Winnicott Clinica Psicoses

Embed Size (px)

Citation preview

  • 8/10/2019 Winnicott Clinica Psicoses

    1/21

    A constituio do mundo psquico na concepo

    winnicottiana: uma contribuio clnica das psicoses

    Manoel Antnio dos Santos 1, 2

    Universidade de So Paulo

    Resumo

    A importncia da obra de Winnicott para a psicanlise vem sendo reafirmada nos ltimos anos,

    junto ao seu interesse crescente para o campo das psicoses. O propsito do presente estudo

    apresentar as bases tericas dessa que uma das abordagens mais fecundas para a

    compreenso do fenmeno psquico, no apenas em condies patolgicas, como em

    condies normais de desenvolvimento. Trata-se de um arcabouo conceitual que nos permite

    pensar a problemtica resultante das organizaes no edipianas do aparelho psquico, cujas

    incidncias na clnica contempornea so cada vez mais freqentes. Enfoca-se, sobretudo, a

    gnese da organizao psictica, em suas relaes com a constituio do mundo interno e o

    papel estruturante do objeto e da experincia ilusria no desenvolvimento psquico.

    Palavras-chave: Psicanlise; abordagem winnicottiana; objeto transicional; realidade psquica;psicoses.

    The constitution of the psychic world in winnicotts conception: A contribution to the

    clinical treatment of psychosis

    AbstractOver the last few years, the importance of Winnicotts work for psychoanalysis has been

    reaffirmed together with its growing interest to the field of psychosis. The purpose of the

    present study was to present the theoretical basis of this approach, which is one of the most

    fecund for the understanding of the psychic phenomenon, not only in pathological conditions

    but also in normal developmental conditions. This is a conceptual framework that allows us to

    reflect about problems resulting from non-oedipal organization of the psychic apparatus, which

    incidence in contemporary clinical practice is increasingly frequent. Major emphasis is placed

    on the genesis of psychotic organization, on its relations to the constitution of the inner world

    and the structuring role played by the object, and the illusory experience in the psychic

    development of the human being.

    Keywords: Psychoanalysis, winnicottian approach; transitional object; psychic reality;

    psychosis.

  • 8/10/2019 Winnicott Clinica Psicoses

    2/21

    As contribuies de Winnicott enriqueceram a concepo psicanaltica sobre as bases dodesenvolvimento emocional precoce (Winnicott, 1945/1978), principalmente no que concerneao conceito defenmenose objetos transicionais, produzidos em uma rea intermediriasituada entre o mundo interno e o mundo externo. Winnicott formulou uma concepo sobre aconstituio do mundo interno bastante original, afastando-se da doutrina freudiana medidaque no recorre teoria pulsional. Se para Freud o objeto pensado como objeto da pulso(Laplanche & Pontalis, 1967/1983), na vertente winnicottiana o objeto adquire outro estatuto,relacionado experincia da transicionalidade e no mais organizao pulsional do sujeito.

    A importncia da obra de Winnicott para a psicanlise vem sendo reafirmada nos ltimos anos.Seu interesse para o campo das psicoses, em particular para a investigao da esquizofrenia,

    tem sido cada vez mais valorizado, medida que essa patologia caracterizada essencialmentepelo transtorno do pensamento, e a preocupao com o desenvolvimento da capacidade depensar por conta prpria um trao distintivo da psicanlise winnicottiana. Winnicott(1963c/1983) considera a esquizofrenia como resultado de certas falhas de construo da

    personalidade, decorrentes de um ambiente que no pde ser suficientemente facilitador paraajudar o lactente a atingir vrias metas, tais como a integrao, a personalizao e odesenvolvimento das relaes objetais. A esquizofrenia faria parte do quadro das doenasmentais propriamente ditas, isto , aquelas doenas que no so conseqncia secundria das

    patologias cerebrais ou de qualquer outra doena orgnica. O termo mental aqui empregadoem sua conotao tradicional, ou seja, excluindo-se as "doenas do crebro" e as "doenas do

    corpo".

    O presente artigo tem como propsito apresentar a concepo de mundo interno elaborada porWinnicott e sistematizar suas contribuies no que concerne constituio dos fundamentos daorganizao psictica. Tendo em vista esses objetivos, procuraremos ao longo de nossaexposio traar um paralelo entre os processos normais de estruturao do psiquismo e as suas

    perturbaes correlatas observadas na personalidade psictica. Procuraremos explicitar, nodecorrer de nossa argumentao, o vrtice que privilegiamos em nossa leitura, segundo o quala psicose est ligada privao emocional em um estdio anterior quele em que o beb possa

    perceber essa privao. Isso acarreta uma interrupo no sentimento de continuidade do existir,que nem sequer experimentada como tal, dada a indiferenciao em relao ao ambiente.

    A teoria winnicottiana acentua o papel do ajustamento defeituoso do ambiente em relao snecessidades da criana, atribuindo um papel secundrio sua reao. Em nossa exposio,

    procuraremos demonstrar que essa contribuio introduz um pensamento original dentro doreferencial psicanaltico, cujas conseqncias tanto conceituais como clnicas necessitam aindaser pensadas.

    Os Primrdios do Desenvolvimento Emocional

  • 8/10/2019 Winnicott Clinica Psicoses

    3/21

    No quadro de sua teoria do desenvolvimento emocional, Winnicott (1945/1978) enfatiza queno princpio o beb no constitui uma unidade em si mesmo. A unidade corresponde a umaorganizao entre o indivduo e o meio ambiente. A base da sade mental estabelecida nos

    primrdios da infncia pelo provimento de cuidados dispensados criana por uma mesuficientemente boa. O beb depende da disponibilidade de um adulto genuinamentepreocupado com os seus cuidados, isto , que possa contribuir para uma adaptao ativa e

    sensvel s necessidades da criana, que a princpio so absolutas. Portanto, a psique s podeter origem dentro de um determinado enquadre, dentro do qual a criana pode gradualmentevir a criar um meio ambiente pessoal, que a capacitar, mais tarde, a se desembaraar domesmo. Para superar esse estado inicial de dependncia e atingir a independncia, o meioambiente criado e subjetivado pela criana transforma-se em algo suficientemente semelhanteao ambiente percebido. Essa uma etapa especialmente delicada do desenvolvimento e de seusucesso depende o estabelecimento da sade ou da psicose.

    Winnicott (1952/1978) parte do ponto de vista de que a aquisio saudvel da posiodepressiva no desenvolvimento emocional pressupe, alm de um cuidadoso manejo dodesmame, um desenvolvimento anterior adequado. Para compreender as psicoses, precisamosremeter a esses estdios mais primordiais da psique. A desiluso, para Winnicott (1952/1978), um fenmeno mais amplo que antecede ao desmame. Enquanto o desmame implica umaalimentao bem-sucedida, a desiluso est relacionada ao fornecimento adequado de"oportunidades para iluso". Ou seja, a me deve inicialmente fornecer ao beb a iluso de queo que ele cria est mesmo l para ser encontrado.

    O desenvolvimento saudvel est relacionado ao estabelecimento de uma tendncia reduodos estados esquizides nos momentos iniciais da vida, quando o beb est sendo

    gradualmente introduzido realidade externa. Para Klein (1946/1982), o amor e acompreenso materna so capazes de reduzir os estados de desintegrao que a criananormalmente vivencia. Winnicott (1952/1978) avana por essa trilha, mostrando a necessidadede uma me-ambienteque exera uma funo altamente especializada no incio dodesenvolvimento. A dedicao materna, tanto do ponto de vista fsico (atravs do holding)como psicolgico (atravs da relao emptica e da adaptao sensvel s necessidades do

    beb), funciona como uma espcie de membrana protetora que viabiliza o isolamento primrio,fundamental para que se articule um espao psquico.

    Em outras palavras, atravs de uma adaptao ativa s necessidades da criana, o meioambiente a torna capaz de permanecer em um estado de isolamento imperturbado, ocupandoum espao em que ela possa desenvolver sua vida de fantasia um mundo secreto sentidocomo s seu, onde mais tarde vai se alojar um aparelho psquico e uma organizao dos

    processos de pensamento. O beb, que no tem conscincia desse suprimento por parte doobjeto, entrega-se fruio de um movimento espontneo. Se tudo correr bem, o meioambiente descoberto, sem que haja uma perda do sentido deself.

