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 X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                            p.1         A experiência de musicar: reflexões sobre a prática composicional em sala de aula     Resumo A composição coletiva como recurso pedagógico para a educação musical tem sido debatida por vários educadores. Compreendese que a partir da composição dos alunos, da execução dessa composição e da apreciação do resultado da performance,  envolvimento dos educandos em todos os processos, de forma ativa e crítica. Neste texto, considerando esse debate, apresentase a análise sobre uma atividade de composição coletiva, associada ao ensino da flauta doce, com uma turma de  ano do ensino fundamental durante o ano de 2012. Concluise que esse recurso pedagógico pode propiciar o acesso às diversas dimensões da música, contribuindo para a perspectiva de uma aula que considere o universo do educando, sua bagagem sociocultural e sua vivência musical, estimulando a postura crítica e consciente nos processos de aprendizagem.  Palavraschave: Composição coletiva. Educação musical. Ensino fundamental.   Jeasir Silva do Rego [email protected]            

X Anped Sulxanpedsul.faed.udesc.br/arq_pdf/1938-0.pdf · composicional em sala de aula ... analisou métodos de ensino nacionais e ... Alguns incluíam atividades de improvisação

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X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.1 

 

 

 

 

    A experiência de musicar: reflexões sobre a prática composicional em sala de aula    

 

Resumo A  composição  coletiva  como  recurso  pedagógico  para  a educação musical tem sido debatida por vários educadores. Compreende‐se que a partir da composição dos alunos, da execução dessa  composição e da  apreciação do  resultado da performance, há envolvimento dos educandos em todos os  processos,  de  forma  ativa  e  crítica.  Neste  texto, considerando  esse  debate,  apresenta‐se  a  análise  sobre uma atividade de composição coletiva, associada ao ensino da  flauta  doce,  com  uma  turma  de  6º  ano  do  ensino fundamental  durante  o  ano  de  2012.  Conclui‐se  que  esse recurso  pedagógico  pode  propiciar  o  acesso  às  diversas dimensões  da música,  contribuindo  para  a  perspectiva  de uma  aula  que  considere  o  universo  do  educando,  sua bagagem sociocultural e sua vivência musical, estimulando a  postura  crítica  e  consciente  nos  processos  de aprendizagem.  Palavras‐chave: Composição coletiva. Educação musical. Ensino fundamental.  

 Jeasir Silva do Rego 

[email protected]      

 

 

 

 

 

 

 A experiência de musicar: reflexões sobre a prática composicional em sala de aula  Jeasir Silva do Rego 

 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.1 

 

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A composição coletiva como recurso pedagógico para a educação musical 

A  composição  musical,  como  a  composição  em  todas  as  artes,  está 

profundamente ligada ao processo criativo. Na perspectiva pedagógica o ato de inventar 

(compor)  uma  música,  orientado  por  determinados  regulamentos,  tem  se  mostrado 

eficiente  para  a  construção  desse  conhecimento  quando  compreendida  e  valorizada 

como  um  processo  onde  a  capacidade  projetiva,  construtiva  e  sociabilizadora  do 

indivíduo se apresentem como expressão e comunicação discursiva (GAINZA, 1988).  

França e Swanwick (2002) argumentam que quando se organizam ideias musicais 

com a intenção de expressar um discurso, nasce a composição. Nesse sentido, conforme 

a autora, a inserção da composição nos processos de ensino e aprendizagem é legítima e 

relevante,  desde  que  a  composição  seja  compreendida  como  processo  e  produto  na 

educação musical. Também Frega (2009) coloca que “a abordagem do processo criativo 

estimulado por  intervenções didáticas adequadas e a contemplação do produto  facilita 

que o aluno tome consciência de sua ação e compreenda que pode crescer nela mesma, 

em técnica e em habilidade” (p. 21).  

Beineke (2008) discute as abordagens em relação ao foco de algumas concepções 

educacionais  sobre  a  importância  da  composição  no  ensino/aprendizagem musical:  1) 

prover  experiências  criativas  a  todos  os  estudantes;  2)  introduzi‐los  à  música 

contemporânea com sua estética,  técnicas e materiais; 3) desenvolver o pensamento e 

compreensão  musical;  e  4)  formar  compositores.  Para  a  autora,  nem  todas  essas 

abordagens  são adaptáveis ao modelo de educação musical no ensino  fundamental da 

escola regular no Brasil. Formar compositores desde a escola primária traz um forte apelo 

ao ensino das técnicas composicionais em detrimento da expressão individual, enquanto 

que “a segunda e a terceira abordagens focalizam a compreensão e pensamento musical 

que podem ser desenvolvidos quando os estudantes manipulam materiais musicais e se 

engajam em processos de fazer música” (p. 20).  

