ventilação e

espessura.

As dimensões de tijolo variam muito de região para região. Milanez (1958) cita tijolos

variando, na altura, largura e comprimento, respectivamente, desde 8 x 12 x 25 cm, até 10 x

30 x 46 cm.

3.7.6 Construção do empreendimento

79

As paredes são construídas conforme qualquer parede de alvenaria de tijolo, com a

diferença de que a argamassa indicada é a de terra, com o mesmo traço do adobe, para

garantir boa liga e mesmo comportamento.

A fundação geralmente é feita em sapata corrida de pedra para isolar o

empreendimento da umidade do solo. Porém, muitos alicerces continuam sendo feitos em

terra socada em função da disponibilidade de materiais local, utilizando-se de cal para

combater a umidade excessiva.

O assentamento é feito através de barro do mesmo traço dos tijolos, porém, este

processo pode retardar a secagem da massa por não estar exposto ao ar. Esta questão pode ser

corrigida utilizando-se espessuras menores de tijolo ou uma mistura de cal e cimento no

assentamento.

Os acabamentos externos têm como finalidade proteger o tijolo das intempéries (chuva

principalmente). O revestimento inicial da parede equivale ao chapisco. MacHenry aconselha

reforçar esse acabamento inicial com uma pequena quantidade de material fibroso por duas

razões: no revestimento pode-se usar um alto percentual de argila (de 20 a 25%) e no

acabamento torna possível a aplicação de uma camada mais grossa para o alisamento da

superfície. O acabamento das paredes também pode ser composto por uma argamassa de

cimento e cal.

A pintura também é utilizada para acabamentos como repelente de água. As

superfícies internas do adobe podem ser seladas e pintadas. Materiais como óleos, vernizes e

resinas líquidas podem ser utilizados também. Se forem pintados os tijolos, com tinta látex, a

parede poderá ser mais bem selada e acabada.

3.7.7 Condutibilidade Termo- acústica.

Lembrando que intensidade do fluxo de calor é diretamente proporcional à

condutibilidade k7. Vemos que o adobe tem um k menor do que métodos tradicionais como o

bloco cerâmico e o concreto. A construção em terra é caracterizada por possuir uma elevada

massa por unidade de superfície. A inércia térmica atrasa o aquecimento dos espaços

interiores e retarda seu esfriamento, sendo uma vantagem considerável em climas com grande

amplitude térmica. No entanto, os blocos de terra não são bons isolantes térmicos. A alta

densidade e quantidade de massa de uma parede de adobe garante bom isolamento acústico.

7 Coeficiente de condutibilidade térmica [15].

80

3.8 SOLO CIMENTO [16]

Adicionando uma pequena quantidade de cimento ou cal às qualidades plásticas da

terra, obtém-se um material surpreendente, tradicional e popular: o solo cimento ou solo cal.

Este material, com eficiência comprovada há décadas em vários continentes, é empregado na

construção de conjuntos habitacionais, edifícios, muros de contenção, escolas, na

pavimentação de vias e estradas...

O solo cimento é uma mistura de 10 a 20 partes de terra para uma de cimento, esta

mesma mistura pode ser feita com cal virgem. Utilizando basicamente os recursos materiais

locais, dispensando o uso de equipamentos sofisticados e o consumo de energia, harmoniza-se

com as características ambientais e culturais das regiões brasileiras, este material é uma

solução simples, prática e avançada que permite um considerável barateamento da construção.

Os métodos construtivos com solo cimento exigem mão de obra pouco especializada.

Podendo ser adotadas sistemas familiares e comunitários, no esquema de mutirão.

3.8.1 Como escolher a terra

Misturar terra, água e um pouco de cimento ou cal, nas proporções de dez ou vinte de

terra (dependendo do caso) para uma parte de cimento, teremos um excelente material

construtivo que podemos construir no próprio local da obra, utilizando material do mesmo

local. Não é qualquer tipo de terra que pode ser usada para solo cimento. Ela precisa ter

características básicas:

Deve ser facilmente desagregável e conter minerais diversos sob a forma de

areia;

Solo com matéria orgânica não serve para a fabricação do solo cimento;

Os solos mais indicados são os arenosos;

Teor de areia de 45 a 85%;

Teor de silte e argila de 20 a 55%;

Teor de argila menor que 20%

A aparência de terra empregada na confecção do solo cimento é muito parecida com

aquela usada em argamassa de alvenaria e reboco. Não pode ter muito barro, mas também não

pode ter muita areia. Toda a terra deve ser peneirada em malha 4,8 milímetros.

3.8.2 Ensaios que avaliam qualidade

81

3.8.2.1 Ensaio do bolo

É um método caseiro, que consiste em colocar na palma da mão uma porção de terra

bastante úmida, formando uma bola que deve ser golpeada até que aflore uma película de

água na superfície da amostra, dando aspecto liso e brilhante. O passo seguinte é pressionar o

bolo com os dedos.

Quando o solo tem boa qualidade para mistura, bastam de 5 a 10 golpes para que a

água aflore, sendo que ao pressionar a bola, a água desaparece. Se a água não aflorar após 20

a 30 golpes, o solo não serve para fazer solo cimento.

3.8.2.2 Ensaio de resistência seca

Outro meio de avaliar a qualidade da terra é o ensaio de resistência seca, exige a

feitura de três pastilhas de terra bem úmidas, com diâmetro de 2 a 3 centímetros e espessura

de 1 centímetro. Depois de ficar secando ao sol durante dois ou três dias, deve tentar esmagar

com os dedos polegar e indicador.

Se as pastilhas forem dissolvidas sem esforço, ficando na forma de pó, então a terra

testada é aprovada. No entanto, se elas partirem e não virarem pó, ou mesmo exigirem muito

esforço para rompê-las, então ficará comprovada a inadequação do solo.

3.8.2.3 Ensaio do cordão

Se pega uma porção de terra seca, juntando água para rolar cordões até que eles

comecem a quebrar em um diâmetro de 3 milímetros. Passo seguinte é formar uma bola com

os cordões quebrados, não adicionando mais água. Em seguida, a bola deverá ser esmagada

pela ação dos dedos polegar e indicador.

Se a terra for adequada, aparecerão fendas na bola com pouco esforço dos dedos e será

difícil também fazer nova bola com a mesma amostra sem que ela apresente fissuras. Agora,

se for preciso muito esforço para romper a bola e nem permitir a moldagem de novos cordões

de 3 milímetros, o solo será considerado inadequado.

3.8.3 Aplicações

O grande segredo no uso do solo cimento é a aplicação da técnica construtiva em

muros, tijolos ou paredes monolíticas que são feitas inteiramente através da compactação da

82

mistura de terra e cimento. Esta mistura é socada em uma forma que pode ser para a

construção de tijolo ou paredes monolíticas.

3.8.3.1 Mistura

A mistura indicada, em média, é de uma parte de cimento ou cal para dez a quinze

partes de solo. O solo tem que ser peneirado e estar sem torrões. A medição das quantidades,

chamado de traço da mistura, deve ser feita cuidadosamente. É preciso verificar o volume de

cada equipamento de medição (carrinhos, padiola, baldes, latas, etc) para que não ocorra

alterações na dosagem.

Não é recomendado produzir quantidades exageradas de massa, pois seu limite

máximo de durabilidade para aproveitamento na compactação é de 24 horas. Mas quando as

misturas são usadas algum tempo após o preparo, é preciso revolvê-la energicamente com as

pás para homogeneizar a umidade.