    Quando, entretanto, ocorre uma adaptao falha s necessidades da criana, e isso a obriga areagir a essa experincia sentida como invasiva , o sentido doself se perde. A criana se

    afunda no no-senso, isto , na impossibilidade de atribuir significado, nomear e organizar asexperincias sensoriais e o prprio corpo, devido fenda profunda que o atravessa. Nesse caso,a criana reage a essa experincia traumtica retornando ao estado inicial de isolamento.

  • 8/10/2019 Winnicott Clinica Psicoses

    4/21

    medida que se reitera a experincia de uma adaptao no suficientemente boa, comea a serproduzida uma distoro psictica da organizao meio ambiente-indivduo. As relaes comos objetos produzem, sucessivamente, a perda do sentido de integridade doself, de modo que,

    para recuper-lo, o indivduo obrigado a recorrer cada vez mais ao retorno ao isolamentoprimrio. Essa operao vai adquirindo um carter crescente de organizao defensiva comorepdio invaso ambiental. Oselfpode ser esmagado no espao da realidade que ele nuncaalcana e da subjetividade que carece de sentido.

    O fracasso ambiental nesse ponto do desenvolvimento acirra o potencial paranide. O beb sev obrigado a se defender de intensas ansiedades paranides, e para tanto organiza defesasigualmente vigorosas. Alm disso, recolhe-se para seu prprio mundo interno (introverso

    patolgica), um mundo que ainda no est bem organizado. Para se livrar da perseguio doambiente, deixa de adquirir ostatus de unidade, "renunciando" ao compromisso de crescer econquistar sua prpria autonomia.

    Essa a verso pessoal que Winnicott (1952/1978) d para o conceito de posioesquizoparanide descrito por Klein (1946/1982). Nela introduz, contudo, uma diferenafundamental em relao ao pensamento kleiniano, que ele no deixa de acentuar: o fracassoambiental nos primrdios do desenvolvimento que leva edificao dessa organizaodefensiva, e no um suposto impulso de auto-aniquilamento, um sadismo destrutivo inato ouqualquer tendncia que possa ser atribuda hereditariedade (loparic, 1996). Nesse ponto,

    podemos detectar a dissenso de Winnicott (1945/1978; 1952/1978) em relao importnciaque Klein (1946/1982; 1957/1974) atribui herana filogentica, aos precursores do dio e aos

    prenncios da inveja, como constituintes da matriz de impulsos, defesas e ansiedadesprimitivas. Segundo Loparic (1996), para Winnicott esses fenmenos no tm razes em

    profundezas ocenicas, nem so to inevitveis assim na histria dos seres humanos.Parafrasendo a famosa frase atribuda ao poeta francs Paul Valry, tambm para Winnicott "omais profundo a pele".

    Uma Teoria do Amadurecimento Humano

    Winnicott (1963c/1983) considera que, para compreendermos as desordens do tipo da

    esquizofrenia, necessrio examinarmos os processos de maturao nos estgios iniciais dodesenvolvimento emocional, uma poca em que muito desse desenvolvimento est se iniciandoe nenhum processo se completando. Nesse momento, as tendncias bsicas correspondem maturao e dependncia.

    A psicanlise winnicottiana implica uma teoria do amadurecimento humano. Como vimos, asbases da sade mental do indivduo so estabelecidas nos estdios iniciais do desenvolvimento,e envolvem basicamente os processos de maturao, que so tendncias herdadas, e ascondies ambientais necessrias para que eles se realizem (Winnicott, 1963b/1983). Mas no o ambiente que faz o beb crescer, nem determina o sentido desse crescimento, mas apenasfacilita, quando for suficientemente bom, o processo de maturao.A nica herana admitida

    por Winnicott o potencial inato para o amadurecimento, que ocorre entre dois estados de no-vida3. Toda a existncia decorre nesse intervalo entre o no-ser e o ser, na luta do indivduo

  • 8/10/2019 Winnicott Clinica Psicoses

    5/21

    para no sucumbir aos estados de dissoluo e estender, ao longo do tempo, a continuidade doseu ser, mediante o funcionamento do processo maturacional.

    Essa continuidade no pode ser assegurada pelo indivduo por si s, mas depende de um meio

    ambiente facilitador. Por conseguinte, a falha da proviso bsica inicial perturba os processos

    de maturao, barrando o crescimento emocional da criana. Nesse sentido, o que constitui a

    etiologia das psicoses, em particular da esquizofrenia, uma falha do processo de maturao eintegrao. "Psicose uma doena de deficincia do ambiente" (Winnicott, 1963b/1983, p.

    231) 4.Isso no deve ser entendido como a presena de experincias traumticas severas ou a

    ocorrncia de eventos adversos durante a primeira infncia 5. O ponto central que essas

    falhas so imprevisveis. Elas no podem ser consideradas pelo beb como projees, porque

    ele ainda no atingiu um estado tal em que a estrutura de ego torne possvel atribuir ao

    ambiente a produo desses fracassos, j que no h uma oposio inicial entre o externo e o

    interno 6. O resultado mais marcante das falhas ambientais um sentimento permanente de

    aniquilamento e pnico que toma conta do beb. A continuidade de sua existncia

    subitamente interrompida Loparic, 1996).

    Winnicott (1963c/1983) chama essas falhas da proviso bsica deprivao, opondo esseconceito ao deperda, j que, ao tratar das psicoses, ele no se refere queles casosintermedirios, em que a proviso ambiental boa de incio (logo, h uma me que evita essetipo de deficincia em um primeiro momento), e depois falha em um estdio em que a crianaainda no foi capaz de estabelecer um ambiente interno que lhe permita ficar independente.Isso umaperda e no leva psicose. O que mostra que a psicose no pode ser explicada noquadro da funo sexual.

    O complexo de dipo uma funo do amadurecimento, e no o inverso (Loparic, 1996). Epode ocorrer de ele nem se formar, ou que os efeitos da situao edpica no incidam sobre oindivduo, a tal ponto que o complexo possa ser sentido como tal. Por essa viso, o queespecifica a condio humana no o fato de sermos, desde o incio, umdipo em potencial(Loparic, 1996), mas de sermos seres frgeis, finitos, que precisam de um outro ser humano

    para continuar existindo. A sofisticada metapsicologia freudiana, apesar de todo o seu aparatodinmico e estrutural, tem um poder limitado para explicar os transtornos nos quais incidem asangstias impensveis, que cada vez mais tm se transformado no paradigma da demanda detratamento na poca contempornea.

    Essa afirmao no se baseia em dados de pesquisa, ainda no disponveis nessa rea, mas emobservaes no sistemticas oriundas da experincia clnica de psicanalistas como Alvarez(1994) e Zimerman (1999), que tm constatado que "...a maioria das pessoas que hoje procuraanlise apresenta importantes problemas caracterolgicos, de baixa auto-estima e de prejuzodo sentimento de identidade, derivados da permanncia de um estado depressivo subjacente,muitas vezes resultantes das primitivas feridas narcissticas" (Zimerman, 1999, p. 312). Comoressalta Loparic (1996), preciso buscar novos modelos explicativos para lidar com essescasos que interrogam os limites da psicanlise, uma vez que a metapsicologia no capaz de,

    por si s, elucidar a essncia trgica do homem contemporneo, com sua existncia fraturada e

    descontnua.

    Desse modo, investigando as particularidades dos fenmenos que tm origem nesses estdios

  • 8/10/2019 Winnicott Clinica Psicoses

    6/21

    mais elementares do existir humano, segundo Loparic (1996), Winnicott rejeita a idia doconflito edpico como motor do desenvolvimento psquico e fonte precoce das neuroses. O quemove o beb, segundo ele, o prprio fato de estar vivo. O beb no deseja incorporar a me, emuito menos castrar o pai (Winnicott, 1987/1990). Tudo o que ele anseia a presenareasseguradora da me, que lhe inspire uma confiana bsica em si mesmo e no mundo.Somente quando o seu contato com a me-ambiente for satisfatrio, o beb poder adquirir a

    capacidade de usar os seus mecanismos mentais.