Gainza  (On  line),  com  uma  concepção  ampla  do  sentido  de  composição,  com 

objetivo e aplicação na educação musical, traz à tona a  improvisação. Este conceito não 

está vinculado aos comumente usados no  jazz, música  instrumental, ou qualquer outro 

gênero, mas  na  busca  em  responder  às  necessidades  colocadas  pelos  educandos  no 

A experiência de musicar: reflexões sobre a prática composicional em sala de aula  Jeasir Silva do Rego 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.2 

 

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processo de  aprendizagem. Conforme  a  autora: “[...] O manejo da  improvisação  como 

recurso  didático  não  é mais  fácil  nem mais  difícil  de  resolver  do  que  qualquer  outro 

aspecto da atividade educativo‐musical, embora  requeira, naturalmente, sensibilidade e 

tempo para desenvolver‐se” (Idem). Por meio desta atividade dirigida em sala de aula é 

possível lograr o maior desenvolvimento e controle de aspectos motores, da conservação 

da  informação,  concentração,  criatividade,  sensibilidade  frente  ao  objeto  som,  pois 

quando  a  criança  experimenta  manipular  a  realidade  sonora  que  a  rodeia  desfruta 

conseqüentemente da compreensão deste universo, e de forma cumulativa, quanto mais 

improvisação fizer, uma crescente compreensão também se concretizará.   

Para Swanwick (2003) o aprendizado musical só é possível se há, na manipulação 

dos materiais sonoros,  intencionalidade,  imprimindo caráter expressivo, atribuindo valor 

e dando  forma  ao material,  fator preponderante para  a  existência do discurso. Assim, 

Swanwick  (1983)  apresenta  um modelo  para  a  compreensão  da  experiência musical, 

aprendizagem das modalidades e desenvolvimento dos processos psicológicos, também 

conhecido  como parâmetros de Composição, Apreciação  e Performance  – C(L)A(S)P  – 

que permitem e facilitam o acesso dos alunos à experiência musical. A sigla faz referência 

a  três  atividades  principais  da música,  a  letra  “C”,  de  Composition,  propõe  ênfase  à 

capacidade criativa do educando, a  letra “A”, de Audition se refere a ao cuidado com a 

audição, prezando pelo caráter crítico desde sentido,  letra “P” de Performance, propõe a 

performance  responsável  e  comprometida.  No  que  se  refere  às  iniciais  “L”  e  “S”, 

respectivamente, Literatura e Skill (esta compreendida como habilidades, ou seja, técnica 

instrumental), o autor as considera material de suporte às outras categorias. 

O  autor  compreende que  esse modelo de  ensino  e  aprendizagem de música,  a 

partir  da  composição  dos  alunos,  da  execução  dessa  composição  e  da  apreciação  do 

resultado  da  performance,  propicia  o  envolvimento  dos  educandos  em  todos  os 

processos,  de  forma  ativa  e  crítica,  quer  seja  coletiva  ou  individualmente.  Isso  resulta 

numa  visão mais  aprofundada  dos  processos  intrínsecos da música,  de  seus  conceitos 

fundamentais,  não  importando  se  o material  sonoro  é  contemporâneo  ou  tradicional, 

mas valorizando a apropriação dos conteúdos musicais. 

A experiência de musicar: reflexões sobre a prática composicional em sala de aula  Jeasir Silva do Rego 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.3 

 

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Compreende‐se, assim, que se cada elemento conceitual e fundante da música é 

apropriado pelo aluno, e se este manipula seu material sonoro original artesanalmente, 

com autonomia e responsabilidade, seja em nível avançado ou iniciante, segundo França 

e  Swanwick  (2002),  sua  inerente  inteligência  intuitiva  o  fará  detentor  de  um  novo 

conhecimento. A atividade criativa, antes  intuitiva, passa a ser conhecimento de  forma, 

de  expressão  e  valor,  individual  na  sua  percepção  e  apreciação,  e  coletiva  em  sua 

composição, mediada pelo educador, cujo papel é não apenas  transmitir seu  repertório 

intelectual, mas fornecer suporte para uma reflexão, uma análise direcionada ao objeto 

composto: a música do aluno. 

Neste sentido, o uso pedagógico da composição, entendendo‐a como valorização 

e sistematização dos processos criativos do educando para a ampliação da compreensão 

das diversas dimensões da  arte musical  e  seus  significados,  se  justifica  e  se  apresenta 

como  alternativa no  trabalho  coletivo em  sala de  aula,  considerando uma participação 

crítica, reflexiva e ativa do educando, bem como do educador, em todas as  fases desta 

prática. 

Associada  à  prática  da  composição  para  o  ensino  de música,  destaca‐se  neste 

trabalho,  o  uso  da  flauta  doce  que,  de  fato,  tem  sido  historicamente  considerada  um 

instrumento eficiente para a iniciação e educação musical. Beineke (2003) afirma que este 

instrumento propicia a  integração discente e a prática de conjunto através da formação 

de  conjuntos  instrumentais,  além  do  “[...]  acesso  a  diferentes  culturas,  períodos 

históricos  e  gêneros  musicais,  pois  é  um  dos  instrumentos  musicais  mais  antigos  e 

populares da humanidade” (p. 90).  