A mistura precisa ser homogênea, com coloração e umidade uniformes. O cimento

deve ser adicionado ao solo seco, sem torrões, a terra tem que ser peneirada com malha fina.

As chuvas muitas vezes não permitem que a terra reservada para o solo cimento permaneça

seca. Para evitar isso, é bom ter sempre um volume de solo seco guardado para misturar com

a terra úmida.

3.8.3.2 Umidade da mistura

A umidade da “masseira” é definido de acordo com a qualidade do solo utilizado,

onde cada solo tem sua umidade ideal. O teor de água é definido por um teste caseiro.

Consiste em comprimir uma amostra de solo cimento em uma das mãos, observando as

marcas dos dedos na massa.

Se a marca dos dedos ficar bem definida, a umidade é adequada, se esfarelar, isto quer

dizer que a umidade é insuficiente. Se as marcas aparecerem muito molhada, excesso de

umidade.

Outro teste para avaliar a umidade do solo, é jogar uma bola de mistura prensada na

mão sobre um chão firme, de uma altura de aproximadamente 1 metro. O teor da umidade é

aprovado se a massa ao cair no chão ficar parecida com uma farofa, Se não esfarelar, é sinal

de excesso de umidade. Neste caso é bom adicionar mais solo e cimento nas mesma

proporções e repetir o teste.

3.8.4 Fundações de solo cimento

83

Com um monte de mistura já pronto, é hora de testar os efeitos altamente positivos do

solo cimento. Que pode ser usada como alicerce e alvenaria.

3.8.4.1 Nas fundações

O solo cimento tem desempenho seguro e eficiente, desde que, não haja cargas

excessivas e o terreno de apoio tenha boa capacidade de suporte e não apresente tendências a

recalques. Caso contrario, deve ser feita com concreto.

Pode se considerar o dimensionamento em torno de 30 cm de largura para uma

profundidade de 20 a 30 cm, onde a mistura usada para a execução, deve ir mais cimento a

terra. Uma dosagem recomendada é a proporção 1 : 8, 1: 6. A própria vala serve de forma

para, o solo cimento, colocar britas no fundo e adicionar óleo a mistura ( para se tornar

impermeável.)

Não há mistérios para executar uma fundação de solo cimento. É preciso ter em mão

soquetes com base quadrada, de 20x20 ou 30x60, com dois cabos redondos e com peso de 4 a

5 quilos. Utiliza-se a própria vala do alicerce como forma. Faça camadas com espessuras

máximas de 20cm de cada vez., um pilão redondo ajuda para corrigir pequenas áreas.

Cuidados:

♦ quanto mais cimento for adicionado, mais a massa irá perder umidade, o

cimento utiliza a água para reagir. Quando usamos a cal isto não acontece.

♦ Impermeabilizar o alicerce é muito importante para não ocorrer umidade na

parede e com isto comprometer a construção.

3.8.4.2 Alvenaria Monolítica

A parede de solo cimento tem uma característica importante, ser um excelente isolante

térmico. O isolamento de uma parede de solo cimento de 20cm é equivalente ao de uma de

30cm de tijolos comuns.

Deve-se construir uma forma para construção das paredes monolíticas. Esta não deve

ser maior em comprimento que 2,5m e não mais que 40 a 50cm de altura. Podem ser de

maderit, de 18 mm, com reforços longitudinais.

Para a fixação das chapas, pode se fazer seis parafusos nas extremidades, cada

parafuso deve ser revestido internamente com tubo de pvc do tamanho da espessura das

paredes.

84

As paredes de solo cimento podem ter de 15cm ( internas) a 20cm( externas) de

espessura.

3.8.5 Como montar as formas

A obra feita para se construir paredes monolíticas tem que ter estrutura de madeira ou

concreto ( pontaletes) a cada 2,20 ou 2,50metros, estes pontaletes terão que ter internamente

um revelo ( um dente ou rebaixo) para que a parede fique melhor fixada nos pontaletes.

Coloca-se as formas entre 2 pontaletes e fixa-se com os parafusos, uma chapa de

maderit de cada lado. Antes é recomendado passar óleo nas formas para ajudar na hora da

desmoldagem.

3.8.6 Compactação

O momento de moldar e dar "vida " ao solo cimento é a compactação, ato continuo de

socar a mistura, onde permite levantar os primeiros painéis que irá constituir a parede

monolítica. A quantidade de massa de solo cimento deve ser suficiente para que não ocorra

paradas de serviço.

Compactar a mistura nas formas travada nas laterais das estacas ou guias e com a

extensão ajustada de modo a se ter uma altura total de cerca de 13 cm. A compactação deve

ser feita em três camadas iguais, recebendo cada uma 25 golpes do soquete, caindo livremente

de 305 mm, distribuídos uniformemente sobre a superfície da camada. Durante a

compactação, o molde deve estar apoiado numa base plana e firme. Percebe-se que atingiu o

ponto ideal quando se houve um som seco, da batida do soquete na superfície do solo

cimento.

A desmoldagem é feita após a compactação da forma. Após a conclusão das paredes,

alisa-se as suas faces com colher de pedreiro, procurando uniformizar o acabamento nas

juntas dos vários blocos.

3.8.7 Cura

Para garantir uma boa resistência da parede, é importante evitar a secagem rápida do

solo cimento no processo de cura. Aconselha-se a execução de 2 a 4 umedecidas diárias das

paredes por uns 15 dias após a conclusão. Quando não se utiliza qualquer medida para evitar

uma secagem rápida, ocorre uma redução na resistência em torno de 40%.

85

4. RELEVÂNCIA DO TRABALHO

Devido à alta extração de recursos naturais do planeta e, possivelmente, escassez

destes recursos, urge a necessidade de novas alternativas para a diminuição dessas extrações.

A sociedade hedonista, pensa muito em seu bel-prazer, ou seja, “se eu estou tendo, está bem”,

mas esquece dos descendentes. Fica a pergunta, o que será dos descendentes sem esses

recursos naturais? O que será da geração vindoura?

Há outro problema relacionado a esse: a poluição do ambiente. A sociedade tem se

desenvolvido muito rápido, e isso é bom, mas não está conseguindo gerenciar esse

desenvolvimento. O desenvolvimento tem gerado o consumo e o consumo gerado resíduos. E

os resíduos, por sua vez, têm se acumulado em aterros e outros lugares gerando impactos

ambientais para nossa geração e para gerações futuras, seja no solo, seja nos cursos d’águas e

seja na atmosfera.

Pensando na produção de cimento, que tem alta extração de recursos naturais, fora os

outros impactos gerados, e no tratamento de esgoto, que gera toneladas de resíduos (lodo) ao

dia, surge a oportunidade ou alternativa de reduzir a extração de recursos naturais e de reduzir

os impactos ambientais gerados pelos dois processos. Onde o cimento convencional será

substituído pela mistura de cinzas de lodo, argila, areia e baba de cupim, formando-se o

Biocimento.

5. HIPÓTESE

Nas cinzas do lodo de ETE encontram-se materiais pozolânicos, devido a sílica

contida no lodo. Esse material pozolânico nas cinzas de lodo, tem uma função cimentante

maior que a dos insumos atuais que são adicionados na produção de cimento. Então com a

incorporação das cinzas de lodo e baba de cupim à argila, acredita-se formar um novo produto

resistente, com possibilidade de substituir o cimento.

6. OBJETIVOS

86

6.1 OBJETIVO GERAL

Desenvolver um biocimento a partir das cinzas de lodo, baba de cupim e argila.