    As Angstias Impensveis

    De acordo com Loparic (1996), Winnicott, em sua obra, reconheceu que nas psicoses e emoutros distrbios severos correlatos as angstias macias no parecem se enquadrar no clssicomodelo da regresso aos pontos de fixao pr-genitais, vinculadas ao conflito edpico mal

    resolvido (ver tambm Winnicott, 1955/1978). Nesses pacientes, no possvel identificar aorigem da problemtica em termos de dificuldades de resoluo de um complexo de dipoplenamente desenvolvido. Ainda que tenha acatado, inicialmente, as reformulaes kleinianasem termos da posio depressiva, Winnicott acabou se convencendo da existncia de

    problemas iniciais do desenvolvimento humano que desencadeiam o que ele denominou deangstias impensveis, que no podem ser entendidas por meio da concepo edipiana 7.

    Segundo Loparic (1996), so angstias relacionadas no funo sexual, mas s mltiplasameaas ao sentimento de existir que assolam o beb, tais como o temor do retorno a umestado de no-integrao (levando ao aniquilamento e ruptura da linha de continuidade do

    ser), o medo da perda de contato com a realidade e o temor da desorientao no espao, opnico do desalojamento do prprio corpo (o despencar no vazio) e de um ambiente fsicoimprevisvel, etc. Essas angstias primrias so impensveisporque no podem ser definidasem termos de relaes pulsionais de objeto, baseadas no modelo representacional (isto ,relaes mediadas por representaes de objeto, ou seja, representaes mentais). Ocorre quetais angstias no acedem percepo, nem chegam a ter um estatuto de fantasia, e medidaque no ganham contedo representacional, so impedidas de alcanar a simbolizao.

    Essas angstias eclodem em uma etapa bastante precoce da vida, antes que tenha sido

    claramente configurado um sujeito capaz de experiment-las como algo interno. Os estadosque as originam precedem, portanto, ao incio da atividade dos mecanismos mentais e dasforas pulsionais, o que implica que essas angstias no possam ser compreendidas em termosdo conflito gerado pela situao edpica. Pode-se, ento, interrogar sobre sua verdadeiraorigem. Essas angstias assaltam a mente do beb em um estgio do desenvolvimento primrioquando h o encontro com um mundo sentido como incompreensvel.

    Ou seja, tudo comea com o nascimento, que um problema fundamentalmente do beb, noda me (Loparic, 1996). Eo beb, como tal, no existe no incio, segundo a conhecidaexpresso de Winnicott (1971/1975). H apenas uma configurao inicial e indissolvel,

    formada pelo beb e o ambiente, do qual a criana no se diferencia. Isso porque nenhumadistino primordial entre o interno e o externo pressuposta, como em Melanie Klein. O que

    para Klein constitui o bom objeto (seio bom), para Winnicott resume-se to somente

  • 8/10/2019 Winnicott Clinica Psicoses

    7/21

    maternagem acompanhada da amamentao. Em contrapartida, no existe algo semelhante aum mau objeto (seio mau), alvo de sucessivos ataques desferidos pela criana. E, medida queno h noo de exterioridade, no se pode falar de mecanismos de projeo ou introjeooperando desde o nascimento. S possvel projetar se h um continente para acolher a

    projeo. Em uma situao como essa, o beb no pode sentir dio pelo objeto, pois no sabe oque possuir algo diferente de si mesmo. A prpria capacidade depossuire deusaro objeto

    (evoluo da "relao de objeto" para o "uso do objeto") deve ser construda na relaosatisfatria com a me-ambiente(Winnicott, 1969/1975a).

    Para Klein (1946/1982), a nfase est posta no interno, enquanto que para Freud (segundoPereda, 1997) a angstia sempre marcada pela carncia dos primrdios e pela perda do objeto(ou nas fantasias de castrao). Ou seja, se em Klein importa a pulso de morte, em Freudcontam as perdas. J Winnicott (segundo Pereda, 1997) introduz a importncia radical do outrono processo de estruturao da subjetividade, rompendo com a dicotomia interno-externo.

    "O que ele descreve em sua transicionalidade a perda do objeto para que surja o sujeito.Objeto que demora em sua representao mais autnoma (disponibilidade da representao),

    que se encarna nele perdendo-se (metfora a meio caminho, que objeto transicional), mas que

    finalmente desaparece e marcar com isto a simbolizao mais acabadamente realizada e a

    disponibilidade da fantasia"(Pereda, 1997, p. 85).

    Talvez o que sobreviva no seja o objeto (que existe para ser "morto"), mas o sujeito marcadopela perda ou pela destruio do objeto, testemunhando o aparecimento da fantasia, como uma"metfora viva" que d acesso ao pensamento e cultura. Winnicott destaca que noestabelecimento da alteridade algo se perde ao se adquirir essa conquista. J as falhas e

    distores do brincar (processo simblico) levam formao de formaes e divises que seestruturam em pseudo-identificaes, na linha do falsoself. As perturbaes ou a deteno do

    brincar criam condies para o desenvolvimento de patologias infantis e a base para ostranstornos do adulto.

    A Experincia Ilusria e o Advento do Objeto Transicional

    O xito do desenvolvimento, que permite avanar no sentido do objeto percebido comoexterior aoself, est intimamente ligado capacidade da criana de se sentir real. Essacapacidade tem ainda que se harmonizar com a noo dese sentir real no mundo e desentirque o prprio mundo real. O esquizofrnico no pode alcanar um sentimento de realidadeno mundo particular das relaes que ele mantm com seus objetos subjetivos. Nesse sentido,os sentimentos de desrealizao e a perda do contato com a realidade compartilhadarepresentam o oposto da tendncia maturativa.

    No decorrer do desenvolvimento psquico normal, a adaptao ativa que a me propicia,procurando atender s necessidades que variam de acordo com as diferentes etapas do

    desenvolvimento, nutre o potencial criativo da criana. Isso origina umaprontido para aalucinao. O amor e a compreenso proporcionam a identificao da me s necessidades do

    beb, a ponto de ela fornecer-lhe algo alm do alimento, que a possibilidade de usar

  • 8/10/2019 Winnicott Clinica Psicoses

    8/21

    criativamente seu potencial para alucinar o seio provedor. A repetio dessa experinciadesencadeia a habilidade do beb de usar o recurso da iluso, sem a qual impossvel ocontato entre a psique e o meio ambiente. Isso permite que o beb construa, nesse espao deilusionamento propiciado pela me, um objeto que o console e lhe d conforto: o objetotransicional (Winnicott, 1951/1978).

    Esse objeto pode ser materializado em qualquer suporte da realidade, como o polegar, a pontade uma manta, um urso de pelcia ou uma boneca de pano, j que o que importa a funo queele desempenha e no o objeto em si. Desse modo, entre a realidade externa e a realidadesubjetiva, que de incio so incomunicveis e imissveis, funda-se um campo intermedirio deiluso. Para o beb, significa uma zona de compromisso que no contestada quanto ao fato de

    pertencer ao mundo puramente subjetivo ou ao territrio da realidade compartilhada.

    nessa rea constituda pelo jogo e pelo fantasiar que a criana pode colocar em uso o sonho eos seus impulsos de vida e, atravs desses recursos, comear a manipular a realidade externa,

    modelando-a de acordo com suas necessidades e possibilidades de assimilao8

    . O fato que oadulto, porque intui essa verdade, concede ao beb licena para que ele exercite vontade"essa loucura". S gradualmente exige que ele discrimine entre a realidade subjetiva e arealidade compartilhada. Essa indulgncia dos pais, uma espcie de "moratria" do juzocrtico da realidade, prolonga-se na vida adulta, quando se manifesta no campo cultural sob aforma de arte e religio, por exemplo. Nessas reas, de que todos necessitamos, tambm seobserva esse "descanso do teste de realidade e da aceitao da necessidade" (Winnicott,1951/1978, p. 382).