Em  uma  pesquisa  realizada  por  Beineke  (1997),  em  que  contempla  duas  áreas 

distintas, mas  integradas, a da educação musical escolar e a do ensino  instrumental, é 

levantada a discussão do ensino do  instrumento, mais especificamente o da flauta doce 

para  o  ensino  básico  relacionando‐o  com  alguns  fundamentos  básicos  da  teoria  na 

construção  do  conhecimento  musical  com  o  objetivo  de  ampliar  e  integrar  seus 

“conceitos  e  princípios metodológicos,  apontando  algumas  perspectivas  e  alternativas 

para as aulas” (p 25). 

A experiência de musicar: reflexões sobre a prática composicional em sala de aula  Jeasir Silva do Rego 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.4 

 

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Nessa  pesquisa,  Beineke  (1997)  analisou  métodos  de  ensino  nacionais  e 

estrangeiros disponíveis até aquela data. Alguns métodos enfatizavam o domínio técnico 

antes  do  contato  com  o  repertório1,  assumindo  que  “primeiramente,  o  aluno  deve 

dominar  toda a escala de dó maior, para então  iniciar o estudo do  repertório”  (p. 26). 

Outros apresentavam propostas de práticas conjuntas com  instrumentação variada, seja 

de  percussão  ou  de  alturas  definidas2.  Alguns  incluíam  atividades  de  improvisação  e 

composição  musical3.  O  método  de  Küntzel‐Hansen  (1985,  apud  BEINEKE,  1997) 

apresentava uma proposta  incluindo experimentações com a flauta, em busca de novos 

materiais  sonoros.  Já  o  trabalho  de  Akoschky  e  Videla  (1967,  apud  BEINEKE,  1997) 

revelava uma vinculação entre o aprendizado  instrumental com conhecimentos musicais 

mais amplos, abordando as áreas das  técnicas de execução da  flauta doce, do som, do 

canto, ritmo, melodia, harmonia, forma, gênero, estilo e caráter. Ainda segundo a autora, 

apenas esse último método  fez  referência à apreciação utilizando‐se de  jogos auditivos 

para reconhecimento de melodias e transposição de melodias. 

Após  sua  análise,  Beineke  (1997)  observou  duas  tendências  de  abordagem  do 

repertório  para  flauta  doce:  “centrado  na  execução  de  uma  coletânea  de  músicas 

organizadas seqüencialmente de acordo com as dificuldades técnicas propostas” (p. 25), 

enfatizando  o  domínio  progressivo  das  técnicas  de  execução  instrumental  e  leitura 

musical,  e  outra  cujo  foco  estava  em  “exercícios  técnicos  isolados,  sendo  o  domínio 

destes  considerado  um  pré‐requisito  para  a  execução  do  repertório  instrumental 

proposto” (p. 25), focando a aprendizagem de conteúdos musicais amplos. Sua conclusão 

é de que ambas as tendências são  insuficientes para uma abordagem do ensino coletivo 

no  contexto  da  escola  básica:  “No  ensino  instrumental  e,  mais  especificamente,  no 

ensino de flauta doce, ainda são freqüentes as abordagens que focalizam mais aspectos 

técnicos do que a compreensão, o que pode acarretar o desinteresse do aluno, além de 

aprendizagens pouco significativas” (BEINEKE, 2003, p. 90). 

Cuervo  (2009)  parte  do  pressuposto  de  que  a  descentralização  da  execução 

musical  com  enfoque  tecnicista  é  outro  caminho  para  a  construção  do  conhecimento 

                                                            1Mönkemeyer (1976) e Mascarenhas (1978). 2Santa Rosa (1993), Tirler (1970), Frank (1980), Heilbut (19??), Rocha (1986) e Akoschky e Videla (1967). 3Akoschky E Videla (1967), Heilbut (19??), Küntzel‐Hansen (1985) e Rocha (1986). 

A experiência de musicar: reflexões sobre a prática composicional em sala de aula  Jeasir Silva do Rego 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.5 

 

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musical, através de atividades exploratórias, focadas na produção de crianças e adultos, 

considerando tópicos como notação, criação e improvisação. Para a autora as atividades 

com  flauta doce,  focando não só a performance do aluno, mas  também o processo de 

desenvolvimento  da  capacidade  de  criação,  seja  improvisada  ou  sistematizada 

(composição), servem também como subsídio para análise do desempenho do educando 

e  revelam  como  eles  (os  alunos)  se  apropriam  dos  conhecimentos  construídos  na 

experiência musical. Refutando  a  idéia equivocada que  se  construiu  sobre  flauta doce, 

como um  instrumento  rudimentar que se destina aos aprendizes na  fase de  iniciação à 

alfabetização musical, a autora afirma que “a Educação Musical no Brasil poderia abordar, 

de  forma mais  ampla  e  engajada,  a  potencialidade  da  flauta  doce  como  instrumento 

musical, conectando seus valores didático, artístico e estético” (p. 23).  A autora também 

cita  a  coexistência  da  dupla  função  do  instrumento  afirmando  que  sua  utilização  na 

educação musical deve ser um “veículo de ampliação da presença da música na vida do 

estudante brasileiro” (p. 26). 