6.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Levantar dados de pesquisa para dar subsídio ao projeto;

Solicitar à SANASA uma quantia de lodo de ETE para o estudo;

Desenvolver biocimento variando as proporções de cinzas de lodo, baba de

cupime e argila;

Testar a resistência do material produzido;

Cotar valores para elaboração do corpo de prova e testes (resistência,

solubilidade e lixiviação);

Realizar visitas técnicas em locais de biocimento;

Preparar o lodo para incorporar no biocimento;

Preparar os moldes para criação de blocos pequenos;

7. MATERIAIS E MÉTODOS

7.1 COLETA E CALCINAÇÃO DO LODO

7.1.1 Materiais

1 Recipiente de 10 litros;

1 Pazinha convencional;

1 Par de luvas nitrílica;

1 Óculos;

1 Estufa;

1 Mufla;

1 Dessecador;

1 Tenaz;

4 Cadinhos;

87

4 Cápsula de porcelana;

Sílica;

1 Jarro de vidro com tampa;

2 Espátulas.

7.1.2 Métodos

O Lodo, parcialmente desidratado, será coletado junto à ETE Capivarí I da Sanasa, em

Campinas – SP. Em um recipiente será acondicionado 10 litros de lodo. Essa amostra será

direcionada para o laboratório da ETECAP, onde será armazenada em geladeira e

gradativamente calcinada. Ao término dessa amostra, será repetido o procedimento de coleta.

Esse Lodo será acondicionado em cápsulas de porcelana e levados a uma estufa para

secagem do resto da umidade e depois transferidos para cadinhos e colocados em uma mufla,

onde será calcinado a uma temperatura de 800ºC por três horas. As cinzas desse lodo serão

armazenadas em um dissecador e depois transferidas para uma jarra de vidro com tampa,

contendo sílica, para evitar umidade nas cinzas novamente, até que se obtenha a quantidade

necessária para os corpos de prova.

7.3 COLETA E TRITURAMENTO DA BABA DE CUPIM

7.3.1 Materiais

3 Enxadas;

1 Carrinho de mão;

3 Pares de luvas de rafa;

1 Caixa baú;

3 Marretas;

2 Pincéis;

1 Pá de lixo;

1 Pote de 5 litros.

88

7.3.2 Métodos

A baba de cupim será coletada nas dependências da ETECAP, onde será averiguada

primeiramente, a existência de cupins, caso não, será feita a coleta.

Com a enxada, se cortará o cupinzeiro por torrões. Esses torrões serão colocados no

carrinho de mão, transportados para o laboratório da escola e armazenados na caixa baú,

aguardando seu trituramento.

Para triturar os torrões do cupinzeiro, se usará as marretas. O material triturado será

transferido para a pá, através dos pincéis, e em seguida despejado no pote de 5 litros,

aguardando para ser adicionado na mistura.

7.4 DESENVOLVIMENTO DO BIOCIMENTO E PRODUÇÃO DE

CORPO DE PROVA

7.4.1 Materiais

Argila;

Baba de Cupim triturada;

Cinzas de Lodo;

Areia,

Água;

4 Pares de luvas nitrílicas;

4 Espátulas;

4 Recipientes, tipo assadeira;

4 Moldes nas dimensões 10cm x 15cm x 30cm, sendo largura, altura e comprimento;

Óleo queimado;

Lixas de madeira.

7.4.2 Métodos

89

O Biocimento será desenvolvido com a mistura de cinzas de lodo, baba de cupim,

areia, argila e água em diversas proporções.

As misturas serão chamadas de: “BIO” As proporções serão conforme a Tabela 3.

Tabela 3. Proporção de areia, argila, baba de cupim e cinzas na mistura do

Biocimento.

AMOSTRA AREIA

%

ARGILA

%

CUPIM

%

CINZAS

%

CIMENTO

%

ÁGUA %

BIO1 60 30 10 - - Livre

BIO2 50 40 10 - - Livre

BIO3 45 45 10 - - Livre

BIO4 40 45 15 - - Livre

BIO5 40 45 7,5 7,5 - Livre

BIO6 40 45 - 15 - Livre

BIO7 46 53 - - 1 Livre

BIO8 34,5 44,5 20 - 1 Livre

BIO9 34,5 44,5 - 20 1 Livre

BIO10 34,5 44,5 10 10 1 Livre

BIO11 - 60 - 40 - Livre

BIO12 - 60 40 - - Livre

BIO13 - 60 20 20 - Livre

BIO14 - 60 30 10 - Livre

BIO15 - 60 35 5 - Livre

7.4.2.1 Moldes

Os moldes serão feitos em canos de PVC com diâmetro de 100 mm e altura de 10 cm.

7.4.2.2 Mistura

90

Primeiro deixa-se a mistura seca descansar com um pouco de água durante três dias,

para “azedar” [17]. Depois, acrescenta-se mais água, até que fique flexível para ser colocada

nos moldes.

Após saírem dos moldes, os blocos devem manter a forma. Se amassarem, é porque há

água demais na mistura; se uma parte da massa ficar no fundo do molde, é porque faltou água

na mistura.

7.4.2.3 Como moldar os blocos

1. Molhar o molde com água;

2. Jogar uma pá da mistura e bater bem os cantos;

3. Jogar mais uma pá e nivelar a parte de cima;

4. Molhar as mãos e alisar

7.5 MÉTODOS DE TESTES EXPERIMENTAIS NOS CORPOS DE

PROVA [17]

7.5.1 Materiais

11 blocos;

2 potes nas especificações dos blocos;

1 Relógio;

Água.

7.5.2 Métodos

7.5.2.1 Resistência

Para testar os corpos de prova e saber se eles serão fortes para o uso na construção, se

fará três coisas:

1. Colocar um bloco sobre outros dois e pisar com força. Ele deve aguentar sem

quebrar;

91

2. Colocá-lo de molho na água durante 4 horas; quebrá-lo e verificar a espessura

da superfície molhada. Ela não deve ter mais de 1 cm;

3. Colocá-lo de molho na água durante 4 horas e depois colocá-lo sobre outros

dois. Empilhar outros 6 blocos por cima. Ele deve aguentar o peso durante

pelo menos um minuto antes de quebrar.

7.6 Determinação de Fe3+

nas cinzas de lodo por Espectrofotometria UV-Visível

São necessárias as seguintes soluções: Soluções de tiocianato de potássio 1,5M, ácido

nítrico 4 M e Solução padrão de Fe3+

.

7.6.1. Princípio [18]

Curva de calibração

Preparo de solução estoque

Preparar solução com concentração de 100ppm e a partir desta, diluir para 1,2,4 e 8ppm.

Utilizar nitrato de ferro [Fe(NO3)3 . 9H2O] para obter a solução. A partir do seguinte cálculo

obtem-se a quantidade necessária de ferro para o preparo de 1 litro.

[Fe(NO3)3 . 9H2O] Fe3+

+ 3NO3

404 56g

X 0,100g

X = 0,7214g

Com a quantidade estabelecida, colocar o nitrato de ferro pesado em balão

volumétrico de 1 litro e completar com água deionizada.