    As manifestaes geralmente reconhecidas como psicticas nascem de uma tendncia

    clivagem bsica na organizao meio ambiente-indivduo, desencadeada como uma reao aexperincias de fracasso da adaptao ativa do ambiente inicial. A extrema clivagem faz comque a vida interior o mundo particular de fantasias do indivduo, contenha poucos elementosderivados da realidade externa. A vida secreta torna-se, assim, incomunicvel. O indivduo sedeixa levar por uma vida falsa, e essa submisso a um ambiente sedutor acaba por produzir umfalsoself, em queas pulses ficam do lado do meio ambiente sedutor, traindo a verdadeiranatureza humana. Com isso, o indivduo no consegue atingir uma autntica maturidade, que substituda por umapseudomaturidade, em um meio ambiente psictico.

    A impossibilidade de configurar uma rea segura para desenvolver o fantasiar impede o bebde conviver com o segredo, necessrio para que ele se sinta fortalecido o suficiente para deixar,em segurana, a proteo do isolamento primrio. O campo transicional no se constitui comotal, impedindo que a criana flutue para dentro e para fora do seu mundo interno, de acordocom suas necessidades.

    Winnicott (1952/1978) chama a ateno para o papel que osprocessos intelectuaisassumemnessa poca. Atravs deles, os fracassos do meio ambiente podem ser gradualmente levadosem conta e tolerados. Elesfuncionam como um elo de ligao entre a adaptao incompleta e acompleta, permitindo ao indivduo preencher a lacuna existente entre ambas e assim obter uma

    compensao para as falhas ambientais. Desse modo, atravs desse mecanismo propiciadopelos processos cognitivos que o fantasiar, uma adaptao no suficientemente boa pode setransformar em uma adaptao suficientemente boa - o que nos remete descrio de Freud

  • 8/10/2019 Winnicott Clinica Psicoses

    9/21

    (1920/1969) sobre o beb que, atravs do jogo e da fantasia, encontra um meio de transformaruma experincia desagradvel em uma atividade prazerosa. O brincar "verdadeiro" permiteampliar a compreenso do processo simblico e de sua funo, atravs da representao,conceito essencial tambm na formulao freudiana basta pensar no jogo do carretel, queinstala um fenmeno novo em que imagem e palavra se amalgamam.

    Se o ambiente se comporta de modo uniforme, tanto mais fcil ser essa tarefa que a crianatem de estruturar. J uma adaptao varivel (meio ambiente imprevisvel e pouco sensvel)tende a ser traumtica, anulando o efeito positivo dos perodos de adaptao adequada.Winnicott (1952/1978) afirma que uma capacidade intelectual restrita induz maioresdificuldades nessa tarefa de transformao dos traumas resultantes da adaptao insuficiente snecessidades. Disso resultam as psicoses comuns nos deficientes mentais.

    Por outro lado, tambm se observa que um indivduo com uma elevada potencialidadecognitiva, que o capacita a lidar com srios fracassos na adaptao necessidade, pode

    desenvolver um tipo de distoro da personalidade que Winnicott (1960/1983) denomina falsoself,juntamente com umaperversoda atividade mental, medida queela utilizada contra apsique. A hipertrofia dos processos intelectuais, nesses casos, corresponderia a uma reaodefensiva contra um colapso esquizofrnico potencial. A atividade de pensamento acaba por setornar inimiga da psique.

    O Verdadeiro e o Falso Self

    Mannoni (1970, p. 90) mostra que falso e verdadeiroself no so "dois tipos de personalidades(...), mas uma bipolaridade em um mesmo indivduo", sendo que a funo primordial do falso

    self precisamente ocultar e proteger oself verdadeiro. Assim, ambos permanecem comovicissitudes naturais de expresso da vida psquica (Pereda, 1997).

    Ao formular a questo da constituio doself verdadeiro e falso, Winnicott (1960/1983)evidencia que o elemento autntico noselfconstri-se sobre a identificao com o objeto, alionde se constitui um campo relacional, de onde a criana vai emergir como sujeito caso seaceite o paradoxo de que o objeto est ali porque ela o criou magicamente, ao passo que o falso

    self se constri sobre a base do submetimento, quando o gesto espontneo no pde seracolhido.

    Winnicott (1960/1983) inscreve na patologia do falsoself um amplo leque de doenas, como aspsicoses, os quadros borderline, a depresso e o suicdio. De um modo geral, nasenfermidades, incluindo-se a as neuroses, encontram-se presentes os aspectos menosautnticos (mais falsos) da personalidade: "O autntico fica do lado do verdadeiro: a sade, acultura, a criatividade", o que contrasta com a proposta freudiana de que as mais nobresqualidades humanas so feitas do mesmo estofo que os vcios" (Pereda, 1997, p. 81).

    Por outro lado, o verdadeiroself no surge como resultado do conflito, mas previamente. uma rea no reativa, talvez primria e livre de conflitos, celeiro de possibilidades da evoluoespontnea na fecunda tessitura da trama subjetiva. Pode-se fazer uma aproximao entre a

  • 8/10/2019 Winnicott Clinica Psicoses

    10/21

    noo winnicottiana de que oself encontra-se situado no corpo com a gnese do ego como umego corporal, projeo mental da superfcie do corpo, conforme a descrio de Freud(1923/1969). Mas nunca demais lembrar que talvez no existam equivalncias possveis eque a maioria dos conceitos no se harmonizam e dificilmente podem ser enquadrados nametapsicologia habitual. A propsito, a elucidao de determinadas noes lenta e complexa,devido s suas mltiplas conceituaes e usos, e a distintas vises do aparelho psquico, que

    no se harmonizam com as noes conhecidas, como as da metapsicologia tradicional. Almdo que necessrio ter muita cautela quando se faz uma confrontao de modelos tericos em

    psicanlise e respeitar as diferenas conceituais existentes entre os diversos autores e suasteorias inspiradas em bases epistemolgicas distintas.

    O encontro com o objeto uma potencialidade, como vimos anteriormente, que dar um

    sentido ao gesto espontneo do beb e validar (ou no) o "ser verdadeiro em

    potncia" (Winnicott, 1971/1975). A me, portanto, vista sempre em sua dimenso potencial,

    "e esta me compreendida como entorno ou como semelhante se afasta dos objetos

    parciais" (Pereda, 1997, p. 82), marcando a um novo contraste entre a teoria winnicottiana e o

    pensamento freudiano e kleiniano.

    Assim, a fonte do gesto espontneo aquele que expressa um impulso genuno, expressoatravs de um gesto, ato ou balbucio , oselfverdadeiro potencial, mas tambm o serespontneo representa o ser verdadeiro em ao, que se dirige ao outro, o qual percebe e dlugar a que o gesto se realize. Como diz Pereda (1997, p. 87): "Quase poderamos dizer que o

    self verdadeiro o resultado de um encontro simbolizado".

    A me suficientemente boacomo funo materna, que responde onipotncia do beb e de

    certo modo lhe d sentido, como diz Winnicott (1971/1975c) em O brincar e a realidade, temtambm uma funo simblica, medida que outorga sentidos imaginrios e, simultaneamente,tem de se fazer falhante na sua capacidade de dar resposta, embora deva introduzir a falha demodo gradual. necessrio que ela suporte profundamente e sustente por um bom tempo otemposuficiente o gesto atravs do qual o desejo da criana tenta se escrever com o corpo.

    Winnicott (1971/1975) descreve, em contrapartida, a me que no responde ao gestoespontneo, mas que, em vez disso, coloca ali seu prprio gesto, levando submisso do beb.Em O Brincar e a Realidadelemos que o que cobra realidade o gesto ou a alucinao do

    beb e sua capacidade para utilizar um smbolo o resultado desse processo. Se o anseio queesse gesto expressa no pode ser alcanado (alucinao no gratificada), ele reiterado, ouaparece o grito, testemunhando uma ausncia. O gesto retorna, ento, como smbolo, resultadode uma perda que acontece no encontro materno. E ali est o paradoxo que existe em torno dacriao do objeto e, por fim, na constituio doself, objeto que encontrado para ser criado(Pereda, 1997).