 

A experiência da composição coletiva em sala de aula 

A  concepção  teórica  que  mais  se  aproximou  da  experiência  que  agora  se 

apresenta foi a de Swanwick (2003) com sua ênfase sobre a prática da composição para o 

desenvolvimento da  autonomia,  compreendendo que  a  atividade de  composição pode 

oferecer  amplas  possibilidades  para  a  tomada  de  decisões  musicais  dos  alunos, 

considerando seus discursos em todas as dimensões. 

Beineke  (1997),  considerando  a  perspectiva  de  Swanwick,  afirma  que  a 

experiência musical  em  sala  de  aula  deve  contemplar  várias  dimensões,  sob  diversos 

ângulos,  para  que  seja  uma  vivência  enriquecedora  e  edificante.  A  autora  propõe  a 

exploração  de  pequenos  motivos  musicais  de  forma  lúdica,  abordando  os  vários 

conceitos  como  textura,  ritmo,  imitação,  variação,  repetição,  discutindo  e  analisando 

junto com os alunos. Nessas atividades esses motivos podem se transformar em padrões 

estruturais de pequenas composições ou para a improvisação. Este foi o ponto de partida 

utilizado neste estudo. 

A experiência de musicar: reflexões sobre a prática composicional em sala de aula  Jeasir Silva do Rego 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.6 

 

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O começo 

Esta experiência se deu com uma  turma do 6º ano composta por  13 alunos com 

idade entre 11 e 13 anos, durante o primeiro semestre de 2012. Havia três semanas que as 

aulas  tinham  iniciado  tendo  a  flauta  doce  como  foco  de  aprendizagem.  Os  alunos 

conheciam três notas na flauta doce: Sol, La e Si. Aproveitando esta atividade  já  iniciada 

pelo professor de música efetivo da escola, uma pequena peça  feita com as  três notas 

aprendidas,  foi possível  abordar  as questões básicas da  forma  em música, de maneira 

geral,  introdução, desenvolvimento e  finalização. No decorrer do  semestre, a partir da 

audição de peças para a flauta doce do repertório popular, da música da renascença e de 

domínio público, assim como de suas próprias experimentações composicionais, outros 

exemplos de música foram apresentados, a fim de se perceber o conceito de forma. 

As atividades de audição, sob a perspectiva de uma escuta atenciosa e detalhada, 

percebendo aas diversas nuances de cada som da música, serviram como  introdução ao 

tema da  composição  a  ser desenvolvido. Assim, na primeira  audição  foi  apresentada  a 

música “Planets” de Gustav Holst, obra orquestral de grande complexidade e “O rabo do 

tatu”  de  Beineke.  Considerando  a  música  “Planets”,  foi  perguntado  aos  alunos  se 

conheciam  ou  lembravam‐se  da música  ou  ainda  o  que  lembravam  quando  ouviram  a 

música.  Alguns  disseram  que  lembrava  “Star Wars  (o  filme),  guerra,  Planeta Marte”, 

outros disseram que era uma música “nervosa”, agitada. As mesmas  indagações  foram 

feitas em  relação à música “O  rabo do  tatu”, acrescentando as perguntas “Quem  fez? 

Como fez? O que será que se pensava ao fazer esta música?” Algumas respostas foram: 

“Foi  feita para  iniciantes”, “Foi  feita bem simples”, percebendo claramente a alusão ao 

propósito didático. Ainda perguntou‐se: “O compositor usou o quê para fazer a música?” 

Para o que responderam “Usou notas”, “Usou pausa”, “Pensou no tatu”, “Ele repetiu as 

mesmas notas”. Esta última resposta, por exemplo, evidenciou que o aluno percebeu a 

importância do  conceito de  repetição que propicia  a  fixação da  ideia musical. A partir 

desta  atividade  de  audição  foi  possível  conversar  sobre  o  que  se  estava  ouvindo,  e 

descobrir a forma musical, ou seja, que a música apresentava um começo, um meio e um 

fim. 

A experiência de musicar: reflexões sobre a prática composicional em sala de aula  Jeasir Silva do Rego 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.7 

 

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A  atividade  de  apreciação  musical  realizada  neste  primeiro  momento,  como 

preparação  para  atividade  de  composição,  teve  a  intenção  de  aprofundar  a  escuta 

atenciosa,  cuidando para  identificar os detalhes  sonoros. A busca pela  audição  atenta, 

procurando detalhes que normalmente não se ouve de forma passiva e despretensiosa, 

fez  com que os alunos percebessem eventos que até então não haviam percebido. Os 

timbres  se  mesclando,  as  repetições  de  frases,  os  contrastes  entre  partes  distintas 

passaram a ser observadas tornando claro que não era por acaso, mas que o compositor 

teve a intenção de fazer exatamente assim para transmitir uma ideia musical. 