Para o preparo das diluições:

8ppm C1V1=C2V1

100 .V1=8.100

V1= 800/100

92

V1= 8mL

Onde C1= Concentração Inicial (amostra de 100ppm)

V1= Volume inicial mL (será retirado da amostra de 100ppm)

C2= Concentração final

V2= Volume final mL (volume desejado, pode ser alterado)

Para outras concentrações, o resultado foi obtido seguindo a mesma lógica com os seguintes

resultados:

1 ppm – 1 ml da amostra inicial

2 ppm – 2 ml da amostra inicial

4 ppm – 4 ml da amostra inicial

Para cada diluição, colocar a quantidade encontrada da amostra em balão volumétrico

de 100 mL, acrescentar 1mL de solução de tiocianato de potássio 1,5M e 5mL de ácido

nítrico 4M e completar o volume com água deionizada. Homogeneizar.

Ler as amostras no espectrofotômetro UV/Visível8 e utilizando o comprimento de

onda a 450nm.

7.6.2 Preparo da Amostra de cinzas de lodo

7.6.2.1 Materiais

1 cadinho

1 capsula de porcelana

1 tenaz

1 Tripé de ferro

1 Tela de amianto

1 Bico de bunsen

1 Bagueta de vidro

Espátula

8 Espectrofotômetro UV-Visível tipo UV-1650PC com Work Station.

93

1 Balança analítica

1 Funil de vidro

1 Suporte universal

Papel para filtração quantitativo

1 Balão volumétrico 100 mL

2 béquer de 100 mL

Dessecador

7.6.2.2 Reagentes

Cinzas de lodo

15 mL de ácido clorídrico concentrado

5 mL de ácido nítrico concentrado

7.6.2.3 Procedimento

1. Pesar 1 g de solo em balança analítica.

2. Calcinar na mufla, em cadinho, a 550ºC por 2 horas.

3. Depois de frio, colocar na capsula de porcelana e adicionar 15 mL de HCl conc e 5

mL de HNO3 conc. Colocar para ferver até sair fumaça branca, desligar e jogar

água para esfriar. Fazer esse procedimento na capela.

4. Filtrar o solo (filtração analítica) - 2vezes.

5. Do filtrado deve ser retirado uma alíquota de 10 mL e transferir a mesma para um

balão volumétrico de 100mL. Adiciona-se 5 mL de tiocianato e 3 mL de ácido

nítrico 4 M. Completa-se o volume do balão com água destilada, e faz-se a leitura

imediata da amostra, a 450 nm.

7.6.3 Tratamento da Curva – Regressão Linear

Após elaboração das soluções para a curva de calibração, fazer leitura no aparelho

Espectrofotômetro UV-Visível e elaborar o gráfico da curva. Quanto mais próximo de 1 o

94

valor de R2, melhor é a curva.

Fórmula para o cálculo da concentração de metal em ppm:

L = leitura aparelho referente à concentração

V = volume da diluição (mL)

M = massa em gramas utilizada na diluição (g)

Para alíquota:

Ppm Metal = L.V/m. V alíquota/alíquota (ex: 100 mL vol balão dividido por 1 mL vol

alq)

8. CUSTOS

Tabela 4. Custo do projeto.

QUANTIDADE PRODUTO V.

UNITÁRIO

R$

V. TOTAL

R$

01 Balde de 8 L 3,33 3,33

01 Pazinha Jardinagem 4,30 4,30

05 Par de luvas de látex 2,35 11,75

04 Óculos de Proteção 5,22 20,88

01 Estufa 391,50 391,50

01 Mufla 2.800,00 2.800,00

01 Dessecador 700,00 700,00

01 Tenaz 36,00 36,00

04 Cadinhos Porcelana 6,91 27,64

04 Cápsula de Porcelana 25,86 103,44

01 Sílica 50 sachê de 1g 15,00 15,00

01 Jarro de vidro 16,80 16,80

95

02 Espátula 23,61 47,22

01 Enxadinha 14,90 14,90

01 Carrinho de mão 59,50 59,50

02 Par de luvas de vaqueta 7,30 14,60

01 Marreta 11,17 11,17

01 Pincel 7,49 7,49

01 Pazinha de lixo 4,00 4,00

01 Pote de 5 L 9,00 9,00

02 Colher de pedreiro 10,90 21,80

04 Recipiente, tipo saladeira 13,90 55,60

01 Lixa de madeira 50 uni 9,99 9,99

02 Pote de plástico 18,70 37,40

01 Relógio 10,07 10,07

05 Argila 200g 9,90 49,50

4.482,88

Obs. O custo real será apenas com a argila, pois os outros materiais e equipamentos estão

disponíveis na escola.

9. CRONOGRAMA

Ano 2012

Atividades Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

Planejamento x x x x

Apresentação para

banca de aprovação

x

Desenvolvimento do

Biocimento

x

x

x

x

Testes x x

Tabulação de

Resultados

x x

Mostra de Projetos x

Entrega Final do TCC x

96

10. RESULTADOS E DISCUSSÕES

10.1 Calcinação do lodo

Foram adicionadas, em seis cadinhos, algumas quantias de lodo, parcialmente

desidratado, pesadas e calcinadas a 800°C, para determinação de matéria orgânica e de cinzas

na amostra. Conforme tabela:

Tabela 5. Porcentagem de cinzas e matéria orgânica.

CADINHO VAZIO CADINHO COM

LODO

CADINHO C/ LODO

CALCINADO

C1 22,5704g 33,9756g 28,5746g

C2 24,6803g 33,1706g 28,8845g

C3 23,2972g 33,9380g 28,8845g

C4 20,7696g 30,4627g 25,5717g

C5 34,9662g 56,0414g 46,0510

C6 45,5536g 71,4646g 59,9806g

MÉDIA 28,6396g 43,1755g 36,2953g

De acordo com a média, entram 14,5359g de lodo desidratado na estufa e saíram

7,6557g de cinzas.

14,5359g ── 100%

7,6557g ── X

X = 52,63

Porcentagem de matéria orgânica = 52,63%

Porcentagem de cinzas = 47,37%

Pode-se notar que mais da metade da amostra, é constituída por matéria orgânica.

97

Depois de determinar o teor de matéria orgânica, deu-se procedimento nos ensaios.

Em cápsulas de porcelana, adicionou-se o lodo desidratado, na ETE, e levou-se a estufa,

aquecida em 550°C, por 30 minutos para uma desidratação complementar, devido a

quantidade de matéria orgânica. Ao final dos 30 minutos foram retiradas e levadas a mufla,

aquecida em 800°C, por 3 horas para calcinação das porções. Ao fim das 3 horas, retirou-se as

cápsulas, contendo as porções calcinadas, da mufla e deixou-se atingir a temperatura ambiente

para armazenamento das porções. Elas foram armazenadas em um pote com sílica, evitando

assim o contato com a umidade novamente.

Durante o procedimento houve uma grande liberação de fumaça, por uns 15 minutos,

aproximadamente, devido a presença de matéria orgânica no lodo e também cheiro

característico. As cinzas de lodo saíram da mufla com uma coloração vermelho-rosa e

amarelo, com aspecto de coberturas de amendoins doce vendido em parques e shoppings,

porém de fácil esfarelhamento.

Figura 4. Lodo desidratado e calcinado. Arquivo dos alunos.

A fim de reduzir a emissão de fumaça do lodo na mufla, a secagem do lodo passou-se

a ser realizado no bico de Bunsen, dentro da capela do exaustor, ao invés da estufa. O lodo foi

colocado em uma panela de alumínio e levada ao bico de Bunsen por 40 minutos. Ao fim da

secagem, o lodo foi levado à mufla, aquecida em 900°C, por 2 horas para calcinação da

porção.

98

Figura 5. Lodo semi-desidratado sendo secado. Arquivo dos alunos.