    A constituio do falsoself surge tambm como uma defesa paradoxal, soluo decontinuidade que vem preservar a continuidade do ser noself verdadeiro ameaado. Com aorganizao do falsoself, o sujeito almeja proteger oself verdadeiro de novos ataques. Trata-se

    de uma estratgia de sobrevivncia baseada na resignao, na qual importa sobreviver em vezde viver. Proteo contra a regresso a estados de no-integrao, testemunhando o esforo quedemanda aoself esta tarefa de unificao, de manter separado o que ego do que no . a

  • 8/10/2019 Winnicott Clinica Psicoses

    11/21

    funo materna que garantir a continuidade do sentimento de existir da criana e evitar areao que resultar na dissociao, culminando com a organizao de um falsoself.

    Fundao do Campo Transicional: Os Efeitos do Paradoxo Aceito

    Com sua concepo do verdadeiro e falsoself,Winnicott (1960/1983) afasta-se da perspectivatopolgica. Contudo, embora a teoria winnicottiana no acate a noo freudiana de conflitocomo eixo do funcionamento psquico, resgata a importncia do papel do outro na constituiosubjetiva. O outro como campo de possibilidade simblica de organizao psquica.

    Winnicott (1951/1978) soube reconhecer o papel necessrio e estruturante da iluso. O espaotransicional produz um tipo particular de objetos, que so modelados pelos desejos. Esseespao obedece a um pensamento paradoxal, cuja caracterstica essencial escapar da

    dicotomia instaurada pela atribuio do juzo de existncia, que ope osere ono-sersob aprimazia do princpio de realidade. Esses objetos materializam os efeitos de uma suspenso dejuzo em relao realidade. Do ponto de vista da criana, esses objetos criadossoeno soo que representam. Essa noo introduz algo de novo no conceito de equivalncia que, porexemplo, est subjacente s teorias sobre a formao do smbolo e da capacidaderepresentacional (por exemplo, a homologia entre um determinado aspecto da experinciacorporal e um smbolo).

    Green (1994) especula que esse conceito talvez acrescente um terceiro tipo de processo, queviria completar a clssica oposio entre processos primrios e processos secundrios,

    propondo design-los comoprocessostercirios. Esses processos serviriam de agentes deligao entre os primrios e os secundrios, que esto sempre em perptua interao. Nocampo cultural, por exemplo, o mitodesempenha essa funo de ligao social entre arealidade subjetiva, absolutamente singular e impermevel, e a realidade exterior, coletiva ecompartilhada. Green prope que pensemos o mito como um objeto transicional coletivo. Issonos permite compreender melhor a noo de transicionalidade.

    O mito, tal qual o brincar, coloca em jogo uma forma de lgica que no pode ser formulada nostermos da lgica da no-contradio, da linguagem binria dos filsofos. uma lgica do

    equvoco e da ambigidade, em vez da lgica do sim-ou-no. Um mito e no real, pertence categoria da iluso. Como todo objeto transicional, no deve ser interpretado ao p da letra,mas como construes as quais no se concede a menor crena, uma vez que elas no areivindicam para operarem sua eficcia simblica e desempenharem sua funo reguladora.Contudo, o consenso lhe concede uma existncia inegvel, reconhecendo seu valor intrnseco.

    Desse modo, o mito se liga tanto realidade psquica, pelas relaes que mantm com o sonhoe a fantasia (ou seja, com um sentido inconsciente), como realidade compartilhada por todauma sociedade, modulada pelos desejos coletivos.

    Assim, a contribuio que Winnicott (1952/1978; 1962/1983; 1963b/1983) trouxe problemtica da representao nas psicoses parte da apropriao que ele faz da noo freudiana

    de que as origens do mundo psquico remetem construo de um espao para a fantasia. No

  • 8/10/2019 Winnicott Clinica Psicoses

    12/21

    sem razo que todo o seu trabalho atravessado por uma preocupao que remonta s

    origens da criatividade. Para desenvolver suas pesquisas, ele construiu um aparato conceitual

    bastante engenhoso, que tem sua base na noo de espao, objeto e fenmenos transicionais

    (Winnicott, 1951/1978).

    O campo transicional constitudo, como vimos, no desdobramento entre o subjetivo e o

    objetivo. Os objetos e fenmenos transicionais pertencem ao domnio da iluso, que est nabase do incio das experincias que marcam o desenvolvimento emocional precoce. o campoda experimentao intensa e da iluso por excelncia, sustentado por um paradoxo que, aolongo do processo de desenvolvimento da criana, deve ser aceito e respeitado (Winnicott,1951/1978). Trata-se da relao da criana com sua primeira possesso no-eu(objetotransicional), que est ligada tanto ao objeto externo (seio materno), quanto aos objetosinternos (seio magicamente introjetado), porm diferente de ambos. Da seu paradoxo.

    O objeto transicional sinaliza a transio do beb desde um estado de fuso com a me at um

    estado em que ele est em relao com ela como um objeto externo e destacado. Mas, para quea criana evolua desse estado de dependncia absoluta, essencial nos estdios mais primitivos,para uma condio de autonomia possvel, preciso que ela primeiro tenha se certificado deque pode existir algo que no faz parte dela o que Winnicott (1951/1978) chama deprimeira

    possesso no-eu, representada pelo objeto transicional.

    Winnicott (1951/1978) diz que os fenmenos transicionais so permissveis ao beb porque ospais reconhecem intuitivamente a tenso inerente percepo objetiva, e no contestam o bebacerca da subjetividade ou da objetividade desses fenmenos, exatamente neste ponto ondeest situado o objeto transicional. Esse primeiro estdio do desenvolvimento depende, assim,

    da capacidade especial da me de efetuar as adaptaes s necessidades do beb, sustentando ailuso de que aquilo que ele cria realmente existe. Esse paradoxo no deve ser resolvido. Sassim o beb estar capacitado a suportar as situaes precoces de separao, de perda e

    privao, sem o que o desenvolvimento psquico fica comprometido, dando margem para ainstalao de algum ncleo patolgico.

    Assim, oparadoxo aceitopode ter um valor positivo, conduzindo ao desenvolvimento de umaorganizao defensiva do Eu (umself verdadeiro). O adulto psiquicamente saudvel seriaaquele capaz de extrair prazer desta rea pessoal intermediria, sem reivindicar do outro aaceitao da objetividadede seus fenmenos subjetivos. Isso porque ele sabe que essa rea, defato, faz parte de umjogo, ojogo possvel com a realidade (Chabert, 1993). Assim, elefavorece na criana o reconhecimento gradual de suas prprias reas intermedirias deexperincia. Reconhecimento que exige, a princpio, que elas no sejam contestadas quanto a

    pertencer realidade interna ou externa (realidade compartilhada), para que a vida imaginativapossa ser fortalecida o suficiente, antes de comear a ser proporcionado criana o"desilusionamento".

    Desse modo, na presena de condies favorveis, medida que se desenvolvem os interessesculturais, o objeto transicional do beb vai sendo gradualmente desinvestido, embora uma parte

    desta rea intermediria de experimentao seja conservada na vida adulta no plano das artes,da religio, das cincias e de todas as manifestaes criativas do ser humano (Green,1978/1988).

  • 8/10/2019 Winnicott Clinica Psicoses

    13/21

    A Capacidade para Estar S e o Jogo Possvel com a Realidade

    Segundo Winnicott (1958/1983), a capacidade para estar sdepende da criao de um espaode solido na presena da me, porm como seela no estivesse realmente l. Entretanto,

    preciso que ela esteja l de fato, para que a criana possa experienciar o sentimento do ausentar-se. necessrio guardar uma distncia tima da figura materna, o que significa que ela deveestar suficientemente prxima e suficientemente distante. A criao de um espao de solidotorna possvel a elaborao fantasmtica. Portanto, o fracasso na constituio dessa rea desolido, seja por excesso de ausncia ou por presena em demasia do objeto materno,

    produziria uma paralisia na atividade de pensar. Sabemos que a paralisia do pensamento umacaracterstica muito comum dos pacientes psicticos. Essa estagnao tem sua origem nafalncia precoce da organizao de um espao de intimidade psquica, que serviria decontinente que abrigaria os pensamentos e a prpria atividade do pensar.