Em seguida foi proposto que um aluno tocasse aleatoriamente uma seqüência de 

notas  na  flauta  com  ritmo  também  aleatório, mas  que  fosse  algo  curto,  para  que  os 

outros alunos pudessem  imitar, utilizando, além da flauta, outros  instrumentos, como o 

pandeiro e o chocalho. O objetivo era apresentar as ideias de melodia e ritmo, e que esses 

elementos seriam utilizados o tempo todo a  fim de expressar as propostas musicais do 

grupo. Na realização desta atividade os alunos indicaram quando estava igual ou quando 

estava diferente, mostrando terem compreendido os conceitos. 

A atividade “Ecos melódicos” proposta por Weiland, Sasse e Weichselbaun (2010, 

p.  22)  no método  “Sonoridades  Brasileiras”,  aponta  para  a  importância  do  uso  deste 

recurso mental,  a memória.  Se  por  um  lado  a  repetição  é  ferramenta  para  o  domínio 

técnico  instrumental,  para  a  educação  dos  movimentos  sutis  dos  dedos  sobre  o 

instrumento,  no  caso  a  flauta  doce,  ou  do  gesto  sobre  o  instrumento  percussivo,  por 

outro,  a  repetição motívica musical,  na  perspectiva  composicional,  encerra  uma  ideia, 

simbolizando uma intenção discursiva. 

No caso específico do uso da memória nesta atividade, a habilidade  instrumental 

ainda não adquirida, o que chamamos de técnica instrumental, dificultou a reprodução de 

alguns  trechos  do  jogo  do  “eco”.  Segundo  França  (2001)  “só  podemos  avaliar  mais 

efetivamente a extensão da compreensão musical do  indivíduo quando ele  toca aquilo 

que pode  realizar confortavelmente”, assim, há distância entre a  intenção e o gesto, o 

tempo de resposta entre o comando cerebral e o gesto, de forma que a compreensão do 

modelo  a  ser  repetido  neste  jogo  se  concretizou, mas  a  ausência  do  domínio  gestual, 

entendida aqui como técnica, a obstaculizou. 

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X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.8 

 

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A atividade criativa do grupo 

  Um dos propósitos da atividade de composição coletiva é perceber e refletir sobre 

a bagagem musical que cada indivíduo traz para o grupo, como contribui e como constrói 

as ideias, e a partir de quais vivências essas ideias são elaboradas. 

 Seria  maravilhoso  se  cada  indivíduo,  durante  o  seu  processo  de crescimento, tivesse alguma oportunidade para criar numa das formas de arte. Não  existe  substituto  para  pintar  um  retrato  ou  natureza morta, compor uma canção ou um soneto, coreografar e interpretar uma dança. A  educação,  no  início  da  vida,  devia  fornecer  tais  oportunidades  para pensar  e  executar  usando  um meio  de  expressão  artística  (GARDNER, 1999, p. 178).  

Para  Gardner  (1999),  a  criatividade  não  é  um  processo  acidental  ou  ato  de 

motivações  inconscientes.  Os  indivíduos  criativos  são  animados  e  incentivados  pela 

resolução  de  problemas,  filtrando  todas  as  variáveis  do  ambiente  e  focalizando  nas 

informações  favoráveis para uma solução ou conclusão bem sucedida do problema. Ao 

discorrermos sobre criatividade artística como uma perspectiva da  inteligência humana, 

ou ainda com o conceito de  inventividade construtiva, podemos e devemos estabelecer 

relações com uma intrincada rede de informações que compõe a formação do indivíduo, 

permeadas  pelo  caráter  cultural,  social,  emocional  e  toda  uma miríade  de  fatos  que 

constituem sua história. Considerá‐las em toda sua complexidade tendo o educando e as 

características próprias de sua faixa etária como foco não é tarefa fácil, já que, a priori, em 

sala de aula não há qualquer seleção. Estão todos juntos, como que iguais, mas cada um 

com seu universo distinto. 

No  contexto da  sala de aula, ao  se pensar em multiculturalismo,  foi perceptível 

que  a  pequena  diversificação  decorria  de  uma  padronização  do  que  o  senso  comum 

apresenta,  tanto  através  de  meios  de  propagação  já  bem  estabelecidos,  quanto  de 

experiências  socialmente  vividas. Nesse  sentido,  era  previsto  que  o  Rap,  o  Pagode,  o 

Samba,  o  Rock  e  Pop  fossem  as  expressões  reproduzidas  naquela  atividade.  O  que 

importava, contudo, era perceber como os alunos as traziam para o grupo, bem como o 

comportamento  e  as  prováveis  lideranças  que  iriam  despontar.  Embora  os  alunos 

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X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.9 

 

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confirmassem tais gêneros musicais como sendo os de sua preferência, a proposta inicial 

dos grupos não se relacionou com nenhum desses gêneros. 