A porção de lodo seca, no bico de Bunsen, saiu mais seca do que no procedimento

com a mufla. Na calcinação, a emissão de fumaça também reduziu, ela foi liberada por,

aproximadamente, 3 minutos. E as cinzas do lodo saíram com a mesma tonalidade e aspecto

do primeiro procedimento.

As cinzas de lodo foram trituradas, com o pistilo, em uma cápsula de porcelana,

formando um pó de tonalidade rosa e armazenadas em um pote com sílica.

Figura 6. Trituramento das cinzas de lodo. Arquivo dos alunos.

99

10.2 Trituramento da baba de cupim

Os blocos, contendo a baba de cupim, foram triturados com uma marreta. A parte

triturada foi peneirada e armazenada em frascos de plástico e de vidro.

Figura 7. Trituramento e peneiramento da baba de cupim. Arquivo dos alunos.

10.3 Fabricação do biocimento

10.3.1 Fabricação do BIO 1

Foram misturados os constituintes areia, argila, baba de cupim e água, nas respectivas

porcentagens: 60%, 30% e 10% e adição livre de água. Para uma amostra de 250g de produto,

foram adicionadas as seguintes quantidades: 150g de areia, 75g de argila, 25g de baba de

cupim e água, conforme necessidade.

A mistura ficou com um aspecto arenoso, com a coloração marrom e com uma

consistência ligeiramente pegajosa. Com essa mistura compactou-se os corpos de prova.

100

Figura 8. Amostra do Biocimento: primeira produção. Arquivo dos alunos.

Os corpos de prova não passaram pelo primeiro teste, que foi de porosidade. O BIO 1

foi classificado como macroporoso. Fatores como a falta da mistura ideal e da compactação

ideal, podem ter provocados resultados negativos.

10.3.2 Fabricação dos BIO 2, BIO 3, BIO 4, BIO 5 e BIO 6

Pelo fato de não chegar ao objetivo esperado, foram balanceadas novas porcentagens

para novas misturas, onde se deu as seguintes proporções:

BIO 2 = 50% de areia, 40% de argila, 10% de baba de cupim e água, conforme

necessidade;

BIO 3 = 45% de areia, 45% de argila, 10% de baba de cupim e água, conforme

necessidade;

BIO 4 = 40% de areia, 45% de argila, 15% de baba de cupim e água, conforme

necessidade;

BIO 5 = 40% de areia, 45% de argila, 7,5% de baba de cupim, 7,5% de cinzas de lodo

e água, conforme necessidade;

BIO 6 = 40% de areia, 45% de argila, 15% de cinzas de lodo e água, conforme

necessidade.

Devido o BIO 1 apresentar macroporosidade, foi realizado um novo peneiramento,

com uma peneira de granulometria 0,065 mm de abertura, (ABNT: 200 Tyler: 200).

Foram preparadas as misturas, de acordo com os percentuais citados acima e deixadas

para sofrerem o efeito de curtição. Após dois dias curando, foram compactadas manualmente

nos corpos de prova.

101

10.3.2.1 Testes

10.3.2.1.1 Teste de porosidade

Em 5 frascos com água destilada, foram adicionados os corpos de prova, para

verificação de porosidade dos mesmos.

BIO 2 apresentou macroporosidade;

BIO 3 apresentou microporosidade;

BIO 4 apresentou microporosidade;

BIO 5 apresentou mesoprosidade;

BIO 6 apresentou macroporosidade.

10.3.2.1.2 Teste de resistência

Em uma prensa manual, foi exercida uma força até não dá mais torque na sua rosca.

Obteve-se os seguintes resultados:

BIO 1 apresentou baixa resistência;

BIO 2 apresentou baixa resistência;

BIO 3 apresentou baixa resistência;

BIO 4 apresentou baixa resistência;

BIO 5 apresentou média resistência;

BIO 6 apresentou alta resistência.

Figura 9. Teste de resistência. Arquivo dos alunos.

102

10.3.3 Produção dos BIO 1, BIO 2, BIO 3, BIO 4, BIO 5 e BIO 6

Devido aos resultados e a cinzas de lodo não estarem na mesma granulometria dos

peneirados, utilizando a peneira de 0,065 mm de abertura, foi realizado um novo

peneiramento de todos os constituintes para repetição dos testes.

Preparado novamente as misturas, sem alteração de percentuais, e deixadas para curtir

pro dois dias. Após os dois dias, foram produzidos os corpos de prova com a mistura e

deixados para secagem à sombra.

10.3.3.1 Fabricação do BIO 1

Realizada a mistura do BIO 1 com areia, argila e baba de cupim, de acordo com o

gráfico 1:

Gráfico 1. Proporções do BIO 1.9

Em uma amostra de 250g, teve-se:

150g de areia;

75g de argila;

25g de baba de cupim;

Água conforme necessidade.

10.3.3.2 Fabricação do BIO 2

Realizada a mistura do BIO 2 com areia, argila e baba de cupim, de acordo com o

gráfico 2:

9 Todos os gráficos que constam no item Resultados e Discussão foram elaborados pelos autores desse

projeto.

60% 30%

10%

BIO 1

AREIA

ARGILA

CUPIM

103

Gráfico 2. Proporções do BIO 2.

Em uma amostra de 125g, teve-se:

62,5g de areia;

50g de argila;

12,5g de baba de cupim;

Água conforme necessidade.

10.3.3.3 Fabricação do BIO 3

Preparada a mistura da amostra BIO 3 com areia, argila e baba de cupim, de acordo

com o gráfico 3:

Gráfico 3. Proporções do BIO 3.

Em uma amostra de 125g, teve-se:

56,25g de areia;

56,25 de argila;

12,5g de baba de cupim;

50% 40%

10%

BIO 2

AREIA

ARGILA

CUPIM

45%

45%

10%

BIO 3

AREIA

ARGILA

CUPIM

104

Água conforme necessidade.

10.3.3.4 Fabricação do BIO 4

Preparada a mistura com areia, argila e baba de cupim, de acordo com o gráfico 4:

Gráfico 4. Proporções do BIO 4.

Em uma amostra de 125g, teve-se:

50g de areia;

56,25g de argila;

18,75g de baba de cupim;

Água conforme necessidade.

10.3.3.5 Fabricação do BIO 5

Preparada a mistura BIO 5 com areia, argila e baba de cupim, de acordo com o gráfico

5:

Gráfico 5. Proporções do BIO 5.

Em uma amostra de 125g, teve-se:

40%

45%

15%

BIO 4

AREIA

ARGILA

CUPIM

40%

45%

7,5% 7,5%

BIO 5

AREIA

ARGILA

CUPIM

CINZAS

105

50g de areia;

56,25 de argila;

9,37 de baba de cupim;

9,37 de cinzas de lodo;

Água conforme necessidade.

10.3.3.6 Fabricação do BIO 6

Preparada uma mistura do BIO 6 com areia, argila e cinzas de lodo de acordo com o

gráfico 6:

Gráfico 6. Proporções do BIO 6.

Em uma amostra de 125g, teve-se:

50g de areia;

56,25 g de argila;

18,75g de cinzas de lodo;

Água conforme necessidade

Figura10. Misturas e corpo de prova. Arquivo dos alunos.

50%

56,25%

18,75%

BIO 6

AREIA

ARGILA

CINZAS

106

Figura 11. Corpo de Provas. Arquivo dos alunos.