    A situao do brincar - da qual a situao analtica pode ser vista como uma variante -, solicitao arranjo de um espao de solido, isto , apela para esta possibilidade de uma "meditaoassociativa em presena do outro" - no caso da situao clnica, o psiclogo ou o

    psicoterapeuta (Chabert, 1993). A se constitui um campo de experincia, em que podemosobservar a capacidade do sujeito para situar-se em uma rea transicional, o que permiteapreciar a qualidade da distncia que ele assume em relao ao objeto. Dessa distnciadepende, fundamentalmente, a capacidade do sujeito dejogar com o real, isto , de manej-lode maneira eficiente, atravs de representaes que so construdas de acordo com asnecessidades de seu mundo interno.

    As eventuais falhas no uso desse campo transicional nos permitem estimar as potencialidadesdo indivduo, em termos de saber qual , para ele, ojogo possvel com a realidade, e se esse

    jogo lhe permite alcanar, ou no, o pensamento verdadeiramente criativo.O nvel de eficciado funcionamento psquico dependeria da medida em que o paciente se mostra capaz deutilizar esse espao transicional, no qual possa, simultaneamente, se auto-representar erepresentar o objeto. justamente a perda da possibilidade de pensar secretamente que est nofundamento da psicose, e contra suas conseqncias que o delrio se insurge e tenta lutar.

    O equilbrio psquico depende da possibilidade de se preservar um prazer em pensar quederive, primariamente, do puro prazer de criar esse pensamento. A impossibilidade deconstituio segura de um espao de solidoe de um espao transicional, precursores docontinente psquico que abrigaria os elementos onricos, tem conseqncias decisivas para odestino do sujeito. Devido s falhas na capacidade de simbolizao decorrentes, o sujeito noconsegue constituir um objeto da realidade psquica vinculada ao corpo, nem limitar um espao

    pessoal interno que o contenha. Os sonhos passam a ter apenas uma funo evacuatria (Green,1975/1988). As fantasias so produtos de uma atividade compulsiva, destinada apenas a

    preencher maniacamente um vazio insuportvel, decorrente da falta de linearidade do espao edo tempo (Winnicott, 1971/1975). Os afetos no adquirem uma funo representativa (Green,1973). As aes j no mais tm a capacidade de transformar a realidade, e freqentementeservem apenas para aliviar o aparelho psquico de um quantum intolervel de estmulos eexcitaes, gerado pela impossibilidade de reduzir a quantidade macia de afetos, que no

  • 8/10/2019 Winnicott Clinica Psicoses

    14/21

    puderam ser elaborados pelo pensamento.

    Implicaes para uma Interveno Psicanaltica nas Psicoses

    Discutimos, anteriormente, o desenvolvimento de uma organizao defensiva como repdio invaso do meio. Esse tipo de perturbao vai exigir um tipo de psicoterapia que fornea umaadaptao ativa ao indivduo, e que respeite a noo de processo, isto , que procure atender necessidade de construo gradual das diferentes etapas do desenvolvimento. Os psicticos

    precisam ser alimentados em seu potencial criativo, que se origina do contato com a realidadepsquica e suas necessidades de suprimento.

    Com vistas ao tratamento desses casos, Winnicott (1955/1978; 1963/1983a; 1963/1983b)apregoa uma aplicao mais ampla da tcnica psicanaltica, desde que o analista aceite a

    mudana na teoria da etiologia dos distrbios, que por sua vez implica a necessidade demodificao da tcnica clssica. O tratamento pode ter xito, mas somente se a atuao doanalista no ficar confinada relao transferencial. A tcnica analtica clssica continua sendovlida, mas sua aplicao deve ser limitada aos casos para os quais ela foi concebida, "de modoque a interpretao possa ser feita, se o paciente est preparado para interpretaes dessetipo" (Winnicott, 1963/1983b, p. 210). Em contrapartida, o psicanalista que deseja trabalhar nocampo das psicoses deve saber que sua tcnica teraputica tende a ser incua nesses casos, amenos que ele aceite sair de seu papel em momentos apropriados. O analista deveria efetuarum tal manejo da situao analtica de modo a procurar suprir aquelas falhas do ambiente quecomprometeram o desenvolvimento psquico, fornecendo a proviso necessria para a

    evoluo doselfe, conseqentemente, diminuindo a necessidade do paciente recorrer sdefesas primitivas.

    O significado do conceito de regresso na metapsicologia mudou desde Freud (Winnicott,1959-64/1983). Ele j no implica um retorno a fases mais precoces da vida pulsional e adeterminados pontos de fixao. Essa viso corresponde a uma nfase excessiva que era dadaaos elementos pulsionais da criana, ignorando-se os cuidados ambientais. A partir daobservao de crianas em situao natural, isto , de uma criana concreta, deve-se incluir aconsiderao do ambiente e da dependncia. Winnicott prope restringir o termo regresso a

    uma aplicao clnica, em termos de regresso dependncia. H uma tendncia aorestabelecimento da dependncia, e por isso a natureza e o comportamento do meio devem sernecessariamente examinados. Mantm-se, por outro lado, a idia de regresso ao processo

    primrio.

    A tendncia regresso, nesse sentido, deve ser vista como a expresso de parte da capacidadedo paciente de se curar, medida que funciona como uma comunicao da parte sadia doindivduo, que proporciona ao analista a indicao de como deve se conduzir no processo(conduzir-se no sentido de criar um ambiente propcio criaode novos significados, maisdo que interpretar, isto , decodificar sentidos que j estariam presentes ali). Cremos que

    nesse sentido que Winnicott (1959 [1964] /1983), ressalta que "a regresso representa aesperana do indivduo psictico de que certos aspectos do ambiente que falharamoriginalmente possam ser revividos, com o ambiente dessa vez tendo xito ao invs de falhar

  • 8/10/2019 Winnicott Clinica Psicoses

    15/21

    na sua funo de favorecer a tendncia herdada do indivduo de se desenvolver eamadurecer." (p. 117)

    Assim, Winnicott (1959 [1964]/1983) deduz que no se deve partir do modelo da neurose paracompreender a psicose, como uma espcie de negativo da neurose (at porque Freud,1905/1969, j evidenciara que o negativo da neurose a perverso). A psicose no uma

    espcie de neurose s avessas, ou uma neurose que ficou a meio caminho e no completoutodos os seus estgios. A neurose pressupe que o paciente, durante a infncia, atingiu umdeterminado estgio de desenvolvimento emocional, em que as vrias etapas do complexoedpico foram superadas e organizadas sob a primazia da genitalidade, de modo que certasdefesas contra a ansiedade de castrao puderam ser estabelecidas. A personalidade doindivduo est intacta, o que, em termos evolutivos, significa que ela pde ser construda emantida, conservando sua capacidade para as relaes objetais.

    Quando, pelo contrrio, predomina a ansiedade de aniquilamento, ento tendemos a considerar

    que o quadro se inclina mais para uma psicose. A questo parece ser a de saber se a ameaa em termos de parte do objeto, ou do objeto total. Em todo caso, h pouca semelhana com aneurose, uma vez que o indivduo no atingiu ainda o complexo de dipo, de modo que aansiedade de castrao ainda no representa uma ameaa maior para a personalidade. Masraramente h um movimento irreversvel no sentido contrrio ao crescimento pessoal, ou seja,rumo fragmentao. Se o trabalho com a neurose leva at o inconsciente reprimido, a psicoseleva at os estdios mais primitivos do desenvolvimento e da organizao da mente, quandoainda no se fixou uma diferena ntida entre oself e o no-self. Ou seja, conduz relao dedependncia materna, durante a fase de identificao primria, prvia ao estabelecimento dosmecanismos de projeo e de introjeo.