Os alunos se dividiram em grupos com a tarefa de comporem uma música, usando 

os conceitos que tinham trabalhado até então, tanto nas atividades de composição como 

nas específicas de  flauta doce, quais  sejam, pulsação, altura,  timbre, expressão,  forma, 

podendo usar todos os instrumentos que desejassem. Essa atividade durou cinco aulas. 

Apresenta‐se, a seguir, o trabalho desenvolvido por um desses grupos, composto 

por dois meninos e  três meninas. O  foco neste grupo se  justificou porque conseguiram 

trabalhar sem grandes dispersões, com maior nível de comprometimento, apresentando 

resultados mais rapidamente e com maior número de conflitos, tornando a atividade rica 

em detalhes. 

O material sonoro disponível era o fragmento da escala de Dó maior (de FÁ1 até o 

Dó2) que alguns alunos conseguiram  tocar com desenvoltura na  flauta doce. Este  foi o 

material sonoro principal usado na atividade proposta, a escala tonal diatônica, extraída 

principalmente da  flauta doce, mas também de outros  instrumentos disponíveis na sala 

de música  –  o  xilofone,  o metalofone  e  o  teclado  –  o  que  possibilitou  uma  variedade 

timbrística  importante  para  o  desenvolvimento  das  atividades  de  composição.  O 

processo de criação coletiva começou com o grupo experimentando alguns instrumentos 

disponíveis em  sala  a  fim de  separá‐los.  Esta  experimentação  era, portanto,  limitada  à 

realidade da sala de aula e da escola. Os  instrumentos  foram escolhidos pelos próprios 

alunos, um xilofone tenor, um xilofone soprano, uma flauta doce soprano, um tambor de 

som  grave  (tam‐tam),  um  caxixi  e  um  teclado.  A  única  exigência  era  que  cada  grupo 

trabalhasse com pelo menos uma flauta doce,  já conhecida de todos. Esta exigência fez 

com que a  flauta doce  se  tornasse naturalmente o  instrumento que  regeu a atividade, 

pois através dela é que se chegou a uma melodia. 

A fim de que os alunos vivenciassem este ato, ocupando‐se inteiramente dele e de 

seu processo, em todas as suas etapas, com todos os instrumentos envolvidos, optou‐se 

por deixar as questões de técnica instrumental em plano secundário, relativamente livre, 

desde que a sonoridade fosse aprovada por todos. Os problemas de técnica instrumental 

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foram abordados, ainda que de forma superficial, uma vez que este conhecimento não foi 

imprescindível para a realização da atividade, tampouco o foco se dirigiu para a destreza 

e habilidades mecânicas.  

O xilofone, por exemplo, não precisava ser tocado corretamente, com as técnicas 

de manuseio das baquetas de um especialista, assim como o teclado não foi tocado com 

o posicionamento correto das mãos, inclusive sendo tocado apenas com a mão direita. O 

que  se objetivou com a atividade de composição era oportunizar a exploração musical 

criativa e expressiva em grupo, chegar a uma  sonoridade que eles mesmos, os alunos, 

desenvolvessem em  sala. A expressividade que o grupo conquistou depois de algumas 

semanas, compensou a ausência da técnica instrumental. 

É preciso deixar claro que embora a técnica instrumental não fosse o objetivo desta 

atividade, não significa que ela não tenha tido importância neste processo de 

performance musical. Contudo, considerando o conhecimento musical geral do grupo ‐ 

nem todos tinham o domínio dos gestos ‘finos’, movimentos sutis dos dedos ‐ não era 

fundamental no início das atividades, devendo ser, todavia, no decorrer do trabalho, 

considerando que é “essencial encontrar um equilíbrio entre o desenvolvimento da 

técnica e da musicalidade dentro do repertório dos alunos” (FRANÇA, 2001) para que se 

transmita exatamente a intenção musical concebida. 

A  princípio,  os  alunos  começaram  propondo  ideias  musicais  curtas  e  soltas, 

sentiam‐se  perdidos.  Aproveitou‐se  este  momento  para  falar  sobre  o  conceito  de 

repetição da  ideia, recordando aulas anteriores. A  interação, o diálogo musical, a  ‘chuva 

de  ideias’  são processos  sociais da  vivência musical. A  aprendizagem  se dá quando os 

estudantes  se  apropriam  de  suas  ideias,  tomando  decisões  e  caminhando  juntos  na 

construção  do  conhecimento,  através  da  prática.  Logo,  uma  pequena  frase  criada  na 

flauta doce foi tocada com outra frase no xilofone, e o metalofone de forma alternada. 

Os alunos ficaram brincando com essa construção, que foi se alterando, até que surgiu a 

ideia na  flauta doce. Uma das alunas, que  tinha maior habilidade  com a  flauta, propôs 

uma melodia, o primeiro motivo da peça que daria origem à música, uma subida escalar 

no modo Lídio (figura 1) com uma rítmica bem regular, mas de certa complexidade, que 

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foi repetida como um ostinato. Este momento foi registrado em vídeo para que o grupo 

não esquecesse o que faria na próxima aula. 