10.3.4 Testes

10.3.4.1 Teste de porosidade

O teste de porosidade foi realizado em um recipiente cheio de água e os corpos de

prova ficaram submersos pro 30 minutos e apresentaram os seguintes resultados:

BIO 1 apresentou macroporosidade;

BIO 2 apresentou mesoporosidade;

BIO 3 apresentou microporosidade;

BIO 4 apresentou microporosidade;

BIO 5 apresentou macroporosidade;

BIO 6 apresentou macroporosidade.

Não houve muita diferença dos resultados apresentados no teste anterior, quando a

granulometria estava maior, pelo menos no quesito micro, meso ou macro porosidade. No

entanto, visualmente, houve uma melhora no último teste. Apesar das amostras se

dissolverem, umas totalmente e outras parcialmente, pode-se observar melhoras, devido uma

melhor compactação dos poros, causada pela granulometria menor.

As amostras BIO 3 e BIO 4 apresentaram os melhores resultados. Elas se dissolveram

mais lentamente, chegando aos 30 minutos com mais de 60 e 75%, respectivamente, de corpo

de prova na solução.

107

Figura 12. Teste de porosidade. Arquivo dos alunos.

As amostras BIO 2 e BIO 5 apresentaram resultados insatisfatórios, onde os corpos de

prova se dissolveram, parcialmente, por 10 minutos e pararam, sobrando, respectivamente, 50

e 20% de corpo de prova nos recipientes.

Figura 13. Teste de porosidade. Arquivo dos alunos

As amostras BIO 1 e BIO 6 apresentaram os resultados mais negativos do teste. Elas se

dissolveram completamente em menos de 5 minutos. Restando nada de porcentagem de corpo

de prova.

108

Figura 14. Teste de porosidade. Arquivo dos alunos.

Os resultados podem ter sofrido interferências, devido uma má compactação, já que

ela foi feita manualmente e com as mãos, o tempo de pega e secagem não devem ter sido

suficientes e as porcentagens não estavam nas proporções ideais.

10.3.5 Produção dos BIO 7, BIO 8, BIO 9 e BIO 10

Apesar das Amostras BIO 3 e BIO 4 apresentarem microporosidade, não atenderam o

resultado esperado, pois elas dissolveram consideravelmente.

Devido as amostras anteriores não atenderem ao resultado esperado, foram realizados

novos balanceamentos de percentuais para novas amostras, onde se diminuiu os percentuais

de areia, aumentou-se os percentuais de argila, baba de cupim e cinzas de lodo e ainda

acrescentou-se um novo composto à mistura, o cimento. Seguem-se os novos percentuais:

BIO 7 = 46% de areia, 53% de argila, 1% de cimento e água, conforme

necessidade;

BIO 8 = 34,5% de areia, 44,5% de argila, 20% de baba de cupim, 1% de

cimento e água, conforme necessidade;

BIO 9 = 34,5% de areia, 44,5% de argila, 20% de cinzas de lodo, 1% de

cimento e água, conforme necessidade;

BIO 10 = 34,5 % de areia, 44,5% de argila, 10% de baba de cupim, 10% de

cinzas de lodo, 1% de cimento e água, conforme necessidade.

109

Preparada as misturas de acordo com o balanceamento acima e deixadas para curtir

por dois dias. Após, foram produzidos os corpos de prova e deixados para secagem à sombra.

10.3.5.1 Fabricação do BIO 7

Preparada uma mistura do BIO 7 com areia, argila e cimento, de acordo com o gráfico

7:

Gráfico 7. Proporções do BIO 7.

Para uma amostra de 125g, teve-se:

57,5g de areia;

66,25g de argila;

1,25g de cimento;

Água conforme necessidade.

10.3.5.2 Fabricação do BIO 8

Prepara uma mistura do BIO 8 com areia, argila, baba de cupim e cimento, de acordo

com o gráfico 8:

Gráfico 8. Proporções do BIO 8.

57,5%

66,25%

1,25%

BIO 7

AREIA

ARGILA

CIMENTO

34,5%

44,5%

20% 1%

BIO 8

AREIA

ARGILA

CUPIM

CIMENTO

110

Para uma amostra de 125g, teve-se:

43,125g de areia;

55,625g de argila;

25,0g de baba de cupim;

1,25g de cimento;

Água conforme a necessidade.

10.3.5.3 Fabricação do BIO 9

Preparada uma mistura do BIO 9 com areia, argila, cinzas de lodo e cimento, de

acordo com o gráfico 9:

Gráfico 9. Proporções do BIO 9.

Para uma amostra de 125g, teve-se:

43,125g de areia;

55,625g de argila;

25,0g de cinzas de lodo;

1,25g de cimento;

Água conforme necessidade.

10.3.5.4 Fabricação do BIO 10

Preparada uma mistura com areia, argila, baba de cupim, cinzas de lodo e cimento de

acordo com o gráfico 10:

34,5%

44,5%

20% 1%

BIO 9

AREIA

ARGILA

CINZAS

CIMENTO

111

Gráfico 10. Proporções do BIO 10.

Para uma amostra de 125g, teve-se:

43,125g de areia;

55,625g de argila;

12,5g de baba de cupim;

12,5g de cinzas de lodo;

1,25g de cimento;

Água conforme necessidade.

Figura 15. Corpos de prova. Arquivo dos alunos.

10.3.6 Testes

10.3.6.1 Teste de porosidade

Repetindo o processo dos testes anteriores, os corpos de prova apresentaram os

seguintes resultados:

BIO 7 apresentou mesoporosidade;

34%

45%

10% 10% 1%

BIO 10

AREIA

ARGILA

CUPIM

CINZAS

CIMENTO

112

BIO 8 apresentou microporosidade;

BIO 9 apresentou macroporosidade;

BIO 10 apresentou macroporosidade.

O melhor resultado foi apresentado pela amostra BIO 8, onde se dissolveu bem mais

lentamente e parcialmente, sobrando mais de 80% de corpo de prova após os 30 minutos de

teste. O pior desempenho foi da amostra BIO 9, onde se dissolveu rapidamente. As amostras

contendo baba de cupim tiveram os melhores resultados.

As amostras do BIO 7 ao BIO 10 tiveram melhores resultados do que as amostras do

BIO 1 ao BIO 6. Porém nenhuma delas atingiu os resultados esperados.

Figura 16: Corpos de prova. Arquivo dos alunos

10.3.7 Produção dos BIO 11 e BIO 12

Como os resultados esperados não foram alcançados, novas amostras foram realizadas,

onde a areia e o cimento foram retirados dos constituintes do biocimento. O cimento, por ser

um projeto de cunho ecológico e sustentável, e a areia, pelo fato de apresentar macroporos,

que acabada diminuindo a resistência do produto.

O novo balanceamento dos percentuais se deu nas seguintes proporções:

BIO 11 = 60% de argila, 40% de cinzas de lodo e água, conforme necessidade;

113

BIO 12 = 60% de argila, 40% de baba de cupim e água, conforme necessidade.

As misturas forma preparadas de acordo com o balanceamento acima e deixadas para

curtir por dois dias. Após da curtição, foram produzidos os corpos de prova e deixados para

secagem à sombra.

10.3.7.1 Fabricação do BIO 11

Preparada uma mistura com argila e cinzas de lodo, de acordo com o gráfico 11:

Gráfico 11. Proporções do BIO 11.

Pra uma amostra de 125g, teve-se:

75,0g de argila;

50,0g de cinzas de lodo;

Água conforme necessidade.

10.3.7.2 Fabricação do BIO 12

Preparada uma mistura com argila e baba de cupim, de acordo com o gráfico 12:

Gráfico 12. Proporções BIO 12.