    A psicose est ligada privao emocional em um estdio anterior quele em que o beb possaperceber essa privao. Alm da falha ambiental em si, a proviso necessria estcompletamente fora da percepo e da compreenso do beb. Nesse caso, no chegou a existiruma proviso sentida como suficientemente boa e que, em determinado momento, cessou. Emvez de uma interrupo no sentimento de continuidade da existncia, que fazia parte doambiente suficientemente bom, o beb surpreendido por uma interrupo de seu existir queno pde ser atribuda a ningum e a nada, e que nem sequer experimentada como tal, j queele se encontrava em um estgio evolutivo que ainda no o capacitava a se diferenciarminimamente do ambiente. Assim, o ponto de origem da privao mais precoce e totalmenteindeterminado, ocasionando no propriamente umaperda, total ou parcial, mas umaincapacidade absoluta de se relacionar com objetos (Loparic, 1996).

    Essa uma viso completamente nova e revolucionria, e no uma mera rearticulao deconceitos j conhecidos, que aparecem reciclados sob uma nova roupagem. A nfase postano ajustamento defeituoso do ambiente, e s secundariamente na reao da criana, o quecontrasta vivamente com a tradio kleiniana, que coloca a fantasia inconsciente como eixo daorganizao psquica, minimizando o papel exercido pelo objeto externo no processo deconstituio dos pilares da subjetividade.

    Por outro lado, Winnicott (1959 [1964]/1983) lembra que os mecanismos primitivos que atuamno psictico no so privilgio das psicoses. Portanto, o que tipifica a psicose, na viso

  • 8/10/2019 Winnicott Clinica Psicoses

    16/21

    winnicottiana, no so os mecanismos psquicos, nem o tipo de ansiedade em jogo, mas asdefesasprimitivas, que no teriam de ser organizadas nos estgios subseqentes dodesenvolvimento caso houvesse, nas etapas mais precoces de dependncia quase absoluta, a

    proviso suficientemente boa. As falhas do ambiente favorvel levam a esse comprometimentoda evoluo da personalidade e doself do indivduo, cujo "resultado chamadoesquizofrenia" (Winnicott (1959-64/1983b, p. 124).

    Loparic (1996) sublinha que Winnicott (1951/1978; 1955/1978; 1963/1983c; 1971/1973c;entre outros), trabalha a questo da falta, da ausncia, da expectativa no correspondida, doencontro frustrado, do desejo no contemplado, o que fica evidente quando ele diferencia o no-thing (ausncia de coisa) do nothing (coisa alguma, ou sua inexistncia), que caracteriza aorganizao psictica.

    Winnicott um analista do vazio, para usarmos uma expresso de Green (1975/1988). Eleaponta para a valorizao da dimenso donegativo, isto , a necessidade, em primeiro lugar, da

    anlise daquilo que no pde ser construdo ao longo do processo de desenvolvimento mental,evidenciando-o nas organizaes narcsicas, e, em seguida, na organizao psictica.

    A anlise nesses casos tem de se dedicar tarefa de criao de significados mais do que dedesvendamento e interpretao de sentidos latentes e, portanto, existentes embora cifrados ,visando levar o indivduo simbolizao, que ir permitir que o psiquismo supere suas fraturase entre em conexo com o corpo e suas moes pulsionais. medida que estimulamos omundo interno, facultamos ao paciente a possibilidade de desenhar os contornos de suasubjetividade, atravs de um processo de amadurecimento progressivo. A partir da, a

    psicanlise pode se defrontar com alguns fenmenos mais arcaicos, como as angstias

    impensadas (Winnicott), que nos permitem meditar sobre a solido essencial do homemcontemporneo, com sua natureza essencialmente trgica (Loparic, 1996).

    A psicanlise tradicional no comporta o desafio das psicoses e toda uma ampla gama depatologias que, paradoxalmente, constituem parte significativa do universo da demandacontempornea de tratamento (Alvarez, 1994). Nesse sentido, o pensamento winnicottiano trazum alento para aqueles que trabalham com situaes limtrofes, com os chamados casosborderlines, os transtornos de carter e as psicoses em suas diferentes configuraes.

  • 8/10/2019 Winnicott Clinica Psicoses

    17/21

    1Texto apresentado no Grupo de Trabalho "Psicanlise Contempornea: Convergncias eDivergncias". VII Simpsio de Pesquisa e Intercmbio Cientfico da ANPEPP, Gramado,

    maio de 1998. Artigo baseado na Tese de Doutorado (Santos, 1996). Projeto de pesquisa

    financiado pela CAPES/PICD.

    2 Endereo para correspondncia: Av. Bandeirantes, 3900, 14040-901, Ribeiro Preto, SP.Fone: (16) 602-3645 Fax: (16) 602 3632. E-mail:[email protected]

    3Essa capacidade para o crescimento no , contudo, biolgica, e tampouco um mecanismomental, mas uma funo a ser desenvolvida. No se baseia em uma herana filogentica,

    constituda ao longo da histria da espcie humana. Isso porque "o homem winnicottiano no

    faz parte da natureza fsica, ele uma pessoa, no uma coisa, ele no efeito de um processonatural, mas de um acontecer resultante da temporalizao da natureza humana, concebida sem

    qualquer recurso ao momento biolgico do homem" (Loparic, 1996, p. 13). Portanto, no h na

    teoria winnicottiana qualquer paralelismo com asprotofantasias de Melanie Klein, nem com aspreconcepes inatas de Bion.

    4"...na psicose h defesasmuito primitivas que so trazidas ao e organizadas,por causa deanormalidades ambientais" (Winnicott, 1959 [1964]/1983).

    5Por vezes, o fator ambiental no um trauma especfico e isolado, mas um padro deinfluncias distorcidas, que se mantm por um perodo de tempo suficientemente prolongado,

    forando o estabelecimento de defesas primitivas para a proteo do self, antes que a realidadepsquica pudesse ser localizada em seu interior. Isto o oposto do que Winnicott denomina de

  • 8/10/2019 Winnicott Clinica Psicoses

    18/21

    ambiente favorvel, isto , aquele que permite a maturao da criana.

    6A noo de externalidade uma construo posterior do beb, quando ele aprende a usar oobjeto. Por esse prisma, o beb de incio no internaliza, nem projeta o objeto; no o ama, nem

    o odeia, nem lhe indiferente, mas sobretudo depende do objeto (Loparic, 1996). Nessa etapada vida, o amor uma mera questo de dependncia fsica; nesse sentido, a me inicialmente

    no seria um objeto libidinal, mas uma me-ambiente da qual ele necessita de maneira absolutapara no despencar no vazio. Se a me falhar, ele entra em colapso, porque sensvel a algoemalgum lugar, mas esse lugar no nem dentro, nem fora. No um objeto interno, etampouco um objeto externo.

    7Alm disso, Winnicott (1962) reputa como "contribuies duvidosas" de Melanie Klein amanuteno do uso da teoria da pulso de vida e da pulso de morte, formulada por Freud, bem

    como sua tentativa de considerar a destrutividade do beb como um aspecto hereditrio ou

    como produto da inveja (Loparic, 1996). Em sua opinio, o conceito de pulso de morte no

    necessrio, j que a agressividade vista mais como uma evidncia de vida, medida queexpressa a tentativa de separao e individuao em relao ao objeto (Winnicott, 1959

    [1964]/1983).

    8Talvez o dramaturgo irlands Bernard Shaw (1856-1950) tivesse essa idia em mente aoescrever que: "O homem razovel se adapta ao mundo. Aquele que no razovel persiste emquerer adaptar o mundo a si prprio. Por isso, qualquer progresso depende do homem norazovel."

    Referncias

    Alvarez, A. (1994). Companhia viva: Psicoterapia psicanaltica com crianas autsticas,borderline, carentes e maltratadas. Porto Alegre: Artes Mdicas.

    Chabert, C. (1987).La psychopathologie lpreuve du Rorschach. Paris: Dunod.