 

Figura 1. O 1º motivo proposto. 

 

Os alunos vivenciaram alguns momentos  conflituosos que envolviam a  troca de 

instrumentos. O aluno que tocava o bongô desistiu e passou a tocar metalofone, outro 

que  tocava  timba mudou para o  teclado e a aluna que  tocava  flauta, na outra parte da 

música, passou também a tocar o bongô. Esta experimentação alterou o produto sonoro 

inicial proposto, refletindo em mudanças na composição como um todo. O grupo estava 

numa fase em que elegiam o material com o qual trabalhariam, sendo possível observar 

que nessas mudanças, conflitos e decisões, estavam pensando musicalmente:  

 Nos  estágios  iniciais,  o  objetivo  deve  ser  brincar,  explorar,  descobrir possibilidades  expressivas  dos  sons  e  sua  organização,  e  não  dominar técnicas  complexas  de  composição,  o  que  poderia  resultar  em  um esvaziamento  do  seu  potencial  educativo.  Nas  aulas,  muitas oportunidades  para  compor  podem  surgir  a  partir  da  experimentação que  demanda  ouvir,  selecionar,  rejeitar  e  controlar  o material  sonoro (FRANÇA; SWANWICK, 2002, p. 10).  

Compreende‐se  que  as  mudanças  foram  qualitativas,  pois  a  experiência  de 

manipular  os  materiais  sonoros  que  iam  elegendo  despertava  a  sensibilidade  dos 

educandos,  levando‐os  a  decidir  as maneiras  organizativas  destes  elementos  sonoros. 

Relaciona‐se esta etapa ao nível Sensorial e Manipulativo do Modelo Espiral de Swanwick 

(FRANÇA,  2001).  Ainda  segundo  este  autor,  “o manuseio  dos  sons  é  uma  condição a 

priori; as dimensões seguintes, caráter expressivo e forma, elevam a música ao nível de 

discurso”  (SWANWICK  apud  FRANÇA,  2001,  p.  2)  e  acontecem  posteriormente  já  com 

certo acúmulo de experiências musicais. 

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Após  esta  fase  de  experimentação,  a melodia  foi  alterada  e  transposta  a  uma 

quarta abaixo para o xilofone. Ainda não tinha sido abordado o conceito de altura com 

ênfase  na  relação  de  intervalos,  portanto  eles  não  sabiam  totalmente  o  que  era  uma 

quarta  abaixo  ou  acima,  apenas  intuíam.  A  nova  ideia  melódica  foi  primeiramente 

apresentada pelo xilofone contralto e  logo em  seguida pela  flauta doce, um compasso 

depois de começar a música. Os  instrumentos foram entrando um a um. A rítmica  já era 

diferente  da  primeira  apresentada, mas  as  notas  combinavam,  segundo  a  aluna  que 

assumiu a  liderança. Assim, outra  característica melódica  se apresentou, naturalmente, 

porque  a  primeira  rítmica  estava  complexa  para  o  xilofone. O  sincopado  proposto  na 

primeira melodia parecia ser tocado corretamente apenas pela flautista.   Assim, criaram 

outra muito parecida, mas simplificada. O resultado foi o que se segue: 

 

 

Figura 2. A nova rítmica do motivo para flauta e xilofone. 

 

A  percussão  com  o  bongô  iniciou  ao mesmo  tempo  fazendo  uma  rítmica  bem 

definida,  com boa noção de  regularidade, enquanto o  tambor  respondia  com  força na 

última  colcheia  de  cada  compasso.  Intuitivamente  o  aluno  com  o  tambor  tocava  uma 

divisão rítmica de certa complexidade. 

 

 

 

Figura 3.  A parte do bongô e a parte da timba. 

 

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Os alunos passaram duas aulas trabalhando o material e por conta de ausências de 

alguns o arranjo foi mudando, e também por não conseguirem fazer exatamente o que 

tinham criado na aula anterior, ainda que tivesse sido filmada. 

Tecnicamente  bastante  acessível, mas  ainda  com  imprecisões  que  perduraram 

algum  tempo,  e  considerando que  eles  tinham  apenas uma  aula por  semana, o  grupo 

concluiu que o que tinham feito estava coerente com o que propuseram fazer.  O tempo 

dedicado  a esta  atividade era dividido  com outras  atividades propostas pelo professor 

efetivo,  incluindo  provas  escritas,  de  cunho  teórico. Mesmo  assim,  em  duas  semanas, 

uma hora por semana, estava criada a primeira parte da música, depois chamada de parte 

A,  como mostra a  figura 4,  ressalvando‐se que a escrita é a mais aproximada possível, 

uma vez que a performance dos alunos ainda não estava regular: 

 

 

Figura 4. Parte A da música. 