40%

60%

BIO 11

CINZAS

ARGILA

60%

40%

BIO 12

ARGILA

CUPIM

114

Para uma amostra de 125g, teve-se:

75,0g de argila;

50,0g de baba de cupim;

Água conforme necessidade.

10.3.8 Testes

10.3.8.1 Teste de porosidade

Repetindo o processo dos testes anteriores, os corpos de prova apresentaram os

seguintes resultados:

BIO 11 apresentou mesoporosidade;

BIO 12 apresentou microporosidade;

A amostra BIO 12 mostrou-se mais eficiente no teste de porosidade. Após 30 minutos,

mais de 90% do corpo de prova, ainda estava sem alteração. Houve um leve dissolvimento no

corpo de prova, mas pode-se observar uma grande evolução.

A retirada da areia foi positiva, como comprova os resultados. Porém, para defesa da

hipótese, não é a mistura ideal, pois não há cinzas de lodo na amostra BIO 12. A amostra que

continha as cinzas de lodo, não foi muito eficiente. Houve um dissolvimento maior do corpo

de prova.

10.3.9 Produção do BIO 13

Devido a esses resultados, foi balanceado um novo percentual de constituintes para

uma nova amostra. Os percentuais foram:

BIO 13 = 60% de argila, 20% de baba de cupim, 20% de cinzas de lodo e

água, conforme necessidade.

Preparou-se a mistura e deixou-a curar por 2 dias. Após a cura, produziram-se os

corpos de prova.

10.3.9.1 Fabricação do BIO 13

Preparada uma mistura com argila, baba de cupim, cinzas de lodo e água, conforme

necessidade, de acordo com o gráfico 13:

115

Gráfico 13. Proporções do BIO 13.

Para uma amostra de 125g, teve-se:

75,0g de argila;

25,0g de baba de cupim;

25,0g de cinzas de lodo;

Água conforme necessidade.

10.4.10 Testes

10.4.10.1 Teste de porosidade

Repetindo o processo dos testes anteriores, o corpo de prova apresentou o seguinte

resultado:

BIO 13 apresentou macroporosidade.

A amostra não apresentou um resultado positivo. Ela começou a se dissolver logo que

entrou em contato com a água. Esse resultado colocou em risco a hipótese do projeto, pois o

que se esperava das cinzas de lodo, o fator pozolanico, não estava sendo comprovado.

10.3.11 Produção dos BIO 14 e BIO 15

Como as amostras anteriores não estavam sendo aprovadas, de acordo com o resultado

esperado, foi desenvolvido um novo balanceamento de percentuais dos constituintes que mais

deram resultados positivos, argila, baba de cupim e cinzas de lodo.

Como a baba de cupim sempre apresentou fator impermeabilizante melhor que das

cinzas de lodo, ela foi adicionada em maior proporção do que as cinzas.

Deram-se as proporções balanceadas:

60% 20%

20%

BIO 13

ARGILA

CUPIM

CINZAS

116

BIO 14 = 60% de argila, 30% de baba de cupim, 10% de cinzas de lodo e água,

conforme necessidade;

BIO 15 = 60% de argila, 35% de baba de cupim, 5% de cinzas de lodo e água,

conforme necessidade.

De acordo com os percentuais acima, as misturas foram preparadas e deixadas para

curtir por dois dias. Após os dois dias preparam-se os corpos de prova e foram deixados para

secagem à sombra.

10.3.11. 1 Fabricação do BIO 14

Preparada uma mistura com argila, baba de cupim, cinzas de lodo e água, conforme

necessidade, de acordo com o gráfico 14:

Gráfico 14. Proporções do BIO 14.

Para uma amostra de 125g, teve-se:

75g de argila;

37,5g de baba de cupim;

12,5g de cinzas de lodo;

Água conforme necessidade.

10.3.11.2 Fabricação do BIO 15

Preparada uma mistura com argila, baba de cupim, cinzas de lodo e água, conforme

necessidade, de acordo com o gráfico 15:

60% 30%

10%

BIO 14

ARGILA

CUPIM

CINZAS

117

Gráfico 15. Proporções do BIO 15.

Para uma amostra de 125g, teve-se:

75,0g de argila;

43,75g de baba de cupim;

6,25g de cinzas de lodo;

Água conforme necessidade.

10.3.12 Testes

10.3.12.1 Teste de porosidade

Repetindo o processo dos testes anteriores, os corpos de prova apresentaram os

seguintes resultados:

BIO 14 apresentou microporosidade;

BIO 15 apresentou microporosidade.

As duas amostras apresentaram resultados positivos. Porém, a amostra BIO 15 teve

um melhor desempenho do que a amostra BIO 14. Dentro dos 30 minutos, as amostras, BIO

14 e BIO 15, apresentaram uma impermeabilidade melhor do que todas as anteriores, onde ao

final dos 30 minutos, restaram, aproximadamente, 95 e 98% de amostras, respectivamente, no

recipiente.

60%

35%

5%

BIO 15

ARGILA

CUPIM

CINZAS

118

Figura17. Teste de porosidade. Arquivo dos alunos.

Veja o gráfico de todas as amostras:

Gráfico 16. Teste de porosidade. Sendo 1 – baixa; 5 – média; 10 – alta.

10.3.12.2 Teste de resistência

As amostras foram submetidas ao teste de resistência com uma prensa manual,

exercendo-se uma força à ponto de não dá mais torque em sua rosca. As amostras BIO 1 até a

BIO 6, foram repetidas devido a alteração da granulometria dos constituintes.

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

B1 B2 B3 B4 B5 B6 B7 B8 B9 B10 B11 B12 B13 B14 B15

POROSIDADE

119

Figura 18. Teste de resistência. Arquivo dos alunos.

Os resultados foram de acordo com o gráfico 17:

Gráfico 17: Teste de resistência. Sendo 1 – baixa; 5 – média; 10 – alta.

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

B1 B2 B3 B4 B5 B6 B7 B8 B9 B10 B11 B12 B13 B14 B15

RESISTÊNCIA

120

10.3.13 Produção do produto Biocimento

Desde o início dos testes as amostras com baba de cupim mostraram melhores

resultados do que as com cinzas de lodo, no quesito porosidade. Por isso, a amostra BIO 15

foi a escolhida para a produção de corpo de prova final e realização dos testes do projeto.

10.3.13.1 Fabricação do BIOCIMENTO

Preparada uma mistura com argila, baba de cupim, cinzas de lodo e água, conforme

necessidade, de acordo com o gráfico:

Gráfico 18. Proporções do BIO 15 para a confecção do Corpo de prova para o teste de

resistência.

Para uma amostra de 5,00kg, teve-se:

3,00kg de argila;

1,75kg de baba de cupim;

250g de cinzas de lodo;

Água conforme necessidade

Foram misturados os constituintes e deixada a mistura azedar por dois dias. Após os

dois dias, foram produzidos os corpos de prova.

A mistura foi compactada, manualmente, em quatro moldes de PVC com diâmetro de

100mm e altura de 10cm, formando quatro corpos de prova. E deixados para secagem à

sombra.

60%

35%

5%

BIO 15

ARGILA

CUPIM

CINZAS

121

Figura 19. Corpos de prova do Biocimento. Arquivo dos Alunos.

10.3.14 Testes

10.3.14.1 Teste de porosidade

O teste de porosidade foi realizado por um tempo de 24 horas, onde a amostra ficou

submersa em água destilada, em um recipiente aberto.