    Freud, S. (1969) Trs ensaios sobre a teoria da sexualidade. Em J. Salomo (Org.), Edio

    Standart das Obras Completas de Sigmund Freud ESB (Vol. VII, pp. 121-252). Rio dejaneiro: Imago. (Original publicado em 1905)

    Freud, S. (1969). Formulaes sobre os dois princpios do funcionamento mental. Em EdioStandard das Obras Completas de Sigmund Freud (Vol. XII, pp. 271-286). Rio de Janeiro:

    Imago. (Original publicado em 1911)

    Freud, S. (1969). Alm do princpio de prazer. Em Edio Standard das Obras Completas deSigmund

    Freud (Vol. XVIII, pp. 11-85). Rio de Janeiro: Imago. (Original publicado em 1920)

    Freud, S. (1969). O ego e o id. Em Edio Standard das Obras Completas de Sigmund Freud

  • 8/10/2019 Winnicott Clinica Psicoses

    19/21

    (Vol.XIX, pp. 11-83). Rio de Janeiro: Imago. (Original publicado em 1923).

    Green, A. (1973).Le discours vivant: La conception psychanalytique de laffect. Paris: PressesUniversit de France.

    Green, A. (1988). O analista, a simbolizao e a ausncia no contexto analtico. EmSobre a

    loucura pessoal (pp. 36-65). Rio de Janeiro: Imago. (Original publicado em 1975)

    Green, A. (1988). O desligamento. Em Sobre a loucura pessoal(pp.280-299). Rio de Janeiro:Imago.(Original publicado em 1978)

    Green, A. (1994). O mito: Um objeto transicional coletivo. Em O desligamento: Psicanlise,antropologia e literatura (pp. 117-141). Rio de Janeiro: Imago.

    Klein, M. (1974).Inveja e gratido: Um estudo das fontes inconscientes.(Jos O. A. Abreu,

    Trad.), Rio de Janeiro: Imago. (Original publicado em 1957)

    Klein, M. (1981). A importncia da formao de smbolos no desenvolvimento do ego. Em

    Contribuies psicanlise (2 ed. pp. 295-313). So Paulo: Mestre Jou (Original publicadoem 1930)

    Klein, M. (1981). Uma contribuio teoria da inibio intelectual. Em Contribuies psicanlise (2 ed. pp. 319-333). So Paulo: Mestre Jou, 1981 (Original publicado em 1931)

    Klein, M. (1982). Notas sobre alguns mecanismos esquizides. EmOs progressos da

    psicanlise (pp.313-343). Rio de Janeiro: Zahar. (Original publicado em 1946)

    Laplanche, J. & Pontalis, J.-B. (1967/1983). Vocabulrio da psicanlise. So Paulo: MartinsFontes.

    Loparic, Z. (1996).dipo ps-Freud. Trabalho apresentado no I Encontro do Grupo deEstudos de Psicanlise de Ribeiro Preto, Ribeiro Preto, SP.

    Mannoni, O. (1970).Freud: El descubrimiento del inconsciente. Buenos Aires: Galerna.

    Pereda, M. C. (1997). Existem equivalentes ao falso self em Freud e Klein? EmJ. Outeiral &S. Abadi (Orgs.),Donald Winnicott na Amrica Latina: Teoria e clnica psicanaltica (pp. 79-89).Rio de Janeiro: Revinter.

    Santos, M. A. (1996).A representao de si e do outro na esquizofrenia: Um estudo atravsdo exame de Rorschach. Tese de doutorado no publicada. Curso de Ps-Graduao emPsicologia Clnica, Instituto de Psicologia, Universidade de So Paulo, So Paulo.

    Winnicott, D. W. (1975a). O uso de um objeto e relacionamento atravs de identificaes. Em:O brincar e a realidade. (pp. 121-131). Rio de Janeiro: Imago. (Original publicado em 1969)>

  • 8/10/2019 Winnicott Clinica Psicoses

    20/21

    Winnicott, D. W. (1975b). A criatividade e suas origens. Em O brincar e a realidade. (pp. 95-120). Rio de Janeiro: Imago. (Original publicado em 1971)

    Winnicott, D. W. (1975c). O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago. (Original publicadoem 1971)

    Winnicott, D. W. (1978). Desenvolvimento emocional primitivo. Em D. W. Winnicott (Org.),Textos selecionados: Da pediatria psicanlise (2 ed. pp. 269-285). Rio de Janeiro:

    Francisco Alves. (Original publicado em 1945)

    Winnicott, D. W. (1978). Aspectos clnicos e metapsicolgicos da regresso dentro dosettingpsicana-ltico. Em D. W. Winnicott (Org.),Textos selecionados: Da pediatria psicanlise(pp. 459-481). Rio de Janeiro: Francisco Alves. (Original publicado em 1955)

    Winnicott, D. W. (1978). Objetos transicionais e fenmenos transicionais. Em D. W. Winnicott

    (Org.),Textos selecionados: Da pediatria psicanlise (2 ed.pp. 389-408). Rio de Janeiro:Francisco Alves(Original publiscado em 1951).

    Winnicott, D. W. (1978). Psicose e cuidados maternos. Em D. W. Winnicott (Org.), Textosselecionados: Da pediatria psicanlise (2 ed. pp. 375-387). Rio de Janeiro: Francisco Alves(Original publicado em 1952).

    Winnicott, D. W. (1983). A capacidade para estar s. Em D.W. Winnicott (Org.), O ambiente eos processos de maturao: Estudos sobre a teoria do desenvolvimento emocional (pp. 31-37).

    Porto Alegre: Artes Mdicas (Original publicado em 1958).

    Winnicott, D. W. (1983). Classificao: Existe uma contribuio psicanaltica classificaopsiquitrica? Em D. W. Winnicott (Org.),O ambiente e os processos de maturao: Estudossobre a teoria do desenvolvimento emocional (pp. 114-127). Porto Alegre: Artes Mdicas(Original publicado em 1959 e 1964)

    Winnicott, D. W. (1983). Distoro do ego em termos de falso e verdadeiroself. Em D. W.Winnicott (Org.),O ambiente e os processos de maturao: Estudos sobre a teoria dodesenvolvimento emocional (pp. 128-139). Porto Alegre: Artes Mdicas (Original publicado

    em 1960)

    Winnicott, D. W. (1983). Enfoque pessoal da contribuio kleiniana. Em D. W. Winnicott(Org.),O ambiente e os processos de maturao: Estudos sobre a teoria do desenvolvimentoemocional (pp. 156-162). Porto Alegre: Artes Mdicas (Original publicado em 1962)

    Winnicott, D. W. (1983). Os doentes mentais na prtica clnica. EmD. W. Winnicott (Org.),Oambiente e os processos de maturao: Estudos sobre a teoria do desenvolvimento emocional(pp. 196-206). Porto Alegre: Artes Mdicas (Original publicado em 1963a)

    Winnicott, D. W. (1983). Distrbios psiquitricos e processos de maturao infantil. Em D. W.Winni-cott (Org.),O ambiente e os processos de maturao: Estudos sobre a teoria dodesenvolvimento emocional (pp. 207-217). Porto Alegre: Artes Mdicas (Original publicado

  • 8/10/2019 Winnicott Clinica Psicoses

    21/21

    em 1963b)

    Winnicott, D. W. (1983). Dependncia no cuidado do lactente, no cuidado da criana e nasituao psicanaltica. Em D. W. Winnicott (Org.), O ambiente e os processos de maturao:

    Estudos sobre a teoria do desenvolvimento emocional (pp. 225-233). Porto Alegre: ArtesMdicas (Original publicado em 1963c).

    Winnicott, D. W. (1990). O gesto espontneo.So Paulo: Martins Fontes.(Original publicadoem 1987)

    Zimerman, D. E. (1999). Fundamentos psicanalticos: Teoria, tcnica e clnica Umaabordagem didtica. Porto Alegre: Artmed.

    Recebido em 15.01.99Revisado em 12.06.99

    Aceito em 15.06.99

    Sobre o autor:

    Manoel Antnio dos Santos psiclogo, Doutor em Psicologia Clnica pelo Instituto de

    Psicologia da USP e Professor do Curso de Ps-Graduao em Psicologia do Departamento de

    Psicologia e Educao da Faculdade de Filosofia, Cincias e Letras de Ribeiro Preto da

    Universidade de So Paulo.

    Coordena o Ncleo de Ensino e Psicologia Clnica (NEPP).