 

A continuidade – a parte B – e depois a finalização, passaram a ser a preocupação 

do grupo. Alguns problemas que ocorreram nas semanas anteriores  iam se repetindo, e 

foi  necessário  reuniões  para  resolvê‐los.  Tratava‐se,  novamente,  da  troca  de 

instrumentos. Um queria tocar o teclado e o outro queria o xilofone que uma colega  já 

estava  tocando.  Na  reunião  resolveu‐se  que  poderia  haver  troca,  mas  não  poderia 

abandonar o que já tinha sido feito na primeira parte. 

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Resolvido este problema, nas duas aulas posteriores a parte B (figura 5) da música 

já estava praticamente pronta. Tinha caráter contrastante em  relação à primeira, pois a 

mudança de caráter e compasso ficou clara, chegando a ser abrupta, um ‘break’. A parte 

B da  composição  apresentou diferenças na  fórmula de  compasso, que  antes era  5/4 e 

passou  a  ser  4/4,  na mudança  de  andamento,  a  aceleração  do  andamento  e  depois  o 

movimento  em  desaceleração  (ralentando),  o  que mostrou  uma  preocupação  com  a 

expressividade deste trecho. O teclado, que na primeira parte não fora usado, agora tinha 

um  papel  importante,  ainda  que  tocasse  apenas  uma  nota  de  cada  vez.  Foram  várias 

tentativas até achar a nota que mais combinava: o uníssono e o salto de oitava. A relação 

que foi feita com a primeira parte estava clara, porque alguns elementos se repetiam (as 

mesmas  notas  musicais),  a  pausa  entre  as  partes  causou  um  efeito  suspensivo,  de 

apreensibilidade. 

 

Figura 5. Parte B da música. 

A  aceleração  do  andamento  foi  algo  que  chamou  a  atenção  porque  aconteceu 

naturalmente. Quando começaram a apresentar a parte B, talvez por entusiasmo, todos 

aceleraram conjuntamente, o mesmo ocorrendo com a desaceleração (figura 6). 

 

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Figura 6. Acelerando até ‘a tempo’. 

A partir de determinado momento da peça foram ralentando até o final da música, 

sendo esta a intenção. Não houve mais novas notas, novos eventos ou variações, apenas 

diminuíram a velocidade, andamento, e aos poucos foram parando (figuras 7 e 8). 

 

 

Figura 7. Início do ralentando. 

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Figura 8. Ralentando até o Fim. 

   

 

Considerações finais 

A música  composta  coletivamente pelos alunos apresentada neste artigo, ainda 

que não tivesse qualquer ligação com um significado por eles proposto, ou seja, um nome 

ou referência a qualquer temática, parecendo, assim, um exercício de música pela música, 

resultou na concretização do que se objetivava, propiciar educação musical. A vivência e 

o processo, assim como o produto, demonstraram a possibilidade de criar e compreender 

uma  ideia  musical  coletiva  e  colaborativamente,  desenvolver  aspectos  motores  e  ao 

mesmo perceber a necessidade da técnica instrumental, além da memória, concentração, 

criatividade,  sensibilidade,  e  fundamentos  da música:  timbre,  altura, melodia,  rítmica, 

expressão e performance. 

Os momentos ‘climáticos’ da peça estavam bem representados com as diferenças 

de expressão, onde determinados trechos eram mais  intensos em contraste com outros 

que eram mais suaves, deixando claro que o entendimento deste conceito não só  fora 

entendido, mas também manipulado conscientemente. 

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Entender e considerar a música criada pelos alunos como discurso e priorizar sua 

fluência musical processualmente, envolvendo‐os em um jogo imaginativo, contribui para 

o  domínio  organizacional  de  seus  próprios  esquemas  musicais,  procurando  uma 

compreensão cada vez mais refinada. 

O educador ao atentar para o processo de aprendizagem do educando, mais até 

que  no  resultado  dela,  está  direcionando  o  aluno  a  explorar,  descobrir  e  a  partir  daí 

conhecer e reconhecer os problemas do caminho trilhado, das dificuldades vivenciadas, 

das  soluções  possíveis  e  da  tomada  de  decisões  que  o  fizeram  chegar  ao  resultado 

analisado. 

Neste sentido, o uso pedagógico da composição, entendendo‐a como valorização 

e sistematização dos processos criativos do educando para a ampliação da compreensão 

das  diversas  dimensões  da  arte musical  e  seus  significados,  além  de  se  justificar  e  se 

apresentar  como  alternativa  no  trabalho  coletivo  em  sala  de  aula,  considerando  uma 

participação crítica, reflexiva e ativa do educando, bem como do educador, em todas as 

fases desta prática, permite estimular as necessidades psicológicas básicas do aprendiz 

de música, permitindo ao professor identificar a competência consciente na performance, 

a certeza de pertencimento ao grupo que, embora tivesse vivenciado alguns conflitos, se 

mostrou coeso e comprometido com a atividade, e por fim, a liberdade de decisão e ação, 

a autonomia de cada um em propor, recusar, criticar discutir e consensuar para alcançar o 

objetivo comum, fazer música. 

 

 

Referências bibliográficas   

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X A

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