Foi o melhor resultado obtido visualmente. Apresentou microporosidade e ao término

das 24 horas de teste, permaneceu da mesma maneira que iniciou. Não houve perda

significativa da amostra, onde ao final das 24 horas, 99.9% do corpo de prova ainda estavam

inteiros.

10.3.14.2 Teste de resistência

Baseado no livro “Manual do Arquiteto Descalço” [18], de Johan Van Lengen, pág.

302, foi realizado o teste de resistência, onde foram colocados sob o corpo de prova, por 2

minutos, 172,36kg. O corpo de prova não sofreu modificações na superfície, na lateral e na

sua base, mostrando ser eficiente quanto à resistência, de acordo com Lengen.

Os pesos utilizados foram, uma prensa de 53,7kg, 4 tijolos com 4,46kg juntos e dois

alunos de 59,0 e 55,2kg, respectivamente.

122

Figura 20. Teste de resistência do Biocimento. Arquivo dos alunos.

10.3.15 Determinação de Fe3+

nas cinzas de lodo

10.3.15.1 Resultados

A curva de calibração foi elaborada de acordo com o método proposto, utilizando-se o

equipamento Espectrofotômetro UV-Visível. A leitura do padrão e das amostras (duplicata)

foi realizada a 450 nm (figura 21 ).

123

Figura 21. Curva de calibração e leitura das amostras Espectrofotômetro UV-Visível.

A curva obtida se mostrou viável, pois o R2 se aproximou de 1, de acordo com o

gráfico .

Gráfico 19. Regressão linear para a curva de calibração Fe3+.

y = 0,0283x + 0,0104 R² = 0,9997

0

0,05

0,1

0,15

0,2

0,25

0 2 4 6 8 10

Ab

sorb

ânci

a

Concentração

Curva de Calibração Fe3+

Série1

Linear (Série1)

124

O cálculo da concentração de ferro foi realizado seguindo a fórmula:

Como foi retirada uma alíquota, multiplicou-se esse valor pelo volume da diluição

dividido pelo volume da alíquota (Ppm Metal = L.V/m. V alíquota/alíquota),obtendo-se:

Amostra 1: 70,396.100/1 . 100/1 = 703.960,00 ppm de Fe3+

Amostra 2: 113,380.100/1 . 100/1= 1.133.800,00 ppm de Fe3+

Dividindo-se ppm por 10.000, obtêm-se o valor em porcentagem e a média é :

91,69% de Fe3+

.

Pela cor das cinzas, já era esperado alto teor de ferro (Figura 22).

Figura 22. Cor das cinzas do lodo calcinado.

125

Figura 23. Amostras para teste da curva de calibração. Arquivo dos alunos.

Devido à complexidade dos testes exigidos pela ABNT e o custo para a realização dos

mesmos, alguns testes tiveram que ser modificados para chegar-se a um resultado aceitável.

Todos os testes realizados foram baseados no livro de Johan Van Lengen, Manual do

Arquiteto Descalço, o que não invalida os resultados alcançados, já que a permacultura é

desenvolvida há anos e cada dia que passa, vem crescendo a sua utilização.

11. CONCLUSÕES

Conclui-se que a hipótese levantada foi aceita, onde com a incorporação da baba de

cupim e das cinzas de lodo à argila, foi possível produzir o Biocimento em condições ideias,

utilizando resíduos. Porém, o melhor resultado utilizando as cinzas de lodo, foi com a

porcentagem de 5% de cinzas (proporções utilizadas no BIO 15). Acima desse percentual,

torna-se inviável, pelo menos no lodo da ETE do Capivari I da Sanasa/Campinas.

Descobriu-se que quanto maior percentual de baba de cupim, utilizada nas amostras,

maior poder ligante/cimentante é encontrado.

A presença das cinzas de lodo no Biocimento, mesmo em percentual baixo, é

considerável, já que à partir de 2014 começa a vigorar a Lei Federal 12.305/2010, que

proibirá a disposição de lodo em aterros. As cinzas também podem ser utilizadas como

fertilizante de solos com baixa fertilidade, pois contém alto teor de Fe3+

em sua composição.

126

12. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1]. BRAGA, Benedito, et al. Introdução à engenharia ambiental: o desafio do

desenvolvimento sustentável. 2ª Ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005. 318p.

[2]. UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO. Sociedade brasileira de química.

Alternativa de aproveitamento do pó da casca do coco verde. Rio de Janeiro,

[3]. GEYER, André Luiz Bortolacci. Contribuição ao estudo da disposição final e

aproveitamento da cinza de lodo de estações de tratamento de esgotos sanitários como

adição ao concreto. 2001. 213 f.. Tese (Doutorado em Engenharia Civil) – Escola de

Engenharia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2001.

[4]. MUSSE, Cybelle Luiza Barbosa. Avaliação das potencialidades da cinza de lodo de

esgoto da ete Goiânia como adição na produção de argamassa de cimento Portland.

2007. 112 f.. Dissertação (Mestrado em Engenharia do Meio Ambiente) – Escola de

Engenharia Civil, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2007.

[5]. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10004: informação e

documentação – citações em documentos – apresentação. Rio de Janeiro, 1987.

[6] Fabricação do Cimento

http://www.abcp.org.br/conteudo/basico-sobre-cimento/fabricacao/fabricacao Acesso em

05/05/2012

[7] Ensaio em Corpos de Prova

http://www.ebah.com.br/content/ABAAABCzAAA/nbr-05739-1994-concreto-ensaio-

compressao-corpos-prova-cilindricos Acesso em 10/05/2012

[8] Testes em Cimento

http://pt.scribd.com/doc/58658155/Pressao-Conceito-Instrumentos-e-teste Acesso em

10/05/2012

[9]Lixiviação de Resíduos

http://pt.scribd.com/doc/52931267/ABNT-NBR-10005-Lixiviacao-de-Residuos Acesso em

10/05/2012

127

[10] Solubilidade de Compostos Orgânicos

http://pessoal.utfpr.edu.br/poliveira/arquivos/aulapratica03solubilidadedecompo

stosorganicos.pdf Acesso em 10/05/2012

[11]. SOCIEDADE DE ABASTECIEMENTO DE ÁGUA E SANEAMENTO S/A. Gerência

de Operação de Esgoto. Integração dos novos funcionários da gerência de operação de

esgoto. Campinas, 2009. 59 p.

[12]. Meira, João M. L. “Argilas: o que são, suas propriedades e classificações”. VISA

CONSULTORES. Comunicações técnicas. Janeiro de 2001.

[13] Cupim

http://www2.dbd.puc-rio.br/pergamum/tesesabertas/0510350_08_cap_05.pdf Acesso em

20/06/2012

[14] Permacultura e Coletivo

http://permacoletivo.wordpress.com/permacultura/ Acesso em 15/05/2012

[15]Adobe

http://www.usp.br/fau/cursos/graduacao/arq_urbanismo/disciplinas/aut0221/Trabalhos_Finais

_2011/Construcao_em_Tijolo_de_Adobe.pdf Acesso em 15/05/2012

[16] IPEMA- Permacultura

http://novo.ipemabrasil.org.br/sobre/permacultura Acesso em 15/05/2012

[17]. LENEGN, Van Johan. Manual do Arquiteto Descalço. São Paulo: Empório do Livro,

2008.

[18] OHLWEILER, Otto Alcides. Quimica Analítica Quantitativa. 1ª Ed. 1974, vol. 3, pg

698-699.